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A CIDADE NO TEMPO:

Uma Breve História dos Logradouros de São Luís

Marcos Aurélio Mendes Lima1

SUMÁRIO
1. Introdução
2. A Origem de Uma História
3. O Primeiro Bairro
4. Um Centro Histórico
5. A Vida Além dos Limites Centrais
6. Conclusão: Uma Identidade Atemporal
ABSTRACT
REFERÊNCIAS.

RESUMO
O artigo apresenta um rápido passeio pela história de bairros, ruas e avenidas de São Luís do
Maranhão, através da análise de documentos que possibilitam voltar ao passado desses
logradouros, revelando a conjuntura que permitiu denominar cada espaço, com suas
respectivas origens e, porventura, homenageados. Busca-se analisar, também, a importância
econômica, política e cultural de cada endereço aqui citado, estabelecendo com isso uma
importante interpretação da história do estado através de um novo olhar, topográfico e quase
perdido no tempo.

Palavras-chave: Logradouros. São Luís. Maranhão.

1
Acadêmico do curso de História da Universidade Federal do Maranhão – UFMA (2011)
E-mail: mamlima91@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

Como disse Ítalo Calvino, em seu livro As Cidades Invisíveis, “A cidade não
conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas
grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das
bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladura”.
Um grande exemplo de cidade atemporal como a citada por Calvino é São Luís do
Maranhão. Fundada por franceses em 1612, a ilha sempre esteve envolta por lendas e
mistérios, que povoaram o imaginário popular e atravessaram gerações sedentas por boas
histórias. Fatos auspiciosos, contos animalescos, curiosas biografias, tudo isso fez da cidade
esse berço cultural em que se transformou atualmente. E algo mais curioso ainda permeia seu
passado, trazendo um belo reflexo para os dias de hoje: a denominação de seus logradouros.
Ruas poéticas, becos com nomes pitorescos, homenagens póstumas a quem muito
contribuiu para a formação da cidade, entre outros motivos, levaram a população a perpetuar
adjetivos para o que, de início, seriam apenas passagens costumeiras e cotidianas. Qualquer
coisa era motivo para batizar o seu endereço, a sua morada. E fazer uma análise das razões
que motivaram a ilha a ganhar tantos logradouros com nomes curiosos é a proposta principal
deste trabalho.
Buscamos analisar também o âmbito atual destes endereços, verificando até que
ponto essas denominações ganharam notoriedade e de que forma são conhecidas pela
população atual. Daremos prioridade a ruas e avenidas do Centro Histórico, por entender que
a história da urbe teve início nesse espaço, porém sem deixar de reconhecer a devida
importância que outras partes da cidade proporcionaram ao desenvolvimento local,
comentando, inclusive, suas origens.
2 A ORIGEM DE UMA HISTÓRIA

Fundado por franceses em 8 de Setembro de 1612, o forte de São Luís consistia


em uma medida de proteção para possíveis ataques estrangeiros. Daniel de La Touche, senhor
de La Ravardière, e seus companheiros construíram o forte sobre um rochedo completamente
cercado por dois rios (Anil e Bacanga). Para tal, utilizaram a população nativa, incluindo
mulheres e crianças das aldeias próximas.

Em pouco tempo terminaram a construção do forte, e edificaram também, algumas


cabanas, de um e dois andares, além de um armazém que servia para guardar as
cargas das naus. Colocaram no alto da montanha, no forte, com ajuda dos franceses,
vinte canhões para defesa. (PONTES, 2001, p. 37)

Com a construção do forte, observou-se a existência de caminhos já traçados, que


acabaram sendo aproveitados pelos colonizadores. Dois deles em especial chamavam atenção,
pois serviam aos índios como eixos ordenados, designando-os pelos nomes clássicos:
Afogados e Egito (ALMEIDA apud LIMA, 2007, p. 60). O primeiro tinha fim no extremo da
ilha, no rio Anil, enquanto o segundo encerrava-se na praia do Desterro. Através da
intersecção por essas estradas, originaram-se as primeiras ruas de São Luís.

(...) Assim, paralelo aos Afogados, a modo de abscissas, contar-se-ia: Barqueiros, da


praia pequena, serpeando pelo sopé da colina até o Egito; Sant’ Antônio, o Mouro,
de que o alinhamento do Palácio é prova evidente, do porto à igreja e o convento
desse nome, atual Recolhimento; Nazaré, do porto junto ao Tesouro, até o Ribeirão.
E paralelos ao Egito, a modo de ordenadas, ligando a praia Pequena à Grande;
Boquinha, de entre as meias laranjas à Campos Melo; Calçada, atual entrada lateral
de Palácio; Intendência, Estrela, Silva, Giz, Trindade e Palma, do começo da praia
de Acaju, de que ainda se pode admirar um trecho, entre as ladeiras do Couto e a
rua dos Barqueiros. (ALMEIDA apud LIMA, 2007, p. 61)

A partir da implantação, tempos depois, de um edifício que serviria de residência


a todos os governantes posteriores do estado (Capitães-generais da Colônia, Governadores do
Estado Colonial, Presidentes da Província e Governadores republicanos), surge a primeira
projeção de avenida para a cidade, de início batizada apenas como Largo de Palácio (LIMA,
2007, p. 60). Aliás, o atual Palácio dos Leões ganhou este nome durante o governo de José
Maria Magalhães de Almeida (1926-1929), após uma grande reforma, que incluía desde
canalização de esgotos até pintura geral e aquisição de roupa de cama e mesa, modificação da
fachada e colocação de dois leões à entrada (LIMA, 2007, p. 63), animais estes que deram
nome ao prédio.
A Igreja da Sé surge após o período de fortificação, mais precisamente em 1716,
quando os padres jesuítas Manuel Gomes e Diogo Nunes decidem erguer uma capela no
mesmo local da atual catedral. Entretanto, a denominação de “Catedral do Bispado” só veio
em 1762. Recebeu inúmeras reformas e adaptações e a imagem que hoje ornamenta o frontão
da igreja é a de Nossa Senhora da Vitória, padroeira da paróquia, em homenagem à santa
milagrosa da Batalha de Guaxenduba (gloriosa batalha onde portugueses venceram franceses
graças a um milagre atribuído na época à Virgem Senhora).
Na primeira década do século XX, o largo de Palácio recebeu a denominação de
Avenida Maranhense, sendo reformado e arborizado pelo Intendente Afonso Henrique de
Pinho, em 1904, a fim de dar um novo formato ao principal e mais importante centro
administrativo do Estado. Tempos depois, já na comemoração de 350 anos da fundação de
São Luís, a avenida já era chamada de D. Pedro II, em homenagem ao imperador que
governou o Brasil até 1889, época da Proclamação da República. Atualmente, possui um
viaduto de ligação com a Avenida Beira Mar (Jaime Tavares) e continua sendo sede dos
poderes estadual e municipal.
3 O PRIMEIRO BAIRRO

De acordo com o historiador José Ribeiro do Amaral, morador de São Luís às


vésperas do século XX, a capital maranhense era uma cidade carente de serviços públicos
urbanos para oferecer à população (AMARAL, 1898, p. 62). Em 1896, possuía um total de
5.298 casas habitadas, 74 ruas, 16 praças, 21 travessas e 32 becos. Estava dividida em três
freguesias (povoações, sob olhar eclesiástico): N. Srª da Vitória, N. Srª da Conceição e São
João.

(...) Na Praça do Palácio, as repartições de maior notoriedade como Palácio do


Governo, a Capitania do Porto, a Repartição do Telégrafo, a Caixa Econômica, a
Intendência, o Paço da Câmara Municipal e a Catedral. Outros locais de relevância
na cidade eram o Largo dos Remédios, onde já se encontrava a estátua do poeta
Gonçalves Dias. São Luís possuía um teatro, dois quartéis, três hospitais: o militar, o
Português e o de Santa Casa de Misericórdia . A iluminação era feita a gás e o
precário abastecimento de água era feito pela Companhia de Águas, que oferecia
esse serviço desde 1874 (SOUSA, 2006, p. 19).

Como citado anteriormente, algumas ruas faziam parte do traçado de São Luís
desde sua fundação, a exemplo da Rua dos Afogados, da Estrela e da Palma, todas localizadas
na região da Praia Grande, primeiro bairro propriamente dito da capital. A Praia Grande era,
pois, todo o terreno desde a travessa Boa Ventura (fluvial) até a Rua do Trapiche, onde
despontavam vários olhos d’água sob frondosos juçarais, recebendo as enxurradas vindas da
Rua do Giz, um tremendo lamaçal tornado impraticável, duas vezes ao dia, nas marés
crescentes, para o transporte das mercadorias recebidas do interior, quando toda a
comunicação de São Luís se fazia por mar (LIMA, 2007, p. 24).
Configura-se como primeiro bairro de São Luís por estabelecer já naquela época
todos os parâmetros socioeconômicos de desenvolvimento. Seu aterramento partiu da
necessidade de conseguir um local onde se pudesse guardar e vender os gêneros alimentícios
da população. Surgia assim o Barracão, Celeiro Público ou Casa das Tulhas, um misto de
feira e órgão público, aberto em 1805 para atender ao povo. Fora fechado em 1833 devido a
escândalos administrativos da época e demolido, pois enfeava o bairro comercial.
Em 1834, um novo edifício começava a ser construído no mesmo local. Concluído
em 1862, tratava-se da “Casa da Praça” e possuía uma forma retangular, um jardim interno
com chafariz e quatro portões, um em cada fachada. É conhecido hoje como a “Feira da Praia
Grande”.
É dessa época também o início das construções dos casarões históricos, mirantes e
sobrados, com seus azulejos imponentes e características únicas. Onde hoje existe a Praça
João do Vale, antigamente situava-se a primeira Alfândega, no antigo edifício da extinta
Companhia de Comércio. No bairro, houve também a construção de rampas de desembarque,
inúmeras igrejas e o desenvolvimento do comércio popular, que ganharia forte impulso com a
substituição, em 1924, do bonde de tração animal pelo movido a eletricidade.
Mas o que mais chama atenção em toda São Luís é a denominação de seus
logradouros, batizados não por acaso, mas seguindo uma linha incontestável de sapiência.
Observa-se até hoje ruas nomeadas com elementos da natureza, sentimentos, tipos e espécies
de plantas, animais, entre outras referências. A Rua do Giz, localizada na Praia Grande, por
exemplo, deve seu nome à íngreme e escorregadia ladeira de argila, que dificultava o trânsito,
pelo que recebeu a escadaria que lhe corrigiu o defeito (LIMA, 2007, p. 151). Entende-se por
giz o calcário de fácil fragmentação e que contém sílica e argila (FERREIRA, 2008, p. 434), e
nota-se que o nome da rua foi atribuído a sua constituição física, permitindo conhecer um
pouco da sagacidade observadora dos maranhenses da época.
Convém salientar que a maioria dessas ruas de nomes curiosos já possui novos
registros e são conhecidas oficialmente por outras denominações. A Rua do Giz hoje é
chamada de Vinte e Oito de Julho, data em que oficialmente o Maranhão reconheceu o Brasil
como independente de Portugal, em 1823. Mas, para muitos, a possibilidade de voltar ao
passado e continuar a chamar esses logradouros pelos seus nomes antigos, dados pelo povo de
uma época, é bem mais forte.
4 UM CENTRO HISTÓRICO

Cemitérios, igrejas, matadouros. Naquela época, denominou-se “centro da cidade”


a porção habitável que crescia ao redor do forte e ganhava novos domínios, sendo explorados
principalmente através da ligação estabelecida por eles. A partir daí, surgem histórias
pautadas por esse desenvolvimento, sobretudo no que diz respeito à nomeação de logradouros
públicos e suas mais diversas origens e motivações.
Era comum, na última década, que resoluções na Câmara Municipal alterassem o
nome de logradouros a fim de homenagear figuras e personalidades históricas, seja do Brasil
ou do Maranhão. O grande dramaturgo Arthur Azevedo, por exemplo, irmão do escritor de O
Mulato, Aluísio de Azevedo, nasceu na Rua do Poço (hoje conhecida por Rua do Machado),
no centro de São Luís, em 1855. Entretanto, foi a Rua da Mangueira que teve seu nome
modificado para homenageá-lo. A Rua do Machado, citada anteriormente, tem esse nome por
causa de Luís Antônio Machado, um cirurgião português que fez grande fortuna edificando a
maioria dos casarões do Centro Histórico. Já a Rua da Estrela, uma das primeiras da cidade,
teve seu nome alterado para Rua Cândido Mendes, em referência a Cândido Mendes de
Almeida, promotor público e professor de geografia e história do Liceu Maranhense,
deputado e senador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de
Comentários ao Código Filipino e Memórias para o extinto Estado do Maranhão (LIMA,
2007, p. 107-108).
Outros logradouros têm nomes e origens bem curiosos. O Beco da Bosta possui
essa denominação porque era o beco estreito por onde transitavam os escravos carregando os
tonéis de excrementos das famílias para jogá-los na maré, os conhecidos tigres ou cabungos,
único meio de despejo até então (LIMA, 2007, p. 36). A Rua dos Afogados é chamada assim
porque, diz a tradição, a diversão dos moços peraltas dos séculos passados era afogar os
muitos macacos ali existentes na água de um riacho, que provavelmente tinha ligação com o
Rio Anil. A Rua da Saúde, hoje chamada de José Eusébio, existe devido a ali ter-se instalado
a primeira repartição de Higiene e Saúde Pública do Estado, em 1747, órgão semelhante à
Vigilância Sanitária dos tempos modernos. Já José Eusébio de Carvalho Oliveira foi um
piauiense morador e político do Maranhão, tendo sido senador e deputado federal pelo Partido
Republicano.
Mas os nomes curiosos dignos de observação não param. A Rua das Cajazeiras,
importante corredor de transporte em São Luís, segundo o historiador Domingos Vieira Filho,
recebeu o “apelido” por causa de uma associação meio secreta que ali existia (Clube das
Cajazeiras, segundo Bandeira de Melo), em que se conspirava contra os portugueses e
desejava-se a independência do Brasil. A Rua do Norte deve seu nome à população, pois
antigamente (depois de chamar-se Rua da Imprensa, em razão de ter-se instalado nela a
primeira tipografia do estado) era conhecida como Rua da Morte, por dar acesso ao cemitério
do Gavião. Tempos depois, o M foi trocado pelo N, sendo assim conhecida até hoje.
Por falar em cemitérios, eles foram grandes personagens na história de São Luís,
também dando sua contribuição para a nomeação de logradouros. O primeiro foi o Cemitério
Velho da Misericórdia, bem próximo ao forte, nos fundos da igreja da Misericórdia, hoje
Igreja da Sé, da qual falamos anteriormente. A partir do crescimento da população, houve a
necessidade de transferência desse campo-santo para outro local, a fim de acabar com o velho
costume de enterrar seus entes próximo a igrejas. Houve, também, um segundo cemitério, na
Rua do Passeio, pertencente à Santa Casa. Aliás, a tal rua tem esse nome porque era
conhecida como o último passeio que se fazia antes de chegar a sua sepultura.
Outro cemitério de desdobramentos curiosos e último a ser fechado na capital foi
o Cemitério dos Passos, localizado no atual Canto da Fabril, mais precisamente sob o Estádio
Municipal Nhozinho Santos. Após sua desativação, em 1854, deu origem ao projeto esportivo
e ao bairro chamado hoje “Vila Passos”. Vale ressaltar que o campo-santo tinha esse nome
por pertencer à Irmandade Bom Jesus dos Passos e que o Canto da Fabril surgiu devido à
mania da população da época em localizar-se a partir da Companhia Fabril Maranhense,
fundada por Crispim Alves dos Santos, quando a febre fabriqueira sonhava transformar São
Luís na Manchester Brasileira (LIMA, 2007, p. 54).
Transferindo seu cemitério para outro local, agora no final da Rua do Passeio (e,
consequentemente, distante da cidade, como determinavam as leis higiênicas do período), a
Irmandade da Misericórdia inaugurou, em 6 de Setembro de 1855, o Cemitério do Gavião. O
terreno era de uma bonita chácara chamada Quinta do Gavião e foi comprado por Januário
Martins Pereira por 6.400 contos de réis, sendo legado posteriormente à ordem. A chácara
também dá nome a outro conhecido logradouro de São Luís. Trata-se do Caminho da Boiada,
que tem esse nome porque vinha por ele o gado a ser abatido no Matadouro que ficava, na
época, na Quinta do Gavião (LIMA, 2007, p. 54).
As Igrejas de São Luís também deram origem a diversos endereços, como se pode
perceber com a Rua dos Remédios, por exemplo. Projetada em 1775 por Joaquim de Melo e
Póvoas (1775-1779) para ligar o Largo do Quartel (atual Praça Deodoro) ao largo da igreja
dos Remédios (Praça Gonçalves Dias), a via fora criada para resgatar a devoção de fiéis que
evitavam o templo por ele estar localizado em um matagal e servindo de refúgio para escravos
revoltosos.
A igreja de Santana também legou seu nome à rua onde ficava, bem como a igreja
de Santaninha, conhecida antigamente como capela de Santana da Sagrada Família, e hoje
demolida. Mas curiosa mesmo é a história da igreja de São Pantaleão, aqui contada pelo
historiador Carlos de Lima em seu livro Caminhos de São Luís.

Esta igreja, iniciada em 1780 e acabada em 1817, foi construída por Pantaleão
Rodrigues de Castro e Pedro da Cunha, dedicada a São José da Cidade, cuja
imagem foi colocada em seu altar em 17 de março daquele ano. Em 1793, Pantaleão
e seu filho Manuel Rodrigues de Castro fazem doação dela à Santa Casa de
Misericórdia, chamando-a Igreja de São José da Misericórdia, mostrando que as
igrejas, à moda das ruas, também tinham a mania de mudar de nome; porque o povo
tanto a chamou de igreja de Seu Pantaleão que acabou se transformando em igreja
de São Pantaleão, como até hoje. (LIMA, 2007, p. 143)

O santo, aliás, existe, mas não é reconhecido pela igreja. Jacques Pantaleão, ou
papa Urbano IV, instituiu a festa de Corpus Christi ao calendário cristão em 1264, mas nada
tem a ver com a rua e a igreja conhecidas pela população ludovicense.
Há também na capital, logradouros adjetivados por sentimentos, nomes de
animais e elementos da natureza, a exemplo da Praça da Alegria, Rua da Paz, da Inveja, da
Cotovia, das Flores, Beco das Laranjeiras, etc. O interessante é que a Praça da Alegria só
passou-se a chamar assim em 1849, depois de décadas conhecida como “Largo da Forca
Velha” (local onde eram enforcados desertores da ordem pública vigente), provavelmente,
com o intuito de fazer desaparecer a primeira e triste designação. Os outros endereços citados
acima são puramente poéticos, sem uma origem surpreendente ou que chame atenção.
5 A VIDA ALÉM DOS LIMITES CENTRAIS

De acordo com a lei municipal nº 17, de 17 de Dezembro de 1896, foram criados


os distritos de São Luís e Bacanga, estabelecendo, portanto, os primeiros municípios da
região. Logo depois, em 1911, o território do Turu também aparece como distrito, sendo
seguido, em 1948, pela área do Anil, além de Paço do Lumiar e São José de Ribamar, que
figuraram idas e vindas territoriais como anexos de São Luís.
Durante esse período, a capital foi-se expandindo pelo Caminho Grande, a
principal via de acesso da cidade na época e hoje conhecida como Rua Grande. A partir dessa
expansão, pode-se perceber a formação dos atuais bairros da cidade, atingindo limites nunca
antes desvendados pelos franceses e só conhecidos pelos nativos. Em 1950, surgem no bairro
do Areal novas moradias, caracterizando um esvaziamento populacional do Centro Histórico.
Em 1954, o logradouro teve seu nome substituído para “Monte Castelo”, em homenagem ao
feito das Forças Armadas do Brasil em território italiano na batalha de 25 de Fevereiro de
1945 (SANTOS apud LIMA, 2007, p. 219).
Com isso, aproveitar o território da grande ilha passou a ser algo normal. Surge a
região do João Paulo, guarnecida pelo novo quartel que ali se instalara (em substituição ao
existente na atual Praça Deodoro). O Bairro de Fátima, em uma clara homenagem à santa
padroeira de Portugal e antes chamado de Cavaco, também é dessa época. Aliás, era comum
nomear bairros de São Luís com nomes de santos ou referências católicas, como é o caso do
São Cristóvão (antigo Tirirical), Fé em Deus, Anjo da Guarda, Madre Deus, São Francisco,
entre outros, que continuam com a mesma denominação até hoje.
De acordo com a Wikipedia, São Luís possui, oficialmente, 38 bairros. A maioria
deles surgiu a partir da necessidade em instalar e garantir moradia aos trabalhadores das
várias empresas que vieram para o estado nas últimas décadas. Grandes exemplos são os
bairros do Itaqui, Sá Viana e Vila Embratel, que receberam famílias de funcionários da
Alumar e Companhia Vale do Rio Doce, a partir da década de 50.
Outras comunidades também passaram a existir do outro lado da cidade,
principalmente no período do governo militar, entre 1964 e 1986. Na época,
criou-se um programa social que construiu milhares de casas próprias para toda a população
da capital. Chamava-se Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e foi comandado pelo extinto
Banco Nacional de Habitação (BNH). Como toda entidade de classe (sindicatos, associações,
cooperativas) podia se reunir sistematicamente e formar uma cooperativa habitacional por
conta do sistema, vários bairros surgiram na época. Todos identificados por siglas: Cohab,
Cohatrac, Cohama, Ipase, Cohafuma, Cohajap, Cohaserma, Ipem.
Vale destacar o significado dessas siglas. Cohab quer dizer Cooperativa
Habitacional Brasileira; Cohatrac, Comunidade Habitacional dos Trabalhadores
Comerciários; Cohama significa Cooperativa Habitacional do Maranhão; Ipase é acrograma
para Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores dos Estados; Cohafuma nada mais
é que a Cooperativa Habitacional dos Funcionários da Universidade do Maranhão (isso
explica o fato de cursos superiores darem nome a suas ruas); Cohajap significa Cooperativa
Habitacional Japão (devido ao sucesso que fez um japonês na época dos empréstimos
autofinanciados do BNH); Cohaserma, Cooperativa Habitacional dos Servidores do
Maranhão e, por fim, Ipem (São Cristóvão) em referência ao Instituto de Pesos e Medidas do
Bairro São Cristóvão, uma filial que seria construída no local na década de 90, cujo projeto
não prosperou.
Durante os anos 80, a vez era dos conglomerados habitacionais. A Cidade
Operária, construída pelos governadores João Castelo Ribeiro Gonçalves e Luiz Rocha é um
exemplo disso. Conhecido na época como o maior conjunto habitacional da América Latina, o
bairro destacava-se por manter uma coesão estrutural, dividindo-se em unidades, que, após se
desenvolverem, deram origem a novos logradouros, de grande densidade populacional. Outro
exemplo é o Maiobão, hoje pertencente ao município de Paço do Lumiar. Sua área é tão
grande que atualmente discute-se desmembrá-lo da região para torná-lo um novo município
metropolitano.
Atualmente, percebe-se a criação de espaços cada vez mais privados,
denominados bairros planejados, com mais segurança, conforto e lazer para seus moradores, a
exemplo dos residenciais Pinheiros e Jardins São Luís - ainda em construção.
6 CONCLUSÃO: UMA IDENTIDADE ATEMPORAL

A correria cotidiana, infelizmente, não nos deixa parar e pensar na importância


que cada local por onde pisamos tem. Problemas rotineiros, depredação e falta de cuidado
acabam retirando a identidade de endereços históricos, transformando-os em meros objetos
contidos na paisagem urbana. O valor que uma rua bem conservada tem é muito maior que o
de um caminho sinuoso, cheio de problemas e dificuldades, seja de locomoção ou
urbanização.
Neste trabalho, procuramos enaltecer as qualidades históricas que alguns
endereços de São Luís têm, desconhecidas pela maioria da população. O desejo por um novo
olhar, mais cuidadoso e protetor, é inegável. E pensar a formação da cidade como parte de um
passado glorioso é enriquecedor. Buscamos, portanto, conhecer um pouco da verdadeira
identidade dessa ilha de belezas encantadoras e curiosas. Uma identidade que foge ao
conceito de passado e perpetua-se no tempo.
ABSTRACT

The article presents a quick tour through the history of neighborhoods, streets and avenues of
São Luís do Maranhão, by examining documents that enable return to the past of these
neighborhoods, revealing the circumstances that allowed each name space,
with their origins and, perhaps, honored. Seeks to analyze also the importance of economic,
political and cultural life of each address mentioned here, thus establishing an important
interpretation of the history of state through a new look, topographic and almost lost in time.

Keywords: Neighborhoods. São Luís. Maranhão.


REFERÊNCIAS

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