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SEMINÁRIO:

Iconografia musical no período colonial brasileiro:


A relação entre o canto das 3 raças e a arte visual.
Motivação:
Canto das 3 raças – Clara Nunes: https://www.youtube.com/watch?v=Swbt2HGmXmY
Ninguém ouviu No Quilombo dos ô, ô, ô, ô, ô, ô
Um soluçar de dor Palmares ô, ô, ô, ô, ô, ô
No canto do Brasil Onde se refugiou
ô, ô, ô, ô, ô, ô
Um lamento triste Fora a luta dos ô, ô, ô, ô, ô, ô
Sempre ecoou Inconfidentes
Desde que o índio Pela quebra das correntes E ecoa noite e dia
guerreiro Nada adiantou É ensurdecedor
Foi pro cativeiro Ai, mas que agonia
E de lá cantou E de guerra em paz O canto do trabalhador
De paz em guerra
Negro entoou Todo o povo dessa terra Esse canto que devia
Um canto de revolta pelos Quando pode cantar Ser um canto de alegria
ares Canta de dor Soa apenas
Como um soluçar de dor

A letra da música sugere o aprisionamento das 3 raças que forjaram a identidade


brasileira: A primeira, indígena, colocada em cativeiro como consequência da
colonização; a segunda, negra, desumanizada e escravizada, representada pela resistência
dos Palmares; e, por fim, a terceira, branca, representada pelos inconfidentes, que
contestam o abuso da autoridade portuguesa no ciclo da mineração.
Além disso, a letra sugere o um canto pesado, triste e acorrentado dessas raças, pois, de
tanta agonia e trabalho, quando podem cantar, cantam de dor. A música é um samba, que
contém instrumentos de percussão, como tambores e atabaques, das religiões africanas,
como o Candomblé, e é escrita, em sua maioria, em acordes menores, contribuindo para
um tom melancólico.
Nas palavras de Paulo César Pinheiro, autor da canção, popularizada na voz de Clara
Nunes:

“Quando o Brasil ainda era um país desconhecido do resto do mundo, a nossa música
era apenas sons dispersos na boca do índio habitante. Porque fazer som e ritmo é
próprio do instinto humano. Mas nada havia de definido em termos musicais.
Até que aqui chegou o português colonizador e a história da MPB começa.
A Terra foi tomada em nome do rei. E o índio guerreiro foi vencido e escravizado ao
trabalho da lavoura, em favor da civilização. E, do cativeiro, ecoaram os primeiros
cantos tristes que começaram a definir o nosso canto brasileiro.
Dado ao gigantismo da nova nação descoberta, precisavam os conquistadores de muitos
e muitos braços para o trabalho, que se prenunciava tão grande quanto o próprio
território. E importaram de suas colônias africanas a raça nascida escrava: a raça negra.
E o canto do índio cativo juntou-se ao lamento do preto sofrido das senzalas e dos
quilombos. E a música passou a tomar novas formas, proporções e grandeza às quais o
mundo inteiro ainda viria se curvar.
Para a nova Terra partia toda espécie de gente: desde os homens de confiança da coroa
portuguesa até aventureiros buscando riquezas. E aqui, saudosos de seus lugares de
origem passaram também a criar seus cantos. A colônia crescia e os próprios brancos
já sentiam a necessidade da quebra das correntes que uniam Brasil e Portugal.
Até que se deu a Independência. E a expressão “música popular brasileira”, desde aí,
passou a ter a sua definitiva validade. Esta é a sua história. A história da música de um

país feita pela união das três raças que o construíram.”


Sendo assim, a música e seu contexto sugerem os traços de miscigenação, dada a ligação
entre as três raças, tanto pelo sofrimento, trabalho braçal, luta e resistência perante a
violência e a exclusão, como também pelo sincretismo na construção da Música Popular
Brasileira.
Vale ressaltar que a concepção das 3 raças é enxergada como mitológica, e até folclórica,
dado que a concepção de diferentes raças humanas é cientificamente ultrapassada. Esse
mito idealiza a miscigenação, desconsiderando as peculiaridades de cada “raça”,
colocando-as em um local de equilíbrio ideal, e consequentemente, minimizando questões
de violência, dominação e exploração da elite branca sobre a população não-branca. Além
disso, teóricos como Sérgio Buarque de Holanda criticam o conceito de raça enquanto
fator definidor de cultura.
Proposta:
Tecer relações entre a arte visual brasileira e os elementos característicos do canto/música
das três raças.
Objetivos específicos:
 Estudo da Iconografia Musical no Brasil;
 Estudo da música do trabalho;
 Pesquisa de obras e artistas plásticos que retratem o período colonial brasileiro.
Ideia de estruturação:
Apresentação de obras que retratem cada “raça” e sua relação com a música, para
posteriormente apresentar o sincretismo brasileiro.

Adendo: De acordo com o explicado, por e-mail, pelo monitor Antônio Herci, a Música
do trabalho é “uma mistura de trabalho braçal (plantação ou cultivo), instrumentos
(ferramentas) que podem ser considerados artefatos tridimensionais e, principalmente,
algo que na cultura africana é muito comum, mas que se perdeu no ocidente: a música e
o movimento coreografado (coletivo) nos processos de produção, com canto e movimento
coordenado com um sentido coletivo.”

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