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Mudanças

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Ano III - Número 11


Outubro de 2010
à vista
Pólo de Silveira Martins
precisa de reestruturação
ao completar 500 dias
página 12

Problemas Cultura e Como é


de resgate tradição renovado
hospitalar unem os o acervo da
na UFSM universitários Biblioteca

página 6 página 20 página 8


sumário
4 entrevista
Produtos UNI retornam ao mercado da região
6 geral
Atendimento pré-hospitalar no campus LULA INAUGURA OBRAS NA UFSM
8 geral Primeiro presidente democraticamente elei-
Aquisição de livros pela Biblioteca Central to a pisar na UFSM, Luiz Inácio Lula da Silva,
esteve na instituição no dia 3 de setembro para
10 geral inaugurar obras do REUNI – os campi da Uni-
UFSM vai ter ciclovia em 2011 versidade em Frederico Westphalen, Palmeira
11 paralelo das Missões e Silveira Martins. Outras inaugu-
Questões de Educação Física no Vestibular? rações ocorreram simultaneamente na UFRGS,
Unipampa e FURG.
12 capa No Largo do Planetário, a estrutura mon-
Problemas da UDESSM após a implantação
tada especialmente para o evento recebeu
16 de dentro para fora cerca de três mil pessoas em uma sexta-feira
Músicos da UFSM além-fronteiras que amanheceu chuvosa. Com Lula, estiveram
presentes o prefeito municipal Cezar Schirmer,
17 de fora para dentro o ministro da Educação Fernando Haddad, e
Son-rise: qualidade de vida para autistas o ex-ministro das Cidades e ex-governador do
Rio Grande do Sul Olívio Dutra (foto ao lado).
18 categorias O presidente permaneceu na UFSM por
Rotina dos vigilantes da UFSM
pouco mais de duas horas, tempo necessário
19 o arco da velha para que autoridades das quatro instituições
Recordações do Colégio Politécnico que participavam da cerimônia se comunicas-
sem por teleconferência. O ato foi aberto com
20 cultura fala do prefeito Schirmer. Também discursa-
Conhecimento e tradição unidos por um ideal
ram o Reitor da UFSM, Felipe Müller, o repre-
22 cultura sentante do Diretório Central dos Estudantes
Teatro independente em Santa Maria (DCE), o aluno Pedro Silveira, o ministro
Haddad e, por fim, o presidente Lula.
24 perfil
Estratégias para alcançar um sonho

expediente Novidades na JAI


Revista Laboratório do 4º semestre de Jornalismo A 25ª Jornada Acadêmica Integrada da
da UFSM UFSM, a JAI, acontece de 9 a 12 de novem-
Edição: Viviane Borelli bro e reforça a união entre ensino, pesquisa
Sub-edição: Kamila Baidek e extensão na Universidade. Paralelamente à
Diagramação: Anelise Dias, Gabriela Moraes, Guilherme
Porto, Luiz Valério Seles, Manuela Ilha e Mathias Rodrigues JAI, ocorrem o Festival de Cultura e Folclo-
Coordenação de diagramação: Maiara Alvarez (8º sem.) re da UFSM e o 1º Congresso Internacional
Revisão: Bárbara Barbosa, Camila Marchesan, Fernanda
Arispe, Gabriel Bortulini, Gregório Mascarenhas, Greice de Ciências pela Vida, com o tema “Huma-
Marin, Janine Appel, Julia do Carmo, Olívia Scarpari e nização e Inovação”.
Renata Müller. Colaboração: Paula Pötter (8º sem.)
Fotografia: Gabriela Moraes, Iuri Müller, Maurício Brum e
A inscrição para alunos ouvintes na
Yuri Medeiros jornada vai até dia 16 de outubro, ao custo
Divulgação: Débora Dalla Pozza e Eduarda Toscani de R$ 5,00. A JAI 2010 visa trocar conheci-
Edição online: Giuliana Matiuzzi, Marlon Dias e Nadia
Garlet mentos e experiências entre alunos e profes-
Capa: Maiara Alvarez sores, divulgar novas metodologias, discutir
Foto da capa: Iuri Müller
Professora responsável: Viviane Borelli Mtb/RS 8992 temas atuais e congregar os docentes e
Endereço: Campus da UFSM, prédio 21, sala 5234 discentes da UFSM e de outras instituições
Telefone: (55) 3220 8487
Impressão: Imprensa Universitária do país. Mais informações da JAI podem ser
Data de fechamento: 01 de outubro de 2010 encontradas em www.ufsm.br/jai.
Tiragem: 500 exemplares
www.ufsm.br/revistatxt
txt.revista@gmail.com

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carta ao leitor
Foto: Iuri Müller

Nos seus 50 anos de existência, a


UFSM marcou sua trajetória com ideias
de expansão para além dos limites mu-
nicipais. Em 1969, antes mesmo de
completar a sua primeira década, a Uni-
versidade ergueu, no ainda inóspito e
distante estado de Roraima, um campus
avançado da instituição. Mesmo tantos
anos depois, com a UFSM consolidada
em Santa Maria e respeitada em todo o
país, os ideais de antigamente são man-
tidos.
Em julho de 2005, propondo inte-
riorizar o Ensino Superior no Rio Gran-
de do Sul, a UFSM inaugurou o Cen-
tro de Educação Superior Norte/RS
(CESNORS) – hoje com unidades em
Palmeira das Missões e Frederico Wes-
tphalen. Em 2007, com os recursos do
EM DISCUSSÃO A COMUNICAÇÃO POPULAR Reuni (Programa de Reestruturação e
Em sua 35ª edição, a Semana Acadêmica da Comunica- Expansão das Universidades Federais)
ção coloca em pauta o popular e o alternativo com o mote nascia a Unidade Descentralizada de
“Comunicação feita à mão”. Dentro dessa discussão, emer- Ensino Superior de Silveira Martins, a
UDESSM.
gem também a literatura, a cultura pop e a política.
Entretanto, cada passo para além dos
A semana é organizada pelo Diretório Acadêmico dos muros da Cidade Universitária precisa
Cursos de Comunicação Social – Mário Quintana, e acon- de alguns cuidados: infraestrutura em
tece entre os dias 19 e 22 de outubro no campus da UFSM cada unidade, currículo adequado às
com uma programação de palestras e oficinas diversificadas. necessidades da região e recursos huma-
Estarão presentes nomes como Aldyr Garcia Schlee, nos suficientes para atender a essas de-
jornalista e escritor, Marcelo Canellas, repórter especial da mandas. Como reconhece a Reitoria da
Rede Globo e egresso da UFSM, e Patrícia Saldanha, profes- UFSM, o caso de Silveira Martins é um
sora da UFF (Universidade Federal Fluminense) para falar dos que, quase 500 dias após a implanta-
de publicidade comunitária. ção, carece de mudanças. A reportagem
de Capa faz um retrato da situação atual
Na semana, acontecem também as avaliações do PANC,
da UDESSM: problemas, perspectivas
o Prêmio Anual de Comunicação. Com objetivo de valorizar de transformações e o futuro da UFSM
os melhores trabalhos produzidos no ano pelos alunos, o em Silveira Martins.
prêmio abrange três grandes áreas: Jornalismo, Publicidade
e Propaganda, e Relações Públicas. Acompanhe a programa- Iuri Müller e Viviane Borelli
ção completa em www.35secom.net.

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entrevista

O mesmo sabor
sob nova direção Produtos da marca UNI voltam ao mercado
Débora Dalla Pozza, Eduarda Toscani e Renata Müller

D urante 15 anos, a Cooperativa dos Produto-


res de Leite de Santa Maria, a COOPROL, e
a Usina Escola de Laticínios, produziram em
parceria iogurtes, sorvetes e outros derivados lácteos
que eram comercializados na região sob a marca UNI.
nova fase?
Adilson: Produzimos leite integral, uma linha de
iogurtes que tem vários sabores, queijos de três tipos,
nata, ricota, doce de leite e também vários sabores de
sorvetes. O beneficiamento é, em média, de três mil li-
Este convênio foi rompido em 2008 devido a problemas tros diários nesses diversos derivados do leite.
financeiros sofridos pela COOPROL. Em março deste .txt – Para reativar a fabricação dos produtos
ano, os produtos UNI voltaram ao mercado. Dessa vez, UNI na Usina Escola de Laticínios, quais foram as
produzidos em parceria com a Cooperativa Regional principais mudanças estruturais que vocês tiveram
da Reforma Agrária Mãe da Terra (COPERTERRA), de fazer?
de Tupanciretã, que investiu cerca de R$ 250 mil na re- Adilson: Como ficamos muito tempo parados,
forma das instalações da usina e na compra de novos houve várias questões que tiveram de ser mudadas
equipamentos. Entretanto, recentemente, a produção obrigatoriamente. Tivemos de fazer toda uma reforma
foi paralisada devido a problemas com a vigilância sa- na parte elétrica, além de manutenção em praticamen-
nitária. Para saber mais sobre a volta dos produtos UNI te todos os equipamentos. Isso porque, à medida que
ao mercado e os problemas pelos quais a Usina Escola começávamos a usar, eles davam problemas. Então, fo-
de Laticínios passou, a .txt entrevistou Adilson Pereira, mos adequando conforme as necessidades, até porque
gerente da filial da Cooperterra, que coordena a produ- equipamentos desse tipo têm um desgaste maior quan-
ção dos produtos UNI. do estão parados do que quando estão funcionando.
.txt: O retorno dos produtos UNI aos mercados Também fizemos uma adequação na parte de estrutura
de Santa Maria e região foi bem aceito pelos consu- civil para nos enquadrar às novas regras da vigilância
midores? sanitária.
Adilson: A aceitação foi boa, tanto na cidade de .txt: Então o convênio com a COPERTERRA su-
Santa Maria, quanto em outros municípios da região. A priu as necessidades da Usina?
gente conseguiu retornar a produção de todos os pro- Adilson: Na verdade, a Usina foi disponibilizada de
dutos que eram feitos anteriormente. forma licitatória, ou seja, através de uma licitação para
.txt – Quais produtos UNI são produzidos nessa entidades e cooperativas interessadas. Já que lidamos
Foto: Guilherme Porto

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com o recolhimento de leite há 10 anos, sentimos a
necessidade de fazer o beneficiamento. Quando surgiu
essa oportunidade, nós participamos do processo legal
de licitação e apresentamos a documentação para então
começar a explorar o espaço físico da Usina.
.txt: Existiu uma troca no pessoal que trabalhava
há dois anos?
Adilson: Exatamente. São duas entidades diferen-
tes. Uma era a COOPROL, que tinha a sua estrutura, e
outra é a COPERTERRA, que tem outro sistema, ou-
tro pessoal e outra forma de trabalho. Então tivemos de
readequar os recursos humanos, enfim, todo o espaço
para trabalho conforme o que a COPERTERRA tem no
seu planejamento.
.txt: Esses funcionários são exclusivos da usina?
Adilson: Tem dois sistemas. Como trata-se de um
contrato com a COPERTERRA, é ela quem disponibi-
liza os funcionários. A Universidade disponibiliza uma
pessoa que trabalha internamente que tem a responsa-
bilidade de acompanhar os trabalhos e as atividades,
mas fica mais como apoio e orientação.
.txt: Adilson, sabemos que a Usina Escola de La-
ticínios foi interditada recentemente pela Vigilância
Sanitária. Qual foi o motivo para isso?
Adilson: Bom, a estrutura da Usina, para quem
conhece, foi construída há muito tempo. No caso, para
reativar a própria Usina, tivemos que fazer várias altera-
O gerente da filial da COPERTERRA, Adilson Pereira,
ções bem práticas para adequar as exigências atuais da
coordena a fabricação dos produtos UNI
vigilância sanitária. Fizemos alterações na parte inter-
na, já que não pode ter nenhuma estrutura de madeira
na área de produção, como portas e janelas. Tem de ser (Federação Estadual de Educação Ambiental), além de
tudo de metal. Também fizemos várias adequações em vários outros registros que não são obrigatórios, mas
toda a parte de registro de produtos, o que não era feito que são importantes no nosso trabalho do dia-a-dia.
de forma correta anteriormente e era necessário. Além .txt: Como estão os esforços para voltar com po-
de toda a parte de registro, também fizemos o layout de tência ao mercado consumidor?
rótulos, e ainda temos toda uma estrutura pra adequar Adilson: Nós temos muita dificuldade para entrar
ao CISPOA (Coordenadoria de Inspeção Sanitária de no mercado. Temos conhecimento, por relatos das pes-
Produtos de Origem Animal), que é o órgão que nos soas que trabalhavam aqui anteriormente, que na cida-
fiscaliza. de existiam dois, três, tipos de leite diferentes há um
.txt: Qual a perspectiva para solucionar esses tempo. Já hoje, no nosso levantamento, existem sete
problemas e como vocês estão lidando com eles? ou oito tipos diferentes, e isso faz com que a concor-
Adilson: Se eu for listar todas essas questões prá- rência acabe colocando os mesmos produtos à venda.
ticas, dá uma lista enorme, desde portas, investimento Isso dificulta bastante a disponibilização dos produtos
em câmara fria, janelas da parte externa, enfim, várias no mercado, de forma geral. Nós temos um custo alto
mudanças. Até vestiário feminino, que nós não tínha- na parte de produção e tivemos que fazer vários inves-
mos, tivemos de fazer. Hoje já estamos num processo timentos, além de termos um cronograma para obter
de conclusão de todas essas adequações, que são ques- esse retorno. Tudo isso dificultou e está dificultando
tões que não temos como ficar jogando para frente. In- a disponibilização desses produtos no mercado santa-
clusive tivemos que fazer essas adequações para sermos mariense.
liberados pra trabalhar. Estivemos paralisados durante .txt: E qual é a expectativa para o futuro?
30, 40 dias para fazer essas adequações. Quando fica- Adilson: É otimista. Nós temos sempre esse prin-
ram prontas, fomos liberados para voltar às atividades. cípio de ser otimista e de acreditar no potencial desse
.txt: E para fazer essas reformas, vocês encontra- trabalho de beneficiamento. Buscamos vários projetos
ram algum empecilho burocrático ou financeiro? da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento)
Adilson: Com certeza. Nós tínhamos um plane- e de escolas que possam viabilizar o trabalho na própria
jamento anterior com o que julgávamos necessário e, Usina. Esses projetos nas escolas começaram com uma
como tivemos de fazer várias alterações, passamos por lei, do ano passado, que exige que as escolas usem 30%
Foto: Renata Müller

várias dificuldades. Também enfrentamos alguns em- do recursos da União para comprar produtos derivados
pecilhos para colocar os documentos 100% em dia. An- de agricultura familiar. Como somos uma cooperativa,
tes não tínhamos registro, nem várias outras questões nossa base é a agricultura familiar. Aí surge, então, a
nesse sentido. Hoje, nós temos toda essa parte, tanto possiblidade de disponibilizar os produtos produzidos
de ordem de fiscalização quanto na parte da FEPAM aqui para merenda escolar, de maneira formal. .txt

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geral

Emergência 192 Como (não) funciona o resgate no campus da UFSM


Olívia Scarpari e Mathias Rodrigues

O relógio marcava quatro horas


da tarde de quinta-feira, dia 19
de agosto de 2010. As aulas do
segundo semestre transcorriam normal-
mente. Enquanto isso, o aluno do Colégio
do HUSM para a remoção”. Por segurança,
o resgate da Unimed também foi contata-
do.
O caso de Francisco não era grave.
Mesmo assim é revelador de uma deficiên-
dem pelo plantão durante as 24 horas do
dia. Segundo a encarregada pelo transporte
do hospital, Nadir Lopes, os funcionários
têm como trabalho apenas o transporte de
pacientes internos do HUSM.
Politécnico, Francisco Oliveira de Souza, cia que existe no campus da Universidade. “Nós fazemos o serviço de transporte
bolsista de um projeto de energias renová- Alerta para uma fratura na estrutura do dos pacientes do hospital para outras cida-
veis, equilibrava-se na viga do telhado do atendimento e mostra que quando uma des, caso haja necessidade de certa cirur-
galpão onde se guardam colheitadeiras e real emergência ocorrer, o socorro, infe- gia que não possa ser realizada aqui, ou de
tratores utilizados pelo colégio. lizmente, pode não chegar a tempo. “Meu consulta com algum outro médico” – diz
Desempenhando o trabalho que lhe ca- caso acabou não sendo grave, mas fico ima- Nadir. A funcionária também ressalta que
bia em troca da remuneração de R$180,00 ginando quem corta e mexe com carnes o paciente é sempre acompanhado de um
mensais, ele tentava passar um cabo de um aqui no Politécnico. Se por acaso alguém técnico de enfermagem ou de um médico.
lado do telhado a outro. Tal ação seria cha- decepa a mão e precisa de resgate urgente Já o atendimento pré-hospitalar de emer-
ve para o êxito do funcionamento de um não tem como contar com isso aqui pela gência ou resgate, não é tarefa dos motoris-
catalisador destinado a transformar raios própria UFSM” – lembra Francisco. tas do HUSM: “nós só temos uma ambulân-
de sol em energia. Concentrado em realizar Os ponteiros do relógio marcavam nove cia aqui, que normalmente está viajando. E
a tarefa à qual foi designado, desequilibrou- horas da noite. O movimento na Universi- mesmo se o carro estiver aqui, ainda há a
se e pisou nas telhas irregulares que davam dade rareava e Francisco tratava de retor- necessidade de que uma equipe médica nos
forma ao telhado. Forçou com o pé a telha, nar a sua casa, em companhia da mãe, que acompanhe para realizar o resgate. Mas ob-
que rompeu-se e o fez cair de uma altura o auxiliava. Recebeu um atestado médico viamente que, por uma questão de humani-
de aproximadamente oito metros. Após 45 de uma semana, porém faltou a mais aulas, dade, ajudamos sempre que podemos”.
minutos de espera, uma ambulância chega- devido às fortes dores nas costas ocasiona- O motorista Roberto dos Santos este-
va para socorrê-lo. das pela queda. Hoje, Francisco trabalha ve presente em um desses casos de ajuda.
“Quando o aluno caiu, ligamos pronta- em terra firme, em um outro projeto que Ele dirigiu a ambulância que participou do
mente para o HUSM. Disseram que havia faz marcações que fornecerão dados para resgate de Francisco. “Nós ajudamos em
uma ambulância para socorrê-lo, mas que alimentar o Sistema de Posicionamento tudo que podemos, mas apenas dirijo, não
não dispunham de médicos para atender Global (GPS). tenho como auxiliar na parte médica. Nos
aquela ocorrência” - relata Valmir Aita, TRANSPORTE - O Hospital Universi- ligaram, o carro estava pronto para sair, mas
vice-diretor do Colégio Politécnico da tário de Santa Maria (HUSM) possui uma o PA [Pronto-Atendimento do HUSM] não
UFSM. Orientaram-no, então, a chamar o ambulância própria e outra está a caminho liberou nenhum enfermeiro para me acom-
Corpo de Bombeiros, “pois disseram que – ainda em fase de licitação. Para dirigi-las, panhar. Tivemos que chamar os Bombeiros
eles tinham pessoal treinado para fazer o há quatro motoristas servidores da univer- e demoramos muito para fazer o resgate” –
resgate e que poderiam utilizar ambulância sidade e mais um terceirizado. Eles respon- lembra o motorista.
Foto: Olívia Scarpari

Francisco Oliveira de Souza esperou 45 minutos para ser atendido


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O HUSM não faz atendimento pré-hospitalar, como informa o vice-diretor geral Arnaldo Teixeira Rodrigues (detalhe)

HUSM não dispõe de estrutura para resgate


O Pronto Atendimento (PA) do HUSM versidade. Isso é papel do sistema público da comunidade acadêmica, tem quase 50
conta com apenas uma equipe médica por de saúde, não do hospital, nem da UFSM” mil habitantes e está a mais de 30 minutos
turno. Lá são recebidos pacientes com os – diz o vice-diretor do HUSM. de carro do Patronato” – sugere Rodri-
mais diversos problemas, sem contar as “As empresas privadas, como a Uni- gues.
emergências provenientes de toda a região med, a Protege e a Cauzzo, fazem remoções O secretário de saúde de Santa Maria,
central do Rio Grande do Sul. Naura Cou- gratuitas em casos graves, mas os únicos e também vice-prefeito da cidade, José
tinho, enfermeira, afirma que não há como atendimentos realmente públicos e gratui- Haidar Farret, rebate duramente os ques-
o Hospital fazer atendimentos de emer- tos da cidade são o dos Bombeiros e o do tionamentos quanto aos problemas de
gência pré-hospitalar: “Só há uma equipe PA do Patronato” – lembra Arnaldo. Isso atendimentos pré-hospitalares na UFSM e

“ ”
aqui dentro, para atender muita gente. No remete a um problema que não atinge ape- em Camobi: “Lamentavelmente o HUSM
HUSM não existe uma equipe de remo- nas a comunidade acadêmica, mas todos os só atende emergências, e não urgências. Se
ção especializada. Nós apenas fazemos o eles voltassem a atender urgências, não ha-
atendimento hospitalar, que é o realizado O que se pode veria esse problema”. Quanto à sugestão do
quando o paciente chega ao PA. Não há diretor clínico do HUSM, Farret também é
funcionários suficientes para atendermos fazer é chamar enfático: “Se colocássemos um PA em Ca-
fora do Hospital, nem é função do HUSM os Bombeiros ou mobi, aí todo bairro iria querer um. O que
fazer isso”. alguma empresa nós temos que fazer é terminar a Unidade
“O que se pode fazer é chamar os Bom- de Pronto Atendimento (UPA) que fica ao
beiros ou alguma empresa privada” – alega privada lado da Casa de Saúde. A UPA é capaz de
Arnaldo Teixeira Rodrigues, vice-diretor atender a toda a cidade, sem que seja neces-
geral e diretor clínico do HUSM. O mé- habitantes da cidade. Em uma cidade do sária a criação de um PA em cada bairro.”
dico afirma que não há nenhum esquema porte de Santa Maria, com bairros e vilas A deficiência nos resgates emergenciais
de atendimento pré-hospitalar montado geograficamente dispersos, há apenas um não é apenas da UFSM. Trata-se de uma ca-
dentro do campus pela UFSM, e que a co- local capaz de realizar atendimentos pré- rência maior, proveniente da falta de estru-
Fotos: Mathias Rodrigues

munidade acadêmica está sujeita ao mes- hospitalares emergenciais. “Eu acho que, tura do próprio município. Mesmo assim,
mo tratamento, e aos mesmos problemas, caso houvesse demanda, a Universidade a impressão de um HUSM tão perto e, ao
de qualquer morador do bairro Camobi - contrataria alguma empresa para fazer o mesmo tempo, tão longe, abre precedentes
apesar de estarem dentro da universidade atendimento dentro do campus, mas o nú- para torcermos que, se acaso haja alguma
que administra o maior hospital da região. mero de ocorrências é mínimo. O que se complicação de saúde dentro do campus, se
“O HUSM não realiza atendimentos pré- poderia sugerir é a criação de um Pronto prescinda de resgate urgente. Afinal, a solu-
hospitalares, nem dentro, nem fora da uni- Atendimento no bairro Camobi que, além ção será discar 192 e esperar... .txt

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geral

Como os corredores
se enchem de livros
Desinformação sobre os processos de pedidos de livros diminui o número de novidades no acervo
das bibliotecas da UFSM
Giuliana Matiuzzi, Iuri Müller e Maurício Brum

A impressão que se pode ter ao en- enviam para a administração por meio de ma de Apoio ao Plano de Reestruturação
trar em uma biblioteca é a de que um formulário específico (ver quadro). O e Expansão das Universidades Federais),
aqueles livros estão ali desde sem- Setor de Aquisição apenas tem autonomia por sua vez, contam com uma verba pró-
pre – no caso da Biblioteca Central da para repetir uma compra quando uma obra pria de R$ 300 mil, destinados à formação
UFSM, a eternidade dataria de 1972, ano tem muitas reservas ao longo do ano. Por de bibliografia básica. Esses valores são
da inauguração do prédio atual. Mas para isso, mesmo que de fato o acadêmico não repassados pela Pró-Reitoria de Planeja-
manter o acervo de mais de consiga retirar o livro, efetuar mento (Proplan) da Universidade.
180 mil volumes atualizado, há Dentro da a reserva é importante para Desde 2006, quando as compras pas-
um processo quase invisível de sistemática que as carências sejam conhe- saram a ser centralizadas pelo Setor de
sugestões de compra de livros. cidas. Aquisição da BC, todos os pedidos devem
As aquisições definem o que de compras Para todo o ano de 2010, ser encaminhados para lá. Hoje, cabe às
as estantes ganham de novo a da Biblioteca o recurso global para com- Bibliotecas Setoriais apenas a missão de
cada ano letivo. pra de livros é de R$ 400 mil, orientar os professores e estudantes so-
Dentro da sistemática de Central (BC), sem divisão por áreas do co- bre a maneira de fazer as sugestões. Ainda
compras da Biblioteca Central para ganhar é nhecimento. A bibliotecária assim, essa procura costuma ser pequena.
(BC), para ganhar é preciso responsável pela aquisição Ana Claudia Flores é bibliotecária do Cen-
pedir. Ou, em poucas palavras, preciso pedir na BC, Marisa Severo, afirma tro de Educação (CE) desde março deste
é preciso que o administrador desses re- que no momento da compra cabe o bom ano e relata que ainda não foi questionada
cursos saiba do que você precisa. Alguns senso: de um modo geral, os livros de áre- sobre a aquisição.
cursos, no entanto, parecem alheios à Bi- as humanas são mais baratos do que os de Para que o assunto ganhe repercussão,
blioteca e não mantêm um hábito vital Ciências da Saúde e Engenharias. Assim, é a própria direção da Biblioteca Central
para o aumento do acervo: enviar uma lis- necessário encaminhar as compras equili- organiza uma campanha publicitária por
ta de livros para serem adquiridos. brando essa disparidade. meio de cartazes que incentivam e ensi-
As compras de livros são programadas Os cursos que foram criados nos últi- nam a maneira correta de fazer a encomen-
a partir dos pedidos que os professores mos anos com recursos do Reuni (Progra- da. Para a diretora da BC, Maria Inês Figas,

8 .txt Outubro o de 2010


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embora haja oportunidade de efetuar pedi-


dos durante todo o ano, o ideal é que eles As compras de 2010*
sejam encaminhados o mais cedo possível,
já que o processo burocrático tende a atra-
sar a viagem dos títulos desde as livrarias UNIDADE TOTAL DE
conveniadas até as prateleiras da UFSM. ADMINISTRATIVA TÍTULOS
Biblioteca Central 100
A mulher que
Centro de Artes e Letras 264
encomendava livros
Centro de Ciências Naturais e Exatas 107
Embora a prioridade para a encomenda Centro de Ciências Rurais 130
de livros seja a indicação docente, alunos Centro de Ciências da Saúde 220
também podem deixar suas sugestões, seja
Centro de Ciências Sociais e Humanas 1.098
para os de uso em sala de aula, seja para
os literários. Para esses últimos, a bibliote- Centro de Educação 108
cária Marisa Severo administra as compras Centro de Educação Física e Desportos 73
de acordo com os livros que tiveram uma Centro de Tecnologia 238
grande taxa de empréstimo no ano ante- Colégio Técnico Industrial de Santa Maria 150
rior – segundo estatísticas do sistema de
bibliotecas adotado pela UFSM, que pode CESNORS – FW/PM 538
fornecer dados bastante precisos, como, UDESSM – Silveira Martins 91
por exemplo, o histórico de empréstimo
de um usuário. *O Setor de Aquisição solicitou 3.117 livros até o dia 22/09/2010
Entre a lista dos mais emprestados
constam os best-sellers da estação, disputa-
dos reserva a reserva pelos alunos. Segun- para incluir títulos como “Harry Potter”, compras de obras consideradas mais pro-
do ela, o fato de um livro figurar por meses “Lua Nova” e “A Menina Que Roubava fundas, partindo de sugestões enviadas
na lista dos mais vendidos das principais Livros” nas encomendas de literatura. No pelo site da Biblioteca..txt
revistas do país serve como justificativa entanto, ela esclarece que também efetua

Para solicitar livros pelo site da Biblioteca (www.ufsm.br/biblioteca):


Foto: Iuri Müller

No menu à esquerda, localize a seção “Serviços/ disponível. Por último, é preciso fazer o download
Setores” e clique em “Aquisição”. A seguir, vá em da Planilha de Sugestão e enviar, já preenchida,
“Processo de Compra 2010” e clique no link ali para o email livrosbc@gmail.com.

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geral

DNIT aprovou projeto para construção da ciclovia em outubro

UFSM ganha ciclovia


Projeto vai revitalizar também a Avenida Roraima em 2011
Bárbara Barbosa e Greice Marin

O Rede de esgoto
s ciclistas que transitam todos os pelo local. A via iniciará ao lado do posto
dias pela Avenida Roraima, entre do Corpo de Bombeiros de Camobi (RST
o trevo da faixa nova e o arco da 287), na Avenida Roraima e se estenderá
Universidade, encontrarão um novo cami- até o arco da UFSM. A instituição recebeu As valas localizadas nas late-
nho em 2011. A construção de uma ciclovia verba e autorização para viabilizar as obras rais da Avenida Roraima apre-
deverá tornar o trajeto mais seguro e o ce- apenas neste trecho. No entanto, a intenção sentam problemas de sanea-
nário mais agradável. de, no futuro, ampliar a área da ciclovia para mento básico que devem ser
O projeto que autoriza a implantação toda a UFSM. resolvidos pelo projeto de revi-
da ciclovia faz parte da revitalização da O professor do Centro de Ciências Ru- talização. A água não tratada
Avenida Roraima, principal via de acesso rais (CCR), Eno Darci Saatkamp, utiliza a afeta diretamente a vida dos
à Universidade Federal de Santa Maria. bicicleta como seu principal meio de trans-
moradores das redondezas, já
Segundo o pró-reitor de infraestrutura da porte e destaca a relevância de uma via úni-
ca para os ciclistas. ‘“Há cinco anos e meio
que oferece riscos por favore-
UFSM, professor Valmir Brondani, o De-
partamento Nacional de Infraestrutura de convivo com essa realidade e o maior em- cer a proliferação de doenças,
transportes (DNIT) aprovou o projeto no pecilho encontrado é a falta de segurança, como a dengue e a leptospiro-
início de setembro. pois temos de dividir espaço com os outros se. Leda Lima, moradora dos
A licitação do projeto para a reforma da veículos”, explica. arredores da Avenida Roraima
Avenida Roraima, que será realizada pelo Além da ciclovia, o projeto inclui a re- alega sentir-se prejudicada
DNIT, deve acontecer até dezembro. A obra cuperação total do pavimento das duas pis- com o descaso em relação à
terá início cerca de 30 dias após a assinatura tas da Avenida Roraima, a construção de canalização. Entre as princi-
do contrato. Conforme o professor Bron- quatro recuos para paradas de ônibus com pais reclamações da aposen-
dani, as obras provavelmente começam no abrigos (duas na entrada e duas na saída do tada, destaca-se o mau cheiro
início de janeiro de 2011 e serão concluídas campus), a canalização de uma vala de es-
exalado pelo esgoto e a alta
em meados de maio, já que o tempo estima- goto à direita da entrada (desde o trevo até
do para sua realização é de 120 dias. o Colégio Politécnico), a construção de um quantidade de insetos no ve-
Foto: Iuri Müller

A ciclovia vai ter 680 metros de ex- calçadão de três metros de largura sobre a rão. Em função da presença
tensão e 2,5 metros de largura e deve su- canalização, e a implantação de iluminação de roedores, ela conta que de-
prir a demanda, especialmente de alunos adequada. O custo total da obra é de, apro- detiza a casa anualmente.
e funcionários que trafegam diariamente ximadamente, 2,5 milhões de reais. .txt

10 .txt Outubro de 2010


paralelo .txt

no Vestibular
Debate sobre inclusão de disciplinas objetiva mais qualidade no ensino
Gabriel Eduardo Bortulini e Luiz Valério Seles

A seleção para o ingresso ao ensino


superior nas instituições públicas
brasileiras vem sofrendo inúmeras
mudanças nos últimos anos. O Exame Na-
cional do Ensino Médio (Enem) ganhou
seridas no vestibular, as escolas principalmente as gurias – praticamente
se sentiriam na obrigação nem temos aulas práticas e nem se fala em
de mudar a maneira como aulas teóricas. Tivemos apenas um trabalho
a disciplina é ensinada”. Tra- durante o ano todo, que era sobre regras de
dicionalmente tomada como uma matéria futebol e basquete”.
peso e faz parte do processo seletivo. Em prática, os professores das escolas terão de Em contrapartida, na Escola Estadual
alguns casos, o Enem substitui a prova ha- se adaptar a essa mudança, pois a carga de de Ensino Médio Maria Rocha, em Santa
bitual de ingresso em Instituição de Ensino conteúdos teóricos a serem trabalhados Maria, as mudanças no ensino da disciplina
Superior (IES). O vestibular na Universi- aumentará. já vêm ocorrendo. Segundo o professor de
dade Federal de Santa Maria (UFSM) não Conforme a professora do CEFD, Educação Física Rogerson Ruiz Gonçalves,
fugiu à tendência nacional: reduziu o nú- Maria Eliza Gama, o processo seletivo da o a escola possui na proposta pedagógica
mero de questões e o tempo do concurso; UFSM, apesar de adotar o Enem como 20% da Educação Física questões como a com-
acrescentou uma forma de ingresso seriada de seu peso final, vai de encontro a ele em preensão do funcionamento do organismo
com Programa de Ingresso ao Ensino Su- relação à abordagem das questões. Antes humano de forma a reconhecer e modifi-
perior (Peies) e incluiu também uma nova tido como uma prova interdisciplinar, as car as atitudes corporais e a valorização da
disciplina nas provas – a Filosofia. reformulações do Enem tor- qualidade de vida. São pro-
Entre todas as mudanças, a inclusão da naram a prova mais clássica, A inclusão da postas que não se limitam
disciplina no vestibular influi mais dire- já que privilegia conteúdos Educação Física no apenas à teoria e à prática
tamente no perfil dos estudantes. Nas es- específicos tradicionais. A vestibular obriga as esportiva, mas que abor-
colas de ensino médio, a Filosofia passou avaliação deixa de lado disci- dam outro viés da área,
a ser tão valorizada quanto as disciplinas plinas como Educação Física, escolas de ensino passível de ser questão de
tradicionais. A UFSM, pioneira no Brasil Artes, Sociologia e Filosofia, médio a mudarem vestibular. “Eu tenho aqui
em implementar a Filosofia no processo o que, para a professora, é um a forma de tratar a alunos que arrumam uma
seletivo, constatou que os acadêmicos que retrocesso. disciplina e aponta forma de não frequentar a
enfrentaram as novas questões estavam Uma das primeiras uni- uma deficiência do Educação Física para po-
mais preparados para encarar a faculdade. versidades a incluir questões
A administração superior da Universidade de Educação Física em seu
ensino brasileiro der ter outras aulas no cur-
sinho pré-vestibular. Com
Federal de Uberlândia – uma das institui- vestibular foi a Universidade a disciplina no vestibular,
ções que adota a disciplina – avalia que a Estadual Paulista – UNESP. Segundo a isso pode mudar”, afirma o professor Ro-
inclusão da Filosofia como conteúdo a ser Diretoria Acadêmica da Vunesp – a funda- gerson.
estudado pelo candidato ao curso superior ção organizadora de Concursos Públicos e A inclusão da Educação Física no ves-
teve um impacto positivo nas outras provas Vestibulares da UNESP –, conhecimentos tibular obriga as escolas de ensino médio
do processo seletivo. Depois da Filosofia, de Língua Portuguesa, Língua Estrangei- a mudarem a forma de tratar a disciplina e
na UFSM outras disciplinas ganham vez na ra Moderna, Educação Física, Arte e In- aponta uma deficiência do ensino brasilei-
mesa das discussões. Entre elas, está a Edu- formática, pertencem a uma mesma área, ro. Os estudantes – e também as escolas de
cação Física. denominada Linguagens, Códigos e suas ensino fundamental e médio – alimentam
A iniciativa de inserir questões da disci- Tecnologias. Por essa razão, assim como a uma preocupação exagerada com o concur-
plina no processo seletivo, porém, tem ge- orientação do ensino médio no Brasil fun- so. Assim, tornam-se aptos a prestá-lo, mas
rado uma discussão à parte. A forma como damenta-se nos Parâmetros Curriculares não aprendem os conteúdos específicos da
a matéria é tratada e ensinada hoje nas es- Nacionais (PCNs), os exames vestibulares disciplina. A professora Maria Eliza acre-
colas, faz com que surjam questionamentos da UNESP tratam a Educação Física – que dita que atualmente a busca pelo conheci-
sobre qual será a abordagem tomada pela faz parte desses parâmetros – como uma mento gira em torno apenas do vestibular
Copervers (Comissão Permanente do Ves- disciplina apta a ser abordada em questões e não da real aprendizagem, precarizando
tibular) para a escolha e a produção dessas teóricas específicas. a educação”.
questões. Segundo a estudante do ensino mé- Espera-se que, aos poucos, com as mo-
Segundo o vice-diretor do Centro de dio do Instituto Anglicano Barão do Rio dificações, o ensino se comprometa com a
Educação Física e Desportos da UFSM Branco de Erechim, Caroline Jioucoski, formação de um aluno e não apenas se pre-
(CEFD), Rosalvo Luis Sawitzki, “uma vez os alunos não estão preparados para uma ocupe com um futuro próximo que finda
que questões de Educação Física forem in- prova teórica de Educação Física: “nós – no vestibular. .txt

.txt Outubro de 2010 11


capa
S ilveira Martins, cidade berço da
Quarta Colônia de Imigração, tem
pouco mais de dois mil habitantes,
mas simboliza os principais problemas
enfrentados pela Região Central do Rio
plantar um pólo de ensino que atendesse
às demandas da região. Assim, foi criada
pela UFSM a Unidade de Ensino Superior
de Silveira Martins (UDESSM) no primei-
ro semestre de 2009, através do programa
entrevista à .txt, em maio do ano passado,
José Lannes de Mello – coordenador do
projeto de criação da UDESSM – explica-
va quais eram os objetivos do então recém
criado pólo: “Silveira Martins é, hoje, da
Grande do Sul: recessão econômica, en- de Expansão e Reestruturação das Univer- forma como a gente pensou, uma universi-
velhecimento da população, baixos níveis sidades Federais (Reuni). dade com um viés muito forte para a ques-
de escolaridade, evasão dos jovens para as O quadro de abandono que se estacio- tão da revitalização do espaço rural”.
grandes cidades e dependência da agricul- nou sobre os pequenos municípios do cen- Quinhentos dias depois da inaugu-
tura. O IDH (Índice de Desenvolvimento tro do estado é proporcional ao desafio que ração da UDESSM, a equipe da .txt sobe
Humano) do município, por exemplo, é de nasceu junto com o surgimento da Unida- a serra novamente em busca de algumas
0.796 numa escala que vai de zero a um. O de. A justificativa de criação de um pólo respostas: qual é a situação da Unidade?
número está abaixo da maioria das cidades de ensino distante de Santa Maria trazia Os objetivos que justificavam a fundação
do estado. consigo a necessidade de uma abordagem vêm sendo alcançados? E mais: quais as
Na tentativa de reverter o quadro de de ensino diferenciada, que privilegias- perspectivas para o futuro da Unidade de
desvitalização territorial, decidiu-se im- se o desenvolvimento daquela região. Em Silveira Martins?

UFSM: 500 dias


em Silveira
Martins
Foto: Iuri Müller

.txt volta à UDESSM para mapear os problemas enfrentados


um ano e meio após a implantação
Anelise Dias e Gregório Mascarenhas

12 .txt Outubro de 2010


.txt
Assim, foram reformados apenas os am- meira das Missões demorou quatro. Cer-
Necessidade de ampliação bientes que seriam utilizados pelos alu- tamente está se pensando em alternativas
A UDESSM está instalada no prédio do nos imediatamente. Os espaços reparados para implantar um RU em Silveira Martins,
extinto Colégio Bom Conselho, construí- correspondem a quatro salas de aula, um mas isso leva tempo”.
do em 1908 e mantido pelas irmãs do Ima- laboratório de informática, uma biblioteca Com o objetivo de estruturar mais sa-
culado Coração de Maria durante 80 anos. e uma sala de vídeo, que é utilizada tam- las de aula e de melhorar as condições de
O local, patrimônio histórico de Silveira bém como auditório. Ainda que equipadas, instalação, a Unidade passará por reformas
Martins, foi inicialmente emprestado pelo as salas são insuficientes para atender mais no ano que vem. O diretor da UDESSM,
município para a instalação da Unidade. alunos no caso de um novo vestibular. José Cardoso Sobrinho, informa que há
Em 27 de agosto deste ano, o edifício foi Falta ainda alojamento para quem mora dois milhões de reais para a reforma já li-
cedido à UDESSM. fora da cidade e restaurante universitário. berados pela União: “A obra vai ser licitada
Apesar do prédio não estar em más O vice-reitor da UFSM, Dalvan José Rei- até o final de setembro e os valores já foram
condições, há marcas evidentes da ação nert explica que essas são aquisições que liberados”. Além disso, conta que está pre-
do tempo. Por ser patrimônio histórico, vêm com o tempo: “Santa Maria demorou visto para o orçamento de 2011 um repasse
a UDESSM não pôde fazer alterações na 14 anos para ter um Restaurante Universi- de dois milhões para construção de novos
estrutura arquitetônica do antigo colégio. tário (RU); o pólo do CESNORS de Pal- prédios.

Frente e fundos do Colégio Bom Conselho, no qual está instalada o pólo da UFSM de Silveira Martins

Falta de professores e funcionários


A UDESSM não enfrenta apenas problemas com a
falta de estrutura física. Faltam também pessoas capa-
citadas para atender às demandas dos alunos. Segun-
do dados da Pró-Reitoria de Recursos Humanos da
UFSM, a Unidade possui 12 professores e dois funcio-
nários técnico-administrativos, além de funcionários
de limpeza e segurança de uma empresa terceirizada.
Os dois técnico-administrativos se desdobram entre a
secretaria, a biblioteca e também o setor de projetos
de pesquisa e extensão, já que na UDESSM não há Ga-
Fotos: Anelise Mascarenhas

binete de Projetos.
A falta de pessoal capacitado para atender a cada
setor faz com que a Unidade não possua registros de
dados básicos, como cadastro de professores e alunos,
nem de projetos e ações desenvolvidas. Não há tam- José Sobrinho
bém um sistema que contabilize o número de alunos Cardoso -
que desistem ou trancam a vaga – dados que apenas a diretor da
UFSM dispõe. UDESSM

.txt Outubro de 2010 13


capa
Muitas vagas para pouca procura
No seu primeiro ano de existência, a detalha a estudante. como é o caso de Silveira Martins.
UDESSM realizou dois processos seleti- Para chegar a tempo da aula do perí- Devido ao grande número de vagas
vos vinculados ao vestibular da UFSM: o odo da manhã, que começa às 7h45, um ociosas e aos índices de desistência e tran-
Extraordinário 2009 e o de Verão 2010. estudante da UDESSM que mora em San- camento, a UDESSM ficará de fora do Ves-
Foram ofertadas 200 vagas em 2009 e 160 ta Maria e utiliza o ônibus intermunicipal tibular de Verão 2011, que será realizado
em 2010, divididas entre os quatros cursos como meio de transporte precisa sair da na UFSM e em seus respectivos pólos. Du-
superiores da Instituição: Tecnologia em cidade às 6h35. Ele gasta R$ 4,25 com a rante o ano que vem, a Instituição passará
Gestão de Turismo, Tecnologia em Gestão passagem. Da parada de ônibus da Aveni- por uma reforma curricular na tentativa de
em Agronegócios, Tecnologia em Proces- da Rio Branco, em Santa Maria, até Silveira sanar alguns problemas. “Vamos replanejar
sos Gerenciais e Tecnologia em Gestão Martins, a distância é de 25 quilômetros. A a Unidade através de uma comissão de 11
Ambiental. discrepância é que existem algumas linhas pessoas. Montamos essa comissão para fa-
Das 360 vagas oferecidas nos dois con- internas em Santa Maria que percorrem ex- zer um rearranjo pedagógico e nisto vamos
cursos, apenas 199 estão ocupadas, o que tensões semelhantes. Da Cohab Tancredo colocar uma nova idéia de cursos”, explica
corresponde a aproximadamente 55,27% Neves ao campus de Camobi, por exemplo, o diretor da Unidade.
do total de aproveitamento. Não bastasse a a distância é de 17 quilômetros. A diferen- De acordo com uma das coordenado-
procura ser menor do que oferta (ver gráfi- ça é que um aluno da UFSM que reside na ras do projeto de criação da UDESSM,
co), a UDESSM enfrenta outro problema: Tancredo paga, de ida e volta R$ 2,00 por professora Marilú Marin, existe uma pre-
o progressivo trancamento e abandono de dia – enquanto um estudante da UDESSM ocupação por parte da Reitoria da UFSM
curso. gasta R$ 8,50. com a baixa procura pelos cursos ofereci-
Inajara Mello, acadêmica do curso su- Segundo dados do Departamento de dos em Silveira Martins, que justifica a ne-
perior de Tecnologia em Gestão Ambiental Registro e Controle Acadêmico da UFSM cessidade de revisar o plano pedagógico da
e membro do Diretório Central dos Estu- (Derca), 18 alunos trancaram a matrícula Unidade. Outro problema encontrado pela
dantes (DCE) da UFSM, conta que muitas e 23 abandonaram o curso que freqüen- professora é o fato dos cursos serem para
pessoas abandonaram ou trancaram a vaga tavam, desde a criação da Unidade. Boa formação de tecnólogos ao invés de bacha-
por que o custo para se manter estudando parte dos alunos ingressou na Instituição réis. “A atual gestão da UDESSM tem um
na UDESSM é alto. “Alguns colegas meus como segunda opção de curso, um sistema compromisso de, frente a um prazo maior
não cursam todas as disciplinas porque não que permite que aqueles que não obtive- que foi dado pela Reitoria, elaborar um
têm dinheiro para ir e voltar todos os dias. ram pontuação suficiente para ingressar novo vestibular. O que se propõe é que a
Além de ser caro, são poucos horários de no curso desejado ocupem vagas remanes- Unidade ofereça a possibilidade de bacha-
ônibus, então fica difícil ir todos os dias”, centes na UFSM ou em um de seus pólos, relado”.
Foto: Gregório Mascarenhas

Sala de aula do Colégio Bom Conselho, que foi reestruturado e hoje abriga os alunos da UDESSM

14 .txt Outubro de 2010


.txt
Estado atual das vagas
da UDESSM

Retrato de uma implantação


Projetava-se, dentro do programa de ascensão. A UFSM levou 50 anos para es-
expansão das universidades públicas no tar como é hoje, a UDESSM tem pouco
Brasil, o Reuni, criar uma unidade que mais de um ano. São necessários mais três
contemplasse as necessidades de cres- anos, no mínimo, para a implantação co-
cimento não só da Quarta Colônia, mas meçar a surtir efeito.”
também de todos os municípios da Região Já a professora Marilú Marin acredita
Central do Rio Grande do Sul – os quais que “a Universidade não faz uma divul-
se assemelham pelos baixos índices de de- gação ampla de seus cursos. E essa é uma
senvolvimento sócio-econômico. postura que, frente ao processo de expan-
A criação da Unidade de Silveira Mar- são, a Universidade terá que assumir. O
tins tinha por propósito abrir um novo governo nos cobra número maior de alu-
espaço de ação da UFSM, voltado às ne- nos por professor e também carga horária
cessidades particulares de seu local de atu- maior do professor. Esse é um problema
ação. Foram criados, então, cursos de Edu- do contexto do quadro gerado pela expan-
cação Profissional de Nível Tecnológico são, que é positiva. Mas nós precisamos
que considerassem as potencialidades da aprender a lidar com essa nova realidade”.
região: o turismo, a produção agrícola e a Ao final desse retrato da UDESSM, o
manutenção dos recursos ambientais. que se constata é que priorizou-se o au-
Se a Unidade foi instalada no núcleo de mento dos índices de acesso ao ensino
uma região carente de acesso à educação, superior. Entretanto, não houve demanda
por que, então, enfrenta o impedimento suficiente para preencher o total das vagas
central, que é a falta de procura por suas ofertadas, segundo dados do Derca. Um
vagas? Conforme o vice-reitor Dalvan José dos motivos é a falta de condições neces-
Reinert, “a justificativa na época da cria- sárias para manutenção e permanência
Fotos: Anelise Mascarenhas

ção era que a Unidade teria um projeto pe- dos estudantes nas instituições públicas
dagógico diferenciado e que atenderia aos recém criadas, já que não há alojamento,
arranjos produtivos locais e regionais. E é um restaurante universitário ou bolsas au-
o que está demorando a acontecer”. xílio carência. A transposição de etapas na
Para o diretor da UDESSM, José Car- expansão do ensino superior federal obri-
doso Sobrinho, “os problemas enfrentados ga, hoje, a UDESSM a mudar na tentativa
são normais, pois uma implantação é uma de manter-se viva. .txt

.txt Outubro de 2010 15


de dentro para fora

Foto: Guilherme Porto


“A qualidade do ensino
da UFSM é excepcional.
Qualquer estudante, vindo
de todas as partes do mun-
do, chega em Santa Maria
e pode ter um estudo de
primeira linha.”
Gustavo Assis Brasil

"Na universidade, vão se


Foto: Divulgação

abrindo caminhos e luzes


que sozinho eu não teria
nem como tomar iniciativa."
Luiz Carlos Borges

Extensão da Alma
A música que saiu da UFSM e ganhou os palcos do mundo
Guilherme Porto e Yuri Medeiros

A principal função de uma universi-


dade pública é atender às deman-
das da sociedade a qual pertence.
Porém, sua contribuição não se restringe
às inovações científicas. Por vezes ela acon-
que era ser músico; antes eu era apenas ber-
ço, apenas inspiração”, ressalta. Somando a
inspiração nata e o embasamento teórico,
Borges fez seu passaporte para ganhar o
mundo e hoje carrega em suas credenciais
Cria de Santa Maria, Gustavo já dava
aulas de violão desde os 14 anos de idade. A
decisão de estudar música na UFSM quase
foi atrapalhada, no momento do vestibular,
por uma idéia de seguir a carreia de dentis-
tece de uma forma um tanto mais subjeti- parcerias com ícones da música mundial do ta. Para o bem da música mundial, ele fez a
va, como acontece no curso de Música da quilate de Dominguinhos, Raúl Barbosa, escolha certa.
UFSM. Antonito Tarragó Ros e Mercedes Sosa. Hoje, Gustavo leciona na Cambridge
A trajetória de alguns músicos que aqui Na época que Luiz Carlos Borges in- School of Weston, nos Estados Unidos, e
passaram deixa evidente a influência da gressou no curso de música, a vertente po- acumula inúmeras parcerias com virtuosos
academia na vida cotidiana, e como o sen- pular não tinha espaço no campo teórico músicos do jazz, o que reforça seu respal-
timento liberado por uma criação artística da academia. Tanto Borges quanto a UFSM do em terras estrangeiras. Trilhas sonoras
pode fazer a diferença para todos. mudaram a partir de então: “O que não era de filmes e clínicas de guitarra por toda a
Luiz Carlos Borges nasceu em 1953, permitido eu fiz: tocar nos corredores, to- América incrementam seu currículo. De
em São Luís Gonzaga, onde cresceu tanto car no RU [Restaurante Universitário]. Eu quebra, ele tem dois livros de teoria musi-
com a família quanto com a música. Desde sempre busquei liberdade pra tentar coisas cal, editados em mais de 20 países. Mesmo
quando tinha tamanho suficiente, já passa- novas”. A única ponderação de Borges é que com todo esse destaque, o músico ressalta
va o tempo com a gaita e o violão no colo. o curso preparava o aluno conceitualmente, com humildade que o aprendizado e a vi-
Em janeiro de 1976, tomou a decisão que, enquanto as vertentes menos eruditas eram vência que teve na UFSM, durante os anos
como ele mesmo ressalta, mudou seu con- deixadas de lado. 90, ainda se refletem na sua produção.
ceito sobre música: veio para Santa Maria, Mas não é só pela música regional que Ao contrário das ciências exatas, o de-
passou no vestibular e daqui saiu um dos a cultura desenvolvida na UFSM chega às senvolvimento acadêmico das Belas Artes
maiores acordeonistas do Brasil. pessoas. Influenciado pela música popular se revela através do contato humano e das
Conhecido na música popular desde e pelo jazz, desde os acordes clássicos en- expressões que embalam alma. Fazendo-se
tempos, ele reitera a importância que a saiados nos corredores do Centro de Artes valer das sete notas musicais, os músicos
passagem pela UFSM teve em sua evolução e Letras (CAL), o músico Gustavo Assis formados na UFSM preocupam-se em le-
musical. “O convívio com gente da mais alta Brasil vem rompendo fronteiras com sua var cultura – e teoria musical – de Santa
qualidade na arte me fez entender melhor o guitarra. Maria mundo afora. .txt

16 .txt Outubro de 2010


de fora para dentro .txt

Estimular para
desenvolver
Em parceria com a UFSM, família faz tratamento
alternativo para Autismo
Camila Marchesan, Fernanda Arispe e Julia do Carmo

M udanças sempre foram comuns


na vida da família Silva Costa. O
trabalho de Daniel Silva Costa,
36 anos, sargento da Base Aérea de Santa
Maria, fez com que morassem em diferen-
profissional, chamada de facilitadora, apli-
ca o método num playroom. Esse espaço é
um quarto branco ou de cores neutras, com
equipamentos específicos para a realização
das atividades, como brinquedos, espelho,
playroom
enquanto tudo é
no

tes lugares do país. Foi em uma dessas mu- prateleiras e um piso especial para evitar monitorado pelos pais atra-
danças, em 2008, que Arthur, o filho mais fortes impactos. vés de câmeras. As imagens servem,
novo do casal Daniel e Ana Paula Silva No ano passado, Daniel inscreveu-se ao mesmo tempo, para o treinamento das
Costa, 30, começou a evidenciar compor- no vestibular para o Curso de Educação alunas de Educação Especial, para o con-
tamentos totalmente inesperados. Crises Especial da UFSM, com o objetivo de trole dos progressos de Arthur e para o
de choro, apego inadequado a objetos e aprender um pouco mais sobre a situação embasamento teórico da pesquisa acadê-
uma forte tendência ao isolamento passa- que enfrentava e buscar apoio para o pro- mica.
ram a fazer parte do dia a dia de Arthur, grama que já desenvolvia dentro de casa. O PRESEENTE DE ARTHUR - Ar-
então com dois anos. Foi então que conheceu o professor dou- thur hoje tem quatro anos. Desde que
Diante dessas atitudes do menino, a tor, Carlos Schimidt, especialista em Autis- iniciou o tratamento com o Son-rise, ele
família voltou para sua cidade de origem, mo. Juntos viram a possibilidade de utilizar vem apresentando melhoras significati-
Santa Maria, para procurar ajuda médica a experiência do tratamento de Arthur para vas. Cada pequeno progresso é, então,
especializada e ficar próxima dos demais trabalhar o Autismo dentro do Centro de comemorado com muito entusiasmo por
familiares. Eles já desconfiavam do diag- Educação (CE) e, com isso, estender os be- seus pais e por sua irmã Caroline, 11 anos.
nóstico. E a confirmação veio em junho de nefícios do tratamento a outras famílias. Eles sabem que cada evolução do menino
2008. Arthur tem Autismo e o desafio, en- Este ano, o programa Son-rise transfor- representa uma grande vitória para toda a
tão, era descobrir como lidar com isso. O mou-se em um projeto vinculado à Univer- família. Mais do que isso, representa uma
Autismo é um transtorno global do desen- sidade. Desde março, todas as manhãs, uma esperança para as outras famílias e crian-
volvimento e ainda não tem cura. É uma facilitadora, aluna do Curso de Educação ças que enfrentam a mesma situação de
patologia caracterizada pelo comprometi- Especial, desenvolve atividades com Arthur Arthur. .txt
mento grave em diversas áreas do desen-
volvimento humano, como a comunicação,
a socialização e a imaginação.
O sentimento que prevaleceu na família
Silva Costa foi o empenho em buscar trata-
mentos que pudessem oferecer ao menino
uma possibilidade de melhora. A família
saiu em busca de mais informações sobre o
autismo e, durante sua pesquisa, conheceu
um tratamento alternativo do distúrbio: o
programa Son-rise. Depois de participar de
workshops sobre o assunto e conhecer as
possibilidades de melhoras experenciadas
pelas outras famílias participantes, o casal
Foto: Arquivo Pessoal

tomou uma importante decisão: a implan-


tação do programa Son-rise dentro de sua
casa.
O Son-rise consiste em um programa
familiar baseado em metas que buscam es-
timular as capacidades da criança através
do lúdico, sem o uso de medicação. Uma
Família de Arthur comemora avanços no tratamento do Autismo

.txt Outubro de 2010 17


categorias .txt

Vida de
vigia
O dia-a-dia dos profissionais que prezam pela ordem e segurança no campus
Camila Marchesan, Fernanda Arispe e Julia do Carmo

E m meados dos anos 70, o convi-


te para entrar em um opala preto
assustava qualquer pessoa. Se ele
fosse dirigido a um jornalista por um fun-
cionário do governo então, significava que
Soldati, 47, que integram a equipe dos vi-
gilantes terceirizados há cerca de um ano,
não têm toda a experiência de Moreira,
mas têm em comum um perceptível senti-
mento de responsabilidade pela integrida-
Maria e Valente trabalham, atualmen-
te, no posto de vigilância criado na Casa
do Estudante, a CEU II, e dizem que o
trabalho exige paciência e boa vontade.
Paciência para lidar com as dificuldades
o passeio não deveria ser nada agradável. de e segurança dos estudantes. que os jovens recém-saídos de suas casas
Mas foi nessa situação que Romeu Lemes Dos quase 200 profissionais responsá- têm em aceitar que mesmo longe de seus
Osório (foto), chefe do setor de vigilância veis por zelar pelos estudantes em todos pais existem regras, e mais ainda: alguém
da Universidade Federal de Santa Maria os campi da UFSM apenas quatro são mu- sempre vai os vigiar para que essas regras
(UFSM) levou nossa equipe até Renato sejam cumpridas. Boa vontade para enten-
Moreira, 44 anos, 17 deles trabalhados Cerca de 200 der que muitas das discórdias entre segu-
como vigilante concursado da UFSM. Em ranças e alunos são fruto de uma rebeldia
seu posto de trabalho, na entrada da zona pessoas compõem a típica dos jovens. Mas que muitas delas
rural da Universidade, Moreira, como é equipe responsável vêm, sim, questionar um sistema viciado
chamado pelos colegas, contou sua roti-
na de trabalho e os desafios daqueles que pela segurança que impõe regras desconsiderando, mui-
tas vezes, as necessidades e as característi-
optam por ter como objetivo profissional dos alunos e do cas de cada geração de alunos.
o zelo pelos dois grandes patrimônios da
UFSM: o espaço físico e os estudantes.
patrimônio Ao dizer “sabemos que nosso traba-
lho é importante e também que sem os
Na Universidade, cerca de 200 pessoas lheres. Maria, que é uma delas, trabalhou estudantes a Universidade não existiria”,
compõem a equipe responsável pela segu- durante um ano na recepção do Centro de Moreira demonstrou a consciência que os
rança dos alunos e do patrimônio. Menos Ciências Naturais e Exatas (CCNE) até re- vigilantes têm de que seu trabalho é fun-
de um quarto desta equipe é composta por ceber a oportunidade de fazer parte desta damental para a manutenção da ordem e
funcionários concursados, pois cerca de seleta equipe. E diz adorar seu trabalho. O que sem funcionários, visitantes ou alunos
Foto: Julia do Carmo

150 são contratados por uma empresa ter- sonho de ser policial foi levado pelo passar a UFSM não existiria.
ceirizada. Moreira que já passou por todos dos anos e a vontade de policiar transfor- Além disso, independentemente das
os postos de vigilância existentes na Uni- mou-se na missão que cumpre agora com dificuldades encontradas para realizar
versidade cumpria suas 12 horas diárias de prazer: primar pela qualidade de vida dos suas funções a paixão pela profissão e a
trabalho no tranqüilo posto da horta no estudantes que enfrentam os desafios da seriedade com que os vigilantes tratam
dia em que o entrevistamos. academia e da distância de suas casas e seu trabalho salta aos olhos de quem deles
Já Éverton Valente, 31 anos, e Maria famílias. necessita..txt

18 .txt Outubro de 2010


o arco da velha .txt

Dando continuidade à seção em homenagem aos 50 anos da Universidade, o arco da velha desta
edição traz fotos históricas do Colégio Politécnico da UFSM.

Camila Marchesan
Fernanda Arispe
Julia do Carmo

Área Nova da Universidade


Federal de Santa Maria. A Área
Nova localiza-se na porção oeste
do campus e é dividida entre o
Curso de Zootecnia e o Colégio
Politécnico da UFSM. A área é
utilizada para criação de animais,
pastagens e plantações.
Início da década de 1970

Área Nova da UFSM. Aula prática


de Topografia, do curso técnico em
Agropecuária. Na época da foto,
o Colégio Politécnico chamava-se
Escola Agrotécnica e só oferecia o
curso de Agropecuária. Os outros
cursos surgiram na década de 1990.
Início da década de 1970
Fotos: Arquivo histórico do Colégio Politécnico

Aula prática de Silvicultura.


Setor de Silvicultura do Colégio
Politécnico da UFSM. A disciplina
faz parte do currículo do curso
técnico em Agropecuária, criado
em 1963.
Meados da década de 1980

.txt Outubro de 2010 19


cultura
Parceiros
de lida
DTG Noel Guarany aproxima
o tradicionalismo gaúcho da
rotina universitária
Gabriela Moraes e Janine Appel

P ara a UFSM, o DTG Noel Guarany é


um projeto de extensão do Centro de
Ciências Rurais (CCR), mas, para o
Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG),
é uma entidade estudantil plena. Já para quem
participa do grupo, ele é muito mais que o
espaço ocupado numa das salas do CCR: é o
resultado do esforço coletivo para fazer com
que conhecimento e tradição gaúcha dêem as
mãos.
No início, era para ser um lugar onde a
gurizada das Ciências Rurais pudesse matar
a saudade da vida na cidade pequena de
onde tantos tinham saído para vir estudar
na Universidade Federal de Santa Maria. Era
para ser um lugarzito no campus acadêmico
que tivesse jeito de campo gaúcho, onde
os guris pudessem se arranchar entre uma
aula e outra e tomar uns mates, contar uns
causos, tocar um violão e cantar umas modas
missioneiras. Era para ser um pouquinho
do CTG que ficara num pago distante desta
querência adotiva, onde muitos tinham
aprendido desde cedo a amar a tradição do
Rio Grande. Em 2005, era para ser um DTG
pequenininho, “coisa pouca”, como diria
o gaúcho. Em 2010, o “Noel Guarany” é o
DTG da UFSM. É o tradicionalismo gaúcho
consolidando seu espaço no universo formal
da universidade. É a academia participando
da mesma roda de mate que a comunidade
tradicionalista muito além dos limites do
arco. E isso não é “pouca coisa”.
Desde seu nascimento até hoje, véspera
de completar o quinto aniversário em
novembro, o departamento ainda não possui
sede própria que lembre uma estância de
campanha ou se compare às estruturas físicas
dos CTG’s freqüentados nos tempos de piá.
A gurizada, volta e meia, se reúne numa
sala perto da biblioteca do CCR. Por lá se
encontra o mate, símbolo da hospitalidade
gaúcha, desde a porta. É que o símbolo no
Foto: Gabriela Moraes

Noel, esculpido em madeira e pendurado


na porta, é o desenho de um livro aberto
que faz o contorno do topete do chimarrão.
Aliás, ele representa muito bem o significado
da presença de um DTG no ambiente
estudantil, como sugere o lema da entidade:
“Conhecimento e Tradição unidos pelo
mesmo ideal”.

20 .txt Outubro de 2010


.txt
Te aprochega,
vivente!
Conheça mais sobre
a tradição gaúcha!

● MTG: federação das entidades


tradicionalistas do Rio Grande do
Sul. Possui mais de 1500 filiados,
entre CTG’s, DTG’s e afins.

● Centro de Tradições Gaúchas


(CTG): entidade tradicionalista
por excelência cujo objetivo é
preservar a tradição gaúcha.
DTG Noel Guarany classificado para a fase final do ENART 2010
● Departamento de Tradições Gaúchas
(DTG): entidade tradicionalista

Conhecimento e tradição vinculada a outras instituições


como escolas, clubes ou
universidades.
Fomos à busca dos integrantes do sobretudo porque não é fácil conciliar ● Região Tradicionalista (RT): órgão
DTG em plena Semana Farroupilha. compromissos acadêmicos com atividades do MTG que reúne entidades
Chegamos ao prédio 44, onde fica a tal tradicionalistas. Por isso, o DTG precisa da e municípios geograficamente
salinha, e encontramos apenas uma moça, colaboração de muitos para funcionar: “As próximos. O Rio Grande do Sul está
que embora não estivesse usando vestido mãos que assinam as atas são as mesmas dividido em 30 RT’s. Santa Maria
de rendas e flor no cabelo, era uma das que preparam o almoço e servem”, afirma pertence à 13ª RT.
prendas do Noel. orgulhosa a estudante que conheceu o
Perguntamos pelos responsáveis e a Noel por meio de um panfleto entregue ● Encontro de Arte e Tradição
resposta revelou como funcionavam as durante a confirmação da vaga e que ajuda Gaúcha (ENART): festival amador
coisas por ali: estavam todos trabalhando a tomar as rédeas da entidade. promovido pelo MTG. São 23
muito, patronagem e grupo de danças, pois O grupo de trabalho é composto por, modalidades artísticas disputadas
tinham que preparar o almoço campeiro no máximo, 30 pessoas. Elas desenvolvem em classificatórias regionais e
servido no Centro de Eventos no outro projetos culturais em escolas, além de interregionais até a etapa final.
dia. atividades campeiras e artísticas. Sobre
Ainda havia os demais compromissos essas, aliás, a expectativa é grande: o grupo ● Como a entidade tradicionalista
assumidos para a semana, como palestras de Danças Tradicionais foi classificado é uma estância simbólica, a
culturais e apresentações artísticas em para a final do ENART 2010. O evento, nomenclatura dos cargos da
escolas da cidade. Somava-se à agenda promovido pelo MTG, é a mais importante diretoria, chamada de Patronagem,
a guarda da Chama Crioula na Casa do vitrine da arte amadora tradicionalista no é inspirada na linguagem
Gaúcho, sede da 13ª Região Tradicionalista Rio Grande do Sul. O DTG também está campeira.
do MTG, à qual o DTG é filiado. Além, participando com declamadores, cantores Patrão: equivale ao Presidente
é claro, do desfile do dia 20, em que e bailarinos de danças de salão. do clube.
eles tinham de fazer bonito, pois ano Em pouco tempo, o DTG que era Capataz: equivale ao vice-
passado foram um dos premiados. Tudo inicialmente desacreditado por ser uma presidente.
isso acontecia entre as atividades de entidade gerida por estudantes tão jovens,
mais uma semana normal no calendário conquistou o respeito da comunidade da ● Causos: relatos fantasiosos que
universitário. UFSM e a admiração dos tradicionalistas exploram aspectos do cotidiano
Conversamos com a patronagem do por aí afora. O que essa eles têm feito gaúcho.
DTG, composta apenas de estudantes, para merecer cada vez mais espaço e
durante o almoço do dia 17 de setembro. reconhecimento? A frase que eles postaram ● Pago: terra-natal.
Enquanto o patrão, auxiliado por um na página do DTG no Orkut – onde
grupo de prendas, trabalhava no preparo também fincaram bandeira – responde: ● Querência: lugar onde se mora.
do arroz-de-carreteiro, prato típico da “A diferença é que a gente sonha e luta.
culinária gaúcha, estendeu-se a nossa SEMPRE”. O valor do trabalho em equipe, ● Topete: elevação de erva-mate
prosa com o seu “braço direito”. Segundo eles provavelmente aprenderam desde piás,
Foto: Divulgação

que repousa sobre uma lateral da


Tainá Valenzuela, acadêmica de História e como manda a tradição. E agora reforçam cuia.
capataz do departamento, a entidade é uma a lição com o conhecimento adquirido
alternativa mais barata e viável em termos na sede do saber, onde o tradicionalismo
de tempo e deslocamento em Santa Maria, também faz morada pelas suas mãos. .txt

.txt Outubro de 2010 21


cultura

A cena cultural independente de Santa Maria ganha vida


através do sonho de oito jovens estudantes da UFSM

Teatro, por
que não?
Kamila Baidek e Marlon Dias

C auã maquia-se no banheiro. Juliet


passa o texto. Aline concentra-se.
Luiza tenta relaxar. Deivid está
atrasado. Felipe confere os últimos deta-
lhes. Giro, Dilma, Célia, Leninha e Oswal-
Entrelaçando interesses, conversas, tra-
balhos e experiências, Aline Ribeiro, André
Galarça, Cauã Kubaski, Deivid Gomes, Fe-
lipe Martinez, Juliet Castaldello, Luiza de
Rossi e Rafaela Costa, todos acadêmicos
do preparam-se para entrar em cena. do Curso de Artes Cênicas da Universida-
Sambas antigos embalavam aquelas de Federal de Santa Maria (UFSM), uni-
três moças que desfilavam boêmias entre ram-se para comungar com o público um
as mesas do Bar Macondo Lugar naque- sentimento comum: a paixão pelo teatro.
la noite. Com um cigarro na mão e cheias O Teatro Por Que Não? formou-se nos
de más intenções, o trio aproveitava-se do corredores do Centro de Artes e Letras
colo dos cavalheiros e causava burburinho (CAL) da UFSM, ganhou corpo no início
entre as mulheres. De longe, um homem de desse ano e conquista cada vez mais espaço
sobrancelhas arqueadas e olhar atento as na cena cultural santa-mariense. “Quan-
observava, juntamente com seu capanga. O do o grupo se formou, eu vi que era mui-
ar começava a ficar denso. O Abajur Lilás to sólido o trabalho. Trabalhamos muito
entrava em cena. duro pelo que queremos. Somos um grupo
Três prostitutas - Dilma, Célia e Le- unido, porque um grupo de uma pessoa só
ninha – são submetidas à opressão, hu- não é um grupo”, conta André Galarça. A
milhação e tortura do homossexual Giro, união entre os integrantes, combinada com
o inescrupuloso e explorador dono do o profissionalismo, fez com que o grupo
prostíbulo, e de seu violento e enigmático de jovens artistas alçasse vôos mais altos e
serviçal, Oswaldo. É a vida valendo menos colhesse os frutos de sua incansável dedi-
que um abajur lilás. O Abajur Lilás, apesar cação ao teatro.
Fotos: Divulgação

de ter sido escrita há mais de 40 anos pelo Mesmo assim, o caminho para manter
dramaturgo Plínio Marcos, é uma peça um grupo de teatro independente não é
impressionantemente atual. Aliás, foi esse fácil. Foi preciso suar muito a camiseta e
espetáculo que deu forma ao grupo Teatro correr atrás das oportunidades. Junto com
Por Que Não? e garantiu que ele ganhasse outros grupos de teatro independente de
os palcos. Santa Maria e com o Macondo Coletivo,

22 .txt Outubro de 2010


.txt

Foto: Gabriela Moraes


formaram o Palco Fora do Eixo, uma ini- o Teatro Por Que Não? mostrará toda sua e Leninha e ter uma vida que vale menos
ciativa que promove, incentiva e difunde competência em terras paulistas com uma que um abajur lilás. É preciso viver cada
a cultura teatral em âmbito nacional. Gra- temporada de sete dias de apresentações peça, sorvendo cada mínimo detalhe quase
ças a essas parcerias, o grupo conseguiu pelo projeto VEM (Valor, Ética e Moral), imperceptível. É urgente valorizar o traba-
fazer apresentações em locais alternativos no Teatro Paulo Autran da Faculdade Ítalo- lho desses meros mortais que transbordam
da cidade, como na Praça Saldanha Mari- Brasileira. arte e reconhecer que sem cultura não exis-
nho, na Gare da Estação Férrea e nos ba- São grupos de teatro universitário te progresso. É necessário enxergar os ta-
res São Francisco e Macondo Lugar. Outra como esse que fazem com que se enxergue lentos pelos corredores das nossas univer-
iniciativa foi participar do Teatro Fora do o teatro de outra forma. Eles mostram que sidades, em nossas cidades, em nosso país.
Eixo, projeto orientado pelo professor e não basta apenas assistir a um espetáculo. É Vamos abrir as cortinas para grupos de te-
coordenador do Curso de Artes Cênicas preciso senti-lo. Sentir com todos os poros. atro universitário. É hora de se perguntar:
da UFSM, Pablo Canalles, com o intuito Identificar-se. Ser um pouco Dilma, Célia teatro, por que não? .txt
de levar os espetáculos produzidos dentro
da sala de aula para outros espaços, a fim
de que eles não ficassem restritos apenas
ao Caixa Preta. As cortinas já estavam se
abrindo.
Em março, a trupe fez sua primeira en-
cenação fora de palcos santa-marienses.
Em Vale do Sol, o grupo participou de 27
horas ininterruptas de teatro e apresentou
as peças Fim de Partida e O Abajur Lilás.
No início de julho, fizeram as malas e par-
tiram para Rosário do Sul, onde apresen-
taram O Abajur Lilás na Sessão Maldita do
Rosário em Cena. No dia seguinte, já es-
tavam na estrada rumo ao estado de Santa
Catarina. Lá, participaram do 23º Festival
Internacional de Teatro Universitário de
Blumenau com a mesma peça que foi su-
cesso de crítica. Na bagagem, vieram dois
prêmios: melhor atriz para Aline Ribeiro e
Foto: Lucas Baisch

melhor direção para Felipe Martinez. Mas,


mais do que os dois prêmios, o intercâm-
bio com os outros grupos e a experiência
adquirida amadureceu e fortaleceu o grupo
para galgar passos mais largos. Em outubro,

.txt Outubro de 2010 23


perfil .txt

Exceção
à regra
Manuela Ilha e Nadia Garlet

Após dez anos da graduação, Jorge


Abel entra na pós-graduação da Univer-
sidade Federal de Pelotas (UFPel) e vive
nos primeiros meses com as parcelas do
consultório vendido no Paraná. Depois,
veio a aprovação para docente na UFPel,

O sorriso insiste em aparecer. Sol-


to e cativante, tenta concorrer
com as piscadas rápidas e ritma-
das dos olhos que brilham. Tão brilhantes
como a ideia que motivou mudanças sig-
Jorge Abel. A casa citada era de seu tio, que
morava próximo ao Km 2, zona norte de
Santa Maria. De lá, ele ia para o campus e
retornava sempre para almoçar, pois não
tinha como pagar o almoço no Restauran-
e no início da década de 1990, a aprovação
em Santa Maria. Após um ano de docência
na UFSM, veio o Doutorado, na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUC-RS). O orgulho mistura-se com
nificativas na vida de um menino de São te Universitário (RU). Das festas da turma, a humildade característica de Jorge Abel.
Pedro do Sul. As dificuldades que viriam Jorge Abel nunca deixou de participar. Ele Para ele, ter superado todos os obstáculos
– e não seriam poucas – foram motivações era responsável por reunir todo o dinhei- que surgiram em sua formação acadêmica
para seguir em frente e alcançar, um por ro e, por isso, a turma rateava a parte dele. parece, às vezes, um sonho. “Eu sou apai-
um, os sonhos. Estudar e alcançar o ensi- “Até no álbum de formatura eu apareço co- xonado pelo que eu faço, dou aula por vo-
no superior eram os objetivos iniciais do brando do pessoal”, lembra contando que cação e adoro estar com os alunos”, afirma.
jovem que deixou sua cidade e a casa de apenas conseguiu comprar o álbum após Aquele jovem que ousou sonhar grande,
seus pais para tentar mudar seu destino. Na um ano de formado. chegou além de suas maiores expectativas.
insistência, conseguiu não só graduar-se Com a formatura, em 1978, veio o de- Coordenou o curso de Odontologia por
como também retornar à Universidade Fe- safio da colocação profissional. Durante a cinco anos, e hoje é professor na área que
deral de Santa Maria como docente. Mas graduação, conta que um professor sempre escolheu desde o segundo ano de curso – a
esse é o final desta história... prometia ajudá-lo. E assim o fez. Um irmão Cirurgia Bucomaxilofacial.
O ano era 1973, e Jorge Abel Flores, desse professor era dentista no Paraná e O sonho, quase teimosia, quebrou a
hoje professor do curso de Odontologia da precisava de ajuda. Jorge Abel foi para lá. regra que o pai costumava acreditar. “Não
UFSM, é aprovado em Engenharia Flores- Iniciou como funcionário e conquistou aos me envergonho em dizer que meu pai fa-
tal. Contudo, com um ano de curso, ele viu poucos seu espaço. Através de um financia- lava que filho de pobre não precisava es-
seus planos como engenheiro tombarem mento, comprou seu primeiro consultório tudar, e eu dizia que iria fazer faculdade,
como árvores. Não era aquele o curso de- e instalou-se na cidade. Casou, teve filhos, mesmo que morasse embaixo da ponte”,
sejado, não era assim que ele queria ver-se mas acalentava um novo sonho: ser profes- finaliza. .txt
no futuro. Então, em 1974, fez novamen- sor universitário.
te o vestibular, e a aprovação veio. Jorge
Abel tornou-se o mais novo acadêmico de
Odontologia da UFSM. “Quando passei
para a Odonto, meu pai ficou apavorado,
pois havia um parente nosso que havia co-
mentado que o curso era muito caro, mas
Fotos: Nadia Garlet e Reprodução

eu sempre respondia que daria um jeito”,


relembra Flores.
Foram várias as maneiras para con-
tornar os elevados custos dos materiais, a
falta de dinheiro e outras dificuldades que
surgiam. Para participar das aulas práticas,
ele conseguia os instrumentos empresta-
dos com um colega. “Eu passava na casa do
meu colega, pegava o instrumental, vinha
para a Universidade, usava e esterilizava
tudo, devolvia e então ia para casa”, conta

24 .txt Outubro de 2010

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