Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2012
Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo
PERFIL MORFOLÓGICO DE ATLETAS DE ELITE CIÊNCIAS DO EXERCÍCIO
E DO ESPORTE
DE BRAZILIAN JIU-JITSU
INTRODUÇÃO
vestimentas que diminuem a troca de calor com o meio ambiente, uti-
O conhecimento da composição corporal é essencial em modali- lização de roupas plásticas, uso de diuréticos, laxantes, estimulantes e
dades esportivas de combate para o controle e definição de categoria indução de vômito. Métodos estes que podem causar queda de rendi-
de peso. Além disto, um maior percentual de gordura corporal está mento físico, afetar negativamente o aspecto cognitivo, trazer danos à
negativamente correlacionado com o desempenho em atividades de saúde e até mesmo causar a morte6,9,10.
locomoção e de entradas de técnicas1,2. Alguns estudos distinguem Diversos estudos têm objetivado investigar os efeitos da redução de
atletas de diferentes níveis competitivos quanto à sua composição cor- massa corporal sobre o desempenho11-15, as mudanças antropométri-
poral, relatando que atletas de menor nível competitivo apresentam cas8,12,15, as respostas humorais7,16,17, os efeitos cognitivos9 e as respostas
maior percentual de massa gorda3. Desta forma, a maximização do fisiológicas11, diferindo o método de redução em gradual e rápida18,19.
percentual de massa magra dentro do limite superior de uma cate- Sendo o Brazilian Jiu-Jitsu um esporte no qual os atletas são di-
goria de peso poderia proporcionar ao atleta vantagem quanto ao vididos em nove categorias de peso, além da categoria denominada
rendimento físico4. absoluto20, os atletas utilizam a redução da massa corporal para se
Para se enquadrarem em uma determinada categoria, diversos atle- enquadrarem no limite superior de determinada categoria. Steen e
tas de modalidades esportivas de combate adotam a perda de peso5-8, Brownell21, em estudo com atletas norte-americanos de luta olímpi-
fazendo uso de diferentes métodos, podendo recorrer à restrição calórica, ca (n = 63), apontaram que 41% dos atletas relataram flutuações de
restrição hídrica, desidratação por meio de saunas, corridas utilizando peso de 5,0 a 9,1kg em uma semana. Brito et al.22 investigaram 120
46 Rev Bras Med Esporte – Vol. 18, No 1 – Jan/Fev, 2012
lutadores de Brazilian Jiu-Jitsu (14 mulheres e 106 homens) com idade ósseos do bicôndilo femoral e bicôndilo umeral foram obtidos com
de 21,4 ± 5,3 anos, em período pré-competitivo, e identificaram que paquímetro, com precisão de 0,1cm, de acordo com a descrição de
29% dos lutadores adotavam algum método para rápida redução da Lohman et al.28.
massa corporal pré-competição. Porém, até o presente momento, não A determinação da espessura das dobras cutâneas (peitoral, axilar
foram encontrados na literatura indicativos da magnitude da redução média, tricipital, subescapular, abdominal, suprailíaca e coxa medial)
de massa corporal em atletas de Brazilian Jiu-Jitsu. foi realizada em forma de triplicata, sendo utilizado o valor médio,
Em geral, atletas de modalidades esportivas de combate de domí- seguindo a padronização de Lohman et al.28. Para isto, utilizou-se plicô-
nio têm apresentado percentual de gordura corporal abaixo da média metro Harpenden (John Bull British Indicators®, Inglaterra) com pressão
populacional4,16,23. Especificamente em relação ao Brazilian Jiu-Jitsu, constante de 10g/mm, e precisão de 0,2mm.
Del Vecchio et al.24 relataram que lutadores da modalidade (n = 7) A partir da espessura das dobras cutâneas, determinou-se a densi-
apresentavam valores de 9,8 ± 4,2% de gordura corporal. dade corporal (DC) pela fórmula de Jackson e Pollock29:
Além da composição corporal nas modalidades de lutas, Carter e
Heath25 sugerem que o somatotipo e o sucesso esportivo estão posi- DC = 1,11200000 – 0,00043499 (∑7EDC) + 0,00000055 (∑7EDC)2 –
tivamente correlacionados. Em modalidades esportivas de combate, 0,00028826 (IDADE)
o componente de mesomorfia tem sido destacado como o mais rele-
onde ∑7EDC é o somatório da espessura das sete dobras cutâneas (peitoral, axilar
vante para o desempenho4,26, permitindo, inclusive, discriminar atletas
média, tricipital, subescapular, abdominal, suprailíaca e coxa).
de diferentes graus de desempenho27. Contudo, pouco se conhece
acerca da somatotipologia em atletas de Brazilian Jiu-Jitsu, tendo sido Determinada a densidade corporal, utilizou-se a equação de Siri30
encontrado apenas um estudo24 que reportou componente mesomór- para estimar composição corporal:
fico predominante nesta população (n = 7; 7,9 ± 1,4).
Face às considerações anteriores e visto que o Brazilian Jiu-Jitsu
%G = [(4,95/DC) – 4,50] x 100
é um esporte pouco estudado quanto aos aspectos antropométricos,
o presente estudo teve como objetivo analisar o perfil morfológico onde %G é o percentual de gordura corporal.
apresentado por atletas de elite deste esporte.
A massa muscular (MM) foi estimada pela equação proposta por
MÉTODOS Martin et al.31:
% Fase %
Idade Massa Densidade
Referência Atletas N Massa de Método Gordura Compasso
(anos) corporal (kg) corporal (equação)
gorda treino (equação)
Thomas Judocas da
22 24 ± 4 75,4 ± 12,3 9,3 ± 2,1 PC EDC - Lohman Lange
et al.(37) seleção canadense
NR = não relatado; EDC = espessura de dobras cutâneas; BIOBP = bioimpedância bipodal; PC = pré-competitivo; P = preparatório.
Tabela 3. Comparação somatotipológica entre lutadores de diferentes estudos. (Valores apresentados em média ± desvio padrão).
Referência Atletas N Idade Massa corporal (kg) Endomorfia Mesomorfia Ectomorfia Fase de Treino
Judocas de elite
9 25,2 ± 4,7 81,2 ± 3,7 3,0 ± 0,5 6,0 ± 0,7 1,7 ± 0,7 PC
71-86kg
Judocas de elite acima 86kg 11 25,8 ± 3,6 108,3 ± 15,1 4,1 ± 0,9 6,2 ± 0,6 1,3 ± 0,4 PC
Judocas húngaros
Farmosi(41) 7 22,0 ± 3,8 66,7 ± 3,7 2,5 ± 0,5 6,6 ± 1,3 1,8 ± 1,0 NR
até 71kg
Judocas húngaros
11 21,2 ± 2,0 90,5 ± 18,4 4,3 ± 2,1 7,2 ± 1,6 1,4 ± 0,7 NR
acima de 71kg
NR = não relatado; P = preparatório; PC = pré-competitivo.
REFERÊNCIAS
1. Franchini E, Takito MY, Bertuzzi RCM. Morphological, physiological and technical variables in high-level brazilian jiu-jitsu e estudo da temporalidade e da quantificação das ações motoras na modalidade.
college judoists. Arch Budo 2005;1:1-7. Movimento e Percepção 2007;7:263-81.
2. Franchini E, Nunes AV, Moraes JM, Del Vecchio FB. Physical fitness and anthropometrical profile of 25. Carter JEL, Heath BH. Somatotyping: development and applications. Cambridge: Cambridge Uni-
the Brazilian male judo team. J Physiol Anthropol 2007;26:59-67. versity Press, 1990.
3. Kubo J, Chishaki T, Nakamura N, Muramatsu T, Yamamoto Y, Ito M, et al. Differences in fat-free 26. Yoon J. Physiological profiles of elite senior wrestlers. Sports Med 2002;32:225-33.
mass and muscle thicknesses at various sites according to performance level among judo athletes. 27. Gualdi-Russo E, Graziani I. Anthropometric somatotype of Italian Sport participants. J Sports Med
J Strength Cond Res 2006;20:654-7. Phys Fitness 1993;33:282-91.
4. Franchini E, Matsushigue KA, Vecchio FB, Artioli GG. Physiological profiles of elite judo athletes. Sports 28. Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric Standardization Reference Manual, Human Kinet-
Med 2011;41:147-66. ics, Champaign, Illinois, 1988.
5. Kordi R, Ziaee V, Rostami M, Wallace WA. Patterns of weight loss and supplement consumption of 29. Jackson AS, Pollock ML. Generalized equations for predicting body density of men. Br J Nutr
male wrestlers in Tehran. Sports Med Arthrosc Rehabil Ther Technol 2011;12;3:4. 1978;40:497-504.
6. Artioli GG, Gualano B, Franchini E, Scagliusi FB, Takesian M, Fuchs M, et al. Prevalence, magnitude, 30. Siri WE. Body composition from fluid spaces and density. In: Brozek J, Henschel A.
and methods of rapid weight loss among judo competitors. Med Sci Sports Exerc 2010;42:436-42. (Eds.).Techniques for measuring body composition. Washington: National Academy of Sci-
7. Timpman S, Ööpik V, Pääsuke M, Medijainen L, Ereline J. Acute effects of self-selected regimen of rapid ence, 1961, p.223-244.
body mass loss in combat sports athletes. J Sports Sci Med 2008;7:210-7. 31. Martin AD, Spenst LF, Drinkwater DT, Clarys JP. Anthropometric estimation of muscle mass in men.
8. Ransone J, Hughes B. Body-Weight Fluctuation in Collegiate Wrestlers: Implications of the National Med Sci Sports Exerc 1990;22:729-33.
Collegiate Athletic Association Weight-Certification Program. J Athl Train 2004;39:162-5. 32. Silva AM, Fields DA, Quitério AL, Sardinha LB. Are Skinfold-Based Models Accurate and Suitable
9. Filaire E, Maso F, Degoutte F, Jouanel P, Lac G. Food Restriction, Performance, Psychological State and for Assessing Changes in Body Composition in Highly Trained Athletes? J Strength Cond Res
Lipid Values in Judo Athletes. Int J Sports Med 2001;22:454-9. 2009;23:1688-96.
10. Rivera-Brown AM, Lebron LE, De Felix-Davila RA. Effects Of Dehydration On Anaerobic Performance 33. Schneider CD, Silveira MM, Moreira JCF, Belló-Klein A, Oliveira AR. Efeito do exercício de ultrarresistência
In Adolescent Judo Athletes. Med Sci Sports Exerc 2005;37:464, Suplemento. sobre parâmetros de estresse oxidativo. Rev Bras Med Esporte 2009;15:89-92.
11. Artioli GG, Iglesias RT, Franchini E, Gualano B, Kashiwagura DB, Solis MY, et al. Rapid weight loss 34. Reis VB, Seelaender MCL, Rossi L. Impacto da desidratação na geração de força de atletas de arco e
followed by recovery time does not affect judo-related performance. J Sports Sci 2010;28:21-32. flecha durante competição Indoor e Outdoor. Rev Bras Med Esporte 2010;16:431-5.
12. Buford TW, Smith DB, Obrien MS, Warren AJ, Rossi SJ. Seasonal changes of body mass, body composi- 35. Callister R, Callister RJ, Staron RS, Fleck SJ, Tesch P, Dudley GA. Physiological characteristics of elite
tion, and muscular performance in collegiate wrestlers. Int J Sports Physiol Perform 2008;3:176-84. judo athletes. Int J Sports Med 1991;12:196-203.
13. Rankin JW, Ocel JV, Craft LL. Effect of weight loss and refeeding diet composition on anaerobic 36. Vardar SA, Tezel S, Öztürk L, Kaya O. The relationship between body composition and anaerobic
performance in wrestlers. Med Sci Sports Exerc 1996;28:1292-9. performance of elite young wrestlers. J Sports Sci Med 2007;6:34-8.
14. Degoutte F, Jouanel P, Bègue RJ, Colombier M, Lac G, Pequignot JM, et al. Food Restriction, performance, 37. Thomas SG, Cox MH, Legal YM, Verde TJ, Smith HK. Physiological profiles of the Canadian National
Biochemical, Psychological, and Endocrine Changes In Judo Athletes. Int J Sports Med 2006;27:1-9. Judo Team. Can J Sport Sci 1989;14:142-7.
15. Maccargar LJ, Crawford SM. Metabolic and anthropometric changes with weight cycling in wrestlers. 38. Franchini E, Takito MY, Kiss MAPDM, Sterkowicz S. Physical fitness and anthropometrical differences
Med Sci Sports Exerc 1992;24:1270-5. between elite and non-elite judo players. Biol Sport 2005;22:315-28.
16. Kraemer WJ, Fry AC, Rubin MR, Triplett-Mcbride T, Gordon SE, Perry KL, et al. Physiological and perfor- 39. Blouin K, Boivin A, Tchernof A. Androgens and body fat distribution. J Steroid Biochem Mol Biol 2008;108:272-80.
mance responses to tournament wrestling. Med Sci Sports Exerc 2001;33:1367-78. 40. Claessens A, Beunen G, Wellens R, Geldof G. Somatotype and body structure of world top judoists. J
17. Kowatari K, Umeda T, Shimoyama T, Nakaji S, Yamamoto Y, Sugawara K. Exercise training and energy Sports Med Phys Fitness 1987;27:105-13.
restriction decrease neutrophil phagocytic activity in judoists. Med Sci Sports Exerc 2001;33:519-24. 41. Farmosi I. Body composition, somatotype, and some motor performance of judoists. J Sports Med
18. Yankanich J, Kenney WL, Fleck SJ, Kraemer WJ. Precompetition Weight Loss and Changes in Vascular Phys Fitness 1980;20:431-4.
Fluid Volume in NCAA Division I College Wrestlers. J Strength Cond Res 1998;12:138-45. 42. Kiningham RB, Gorenflo DW. Weight loss methods of high school wrestlers. Med Sci Sports Exerc
19. Fogelholm GM, Koskinen R, Laakso J, Rankinen T, Ruokomo I. Gradual an rapid weight loss: effects on 2001;33:810-3.
nutrition and performance in male athletes. Med Sci Sports Exerc 1993;25:371-7. 43. Green CM, Petrou MJ, Fogarty-Hover ML, Rolf CG. Injuries among judokas during competition. Scand
20. International Brazilian Jiu-Jitsu Federation (IBJJF). Disponível em: http://www.ibjjf.org. Acesso em 15 J Med Sci Sports 2007;17:205-10.
de julho de 2009. 44. Oppliger RA, Case HS, Horswill CA, Landry GL, Shelter AC. American College of Sports Medicine
21. Steen SN, Brownell KD. Patterns of weight loss andregain in wrestlers: has the tradition changed? position stand. Weight loss in wrestlers. Med Sci Sports Exerc 1996;28:ix-xii.
Med Sci Sports Exerc 1990;22:762-8. 45. Oppliger RA, Landry GL, Foster SW, Lambrecht AC. Wisconsin minimum weight program reduces
22. Brito CJ, Souza ER, Roa FCM. Prevalência de Estratégias de Rápida Redução de Massa Corporal em weight-cutting practices of high school wrestlers. Clin J Sport Med 1998;8:26-31.
Lutadores de Jiu-Jítsu. Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XVI Congresso Brasileiro de 46. Artioli GG, Franchini E, Nicastro H, Sterkowicz S, Solis MY, Lancha Junior AH. The need of a weight
Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2009. Disponível em: http:// management control program in judo: a proposal based on the successful case of wrestling. J Int
www.rbceonline.org.br. Acesso em 28 de agosto de 2009. Soc Sports Nutr 2010;7:15.
23. Barbas I, Fatouros IG, Douroudos II, Chatzinikolaou A, Michailidis Y, Draganidis D, et al. Physiological and perfor- 47. Vidal Andreato L, Franzói de Moraes SM, Lopes de Moraes Gomes T, Del Conti Esteves JV, Vidal Andreato T,
mance adaptations of elite Greco-Roman wrestlers during a one-day tournament. Eur J Appl Physiol 2010;16. Franchini E. Estimated aerobic power, muscular strength and flexibility in elite Brazilian Jiu-Jitsu athletes.
24. Del Vecchio FB, Bianchi S, Hirata SM, Chacon-Mikahili MPT. Análise morfo-funcional de praticantes de Science & Sports 2011 dez;26(6):329–37.