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Comentários – Exercícios da aula 5

Existe uma raiz moral na inteligência. Segundo Julián Marias, as pessoas mais
inteligentes são também boas: sensíveis ao melhor e, portanto, com a intenção de
acertar, fazer o bem, etc. A bondade é sem dúvida uma virtude, cultivada pela
prática das boas ações e, principalmente, pelo esforço em manter-se aberto à
realidade, num movimento passivo-contemplativo (querer ver as coisas como elas
são).
Um dos frutos da bondade é a sensibilidade: quando nos inclinamos em direção ao
bem, conscientes de necessitar de sua posse, promovemos nossa sensibilidade – que
nada mais é do que a permissão interior das causas propostas pela ação exterior. É a
sensibilidade que me ajuda a perceber a necessidade do meu amigo, por exemplo, ou
a falta de hospitais para atender à população da minha região.
Nós somos sensíveis, portanto, à medida que nos abrimos para a realidade e a
desejamos tal qual ela é. O insensível é alguém que ignora o que acontece e de
alguma maneira impede as consequências da ação da realidade em sua vida interior
(o símbolo é do fechamento).
Estamos falando de algo muito além dos sentimentos: estes podem ser importantes
sinais de relação com o mundo; entretanto, são evanescentes, e sua soma não condiz
necessariamente com a sensibilidade de alguém.
Sensível, finalmente, é quem se permite afetar verdadeiramente pela vida.
O conto “Um homem bom é difícil de encontrar” trata disto: da perda da
sensibilidade – basta notar a diferença entre as gerações (avó, filho, netos) – e a
consequente entrada do mal no espaço que lhe concedemos.

Por que falar disso num curso sobre autobiografia?


Porque muitas vezes nossa narrativa está diminuída, picotada, infiel, por nossa
própria insensibilidade ao que verdadeiramente afeta nossa história. O que deixei
passar? O que não percebi, não contei, não quis enxergar sobre mim?
Mais: se a bondade é uma das raízes da inteligência, em que medida a falta dela tem
me impedido de ver a mim mesmo e aos outros que compõem meu cenário
biográfico?
O mal é uma ausência; e talvez por isso seja este o sentimento que nos toma ao
longo da leitura do conto de O’Connor: onde está o ser humano? O que perdemos aqui,
para que as coisas chegassem a este ponto?
E você? O que perdeu de si devido à própria insensibilidade?

***

Quanto à segunda pergunta do arquivo de exercícios da aula 5, serve apenas para que você
avalie seu aprendizado até aqui: o que ficou registrado até agora? Como você encadeia os
temas e conteúdos propostos?
É nítida a relação entre sinceridade e individualidade, por exemplo, já que a primeira só
pode ser expressão da segunda, que é conquistada pelo processo de narrativa contínua,
esforçada, que revê o próprio princípio de seleção de tempos em tempos e,
consequentemente, acessa e expande a memória consciente.

***

Exercícios sobre a aula 6

1) Narre um episódio ou circunstância da sua vida em terceira pessoa.


2) Que relações você consegue estabelecer entre o texto de Foster e o
processo de narrativa autobiográfica?

Abraço e segunda-feira.
Prof. Tiago

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