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Introdução à contabilidade - Felipe Pontes

1 – Contabilidade e investimentos: dois irmãos que devem andar juntos


Felipe Pontes Felipe Pontes

Investir em ações é como montar um time de futebol, e para ser um bom técnico
você precisa, dentre diversas características e habilidades, ter conhecimento
detalhado sobre cada jogador
do seu time para saber em quem confiar na hora de fazer a escalação – como no
filme “Moneyball”, com Brad Pitt.

Neste artigo você entenderá como a contabilidade pode te ajudar nas suas decisões
de investimento.

CONTABILIDADE: O TELÃO NO CAMPO DE FUTEBOL OU AS INFORMAÇÕES


DE BRAD PITT?

Você já se imaginou sendo técnico de um time de futebol sem conhecer os seus


jogadores?

Deve ser assustador se ver no meio de um jogo importante, mas sem saber com
quem pode contar para cada situação – principalmente se esse for o jogo mais
importante da sua vida (financeira).

É assim que os investidores em ações devem se sentir quando resolvem comprar


ações de empresas que não conhecem, por causa de uma dica. Eles normalmente
acabam se assustando quando veem os preços derreterem sem motivo aparente.

Um Professor meu costumava dizer que, para o empresário, a Contabilidade é como


o telão com o placar e o tempo do jogo. Sem saber quanto tempo falta e nem
quanto está o jogo, o empresário fica perdido sem saber em que jogador confiar.

Eu vou além, para o caso do investidor em ações: a Contabilidade não é só o placar


(lucro ou prejuízo). A Contabilidade nos mostra mais do que o placar, a exemplo de
quanto cada jogador evoluiu ao longo dos anos (criação e crescimento das novas
fontes de receita em relação à receita total), quão eficientes os jogadores se
tornaram (gastos para se obter receita e gerar lucro), quão defensivo ou agressivo o
jogador é (alavancagem), ou quão esforçado o jogador é para desenvolver novas
habilidades (gastos com pesquisa e desenvolvimento de novos produtos ou
aumento da capacidade produtiva).
O QUE É ESSA SÉRIE DE TEXTOS SOBRE CONTABILIDADE

Essa série de textos que eu produzi para o TradersClub tem a função de ajudar
vocês, investidores brasileiros, a usarem a informação contábil para auxiliar no seu
processo de tomada de decisão.

Entender os números contábeis e quais são as implicações das escolhas e eventos


para a geração de lucros e fluxos de caixa futuros fará com que o investidor se sinta
muito mais seguro ao comprar uma ação e até mesmo a não querer vender de
forma precipitada quando os preços despencarem por algum motivo (principalmente
um motivo não relacionado à empresa).

Feita esta introdução, vamos aos tópicos específicos que serão tratados nessa série
de textos:

Débito e Crédito: a ação e reação aplicada ao mundo corporativo


A natureza das contas e os conceitos básicos de contabilidade
Balanço Patrimonial: uma foto numérica do patrimônio da empresa
Demonstração do Resultado do Exercício: o lucro é realmente tão importante
assim?
Demonstração do Resultado Abrangente: o lucro é o fim?=
Demonstração dos Fluxos de Caixa: cash is king
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido: para onde os lucros são
destinados?
Demonstração do Valor Adicionado: como a riqueza é distribuída?
Notas Explicativas: ou nem tanto assim
Analisando os números contábeis em conjunto
O valor contábil é o valor de fato da empresa?
Você já sabe tudo sobre Contabilidade?
A “Contabilidade é a linguagem dos negócios” (Warren Buffet) e “todo mundo
deveria ser alfabetizado em Contabilidade” (Eugene Fama).

Eu e o TradersClub estamos fazendo a nossa parte para ajudar nessa


alfabetização. Mas é preciso que você, investidor, faça a sua parte estudando e
usando para tomar suas próprias decisões de investimento.

Vamos juntos!

Como surgiu a Contabilidade? Vocês já se perguntaram?


Os mais religiosos poderiam dizer que a contabilidade é uma obra criada por
alguma divindade, porque a base da ciência contábil é um sistema perfeito
(matemático) e não se pode definir ao certo a sua origem.

Se vocês pensarem bem, a contabilidade e esse sistema está em todos os lugares.

Se abrirmos uma torneira, a água sairá de um lugar e irá para outro. Quando
usamos uma caneta para escrever, a tinta sai da caneta e vai para o papel. Tudo
que usamos ou fazemos na vida tem uma origem e uma aplicação. Neste texto você
entenderá como funciona a contabilidade, por meio de um sistema chamado de
método das partidas dobradas.

O MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS QUE FAZ COM QUE O ATIVO SEJA
IGUAL AO PASSIVO MAIS O PATRIMÔNIO LÍQUIDO

O método das partidas dobradas é o sistema que nos permite registrar as origens e
aplicações dos recursos das empresas, considerando que cada evento gerará um
débito e um crédito correspondente e de igual valor. Por isso nome de “partida
dobrada”.

Na verdade, “um débito e um crédito” é como costumamos explicar para simplificar


as coisas, mas na realidade, para um mesmo evento, podemos ter mais de um
débito e mais de um crédito, porém a soma dos débitos e dos créditos para esse
evento tem que ser em um montante igual.

Antes de entrar no exemplo para demonstrar o funcionamento do método, aqui vai


uma curiosidade: CONTABILIDADE NÃO É UM CURSO DE EXATAS.

O método das partidas dobradas foi divulgado pela primeira vez no livro “Summa de
Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita”, do Frei Luca Pacioli, em
1494. Como o Summa é um livro de matemática e o método é matemático, talvez
por isso as pessoas achem que a contabilidade é uma ciência exata.

Fora o método, que é exato, a contabilidade não tem muito mais coisas exatas,
como deixarei claro no final deste artigo. Por isso devemos ter muito cuidado ao
analisar empresas!

EXEMPLO SIMPLES DE APLICAÇÃO DO MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS


Se uma empresa faz a compra de um veículo por R$ 100.000,00, pagando R$
20.000,00 com uma transferência bancária e os outros R$ 80.000,00 em parcelas
mensais de R$ 20.000,00 (sem juros, para não complicar o entendimento para esse
nível), teríamos os seguintes lançamentos no ato da compra:

Débito – Veículos: R$ 100.000,00


Crédito – Banco: R$ 20.000,00
Crédito – Contas a Pagar: R$ 80.000,00

Veja que o montante do débito é igual à soma dos dois créditos.

Pode parecer estranho o porquê de um bem que você comprou ter origem
devedora, mas explico isso quando for falar da natureza das contas no próximo
texto.

Passado o primeiro mês, teremos que dar baixa em parte da dívida e ainda
reconhecer uma parte da depreciação no resultado da empresa (vamos supor que
de R$ 1.500,00 por mês).

Pagamento da parcela do veículo:

Débito – Contas a Pagar: R$ 20.000,00


Crédito – Banco: R$ 20.000,00

O leitor que já conhece um pouco das contas deve ter percebido que nenhum
lançamento desse afetou o lucro da empresa. Apenas mexemos em contas
patrimoniais. Nada de lucro. Ainda!

Agora a conta de “Contas a Pagar” que tinha um saldo credor de R$ 80.000,00, tem
saldo credor de R$ 60.000,00, porque pagamos uma parcela de R$ 20.000,00.
Como vocês sabem, as coisas tendem a se desvalorizar por diversos motivos. Um
deles é a depreciação que é o “consumo” do bem que a empresa tem e esse
“consumo” do bem reduzirá também o lucro do período, por isso reconheceremos a
despesa de depreciação e reduziremos o montante registrado na conta de veículos:

Débito – Depreciação: R$ 1.500,00


Crédito – Depreciação Acumulada: R$ 1.500,00

Assim, reduzimos o lucro (com a despesa de depreciação) e o valor do ativo (com a


conta redutora do ativo “depreciação acumulada”) na mesma proporção!
O MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS É PERFEITO, MAS OS NÚMEROS
CONTÁBEIS PODEM NÃO SER TÃO PERFEITOS ASSIM

Apesar de o sistema ser bom, as pessoas é quem registram os fatos e esses fatos
podem ser registrados de uma forma que não representem bem a realidade da
empresa, mesmo havendo um débito correspondente e de igual valor. No exemplo
que dei acima, a empresa, para melhorar o seu lucro e atrair mais investidores,
poderia ter registrado uma depreciação menor.

Porém é aí que está a graça porque parte da não exatidão da Contabilidade se dá


pela mensuração dos accruals, que são os ajustes que fazemos na contabilidade
para atender ao Regime de competência, já que não usamos o Regime de Caixa.
Uma outra empresa poderia considerar uma depreciação maior, mesmo sem
intenção de ludibriar os seus investidores. Isso vai depender do uso do ativo, que
pode não ser igual entre as empresas. A depreciação é um tipo de accrual, já que a
temporalidade da movimentação financeira (caixa) não bate exatamente com o
reconhecimento da depreciação (que representa o “consumo” do ativo). Vejam que
o veículo comprado será pago em 5 meses (R$ 100.000,00/R$20.000,00), enquanto
que o veículo será totalmente depreciado em 67 meses (R$100.000,00/R$ 1.500,00)
Analisem as informações contábeis, mas sempre de forma crítica, para evitar ser
enganado!

A partir do próximo texto estaremos mais próximos das principais demonstrações


contábeis (ou demonstrações financeiras, como alguns preferem) que são
divulgadas pelas empresas.

A natureza das contas e os conceitos básicos de contabilidade


Balanço Patrimonial: uma foto numérica do patrimônio da empresa
Demonstração do Resultado do Exercício: o lucro é realmente tão importante
assim?
Demonstração do Resultado Abrangente: o lucro é o fim?
Demonstração dos Fluxos de Caixa: cash is king
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido: para onde os lucros são
destinados?
Demonstração do Valor Adicionado: como a riqueza é distribuída?Notas
Explicativas: ou nem tanto assim
Analisando os números contábeis em conjunto
O valor contábil é o valor de fato da empresa?
Você já sabe tudo sobre Contabilidade?
Aguardo vocês lá!

3 – A natureza das contas e os conceitos básicos de contabilidade


Felipe Pontes Felipe Pontes

Agora que vocês já sabem o que é débito e crédito em contabilidade e que quando
uma empresa compra um bem o lançamento é feito com um débito na conta do bem
e um crédito na conta de quem pagou o bem.

Se uma empresa compra um carro financiado, nós debitamos o valor do carro na


conta “veículos”, que fica no ativo (bens da empresa), e credita o valor da dívida na
conta “empréstimos e financiamentos” do passivo (obrigações).

Mas por que isso acontece? Por que a coisa “boa” (o bem) é débito e a coisa “ruim “
(a obrigação de pagar) é crédito? Já pensou nisso?

Neste texto, explicarei o porquê e ainda apresentarei para vocês os conceitos


básicos que serão úteis para entender as demonstrações contábeis, como o
balanço patrimonial e a demonstração do resultado do exercício.

A NATUREZA DAS CONTAS DEVEDORA E CREDORA


A Natureza das contas: Débito tem origem no latim (debita) que quer dizer um
montante devido a alguém, enquanto que crédito (creditum) se refere a um
empréstimo com confiança.

Sabendo disso, quando uma empresa inicia as suas atividades, qual é o primeiro
evento contábil mais simples que pode existir? Se você pensou que são os donos
do capital (sócios) emprestando dinheiro para a empresa,você pensou
corretamente.

Assim, se a empresa iniciou as atividades com R$ 100.000,00 em uma conta


bancária e um carro no valor de R$ 40.000,00, os sócios da empresa têm um crédito
no valor de R$140.000,00 na empresa.

Enquanto isso, a empresa usará os R$ 100.000,00, mais o carro no valor de R$


40.000,00, sendo essa a dívida que a empresa tem para com os sócios.

Por isso, as contas do ativo têm natureza devedora (os ativos são bens usados pela
empresa, porém ela deve isso a quem financiou as suas atividades). E as do
passivo, têm natureza credora(é o crédito que os financiadores têm na empresa).

Contabilmente, o lançamento da constituição da empresa no exemplo dado é o


seguinte:
Débito – Banco: R$ 100.000,00
Débito – veículos: R$ 40.000,00
Crédito – Capital Social: R$ 140.000,00

CONCEITOS DE CONTABILIDADE: DEFINIÇÕES PRINCIPAIS


Patrimônio

O primeiro conceito que acaba por resumir uma das principais funções da
informação contábil é o patrimônio.

O patrimônio da empresa (entidade) é representado pelos ativos (aplicações dos


recursos), passivos e patrimônio líquido (são as origens dos recursos que foram
aplicados).

Esses três itens que formam o patrimônio são usados para mensurar a posição
patrimonial e financeira da empresa e podem também ser representados pela
equação patrimonial, em que Ativos = Passivos + Patrimônio Líquido.

Ativo
Como foi apontado na natureza das contas, é no ativo que alocamos as aplicações
dos recursos que a empresa captou.

Contabilmente usamos uma definição mais sofisticada, em que o ativo é um recurso


controlado pela empresa como resultado de eventos passados e do qual se espera
que a empresa obtenha benefícios econômicos futuros (seja por meio de
recebimento de receitas ou redução de despesas).

Passivo
Já o passivo é uma fonte de captação (origem) de recursos para a empresa, que,
contabilmente, é definida como uma obrigação presente, derivada de eventos
passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da empresa
que poderiam ser usados para gerar benefícios econômicos no futuro.

Essa fonte de captação pode ser onerosa (empréstimos e financiamentos), ou seja


que paga juros, ou não onerosa (salários e outras contas a pagar que tiveram o
pagamento levado para meses posteriores).

Tanto os ativos quanto os passivos são apresentados no Balanço Patrimonial


conforme a ordem de liquidez ou realização (que é o prazo de transformação do
ativo em dinheiro e do pagamento do passivo).
Em geral, nós classificamos os ativos e passivos em circulante (prazo de até 12
meses) e não circulante (prazo posterior a 12 meses).

Patrimônio Líquido (PL)


Por sua vez, com relação à mensuração da posição patrimonial e financeira, tem-se
o patrimônio líquido (PL), que, assim como o passivo, também é uma origem de
recursos para as empresas, visto que é composto pelo capital que foi aportado
pelos sócios para investir na empresa e os lucros que não foram distribuídos como
dividendos.

Formalmente, o PL é definido como sendo o interesse residual nos ativos da


entidade depois de deduzidos todos os seus passivos.

Ou seja, considerando os valores de entrada dos ativos e passivos, é o que sobraria


dos ativos após quitar todos os passivos.

Definidos os elementos, que nos auxiliam na mensuração da posição patrimonial e


financeira, precisamos agora entender os elementos que nos auxiliam na
mensuração da performance da empresa.

A Natureza das contas receitas e despesas: as contas de resultado


Resultado
Quando falamos de performance, pensamos em resultado. É o resultado que nos
auxilia, por exemplo, a calcular alguns indicadores de retornos que veremos em
artigos futuros.

O resultado do período é encontrado por meio do confronto das receitas com as


despesas. Quando o resultado do confronto entre as receitas e as despesas é
positivo, nós o chamamos de lucro e quando é negativo nós o chamamos de
prejuízo.

Receitas
As receitas são as “entradas” de recursos na empresa que são obtidas (dinheiro de
fato ou contas a receber), por meio da venda de produtos ou serviços.

Formalmente, elas são definidas como aumentos nos benefícios econômicos.


Durante um período que está sendo analisado (normalmente no decorrer de
trimestres e anos), sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou
diminuição de passivos.

Assim sendo, resultam em aumentos do PL, e que não estejam relacionados com a
contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais (os investidores).
Dessa definição, nós extraímos que o aumento do PL por meio da emissão de
ações não pode ser considerado uma receita, enquanto que a venda de produtos
pode, apesar de as duas terem gerado aumento dos ativos.

Despesas
Por fim, mas não menos importante, temos as despesas, que são definidas como
decréscimos nos benefícios econômicos.

Durante um período que se está sendo analisado (normalmente no decorrer de


trimestres e anos), sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou
aumento de passivos, que resultam em decréscimo do PL. E, que não estejam
relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais (os
investidores).

A partir dessa definição, entende-se que os dividendos, apesar de gerarem uma


redução do PL, não são despesas e que o pagamento de juros, salários etc são
despesas.

Esses são os conceitos básicos que precisaremos para entender as demonstrações


contábeis.

Quem quiser se aprofundar mais nos conceitos, recomendo a leitura da Estrutura


Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro.

A partir do próximo texto começaremos a estudar as principais demonstrações


contábeis:
Balanço Patrimonial: uma foto numérica do patrimônio da empresa
Resultado do Exercício: o lucro é realmente tão importante assim?
Resultado Abrangente: o lucro é o fim?
Demonstração dos Fluxos de Caixa: cash is king
Mutações do Patrimônio Líquido: para onde os lucros são destinados?
Valor Adicionado: como a riqueza é distribuída?
Notas Explicativas: ou nem tanto assim
Analisando os números contábeis em conjunto
O valor contábil é o valor de fato da empresa
Você já sabe tudo sobre Contabilidade?

4 – Balanço patrimonial: uma foto numérica do patrimônio da empresa


Felipe Pontes
Neste artigo vamos falar da demonstração contábil mais básica e mais conhecida (mas
talvez não a mais usada) dos usuários das informações contábeis: o balanço patrimonial.

Antes de estudar o balanço patrimonial, é importante que você revise os conceitos


apresentados nos textos anteriores em que aprendemos sobre (1) o método das partidas
dobradas que faz com que os registros contábeis não se percam e o montante do ativo seja
igual ao montante do passivo mais o patrimônio líquido e (2) a natureza e as definições das
contas mais importantes que são usadas nas demonstrações contábeis.

● DÉBITO E CRÉDITO: A AÇÃO E REAÇÃO APLICADA AO MUNDO CORPORATIVO


● A NATUREZA DAS CONTAS E OS CONCEITOS BÁSICOS DE CONTABILIDADE

O QUE É O BALANÇO PATRIMONIAL (BP)

Em algum momento da vida, todos nós já escutamos alguém dizer que “tudo na vida é
equilíbrio”. Nas empresas não é diferente e o Balanço Patrimonial (BP) é um retrato fiel
disso.

O BP nos apresenta o equilíbrio, ou o perfeito balanceamento, entre as aplicações de


recursos (ativos) e as origens de financiamento dos recursos aplicados (passivos e
patrimônio líquido), por meio da conhecida equação patrimonial (Ativo = Passivo +
Patrimônio Líquido).

Sendo assim, olhando para o balanço, você encontra todos os bens que a empresa controla
(lado esquerdo, por convenção), bem como todas as dívidas que ela tem (lado direito, por
convenção).

PARA QUE SERVE O BALANÇO PATRIMONIAL (BP)

Como no BP nós identificamos todos os bens que a empresa controla, bem como tudo o que
ela deve, podemos verificar, assim, a sua situação patrimonial e financeira em uma data
específica.

Por isso que costuma-se dizer que o BP é uma foto do patrimônio da empresa em uma data
específica (fechamento do período).

O investidor precisa ficar atento ao fato de que os números reportados no BP estão em uma
data específica porque essa demonstração contábil trata de “estoque de recursos”, diferente
de como vocês poderão perceber na Demonstração do Resultado do Exercício, por
exemplo, que não representa o estoque de recursos em uma data específica, mas sim o
“fluxo de recursos” durante um período.

Dessa forma, é no BP que observamos no final de cada trimestre quanto a empresa tinha de
recurso estocado em cada conta, conforme podemos observar no exemplo abaixo da
Sanepar, que tinha, em 31/12/2018, um estoque de R$ 639,1 milhões de contas a receber.

Além de verificar o estoque de cada conta, podemos analisar as relações entre elas, a
exemplo da comparação dos valores a receber com os valores a pagar, de modo a atestar a
capacidade de pagamento da empresa.

Podemos também criar indicadores usando várias demonstrações contábeis diferentes, de


modo a estimar a rentabilidade da empresa por exemplo, conforme veremos no texto
específico sobre análise das demonstrações contábeis.
É POSSÍVEL QUE UMA EMPRESA TENHA PATRIMÔNIO LÍQUIDO NEGATIVO?

Sim, é possível. Isso acontece quando a empresa está em dificuldades financeiras e não
tem gerado lucro o suficiente para manter as suas atividades, precisando recorrer a um nível
alto de endividamento e atraso no pagamento das suas contas. Nesses casos, a empresa
tem mais passivos do que ativos e para a equação patrimonial fechar, o PL fica negativo.

No exemplo abaixo nós temos apenas um extrato do que seria o patrimônio líquido (PL) da
empresa. Cmo vocês podem perceber, o PL é negativo. Nos casos em que o PL é negativo,
nós damos um outro nome técnico: passivo a descoberto.
Essa empresa teve tanto prejuízo acumulado ao longo do tempo que a soma dos seus
passivos superou à soma dos seus ativos.

Para entender mais sobre as contas específicas, é preciso recorrer às notas explicativas. No
final dessa série vocês encontrarão um texto específico sobre esse assunto.

5 – Demonstração do resultado do exercício: o lucro é realmente tão importante?

Felipe Pontes
A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é talvez a demonstração contábil mais
prestigiada pelos investidores. Os mais iniciantes, principalmente, tendem a valorizar demais
a última linha dessa demonstração, conhecida como Lucro ou Prejuízo do período.

Mas será que o lucro ou prejuízo é a informação mais importante?

Neste texto você entenderá que existe muito mais informações além do lucro ou prejuízo!

ENTENDA O REGIME DE CAIXA E O REGIME DE COMPETÊNCIA

Antes de entender o que efetivamente é a DRE, é preciso entendermos o regime de caixa e


o regime de competência.

O regime de caixa está na vida das pessoas de forma geral. Quando fazemos a nossa
planilha de controle de receitas e gastos mensais, estamos usando o regime de caixa,
porque inserimos na planilha as receitas que recebemos, bem como inserimos na planilha
os gastos que fazemos, todos no momento da entrada ou saída do recurso.

Se você faz a compra de um medicamento que custou R$ 200,00, parcelado em 2 (duas)


vezes, a sua planilha será preenchida com as parcelas de R$ 100,00 no momento em que
você pagar a fatura do cartão em cada mês, independente de ter consumido o remédio no
mesmo dia em que comprou. Isso é regime de caixa: registra R$ 100,00 no primeiro mês em
que a fatura do cartão vier e mais R$ 100,00 no segundo mês em que a fatura do cartão
vier.

Já no regime de competência, o funcionamento é diferente. Você deve registrar a despesa


no momento em que o evento econômico aconteceu. Mesmo tendo comprado o
medicamento dividido em duas parcelas de R$ 100,00, você deveria registrar o fato como
despesa de uma vez só, visto que já houve o consumo do benefício do ativo (medicamento)
adquirido.

O lançamento contábil inicial seria o seguinte, para registrar a despesa e a dívida:

Débito – Despesas com medicamentos: R$ 200,00

Crédito – Contas a pagar: R$ 200,00

No mês seguinte, quando do pagamento da primeira parcela, o lançamento contábil seria:

Débito – Contas a pagar: R$ 100,00

Crédito – Banco: R$ 100,00.

No mês seguinte faria o mesmo procedimento para pagar a última parcela.

Perceba que se passaram 3 (três) meses desde o primeiro evento, mas a despesa foi
reconhecida já no primeiro mês, independente se você ainda está ou não pagando. Isso é
regime de competência.

As receitas e despesas são reconhecidas na DRE de acordo com o regime de competência,


de acordo com a Lei 6.404/76, que rege a contabilidade.

O QUE É A DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE)

Sabendo diferenciar o regime de caixa do regime de competência, é possível entender a


DRE.

A DRE é uma demonstração contábil que apresenta o confronto das receitas com as
despesas de um período (geralmente trimestres ou anos), segundo o regime de
competência de modo a apurar o resultado do período.

Se o resultado for positivo, nós chamamos de lucro. Se o resultado for negativo, nós
chamamos de prejuízo.
Diferente do balanço patrimonial, que nos apresenta o estoque de recursos nas diversas
contas que compõem o patrimônio da empresa, a DRE nos apresenta os valores de forma
mais dinâmica, como sendo um fluxo de recursos.

Por isso o balanço patrimonial, por exemplo, do 4º trimestre de 2018 tem a data do último
dia do ano (31/12/2018) e a DRE tem a data do ano inteiro (de 01/01/2018 a 31/12/2018, ou
simplesmente o 2018), porque o resultado foi apurado no decorrer do ano, em forma de
fluxo e não de estoque.

PARA QUE SERVE A DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE)

O objetivo central da DRE é apresentar o resultado do período, por meio do confronto das
receitas com as despesas, porém saber se a empresa teve lucro ou prejuízo não é a
informação mais importante que podemos extrair dessa importante demonstração contábil.

Na DRE nós podemos encontrar informações a respeito dos seguintes pontos, não se
limitando a eles:

● Eficiência com relação aos custos para se obter a receita (analisando a relação entre
a receita operacional líquida e o custo dos produtivos vendidos ou serviços
prestados);
● Margens bruta, operacional e líquida (analisando a relação entre o lucro bruto,
operacional e líquido com a receita operacional);
● Evolução na contenção de despesas etc.

No exemplo abaixo podemos perceber que as despesas administrativas cresceram menos


do que as receitas, indicando que a empresa se esforçou para sanear esse tipo de gasto.

Muitas vezes esse tipo de informação é mais importante do que apenas saber se a empresa
teve ou não lucro, porque pode indicar que há um esforço para fazer sobrar mais da receita
da empresa para a geração de lucros.

Existe muito mais informação além do lucro ou prejuízo na DRE, a exemplo de empresas
que têm prejuízo apenas por uma variação cambial que nem sequer afetou o seu caixa.
Basta usar a criatividade para analisar os números. No texto sobre análise das
demonstrações contábeis existem mais detalhes sobre esse assunto.
6 – Demonstração do resultado abrangente: o lucro é o fim?

Felipe Pontes
No texto anterior vocês conheceram a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e
viram que olhar apenas o lucro ou prejuízo (resultado) pode te levar a tomar decisões
erradas com relação à análise do desempenho das empresas.

Neste texto vocês perceberão que o lucro realmente não é o fim. Existem outras
informações mais amplas que podem afetar a sua percepção sobre o desempenho da
empresa.
Essas informações mais amplas são chamadas de outros resultados abrangentes que não
foram reconhecidos na DRE, porém afetam o patrimônio líquido.

O QUE É A DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE (DRA)

A Demonstração do Resultado Abrangente (DRA) é uma demonstração contábil mais


recente aqui no Brasil e nos possibilita verificar as mutações no patrimônio líquido
decorrentes de ganhos ou perdas não realizados, mas que poderão vir a afetar o lucro
líquido e os fluxos de caixa da empresa no futuro.

São itens que podem transitar pela DRA e não pela DRE:

● Ganhos ou perdas atuariais com planos de pensão com benefício definido para os
empregados da empresa;
● Ganhos e perdas derivados de conversão de demonstrações contábeis de operações
no exterior;
● Ganhos e perdas derivados de alguns instrumentos de hedge;
● Entre diversas outras aplicações definidas no Pronunciamento Contábil CPC 26 ou
outros pronunciamentos específicos.

PRA QUE SERVE A DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE (DRA)

Como visto anteriormente no texto sobre a DRE, o confronto das receitas com as despesas
nos apresenta o resultado realizado no período considerando o regime de competência.
Contudo, é possível que existam outros itens que não foram ainda realizados, mas que
poderão afetar o desempenho futuro da empresa (por meio do lucro e do caixa).

Nesse sentido, a Demonstração do Resultado Abrangente (DRA) poderá auxiliar o analista


ou investidor a entender melhor, por exemplo, como a empresa está gerenciando outros
itens que ainda não afetaram o lucro líquido ou o caixa da empresa.

O exemplo abaixo é a DRA da Sanepar em 2018, onde podemos ver que a empresa teve
um ganho pelo bom gerenciamento do seu passivo atuarial (obrigação que a empresa tem
com relação à aposentadoria dos funcionários, em linhas gerais), compensando uma perda
atuarial em 2017. Esses itens não afetaram o lucro do ano, mas são indicadores de que
podem afetar no futuro e o investidor espera que o impacto seja positivo, para que a
empresa não tenha que desembolsar recursos adicionais.
A título de curiosidade, se buscarmos nas notas explicativas podemos observar que os
investimentos feitos para o plano de aposentadoria e de assistência médica dos funcionários
da Sanepar (que gerou esse ganho atuarial) investe basicamente em renda fixa (77%) e
muito pouco em renda variável (6,8%) e que a prática de day-trade é vedada. Mas notas
explicativas é um assunto para outro texto e veremos que às vezes elas não são tão
explicativas assim.

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