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Editorial

Nº 6 – Agosto de 2015

Diretoria

Romeu Donizete Rufino


Diretor-geral

André Pepitone da Nóbrega


José Jurhosa Junior
Compete à Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, dentre outras atri- Reive Barros dos Santos
buições, a avaliação e o acompanhamento da implementação de programas e Tiago de Barros Correia
Diretores
projetos de pesquisa e desenvolvimento e de eficiência energética no setor elé-
Supervisão técnica
trico brasileiro, em articulação com os agentes do setor e órgãos do Ministério da
Ciência Tecnologia e Inovação - MCTI, no intuito de incentivar a busca constante Máximo Luiz Pompermayer
Superintendente
por inovações e fazer frente aos desafios tecnológicos do setor elétrico. Nesse Superintendência de Pesquisa e
Desenvolvimento e Eficiência Energética (SPE)
contexto, instituiu o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento – P&D, por meio
do qual as empresas concessionárias, permissionárias ou autorizadas de distribui- Aurélio Calheiros de Melo Junior
Assessor
ção, transmissão e geração de energia elétrica aplicam, anualmente, um percen- Superintendência de Pesquisa e
Desenvolvimento e Eficiência Energética (SPE)
tual mínimo de sua receita operacional líquida em programas e projetos de P&D
no setor de energia elétrica. Comitê técnico de avaliação

Carlos Eduardo Barreira Firmeza de Brito (SPE)


Carlos Henrique Rodrigues (SCR)
Com o objetivo de compartilhar com agentes e consumidores os projetos e resul- Carmen Silvia Sanches (SPE)
tados desses programas, no ano de 2006 a ANEEL publicou a primeira edição da Celso Eduardo Hermisdorff (SFG)
Fábio Maya Cavalcante (SPE)
Revista P&D, com vistas a conferir visibilidade e transparência aos programas das Fabio Stacke Silva (SPE)
Gabriel de Jesus Azevedo Barja (SRG)
empresas dos segmentos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Jayme Milanezi Junior (SPE)
Jorge Roberto Sanches (SPE)
Kátia Resende Chaves Costa Pinto (SRG)
Nesta sexta edição, com lançamento previsto para ocorrer durante a realização Lucas Dantas Xavier Ribeiro (SPE)
Márcio Venício Pilar Alcântara (SPE)
do VIII Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica – VIII Citenel e Orlando Cavalcanti Gomes Filho (SFE)
IV Seminário de Eficiência Energética do Setor Elétrico – IV Seenel, na Costa do Sheyla Maria das Neves Damasceno (SPE)
Vitor Correia Lima França (SCG)
Sauípe (BA), foram selecionados 31 projetos, nos quais o Comitê Técnico de Ava-
Projeto gráfico e diagramação
liação identificou não apenas a contribuição para o desenvolvimento tecnológico Anderson de Oliveira Braga
do setor, mas também o potencial de aplicabilidade e disseminação dos resultados Priscila Ferreira Souza

alcançados, nos seguintes temas: eficiência energética; fontes alternativas; gestão Edição
Everton Luiz Antoni
de bacias e reservatórios; meio ambiente; medição, faturamento e combate a per- Superintendência de Comunicação e Relações
das comerciais; operação de sistemas de energia elétrica; planejamento de siste- Institucionais (SCR)

mas de energia elétrica; qualidade e confiabilidade dos serviços de energia elétri- Produção
André Melo Bacellar (SPE)
ca; supervisão, controle e proteção de sistemas de energia elétrica; e, segurança. Carmen Silvia Sanches (SPE)
Lucas Dantas Xavier Ribeiro (SPE)

Esta edição contempla, também, artigos técnicos sobre os desafios para a Revisão
Aurélio Calheiros de Melo Junior (SPE)
prospecção no setor de energia elétrica (CGEE) e sobre o Plano de Ação Conjunta Everton Luiz Antoni (SCR)
Inova Energia (BNDES), bem como uma reflexão sobre a cooperação e parceria
Impressão
estratégica para a inovação do setor de energia elétrica (SPE/ANEEL). E, enri- Triunfal Gráfica e Editora - Assis - SP
quecendo ainda mais a publicação, serão apresentados artigos encaminhados Tiragem
por The Carbon Trust e Office of Gas and Energy Markets (Ofgem), ambas as 1.000 exemplares

instituições do Reino Unido. Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)


SGAN 603 Módulos I e J
Brasília (DF)
A publicação desta sexta edição da Revista P&D reforça, uma vez mais, o cons- CEP.: 70.830-110
CNPJ 02.270.669/0001-29
tante compromisso da ANEEL com a transparência e com a busca da inovação,
Revista Pesquisa
Dúvidas, sugestõese eDesenvolvimento
comentários: da ANEEL
para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agen- revistapd@aneel.gov.br
tes e em benefício da sociedade, conforme estabelecido na missão da Agência.
Esta e outras publicações estão disponíveis
em formato digital do no portal da ANEEL
www.aneel.gov.br

ISSN 1981-9803
A Missão
da ANEEL

Proporcionar condições
favoráveis para que o mercado de

energia elétrica
se desenvolva com equilíbrio
entre os agentes e em
benefício da sociedade.
Mensagem da Diretoria
Promover a inovação tecnológica em setores regulados, como o de energia elétrica, é um dos desafios do Estado moderno ou
contemporâneo, que vem sendo cada vez mais regulador e indutor do mercado, em vez de provedor de bens e serviços, como era
no passado. A ausência de competição direta entre concessionários ou permissionários de serviços públicos é uma barreira natural
à inovação tecnológica.

Cabe, então, ao Estado a criação de políticas públicas de fomento à inovação nesses setores, para que os agentes de mercado
prestem um serviço que atenda plenamente às demandas e necessidades dos usuários, como previsto na Lei No 8.987, de 13 de
fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão para a prestação de serviços públicos no Brasil.

No caso do setor elétrico brasileiro, a principal política pública de estímulo à inovação tecnológica é decorrente da Lei No 9.991,
de 24 de julho de 2000, a qual estabelece que as concessionárias, permissionárias e agentes autorizados à produção independente
de energia elétrica devem realizar investimentos mínimos em pesquisa e desenvolvimento, segundo regulamento da ANEEL.

Antes mesmo da existência da Lei 9.994/2000, a ANEEL já havia estabelecido obrigação similar nos contratos de concessão
firmados, por delegação do Poder Concedente, com agentes concessionários de serviços públicos de energia elétrica.

Desde então, a ANEEL vem atuando para que os recursos previstos em lei sejam aplicados da melhor maneira possível,
reduzindo a dependência tecnológica do setor e melhorando a qualidade dos serviços prestados.

Nesta sexta edição da Revista de P&D da ANEEL, são apresentados os resultados de alguns dos vários projetos
desenvolvidos nos últimos dois ou três anos, os quais envolvem, geralmente, a parceria entre empresas de energia elétrica, instituições de
pesquisa e fabricantes de tecnologia.

Boa leitura!
4 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Sumário
Artigos
07 Cooperação e Parceria Estratégica Para a Inovação 10 Desafios para a prospecção no setor de energia elétrica
Tecnológica no Setor de Energia Elétrica
12 Office of Gas and Energy Markets (Ofgem)
08 A atuação do BNDES no Inova Energia
14 The Carbon Trust

Projetos
Eficiência energética Fontes Alternativas
18 AES-TIETÊ 29 CEMIG GT
Concepção e Aplicação de Sistema Semafórico Eficiente e Avaliação do Potencial de Utilização de Produtos Pirolíti-
Autônomo com Funções de Monitoramento da Rede Elétrica cos, Produzidos a Partir de Resíduos, como Combustíveis
Alternativos
22 CEMIG
Desenvolvimento de um sistema de purificação do biogás 33 CEMIG
visando à geração de energia elétrica a partir da Desenvolvimento de um protótipo de pilha a combustível de
metanização da vinhaça. óxido sólido com potência de geração de 1 kW

26 ELEKTRO 37 ELEKTRO
Estudo de impacto dos projetos Elektro Bus e Estação de Erros em Medidores Eletrônicos de Energia Elétrica,
Recarga Rápida aplicados a redes de distribuição de considerando-se Geração Distribuída e Operação em
energia Quatro Quadrantes

Gestão de bacias e reservatórios


41 CORUMBÁ CONCESSÕES 45 CEMIG GT
Análise de Valor no Uso Múltiplo de Reservatórios Prevenção e Combate a Espécies Invasoras por Detecção
Rápida e Resposta Imediata (DRRI)

Meio ambiente
49 CEMIG 57 TRACTEBEL ENERGIA
Manejo Integrado de Vegetação em Faixa de Passagem de Operação-Piloto da Boia Yara para Monitoramento de
Linhas de Transmissão Qualidade da Água em Reservatórios Hídricos

53 CTEEP 60 COELBA
Avaliação do efeito da qualidade do gás SF6 nas Postes Ecológicos: Concreto com Fibras Naturais e
propriedades dielétricas e na interação com vedações Nano TiO2, anatásio - Propriedades Fotocatalíticas
utilizadas em disjuntores

Medição, faturamento e combate a perdas comerciais


63 CELESC 71 CEMIG
Desenvolvimento de Equipamento Inteligente para Medição Sistema para medição da impedância de malhas de
e Controle Setorizados do Consumo de Energia aterramento de linhas de transmissão utilizando ondas
impulsivas
67 CEMIG
Otimização das Perdas Técnicas na Distribuição
Considerando Referencial Internacional e Análise
Técnico-Econômica
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 5

Operação de sistemas de energia elétrica


74 AES ELETROPAULO 82 CEMIG
Desenvolvimento de Conector Perfurante para Condutores Sistema de Previsão de Afluência Utilizando Árvores de
do tipo Protegido em Redes de Distribuição de Alta Tensão Regressão Nebulosas
de 15 kV, 25 kV e 34,5 kV

78 CEMIG
Métodos de Tomada de Decisão Multicriterial aplicados à
Reconfiguração e Restauração de Sistemas de Distribuição
de Energia Elétrica

Planejamento de sistemas de energia elétrica


84 CELPE
Conceituação e desenvolvimento de um sistema inteligente
para gestão técnica eficiente de redes de distribuição

Qualidade e confiabilidade dos serviços de energia elétrica


87 AES SUL 94 AES ELETROPAULO
Projeto Neutro Ressonante AES Sul Regulador de Tensão Portátil para Redes de Baixa
Tensão – Lote Pioneiro Supervisão, controle e proteção de
91 CTEEP sistemas de energia eletrica
Protótipo de sistema de medida de corrente de polarização
para diagnóstico da degradação de sistemas papel-óleo

Supervisão, controle e proteção de sistemas de energia elétrica


98 TRACTEBEL ENERGIA 105 CELESC
Análise numérica e analítica da deformação de grades de Ferramenta de Detecção, Localização, Isolação e
tomada d’água de usinas hidrelétricas para desenvolvimento Recomposição de Faltas em Ambientes Smart Grid
de sistema de monitoramento

102 AES ELETROPAULO


Estudo e Análise do Dimensionamento das Malhas de Terra
e de Neutro Considerando as Frequências que Influenciam
no Comportamento das Diversas Topologias em Sistemas
Subterrâneos

Segurança Outros temas


109 COELBA 122 CELESC
Desenvolvimento de coberturas rígidas fotoluminescentes Desenvolvimento de Um Sistema Porcelânico Aplicado
para realização de atividades em linha viva noturna às Redes de Distribuição da CELESC

114 COELBA 127 COELBA


Ferramenta hidráulica para aplicação de conector cunha, Isolador Polimérico Modular: Classes 15 e 34,5 kV
prensa terminal e corte de cabos
130 CELG D
118 ELEKTRO Refinamento de Banco de Dados Georreferenciado
Robô Autônomo para Inspeção Visual de Linha de Utilizando Agentes Inteligentes
Distribuição
Artigos
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 7

Cooperação e Parceria Estratégica


Para a Inovação Tecnológica
no Setor de Energia Elétrica
Máximo Luiz Pompermayer
Superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética

Entre as várias questões discutidas durante o processo de vimento de seus negócios e para a prestação de um serviço que
reestruturação do setor elétrico brasileiro, em meados da dé- atenda, plenamente, as condições previstas em lei e cobradas
cada de 1990, estava o papel das empresas de energia elétri- pelos consumidores.
ca no processo de inovação tecnológica. Como previsto na Lei
Nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime O desafio maior é a formação de parcerias ou alianças estra-
de concessão e permissão para a prestação de serviços públi- tégicas entre três conjuntos de atores que exercem atividades
cos no Brasil, o concessionário ou permissionário deve prestar diferentes e atuam em setores econômicos bem distintos. Trata-
um serviço plenamente adequado às demandas ou necessida- -se da indispensável aproximação entre empresas de energia
des dos usuários. elétrica, instituições de pesquisa e fabricantes de tecnologia.

A referida lei qualifica serviço adequado como aquele que sa- As empresas de energia elétrica direcionam seus esforços
tisfaz várias condições, entre as quais a da atualidade, que as- para a produção, a transmissão ou a distribuição de eletricida-
segura a modernidade das instalações, equipamentos e técnicas de, onde há pouca ou nenhuma concorrência direta entre elas,
utilizadas na prestação do serviço. Depreende-se dessa leitura exceto na fase de licitação dos empreendimentos, notadamente
que o concessionário ou permissionário de serviço público deve no segmento de geração. Como ensina a teoria econômica, a
buscar o que há de melhor no mercado em termos tecnológicos. ausência de competição direta ou a baixa concorrência entre as
empresas é um desestímulo natural à inovação tecnológica.
Mas será que basta buscar no mercado a melhor tecnologia
disponível? Será que o mercado é um provedor racional, eficien- As instituições de pesquisa, notadamente as universidades,
te e eficaz de tecnologias para a prestação de um serviço público têm suas atenções voltadas para a formação acadêmica e para
como o de energia elétrica? O Governo Federal e o Congresso a pesquisa científica, que são indispensáveis, porém, insuficien-
Nacional entenderam que não, e estabeleceram, por meio da Lei tes para o desenvolvimento tecnológico e a inovação nos setores
Nº 9.991, de 24 de julho de 2000, a obrigatoriedade de investi- produtivos. Seus indicadores de produtividade são baseados,
mentos mínimos, por parte das empresas de energia elétrica, em essencialmente, na produção científica e na formação acadê-
projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, segundo mica. Além disso, a grande maioria das instituições de pesquisa
regulamento estabelecido pela ANEEL. brasileiras são públicas, e, portanto, não dependem do mercado
nem de parcerias com empresas ou instituições privadas.
A própria ANEEL já havia entendido que não, quando, em
1998, estabeleceu essa obrigação nos contratos de concessão Os fabricantes e fornecedores de tecnologias para o setor
firmados com agentes do setor. de energia elétrica direcionam seus esforços e estratégias para
o desenvolvimento de produtos e serviços que lhes proporcio-
Entende-se, portanto, que não convém deixar por conta do nem o melhor retorno econômico possível. E isso nem sempre é
mercado as inovações tecnológicas no setor de energia elétri- vantajoso para as empresas de energia elétrica (seus clientes),
ca. E um dos principais argumentos favoráveis a essa tese é muito menos para os consumidores e usuários dos serviços de
que não é raro encontrar no mercado soluções ou tecnologias eletricidade. Como já mencionado, não é raro encontrar no mer-
importadas cujo custo é muito superior àquele que teriam caso cado tecnologias produzidas e/ou desenvolvidas no exterior e
fossem desenvolvidas localmente. Além disso, as melhores so- comercializadas no Brasil a um preço muito superior ao que se-
luções tecnológicas ou oportunidades de inovação são identifi- ria praticado se elas fossem desenvolvidas e produzidas no país.
cadas, em geral, pelos próprios agentes do setor (concessioná- Além disso, há lacunas tecnológicas que serão preenchidas so-
rias, permissionárias e autorizadas à produção independente de mente por meio de instrumentos públicos de promoção da inova-
energia). ção, como os previstos na Lei Nº 9.991, de 24 de julho de 2000.

Portanto, mais do que buscar no mercado o que há de melhor Criar estímulos para que haja a necessária aproximação entre
em termos tecnológicos, cabe aos agentes do setor participar esses três universos distintos, com diferentes interesses, cultu-
ativa e diretamente dos processos de inovação tecnológica que ras e estratégias de negócio, é o grande desafio e a chave para
assegurem um serviço plenamente adequado às demandas e às o sucesso na consolidação desse importante mecanismo de pro-
necessidades dos usuários. moção da inovação tecnológica no setor de energia elétrica. Ao
longo de seus dezessete anos e meio de atuação, a ANEEL vem
Como responsável pela regulação e pela fiscalização de uma procurando criar mecanismos regulatórios que estimulem essa
das principais políticas públicas de estímulo à inovação tecnoló- aproximação e assegurem a prestação de um serviço público
gica no setor de energia elétrica, a ANEEL tem procurado criar que atenda as condições de qualidade estabelecidas em lei e
mecanismos que incentivem os agentes do setor a transformar desejadas pelos consumidores finais.
uma obrigação legal em ferramenta estratégica para o desenvol-
8 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

A atuação do BNDES
no Inova Energia
Ricardo Rivera de S. Lima
Gerente Setorial BNDES – Área Industrial / DETIC

O Plano de Ação Conjunta Inova Energia é uma iniciativa gás, telecom, segurança, trânsito – e melhoria na qualidade dos
voltada à coordenação das ações de fomento à inovação e ao serviços públicos em geral.
aprimoramento da integração dos instrumentos de apoio dispo-
nibilizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Por outro lado, o nível de perdas não técnicas e técnicas é
e Social (BNDES), pela Agência Nacional de Energia Elétrica alto, especialmente em áreas urbanas. Segundo relatórios da
(ANEEL) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Bloomberg, cerca de US$ 5 bilhões são perdidos no Brasil, por
ano, em razão de furto de energia, erros de faturamento e medi-
O Inova Energia começou a ser formulado no último trimestre ção; além disso, 16% da energia produzida não é vendida, por
de 2012, ocasião em que o tema de Redes Elétricas Inteligen- razões técnicas e não técnicas.
tes (REIs) estava em evidência, devido, entre outros fatores, à
publicação dos primeiros resultados do estudo “Projeto Estra- A busca por maior eficiência operacional talvez seja o vetor
tégico ANEEL de P&D sobre Redes Inteligentes”, capitaneado mais relevante para as concessionárias com menores perdas,
pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica nas quais os principais benefícios da instalação do Smart Grid
– ABRADEE. As perspectivas para os investimentos nessa área contemplam a identificação de falhas e a redução de gastos com
são promissoras, em razão do surgimento de novas tecnologias deslocamento de equipes de manutenção preventiva e corretiva
de comunicação e da possibilidade de ganhos resultantes da da rede.
redução do furto de energia e dos gastos de manutenção da
rede elétrica. O BNDES, por meio do Departamento de Tecnologia da Infor-
mação e Comunicação – Área Industrial (que apoia empresas de
O Smart Grid é um conceito com múltiplas definições, mas eletrônica, software e telecomunicações), identificou que o tema
que, em síntese, abrange o monitoramento e automação das Smart Grid representa uma oportunidade para o crescimento de
plantas de energia elétrica com a inserção das Tecnologias de diversas empresas brasileiras, que podem aproveitar os investi-
Informação e Comunicações (TICs), que permitem, entre outras, mentos em modernização do setor energético para desenvolver
as seguintes funcionalidades: a melhora na eficiência da gestão novas tecnologias e soluções.
das redes; a redução de perdas; a prestação de novos servi-
ços de valor agregado pelas concessionárias de distribuição de Entendeu-se, no entanto, que esse era um desafio que ne-
energia; a gestão de consumo de energia pelos clientes; a in- cessitava de maior articulação para ser atendido. Portanto, foi
serção de geração distribuída de energia (solar, eólica etc) e de utilizado como modelo de atuação o Plano BNDES-FINEP de
veículos elétricos conectados às redes. Apoio à Inovação dos Setores Sucroenergético e Sucroquími-
co (PAISS). Na primeira década do séc. XXI, Estados Unidos e
A implantação das REIs consiste, inicialmente, na substitui- Europa investiram, em conjunto, US$ 4 bilhões para o desenvol-
ção do parque de medidores eletromecânicos por eletrônicos vimento da tecnologia de etanol de segunda geração, enquanto
inteligentes, com dispositivo de comunicação, que permitem a que a carteira de apoio a essa tecnologia no BNDES e na Finan-
gestão do horário de consumo de energia pelo consumidor, a ciadora de Estudos e Projetos (FINEP) não chegava a R$ 100
redução de perdas técnicas e não-técnicas (furto), o corte e re- milhões. O investimento público estava pulverizado em iniciati-
ligamento à distância e o fluxo bidirecional de energia (geração vas pouco coordenadas. Então, no início de 2011, essa situação
distribuída), entre outras vantagens. Somadas aos investimen- mudou significativamente, com a criação do PAISS, um plano
tos em automação, TI e comunicações ao longo de toda a rede, conjunto de fomento estruturado. O edital de chamada do plano
essas funcionalidades permitem ganhos para as concessioná- previa R$ 1 bilhão de recursos inicialmente, com iguais aportes
rias de energia, consumidores e sociedade, que incluem: redu- pelo BNDES e pela FINEP, mas seu sucesso foi maior do que
ção de energia não distribuída e perdas por fraudes; melhoria o esperado: 25 empresas submeteram 35 planos de negócios,
na eficiência operacional e gestão de ativos; redução da neces- gerando investimentos superiores a R$ 3 bilhões.
sidade de expansão da capacidade de geração, transmissão e
distribuição de energia; possibilidade de pré-pagamento; medi- Nesse sentido, tanto a Finep quanto a Aneel já possuíam ini-
ção de outros serviços (água e gás); gerenciamento de eletrodo- ciativas para apoiar Redes Elétricas Inteligentes. Houve a com-
mésticos; redução da frequência e da duração de interrupções preensão, porém, de que se todas as instituições trabalhassem
de energia. juntas, o resultado poderia ser mais efetivo, face ao encadea-
mento das suas atribuições. A ANEEL regula o setor e coordena
Em estágios posteriores, existe a possibilidade de introdução recursos de Pesquisa e Desenvolvimento das empresas Gerado-
da geração distribuída (notadamente solar e eólica), do arma- ras, Transmissoras e Distribuidoras de Energia; o BNDES é um
zenamento descentralizado e de veículos elétricos/híbridos, fa- dos grandes financiadores dessas mesmas empresas e das que
tores esses que contribuirão para a redução da necessidade de produzem soluções para o setor energético; e a Finep possui li-
geração (e custo) de energia, bem como para a utilização de nhas subsidiadas para apoiar projetos com risco tecnológico. Em
energia mais limpa para transporte. Também faz parte da visão conjunto, foi formulado um diagnóstico e, após estudo, foram in-
de futuro a expansão das REIs para o conceito de cidades inte- corporadas as seguintes temáticas (além do Smart Grid) para a
ligentes (smart cities), onde a infraestrutura de informação e au- iniciativa de fomento: transmissão em ultra-alta tensão; geração
tomação permitirá o uso eficiente dos recursos – energia, água, de energia através de fontes alternativas (fotovoltáica, heliotérmi-
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 9

ca e eólica); e veículos híbridos e eficiência energética veicular. ciamento de R$ 26 milhões para a empresa implantar a mais
moderna fábrica de painéis fotovoltaicos do Brasil, em Marechal
Em março de 2013 foi formulado um Acordo de Cooperação Deodoro (Alagoas). O Plano prevê a nacionalização de compo-
entre ANEEL, BNDES e Finep, e em seguida foi publicado o nentes dos painéis fotovoltaicos, em projeto de desenvolvimento
Edital de Seleção Conjunta de Planos de Negócio de Empre- conjunto com empresas brasileiras.
sas visando o apoio financeiro a projetos no âmbito do PLANO
DE APOIO CONJUNTO INOVA ENERGIA. Entre as diretrizes do A Pure Energy pretende atuar no mercado de geração distri-
Plano, merecem destaque: apoiar a agregação de valor no Bra- buída, fornecendo soluções de geração de energia a partir da
sil; incentivar inovações; promover parcerias entre as concessio- captação solar, para clientes residenciais, dos setores de cons-
nárias de energia e empresas de produção e tecnologia brasilei- trução civil e de comércios e serviços, e no mercado de geração
ras; e criar um balcão unificado de projetos para os temas. centralizada, de forma a aproveitar as oportunidades previstas a
partir dos leilões de energia de fonte solar.
A previsão inicial era de um orçamento de R$ 3 bilhões para
apoio. No entanto, foram aprovados planos de negócios tota- No terreno da Pure Energy, uma área será destinada à cons-
lizando mais de R$ 7 bilhões em financiamento (incluindo os trução de uma usina de geração de energia solar fotovoltaica
fluxos direto e normal de tramitação), envolvendo mais de 120 com capacidade de cerca de 1 MW. Esse sistema suprirá o con-
empresas. Ao BNDES coube um apoio de cerca de R$ 3 bilhões sumo de energia da fábrica e servirá de campo de testes para os
em cerca de R$ 60 projetos. desenvolvimentos e adaptações previstos no projeto.

Entre os projetos de destaque apoiados pelo BNDES, ser-


ve como exemplo o da Pure Energy. O BNDES aprovou finan-
10 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Desafios para a prospecção


no setor de energia elétrica
Mariano Francisco Laplane1
Ceres Zenaide Barbosa Cavalcanti
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE

Antecipar para diagnosticar e planejar o futuro é uma es- ção. Assim, a União Europeia, em sintonia com outros países
tratégia fundamental e de sobrevivência, seja de governos, de líderes do capitalismo, coleta informações que servem de base
empresas e até mesmo deou até de pessoas. Os exercícios de para a atuação dos governos na promoção da inovação, por
prospecção buscam entender as forças que orientam o futu- meio da aplicação dessas metodologias em estudos e pesquisas
ro, promover transformações, negociar espaços e dar direção sobre o tema, sobre inovação e por meio de políticas públicas
e foco às mudanças. Esses estudos são conduzidos de modo para a CT&I.
a “construir conhecimento”, ou seja, buscam agregar valor às
informações do presente, de modo a transformá-las em conhe- No caso do Brasil, desde meados da década de 1990, o go-
cimento e em subsídio para os tomadores de decisão e para os verno federal redireciona as Políticas de Ciência, Tecnologia e
formuladores de políticas, destacando rumos e oportunidades Inovação para o setor produtivo, com a intenção de intensificar
para os diversos atores sociais (CGEE, 2014). as atividades de inovação nas empresas. Os Fundos Setoriais
de Ciência e Tecnologia (Lei nº 11.540/2007), a Lei de Inovação
No que se refere ao desenvolvimento científico e tecnológico, (Lei nº 10.973/2004) e a Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005) são
fazer prospecção significa identificar quais são as oportunida- exemplos desse esforço.
des e necessidades futuras mais importantes para a pesquisa.
Os processos sistemáticos de analisar e produzir julgamentos No caso especifico do setor elétrico brasileiro, além das medi-
sobre características de tecnologias emergentes, rotas de de- das citadas, foi criada a Lei nº 9.991/2000, que estabelece os in-
senvolvimento e impactos potenciais no futuro estão inseridos vestimentos mínimos em P&D a serem realizados pelas empresas
no conceito de Technology Future Analysis - TFA, que incorpora concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor. A Lei,
uma grande variedade de métodos de prospecção tecnológica. regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANE-
Nesse sentido, o TFA busca integrar conceitos de Technology EL), estabelece, por meio do Manual do Programa de Pesquisa
Foresight e Assessment Studies, predominantes no setor públi- e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica, os
co, e de Technology Forecasting e Intelligence, mais ligados às parâmetros para a execução dos projetos de Pesquisa e Desen-
demandas do setor privado (CGEE,2014). volvimento – P&D e para o seu acompanhamento e avaliação.

Para intensificar a geração de inovações, que respondam aos Os desafios tecnológicos do setor são diversos. O planeja-
interesses da sociedade, diversos esforços foram realizados ao mento energético nacional prevê, para o período de 2013-2022
redor do mundo para discernir e fomentar as práticas que le- (PDE, 2014)4, um crescimento na demanda de eletricidade em
vam à inovação. Metodologias para a priorização, mensuração 4,7% a.a, o que requer, para o mesmo período, um crescimento
e avaliação de atividades científico-tecnológicas são artifícios de 56% da capacidade instalada de geração de energia elétri-
muito usados por países com economias de base tecnológica ca nacional, na qual a energia proveniente da fonte hidráulica
para direcionar e acompanhar a evolução de sua politica de contribuirá com 54% desse crescimento e a energia originária
Ciência, Tecnologia e Inovação - CT&I. Os casos do Manual da fonte eólica com 24%. Para a transmissão, há previsão para
Frascati, publicado inicialmente em 1963, após uma reunião de construção de 51.578 km de rede elétrica, o que representa um
especialistas em estatísticas de P&D, na cidade de Villa Falco- crescimento de 49,5% no mesmo período. Tais índices de cres-
nieri de Frascati, na Itália2 , e do Manual de Oslo3 (OCDE, 3ª cimento, que compatibilizam com a diretriz da política energé-
Edição 2005) são exemplos disso. Os EUA, por meio do seu De- tica nacional (segurança e modicidade tarifária) e com toda a
partamento de Energia (DoE), analisam as tecnologias críticas complexidade do sistema elétrico brasileiro, são uma mostra do
utilizando a metodologia de Threat and Risk Assessment-TRA, desafio para o desenvolvimento tecnológico no setor.
enquanto. oOutros países utilizam a técnica Foresight, mas, de
um modo geral, a maioria dos países desenvolvidos apresentam Atender a tais taxas de crescimento é um desafio, e, ape-
uma estratégia de CT&I com base em algum tipo de prospec- sar da existência de instrumentos de fomento, o setor apresenta
obstáculos a serem superados a fim de otimizar o seu desempe-
nho em pesquisa, desenvolvimento e inovaçã. A falta de cultura
1 Presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE. Email: presidencia@ inovadora no setor é uma realidade que aflora quando se obser-
cgee.org.br. va, frequentemente, que o departamento de P&D das empresas
2 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, 1ª edição 1963. é um mero prestador de contas aos órgãos de controle. Esse
3 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, 1ª edição 1990. fato se deve, possivelmente, à combinação do efeito crowding
4 Utiliza como uma média das premissas de crescimento do PIB nacional de 4,8% a.a e do out com a perda do foco dos projetos na resolução de proble-
populacional de 0,6% a.a. mas práticos das empresas, por meio de inovações incremen-
5 Utiliza como uma média das premissas de crescimento do PIB nacional de 4,8% a.a e do tais, com o fato de o setor de energia elétrica no Brasil ter níveis
populacional de 0,6% a.a. reduzidos de competição em alguns segmentos, tais como no
Vale da Morte: período de baixa obtenção de recursos de financiamento à P&D, dentro do segmento de distribuição de energia elétrica residencial.
processo de desenvolvimento da oferta inovativa. Ocorre durante o aumento de escala da
tecnologia, precedido pela etapa de Pesquisa Aplicada e sucedido pela etapa de Comerciali- Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -–
zação e Desenvolvimento de Mercado (Definição baseada no artigo: A Valley of Death in the IPEA (2011) avaliou os resultados do programa de P&D regulado
innovation sequence: an economic investigation 2009).
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 11

pela ANEEL, desde o início do programa até o ano de 2007. O 3. Revisão do Manual, de forma a torná-lo mais objetivo e claro;
estudo menciona que, da amostra avaliada, 30% dos projetos
executados, não foram considerados projetos de inovação e/ 4. Sistema de informação, de forma a melhor disseminar as
ou não estão coerentes com o programa de P&D regulado pela experiências e informações do programa.
ANEEL. Da amostra avaliada, 56% dos projetos considerados
PD&I se encontravam nas etapas iniciais da cadeia de inovação, Por outro lado, o mesmo estudo também identificou uma
o que sugere uma certa distância das etapas mais avançadas da mudança de perfil dose projetos do programa de P&D regula-
pesquisa e desenvolvimento, evidenciando, assim, que os proje- do pela ANEEL. Em 2007, 84% dos projetos estavam abaixo de
tos do programa supramencionado não ultrapassam o chamado R$ 1 milhão, e, em 2012, a maioria dos projetos estava aci-
“Vale da Morte”5. ma de R$ 1 milhão, e 5% estavam na faixa entre R$ 25 e
R$ 61 milhões. Essa mudança mostra uma maturidade do pro-
Um recente estudo do CGEE, sobre as dificuldades e propos- grama e das empresas, num horizonte de projetos mais estrutu-
tas de melhorias para o mesmo programa, dividiu os obstáculos rantes. E, provavelmente, foi essa tendência por projetos mais
identificados em dois tipos: os externos, nos quais a empresa robustos que levou as empresas a buscarem a montagem de
não possui governabilidade; e os obstáculos internos, aqueles projetos conjuntos (cooperativos).
que são de governabilidade da empresa.
Todavia, embora o setor possua uma política com diretrizes,
No que se refere às dificuldades externas às empresas, o ali- estudos de planejamento e ferramentas de fomento ao desen-
nhamento com outras políticas de PD&I foi levantado por todos volvimento do PD&I, ainda apresenta dificuldades para a ino-
os atores, principalmente pelo governo. As empresas sinaliza- vação. O estudo mostrou que a principal causa é a falta de cul-
ram que os critérios de avaliação dos projetos, adotados pela tura inovadora no setor. São poucos os exemplos de estudos
ANEEL, a fiscalização excessiva (dos diferentes órgãos do go- prospectivos oficiais realizados pelo setor elétrico, sendo mais
verno) e a falta de um entendimento sobre o conceito de PD&I comumente encontrados na comunidade científica.
por parte dos fiscalizadores também constituem obstáculos ao
desenvolvimento do setor elétrico. A comunidade científica, por Nesse sentido, um dos exemplos é o caso de estudos pros-
outro lado, também chamou a atenção para a dificuldade com pectivos no segmento da geração eólica. Numa análise dos es-
as auditorias. tudos de planejamento energético, percebeu-se que a tendên-
cia de crescimento da energia eólica tornava-se cada vez mais
Dentre as dificuldades internas, foi identificada, principalmen- acentuada, em resposta a um mercado crescente, resultante
te, a falta da cultura de inovação na empresa e na universidade dos leilões dos últimos anos. Por conta disso, o Ministério de
– e tal obstáculo gera uma dificuldade na articulação entre elas, Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI verificou a necessidade
uma vez que a vocação das universidades brasileiras é voltada de estudar as tecnologias críticas associadas a essa fonte. O
para a pesquisa, e não para os resultados e inovação. A questão CGEE, então, elaborou dois estudos (2011/2012 e 2014/2015)
da capacitação também deve ser considerada, nesse contexto, para o Ministério. No primeiro estudo, foram mapeadas, diagnos-
devido à falta de infraestrutura e à falta de incentivo para forma- ticadas e elaboradas as recomendações gerais. No segundo, foi
ção de RH pela empresa, e pelo programa de PD&I. construida a visão de futuro (desenvolver um aerogerador de 5
MG no Brasil), realizada uma análise da criticalidade e, após uma
Apesar do amplo universo das dificuldades levantadas, o es- análise das deficiências, foi elaborada uma proposta de atuação
tudo mostra uma convergência para quatro conjuntos de medi- para o Ministério. Houve, ainda, proposta para a construção de
das e/ou ações: um centro de teste e demostração para a tecnologia de gerado-
res eólicos. Estudos semelhantes, com base num processo bem
1. Mudanças estratégicas pontuais do programa, tais como a fundamentado de diagnóstico, prospecção e posicionamento po-
criação der uma premiação e a; articulaçãor dos diversos instru- derão ser realizados para outras fontes de energia, fornecendo
mentos de CT&I; uma visão mais abrangente das oportunidades e necessidades
de pesquisa futura no setor.
2. Capacitação com foco em cursos operacionais (no enten-
dimento de regulamentos, p.ex.), e também de formação com o
conteúdos mais abrangentes, tais como os que envolvem plane-
jamento estratégico;
12 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Office of Gas and Energy Markets (Ofgem)


Ao longo dos últimos cinco anos, a Ofgem, reguladora de rede de energia da Grã-Bretanha,
tem administrado o Fundo de Redes de Baixo Carbono. Este é um mecanismo de financiamen-
to inovador que estimula a inovação no modo como as redes de distribuição de eletricidade
fazem negócios. Nesse artigo, a Ofgem mostra aspectos de sua execução.
Dora Guzeleva, Head of Distribution Policy
Sam Cope, Senior Manager, Policy Development
Katherine Harris, Policy Analyst

O Fundo de Redes de Baixo Carbono (LCN) começou em • Um portal online foi criado para que todos pudessem
2010. Esse fundo aportou £500 milhões (USD 750 milhões) ao sugerir ideias, visíveis a todas as DNOs. Esse processo aberto
longo de cinco anos para financiar projetos de inovação de rede. assegurou uma grande variedade de projetos.
O objetivo era incentivar as empresas de distribuição de energia
elétrica (DNOs) a pensar os desafios que uma economia de bai- • Um dos critérios de avaliação foi a obrigatoriedade de
xo carbono trará, minimizando os custos para os clientes. Neste que as DNOs evidenciassem que executaram um processo justo
artigo, destaca-se o conhecimento adquirido em cada etapa do e transparente para selecionar ideias e parceiros do projeto.
“ciclo de vida do projeto” – desde a concepção das ideias até a
implementação, por meio de negócios, das soluções comprova- Estas medidas encorajaram terceiros a participar e engaja-
das. ram diferentes parceiros do projeto no processo. Deve-se re-
conhecer a importância disso, pois a combinação de diferentes
Ao longo dos últimos cinco anos, foram disponibilizados contribuições técnicas pode ser a chave para o sucesso de um
£212m (USD 325 milhões) para 23 projetos de larga escala (se- projeto.
gundo nível), assim como £29 milhões de libras (USD 45 mi-
lhões) para 42 projetos de menor dimensão (primeiro nível) . FASE 2 - Ofgem avalia cada proposta de projeto
Houve, também, competições anuais de inovação para os proje-
tos caracterizados no segundo nível e um fundo de até £100 mi- Os projetos foram avaliados com vários critérios. Estes inclu-
lhões (USD 150 milhões) para reconhecer os projetos mais bem íram: a perspectiva de economia de carbono e financeira; custo
sucedidos e que proporcionaram aprendizagens excepcionais. . financeiro na concepção e gestão dos projetos; o conhecimento
que poderia ser compartilhado; envolvimento dos parceiros; re-
O recurso financeiro fornecido para os projetos veio dire- levância e oportunidade; e consistência da metodologia do pro-
tamente dos clientes das empresas. Ao investir esse recurso jeto. Todos esses pontos foram avaliados para formar uma visão
nos projetos, espera-se evitar custos muito maiores no futuro e de conjunto do mérito de cada um dos projetos.
ajudar a garantir a segurança do abastecimento de energia na
transição para tecnologias de baixo carbono. De acordo com as A avaliação das propostas não era uma prática usual para a
regras do fundo, uma empresa executa cada projeto em nome Ofgem. Embora muitas vezes tenha-se lidado com avaliações
d os clientes de toda a rede de distribuição da Grã Bretanha. complexas, projetos inovadores e incertos eram novidade. En-
Essa empresa, então, compartilha sua experiência com as de- tão, para garantir que a avaliação fosse adequada, utilizou-se
mais, de modo que as inovações de sucesso possam ser im- um conjunto de especialistas em economia, engenharia, meio
plementadas em todo o segmento . Isso garante que o “retorno ambiente, negócios e clientes. Os especialistas reuniram-se com
sobre o investimento” seja maximizado, sem duplicar esforços. as DNOs para questioná-los sobre as propostas. Foi dada às
E sendo a seleção para o financiamento por meio de concorrên- empresas a oportunidade de reapresentar suas propostas após
cia, melhora-se a qualidade e reduzir-se os custos dos projetos, estas sessões para torná-las o mais sólidas possíveis. Avalia-
maximizando seus ganhos. ções independentes do comitê sobre todas as propostas deram
perspectivas diferentes e realmente ajudaram a Ofgem na toma-
FASE 1 – Propostas de projetos desenvolvidas por empre- da de decisões.
sas de distribuição
Inicialmente, verificou-se que alguns dos argumentos recebi-
Cabia a cada DNO determinar quais tipos de projetos seriam dos foram muito fracos. Muitas vezes teve-se que voltar às em-
propostos, por possuir maior capacidade para identificar a ne- presas para obter mais informações de forma a ajudar na com-
cessidade de projetos (em vez do regulador ou usuários indi- preensão das suas proposições. Mas, uma vez que as empresas
viduais do sistema). Mas não se esperava que as ideias para sabiam o padrão exigido e o grau de questionamento a enfrentar
os projetos viessem apenas das DNOs – era importante que no processo, notou-se grande melhoria ao longo dos cinco anos.
estas considerassem uma gama de propostas. Priorizando as
melhores – aquelas com máximo benefício futuro –. Para ajudar FASE 3 - Executando os projetos
a garantir isso:
Quando da concepção do fundo, pretendeu-se assegurar que
1 Projetos de Primeira Linha foram limitados a uma determinada quantidade de financiamento, as DNOs administrariam bem os projetos, uma vez que estes
estabelecida em uma condição de licença de distribuição. Projetos de Segundo Nível eram seriam financiados com recursos dos clientes. Foi demandado,
projetos de maior envergadura, que exigem financiamento acima desse limite. ainda, que as DNOs contribuíssem com pelo menos 10% do
2 Existem 14 DNOs na Grã-Bretanha, de propriedade de seis grupos. Projetos podem ser custo do projeto, de modo que uma parte de seu próprio recur-
administrados por qualquer grupo de DNO em uma ou mais das suas zonas da rede. so estivesse envolvido. Na submissão das propostas, as DNOs
3 Devido aos riscos envolvidos, reconhece-se que nem todos os projetos serão bem sucedidos. propuseram metas (abrangendo duração, custo e qualidade) e
Mas pode-se aprender com os que não são, pois há valor em saber o que não funciona. se comprometeram a cumpri-las durante a vida útil do projeto.
Os projetos que alcançarem as metas seriam elegíveis a uma
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 13

premiação limitada ao montante investido pela DNO, sendo este FASE 5 – Implementando inovações como ‘negócios’
um incentivo para entregar o projeto com o mais elevado padrão.
No caso da entrega de projetos bem sucedidos, espera-se
Outro desafio enfrentado foi lidar com alterações durante a que as empresas levem isso em consideração durante o plane-
execução dos projetos. Por exemplo, alguns tiveram dificulda- jamento e operação do negócio .
des em recrutar clientes para testes e tiveram de recuar em suas
aspirações originais. Ao mesmo tempo em que se buscava flexi- Isso é algo que já começa a ser percebido, com algumas
bilidade para permitir desafios ou mudanças que surgiam ao lon- inovações de sucesso dos projetos de primeira linha concluídos
go da execução, por meio de financiamento numa base compe- sendo transformadas em negócios da empresa. O Fundo LCN
titiva, não era desejável que se fizessem muitas mudanças após teve um impacto fundamental sobre a cultura da indústria. As
a aprovação dos projetos, pois isto poderia reduzir os benefícios empresas estão pensando mais em inovação e, conforme era
para os consumidores. As empresas deveriam solicita formal- esperado, isto está começando a traduzir-se em atividades usu-
mente quaisquer alterações substanciais, que seriam ou não ais de negócios. As recentes determinações para o novo con-
aprovadas. Caso o escopo original do projeto fosse alterado, in- trole de preços de distribuição de energia elétrica incluem cer-
clusive no aprendizado decorrente de sua execução, buscou-se ca de £1 bilhão de economias decorrentes do investimento em
assegurar que ou conhecimento equivalente fosse obtida ou que inovação, muito do qual foi promovido pelas DNOs. E há ainda
os custos do projeto fossem reduzidos. estímulo para mais economia com um incentivo à eficiência no
controle de preços.
FASE 4 - Compartilhando a aprendizagem
Algumas conclusões
Um dos requisitos é que os projetos produzissem conheci-
mento durante todo a sua duração. As DNOs apresentariam Embora os cinco anos de financiamento do Fundo LCN te-
relatórios de progresso semestrais ao longo do projeto e os pu- nham terminado, continua o apoio e incentivo às empresas em
blicariam em um portal de compartilhamento de conhecimento. inovar para reduzirem custos futuros para os clientes. A mu-
Também existiriam eventos para disseminara aprendizagem dança cultural que tem ocorrido na indústria nesse período tem
com a indústria, como a Conferência de Redes & Inovação de sido considerável, e espera-se que isso continue conforme as
Baixo Carbono, que cresceu e se tornou o maior evento de redes inovações são desenvolvidas e tornam-se parte da prática de
inteligentes de energia no Reino Unido. negócios.

Ao final de cada projeto, as empresas produziram um relató- Ocorrerá uma revisão completa dos benefícios do Fundo LCN
rio com informações suficientes para que outros adotassem a em 2016, entretanto, continua o financiamento à inovação atra-
inovação. Esses relatórios foram analisados por peritos de pelo vés das Competições de Inovação de Rede de Gás e Eletricida-
menos uma outra DNO, houve também casos de DNOs que rea- de que começaram em 2013. Estas têm um âmbito mais vasto
lizaram consultas públicas sobre os seus relatórios para permitir que o Fundo LCN, pois empresas de transporte e distribuição de
que outras partes interessadas pudessem contribuir. gás também podem apresentar projetos.

Um outro desafio do processo é o de direitos de proprieda- O progresso visto até agora é encorajador. Na criação do
de intelectual (DPI). Quando o Fundo LCN foi criado, esperava- Fundo de LCN, quis-se dar o pontapé inicial a uma cultura de
-se um equilíbrio entre permitir que outras DNOs acessassem o inovação na indústria que, sem dúvida, ocorreu. No futuro, espe-
aprendizado de um projeto para que pudessem adotar a mesma ra-se vê-la continuar independente de mais financiamento.
inovação e o incentivo para que pequenas empresas “inovado-
ras” pudessem tornar-se parceiras do projeto. Também havia o
interesse na perspectiva de recurso dos clientes sendo usado
para desenvolver DPI e criar mercados para produtos terceiriza-
dos – com esses mesmos produtos sendo comercializados para
os próprios clientes que os financiaram. Criou-se um conjunto
padrão de regras sobre DPI, após ter atingido um bom equilíbrio,
mas que podem ser alteradas em determinadas circunstâncias.
14 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

The Carbon Trust


Abordagens políticas de apoio à inovação em eletricidade de baixo carbono:
lições do setor eólico offshore do Reino Unido

Jan Matthiesen
Diretor – Carbon Trust

Os impactos e custos previstos das mudanças climáticas sig- abordagem é chamada de technology-push (incentivo tecnológi-
nificam que estas tornaram-se de importância fundamental para co) e os tipos de inovações que resultam são muito importantes,
promover o crescimento da eletricidade de baixo carbono. No pois podem revolucionar a forma como se enxerga os problemas
entanto, muitas soluções de baixa emissão de carbono estão (por exemplo, raio-x, marca-passo). No entanto, o risco com uma
em sua infância tecnológica e exigirão o apoio do governo (como abordagem puramente technology-push é que, sem o envolvi-
já aconteceu com os combustíveis fósseis) para se desenvolve- mento direto dos usuários finais, a invenção pode não atender
rem e competirem com as fontes tradicionais de energia elétrica. às necessidades de seus clientes. A abordagem alternativa é o
Inovação e mais colaboração entre governo, indústria e acade- market-pull (pressão de mercado), onde os usuários finais estão
mia são necessários para que as tecnologias de baixo carbono diretamente envolvidos no projeto e na diminuição de riscos da
sejam implantadas em escala global e com um custo menor na tecnologia. Para que o market-pull funcione, é preciso haver uma
próxima década. ideia clara de como uma inovação será usada comercialmente.

No setor de energia, desenvolvedores de parques eólicos e


Com poucas exceções, a passagem de inovação tecnológica monopolistas naturais são avessos a riscos e podem não ser in-
para um mercado comercial maduro requer um quadro político dividualmente capazes de investir em um projeto de P&D de alto
forte. Uma vez que um governo priorize o desenvolvimento de risco e alta recompensa. Quando grupos de usuários finais têm
uma indústria – como a eólica offshore no Reino Unido –, ele desafios comuns que não envolvem competências essenciais
precisa definir um objetivo de longo prazo e mecanismos de (por exemplo, a compra de uma solução de O&M em oposição
apoio que possam justificar o aumento dos riscos de desenvol- as suas estratégias de O&M), pode ser bastante atraente para
vimento para a indústria, ao mesmo tempo em que supera as eles trabalhar juntos para compartilhar o risco pelo co-financia-
incertezas dos investidores e financiadores. mento e supervisão de projetos P&D utilizando a abordagem de
market-pull.
Criar um ambiente de colaboração, partilhar riscos e recom-
pensas em toda a cadeia de abastecimento é fundamental. Em- O motivo pelo qual o market-pull não é tão bem sucedido
bora tanto o governo como a indústria precisem apoiar o desen- quando comparado com energias alternativas menos maduras
volvimento de inovações em conjunto, o papel de cada um deve é porque a sua aplicação comercial pode estar muito longe no
deixar de ser mais voltado para o governo, que possui menor futuro ou porque estruturas objetivas e de apoio do governo po-
maturidade, para ser mais fortemente focado na indústria, con- dem não ser lucrativas o suficiente. Embora os usuários finais
forme o uso de uma determinada tecnologia apareça no horizon- possam se envolver em um alto nível nessa fase, é mais pro-
te de um investidor. vável que o seu compromisso de tempo e financiamento venha
quando um retorno sobre o investimento esteja em um futuro
Acelerador de Energia Eólica Offshore próximo.

O OWA (Offshore Wind Accelerator), ou Acelerador de Ener- Como o governo pode efetivamente alavancar o financiamen-
gia Eólica Offshore, é um programa global colaborativo liderado to de P&D para acelerar as inovações?
pela indústria que também envolve o governo do Reino Unido,
projetado e gerenciado pelo Carbon Trust. O programa de £45 Uma forma de o governo garantir o uso eficaz de financia-
milhões está em funcionamento desde 2009 com o objetivo de mento de inovação para atingir os seus objetivos de energias re-
diminuir os custos de eletricidade de baixo carbono produzida nováveis a longo prazo é a criação de um programa plurianual e
por parques eólicos offshore. Desafios tecnológicos são iden- de market-pull que autorizea indústria a produzir acordos sobre
tificados e priorizados pelos membros do OWA com base nas os principais desafios de redução de custos e definir programas
economias esperadas e importância estratégica para os proje- de diminuição de riscos em conformidade.
tos existentes, abrangendo todos os componentes do parque,
exceto a turbina, o que representa cerca de 70% dos custos de No exemplo do OWA, uma libra de financiamento do gover-
energia eólica offshore. Programas e projetos são concebidos e no está associada a duas libras de financiamento da indústria
realizados para enfrentar os desafios mais críticos, muitas vezes e mais duas libras adicionais de recursos técnicos necessários
por meio de competições internacionais para inspirar a inovação para assegurar o valor de cada projeto de P&D. A Carbon Trust
e de demonstrações para trazer inovações ao mercado. O en- fornece o suporte de gerenciamento de projetos, orientando os
volvimento efetivo dos usuários finais melhora a probabilidade parceiros indústriais a entrar em um acordo sobre os desafios
de que as inovações tecnológicas que surgem tenham um claro com maior impacto no custo da energia. Nem a Carbon Trust e
impacto sobre o custo da energia no futuro próximo, proporcio- nem o parceiro indústrial têm interesse em possuir a propriedade
nando retornos atraentes para os desenvolvedores e investido- intelectual (PI), que é desenvolvida através do programa OWA.
res financeiros. A vantagem disso é que OWA pode atrair as melhores ideias
conforme os inovadores estejam confortáveis em compartilhar
Quando usar market-pull contra technology-push? seus projetos confidenciais e o governo saiba que a concessão
Novas ideias radicais que podem estar a anos de distância de financiamento está se destinando às melhores ideias. Além
de serem comercializadas muitas vezes vêm de universidades, disso, a utilização da abordagem market-pull aumenta a proba-
de pequenas e médias empresas (PMEs) ou por acaso. Esta bilidade de que os projetos financiados através deste mecanis-
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 15

Technology-push

Market-pull

mo tenham o maior custo de impacto energético e cheguem ao res incorporadoras/usuárias de energia eólica offshore na Euro-
mercado mais cedo. pa, representando 72% do mercado britânico licenciado. Juntas,
essas empresas alinham-se nos desafios mais importantes de
Quão importante é o objetivo e apoio de longo prazo do go- redução de custos que precisam ser superados para alcançar os
verno? objetivos do governo e a conformidade de concepção do projeto
de P&D. Uma vez selecionado, cada um dos parceiros indus-
Um objetivo e um mecanismo de apoio de longo prazo são triais do OWA se alia a relevantes especialistas da indústria para
fundamentais para o desenvolvimento eficiente de energia reno- supervisionar os resultados técnicos dos projetos.
vável, como a eólica offshore. É importante que os mecanismos
de apoio objetivo e financeiro de longo prazo do governo abor- 1) SteerCo realiza “brainstorm” dos principais desafios de re-
dem questões-chave, tais como: dução de custos de OW

1. Quanto de investimento e tempo é necessário para atuali- 2) SteerCo prioriza desafios em conjunto
zar a infraestrutura?
3) TWGs realiza “brainstorm” de ideias de projetos para en-
2. Existem locais de demonstração suficientes disponíveis? frentar os principais desafios acordados por SteerCo

3. A cadeia de suprimentos precisa de apoio ou apenas de Desafio #


um canal de projetos bem definido que possa justificar os inves-
timentos necessários para atingir a produção em série? Qual a 4) TWG prioriza ideias de projetos e desenvolve-se em casos
importância dos empregos de “modelo verde”? de pequenos negócios

4. Qual o impacto que a extensão de apoio do governo tem Orçamento de Atividades de BC # 1


sobre o custo do financiamento?
Apesar de a comercialização de energia renovável poder ser 5) CT propõe opções de programas para SteerCo que se en-
acelerada, este é um processo que pode levar alguns anos, exi- caixam no orçamento
gindo conhecimento da indústria sobre desafios tecnológicos e,
muitas vezes, um período de demonstração. Entre os países 6) SteerCo concorda com o programa final e a licitação co-
europeus, existem diferentes abordagens para apoiar a ener- meça
gia eólica offshore. Independentemente da abordagem, o que é
mais importante é a clareza sobre como uma estrutura de apoio Exemplos de inovações comercializadas através do Acelera-
atende aos objetivos de capacidade instalada do governo. dor de Energia Eólica Offshore

Como conduzir um programa plurianual orientado à indústria? OWA tem usado uma variedade de técnicas para encontrar
soluções para seus desafios de redução de custos.
Instituído em 2009, o OWA atua há quase seis anos com um
foco específico em atender o objetivo do governo de reduzir o Em resposta ao desafio de construir fundações de menor
custo da energia eólica offshore em 10% até 2015. Embora o custo para águas mais profundas, o OWA organizou um concur-
governo monitore o sucesso do programa em relação ao seu ob- so internacional. O resultado desta competição foi a identificação
jetivo, é a indústria que define a agenda de seis anos de P&D e de quatro projetos de fundação que se mostraram promissores
trabalha em conjunto para encontrar as tecnologias mais promis- ao apresentar economias de custo significativas sobre a mo-
soras e trazê-las para o mercado o mais rapidamente possível. noestaca de última geração. Desde tal competição, o OWA de-
monstrou o princípio do “revestimento trançado” (twisted jacket)
na localidade de HornSea, na Inglaterra, com uma torre meteo-
Os parceiros da indústria OWA consistem de nove das maio- rológica (torre de medição), duas subestruturas de Fundação
16 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Universal na região conhecida como Dogger Bank, no Mar do Conclusões


Norte próximo da Inglaterra, com torres de medição e o reves-
timento de tanque de sucção em no parque eólico de Borkum O apoio do Reino Unido à inovação para impulsionar a redu-
Riffgrund, também localizado no Mar do Norte, com uma turbina. ção de custos na indústria eólica offshore tem sido muito bem
sucedido. A experiência da Carbon Trust em gerenciar o pro-
Outra abordagem criativa foi feita para resolver o problema grama OWA destacou alguns fatores-chave para a eficácia dos
de torres de medição caras usadas para coletar as condições programas nacionais de inovação.
de vento iniciais durante o desenvolvimento de parques eólicos.
Peritos técnicos do OWA identificaram o LIDAR (Light Detection 1. O governo precisa estabelecer metas nacionais reno-
And Ranging) flutuante como uma alternativa interessante para váveis de longo prazo e estruturas de apoio adequadas. Estas
torres de medição, pois poderia ser implantada em uma fração são exigidas para que a cadeia de suprimentos reduza os custos
do tempo e custar apenas um décimo do preço da torre de medi- através de investimento de tempo e dinheiro em inovação e eco-
ção de última geração. O primeiro projeto realizado para diminuir nomias de escala.
os riscos desta tecnologia foi uma análise econômica dos be-
nefícios, incluindo envolvimento significativo com a comunidade 2. O governo deve alinhar P&D acadêmico e industrial
financeira e desenvolvimento de um esquema para a comercia- com as metas nacionais de energias renováveis, adaptando o
lização do LIDAR flutuante que acabou sendo disponibilizado seu apoio de acordo com a maturidade da tecnologia e o poten-
para uso pela indústria em geral. Este trabalho inicial abriu o ca- cial de retorno sobre o investimento.
minho para uma série de estudos de validação (comparação de
medições de vento com uma torre de medição no mar existente, 3. O governo deve comprometer-se com a indústria para
por exemplo) do qual o OWA apoiou dois que estão concluídos programas de P&D plurianuais de market-pull, tais como o OWA
e potencialmente cinco novas campanhas de validação em re- onde o governo define o objetivo global do programa e onde a
lação a torres de medição em alto mar de parceiros industriais indústria define a agenda específica.
do OWA. Nos últimos quatro anos, viu-se esta tecnologia se de-
senvolver a partir de uma inovação de alto risco para energia 4. Para atrair as melhores ideias, o governo deve criar um
eólica em terra (onshore) para uma tecnologia testada que está programa de inovação em que a propriedade intelectual é retida
começando a ser usada comercialmente e que deverá tornar-se pelo inovador.
a tecnologia de ponta para o futuro desenvolvimento eólico em
alto mar (offshore). O modelo OWA tem sido bem sucedido no Reino Unido e a
Carbon Trust incentiva a consideração total da estrutura de ino-
vação e dos agentes interessados quando for estabelecido um
programa de aceleração da inovação similar.”
Projetos
Eficiência
energética

AES-TIETÊ
Concepção e aplicação de sistema semafórico
eficiente e autônomo com funções de
monitoramento da rede elétrica
João Carlos Martins1, Marcelo Ap. Pelegrini2, Francisco Pereira Jr.2, Francisco C. Saraiva Filho3, Jaime T. Kondo3, Tiago P. Souza3

Resumo – Clientes prioritários, como hospitais, serviços de comunicação e sistemas de controle de tráfego merecem uma atenção especial quando
o assunto é a confiabilidade e a continuidade do fornecimento de energia. Este trabalho apresenta a concepção e aplicação do conceito de um sis-
tema de alimentação ininterrupta (nobreak) desenvolvido para uso em equipamentos semafóricos. Também foi criado um sistema de monitoramento,
que permite monitorar as grandezas elétricas e as condições de funcionamento dos conjuntos de nobreak instalados.

Palavras-chave – Inspeção visual, manutenção preventiva, indisponibilidade do sistema elétrico, robô, processamento de imagens.

I. INTRODUÇÃO Hospitais, quartéis de bombeiros e outros serviços públicos


são exemplos de consumidores que devem receber mais aten-
No Brasil, a continuidade no fornecimento de energia elétrica ção por parte das distribuidoras de energia, devido à importân-
(qualidade do serviço) e os níveis de tensão em regime perma- cia dos serviços prestados à população. O seu suprimento de
nente (qualidade do produto) são regulamentados pela Agência energia pode ser feito através de circuitos com maior confiabili-
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. Outros indicadores de dade (redes subterrâneas), podem possuir circuitos de reserva
qualidade do produto, como desequilíbrio de tensão, distorção ou ainda podem utilizar geradores de emergência. Em caso de
harmônica, flutuação e variações de tensão de curta duração manutenção da rede, esses consumidores têm prioridade para
(VTCD) também são regulamentados no documento Proce- ter o serviço reestabelecido.
dimentos de Distribuição – PRODIST – Módulo 8 [1]. Mesmo Sistemas semafóricos se enquadram na categoria de servi-
quando operando dentro dos limites regulamentados, as distri- ços públicos prioritários, mas sua conexão é feita diretamente
buidoras buscam melhorar a qualidade da energia oferecida aos à rede de baixa tensão. De acordo com a Companhia de En-
consumidores. genharia de Trânsito de São Paulo (CET-SP), a cidade possui
mais de 5.000 cruzamentos com controladores semafóricos [2],
e sua ampla distribuição geográfica impede que sejam ligados a
circuitos dedicados.
“Desenvolvimento de Metodologia Científica para Investigação, Acompanhamento de Falhas
em Estruturas Metálicas e Turbinas Hidráulicas Utilizando Diagnóstico por Imagens”. Con- A falta de energia nesses equipamentos pode ser solucionada
trato 4619000068 - Ciclo 2006/2007. Proponente: AES-Tietê. Executora: Fundeb – UNESP. temporariamente com fontes auxiliares, mas esta solução é eco-
Investimento: R$1.009.900,51. nomicamente inviável em semáforos com lâmpadas incandes-
1 Unesp - FEB, campus Bauru: castanho@feb.unesp.br, thomazella@feb.unesp.br.
centes. O uso de lâmpadas LED reduz o consumo do sistema
2 Fundeb – cezarjose@hotmail.com , jbri@terra.com.br
semafórico e torna viável o uso de baterias como fonte auxiliar
3 AES – Tietê: Juliano.Nicolielo@AES.com
de energia.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 19

Uma forma de reduzir o tempo de manutenção, em caso de concessionária. Durante as faltas de energia o equipamento ali-
falta de energia, é a rápida localização do defeito na rede de menta o conjunto semafórico e informa ao centro de operações
baixa tensão. A utilização de sensores que detectam quedas de as ocorrências da rede secundária. Essas características de mo-
tensão e se comunicam com o Centro de Operações (CO) redu- nitoração das grandezas da rede, diagnóstico do funcionamento
zem os tempos de detecção e localização das faltas de energia. de equipamentos e a capacidade de controle a distância são
características desejáveis nas redes inteligentes.
Este trabalho descreve os equipamentos criados para manter
o funcionamento dos semáforos em caso de falta de energia. Inicialmente foram industrializadas 52 unidades, sendo que 8
O equipamento desenvolvido possui uma fonte de alimentação (oito) foram instaladas em semáforos no campus da Universida-
ininterrupta (nobreak) senoidal, mantida por baterias, e um siste- de de São Paulo, 2 (duas) ficaram no laboratório do Enerq para
ma de comunicação que se conecta ao Centro de Operações da estudos e as demais foram instaladas pela CET em diversos cru-
Eletropaulo via protocolo DNP3 [3]. zamentos da cidade de São Paulo.

A capacidade de envio da informação de falta de energia per- A tensão da rede e as faltas de energia podem ser monitora-
mite o rápido diagnóstico da rede e a identificação do local do das em tempo real pelo Centro de Operações. Na falta de cone-
problema, minimizando os efeitos negativos no trânsito. xão entre os controladores e o Centro de Operações, os dados
são armazenados em memória e podem ser transmitidos quan-
II. NOBREAK DESENVOLVIDO do a comunicação for reestabelecida.

O equipamento desenvolvido é capaz de medir algumas gran-


dezas elétricas da rede e de transmitir essas informações para a

Figura 1. Conjunto com controlador, baterias e short-break Figura 2: Instalação do nobreak

A placa de controle utiliza um processador Freescale MC- III. INSTALAÇÃO EM CAMPO


9S08AW60 com 60 kB de memória flash e 2 kB de memória
RAM. Esta placa é responsável pelo controle de carga e diag- As figuras 2 e 3 mostra o processo de instalação do no-break
nóstico da bateria, pela medição das grandezas elétricas e pelas pela Eletropaulo.
funções de comunicação com o Centro de Operações. O short-
-break utilizado e as baterias são itens de mercado dimensiona- IV. ESTUDO DE CASO E AVALIAÇÃO ECONÔMICA
dos para atender ao consumo dos controladores semafóricos.
O estudo de caso do projeto desenvolvido teve como objetivo
O conjunto completo pode ser visto na Figura 1, com o banco avaliar o sistema semafórico como um todo, buscando a melhor
de baterias, o short-break e a placa do controlador. solução para o projeto. Muitos dos semáforos da CET já tiveram
suas lâmpadas incandescentes substituídas por lâmpadas LED,
A. Teste realizado em laboratório inviabilizando a análise de eficiência energética. Além disso,
era necessário envolver tanto uma equipe da CET quanto uma
Foi realizado o teste de regulação da tensão de saída dentro equipe da Eletropaulo para instalação ou alteração dos equipa-
dos valores limites indicado pelo fabricante, nos modos Rede e mentos. A Cidade Universitária da USP se apresentou como al-
Bateria, conforme a norma brasileira de referência para definição ternativa para este estudo de caso, com semáforos que ainda
de ensaios em sistemas nobreak [4]. Essa norma é aplicável a utilizavam lâmpadas incandescentes e maior liberdade para ins-
nobreaks com saída monofásica de tensão nominal até 250 V, talação e alteração dos equipamentos.
com potência nominal até 3,0 kVA. Outros testes, como o teste
de sensibilidade dos controladores semafóricos e das caracterís-
ticas das lâmpadas LED, também foram realizados e descritos
em [5].
20 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

A. Estudo de caso sultados energéticos realizados e medidos, através da troca das


166 lâmpadas incandescentes por lâmpadas LED.
Para o estudo de caso foram instalados 8 (oito) nobreaks no Para tanto, foi realizado um processo de Medição e Verifica-
campus da USP, que passaram por um período de experiência, ção (M&V), usando metodologia consolidada para projetos de
para posteriormente serem realizados os testes em semáforos eficiência energética.
da CET.
Os resultados energéticos realizados e medidos para o projeto:
De acordo com a realização dos testes de campo, verificou-se
a necessidade da substituição dos controladores da Educação, - Substituição de 166 lâmpadas incandescentes por lâmpa-
Instituto de Química, Bancos e FFLCH (Letras) e as lâmpadas das LED;
por bolachas LED de todos os focos (veicular e de pedestre).
Essa substituição se fez necessária em razão das lâmpadas dos - Economia anual: 36,60 MWh/ano, ou 87,32% de redução;
controladores e dos nobreaks serem incompatíveis.
- Redução de demanda elétrica no horário de ponta: 4,02 kW,
Foram encontrados problemas nas instalações existentes, ou 87,89% de redução.
como:
V. SISTEMA DE MONITORAMENTO
- Formigas na caixa do controlador;
As placas de controle do nobreak possuem um canal de co-
- Problemas de conexão dos cabos dos focos; municação serial e foram programadas com o protocolo DNP3
[3]; desta forma, esses equipamentos podem ser facilmente co-
- Controladores eletromecânicos que precisaram ser substi- nectados a um sistema SCADA da distribuidora de energia. O
tuídos. sistema de leitura remota criado permite a leitura em tempo real
das grandezas elétricas da rede e um diagnóstico do funciona-
B. Avaliação econômica mento do sistema.
A avaliação econômica teve como objetivo apresentar os re-

Figura 4: Sistema de Monitoramento

Figura 3: Instalação do nobreak

Figura 5. ISistema de Monitoramento com a Localização de Nobreaks alimen- Figura 6: Dados coletados pelo sistema de leitura remota
tando Controladores Semafóricos
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 21

O sistema permite diagnosticar: VI. CONCLUSÕES

- o estado da comunicação; Os resultados obtidos com os testes dos equipamentos de


controle determinaram o nível de proteção e os tipos de onda
- o estado das baterias; admissíveis para o short-break. Os equipamentos construídos
foram capazes de manter em funcionamento o conjunto sema-
- o modo de operação (rede/bateria). fórico de maior consumo por um período de 4 (quatro) horas. O
conjunto de baterias desses equipamentos podem ser redimen-
A figura 5 mostra a tela principal do programa que monitora sionados para atender condições mais severas.
os diversos nobreaks instalados em São Paulo pela AES Ele-
tropaulo. Esta interface exibe o estado de funcionamento de Os recursos de comunicação instalados na rede de baixa ten-
equipamentos instalados na rede de baixa tensão (nobreaks e são se mostraram úteis para acelerar o diagnóstico e a manuten-
reguladores de tensão). ção da rede. A operação de trânsito também é beneficiada com
a informação dos locais onde ocorreram as faltas de energia e
O sistema de leitura interroga os equipamentos em interva- com o funcionamento dos semáforos durante a falta.
los fixos de tempo. Equipamentos sem comunicação ou com
problemas de funcionamento são destacados no mapa. Foram O conceito completo do projeto foi aplicado no estudo de caso
feitos testes com leitura a cada minuto e depois este tempo foi no Campus de São Paulo da Universidade de São Paulo, enquan-
aumentado para leituras a cada 5 (cinco) minutos. Ocorrências to os protótipos de nobreaks e o sistema de monitoramento foram
detectadas pelo equipamento (como falta de energia da rede ou instalados no município de São Paulo, em parceria com a CET-SP.
tensão baixa na bateria) geram mensagens não solicitadas do
protocolo DNP, que são enviadas ao sistema de leitura.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional. Módulo 8 – Qualidade da energia elétrica. Rev.4, ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica, 2011.
[2] CET-SP Companhia de Engenharia de Trânsito SP –www.cetsp.com.br
[3] IEEE Standard for Electric Power Systems Communications -Distributed Network Protocol DNP3 – IEEE Std. 1815 – 2010
[4] NBR 15204/2005 – Conversor a semicondutor - Sistema de alimentação de potência ininterrupta com saída em corrente alternada (nobreak) - Segurança e desempenho
[5] Pereira Jr., F., Pelegrini, M. A., Martins, J. C., et al. UPS with Communication and Power Grid Monitoring Functions for Traffic Light Systems; Innovative Smart Grid Technologies – Latin
America – ISGT-LA 2013
22 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

CEMIG
Desenvolvimento de um sistema de purificação
do biogás visando à geração de energia elétrica
a partir da metanização da vinhaça.
Luis Felipe de D.B. Colturato1; Cláudio H. F. da Silva2; Luiz C. de Souza3; Felipe C.S.P.Gomes1; Tathiana A. Seraval1;
Thiago D.B.Colturato1; Ludmila L. dos Santos1; Carlos A. de L. Chernicharo4.

Resumo – Este artigo apresenta o desenvolvimento de um sistema de remoção de sulfeto de hidrogênio do biogás proveniente da metanização da
vinhaça, para viabilizar a geração de energia elétrica a partir desse efluente. Espera-se contribuir para a diversificação da matriz energética do país
e fomentar o desenvolvimento da geração distribuída com base em fontes da biomassa, e, ao mesmo tempo, promover a inserção de tecnologias
para eficiência energética na indústria.

Palavras-chave – biogás, dessulfuração, sulfeto de hidrogênio, geração de energia, metanização.

I. INTRODUÇÃO Com esse objetivo, foi projetada uma unidade de dessulfu-


ração para a purificação do biogás com altas concentrações de
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de cana de açúcar H2S, de forma a viabilizar a geração de energia elétrica a partir
do mundo e líder em soluções tecnológicas para produção do de plantas de metanização da vinhaça. A tecnologia proposta
etanol. Na safra de 2013/2014, foram produzidos no país 27,96 utiliza-se de processos químicos e biológicos combinados que
bilhões de litros de etanol [1]. Para cada litro de etanol produzi- deverão atingir resultados satisfatórios quanto à remoção do
do foram gerados 13 litros de vinhaça, totalizando, nesta safra, H2S e regeneração de enxofre elementar (S0).
363,48 bilhões de litros desse efluente. Além da massiva produ-
ção, a vinhaça possui elevada concentração de matéria orgânica II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
e potássio, sendo um efluente de difícil manejo e disposição. A
Figura 1 mostra uma lagoa de disposição de vinhaça [2]. O projeto foi implantado na Usina de Monte Alegre, em Monte
Belo/ MG, onde uma Unidade Piloto de Metanização está insta-
A metanização, além de oferecer uma alternativa de trata- lada, como mostra a Figura 2.
mento desse efluente, possibilita a geração de biogás (produto
com poder calorífico de 24,93 MJ/ m3) e a geração de biofertili- A Unidade de Dessulfuração é subdividida em dois subsiste-
zante líquido, o segundo maior grupo de custos de insumos para mas:
a cultura da cana de açúcar [3].
- Sistema químico para remoção do H2S;

Entretanto, a geração de eletricidade a partir do biogás oriun- - Sistema biológico para oxidação de sulfetos.
do da metanização da vinhaça depende de tecnologia que pos-
sibilite a remoção do sulfeto de hidrogênio (10.000 a 20.000 Para o dimensionamento do sistema, foram considerados os
ppmV) do biogás, derivado do processo de sulfitação na produ- parâmetros da Tabela 1:
ção de açúcar ou pela adição de ácido sulfúrico nas domas de
fermentação. O sulfeto de hidrogênio (H2S) deve ser removido Tabela 1 - Parâmetros para dimensionamento do sistema de dessulfuração
por causar corrosão de componentes metálicos, acidificação do
Parâmetro Unidade Valor
óleo dos motores de cogeração e se converter em óxidos de
Temperatura do biogás °C Min Máx
enxofre após a queima. Para geração de eletricidade, faz-se ne-
Altitude m 25
cessária a remoção do H2S a níveis inferiores a 500 ppmV.
Pressão atmosférica atm 812
Pressão manométrica da linha atm 0,9065
Projeto de P&D: ‘GT0453 - Desenvolvimento de sistema de purificação do biogás visando
de biogás
a geração de energia elétrica a partir da metanização da vinhaça’. CEMIG. Executoras:
Methanum Engenharia Ambiental Ltda, Efficientia. PD-4951-0453/2011. Pressão absoluta atm 0,05
Investimento: R$1.308.690,37. Fração volumétrica de oxigênio % 20,95
1
Methanum: colturato@methanum.com; felipe@methanum.com; tathiana@methanum.com;
(O2) na atmosfera
thiago@methanum.com; lud-mila@methanum.com
2
CEMIG: chomero@cemig.com.br;
Vazão de biogás m2/dia 20,00
3
Efficientia: lucso@efficientia.com.br;
4
UFMG: calemos@desa.ufmg.br
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 23

Figura 1 – Lagoa comumente utilizada para disposição da vinhaça Figura 2 – Unidade Piloto de Metanização em Monte Belo/MG.

Figura 3 – Unidade experimental de dessulfuração: conjunto completo. Figura 4 – Equipamentos do protótipo do sistema de dessulfuração.

Densidade do H2S kg/m3 1,3313 mando o íon sulfeto de hidrogênio (HS-) - (2), ou então é con-
vertido a S0, quando entra em contato com o Fe3+EDTA4 como
Densidade do metano (CH2) kg/m3 0,6268
indica (3).
Densidade do dioxido de carbo- kg/m 3
1,7194
no (CO2)
NaOH + H2O → Na+ + OH- +H2O
Fração volumétrica de CH4 kg/m3 70,00 (1)
Fração volumétrica de CO2 % 28,00 29,25 H2S + OH- + H2O (2)
Fração volumétrica de H2S % 0,75 2,00 H2S + 2Fe3+ EDTA4- → S0 + 2H+ +2Fe2+ EDTA4- (3)
Densidade do biogás nas con- kg/m de
3

dições normais de temperatura biogás 1,0812 1,0867 Após a retirada de H2S do biogás é realizada a recuperação
e pressão (CNTP) do S0 em um decantador primário. A solução é direcionada à
torre de borbulhamento onde é oxidada pelo O2 introduzido no
Nas Figuras 3-4 é apresentado o protótipo do sistema de des- sistema. Como apresentado em (4), a parcela de enxofre ioniza-
sulfuração resultante deste projeto. da na solução é oxidada a S0 e, como verificado por (5), ocorre
a recuperação do Fe3+EDTA4- e OH-.
O processo químico se inicia em uma torre de absorção
HS- +1 O2 → 1 S8 + OH-
0
(4)
do tipo lavador Venturi (T-01), que promove o contato gás/ lí- 2 8
quido e a solubilização do H2S em uma solução de lavagem
constituída de hidróxido de sódio (NaOH) e/ ou quelato férrico 4Fe2+ EDTA 4- + O2+ 2H2O → 4Fe3+ EDTA4- +4OH- (5)
(Fe3+EDTA4-). Posteriormente, uma torre de desabsorção do
B. Sistema biológico para oxidação de sulfetos
tipo borbulhamento (T-04) realiza a recuperação/ reativação do
solvente.
O sistema biológico para oxidação de sulfetos, ou torre bioló-
gica (T-02), é constituído por um biofiltro com meio suporte, pos-
Há formação do íon hidroxila (OH-) – em (1), obtido através
sui um sistema de recirculação de líquidos e a operação ocorre
da solução aquosa de NaOH. Nesta etapa, o H2S, ao entrar em
em contracorrente, visando promover o contato contínuo do bio-
contato com o OH-, transfere o enxofre para a fase líquida, for-
gás com as bactérias aderidas ao meio. As bactérias emprega-
24 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 5 - Balanço de Massa do Sistema Químico Operando com Hidróxido Figura 6 – Balanço de Massa do Sistema Químico Operando com Quelato
de Sódio. Férrico.

das no sistema utilizam o H2S como fonte de energia química. III. RESULTADOS
As reações ocorridas são demonstradas em (6), (7) e (8).
Considerando-se as equações estequiométricas e estimati-
vas de remoção de H2S de 97,3 a 99,0%, serão removidos até
H2S +1 O2 → S0 +H2O (6) 527,18 g/dia de H2S em concentrações máximas de 0,266 g de
2
H2S / m3 de biogás, para cada sistema químico, conforme apre-
S0 = H2O +3 O2 → SO4 + 2H+
2_
(7) sentado no balanço de massa das figuras a seguir. A operação
2 na Figura 5 é realizada com NaOH, enquanto na Figura 6 é utili-
H2S + 2O2 → S04 + 2H+
2-
(8) zado o Fe3+EDTA4- [4]. A Figura 7 mostra o balanço de massa
para o sistema biológico.

C. Estimativa de Mercado da Tecnologia A Figura 8 mostra a eficiência de dessulfuração do sistema re-


sultante de operação experimental do protótipo, onde é possível
Considerando que na safra de 2012/2013 foram produzidos verificar que o projeto obteve sucesso em seu propósito.
23,23Mm3 de etanol, que a taxa média de geração de vinhaça
é de 12 L.L-1 de etanol e que a concentração média de DQO é Durante o projeto foram realizadas algumas publicações (Ci-
de 35 g.L-1 de vinhaça, na referida safra foram gerados 9,75M tenel/2013, XI Simpósio Latino Americano de Digestão Anae-
de toneladas de DQO. Adotando uma taxa de remoção de DQO róbica, Revista Engenharia Ambiental e Sanitária), sendo que
de 70% e uma produtividade de 0,4 m3CH4.kg-1 de DQO removi- no momento outras se encontram em avaliação e submissão. A
da, o potencial de geração de metano do setor sucroenergético equipe do projeto defendeu uma dissertação de mestrado e está
na safra 2012/2013 foi de 2.731.377.600 m3.ano-1, ou 7.483.226 prevista para 2015 a defesa de uma tese de doutorado (Enge-
m3.ano-1. Tendo em vista que o poder calorífico do metano é de nharia Sanitária - UFMG). No momento, está sendo avaliada por
9,28 kWh.m-3 e que a eficiência elétrica de um grupo gerador de escritório especializado a possibilidade de depósito de patente
energia elétrica de alta desempenho é de 43%, o potencial de da invenção junto ao INPI.
gera-ção de eletricidade a partir de vinhaça na referida safra foi
de 10,9 TWh.ano-1. IV. CONCLUSÕES

Considerando um Market Share inicial de 1% deste mercado, O desenvolvimento de tecnologia de purificação do biogás
o potencial de geração de energia elétrica utilizando esta tecno- para a geração de energia elétrica a partir da vinhaça assume
logia é de 109 GWh.ano-1. Considerando um consumo interno elevada importância no contexto nacional à medida que respon-
de 15% da energia gerada e adotando o custo médio de geração de a interesses das concessionárias, distribuidoras de energia
de R$100,00.MWh-1, que inclui a remuneração do investimento, elétrica e do setor sucroenergético, viabilizando a utilização des-
operação e manutenção (O&M), encargos setoriais, e conside- se biogás na geração de energia elétrica. Cabe destacar que o
rando a venda de energia a R$250,00.MW-1, a receita potencial potencial de produção de eletricidade por meio do biogás gerado
é de R$13.897.500,00.ano-1. Importante frisar que esta é a única a partir da metanização da vinhaça pode corresponder a um in-
tecnologia de dessulfuração de biogás da vinhaça em operação cremento significativo na produção de eletricidade. É importan-
no Brasil, sendo que este Market Share pode ser ampliado con- te salientar que um dos principais entraves para a utilização do
sideravelmente. biogás da vinhaça é a elevada concentração de H2S presente
no mesmo. A partir dos resultados do projeto será possível es-
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 25

Figura 7 – Balanço de Massa do Sistema Biológico.

Figura 8 - Eficiência de Remoção de H2S em função da carga aplicada de H2S

tabelecer parâmetros consolidados para o biogás purificado na tico encontra-se sujeito a diversas interferências, como politicas
composição de estudos para a implantação de cogeração desta e marcos regulatórios e dinâmicas de mercado (açúcar, etanol e
natureza, juntamente com os custos para o processo de purifi- eletricidade). Por fim, o desenvolvimento deste projeto tem po-
cação. Certamente tais informações são extremamente valiosas tencial para fomentar o desenvolvimento de uma cadeia de pro-
na formatação de novos negócios. Contudo, cabe ressaltar que dutos e serviços industriais associada com a dessulfuração de
mesmo o sucesso no desenvolvimento deste projeto não assegu- biogás, podendo inclusive ser aplicada a gases de outra origem.
ra uma viabilidade favorável, uma vez que o setor sucroenergé-

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CONAB. “Acompanhamento da Safra Brasileira: Cana de Açucar”. Dez/2014. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/14_12_19_09_02_49_boletim_cana_
portugues_-_3o_lev_-_2014-15.pdf> Acesso em 11 jan 2015.
[2] PINTO, Cláudio Plaza. “Tecnologia da digestão anaeróbia da vinhaça e desenvolvimento sustentável,” Dissertação de Mestrado, Dept. de Energia, Univ. Estadual de Campinas, Faculdade
de Engenharia Mecânica, 1999.
[3] BRASIL. União da Indústria de Cana-de-Açúcar. “Etanol e Bioeletricidade: A cana de açúcar no futuro da matriz energética”. Disponível em: <http://www.unica.com.br/search.asp> Acesso em
10 set. 2012.
[4] FERNANDES, Wilson. “Projeto conceitual de unidade de dessulfuração no âmbito do projeto,” Ambiente ½ Serviços Ambientais e Tecnologia Ltda, MG, Relatório Técnico. CEMIG GT-453,
Mar. 2012.
[5] ANÁLISE EDITORIAL. Análise Energia 2012. Análise. 2012.
26 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

ELEKTRO
Estudo de impacto dos projetos Elektro Bus e
estação de recarga rápida aplicados a
redes de distribuição de energia
José F. Resende 1, Fúlvio C. Andrade 1, Valmir Ziolkowski 1, Antônio V. Silva 2,
José C. Argolo 3, Sidney Yamamoto 3 e Fabrício D. Paes 3

Resumo – Este artigo aborda a análise por modelagem e simulação, objetivando avaliar e confrontar o impacto da Estação de Recarga no sistema
elétrico de distribuição.
A importância da análise da qualidade de energia elétrica para os projetos desenvolvidos no âmbito do programa de pesquisa e desenvolvimento da
ANEEL, PD-0385-0026/2010 – Elektro Bus e PD-0385-0043/2011 – Estação de Recarga Rápida, é decorrente da necessidade de se demonstrar os
esforços realizados visando minimizar os possíveis impactos na rede elétrica, o que influi na viabilização do uso desse tipo de veículo elétrico provido
de ultracapacitores no setor de transporte público. Para as concessionárias de energia elétrica, viabiliza a inserção de infraestrutura de recargas
rápidas para esses veículos elétricos, mantendo a segurança, confiabilidade e qualidade na distribuição de energia elétrica dentro dos parâmetros
exigidos.

Palavras-chave – Qualidade de energia, recarga rápida, simulação, ultracapacitores, veículo elétrico.

I. INTRODUÇÃO 690 kWh por veículo por dia. Desta forma, os ganhos ambientais
são significativos considerando que a emissão por km de um ôni-
O projeto desenvolvido pela Elektro visa criar as bases para bus é da ordem de 1.197 g de CO2, 0,14 g de SOx e 10,28 g de
o surgimento de um novo modelo para o sistema público de NOx. A substituição do ônibus diesel pela alternativa do veículo
transporte, ao dar autonomia aos ônibus elétricos, através de elétrico gera uma redução diária da ordem de 359,1 kg de CO2,
recargas rápidas e seguras desses veículos quando dotados 0,042 kg de SOx e 3,084 Kg de NOx por ônibus. Outro ponto a
de ultracapacitores, eliminando a totalidade da rede aérea, de ser leva-do em consideração é o aumento da eficiência energéti-
modo que o ônibus seja abastecido ponto a ponto nas estações ca. Os melhores motores a diesel têm eficiência de aproximada-
de embarque / desembarque de passageiros. mente 35%. Já um motor de tração elétrica apresenta eficiência
da ordem de 95%, o que representa um considerável resultado.
A estação de recarga rápida compreende um sistema de
alta concentração de carga e de uma capacidade de transferi- II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
-la em um tempo médio de 20 segundos (tempo máximo de 30
segundos). A aplicação dessa nova tecnologia permitirá a estes Embora as atuais taxas de crescimento urbano tenham dimi-
veículos elétricos a flexibilidade de operação similar a dos veícu- nuído em relação às décadas de 70 e 80, muitas cidades ainda
los de propulsão a combustíveis líquidos. Além desses pontos, não conseguem organizar e atualizar suas redes de serviços
espera-se uma grande economia na implantação do sistema e públicos essenciais, entre eles o transporte público. A maioria
na manutenção da tração puramente elétrica (resultando em um das cidades no Brasil tem crescido de forma desordenada, e o
sistema de transporte com poluição zero), além da eliminação resultado, no que se refere ao transporte público, tem sido a
total dos custos de manutenção das redes aéreas existentes nos formação de um emaranhado de linhas de ônibus operando com
sistemas trólebus atuais. grande desperdício de tempo e de custos.

O consumo energético médio de um ônibus elétrico na cidade A remuneração do BNDES para aquisição de ônibus para
de São Paulo é de 2,3 kWh por km rodado. O percurso médio de transporte público de passageiros de âmbito municipal e metro-
um veículo é de 300 km por dia, que representa o consumo de politano passa a ser de 1% a.a. para qualquer modelo de ônibus
elétricos e bi-articulados de qualquer energético, 2,5% a.a. para
Informações sobre os Projetos de P&D: a) “Desenvolvimento de um sistema de pro-
ônibus híbridos (diesel ou a gás) e 3,5% a.a. para os demais casos.
pulsão para veículos elétricos de transporte de passageiros sem uso de rede aé-
rea para recarga“, PD-0385-0026/2010; Investimento: R$ 1.617.468,08; b) “De-
Conforme o estudo (SCHWOB, 2010), a energia média con-
senvolvimento de uma Estação de Recarga Rápida para veículos de transporte de
sumida em um Trólebus convencional no Rio de Janeiro é de
passageiros com propulsão elétrica dotados de ultracapacitores”, PD-0385-0043/2011;
450 kWh/veículo-dia, percorrendo 300 km/dia, o que resulta 1,5
Investimento (R$) : R$1.458.613,75;
kWh/veículo-km. Em medições realizadas em 2009 na cidade de
Entidades executoras SYGMA, MANVEL e ILUMINATTI.
São Paulo, foi obtido o valor médio de 2,3 kWh/veículo por km.
1 ELEKTRO (jose.resende@elektro.com.br).
Considerando a recarga rápida dos UC’s do Elektro Bus em uma
1 ELEKTRO (fulvio.andrade@elektro.com.br).
subestação retificadora convencional, ter-se-ia:
1 ELEKTRO (valmir.ziolkowski@elektro.com.br).
2 MANVEL (vicentedss@gmail.com.br).
Energia = Potência × tempo = 2,3 kWh (1)
3 SYGMA (argolo@sygma.com.br).
tempo de recarga = 30s
3 SYGMA (sidney@sygma.com.br).
3 SYGMA (fabricio.paes@sygma.com.br).
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 27

Dessa forma, a potência solicitada durante a recarga rápida Portanto, o consumo de energia elétrica mensal estimada se-
do veículo seria de: ria de 49 MWh / estação.

Potência = Energia(kWh) = 2,3 = 287,5 kW (2) Modelagem e simulação


tempo(h) 0,008
A simulação apresenta os resultados obtidos para tensão,
Neste cenário, se o ônibus se conectasse diretamente a uma corrente, potência, fator de carga e análise harmônica na inter-
subestação retificadora convencional, causaria transitórios no face com a rede elétrica, durante um ciclo de operação da esta-
momento da conexão, que afetariam os demais consumidores ção. O ciclo de operação refere-se às etapas de carregamento
da rede de distribuição e impactariam negativamente nos indica- completo de um veículo, com posterior recarregamento da es-
dores de qualidade do fornecimento de energia elétrica da Distri- tação a partir da modelagem e simulação numérica do regime
buidora (DEC, FEC, DIC, FIC e DMIC). transiente do sistema.

Para mitigar este impacto, o projeto da Estação de Recar- Os resultados mostram que o tempo de carregamento dos
ga Rápida contemplou um banco de ultracapacitores com um ultracapacitores do veículo, desde a mínima carga operacio-
sistema de controle do fluxo de energia para reduzir a potên- nal até a carga total, é de 25 segundos. A estação, que pos-
cia solicitada e, assim, eliminar o impacto de transitórios desta sui um banco de capacitores próprio, demora 8 (oito) segundos
nova carga às redes de distribuição de energia elétrica. Além da adicionais para se recarregar, estando pronta para iniciar outro
função de armazenagem de energia, os ultracapacitores atuam ciclo. O ciclo completo possui então duração de 33 segundos,
como potentes filtros de transitórios deste sistema. aproximadamente.

Baseado nas informações obtidas com a Empresa Metropoli- Observa-se que, em uma rede elétrica de 13,8 kV e 1 kA, a
tana de Transportes Urbana (EMTU), a distância média entre os distorção harmônica total da tensão na interface da estação com
pontos de embarque dos corredores de trólebus é de 600 metros a rede é de 1%. Em uma rede de 10 kA, a distorção harmônica
e o tempo médio de chegada entre os ônibus nos pontos é de total da tensão está em torno de 0,1%. O fator de carga durante
1 minuto. a operação é de aproximadamente 0,95.

Este período refere-se ao tempo que o veículo levaria para A Figura 1 mostra a tensão retificada na saída do retificador,
percorrer de 600 ~ 1000 metros e chegar até a próxima estação. a tensão no Banco de Ultracapacitores (BUC) da estação e a
Assim, preliminarmente, considerando a recarga dos ultracapa- tensão no BUC do veículo.
citores da Estação:
A Figura 2 mostra as principais correntes DC, que são a cor-
Energia = Potência × tempo = 2,3 kWh (3) rente de recarga do veículo, a corrente no reator da estação e
tempo de recarga = 60s a corrente no pantógrafo. Até o instante t = 4,5s, a estação está
com a malha de controle de tensão ativa. Pode-se ver que a cor-
A potência solicitada durante a recarga dos ultracapacitores rente que passa pelo coletor de corrente denominado pantógrafo
da Estação será: é a média da corrente no reator da estação, o que significa que
não há acúmulo de carga no BUC da estação.
Potência = Energia(kWh) = 2,3 = 143,8 kW (4)
tempo(h) 0,016 Após t = 4,5s, a corrente do pantógrafo supera a corrente
no reator, indicando que o BUC da estação começa a se des-
Considerando o tempo médio de operação por estação em 15 carregar. A corrente regulada no reator sobe lentamente para
horas diárias, o consumo de energia elétrica estimado seria de: compensar a queda de tensão no BUC da estação e manter a
potência utilizada da rede em 150 kVA. A corrente de recarga do
Consumo diário = veículo se mantém em torno dos 400 A durante o seu processo
Potência(kW) × tempo(h)=143,8 × 15= 2157 kWh (5) de recarga.

O modelo apresentou uma corrente de 6,3 A na interface com


Portanto, o consumo de energia elétrica mensal estimado se- uma rede de 13,8 kV, durante aproximadamente 33s. Os resulta-
ria de 65 MWh / estação. O consumo real foi medido durante os dos apresentados na simulação demonstram que a operação da
testes realizados entre os dias 16 e 19 de dezembro de 2013, Estação de Recarga Rápida na rede de distribuição da conces-
demonstrando o consumo de 1,43 kWh, sendo que o banco de sionária não provocaria oscilações significativas.
UC’s do veículo foi recarregado em 47 segundos pela Estação
de Recarga Rápida, o que resulta em 112,75 kWh de energia IV. MEDIÇÃO E REGISTRO DE TESTE DO PROTÓTIPO
transferida. Portanto, a potência solicitada durante a recarga rá-
pida do veículo é de: Foram definidas três condições para as medições na Estação
de Recarga Rápida:
Potência = Energia(kWh) = 1,43 = 109,53 kW (6)
tempo(h) (47÷3600) - Carga dos UC’s da Estação de Recarga Rápida, que es-ta-
vam inicialmente descarregados, sem transferência de energia
Utilizando a mesma base de tempo médio de operação por para o Elektro Bus;
estação de 15 horas diárias, o consumo diário de energia elétri-
ca estimada seria de: - Transferência de energia entre Estação e Elektro Bus com
Banco de UC’s do Elektro Bus parcialmente carregados e tensão
Consumo diário = de 380 Vcc;
Potência(kW) × tempo(h) = 109,53 × 15 = 1642,98 kWh (7)
- Transferência de energia entre Estação e Elektro Bus
28 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Histórico de tensão nos BUCs da estação de recarga, do veículo e Figura 2. Histórico de corrente no reator da estação, pantógrafo e BUC do
na saída do retificador. veículo.

Figura 3. Perfil da corrente máxima em RMS nas três condições


Figura 4. Perfil da tensão nas três condições.

com Banco de UC’s do Elektro Bus totalmente descarregados. de transporte público das empresas operadoras de transporte
urbano de passageiros.
Nas figuras 3 e 4 são apresentados os perfis de corrente má-
xima RMS e tensão no período total das medições, que englo- Os resultados obtidos nas medições de qualidade de ener-gia
bam as três condições citadas anteriormente mostram que não houve impacto negativo significativo em ne-
nhum dos casos considerados, atendendo assim aos requisitos
Os resultados obtidos nas medições de qualidade de ener-gia de qualidade de energia da Elektro, o que demonstra eficácia
mostram que não houve impacto significativo em ne-nhum dos do sistema (estação) e corresponde aos resultados esperados.
casos considerados; ou seja: tensão e corrente em regime per-
manente e distorção harmônica atendendo aos requisitos de qua- Com os resultados finais obtidos e apresentados neste artigo,
lidade de energia da Elektro, e em nenhum momento foi detecta- comprova-se o conceito inovador proposto nos projetos da Esta-
da qualquer perturbação na rede, o que demonstra a eficácia do ção de Recarga Rápida e do Elektro Bus operando com a nova
sistema (estação), correspondendo aos resultados esperados. tecnologia dos sistemas de controle e potência de transferência
de alto fluxo de energia com os ultracapacitores.
V. CONCLUSÕES
Entretanto, em relação aos tempos de recarga dos UC’s, tan-
Os resultados experimentais dos testes de desempenho fo- to da Estação de Recarga Rápida quanto do Elektro Bus, tem-se,
ram confrontados com os resultados de simulação. Desta forma, respectivamente, uma variação de 33,33% e 56,67% acima dos
pode-se concluir que os sistemas desenvolvidos nos projetos limites esperados.
Estação de Recarga Rápida e Elektro Bus não causarão impac-
tos negativos à rede de distribuição. Embora o tempo médio tenha ultrapassado os valores projeta-
dos (mas em perfeito funcionamento), verifica-se a necessidade
O projeto evidencia a viabilidade técnica e funcional de um de novos estudos para o aperfeiçoamento do protótipo, da tec-
novo sistema de transporte público elétrico à base de ultraca- nologia aplicada e das técnicas de controle que podem resultar
pacitores dentro das condições e normas de operação das em- em melhor desempenho e refinamento das técnicas de controle.
presas de distribuição, de modo a permitir a evolução do modelo

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] F. C. Andrade, “Desenvolvimento de um sistema de propulsão elétrico com ultracapacitores para o transporte público,” in Proc. 2012 Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica,
pp. 1 - 12.
[2] M. R. V. Schwob, “Vantagens da Propulsão Elétrica Aplicada ao Transporte Rodoviário Urbano em Linhas Expressas,” in Proc. 2010 Congresso Brasileiro de Energia ,pp. 1 - 7.
Fontes
alternativas

CEMIG GT
Avaliação do potencial de utilização de produtos
pirolíticos, produzidos a partir de resíduos,
como combustíveis alternativos
Alaíse J. V. Madureira3, Bruno da S. A. Mendes1, Érika Silveira Torres3, Jamerson P. M. Gomes2

Resumo – Este artigo apresenta os resultados da caracterização dos produtos gerados a partir da reciclagem de resíduos poliméricos, utilizando
o processo de pirólise. Diferentemente das técnicas de destinação usuais, que possuem limitações relacionadas à emissão de gases poluentes,
a pirólise propõe o aproveitamento dos gases produzidos. Os resultados obtidos mostram que os produtos pirolíticos podem ser utilizados como
combustíveis alternativos. Dessa forma, além de proporcionar menor impacto ambiental na destinação de resíduos, a pirólise poderá agregar com-
petitividade aos processos do setor elétrico, na medida em que os resíduos forem utilizados como fonte de geração de energia.

Palavras-chave – Combustíveis alternativos, pirólise, resíduos.

I. INTRODUÇÃO gasosos são similares a GLP ou gás natural. A fração líquida,


também chamada de óleo pirolitico ou bio-óleo, é composta por
As atividades de operação e manutenção no setor elétrico ge- alcatrões com importante conteúdo energético, podendo ser uti-
ram grande quantidade de resíduos à base de polímeros. Esses lizados em câmaras de combustão, motores diesel e turbinas,
resíduos, além de serem compostos de diferentes polímeros, entre outros [2].
podem conter outros materiais que impedem ou dificultam sua
reciclagem direta. Em 2010 foi sancionada a lei que institui a Política Nacional
de Resíduos Sólidos. Dentre seus objetivos constam a adoção,
A pirólise, ou craqueamento térmico, é um processo de de- desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas, inclu-
composição térmica controlada, na ausência de oxigênio, levan- ídas a recuperação e o aproveitamento energético de resíduos
do à produção de materiais sólidos, líquidos e gasosos. [1]. Os [3]. Neste contexto surgiu o projeto “Desenvolvimento de pro-
materiais sólidos são similares ao carvão vegetal e os materiais cesso e protótipos para craqueamento térmico para a conversão
de resíduos poliméricos gerados no sistema elétrico da CEMIG”,
Informações sobre o Projeto de P&D: ‘Desenvolvimento de processo e protótipos para cra-
cujo objetivo principal foi o desenvolvimento do processo de pi-
queamento térmico para a conversão de resíduos poliméricos gerados no sistema elétrico’; rólise para conversão de resíduos poliméricos em combustíveis.
‘CEMIG GT’; ‘Verti Ecotenologias;
‘Investimento R$ 998.950,00’. Neste projeto foi feito o estudo do poder calorífico (PCI) dos
1
Verti Ecotecnologias (euler.santos@verti.eco.br)
materiais sólidos, líquidos e gasosos obtidos pela pirólise de re-
2
UFMG (jamersonmatos@yahoo.com.br)
3
CEMIG (alaise.madureira@cemig.com.br, estorres@cemig.com.br)
síduos poliméricos. Os valores obtidos foram comparados com
combustíveis comerciais.
30 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA pensar as condições ótimas de transmissão de calor durante a


análise, que não podem ser reproduzidas na pirólise laboratorial.
A primeira etapa do projeto consistiu em pesquisa de campo A massa de resíduo pirolisada foi calculada de forma que con-
e amostragem, realizadas no centro de recebimento de resíduos tivesse, em média, 300 gramas de polímero, conforme análises
da concessionária [4]. Foi verificado que os materiais coletados preliminares do material. A Figura 2 mostra as frações obtidas
têm como principais constituintes polietileno e polipropileno, sen- na pirólise.
do 480ºC a temperatura média de composição desses resíduos,
medida através de análise termogravimétrica (TG). Os produtos líquidos das pirólises foram submetidos a aná-
lises para determinação de sua composição e Poder Calorífico
O material coletado foi submetido à pirólise em escala labo- Inferior (PCI), que indica seu potencial para uso energético. Os
ratorial [5]. Foi adotado o processo de pirólise por batelada, no balanços de massa permitiram a comparação da quantidade de
qual as amostras, trituradas e homogeneizadas, eram colocadas cada fração formada com a massa de entrada dos resíduos.
no forno pré-aquecido a 600°C. A Figura 1 repre-senta o proce-
dimento adotado. Os resultados obtidos forneceram subsídios para o aumento
de escala dos ensaios. Para tanto, foi construído um primeiro
A temperatura utilizada, 25% superior à temperatura média protótipo de pirolisador, com capacidade de processamento de
de decomposição obtida na análise TG, foi adotada para com- 2-20kg de resíduo, conforme Figura 3 [6].

Figura 1 - Procedimento para a realização das pirólises.

Material Sólido Material Líquido Material Gasoso


Figura 2. Fotos dos materiais obtidos.

Foram tratadas e analisadas seis amostras formadas a partir baseada em função da composição polimérica e do comporta-
da mistura dos resíduos poliméricos da CEMIG. Estas amostras mento térmico dos resíduos.
foram chamadas de blends (Tabela 1), tendo sido sua formação
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 31

Tabela I. Amostras analisadas. O Protótipo 2 foi projetado para operar em regime contínuo,
Amostras Caracteristicas pois foi constatado que a operação por batelada prejudicava a
Blend 1 Poliméricos com alta produção de líquidos vedação do equipamento e a homogeneidade das amostras,
além de demandar maior tempo de operação.
Blend 2 Fibrosos com alto rendimento de líquidos.
Blend 3 Poliméricos com formação de fração simi-
A pirólise foi realizada a 600°C. As frações sólida, líquida e
lar materias parafínicos.
gasosa foram coletadas e analisadas.
Blend 4 Poliméricos com baixo rendimento de
líquido
A Figura 5 mostra balanços de massa do Blend T obtidos nas
Blend 5 Fibrosos com baixo rendimento de de diversas etapas do projeto: F.600 (etapa laboratorial), T.Pr1 (Pro-
líquidos. tótipo 1), T.Pr2 (Protótipo 2). É possível verificar que o aumento
Blend T Todos os materiais. de escala entre os equipamentos provocou a diminuição da fra-
ção gasosa e o aumento da fração líquida.
Os blends foram pirolisados e as frações obtidas foram sub-
metidas às mesmas análises realizadas com os produtos da pi- Os valores do PCI para as frações líquidas obtidas a partir
rólise individual. Todos os produtos obtidos a partir da pirólise da pirólise do Blend T nos diferentes pirolisadores utilizados ao
dos blends foram recolhidos e analisados para determinação do longo do projeto são representados na Figura 6.
Poder Calorífico Inferior (PCI), que indica a energia liberada na
combustão completa de um quilograma de combustível, e está É possível verificar que o Blend T.Pr2, pirolisado no Protótipo
diretamente ligado ao seu potencial para uso como fonte gera- 2, produziu a fração líquida com maior valor de Poder Calorífico
dora de energia. Inferior (PCI).
Diante dos resultados obtidos para a pirólise em escala la-
-boratorial e do Protótipo 1, foi realizado o dimensionamento e A difusão tecnológica dos resultados obtidos foi feita através
construção do Protótipo 2, conforme Figura 4 [7]. de workshops e da publicação dos trabalhos: “Desenvolvimento

Figura 3. Indução magnética em função do campo magnético aplicado. Figura 4. Protótipo 2.

Figura 5. Gráfico comparativo do balanço de massa do Blend T nos diversos Figura 6 – PCI das frações líquidas obtidas nos diversos equipamentos.
equipamentos desenvolvidos.
32 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

de processo e protótipos para craqueamento térmico para a con- Através do projeto foi possível identificar e caracterizar os prin-
versão de resíduos poliméricos gerados no sistema elétrico”, de cipais resíduos poliméricos gerados nas atividades da empresa.
artigo publicado nos anais do VII CITENEL e do trabalho “Apro- Foi verificado que os materiais estudados apresentam compor-
veitamento energético de resíduos poliméricos: obtenção de tamento térmico semelhante, possibilitando estabelecer grupos
combustíveis de alto poder calorífico a partir de resíduos gera- de materiais. A realização da pirólise em escala laboratorial per-
dos na CEMIG GT”, apresentado na XIII Conferência da ANPEI mitiu a verificação da potencialidade energética de seu uso e
de Inovação Tecnológica. direcionou a construção dos protótipos, cujos resultados mos-
traram a viabilidade técnica do aumento de escala do processo.
III. CONCLUSÕES
O projeto representou uma oportunidade de investigação da
A disposição de resíduos sólidos é um problema de grande tecnologia, suas barreiras e limitações. Como sugestão de tra-
relevância para a sociedade contemporânea. Em 2010 foi insti- balhos futuros, encontra-se o desenvolvimento de um projeto
tuída a Política Nacional de Resíduos Sólidos que, dentre outros em escala industrial e também testes de unidades de pirólise
objetivos, prevê o incentivo ao reaproveitamento dos resíduos acopladas a sistemas de geração estacionários de eletricidade.
sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energéti-
co. Nesse contexto, a geração de energia a partir de resíduos
sólidos surge como uma alternativa que possui condições para
contribuir com a diversificação da matriz energética e minimizar
impactos ambientais.

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] Companhia Energética de Minas Gerais, Alternativas Energéticas: uma visão Cemig. Belo Horizonte: Cemig, 2012, p.179.
[2] E. E. S. Lora, O. J. Venturini, Biocombustíveis - volume 1. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2012, p.417.
[3] BRASIL. Política nacional de resíduos sólidos (Lei n° 12.305/2010). Brasília: Diário Oficial da União, 2010. [Online]. Disponível: www.planalto.gov.br.
[4] Verti Ecotecnologias S.A. Relatório do Projeto GT416 - Desenvolvimento de processo e protótipos para craqueamento térmico para a conversão de resíduos poliméricos gerados no sistema
elétrico da CEMIG, Belo Horizonte, Março de 2011.
[5] Verti Ecotecnologias, S.A. Relatório do Projeto GT416 - Desenvolvimento de processo e protótipos para craqueamento térmico para a conversão de resíduos poliméricos gerados no sistema
elétrico da CEMIG, Belo Horizonte, Setembro 2011.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 33

CEMIG
Desenvolvimento de um protótipo de pilha
a combustível de óxido sólido com
potência de geração de 1 kW
Alaíse J. V. Madureira2, Tulio Matencio1, Cláudio H. F. da Silva2, Gabriel L. T.
Nascimento1, Rubens M. Almeida1 e Rosana Z. Domingues1

Resumo – A busca por sistemas de geração de energia mais eficientes e que tenham pouca ou nenhuma emissão de gases responsáveis pelo efeito
estufa tem despertado grande interesse nas empresas geradoras de energia e na comunidade acadêmica. Nesse contexto, pilhas a combustível
de óxido sólido apresentam características que as colocam com uma das principais alternativas de geração limpa de energia. Essas pilhas, quando
alimen-tadas por hidrogênio, têm rendimento superior a 70% e liberam água como único produto da reação. Este artigo relata o desenvolvimento do
projeto P&D Cemig GT 291, em que foram desenvolvidos dois protótipos de pilhas a combustível de óxido sólido em parceria com a Universidade
Federal de Minas Ge-rais. Os resultados indicam uma potência alcançada próxima a 160 W. Esse resultado, inédito no Brasil, comprova a excelência
da Cemig e do LaMPaC em desenvolvimento de fontes alterna-tivas de energia.

Palavras-chave – Célula a combustível de óxido sólido, energia renovável, hidrogênio.

I. INTRODUÇÃO PaCOS são constituídas, fundamentalmente, por células uni-


tárias compostas por dois eletrodos porosos, catodo e anodo,
As pesquisas relacionadas a pilhas a combustível de óxido que são condutores eletrônicos ou mistos, separados por um
sólido (PaCOS) estão sendo intensificadas devido ao aumento eletrólito denso de elevada condução iônica. Para obter-se uma
da demanda de energia e à necessidade de produção de ener- potência elevada, é necessário fazer o empilhamento (stack) de
gia de forma mais eficiente, sustentável e com menor impacto células unitárias, ligando-as em série ou em paralelo através de
ambiental. Esse tipo de tecnologia tem se destacado por ser um interconectores [4]-[5]. A Figura 1 apresenta a configuração de
método muito eficiente de produção de energia, com mínima ou uma célula a combustível e uma unidade de uma pilha stack.
nenhuma emissão de poluentes tóxicos e de ruídos [1]-[2].
Dessa temática surgiu o Projeto de Pesquisa e Desen-
As PaCOS utilizam a reação química entre o oxigênio e o volvimento (P&D) n° 291, cujo objetivo principal foi o desen-
hidrogênio para gerar energia elétrica, energia térmica e água. volvimento de um protótipo de pilha a combustível de óxido
Várias fontes de hidrogênio podem ser utilizadas pela pilha a sólido com potência de geração de 1 kW. Além disso, o pro-
combustível, tais como: água, gasolina, gás natural, óleo die- jeto visou, também, o desenvolvimento da tecnologia nacio-
sel, gás de síntese, metanol, etanol, biodiesel, etc. O rendimento nal para síntese, conformação e sinterização de sistemas
elétrico dessa pilha pode chegar, teoricamente, a acima de 70%. cerâmicos destinados a elaboração dos materiais de ano-
Esse valor é muito superior aos obtidos pelas máquinas térmi- do, catodo e eletrólito empregados nas células unitárias das
cas, cujos rendimentos não chegam a 30% [3]. Além disso, este PaCOS, e a formação de mão-de-obra especializada para
gerador não emite ruído. desenvolvimento e fabricação desse tipo de pilha no Brasil.

As PaCOS, que operam em temperaturas entre 700 °C e Para alcançar tais objetivos, empregou-se uma metodologia
1000 ºC, apresentam algumas vantagens frente a outros tipos de de scale-up em que o estudo de otimização foi feito inicialmente
pilhas: elevada eficiência na produção de eletricidade, facilidade em células botões com 20 mm de diâmetro e aplicado posterior-
de gerenciamento do eletrólito sólido e possibilidade de refor- mente em células de 80 mm utilizadas no protótipo. O projeto
ma do combustível no próprio corpo da célula, por exemplo. As gerou como produtos principais dois protótipos um de 100 W e
outro de 160 W.

Projeto de P&D: GT0291 - Desenvolvimento de um protótipo de pilha a combustível de óxido O desenvolvimento de PaCOS é estratégico para a Cemig,
sólido com potência de geração de 1 kW; Geração de energia elétrica; CEMIG; Universidade
uma vez que ela estará investindo em uma nova tecnologia de ge-
Federal de Minas Gerais;
ração de energia, que pode utilizar combustíveis alternativos e re-
Investimento: R$ 3.384.687,02.
1
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
nováveis, com elevada eficiência e baixíssimo impacto ambiental.
(e-mails: rosanazd@yahoo.com.br; tmatencio@ufmg.br; almei-da.rubens@hotmail.com; ga-
briel.tacchi@terra.com.br).
2
Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)
(e-mails: alaisemadureira@cemig.com.br; chomero@cemig.com.br).
34 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Imagens ilustrativas de uma célula a combustível suportada pelo


anodo (direita) e uma unidade básica de pilha (esquerda).

Anodo - Moldagem em fitas

Eletrólitos- Aerografia Catodo - Serigrafia


Figura 2. Fluxograma das etapas do projeto. Figura 3. Técnicas utilizadas nas deposições dos filmes

Figura 5. Imagem dos anodos 20 e 80 mm obtidos por moldagem de fitas,


usados como suporte para as células a combustível.

Figura 4. Imagem obtida por micrografia eletrônica de varredura da célula


LaMPaC otimizada.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 35

Figura 6. Protótipo de 100 W pronto para testes eletroquímicos

Figura 7. Fotografia do protótipo nominal de 1 kW, antes e após os testes


elétricos, respectivamente.
Figura 8. Evolução da potência do protótipo em função do tempo.

II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA Todos os pós sintetizados foram caracterizados por difração
de raios X, espalhamento de luz dinâmico e isoterma de adsor-
O projeto foi dividido em três etapas. A primeira visou otimi- ção de gás nitrogênio. Assim, foi possível determinar a estrutura
zar a elaboração dos componentes isolados e das células unitá- cristalina, o tamanho médio das partículas e a área superficial
rias. Estudos de meia-células permitiram avaliar o desempenho de cada pó [5].
de cada componente antes da confecção da célula unitária. Na
B. Preparo das suspensões de eletrólito e eletrodo
segunda etapa foram feitos testes eletro-químicos em células
botões de diâmetro de 20 mm e foram fabricadas células com
diâmetro de 80 mm a partir dos parâmetros otimizados das cé- A partir dos pós sintetizados foram preparadas as suspen-
lulas botões. Na terceira etapa foram montados e testados dois sões de anodo, catodo e eletrólito. Essas suspensões foram
protótipos de 100 e 160 W. A Figura 2 mostra o fluxograma das percussoras dos filmes que compõem a célula a combustível. As
etapas desenvolvidas. suspensões de anodo, catodo e eletrólito foram caracterizadas
por análise térmica e reologia.
A. Síntese dos pós
C. Preparo dos filmes de eletrólito e eletrodo
A maior parte dos pós utilizados na fabricação das células
foram sintetizados no LaMPaC. Com isso, o laboratório desen- Para o preparado dos filmes foram utilizadas três técnicas de
volveu tecnologia própria para a síntese de pós cerâmicos. A deposição. Essas técnicas foram escolhidas de acordo com a
Tabela 1 apresenta os constituintes químicos de cada um dos característica desejada para cada filme. O filme de anodo foi
pós sintetizados e sua função na PaCOS. preparado por moldagem de fita. Os estudos reológicos e o aper-
feiçoamento da técnica permitiram produzir filmes de anodo com
Tabela 1. Materiais desenvolvidos no projeto e sua função na PaCOS.
espessura e tamanho adequados para o emprego na célula. O fil-
me de eletrólito foi depositado por aerografia, e essa técnica pro-
Material Abreviatura Função
porcionou a obtenção de filmes densos de YSZ e CGO. Já para a
Céria dopada com CGO/YSZ Precursores de eletrólito
formação do filme de catodo, foi empregada a técnica de serigra-
gadolínio e zircônia para PaCOs.
fia. O uso dessa técnica possibilitou a deposição de bicamadas
dopada com ítria
de catodo, fato relevante para o desempenho da célula. A Figura
Óxido de Ni e zircônia NiO/YSZ Precursores de anodo
3 mostra os aparelhos utilizados para a deposição dos filmes.
dopada com ítria. para PaCOs.
Ferrita manganita de LSCF Precursores de catodo
Após a otimização dos componentes da célula botão, a pró-
lantânio dopada com para PaCOs.
xima etapa foi a mudança no tamanho da célula de 20 para 80
estrôncio
36 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

mm. O aumento do tamanho do anodo foi o principal desafio a Como observado na Figura 8, o protótipo apresentou um au-
ser superado, visto que esse é o suporte da célula. A Figura 5 mento gradual de potência no intervalo de 10 a 20 horas de fun-
apresenta a imagem dos anodos de 20 e 80 mm obtidos por cionamento, alcançando o valor de 161 W, que está próximo ao
meio da técnica de moldagem de fitas. valor de 165 W, estimado para uma pilha com 5 (cinco) células.
O sistema continuou funcionando por aproximadamente 100 ho-
D. Protótipo de 100 W
ras. O sistema montado em série permitiu avaliar a otimização
dos protótipos. Os resultados comprovam a eficiência dos siste-
O protótipo de 100 W foi composto por três células de 80 mm
mas testados e validam a proposição de um sistema em série.
[7]. Cada célula foi selada em um suporte metálico e em seguida
empilhada, gerando o protótipo de 100 W, como apresentado na III. CONCLUSÃO
Figura 6.
Pilha a combustível de óxido sólido é uma das principiais al-
O protótipo foi acionado, sendo alimentado com hidrogênio
ternativas na busca de sistemas de geração de energia de forma
e oxigênio. Os resultados dos testes elétricos apontaram uma
eficiente e com baixa emissão de poluentes. O desenvolvimento
potência de pico de 115 W e o sistema se manteve estável por
deste projeto permitiu a construção de dois protótipos de PaCOS
50 horas, com uma potência média de 50 W [7]. com potências superiores a 100 W.

E. Protótipo de 1kW O principal protótipo desenvolvido, formado por dois módulos


contendo 2 (duas) e 3 (três) células cada, funcionou plenamen-
Os resultados obtidos nas etapas anteriores indicaram a ne- te por aproximadamente 10 horas, alcançando uma potência de
cessidade de 6 (seis) módulos de células para que o protótipo 161 W. Esse resultado coloca o LaMPaC e a Cemig como pionei-
atingisse a potência de 1 kW. Por razões de segurança, limita- ros na montagem e acionamento de pilhas do tipo óxido sólido
ções no controle de temperatura do sistema e estanqueidade no Brasil. Trata-se do primeiro protótipo nacional com empilha-
dos gases, optou-se por montar apenas 2 (dois) módulos: um mento e potência gerada acima de 150 W.
com 2 (duas) células e outro com 3 (três) células. Na Figura 7 é
apresentado o protótipo antes e após as medidas elétricas [8].

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] S. Chu and A. Majumdar, “Opportunities and challenges for a sustainable energy future”. Nature, vol. 488, n. 7411, pp. 294-303, Aug. 2012.
[2] K. W. Guo, “Green nanotechnology of trends in future energy: a review”. International Journal of Energy Research, vol. 36, pp. 1-17, Jan. 2012.
[3] E. D. Wachsman and K. T. Lee, “Lowering the Temperature of Solid Oxide Fuel Cells”. Science, vol. 334, n. 6058, pp. 935-939, Nov. 2011.
[4] S. Mekhilef, R. Saidur and A. Safari, “Comparative study of different fuel cell technologies”. Renewable & Sustainable Energy Reviews, vol. 16, n. 1, pp. 981-989, Jan. 2012.
[5] R. Z. Domingues, T. Matencio and G. L. T. Nascimento, “GT291 - Desenvolvimento de um protótipo de pilha a combustível de óxido sólido com potência de geração de 1 kW”, LaMPaC, Belo
Horizonte, MG, Relatório Técnico. RT 02, Set. 2011.
[6] R. Z. Domingues, T. Matencio and G. L. T. Nascimento, “GT291 - Desenvolvimento de um protótipo de pilha a combustível de óxido sólido com potência de geração de 1 kW”, LaMPaC, Belo
Horizonte, MG, Relatório Técnico. RT 05, Maio. 2013.
[7] R. Z. Domingues, T. Matencio and G. L. T. Nascimento, “GT291 - Desenvolvimento de um protótipo de pilha a combustível de óxido sólido com potência de geração de 1 kW”, LaMPaC, Belo
Horizonte, MG, Relatório Técnico. RT 08, Jan. 2014.
[8] R. Z. Domingues, T. Matencio and G. L. T. Nascimento, “GT291 - Desenvolvimento de um protótipo de pilha a combustível de óxido sólido com potência de geração de 1 kW”, LaMPaC, Belo
Horizonte, MG, Relatório Técnico. RT 09, Set. 2014.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 37

ELEKTRO
Erros em medidores eletrônicos de energia
elétrica, considerando-se geração distribuída
e operação em quatro quadrantes
Carlos A. Canesin 1, Guilherme A. Melo 1 e José F. R. da Silva 2

Resumo – Este trabalho apresenta a análise de erros de medição de energia elétrica, envolvendo várias marcas e modelos de medidores eletrônicos
bidirecionais monofásicos, bifásicos e trifásicos, considerando-se cenários de fluxos de energias em Baixa Tensão (BT) com Geração Distribuída
(GD), resultante de P&D Elektro que envolve ainda a análise completa de plantas de GD. Os ensaios foram realizados através de uma montagem
experimental específica, envolvendo um sistema automatizado de operação, com equipamentos considerados como padrão de medição de grande
exatidão (WT3000 Yokogawa). Os testes determinaram os erros de medição de energia para cada marca e modelo de medidor, considerando-se três
repetições, resultando num aplicativo de auxílio e avaliação de tecnologias de medição em pontos de conexão de GD, para a concessionária Elektro.

Palavras-chave – Geração Distribuída, fluxo bidirecional de energias elétricas, erros de medição de energias elétricas.

I. INTRODUÇÃO va) no sistema. Contando ainda com um aplicativo desenvolvido


em linguagem C++, o sistema foi automatizado com relação à
Tendo em vista o desenvolvimento do setor de energia elétrica programação das formas de onda de tensão na fonte progra-
no sentido da geração distribuída em âmbito global, as empresas mável, para o processo de “burn-in” do sistema, para a coleta
distribuidoras de energia elétrica devem se adequar à Resolução e armazenamento de dados (medidores sob ensaio e padrão),
Normativa (REN) no 482 [1], a qual determina a instalação de me- além de permitir a programação de uma seqüência de ensaios
didor bidirecional ao consumidor que possua um micro gerador pré-estabelecidos para cada conjunto de amostras de medidores
em suas dependências, conforme o módulo 3 do PRODIST [2]. sob ensaios.

Tal adequação é passível de um estudo prévio entre os diver- Devido aos métodos disponibilizados para a leitura da energia
sos fornecedores de medidores, visando o melhor custo/benefí- elétrica processada por cada medidor sob ensaio, duas possi-
cio para a empresa distribuidora e consumidores com conexão bilidades foram exploradas, considerando-se leitura dos dados
bidirecional ao sistema de energia elétrica. Entretanto, deve-se através da saída do usuário (SU) e utilização dos LEDs de cali-
avaliar ainda sua exatidão para medição de energias elétricas bração dos medidores, nos casos de ausência da SU.
(ativa e não ativa), quando da presença de GD.
A montagem experimental do sistema pode ser visualizada na
Nesse contexto, vários modelos de medidores de energia elé- figura 1, com a identificação de seus equipamentos.
trica monofásicos, bifásicos e trifásicos, de diversos fabricantes,
foram avaliados através de ensaios experimentais focados na A análise experimental pode ser aplicada nos quatro qua-
obtenção dos erros de medição de energias elétricas (ativa e drantes de operação do fluxo de potência, definidos de acordo
reativa) em fluxos bidirecionais. com a figura 2, o que descreve um fluxo de energia bidirecional,
tanto para energia ativa quanto para energia reativa. Quando o
II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA inversor programável está desligado, o fluxo de potência é im-
posto apenas pela fonte programável MX45 (emulando a rede),
Para a execução de uma análise adequada dos erros de me- a qual se encontra conectada em série com o analisador padrão
dição, eliminando-se a possibilidade de erros laboratoriais de e com os DSE, resultando em operação nos 1º e 2º quadrantes,
manipulação, uma montagem experimental totalmente automa- dependendo exclusivamente da carga, respectivamente indutiva
tizada foi desenvolvida. Utilizou-se uma fonte de tensão progra- ou capacitiva.
mável, bidirecional, capaz de simular a rede de distribuição, um
conjunto de cargas e um conversor inversor (para simular a GD) Se o inversor (GD) estiver em operação, o fluxo de potência
capaz de injetar potências ativa e reativa (capacitiva ou induti- pode ser imposto no sentido contrário, dependendo do valor da
potência injetada, podendo (ou não) superar a potência absorvida
Informações sobre o Projeto de P&D: ‘GD-Geração Distribuída, Elektro, PD-0385- pela carga. No caso da energia reativa, tem-se a particularidade
0053/2012’; Fontes alternativas de geração de energia elétrica; ‘FEPISA/UNESP; da injeção de reativo indutivo ser equivalente à absorção da po-
‘Investimento: R$ 1.875.100,00. tência reativa capacitiva, sendo o dual verdadeiro. Portanto, se os
1
‘Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – FE/IS (e-mails: cane-
medidores medem um fluxo de potência no 2º quadrante, carac-
sin@dee.feis.unesp.br; melo@ dee.feis.unesp.br).
terístico de carga reativa capacitiva, e, posteriormente, o inversor
2
‘Elektro Eletricidade e Serviços Ltda (e-mail: resen-de@elektro.com.br).
38 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1 – Sistema de medição e monitoramento de erro para medidores eletrônicos bidirecionais de energia elétrica, em ambiente de GD

Figura 2: Convenção adotada para fluxos de potências em quatro quadrantes.

Figura 3: Formas de onda referentes ao ensaio 6.


P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 39

injeta potências ativa e reativa capacitiva, maiores que as deman- 3 7 Senoidal Carga Resistiva 3ø de
dadas pela carga, o fluxo de potência passará ao 4º quadrante. 8 3% DHTv 600W, motor de 1cv 3ø
9 5% DHTv alimentado por inversor
Para a realização dos ensaios, um programa desenvolvido Injeção de 2kW e 1kVAr
em C++ gerencia o processo de “burn in”, configurado para 5 cap.
(cinco) minutos. O tempo de ensaio (exceto “burn-in”) foi confi-
gurado para 60 minutos. As trocas dos cenários de ensaios são
As formas de onda de tensão foram adquiridas em cenários
automáticas, assim como a aquisição dos dados, sendo estes
reais de distribuição em BT, denotadas com índice i e reconstru-
compostos pelas formas de onda de corrente e tensão envol-
ídas em laboratório para os ensaios. Já as de espessura menor,
vidas, energias ativa e reativa processadas pelo analisador de
com índice r, são as reconstituídas para a execução dos ensaios.
potência do inversor/GD, pelo analisador padrão e pelos DSE,
Evidentemente, as formas de onda de tensão reconstituídas com
além dos valores de temperatura e umidade.
a fonte programável MX45 não são exatamente iguais às cole-
tadas em campo, devido à impedância de saída da fonte. Entre-
III. REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS
tanto, apresentam grande aderência e podem ser aplicadas sem
prejuízo das análises.
Considerando-se os principais equipamentos e fabricantes
em território nacional, os modelos e marcas dos DSE apresenta-
As formas de onda das correntes foram coletadas nos en-
dos na tabela I foram aferidos através de 9 (nove) ensaios pré-
saios laboratoriais e decorrem das cargas conectadas ao siste-
programados, os quais são apresentados na tabela II, com três
ma, assim como dos níveis de potências ativa e reativa injetadas
perfis diferentes de tensão, apresentando tensão senoidal e com
no sistema. Nota-se que, a menos do ângulo de defasagem da
distorção harmônica total de tensão (DHTv) de 3% e de 5%.
carga, as formas de onda de tensão e de corrente estão em con-
tra-fase, indicando que o fluxo de corrente ocorre da carga para
Como exemplo de caso, a figura 4 apresenta uma das formas
a rede, emulada pela fonte MX45.
de onda de tensão e corrente referentes ao ensaio 6, cujo perfil
de tensão apresenta 5% de DHTv.
IV. RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Tabela I. Exatidão dos medidores ensaiados.


A fim de uma avaliação mais rápida e intuitiva dos resultados,
Marca Número Tipo de Corrente Classe de foi criado um código de cores para representar a magnitude dos
de Fases Medição Nominal Exatidão erros de cada ensaio e de cada medidor. A tabela III apresenta o
(A) código de cores supracitado, que se divide em faixas de valores
3 Indireta 2,5 (10) C (0,5%) pré-fixados de acordo com a Classe de Exatidão (CE) de cada
3 Direta 15 (120) B (1,0%) modelo de medidor eletrônico de energia elétrica.
A 2 Direta 15 (120) B (1,0%)
1 Direta 15 (120) B (1,0%) Tabela III. Classe de exatidão do medidor.

3 Indireta 2,5 (10) C (0,5%) Faixa de erro (%) Classe B Classe C


2 Direta 15 (120) B (1,0%) Dentro da CE 0,00% - 1,00% 0,00% - 0,50%
B 2 Direta 15 (120) B (1,0%) Entre 1x e 2x a CE 1,01% - 2,00% 0,51% - 1,00%
1 Direta 15 (120) B (1,0%) Entre 2x e 3x a CE 2,01% - 3,00% 1,01% - 1,50%
3 Direta 15 (120) B (1,0%) Entre 3x e 10x a CE 3,01% - 10,00% 1,51% - 5,00%
2 Direta 15 (120) B (1,0%) Acima de 10x da CE > 10,01% > 5,01%
C 1 Direta 15 (120) B (1,0%)
Observa-se que os erros de medição observados nas me-
Tabela II. Cenários para os ensaios desenvolvidos. -didas de energia ativa, apresentados na tabela IV, não atendem
Grupo Ensaio Perfil Caracteristica do a CE em muitos casos, indicando que as grandes distorções de
ensaio corrente impossibilitam as medições adequadas e precisas das
energias ativas pelos medidores ensaiados. Com relação aos
1 1 Senoidal Carga Resistiva 3ø de
erros para energia reativa, apresentados na tabela V, nota-se
2 3% DHTv 600W, motor de 1cv 3ø
um valor extremamente elevado do erro para os três primeiros
3 5% DHTv alimentado por inversor
ensaios; nesses casos, porém, a energia reativa é reduzida (bai-
Inversor injetando 2kW
xos valores). Contudo, nos demais ensaios, ocorrem erros ainda
2 4 Senoidal Carga Resistiva 3ø de maiores que os observados para as energias ativas, comprome-
5 3% DHTv 600W, motor de 1cv 3ø tendo seriamente a exatidão destes medidores para mensura-
alimentado por inversor ção de fluxos bidirecionais de energias reativas em ambientes
6 5% DHTv
Injeção de 2kW e 1kVAr ind. de GD em BT.
40 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Tabela IV: Médias aritméticas dos erros relativos de energias ativas, organizadas por ensaio e por modelo de medidor

Ensaio Indireto Direto


Trifásico Trifásico Bifásico Monofásico
A B A B C A B C A B C
1 0,35 0,34 -0,55 0,41 0,30 - 0,23 - 4,22 - 4,11 0,17 0,83 - 0,15
2 0,26 0,58 -0,60 0,30 0,58 - 0,23 - 5,15 - 4,97 - 0,04 0,69 - 0,14

3 0,30 0,38 -0,48 0,29 0,57 - 0,26 - 5,55 - 5,55 - 0,06 0,81 0,08
4 1,80 1,79 -0,22 0,60 1,37 - 0,05 - 4,20 - 4,48 0,47 0,87 - 0,46
5 2,04 1,84 -0,09 0,53 1,39 - 0,09 - 3,87 - 4,66 - 0,12 0,74 0,04
6 2,17 2,00 -0,25 0,61 1,44 - 0,05 - 4,66 - 4,28 - 0,05 0,81 0,02
7 -0,47 -0,18 -0,24 0,47 1,87 - 0,05 - 3,04 - 4,03 0,22 0,96 0,08
8 -0,35 -0,05 -0,12 0,40 - 0,25 - 0,08 - 4,03 - 3,63 - 0,22 0,69 0,13
9 -0,40 -0,18 -0,19 0,40 - 0,21 - 0,13 - 4,37 - 4,01 - 0,20 0,76 - 0,14

Tabela V: Médias aritméticas dos erros relativos de energias reativas, organizadas por ensaio e por modelo de medidor.
Ensaio Indireto Direto
Trifásico Trifásico Bifásico
A B A B C A B C

1 -161,90% -110,88% -37,60% ---- -84,12% 62,46% ---- -18,49%


2 -14,62% -52,91% -7,30% ---- -29,74% 26,87% ---- -10,08%

3 -27,80% -20,57% -6,12% 66,05% -17,18% -7,14% 47,97% -7,81%


4 -1,48% -1,34% -0,55% -0,48% -1,25% -0,54% -0,54% -0,14%
5 -1,43% -1,48% -0,58% -0,78% -1,14% -0,54% -0,81% -0,17%
6 -1,96% -1,61% -0,87% -1,15% -1,46% -0,83% -1,31% -0,49%
7 1,80% 1,66% 0,04% 0,51% 1,72% 0,18% 0,67% 1,40%
8 1,73% 2,17% 0,06% 0,85% 1,35% 0,16% 1,06% 1,45%
9 2,24% 2,32% 0,16% 1,32% 1,72% 0,38% 1,11% 1,63%

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] Estabelece as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica, o sistema de compensação de energia elétrica, e
dá outras providências,. Resolução Normativa ANEEL nº482, Abr. 2012.
[2] Módulo 3 – Acesso ao Sistema de Distribuição, PRODIST ANEEL, Dez. 2012.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 41

Gestão de bacias
e reservatórios

CORUMBÁ CONCESSÕES

Análise de valor no uso


múltiplo de reservatórios
José R. Ribas, Jussara P. M. F. da Silva e Marconi M. de Araújo

Resumo – O princípio básico adotado pela metodologia proposta está nos benefícios a serem resgatados para mitigar os danos contra o ecossiste-
ma, tendo na implementação da modalidade de uso de um reservatório o meio para se atingir este objetivo. A metodologia identificou um cenário de
intenções conflitantes quando o assunto trata do uso sustentável para o reservatório de Corumbá IV. A concessionária, agências regulatórias (ANE-
EL, ANA e IBAMA), administradores públicos municipais e líderes comunitários da população lindeira, não demonstraram consenso. Uma combina-
ção de técnicas de entrevista, análise de conteúdo e modelagem multicritério com lógica fuzzy foi bem sucedida na identificação deste comportamen-
to. As entrevistas não apenas especificaram o modelo como, ao final, foram úteis para recomendar as ações. A metodologia demonstra ser aplicável
em uma variedade de reservatórios - de regularização, para usinas a fio d’água, grandes açudes - e de explorações modais fluviais, dentre outros.

Palavras-chave – análise de conteúdo, análise multicritério, entrevistas em profundidade, lógica Fuzzy, uso múltiplo de reservatórios.

I. INTRODUÇÃO que visem o consenso. O estudo de caso desenvolvido na UHE


Corumbá IV possibilitou compreender as relações existentes en-
As diferentes opiniões e padrões culturais dos agentes en- tre as diferentes opiniões dos agentes envolvidos com ênfase
volvidos em processos decisórios tornam os usos múltiplos de na expectativa da população lindeira, visando a incentivar novas
reservatórios repletos de restrições e condições operativas ain- políticas para uso múltiplo de reservatórios, bem como a estrei-
da pouco exploradas pela comunidade científica. Os trabalhos tar o relacionamento entre os sujeitos envolvidos. A técnica bási-
existentes são, quase em sua maioria, associados a relatórios ca adotada na modelagem foi a análise multicritério Fuzzy AHP,
de impacto ambiental e apresentam pouca base científica, uma cujos números fuzzy visam a corrigir a imprecisão no julgamento
vez que resultam de medidas compensatórias idealizadas por subjetivo dos entrevistados. O elemento essencial do modelo foi
seus autores. Estes têm demonstrado que as abordagens sub- o benefício ao ecossistema. A especificação do modelo consiste
jetivas não consideram os interesses das partes, sendo neces- na identificação dos benefícios e das modalidades de uso ex-
sária a complementação de estudos por meio de abordagens traídas por meio da técnica de análise de conteúdo, aplicada
sobre os depoimentos obtidos das entrevistas em profundidade
Informações sobre o Projeto de P&D: ‘Análise de Valor no Uso Múltiplo do Reservatório de com dois segmentos com interesse específico – os administra-
Usina Hidrelétrica de Corumbá IV – Código ANEEL PD-2262-1001/2010; executado pela
dores públicos municipais e os líderes comunitários da popula-
Fundação Coppetec e Farol;
Investimento de R$ 1.214.046,68 ção lindeira. Uma vez calculados os pesos para os benefícios e
J. R. Ribas trabalha na Universidade Federal do Rio de Janeiro (e-mail: ribas@poli.ufrj.br). as modalidades para cada um dos quatro segmentos, os gaps
Jussara P. M. F. da Silva e M. M. de Araújo trabalham na Corumbá Concessões S.A. (e-
de consenso foram identificados por meio dos testes K-S não
-mails: jsilva@corumba4.com.br; maraujo@corumba4.com.br).
paramétricos e significância de Pearson. Procedeu-se então
com uma análise de valor sobre as informações disponíveis,
42 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

com o objetivo de montar um painel de ações que viabilizaram a A. Determinação dos segmentos e seleção dos especialistas
implantação sustentável das modalidades preferidas pelos seg-
mentos investigados. Foram identificados quatro segmentos de pessoas com in-
teresse em reservatórios de usinas hidrelétricas. As bases de
Tendo por referência o guia prático, relatórios metodológicos, segmentação formaram uma matriz de dupla entrada, resultando
validação por meio de um estudo de caso e uma planilha eletrô- em uma matriz 2x2. A primeira característica trata da amplitude
nica básica, este trabalho permitiu sua replicação em uma varie- na qual a pessoa envolvida observa o reservatório, podendo ser
dade de tipos de reservatórios por diferentes concessionárias. de foco amplo, situação na qual esta pessoa trata o lago como
um todo, de modo holístico, a exemplo da concessionária de
II. METODOLOGIA geração; ou de foco restrito, localizado, quando os limites de um
município ou até mesmo de uma propriedade determinam a ex-
A proposta aqui apresentada é composta por seis etapas, tensão na qual o reservatório é percebido, a exemplo do prefeito
cujo fluxo pode ser observado na figura 1, e tem por objetivo es- de um município.
timar uma hierarquia das modalidades de uso para reservatórios
artificiais, a partir de uma lista de benefícios identificados.

Figura 1. Etapas da metodologia

A segunda característica decorre do tipo de ação que a pes- Tabela I. Segmentação aplicada para agentes
soa está capacitada a exercer sobre o lago, podendo ser de Foco Amplo Foco Restrito
interação ou de intervenção. A primeira se relaciona às ativida- G.1 G.3
des limitadas ao seu uso e às consequências que o beneficiário INTERA- CONCESSIONÁRIA POPULAÇÃO LINDEIRA E
GEM COM
espera disto, a exemplo de um pecuarista que vê no lago uma VISITANTES
O LAGO
fonte de água para abastecer seus animais. A intervenção tem
a ver com o poder de mudar, fiscalizar e gerenciar o lago, cujos G.2 G.4
reflexos podem afetar o ecossistema em definitivo. A função de INTERVÊM ANEEL, ANA, IBA- GESTORES PÚBLICOS
regular o uso adequado da água é atributo deste segmento. A NO LAGO MA, GOVERNOS
MUNICIPAIS
tabela I resume a classificação adotada, facilitando o método de
análise dos sujeitos envolvidos pela pesquisa.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 43

B. Especificação do modelo MCDA guidades. O Fuzzy Analytic Hierarchy Process (FAHP) [5] resolve
esse problema [6], por ser utilizado em casos desse tipo e poder
Os benefícios e modalidades, assim como ações e fatores agregar as avaliações dos diversos participantes de maneira sa-
exógenos, foram identificados e extraídos dos registros das en- tisfatória, bem como por considerar as imprecisões como sendo
trevistas com os grupos G.3 e G.4, realizadas na primeira rodada inerentes ao modelo. Para facilitar a obtenção dos dados, os jul-
de levantamento de dados. Por meio da análise de conteúdo, no gamentos são elicitados por meio de variáveis linguísticas, que
texto das entrevistas foram extraídos os principais elementos, facilitam a comunicação entre o pesquisador e os entrevistados.
selecionados por meio de um corte estatístico de Pareto.
III. VALIDAÇÃO DA METODOLOGIA
C. Coleta dos pesos, desempenhos das modalidades de uso
e justificativas A pesquisa qualitativa com entrevistas em profundidade en-
volveu os representantes dos grupos G.3 e G.4. O trabalho de
A proposta foi inovadora considerando os benefícios propor- campo foi realizado no período de julho a outubro de 2011, com-
cionados ao reservatório artificial como elementos definidores preendendo 33 entrevistas, sendo 20 efetuadas com Prefeitos,
das preferências pelos usos múltiplos, em substituição aos três Secretários do Meio Ambiente e da Indústria e Comércio e 13
critérios de primeiro nível, econômico, social e ambiental, proce- com líderes comunitários e proprietários de áreas lindeiras ao
dimento este usualmente encontrado na especificação de mode- reservatório. Os municípios cobertos pela pesquisa foram Luziâ-
los MCDA [1], [2], [3], [4]. nia, Santo Antônio do Descoberto, Alexânia, Abadiânia, Corum-
bá de Goiás, Silvânia e Gameleira de Goiás. As indicações para
Neste caso, a regra de decisão sobre as modalidades de uso os benefícios e modalidades foram obtidas por meio de Análise
não se apoia nos critérios individuais que determinam a prefe- de Conteúdo, extraídas do texto das entrevistas. Quanto às mo-
rência de um especialista por algo, mas sim coletivos, caso de- dalidades, não foram consideradas a geração de energia elétrica
terminada modalidade de uso venha a ser implantada. Portanto, e abastecimento de água (por fazerem parte da concessão) e
a ênfase não está na utilidade que a atividade proporciona ao es- irrigação (por ser conflitante e necessitar de outorga).
pecialista, mas sim a utilidade que esta proporciona ao ecossiste-
ma, e em última análise, ao reservatório como parte deste meio. Para exemplificar a obtenção das modalidades, um entrevis-
tado de G.4 disse: “[...] passaram a utilizar o rio Descoberto, a
A técnica de entrevista seguiu um roteiro estabelecido, no partir de rios e córregos tributários, como efluente do seu esgoto.
qual o entrevistador iniciou perguntando: Isto matou o rio e impossibilitou os planos para o aproveitamento
turístico do município”. Neste caso, assinalamos a “Redução da
“Compare estes dois cartões contendo dois benefícios e relem- Poluição com Esgoto”.
bre suas definições. Entre C1 <seu título> e C2 <seu título>, qual
é o mais importante para o reservatório como um ecossistema?” Uma vez tendo o modelo especificado, foram realizadas as
comparações pareadas individuais para a coleta de pesos, con-
A comparação pareada das modalidades de escolha segundo forme observado na metodologia, por entrevistado. Os cálculos
cada benefício utilizou procedimento semelhante: “Observando foram obtidos pelo método FAHP, utilizando um algoritmo de-
o cartão com o benefício C1 <seu título>, sabendo que ele repre- senvolvido em planilha eletrônica Excel, sendo posteriormente
senta <sua definição>. Imagine ser este o único benefício possí- agregados e normalizados. Os resultados comparados para os
vel para o reservatório como um ecossistema. Uma vez que C1 é quatro grupos estão exibidos na tabela II para os pesos dos be-
o único benefício que o reservatório terá, dentre as modalidades nefícios e na tabela III para os desempenhos das modalidades.
M1 e M2, qual é a mais dependente deste benefício para se
tornar viável, para que venha a acontecer de maneira ordenada
e sustentável?” Tabela II. Pesos para os benefícios nos quatro grupos

G.1 G.2 G.3 G.4


O questionário com as métricas retorna ao analista para os
Redução da poluição 0.1301 0.2410 0.2330 0.1985
testes de consistência, onde são verificadas as transitividades com lixo sólido
entre escolhas. Foi construída uma tabela para cada resultado Redução da poluição 0.4039 0.4342 0.3935 0.3776
indicando as opiniões manifestadas por cada entrevistado. com esgoto
D. Obtenção das ordenações por segmento de especialistas Geração de renda 0.0489 0.1304 0.1162 0.0752
e comparações Repovoamento dos 0.0344 0.0578 0.0272 0.0433
peixes
Para se decidir sobre o método MCDA mais adequado, levou- Recuperação das 0.2849 0.1132 0.1664 0.1704
se em consideração que as informações são baseadas em opini- matas ciliares
ões de entrevistados cuja coleta de dados, obtida em situações Preservação da fauna 0.0977 0.0235 0.0637 0.1349
não controladas, estará contaminada com imprecisões e ambi- do cerrado
44 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Tabela III. Pesos para as modalidades nos quatro grupos


IV. CONCLUSÃO
G.1 G.2 G.3 G.4
Ecoturismo 0.3971 0.2962 0.2220 0.3026 Tendo por referência um guia prático, desenvolvido no escopo
Pesca recreativa 0.1482 0.1917 0.1595 0.1121 do projeto de P&D, os relatórios e a planilha eletrônica, para a
Passeio e transporte 0.1709 0.1677 0.1307 0.1161 execução da técnica FAHP, a metodologia demonstrou ser apli-
lacustre cável em uma variedade de tipos de reservatórios. As principais
Lazer nas margens do 0.1690 0.2135 0.2859 0.3267 partes interessadas pelos resultados gerais e intermediários
reservatório
deste modelo são as concessionárias geradoras de energia hi-
Criação de peixes de 0.1147 0.1309 0.2019 0.1426
cativeiro
drelétrica na gestão do reservatório; as concessionárias de abas-
tecimento de água e de gestão de açudes; os administradores
Quanto às modalidades, o limite para a estatística K-S com públicos municipais, ao planejar obras públicas que interferem
significância de 20% é 0,493. O valor crítico para o ρ de Pearson no reservatório; as agências regulatórias, em especial a ANA,
é 0,805 para 5% de nível de significância. A tabela IV demonstra ao estabelecer medidas objetivas que visem regular o melhor
que os grupos G.1 e G.2 convergem entre si, entretanto, não aproveitamento dos reservatórios; a comunidade acadêmica e
com os demais grupos, G.3 e G.4. Isto denotou a ocorrência os técnicos de planejamento em geral, ao demonstrar como é
de conflito nas opiniões daqueles que possuem um foco amplo possível aplicar uma combinação de técnicas com o objetivo de
no lago, observando-o como um todo, com os que possuem um resolver problemas coletivos.
foco restrito, limitado às fronteiras de município e suas margens
com o reservatório. AGRADECIMENTOS

Tabela IV. Coeficientes de Kendall e Spearman para as modalidades


Agradecemos à Corumbá Concessões S/A pelo apoio finan-
ceiro e institucional dado ao projeto.
G.4 G.3 G.2
G.1 Rho 0.300 0.100 0.300
(p=0.624) (p=0.828) (p=0.624)

Tau 0.200 0.000 0.200


(p=0.624) (p=1.000) (p=0.624)
G.2 Rho 0.700 0.600
(p=0.188) (p=0.285)

Tau 0.600 0.400


(p=0.141) (p=0.0.327)
G.3 Rho 0.900
(p=0.037)

Tau 0.800
(p=0.050)

Um total de onze medidas foi recomendado, disponíveis no


relatório técnico do projeto, com o objetivo de mitigar os conflitos
entre os grupos e implantar as modalidades de uso.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Zarghami, M.; Szidarovszky, F. Multicriteria Analysis: applications to water and environment management. Heidelberg: Springer, 2011.
[2] Figueira, J.; Greco, S.; Ehergott, M. (ed). Multiple Criteria Decision Analysis: state of the art surveys, New York: Springer, 2005.
[3] Haymes, Y.Y.; Steuer, R.E. (eds.). Research and Practice in Multiple Criteria Decision Making. Heidelberg: Springer, 2000.
[4] Steins, N.A..; Edwards, V.M. Platforms for Collective Action in Multiple-Use Common-Pool Resources. Agriculture and Human Values, v.16, 1999, p.241–255.
[5] Chang, D.Y. “Applications of the extent analysis method on fuzzy AHP”, European Journal of Operational Research, vol.95, pp.649—655, 1996.
[6] Tang, Y.; Beynon, M. “Application and Development of a Fuzzy Analytic Hierarchy Process within a Capital Investment Study”, Journal of Economics and Management, v.1, pp.207—230, 2005
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 45

CEMIG GT
Prevenção e combate a espécies
invasoras por detecção rápida
e resposta imediata (DRRI)
Hernan Espinoza Riera1, Gabriela Rabelo Andrade1, Arthur Corrêa de Almeida1, Vinicius Sérgio Rodrigues Diniz1, Vinicius de Abreu e Carvalho1,
João Locke Ferreira de Araujo1, Frederico Vieira Magalhães, Mônica de Cássia Souza Campos1, Fabiano Alcísio e Silva1, Alexandra Rodrigues Pereira da Silva1,
Helen Regina Mota, Marcela David de Carvalho2 e Antônio Valadão Cardoso1

Resumo – As invasões biológicas estão entre os mais graves problemas ecológicos contemporâneos, consideradas pela IUCN (International Union
for Conservation of Nature) como a segunda maior fonte de perda da biodiversidade. A detecção rápida de um invasor permite o controle de subpo-
pulações enquanto elas ainda são pequenas o suficiente para serem erradicadas. O Programa de Detecção Rápida e Resposta Imediata (DRRI),
desenvolvido pelo CBEIH é fruto de metodologias combinadas: propõe um conjunto de protocolos que se inicia com uma rede de monitoramento em
áreas prioritárias indicadas por estudos de modelagem ambiental, análises laboratoriais e integração com um sistema on-line de informação, com
módulos de visualização georreferenciada e sistemas de alerta para apoiar a tomada de decisões frente a novas invasões.

Palavras-chave – Detecção, espécies invasoras, metodologias de controle.

I. INTRODUÇÃO invasoras nos EUA. O DRRI propõe um conjunto de protocolos


que se inicia com uma rede de monitoramento ativo em áreas
As invasões biológicas são consideradas a segunda maior prioritárias indicadas por modelagem ambiental, coletas em tre-
fonte de perda da biodiversidade no planeta. Nesse contexto chos estratégicos, diferentes análises laboratoriais e, por fim,
a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), realizada no integram-se a um sistema on-line de informação, com módulos
Rio de Janeiro (1992) durante a ECO-92 – a Conferência das de visualização georreferenciada e sistemas de alerta para a to-
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNU- mada imediata de medidas frente às novas invasões.
MAD), estabelece em seu artigo 8(h) que “cada parte contra-
tante deve, na medida do possível e conforme o caso, impedir II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
a introdução, controlar ou erradicar as espécies exóticas que
ameaçam ecossistemas, habitats e espécies.”[5]. No Brasil O objetivo da pesquisa foi desenvolver um conjunto de ações
destaca-se o invasor Mexilhão Dourado [1] (Limnoperna fortu- orquestradas, adaptadas ao contexto nacional, a começar pelo
nei). Desde sua chegada à América do Sul, em 1990, tem causa- monitoramento e coleta de espécimes que, mantidas no labora-
do sérios prejuízos aos ecossistemas e às atividades ligadas ao tório de cultivo, são destinadas aos ensaios de bioengenharia.
tratamento de água e produção de hidroeletricidade. Os dados físico-químicos coletados, assim como os parâmetros
ambientais de interesse, são georreferenciados e agrupados a
A detecção rápida de um invasor é fundamental, permitindo uma série histórica disponibilizada on-line no banco de dados do
ações que evitem o estabelecimento dos invasores enquanto a CBEIH (www.cbeih.org). As amostras de água são encaminhadas
população ainda é pequena o suficiente para ser erradicada. No aos testes laboratoriais, em que a presença ou ausência de larvas
entanto, nossa capacidade de monitorar estes organismos é ain- de mexilhão será confirmada. Os testes laboratoriais foram de-
da limitada, sendo necessária a consolidação de um protocolo finidos na metodologia como complementares e independentes,
inteligente de monitoramento e alerta. sendo realizados em teste cego, onde cada pesquisador desco-
nhece o conteúdo da própria amostra. Considera-se que o Me-
O Programa de Detecção Rápida e Resposta Imediata (DRRI) xilhão Dourado foi detectado quando todos os testes apontam a
desenvolvido pelo Centro de Bioengenharia de Espécies Invaso- presença de larvas da espécie. Os testes são detalhados a seguir.
ras de Hidrelétricas (CBEIH) é baseado no programa de Early
Detection do Bureau of Reclamation [2], instituto do Governo Fe- A. Monitoramento ambiental para o DRRI
deral Norte-Americano responsável pelo combate às espécies
As atividades de monitoramento (Figura 1) abrangem:
1
Centro de Bioengenharia de Espécies Invasoras de Hidrelétricas – CBEIH - CITSF Cam-
pus Cetec; ‘Controle do Mexilhão Dourado: bioengenharia e novos materiais para aplicações
- coleta de amostras de água em diferentes pontos da represa
em ecossistemas e usinas hidrelétricas – PD-4951-0343/2010’, Gestão de Bacias - Inte- e no interior da usina;
gração e otimização do uso múltiplo de reservatórios hidrelétricos; ‘CEMIG GT’; ‘Centro de
Bioengenharia de Espécies Invasoras de Hidrelétricas – CBEIH - CITSF Campus Cetec’; - coleta de dados referentes aos parâmetros físico-químico e
‘Investimento R$ 6.441.450,03’. ambientais de interesse;
2
CBEIH - CITSF’ (e-mail: avcardoso2007@gmail.com).
Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG
- verificação visual da presença de indivíduos juvenis e/ou
3
CEMIG’(e-mails:helen.mota@cemig.com.br; marcela.david@cemig.com.br).
46 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Alguns procedimentos de Monitoramento em Campo adotados no DRRI.

Figura 2. Microscopia óptica e eletrônica de varredura de larvas detectadas


nas amostras coletadas em usinas e reservatórios.

adultos em diferentes substratos naturais e artificiais (ex.: bóias B. Microscopia para DRRI
de navegação, pontes, ancoradouros, pedras, leito do rio) e co-
leta de espécimes. A detecção das larvas é composta por técnicas laboratoriais
distintas: Microscopia Óptica de Luz Polarizada, Análise Visual
O monitoramento do L. fortunei tem como objetivo principal a Automatizada e Reação em Cadeia de Polimerase (PCR). Essa
detecção da espécie em novos locais, bem como acompanhar tríade oferece um referencial confiável e dinâmico sobre a pre-
as flutuações populacionais em locais já infestados. Os dados sença e distribuição de organismos aquáticos invasores. A este-
ambientais obtidos são utilizados no desenvolvimento de mo- reomicroscopia é tradicionalmente aplicada para identificação e
delos preditivos[3] e permitem identificar fatores reguladores do contagem de larvas com elevada acurácia (Figura 2).
crescimento populacional.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 47

Figura 3. Equipamento de análises de fluxo de fluido para detecção de larvas em amostras coletadas em usinas e reservatórios.

Figura 4.a

Figura 4.ab

Figura 4. Exemplo ilustrativo de apresentação de resultados dos vários testes que compõem o DRRI.

A detecção de partículas por luz polarizada vem sendo utilizada A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) (Figura 2) é de
para a detecção de larvas para monitoramento do Dreissena poly- extrema importância para a caracterização microestrutural do
morpha[4], bivalve invasor da América do Norte e Europa. A técni- Mexilhão Dourado. Através do MEV acoplado ao Espectrofotô-
ca tem como princípio o comportamento da luz polarizada quan- metro de Energia Dispersiva (EDS), é possível visualizar as lar-
do da sua interação com a concha de moluscos, birrefringente. vas em aumentos significativos.
48 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

C. Análise Visual Automatizada III. RESULTADOS

Composta por um conjunto de dispositivos eletrônicos e fotô- O protocolo DRRI está sendo aplicado desde junho/2014 nas
nicos e softwares de processamento. Os dispositivos de detec- usinas de Volta Grande, São Simão e Nova Ponte e episodica-
ção e contagem são capazes de maiores rapidez e repetibilidade mente (duas amostragens) nas usinas de Jaguara, Nova Ponte,
dos processos de monitoramento (Figura 3). Emborcação, Miranda, Igarapava, Águas Vermelhas, Porto Co-
lômbia, Estreito, Marimbondo, Peixoto e Furnas, todas aponta-
O uso desses dispositivos é capaz de fornecer dados quanti- das pelos modelos como usinas com alto risco de contaminação.
tativos precisos sobre a presença de larvas e outras micropartí- Os primeiros testes indicam a sensibilidade do método, com taxa
culas de interesse para o monitoramento de espécies invasoras crescente de acertos nos testes mais complexos, como PCR,
(Figura 4). Os resultados apontaram presença dos organismos
D. Biologia Molecular para DRRI nas Usinas de Volta Grande, Jaguara, Igarapava, Porto Colôm-
bia, Águas Vermelhas, Estreito e Peixoto. Além disso, um falso
Os protocolos de biologia molecular encontram-se em estágio positivo foi confirmado para a usina de Nova Ponte, já que dados
avançado de testes. Os ensaios realizados com indivíduos adul- de monitoramento apresentados pela empresa de consultoria
tos tinham como objetivo constatar a eficiência tanto da extração responsável indicaram a presença do organismo naquele trecho.
do DNA quanto da reação de PCR (Polymerase Chain Reaction). O protocolo DRRI foi aplicado em três diferentes amostragens e
A incerteza da presença de DNA ou do nível de precisão do mé- confirmaram falso positivo para esta usina. Os falsos positivos
todo para baixas densidades de indivíduos no estágio larval é e falsos negativos são ainda comuns, já que os mecanismos de
ainda um desafio. detecção e análises disponíveis no mercado apresentam baixa
precisão. Falsos positivos podem demandar recursos conside-
E. Base Colaborativa de Dados para DRRI ráveis das empresas e do estado na mobilização para controle,
desinfecção e fiscalização. Pretende-se a partir de 2015 ampliar
O acesso a um banco de dados aberto e seguro tem se o número de usinas da Cemig participantes do programa DRRI.
mostrado um obstáculo para o trabalho das equipes de mo-
delagem. Para atender à equipe do CBEIH e encorajar o in- IV. CONCLUSÃO
tercâmbio entre diversos grupos que estudam o tema, foi cria-
da a Base Colaborativa de Dados: um banco de dados virtual Sem um conjunto de ações combinadas, o combate às prin-
que permite o compartilhamento e a visualização dos dados cipais espécies invasoras tem se mostrado infrutífero [6,7]; a es-
relacionados à propagação de espécies invasoras no Brasil pécie continua a se alastrar e a causar graves prejuízos aos nos-
(http://base.cbeih.org/view/Limnoperna+fortunei) e na América sos ecossistemas, ameaçar sistemas de abastecimento d’água,
do Sul. impactar o funcionamento usinas hidrelétricas, prejudicar ativi-
dades agrícolas e de piscicultura, entre outros. O DRRI utiliza
As coordenadas para georreferenciamento são de preen- o conhecimento acumulado nas duas últimas décadas sobre o
chimento obrigatório para validar os dados. Ao confirmar os mexilhão para estabelecer uma metodologia capaz de conter
dados inseridos, o banco de dados os associa aos pontos cor- seu avanço e identificar, com agilidade, populações em proces-
respondentes no mapa, e estes se tornam de acesso público. so de estabelecimento. Todas as etapas propostas já foram tes-
A utilização de ferramentas computadorizadas para medição e tadas por diferentes grupos de pesquisa; algumas instituições
interpretação de dados viabiliza projetos impraticáveis por meio avançaram, inclusive, na combinação entre algumas das técni-
de outras técnicas, além de poupar recursos importantes. Por cas propostas. No Brasil, o protocolo DRRI adquire contornos
utilizar sistemas de inteligência, que garantem amostragens inéditos, em vista da urgência no combate ao Mexilhão Dourado
em ambientes prioritários, técnicas de identificação e contro- e à infraestrutura implantada pela CEMIG no Centro de Bioen-
le com a mais alta tecnologia, bem como uma rede integrada genharia CBEIH.
com todos os usuários e gestores da bacia, o DRRI possibilitará
um sistema mais eficaz, seguro e de baixo custo, comparado
aos sistemas atualmente desenvolvidos para a detecção do
Mexilhão Dourado.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] DARRIGRAN, G.; DAMBORENEA, D. Introdução a Biologia das Invasões - O Mexilhão Dourado na América do Sul: Biologia, Dispersão, Impacto, Prevenção E Controle. São Carlos, SP:
Cubo Multimídia Ltda., 2009.
[2] FRISCHER, M. E.; NIERZWICKI-BAUER, S. A.; KELLY, K. L. Reliability of Early Detection of Dreissena spp. Larvae by Cross Polarized Light Microscopy, Image Flow Cytometry, and Polyme-
rase Chain Reaction Assays. Denver: U.S Department of the Interior Bureau of Reclamation Policy and Administration, 2011. 38 p.
[3] CAMPOS, M. C.; ANDRADE, A. F.; KUNZMANN, B.; GALVÃO, D. D.; SILVA, F.A.; CARDOSO, A. V.; CARVALHO, M. D.; MOTA, H. R. Modelling of the Potential Distribution of Limnoperna
fortunei (Dunker, 1857) on a Global Scale. Aquatic Invasions (2014) Volume 9, Issue 3: 253–265
[4] HOSLER, M. D. Early Detection of Dreissenid Species: Zebra/Quagga Mussels in Water Systems. 2.ed., vol. 6 Denver: Aquatic Invasions, 2011. 6 p.
[5] MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Espécies Exóticas Invasoras: situação brasileira. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. – Brasília: MMA, 2006.
[6] CORN, M. L., JOHNSON, R. Invasive species: major laws and the role of selected federal agencies, CRS Report, 54 páginas, Congresso dos EUA, 2013.
[7] The National Inasive Species Council Disponível em : <http://www.invasivespecies.gov/> Acesso 17 out 2014
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 49

Meio ambiente

CEMIG
Manejo integrado de
vegetação em faixa de passagem
de linhas de transmissão
Pedro Mendes Castro 1, Robinson Antonio Pitelli 5, Robinson Luiz de Campos Machado Pitelli 5, Newton J. Guaraldo 2, Laurence L. Marques 2,
José Mak 2, Flávio Faria 3 Alison Renan Agostini 5, Fabiano Testa 4, Neivaldo T. Cáceres 4, Valeska De Láquila 4,Paulo R. Costa 4

Resumo – Este trabalho apresenta resultados do projeto “D 365 – Manejo Integrado de Vegetação em faixa de passagem de linhas de transmissão”,
realizado na CEMIG. O trabalho visou desenvolver metodologia de controle da vegetação através de técnicas de Manejo Integrado da Vegetação®
(MIV), mediante controle seletivo de plantas com potencial de afetar o sistema elétrico, como alternativa à roçada mecânica utilizada pelas conces-
sionárias. Além do controle da vegetação indesejada, o MIV possibilita permanência de vegetação nativa de baixo porte, sem potencial danoso às
linhas, estabelecendo comunidade variada de plantas baixas, proporcionando ambiente favorável à fauna. Essa técnica também promove redução
na frequência e nos custos das intervenções de manutenção nessas áreas. As aplicações das técnicas, em áreas selecionadas, foram estudadas e
acompanhadas por pesquisadores especialistas através de avaliações de eficácia e de segurança ambiental. Após três anos do MIV em áreas de
Cerrado e Mata Atlântica, os resultados foram promissores.

Palavras-chave – Avaliação ambiental, faixa de LT, manejo, roçada, vegetação.

I. INTRODUÇÃO passagem e consiste no corte rente ao solo de toda a vegeta-


ção existente por meio de ferramentas manuais ou motosserra.
Concessionárias do setor elétrico brasileiro utilizam tradicio- Apesar de atender aos requisitos operacionais do setor elétrico,
nalmente a metodologia de roçada manual como procedimen- a roçada implica potencialmente na exposição do solo à erosão
to de limpeza e manutenção da faixa de passagem de linhas hídrica, na fragmentação de ecossistemas, na criação de am-
de transmissão. Esse processo é realizado em toda a faixa de biente propício à invasão de organismos exóticos, bem como
aumenta os riscos de propagação de incêndios. A roçada é um
Informações sobre o Projeto P&D: ‘4950-0365/2011 – Manejo Integrado de Vegetação em
procedimento que pode prejudicar a reprodução de elementos
Faixa de Passagem de Linha de Transmissão - Projeto Piloto’ classificação do tema/subte- da fauna e da flora, bem como os ambientes de procriação e
ma: MA; ‘ CEMIG. Executoras: CGTI, B&M e DOW. Investimento R$ 1.577.950,16. proteção de grupos faunísticos. Somada a essas adversidades,
1
CEMIG (e-mail: pedro@cemig.com.br). a constante rebrota da vegetação cortada implica no uso inten-
2
CGTI – Centro de Gestão de Tecnologia e Inovação (e-mails: newton@buenomak.com.br, sivo de mão-de-obra para o controle da vegetação, o que tem
laurence@buenomak.com.br e jose-mak@buenomak.com.br). acarretado custos crescentes da atividade. Há uma tendência de
3
B&M Pesquisa e Desenvolvimento Ltda ME. (email: ffar-ia@buenomak.com.br). órgãos ambientais estaduais e federais questionarem a roçada
Dow – Agrosciences Industrial Ltda (e-mail: fgtesta@dow.com, ntcaceres@dow.com, VDla-
como atividade de manejo da vegetação, acusando-a de am-
4

quila@dow.com, PRCosta2@dow.com).
bientalmente danosa, restringindo cada vez mais sua aplicação.
5
Funep (Unesp Jaboticabal) (e-mails: (rapitelli@ecosafe.agr.br , rlpitelli@ecosafe,agr.br, ali-
Além desses fatores ambientais, existe uma exigência contínua
son@ecosafe.agr.br).
de melhoria no desempenho ambiental dos serviços de forneci-
mento de energia elétrica, seja por parte da sociedade, seja por
50 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

parte dos órgãos reguladores. de Manejo Integrado de Vegetação (MIV) em dois biomas bra-
sileiros, avaliando diferentes técnicas de utilização de produtos
O Manejo Integrado da Vegetação (MIV) é uma técnica que com características herbicidas, custos por unidade de área e se-
tem sido utilizada na manutenção da vegetação sob linhas de gurança ambiental.
transmissão no State Games Lands 33 (SGL 33), localizado no
estado da Pennsylvania, EUA, desde a década de 1950 (Bram- O MIV foi implantado, estudado e avaliado em duas áreas
ble and Byrnes, 1996; Yahner et al. 2003). O M.I.V. envolve duas experimentais características dos biomas Mata Atlântica e Cer-
fases de tratamento: (1) o uso do herbicida ou técnica de contro- rado. O controle das plantas-alvo foi efetuado com uso de her-
le mecânico para controlar a planta-alvo que apresenta poten- bicidas ambientalmente seguros, em aplicações pontuais e com
cial para afetar a linha de transmissão; e (2) desenvolvimento de acompanhamento de avaliações periódicas de eficácia e segu-
uma comunidade de plantas de baixo porte que oferecerão uma rança ambiental.
resistência ao desenvolvimento de plantas de alto porte (Yahner
& Hutnik, 2004). Os resultados mostraram que a metodologia do MIV utilizan-
do herbicidas é adequada e eficaz para o controle da vegetação
A originalidade do projeto está na adoção de uma metodo- arbórea na faixa de passagem de LT’s nos biomas Cerrado e
logia inédita na prática das concessionárias brasileiras, para o Mata Atlântica. As técnicas de MIV também se mostraram mais
controle da vegetação na faixa de passagem de LT, como al- econômicas que a roçada, mesmo durante o curto período de
ternativa ao procedimento de roçada manual tradicionalmente duração de três anos do projeto.
utilizado. O projeto teve por objetivo avaliar a adoção de técnicas

Figura 1 – 2º Dia Workshop Ano 2. Visita em Divinópolis/MG.

Figura 2 – Escala empírica utilizada na avaliação da eficácia de aplicação foliar e basal dos herbicidas.

II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA dos trechos de faixas de LT onde seriam montados os experi-
mentos técnicos. Duas áreas foram escolhidas, baseadas em
O projeto teve como ponto de partida um levantamento biblio- seu bioma e no fácil acesso para a equipe de campo. Uma área
gráfico do estado da arte das técnicas de manejo e manutenção se localiza em Juiz de Fora (MG), representando o bioma Mata
da vegetação na faixa de passagem em linhas de transmissão. Atlântica; a segunda área está localizada na região de Divinó-
Numa segunda etapa do projeto foram levantados e seleciona- polis (MG), e representa o bioma de Mata Atlântica. Ambas as
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 51

áreas haviam sido roçadas a menos de duas semanas pelas 3. Herbicida a base de uma mistura de picloram + tri-clopyr,
equipes de manutenção da CEMIG. Após a escolha das áreas, formulação Togar TB®. O produto é pulverizado até próximo ao
um levantamento florístico foi realizado, onde foram identificadas ponto de escorrimento, na parte inferior do tronco das plantas
apenas as espécies arbóreas de grande porte, que seriam alvo arbóreas. Para auxiliar a penetração do produto pela casca da
das técnicas de manejo da vegetação, sendo, portanto desig- planta, a formulação exige a adição de óleo diesel na proporção
nadas de plantas-alvo. As áreas escolhidas foram divididas em de 5% (v/v);
quatro parcelas que apresentavam aproximadamente 30 metros
de comprimento (sentido da linha de transmissão) e a largura 4. Ausência do controle de plantas arbóreas.
tradicional utilizada pelas concessionárias para limpeza da faixa.
As quatro parcelas corresponderam aos quatro trata-mentos de Ao final de cada ano, foram realizados workshops para di-
manejo da vegetação: vulgação das atividades e resultados obtidos no período. Os
eventos tiveram duração de dois dias cada, sendo o primeiro
1. Herbicida a base de triclopyr, formulação Garlon 480BR®. com apresentações realizadas pela equipa técnica do projeto e
O produto foi pulverizado na parte aérea das plantas até o ponto consultores internacionais, e, no segundo dia, os participantes
anterior ao escorrimento superficial; foram levados até uma das áreas de campo e puderam verificar,
in loco, as aplicações e os efeitos do tratamento MIV na vegeta-
2. Herbicida a base de picloram, formulação Padron®. O tron- ção, conforme Figura 01.
co das plantas-alvo foi cortado a poucos centímetros do solo,
sendo pulverizado o herbicida na parte superior do toco imedia-
tamente após o corte. O objetivo é que o produto atinja o cambio
vascular e seja transportado por este até as raízes, evitando as-
sim a rebrota da planta;

Figura 3 – Escala empírica utilizada na avaliação da eficácia de aplicação no toco do herbicida após corte da planta alvo.

Figura 4 – Área experimental em Divinópolis/MG.

Avaliação Ambiental das no solo. Todas as avaliações ambientais foram realizadas


antes e após a implantação dos experimentos.
Durante o período de experimentação das técnicas do MIV,
avaliações de segurança e de impacto sobre o meio ambiente Avaliações de eficácia
foram realizadas em diferentes épocas. Os parâmetros ambien-
tais avaliados foram: comunidade de insetos terrestres e aéreos, A avaliação da eficácia dos diferentes tratamentos no contro-
composição química do solo e presença de resíduo dos herbici- le das plantas-alvo foi realizada mediante uma escala de notas
52 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

empíricas. Essa escala é baseada na capacidade da planta-alvo Tabela I - Índices de similaridade entre as composições específicas das comunida-
em rebrotar após o emprego da técnica de manejo. As figuras des de artrópodes nos diferentes tratamentos de MIV na área de Juiz de Fora, MG.
abaixo apresentam as escalas utilizadas para avaliar a eficácia Época Basal Foliar Toco
dos herbicidas aplicados na parte aérea ou na parte basal (Fi- Foliar 0,55
gura 02), e quando aplicados no toco após o corte (Figura 03).
Toco 0,45 0,45
Avaliações econômicas Testemunha 0,46 0,42 0,54

As avaliações de rendimento e custo na utilização das dife- Tabela II - Índices de similaridade entre as composições específicas das comunida-

rentes técnicas de MIV foram realizadas ao longo dos três anos des de artrópodes nos diferentes tratamentos de MIV na área de Divinópolis, MG.

de projeto. Os parâmetros econômicos analisados foram o gasto Época Basal Foliar Toco
de herbicida por unidade de área nas diferentes modalidades de Foliar 0,69
controle (diferentes tratamentos) e tempo gasto por unidade de Toco 0,64 056
área para a realização desse controle.
Testemunha 0,59 0,56 0,69
III. RESULTADOS
Em qualquer das épocas de avaliação realizadas, não foram
detectados resíduos dos herbicidas testados no solo, demons-
Todos os produtos testados no manejo da vegetação arbórea
trando, mais uma vez, a segurança para o meio ambiente na utili-
mostram alta eficácia de controle. As poucas diferenças encon-
zação das técnicas de Manejo Integrado de Vegetação (Tabela 3).
tradas entre localidades e parcelas foram atribuídas a erros me-
todológicos, não apresentando qualquer padrão comportamen-
O custo por hectare da utilização das técnicas de MIV apre-
tal relativo à espécie arbórea.
sentadas neste projeto foi, em média, de R$ 287,28 por hectare
tratado. Comparando com a roçada completa, estimada com um
As plantas que apresentaram rebrota foram novamente alvos
custo de R$ 900 por hectare, a implantação do Manejo Integra-
do controle com os respectivos herbicidas.
do de Vegetação (MIV) apresenta um potencial de redução sig-
nificativa no custo de manutenção das faixas de passagem de
Não foram verificadas injúrias nas plantas herbáceas e arbus-
linhas de transmissão para as companhias elétricas.
tivas que cresciam nas imediações das plantas-alvo, indicando
um alto grau de segurança proporcionada pela metodologia de
Tabela III – Análise de resíduos dos herbicidas triclopir e picloram em amostras de
aplicação dos produtos.
solo retirada das diferentes parcelas de Manejo Integrado de Vegetação.

Os tratamentos com herbicidas não apresentaram qualquer Datas Test Triclopyr Picloram Triclopyr +
diferença com relação à comunidade de insetos em comparação Picloram
com a testemunha. Os valores de similaridade entre as comu- 05/12 - < LD < LD < LD
nidades de insetos foram muito parecidos entre todos os trata- 08/12 - < LD < LD < LD
mentos, indicando que as pequenas diferenças existentes são
11/12 - < LD < LD < LD
devidas principalmente às épocas de amostragem (o que está re-
lacionado ao clima), e não ao tratamento utilizado (tabelas 1 e 2). 03/13 - < LD < LD < LD
11/13 - < LD < LD < LD
As análises de solo realizadas durante todo o período do 06/14 - < LD < LD < LD
projeto demonstram que as diferenças existentes foram mais < LD = abaixo do nível de detecção
relacionadas à região do experimento e ao local das parcelas,
e não ao tratamento utilizado, o que já era esperado. Parcelas No entanto, novas pesquisas devem ser realizadas com rela-
localizadas em terreno mais íngreme apresentam características ção aos custos e rendimentos operacionais dessas novas técni-
diferentes de locais mais planos. O herbicida, utilizado em doses cas em situações as mais semelhantes possíveis às encontra-
muito baixas por unidade de área, não influenciou as caracterís- das pelas equipes de manutenção.
ticas do solo.
IV. CONCLUSÃO

O projeto demonstrou que a utilização do Manejo Integrado


de Vegetação pode ser uma alternativa de controle da vegeta-
ção nas faixas de passagem de linhas de transmissão, aplicável
em qualquer concessionária de energia elétrica e com possibi-
lidade de maiores ganhos operacionais, econômicos e ambien-
tais com o passar do tempo.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Bramble, W.C., and W.R. Byrnes. Integrated vegeta-tion management of an electric utility right-of-way ecosystem. Down to Earth, v.51, n.1, p.29–34, 1996.
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P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 53

CTEEP
Avaliação do efeito da qualidade do gás SF6 nas
propriedades dielétricas e na interação com
vedações utilizadas em disjuntores
Helena M. Wilhelm1, Maurício Mattoso1, Neffer A. G. Gómez1, Paulo O. Fernandes1, Leandro Gonçalves Feitosa1,
Vanderlei R. Cruz2, Luiz H. Meyer3, Fernando Wypych4

Resumo – Neste trabalho são apresentados os resultados obtidos a partir de ensaios de envelhecimento acelerado de vedações utilizadas em
disjuntores isolados a gás SF6 (hexafluoreto de enxofre). Esses ensaios foram realizados em diferentes temperaturas, intervalos de tempo e atmos-
feras, como gás nitrogênio (N2), SF6, SO2 e misturas de SF6/SO2 (dióxido de enxofre). Foram avaliadas propriedades mecânicas, morfológicas,
térmicas e espectroscópicas das vedações antes e após os ensaios de envelhecimento acelerado. Foi avaliado também neste trabalho o efeito do
SO2, principal subproduto da degradação do SF6, nas propriedades dielétricas do SF6. Ao final, foi elaborada uma especificação técnica de materiais
de vedação para equipamentos isolados a SF6.

Palavras-chave – Hexafluoreto de enxofre, dióxido de enxofre, SO2, medidas dielétricas, envelhecimento acelerado.

I. INTRODUÇÃO Nas células de envelhecimento foram inseridos corpos de


prova de vedações de quatro diferentes fornecedores (F1, F2,
Manutenção preventiva e corretiva em equipamentos elétri- F3 e F4) (Figura 1b-e). Cada célula foi pressurizada com uma
cos isolados a gás SF6 são ações de demanda contínua. Entre- atmosfera composta por diferentes gases: gás N2 (nitrogênio),
tanto, durante o processo, pode ocorrer liberação do SF6 para a SF6 puro, misturas de SF6 e SO2 com baixas concentrações de
atmosfera, havendo a necessidade de controle dessas emissões SO2 (5, 12, 50 e 501 ppm de SO2), com altas concentrações de
por meio do monitoramento de vazamentos e substituições da SO2 (50% de SO2 em SF6) e com SO2 puro, a uma pressão de
carga dos gases [1-3]. 40 bar. As células foram acondicionadas em estufa sob diferen-
tes temperaturas (40, 120, 160 e 200 °C). Ao final do período de
O gás SF6 é um material inerte e, portanto, não ataca os ma- exposição (diferentes intervalos de tempo) os gases e os corpos
teriais de vedação. Porém, durante seu uso, o SF6 pode ser de prova foram coletados. Nos corpos de prova, novos e enve-
degradado gerando dióxido de enxofre (SO2). Este gás é bas- lhecidos, foram realizados ensaios de espectroscopia na região
tante reativo, reage facilmente com a umidade formando ácido do infravermelho com Transformada do Fourier (FTIR), calori-
sulfúrico, por exemplo. Por esse motivo, pode atacar os mate- metria diferencial de varredura (DSC), termogravimetria (TG),
riais de vedação, degradando-os e originando, por conseguinte, dureza Shore A e microscopia eletrônica de varredura (MEV).
pontos de vazamento. Não existe um ensaio de desempenho
normatizado para os materiais de vedação com os subprodutos Em outro experimento foi avaliada a rigidez dielétrica do gás
do gás SF6. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi o SF6 novo e contaminado com o principal subproduto, o SO2.
desenvolvimento de metodologia de avaliação do desempenho Para isso foi construída a câmara demostrada na Figura 2a. Os
das vedações frente à ação do SO2. testes realizados nas amostras de gás seguiram a norma IEC
60060, para ensaio sob frequência industrial (60 Hz) e de impul-
II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA so atmosférico, pelo método up and down. Foram especificadas
4 distâncias de afastamento entre os eletrodos - de 1, 2, 3,5 e 5
A. Ensaios de envelhecimento acelerado de vedações em
diferentes ambientes gasosos mm (Figura 2 b)

B. Caracterização dos corpos de prova das vedações novas


Para a realização dos experimentos foram confeccionadas,
e envelhecidas
em alumínio, células de envelhecimento equipadas com válvulas
de alívio de pressão, de enchimento e um manômetro (Figura 1a).
Por meio da análise de FTIR, nas amostras novas foi identifi-
“Desenvolvimento de metodologia para avaliação e minimização das causas de vazamento cada a presença do elastômero EPDM (etileno-propileno-dieno)
e da deterioração dos materiais de vedação em equipamentos isolados a gás SF6 (PD-0068- nos quatro tipos de vedação investigados. Após o envelhecimen-
0024/2011)”; Pesquisa aplicada/Meio ambiente; DIAGNO, FURB; to, foram observadas alterações na intensidade e na relação de
Investimento: R$ 1.779.249,00.
bandas de todas as vedações analisadas, mas não foi identifica-
1
Diagno Materiais e Meio Ambiente (helenaw@diagno.com.br; matto-so@diagno.com.br;
da formação de novas e/ou desaparecimento de bandas. Os re-
fernandes@diagno.com.br; leandro@diagno.com.br; nef-fer@diagno.com.br).
2
Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (vcruz@cteep.com.br) sultados de DSC não indicaram alterações significativas na tran-
3
Fundação Universidade de Blumenau (meyer@furb.com.br). sição vítrea (Tg) das vedações após envelhecimento acelerado.
4
Universidade Federal do Paraná (wypych@ufpr.br).
54 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. a) Célula projetada, construída e utilizada nos ensaios de envelhe- Figura 2. a) Câmara montada em teflon e acrílico e b) Detalhe dos eletrodos
cimento acelarado das vedações, e corpos de prova de vedações, utilizadas utilizados, dentro da câmara de testes.
em equipamentos isolados a SF6, fornecidos pela b) ALSTOM, c) TOSHIBA,
d) SIEMENS e e) RETESP

Figura 3 Efeito de altas concentrações de SO2 em SF6 no aumento da dureza Shore A das vedações
a) F1, b) F2, c) F3 e d) F4, envelhecidas a 160 0C por 168 h.

As análises de TG das vedações novas mostraram que para por 1529 h, apresentou uma diminuição na dureza Shore A, em
as amostras de todos os fornecedores não houve perda de mas- ambas as atmosferas (N2 e SF6). Porém, quando o tempo de
sa até 200 0C. Esse patamar foi seguido de três estágios de envelhecimento foi estendido para 2321 h a 120 0C, ou a tem-
perda de massa. A vedação F1 apresentou maior teor de resíduo peratura foi aumentada para 160 0C, esse material apresentou
final, em torno de 40%, indicando maior quantidade de carga na um aumento na dureza Shore A. Esse comportamento pode ser
formulação desse material. Após os ensaios de envelhecimento atribuído à formulação diferenciada desse material em relação
acelerado, não houve diferença no perfil das curvas de TG para aos demais testados.
as quatro vedações analisadas.
Quando as vedações foram envelhecidas em atmosfera de
Os ensaios de dureza Shore A mostraram algumas diferenças misturas de SF6/SO2 com baixas concentrações de SO2 (5, 12,
nos corpos de prova das vedações após os ensaios de envelhe- 50 e 500 ppm), observou-se um aumento maior na dureza Sho-
cimento acelerado em relação às vedações novas. De uma for- re A das vedações F1, F2 e F3 na mistura contendo 500 ppm
ma geral, quando envelhecidas em atmosfera de N2 ou em SF6, de SO2. Esse aumento foi maior quanto maior o tempo de en-
ocorreu um aumento na dureza Shore A das vedações enve- velhecimento. Em concentrações de SO2 inferiores a 500 ppm,
lhecidas em relação às novas, indicando um endurecimento do o aumento na dureza Shore A das vedações envelhecidas foi
elastômero pelo efeito da temperatura. Quanto maior a tempe- constante para essas vedações (F1, F2 e F3). Novamente, a
ratura e o tempo de envelhecimento, maior foi o endurecimento vedação F4 apresentou comportamento diferente das demais,
das vedações F1, F2 e F3 em relação às vedações novas, com apresentando aumento constante, independentemente da con-
exceção da vedação F4, que apresentou comportamento dife- centração de SO2. Para as amostras envelhecidas em mistura
rente. A vedação F4, envelhecida a 40 0C por 1060 h, e a 120 0C de SF6/SO2 (50/50) e em SO2 puro, observou-se um aumento
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 55

Figura 4 a) Aspecto da vedação usada na célula preenchida com SO2 comparati-


vamente à nova e b) da célula preenchida com SO2 após envelhecimento à 160 °C
que apresentou vazamento. Figura 5. Resultados dos ensaios de tensão disruptiva de acordo com a
norma IEC 60060.

muito maior na dureza Shore A, em comparação às envelhe- °C por 214 h. Mais uma vez, foi observado aumento da dureza
cidas em SF6 e N2. As vedações F1, F2 e F3 apresentaram para a vedação em presença do gás SO2, evidenciando que
aumentos maiores quando envelhecidas em SO2, enquanto F4 este gás é responsável pela redução da flexibilidade da vedação.
apresentou aumento semelhante para a mistura 50/50 e o SO2
puro (Figura 3). Para as amostras envelhecidas a 40 0C, o perfil A partir da relação de durezas Shore A da vedação (nitrílica)
dos resultados foi semelhante ao obtido a 160 0C. usada na célula preenchida com SF6 e com SO2, lembrando
que neste último teste houve vazamento do gás, foi possível su-
Os ensaios de MEV não identificaram diferenças entre as gerir um valor limite indicativo sobre o desempenho da vedação,
vedações envelhecidas em comparação às novas. A análise de igual a 1,04±0,04.
espectroscopia de energia dispersiva (EDS) não indicou a pre-
sença de enxofre e flúor nas vedações envelhecidas, indicando D. Elaboração de especificação técnica para as vedações
que tais elementos não foram incorporados ao material testado aplicadas em equipamentos isolados a SF6
(dados não mostrados).
A partir das especificações fornecidas pelos principais fabri-
C. Avaliação da estanqueidade de vedações em contato com cantes de equipamentos isolados a gás SF6 e pelo fabricante
SF6 e SO2 nacional de vedações, foi definida uma especificação técnica
para as vedações aplicadas em equipamentos isolados a SF6.
Além das análises realizadas nos corpos de provas inseridos Essa especificação é composta por ensaios de tipo (Tabela 1) e
nas células de envelhecimento, foi avaliada a borracha nitrílica de produto (Tabela 2).
utilizada na vedação das próprias células de envelhecimento (Fi-
gura 4). Foi avaliado o efeito direto dos gases na estanqueidade Foi proposto para a Comissão de Estudo de Isolantes Gaso-
desse tipo de vedação. Ao final de cada ensaio de envelheci- sos da ABNT/CB-03 a criação do projeto de norma “Especifica-
mento foi utilizado o equipamento que utiliza espectroscopia na ção técnica para materiais de vedação de equipamentos elétri-
região do infravermelho na detecção de vazamentos de gás SF6. cos isolados a gás SF6”. O projeto foi aprovado pela comissão.
Somente após o encerramento dos testes a 160 0C realizados Esse projeto possibilitará a padronização do uso de vedações
com SO2 puro observou-se que a vedação usada na célula esta- para equipamentos isolados a SF6 a partir dos ensaios descritos
va vazando. As vedações nitrílicas envelhecidas em SF6 e SF6/ nas Tabelas 1 e 2.
SO2 (50,50) apresentaram um aumento de aproximadamente
20% na dureza Shore A em relação à nova. Já a envelhecida em E. Avaliação do efeito do subproduto SO2 na rigidez dielé-
SO2 puro (que apresentou vazamento) apresentou um aumento trica do gás SF6
de aproximadamente 36%. Esses dados mostram que em algum
momento o SO2 puro atacará o material vedante, da mesma for- Os resultados da tensão disruptiva (Figura 5), norma IEC
ma como ocorrerá no equipamento elétrico isolado a gás SF6. A 60060, para aplicação de tensão à frequência industrial, e para
cinética desse ataque dependerá da concentração de gás SO2 aplicação de tensão impulsiva, sugerem que, nos ensaios die-
no SF6, do tempo e da temperatura. létricos realizados até o momento, fica evidenciada a superio-
ridade do gás SF6 como meio isolante em relação ao ar, tanto
Como a vedação das células de envelhecimento foi mantida nos ensaios sob tensão a 60 Hz quanto nos ensaios de tensão
sob compressão intensa, outro experimento foi delineado para impulsiva. Observa-se ainda que a variação da rigidez dielétrica
avaliar se a alteração da dureza foi resultante da temperatura ou do gás SF6 é pouco afetada pela presença de SO2.
da compressão. Para isso, corpos de prova das vedações a base
de borracha nitrílica foram envelhecidas, dentro da célula, a 120
56 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Tabela 1. Ensaios de tipo. Tabela 2. Ensaios de produto.


Caracteristicas Unida- Metodo de Especifi- Caracteristicas Uni- Metodo Valor
de Ensaio cação dade de Ensaio especificado
Base do elastômero EPDM ou Base do elastômero - EPDM ou poli-
poli- isopeno
isopeno DurezaStoreA unids ASTM D 2240 70-79
DurezaStoreA unids ASTM D 2240 70-79 Envelhecimento com - 240 h, 120°C 1,04 ‘‘ 0,04
Tensão de MPa ASTM D 412 mínimo, 10 SO2 e N2
ruptura
Alongamento de % ASTM D 412 mínimo,
Ruptura III. CONCLUSÕES
200
Deformação Perma- % ASTM D 395, máximo,
nente a Compressão O SO2 acelera o envelhecimento das vedações utilizadas
procedimento B, 70
em equipamentos isolados a gás SF6. Esse efeito é tanto mais
22 h a 125 fC
acentuado quanto maior a temperatura e o tempo de contato
Deformação Perma- % ASTM D 395, máximo,
nente a Comprenssão entre a vedação e o SO2.
procedimento 35
B, 70
É possível elaborar uma especificação técnica para as veda-
h a 100 fC
ções aplicadas em equipamentos isolados a SF6.
Resistência ao Calor ASTM D 865,
70 h 125 fC
O desempenho dielétrico do gás SF6 não foi alterado pela
Variação de Dureza unids máximo.
presença de SO2, para as concentrações e distâncias testadas.
+10
Variação da Tensão %
de Ruptura máximo, IV. AGRADECIMENTOS
-20
Variação de Alonga- % máximo, Os autores agradecem a CTEEP pelo apoio financeiro, a
mento de Ruptura
-40 ANEEL, ao DIAGNO, a FURB e a UFPR.
Envelhecimento 240 h, 120°C 1,04 ‘‘
com SO2 e N2 0,04

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] J. Sihvenger, A. de Souza Machado, A. Martins, E. Marques, J. Leite, L. Chanas. “Manuseio, segurança e manutenção de hexafluoreto de enxofre (SF6) em equipamentos elétricos”. Cigre-
-Brasil, 2012.
[2] Task Force B3.02.01. “Guide for the preparation of customised 2 practical SF6 handling instructions”. Cigre, 2005.
[3] United States Environmental protection Agency. “Publicação EPA 430-R-11-005: Inventory of U.S. Greenhouse Gas Emissions and Sinks: 1990 – 2009”, pag 4-72, publicado em 15/04/2011.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 57

TRACTEBEL ENERGIA
Operação-piloto da Boia Yara para
monitoramento de qualidade da água
em reservatórios hídricos
Alexandre Marcondes 1, Marcos S. Yamashita 2, Daniel T. Cobra 1, Juan G. Pereira 1, Lígia Bittencourt da Silva 2, Ilmar G. Gomes 2,
Sérgio Luiz Souza 2, Fernando S. Varela 2, Michel B. Geszychter 2

Resumo – No âmbito do programa de P&D Tecnológico do Setor de Energia Elétrica regulado pela ANEEL, a Tractebel Energia, em parceria com a
Fundação CERTI, desenvolveu um sistema de monitoramento de qualidade da água para reservatórios hídricos. Tendo como principal elemento uma
boia instrumentada com sonda multiparamétrica e sensores meteorológicos, o sistema realiza as medições e transmite os dados em tempo real para
um sistema on line. Ao final do projeto ocorreu a operação-piloto do sistema na Usina de Itá, validando seu funcionamento, assim como a qualidade
metrológica das medições dos parâmetros físico-químicos e meteorológicos.

Palavras-chave – Boia instrumentada; monitoramento ambiental; qualidade da água; sonda multiparamétrica; sensores inteligentes.

I. INTRODUÇÃO II. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

A. Especificações e Funcionamento do Sistema


Cada vez mais a conscientização ambiental tem levado as
empresas ao uso responsável dos recursos naturais. No setor
Os principais componentes do sistema desenvolvido estão
elétrico, a construção de represas de usinas hidrelétricas repre-
ilustrados na Figura 1. No cerne do sistema está a boia instru-
senta uma das intervenções mais significativas no meio -ambien-
mentada, dotada de sensores para parâmetros físico-químicos
te, certamente a mais significativa no ciclo hidrológico. Assim,
da água e parâmetros meteorológicos. Os parâmetros de qua-
visando mitigar os impactos, faz-se necessária uma boa gestão
lidade da água são: temperatura, condutividade/salinidade, pH,
ambiental do reservatório, com monitoramento constantemente
potencial de redução de oxidação, concentração de amônia,
da qualidade da água, a fim de permitir uma rápida resposta de
concentração de nitratos, concentração de oxigênio dissolvido e
controle [1]-[3].
turbidez, além da profundidade de localização da sonda. Já os
parâmetros meteorológicos medidos na superfície do reservató-
Com esste objetivo, foi desenvolvido no âmbito deste projeto
rio são: temperatura e umidade relativa do ar, pressão atmosfé-
um sistema de monitoramento que tem como principal elemento
rica, velocidade e direção do vento, precipitação pluviométrica e
uma boia instrumentada que efetua medições de parâmetros de
radiação solar.
qualidade da água e os transmite em tempo real, de maneira
mais eficiente do que o processo tradicional de monitoramento,
As medições realizadas pela boia são transmitidas digital-
no qual amostras de água são coletadas manualmente para pos-
mente via rede de telefonia celular ou, quando instalada fora da
terior análise laboratorial. A boia também é dotada de sensores
área de cobertura, por meio de um canal de comunicação via
meteorológicos, complementando os dados sobre as condições
satélite. Essta comunicação é bidirecional, sendo possível tam-
ambientais do reservatório.
bém transmitir à boia comandos e alterações de programação.
Os dados transmitidos pela boia são recebidos por um servidor
O funcionamento da boia e do sistema como um todo foi vali-
que os disponibiliza através de um software supervisório, o qual
dado durante uma fase de operação-piloto, realizada no reserva-
pode ser acessado pelo usuário final via navegador de Internet.
tório da Usina Hidrelétrica de Itá, localizada no rio Uruguai entre
os municípios de Itá (SC) e Aratiba (RS). Informações mais deta-
Outros componentes de apoio ao sistema são uma balsa, pro-
lhadas sobre o projeto da boia Yara foram apresentadas em [4].
jetada de forma a permitir o acesso facilitado à boia para opera-
O funcionamento geral do sistema e os resultados da operação-
ções de manutenção, e um laboratório móvel instalado em um
-piloto são apresentados no presente artigo.
contêiner, utilizado como base de apoio durante a fase de testes
e operação-piloto do sistema, bem como para futuras atividades
Informações sobre o Projeto de P&D: Título: “Desenvolvimento de Boia Instrumentada para
Monitoramento de Qualidade da Água – Boia Yara”; Código ANEEL: PD-0403-0015/2010; de operação e manutenção da boia.
Tema: Meio Ambiente; Subtema: Monitoramento ambiental em reservatórios de usinas hidre-
létricas; Empresa Proponente: Tractebel Energia S.A.; Empresa Cooperada: Itá Energética B. Estrutura Mecânica da Boia
S.A.; Entidade Executora: Fundação CERTI;
Investimento: R$ 1.130.636,22.
A Figura 2 mostra o modelo tridimensional da estrutura me-
1
Fundação CERTI (e-mails: axm@certi.org.br; dtc@certi.org.br; jgp@certi.org.br).
2
Tractebel Energia S.A. (e-mails: marcossy@tble.com.br; lbitten-court@tble.com.br; golta-
cânica da boia. Na parte superior há uma estrutura tubular onde
ra@tble.com.br; souzasl@tble.com.br; fernandosv@tble.com.br; michelbg@tble.com.br). estão instalados os sensores meteorológicos e painéis solares.
58 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Boia Yara e demais componentes do sistema de monitoramento de qualidade da água desenvolvido no projeto.

Figura 3. Foto da equipe técnica instalando a boia com suporte da balsa.

Figura 2. Modelo tridimensional da estrutura mecânica da


boia.

A parte inferior, composta do casco flutuador da boia, tem espa-


ço de carga útil dividido em dois compartimentos principais, sen- Figura 4. Foto da boia instalada no reservatório.
do um destinado para alojar os sistemas elétricos e eletrônicos,
e outro destinado ao carretel do cabo da sonda multiparamétrica,
que permite variar manualmente a profundidade da sonda até
48 m.

III. ANÁLISE DA OPERAÇÃO-PILOTO

Em 12 de dezembro de 2013, a boia iniciou a transmissão


das medições dos parâmetros meteorológicos e físico-químicos
da água, marcando o começo do período de três meses da ope-
ração-piloto do sistema. A Figura 3 mostra integrantes da equipe
do projeto sobre a balsa de apoio, fixando a boia no ponto do log
boom do reservatório previamente selecionado para sua insta-
lação, enquanto a Figura 4 mostra a boia após a instalação. Na Figura 5. Foto do laboratório móvel no terreno da usina.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 59

Figura 7. Exemplo de gráfico de medições gerado pelo software supervi-


sório (temperatura da água)

Figura 6

Figura 6. Tela do sistema supervisório para o usuário final.

Figura 5 pode-se ver o laboratório móvel usado como base de da boia geraram um número de medições superior ao anterior-
apoio para as operações de instalação e manutenção da boia. mente gerado durante 10 anos de coletas e medições manuais,
tornando possível, pela primeira vez, monitorar os parâmetros
Embora o local escolhido para instalação da boia tenha boa físico-químicos da água do reservatório em tempo real. Proces-
cobertura de rede celular, o modem GPRS foi propositalmente sar tal volume de dados, a fim de extrair todas as informações
desligado em um determinado momento da operação-piloto para relevantes para o monitoramento ambiental do reservatório, é
teste da comunicação via satélite, tendo sido os dados transmi- um desafio em si, e poderá requerer o futuro desenvolvimento
tidos corretamente para o servidor por meio desste canal alter- de um sistema para análise automatizada dos dados e suporte
nativo. Além disto, também foi validada a autonomia do sistema à tomada de decisão.
de alimentação da boia mediante o desligamento dos painéis
solares por um período de duas semanas, tendo sido a carga A avaliação dos dados da operação-piloto, realizada por con-
existente na bateria suficiente para manter o sistema em fun- sultoria ambiental contratada para o projeto, indicou valores coe-
cionamento por todo o período, sem interrupção da aquisição e rentes das medições da boia em relação a valores medidos com
transmissão das medições. outros instrumentos no mesmo ponto do reservatório e com aná-
lises laboratoriais. É importante ressaltar que a confiabilidade
A Figura 6 mostra a tela do software supervisório desenvol- das medições depende da manutenção periódica dos sensores,
vido para o sistema sobre a plataforma ScadaBR, no qual são limpeza e calibração dos mesmos a intervalos regulares, confor-
apresentadas as medições transmitidas pela boia. As incertezas me plano de garantia da confiabilidade metrológica elaborado
de medição são estimadas com base nos dados das fichas téc- no projeto.
nicas fornecidas pelos fabricantes dos sensores. O supervisório
permite ainda gerar relatórios configuráveis e gráficos dos parâ- A experiência adquirida na pesquisa e desenvolvimento desta
metros entre datas especificadas, como o mostrado na Figura 7. primeira versão da boia poderá ser aproveitada em novos pro-
É possível também programar alarmes que são acionados quan- jetos para aprimoramento da mesma e sua eventual industria-
do um determinado parâmetro ultrapassa limiares pré-definidos, lização. Também foi vislumbrada a possibilidade de que sejam
além de outros recursos. desenvolvidas variações desta plataforma, como, por exemplo,
uma versão menor da boia, sem os sensores meteorológicos,
IV. CONCLUSÕES que possa ser mais fácil e rapidamente instalada nos braços
do reservatório para expandir a área de monitoramento em si-
O sistema de monitoramento de qualidade da água baseado tuações que exijam um acompanhamento mais detalhado das
na boia Yara foi desenvolvido e testado com sucesso durante o condições ambientais. Há também a possibilidade de serem in-
período de operação-piloto no reservatório de Itá, constituindo cluídos outros sensores, como, por exemplo, para medição de
uma importante fonte de dados para a gestão ambiental do reser- gases de efeito estufa.
vatório. Durante os três meses de operação-piloto, os sensores

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] H. Cruz Castro e N. L. P. Fabrizy, “Impactos ambientais de reservatórios e perspectivas de uso múltiplo”, Revista Brasileira de Energia, v. 4, n.º 1, 1995.
[2] M. McCartney, “Living with dams: managing the environmental impacts”, Water Policy, v. 11, sup. 1, pp. 121-139, 2009.
[3] G. Friedl e A. Wüest, “Disrupting biogeochemical cycles – Consequences of damming”, Aquat. Sci., v. 64, pp. 55-65, 2002.
[4] D. Cobra et al., “Desenvolvimento de Boia Instrumentada para Monitorammaento de Qualidade da Água”, VII CITENEL, Rio de Janeiro, agosto de 2013, artigo n.º 85.
60 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

COELBA
Postes ecológicos: concreto com
fibras naturais e Nano TiO2,
anatásio - propriedades fotocatalíticas
Mariana O. G. P. Bragança1, Kleber F. Portella1, Jeferson L. Bronholo1, Marcelle M. Bonato1, Dailton P. Cerqueira2, Jeannette C. M. dos Santos2

Resumo – O consumo de concreto por quilômetro de linha de distribuição e transmissão de energia pelo setor elétrico está entre 50 a 100 m³, des-
tinado à fabricação de postes, contrapostes e cruzetas. Os traços médios desses produtos equivalem a cerca de 400 kg de cimento/m3, ou seja,
em 1 km de rede, tem-se uma quantidade estimada de cimento da ordem de 40 t ou de 32 t de CO2 emitido na sua fabricação. Nesse sentido, no
projeto ECOPOSTES desenvolvido em parceria com a COELBA, foram produzidos concretos e, a partir deles, postes duplo T de 11 m e cruzetas,
ambos 200 daN, com adições de fibras naturais de coco e sisal com redução direta no consumo de CO2 de até 1,7 t/km. Além disso, foi investigado o
emprego de substância fotocatalítica a qual propiciou, também, a redução de gases poluentes atmosféricos tipo SO2 e NOx de até 40%, em massa.

Palavras-chave – postes e cruzetas de concreto; efeito fotocatalítico; fibras de coco e sisal; dióxido de titânio; meio ambiente.

I. INTRODUÇÃO As fibras de sisal, por exemplo, são consideradas estruturais


devido à sustentação e à rigidez que fornecem às folhas [3]. Já
O uso de concretos com resíduos ambientais de outras áreas as fibras de coco, obtidas do mesocarpo do fruto, são materiais
da engenharia tem sido prática comum [1]. Como o setor elétri- lignocelulósicos com propriedades de dureza e durabilidade [4].
co, em geral, é um grande consumidor desse insumo (entre 50 e Ambas apresentam características de elevado módulo de elasti-
100 m3/km de rede de distribuição e de transmissão de energia cidade, de resistência específica e retardam o início do processo
[2]), vem sendo constante a preocupação na manutenção das de fissuração pela contenção da contração plástica [5], além de
propriedades finais do produto, mas com redução acentuada dos serem biodegradáveis, provenientes de fonte renovável, abun-
seus bens ambientais, como a areia, o cimento e os agregados dantes no Brasil e de menor custo quando comparadas à fibra de
graúdos ou britas, em novos projetos de engenharia. vidro. Diante de tais propriedades, fibras curtas de sisal e coco
foram estudadas em compósitos com argamassa de cimento.
Para se ter uma ideia da necessidade de tais investigações no
desenvolvimento de novos traços de concreto com o objetivo da Outro estudo, nesta pesquisa, envolveu o desenvolvimento
redução de consumo de matérias primas retiradas diretamente de uma argamassa cimentícia de cimento Portland com nano
do meio ambiente, pode ser considerado um traço médio desses TiO2, na fase anatásio, devido à sua propriedade de fotocatálise
materiais, comumente utilizado pelos fabricantes de artefatos de heterogênea [6-7], a fim de verificar seu desempenho na remo-
concreto de cimento Portland para o setor elétrico, de 1: 1,48: ção ou na minimização de gases poluentes NOx e SO2, lan-
2,52: 0,50 – (cimento: areia: brita: relação água/cimento), como çados na atmosfera, normalmente, pela combustão automotiva.
o utilizado neste trabalho na fabricação de postes e de cruzetas.
Para tal traço, a cada km de rede pode ser inferida uma extração De modo a obter redes mais sustentáveis, ou de maior apelo
de cerca de 60 m3 de areia e brita do meio ambiente. Portanto, ambiental, foi desenvolvida esta investigação, de forma a de-
toda ação no sentido de modificar os traços trabalhados com senvolver concretos com misturas cimentícias minerais e foto-
substituições diretas desses insumos diminui o impacto ambien- catalíticas para a redução de gases poluentes em artefatos de
tal. concreto para as redes de distribuição de energia elétrica.

Em termos de gestão, boa parte das concessionárias de ener- II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
gia vem aprimorando a sua missão de forma a reduzir os impac-
tos socioambientais com a fixação do produtor rural ou das co- Nesta seção, estão apresentados os materiais e as metodolo-
munidades no seu local de origem, agregando valor econômico gias empregados, tanto no laboratório quanto no campo.
ao insumo gerado, como, neste caso, os resultantes das planta-
ções de fibras de sisal e, em consequência do alto consumo de A. Materiais
coco verde no país, do seu resíduo, com o uso de suas fibras em
novos produtos de sua engenharia. Concreto com adições foram utilizados com os insumos des-
critos na Tabela I. Todos os materiais foram previamente carac-
terizados, de acordo com a normatização técnica.
Projeto COELBA/INSTITUTOS LACTEC, P&D 0047-0002/2009 “Estudo e desenvolvimento
Tabela I. Materiais utilizados ao longo do trabalho para a preparação do concreto
de concreto com misturas cimentícias minerais e fotocatalíticas para redução de gases do
com adições (estudo de laboratório e campo).
efeito estufa: aplicação em estruturas armadas de redes de distribuição de energia elétrica”.
Investimento: R$ 1.351.811,89.
1Institutos Lactec: (e-mails: mariana.portella@lactec.org.br; portel-la@lactec.org.br; jefer- Material Descrição
son.luiz@lactec.org.br). M. M. Bonato Cimento CP II-Z-32 (laboratório); CP II-Z-32 RS
2COELBA: (e-mails: dcerqueira@coelba.com.br; jmontei-ro@coelba.com.br). (campo)
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 61

Água Potável - sistema de abastecimento duplo T e 200 daN, com adição de 0,8% de fibra (coco e sisal – 3
público de Curitiba (laboratório) e Feira unidades de cada), em volume; e 6 cruzetas T, 200 daN, com a
de Santana (campo) mesma composição, ou seja, com um consumo de cimento de
425 kg/m³ e o traço médio de 1: 1,48: 2,52: x: 0,50, considerando
Agregado Miúdo Areia natural lavada
o concreto tradicional e a adição de x= 0,8% de fibras (coco e
Agregado Graúdo Rocha granítica, com diâmetro máximo sisal, individualmente).
de 9,5 mm
Adições Fibras curtas de coco e sisal Para o estudo da atividade fotocatalítica os elementos de con-
creto com fibra foram recobertos com a argamassa de TiO2 com
Adicionalmente, para o estudo de atividade fotocatalítica, foi até 90%, em massa.
utilizado o material relacionado na Tabela II.
III. RESULTADOS
Tabela II. Material utilizado ao longo do trabalho para preparação da argamassa
fotocatalítica. Com a execução das dosagens foi possível verificar que a
cura inicial do concreto com fibra de sisal foi mais lenta, com
Material Descrição
desforma somente após 72h. Isso foi averiguado como uma con-
Dióxido de titânio Aeroxide, marca comercial Evonik, anatá- sequência direta da superior capacidade de retenção de água,
sio, com partículas da ordem de 50 nm. frente às características do material, devido à adição de fibras.
Tal consequência pode ter decorrido também de algum material
B. Desenvolvimento Laboratorial orgânico revestindo as fibras, as quais reagiram com os álcalis
presentes no concreto, alterando a pega da mistura. Para os tra-
O estudo de traço foi realizado para verificar a proporção mais ços preparados não foi necessária a utilização de aditivo. A tra-
adequada de insumos e possibilitar a inserção das fibras curtas balhabilidade média atingiu 35 mm para todas as dosagens com
de sisal e coco. O material foi cortado em moinho de facas até fibra, enquanto o valor para o concreto referência foi de 40mm.
que suas dimensões estivessem ideais para a dosagem. Pos- Os dados obtidos não foram corroborados por um dos trabalhos
teriormente, foi realizada a dosagem de concreto de referência, da literatura de referência, no qual o uso de plastificante foi fun-
estabelecendo uma relação água/cimento (a/c) de 0,50 e abati- damental [4]. A diferença deve estar relacionada aos problemas
mento do tronco de cone de (30 ± 10) mm. na homogeneização da mistura. As fibras foram adicionadas de
forma lenta e contínua, disso resultando CP’s de boa coesão.
O material com fibras foi preparado a partir do traço referên-
cia, com adição de 0,8%, em relação ao volume de concreto. A dosagem com fibra apresentou desempenho quanto à resis-
tência à compressão axial em torno de 30% superior aos valores
Após a dosagem para a medida de resistência à compres- mínimos recomendados de 25 MPa [9]. Verificou-se como van-
são axial simples, os corpos de prova (CP’s) foram moldados tagem adicional que os CPs rompidos não tiveram suas partes
em acordo com as recomendações normativas. As amostras fraturadas estilhaçadas, ficando unidas pelas fibras. Isso passa
foram posteriormente curadas ao ar livre por 24h e cobertas a ser interessante em artefatos dispostos em regiões de maior
com filme plástico. A desforma foi realizada para a elaboração probabilidade de impactos por veículos automotivos, evitando-
do processo de cura úmida até o dia previsto para o teste de -se, assim, o lançamento desordenado de partes desses pro-
compressão axial. dutos impactando transeuntes, o próprio acidentado, ou mesmo
bens materiais locais.
O ensaio de resistência à compressão axial foi realizado para
todos os traços de concreto em estudo, sendo adotadas as ida- Os resultados médios de absorção do NOx dos CPs com
des de 3, 7, 14, 28 e 91 dias de cura, segundo as recomenda- o nano TiO2 mostrou que houve degradação do gás poluente
ções da NBR 5739/07 [8]. NOx, com redução deste em até 40%. A taxa de maior diminui-
ção ocorreu para as argamassas com o composto em concentra-
Para o estudo de fotocatálise, foram moldadas amostras de ção entre 30 e 50%, em massa. Para a fabricação dos postes de
argamassa simples, com espessura de 1,8 cm e cobertura foto- concreto foi adotada uma concentração limite de 30% de TiO2
catalítica. Para a cobertura superficial, foram usadas concentra- em relação ao consumo de cimento.
ções de TiO2 de 0 a 90%, em substituição ao cimento, em um
traço médio de 1:3:0,5 (cimento: areia: relação água/cimento), A. Estudos de Campo
o qual foi desenvolvido para a verificação de seu desempenho
quanto à oxidação de compostos NOx, com a introdução de NO Os postes e cruzetas foram fabricados com um consumo de
em um sistema fechado com gás e radiação ultravioleta (UV), cimento de 400 kg/m³ e o traço médio de 1: 1,6: 2,56: 0,50. Na
sendo realizadas as análises de absorção/reação a partir de ge- Figura1, está apresentada a foto dos postes dosados com 0,8%
radores de gás com concentração de 1,0 ppm e fluxo de 0,7 l/ de fibra de sisal.
min. Um monitor de ar ambiente, marca HORIBA, foi utilizado
para a indicação dos teores de entrada e saída do mesmo. O en- De forma similar aos corpos de prova, a cura inicial dos postes
saio foi desenvolvido por 50 minutos, com ensaio da degradação e cruzetas de concreto com fibra de sisal foi mais lenta, com a re-
do gás ao longo do tempo. tirada das formas sendo realizada apenas após três dias da con-
formação. Em geral, não foi verificado o aparecimento de trincas
Estudos de Campo ou fissuras no material, o qual foi avaliado logo após a desforma.

Foram confeccionados artefatos de concreto com fibras de Os materiais foram curados ao ar, sendo realizados os en-
coco e sisal e argamassa fotocatalítica para a avaliação de seu saios de resistência mecânica, cujos resultados estão apresen-
desempenho em campo [9]. Foram produzidos 6 postes de 11 m,
62 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Postes de concreto com adição de 0,8% de fibra de sisal. Figura 2. Postes e cruzetas de concreto com adição de fibras (postes cobertos
com argamassa fotocatalítica).

tados na Tabela III. As cruzetas apresentaram resultados condi- possibilitando a obtenção de uma área de 8 m² (postes) e 1,5 m²
zentes com a normalização brasileira [9]. (cruzetas) livre para a atividade fotocatalítica.

Tabela III. Resultados médios obtidos para os testes de resistência mecânica dos Com base nos resultados, estimou-se que os artefatos com a
postes fabricados. argamassa fotocatalítica poderão degradar todo o NOx produzi-
Descrição Flecha Flecha Limite Carga do na região de sua instalação, e que atingem a sua superfície
Poste encontrada Residual Elástico de Ruptu- durante todo o período da vida útil desses elementos. Para o
(mm) (daN) ra Mínima SO2, a taxa de decomposição foi similar. Para cidades como
(daN) Curitiba e Salvador, por exemplo, a emissão veicular gera cerca
200 ppbs de compostos NOx diários [10].
Referência 362 ± 39 29 ± 6 280 200
Fibra de 371 ± 18 33 ± 6 280 200 IV. CONCLUSÕES
Sisal
Fibra de 367 ± 7 33 ± 2 280 200 A pesquisa desenvolvida possibilitou a realização de altera-
Coco ções de apelo ambiental a artefatos de concreto da rede, com a
NBR 385 38,5 280 200 utilização de adições de fibras orgânicas e cobertura fotocatalítica.
8451/12 [9] (máx.) (máx.) (mín.) (mín.)
Os materiais produzidos apresentaram propriedades mecâni-
cas semelhantes às do concreto tradicional (variação média de
Os artefatos produzidos a partir do concreto com fibras de 2% entre dosagens nos resultados obtidos) e em acordo com as
coco e sisal apresentaram resultados satisfatórios considerando determinações normativas.
o desvio padrão, semelhantes aos do material tradicional (sem
adições) e dentro dos limites normativos. Todos os elementos V. AGRADECIMENTOS
atingiram o limite elástico e a carga de ruptura mínima.
Os autores agradecem o apoio fornecido pelo LACTEC,
Na Figura 2, encontram-se apresentados os postes e cruze- ANEEL, COELBA, UFPR/PIPE e CNPq - PIBITI/Bolsa PQ/Lei
tas confeccionados com as fibras orgânicas e argamassa foto- 8010/90.
catalítica. A cobertura superficial foi realizada em todas as faces,

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] V. M. JOHN, “Reciclagem de resíduos na construção civil: contribuição à metodologia de pesquisa e desenvolvimento”. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, 2000.
[2] A. JOUKOSKI; K. F. PORTELLA, K; M. I. GARCÍA, “Estudo da utilização de terra Füller em matrizes de concreto” Relatório Técnico, 2004.
[3] E. FROLLINI; J. M. F. PAIVA; W. G. TRINDADE; I. A. T. RAZERA; S. P. TITA. “Natural Fibers, Plastics and Composites”. Klumer Academic, 2004, p.193-225.
[4] I. I. S. SILVA, L. B. LAGO; J. P. SOARES; P. S. L. SOUZA. “Avaliação do uso da fibra de coco em compósitos cimentícios” in. 50º Congresso Brasileiro do Concreto, 2008.
[5] P. R. L. LIMA; R. D. TOLEDO FILHO; K. J. NAGAHAMA; E. M. FAIRBAIRN. “Caracterização mecânica de laminados cimentíceos esbeltos reforçados com fibras de sisal”. Revista Brasileira
de Engenharia Agrícola e Ambiental, vol. 11, n. 6, p. 644-651, 2007.
[6] S. S. SILVA; F. MAGALHÃES; M. T. C. SANSIVIERO. “Nano-compósitos semicondutores ZnO/TiO2, testes fotocatalíticos”. Química Nova, pp. 33-85, 2010
[7] M. D. GUROL. “Photo-catalytic construction materials and reduction in air pollutants”. San Diego State University, 2006.
[8] ABNT, NBR 5739. Concreto - Ensaios de compressão de cor-pos-de-prova cilíndricos. 2007.
[9] ABNT, NBR 8451. Postes de concreto armado para redes de distribuição de energia elétrica – Especificação. 2012.
[10] E. ESMANHOTO, R. G. SERTA, et al. Relatório anual de qualidade do ar. LACTEC, 2011. 83 p.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 63

Medição, faturamento
e combate a perdas
comerciais
CELESC
Desenvolvimento de equipamento
inteligente para medição e controle
setorizados do consumo de energia
Luiz H. C. Oliveira 1, Sérgio L. Zimath 2, Adrián Fritz 2, Francisco J. S. Pimentel 2,
Lúcio T. Prazeres 2, Luiz A. de Miranda 2, Luiz F. Schrickte 2 e Patrícia M. B. Zimath 2.

Resumo – O artigo descreve o desenvolvimento de um protótipo de equipamento inteligente para medição e controle setorizados do consumo de
energia elétrica. De fácil instalação na Unidade Consumidora, o equipamento mede diversas grandezas elétricas e transmite via wireless para a in-
ternet, onde, num site especificamente desenvolvido para este fim, são plotadas, em tempo real, as curvas de consumo, potência, corrente e tensão,
que permitem aos consumidores usuários do sistema, acesso mediante senha pessoal aos dados de medição de suas Unidades Consumidoras.
Foram produzidos 20 equipamentos, que foram instalados e testados com êxito em Unidades Consumidoras residenciais, possibilitando a compro-
vação das suas funcionalidades, bem como oportunizando a contribuição dos usuários no aprimoramento da interface web, resultando num produto
final tecnicamente robusto e alinhado com a percepção dos consumidores.

Palavras-chave – Eficiência energética; gerenciamento pelo lado da demanda; medição de energia elétrica; medidores inteligentes –
Smart Meters; qualidade de energia elétrica.

I. INTRODUÇÃO energia que causam, em média, redução de 15% na sua conta


de energia mensal. [1], [2]
Atualmente, os consumidores não possuem conhecimento
sobre o consumo em tempo real de suas unidades consumido- Este artigo apresenta os resultados obtidos durante o desen-
ras, o que lhes dificulta associar a utilização de um determinado volvimento do projeto de P&D da ANEEL intitulado “Desenvol-
equipamento de sua residência com o seu consumo de energia vimento de Equipamento Inteligente para Medição e Controle
e, consequentemente, com o custo associado. Setorizados do Consumo de Energia”, código 5697-0710/2011,
realizado com suporte financeiro da CELESC Distribuição S.A.
Pesquisa realizada pela empresa Google em um projeto pi- com duração de 24 meses, tendo sido finalizado em 30/01/2014.
loto denominado “Google Power Meter” demonstrou que o con-
sumidor, quando tem pleno conhecimento do seu real consumo O objetivo deste projeto foi o desenvolvimento de um equipa-
de energia elétrica, tende a tomar atitudes de uso racional da mento que permita aos consumidores verificarem, em ambiente
web e on-line, vários dados relativos ao seu consumo de ener-
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tec-
gia elétrica e parâmetros da qualidade da energia fornecida pela
nológico do Setor de Energia Elétrica regulado pela ANEEL sob o título “Desenvolvimento
concessionária, entre os quais a medição geral de consumo da
de Equipamento Inteligente para Medição e Controle Setorizados do Consumo de Energia”,
unidade consumidora e por circuitos de alimentação - medição
código 5697-0710/2011; Tema de pesquisa: Medição; Suporte financeiro: Celesc Distribui- setorizada, consumo de energia mensal, curvas de cargas his-
ção S.A.; Entidade executora: Quântico Consultoria SS; tóricas, perfis de tensão, corrente e potência, por circuito, entre
Investimento: R$ 1.091.760,00; outras. Esstas informações são acessadas pelos consumidores
CELESC Distribuição S.A 1 (e-mail: luizh@celesc.com.br). a partir de um computador conectado à internet, mediante identi-
Quântico Consultoria SS 2 (emails: sergio@quantico.com.br; adri-an@quantico.com.br; ficação do usuário e autenticação de sua senha de acesso.
pimentel@quantico.com.br; lucio@quantico.com.br; Miranda@quantico.com.br; luizfernan-
do@quantico.com.br e patricia@quantico.com.br).
64 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

O acesso do consumidor às informações do consumo asso- também em benefícios para a sociedade através da modicidade
ciado às cargas, mediante estímulos tarifários por parte do ór- tarifária.
gão regulador, poderá elevar este potencial de eficientização do
sistema de distribuição a patamares bem superiores, resultando Além desstas principais vertentes, o projeto potencializa di-
em benefícios diretos à concessionária pela postergação de in- versas outras aplicações, a partir de dados disponibilizados via
vestimentos e pelo uso mais racional da capacidade do sistema internet, nas mais diversas áreas, tais como:
elétrico instalado, mediante o deslocamento dos consumos para
fora dos horários de ponta do sistema elétrico. Adicionalmente, - monitoramento em tempo real das interrupções e abrangên-
o estímulo à eficientização pode ser ainda potencializado pela cia das mesmas;
possibilidade do consumidor comparar o consumo de sua unida-
de consumidora com a média de consumo de outras com carac- - medição setorizada do consumo das cargas;
terísticas similares.
- análise de viabilidade de aplicação de tarifação horária dife-
Outra importante motivação do projeto são as campanhas de renciada – Tarifa Branca;
medidas regulamentadas pelo PRODIST, destinadas a subsidiar
a estratificação das tarifas por ocasião das revisões tarifárias pe- - monitoramento dos indicadores individuais de continuidade
riódicas, nas quais a empresa de distribuição deve caracterizar de fornecimento (DIC, FIC e DMIC);
a carga de suas unidades consumidoras e o carregamento de
suas redes elétricas e transformadores por meio de informações - automação de cargas da instalação, possibilitando aplica-
oriundas de medições massivas em unidades consumidoras. ções de Gerenciamento pelo Lado da Demanda;
Esstas campanhas, com longo tempo de duração e abrangendo
um grande número de medições amostrais, implica em grande - monitoramento dos níveis de tensão de fornecimento, e;
esforço financeiro e de mão de obra, que poderá vir a ser subs-
tituído com vantagem pelas medições realizadas pelo equipa- - medição e Verificação de Programas de Eficiência Energética.
mento desenvolvido através deste projeto de P&D, resultando

Figura 1. Protótipo do equipamento inteligente para medição e controle seto- Figura 2. Vista externa do quadro de distribuição do usuário com o
rizados do consumo de energia elétrica equipamento instalado

II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA para adaptar-se aos quadros de distribuição, ocupando o espa-
ço de dois disjuntores monofásicos.
O desenvolvimento do Equipamento Inteligente para Medição
e Controle Setorizados do Consumo de Energia envolveu, além Outros requisitos observados foram:
de uma extensa revisão bibliográfica, as seguintes etapas:
- fácil instalação nos quadros de medição, através de encaixe
A. Descrição Básica do Equipamento do gabinete do equipamento nos trilhos destinados à fixação dos
disjuntores;
Neste projeto de P&D foi desenvolvido um equipamento ele-
trônico de baixo custo destinado à instalação em unidades con- - conexão dos sensores de tensão diretamente nos bornes
sumidoras visando à medição setorizada do consumo de energia dos disjuntores dos circuitos a serem monitorados;
e outras grandezas elétricas, e simultânea disponibilização das
informações aos consumidores em ambiente web. - conexão dos sensores de corrente sem necessidade
de abertura do circuito a ser monitorado para enlaçamento
B. Requisitos Funcionais do Equipamento dos TC’s, pois estes são do tipo núcleo dividido basculante.

O projeto do seu empacotamento mecânico foi direcionado


P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 65

C. Características Técnicas do Equipamento A Figura 1 apresenta o equipamento desenvolvido para ser


instalado no quadro de distribuição do usuário.
O equipamento apresenta as seguintes características:
Na Figura 1 pode-se observar o corpo do equipamento com
- três sensores de tensão, possibilitando seu uso em instala- empacotamento mecânico idêntico ao de um disjuntor bifási-
ções mono, bi ou trifásicas e quatro sensores de corrente, o que co. Pode-se observar, também, os quatro sensores de corrente
permite monitorar até quatro circuitos monofásicos específicos; (TCs) do tipo núcleo dividido basculante, que facilita a instalação
sem necessidade de abrir o circuito a ser monitorado.
- módulo wi-fi para comunicação com o modem da rede wire-
less do consumidor, através do qual envia os dados do consumo A Figura 2 mostra o aspecto externo do quadro de distribuição
e das demais grandezas elétricas para o ambiente web [4]; com o equipamento instalado.

- dimensionamento para operar em redes com tensão fase- D. Descrição do Ambiente Web
-fase de até 380V e fase-neutro de até 220V e correntes de fase
de até 100Aª;. A interface web é composta de um ambiente destinado à con-
figuração da instalação, com acesso mediante autenticação do
- baixíssimo consumo próprio, alimentado diretamente pelos usuário com login e senha, e de um ambiente de visualização
circuitos monitorados; dos dados.

- fácil configuração da comunicação com a rede wireless lo- As Figuras 3, 4 e 5 apresentam algumas das telas do aplica-
cal através de aplicativo de smartphone, disponível para IOS e tivo de visualização dos dados.
Android.

Figura 3. Interface web – Ambiente de visualização da projeção do consumo Figura 4. Interface web – Ambiente de visualização dos dados – perfil de po-
mensal (kWh) tência dia 12/11/2013 – 4 Canais

Figura 5. Interface web – Ambiente de visualização dos dados – Histograma de


tensões de fornecimento
66 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

III. TESTES DE CAMPO De uma maneira geral, os usuários se mostraram surpre-sos


com o consumo registrado de determinados eletrodomésticos, o
Os testes de campo foram realizados a partir da instala- que motivou em alguns casos a substituição destes por outros
ção dos protótipos em 15 unidades consumidoras residenciais. mais eficientes. Outros manifestaram que não faziam ideia que
Foram selecionados consumidores que de alguma forma tives- determinadas atividades do cotidiano domiciliar eram responsá-
sem algum vínculo com o projeto, visando manter-se maior con- veis por tamanha parcela de consumo e consequente impacto na
trole do processo, relato e observação sobre o comportamento conta de energia elétrica, e que a partir dessa identificação iriam
do equipamento, relação entre o consumo real e o observado adotar posturas de uso mais racional da energia elétrica. Outros
no ambiente web, além de observações sobre a interatividade usuários analisaram, ainda, o histórico de consumo produzido
com o ambiente web, entre outras. Além destes, foram também pelo equipamento e mediante customização dos períodos de
selecionados, numa fase mais avançada dos testes de campo, observação, avaliaram a viabilidade econômica de opção pela
consumidores sem vínculo com o projeto, que funcionaram como Tarifa Branca, quando da sua implantação.
observadores e forneceram informações relevantes para o apri-
moramento da interface web. De modo a torná-la mais simples Salienta-se que, em face do aspecto inovador do projeto, foi
e amigável. [3] solicitado ao INPI o pedido de patente industrial.

Além disso, os testes de campo subsidiaram diversos aprimo- V. AGRADECIMENTOS


ramentos na interface web, dentre os quais a possibilidade de
customização do período de observação, que permite ao consu- Agradecemos ao Gerente do Projeto e aos membros da
midor analisar datas e períodos definidos, associados a eventos equipe da Divisão de Pesquisa e Desenvolvimento (DVPD) da
de consumo específicos, sendo esta uma das contribuições mais CELESC Distribuição S.A., pela atenção e presteza, que torna-
relevantes colhidas dos consumidores que testaram o equipa- ram possível a realização deste projeto.
mento e que agregou uma importante melhoria na interface web.

IV. CONCLUSÕES

O equipamento produzido neste projeto de P&D Aneel cum-


priu todos os objetivos a que se propôs quando da sua idealiza-
ção e superou as expectativas quanto ao interesse manifestado
pelos usuários, observadores e consumidores que, de alguma
forma, tiveram acesso ao equipamento e à interface web.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Internet:
[1] Google. http://www.google.com/powermeter
[2] Microsoft. http://www.microsoft-hohm.com
[3] M. Amin and B. F. Wollemberg. Toward a Smart Grid. IEEE Pow-er & Energy Magazine. September/October 2005, pp. 34-41.
[4] H. Lamin. Medição Eletrônica em Baixa Tensão: Aspectos Regulatórios e Recomendações para Implementação, UNB, Brasília, 2009
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 67

CEMIG
Otimização das perdas técnicas na distribuição
considerando referencial internacional
e análise técnico-econômica
Meffe1, A. U. Antunes1, F. Romero1, A. A. Alves1, S. C. P. Habib2, A. F. Rocha2 e D. A. Nunes3

Resumo – Cada sistema de energia possui características próprias, e alcançar níveis de perdas mais baixos nem sempre é viável.Tendo em vista
esse desafio, este artigo apresenta uma metodologia e um software para encontrar o valor ótimo de perdas técnicas para uma distribuidora. Para
isso, duas abordagens foram desenvolvidas: na primeira, uma análise de eficiência e produtividade, e, na segunda, uma análise técnico-econômica
de obras.

Palavras-chave – análise envoltória de dados, análise técnico-econômica, metas de perdas, nível ótimo de perdas, trajetória de redução de perdas.

I. INTRODUÇÃO parações com outras empresas. Nesse caso, o valor ótimo se


constituiria em uma meta absoluta de perdas, ao passo que, no
As perdas técnicas de energia têm grande relevância no setor DEA, a meta obtida seria relativa.
elétrico tendo em vista os desafios regulatórios impostos às distri-
buidoras. A metodologia desenvolvida neste projeto visa a defini- O valor ótimo de perdas que servirá de meta corresponde ao
ção de metas de perdas técnicas e de trajetória de redução a ser ponto de operação econômica do sistema. É o valor a partir do
seguida em determinado horizonte de estudo por meio de Aná- qual qualquer investimento adicional na rede visando unicamen-
lise Envoltória de Dados (DEA) e Análise Técnico-Econômica. te reduzir perdas não será economicamente viável.

Neste projeto, as seguintes obras foram consideradas: au-


II. DESENVOLVIMENTO mento de bitola de ramal de ligação, troca de medidor do consu-
A. Análise Envoltória de Dados midor BT, reposicionamento e troca do transformador de distri-
buição, balanceamento de carga BT e MT, instalação de bancos
O DEA é uma técnica para monitoramento de eficiência e pro- de capacitores, novos alimentadores, recondutoramento de rede
dutividade de empresas baseada no conceito de que, em um BT e MT e seccionamento de rede BT.
processo produtivo, um conjunto de insumos gera um conjunto
de produtos mediante tecnologia existente. A Figura 1 destaca o Para avaliar o benefício em redução de perdas obtido com a
Conjunto de Possibilidade de Produção (CPP). O CPP contem- execução de uma obra, recorre-se a um cálculo inicial para obter
pla várias formas de transformação de insumos em produtos, as perdas iniciais, utilizando modelo de cálculo detalhado com
sendo limitado por uma função de fronteira [4]. uso de fluxo de potência e curvas típicas de carga. Para avaliar
o efeito de uma obra em um equipamento, são utilizadas algu-
Neste projeto, as perdas técnicas correspondem à variável mas regras simples para determinar o novo valor de perdas do
produto. As variáveis de insumo definidas através de análise equipamento. Além disso, calculam-se alguns indicadores eco-
multivariada de dados foram: densidade de energia, percentual nômicos, tais como relação custo/benefício.
do mercado global destinado ao consumo BT, perdas não técni-
cas, resistência média da rede e comprimento total de rede por A partir dos resultados obtidos, é possível selecionar as obras
unidade de área. viáveis, determinar o montante de perdas técnicas que poderia ser
evitado em cada segmento e determinar o valor ótimo de perdas.
B. Análise Técnico-Econômica
III. RESULTADOS
Na Análise Técnico-Econômica, o objetivo é obter o valor óti-
mo de perdas técnicas para uma distribuidora sem utilizar com- A aplicação do DEA foi realizada com o software SIAD [1] utili-
zando dados de 33 distribuidoras. A Tabela I exibe os valores de
Informações sobre o Projeto de P&D: Desenvolvimento de Ferramenta Computacional para eficiência e de metas de perdas para cada empresa do conjunto
Otimização das Perdas Técnicas na Distribuição Considerando Referencial Internacional e de dados analisado.
Análise Técnico-Econômica – P&D323; CEMIG D; CEMIG D, Daimon, Axxiom e Asotech;
Código Aneel PD-4950-0323/2010;
Investimento R$ 1.694.640,00
1
Daimon Engenharia e Sistemas Ltda. (e-mails: an-dre.meffe@daimon.com.br; alden@dai-
mon.com.br; fa-bio.romero@daimon.com.br; alessandro@daimon.com.br).
2
CEMIG (e-mails: saad@cemig.com.br; afrocha@cemig.com.br).
3
Axxiom (e-mails: dario.nunes@axxiom.com.br).
68 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 2. Trajetória de redução de perdas (empresa 13).

Figura 1. Conjunto de Possibilidade de Produção (CPP).

Tabela I. Eficiências e metas de perdas obtidas com DEA


31 100,00 6 5,61
Empresa Eficiência Perda Meta para perda
32 100,00 9 8,55
Técnica (%) Técnica (%) técnica (%)
33 83,47 10 8,27
1 92,76 7 6,31
2 100,00 7 7,06 Cada empresa possui sua meta e não há necessidade de
3 95,21 5 4,73 atingir o mesmo nível de perdas de outra empresa definida como
4 100,00 6 5,50 referência. Além disso, a empresa de menor perda não é ne-
cessariamente a mais eficiente. Tomando-se como exemplo a
5 74,46 9 6,64
Empresa 13, sua eficiência é 80,33% quando comparada às de-
6 84,96 9 7,70 mais empresas. Para ter eficiência de 100%, essa empresa deve
7 81,84 6 5,05 alcançar a meta de 7,39%. A Figura 2 exemplifica uma trajetória
8 100,00 10 9,95 linear de redução de perdas para essa empresa ao longo de um
9 93,54 8 7,68 horizonte de 4 (quatro) anos.

10 100,00 10 9,77
No caso da análise técnico-econômica, foi desenvolvido um
11 100,00 12 12,42 software para permitir a simulação das obras citadas. As Figuras
12 100,00 10 9,86 3 a 5 apresentam algumas telas desse software, o qual está em
13 80,33 9 7,39 fase de implantação na empresa.
14 100,00 6 5,72
O uso efetivo do software dentro da área de perdas da
15 80,87 9 6,98 CEMIG terá início logo após o término da implantação. Destaca-
16 86,81 10 8,47 -se ainda que tal software poderá ser aplicado em qualquer dis-
17 75,37 10 7,58 tribuidora brasileira, bastando realizar as modificações necessá-
18 100,00 7 7,15 rias nas interfaces com os sistemas corporativos.
19 99,58 8 8,15
IV. CONCLUSÕES
20 96,69 6 6,16
21 75,00 6 4,21 Com a metodologia e o software desenvolvidos neste projeto,
22 92,69 5 4,48 é possível obter uma meta relativa de perdas para uma distri-
buidora baseada na sua eficiência relativa quando comparada
23 100,00 8 7,51
a outras distribuidoras, sendo possível estabelecer um ranking
24 80,57 5 4,33 das melhores empresas de acordo com suas eficiências. Além
25 100,00 5 5,21 disso, é possível obter o valor ótimo ou meta absoluta de per-
26 100,00 5 4,91 das baseado em estudos de análise técnico-econômica de obras
27 98,32 7 6,64 cujo objetivo é reduzir perdas.

28 100,00 4 4,19
As metas obtidas são utilizadas para definir uma trajetória de
29 100,00 10 9,96 redução de perdas ao longo de um horizonte de estudo, servindo
30 66,41 14 9,17 de guia para o planejamento de ações com essa finalidade.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 69

Figura 3. Tela para configuração de regras de execução da obra “novos alimentadores”.

Figura 4. Tela de resultados de um tipo de obra em um alimentador.


70 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 5. Tela de projeção de perdas no tempo sem e com a realização das obras indicadas

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Angulo Meza, L; Biondi Neto, L.; Soares de Mello, J.C.C.B.; GOMES, E. G. ISYDS – Integrated System for Decision Support (SIAD – Sistema Integrado de Apoio a Decisão): a software package
for data envelopment analysis model. Pesquisa Operacional, v.25, n.3, p 493-503. 2005.
[2] Coelli, T. J.; Rao, D. S. P.; O’Donnel, C. J.; Battese, G. E. An Introduction to Efficiency and Productivity Analysis. 2nd Ed. New York: Springer Verlag, 2006.
[3] Meffe, A.; Antunes, A. U.; Romero, F.; Alves, A. A.; Uyekita, A. H.; Habib, S. C. P.; Rocha, A. F.; Nunes, D. A. Proposição de metodologia para definição de metas e trajetórias de redução de
perdas técnicas de energia. VII CIERTEC, Porto Alegre, 2011.
[4] Pessanha, J. F. M. Um modelo de análise envoltória de dados para estabelecimento de metas de continuidade do fornecimento de energia elétrica. 2006. Tese (Doutorado). Departamento de
Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 71

CEMIG
Sistema para medição da impedância de
malhas de aterramento de linhas de
transmissão utilizando ondas impulsivas
Maurissone F. Guimarães 1, José Osvaldo S. Paulino 2, Wallace C. Boaventura 2 e Alexander B. Lima2

Resumo – Este trabalho descreve o desenvolvimento de um sistema para medição da impedância de malhas de aterramento de estruturas de linhas
de transmissão utilizando um gerador de impulsos portátil e um arranjo inédito de medição. Com este novo sistema, a contribuição da fundação da
estrutura é levada em consideração e não há necessidade de desconexão dos cabos da malha e dos cabos para-raios. A determinação direta da
impedância de aterramento mediante um procedimento simples de medição é um benefício amplamente aplicável ao setor elétrico.

Palavras-chave – Aterramento, descargas atmosféricas, linhas de transmissão, medição e proteção.

I. INTRODUÇÃO carga, sendo calculada no domínio do tempo pela expressão:

As descargas atmosféricas representam 70% dos desliga- Z (t) = V (t)


mentos não programados das linhas de transmissão da Cemig. I (t) (1)
O estado de Minas Gerais apresenta elevada densidade de des-
cargas atmosféricas e solos com resistividade elevada. A Figura 1 ilustra uma descarga atingindo uma estrutura metá-
lica e as grandezas tensão e corrente associadas ao fenômeno.
As práticas de proteção contra descargas requerem conheci-
mento dos valores da impedância do aterramento das estruturas. Foi desenvolvida uma metodologia de cálculo utilizando o mo-
Atualmente, no entanto, são feitas medições das resistências delo de linha de transmissão para representar a malha, proposto
do aterramento em baixa freqüência com equipamento Megger por Sunde [1].
convencional. Tal procedimento é inexato, pois desconsidera o
sistema de aterramento completo e faz uso de uma constante A Figura 2 mostra uma simulação do programa desenvolvido
empírica para cálculo da impedância impulsiva. [2], comparado com medição realizada pela empresa EDF na
França [3].
Para medição da resistência é necessário desconectar os
cabos de aterramento da estrutura, juntando-os num ponto co- Com a metodologia desenvolvida, foram realizadas simula-
mum. Essa desconexão implica na desconsideração da funda- ções dos sistemas de aterramento típicos para a definição dos
ção da estrutura no valor da impedância; por outro lado, para parâmetros necessários para o projeto do gerador.
considerar o sistema completo, é necessário desconectar o cabo
para-raios de forma a evitar que várias estruturas interconecta- B. Protótipo do Gerador
das via cabo para-raios interfiram na medição. Essa tarefa é de
difícil execução e envolve riscos. Outro inconveniente do siste- O protótipo de gerador, portátil e de pequenas dimensões e
ma de medição atual é a necessidade de cabos de medição de peso (300 g) fornece uma tensão de saída de 1,0 kV e uma onda
grande extensão. de 100 ns de tempo de frente. O valor de tensão é adequado à
operação segura do dispositivo. A Figura 3 mostra uma fotogra-
Com a utilização de ondas impulsivas rápidas, a medição da fia do protótipo; a Figura 4 apresenta o diagrama esquemático
impedância ocorre antes que as ondas injetadas no aterramento do mesmo; e as Figuras 5 e 6 mostram a forma de onda de
e nos cabos para-raios sejam refletidas nas estruturas adjacen- tensão a vazio.
tes. Além de fornecer de forma direta o valor da impedância de
aterramento e computar a influência da fundação, não há neces- O gerador desenvolvido gera uma onda de tensão impulsiva
sidade da desconexão dos cabos de aterramento. a cada 1,5 segundos, conforme apresentado no oscilograma da
Figura 7.
II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
C. Metodologia de Medição da Impedância de Aterramento
A. Metodologia de Cálculo de Impedância de Aterramento
Foi elaborada uma metodologia de medição com um novo
A impedância de aterramento é resultado da razão entre a arranjo de cabos de medição, objeto de um pedido de patente.
tensão na estrutura para um ponto distante e a corrente de des- O novo e prático arranjo de medição utiliza cabos especiais de
pequeno comprimento em substituição aos arranjos usuais com
IP&D 270 - Desenvolvimento de um Sistema para Medição da Impedância de Aterramento de cabos da ordem de centenas de metros de comprimento e ater-
Estruturas de Linhas de Transmissão Utilizando Ondas Impulsivas; Aneel-4950-0028/2007; ramento em haste nas extremidades. Chisholm et al. [4] apre-
Cemig D; UFMG;
sentaram metodologia similar à proposta, mas que, também, faz
Investimento: R$ 322.219,00.
uso de grandes extensões de cabos.
1
Cemig D (e-mail: mauris@cemig.com.br).
2
UFMG (e-mails: josvaldo@cpdee.ufmg.br, wventura@ufmg.br, alexlima@cpdee.ufmg.br).
72 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Descarga atmosférica em uma estrutura da linha de transmissão.

Figura 5. Forma de onda de tensão do gerador a vazio.

Figura 2. Onda de tensão simulada e onda medida em experimento realizado


na EDF. Adaptado de Grcev [3].

Figura 6. Forma de onda de tensão do gerador a vazio.

Figura 3. Protótipo de gerador de impulsos.

Figura 7. Sequência de ondas geradas, taxa de repetição igual a 1,5 ondas


por segundo.

Figura 7. Onda de tensão impulsiva.

Figura 4. Diagrama esquemático do gerador de impulsos.


P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 73

Figura 8. Arranjo de medição convencional.


Figura 9. Arranjo de medição proposto neste estudo

Figura 10. Medição da impedância de aterramento de uma malha. Figura11. Impedância de aterramento medida com o circuito proposto.

As Figuras 8 e 9 mostram os arranjos de medição convencio- O projeto propiciou capacitação de equipe (pós-graduação) e
nal e o proposto neste projeto. duas publicações internacionais.

Foi realizada uma série de medições que atestam a viabilida- III. CONCLUSÕES
de da metodologia e o bom funcionamento do protótipo.
Este artigo apresentou o trabalho de desenvolvimento de um
A Figura 10 mostra os equipamentos dispostos para a realiza- protótipo de gerador de impulso e de uma metodologia inédita de
ção da medição da impedância de uma malha piloto. medição de impedância de estruturas de transmissão. As medi-
ções utilizando ondas impulsivas possibilitam a determinação de
A Figura 11 ilustra os resultados de medições obtidos em parâmetros de impedância de aterramento para aplicação em
duas malhas de aterramento no campo de testes. estudos de desempenho frente a descargas atmosféricas. Em
relação à prática atual de medição da resistência de aterramento,
Os produtos obtidos são: o novo procedimento, de ampla aplicação no setor elétrico, apre-
senta como vantagens: i) determinação direta da impedância de
a) protótipo de gerador de impulsos portátil; aterramento; ii) procedimento de medição simples e de menor
risco, sem necessidade de desconexões dos fios contrapesos ou
b) metodologia de medição; cabo para-raios; e iii) arranjo otimizado dos cabos de medição.

c) arranjo inédito de cabos de medição.

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] E. D. Sunde, Earth conduction effects in transmission systems” New York: Dover Publications, 1968.
[2] Paulino, J.O.S., Boaventura, W.C., Lima, A. B., Guimarães, M. F., “Transient voltage response of ground electrodes in the time-domain,” in Proceedings of the 31nd International Conference On
Lightning Protection-ICLP 2012. Vienna, Austria, September 02-07, 2012.
[3] L. Grcev, “Impulse Efficiency of Ground Electrodes,” IEEE Transactions on Eletrocmagnetic Compatibility, vol. 24, n. 3, pp. 441-451, January. 2009.
[4] William A. Chisholm, Emanuel Petrache, Fabio Bologna, “Comparison of low frequency resistance and lightning impulse impedance on transmission towers,” in Proceedings of the X International
Symposium on Lightning Protection, 9 a 13 de novembro de 2009, Curitiba, Brasil.
74 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Operação de
sistemas de
energia elétrica
AES ELETROPAULO
Desenvolvimento de conector perfurante para
condutores do tipo protegido em redes de
distribuição de alta tensão de 15 kV, 25 kV e 34,5 kV
Ermínio C. Belvedere1, André N. de Souza2, Maria G. Zago2, Danilo S. Gastaldello2, Pedro da Costa Jr.2,
Roberto Karam Júnior3, Fábio Romano Lofrano Dotto4 e Helio E. Sueta5

Resumo – Este artigo apresenta os resultados finais do projeto desenvolvido pela AES-Eletropaulo em conjunto com a empresa KRJ, UNESP-Bauru
e FAROL, intitulado “Desenvolvimento de Conector Perfurante para Condutores do tipo Protegido em Redes de Distribuição de Alta Tensão de 15kV,
25kV e 34,5kV”. Com o objetivo principal de melhorar o processo de manutenção e expansão de redes aéreas compactas tipo spacer, foi desenvol-
vido um conector tipo piercing para utilização em redes de distribuição de 15kV e 25kV, com possibilidade de expansão para redes de 34,5kV. Neste
artigo serão apresentados alguns ensaios de desenvolvimento do protótipo, a metodologia aplicada e o conector proposto. O conector foi aprovado
em todos os ensaios propostos pela equipe da pesquisa, e foi criado um manual, haja visto que para esse nível de tensão ainda não se trabalha em
linha viva.

Palavras-chave – Conector tipo piercing, manutenção e expansão de rede e redes de distribuição de energia.

I. INTRODUÇÃO A distribuição aérea, por apresentar baixos custos de inves-


timento inicial e técnica de trabalho amplamente disseminada,
A introdução das tecnologias de cabos cobertos para as redes tem sido empregada indiscriminadamente no Brasil, dado que a
primárias permite a renovação da concepção de distribuição de rede subterrânea ainda não foi economicamente viabilizada em
energia elétrica, em substituição à de redes aéreas desenvolvi- nosso país.
das há praticamente um século [1-2].
Dentre as alternativas atualmente disponíveis para as redes
aéreas, destacam-se a utilização de cabos cobertos com espa-
çadores de fases sustentados por um cabo de aço nu, mensa-
geiro, nas chamadas redes compactadas (spacer aerial cable).
Informações sobre o Projeto de P&D: ‘Desenvolvimento de Conector Perfurante para Con- Essa rede utiliza materiais recicláveis, eliminando o uso de cru-
dutores do Tipo Protegido em Redes de Distribuição de Alta Tensão de 15kV, 25kV e 34,5kV zeta de madeira, e permite a diminuição do espaçamento entre
- 0390-1056/2010’; Distribuição de Energia/Instalação; ‘AES Eletropaulo’; ‘UNESP, KRJ, fases e, consequentemente, do espaço aéreo necessário nos
FAROL, IEE-USP’;
postes das redes de distribuição. Como resultado, obtém-se me-
Investimento: ‘R$2.340.640,00’.
nor nível de interferências externas, que causam interrupções
1
AES Eletropaulo (e-mail: erminio.belvedere@aes.com).
no fornecimento de energia, principalmente aqueles oriundos de
2
UNESP – Univ Estadual Paulista (e-mails: andrejau@feb.unesp.br, mgzago@usp.br, dani-
regiões arborizadas. O fato dos cabos cobertos terem uma co-
lo.gastaldello@usp.br e costajr@feb.unesp.br).
3
KRJ (e-mail: karam@krj.com.br).
bertura isolante permite a redução nos índices de interrupções
4
FAROL (e-mail: fabio@farolconsultoria.com.br).
(FEC) da ordem de 75 %, quando comparado às redes com ca-
5
IEE-USP (e-mail: sueta@iee.usp.br). bos nus [3 – 7].
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 75

Essa solução permite a construção de mais de um circuito lecomunicações), melhorando a aparência visual e oferecendo
sobre a mesma “posteação”, além de diminuir a necessidade de maior segurança a terceiros e aos eletricistas de rede.
podas de árvores em mais de 50 %, em relação às redes aéreas
nuas. Com a utilização da rede compacta como padrão único para
as redes de distribuição aérea, outras dificuldades apareceram
Em termos de investimento, os custos atuais da rede aérea para a construção desse tipo de rede. Na instalação das redes de
compacta são da ordem de 30 % superiores às redes conven- distribuição, há necessidade da utilização de conectores para de-
cionais, principalmente por se tratar de nova tecnologia, razão rivação de circuitos, ligação de equipamentos (transformadores
pela qual seu emprego progressivo tornará essa diferença me- e banco de capacitores, entre outros), aterramento de estruturas
nor, podendo chegar aos mesmos valores hoje praticados para e ligações de consumidores. Para a instalação desses conecto-
as redes convencionais. res nas classes de tensões 15, 25 e 34,5 kV, há necessidade de
um ponto aberto. Como o condutor é coberto, se faz necessário
Mesmo assim, considerando os custos de manutenção, a di- a retirada da cobertura do condutor. O processo de retirada da
ferença atual de investimento tem retorno em apenas 2 (dois) cobertura do condutor é bem trabalhoso e requer ferramenta es-
anos (Pay-Back descontado), considerando a substituição de pecífica. Esse processo também deve ser realizado em Linha
uma Rede instalada Nua por uma Rede Spacer. Com relação à Viva ao contato, situação em que o eletricista deverá estar equi-
implantação de uma Nova Rede Spacer, o Pay - Back desconta- pado com luva e manga conforme a classe de Tensão da Rede.
do passa para 3 (três) anos [8-10].
Nesse contexto, o objetivo deste projeto é o desenvolvimento
Considerando o emprego desta tecnologia, além dos resulta- de um conector perfurante que permita a conexão em linha viva
dos econômicos, o descongestionamento das estruturas aéreas e sem a retirada da isolação de um condutor coberto nas classes
(postes) viabiliza a facilitação do uso de postes por terceiros (te- de tensão de 15 kV, 25kV e 34,5kV.

Figura 2. Ensaio de rigidez dielétrica.

Figura 1. Ensaio de trilhamento

II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA de configurações de conectores, o envelhecimento dos compo-


nentes para diversas condições atmosféricas, a estimação das
Serão apresentadas as etapas que compõem a pesquisa, al- condições das linhas de distribuição e a proteção da linha;
guns comentários dos ensaios realizados para aprovação dos
materiais utilizados e do design proposto do conector, a apre- - investigação sobre os materiais poliméricos, com relação
sentação do conector e da construção do mesmo, além dos im- a suas propriedades físico-químicas, elétricas e mecânicas, ti-
pactos econômicos que serão atingidos com o novo produto. pos de ensaios, e tipos de polímeros mais utilizados na área
de distribuição de energia elétrica, estudo de normas e da rede
A. Metodologia Empregada compacta da AES Eletropaulo;

Para um melhor desenvolvimento da pesquisa, o projeto foi - apresentação das exigências necessárias para aceitação do
dividido em 8 (oito) etapas que se completam entre si para atingir conector, mudanças realizadas no design do conector, ensaios
da melhor forma os objetivos traçados. A seguir, uma pequena no polímero (PP de fibra longa) para verificar se suas proprieda-
descrição das etapas realizadas: des mecânicas e elétricas são suficientes para a construção do
conector e ensaios de penetração;
- estudo sobre o desempenho das linhas aéreas e seu enve-
lhecimento, monitoramento da resistência de conexão, o estudo - elaboração de prévia de norma com os critérios relaciona-
76 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

dos a ensaios e produção dos conectores, estudo através de Estudos sobre o design do conector foram realizados com a
elementos finitos para a verificação dos esforços mecânicos que técnica de elementos finitos, que avalia os esforços mecânicos
o conector irá exercer em sua estrutura; exigidos pelo conector durante o seu funcionamento em regime de
trabalho. A Figura 3 apresenta alguns dos resultados deste estudo.
- os protótipos foram ensaiados no IEE-USP para validação
de suas características físicas e elétricas, com aprovação em Através de imagens de raio-x, foi possível realizar a primei-
todos os requisitos previamente estabelecidos. ra avaliação da conexão realizada entre o cabo e o conector
piercing (imagem da Figura 4).
B. Ensaios
A Figura 5 apresenta imagens da produção dos conectores,
Foram realizados estudos e ensaios sobre materiais polimé- com a queima do polímero.
ricos que poderiam ser utilizados na construção dos conectores.
Foram simulados, por meio de elementos finitos, os designs pro- C. Conector
postos de conectores, para avaliação dos esforços mecânicos
exercidos e avaliação dos pontos críticos. Para uma primeira Foi desenvolvido um conector perfurante para exercer tal fun-
avaliação da conexão, foram tiradas imagens de raio-x da co- ção de conexão em linha viva. A grande dificuldade quanto ao
nexão realizada. material utilizado se dava na relação entre as grandezas me-
cânicas e elétricas, pois o processo de aplicação no sistema de
Basicamente, foram realizados dois ensaios de materiais: o distribuição da AES exigia que o material utilizado suportasse
ensaio de trilhamento elétrico e o ensaio de rigidez dielétrica. Os valores altos dessas duas grandezas.
materiais ensaiados foram o XLPE de cabos utilizados na AES
Eletropaulo e o PP de fibra longa. Após alguns ajustes nos primeiros modelos, devido a resul-
tados não tão satisfatórios nos primeiros ensaios, eis que se
A Figura 1 apresenta uma amostra de cabo posicionada no chegou à configuração final do conector chamado de KARP. A
equipamento para início do ensaio de trilhamento elétrico. A Fi- Figura 6 apresenta as partes do conector proposto.
gura 2 apresenta a montagem para o ensaio de rigidez dielétrica.

Figura 3. Ensaio de elementos finitos no design do conector proposto.

Figura 4. Raio-X do contato dos dentes com o condutor.

Figura 6. Partes do conector proposto.


Figura 5. Queima do polímero em estufa, avaliando a quantidade de material de
preenchimento. Superior: antes da queima; Inferior: resíduo após a queima.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 77

D. Impacto Econômico desencapar os cabos spacers utilizados pela AES Eletropaulo.


Além disso, esse conector suportará a instalação nas redes de
A redução estimada do homem–hora padrão referente à ins- 15 e 25 kV em linha viva, o que proporciona maior velocidade
talação do novo conector tipo piercing na rede de distribuição de instalação e manutenção das redes. Foi realizado o pedido
área com a utilização de cabo coberto 15/35kV, comparada com de patente do conector por se tratar de um produto inédito. Além
a utilização do conector tipo cunha com capa de proteção, é da disso, foi elaborado um documento que servirá de base para
ordem de 70%, pois não haverá a necessidade de descasca do uma norma de ensaios para aceitação de novos produtos com a
cabo e nem do disparo com cartucho. Outra significativa vanta- mesma finalidade que o conector tipo piercing desenvolvido por
gem observada refere-se à segurança operativa da execução este projeto.
dessa conexão. Para a instalação desse conector, é necessária
somente uma simples ferramenta, do tipo chave de boca ou cha- IV. AGRADECIMENTOS
ve catraca, largamente utilizadas na Empresa.
Agradecemos ao Instituto Eletrotécnico da USP pela contri-
III. CONCLUSÕES buição na realização dos ensaios deste projeto.

O Projeto de Pesquisa denominado “Desenvolvimento de


Conector Perfurante para Condutores do tipo Protegido em
Redes de Distribuição de Alta Tensão de 15 kV, 25 kV e 34,5
kV” gerou como produto um conector do tipo piercing (KARP),
que tem como característica a utilização sem a necessidade de

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] A. Minaud, J. Pezard, e J.P. Priam, “Ageing of medium voltage overhead lines,” 2009.
[2] J. Yoon, J. Yun, S.B. Lee, e E.J. Wiedenbrug, “Automated Monitoring of High-Resistance Connections in the Electrical Distribution System of Industrial Facilities,” IEEE Industry Applications
Society Annual Meeting, 2008. IAS’08, 2008, pp. 1-8.
[3] J. He, S. Chen, e R. Zeng, “Compact Covered Distribution Lines Supported by Triangle Spacers: Configuration and Benefits,” International Journal of Emerging Electric Power Systems, vol.
10, 2009, p. 4.
[4] J. He, S. Gu, S. Chen, R. Zeng, e W. Chen, “Discussion on Measures Against Lightning Breakage of Covered Conductors on Distribution Lines,” IEEE Transactions on Power Delivery, vol.
23, 2008, pp. 693-702.
[5] M.A. Omidiora, M. Lehtonen, e R.J. Millar, “EMTP simulation of lightning overvoltage discharge to medium voltage overhead lines with covered conductors,” 2009.
[6] M. Omidiora e M. Lehtonen, “Performance analysis of lightning overvoltage on medium voltage distribution lines equipped with covered conductors,” 2009 2nd International Conference on
Adaptive Science & Technology (ICAST), Accra, Ghana: 2009, pp. 290-295.
[7] G.C. Lampley, “Fault analysis on electrical distribution system,” 2008 IEEE Rural Electric Power Conference, Charleston, SC, USA: 2008, pp. C6-C6-6.
[8] G. Silva, F. Piazza, e M. Munaro, “Field Behavior on Polymer-Covered Overhead Conductors Submitted to Natural Aging on Diverse Weather and Geographic Conditions in Brazil,” IEEE
Transactions on Power Delivery, vol. 24, 2009, pp. 1651-1656.
[9] M. Paolone, F. Rachidi, A. Borghetti, C.A. Nucci, M. Rubinstein, V.A. Rakov, e M.A. Uman, “Lightning electromagnetic field coupling to overhead lines: Theory, numerical simulations, and
experimental validation,” IEEE Transactions on Electromagnetic Compatibility, vol. 51, 2009.
[10] R.C.C. Rocha, L.A. Da Costa, M.R. Soares, R.P. Leme, e J.A. La Salvia, “New Electrical Connection Technology for Covered Overhead Distribution Lines,” IEEE Transmission and Distribution
Conference, 1999, pp. 623-629.
78 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

CEMIG
Métodos de tomada de decisão multicriterial
aplicados à reconfiguração e restauração de
sistemas de distribuição de energia elétrica
João A. Vasconcelos1,2, Carlos H. N. R. Barbosa1,2,3, Ezequiel C. Pereira 4
Regina M. A. Fonseca1, Clarisse S. Ribeiro1, Tiago A. G. Silveira1, Bernardo F. S. Reis1

Resumo – Neste trabalho são apresentados dois métodos de tomada de decisão - o modelo de quantificação direta e o de julgamentos -, conhecidos
na literatura e aplicados à reconfiguração e restauração de redes de distribuição primária. Os resultados demonstram que ambos os métodos são
coerentes em relação às preferências do operador-decisor e podem ser utilizados nas concessionárias nas situações previstas de falta ou reconfi-
guração.
Palavras-chave – Análise relacional de grey, processo hierárquico analítico, sistemas de distribuição, tomada de decisão

I. INTRODUÇÃO ta (ToD-QD) [1] que avalia o desempenho de PMs para Rec/Res


encontrados pela otimização multiobjetivo, atribuindo a eles um
As soluções eficientes obtidas ao tratar a otimização dos índice de desempenho. A segunda é o modelo de julgamentos
problemas de reconfiguração e restauração (Rec/Res), quando (ToD-MJ) [2] e usa o Processo Hierárquico Analítico (AHP) [3]
modelados em sua forma multiobjetivo, devem ser ordenadas para determinar a prioridade de cada PM.
segundo critérios de tomada de decisão (ToD), e a primeira será
aplicada. A escolha da melhor solução na ótica do decisor pode
admitir vários critérios de preferência, ora conflitantes, fazendo O algoritmo é dividido em 3 (três) etapas (Figura 5): AHP, Ava-
da ToD um recurso essencial à identificação do melhor plano de liação Multiobjetivo Nebulosa (FMCE) e Análise Relacional de
manobra (PM) a ser disponibilizado ao centro de controle e ope- Grey (GRA).
ração de redes de distribuição de energia elétrica (RDEE) (vide
Figura 1). Para realizar a ToD, existem técnicas multicritério que Para determinar os pesos dos objetivos via AHP, o operador
modelam as preferências do decisor. compara pares de critérios e atribui valores numéricos que re-
presentam a importância relativa de um em relação ao outro,
A escolha de um PM para uma RDEE depende da procura conforme tabela I. Uma matriz de comparações (MC) resulta dos
pela combinação de manobras que atenda a múltiplos critérios valores definidos pelo decisor.
e restrições, como desvios de tensão (IDT) e de corrente (IDC),
perdas reais (PR) no sistema e número de manobras (NM). O ┌1 ┌
a
12 ...
1n a
propósito deste trabalho é mostrar dois métodos de ToD capazes │1 │
1 ...
a
2n
de ordenar PMs, em situações de Rec/Res, além de demonstrar │a12 │
suas aplicabilidades na escolha do melhor PM dentre os obtidos

por algoritmo de otimização multicriterial. A= aij =│ ꞉ ꞉ ·. ꞉
│ · · · · │
1 1 ... 1│ (1)
II. METODOLOGIA │a a
1n 2n └

A análise multicriterial pode ser acoplada à otimização como:
decisão a priori, decisão interativa ou decisão a posteriori (Figu-
em que cada elemento aij representa a importância relativa entre
ras 2, 3 e 4).
pares de critérios (fi,fj), e aii = 1 e aji = 1/ aij , n é o número
de critérios.
Foram utilizadas duas metodologias de ToD que empregam a
decisão a posteriori. A primeira é o modelo de quantificação dire-
Tabela I. Escala para comparação entre pares de critérios.
Importância Relativa Valores
P&D – D 317 - Sistemas de Distribuição de Energia Elétrica Auto-Reconfiguráveis: Con-
tingenciamento e Otimização; Cemig Distribuição S.A; UFMG; Código Aneel PD-4950-
Igualmente importante 1
0317/2010 Importância moderada 3
Investimento: R$ 597.776,55. Importância forte 5
1
Laboratório de Computação Evolucionária, Departamento de Engenharia Elétrica, Uni-
Importância muito forte 7
versidade Federal de Minas Gerais (e-mails: vasconcelos.joao.antonio@gmail.com;
reginamaf@ufmg.br, tiagoa@ufmg.br). Extremamente forte 9
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Minas Ge- Valores intermediários 2,4,6,8
2

rais (e-mails: carloshnrb@gmail.com).


3
Departamento de Ciências Exatas e Aplicadas, Universidade Federal de Ouro Preto.
4
Companhia Energética De Minas Gerais S.A (e-mail: ezequi-el.pereira@cemig.com.br).
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 79

Figura 1. Centro de controle da distribuição de uma concessionária.

Figura 2. Processo de ToD a priori.

Figura 3. Processo de ToD interativa.

Figura 4. Processo de ToD a posteriori.


80 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 5. Modelo de Quantificação Direta.

Figura 6. Níveis hierárquicos

Figura 7. Modelo de Julgamentos


P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 81

Figura 8. Sistema brasileiro [4]. Linhas pontilhadas indicam chaves abertas.

B. Modelo de Julgamentos Tabela II. Características dos PMs escolhidos.


Critério ToD-QD ToD-MJ
O algoritmo de julgamentos divide o problema em níveis hie- PR 312.627 kW 287.823 kW
rárquicos e segue os procedimentos do AHP já descritos para
IDT 0.024 p.u 0.023 p.u.
comparar os elementos de cada nível em relação ao elemento
IDC 0.686 0.699
do nível superior. A divisão hierárquica utilizada é composta de
dois níveis (Figura 6). NM 6 4
Chaves abertas 212_122, 215_123, 215_123, 211_212,
O método está representado na Figura 7. 78_125, 138_153, 78_125, 138_153,
138_217, 139_154, 125_219, 138_217,
III. RESULTADOS 141_154, 10_32, 139_154, 141_154,
218_219, 141_220, 10_32, 141_220,
Foi utilizado um algoritmo evolucionário multiobjetivo de oti- 7_86, 156_157, 7_86, 33_61,
057_061, 73_206, 156_157, 73_206,
mização com as funções objetivo citadas na seção I. Ele gerou
20_130, 145_206, 20_130, 145_206,
40 soluções eficientes para o sistema brasileiro [4] (Figura 8).
131_223, 59_145, 131_223, 59_145,
Foram então aplicados os 2 (dois) métodos de ToD com a se- 65_147, 223_147 65_147, 223_147 e
guinte MC: e 46_223 46_223
┌ ┌
│ 1 1/3 1/3 1/2 │
IV. CONCLUSÕES
│ 3 1 1 3/2 │
│ │ Foram descritos dois métodos de ToD multicriterial baseados
A=│ 3 1 1 3/2 │ (2) em modelos diferentes. Os resultados foram considerados sa-
tisfatórios. Porém, existem fatores a serem considerados para
│ 2 2/3 2/3 1 │
determinar qual empregar. A divisão do problema em níveis hie-
└ └ rárquicos no ToD-MJ torna mais fácil o seu entendimento. Mas
como esse método utiliza uma escala subjetiva de julgamento,
A configuração inicial do sistema (Figura 8) apresentou: (i) ele está sujeito ao erro humano. Já o método de ToD-QD alia
PR de 320.364 kW, (ii) IDT de 0.025 p.u. e (iii) IDC de 0.702. Os a escala subjetiva da AHP com a FMCE e a GRA, o que torna
melhores PMs, escolhidos via métodos são mostrados na tabela a análise mais quantitativa. A desvantagem desse método é a
II, sendo que ambas as opções indicam configurações radiais. necessidade de maior número de informações para ser usado.

A obtenção de PMs distintos para cada método era esperada V. AGRADECIMENTOS


uma vez que baseiam-se em tipos de análise dissimilares. Apesar
de cada método indicar seu PM, percebe-se que os objetivos de À CEMIG e ANEEL pelo suporte financeiro e ao Centro de
maior peso (IDT e IDC) conforme a MC têm valores próximos em Operação da Distribuição da CEMIG S.A. pelas orientações téc-
ambos os casos, o que é coerente na escolha dos melhores PMs. nicas, e às agências de fomento CNPq e CAPES.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Chen, W. H., “Quantitative decision-making model for distri-bution system restoration”. IEEE Transactions of Power Systems, vol. 5, 313-321, Feb. 2010.
[2] Sharma, M. J., Moon, I. and Bae, H., “Analytic hierarchy process to access and optimize distribution network”, Applied Mathematics and Computation, 256-265, 2008.
[3] Saaty, T. L., “How to make a decision: the analytic hierarchy process”, European Journal of Operational Research, 9-26, Sep. 1990.
[4] Carreno, E. M., “An efficient codification to solve distribution network reconfiguration for loss reduction problem”. IEEE Transactions of Power Systems, vol. 23, 1542-1551, Nov. 2008.
82 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

CEMIG
Sistema de previsão de afluência
utilizando árvores de regressão nebulosas
Fernando. M. Ribeiro 1, Eduardo. M. A. M. Mendes 1, André. P. Lemos 1 e Alberto. A. Reis 2

Resumo – Este projeto apresenta um sistema de previsão de afluência para as usinas hidrelétricas da Cemig, com resultados apenas para a usina de
Aimorés. A metodologia de modelagem utilizada se baseia nas árvores de regressão nebulosas. O treinamento e a simulação dos modelos utilizam
dados reais de precipitação e vazão das usinas.

Palavras-chave – Árvore de regressão, conjuntos nebulosos, previsão de afluência.

I. INTRODUÇÃO III. DESCRIÇÃO DO ALGORITMO DE APRENDIZADO


INCREMENTAL
Atualmente, as atividades de planejamento e controle da
geração elétrica, atribuídas ao Operador Nacional do Sistema O método de aprendizagem inicia a partir de uma árvore con-
Elétrico (ONS), são de extrema importância para manter a qua- tendo apenas uma folha com o seu modelo linear corresponden-
lidade do sistema elétrico brasileiro. Diante disso, as empresas te. A evolução ocorre através da substituição de folhas por subár-
geradoras devem apresentar relatórios semanais ao ONS indi- vores através de um fluxo de dados e de uma análise estatística.
cando sua capacidade geradora para os próximos dias. Para as
usinas hidrelétricas, isso somente é possível por meio de uma Nas árvores de regressão, cada folha representa uma re-
previsão da vasão em seus rios no mesmo período. gião do espaço de entrada, e a evolução ocorre promovendo-se
novas divisões nesse subespaço. Para cada folha é atribuído
Nesse contexto, o projeto GT348 propõe a utilização de téc- γ pontos de corte candidatos a cada uma das m variáveis de
nicas de inteligência computacional, como modelos baseados entrada, totalizando γ x m pontos de corte candidatos por folha.
em lógica nebulosa, para prever com o menor grau de incerteza Cada ponto de corte candidato é então definido como uma su-
possível a vasão dos rios onde há usinas hidrelétricas instala- bárvore composta por duas funções de pertinência sigmoidais
das. Desse modo, promove um suporte para uma previsão de centradas no valor de corte, e duas folhas contendo os seus
geração mais precisa. respectivos modelos lineares.

II. DESCRIÇÃO DO MODELO PROPOSTO A cada nova observação, é realizada a atualização de todos
os modelos lineares utilizando o algoritmo recursivo de mínimos
O método de modelagem proposto em [1] e utilizado neste quadrados ponderados (WRLS) . Em seguida, os parâmetros
trabalho é baseado na estrutura das árvores de regressão line- de espalhamento das funções de pertinência do nó raiz até a
ar, que particiona o espaço das variáveis de entrada em várias folha com o maior grau de ativação, também determinada pelo
regiões, e para cada uma delas associa um modelo linear cor- algoritmo WRLS, são atualizados utilizando-se o algoritmo do
respondente. A Figura 1 exemplifica a partição de um espaço gradiente descendente [3].
bidimensional induzida por uma árvore de regressão linear, ge-
rando quatro novos subespaços aos quais poderão ser associa- Uma vez que todos os parâmetros e modelos da folha sele-
dos modelos lineares que caracterizarão o sistema de maneira cionada são atualizados, são realizados testes estatísticos [4]
mais eficiente. para verificar se alguma das subárvores (pontos de corte can-
didatos) pode ser utilizada para substituir a folha em questão.
A introdução da teoria de conjuntos nebulosos [2] em substi- Nesses testes é avaliado se o ganho em precisão compensa o
tuição às operações de “maior que” e “menor que” na árvore de custo da adição de novos parâmetros livres ao modelo.
regressão visa eliminar a transição brusca de um modelo linear
para outro, que é causada por pequenas variações das variáveis IV. RESULTADOS
de entrada quando estas estão na fronteira entre pelo menos
dois subconjuntos. Com a introdução da teoria de conjuntos ne- Os testes do sistema de previsão de afluência proposto fo-
bulosos, é associado a cada elemento do espaço de entrada ram realizados tomando como referência a usina hidrelétrica de
uma função que determina o seu grau de pertinência a cada um Aimorés, e para realizar o treinamento dos modelos foram utili-
dos subconjuntos formado pela árvore de regressão. De acordo zadas séries históricas de vazão e precipitação, com período de
com [1], a melhor função para substituir os conceitos dos opera- 1 dia, dos vários postos de medição instalados ao redor da usina
dores “menor que“ e “maior que” é a função sigmoidal, que pode em questão. Devido ao grande número de entradas possíveis,
ser observada no exemplo da Figura 2. foi utilizado também o algoritmo de ranqueamento das entradas
“least angle regression” (LARS) [5], para que apenas as entra-
Projeto GT348 – Sistema de Previsão de Afluência Utilizando Inteligência Computacional; das mais relevantes do modelo fossem selecionadas.
CEMIG GT; UFMG-CEMIG ; Código Aneel PD-4951-0348/2010;
Investimento: R$420.709,80. O desempenho dos modelos foi verificado através da compa-
1
UFMG (e-mail: fmrdt2@gmail.com; emmendes@cpdee.ufmg.br; andrepaim@ufmg.br). ração entre a série de vazão observada na usina de Aimorés e
2
Cemig GT (e-mail: betoreis@cemig.com.br). as séries previstas pelos modelos no mesmo período. Os índi-
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 83

Figura 1. Partição de um espaço bidimensional (a) por meio da árvore de uma Figura 2. Função de pertinência para “maior que” e “menor que” 5.
regressão linear (b).

Figura 3. Desempenho dos modelos ARXVPF-1 (a) e ARXVPF-10 (b) em relação à vazão observada na
UHE Aimorés.

ces utilizados foram: MAPE (Mean Absolute Percentual Error), D V. CONCLUSÕES


(Index of Agreement) e KGE (Kling-Gupta efficiency).
Os modelos criados para este trabalho obtiveram desempe-
A Tabela I apresenta o desempenho dos modelos de previsão nho considerado bom para a sua aplicação, sendo que todos
de afluência para 1 (ARXVPF-1) e 10 (ARXVPF-10) passos à apresentaram o índice MAPE muito abaixo do valor limite reco-
frente, com utilização de dados de previsão de precipitação e do mendado de 40%. Os modelos baseados em previsão de chuva
modelo de previsão de afluência para 10 passos à frente sem a apresentaram um desempenho ainda melhor, já que possuem
utilização de dados de previsão de precipitação (ARXV-10). A uma informação extra sobre o comportamento futuro do sistema.
Figura 3 apresenta o desempenho dos modelos com a utilização
de dados de previsão de precipitação. Durante o desenvolvimento do projeto foram feitas modela-
gens utilizando outras técnicas de modelagem, como as redes
Tabela I. Desempenho dos modelos de previsão de afluência utilizando neurais artificiais (RNAs). Constatou-se que o método proposto
àrvores de regressão nebulosas. em [1] apresenta resultados tão satisfatórios quanto as RNAs
Modelo MAPE (%) D KGE para aplicações de previsão de afluência.
ARXVPF-1 6.840 0.990 0.958
ARXVPF-10 19.676 0.917 0.801
ARXV-10 29.231 0.742 0.512

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]. A. P. Lemos, W. Caminhas and F. Gomide, “ Fuzzy evolving linear regression trees”, Evolving Systems, vol. 2, pp. 1-14, 2011.
[2]. J.-S. R. Jang, C.-T. Sun and E. Mizutani, “Neuro-Fuzzy and Soft Computing”, Ed. Prentice Hall, 1996.
[3]. D. Bertsimas and J. Tsitsiklis, “Introduction to Linear Optimization”, Ed. Athena Scientific, 1997.
[4]. D. Potts and C. Sammut, “Incremental Learning of Linear Model Trees”, Machine Learning, Vol. 61, pp: 5-48, 2005.
[5]. B. Efron, T. Hastie, I. Johnstone and R. Tibshirani, “Least angle regression (with discussion)”, The Annals of Statistic, Vol. 32, No. 1, pp: 407-499, 2004.
84 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Planejamento de
sistemas de
energia elétrica

CELPE
Conceituação e desenvolvimento de um
sistema inteligente para gestão técnica
eficiente de redes de distribuição
Fabio Romero 1, Guilherme P. Borges 1, Leonardo H. T. Ferreira Neto 1, André Meffe 1,
Alden U. Antunes 1, Jarbas Barros Vilar 2 e Albérico Pires Jr. 2

Resumo – Este artigo descreve o desenvolvimento e aplicação de um sistema robusto e inteligente para gestão técnica eficiente de redes de
distribuição. O sistema consiste na integração de conjuntos de medição (instalados em pontos estratégicos da rede de distribuição) às tecnologias
de comunicação, automação e aplicativos computacionais capazes de extrair uma grande quantidade de dados da rede elétrica em tempo real ou
armazená-las em banco de dados específico, visando o auxílio no tratamento de tópicos importantes como proteção, qualidade da energia, locali-
zação de faltas, localização de trechos com alto grau de desequilíbrio, áreas sujeitas a perdas comerciais elevadas e planejamento da expansão.
No tocante à relevância para o setor elétrico, o sistema desenvolvido no Projeto disponibiliza um novo modelo de gerenciamento e planejamento das
redes de distribuição com a integração entre aplicativos computacionais, diversos pontos de medição ao longo da rede e diferentes fontes de injeção.

Palavras-chave – fluxo de potência, medição inteligente, perdas na distribuição, planejamento da distribuição, smart grid.

I. INTRODUÇÃO corrigidos por um único valor de medição existente na saída do


alimentador (subestação). Nesse contexto, o Projeto teve como
Uma das principais dificuldades encontradas no gerencia- objetivo a concepção e implementação de um sistema robusto
mento e operação de redes de distribuição é a falta de dados de de medição, armazenamento e gerenciamento de dados elétri-
medições da rede em tempo real. Em geral, os sistemas utiliza- cos, fundamentado na utilização de tecnologias de comunicação
dos na gestão das redes operam segundo uma limitação, visto que viabilizam a aquisição contínua de um volume expressivo de
que todos os aplicativos de simulação disponíveis atualmente informações elétricas visando utilização em simulações da rede
se baseiam em dados inferidos de demanda dos transformado- de distribuição.
res de distribuição. Normalmente, esses dados são estimados e
Para a efetiva utilização deste sistema, os modelos de cálculo
de fluxo de potência tiveram de ser reavaliados para levar em
Informações sobre o Projeto de P&D: ‘Conceituação e Desenvolvimento de um Sistema
consideração a disponibilidade de diversos pontos de medição
Inteligente para Gestão Técnica Eficiente de Redes de Distribuição – código ANEEL PD
0043-0111/2011’; Planejamento de Sistemas de Energia Elétrica / Planejamento integrado
ao longo da rede fornecendo dados elétricos em tempo real e
da expansão de sistemas elétricos; ‘CELPE’; ‘DAIMON; conexões de geração distribuída, resultando em um software
Investimento: R$ ‘1.332.529,60’. completo para análise e simulação de redes de distribuição, de-
1
‘Daimon Engenharia e Sistemas’ (e-mails: fa-bio.romero@daimon.com.br; Guilherme. nominado Interplan Smartgrid.
borges@daimon.com.br; lferreira@daimon.com.br; andre.meffe@daimon.com.br; al-den@
daimon.com.br).
Beneficiado pela utilização de dados de medição em tempo
2
‘Companhia Energética de Pernambuco’ (e-mail: jarbasvi-lar@celpe.com.br; Alberico.pi-
res@celpe.com.br). real, o sistema desenvolvido permite realizar simulações muito
mais precisas do sistema de distribuição, por meio de um con-
junto de software e aplicativo. Dentre as diversas funcionalida-
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 85

des implementadas no software, cabe destacar: rentes pontos ao longo da rede de distribuição.
Portanto, tendo como hipótese a necessidade de melhoria no
- Ferramenta de apoio para as estimativas de localização de conhecimento e na avaliação do comportamento dos sistemas
faltas no sistema de distribuição; de distribuição, e dadas as funcionalidades destacadas acima,
conclui-se que o produto deste projeto traz um avanço efetivo no
- Ferramenta de apoio à indicação de trechos da rede com gerenciamento e planejamento de redes, visto que permite su-
elevados índices de perdas comerciais; perar as limitações associadas à falta de medições e estimativa
da demanda dos transformadores.
- Ferramenta de apoio à determinação de pontos da rede de
distribuição com maior desequilíbrio da carga; O produto principal do projeto tem amplo potencial de aplica-
ção na CELPE (e grande impacto no setor elétrico), dado que o
- Ferramenta para análise dos indicadores de conformidade sistema desenvolvido - que alia hardware, sistemas de controle
(DRP - Duração relativa de transgressão de tensão precária e e automação, tecnologias de comunicação e de análise de de-
DRC - Duração relativa de transgressão de tensão crítica); sempenho - direciona-se às práticas efetivas das áreas de qua-
lidade, automação, proteção e planejamento. Entre os ganhos
- Subsídios para análise de faltas de alta impedância; auferidos pela distribuidora, destacam-se: a recuperação de re-
ceitas (direcionamento das ações de antifurto); o aprimoramento
- Subsídios à atividade de planejamento da expansão vincula- do diagnóstico técnico (perdas, qualidade de energia e conformi-
das a análise de fluxo de potência; dade); a redução da duração das interrupções (localização mais
rápida das faltas); o impacto de novos acessantes; e a identifica-
- Avaliação das condições de qualidade da energia em dife- ção dos pontos mais propícios à conexão de geração distribuída.

Figura 1: conjunto de medição utilizado no Projeto.


(a) visão externa do tanque;
(b) visão interna da caixa com os equipamentos para medição e telecomunicação.

Figura 1a

Figura 3: arquitetura do sistema de medição, transmissão e gerenciamento de dados da rede.

Figura 2: conjunto de medição CM-03 instalado no poste


A022444 do alimentador RDE-01C3.

II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA volvimento computacional, compra de equipamentos, insta-


lações em área piloto e testes para validação da metodologia
O projeto foi dividido em 12 etapas (com duração total de 24 desenvolvida.
meses), que incluíram uma profunda pesquisa bibliográfica so-
bre métodos de planejamento de redes elétricas, aplicabilidade Na primeira etapa foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre
do conceito smart grid para o planejamento de redes, desen- equipamentos de rede, softwares e hardwares disponíveis para
86 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

concepção do sistema de medição, armazenamento e gerencia- - Obtenção de uma ferramenta computacional completa para
mento de dados elétricos, fruto principal do projeto. gerenciamento e planejamento de redes de distribuição;
O sistema de medição é constituído de conjuntos de medi-
ção instalados em pontos estratégicos da rede de média tensão. - Obtenção de uma maior quantidade de dados elétricos da
Cada “conjunto de medição” é constituído por transformadores rede de distribuição, os quais fornecem subsídios para criação
de potencial e corrente (TC e TP), chaves seccionadoras, para- de um amplo banco de dados de medições e futuras análises de
-raios, medidores eletrônicos, conversores de mídia e equipa- diferentes áreas da CELPE;
mentos para telecomunicação. Na Figura 1 tem-se as visões ex-
terna e interna de um conjunto de medição utilizado no Projeto. - Obtenção de um aplicativo robusto de comunicação com
equipamentos de medição instalados na rede de distribuição de
A aquisição de tensão e corrente da rede MT é feita pelos média tensão, que tem amplo alcance de atuação, podendo ser
TC´s e TP´s, com fornecimento em intensidade reduzida para expandido para toda a área de atuação da Empresa;
o medidor eletrônico (modelo Landis+Gyr E 750). O envio dos
dados elétricos da rede para o servidor central é feita por meio - Melhoria no processo interno devido à redução dos indicado-
de sistemas de GPRS e fibra ótica. res operacionais e a melhoria da qualidade do serviço prestado;

Na etapa de aplicação piloto foram efetivamente instalados - Melhoria da observabilidade de parâmetros da rede atra-
3 (três) conjuntos de medição no alimentador RDE-01C3, lo- vés da medição de grandezas elétricas em diferentes pontos
calizado na região litorânea de Recife. Na Figura 2 é ilustrado do alimentador;
um conjunto de medição instalado em um poste do alimentador
RDE-01C3 (S.E. Rio Doce). - Melhoria da confiabilidade do sistema de distribuição.

A requisição de dados é realizada pelo aplicativo computa-


III. CONCLUSÕES
cional ACAAM [1], desenvolvido no projeto especifica especifi-
camente para este fim. O gerenciamento dos dados coletados
Este artigo descreveu a concepção e aplicação de um siste-
pelo ACAAM é feito através do software desenvolvido no projeto
ma robusto para gestão técnica eficiente de sistemas de distri-
e denominado Interplan Smart Grid [2].
buição. O sistema consiste na integração de conjuntos de me-
dição instalados em pontos estratégicos de um alimentador de
Na Figura 3 tem-se a arquitetura do sistema desenvolvido no
distribuição de média tensão às tecnologias de comunicação,
projeto.
automação e aplicativos computacionais capazes de extrair uma
massiva quantidade de dados da rede elétrica em tempo real,
Na Figura 3, “Estação de Trabalho” refere-se aos computa-
podendo armazená-los em banco de dados ou utilizá-los em
dores que contém o software Interplan Smartgrid, “Aplicação de
tempo real visando o auxílio no tratamento de tópicos importan-
Comunicação e Armazenamento” se refere ao ACAAM e “MUX”
tes como proteção, qualidade da energia, localização de faltas
é o servidor de armazenamento de dados.
na rede de média tensão, localização de trechos com alto grau
de desequilíbrio, áreas sujeitas a perdas comerciais elevadas e
O Interplan Smartgrid é composto pelos módulos de deman-
planejamento da expansão.
da e fluxo de potência, curto-circuito, edição gráfica, sistema de
medição, correção de demanda e localização de faltas, locali-
Ressalta-se o caráter inovador embutido neste projeto, dado
zação de fraude, desequilíbrio entre fases, conformidade (DRC
que a concepção de redes inteligentes aqui abordadas (conceito
e DRP), análise da qualidade da energia elétrica e faltas de
Smart Grid) ainda é incipiente nas distribuidoras e os resultados
alta impedância.
almejados incluem um espectro bastante amplo de aplicações
em diversas atividades estratégicas das distribuidoras, tais como
As simulações de cálculos de fluxo de potência e de análi-
planejamento, gerenciamento de perdas não técnicas, avaliação
ses topológicas da rede são realizadas pelo software com base
de indicadores técnicos, proteção de redes de média tensão e
nos dados georreferenciados da rede elétrica, e em adaptações
planejamento da expansão, entre outras.
dos modelos Backward-Forward Sweep e Análise Nodal por Eli-
minação de Gauss, para levar em conta os diversos pontos de
Ademais, destaca-se que não há softwares de simulação
medição ao longo da rede, desequilíbrio de carga e possíveis
comercial compatíveis com esse conceito e que automatizem o
conexões de geração distribuída.
conjunto de funcionalidades previstas. Nesse contexto, os re-
sultados do projeto propiciam um sensível aprimoramento dos
Dentre os resultados alcançados diretamente com o pro-duto
mecanismos de gestão técnica das distribuidoras.
principal do projeto, podem-se destacar:

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] R. Carareto, “Descrição do aplicativo ACAAM,” Mínimo Engenharia / Daimon Engenharia e Sistemas, São Paulo, SP, Relatório Técnico. Fev. 2014

[2] M. P. Di Salvo; G. P. Borges; F. Romero; L. H. T. Ferreira Neto; A. U. Antunes; A. Meffe, “I – software de simulação visando o gerenciamento de sistemas de distribuição: final. II – Descrição do
Sistema de medição, armazenamento e gerenciamento de dados elétricos implantados,” Daimon Engenharia e Sistemas. Relatório Técnico (Produto 8.3 – Ano 02). São Paulo, SP, Fev. 2014.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 87

Qualidade e confiabilidade
dos serviços de energia
elétrica
AES Sul
Projeto neutro
ressonante AES Sul
Carlos Eduardo Cauduro Figueiredo1; Mauro Sergio Silveira1; Gabriel Mello1; Manuel Martinez2

Resumo – O aterramento ressonante, embora comum em concessionárias de energia da Europa, é recente no Brasil, sendo a AES Sul pioneira na
utilização desse sistema em redes públicas de distribuição. Essa forma de tratamento de neutro traz grandes benefícios em comparação às demais
técnicas, em especial à segurança e também à continuidade do fornecimento. Esse sistema cancela as correntes de falta monofásicas nas redes de
média tensão, minimizando o risco, sem que os consumidores sejam afetados e mantendo o suprimento normal de energia. Este artigo apresenta as
principais informações e resultados acerca do projeto Neutro Ressonante desenvolvido na AES Sul.

Palavras-chave – Aterramento ressonante, proteção Smart Grid, qualidade da energia, segurança pessoal

I. INTRODUÇÃO de média tensão, visto que a maioria dos desligamentos não


programados eram oriundos de causas passageiras e monofá-
Atuando desde 1997 na região Centro-Oeste do estado do sicas, tais como descargas atmosféricas, problemas de isolação
Rio Grande do Sul, a AES Sul é uma distribuidora de energia da rede e vegetação.
com área de concessão de 99.512 km², compreendendo 118
municípios e aproximadamente 1.200.000 unidades consumido- Outro aspecto considerado no estudo foi o nível das corren-
ras. Suas redes de distribuição são predominantemente aéreas, tes de falta a terra no sistema solidamente aterrado. Sua am-
suspensas por postes de madeira e concreto. plitude pode variar desde baixíssimos valores – faltas de alta
impedância e de difícil detecção pelos sistemas de proteção de
A distribuidora utiliza padrão de aterramento de neutro dos sobrecorrente – até valores na ordem de 10.000 A. Correntes de
transformadores solidamente aterrado e a proteção das redes falta nesses extremos representam riscos iminentes, seja pelo
contra curtos-circuitos é realizada por elementos de sobrecor- não desligamento da rede devido à falta de alta impedância,
rente, tais como relés, religadores e chaves fusíveis. mantendo condutores energizados com pleno potencial, seja pe-
las correntes extremamente elevadas, representando alto nível
Em 2007 foi realizado um estudo na AES Sul, o qual identi- de risco à segurança e submetendo o sistema a altos níveis de
ficou a oportunidade de melhoria da confiabilidade do sistema stress e esforços eletromecânicos. Portanto, outra oportunidade
de melhoria considerada nas avaliações realizadas pela AES Sul
Projeto de P&D “Adaptação de sistemas de isolamento padrão para operarem com o con-
foi o aspecto de segurança.
ceito pleno de neutro ressonante”; Qualidade da Energia e Proteção de Sistemas Elétricos;
código ANEEL PD-0396-0019/2010; suporte financeiro AES Sul; entidades executoras AES Após a análise das tecnologias disponíveis no mercado, a
Sul e UNIFEI; AES Sul verificou um grande potencial de benefícios nos aspec-
Investimento: R$ 2.350.098,72.
tos de confiabilidade e segurança para as suas redes de média
1
AES Sul (carlos.figueiredo@aes.com; mauro.silveira@aes.com;
gabriel.mello@aes.com).
tensão através do aterramento com neutro ressonante. Trata-se
2
Universidade Federal de Itajubá (martinez@lat-efei.org.br). de um esquema que praticamente anula as correntes de curto-
88 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

circuito monofásicas através da instalação de um reator de neu- corrente de defeito, evitando o desligamento do equipamento
tro (Bobina de Petersen) sintonizado com as capacitâncias shunt protetor e mantendo o suprimento normal de todas as unidades
da rede primária de distribuição. consumidoras. Dessa forma, seu principal benefício na confiabi-
lidade da rede está nas faltas de origem passageira (vegetação,
Nesse sentido, a AES Sul iniciou o projeto de P&D: “Adap- descargas atmosféricas, etc.). Em se tratando de segurança, o
tação de sistemas de isolamento padrão para operarem com o benefício está na redução do potencial (a valores muito baixos,
conceito pleno de neutro ressonante”, em parceria com a Uni- se comparados à tensão plena) e da corrente de falta na fase
versidade Federal de Itajubá, a fim de avaliar a viabilidade da afetada, minimizando os efeitos de toques acidentais com as re-
aplicação desta técnica no sistema elétrico da empresa. des elétricas.

Inicialmente, foi implantado na AES Sul um sistema em cará- II. TRATAMENTO DE NEUTRO DE REDES DE MÉDIA TENSÃO
ter experimental na subestação de Canudos, localizada no muni-
cípio de Novo Hamburgo (RS), que posteriormente foi ampliado A norma IEC 60479 define os riscos gerais para a ocorrência
para três outras subestações da empresa, adotando a instalação de danos quando há uma falta na rede elétrica. Segundo esta
da bobina de Petersen. norma, o risco é determinado pela energia liberada durante a
falta. Tal energia é função da velocidade do sistema de proteção
O neutro ressonante opera nas faltas a terra em qualquer e o quadrado da corrente de falta.
parte do alimentador (tronco ou ramais) e provê a anulação da

Figura 1. Falta monofásica – Sistema solidamente aterrado

Figura 2. Falta monofásica – Sistema de neutro ressonante

Figura 3. Sistema neutralizador de faltas a terra – Subestação Novo Hamburgo 2 – AES Sul
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 89

Tanto a velocidade da proteção quanto a corrente de falta po- atingir a ordem de 10 kA. Em termos conceituais, o tempo de
dem ser afetadas pelo tratamento de neutro [1]. A seguir é rea- operação do sistema de proteção é relativamente rápido. Toda-
lizado um comparativo entre os sistemas de neutro solidamente via, como são instaladas chaves fusíveis, religadores e outros
aterrado e de neutro ressonante. equipamentos de proteção após os disjuntores para melhorar
a seletividade da rede, o tempo de proteção acaba sendo mais
A. Sistema Solidamente Aterrado
lento, pois os disjuntores devem aguardar as proteções à jusan-
te operar primeiro dentro de suas zonas de proteção.
O sistema solidamente aterrado é aquele em que o neutro
do transformador é conectado diretamente à malha de terra por
Com relação aos requisitos de segurança, 10kA é uma cor-
um condutor de cobre nu sem a instalação intencional de uma
rente totalmente destrutiva, oferecendo sérios riscos, conforme
impedância série.
prescreve a norma IEC. Por outro lado, faltas de alta impedância
podem redundar em correntes de curto-circuito muito baixas, ca-
Esse sistema de aterramento, tradicionalmente utilizado pelas
pazes de não sensibilizar as proteções de sobrecorrente, man-
concessionárias brasileiras, permite a limitação de sobretensões
tendo o sistema energizado com pleno potencial. Usualmente, a
quando da ocorrência de uma falta envolvendo a terra, não reque-
impedância máxima de falta considerada nos cálculos de curto-
rendo níveis de isolação de rede para tensão plena (fase-fase),
-circuito a terra pelas distribuidoras para o ajuste dos sistemas
assim como ocorre no caso de sistemas de neutro compensado.
de proteção é de 40 Ohms [2]. Todavia, os níveis de falta podem
Por isso, esse esquema permite a instalação de cargas mono-
envolver resistências de contato superiores, dificultando ou, em
fásicas (transformadores monobucha) nas redes de distribuição.
alguns casos, impossibilitando a sua identificação.
No aterramento sólido, a corrente de falta monofásica pode

Figura 4: Subestação Canudos - FEC Transitório em chaves – Sistema de aterramento ressonante

Pelas condições apresentadas, verifica-se que o sistema so- resistivas shunt do sistema, já que as capacitâncias são com-
lidamente aterrado não apresenta um desempenho satisfatório pensadas pela bobina de Petersen. Um dos maiores benefícios
em se tratando de segurança e confiabilidade. desse sistema é a auto-extinção de faltas passageiras em redes
aéreas. A Figura 2 apresenta o caminho percorrido pela corrente
A Figura 1 apresenta os diagramas elétrico e vetorial de uma de falta monofásica no sistema de neutro ressonante.
falta monofásica em um sistema solidamente aterrado.
O aterramento ressonante diminui a corrente de defeito para
A representação é de uma falta franca (sem resistência de valores mais próximo de zero, minimizando ainda mais os riscos
contato) no barramento secundário de uma subestação. A ten- quando comparado ao neutro solidamente aterrado.
são contra a terra da fase sob falta tende a zero, enquanto as fa-
ses sãs mantém os seus fasores sem maiores alterações. Num Devido ao deslocamento do ponto de neutro em relação ao
evento com essas características, a corrente de curto-circuito, potencial de terra, neste sistema também é necessário o nível
por ter um caminho de baixa impedância, limitada apenas pelas de isolação fase-fase dos componentes da rede e é vedada a
resistências de contato a terra (praticamente nulas) e impedân- utilização de cargas monofásicas.
cia série do sistema, acaba resultando em amplitudes extremas.
III. PROJETO AES SUL
B. Aterramento ressonante
Um levantamento realizado na área de distribuição da AES
Uma forma de tratamento de neutro tecnologicamente supe- Sul mostra que, no período compreendido entre os anos de
rior para a redução das correntes de falta a terra nas redes de 2009 e 2013, ocorreram 66 acidentes elétricos, resultando em
alta e média tensão é por meio da instalação da bobina de Peter- 19 óbitos. Cerca de 80% das fatalidades ocorreram nas redes
sen, também conhecida como bobina supressora de arco entre o de média tensão.
neutro do transformador e a terra.
Além do problema relativo ao número de acidentes elétricos
Com o aterramento ressonante, as correntes de falta são envolvendo as redes, outra motivação que levou a AES Sul a
reduzidas a valores inferiores a 10A, resultantes das perdas pesquisar tecnologias diferentes das tradicionalmente emprega-
90 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

das no setor elétrico brasileiro é o estabelecimento, por parte Durante o comissionamento desses sistemas, foram também
do Órgão Regulador, de metas de confiabilidade cada vez mais realizados testes de isolação das redes de distribuição. Nesses
desafiadoras para as concessionárias. testes, executados durante a madrugada por questões de segu-
rança, são realizados curtos-circuitos reais na subestação, a fim
A modificação da forma de tratamento do neutro dos transfor- de avaliar o comportamento do sistema de aterramento e a ade-
madores de subestação demonstrou ser uma alternativa tanto quação da isolação das redes para o novo esquema de operação.
para a redução dos efeitos dos acidentes elétricos fatais nas re-
IV. DESEMPENHO
des da AES Sul quanto para a melhoria dos índices de confiabi-
lidade do sistema de distribuição.
Em se tratando de confiabilidade, o sistema implantado na
AES Sul tem seu foco nas faltas temporárias. No caso de cur-
Do ponto de vista de segurança, enquanto que o toque direto
toscircuitos monofásicos permanentes, a bobina de Petersen é
com a rede em um sistema solidamente aterrado o circuito re-
by-passada e é desligado o trecho de rede sob falta, exigindo o
sultante apresenta tensão plena, no esquema com neutro resso-
deslocamento de equipe ao local, assim como ocorre no sistema
nante haverá a redução do potencial da fase sob falta (tendendo
solidamente aterrado. Para a ampliação do tempo do operação
a zero, no caso de impedância nula), reduzindo consequente-
do neutro ressonante é necessária uma avaliação mais profunda
mente a corrente. Essa condição poderá não evitar o acidente
do isolamento da rede.
em si, mas a probabilidade de uma fatalidade é definitivamente
Dessa forma, o principal benefício técnico obtido foi a redução
reduzida, conforme prescreve a IEC.
do indicador FEC em ramais MT protegidos por chaves fusíveis
devido às causas de origem transitória (temporária), conforme
Já em relação à confiabilidade, o ganho está, principalmente,
pode ser verificado na Figura 4.
nas faltas monofásicas de característica temporária (descarga
atmosférica, vegetação, etc.), onde a atuação da bobina de Pe-
Verifica-se que, após a implantação do sistema neutro res-
tersen proporciona a auto-extinção do defeito, mantendo o supri-
sonante 63%, dos desligamentos foram evitados. Em termos
mento normal das unidades consumidoras.
de segurança, até o presente momento não houve o registro de
nenhum acidente elétrico nas redes das subestações onde há o
Outro ponto a destacar é que a intercepção da falta ocorre em
sistema neutro ressonante instalado.
qualquer ponto da rede de média tensão pertencente à subesta-
ção. Se, por exemplo, ocorrer uma falta monofásica num ramal
V. CONCLUSÕES
protegido por uma chave fusível com elo de 6k, ocorre primeira-
mente a anulação da corrente de falta pela atuação da bobina de
Este artigo apresentou as principais informações do projeto
Petersen, evitando a fusão do elo.
Neutro Ressonante desenvolvido na AES Sul, seus benefícios
em relação aos demais sistemas de aterramento, os principais
investimentos realizados na rede para migração do sistema soli-
Nas redes de distribuição da AES Sul que operavam em sis-
damente aterrado para o neutro ressonante e os resultados apu-
tema solidamente aterrado e que passaram a operar com neutro
rados até o momento.
ressonante, as principais adequações identificadas nas pesqui-
sas do projeto de P&D desenvolvido em conjunto com a UNIFEI
O projeto foi concluído com sucesso na AES Sul e os indica-
foram relativas à adequação de TP’s, isoladores e para-raios.
dores técnicos apurados demonstram que houve uma significa-
Além disso, todos os transformadores monofásicos (monobu-
tiva redução de desligamentos transitórios em chaves fusíveis,
cha) foram substituídos por equipamentos trifásicos, eliminando
além da melhoria da segurança do sistema.
todas as ligações funcionais a terra.
A próxima etapa será avaliar a operação desse sistema em
Na Figura 3 é possível verificar a bobina de Petersen (em
faltas de origem permanente, a exemplo do que ocorre nos pa-
cinza, semelhante a um transformador) instalada na subestação
íses europeus. Com isso, será possível manter o suprimento
de Novo Hamburgo 2 (2 x 37,5MVA – 138/23 kV), colocada em
das unidades consumidoras até a chegada ao local das equipes
operação em meados de 2012.
de manutenção.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Wilheim R. and Waters M. “Neutral Grounding in High Voltage Transmission”, Elsevier Publishing, New York 1956.
[2] ELETROBRÁS. “Proteção de Sistemas Aéreos de Distribuição”. Rio de Janeiro: Campus. 1982.
[3] Silveira, M. S.; Figueiredo, C. E. C.; Martinez, M.; Nunes, A. Adaptação das Redes de Distribuição para Operar com Sistema Neutralizador de Faltas ଠTerra. In: VII Congresso de Inovação
Tecnológica em Energia Elétrica – CITENEL – ANEEL, 7, 2013, Rio de Janeiro.
[4] Swedish Neutral. “Scottish & Southern Energy – Network System Study”. Stockholm/Sweden 2007.
[5] Winter K. and Silveira M. “ The RCC Ground Fault Neutralizer – First Brazilian Pilot Instalation”, PAC World Conference, Florianópolis 2012.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 91

CTEEP
Protótipo de sistema de medida de
corrente de polarização para diagnóstico
da degradação de sistemas papel-óleo
Guilherme C. da Silva 1, Vitoldo S. Filho 1, Sebastião R. Junior 1, Daniel A. Ussuna 1, Juliano de Andrade 1, Heloísa N. da Motta 1,
Joseane V. Gulmine 1, e Mário Carlos Andreolli 2

Resumo – Foi desenvolvido um protótipo de sistema de medida de corrente de polarização para diagnóstico da degradação de sistemas papel-
-óleo usados em transformadores. Inicialmente foram realizadas medidas de corrente de polarização em óleo isolante mineral novo e envelhecido
em laboratório para ajuste de parâmetros de medida e validação da técnica. Posteriormente, foi desenvolvido o protótipo de sistema de medida de
corrente de polarização, constituído de célula de medida, instrumentação para aplicação de tensão e medida de corrente de polarização e software
dedicado ao sistema para aquisição e tratamento de dados. O protótipo foi validado em laboratório com medidas em óleo mineral isolante novo,
óleo mineral isolante envelhecido em laboratório e óleo mineral isolante envelhecido em campo. Os resultados obtidos validaram a funcionalidade
do protótipo e demonstraram a potencialidade da técnica para auxílio no diagnóstico do estado de degradação de sistemas papel-óleo utilizados em
transformadores.

Palavras-chave – diagnóstico, envelhecimento, óleo mineral isolante, papel isolante, transformadores

I. INTRODUÇÃO para avaliação do papel termoestabilizado [1]-[3]. Assim, há mui-


tas pesquisas direcionadas para a busca de novos indicadores
Sistemas de isolação com papel-óleo são amplamente uti- químicos para avaliação de sistemas isolantes papel-óleo, no
lizados em equipamentos do setor elétrico, entre os quais os qual o papel isolante é o termoestabilizado.
transformadores de potência. Os sistemas papel-óleo podem ser
constituídos de diferentes materiais, tais como papel kraft con- Visando auxiliar no desenvolvimento de técnicas e indi-cadores
vencional ou termoestabilizado, óleo mineral isolante mineral ou para o diagnóstico de sistemas de isolação de trans-formadores
vegetal, entre outros. de potência, foi desenvolvido um protótipo de medida de corren-
te de polarização que busca, por meio de um indicador dielétri-
Quando em operação, os transformadores de potência estão co, auxiliar no diagnóstico de sistemas de isolação papel-óleo.
sujeitos a diversos estresses elétricos, mecânicos e térmicos,
os quais, agindo individualmente ou de forma sinérgica, podem II. DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL
acelerar os processos de degradação dos sistemas isolantes e,
em última instância, levar à falha dos mesmos. Nos sistemas de Inicialmente foram realizados diversos testes em laboratório
isolação papel-óleo o material isolante crítico é o papel, uma vez para validação da medida de corrente de polarização como téc-
que o óleo mineral pode ser regenerado. nica de diagnóstico da degradação de sistemas papel-óleo, para
definição de parâmetros de teste e também para o desenvolvimen-
Para prevenir tais falhas, as concessionárias utilizam diver- to do projeto conceitual do protótipo. Foram utilizadas amostras
sas metodologias de manutenção, entre as quais podem-se ci- de óleo novo e de sistemas papel termoestabilizado-óleo mineral
tar: acompanhamento periódico do estado de conservação do isolante envelhecidos em laboratório, em diferentes temperatu-
óleo isolante por meio de ensaios físico-químicos, ensaios perió- ras (100 °C e 125 °C) e em distintos tempos de envelhecimento
dicos para análise de gases dissolvidos, entre outros. (0 dias até 135 dias). Foi dada ênfase aos sistemas com óleo mi-
neral isolante pelo fato do parque de transformadores da CTEEP
Entre os ensaios amplamente usados no setor para avaliar, atualmente utilizar tal fluido isolante em sua área de concessão.
de forma indireta, o estado de conservação do papel isolante
está a análise de compostos furânicos, particularmente o 2-FAL. A medida de corrente de polarização consiste na aplicação
Diversos trabalhos têm constatado que esse indicador químico é de uma tensão DC na amostra durante um determinado período
eficaz somente para avaliação do sistema papel kraft convencio- de tempo e na medição da corrente de polarização. A partir da
nal-óleo mineral isolante, sendo que este não se mostra eficiente corrente de polarização medida, uma das informações que pode
ser obtida é a resistividade DC da amostra. A Figura 1 apresenta
PD ‘Desenvolvimento de metodologias físico-químicas e dielétricas para avaliação da condi- uma representação esquemática de um arranjo para medida de
ção de sistemas de isolação papel/óleo utilizados em equipamentos de subestações’, ‘códi- corrente de polarização. As medidas de corrente de polarização
go 0068-0027/2011’, ‘Transmissão de Energia Elétrica’, ‘CTEEP’, ‘LACTEC’, foram realizadas em amostras de 2,5 ml de óleo mineral isolante
Investimneto: ‘R$ 1.942.541,92’. novo e envelhecido em laboratório. Outros parâmetros definidos
1
‘LACTEC’ (e-mails: cunha@lactec.org.br; vitoldo@lactec.org.br; ribeiro@lactec.org.br; para essas medidas foram: tensão aplicada = 100 VDC, distân-
daniel.ussuna@lactec.org.br; julia-no.andrade@lactec.org.br; heloisa.motta@lactec.org.br;
cia entre eletrodos = 200 µm, tempo de teste = 600 s (10 min) e
Josea-ne.gulmine@lactec.org.br).
taxa de amostragem de 1 amostra/s.
2
‘CTEEP’ (e-mail: mandreolli@cteep.com.br).
92 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Arranjo experimental para medida de corrente de polarização. Figura 2. Instrumentação para aplicação de tensão DC e medida de cor-
rente de polarização.

Uma vez validada a medida de corrente de polarização e de- distância entre eletrodos é fixa, não necessitando de ajuste para
finida a resistividade DC como indicador dielétrico, foi iniciada a realização das medidas. Não há necessidade, tampouco, de in-
etapa de desenvolvimento e validação do protótipo. serir a célula em gaiola de Faraday pra realização das medidas.

O protótipo do equipamento para medida de corrente de po- Para validação do sistema de medida de corrente de polariza-
larização em óleos isolantes é composto pelos seguintes com- ção (MCP), foram efetuados testes com dois sistemas de medi-
ponentes: instrumentação para aplicação de tensão e medida da da de corrente distintos: a) eletrômetro Keithley 6514 e b) MCP.
corrente de polarização, célula de medida de dielétricos líquidos
e computador com software dedicado para aquisição de dados e Foram testadas quatro amostras de óleo isolante, sendo:
análise de resultados.
- Óleo mineral isolante novo;
A. Instrumentação
- Óleo mineral isolante envelhecido em laboratório, 125 oC,
135 dias;
A instrumentação foi projetada de modo a permitir que um
único instrumento realizasse a aplicação da tensão de polariza-
- Óleo mineral isolante de transformador envelhecido em
ção e a medida da corrente de polarização da amostra de óleo
campo e testado no LACTEC, 13,8 kV/ 150 kVA (env. campo 1);
isolante. O circuito de medida de corrente foi projetado para
permitir a medida de correntes na faixa de 10µA a 0,1 pA por
- Óleo mineral isolante de transformador envelhecido em
meio de um amplificador eletrométrico. A tensão de polarização
campo e testado no LACTEC, 13,2 kV/ 750 kVA (env. campo 2).
é fornecida pela aplicação de um conversor de tensão CC-CC
de 100 V, com ajuste por meio do sinal de PWM de um micro-
III. RESULTADOS
controlador. O microcontrolador desempenha também o papel
de realizar a conversão digital do sinal de corrente medido pelo
amplificador eletrométrico, além de ajustar as escalas de ganho A Tabela 1 apresenta os resultadas das medidas de polariza-
do amplificador e transferir os dados para a porta de comuni- ção realizadas com eletrometro Keithley 6514 e com MCP.
cação USB do computador. Na Figura 2 está apresentado o
Tabela I: Resultados das medidas de corrente de polarização
dispositivo desenvolvido para aplicação de tensão e medida da
corrente de polarização, o qual utiliza componentes eletrônicos Parâmetro Amostra de Keithley MCP
com tecnologia SMD (Dispositivos de Montagem em Superfície). óleo isolante 6514
Esses componentes apresentam dimensões reduzidas, o que Novo 1,8 x 10-11 1,3 x 10-10
possibilita minimizar influências elétricas parasitas e auxilia na
Env. Lab. 125 C,o
6,7 x 10 -10
7,8 x 10-10
compactação do circuito. A conexão do circuito com a célula é Corrente (A) 135 dias
realizada utilizando cabos coaxiais com conectores BNC. O cir-
Env. Campo 1 8,6 x 10-10 1,0 x 10-9
cuito desenvolvido não necessita de fonte de alimentação exter-
na, pois a conexão com a porta USB é suficiente para fornecer Env. Campo 2 2,3 x 10-9 2,6 x 10-9
energia para o sistema. Novo 5,6 x 10 12
7,9 x 1011
Resistência de
isolamento
Env. Lab. 125 C,o
1,5 x 10 11
1,3 x 1011
B. Célula de medida de dielétricos líquidos 135 dias
(Ω)
Env. Campo 1 1,2 x 1011 1,0 x 1011
Foi projetada e desenvolvida uma célula de medida de dielé-
tricos líquidos (Figura 3), formada por dois eletrodos, sendo um
Env. Campo 2 4,3 x 1010 3,8 x 1010
eletrodo de alta e um de baixa. Esses eletrodos são inseridos Novo 8,7 x 10 12
1,2 x 1012
em um cilindro metálico, que proporciona a blindagem da célula, Env. Lab. 125 oC, 2,3 x 1011 2,0 x 1011
Resistividade
minimizando a presença de ruídos na medida. A isolação dos DC (Ω.m)
135 dias
eletrodos com o cilindro externo foi confeccionada com teflon. A Env. Campo 1 1,8 x 1011 1,6 x 1011
Env. Campo 2 6,8 x 10 10
6,0 x 1010
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 93

Figura 4. Corrente de polarização para óleo mineral isolante envelhecido


em laboratório.
Figura 3. Célula de medida de dielétricos líquidos.

A Figura 4 ilustra o resultado obtido para o caso da medida de O protótipo desenvolvido é constituído por célula de medida
corrente de polarização do óleo mineral isolante envelhecido em de dielétricos líquidos, instrumentação eletrônica para aplicação
laboratório a 125 oC por 135 dias. de tensão e medida de corrente de polarização (denominado de
MCP), além de computador com software dedicado para aquisi-
Dentre os resultados obtidos, foi verificado que: ção e análise de dados.

• Na Tabela 1, pode ser observado que, para a amostra de A instrumentação desenvolvida é compacta, leve e equivale a
óleo mineral isolante novo, há uma diferença de uma ordem de dois equipamentos (fonte DC e eletrômetro), e utiliza componen-
grandeza no resultado obtido para a corrente e para a resistên- tes eletrônicos com tecnologia SMD (Dispositivos de Montagem
cia de isolamento medida nos diferentes equipamentos. Tal fato em Superfície). Não necessita de alimentação externa, a qual
leva à necessidade de aplicar um fator de correção no protóti- é realizada pela conexão do cabo USB ao computador. A ins-
po desenvolvido para esta condição. Apesar disso, a ordem de trumentação, assim como o software, foi testada e validada em
grandeza da resistividade DC ficou na faixa de 1012 Ω.m; laboratório, tanto para óleo novo quanto para óleo envelhecido
em laboratório e campo.
• Para as amostras de óleo mineral envelhecido, em labora-
tório ou campo, os valores medidos nos diferentes equipamen- Um dos diferenciais do protótipo desenvolvido está relaciona-
tos são muito similares. Como exemplo, pode ser observado na do com o procedimento de medição, isto é, a medida poderá ser
Figura 4 que a ordem de grandeza da corrente medida, embora realizada em campo (na sala de comando da subestação, por
com pequena diferença, está na faixa de nanoamperes em am- exemplo), a partir de uma coleta de óleo simples, sem necessi-
bos os equipamentos; dade de desligamento do transformador.

• Na Tabela 1, também pode ser observado que o resultado do V. AGRADECIMENTOS


óleo mineral isolante envelhecido em laboratório é muito próximo
ao do óleo mineral isolante envelhecido em campo, onde os va- Ao Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (LACTEC)
lores de resistividade DC estão na faixa na faixa de 1010 Ω.m; pelo apoio técnico e de infraestrutura para o desenvolvimento
deste projeto, à Companhia de Transmissão de Energia Elétrica
IV. CONCLUSÕES Paulista (CTEEP) pelo apoio financeiro e à ANEEL pela condu-
ção do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento que permite o
Foi mostrado que a resistividade DC, medida pela técnica de desenvolvimento de projetos como este.
corrente de polarização, é um parâmetro eficaz para avaliação
da degradação de sistemas papel-óleo.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] MARTINS, M. A. “Furfuraldeído – Um indicador Prático da Degradação Térmica do Papel Kraft de Transformadores”, Ciência e Tecnologia de Materiais, vol. 19, pp. 25-33, 2007.
[2] MARTINS, M. A. “Monitorização da Degradação Térmica do Papel Isolante Usado em Transformadores. Papel “Thermally Upgraded” versus Papel Kraft”, Ciência e Tecnologia dos Materiais,
vol. 19, n°1-2, 2007.
[3] MILDEMBERGER, L.; DEGGER, C. A.; SILVA, G. C. et al. “Estudo de marcadores químicos em óleos mineral e vegetal isolantes para acompanhamento da degradação de papéis isolantes
utilizados em transformadores”. XXII SNPTEE, 2013.
94 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

AES ELETROPAULO
Regulador de tensão
portátil para redes de baixa
tensão – Lote Pioneiro
Ricardo Tufaniuk1, Donorvan Fagundes2, Marcelo Ap. Pelegrini3, Francisco Pereira Jr.3, Francisco C. Saraiva Filho4, Jaime T. Kondo4, Tiago P. Souza4

Resumo – Este trabalho descreve a terceira etapa do desenvolvimento de um Regulador de Tensão Portátil para Redes de Baixa Tensão (RTPBT),
que envolve a industrialização do equipamento criado para posterior comercialização. Foram desenvolvidas três versões de reguladores: monofásica
com potência de 10kVA, e bifásica e trifásica com potências de 30kVA. Foram desenvolvidos um programa que simula o carregamento da rede e
indica as melhores alternativas para correção do nível de tensão, e um sistema de leitura remota, que permite monitorar as grandezas elétricas e as
condições de funcionamento dos reguladores de tensão instalados.

Palavras-chave – PRODIST, qualidade de energia, rede de baixa tensão, regulação de tensão, tensão em regime permanente.

I. INTRODUÇÃO O software desenvolvido para diagnóstico dos problemas


de nível de tensão é baseado na plataforma de simulação
A qualidade da tensão entregue ao consumidor é regulamen- SINAPGrid [2] e seu objetivo é oferecer uma ferramenta eficiente
tada no Módulo 8 do PRODIST (Procedimentos de Distribuição) e prática para definir a melhor solução para correção do proble-
[1]. A tensão em regime permanente deve se manter dentro de ma de tensão entregue ao consumidor.
limites considerados adequados, e em caso de violação desses
II. PRINCIPIO DE FUNCIONAMENTO DO RTPBT
limites, a ANEEL estabelece um prazo para a distribuidora regu-
larizar a tensão de atendimento. Soluções tradicionais para solu-
O RTPBT faz a função de ajustar a tensão de rede não regu-
ção de problemas de nível de tensão, como o recondutoramento
lada aplicada em sua entrada por meio da soma ou subtração de
da rede, a mudança de taps de transformadores ou mesmo a
uma quantidade adequada de tensão, que é inserida através do
troca de transformadores, são utilizadas de forma emergencial
secundário de um transformador Buck-Boost, fazendo com que
na correção do nível de tensão, e nem sempre buscando um
em sua saída, do lado da carga, a tensão permaneça dentro da
critério de maior eficiência.
faixa adequada estabelecida pelo PRODIST.

Este trabalho descreve o desenvolvimento de um equipamen-


O transformador Buck-Boost do RTPBT permite controlar seis
to portátil de regulação de tensão, além de uma ferramenta com-
níveis diferentes de regulação de tensão através de três taps no
putacional que auxilia na escolha da melhor alternativa para re-
primário, sendo que seu secundário fica em série com o ramal
solução do problema, com melhor custo/benefício. A instalação
secundário da rede, nunca permitindo que o consumidor seja in-
temporária desse equipamento no ponto de entrega do consu-
terrompido. A Figura 1 mostra o diagrama da versão monofásica
midor regulariza os níveis de tensão enquanto a concessionária
desenvolvida.
faz a adequação da rede.
No caso do RTPBT trifásico, a regulação de tensão é feita
Os equipamentos desenvolvidos, financiados pela AES Ele-
por fase, ou seja, é utilizado um transformador “Buck-Boost” por
tropaulo e pela AES SUL, foram testados em laboratório e em
fase. Cada enrolamento secundário de 36V do transformador
campo nas fases iniciais. Atualmente o projeto se encontra na ter-
“Buck-Boost” regula individualmente cada fase do transformador
ceira e última etapa de desenvolvimento, a produção do lote pio-
de distribuição.
neiro, que representa sua transferência para produção industrial.
O controle da potência permite três ações básicas na tensão
Projeto de P&D: “Lote Pioneiro e Inserção no Mercado de Regulador de Tensão Portátil
de entrada[3]:
para Baixa Tensão e Sistema de Análise de Reclamação de Tensão”; código ANEEL: “PD-
0390-1067/2012”; entidades financiadoras: AES Eletropaulo e AES Sul; entidade executora: 1) Somar tensão na entrada, quando estiver abaixo do limite
Sinapsis Inovação em Energia; inferior estabelecido como mínimo adequado;
investimento: R$ 3.676.720,00.
1
AES Eletropaulo (e-mail: ricardo.tufaniuk@aes.com). 2) Subtrair tensão na entrada, quando estiver acima do limite
2
AES Sul (e-mail: donorvan.fagundes@aes.com) superior estabelecido como máximo adequado;
3
Sinapsis Inovação em Energia (e-mails: marcelo.pelegrini@sinapsisenergia.com; francis-
co.pereira@sinapsisenergia.com)
3) Não somar nem subtrair tensão na entrada, quando estiver
4
Enerq/USP (e-mails: saraiva@fei.edu.br; takaojkondo@yahoo.com.br; tiagopoles@pea.
dentro da faixa estabelecida como adequada.
usp.br )
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 95

Figura 1 – Esquema elétrico do RTPBT monofásico

Figura 2 – Fluxograma das etapas para o aplicativo de análise de obras Figura 3 – Fluxograma das etapas para o aplicativo de análise de obras

Além de controlar a polaridade da tensão no secundário de O RTPBT está equipado com proteção no circuito primário,
seu transformador “Buck-Boost”, o RTPBT também controla a que desliga o seu circuito de controle em caso de corrente de
quantidade de tensão que é somada ou subtraída em sua tensão curto-circuito e o coloca em condição de falha segura (não soma
de entrada. No caso dos RTPBT citados, o controle de potência nem subtrai tensão à tensão de entrada do RTPBT), manten-
permite seis níveis diferentes de regulação de tensão de rede. do um sinal de alerta visual na parte de baixo do equipamento
para permitir a identificação do problema a partir do solo. Essa
O RTPBT foi projetado para ser conectado ao secundário do proteção atua de forma a garantir que o consumidor nunca seja
transformador de distribuição de um sistema de fornecimento, desligado pelo RTPBT.
cuja rede secundária pode ser trifásica ou monofásica. A carga
III. SOFTWARE SIMULADOR
recebe a tensão regulada entre fase e neutro. O contato do relé
de zero (NF) serve para garantir um estado neutro de regulação
O software, modelado na plataforma de desenvolvimento SI-
de tensão no secundário do RTPBT quando este é iniciado e
NAPgrid permite, por meio de uma interface homem-máquina,
também no caso de falha, ou quando o RTPBT está desligado.
visualizar os índices de duração das tensões precárias e críti-
Nesses casos, o relé de zero mantém uma posição segura, não
cas, para diferentes tipos de obras corretivas. A fim de comparar
introduzindo (somando ou subtraindo) qualquer valor na tensão
alternativas, o software permite ao usuário simular obras indi-
de rede.
viduais ou em conjunto, tais como recondutoramento, troca de
taps do transformador, transferências de cargas e instalação do
96 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 4 – Resultados das simulações de alternativas

Figura 5 – Sistema de monitoramento de equipamentos monitorados

RTPBT, ou, ainda, a combinação dessas obras. Para o caso do IV. RESULTADOS DO LOTE PIONEIRO
RTPBT, o software simula seu funcionamento e comportamento
em diferentes situações. As principais mudanças nos reguladores da fase “cabeça de
série” para a fase “lote pioneiro” foram sugeridas pelas equipes
Além disso, a metodologia proposta permite avaliar o perfil de instalação, que, além de instalar, acompanharam em campo
de tensão em cada ponto de alimentação dos consumidores. o funcionamento e os problemas dos reguladores de tensão. A
Para esse propósito, é necessária a utilização de um arquivo maior dificuldade encontrada pelas equipes de instalação decor-
com medições de tensão do consumidor reclamante. Essa infor- reu do tamanho e do peso dos equipamentos, já que nem todas
mação é tratada de modo a estimar as tensões nos pontos sem as equipes dispunham de equipamento hidráulico para suspen-
medição. A Figura 2 mostra um fluxograma com as etapas que o der o regulador. Outro problema identificado em campo foi a fa-
aplicativo executa. lha na vedação, que permitiu a entrada de água em alguns equi-
pamentos, sem que isso tenha comprometido o funcionamento
Como exemplo de uso do software criado, temos um caso em dos mesmos.
que o consumidor apresenta níveis de tensão abaixo da faixa
adequada. Na Figura 3, que mostra a topologia da rede, são Para reduzir o problema de peso, o fabricante optou por uti-
apresentadas duas soluções que podem ser efetivadas rapida- lizar transformadores com enrolamento de alumínio, reduzindo
mente, mudança de tap do transformador e instalação de um em aproximadamente 15kg o peso total do equipamento mono-
regulador de tensão. Na Figura 4 vemos os resultados das si- fásico. No equipamento trifásico, que ainda não estava montado
mulações, que mostra que a mudança do tap aumenta a tensão na data de edição deste artigo, a redução de peso esperada é
do secundário, com as tensões ultrapassando o limite adequado de 40kg.
superior. Com a instalação do regulador, o nível permanece ade-
quado em todo o intervalo.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 97

A estanqueidade da caixa também está sendo aprimorada e utilização de outros canais de comunicação. Os próximos testes
os casos de penetração de água observados em campo foram envolverão a utilização da rede wi-max da AES Eletropaulo.
atribuídos à montagem quase artesanal do lote “cabeça de sé-
rie”. A produção seriada do “lote pioneiro” deverá resolver esses V. CONCLUSÕES
problemas pontuais.
O projeto desenvolvido apresentou resultados muito satisfa-
Para o lote pioneiro estão sendo produzidas 3 versões do tórios e promissores. Isso se deve ao fato de que o RTPBT pode
equipamento: monofásica de 10 kVA – 220V, bifásica de 30 kVA ser utilizado de forma rápida e eficiente, corrigindo a tensão da
– 115/230V e trifásica de 30 kVA – 220/380V. A produção total rede imediatamente após sua instalação, que é feita de forma re-
será de 150 peças do RTPBT, sendo 125 para uso da AES Ele- lativamente simples e rápida, solucionando os casos de tensão
tropaulo e AES Sul. As 25 peças restantes, em diferentes confi- fora da faixa adequada.
gurações, serão utilizadas para demonstração ao mercado.
Mesmo nos casos de tensão desequilibrada na entrada do
O sistema de monitoramento desenvolvido permite que a dis- RTPBT trifásico, este manteve suas tensões de saída reguladas
tribuidora monitore os níveis de tensão e o estado de funciona- dentro da faixa projetada, minimizando inclusive o desequilíbrio
mento dos reguladores em tempo real. Na Figura 5 pode ser vis- de tensão em sua saída.
ta a tela inicial do programa com a localização de no-breaks para
semáforos e reguladores de tensão que estão conectados ao A redução do pagamento de penalidades com reclamação de
sistema de automação da AES Eletropaulo. Os reguladores de tensão, um melhor atendimento ao cliente, a receita com royal-
tensão utilizam o protocolo DNP3 e podem ser facilmente conec- ties e a industrialização de produto de aplicação ampla a todas
tados a um sistema SCADA das distribuidoras. Os testes iniciais as concessionárias de distribuição são resultados esperados
foram feitos utilizando modems GPRS, que aproveitam a cober- com a comercialização deste equipamento.
tura existente das redes de telefonia, mas o sistema permite a

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional. Módulo 8 – Qualidade da energia elétrica. Rev.4, ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica,
2011.
[2] Plataforma SINAPgrid em: www.sinapsisenergia.com/
[3] Saraiva, F. C. F.; Duarte, S. X.; Cebrian, J. C.; Pelegrini, M. A.; Tufaniuk, R. Portable Voltage Regulator for Low Voltage Networks. In: The 21st International Conference and Exhibition on
Electricity Distribution, 2011, Frankfurt. The 21st International Conference and Exhibition on Electricity Distribution, 2011.

Figura. A1. Regulador de tensão monofásico do lote pioneiro Figura. A2. Regulador de tensão monofásico “cabeça de série”
98 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Supervisão, controle
e proteção de sistemas
de energia elétrica

TRACTEBEL ENERGIA
Análise numérica e analítica da deformação de
grades de tomada d’água de usinas hidrelétricas
para desenvolvimento de sistema de monitoramento
Erlon Vagner da Silva 1, Luciano Zanoni 1, Thobias Carloto 1, Ricardo Zandonay 2 e Rodrigo Peres 2

Resumo – Este trabalho propõe uma solução de monitoramento óptico on-line da saúde estrutural da grade de adução da tomada de usinas hi-
drelétricas por meio da medição dos esforços mecânicos sofridos pela mesma devido ao acumulo de resíduos. O objetivo dessa solução é reduzir
os custos operacionais e aumentar a confiabilidade do processo, diminuindo o número de intervenções para remoção dos resíduos. O sistema é
constituído por uma plataforma remota de detecção e análise interligada a uma rede de sensores. Os sensores desenvolvidos utilizam a tecnologia
de grade de Bragg em fibra (FBG) e são responsáveis por detectar e sinalizar níveis críticos da deformação mecânica da grade de adução.

Palavras-chave – Monitoramento estrutural, monitoramento óptico, sensores FBG, grade de adução, usina hidrelétrica.

I. INTRODUÇÃO acúmulo de material sobre as grades são: a perda de carga na


geração de energia devido ao baixo fluxo liberado para a movi-
O fluxo da água represada em barragens de hidrelétricas traz mentação da turbina [1] e acidentes ocasionados pelo despren-
consigo uma grande quantidade de detritos sólidos que colidem dimento da grade que é levada pelo fluxo ao conduto forçado. A
com a montante das grades da tomada d’água e se acumulam recorrente perda de carga ocasionada pelo acúmulo de material
ao longo do tempo. O material acumulado geralmente é com- sobre a grade exige manutenções periódicas para retirada dos
posto de troncos de árvores provenientes da região desmatada resíduos. Dentre as diferentes maneiras utilizadas para realizar
para construção do reservatório, vegetação remanescente da a limpeza dessas grades, destacam-se a utilização de guindaste
mesma região, resíduos diversos oriundos do leito, gelo e mexi- com rastelo (Trash Rake) e a utilização de mergulhadores. A uti-
lhões dourados que, em alguns casos, se proliferam ao longo de lização de mergulhadores para inspeção e limpeza das grades
toda a área da grade. Os principais problemas advindos desse oferece alto risco à integridade física desses trabalhadores, bem
como torna o custo da manutenção elevado devido aos equipa-
mentos necessários para a operação e necessidade de parada
Informações sobre o Projeto de P&D: Título: ‘Desenvolvimento de um sistema de monitora- total das turbinas [2].
mento on-line da grade de adução da tomada d’água de usinas hidrelétricas’, Código ANE-
EL: PD-0403-0016/2010; Tema: Supervisão, Controle e Proteção de Sistema de Energia Elé-
trica; Subtema: Outro; com suporte financeiro do programa de Pesquisa e Desenvolvimento
O trabalho descrito neste artigo é parte integrante do projeto
da Tractebel Energia S.A. (proponente) e Itá Energética S.A. (cooperada); Entidade Exe- de pesquisa e desenvolvimento ANEEL nº PD-0403-0016/2010,
cutora: Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações - CPqD; denominado “Desenvolvimento de um sistema de monitoramen-
Investimento de R$ 1.456.381,35 to on-line da grade de adução da tomada d’água de usinas hidre-
‘Tractebel Energia S.A’ (e-mail: erlon@tractebelenergia.com.br; zanoni@tractebelenergia.
létricas”. O presente projeto foi executado pela Fundação CPqD,
com.br; dambros@tractebelenergia.com.br; thobias@tractebelenergia.com.br)
‘Fundação CPqD’ (e-mail: ricardoz@cpqd.com.br; rpe-res@cpqd.com.br).
com o suporte financeiro e apoio da TRACTEBEL ENERGIA S/A.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 99

A inovação do projeto está no desenvolvimento de um sistema que sofrem os maiores esforços mecânicos devido às forças
de monitoramento da deformação da grade em tempo real, utili- impostas pelo acúmulo de material, foram realizadas simula-
zando sensores FBG, sendo possível sinalizar os níveis críticos ções utilizando o método de elementos finitos com o software
de deformação da grade, indicando o momento adequado para Abaqus®. Para tanto, primeiramente, o projeto mecânico da
realizar a limpeza. O sistema de monitoração propõe reduzir o grade de adução foi inserido no formato CAD (Computer Aided
número de paradas desnecessárias das máquinas, trazendo be- Design), utilizando o software Solidworks®, Figura 1(a), e, em
nefícios financeiros e de segurança operacional para a usina. seguida, o projeto mecânico foi importado para o Abaqus®, Figu-
ra 1(b). Sendo assim, foi possível modelar o carregamento e as
Para o desenvolvimento e especificação do sistema de mo- condições de contorno para a análise, permitindo a obtenção da
nitoração da deformação mecânica da grade de adução, foi ordem de grandeza da deformação da grade, para a condição de
necessário conhecer como a mesma se deforma, bem como a total obstrução, durante a operação da turbina. Essa informação
ordem de grandeza dessa deformação, para que se pudesse foi importante para determinar corretamente a região da grade
especificar a solução para o sensoriamento. de adução que sofre maior deformação, e, portanto, mais ade-
quada para o sensoriamento.
II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Uma vez identificada a região de maior esforço, observável
A. Simulação dos esforços mecânicos na área em vermelho na Figura 1(b), definiu-se a construção de
duas redes de sensores FBG para instalação nas vigas “i” cen-
Inicialmente, para verificar as regiões da grade de adução trais, melhor observadas na Figura 1 (a).

a)

b)
Figura 1. Representação da grade de adução da tomada d’água em:
(a) Solidworks® e (b) Abaqus®.

a) b)

Figura 2. a)Medições dos sensores sem e com amplificação b) Deslocamento vertical em função do comprimento de onda para o sensor sem amplificação (pontos
azuis) e para o sensor com amplificação (pontos vermelhos).

B. Montagem Experimental da deformação, e um sensor FBG para medição de temperatura


com o objetivo de corrigir o efeito indesejável da temperatura
Para validar o conceito do sensor de deformação, foi montado sobre os outros sensores [3]. Para a proteção mecânica da barra
um protótipo do dispositivo sensor. O protótipo foi constituído de chata com os sensores, foram utilizados um tubo de aço inox e
uma barra chata de 230 mm de comprimento, com três sensores dispositivos de vedação apropriados.
FBG instalados na mesma, sendo um na região central e os ou-
tros na região central dos segmentos resultantes para a medição
100 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

A primeira versão do protótipo não apresentou resolução sufi- D. Instalação


ciente para a aplicação, razão pela qual foi necessária a implan-
tação de um sistema de amplificação da deformação da fibra. A A arquitetura do sistema de monitoramento é composta, basi-
comparação entre um sistema sensor sem e com o sistema de camente, por um interrogador de sensores FBG interligado por
amplificação pode ser vista na Figura 2 a) e Figura 2 b). uma rede de fibras ópticas a 2 (dois) dispositivos sensores ins-
talados na grade de adução. O controle do interrogador e aqui-
O conjunto de curvas à esquerda da linha vertical amarela na sição dos dados são realizados por um computador através de
Figura 2 a) representa as medições do sensor sem o dispositivo software específico.
de amplificação, enquanto que o conjunto de curvas à direita re-
presenta as medições do sensor com amplificação. Na Figura 2 Na Figura 4 a) o dispositivo sensor está instalado sem a pro-
b), a comparação pode ser observada através de um gráfico do teção na grade de adução, e na Figura 4 b) as proteções estão
comprimento de onda deslocamento pela flecha de compressão. presentes.

C. Resultados da validação laboratorial após a otimização III. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para validar o sistema sensor foram realizados, em laborató- Os resultados obtidos pelos sensores podem ser visualizados
rio, testes de compressão, conforme a Figura 3. numa tela com interface para operação e manutenção. A Figura
5 mostra uma imagem de uma das medições realizadas pelo
sistema, visualizada na tela de interface.

Figura 3. Aparato experimental da aplicação da força de compressão na re-


gião central da haste sensora.

a) b)

Figura 4. Dispositivo sensor instalado na grade de adução a) sem proteção, b) com proteção.

A Figura 6 apresenta o gráfico das medições dos comprimen- A. Considerações Finais


tos de onda do sensor FBG central do dispositivo sensor 1 para
um período de 8 (oito) dias. Na parte inicial do gráfico, é possível De posse de todas as informações obtidas, foi possível listar
ver uma zona estável, que representa a usina sem escoamento. as seguintes características do sistema de monitoramento da
Nas regiões próximas podemos ver variação no sinal, que repre- saúde estrutural da grade de adução da tomada d’água:
senta a variação na potência gerada pela turbina.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 101

- Sistema estanque: As fibras ópticas são sensíveis à pre- - Resolução adequada: Após ensaios laboratoriais, concluiu-
sença de água, sendo assim, é necessário que o sistema de se pela necessidade da utilização de amplificadores de defor-
encapsulamento do sensor seja estanque, uma vez que será uti- mação para que o sistema de interrogação pudesse realizar as
lizado em ambiente submerso e sob pressão hidráulica. Depois medições com resolução coerente para o monitoramento. Com a
de instalado, o sensor mostrou capacidade de estanqueidade implantação em campo, verificou-se que a aquisição dos dados
adequada, não sofrendo nenhuma avaria relacionada à entrada transcorreu com resolução adequada.
de água ou umidade.
- Sistema correlaciona diferentes grandezas: O software de-
- Robustez mecânica: O escoamento à montante traz consi- senvolvido para aquisição e interpretação dos dados dos senso-
go detritos que colidem diretamente sobre a grade e seus ele- res permite integração com o sistema de aquisição de dados já
mentos. Sendo assim, houve a necessidade de se projetar um utilizado pela equipe Tractebel Energia nas suas atividades de
sistema de proteção mecânica dos sensores e cabos ópticos. O rotina. Com isso, é possível relacionar a deformação da grade
sistema de proteção mecânica mostrou-se adequado mantendo de adução com dados importantes de perda de carga, potência
a integridade física dos cabos e sensores ópticos instalados so- da turbina e eficiência hidráulica entre outros.
bre a grade.
- Calibração feita para curvatura: O comportamento da gra-
- Faixa de operação adequada: De acordo com os cálculos de de adução em relação ao escoamento de fluidos à montante
analíticos e numéricos realizados no projeto e dos dados de corresponde a sua deflexão em forma de arco. O sensor projeta-
campo adquiridos, especificou-se um sensor óptico para traba- do para monitoramento desse comportamento foi calibrado em
lhar em flechas de deformação da ordem de 100 mm na grade laboratório para monitorar curvatura e tração nas fibras ópticas.
de adução. Essa faixa de operação se mostrou adequada com
os resultados de campo.

Figura 6. Resultados qualitativos da deformação da grade para diferentes


regimes de potência.

Figura 5. Interface do software de aquisição de dados.

IV. CONCLUSÕES As simulações realizadas empregando o método de elemen-


tos finitos foram extremamente importantes para definição da
Neste trabalho foi possível perceber que o grau de com-plexi- região para instalação das hastes sensoras e, além disso, cor-
dade que envolve o monitoramento da grade de adução da toma- roboraram com as informações disponibilizadas pelos técnicos
da d’água é muito elevado, principalmente devido à sua robus- e engenheiros da Tractebel Energia, adquiridas com as experi-
tez e às condições em que está imersa. Sendo assim, optou-se ências de inúmeras ocorrências e intervenções nas grades de
pela aplicação de sensoriamento óptico para o monitoramento adução.
da grade de adução, uma vez que a fibra óptica é um elemento Os resultados obtidos inicialmente comprovaram a eficiência
passivo e não requer alimentação. O grande desafio do projeto e robustez do sistema sensor, mostrando a sua funcionalidade
foi desenvolver um sistema de empacotamento capaz de pro- para esse tipo de aplicação, com possibilidade de instalação em
teger a fibra óptica e, ao mesmo tempo, sentir as deformações qualquer Usina Hidrelétrica de grande porte para monitoramento
da grade. De acordo com os ensaios laboratoriais realizados, o de grades de adução.
conjunto formado pelo tubo de proteção, barra chata e os senso-
res, denominado haste sensora, apresentou um comportamento
satisfatório, respeitando os limites de projeto para deformação
das grades de adução.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Best Practice Catalog Trash Racks and Intakes – HAP, 20011.
[2] R. c. Artega, C. J. C. Blanco, J. C. Leite – Anáilise para Diminuição das Peradas no Processo de Geração de Energia Elétrica da UHE – 1º CONEPRO – SUL, 2010.
[3] C. A. M. do Nascimento, SOMLT Sistema Óptico para Monitoramento em Tempo Real de Linhas Aéreas de Transmissão, XIX SNPTEE, 2007.
102 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

AES ELETROPAULO
Estudo e análise do dimensionamento
das malhas de terra e de neutro considerando
as frequências que influenciam no
comportamento das diversas topologias
em sistemas subterrâneos
Ermínio C. Belvedere1, André N. de Souza2, Maria G. Zago2, Danilo S. Gastaldello2,
Pedro da Costa Jr.2, José E. Rodrigues2, Antonio Valério Neto3 e Plácido A. Brunheroto4

Resumo – Este artigo apresenta os resultados finais do projeto desenvolvido pela AES-Eletropaulo em conjunto com a em-presa REDENEL,
UNESP-Bauru e CIENTISTAS. O objetivo principal foi estudar e analisar o dimensionamento das malhas de terra e de neutro, levando-se em con-
sideração as topologias utilizadas no sistema subterrâneo da AES Eletropaulo. Foi desenvolvido um sistema especialista (software PRSub) para
auxiliar o desenvolvimento de padrões técnicos mais adequados para o dimensionamento do sistema de aterramento, com possibilidade de inclusão
de novas funções e acesso adados do sistema da empresa, aumentando a confiabilidade do sistema e reduzindo prejuízos operacionais.

Palavras-chave – Curto-circuito, dimensionamento de malhas de aterramento, distribuição subterrânea de energia, sistema especialista.

I. INTRODUÇÃO tivos de proteção em pontos de transição de circuitos (aéreo/


subterrâneo). Considerando que o custo de instalação de novas
O método para desenvolvimento de padrões e monitoramen-
câmaras transformadoras tem participação dos consumidores,
to em sistemas de aterramento subterrâneos tem por finalidade
se faz necessário desenvolver e especificar sistemas de aterra-
identificar possíveis falhas nas malhas de aterramento da rede
mento mais baratos (reduzindo custos para o cliente), bem como
subterrânea. Tais falhas podem ocasionar graves problemas nos
proteger os sistemas de monitoramento eletrônicos que coletam
quadros de entradas dos consumidores: aquecimento de bar-
informações em tempo real das correntes e temperaturas, con-
ramentos e condutores, aumentando o risco de incêndios de
trole de parâmetros críticos para falha, supervisão de estados
grandes proporções. A falta dos aterramentos nas redes subter-
de operação de chaves, disjuntores e derivações com carga de
râneas pode comprometer também os requisitos de qualidade,
transformadores [1-3].
confiabilidade e economia.
Na AES-Eletropaulo, a potência instalada na rede subterrâ-
Outro problema que aflige as redes subterrâneas está relacio-
nea é de 1.300MVA, e atende a clientes com alta demanda, que
nado com a elevada incidência de furtos de cabos que afeta dire-
exigem cada vez mais qualidade no fornecimento de energia.
tamente o desempenho do sistema de aterramento. Uma correta
Assim, há necessidade de redes com características topológicas
gestão da rede visa reduzir esses prejuízos e evitar multas. Uma
e sistemas de aterramento mais confiáveis.
estratégia tecnicamente possível para aumentar a segurança e
reduzir os índices de falhas poderia ser implementada através
Diante disso, após o estudo dos parâmetros que influenciam
da interligação dos dispositivos de alarmes ao sistema SCADA.
na seção do neutro e na graduação da proteção, e levando em
consideração os equipamentos e a infraestrutura já disponíveis
Nos sistemas subterrâneos, a proteção é feita com disjun-
e os diferentes tipos de circuitos subterrâneos (Radial, Reticu-
tores e relés, os quais são componentes fundamentais para
lado, Híbrido e Anel), foi desenvolvido um sistema especialista
a confiabilidade do sistema, além de permitir um conveniente
para agregar as ferramentas necessárias para o cálculo da resis-
acesso aos cabos subterrâneos. Com o avanço da tecnologia, o
tência de aterramento de um conjunto de câmaras subterrâne-
número de componentes eletrônicos nos sistemas subterrâneos
as e da corrente de curto-circuito, sendo ambos os parâmetros
tem aumentado consideravelmente, havendo a necessidade de
fundamentais nas tomadas de decisão relacionadas a gestão,
melhoria das malhas de aterramento e implantação de disposi-
confiabilidade e segurança da rede de distribuição subterrânea.
Informações sobre o Projeto de P&D: ‘Estudo e Análise no Dimensionamento das Malhas
de Terra e de Neutro Considerando as Freqüências que Influenciam no Comportamento
II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
das Diversas Topologias em Sistemas - 0390-1065/2012’; Distribuição de Energia/Proteção;
‘AES Eletropaulo’; ‘UNESP, CIENTISTAS, REDENEL’; Serão apresentadas as etapas que compõem a pesquisa,
Investimento: ‘R$1.329.080,00’. alguns comentários dos ensaios em campo que embasaram o
1
AES Eletropaulo (e-mail: erminio.belvedere@aes.com). desenvolvimento dos cálculos do software, a apresentação do
2
UNESP – Univ Estadual Paulista (e-mails: andrejau@feb.unesp.br, mgzago@usp.br, dani- software e suas funcionalidades, além dos impactos econômicos
lo.gastaldello@usp.br, costajr@feb.unesp.br e joseeduardo.rodrigues@gmail.com). que o estudo proporcionou.
3
CIENTISTAS (e-mail: vale-rio@cientistas.com.br).
4
REDENEL (e-mail: pab@redenel.com.br).
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 103

Figura 1. Mini-poço de inspeção construído.

Figura 2. Mini-poço de inspeção – desenho civil.

A. Metodologia Empregada além de ajustes de entradas de dados mais condizentes com o


conhecimento das pessoas que usariam o sistema no seu dia a
Para um melhor desenvolvimento da pesquisa, o projeto foi dia, possibilitando um entendimento mais facilitado e um apro-
dividido em 8 (oito) etapas que se complementam para atingir veitamento melhor dos dados fornecidos pelo software. Estu-
da melhor forma os objetivos traçados. A seguir, uma pequena dou-se uma metodologia para cálculo de curto-circuito e criação
descrição das etapas realizadas. de outra funcionalidade do software. Foi nessa etapa, durante
a análises de simulações, que evidenciou-se que os conduto-
Inicialmente, houve a realização de um estudo de anterio- res de proteção (neutros e blindagens dos cabos) podem ser
ridade e um levantamento sobre alternativas de topologias de modificados com consequente redução de custos. Houve, ain-
aterramento, considerando a infraestrutura já existente na AES da, a apresentação dos resultados finais e a validação externa
Eletropaulo e os futuros investimentos no setor subterrâneo, com testes com usuários do produto. Por fim, foi realizado um
buscando melhorar a eficiência da proteção e dimensionamento Workshop, com treinamento da equipe que utilizará o sistema
com redução dos custos dos equipamentos utilizados atualmen- especialista com demonstração de todo desenvolvimento da
te com a automação das redes. Depois, ocorreu a avaliação das pesquisa, bem como as possibilidades de estudos futuros.
normas existentes de redes subterrâneas, normas de construção
civil e visita técnica das redes subterrâneas da AES Eletropaulo. B. Ensaios em Campo

Foi apresentada a metodologia de planejamento de siste- Foram construídos 2 (dois) mini-poços de inspeção, com a
ma para se desenvolver um software que satisfaça o cliente, e possibilidade de mudança de características de instalação (dife-
cumpra com todas as especificidades pré-estabelecidas, muitas rentes cabos de interligação, número de hastes e profundidade
vezes chegando a surpreender com suas funcionalidades adi- das hastes, por exemplo), com intuito de validação de metodo-
cionais. Procedeu-se a análise das topologias existentes na AES logia de cálculo de malha de aterramento e levantamento de da-
Eletropaulo com foco no sistema de cálculo de malha de ater- dos para estudos de curto-circuito. Foram utilizadas normas da
ramento e curto-circuito, para verificar possíveis mudanças de AES-Eletropaulo e estudos de malhas de aterramento [4 – 9].
planejamento e criação de novas metodologias de instalação de
novos sistemas. A Figura 1 apresenta uma imagem do mini-poço construído e
a figura 2 o desenho civil da mesma.
Foi instalado um projeto de câmara subterrânea com sis-tema
de aterramento integrado ao aço estrutural de dois mini poços Com os resultados dos ensaios, verificou-se a possibilidade
de inspeção na cidade de Capivari, na empresa AVR. Para va- de troca dos cabos de interligação entre os poços, sem perda
lidação da metodologia proposta para cálculo de resistência da das propriedades de proteção do sistema de aterramento.
malha de aterramento, foram realizadas medições nestes mini-
poços, alterando-se parâmetros como número de hastes, tipo de C. Apresentação do Software
cabo de interligação entre os poços, profundidade das hastes e
interligação dos poços com outras malhas de aterramento, entre O software PRSub foi desenvolvido para auxiliar no cálculo de
outros. resistência de malha de aterramento e cálculo de curto-circuito,
para melhorar os estudos e o planejamento de instalação de sis-
Foi apresentada a interface gráfica que seria utilizada e du- temas subterrâneos de energia.
rante as reuniões, foram feitas algumas mudanças de layout,
104 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 4. Logomarca do software PRSub.

Figura 3. Imagem da interface do PRSub com o usuário.

O uso do software possibilitará a tomada de decisões em rela- rança do sistema, fazem parte dos ganhos atingidos com o pro-
ção à escolha dos parâmetros do sistema de proteção das redes duto desenvolvido neste projeto de pesquisa.
subterrâneas, pois ele possibilita realizar um estudo em tempo
real da influência que cada um dos parâmetros do sistema tem III. CONCLUSÕES
em relação à resistência de aterramento e de curto-circuito, pos-
sibilitando a escolha da melhor configuração em relação ao cus- O Projeto de Pesquisa denominado “Estudo e Análise do Di-
to, sem perder a segurança necessária para ter uma boa quali- mensionamento das Malhas de Terra e de Neutro Considerando
dade de fornecimento. as Frequências que Influenciam no Comportamento das Diver-
sas Topologias em Sistemas Subterrâneos” gerou como produto
Na Figura 3 é apresentado uma tela da interface do software um software (PRSub) que tem como característica ser monousu-
com o usuário e a simulação de um circuito simples com 2 (duas) ário, de fácil usabilidade e com funcionalidades de calcular a re-
câmaras e as propriedades de acesso para estudo dos parâme- sistência de malha de aterramento e curto-circuito, avaliando os
tros da instalação do sistema em estudo. A Figura 4 apresenta a parâmetros que influenciam no sistema. Além do software, foram
logomarca do software. gerados relatórios técnico-científicos, que apresentam todo o
desenvolvimento da pesquisa, apresentando os conhecimentos
D. Impactos Econômicos teóricos adquiridos, bem como explicando de forma detalhada
como são realizados todos os cálculos que são apresentados na
Por meio dos estudos realizados durante o projeto, vislumbrou- interface gráfica do software.
-se a possibilidade de troca de cabos de cobre por cabos de aço co-
breado, o que acarretaria uma redução de mais de R$600.000,00 Após a apresentação do projeto em um Workshop aos téc-
por ano, devido à redução no número de furtos de cabos, e a nicos e engenheiros da área de planejamento, verificou-se a
redução para instalação de sistema de malhas de aterramento. possibilidade de utilização do mesmo durante a fase de estudo
de novos projetos, e a possibilidade de inclusão de novas ferra-
Além disso, benefícios intangíveis como aumento da satis- mentas ao software, o que ajudaria muito na tomada de decisão,
fação do cliente perante a melhora da qualidade dos serviços principalmente devido à interligação do software com o Google
prestados, e benefícios ambientais devido à melhora da segu- Maps e com o banco de dados da empresa.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] V. Dimcev, B. Handjiski, e R. Sekerinska, “Alternative fall-of-potential method for grounding grids impedance measurements and inductive coupling between leads,” in Electromagnetic Compa-
tibility, 2003. EMC ‘03. 2003 IEEE International Symposium on, vol. 1, pp. 74-77 Vol.1, 2003.
[2] F. Delfino, R. Procopio, M. Rossi, F. Rachidi, e C. Nucci, “An Algorithm for the Exact Evaluation of the Underground Lightning Electromagnetic Fields,” Electromagnetic Compatibility, IEEE
Transactions on, vol. 49, n. 2, pp. 401-411, 2007.
[3] M. Omidiora e M. Lehtonen, “Simulation performance of lightning discharges around medium voltage underground cables,” in Universities Power Engineering Conference (UPEC), 2009 Pro-
ceedings of the 44th International, pp. 1-5, 2009.
[4] “ABNT NBR 7117 - Medição da resistividade e determinação da estratificação do solo.” Associação Brasileira de Normas Técnicas, 19-Aug-2012.
[5] IEEE-SA Standards Board, “IEEE Guide for Safety in AC Substation Grounding IEEE Std 80-2000 (Revision of IEEE Std 80-1986).” Institute of Electrical & Electronics Engineers (IEEE), 2000.
[6] S. J. Schwarz, “Analytical Expressions for the Resistance of Grounding Systems,” Power Apparatus and Systems, Part III. Transactions of the American Institute of Electrical Engineers, vol.
73, no. 2, pp. 1011–1016, 1954.
[7] S. W. Kercel, “Design of Switchyard Grounding Systems Using Multiple Grids,” IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, vol. PAS-100, no. 3, pp. 1341–1350, Mar. 1981.
[8] ABNT, “NBR 10160:2005 - Tampões e grelhas de ferro fundido dúctil - Requisitos e métodos de ensaios.” Associação Brasileira de Normas Técnicas, 30-Sep-2005..
[9] ABNT, “NBR 5738:2003 - Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova.” Associação Brasileira de Normas Técnicas, 30-Dec-2003.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 105

CELESC
Ferramenta de detecção, localização,
isolação e recomposição de faltas
em ambientes Smart Grid
Rafael Z. Homma 1, Rodrigo C. de Andrade 1 e Igor K. Khairalla 1
Tiago T. dos Santos 2, Lucas L. dos Santos 2, Rafael K. Pavão 2, Flavio Antônio B. Lemos 2

Resumo – Este artigo apresenta uma ferramenta computacional desenvolvida para auxiliar os operadores de centros de controle de redes de distri-
buição de energia elétrica nas tarefas de detecção, localização e recomposição de faltas permanentes. A ferramenta desenvolvida aplica o conceito
de integração generalizada de dados (data fusion), possibilitando o uso de informações disponíveis no ambiente corporativo da empresa, reduzindo
significativamente os custos relacionados à infraestrutura e implantação do sistema. Atualmente o projeto se encontra em operação em uma região
piloto da Celesc Distribuição S.A. Neste trabalho também são apresentadas as funcionalidades desenvolvidas e os resultados preliminares obtidos
em situações reais, bem como o potencial de seu impacto na melhoria dos indicadores DEC, DIC, DMIC, TMP, TMD e TMA.

Palavras-chave – Data Fusion, FLISR, IEC 61970, Smart Grid.

I. INTRODUÇÃO lacionada à infraestrutura, hardware, licenciamento de software


e serviços de implantação e comissionamento, a integração de
Tradicionalmente, a operação de sistemas de distribuição de informações entre sistemas existentes resulta em uma boa re-
energia elétrica é extremamente dependente da atividade huma- lação custo x benefício, e possibilita melhorias significativas em
na, possuindo poucos recursos de automação e telecontrole, o processos e procedimentos de diferentes setores [2].
que a torna um processo lento e suscetível a falhas. Um exem-
plo típico do impacto causado por essa característica são os Diante desse contexto, este trabalho apresenta o software
eventos não planejados de desenergização. Em tais situações, chamado de SMARTFIX, o qual foi resultante de um projeto de
a concessionária depende do contato telefônico de um conjunto P&D desenvolvido para tornar mais eficientes os processos de
de consumidores para identificar a abrangência e a gravidade do detecção, localização, isolamento e restabelecimento de faltas
problema, para só então deslocar uma equipe para averiguar a em tempo real, utilizando como base informações comumente
ocorrência. Cada etapa desse processo demanda tempo, gera disponíveis nos modernos Centros de Controle da Distribuição
transtornos para a sociedade e prejudica os indicadores de con- (CODs).
tinuidade da distribuidora.
II. IDENTIFICAÇÃO DOS DADOS DE ENTRADA

A modernização e automação dos sistemas de medição, pro- A primeira etapa da pesquisa consistiu em identificar os prin-
teção e controle têm disponibilizado uma grande quantidade de cipais sistemas com informações importantes para a realização
dados dentro do ambiente corporativo das empresas distribui- das tarefas de um sistema FLISR (Fault Location, Isolation and
doras [1]. É natural que, à medida em que os sistemas se con- Service Restoration). Do sistema SCADA (Supervisory Control
solidem em seus setores específicos, seja realizada uma nova and Data Acquisition), foram identificadas as informações pro-
etapa de melhoria através do cruzamento de dados de diferen- venientes dos equipamentos supervisionados na rede de média
tes sistemas, iniciando-se assim um novo processo de aprimora- tensão. Deles foram selecionadas medidas de potência, tensão,
mento integrado da empresa. corrente de falta, religamento, proteção de sobrecorrente, grupo
de ajuste e estado do equipamento (aberto e fechado).
Uma vez que os recursos destinados pelas empresas em
modernização e implantação de sistemas computacionais são Do sistema de OMS (Outage Management System), foram
limitados, e que os mesmos devem apresentar um retorno fi- selecionadas as medidas de indicação de sensibilização de equi-
nanceiro atrativo, fica evidente que quanto maior for a utilização pamento de proteção, calculada a partir dos chamados do Call
das informações existentes, maior será seu impacto dentro da Center, e a indicação de manobras em equipamentos sem su-
corporação. Como a maior parte de tais investimentos está re- pervisão. Do sistema MDMS (Meter Data Management System),
foram selecionadas as medidas elétricas de tensão, corrente e
Metodologia de Recomposição Automática de Redes de Distribuição Utilizando Fontes Mis- potência ativa e reativa trifásica e a indicação instantânea de
tas de Informação para Detecção e Localização de Faltas em Ambientes Smart Grid. Cód. presença de tensão. Também foi identificado que todas as in-
ANEEL 5697-1010/2011; Supervisão, controle e proteção de sistemas elétricos; Celesc Dis- formações deveriam ser contextualizadas com as informações
tribuição S.A.; PowerSysLab Eng. E Sist. Ltda.
cadastrais contidas nos sistemas GIS (Geographic Information
Investimento: R$ 1.516.231,00.
System) e CIS (Customer Information System), permitindo as-
1
‘Celesc Distribuição S.A.’ (e-mails: rafaelzh@celesc.com.br; rcandrade@celesc.com.br;
igorkk@celesc.com.br). sim a modelagem elétrica, de carregamento do sistema e sua
2
‘PowerSysLab Engenharia. e Sistemas Ltda.’ (e-mails: tiago.santos@powersyslab.com; visão espacial.
lucas.lorensi@powersyslab.com; rafa-el.pavao@powersyslab.com; flavio.lemos@powersys-
lab.com).
106 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 1. Arquitetura do sistema.

Figura 2. Tela de análise de ocorrências.

Figura 3. Tela de localização e recomposição de falta.


P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 107

III. BARRAMENTO DE DADOS COMO FORMA DE minado grau de confiança da falta estar no respectivo bloco (µf).
INTEGRAÇÃO Levando-se em consideração o tipo da falta, calcula-se a máxi-
ma e mínima corrente de curto-circuito possível para cada bloco,
Como elemento centralizador das informações selecionadas, considerando uma faixa de impedâncias de falta estimada em
foi escolhido o sistema SCADA/DMS/EMS (Distribution Mana- valores históricos. Utilizando uma metodologia fuzzy, com base
gement System e Energy Management System), existente no no valor das correntes de curto-circuito calculadas e amostra-
COD da empresa. Tal sistema foi escolhido por disponibilizar um das, é então determinado o grau de confiança da falta estar ou
conjunto de funcionalidades abertas e de fácil manutenção, pos- não no bloco de carga. Para os casos nos quais exista 100% de
sibilitando a integração de informações on-line e de tempo real certeza sobre o bloco de carga em que ocorreu a falta, poderá
entre os diversos sistemas da empresa. O sistema SCADA e ser dada a sequência de isolamento e recomposição do sistema.
seus módulos de EMS utilizam uma arquitetura baseada na nor-
ma CIM 61970 [3], tornando o produto da pesquisa um software C. Metodologia de Isolamento
independente e integrável a outros ambientes SCADA.
Com base nos blocos de carga e seus respectivos µf, utili-
A. Acoplamento do Módulo FLISR zando uma metodologia baseada em programação dinâmica, a
rotina de isolação determina o menor número de manobras que
A ferramenta computacional desenvolvida no projeto foi aco- devem ser executadas para isolar o trecho sob falta do sistema.
plada à estrutura de barramento de dados do SCADA/EMS/ As ordens de manobra podem ser executadas remotamente via
DMS. Isso garantiu que o mesmo tenha acesso tanto às infor- SCADA (quando todos os dispositivos possuem telecontrole) ou
mações cadastrais quanto às informações de tempo real dispo- podem ser despachadas para equipes de campo.
nibilizadas pelos diversos sistemas existentes na empresa. A in-
tegração com esse ambiente garante padronização na forma de D. Metodologia de Recomposição
acesso e possibilita que as tarefas de importação e sincronismo
sejam executadas em apenas um local. Como o módulo desen- Após a execução da rotina de isolação, é necessário reener-
volvido executa funções de detecção, localização e isolamento gizar os blocos de carga sadios que ainda estão fora de serviço.
de faltas, bem como funções de recomposição, todos os dados Para isso, a rotina de reconfiguração utiliza uma metodologia
necessários para a execução desses algoritmos são acessados baseada em programação dinâmica cujo objetivo é maximizar o
através da mesma estrutura. A Figura 1 apresenta a arquitetura número de consumidores restabelecidos, levando-se em consi-
do sistema de tempo real criada. deração uma ponderação em função da classe de cada consu-
midor. Podem ser restrições do problema de reconfiguração a
IV. METODOLOGIAS DESENVOLVIDAS corrente máxima permissível em chaves e trechos dos alimenta-
dores, limites de tensão máximos e mínimos, além da coordena-
A. Metodologia de Detecção de Falta ção do sistema de proteção.

Para detectar faltas no sistema, foi desenvolvida uma me- E. Software SMARTFIX
todologia baseada em uma rotina de inferência fuzzy capaz de
identificar a atuação permanente de dispositivos não monitora- As metodologias desenvolvidas foram integradas a um
dos a jusante de um monitorado. Para isso, foram utilizados os software chamado SMARTFIX. Esse software é composto por
valores de carregamento de pré e pós falta, os valores de potên- um Web Server, o qual concentra todas as ocorrências detec-
cia calculados para elementos sem supervisão pelo estimador de tadas e os resultados obtidos pelo FLISR em tempo real. Os
estados do SCADA/EMS/DMS, as ocorrências do sistema trou- operadores do COD acessam esse sistema via browser e podem
ble call e as informações dos AMRs (Automatic Meter Readings). verificar as ocorrências suspeitas, as ocorrências confirmadas, a
localização da falta e a sequência de manobras calculada para
Após a ocorrência de uma falta transitória, a primeira informa- isolar e recompor o sistema. O ambiente foi integrado a platafor-
ção a ser tratada pela rotina fuzzy são as medidas de potência ma Google Maps TM, o que facilita o despacho das equipes e a
ativa de pré e pós falta. Os dois valores provenientes do sistema interpretação dos resultados obtidos.
SCADA são comparados e a diferença é avaliada com base em
uma faixa de variação esperada para tal variável. O conceito uti- V. RESULTADOS OBTIDOS
lizado para a análise do desvio é similar à técnica de Bollingers
Bands [4]. Uma variação significativa de carga após uma falta Para validar os resultados obtidos pela aplicação da metodo-
transitória indica uma possível falta permanente em algum ramal logia, foram selecionados eventos históricos de atuação da pro-
à jusante do dispositivo monitorado, a qual pode ser rapidamen- teção, permitindo comparar os tempos demandados e o impacto
te confirmada com o sinal proveniente do AMR ou uma ligação que a aplicação da metodologia resultaria caso tivesse sido apli-
do Call Center. cada. Na Tabela I é apresentado um evento de atuação de reli-
gamento que sinalizou a atuação de um dispositivo de proteção
B. Metodologia de Localização da Falta não monitorado a jusante.

Com base na configuração no instante anterior à ocorrência


da falta e nas informações do SCADA, o algoritmo modela o sis-
tema hierarquicamente em blocos de carga, atribuindo um deter-
108 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Tabela I: Sequência de eventos para a atuação transitória de um dispo- No exemplo apresentado, as lógicas de detecção de dese-
sitivo de proteção monitorado. nergização do OMS, que são baseadas apenas no agrupamento
Estampa de Tempo Medida Valor Fase das ocorrências atendidas pelo Call Center, levou 29 minutos
12:09:44,944 FaultCurrent 1211 A para identificar a falha na correta zona de proteção (606). Con-
siderando que a primeira ocorrência do Call Center foi atendida
12:09:44,944 FaultCurrent 100 B
5 (cinco) minutos após a ocorrência da falta, o segundo estágio
12:09:44,944 FaultCurrent 976 C
de blocos fuzzy foi capaz de identificar a zona 606 em apenas
12:09:48,948 State 0 ABC 5 (cinco) minutos, representando uma redução de tempo de
12:09:48,948 51Trip 1 A identificação de 82,7%, tendo um impacto direto nos indicado-
12:09:48,948 51Trip 0 B res DEC, DIC e TMP. Além disso, o algoritmo de localização de
faltas tem reduzido em até 62% o comprimento de rede a ser
12:09:48,948 51Trip 1 C
percorrido pelas equipes, impactando diretamente o TMD e, por
12:09:54,954 State 1 ABC consequência, o TMA.

A Tabela II apresenta o valor das variáveis elétricas antes e depois do


evento VI. CONCLUSÕES
Var Fase Valor Pré Falta Valor pós Falta
A concentração de informações em um barramento de da-
I A 54,1 A 45,2 A
dos padronizado, baseado em IEC 61970, possibilitou o melhor
I B 66,7 A 54,3 A aproveitamento da infraestrutura já existente na empresa, redu-
I C 55,8 A 43,9 A zindo os custos de implantação e permitindo sua portabilidade
P ABC 1359 kW 1179 kW para outros centros de controle. Através da utilização de dados
Q ABC 381 kVar 182 kVar de múltiplas fontes, foi possível aprimorar significativamente os
processos de detecção e localização de faltas, possibilitando
Durante a ocorrência da falta, a potência ativa apresentou melhorias significativas que terão impacto direto nos indicadores
uma variação de 180 kW em um intervalo de 5 (cinco) segundos. DEC, DIC, DMIC, TMP, TMD e TMA da empresa.
A Tabela III apresenta os resultados gerados pelo primeiro es-
tágio de blocos fuzzy, indicando um valor de grau de confiança A metodologia de isolação e restabelecimento está sendo va-
de 0,66 para a zona de proteção 4272 e 0,67 para a zona de lidada pelos operadores, e ainda não é possível determinar o im-
proteção 606. pacto proporcionado por ela. Após completa validação na região
piloto, o sistema deverá ser expandido para as demais regionais
A Tabela III. Resultado do primeiro estágio da rotina de inferência fuzzy. da Celesc Distribuição.
Var Fase Valor Pré Falta Valor pós Falta
VII. AGRADECIMENTOS
I A 54,1 A 45,2 A
I B 66,7 A 54,3 A Os autores agradecem à CELESC Distribuição S.A. e à
I C 55,8 A 43,9 A Powersyslab Engenharia e Sistemas Ltda., pela confiança e
P ABC 1359 kW 1179 kW apoio financeiro para a execução deste projeto de pesquisa.
Q ABC 381 kVar 182 kVar

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] J. Northcote-Green, R. Wilson, 2007, Control and Automation of Electrical Power Distribution Systems, CRC Press, Boca Raton, FL, USA.
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[4] C. D. Kirkpatrick, J. R. Dahlquist, 2010, Technical Analysis: The Complete Resource for Financial Market Technicians, FT Pres, USA.
Segurança

COELBA
Desenvolvimento de coberturas rígidas
fotoluminescentes para realização
de atividades em linha viva noturna
Edemir L. Kowalski 1, Guilherme R. Hernaski 1, Victor S. Borges 1, Rafael P. Machado 1, Daniel H. M. Detzel 1, Fábio A. Guerra 1, José A.
Teixeira Junior 1, Marilda Munaro 1, Dailton P. Cerqueira 2, Marcondes J. Varjão 2, Patrícia N. Duarte 2,
Alexandre M. Silva 3, André L. M. Silva 3, Ronaldo A. Roncolatto 3, Florami L. Sá 3

Resumo – Nas grandes cidades, o movimento de pedestres e veículos dificulta e , às vezes, até mesmo impede a realização dos serviços de manu-
tenção com a rede energizada. Sendo assim, algumas concessionárias distribuidoras de energia elétrica vêm realizando estudos para a viabilização
do serviço de manutenção com a rede energizada no período noturno. Na manutenção com a rede energizada, utilizam-se procedimentos e equipa-
mentos que garantam a segurança do eletricista, e, dentre esses equipamentos, tem-se as coberturas rígidas, as quais necessitam ter propriedades
mecânicas e elétricas que possam garantir sua aplicabilidade. Com isso, o presente artigo tem como foco a avaliação de novos materiais, design e
garantia de funcionamento de coberturas rígidas fotoluminescentes para aplicação em trabalhos noturnos.

Palavras-chave – Equipamentos para linha viva; ensaios periódicos; materiais fotoluminescentes; polietileno; serviço de manutenção.

I. INTRODUÇÃO que necessita intervenção em vias públicas é restrito à manuten-


ção apenas no período noturno [1].
O serviço em linha viva pode ser realizado em qualquer parte
da rede de distribuição, desde que as tarefas a serem executa- No projeto PD0047-0032/2010 “Desenvolvimento de metodo-
das tenham metodologia e procedimentos seguros, bem como logia e ferramental para realização de serviço em linha viva no-
o ferramental necessário. Porém, nas grandes cidades, o movi- turno”, obteve-se formulação para cobertura rígida de postes e
mento de pedestres e veículos dificulta ou até mesmo impede a condutores com características fotoluminescentes, fosforescen-
realização desses serviços no período diurno. Ocorre que parte tes e fluorescentes, objetivando a realização de atividades em
desses serviços de manutenção poderia ser realizada durante a linha viva no período noturno, em função da legislação municipal
madrugada, nos momentos de menor circulação de pedestres e da cidade de Salvador, que estabelece que as manutenções em
veículos, garantindo a segurança dos pedestres sem prejudicar vias públicas devam ser realizadas no período noturno.
o movimento do local. Além disso, existe uma legislação própria
para o município de Salvador (BA), que estabelece o trabalho Para a execução das atividades em linha viva, há necessida-
de de isolamento dos cabos energizados adjacentes ao ponto
de trabalho, bem como das partes da estrutura que são con-
PD 0047-0071/2012 ‘Projeto cabeça de série desenvolvimento de coberturas rígidas foto-
sideradas como aterradas, a exemplo de postes e cruzetas. O
luminescentes e/ou fosforescentes para realização de atividades em linha viva noturna’;
isolamento tanto dos postes e cruzetas quanto aos condutores
SE04;‘Coelba; ‘Institutos Lactec e FEERGS;
‘Investimento (R$) 3.097.514,00’.
são feitos por meio de coberturas rígidas circulares e longilíneas,
1
‘Institutos Lactec’ (e-mail: edemir@lactec.org.br).
confeccionadas, normalmente, em polietileno de alta densidade
2
‘Coelba’ (e-mail: dcerqueira@coelba.com.br). (PEAD), polietileno de baixa densidade (PEBD) e polipropileno
3
‘FEERGS’(e-mail: amullers@terra.com.br). (PP) em cor laranja. Para as atividades no período diurno, essas
110 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

coberturas são fabricadas e vendidas comercialmente; porém, poderá ser aplicado tanto em atividades diurnas quanto notur-
para a realização de atividades no período noturno, sua colora- nas. Deve-se ressaltar que atualmente, no Brasil, existem dois
ção não é suficiente para garantir a visualização por parte dos fabricantes de coberturas rígidas, abrindo-se a possibilidade de
eletricistas das regiões que se encontram isoladas, e merecem se desenvolver um terceiro fabricante nacional.
especial atenção durante a manutenção.
II. DESENVOLVIMENTO DA FORMULAÇÃO
Os materiais fotoluminescentes podem apresentar duas ca-
racterísticas distintas: no caso dos materiais fluorescentes ao A. Confecção de amostras.
receberem a incidência da radiação luminosa, eles a absorvem
e a irradiam em intervalos de tempo muito reduzidos garantindo Como as principais coberturas rígidas disponíveis no merca-
a sua visualização na presença de luz; os materiais fosfores- do são fabricadas de polietileno de alta densidade (PEAD), esse
centes, ao absorverem a radiação ambiente, armazenam essa material foi utilizado com a adição de aditivo antioxidante e um
energia e, no período noturno, irradiam-na e ficam visíveis sem composto fotoluminescente, fosforescente ou fluorescente.
a necessidade de incidência de radiação luminosa.
A mistura das amostras foi realizada por meio de um processo
Deve-se ressaltar que não existem, no mercado mundial, mecânico, utilizando homogeneizador, modelo Draiz MH 100, fa-
equipamentos com essas características aplicados a material de bricado pela MH Equipamentos. A homogeneização foi realizada
linha viva – inéditos, portanto. Para sua fabricação, houve ne- por um período de 20 (vinte) segundos em baixa rotação e 30
cessidade de confecção de matrizes para realização da injeção (trinta) segundos em alta rotação. A cada homogeneização fo-
do polímero formulado e, assim, obter desse produto caracterís- ram obtidos 100 g de material.
ticas funcionais e comerciais desejadas. O produto desenvolvido

a) b)

c)

Figura 1. Resistência mecânica à tração. (a) sem envelhecimento térmico; (b) envelhecimento térmico a 70°C; (c) envelhecimento térmico a 90 °C.

B. Envelhecimento térmico. foi realizado conforme norma ASTM D5510-94 [3].

C. Resistência mecânica à tração.


Para realizar o envelhecimento térmico das amostras, foram
utilizadas duas estufas: uma delas da marca Fanem modelo 320
Para o ensaio de tração mecânica, foram recortados dois fil-
SE, e a outra comercializada pela empresa Deleo Equipamentos
mes finos, corpos de prova tipo tiras com 100 mm x 10 mm,
Laboratoriais. As amostras foram envelhecidas termicamente
conforme norma ASTM D 6385 [4]. O equipamento utilizado foi
por períodos de 7 (sete) e 14 (quatorze) dias na estufa, com
um INSTRON modelo 4467, com célula de carga de 100 kgf, dis-
temperatura média de 70°C e 90 ºC. O envelhecimento térmico
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 111

tância entre garras de 50 mm e velocidade de tração de 10 mm/ limite de resistência à tração para as duas formulações, porém
min. O ambiente onde foi realizado o ensaio teve temperatura pouco significativo.
e umidade controladas em 25°C e 60%, respectivamente. Para
cada formulação e tem-po de envelhecimento térmico foram uti- No limite de resistência à tração com o tempo de envelheci-
lizados 5 (cinco) corpos de provas, e o resultado apresentado é mento, observa-se redução da resistência à tração com o tempo
uma média dessas 5 (cinco) medidas. de envelhecimento, tanto para as amostras envelhecidas termi-
camente a 70°C e 90°C. Porém, verifica-se que essa redução
Na Figura 1, são apresentados os comportamentos da ten- ocorre para todas as formulações estudadas, ou seja, a adição
são máxima para as amostras de polietileno com antioxidante e do aditivo fotoluminescente não interfere significativamente no
das formulações aditivadas com material fotoluminescente sem envelhecimento do polietileno com antioxidante.
e com envelhecimento.
A. Confecção das coberturas
De modo geral, observa-se que não ocorreu alteração sig-nifi-
cativa na propriedade mecânica do polietileno com anti-oxidante As amostras foram injetadas com detalhes presentes em
quando foram adicionados os aditivos fotoluminescentes. Na relatório técnico apresentado a COELBA [13], e que não serão
curva do limite de resistência à tração em relação à porcenta- apresentados neste trabalho por questões de proteção industrial
gem de aditivo fotoluminescente, pode-se observar que, para o e comercial. Essas amostras podem ser observadas na Figura
aditivo fosforescente, há uma redução do limite de resistência à 2. As coberturas circulares e de condutor foram injetadas com
tração para ambas as porcentagens, se comparadas com a ma- polímero base PP e PE.
triz polimérica. No aditivo fluorescente, visualiza-se aumento do

a)
b)
Figura 2. Em (a) observa-se a cobertura de condutor e em (b) as coberturas circulares.

a) b)

Figura 3. Em (a) observa-se a cobertura fosforescente sob o balde, e, embaixo, uma cobertura normal sob situação de iluminação de lâmpadas. Em (b) observa-se
a mesma imagem sem iluminação de lâmpadas onde pode se observar a cobertura fluorescente, e a cobertura normal não é observada.
112 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

B. Ensaios elétricos de tipo. 3) Ensaio de Flashover

Como determina a norma ASTM F 968 [9] e ASTM F712 [10], Neste ensaio utiliza-se, por recomendação da norma de re-
foram realizados os ensaios elétricos de tensão aplicada, tensão ferência, eletrodo interno à cobertura tubo de material condutor
de flashover e medida de corrente elétrica de fuga. com diâmetro entre 6,40 mm e 19,1 mm. O eletrodo externo de-
verá cobrir a máxima área possível, limitada pela distância em
1) Ensaio de tensão aplicada que se inicia o flashover, de forma a possibilitar que seja aplica-
Nesse ensaio utiliza-se, por recomendação da norma de refe- da a tensão de testes fase-terra de 25,0 kV.
rência, eletrodo interno à cobertura um tubo de material condutor A tensão deverá ser elevada a uma taxa de 1 kV AC/s até
com diâmetro entre 6,40 mm e 19,1 mm. O eletrodo externo deverá a tensão de 25 kV, e não poderá ser observado o flashover. A
cobrir a máxima área possível, limitada pela distância em que se norma não recomenda tempo, somente a elevação da tensão;
inicia o flashover, de forma a possibilitar que seja aplicada a ten- porém, nos ensaios realizados, a tensão foi mantida em 25 kV
são de teste fase-terra de 24,0 kV pelo tempo de 1 (um) minuto. pelo tempo de 1 (um) minuto. Todas as coberturas circulares e
de condutor não apresentaram processos de flashover, tendo,
Todas as coberturas foram aprovadas nesse critério. portanto, sido aprovadas neste critério.

2) Ensaio de corrente elétrica de fuga Mesmo não sendo recomendado pelas normas de referência,
realizou-se teste no qual, inicialmente, foi aplicada a tensão de
Os ensaios elétricos foram realizados para coberturas rígidas 24 kV pelo tempo de 5 (cinco) minutos, e, na sequência, a tensão
isolantes de classe 3, tendo como tensão máxima de uso fase- foi elevada até o momento em que se iniciam os processos de
-fase de 26,5 kV e fase-terra de 15,3 kV. flashover, em função da distância entre o eletrodo de potencial e
o eletrodo de terra. A tensão onde iniciou-se o processo foi de 46
Em relação aos ensaios elétricos realizados nas coberturas kV, seguida do desarme da fonte.
de condutor e circular, pode-se dizer que tanto as injetadas com
o polietileno quanto as injetadas com polipropileno estão de
acordo com a recomendação da norma técnica, e com compor-
tamento elétrico similar às comercializadas atualmente.

a) b)

Figura 4. Em (a) observa-se a cobertura fosforescente sob o balde, e, embaixo, e uma cobertura normal sob situação de iluminação de lâmpadas. Em (b) observa-
-se a mesma imagem sem iluminação de lâmpadas, onde pode se observar a cobertura fosforescente, e a cobertura normal não é observada.

C. Avaliação do efeito de fotoluminescência que os mesmos foram plenamente atingidos, inclusive com re-
sultados além dos inicialmente esperados. O principal objetivo
Foram realizados testes em laboratório para avaliação da fo- do projeto era entregar à COELBA 100 conjuntos de cada tipo
toluminescência dos protótipos confeccionados, o que pode ser de cobertura com características fotoluminescentes. Tal objeti-
observado na Figura 3 e Figura 4. vo foi atingido, acrescentando-se a possibilidade de fabricação
da cobertura com formulação para os produtos convencionais,
Os resultados obtidos na avaliação da fotoluminescência das além de ter-se desenvolvido o fabricante que se encontra apto a
coberturas mostraram que as características esperadas para o fabricar e comercializar o produto em grande escala. Esse fato
produto foram atendidas. demonstra que, no projeto enquadrado como cabeça de série,
foram alcançadas as fases seguintes da cadeia de inovação,
IV. CONCLUSÕES ou seja, já se avançou na fase lote pioneiro e inserção no mer-
cado, com entrega para a COELBA do produto finalizado. Tal
Com relação aos objetivos propostos no projeto, verifica-se resultado apresenta, para a COELBA, uma redução do tempo
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 113

de pesquisa e economia de recursos de P&D em duas fases da V. AGRADECIMENTOS


cadeia de inovação.
Os autores agradecem à COELBA e à ANEEL pelo financia-
Foi assinado contrato entre a COELBA, LACTEC e FEERGS, mento do projeto, ao LACTEC pela infraestrutura dada aos pes-
estipulando que a última irá realizar a fabricação e comercializa- quisadores, ao CNPq pelo incentivo da lei 8010/90 e à FEERGS,
ção das coberturas desenvolvidas no projeto. pelo auxílio no desenvolvimento da ferramenta hidráulica

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Lei N° 5354/98: Dispõe sobre sons urbanos, fixa níveis e horários em que será permitida sua emissão, cria a licença para utilização sonora e dá outras providências. [Online] Disponível: http://
leismunicipa.is /thjma.
[2] G. R. Hernaski, “Preparação e avaliação de formulações termoplásticas com aditivos fotoluminescentes para aplicação em coberturas rígidas utilizadas na manutenção de redes energizadas”,
Dissertação de mestrado, UFPR PIPE – Programa de pós-graduação em engenharia e ciência dos materiais, Curitiba, 2013.
[3] Standard practice for heat aging of oxidatively degradable plastics. ASTM D5510-94, 1994.
[4] Standard test method for tensile properties of plastics, ASTM D 638, 1991.
[5] Standard test method for plastics: dynamics mechanical properties: in tension, ASTM D 5026-01., 2001.
[6] Standard test methods for dielectric breakdown and dielectric strength of solid electrical insulating materials at commercial power frequencies. ASTM D149-09, 2009.
[7] Terex/Ritz do Brasil. Disponível: http://www.terexritz.com/
[8] Leal indústria & comércio. Disponível: http://www.leal.com.br/
[9] Standard Specification for Electrically Insulating Plastic Guard Equipment for Protection of Workers ASTM F968-93, 1993.
[10] Standard Test Methods and Specifications for Electrically Insulating Plastic Guard Equipment for Protection of Workers ASTM F712-06, 2006.
[11] Rigid protective covers for live working on a.c. installations. IEC 61229 Edition 1.2 2002-06, Jun. 2006
[12] Integrated engineering software. Disponível: https://www.integratedsoft.com/
[13] Relatório Técnico Final PD-0047-0071/2012.
114 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

COELBA
Ferramenta hidráulica para aplicação
de conector cunha, prensa
terminal e corte de cabos
Edemir L. Kowalski , Rafael P. Machado 1, Guilherme R. Hernaski 1, Marcelo A. Ravaglio 1, Víctor S. Borges 1, Dailton P. Cerqueira , Kátia C. F. Xavier 2,
Isaú O. Nascimento 2, Jair N. Alves 2, Erival N. de Almeida 2, Alexandre M. Silva e André L. M. Silva 3

Resumo – Um dos maiores problemas existentes na manutenção de redes elétricas refere-se às conexões elétricas entre cabos normalmente rea-
lizadas por meio de conectores do tipo cunha. Segundo dados da Companhia de Eletricidade do Estado Bahia (COELBA), cerca de 20% das cha-
madas de equipe de manutenção atendem problemas de conexão vindas desse tipo de conector. Considerando que os conectores não apresentam
problemas, estudos de campo mostram que o grande complicador do perfeito funcionamento desse dispositivo se refere à sua forma de aplicação.
Neste projeto foi desenvolvida uma ferramenta de aplicação de conectores cunha, com os acessórios para corte de cabos e prensa terminal com
acionamento por meio de baterias e funcionamento hidráulico. Os ensaios realizados com a ferramenta desenvolvida foram comparativos a ferra-
mentas comerciais. Os resultados dos testes e validação em campo demonstraram que o produto desenvolvido apresenta resultados equivalentes
às demais ferramentas, quando aplicado corretamente.

Palavras-chave – Acionamento hidráulico; conectores cunha; corte de cabos; manutenção redes de distribuição; prensa terminal.

I. INTRODUÇÃO Todas as opções de mercado nacional e estrangeiro foram


levantadas; optou-se, porém, pelo desenvolvimento de um equi-
Um dos grandes problemas existentes na manutenção de re- pamento novo, que apresentasse a característica de ser mul-
des refere-se ao conector do tipo cunha. Todas as concessioná- tifuncional, de forma a aplicar conectores cunha, realizar corte
rias aplicam esse dispositivo para realizar conexões em redes de de cabos e aplicar prensa terminal. A partir dessa solicitação, o
baixa e média tensão. Atualmente o mercado oferece diversos projeto evoluiu por várias fases até se obter o produto a ser apre-
tipos de conectores cunha, devidamente aprovados em ensaios sentado. Os testes realizados com a ferramenta hidráulica para
normalizados e aprovados em testes de recebimento. Assim, no aplicação de conectores cunha foram conduzidos de forma com-
mínimo pode se supor que os conectores, dentro do erro estatís- parativa. Assim sendo, além de atender às determinações das
tico de produção (algo perto de 5%), se encontram em perfeitas normas técnicas recomendadas pela COELBA, os conectores
condições para o uso indicado. Os problemas em conexões na devem possuir as mesmas características dos utilizados atual-
rede, portanto, podem estar surgindo em função dos seguintes mente. Por esse motivo, as aplicações dos conectores foram re-
fatores: utilização de ferramentas não aferidas; aplicação incor- alizadas com todas as ferramentas disponíveis comercialmente,
reta dos cartuchos de pólvora; instalação do conector de forma sendo que os representantes técnicos dessas empresas realiza-
incorreta, podendo estar relacionada com o diâmetro dos cabos, ram as aplicações dos conectores. Com relação às ferramentas
além da utilização de outras formas de aplicação do conector, para corte de cabos e prensa terminal, os testes realizados se-
sem os devidos testes. Naturalmente, outros problemas relati- guiram somente o aspecto de aplicação e resultado em função
vos à aplicação do conector podem estar associados ao grande da experiência de usuários.
número de defeitos encontrados pelas equipes de manutenção. II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

O principal motivo do desenvolvimento da ferramenta hidráu- A. Projetos da ferramenta e acessórios.


lica nasce de uma necessidade de desenvolvimento de equipa-
mento que produzisse o menor nível de ruído possível para a Com o objetivo de atender o nível de ruído aceitável para o
realização de atividades no período noturno. Na cidade de Sal- período noturno, optou-se pelo desenvolvimento de uma ferra-
vador, a lei 5354/98 [1] exige que, no período compreendido en- menta hidráulica. O maior desafio residia sobre o sistema hidráu-
tre 22h00 e 7h00, o nível de ruído seja de, no máximo, 50 dB a lico a ser utilizado, de forma a garantir a pressão necessária para
2,00 m da divisa do imóvel, atendendo a NBR 10152 [2]. Assim, a correta aplicação do conector cunha, bem como dos acessó-
a COELBA solicitou o desenvolvimento de um equipamento que rios para corte de cabos e prensa terminal.
possibilitasse a realização das atividades no período noturno,
de forma a atender as características técnicas necessárias e a Na primeira concepção, utilizou-se um cilindro para bombea-
respectiva legislação municipal. mento do óleo por meio de acionamento manual (pés), solução
já disponível comercialmente. A Figura 1 mostra o primeiro pro-
PD-0047-0070/2012 ‘Projeto cabeça de série de ferramenta hidráulica para aplicação de tótipo desenvolvido para aplicação somente de conector cunha.
conector tipo cunha, ferramenta para corte de cabos e aplicador de conexão de pressão’;
SE04; ‘Coelba’; ‘Institutos Lactec e FEERGS; Com o objetivo de nortear melhor os trabalhos de desenvolvi-
‘Investimento (R$) 2.200.332,00’. mento do protótipo obtido no projeto anterior, realizaram-se pro-
1
‘Institutos Lactec’ (e-mail: edemir@lactec.org.br). cessos relativos à reprojeto de produto [6].
2
‘Coelba’ (e-mail: dcerqueira@coelba.com.br).
3
‘FEERGS’(e-mail: amullers@terra.com.br).
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 115

Figura 1. Primeiro protótipo da ferramenta hidráulica desenvolvida.

Figura 2. Segundo protótipo em primeira fase do reprojeto da ferramenta Figura 3. Ferramenta hidráulica após o segundo reprojeto.
hidráulica desenvolvida

Após o primeiro desenvolvimento (original) e o levantamento B. Testes elétricos


das tendências dos produtos disponíveis pelo mercado, optou-
-se por mudar a forma de acionamento para um sistema de ali- Os conectores elétricos devem possuir requisitos mínimos
mentação por baterias recarregáveis. O sistema de acionamento para o seu funcionamento e para garantir essas condições, de-
hidráulico foi alterado; porém, em função de solicitação de pa- vem ser atendidas as normas técnicas NBR 5774 [3], NBR 6394
tente, não será aqui discutido. O segundo protótipo já contem- [4] e NBR 9326 [5], dentre outras indicadas pelos compradores.
plou a multifuncionalidade. A Figura 2 mostra o produto obtido Este estudo visou analisar a eficácia das ferramentas de aplica-
(segundo protótipo) após o primeiro reprojeto. ção do conector tipo cunha desenvolvidas, bem como as comer-
cializadas por outros fabricantes.
Como se tratava do segundo protótipo da primeira fase do re-
projeto, o equipamento encontrava-se funcional. Foram realiza- Foram preparados 4 (quatro) conjuntos de ensaio (ou enla-
dos testes de funcionalidade em laboratório, e, antes de se reali- ces), e cada um teve 4 (quatro) conectores aplicados, um com a
zar os testes comparativos em conectores cunha com as demais ferramenta hidráulica, e os outros três instalados com ferramen-
ferramentas comerciais, foram realizados testes de campo, e os tas comerciais disponíveis no mercado nacional, ressaltando-se
eletricistas da COELBA utilizaram a ferramenta desenvolvida por que os técnicos dessas empresas realizaram a aplicação dos
um período de 30 dias e emitiram seus pareceres. conectores de forma a não haver interferência nos resultados.

Buscando atender às recomendações realizadas pelos eletri- Foram realizadas as medidas de resistência elétrica de con-
cistas da COELBA, e com as observações verificadas nos testes tato com o micro-ohmmeter modelo MOM 690. A medição é re-
de funcionalidade conduzidos em laboratório, foram realizadas alizada aplicando corrente contínua de aproximadamente 300
alterações na ferramenta hidráulica e seus respectivos acessó- A e medindo a resistência elétrica entre os eletrodos, que estão
rios (aplicador tipo cunha, prensa terminal e corte de cabos). Na posicionados a 30 cm do conector.
Figura 3 observa-se a ferramenta hidráulica em seu segundo re-
projeto, ou seja, o estágio final.
116 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 4. Gráfico da temperatura obtida no ensaio de ciclo térmico com névoa


salina nos conectores tipo cunha aplicados com a ferramenta hidráulica e Figura 5. Resistência elétrica obtida no ensaio de ciclo térmico com névoa sa-
ferramenta comercial 1. lina simultaneamente nos conectores tipo cunha aplicados com a ferramenta
hidráulica e ferramenta comercial 1.

Figura 6. Temperatura obtida no ensaio de ciclo térmico com névoa salina nos
conectores tipo cunha aplicados com a ferramenta comercial 1 e 2. Figura 7. Resistência elétrica obtida no ensaio de ciclo térmico com névoa sa-
lina simultaneamente nos conectores tipo cunha aplicados com a ferramenta
comercial 1 e 2 .

Para simular o ambiente da cidade de Salvador, as conexões 9 296,0E-6 298,0E-6 298,0E-6 297,3E-6
foram submetidas ao ensaio de ciclo térmico com névoa salina
Ferramenta
simultaneamente. Nesses ensaios são monitoradas a tempera- 10 174,0E-6 174,0E-6 174,0E-6 174,0E-6
Comercial
turas e a resistência das conexões, e as medidas de temperatu- 11 262,0E-6 264,0E-6 264,0E-6 263,E-6
2
ra são obtidas a cada 50 ciclos térmicos até se atingir 300 ciclos. 12 210,0E-6 211,0E-6 211,0E-6 210,7E-6
As medidas de resistência elétrica ocorreram no início e no final 13 51,0E-6 41,0E-6 40,0E-6 44,0E-6
do ensaio [5]. 14 Ferramenta 34,0E-6 30,0E-6 28,0E-6 30,7E-6
15 Comercial 23,0E-6 22,0E-6 25,0E-6 23,3E-6
Na Tabela 1 são apresentadas as medidas de resistência
16 3 26,0E-6 26,0E-6 28,0E-6 26,7E-6
elétrica obtidas no ensaio de micro-resistividade de contato. Em
vermelho são apresentadas as conexões com maiores valores
de resistência elétrica, em verde são apresentadas as menores Com os resultados apresentados na Tabela 1, observa-se que
resistências elétricas e os valores em amarelo são intermediá- as conexões realizadas com a ferramenta hidráulica apresentam
rios. comportamento similar às efetuadas com as ferramentas comer-
ciais. Nota-se, também, que a resistência elétrica nas conexões
Tabela I: Resistência em Ω medida nas conexões dos condutores tipo é na ordem de µΩ e não há diferença significativa entre elas,
cunha. podendo-se concluir que todas as ferramentas apresentaram re-
Resistência (Ω) sultados similares.
Amostra Aplicador 1° 2° 3° 4°
Devido à quantidade de sensores necessários para realiza-
1 260,0E-6 262,0E-6 261,0E-6 261,0E-6
ção das medidas de temperatura e resistência elétrica, no ensaio
2 Ferramenta 270,0E-6 272,0E-6 272,0E-6 271,3E-6
de ciclo térmico com névoa salina simultaneamente, os arranjos
3 Hidráulica 17,0E-6 16,0E-6 17,0E-6 16,7E-6 de ensaio foram divididos e os resultados obtidos são apresen-
4 21,0E-6 22,0E-6 21,0E-6 21,3E-6 tados nas Figuras de 4 até 7.
5 237,0E-6 239,0E-6 239,0E-6 238,3E-6
6 Ferramenta 230,0E-6 230,0E-6 231,0E-6 230,3E-6 Nas temperaturas da Figura 4 e da Figura 6 observa-se que
Comercial 1 apenas a conexão dez (C10), realizada com a ferramenta co-
7 179,0E-6 180,0E-6 180,0E-6 179,7E-6
mercial 1, apresentou temperatura da conexão acima da tem-
8 292,0E-6 294,0E-6 295,0E-6 293,7E-6 peratura do condutor de referência. Já no gráfico da resistência
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 117

elétrica, apresentadas na Figura 5 e Figura 7, observa-se que a Com relação aos objetivos propostos inicialmente no projeto,
resistência elétrica inicial e final de cada conexão não apresenta verifica-se que os mesmos foram plenamente atingidos, inclusi-
alterações significativas. ve com resultados além dos inicialmente esperados. O principal
objetivo do projeto era entregar à COELBA 30 conjuntos de fer-
Com os resultados obtidos nos testes comparativos realiza- ramenta hidráulica, com 30 acessórios para aplicação de conec-
dos, verifica-se que a ferramenta hidráulica desenvolvida aplica tores cunha e corte de cabos, e 5 (cinco) acessórios para a pren-
os conectores cunha com a mesma eficiência que as ferramen- sagem de terminais. Tal objetivo foi atingido, acrescentando-se a
tas de aplicação de conectores comerciais. possibilidade de fabricação comercial da ferramenta hidráulica e
seus acessórios, visto que a co-executora do projeto (FEERGS)
III. CONCLUSÕES é fabricante do produto e está apta a fabricar e comercializar
o produto em grande escala. Esse fato mostra que, no projeto
Com os resultados obtidos nos ensaios de resistência elétri- enquadrado como cabeça de série, foram alcançadas as fases
ca e ciclo térmico com névoa salina simultaneamente, pode-se seguintes da cadeia de inovação, ou seja, já se avançou na fase
afirmar que as conexões realizadas com a ferramenta hidráulica lote pioneiro e inserção no mercado, entregando-se para o grupo
desenvolvida neste projeto apresentam comportamento similar Neoenergia; portanto, o produto finalizado com redução de tem-
ou até superior a algumas ferramentas disponíveis no mercado po de resposta ao produto almejado e ganho de investimentos,
nacional. Com relação ao ruído gerado pela ferramenta hidráu- possibilitando um retorno antecipado dos mesmos.
lica, pode-se afirmar que o ruído de fundo (ambiente) é superior
ao ruído gerado pela mesma durante sua utilização, e isso per- IV. AGRADECIMENTOS
mite a aplicabilidade da ferramenta hidráulica na manutenção da
rede elétrica no período noturno. Os testes de funcionalidade re- Os autores agradecem à COELBA e à ANEEL pelo financiamen-
alizados em laboratório e pelos eletricistas do grupo Neoenergia to do projeto, ao LACTEC pela infraestrutura dada aos pesquisa-
demonstraram a eficiência do produto obtido. dores, ao CNPq pelo incentivo da lei 8010/90 e à FEERGS pelo
auxílio no desenvolvimento da ferramenta hidráulica.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Lei N° 5354/98: Dispõe sobre sons urbanos, fixa níveis e horários em que será permitida sua emissão, cria a licença para utilização sonora e dá outras providências. [Online] Disponível: http://
leismunicipa.is /thjma.
[2] G. R. Hernaski, “Preparação e avaliação de formulações termoplásticas com aditivos fotoluminescentes para aplicação em coberturas rígidas utilizadas na manutenção de redes energizadas”,
Dissertação de mestrado, UFPR PIPE – Programa de pós-graduação em engenharia e ciência dos materiais, Curitiba, 2013.
[3] Standard practice for heat aging of oxidatively degradable plastics. ASTM D5510-94, 1994.
[4] Standard test method for tensile properties of plastics, ASTM D 638, 1991.
[5] Standard test method for plastics: dynamics mechanical properties: in tension, ASTM D 5026-01., 2001.
[6] Standard test methods for dielectric breakdown and dielectric strength of solid electrical insulating materials at commercial power frequencies. ASTM D149-09, 2009.
[7] Terex/Ritz do Brasil. Disponível: http://www.terexritz.com/
[8] Leal indústria & comércio. Disponível: http://www.leal.com.br/
[9] Standard Specification for Electrically Insulating Plastic Guard Equipment for Protection of Workers ASTM F968-93, 1993.
[10] Standard Test Methods and Specifications for Electrically Insulating Plastic Guard Equipment for Protection of Workers ASTM F712-06, 2006.
[11] Rigid protective covers for live working on a.c. installations. IEC 61229 Edition 1.2 2002-06, Jun. 2006
[12] Integrated engineering software. Disponível: https://www.integratedsoft.com/
[13] Relatório Técnico Final PD-0047-0071/2012.
118 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

ELEKTRO
Robô autônomo
para inspeção visual de
linha de distribuição
José F. R. da Silva 1, Renan A. Pavani 2 , André R. Hirakawa 2 ,
Oswaldo Horikawa 2 , Alberto Baldissin Neto 2 e Celso T. Matsumura 2

Resumo – Atualmente, a inspeção das linhas de distribuição das concessionárias, realizada utilizando câmeras térmicas, sensores de ultrassom ou
binóculos, são pouco eficazes devido à interferências e imprecisões. Assim, este projeto buscou solucionar os problemas do processo de inspeção
das linhas de distribuição utilizando um dispositivo robótico a ser acoplado à linha de distribuição, e que se movimenta sobre a linha de forma au-
tônoma, realizando também a transposição dos isoladores. O dispositivo possui câmeras de vídeo, GPS e um sistema computacional embarcado
para realizar a coleta, o processamento, a transmissão da informação e o controle do movimento do robô. A construção do protótipo considerou os
requisitos funcionais de inspeção de equipamentos e dispositivos da linha de distribuição de 13,8 kV, a operação de forma autônoma e o poder de
locomover-se autonomamente sobre a linha. Um protótipo do robô foi projetado, construído e testado em um ambiente experimental especialmente
construído para o projeto.

Palavras-chave – Inspeção de linha de distribuição, processamento de imagem, robô autônomo, sistema embarcado.

I. INTRODUÇÃO terais e um central. Outros trabalhos podem ser vistos no artigo


[2]. A navegação do robô pode ser feita de diversas maneiras,
O processo de inspeção das linhas de distribuição das con- mas a principal é por visão computacional, utilizando visão es-
cessionárias ainda é um processo que se depara com diversos téreo [3]. Trabalhos de pesquisa e desenvolvimento vêm sendo
problemas. Atualmente, a inspeção é realizada pelos eletricistas realizados com o objetivo de viabilizar um método que se torne
utilizando recursos e instrumentos aplicados à distância, como confiável e seguro para a inspeção das linhas de alta tensão [4]
câmeras térmicas, sensores de ultrassom ou simples equipa- e [5]. Os sistemas de navegação autônoma baseados em visão
mentos para inspeção visual, como o binóculos. Entretanto, consistem basicamente de um veículo robótico e um dispositivo
esses instrumentos e dispositivos não permitem inspecionar de captura de imagens como apresentados em [6].
as linhas de forma eficiente, uma vez que as perturbações e
as variações envolvidas tornam a informação demasiadamente Este projeto busca solucionar os problemas do processo de
imprecisa e complexa. Diversos trabalhos de pesquisa e desen- inspeção das linhas de distribuição utilizando um dispositivo ro-
volvimento já foram propostos para realizar a inspeção a uma bótico a ser acoplado à linha de distribuição, e que se movimenta
distância mais próxima e, assim, aprimorar o processo. Dentre sobre a linha de forma autônoma, realizando também a transpo-
os projetos, pode-se citar o que utiliza câmeras acopladas em sição dos isoladores. A aplicação do robô no processo de inspe-
helicópteros e dirigíveis que percorrem, a uma certa distância, ção fornece uma melhoria na qualidade e produtividade no pro-
a linha de transmissão para armazenarem imagens da linha. cesso da empresa, e, ainda, uma redução no tempo e no uso dos
Os robôs aéreos possuem a vantagem de transpor quaisquer equipamentos, se comparada com o processo de inspeção atual.
obstáculos da linha. Entretanto, embora possível, a navegação
e inspeção por robôs aéreos esbarra em diversas dificuldades,
II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
como a automação do acompanhamento e identificação da li-
nha, falhas na detecção visual e a necessidade de manter uma
O projeto da estrutura do robô de inspeção foi realizado con-
distância segura da linha e dos demais elementos do ambiente.
siderando as etapas de projeto tradicionais: análise do processo,
Esses problemas têm relação à dificuldade em adquirir imagens
especificação, prototipação e testes.
de alta qualidade pelas vibrações e movimentações do robô, as-
sim como as obstruções da linha pela vegetação e a complexi-
Como resultado da análise do processo, foi especificado que
dade do algoritmo de controle.
o robô deveria se locomover sobre os 3 (três) cabos da linha
primária de distribuição de energia elétrica de 13,8 kV [7].
Em sua maioria, os robôs apresentados em artigos se mo-
vimentam suspensos às linhas de transmissão. Nesse tipo de
As distâncias entre os condutores da linha primária podem
robô, mecanismos complexos são utilizados para transpor obs-
variar de 0,6 a 1,2 m. Em alguns casos, essas distâncias não
táculos. Um exemplo de robô escalador é apresentado em [1],
são uniformes e o condutor do meio pode ficar mais próximo
com a estrutura composta de um corpo central, dois braços la-
de um dos condutores das extremidades. Portanto, pode haver
uma diferença de 0,1 a 0,6 m entre os condutores para manter
Proposta de Desenvolvimento de um Robô para Inspeção Visual de Linha de Distribuição –
PD-0385-0023/2010; Distribuição de energia elétrica; ELEKTRO; USP;
a carga balanceada.
Investimento: R$ 1.345.100,00.
1
Elektro – Eletricidade e Serviços S/A (e-mail: jo-se.resende@elektro.com.br). Os obstáculos mais comuns da linha primária são as curvas,
2
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (e-mail: an-dre.hirakawa@poli.usp.br). isoladores, cruzetas, topos de poste e jumpers. A estrutura do
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 119

Figura 1 - Desenho esquemático da estrutura sobre a linha de distribuição Figura 2 - Capacidade de adaptação da estrutura

Figura 3 - Aspecto final do Robô de Inspeção.

robô, portanto, deverá ser de forma tal que consiga transpor es- esse material combina duas vantagens adicionais: baixo peso
ses obstáculos. Entretanto, outros tipos de obstáculos podem específico e elevada resistência mecânica. A geometria julgada
ser encontrados nas redes elétricas, como bifurcações, junções mais adequada para a construção dos braços foi a tubular, que
em diferentes níveis e fins de linha. confere elevada rigidez e resistência mecânica aos braços con-
tra esforços tanto de flexão quanto de torção.
A. Conceito da Estrutura do Robô
B. Acionamento do Robô
Desenvolver um robô que percorra a linha de distribuição
de maneira estável e segura é um grande desafio. A Figura 1 Em cada uma das rodas do Robô de Inspeção é instalado
mostra o conceito da estrutura do robô desenvolvido. A estrutu- um motor elétrico com redução, cujo torque é transmitido à roda
ra possui três rodas que permitem o deslocamento de maneira através de um conjunto de polias e correia. Cada roda possui
estaticamente estável, mantendo o centro de gravidade interna- um controlador que compreende: um circuito de acionamento
mente ao tripé. de motor, um microcontrolador, um rádio transmissor (Xbee) e
um conjunto de baterias compactas de elevada densidade de
O comprimento dos braços do robô é de aproximadamente carga. Assim, cada roda pode ser acionada e a sua velocidade
1500 mm, e uma diferença de altura entre os cabos da linha controlada, por meio de sinais de rádio. A roda que se apoia
pode ser compensada caso a diferença de altura não seja maior sobre a fase central possui, além disso, um controlador central
do que a altura das rodas da estrutura. Com a carga (sensores, que realiza o processamento da imagem capturada e coordena
circuitos, etc.) convenientemente distribuída, cada cabo da linha a movimentação de todas as rodas mediante identificação dos
suporta cerca de 1/3 (um terço) da carga total do robô. Trata-se elementos da linha, dos defeitos encontrados e da sua posição
de uma primeira medida para evitar que a carga aplicada sobre GPS. O controlador central envia comandos de acionamento e
a linha ultrapasse o limite de tração para cada cabo. de velocidade via cabo para a roda a qual está associado, e via
rádio para as duas outras rodas. Por meio dessa configuração,
De acordo com a norma Elektro para construção das linhas assegura-se elevado isolamento elétrico entre as três rodas. A
de distribuição, a distância entre os cabos pode variar. Por esse Figura 3 apresenta o aspecto final do robô desenvolvido.
motivo, a estrutura possui duas articulações no centro da estru-
tura, de modo a permitir sua utilização em vários tipos de linhas, C. Software de Processamento de Imagem e Navegação
sendo denominada estrutura autoconfigurável. A Figura 2 ilustra
tal condição. Além disso, essas articulações também permitem Com o objetivo de tornar o robô autônomo, um sistema de
a execução de curvas, já que os cabos sofrem uma pequena captura e processamento de imagem foi integrado e embarcado
diminuição na distância entre eles. no robô. Esse sistema é composto de uma câmera de Alta Defi-
nição (Full HD,1920x1080 pixels) que faz a captura das imagens
O material utilizado na construção dos braços do robô foi a e envia para o módulo de processamento baseado na platafor-
fibra de vidro, devido à elevada constante dielétrica. Além disso, ma ARM-8. Tal módulo, por sua vez, realiza a comunicação sem
120 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

a) a)

b) b)
Figura 4 - Inspeção de Cabo: (a) Imagem Original (b) Imagem Processada. Figura 5 - Inspeção de Cruzeta: (a) Imagem Original (b) Imagem Processada

fio com o terminal auxiliar de controle e com os atuadores para a de imagem e o controle do robô. No cartão de memória é criado
movimentação do robô [Miguel, 2013]. um diretório no qual são registradas informações segundo uma
estrutura de dados que inclui uma pasta para cada defeito lo-
O software desenvolvido para o processamento de ima-gem calizado, com identificação por uma string composta de DATA/
emprega vários algoritmos e filtros, que são aplicados de acordo HORA e localização GPS. Em cada pasta criada são armazena-
com a finalidade do processamento, a qualidade da imagem, as dos: um arquivo texto identificando o tipo de defeito encontrado,
condições de luminosidade e o objeto inspecionado. Além disso, a imagem original capturada e, caso possível, a imagem proces-
heurísticas baseadas em morfologia e cores são empregadas sada que apresenta o defeito. A estratégia acima permite que
para distinguir, na imagem, quais pixels estão relacionados aos a inspeção seja feita de forma autônoma, evitando o envio de
elementos que interessam para fins de inspeção. imagens em alta definição, que representariam um volume muito
grande de informações para o eletricista no nível do solo.
O algoritmo de identificação de defeitos ou anomalias em ca-
III. CONCLUSÕES
bos utiliza, inicialmente, o filtro Sobel para extrair as bordas do
cabo. Em seguida, é realizado o Thresholding para segmentar
Este trabalho apresentou a proposta de um robô autônomo
os contornos e um mascaramento para a separação somente
de inspeção em linhas de distribuição de energia elétrica que
dos pixels relacionados aos cabos. A imagem resultante é ana- trafega sobre os cabos da linha primária. O robô emprega as
lisada quanto à sua continuidade. A Figura 4 exemplifica a ima- técnicas de autoconfiguração e autodirecionamento em sua es-
gem original e o resultado após o pré-processamento por meio trutura, e possui um sistema de controle embarcado e distribuí-
de filtros, e nesta imagem é possível identificar claramente a lo- do de navegação, podendo ser utilizado para realizar a inspeção
calização e os contornos dos cabos. numa ampla variedade de estruturas de distribuição primária de
cabos nus.
Para a identificação de falhas em cruzetas, postes e isola-
dores, foram aplicadas também diferentes técnicas de proces- O robô é capaz de trafegar sobre os cabos, transpondo os
samento de imagens: os operadores Sobel, Canny e La-place, principais tipos de obstáculos presentes nessas estruturas,
detecção de contornos e detecção de intensidades de cores. A como isoladores e jumpers.
Figura 5 apresenta a imagem original, que contém os defeitos
simulados na cruzeta, e a imagem resultante do processamento Testes realizados em um trecho de linha experimental de-
que indica a ocorrência de anomalias (regiões claras na imagem monstraram que o robô percorre a linha primária de forma segu-
à direita). ra e estável, transpondo os obstáculos (isoladores e jumpers).
Algumas dificuldades foram verificadas na transposição de jum-
O relatório de emissão de ordem de manutenção, gerado pelo pers que não estão firmemente fixados aos isoladores. Ao rece-
algoritmo de detecção de defeitos instalado no Robô de Inspe- ber uma roda do robô, tais jumpers acabam cedendo, fazendo
ção de linha, é armazenado no cartão de memória SD instalado com que o robô perdesse a estabilidade. Contudo, tal problema
na Placa processadora (ARM 8), que realiza o processamento poderá ser resolvido com a minimização do peso total do robô.
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 121

O sistema de captura e processamento de imagem, bem Portanto, os resultados de pesquisa, do avanço da tecnologia
como de outras informações, foi embarcado juntamente com o e da aplicação prática do projeto foram alcançados de acordo
sistema de processamento e controle de movimento do robô, e com o planejamento original, resultando na construção do protó-
realiza a identificação dos cabos, das cruzetas e dos defeitos ou tipo do robô utilizado como prova de conceito.
falhas comuns. A etapa de extração dos defeitos das imagens
utiliza diferentes algoritmos e a escolha do algoritmo, ou do con- O sistema robótico, resultado do projeto, inclui a aplicação de
junto de algoritmos, utilizado para cada tipo de imagem, depen- técnicas que tornam o conjunto inovador, possibilitando a gera-
de das condições da imagem (luminosidade, contraste, forma e ção de uma patente.
dimensão), sendo a seleção realizada por meio de testes recur-
sivos. A eficiência do processo de identificação é de 85%. A efetiva aplicação da tecnologia desenvolvida deve ser rea-
lizada por meio do desenvolvimento do cabeça de série, com a
construção de um protótipo industrial.

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Tavares, L., Sequeira, J. S., 2004. RIOL: Robotic inspection over power lines. Instituto Superior Técnico, Portugal. 5 Feb. 2013. <http://welcome.isr.ist.utl.pt/img/pdfs/1704_RIOL.pdf>.
[2] Katrasnik, J. Pernus, F. Likar, B. A survey of mobile robots for distribution power line inspection. IEEE Transactions on power delivery, vol. 25, 2010.
[3] Campoy, P., et al., 2001. An stereoscopic vision system guiding an autonomous helicopter for overhead power cable inspection. International Workshop RobVis, 2001.
[4] Tsukahara K. et al., 2006. Vision for a Power Distribution Line Maintenance Robot Environments Input. In 2006 International Symposium on Micro-NanoMechatronics and Human Science, 2006.
[5] Guarnieri, M. et al., 2008. Expliner - Robot for inspection of transmission lines Robotics and Automation, 2008. In IEEE International Conference on ICRA, 2008.
[6] Kundur, S. e RAVIV, Daniel, Active Vision-Based Control Schemes for Autonomous Navigation Tasks. Pattern Recognition, Elsevier Science, N. 33, pg. 295-308, 2000.
[7] Pavani, R.A., et al., Self-Configurable and Self-Steering Robotic Structure for Inspection of Electric Distribution Power Lines, on 22nd International Congress of Mechanical Engineering, pg.
1-8, 2013.
122 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Outros Temas

CELESC
Desenvolvimento de um
sistema porcelânico aplicado
às redes de distribuição da CELESC
Henrique Cislagui da Silva 1, Nilson Schwartz da Silva 1, Fernando Hidalgo Molina 2,
Alessandro Pedro Dadam 2, e Mauricio Valencia Ferreira da Luz 3

Resumo – Este projeto de P&D tem como objetivo principal o desenvolvimento e a construção de um sistema porcelânico que substitua cruzeta,
mão francesa, demais ferragens e isolador no sistema atual de distribuição de energia elétrica, e exerça função de suporte mecânico e elétrico para
os cabos do sistema atual. Para isso, o protótipo do isolador foi projetado, construído, testado e instalado na rede de distribuição da CELESC. Para
realizar a modelagem mecânica e elétrica do isolador, aplicou-se o método de elementos finitos. Após a modelagem do protótipo, o mesmo foi cons-
truído e submetido a ensaios elétricos da norma NBR 5032. Como o protótipo foi aprovado em todos os ensaios, o mesmo foi instalado na rede de
distribuição da CELESC e, atualmente, seu desempenho tem sido monitorado pela concessionária. A relevância deste estudo para o setor elétrico
brasileiro consiste no desenvolvimento de mais uma alternativa de produto para as redes de distribuição.

Palavras-chave – Isolador de porcelana, método de elementos finitos, redes de distribuição de energia elétrica.

I. INTRODUÇÃO Os sistemas isolantes tem parte fundamental nas estruturas


de redes de distribuição, devendo garantir a confiabilidade do
Os sistemas elétricos de potencia têm a função de fornecer fornecimento de energia dos sistemas elétricos, mantendo ní-
energia elétrica aos usuários, grandes ou pequenos, com a qua- veis de isolamento adequados às solicitações elétricas do sis-
lidade adequada no instante em que for solicitado. tema, evitando desligamentos e faltas de energia indesejadas.
É importante ressaltar ainda sua função mecânica, muito aliada
As estruturas das redes de distribuição são compostas por à segurança do sistema, visto que também está associada ao
quatro elementos principais, sendo eles os elementos de supor- isolador, além da responsabilidade de suportabilidade elétrica,
te (mecânicos), de fixação (parafusos, pré-formados), de isola- a responsabilidade de suportar mecanicamente os condutores
ção e de condução. Todos esses elementos reunidos formam os energizados.
padrões de montagens de redes, normalmente compostos por
diversos componentes. No Brasil as redes de distribuição operam normalmente com
3 (três) níveis de tensão: 13,8kV, 23,1kV e 34,5kV, sendo que
Informações sobre o Projeto de P&D: ‘Sistema Porcelânico para Substituição do Sistema as redes de 13,8kV e 23,1kV são as mais utilizadas para aten-
de Isolação de Redes de Distribuição de Média Tensão’ - Projeto No. 5697 – 6308/2010’; dimento aos consumidores e conexão dos transformadores de
Desenvolvimento experimental; ‘CELESC Distribuição S.A.’; ‘T-Cota; distribuição, sendo construídas tanto em áreas urbanas como
‘Investimento R$ 635.667,44’. em áreas rurais.
1
‘T-Cota’ (e-mails: henrique@t-cota.com.br; nilson@t-cota.com.br).
2
‘Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. - CELESC’ (e-mails: fernandohm@celesc.com.
O objetivo principal deste projeto de P&D é desenvolver e
br; alessandropd@celesc.com.br).
construir um sistema porcelânico que substitua cruzeta, mão
3
‘Universidade Federal de Santa Catarina’ (mauricio.luz@ufsc.br)
francesa, demais ferragens e isolador no sistema atual de dis-
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 123

tribuição de energia elétrica em 13,8 kV, 23,8 kV e 34,5 kV, e II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
exerça função de suporte mecânico e elétrico para os cabos
do sistema atual. Espera-se que o sistema desenvolvido tra- O novo sistema de porcelana foi desenvolvido para ser em-
ga vantagens de isolação, resistência a intempéries, segu- pregado em substituição ao atual sistema cruzeta e isolador na
rança, manutenção e reduzido custo em relação ao sistema montagem tipo beco, de acordo com a Figura 3 em redes de
atualmente empregado. distribuição até 25 kV da CELESC.

O sistema atual de isolação para redes de distribuição de Para atender a essa aplicação, a cruzeta isoladora foi desen-
média tensão é composto por cruzeta, mão francesa, demais volvida para atender todos os requisitos elétricos e mecânicos
ferragens e isolador elétrico conforme a Figura 1. Esse sistema dos componentes que ela se propõe a substituir, garantindo sua
apresenta baixa resistência a intempéries, dificuldade de insta- aplicação não apenas em novas redes que estão sendo constru-
lação e manutenção, grande diversidade de componentes e, em ídas, mas também na manutenção das redes existentes, visto
alguns casos, baixos níveis de isolação elétrica. que componentes como cruzetas, ferragens e isoladores tipo
pino, que serão substituídos pela cruzeta isoladora, tem consi-
Objetivando uma melhoria na confiabilidade, alta isolação elé- derável taxa de falha.
trica, facilidade de montagem e alta resistência a intempéries do
sistema isolante para redes de distribuição aérea, desenvolveu-
-se novo sistema isolador composto por módulos de porcelana,
conforme apresentado na Figura 2.

Figura 1. Sistema de porcelana atual. Figura 2. Novo sistema de porcelana.

Figura 3. Montagem do isolador.

O requisito mecânico especificado para cruzetas é a carga de Como a grande maioria das redes de distribuição da CELESC
ruptura em flexão. A carga mínima admissível de ruptura para tem NBI de 150kV, este será o valor adotado para a cruzeta iso-
cruzetas é de 800 daN, a mesma especificada para os isolado- ladora. Os demais requisitos quanto ao isolamento elétrico tam-
res tipo pilar e para as cruzetas utilizadas pela concessionária, bém serão os mesmos aplicados para os atuais isoladores tipo
que normalmente são de madeira, aço ou concreto. pilar utilizados, conforme pode ser visto na tabela I. As redes de
13,8kV e 23,1kV possuem o mesmo isolamento elétrico, com
NBI de 150kV.
124 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Tabela I: Especificações elétricas para isoladores A. Modelagem Mecânica do Isolador


Tensão Tensão supor- Tensão supor- Distância de
Nominal tável nominal tável disruptiva escoamento Com base nos requisitos técnicos levantados, definiu-se uma
(kV) de impulso em freqüência (mm) geometria básica de projeto (apresentada na Figura 4), e realiza-
ram-se simulações mecânicas e elétricas para o novo sistema.
atmosférico industrial sob
a seco (kV) chuva (kV)
A definição das dimensões e dos materiais que compõem a
13,8 e 150 50 530 cruzeta isoladora foi realizada por meio da simulação mecânica
23,1
da montagem. As simulações mecânicas foram realizadas utili-
zando-se o software Solid Edge ST e o solucionador (solver) NX
Outro critério a ser adotado foi a distância entre os cabos, que
Nastran. Simulou-se a condição de uso, engastando-se uma das
deve ser de 600 mm. A fim de tornar a cruzeta em desenvolvi-
extremidades e aplicando as cargas de 5000 N, 8000 N e 10000
mento mais compacta, foram adotados valores levemente meno-
N na extremidade oposta, conforme Figura 5. A Figura 6 ilustra o
res no desenvolvimento. Assim, obteve-se uma peça de menor
resultado da simulação mecânica para 5000 N.
dimensão, com menos peso e facilidade de manuseio. A cruzeta
isoladora foi produzida com porcelana elétrica quartzosa de alta
As simulações mecânicas indicaram a necessidade do empre-
resistência mecânica, com esmalte tradicional empregado nessa
go de núcleo de reforço para melhoria do comportamento mecâ-
tipologia de porcelana.
nico e facilidade na montagem. Assim, analisaram-se o emprego
de núcleos pultrudados de fibra de vidro e de aço SAE 1045. Ba-
A facilidade de montagem foi outro critério adotado no de-
seado nos resultados da simulação mecânica, pôde-se concluir
senvolvimento, uma vez que se buscou que a cruzeta fosse
que o núcleo pultrudado de fibra de vidro com diâmetro de 55
composta por partes de fácil manuseio com peso compatível a
mm apresenta propriedades adequadas para a produção de pro-
movimentação por um operador humano.
tótipos da cruzeta isoladora nas duas dimensões especificadas.

Figura 4. Geometria básica ideal. Figura 5. Esquema de aplicação de carga.

Figura 7. Domínio de cálculo do isolador (esquerda), zoom do isolador


(meio) e a malha de elementos finitos do domínio de cálculo (direita).

Figura 6. Simulação porcelana – 5000 N.


P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 125

Figura 9. Cruzeta de porcelana construída (esquerda) e foto do ensaio elétrico


(direita).

Figura 8. Distribuição dos vetores de campo elétrico para o isolador de 1110


mm (esquerda) e para o isolador de 1610 mm (direita) de altura.

B. Modelagem Elétrica do Isolador A Figura 8 ilustra a distribuição do campo elétrico tanto para o
isolador de 1110 mm (esquerda) quanto para o isolador de 1610
A modelagem das propriedades elétricas do isolador se con- mm (direita) de altura. Observe-se que, para o isolador de 1110
centra na análise do campo elétrico do isolador para verificar se mm de altura, o campo elétrico máximo foi de 1,73.106 V/m, e,
o mesmo apresenta valores de campos elétricos acima do valor para o isolador de 1610 mm de altura, o campo elétrico máximo
da rigidez dielétrica do material, o que acarretaria na ruptura do foi de 1,50.106 V/m, ambos menores do que a rigidez dielétrica
dielétrico [1]. O isolador é modelado usando uma formulação da porcelana que é de 2.107 V/m. Ressalte-se que o isolador
eletrostática e o método de elementos finitos. Como há sime- maior apresentou um menor valor de campo elétrico máximo.
tria, usou-se uma modelagem axissimétrica do problema. Nesse
caso, matematicamente, o software considera que a região de- C. Construção do Protótipo e Ensaios Elétricos
senhada (domínio de cálculo) é rotacionada de 2¶ , formando o
desenho completo (em 3D) do isolador [2]. Os protótipos foram produzidos em porcelana quartzosa
através de conformação plástica via extrusão. As peças foram
A Figura 7 mostra o domínio de cálculo do isolador (esquer- produzidas utilizando-se como matéria-prima massa porcelânica
da), zoom do isolador (meio) e a malha de elementos finitos do quartzosa. O componente já montado é mostrado na Figura 9
domínio de cálculo (direita). Devido à simetria, foi simulado um (esquerda).
corte do isolador, mais a região de ar e a região chamada de
ar_inf. A região de ar_inf é usada para simular a condição de Com objetivo de avaliar o comportamento elétrico do siste-
contorno de tensão igual a zero no infinito, e sua aplicação evita ma desenvolvido e confirmar os resultados obtidos na simulação
os erros de truncamento do domínio [2]. elétrica, a cruzeta isoladora foi submetida aos seguintes ensaios
elétricos: (i) tensão suportável nominal de impulso atmosférico,
Para a modelagem do campo elétrico, aplicaram-se dois va- a seco; e (ii) tensão suportável em freqüência industrial, sob chu-
lores de tensão: tensão nominal de 25kV e tensão suportável va. Os ensaios foram realizados de acordo com a norma brasi-
nominal de impulso atmosférico a seco de 150 kV. A tabela II leira NBR 5032. O protótipo foi aprovado em todos os ensaios. A
apresenta os valores das tensões aplicadas para a tensão de montagem para os ensaios está mostrada na Figura 9 (direita).
150kV, onde Vm = 150kV/1,73 = 86,70 kV.
III. CONCLUSÕES
Tabela II: Tensões usadas nas simulações para tensão de linha de 150kV.
Valores referentes a figura 7 (meio) Neste trabalho de P&D desenvolveu-se um novo isolador
de porcelana aplicado às redes de distribuição da CELESC. O
Tensões aplicadas V1 = 0 Vm = 0 V
protótipo foi construído e aprovado nos ensaios elétricos. Atual-
no isolador. V2 = - 0,866 Vm = - 75,08 kV mente, ele se encontra instalado em uma rede de distribuição
V3 = + 0,866 Vm = + 75,08 kV da CELESC e seu desempenho está sendo monitorado. Se ele
Vout = 0 V for aprovado em campo, pretende-se construir mais protótipos e
realizar estudos de otimização com o intuito de reduzir volume
de material sem perda de desempenho.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] R. S. Gorur, E. A. Cherney, and J. T. Burnham, Outdoor Insula-tors, Phoenix, Arizona, USA, 1999.
[2] H. C. da Silva, F. A. Corbelini, N. S. da Silva, F. H. Molina, A. P. Dadam, and M. V. Ferreira da Luz, “Development of a new porcelain insulator design applied to distribution networks in Brazil,”
22nd International Conference and Exhibition on Electricity Distribution (CIRED), June 2013.
126 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

COELBA
Isolador polimérico modular:
classes 15 e 34,5 kV
K. F. Portella1; M. Munaro1; S. Ribeiro Júnior1; G. C. da Silva1; F. S. Richart1; M. A. Chávez2; M. J. da C. Pinheiro3; D. P. Cerqueira3

Resumo – Protótipos de isolador modular para as classes de tensão de 15 e 35 kV estão em testes nas redes de distribuição da COELBA, em áreas
de maior agressividade ambiental por poluentes marinhos. No projeto, foi utilizado um novo desenho, sendo utilizadas saias de silicone sustentadas
por um núcleo central, uma base e uma cabeça de ancoragem, com resina epóxi cicloalifática, cambiáveis por rosca. As distâncias de escoamento
para 15 e 35 kV foram de 610 e 1055mm, respectivamente. Os módulos de cada classe tiveram massas finais de 2,1kg e de 3,10kg. Em comparação
aos isoladores comerciais, estes corresponderam a 60% da massa dos isoladores híbridos e de pilares cerâmicos para 15kV, e 75% do pilar com-
pósito e de 33% do pilar cerâmico de 7 (sete) saias para 35kV. Seus desempenhos elétricos sob multiestressamento, intemperismo e de corrente de
fuga foram equivalentes aos dos isoladores comerciais.

Palavras-chave – isolador modular; isolador tipo pino; silicone.

I. INTRODUÇÃO procedimento de injeção e suas características elétricas, mecâ-


nicas e de compatibilidade do módulo de suas respectivas saias
A demanda de energia elétrica vem crescendo dia a dia no com o núcleo em material polimérico, à base de resina epóxi.
país, e notadamente em áreas ambientais com progressiva con- Dos 5 (cinco) tipos de silicone, apenas 2 (dois) deles foram inje-
centração de poluentes atmosféricos, seja pelos processos de tados e montados em isoladores, classes 15 e 34,5 kV, e neste
combustão automotiva ou industrial, ou mesmo nas proximida- trabalho foi priorizado o isolador de melhor desempenho nos tes-
des da orla marítima, aumentando assim o risco de colapso do tes de trilhamento elétrico, grau de inchamento, hidrofobicidade,
fornecimento de energia. Por sua vez, os setores de engenharia intemperismo artificial em câmara weather-o-meter, por 2000 h,
vêm desenvolvendo novos projetos, já que novas classes de ma- resistência à tração à ruptura, análise micrográfica em microscó-
teriais estão sendo disponibilizadas comercialmente. Com tal en- pio eletrônico de varredura após o intemperismo artificial, e de
foque, trabalhou-se na investigação do desenvolvimento de um outros testes físicos em laboratório.
isolador modular, cambiável para as classes de tensão de 15 e
de 35kV, com distâncias de escoamento compatíveis aos locais O desenho esquemático do projeto final elaborado do isolador
de solicitação elétrica e mecânica (de menor a maior agressivi- modulado, feito em núcleo de resina epóxi cicloalifática e saias
dade ambiental) e de fácil manipulação local, com massa menor, de silicone, com cabeça e base cambiáveis está mostrado na Fi-
modificado por módulos rosqueáveis e de forma a facilitar o seu gura 1. Na Figura 2, está mostrada uma foto do isolador protótipo.
manuseio no campo e na sua operação em altura equivalente
à das linhas de distribuição, com resistências química, elétrica Hidrofobicidade. A avaliação da hidrofobicidade foi efetuada
e mecânica equivalentes às dos produtos comerciais similares, de acordo com a norma ABNT IEC/TS 62073, que prescreve
inclusive no seu preço final, e com inovações e tecnologias ba- uma maneira de classificar a superfície de isoladores dentro de
seadas na literatura técnica [1-19]. uma escala de classes de molhabilidade. Tal escala se inicia
com a classe CM1 (superfície completamente hidrofóbica, isto é,
II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA repelente à agua) e termina com a classe CM7 (superfície com-
pletamente hidrofílica, isto é, facilmente umidificada pela água).
Nesta seção estão apresentados os materiais e as metodolo-
gias empregados no trabalho, tanto ao longo do estudo laborato- Testes de corrente de fuga em laboratório. O teste, baseado
rial quanto na aplicação em escala real. na norma NBR 15122, foi realizado em comparação com outros
modelos disponíveis no mercado para a mesma classe de ten-
A. Materiais e métodos são, em câmara de névoa salina, com as seguintes caracterís-
ticas: condutividade da névoa salina de 16 mS/cm ou (10 ± 0,5)
Em trabalho acadêmico desenvolvido em paralelo ao projeto kg/m³; taxa do fluxo de água = (0,4 ± 0,1) L/(m³.h); tamanho das
[16], foram estudadas 5 (cinco) formulações diferentes de silico- gotas = 5 µm a 10 µm; temperatura ambiente = (20 ± 5) oC; com
ne (marcas comerciais), priorizando seus processos de cura no proteção de corrente de fuga= 1 A. A tensão de aplicação foi de-
finida pela menor distância de escoamento entre os isoladores.
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológico do Setor de Energia Elétrica regulado pela ANEEL, pela COELBA e Institutos
Testes de suportabilidade dos isoladores à aplicação de ten-
Lactec, P&D 0047-001/2009.
sões em frequência industrial sob chuva artificial e de impulso
Investimento: R$ 1.906.372,00. atmosférico. Sobre os isoladores montados nas classes 15 e
1
Institutos Lactec (e-mails: portella@lactec.org.br; maril-da@lactec.org.br; guilherme@lac- 34,5 kV, respectivamente, foram aplicados os testes de tensão
tec. org. br; sebastião@lactec.org.br; fabio.richart@lactec.org.br ). suportável sob impulso atmosférico e em frequência industrial
2
Senai-Cimatec (e-mail: alpire@cimatec.fieb.org.br.) sob chuva, utilizando-se como referência a norma ABNT NBR
3
COELBA (e-mail: mjpinheiro@coelba.com.br; dcerquei-ra@coelba.com.br
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 127

Figura 2. Foto dos Isoladores tipo pino, com núcleo, base e cabeça em
resina epóxi, cambiáveis, e saias em silicone, para as classes de tensão
de 15 e de 34,5 kV.

Figura 1. Desenho esquemático de isolador tipo pino, com núcleo, base e


cabeça em resina epóxi, cambiáveis e saias em silicone.

IEC 60060-1. Em cada amostra foram aplicados 15 impulsos do Tabela I. Demonstrativo dos tipos de isoladores utilizados na rede de
tipo atmosférico, com forma de onda normalizada e valor de cris- distribuição e seu preço de mercado, comparativo ao custo de produção
ta de 110kVcr para a tensão nominal de 15kV e de 170kVcr, para dos isoladores modulados.
a tensão nominal de 35kV. Isolador Foto DE Peso Preço
(mm) (kg) referência
No ensaio de tensão suportável em frequência industrial sob
Isoladores de 15 kV
chuva, em cada amostra foi aplicada, nas tensões nominais de
15 kV, uma tensão de ensaio de 34kVef, por 60s, e, nos isola- *Protótipo 610 2,1 1
dores de tensão nominal de 35kV, uma tensão de ensaio de 70 do isolador
kVef, também, por 60s, estando os isoladores submetidos a uma modular
chuva artificial de parâmetros normatizados, precipitação de 1,0 (módulo de
15 kV)
a 2,0 mm/min e resistividade da água de (100 ± 15) Ω.m. Em
ambos os casos as amostras suportaram a aplicação da tensão
durante o tempo especificado sem que ocorressem descargas Pilar - 335 3,5 0,45
disruptivas ou quaisquer anormalidades. cerâmico
Hibrido - 535 3,5 1,20
Testes de corrente de fuga em campo. Os testes foram efe- Isoladores de 35 kV
tuados em redes experimentais da COELBA, desenvolvidas em
* Protótipo 1055 3,1 1
projeto P&D COELBA 0047-022/2007-[19], medindo-se de forma do isolador
on line e in situ a corrente de fuga, em mA, dos isoladores ins- modular
talados. (módulo de
35 kV)
III. RESULTADOS
Pilar cerâmi- - 735 9,4 0,64
co 7 saias
Na presente seção estão apresentados os resultados obtidos
Híbrido - 940 5,6 1,03
a partir das metodologias aplicadas em laboratório e no campo.

Nota: o preço referencia a produção de poucas unidades do protótipo,


Isoladores modulados, classes 15 e de 35 kV. Na Tabela 1,
devendo o custo final ficar abaixo do trabalhado.
estão apresentadas as características físicas dos isoladores mo-
dulares projetados e fabricados em saia de silicone, com núcleo,
Testes de corrente de fuga em laboratório. Os resultados das
base e cabeça de ancoragem do cabo condutor em resina epóxi
médias das correntes de fuga RMS para um período de ava-
cicloalifática, em comparação a alguns produtos comerciais de
liação de 8160 minutos, com aquisições a cada 300 s, estão
mesma classe de tensão, com preço referência para os isolado-
apresentados na sua forma gráfica, como exemplo dos outros
res modulados e de mercado dos produtos similares.
testes realizados, na Figura 3. Nesse caso, é possível avaliar as
descargas que estão ocorrendo durante o ensaio. No isolador 1
Hidrofobicidade. O material do revestimento apresentou um
(híbrido) pode ser verificado que o mesmo apresentou um grau
padrão CM1, ou seja, com bom desempenho.
intermediário de descargas durante todo o ensaio, no isolador 2
(protótipo) foram verificadas poucas alterações nas descargas e
para o isolador 3 (porcelana) foi verificada uma quantidade ele-
vada de descargas. Nenhuma alteração superficial foi verificada
no protótipo após o teste, e tampouco acúmulo de sujidades ou
sais nas suas partes integrantes.
128 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 3. Gráfico das médias de correntes de fuga RMS resultantes do ensaio


baseado na norma NBR 15122, no final do ensaio.

Figura 4

Testes de suportabilidade dos isoladores à aplicação de ten- da base e inferior da cabeça; uma superfície de formato geral ci-
sões em frequência industrial sob chuva artificial e de impulso líndrica vazada e disposta vertical e simetricamente centrada ao
atmosférico. Não foram observadas descargas disruptiva ou longo de toda a extensão da saia, e duas superfícies de formatos
quaisquer anormalidades nas amostras testadas. gerais tronco-cônicas e dispostas verticais e simetricamente es-
paçadas entre si e entre as faces laterais da saia e da superfície,
Testes de corrente de fuga em campo. Na estação do Com- internas; com núcleo central, cabeça de ancoragem de cabo elé-
plexo Sauípe, ambiente tipicamente marinho (P&D COELBA trico e base de fixação na cruzeta em resina epóxi cicloalifática,
0047-022/2007-[19]), os resultados de corrente de fuga, em cambiáveis por rosca e para emprego em classes de tensão de
mA, do isolador modular, comparativamente a outros de origem 15 e de 35 kV, em um ou dois módulos consecutivos, com dis-
comercial, híbrido e pilar, estão mostrados de forma gráfica na tâncias de escoamento de 610 e de 1055 mm, respectivamente
Figura 4. Pode ser observado um resultado favorável ao isola- à sua classe de tensão de uso e registros no I.N.P.I., sob os
dor projetado e desenvolvido, mesmo em situação de início de números DI 7106325-0 e PI 1107203-2. Seus desempenhos em
chuva intensa, quando houve mais falhas elétricas superficiais testes de laboratório, segundo as normas relacionadas, foram
(regiões de picos mais elevados). satisfatórios e, em campo, comparativamente aos outros produ-
tos comerciais testados, foram observados, em um mesmo perí-
O projeto desenvolvido foi submetido à avaliação e registro de odo de exposição, valores inferiores em correntes de fuga, para
patente nacional, junto ao I.N.P.I., sob o número DI 7106325-0, ambas as classes, e com menores amplitudes sob condições
“Configuração aplicada em isolador tipo pilar para redes elétricas variadas de intemperismo e precipitação pluviométrica. Seu cus-
de média tensão”. to de produção está similar aos preços médios dos dispositivos
comerciais de mesma classe de tensão. A vantagem adicional
IV. CONCLUSÕES é que um mesmo produto poderá ser mantido em estoque para
ambas as classes de tensão.
Neste projeto de pesquisa foi idealizado e fabricado um protó-
tipo de isolador modulado para redes de distribuição de energia V. AGRADECIMENTOS
elétrica nacional, podendo ser utilizado em ambientes de agres-
sividade diferenciadas, testado em regiões de corrosividade ru- Os autores agradecem o apoio fornecido pelos INSTITUTOS
ral urbana, industrial e marinha, projetado em saia de silicone, LACTEC, ANEEL, COELBA, SENAI-CIMATEC e CNPq - PIBITI/
tronco-cônica, disposta vertical e simetricamente ao redor de Bolsa PQ e CNPq, Lei 8010/90 (importações subsidiadas), enti-
toda a extensão da face externa do eixo, entre as faces superior dades que viabilizaram o desenvolvimento deste trabalho.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 129

CELG D
Refinamento de banco
de dados georreferenciado
utilizando agentes inteligentes
Sandrerley R. Pires¹, Paulo A. L. Fernandes², Sirlon D. de Carvalho¹,
Marlene F. R. Gomes², Messias R. da Silva²

Resumo – Este artigo descreve a criação de um ambiente multiagente configurável por um conjunto de interfaces amigáveis. O objetivo é permitir
que usuários pouco experientes possam construir soluções multiagente para refinar conteúdo em banco de dados a partir de informações contidas
em outros repositórios. O ambiente permite a criação de agentes de extração e atualização de dados, além de agentes de inferência, esses com
capacidade de inteligência híbrida. O trabalho propõe uma interface onde o conhecimento do agente é inserido de forma gráfica, sendo essa a maior
contribuição do ambiente proposto. Um exemplo refinando a base de dados georreferenciada da Celg D demonstra as facilidades de uso do ambien-
te. Neste exemplo, uma solução resolve, de forma automática, 22% do principal problema de integridade da base georreferenciada. Conclui-se que
o ambiente multiagente criado é realmente capaz de permitir que usuários pouco experientes possam utiliza-lo de forma eficiente.

Palavras-chave – isolador modular; isolador tipo pino; silicone.

I. INTRODUÇÃO Assim, este trabalho propõe a criação de um ambiente mul-


tiagente baseada na abordagem simbolista [4] e com recursos
Uma característica importante que o uso da inteligência artifi- adicionais para o uso de outros modelos de raciocínios, dando-
cial (IA) [1] traz aos sistemas computacionais é a flexibilidade. Ela -lhe a capacidade de resolver problemas através de mecanis-
torna os sistemas capazes de assimilar modelos de comporta- mos híbridos de inteligência artificial [1].
mentos e, a partir desses modelos, resolver problemas variados.
Este trabalho disponibiliza um ambiente multiagente [2] com o O objetivo é abstrair do usuário final parte da complexidade
objetivo de resolver problemas do cadastro técnico georreferen- inerente à criação de soluções. A interface proposta se estrutura
ciado da rede de distribuição da Celg D (Celg Distribuição S.A.). a partir da análise de problemas dentro da Celg D, onde solu-
ções multiagente podem ser úteis para o refinamento de infor-
A motivação para o desenvolvimento do projeto foi saber mações no cadastro técnico da empresa.
que diversos sistemas de informação da Celg D possuem infor-
mações passíveis de serem relacionadas para gerar um novo II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
conhecimento georreferenciado e, dessa forma, possibilitar o
refinamento do cadastro técnico da empresa. Entretanto, os sis- Analisando a natureza dos problemas enfrentados pela área
temas são muitos e cada nova possibilidade de relacionamen- de Geoprocessamento da Celg D, notou-se que três atividades
to para a geração de informações georreferenciadas envolve principais ocorrem em todas as soluções estudadas: a extração
sempre análises complexas, implementação de consultas SQL de informação, a análise e produção de novas informações a
[3], além de outros aspectos que necessitam ser tratados para partir das informações extraídas e o uso desta nova informação
constituir a solução. Esse cenário de soluções complexas e dife- para refinamento do banco de dados. Assim, a aplicação propos-
renciadas umas das outras, remetem à necessidade do uso da ta em um conjunto de agentes inteligentes [5] divididos em três
IA para tornar o processo de construção de solução mais flexível. camadas distintas, que deverá suprir os três papeis principais
de toda solução multiagente analisada. É necessário que esses
Um outro problema tratado neste trabalho é a dificuldade do agentes inteligentes possam comunicar-se dentro do ambiente.
usuário final construir soluções em um ambiente genérico que Desta forma, diante das necessidades enumeradas para o am-
oferece recursos de IA. A criação de regras em um sistema espe- biente, este trabalho propõe a arquitetura ilustrada na Figura 1,
cialista pode ser uma tarefa árdua para o usuário, dependendo cujos elementos principais são:
da sua experiência com o assunto. Adiciona-se a essa dificuldade
a elaboração de complexos SQLs para extração de informação e 1. Mural: área comum para a comunicação entre agentes.
também para a atualização de informações no cadastro técnico. Nele se escreve símbolos para expor alguma informação ou
para ativar ações de outros agentes do ambiente;
“Desenvolvimento de Ambiente Multiagente e de cultura organizacional para a construção de
agentes inteligentes: Uma metodologia de monitoramento do Cadastro Técnico georreferen- 2. Agentes Extratores: entidades capazes de buscar informa-
ciado”. PD-6072-0276/2011; Outro - Qualidade de bases de informações através da atuação
ções em bancos de dados, planilhas, arquivo texto e Web Servi-
de Agentes Inteligentes; Celg D; FUNAPE/UFG;
ces, expondo tais informações no mural;
‘Investimento de R$ 837.046,52.
1
Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação
(e-mails:sandrerley@emc.ufg.br,sirlondiniz@gmail.com) 3. Agentes Atuadores: realizam as atividades de raciocínio,
2
Celg D, (e-mail: paulo.afonso@celg.com.br, marlene.frg@celg.com.br, messias.rs@celg. correlacionando os produtos dos extratores, analisando-os e
com.br)
chegando a conclusões que serão escritas no Mural;
130 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

Figura 2. Mostra a representação gráfica de contextos

Figura 1. Estrutura do ambiente multiagente proposto.

4. Agentes Atualizadores: entidades que executam atualiza- por alguma ação são disponibilizados no ambiente multiagente.
ções em bancos de dados ou, adicionalmente, podem gerar re- Desta forma, se no ambiente encontram-se os símbolos “A” e “C”,
latórios de advertência para os usuários. o conjunto de ações mapeadas na região onde A&C é ativado,
levando ao disparo das ações ligadas a essa região de ativação.
A arquitetura multiagente criada é similar à suportada pelo
JADE [6], recurso muito utilizado nas aplicações com agentes III. RESULTADOS OBTIDOS
inteligentes.
O problema tratado neste trabalho é a respeito de consumi-
A. Interface para criação de Agente Atuador dores que não possuem a localização geográfica de seu poste
registrada no sistema. Entretanto, sabe-se que no sistema co-
Para criar a base de conhecimento é necessário entender mercial, através de uma tabela de rota de leitura de consumi-
qual será o encadeamento de regras durante o processo de ra- dores, existe a possibilidade deste consumidor estar ligado no
ciocínio até se atingir uma conclusão. As regras são ativadas mesmo poste que os consumidores anterior e posterior a ele,
pela configuração dos símbolos presentes no Mural. na rota de leitura. A solução criada neste exemplo irá fazer as
seguintes tarefas:
Normalmente, em um sistema especialista padrão, as regras
se iniciam com condições simples. À medida em que o processo 1. Relacionar todos os consumidores sem posicionamento
de inferência caminha, as condições se tornam cada vez mais geográfico do poste e expô-los no Mural, um a um;
complexas, gerando grandes encadeamentos de estruturas
SE...ENTÃO. 2. Para cada consumidor exposto determinar o consumidor
anterior e posterior a partir do sistema comercial;
Neste projeto, observou-se que as condições compostas e
o “afunilamento” em um processo de inferência podem ser fa- 3. Encontrar os dados do poste a que os consumidores ante-
cilmente expressos em termos da expressão gráfica de regiões rior e posterior estão ligados;
que por sua vez contém sub-regiões, conforme mostrado na Fi-
gura 2. Abordagem semelhante pode ser encontrado em [7]. 4. Avaliar se os três consumidores estão no mesmo poste,
O raciocínio iniciou-se em “A”, algumas ações geraram “B” no atualizando o posicionamento do consumidor avaliado.
contexto, agora as regras do contexto A&B serão ativadas e as-
sim por diante. Estima-se que esta solução possa reduzir o problema do ca-
dastro técnico em 25% das ocorrências de falhas de posiciona-
O quadro do “Contexto E”, em destaque na Figura 2, repre- mento de consumidor.
senta uma condição composta (A&B&C&E) de forma bastante
natural. Definida a região de ativação, deve-se anexar a essa re- A Figura 3 mostra um esquema com os agentes que compo-
gião um conjunto de ações que seriam executadas caso o fluxo rão a solução no ambiente multiagente. Propõe-se criar cinco
de raciocínio chegasse a ela. Essas ações são inseridas através agentes, sendo três extratores de informação, um para atuar no
da escrita de um script procedural que descreve o comportamen- processo de inteligência e um agente atualizador.
to do agente diante da situação caracterizada no Mural.
Após definir a relação de agentes que comporão a solução,
Através da visualização gráfica é possível visualizar contex- as responsabilidades de cada um deles e os símbolos que sen-
tos que com o encadeamento de regras, na forma de scripts, não sibilizarão os agentes projetados, passa-se ao processo de cria-
seriam simples de serem percebidos. ção desses agentes no ambiente multiagente.

Ressalta-se que o nome do contexto utilizados na Figura 2, Criou-se três agentes Extratores sendo eles: (1) “Extrai con-
“A”, “B” e outros, na verdade são os nomes dos símbolos, e que sumidor sem Poste” que é o responsável por buscar no banco
P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL 131

Figura 3. Ilustração da solução exemplo no ambiente multiagente.

Figura 4. Tela de configuração do agente atuador.


Figura 5. Interface de implementação do comportamento do agente.

de dados georreferenciado a relação de consumidores que não para o agente forem ativados. Para a definição das ações que
possuem informações de poste e expô-los no Mural; (2) “Extrai o agente deve tomar, o usuário deve clicar no círculo no canto
Consumidores da Rota” é o responsável por extrair do sistema superior do estado, conforme está demonstrado na Figura 4. A
comercial quais são os consumidores vizinhos do consumidor interface mostrada na Figura 5 se abre para que o usuário des-
em análise; (3) “Extrai Poste de Consumidor” responsável por creva as ações que serão executas pelo agente, caso o estado
recuperar o número do poste em que os vizinhos estão ligados. se ative. Os códigos são escritos em JAVA [9] e devem estar
As informações obtidas pelos agentes extratores são suficientes sintaticamente corretos para que possam ser executados. A Fi-
para realizar todo o processo de análise da solução. Os agentes gura 5 apresenta um pequeno trecho de código que avalia se
podem ser criados através de uma grade QBE [8] ou através de a busca de consumidores vizinhos do consumidor foi realizada
comando SQL. adequadamente.

Criou-se um único agente Atualizador. A responsabilidade Após a configuração da solução, a mesma foi aplicada à base
dele é a vinculação do consumidor a um determinado poste. de dados georreferenciada que possui cerca de 15.500 consu-
O processo de criação do agente atualizador é semelhante ao midores sem a informação de poste. Para a solução implementa-
agente extrator, mas neste caso a grade QBE irá estruturar um da, foram observadas a ocorrência de correção de 3.468 casos
comando UPDATE para realizar a atualização de dados. As in- no universo analisado, isto é, cerca de 22,3% de acertos, ficando
formações necessárias para efetivar a atualização do cadastro próximo da expectativa de 25% de solução para o problema tra-
técnicos são colocadas no símbolo que o agente atuador, coor- tado neste exemplo.
denador do processo, expôs para chamar o agente atualizador.
Ressalta-se que à medida que novas possibilidades de cor-
Finalmente, criou-se um único agente Atuador cujo nome é reção de problemas forem idealizadas, o ambiente multiagente
“Ajusta Poste Consumidor”, mas como pode-se observar na Fi- poderá suprir os recursos necessários para a construção de ou-
gura 4, no diagrama de estados importantes, toda a complexida- tras soluções, obtendo a médio prazo altos índices de correção
de inerente à solução pôde ser exposta em um único diagrama para o cadastro técnico da Celg D.
de forma relativamente simples.
IV. CONCLUSÕES
Toda a relação de regras que comporá a base de conheci-
mento do Agente Atuador será criada a partir do diagrama mos- Este trabalho mostrou uma proposta de estruturação de um
tra na Figura 4. ambiente multiagente capaz de solucionar problemas comple-
xos, mas, no entanto, exigindo um mínimo de esforço cognitivo
O usuário deve também especificar as ações que o agente do usuário para a estruturação das soluções multiagente. Adicio-
deverá executar quando um, ou vários, dos estados definidos nalmente, apresentou os resultados da implementação de uma
132 P&D - Revista Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL

de solução, baseada na abordagem proposta, para amenizar A elucidação teórica da proposta, a apresentação de um con-
um problema de referenciamento de consumidor existente no junto de telas que compõem a interface gráfica adequada e, final-
cadastro técnico da Celg D. mente, a apresentação de um exemplo prático, demonstram que
os objetivos do projeto de P&D foram plenamente alcançados.
A estruturação de contextos de forma gráfica permitiu uma
redução significativa da complexidade na criação das regras, V. AGRADECIMENTOS
pois propiciou uma visão panorâmica de um conjunto finito de
estados em que o agente pode estar. Em grande parte dos pro- À Agência Nacional de Energia Elétrica pelo suporte fi-
cessos de inferência, esse contexto visualmente coberto pode nanceiro ao projeto e à equipe da CELG Distribuição S.A.
ser suficiente para a estruturação de todo o conjunto de regras. pelas colaborações.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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