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Evento: VII Congresso Marx e Engels

Título: Os ecos da Revolução Mexicana na Obra de José Carlos Mariátegui


Autor: Ricardo Neves Streich
Condição: Mestrando em História Social (FFLCH/USP)
Orientadora: Prof. Dra. Maria Lígia Coelho Prado
GT: GT2 – Os marxismos

Os ecos da Revolução Mexicana na Obra de José Carlos Mariátegui

La nueva generación en nuestra


América como en todo el mundo es,
ante todo, una generación que grita su
fe, que canta su esperanza.
José Carlos Mariátegui

A Revolução Mexicana foi evento de maior importância no imaginário político


da intelectualidade latino-americana radicalizada dos anos 1920, justamente a que grita
sua fé, como nos diz a epígrafe. Daí o interesse em pesquisar a análise que o socialista
peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930) fez do processo revolucionário mexicano.
A natureza da Revolução Mexicana, tanto pela “escassez de vínculos com uma
ideologia universal” (PAZ, 1984, p.130), quanto pelo protagonismo do campesinato
indígena, a torna um excelente parâmetro para verificarmos as peculiaridades do
marxismo de Mariátegui.
Com efeito, Aníbal Quijano (1991, p.347) sustenta que:

El más importante proceso político latinoamericano de la década de


los veinte, y el de mayores repercusiones en la conciencia intelectual y
popular fue, sin duda, la revolución mexicana. Su presencia en el
debate teórico y político latinoamericano puede ser medida mejor,
quizás, que de ningún otro modo, por su lugar sustantivo en el
desarrollo del movimiento aprista, en el Perú y otro países, pues en
efecto las ideas de Haya de la Torre, fundador de ese movimiento,
están en gran parte sustentadas en esa experiencia. Y, ciertamente, por
su directa influencia en las posiciones mariateguianas frente a la III
Internacional y al Apra.

Quijano pode constatar esta “influência direta” da Revolução Mexicana sobre as


concepções de Mariátegui, pois a análise do socialista peruano sobre o México
privilegiou os dilemas enfrentados pelo Estado que emergiu do violento processo de
Guerra Civil da década de 1910. Se tivermos em mente que, uma das características das
Vanguardas latino-americanas foi a de querer “construir” e realizar o seus projetos
políticos, levantamos a hipótese de que ao privilegiar a questão do Estado em sua
análise do México da década de 1920, o socialista andino analisa a situação mexicana
pensando também em problemáticas peruanas. Acresce, como afirmam Belloto e Corrêa
(1982, p, 24-5), que nos últimos anos de sua vida diante da censura e da repressão do
governo, Mariátegui costumava: “referir-se, ainda que indiretamente, à situação peruana
em seus artigos sobre a América Latina, particularmente sobre a Revolução Mexicana,
para demonstrar a necessidade da revolução proletária de caráter socialista”.
Neste sentido, como anotou Leila Escorsim Machado (2004, p.237), a
Revolução para Mariátegui é um processo que não enxerga como dicotomia a atenção
ao objetivo final (a revolução) e o movimento (problemas imediatos enfrentados pelos
trabalhadores). Desta maneira, se Mariátegui buscava conciliar proposições imediatas
com um projeto de longo prazo, podemos afirmar que a Revolução Mexicana – trata-se
afinal de um Estado surgido no processo pós-guerra civil – se configurou numa espécie
de “modelo” para o socialista peruano. Cremos que isto pode explicar as “ausências”
dos “personagens centrais” como Zapata e Villa, notada por Luiz Bernardo Pericás
(2011, p.115). Afinal, se a Revolução Mexicana foi um “modelo” para a reflexão de
Mariátegui, nada mais natural que sua curiosidade pousasse sobre os dilemas políticos
enfrentados pelos seus contemporâneos.
Estes dilemas políticos que emergiram no México pós-guerra civil permearam
toda a produção editorial de Mariátegui. Luis Bernardo Pericás (Idem. Ibidem, p.115.)
contou em Amauta e Labor 12 artigos sobre arte e estética do México pós-guerra civil,
somam-se a estes os 8 artigos sobre eventos políticos da Revolução, além dos 13 artigos
que buscavam analisar questões da situação conjuntural do México. O mesmo autor
aponta que o interesse de Mariátegui pelo México também pode ser observado na
quantidade de correspondência trocada por Mariátegui com mexicanos ou conhecidos
que se encontravam no México:

Outro ponto que deve ser salientado aqui é a importância da


correspondência entre Mariátegui e seus colegas no México. As
informações que estes lhe passavam das terras astecas certamente
ajudariam a moldar suas ideias sobre a situação política do país. (...).
Mariátegui chegou a se comunicar por carta com mexicanos, assim
como com alguns amigos que moravam ou estava de passagem por lá,
como Oliverio Girondo, Graziella Garbalosa, José Vasconcelos,
Rafael Heliodoro Valle, Esperanza Velázquez Bringas, Carlos Gaytán,
J. López Méndez, Victor Haya de la Torre, Tristán Maróf, Alfredo E.
Uruchurtu, José Malanca, Carlos Manuel Cox, Blanca Luz Brum e
Esteban Pavletich (Idem, ibidem, p.135).
O próprio Mariátegui escreveu 18 artigos sobre a Revolução Mexicana e
aspectos subjacentes de seu desenvolvimento, além de mencioná-la 12 vezes (tanto
como exemplo e modelo, quanto como parâmetro de comparação) no conjunto de sua
obra. Contudo, o aspecto mais interessante da análise mariateguiana sobre a Revolução
Mexicana é o fato de não se tratar de uma abordagem estática, mas sim de uma
perspectiva que, além de transitar por diversas áreas do conhecimento (política, história,
estética) se transformou radicalmente.
A importância que o socialista andino atribuiu aos eventos ocorridos na década
de 1910 na nação ao sul do Rio Grande pode ser constatada no curso intitulado
“História da Crise Mundial”, por ele ministrado nas Universidades Populares González
Prada. Na série de palestras Mariátegui elegeu a Revolução ocorrida no México como
tema da penúltima aula da série de 17 conferências que tematizou os principais tópicos
de política internacional da época, como o Fascismo na Itália, a Revolução Russa, a
frustrada Revolução na Alemanha, além das questões políticas e econômicas no mundo
pós-primeira grande guerra.
Além do peso político, ainda mais para um marxista, Mariátegui também se
interessou pela história da Revolução. Seus primeiros artigos sobre o tema buscam
refazer os caminhos dos revolucionários e contrarrevolucionários na década de 1910.
Nestas primeiras análises (que datam de 1923/1924) chama atenção a proximidade entre
a chave explicativa proposta por Mariátegui e as explicações da historiografia
contemporânea em dois pontos.

O primeiro é a lucidez na análise dos antecedentes da Revolução Mexicana, pois


“la ditadura de Porfírio Díaz produjo en México una situación de superficial bienestar
económico, pero de hondo malestar social” (MARIÁTEGUI, 1971, p.39). E,
consequentemente, a clareza de que a bandeira anti-reeleicionista de Madero era apenas
um aglutinador de todos os setores sociais afetados por este “profundo mal estar social”.

Neste primeiro momento, o tom da análise de Mariátegui sobre a Revolução


Mexicana é bastante otimista. Ele exaltava as conquistas da Constituição de 1917, em
especial dos artigos 27 e 123, que, respectivamente, versam sobre a propriedade da terra
e sobre os direitos trabalhistas (salário mínimo, direito de associação e etc.).

Contudo, o governo de Carranza, após a promulgação da Carta Constitucional,


segundo o socialista peruano, se burocratizou. Por isto coube ao General Álvaro
Obregón, único capaz de garantir a unidade do movimento revolucionário, consolidar as
conquistas sociais da Constituição, pois as tarefas daquele momento, para Mariátegui,
eram luta contra o “imperialismo ianque” e contras as forças conservadoras, ou seja,
tratava-se de garantir a defesa da Revolução.

A confiança de Mariátegui no projeto do grupo de Sonora era tal que ele


afirmou, dissertando sobre o laicismo do sucessor de Obregón, o General Calles:

el laicismo en México -aunque subsistan en muchos hombres del


régimen residuos de una mentalidad radicaloide y anticlerical- no
tiene ya el mismo sentido que en los viejos Estados burgueses. Las
formas políticas y sociales vigentes en México no representan una
estación del liberalismo sino del socialismo. Cuando el proceso de la
Revolución se haya cumplido plenamente, el Estado mexicano no se
llamará neutral y laico sino socialista. Y entonces no será posible
considerarlo anti-religioso. Pues el socialismo es, también, una
religión, una mística. Y esta gran palabra religión, que seguirá
gravitando en la historia humana con la misma fuerza de siempre, no
debe ser confundida con la palabra Iglesia (Idem, ibidem, p. 45-6).

A passagem é forte e importante, pois abre diversas possibilidades de discussão.


A primeira delas é a articulação entre as demandas liberais e a construção do
socialismo. Se é fato que Mariátegui trabalha com a ideia de “etapas” da revolução
(democrático-burguesa ou socialista, por exemplo), a passagem acima ilustra a fluidez e
a dinâmica entre as “etapas da revolução” no arcabouço teórico marxista de Mariátegui.
Afinal, a Revolução para Mariátegui é um processo, com avanços e retrocessos. Daí sua
fé que uma política agrária de intenções liberais (como a de Calles) fosse a base do
socialismo, pois como ele dizia: “a experiência mexicana é um exemplo perigoso para
os que se mantém dentro da doutrina liberal” (Idem, 2008, p.69) e, por isto, atribuiu
tamanha importância à defesa incondicional daqueles que são vistos como
representantes e defensores legítimos da Revolução.
Um segundo ponto a se destacar é o caráter “religioso” que o pensador peruano
atribui aos processos políticos do México. Seu otimismo, àquela altura de 1926, era
bastante grande. Ao proclamar que o Estado Mexicano caminhava para o socialismo,
Mariátegui elevou a Revolução Mexicana à condição de um ideal. Não podemos
esquecer que a noção de ideal significa, justamente, aquilo que motiva, que mobiliza. E
justamente pelas constantes comparações com a situação peruana podemos dizer que
este ideal se configura em um modelo político para Mariátegui.
É importante assinalar que não se trata de uma idealização pura e simples, pois
Mariátegui reconhecia as dificuldades e os retrocessos do processo revolucionário
mexicano (a política agrária “liberal” de Calles, por exemplo). Além disto, havia a
preocupação com a questão do “programa” (ou a falta dele), o que demonstra que
Mariátegui partilhava do universo das preocupações dos comunistas da década de 1920.
Em uma singela passagem o socialista nos dá pistas importantes sobre sua concepção:
“La guerrilla es un arroyo que baja de la sierra, para perderse a veces; la revolución, un
gran río que confuso en sus orígenes, se ensancha y precisa en su amplio curso” (Idem,
1971, p. 88).

A metáfora do rio, além de bela, é rica para sintetizar a expectativa de


Mariátegui neste momento. A questão se torna mais complicada se pensamos que a
Revolução Mexicana não possuía um “programa” político, pelo menos não nos moldes
pregados pelos comunistas da Internacional. Podemos, então, compreender que a
simpatia e a admiração pela Revolução Mexicana – ou pela “precisão” do rio
revolucionário - se pautavam na força que a frente única possuía. O socialista peruano
identificava a Revolução Mexicana como um movimento articulado entre campo e
cidade – por isto valorizava as conquistas dos artigos 27 e 123 da Carta de 1917 – que
incluía a pequena burguesia. Desta maneira, a idealização consistia, então, na aposta de
que, dentro da frente única, o movimento proletário poderia dar o tom e imprimir o
caráter socialista da Revolução.
Utilizando-nos da terminologia gramsciana, podemos dizer que a esperança de
Mariátegui era a de que o acúmulo de forças da frente única possibilitasse que o
proletariado obtivesse a hegemonia do processo revolucionário. Hegemonia, para
Gramsci, é a capacidade que um grupo social tem de dirigir intelectual e moralmente
outros grupos sociais.
A CROM (Confederación Regional Obrera Mexicana), embora exitosa na tarefa
de organizar os trabalhadores (tratava-se do maior e mais importante sindicato da
época), para Mariátegui, não foi capaz de imprimir a tonalidade socialista no quadro da
Revolução.
Aqui também o otimismo inicial teve lugar, como reconheceu o próprio
Mariátegui: “Lo que este Estado tenía de socialista consistía en su base política obrera.
Por moderada que fuese su política, la CROM como organización de clase, tenía que
acentuar día a día su programa de socialización de la riqueza” (Idem, ibidem, p. 57-58).
Desta maneira, enquanto Mariátegui enxergou a importância numérica da CROM,
apoiou as reivindicações de mudanças na sua direção. Logo que verificou seu declínio –
basta lembrar que não foi a CROM quem representou o México na Conferência Sindical
Comunista em Montevideo - a “abandonou” taxando-a de “evolucionista” e
“reformista” – adjetivos que utilizados pelos comunistas para depreciar a social-
democracia. Sem um projeto operário de tomar o poder, o que o operariado acabou por
fazer foi colaborar com o desenvolvimento do capitalismo, já que, nas palavras do
pensador andino: “El Estado Mexicano no era, ni en la teoría ni en la práctica, un Estado
socialista. La Revolución había respetado los principios y las formas del capitalismo”
(Idem, ibidem, p. 57).
Além da avaliação sobre a CROM, o que mudou na perspectiva de Mariátegui
sobre a Revolução Mexicana? Basicamente, podemos dizer que o que mudou foram a
esperança da capacidade da revolução de “se precisar” e a empolgação com a
potencialidade revolucionária da burguesia.

Como apontamos acima, nos seus primeiros textos, o socialista peruano chegou
a denominar a Constituição de 1917 e seus avanços sociais como “programa” da
Revolução, admirando-a, inclusive. Em seus últimos textos, justamente, quando deixou
de ver a “frente única” como solução e adotou uma orientação estritamente classista, a
falta de definição ideológica do processo revolucionário mexicano passou a ser vista
como problema, pois dava margem, por exemplo, a teses como a do “Estado regulador”
- tese de Froylán C. Manjarrez, deputado da Constituinte em 1917, que defendia a
existência de um Estado intermediário entre o capitalismo e o socialismo - duramente
criticada por Mariátegui.

À falta de “precisão do programa” acompanhou também o desencanto político


com a pequena-burguesia. Aliada das classes populares num primeiro momento,
Mariátegui atribuiu a ela as “vacilações” – para utilizar um jargão comunista – do
movimento revolucionário, afinal como o socialista escreveu em 1929: “Ni la burguesía,
ni la pequeña burguesía en el poder pueden hacer una política antiimperialista Tenemos
la experiencia de México, donde la pequeña burguesía ha acabado por pactar con el
imperialismo yanqui” (Idem, 1986, p.90).

Outro ponto importante é questionar o porquê destas transformações. Como


historiadores, precisamos atentar inicialmente à leitura que o próprio Mariátegui fez da
Revolução Mexicana. Para evitar mecanicismos, precisamos encontrar dentro dos textos
razões que indiquem e justifiquem as mudanças de orientação realizadas pelo socialista
andino. Neste sentido, percebemos que a morte de Obregón e a incapacidade do “bloco
governista” que o sustentava de se manter unido, além da própria perseguição que os
trabalhadores sofreram sob o governo Portes Gil (sucessor de Calles), demonstraram a
Mariátegui a fragilidade daquela opção, em especial no tocante à aliança com a
pequena-burguesia revolucionária.

Contudo, se temos em mente que o diagnóstico de Mariátegui sobre a situação


do México dialoga com os embates políticos peruanos, o paralelo com a cisão da APRA
é quase inevitável. Neste sentido, é digno de atenção que Mariátegui começou a
suspeitar da pequena-burguesia, no processo mexicano, em fins de 1928 e início de
1929. A suspeita se transformou em ceticismo em setembro de 1929, enquanto que a
fundação do Partido Socialista do Peru (PSP) – ato que traduz no Peru a descrença
política na pequena-burguesia - se deu em outubro de 1928.

Abandonar a aliança com a burguesia revolucionária significou fazer uma opção


classista, pelo menos no sentido de almejar a hegemonia dos processos revolucionários,
já que ainda constava nos princípios do PSP a possibilidade de uma aliança eventual
com os setores revolucionários da pequena-burguesia. Além do racha com a APRA,
Quijano destaca que a observação das experiências concretas, inclusive a mexicana, foi
decisiva para Mariátegui chegar a estas conclusões:

El propio Mariátegui, antes de 1927 había expresado con frecuencia


su apoyo y su esperanza en los procesos de México y de China, donde
las corrientes y organizaciones socialistas combatían bajo la dirección
de la burguesía y pequeña burguesía nacionalistas y revolucionarias.
Pero, de un lado, su propia investigación de la realidad
latinoamericana bajo la dominación imperialista con sus específicos
rangos, era ya una base teórica cuyo desarrollo y depuración
sistemática conducía a una opción diferente. Y, de otro lado, la
orientación e comenzaba a tomar el proceso mexicano, y la desastrosa
experiencia de Kuo Min Tang chino y de la política de allí seguida por
la III Internacional, se constituían como lecciones que en
convergencia con su propio enfoque de la situación latinoamericana,
reforzaban su opción socialista revolucionaria (QUIJANO, 1982,
p.101).

Esta opção socialista revolucionária se traduziu no projeto mariateguiano de


“peruanizar o Peru”. A República peruana, de acordo com Mariátegui, havia nascido
sem o índio e contra o índio e, por isto, o Peru seria uma nação incompleta. Para
realizar, completar, esta nacionalidade seria necessário incluir a perspectiva indígena na
identidade e na vida política nacional, daí a importância que o socialista peruano
atribuiu tanto à questão estética, quanto política.

Neste sentido, uma vez mais a proposição política de Mariátegui se aproximava


muito das posições de Gramsci, agora no tocante à questão do “nacional-popular”, ou
seja, trata-se a revisão de uma revisão da tradição cultural (italiana para Gramsci e
peruana para Mariátegui) que busca evitar e apontar seus dois vícios opostos e
complementares. O “provincianismo”, que busca exaltar as raízes locais isolando-as do
mundo, e o “cosmopolitismo”, que ocorre quando os artistas se sentem alheios às
questões práticas e imediatas de seu país.

Esta revisão da cultura e da vida política peruana não poderia contar com a
pequena-burguesia como protagonista. Neste sentido, Mariátegui alertava para a
tendência pequeno-burguesa de colocar o elemento nacional na frente do popular, ou
seja, do elemento classista. No México, esta sua crítica se direcionou à emergência da
tese do Estado “regulador”:

Los políticos de la Revolución Mexicana, bastante distanciados entre


ellos por otra parte, se muestran cada día menos dispuestos a
proseguirla como revolución democrático-burguesa. Han dado ya
máquina atrás. Y sus teóricos nos sirven, en tanto, con facundia
latinoamericana, una tesis del Estado regulador, del Estado
intermedio, que se parece como una gota de agua a otra gota a la tesis
del Estado fascista (MARIÁTEGUI, 1971, p.70).

A afirmação demonstra a mudança radical que a Revolução Mexicana sofreu no


pensamento de Mariátegui. Ele se distanciou, então, de maneira veemente daqueles que
enxergavam no México uma esperança tácita de que a sua Revolução proporcionaria à
América Latina o padrão e o método da revolução socialista sem um mínimo de
teorização “europeizante” – acusação recorrente por parte de seus opositores.
A esperança do “rio revolucionário precisar o seu curso” já não existe mais, pois
a tese do “Estado regulador” surgiu justamente da falta de definição ideológica da
Revolução, ou seja, do intuito dos ideólogos do regime, segundo Mariátegui, em
“esclarecer e definir a ideologia da Revolução”. Podemos dizer, portanto, que da
idealização inicial chegou-se à negação, afinal aquela que já havia sido a eminente
revolução socialista, em 1930 era caracterizada por Mariátegui como incapaz de sequer
garantir os direitos elementares da democracia liberal burguesa e, por isto, se
assemelhava ao fascismo. Nada mais distante do sonho de qualquer socialista.

Bibliografia

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MACHADO, Leila Escorsim. J.C. Mariátegui: marxismo, cultura e revolução. 2004,


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QUIJANO, Aníbal. Introducción a Mariátegui. Lima, Era, 1982.

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