Objetivo: entender o que são, como funcionam e como devem ser usadas as
ilustrações, as aplicações, a introdução e a conclusão; bem como perceber aspectos de
nossa postura e linguajar como auxiliadores em nossa exposição.
Sumário:
1 Introdução
2 As Ilustrações
3 As Aplicações
4 A Introdução
5 A Conclusão
6 O Apelo
7 Cuidados com a Apresentação da Mensagem
7.1 O Cuidado com o Tempo
7.2 O Corpo também Fala
8 A Importância da Auto-avaliação
9 Cuidados Necessários com as Ocasiões Especiais
10 Resumo
1 Introdução
Embora as ilustrações, aplicações, introdução e conclusão devam ser pensadas
e trabalhadas no processo de estudo e montagem de nosso esboço,
trataremos estas como parte significativa de nossa apresentação, distinguindo esta
Unidade da anterior.
2 As Ilustrações
Como o próprio nome sugere, deve servir para trazer uma luz maior ao assunto
estudado. Devem ser curtas e totalmente coerentes com a parte onde está sendo
descrita. Ou seja, há certas histórias que cairiam muito melhor na introdução, mas
como eu gosto muito dela “vou deixar para o final, como cereja do bolo”. Se fizer isto,
estragarei “a cereja e o bolo”, isto é, quando a ilustração é contada fora de hora, os
nossos ouvintes gastarão energia tentando descobrir o quê que ela teria a ver com a
mensagem ensinada, fugindo do seu propósito inicial. Não devem ser muitas nem
aleatórias, precisam dar suporte à mensagem bíblica e jamais tomar o seu lugar.
Devem ser usadas no máximo uma por tópico ou subtópico. Precisam estar em
sintonia tanto com a mensagem a ser pregada, quanto com os ouvintes. Isto é, não
adianta simplesmente dizer que o sangue de cristo nos torna mais alvos do que a neve,
para um irmão do nordeste, que nunca viu neve. Mas, se eu disser que nossa vida com
Cristo é mais branca que a poupa do coco, fará muito mais sentido. Precisa fazer parte
do mundo sócio-cultural dos ouvintes. Não tem lógica, eu contar uma ilustração, que
deveria clarificar a mensagem que estou narrando e precisar gastar cinco minutos
explicando a ilustração ou partes dela; certa vez, ouvi um pregador que citou uma
poesia de três linhas, como ilustração para um dos tópicos de seu sermão. Porém
precisou fazer quase que uma exegese para explicar cada palavra utilizada na poesia.
Ao final, parecia que ele estava pregando sobre a poesia. Não precisam ser reais, mas
precisam ser factíveis – capazes de serem realidade. Muito menos deverão servir como
via de regra. Por exemplo: se uso a história de alguém que acordava às 5h da manhã
para orar por um determinado problema e em dez dias Deus lhe concedeu um milagre,
devo cuidar para não passar a ideia de que o horário ou a quantidade de dias é que
fizeram o milagre acontecer.
Muito cuidado com algumas histórias, que apesar de sua beleza, podem causar
muito mais inquietação do que ilustrar o tópico da mensagem. Por exemplo: certa vez
usei a seguinte história em uma pregação: “havia um alpinista, que acabou se
aventurando por subir uma montanha durante a noite, confiando na luz das estrelas.
Mas, diante de uma tempestade muito forte, não havia nenhuma luz para guiá-lo e por
isto estava em perigo. Sob um descuido, acabou caindo, ficando pendurado pela corda.
Percebendo o perigo de uma morte rápida e congelante clamou a Deus por perdão e
misericórdia e Deus lhe respondeu – ‘se crês em mim, de fato, corte a corda’. Mas, sua
falta de fé o fez grudar ainda mais na corda e, na manhã seguinte, a equipe de resgate
encontrou seu corpo congelado e segurando naquela corda há apenas um metro do
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chão.” . Quando concluí minha meditação, achando que a ilustração teria ajudado as
pessoas a praticarem mais sua fé, me veio um irmão perguntar como eu sabia que
aquele alpinista teria realmente ouvido a voz de Deus, se ele estava sozinho naquela
montanha? E outro disse: “pastor, esta história está estranha, ninguém é tão louco de
empreender uma aventura como esta sem levar uma lanterna”. E mais um me
perguntou: “se Deus foi tão bom em responder a ele dizendo para que cortasse a
corda, por que não disse que ele estava apenas há um metro do chão?”. Enfim,
aprendi a dar uma melhor atenção às histórias antes de contá-las no Púlpito, afinal,
ilustração é para esclarecer a mensagem e não tirar a atenção dos ouvintes.
3 As Aplicações
Como já mencionamos anteriormente, aplicar a mensagem é dizer ao nosso
ouvinte como vivenciar a mensagem bíblica hoje, que foi escrita há tanto tempo para
um determinado público alvo. Nosso maior cuidado é com a interpretação correta do
texto bíblico. Pois um significado errado ou distorcido levará a aplicações equivocadas
e destoantes daquilo que a Palavra de Deus espera de nós.
Por exemplo, quando Deus disse que não deveríamos furtar (Ex 20.15)
certamente ele não estava se referindo apenas ao ato de tomar posse daquilo que
pertence ao outro de forma fortuita e escondida. A ideia por trás do oitavo
mandamento é não tomar posse daquilo que não nos pertence. Feito esta
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Não lembro de onde eu havia retirado esta história. Acabei encontrando alguns sites que a
mencionam, mas preferi não mencioná-los, por ter esta conotação negativa que mencionarei
agora.
interpretação, posso aplicar nas mais diversas áreas de nossa vida. Ou seja, a partir de
Ex 20.15 Deus nos convida a não levar o clips do escritório pra casa; a devolver aquele
livro que pegamos emprestado, mas há 15 anos está conosco e privamos o seu dono
de usufruir seus ensinamentos; a ter mais sabedoria na administração dos bens dos
outros, evitando a chamada improbidade administrativa... Enfim, embora a palavra do
texto bíblico seja furto, qualquer situação na qual eu tomo algo do outro estará
incorrendo neste pecado.
Outra situação: se eu interpretar que em Mateus 19.16-22 Jesus está
condenando a riqueza material, poderei cair no erro de achar que nenhum rico irá para
o céu se não vender tudo o que tem e dar aos pobres. Ou ainda, poderia achar que
alguns pobres não conseguiriam ir para o céu por não ter o que vender. Mas, se
interpretar corretamente, percebo que o que Jesus está ensinando é que não devemos
considerar nada mais importante do que ele; aí sim poderemos aplicar para todas as
pessoas. Ou seja, não preciso ter uma conta abastada no banco para cair no pecado
daquele jovem rico. Há pessoas que não permitem Deus agir em suas vidas porque são
escravas de algo que para elas são verdadeiras riquezas, mas que para o mundo não
significam nada. Por exemplo: há pessoas que dão muito mais valor a um animal de
estimação do que aos próprios filhos; há outros que tem um apreço imenso a um carro
velho e por conta disso até perderam amizades; há cristãos que se deixaram tomar
pela vaidade por conta de seu cabelo, bigode, barba, tipo físico, entre outros. O que
dizer ainda daqueles que, por conta de uma novela, filme, jogo ou corrida são
incapazes de se doar para ajudar alguém necessitado? Observem que com uma
interpretação correta, todos nós nos enquadramos naquilo que Jesus pediu ao jovem
rico: “devemos abrir mão de nossa riqueza pessoal, a fim de permitir que sejamos
usados como bênção na vida de nosso próximo, por amor a Ele”.
4 A Introdução
Como havíamos falado anteriormente, ela deve ser uma das últimas coisas a
serem pensadas e planejadas. Mas, se você estiver iniciando sua jornada de estudos e
já teve um vislumbre do que poderia utilizar para introduzir tua meditação, anote em
algum lugar, para avaliar e aprimorar mais adiante, após os estudos concluídos.
Neste momento, devemos pensar na formatação final de nossa introdução.
Que deve ser criativa. Deve ser pensada a cada sermão e vislumbrando melhor atender
cada um deles. Em geral, devemos gastar cerca de 10 a 20% de nosso tempo total do
sermão aqui na introdução. Muito cuidado para não gastar 20 minutos introduzindo e
apenas cinco pregando. Fica muito estranho.
Ela deve estar em consonância com a meditação. Assim como um filme,
devemos iniciar o processo de captação da atenção do ouvinte. Se ela não for bem
feita, poderá afugentar seu ouvinte antes mesmo de começar a pregar. Tente pensar
nas seguintes perguntas após os estudos e a elaboração de seu esboço: Como poderia
introduzir este sermão? Que história poderia contar que capte a ideia geral, causando
curiosidade para os meus ouvintes?
Expressões que devem ser evitadas ao desenrolar a introdução: “quero trazer
uma palavrinha pra vocês hoje sobre...” – embora a ideia esteja se referindo ao tempo,
na cabeça do ouvinte pode soar como se fosse algo simples, sem muita importância.
“Pretendo ser breve, não vou me delongar muito” – nem sempre o que é breve para o
pregador será para o povo, assim, dependendo do ouvinte, depois de cinco minutos
começará a pensar: “Shi! vai longe, nem acabou a introdução”. “Não quero tomar
muito do tempo dos irmãos” – pode dar a ideia de que a explanação da Palavra está
apenas servindo aos irmãos, que seriam o real enfoque do culto, quando na verdade a
Palavra é quem deve ter a centralidade. “Quero pedir desculpas, porque não pude me
preparar muito bem para este sermão” – nunca peça desculpas para a igreja. Peça
perdão a Deus e prontifique-se a fazer melhor na próxima vez; mas a igreja não precisa
saber, mesmo que tenha sido por razões nobres; já presenciei sermões maravilhosos
que, se não fosse a desculpa inicial, não teriam do que serem criticados; geralmente
quando ouvimos um pedido de desculpas como este nos desligamos, achando que virá
qualquer coisa, e corremos o risco de não sermos alimentados pelo Espírito.
5 A Conclusão
Semelhantemente à introdução, deve ser pensada por último e ter cerca de
10% do tempo total do sermão. Ela deve ser pensada antes, para não virar enrolação.
Já presenciei sermões de uns 15 minutos, com conclusões de 25. Porque
costumeiramente os sermões naquela igreja duravam 40 minutos, então, para não
ficar feio entregar um sermão com apenas 20 minutos, o pregador ficou enrolando os
outros 20 minutos. Como você deve estar percebendo, ficou muito pior enrolar o povo
do que simplesmente ter encerrado antes do tempo. É muito mais bonito e prazeroso
o povo sair da igreja com a sensação de que o pregador poderia ter falado mais, do
que com a sensação de que foram enrolados.
A Conclusão também deve estar em sintonia com o sermão como um todo. Não
posso usar o tempo apenas para enfatizar um dos tópicos. A hora dos tópicos já
passou. Mas, e se esqueci de falar algo importante quando passei pelo tópico? Neste
caso deixe para trás. Na conclusão não é hora para lições novas. Nela fazemos um
fechamento geral do assunto tratado, relembrando o que fora ensinado e cobrado,
mostrando aplicações de como viver em resposta àquilo que foi pregado. É hora de
fazer o apelo – o convite para que as pessoas se prontifiquem a responder a
mensagem anunciada. Logo, na conclusão é lugar de recapitulação geral do assunto,
releitura dos tópicos, lembrete das aplicações e apelo aos ouvintes.
Nunca diga “concluindo...”. E quando disser, conclua de fato. Recentemente
ouvi uma pregação, excelente por sinal, mas que deixou a desejar por alguns aspectos
práticos: o pregador iniciou dizendo que seria uma breve meditação (mas durou 65
minutos), logo aos 20 minutos disse “como não quero tomar muito o tempo de vocês,
quero ir concluindo”. Você já deve ter feito as contas: 65-20=45. Puxa, 45 minutos de
conclusão! Pior, ele repetiu umas 5 vezes: concluindo... indo para o final...
finalizando... e nada.
Nunca inclua assuntos novos ou ilustração que só tenham a ver com um dos
tópicos. A conclusão é o momento do fechamento final. Pode recapitular todos os
tópicos, mas não se deve enfocar em apenas um.
6 O Apelo
Embora ele faça parte da conclusão, aqui quis deixá-lo em separado por conta
de uns abusos que tenho percebido nos púlpitos de muitas de nossas igrejas. Na
conclusão deve-se existir o apelo e nunca a apelação. Às vezes tenho percebido que o
apelo tem sido utilizado como forma de persuasão meramente humana a fim de coagir
o fiel a uma determinada resposta que favorecerá melhor aquele pastor e sua forma
administrativa.
No apelo devemos nos preocupar com o ouvinte. Em oportunizar ao mesmo um
momento de reflexão e uma tomada de decisão, que poderão mudar radicalmente o
rumo de sua história. Diante de tamanha importância e responsabilidade precisamos
entender sua funcionalidade e fugir de seu mal uso.
Por apelo entenda-se a provocação da Palavra a fim de termos uma vida
distinta e diferente da que vivemos hoje. Ele pode ser subjetivo, cada pessoa é
convidada a analisar sua própria vida e tomar a decisão que lhe for mais apropriada.
Mas, também pode ser visível: pedindo que se levante uma mão ou se vá à frente. Um
exemplo de apelo subjetivo: diante do que estudamos hoje, por que não permitir que
Deus cuide de fato de nossas vidas? Por que continuarmos querendo tomar os rumos
de nossa própria vida, como se vivêssemos sozinhos?
O Apelo também precisa ser coerente com a temática abordada no sermão. Ou
seja, se a pregação é sobre a mordomia do tempo, não posso pedir que os irmãos
sejam mais generosos em suas ofertas. Mas, infelizmente, muitos pregadores deixam
para pensar no apelo exatamente quando o sermão acaba, condicionando-o à
quantidade de respostas obtidas. Assim, se a pregação era de salvação e ninguém
levantou a mão, expandem o apelo para reconciliação, se ninguém levanta a mão,
amplia-se o convite para consagração, para cura disso ou daquilo, libertação, promessa
de prosperidade etc. Enquanto a cota, previamente estabelecida não for cumprida,
não cessam a apelação.
Carnalmente criamos a teoria de que se vários não levantarem a mão em minha
pregação não fui bem sucedido. Fuja deste mal! É o Espírito quem convence e
transforma e não é pela falta de uma mão levantada que Ele irá deixar de abençoar ou
agir. Ao mesmo tempo, nosso ministério não deve ser avaliado pela quantidade de
pessoas que levamos à frente ou que levantam suas mãos. Nossa missão como
pregadores é expor de forma coerente e profunda a Palavra de Deus. E não ficar
preocupado em preencher uma planilha de relatório ou alimentar nosso ego
registrando a quantidade de “nossa” colheita. Isto é apelação e não deve existir em um
sermão sério e honesto.
7 Cuidados com a Apresentação da Mensagem
Além do conteúdo da mensagem existem inúmeros cuidados que precisaremos
ter para buscar êxito em nossa explanação. A forma como falamos, os trejeitos, os
gestos, a entonação de voz, o tempo que gastamos são apenas alguns exemplos disso.
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Não se deixe enganar quanto ao tempo, achando que por ser um sermão mais curto, será
mais fácil. Na verdade, o que tenho percebido é que quanto menor o tempo de ministração
mais pensadas deverão ser as palavras, o que exige maior preocupação.
passagem, mas enquanto estava passando, conseguiu levar uma verdade dita em
poucas palavras.
e) Culto Radiofônico – Ainda tem muita gente que ouve rádio e por isto
continua sendo um ministério relevante. À semelhança do feito ao ar livre, também
devemos ter cuidado com relação ao evangeliquês, evitando doutrinas, polêmicas e
comparações. Os pensamentos também precisam ser curtos e diretos e acima de tudo
deve-se respeitar o tempo. Se você não se cuidar o técnico ou o narrador que te
convidou irá dar uma palavra de agradecimento ou chamar uma música, mesmo se
não tiver terminado o assunto. Não é como na igreja, que você fala o tempo que quiser
e ninguém nunca lhe chamará a atenção.
10 Resumo
Aprendemos nesta unidade que o mesmo esmero e cuidado que preciso ter no
entendimento da mensagem, também devo ter para com a escolha e uso das
ilustrações e aplicações. Enquanto a primeira me ajuda a entender melhor a
mensagem ensinada, a outra me ajuda a perceber formas de eu colocar em prática nos
dias de hoje.
De igual modo, devemos dar atenção especial quanto ao preparo e transmissão
de nossa introdução e conclusão. Assim como não devemos começar de qualquer jeito,
também não podemos concluir sem nexo, sem rumo, de forma desordenada ou
simplesmente de qualquer jeito. Tanto a introdução, quanto a conclusão, podem
ajudar numa melhor retenção da mensagem transmitida, como também poderão
servir de empecilho na fixação e na apropriação do ensino a ser ministrado.
É claro que nunca conseguiremos criar uma aplicação para cada ouvinte ou
situação da vida. Mas quando damos alguns exemplos estimulamos as pessoas que,
movidas pelo Espírito Santo, farão as devidas aplicações da mensagem para sua
própria vida. De igual modo, o apelo deve ser bem pensado, com antecedência, e
trabalhado em total sintonia com o assunto pregado. Não pode ser um momento de
mera extorsão ou como ferramenta de afago à auto estima.
De igual modo, precisamos cuidar com a administração do tempo que temos,
pensando sempre sobre a ocasião, o horário ou a logística, de onde ministramos.
Outro grande vilão para o pregador é ele mesmo. Ou seja, seus trejeitos,
linguajar, gestos, vestimenta, etc. podem atrapalhá-lo na ministração da Palavra.