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Curso: Gestão e Manutenção de Espaços Verdes

Módulo: Multiplicação de Plantas

MICROPROPAGAÇÃO
OU
MULTIPLICAÇÃO VEGETATIVA IN VITRO

Pode ser definida como a propagação de plantas num ambiente artificial,


controlado, utilizando recipientes de cultura de plástico ou vidro, através de
técnicas assépticas e num meio nutritivo definido.

A técnica geralmente consiste em retirar um fragmento de tecido vegetal,


colocá-lo num meio nutritivo e provocar (graças a um equilíbrio adequado dos
elementos do meio) o desenvolvimento de uma plântula. Estas operações
desenrolam-se em condições estéreis e são seguidas de uma aclimatização
sobre um meio tradicional.

A multiplicação "in vitro" é possível graças a uma propriedade das células


vegetais designada totipotência celular, da qual resulta que toda a célula
vegetal viva, possuindo um núcleo, é capaz, qualquer que seja a sua
«especialização» actual, de reproduzir fielmente a planta inteira da qual
provém.

A micropropagação é a técnica "in vitro" mais difundida. Actualmente um


grande número de espécies é multiplicado quase exclusivamente por este
método.

A micropropagação engloba várias fases que podem ser designadas da


seguinte forma:

1. Selecção da planta mãe e preparação do explante.


2. Estabelecimento de uma cultura asséptica.
3. Fase de multiplicação.
4. Preparação para o ambiente natural.
5. Transferência para o ambiente natural.

O esquema seguinte pretende representar, de forma simplificada, as


diferentes fases deste processo.

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A micropropagação de plantas apresenta muitas vantagens relativamente


aos métodos tradicionais de propagação. Entre essas vantagens podem ser
enumeradas as seguintes:

Maior velocidade de propagação;


As culturas são iniciadas por explantes de reduzidas dimensões, pelo
que se consegue obter números elevados de plantas em espaços
reduzidos;
O efeito das estações do ano pode ser eliminado;
Melhora a selecção;
A propagação é realizada em condições assépticas;
Salvação de espécies em vias de extinção;
Campo de potenciais aplicações no melhoramento.

ESCOLHA E PREPARAÇÃO DO EXPLANTE

Um explante é a parte da planta a partir da qual se inicia a cultura.


Teoricamente um único explante pode produzir um número infinito de plantas,
no entanto, a utilização de um número maior de explantes permite a obtenção
em menor tempo do número de plantas desejado, considerando, também, que
durante o processo ocorrem perdas em resultado de contaminações (fungos,
bactérias), dos desinfectantes, ou por outras razões desconhecidas.
Os explantes podem ser de vários tipos: meristemas, gemas, flores, pétalas,
anteras, pedaços de folhas (pecíolo ou limbo), raízes, etc, e mesmo uma única
célula ou protoplastos (células sem parede celular). Na propagação de violeta
africana (Saintapaulia ionantha) os explantes utilizados foram pequenos
pedaços de folhas, tanto do limbo como do pecíolo).
Para a selecção da planta-mãe deve ter-se em consideração a idade da
planta (plantas jovens), as características desejadas e a ausência de doenças.
Depois de seleccionada a planta-mãe destacam-se os órgãos (por. ex.
folhas) a partir dos quais se vão retirar os explantes e submetem-se a um
tratamento de desinfecção, para extrair os contaminantes externos. O processo
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mais comum de desinfecção consiste na utilização de várias soluções de


hipoclorito de sódio (lixívia) e posterior lavagens em água esterilizada.

Planta-mãe
Violeta Africana - Saintpaulia ionantha
A planta-mãe deve ser jovem, com as características desejadas e não deve
possuir doenças.

Selecção do explante
Depois de escolhida a planta-mãe isolam-se as folhas que se pretendem
utilizar.

Desinfecção do explante
Os explantes utilizados na propagação de violeta africana foram pequenos
pedaços da folha (limbo e pecíolo).
As folhas são desinfectadas utilizando uma solução a 10% de lixívia e
posteriormente lavadas em água esterilizadas.

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PREPARAÇÃO DOS MEIOS DE CULTURA

As culturas podem ser realizadas em meio sólido (gelificado) ou em meio


líquido. No primeiro caso adiciona-se ao meio ágar, composto que para além
de solidificar o meio forma um complexo coloidal que facilmente liberta iões.
O pH dos meios é geralmente entre 5,5 e 5,8. A razão para o emprego
destes valores reside no facto de nestas condições todos os iões estarem em
solução e facilmente disponíveis para as células.
Normalmente fazem parte de um meio de cultura os seguintes compostos:
Elementos minerais - microelementos (B, Cu, Fe, Mn, Mo, Zn, etc.) e
macroelementos (C, O, H, N, P, S, K, Mg, Ca, etc.). Numerosos
investigadores têm estudado as concentrações em elementos minerais
dos meios de cultura, sendo possível a sua aquisição, evitando o
trabalho inerente à sua preparação (ex. Murashige e Skoog - MS).
Vitaminas, Aminoácidos e Inositol - Diversas vitaminas favorecem o
crescimento dos tecidos em cultura. As vitaminas mais utilizadas são a
tiamina, ácido nicotínico, a riboflavina e a piridoxina. A adição de
aminoácidos parece favorecer a formação de calos. O aminoácido mais
utilizado é a glicina. Um outro composto vulgarmente utilizado é o
inositol o qual parece ser importante para a proliferação celular "in vitro".
Açucares - Os tecidos em cultura "in vitro" são, em grande parte,
heterotróficos, sendo por isso necessário adicionar açucares ao meio de
cultura. Os açúcares mais utilizados são a sacarose e a glicose.
Hormonas ou reguladores de crescimento - Os meios de cultura devem
ter ainda na sua composição fitohormonas ou reguladores de
crescimento (auxinas, citocininas, giberelinas) cuja composição e
concentração variam consoante as espécies e os objectivos a atingir.
Ágar - Garante um suporte sólido transparente.
Depois de preparado e transferido para tubos ou frascos de cultura, o meio é
esterilizado em autoclave.

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Preparação dos meios de


Meios de cultura em tubos e frascos de cultura
cultura
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

ESTABELECIMENTO DE UMA CULTURA ASSÉPTICA

É a etapa base da operação. Consiste em efectuar a colocação do explante


seleccionado e desinfectado em cultura "in vitro".
Esta fase é realizada em condições de assepsia, pelo que deve efectuar-se
em câmaras de fluxo laminar e todo o material utilizado (bisturis, pinças)
devidamente esterilizado.
Posteriormente os tubos e frascos de cultura são colocados em câmaras de
crescimento com controlo de factores físicos (temperatura, fotoperíodo) durante
algumas semanas (de acordo com a espécie) até se desenvolverem as
plântulas.

Desenvolvimento em
câmaras de Planta jovem após
Inoculação do explante em câmara de crescimento com cerca de três
Cultura estabelecida
fluxo laminar controlo de semanas de
fotoperíodo e desenvolvimento
temperatura
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

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MULTIPLICAÇÃO E ENRAIZAMENTO

A multiplicação tem como objectivo a obtenção de um determinado número


de plântulas.
Após o desenvolvimento das plantas em cultura procede-se à sua
fragmentação (variando de acordo com a técnica e espécie utilizada) e
distribuição por tubos ou frascos com o mesmo meio de cultura. Este
procedimento repete-se as vezes necessárias à obtenção do número desejado
de plantas (geralmente um número superior para suprir possíveis perdas).

Desenvolvimento em
Fase de multiplicação - repicagem das
câmaras de
plântulas
crescimento
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

Depois de obtido o número desejado de plantas, estas são individualizadas


uma última vez. A repicagem faz-se, então, para frascos de cultura, com um
meio diferente, com o objectivo de promover a rizogénese e o crescimento.
O meio utilizado nesta terceira fase difere dos anteriores no equilíbrio dos
reguladores de crescimento, auxinas e citocininas, e varia de acordo com a
espécie.
Para algumas espécies o enraizamento "in vitro" não é necessário. Neste
caso, a passagem para a aclimatação faz-se directamente no fim da
multiplicação.
As fases de multiplicação e enraizamento são, também, realizadas em
condições assépticas, pelo que devem efectuar-se em câmara de fluxo laminar.

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Repicagem para meio de Desenvolvimento em Final da fase de


enraizamento câmara de crescimento enraizamenrto (bananeira)
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

TRANSFERÊNCIA E ACLIMATAÇÃO

A qualidade final das plantas produzidas "in vitro" depende, em parte, da sua
aclimatização. É necessário que esta transferência se faça nas melhores
condições possíveis, visto as raízes formadas seres extremamente frágeis.
Nesta fase as plantas são transferidas para um substrato com boa drenagem
(turfa e perlite) e colocadas novamente em câmaras, assegurando uma
humidade elevada e uma temperatura ambiente e do substrato bem controlada.
Após esta fase delicada, as plântulas serão progressivamente habituadas ao
ambiente em estufa e transferidas para um substrato normal.

Planta enraizada
Início da transferência Lavagem das raízes
(bananeira)
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

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Transferência para tabuleiros


Fase de aclimatação antes da passagem
com um substrato de turfa e Bananeiras transferidas
para estufa (violetas)
perlite (2:1)
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

Alguns exemplares
Um exemplar de violeta
Aclimatação em estufa das bananeiras
produzida por este método
produzidas
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

MATERIAIS E EQUIPAMENTO

Alguns reagentes e Câmara de fluxo laminar e


Bancada de trabalho Autoclave
materiais usados esterilizador
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

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Câmara de
Câmara de crescimento (terrário) Tabuleiro de propagação e aclimatação
crescimento
Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

Estufa Estufa Interior da estufa


Fonte: E.S. Frei Heitor Pinto

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