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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0515.02.

002135-5/001

<CABBCDACABCADBAACBBCABCCBDBAACDADAAAADDADAAAD>
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA -
AÇÃO MONITÓRIA - TUTELA DE URGÊNCIA - REQUISITOS - PRESENÇA -
NOVA AVALIAÇÃO - REQUISITOS DO ART. 832 - INTIMAÇÃO DO
CREDOR HIPOTECÁRIO - ACOLHIMENTO - IMPENHORABILIDADE DE
BEM GRAVADO DE HIPOTECA - REJEIÇÃO. A tutela de urgência, nos
termos do art. 300, NCPC, tem cabimento diante da existência de
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano
ou o risco ao resultado útil do processo. Presentes os requisitos para a
concessão da tutela de urgência, deve ser deferido o pedido. De
conformidade com o disposto no art. 873 do Novo Código de Processo
Civil, não se repetirá a avaliação, salvo quando se provar erro ou dolo do
avaliador, se houver majoração ou diminuição do valor do bem, ou se
houver fundada dúvida sobre o valor a ele atribuído. Não é óbice à
penhora o gravame hipotecário, devendo, apenas, ser a penhora
prescindida de intimação do credor hipotecário na execução, nos termos
do art. 799, I do NCPC.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0515.02.002135-5/001 - COMARCA DE PIUMHI - AGRAVANTE(S): MARCELO


ALVES SOARES - AGRAVADO(A)(S): ROBERTO PELICER MACHADO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO.

DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE


RELATORA.

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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0515.02.002135-5/001

DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE (RELATORA)

VOTO

Tratam os autos de agravo de instrumento contra decisão que,


em fase de cumprimento de sentença em ação monitória, rejeitou o
pedido de tutela de urgência formulado pelo Agravante e manteve o
leilão judicial designado para 17 de setembro de 2019.
O Agravante alega que a decisão agravada merece reforma uma
vez que é necessária a suspensão do leilão judicial designado para 17
de setembro de 2019 haja vista a necessidade de nova avaliação do
imóvel rural, que foi avaliado pelo oficial de justiça em 28 de setembro
de 2017 (f. 536, doc. 19) pelo ínfimo valor de R$830.000,00, e,
conforme laudo de avalição apresentado nos autos, em f. 549/551,
doc. 19, datado de 12 de setembro de 2018, por profissional
capacitado e especializado na área de avaliação e corretagem de
imóveis, pois seu valor é de R$2.650.000,00.
Alega ser evidente a necessidade de nova avaliação antes da
realização do praceamento, considerando o longo período decorrido
desde a avaliação de f. 536, em doc. 19, e a valorização do imóvel
rural ocorrida nesse período, além de falhas apontadas na avaliação,
que considerou preço por hectare que não convém com a realidade e
nem menciona as benfeitorias existentes.
Afirma que não há preclusão do direito à impugnação da
avaliação, porque, nos termos do art. 480, CPC, o juiz determinará de
ofício ou a requerimento da parte a realização de nova perícia quando
existir dúvida quanto à matéria a ser apreciada.
Ressalta, ainda, que o Agravante e seu cônjuge não foram
intimados pessoalmente sobre a avaliação do imóvel, e que agora se

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encontra na iminência de sofrer alienação judicial e suportar danos


irreparáveis, uma vez que o imóvel vai a leilão por preço vil.
Colaciona jurisprudência que entende amparar seus direitos.
Acrescenta que o bem é impenhorável, uma vez que, nos
termos do art. 69, do Decreto lei n. 167/67, está vinculado a Cédula de
Crédito Rural.
Alega, ainda, que a decisão é nula uma vez que os credores
hipotecários não foram devidamente intimados, conforme se
depreende da decisão agravada, que determinou apenas a intimação
pessoal da esposa do executado, o que torna o procedimento viciado,
passível de nulidade.
Ressalta ser excessiva a condenação, uma vez que o débito
originário era de R$ 9.408,00, atingindo, atualmente, R$369.464,00,
conforme petição do exequente, de f. 559, em doc. 20, datada de 02
de maio de 2019.
Requer seja atribuído efeito suspensivo ao presente agravo de
instrumento, principalmente tendo em vista a proximidade do leilão,
que poderá causar-lhe consequências irreparáveis.
Requer seja deferida em liminar a suspensão ou cancelamento
do leilão designado para 17 de setembro de 2019 e 19 de novembro
de 2019.
Requer o provimento do recurso para que seja determinada
nova avaliação do imóvel penhorado, e reconhecida sua
impenhorabilidade.
Em alternativa, requer o cancelamento do leilão designado para
17 de setembro de 2019, com fim de intimar o credor hipotecário
Banco Bradesco SA para se manifestar no processo, e a intimação das
demais instituições/empresas descritas na certidão de registro, de f.
560-562 em doc. 20, incluídas a Cooparaíso e a Credicapi.

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Requer a revisão do valor da dívida, por perícia técnica contábil,


e, por conseguinte, requer a suspensão do processo executório.
Os requisitos para conhecimento do recurso foram analisados
em doc. 32.
O Agravado apresentou contraminuta em doc. 33, pelo não
provimento do recurso, e pela condenação do Agravante por crime de
falsidade de informação e ato atentatório a dignidade da justiça.
Cinge-se o recurso à análise do pedido de tutela de urgência
formulado pelo Agravante, alegando a necessidade de nova avaliação
do bem penhorado, a impossibilidade de penhora do bem hipotecado,
o excesso de execução e a falta de citação do arrendatário, matérias
que foram rejeitadas pelo MM. Juiz a quo, em decisão que também
manteve o leilão judicial designado para 17 de setembro de 2019.
A antecipação de tutela provisória antecipada de urgência, nos
termos do art. 300, NCPC, tem cabimento diante da existência de
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Ao Juiz, como destinatário final a quem é endereçado o conjunto
probatório, cabe analisá-lo para decidir antecipadamente, convencido
da probabilidade de existência do direito definitivo da parte cujo efeito
se pretende antecipar.
Nos termos do art. 300 do NCPC/15:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz
pode, conforme o caso, exigir caução real ou
fidejussória idônea para ressarcir os danos que a
outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser
dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.

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§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida


liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não
será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.

O MM. Juiz de primeiro grau concluiu estarem ausentes os


requisitos necessários para a concessão do pedido de tutela de
urgência, quais sejam o fumus bonis iuris e o periculum in mora, sendo
citados todos os interessados necessários nos termos do edital.
Apesar disso de conformidade com o disposto no art. 873, do
Código de Processo Civil, não se repetirá a avaliação, salvo quando se
provar erro ou dolo do avaliador, se houver majoração ou diminuição
do valor do bem, ou se houver fundada dúvida sobre o valor a ele
atribuído.
Assim já se posicionou este egrégio Tribunal, ao tratar do art.
683, CPC/73, que corresponde ao atual art. 873:

“O caput do artigo 683 do CPC veda a possibilidade


de realização de uma segunda avaliação do bem
penhorado, excepcionadas as hipóteses previstas em
seus incisos, quais sejam: qualquer das partes argüir,
fundamentadamente, a ocorrência de erro na
avaliação ou dolo do avaliador; se verificar,
posteriormente à, que houve majoração ou diminuição
no valor do bem; e, finalmente, houver fundada dúvida
sobre o valor atribuído ao bem (art. 668, parágrafo
único, inciso V). " (14ª Câmara Cível, Agravo de
Instrumento nº 1.0598.04.000305-8/001, Relator Des.
Elias Camilo, j. 13/09/07).

Constata-se que o imóvel objeto de penhora foi avaliado em


setembro de 2017, f. 536, f. 24 em doc. 19, tendo o Agravante
apresentando impugnação em julho de 2018, havendo, assim, fundada
dúvida sobre o valor atribuído ao bem, sendo possível determinação de
nova avaliação, mesmo que decorrido o prazo para impugnação.

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Ademais, a avaliação do bem penhorado deve ser


contemporânea à praça, por aplicação do princípio da menor
onerosidade ao devedor.
Assim, deve ser deferida nova avaliação do bem.
Estando configurada a hipótese prevista pelo artigo 873, II,
NCPC, é pertinente a nova avaliação do imóvel objeto de penhora.
A decisão agravada determinou a citação da esposa do
executado, não havendo que vício do ato.
Foram determinadas, às f. 553/557, f. 08 em doc. 20, as
intimações determinadas no artigo 889, CPC, também do arrendatário.
Entretanto, não se procedeu à intimação do credor hipotecário,
Banco Bradesco SA, para se manifestar no processo, nem das demais
instituições/empresas descritas na certidão de registro do imóvel, de f.
560-562 em doc. 20.
A intimação do credor hipotecário deve ser realizada, uma vez
que, caso não haja concordância com o procedimento, resta
obstaculizada a adjudicação do bem sobre o qual pesa direito real de
garantia.
É o entendimento deste Tribunal:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA - PENHORA - IMÓVEL HIPOTECADO -
INTIMAÇÃO DO CREDOR HIPOTECÁRIO -
CONTRADITÓRIO - GARANTIA. 1. A penhora sobre
imóvel hipotecado exige prévia intimação do credor
hipotecário (arts. 799 e 804 do CPC/15), pois ele
possui direito real de garantia (art. 1.225, CC), o que
lhe confere direitos nos frutos decorrentes da
alienação do bem. 2. Referida intimação objetiva
cientificar o credor hipotecário sobre fato de que o
bem gravado foi penhorado e será levado à praça,
garantindo-lhe o direito de defender seus interesses.
3. A legislação processual garante ao credor
hipotecário o direito de participar da formação do
provimento judicial que determinará a alienação do
imóvel sobre o qual possui direito real de garantia. 4.

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Se a decisão agravada foi proferida antes da juntada


da petição tempestivamente protocolizada, não foi
garantido ao credor hipotecário seu direito
constitucional ao contraditório, interpretado como a
garantia de que seus argumentos influenciem na
formação do provimento jurisdicional. 5. Decisão
cassada”. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0352.11.001193-4/001, Relator(a): Des.(a) José
Américo Martins da Costa , 15ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 11/07/2019, publicação da súmula em
19/07/2019).

O Agravante alega ser impenhorável o imóvel hipotecado.


Entretanto, a hipoteca não impede a penhora do bem, sendo
indispensável, apenas, a intimação do credor hipotecário, nos termos
do art. 799, I do NCPC.
A disposição visa proteger os direitos do credor hipotecário,
como o direito de preferência em caso de alienação do bem, devendo-
se ressaltar que a oposição do credor não impossibilita a penhora do
bem.
Em atenção aos artigos 799, I, 804 e 889, V, do CPC/2015:

“Art. 799. Incumbe ainda ao exequente:


I - requerer a intimação do credor pignoratício,
hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a
penhora recair sobre bens gravados por penhor,
hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária;”

“Art. 804. A alienação de bem gravado por penhor,


hipoteca ou anticrese será ineficaz em relação ao
credor pignoratício, hipotecário ou anticrético não
intimado.”

“Art. 889. Serão cientificados da alienação judicial,


com pelo menos 5 (cinco) dias de antecedência:
(...)
V - o credor pignoratício, hipotecário, anticrético,
fiduciário ou com penhora anteriormente averbada,
quando a penhora recair sobre bens com tais
gravames, caso não seja o credor, de qualquer modo,
parte na execução;"

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Assim decide o colendo STJ:


"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO.
PENHORA SOBRE IMÓVEL COM GARANTIA REAL
DE HIPOTECA. I - O bem gravado por hipoteca não é
impenhorável e o titular do direito real sobre a coisa
deve ser intimado da execução (art. 615, II, CPC de
1973) a fim de que possa, querendo, sub-rogar-se
aos direitos creditórios do exequente. Todavia, a
inexistência de intimação determinada pelo art. 615,
II, do CPC de 1973 não implica necessariamente em
nulidade da constrição judicial, mas torna sem feito
eventual alienação do bem no curso do processo
Executivo em relação ao credor hipotecário não
intimado. II - Ainda que ausente intimação da
penhora, não há falar em nulidade do ato
constricional, mas sim da inoperância de eventual
alienação em relação ao detentor do direito real de
garantia, cuja preferência pelos créditos exequendos
dispensa declaração judicial, uma vez que, 'embora
não tenha proposto ação de execução, pode exercer
sua preferência nos autos de execução ajuizada por
terceiro, uma vez que não é possível sobrepor uma
preferência de direito processual a uma de direito
material.' (AgRg nos EDcl no REsp 775.723/SP, Rel.
Ministro SIDNEI BENETI, 3ª Turma, DJe 09.06.2010).
III - Apelação da CEF a que se nega provimento”.
(Apelação Cível nº 0002129-12.2007.4.01.3801/MG,
6ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Jirair Aram
Meguerian. j. 16.05.2016, unânime, e-DJF1
23.05.2016).

Desta forma, a ausência de intimação do credor hipotecário, nos


termos do art. 799, I, do CPC/2015, torna sem feito eventual alienação
do bem no curso da execução e apenas em relação a ele.
Sendo assim, deve ser reformada a decisão agravada para que
se conceda ao agravante a tutela de urgência nos termos do art. 300,
NCPC, para que se proceda a nova avaliação do bem e à devida
intimação do credor hipotecário, Banco Bradesco SA, para se
manifestar nos autos.

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DIANTE DO EXPOSTO, dou parcial provimento ao recurso


interposto por MARCELO ALVES SOARES, para conceder ao
agravante a tutela de urgência nos termos do art. 300, NCPC,
suspendendo os leilões designados, e para que se proceda a nova
avaliação do bem e à devida intimação do credor hipotecário, Banco
Bradesco SA, para se manifestar nos autos.
Custas recursais pelo Agravado a serem calculadas e recolhidas
em 1º grau.

DESA. CLÁUDIA MAIA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ESTEVÃO LUCCHESI - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO


RECURSO."
Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001.
Signatário: Desembargadora EVANGELINA CASTILHO DUARTE, Certificado:
00D77BBC7F87CD6EE62FB380C8945090DA, Belo Horizonte, 13 de março de 2020 às 14:02:46.
Julgamento concluído em: 12 de março de 2020.
Verificação da autenticidade deste documento disponível em http://www.tjmg.jus.br - nº verificador:
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