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Covid-19: Hélder Martins defende que não podemos importar modelos

Págs. 6, 8,9 e 13

Ainda sobre o massacre de Xitaxi Pág. 2

Mortes estão acima das 52


2 Savana 24-04-2020
Ainda sobre o massacre de Xitaxi
Mortes estão acima das 52
- as versões das autoridades são questionáveis
Por Armando Nhantumbo
N
o início, era dado como
um “exagero do SAVA-
NA ”. Mas, duas semanas
depois, o Comando Con-
junto da Polícia e das Forças Ar-
madas veio confirmar a morte de,
pelo menos, 52 pessoas em Xitaxi,
uma aldeia de Muidumbe, último
palco das investidas dos insurgen-
tes que aterrorizam Cabo Del-
gado. Mas, ao que o SAVANA
apurou, o número de mortos deve
estar acima do anunciado pelas
autoridades, visto que há pessoas
que não mais regressaram das ma-
tas para onde fugiram da chacina
dos insurgentes.
O anúncio pelas autoridades, esta
segunda-feira, da morte de “52
jovens”, na aldeia de Xitaxi, foi a
confirmação daquela que, tal como
despoletou o SAVANA na edição
de 10 de Abril, terá sido a maior
matança colectiva de populações
desde o início dos ataques no norte
de Cabo Delgado, a 5 de Outubro
de 2017.
Conforme reportamos, na altura,
entre 50 a 70 pessoas teriam sido
mortas, algumas por decapitação
e outras metralhadas, no início da
tarde de quarta-feira, 8 de Abril,
numa zona baixa de Xitaxi, uma
aldeia de Muidumbe que fica ao
longo da estrada 380, entre Myan-
galewa e Chitunda.
Na altura, o porta-voz do Coman-
do-geral da Polícia da República
de Moçambique (PRM) desmen-
tiu os ataques de Muidumbe. “Não
confirmamos”, respondeu-nos
Orlando Mudumane, que preci-
sou que Muidumbe estava calmo
e tranquilo.
Mas não foi só Mudumane que
nos colocou em causa. “Não hou-
ve massacre no Xitaxi”, escreveu
Joseph Hanlon, na sua newsletter
“Moçambique News Reports &
Clippings”, de 16 de Abril.
“Acreditamos agora que isto foi
extremamente exagerado”, des-
mentiu Hanlon, para quem “acre-
ditamos que as mortes foram mais
próximas das 14 relatadas por
Zitamar, e não do número muito
elevado relatado por SAVANA ”.
Mas, num artigo desta terça-feira,
21, a Zitamar, que antes havia re-
portado apenas 14 mortes, tam-
bém reconhece que os pronun-
ciamentos das autoridades vêm
confirmar o que o SAVANA ha-
via avançado a 10 de Abril.
Se, por um lado, o massacre de
Xitaxi foi desmentido, por outro,
os noticiários dos principais ór-
gãos de comunicação passaram à
margem do assunto. Foi preciso
a Polícia e a as Forças Armadas
convocarem uma conferência de
imprensa, apenas com os órgãos
públicos, para o assunto chegar à
agenda da generalidade da media,
O saldo das incursões armadas no norte de Cabo Delgado é, simplesmente, assustador
uma má lembrança aos tempos do
partido único.
O SAVANA sabe que, sobre os
ataques de Cabo Delgado, não é só
a imprensa pública que está proi-
bida de reportar as incursões dos
insurgentes. Há também “ordens
para silêncio” em alguns órgãos de
comunicação do sector privado.
Esta terça-feira, não deixou de ser
curiosa a forma superficial como
a privada STV tratou do assunto,
limitando-se a reproduzir decla-
rações policiais que careciam de
contextualização.
Mas também não deixou de ser
curioso que, para a conferência de
imprensa desta semana, tenham
sido convidados apenas órgãos
de comunicação social do sector
público, contrariando a tradição
do Comando-geral da PRM que,
habitualmente, convoca todos os
órgãos para as suas conferências de
imprensa, sem discriminação em
função de linhas editoriais.
Habitualmente, a imprensa do
sector público não tem “perguntas
embaraçosas” para as autoridades,
conformando-se com a reprodu-
ção de declarações dos dirigentes.
As versões das autoridades
Não estão claras as razões que le-
varam o Comando Conjunto da
Polícia e das Forças Armadas a
aparecer a público, duas semanas
depois, para falar do massacre de
Xitaxi, em Muidumbe.
Uma fonte que acompanha, aten-
tamente, a situação do norte do
país sugere que, eventualmente,
a intenção das autoridades fosse
desviar as atenções sobre o abate
de um dos helicópteros que com-
batem os insurgentes em Cabo
Delgado.
Independentemente da motivação
das autoridades, o certo é que as
versões apresentadas são questio-
náveis, desde as causas da execução
até ao número de mortes.
De acordo com as autoridades, a
execução aconteceu porque jovens
recusaram-se a integrar os malfei-
TEMA DA SEMANA
tores.
“Os jovens que estavam para ser
recrutados ofereceram resistência,
o que provocou a ira dos malfei-
tores que, indiscriminadamente,
balearam mortalmente 52 jovens”,
disse Orlando Mudumane. Acres-
centou que as autoridades mo-
çambicanas deslocaram-se à aldeia
após denúncias da população, mas
os insurgentes haviam já abando-
nado o local.
Mas essa não é única versão a ter
em conta. Até porque, de acordo
com fontes do Jornal, os mortos
não foram só jovens, como afir-
mam a Polícia e as Forças Ar-
madas. “Não são só jovens. Foi a
comunidade, a partir de crianças,
jovens e velhos, da mesma maneira
que, na Mocímboa, havia crianças
a lhes seguir [a seguir os insurgen-
tes]”, contam.
Assim, questiona-se se os insur-
gentes pretendessem também re-
crutar as crianças e os velhos que
estiveram no encontro.
O que várias fontes contaram ao
SAVANA é que o massacre foi,
sobretudo, uma retaliação contra
uma baixa que uma das facções do
grupo sofreu, um dia antes, terça-
-feira, em Muidumbe.
Naquele dia, 7 de Abril, antigos
combatentes, que decidiram entrar
em combate para travar o avanço
dos insurgentes para o históri-
co planalto makonde, uma zona
simbólica nos pergaminhos da
luta de libertação nacional, teriam
emboscado uma das facções dos
insurgentes, tendo morto mais de
30 deles.
Teria sido essa baixa que levou
os insurgentes, sempre divididos
em vários grupos, a decapitarem
e metralhar dezenas de pessoas na
aldeia de Xitaxi como forma de re-
taliação.
Os insurgentes, que nas suas úl-
timas incursões procuravam
simpatizar com os locais, teriam
convocado a população de Xitaxi
para uma reunião onde, por volta
das 13 horas, começou a chacina.
Uns eram decapitados e, aqueles
que tentavam fugir, eram, simples-
mente, metralhados com armas de
fogo.
Mas há um ponto que parecer
comum: a não aliança ao islão. É
que, no encontro, a população teria
se declarado não islâmica, sendo
Muidumbe um território predo-
minantemente cristão. Mas não
terá sido essa a razão principal da
chacina, mas um simples pretexto
para a vingança.
Mas um outro dado questionável
tem que ver com o número de víti-
mas. Para além de não serem ape-
nas jovens, os mortos devem estar
acima dos 52.
É que, apurou esta semana o SA-
VANA, quando os insurgentes
começaram a decapitar as popula-
ções, alguns procuravam fugir.
Aí, alguns teriam fugido para as
matas, mas já com ferimentos, al-
guns graves, depois de atingidos
pelos insurgentes.
Por falta de socorro, parte da po-
pulação terá perdido a vida nas
matas de Xitaxi. O número de
52, um cálculo por defeito pelas
autoridades, é o total dos que fo-
ram mortos no local. Mas, ao que
contam fontes locais, há muitos
populares que, não estando na lista
dos mortos, também nunca regres-
saram a Xitaxi.
“Há pessoas que nunca regressa-
ram”, contam-nos. Aliás, Xitaxi
é descrita como sendo, hoje, uma
aldeia fantasma.
Ponto de situação
Desde a entrada, no teatro das
operações, este mês, dos merce-
nários da Dyck Advisory Group
Conservation Trust (DAGCT),
uma empresa com sede na África
do sul, relatam-se baixas do lado
dos insurgentes.
Assim, descreve-se uma relativa
acalmia na região. Por exemplo,
desde esta segunda-feira, já é pos-
sível fazer ligação directa entre os
distritos de Muidumbe e Maco-
mia, o que não era possível desde
o passado dia 6, devido ao grande
assalto a Muidumbe.
Espera-se também que, breve-
mente, se retome a ligação entre
Ouasse e Xitaxi, que não estão
transitáveis desde finais de 2019,
quando os insurgentes começaram
a incendiar viaturas na estrada.
Ouasse foi um dos pontos ocupa-
dos pelos insurgentes no âmbito
do assalto a Muidumbe, como for-
ma de impedir a vinda de reforço
das Forças de Defesa e Segurança
de Mocímboa da Praia ou Pemba.
Ainda que, de acordo com relatos
locais, a situação esteja, relativa-
mente, controlada, os insurgentes
continuam a controlar quase to-
das as aldeias do litoral, desde a
localidade de Nachitenje, Posto
Administrativo de Mbao, no dis-
trito de Mocímboa da Praia, até a
Quiterajo, em Macomia, onde as
populações abandonaram suas re-
sidências.
Aldeias como Kulimala, Mare-
re, Nantadola, Nankidunga entre
outras, estão nas mãos dos “al-
-shababes”, como são localmente
conhecidos os atacantes.
Há relatos de funcionários públi-
cos a abandonarem os distritos. No
Ibo, todos os funcionários da ad-
ministração terão fugido, ficando
apenas o administrador.
Cinco helicópteros da empresa
sul-africana deverão estar no ter-
reno a combater os insurgentes,
com várias investidas contras as
bases destes. Mas, entre os dias 9
a 10, um dos helicópteros teria ter-
minado em chamas.
Mas a tripulação, composta por
três membros, teria se salvado.
Aqui, há duas teorias. A primeira
é de que, depois de os insurgen-
tes terem atingido a aeronave da
Dyck, no território do distrito de
Muidumbe, os mercenários teriam
feito uma aterragem de emergên-
cia. A segunda diz que eles terão
saído de pára-quedas.
O porta-voz do Comando-geral
da PRM, Orlando Mudumane,
refuta o abate de um dos helicóp-
teros que combatem insurgentes
em Cabo Delgado.
“Não temos essas informações”,
respondeu ao SAVANA, esta
quarta-feira, numa conferência
de imprensa com direito a apenas
duas perguntas. Na mesma ocasião,
Mudumane desmentiu também
que o jornalista da Rádio Comu-
nitária de Palma, Ibraimo Mba-
ruco, teria sido assassinado pelas
Forças de Defesa e Segurança.
Mas ao que o SAVANA apurou,
Mbaruco está nas mãos de milita-
res, num acampamento algures em
Muidumbe. Mbaruco terá entrado
em greve de fome desde a passada
sexta-feira, uma forma encontrada
para protestar contra a sua deten-
ção ilegal.
 TEMA
PUBLICIDADE
DA SEMANA
Savana 24-04-2020 3

Grupo C. Mondego adquire a maioria do capital

do Grupo NEF, accionista da CETA e Ribemoz
O grupo empresarial moçambicano C. Mondego, SA, acaba de adquirir 67% das acções do
grupo nacional NEF-Investimentos e Gestão de Participações Sociais, SA, do qual fazem
parte a construtora de obras públicas CETA e a produtora de betão e inertes RIBEMOZ.
A gestão de topo dos dois grupos passa a ser liderada por Manuel Pereira e Nelson Muianga.

Sobre esta junção de forças empresariais, Manuel
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4 Savana 24-04-2020
Eric Morier-Genoud vê programa político nos ataques de Cabo Delgado
Nem Islam nem muçulmanos
Por Armando Nhantumbo e Argunaldo Nhampossa
N
uma altura em que os in-
surgentes sobem de tom
no norte de Cabo Delgado,
num conflito várias vezes
associado ao islão, o historiador
Eric Morier-Genoud separa as
águas. Para o académico, que estu-
da a história de Moçambique há 25
anos, hoje não mais estamos a falar
do Islam, nem dos muçulmanos,
mas de um pequeno grupo “radica-
lizado” com um programa político
baseado num “desvio do Islam”.
Doutorado em sociologia histórica,
Eric Morier-Genoud é professor
de História na Universidade de
Queen’s Belfast, no Reino Unido.
Para além do seu último livro sobre
a Igreja Católica em Moçambique,
tem publicações sobre o protestan-
tismo e sobre o islão em Moçam-
bique.
O académico aceitou comentar, no
SAVANA, sobre o escalar da vio-
lência no norte de Cabo Delgado.
Para ele, mais do que uma viragem,
a evolução dos ataques é o culminar
de uma situação em Cabo Delga-
do. Anota que a insurreição cresceu
e chegou agora ao ponto de ter a
confiança e meios para atacar sedes
de distritos.
Do lado do Governo, prossegue,
parece haver reconhecimento de
que, se se conseguiu conter a in-
surgência, vai agora ser necessária
ajuda para acabar com ela.
“Com a ligação ao Estado Islâmi-
co e os mercenários sul-africanos
a ajudar o Governo, penso que há
riscos de entrarmos numa fase de
agravamento e internacionalização
do conflito”, refere Eric Morier-
-Genoud.
Sobre o tipo de conflito que se vive
em Cabo Delgado, se terrorismo
islâmico ou de outra natureza, Mo-
rier-Genoud defende que a origem
daquela insurreição tem a ver com
uma seita islamista que surgiu em
Cabo Delgado, antes de 2010.
“«Seita» significa um grupo religio-
so que se retira da sociedade para
construir uma contra-sociedade
religiosa, neste caso «islamista» –
islamista significa que queria ser
regida somente pela lei islâmica, a
Sharia. A partir de 2014 ou 2015,
os líderes da seita mudaram o pro-
grama deles a favor de «jihadismo
armado», isto é, já não queriam
mais ser uma contra-sociedade,
mas queriam mudar o Estado se-
cular para que toda sociedade seja
regida pela sharia”, explica.
Para o estudioso, que já em 2002,
num artigo científico intitulado “O
islão em Moçambique após a inde-
pendência: história de um poder em
ascensão”, apontava para o aumen-
to de reivindicações da comunidade
islâmica, longamente marginaliza-
da pela Frelimo marxista-leninista,
hoje já não estamos a falar do Islam
nem dos muçulmanos, mas de um
pequeno grupo “radicalizado” com
um programa político baseado num
Hoje já estamos a falar de um pequeno grupo “radicalizado” com um programa
político baseado num “desvio do Islam”-Eric Morier-Genoud
“desvio do Islam”.
Sobre se haverá falta de estratégia
ou incapacidade por parte das For-
ças de Defesa e Segurança de Mo-
çambique para conter a situação,
Morier-Genoud entende que o
Estado conseguiu conter a insurrei-
ção, geograficamente, num espaço
que quase não mudou desde 2017,
mas não conseguiu acabar com os
insurgentes.
“De um lado existe a questão mili-
tar, onde parece haver dificuldades
para acabar com os insurgentes,
embora também com mudanças
recentes por parte do Governo. Do
outro lado, há a parte social, cultu-
ral, económica, política e religiosa,
onde ainda falta muito por fazer”,
sublinha.
Eric Morier-Genoud faz questão
de citar um colega de academia, o
Prof. Yussuf Adam, outro histo-
riador com credenciais dadas, para
quem o Estado precisa desenvolver
muito mais esta parte não-militar a
fim de prevenir que os insurgentes
possam ganhar simpatias e vir a ser
como “peixe na água”.
E a ajuda militar internacional será
inevitável para conter a insurgência
em Cabo Delgado? Perguntamos
nós.
“Penso que ajuda internacional
pode ser muito útil, mas a questão
é qual ajuda e feita como. Merce-
nários podem ser úteis, se forem
profissionais, articulados ao exér-
cito, e a trazer uma ajuda pontual
ou especializada, tipo vigilância
aérea. Mas melhor seria uma ajuda
a longo prazo, de países vizinhos,
da SADC ou da UA, a fim de não
somente ajudar a situação militar,
mas também treinar mais soldados,
e reforçar, em última análise, o Es-
tado”, respondeu ele.
O historiador não tem dúvidas de
que, tal como advogam certas cor-
rentes, uma cooperação com a Tan-
zânia é fundamental para conter os
ataques em Cabo Delgado.
“Há elementos tanzanianos entre
os insurgentes e a insurreição opera
ao longo da fronteira. Já houve um
ou outro ataque do lado tanzaniano
da fronteira. É, portanto, do inte-
resse de Moçambique, tanto como
da Tanzânia, de colaborar para re-
solver esta questão”, observa.
Sobre as possíveis saídas em rela-
ção à situação de Cabo Delgado, o
estudioso diz que temos de aceitar
TEMA DA SEMANA
que não há soluções fáceis e rápidas
para este conflito.
“O Estado tem que desenhar uma
estratégia integrada a médio e a
longo prazo. Devia fazê-lo com a
ajuda da sociedade civil, dos países
da região e da comunidade inter-
nacional, já que estes se oferecem
para ajudar”, recomenda.
Recursos alocados aos
mercenários deviam re-
forçar as FDS – Salvador
Forquilha
Por sua vez, o director e pesquisa-
dor do Instituto de Estudos Eco-
nómicos e Sociais (IESE), Salvador
Forquilha, um observador atento
aos ataques a Cabo Delgado, de-
fende que a falta de uma resposta
adequada à crítica situação que se
vive naquele ponto do país, denun-
cia fragilidades das instituições pú-
blicas como um todo e que as For-
ças de Defesa e Segurança (FDS)
não podem ser vistas como uma
ilha. O académico é da opinião de
que o país precisa de resolver o pro-
blema sob ponto de vista regional e
não sozinho, sendo que os recursos
gastos com os grupos mercenários
estrangeiros deveriam ser alocados
para o reforço das tropas nacionais,
dado os relatos de uma logística
problemática.
Para Forquilha, co-autor do estu-
do “radicalização islâmica no norte
de Moçambique”, é com bastante
preocupação que olha o evoluir dos
ataques em Cabo Delgado, subli-
nhando que o assunto deveria ter
sido tomado a sério aquando do
primeiro ataque em 2017.
Havia, segundo o pesquisador, si-
nais de que o assunto era comple-
xo e não se tratava, meramente, de
algo de banditismo ou malfeitores,
tal como as autoridades vêm rotu-
lando o assunto. Mas também foi
consolidado durante muito tempo
que o grupo não tem rosto e muito
Salvador Forquilha recomenda o reforço
das capacidades das FDS e do SISE
menos discurso, o que proporcio-
nou uma certa comodidade e não
ajudou na resolução do problema.
Recordou que o discurso ou pre-
tensões de um determinado grupo
nunca são acabados, o que quer di-
zer que se articulam e se desenvol-
vem ao longo do tempo, tal como
sucedeu com a Renamo.
“Numa situação complexa e de ins-
tituições frágeis, a incapacidade das
FDS é revelada pela falta de apoios,
investimentos necessários e dificul-
dades em haver disciplina militar”,
disse.
O Governo tem apostado na con-
tratação de empresas estrangeiras
de segurança privada para respon-
der às incursões dos insurgentes.
Primeiro estiveram os russos da
Wagner, que abandonaram o tea-
tro das operações. Agora está uma
equipa de mercenários sul-afri-
canos da Dyck Advisory Group
Conservation Trust (DAGCT) .
Uma vez mais, o director do IESE
voltou a manifestar preocupação
com a situação, referindo que, ape-
sar de não ser especialista em assun-
tos militares, entende que diante
dos relatos de problemas logísticos
vindos dos próprios militares, seria
racional alocar os recursos gastos
com os mercenários no reforço das
tropas nacionais.
Ademais, os estrangeiros não co-
nhecem o terreno e muito menos a
base social de apoio já desenvolvi-
da, aspectos que podem deitar por
terra todos os esforços, mesmo que
tenham equipamentos mais sofisti-
cados possíveis.
Forquilha recomenda, por um lado,
o reforço das capacidades das FDS,
dos Serviços de Informação e Se-
gurança do Estado (SISE) que, por
estas alturas, estariam a fornecer
informações cruciais.
Por outro, disse ser grave que a in-
vestigação esteja a ficar atrás diante
desta situação e questionou o papel
das universidades públicas por não
estarem a demonstrar projectos de
investigação nesta área, sublinhan-
do que a pouca pesquisa que se ve-
rifica vem de fora.
“Esta crise coloca a nu as institui-
ções públicas. Por onde andam as
universidades que recebem fundos
públicos? Onde está a agenda de
pesquisa das universidades?”, ques-
tionou, para de seguida acrescentar
que as universidades são chamadas
a dar o seu contributo nas respostas
desta questão.
Falta de estratégia
Porém, um estudo conduzido por
pesquisadores do Centro de Estu-
dos Estratégicos e Internacionais
da Universidade Joaquim Chissa-
no aponta a falta de uma estratégia
adequada por parte das entidades
moçambicanas para dar cobro aos
ataques dos insurgentes.
A Universidade Joaquim Chissano
resulta da fusão do Instituto Su-
perior de Administração Pública
(ISAP) e do Instituto Superior de
Relações Internacionais (ISRI),
esta última conhecida pelas suas li-
gações com a secreta moçambicana.
O estudo, que foi divulgado numa
publicação institucional denomi-
nada Security Brief, refere que o
Governo está a conduzir uma es-
tratégia para neutralizar os grupos
terroristas que não coaduna com as
necessidades no terreno de isolar os
grupos da sua principal fonte de so-
brevivência, que é o povo.
A circulação dos insurgentes em
grupos um pouco numerosos nas
vilas, sem serem identificados ou
molestados, pode, na visão dos
pesquisadores, ser revelador de in-
capacidade das FDS ou mesmo
infiltração dos atacantes no seio
da corporação nacional. Anota
que o mais assustador nisto são os
relatos que indicam que o equipa-
mento militar usado pelas FDS é
inadequado e desactualizado, o que
revela que será difícil confrontar o
grupo.
Assinala o documento que era de
esperar uma maior capacidade por
parte da FDS para contrapor-se aos
insurgentes, o que deveria ser agra-
vado pela experiência acumulada
dos 16 anos de guerra com a Rena-
mo. Mas a realidade tem provado o
contrário, sendo que o mais grave
é que Moçambique ainda não for-
mulou uma estratégia de combate
ao terrorismo nem desenvolveu um
instrumento doutrinário nesse sen-
tido.
“A actual postura estratégica peca
pelo uso inconsistente de unidades
de artilharia e infantaria do exército
regular contra um inimigo que usa
estratégias e tácticas de um grupo
irregular. A maioria dos países que
enfrentam o terrorismo prefere
usar unidades de forças especiais ou
unidades tácticas de elite, para agir
ostensivamente ou preventivamen-
te em ataques terroristas, tal como
unidades de fuzileiros, comandos,
unidades pára-quedistas, unidades
de reconhecimento, atiradores de
elite, unidade anti-bomba, entre
outras”, assinala do documento.
Como potencial impacto político
do fracasso das estratégias de com-
bate ao terrorismo, o estudo aponta
para o risco da perca do apoio das
massas, aceleração da possibilidade
de Moçambique se tornar um Es-
tado falhado bem como a imposi-
ção de restrições nas liberdades ci-
vis, o que pode resultar no aumento
de antipatia pelo Governo.
Tal pode ser equiparado ao que está
a acontecer na cidade de Pemba,
capital provincial de Cabo Delga-
do, onde as FDS estão a impor a
lei de chicota, com espancamen-
to brutal de civis em plena luz do
dia, com o pretexto de procura de
insurgentes que terão se bandeado
para aquele ponto do país.
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Savana 24-04-2020 5

6 Savana 24-04-2020
Hélder Martins e os cenários em tempos da Covid-19
´8PFRQÀQDPHQWRWRWDOpLPSRVVtYHOµ
Por Armando Nhantumbo
D
efine-se como o mais
qualificado especialista e
professor de saúde públi-
ca em Moçambique. Em
tempos difíceis da Covid-19, o
SAVANA pediu-lhe uma entre-
vista. Nosso roteiro se propunha
a uma discussão alargada sobre o
Estado da Nação, numa altura em
que a Covid-19 vem colocar em
xeque o Sistema Nacional de Saú-
de (SNS), mas também colocar a
nu as fragilidades do país e do seu
modelo de desenvolvimento. Mas
Hélder Martins, primeiro minis-
tro da Saúde no Moçambique in-
dependente, disse que não queria
entrar no que chamou de agitação
política. “O que o povo moçam-
bicano precisa é que um Jornal de
referência como o SAVANA lhe
traga a verdade científica”, reba-
teu, assinalando que o seu papel,
neste momento, é acalmar e dar
conforto às pessoas. Por isso, Hé-
lder Martins colocou de lado o
nosso roteiro de entrevista e, no
seu lugar, uma lista de 11 tópicos
do que considera como os temas
sobre os quais o público deve ser
esclarecido. Na sua dissertação,
o também veterano da luta de li-
bertação nacional alertou aos po-
líticos a aprenderem com especia-
listas de saúde pública ao invés de
correrem para copiar decisões de
outros países, que são inadequa-
das para o seu próprio país. Um
exemplo é o bloqueio total do país,
sugerido por algumas correntes. A
seis dias do fim do estado de emer-
gência, altura em que o presidente
da República, Filipe Nyusi, deve-
rá anunciar se mantém ou não o
nível 3 ou decreta o nível 4, conhe-
cido como “lockdown”, Hélder
Martins deixa um recado, um não
redondo. “Acho simplesmente que
um confinamento total, no nosso
país, é impossível”, refere.
Seguem os excertos editados da
entrevista:
Como evitar que o país atinja um
pior cenário?
A melhor maneira de que o país
não chegue a um pior cenário é o
cumprimento integral por todos os
moçambicanos de todas as regras
de prevenção que têm vindo a ser
divulgadas, nomeadamente: re-
forço das medidas de higiene, em
particular, a lavagem frequente das
mãos e das unhas com água e sabão
ou a sua desinfecção com produtos
à base de álcool, intensificação da
higiene corporal e do cabelo, refor-
ço das medidas de saneamento do
meio, incluindo desinfecção, com
produtos à base de cloro, das habi-
tações, dos locais públicos, dos veí-
culos, sobretudo os de transporte
de passageiros, até desinfecção das
ruas, redução da mobilidade das
pessoas ao mínimo indispensável,
entre províncias, entre distritos
e mesmo no interior das cidades,
Há muitas actividades económicas e sociais que não podem parar, começando pelos chamados serviços essenciais
vilas, bairros e aldeias, medidas de
distanciamento social, tentando
que as pessoas fiquem em casa o
mais possível, só saindo para o es-
tritamente necessário, mantendo
sempre que possível uma distân-
cia de 1,5 metros entre as pessoas
e limitando o número de pessoas,
participando em reuniões, eventos
e mesmo em funerais, suprimindo
aglomerados de pessoas não essen-
ciais, uso apropriado de viseiras e
máscaras para evitar a transmissão
do vírus duma pessoa para a outra,
etc..
Por que o Doutor insiste na im-
portância da observância das me-
didas de prevenção?
Exactamente porque só pela ob-
servância dessas medidas de pre-
venção é que vamos conseguir
evitar a transmissão da doença. Há
uma frase que resume muito bem
isso: «O vírus não circula, são as pes-
soas que o fazem circular». Esta fra-
se é extremamente verdadeira. Se
as pessoas reduzirem ao máximo
a sua mobilidade, se se evitarem
aglomerados, se as pessoas se abs-
tiverem de coisas como abraços,
beijos, apertos de mão (custa mas
não é tão difícil), se se mantiverem
a uma distância conveniente uns
dos outros e se usarem dispositivos
que evitem a transmissão do vírus,
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como viseiras e máscaras, se res-
peitarem rigorosas medidas de hi-
giene corporal (em particular das
mãos e unhas) e das habitações e
espaços públicos, dos equipamen-
tos onde toda a gente toca com
as mãos, como corrimãos, botões
de elevadores, balcões de atendi-
mento, manipular das fechaduras
das portas, etc., o vírus terá muita
dificuldade de circular. Isso é a res-
ponsabilidade de todos, não de ne-
nhum Governo. O Governo deve
orientar as populações e, em al-
guns casos, proibir certas práticas
habituais em condições normais,
mas a quem compete implementar
as medidas é aos cidadãos. Devem
perceber que isto é no interesse da
sua própria Saúde e no da Saúde
dos outros. Esta é uma das alturas
em que a solidariedade e o civismo
são muito necessários.
A vigilância epidemiológica
é a sentinela da luta contra a
pandemia
Exactamente, o que é isso da vi-
gilância epidemiológica e qual a
sua utilidade?
A vigilância epidemiológica é o
instrumento mais importante e
dos mais decisivos e ainda o que
tem de ser equacionado em pri-
meiro lugar, no combate a uma epi-
demia, seja ela qual for, mas muito
em particular quando estamos a
fazer face a um vírus tão conta-
gioso e tão desconhecido como
este. Enquanto as medidas de pre-
venção são fundamentalmente da
responsabilidade dos cidadãos, que
no seu próprio interesse, devem
respeitar essas medidas e o sucesso
ou não da contenção da epidemia
vai depender da maneira mais ou
menos estrita como as pessoas res-
peitarem essas medidas, a vigilân-
cia epidemiológica é da responsa-
bilidade das autoridades sanitárias
e as pessoas só devem respeitar os
requisitos impostos por essas au-
toridades, no quadro da vigilância
epidemiológica. A vigilância epi-
demiológica é a sentinela da luta
contra a pandemia.
Mas o que significa ser sentinela
contra a pandemia?
Vou explicar melhor: como todos
sabemos, este vírus teve origem na
China e depois espalhou-se por
todo o mundo. Portanto, muito
antes que o vírus chegasse a Mo-
çambique foi preciso montar o
sistema de vigilância epidemio-
lógica. E por onde começar? Nas
fronteiras. O vírus só podia chegar
através de pessoas que chegassem
de avião, de navio, de comboio,
de automóvel, de moto ou de bi-
cicleta ou a pé (de bicicleta ou a
pé não vai longe !) Mas teria de vir
do exterior. Então, todos tiveram
oportunidade de verificar que o
sistema foi montado nas frontei-
ras, sobretudo nos aeroportos, pois
era lá que chegavam as pessoas
que vinham de longe. Aquilo que
se tornou muito visível, que toda
a gente viu nas TVs, foram as me-
didas de temperatura a todos os
viajantes. Mas o sistema de vigi-
lância epidemiológica nessas fron-
teiras era muito mais complicado.
Essas outras coisas, as pessoas não
vêem. Mas todos os passageiros
eram submetidos a um pequeno
interrogatório que permitia aos
profissionais da Saúde avaliar o
grau de risco. Aqueles passageiros
vindos de lugares já infectados ou
suspeitos por qualquer outra razão
tinham de preencher um ques-
tionário, deixar os seus contactos
telefónicos e endereços onde os
encontrar se necessário, onde iria
ficar e em que condições, como
ser contactado, etc. e alguns deles,
segundo critérios pré-definidos, fi-
caram em quarentena. Há pessoas
que julgam que a quarentena deve
ser num hospital-prisão (quaren-
tena institucional). Isso é um erro.
Numa situação destas a quaren-
tena domiciliar com acompanha-
mento regular é o que a ciência
recomenda. É o que foi feito. O
público pode não se aperceber, mas
o sistema funcionou e continua a
funcionar muito bem. E o siste-
ma de forma também muito dis-
creta funcionou nos portos. Hoje,
praticamente, não há transporte
marítimo de passageiros, mas há
cruzeiros e há tripulações de bar-
cos de carga que interagem com
o pessoal do cais e desembarcam,
procuram bares, discotecas e ou-
tros lugares de ajuntamento de
pessoas, podendo assim ser focos
de transmissão da doença.
Houve que tomar medidas de vigi-
lância epidemiológica e elas foram
tomadas atempadamente. E foram
eficazes. Nenhum caso importado
resultou dessa via. Isso é a prova
cabal que as medidas tomadas fo-
ram eficazes.
Quando a epidemia chegou aos
países vizinhos, a questão das fron-
teiras terrestres tornou-se também
importante e todos nós vimos nas
TVs e nos jornais e rádios que es-
távamos preparados e as todas as
medidas de vigilância epidemioló-
gica foram tomadas.
O sistema de vigilância epide-
miológica só se limita às frontei-
ras?
Não, porque uma vez entradas no
país, as pessoas circulam. Então o
sistema tem de comportar outras
componentes, até porque, a uma
certa altura, cessaram a maioria
dos voos internacionais e as fron-
teiras terrestres foram fechadas.
Continua na Pág. 8
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8 Savana 24-04-2020
Continuação da Pág. 6
A vigilância epidemiológica das
fronteiras perdeu importância.
Mas o sistema montado continuou
a funcionar noutras componentes.
Muitas pessoas ficaram de qua-
rentena. Felizmente, embora tudo
estivesse montado para isso, até
agora não foi preciso recorrer a
quarentena institucional. A qua-
rentena domiciliar tem-se mostra-
do eficaz e muita gente já cumpriu
a quarentena e já saiu da quaren-
tena sem se ter aí encontrado ne-
nhum caso. Mais uma vez temos
uma prova que o sistema montado
foi muito bem montado e funcio-
nou bem.
Depois tivemos o primeiro caso e
aí surgiu o risco de início de trans-
missão local. Não só a partir de
esse primeiro caso. Houve depois
outros casos importados que fo-
ram todos detectados e aí é preciso
identificar todos os contactos e os
contactos dos contactos, pois o ví-
rus podia ter sido transmitido e em
alguns poucos casos foi. O nosso
sistema de vigilância epidemioló-
gica funcionou e funcionou bem.
Eu não sou especialista militar,
mas qualquer pessoa sabe que
numa guerra há necessidade de
ter sentinelas bem alerta que não
adormeçam ou se distraiam em
serviço, mas também sabe que o re-
conhecimento é fundamental. Um
sistema de vigilância epidemioló-
gica também tem de ter esta com-
ponente de reconhecimento. Este
controlo apertado dos suspeitos,
dos contactos, dos contactos dos
contactos é o equivalente numa
guerra ao reconhecimento. Numa
guerra se as sentinelas falharem e
o reconhecimento falhar a guerra
está perdida. Nós estamos numa
guerra contra o vírus. Os moçam-
bicanos podem dormir tranquilos
o nosso sistema de vigilância epi-
demiológica está a funcionar bem:
as sentinelas estão bem acordadas
e o reconhecimento está a funcio-
nar optimamente.
E não pensem que o sistema são
só uns cérebros no edifício do INS
e uns tantos trabalhadores de Saú-
de nas fronteiras. Nada disso. Os
cérebros no INS são muito impor-
tantes e felizmente temos esses cé-
rebros e são todos moçambicanos.
O sistema montado é muito mais
vasto: ele passa por antenas das
Direcções Provinciais e nas Dis-
tritais de Saúde.
É preciso que os moçambicanos
saibam homenagear todos esses
trabalhadores de Saúde, dirigidos
pelo INS e empenhados na vigi-
lância epidemiológica. Quero aqui
também destacar o importante pa-
pel desempenhado pelos régulos.
Os régulos sabem perfeitamente
quem entra e quem sai de cada al-
deia, sabem o que de anormal se
passa. Eles também são úteis para
passar mensagens de Educação
para a Saúde. Eles também estão a
cumprir bem o seu papel.
Mas para maior clareza eu vou dar
só mais um exemplo, duma ques-
tão que é do domínio público, mas
as pessoas que não são especialis-
tas da matéria não se apercebem.
Como todos se recordam, já de-
pois da África do Sul ter restrin-
gido o movimento de pessoas nas
suas fronteiras, houve uma entrada
massiva, na fronteira de Ressano
Garcia, de moçambicanos resi-
dentes naquele país que quiseram
regressar. Tudo foi inesperado. Es-
ses moçambicanos amotinaram-
-se no lado sul-africano. A polícia
sul-africana inicialmente tentou
reprimi-los, mas a uma certa al-
tura, algum chefe percebeu que
seria melhor deixá-los passar e
abriram as portas. Eles vieram aí
todos de roldão. Do nosso lado,
tudo estava numa calma de dia
com pouquíssimo movimento.
Não havia qualquer força policial,
pois ninguém previa uma situação
daquelas. A fronteira foi invadi-
da. Nenhum deles perdeu tempo
a carimbar passaportes. Cada um
procurou encontrar transporte
para se dirigirem aos seus locais
O uso de máscaras nos transportes públicos e aglomerados é uma das recomendações do governo para travar a progressão
de origem. Ninguém podia saber
quantos eram, pois não carimban-
do passaportes não há estatísticas.
Alguns jornalistas avançaram nú-
meros fantasistas, pois ninguém
os contou e os jornalistas também
não estavam lá. Que eu tenha co-
nhecimento, houve uma versão de
21.000, outra de 23.000 e outra de
26.000. Esta situação foi motivo
de preocupação para a população
em geral, mas também para as au-
toridades sanitárias. Toda a gente
pensava que eles são todos origi-
nários de Gaza, Inhambane e Ma-
puto. Num máximo de menos de
72 horas, o INS, com o apoio de
todo o sistema de vigilância epi-
demiológica montado, determinou
exactamente quantos eram (menos
de 7.000), onde estavam (em todas
as províncias do país menos Nias-
sa) e todos ficaram em quarentena,
muito mais bem vigiados do que
se pode imaginar. A quarentena
já terminou há muito tempo e
não houve nenhum caso. Só um
foi suspeito e foi testado, mas foi
negativo. Foi um caso revelado
numa conferência de imprensa
diária. Houve um boato de que em
Mocuba havia alguém a contagiar
a população com o coronavírus. O
sistema de vigilância epidemio-
lógica está em todo o território
nacional e logo acudiu. O indiví-
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duo foi identificado, protegido da
eventual fúria da população, foi
testado e era negativo.
Outra questão importante é que
o sistema de vigilância epidemio-
lógica é também um farol que in-
dica quem deve ser testado. Mais
uma comparação com a estratégia
militar: quando se quer fazer um
ataque ao inimigo para além do
reconhecimento é preciso acer-
tar bem a pontaria dos canhões e
identificar bem os alvos a atacar
tanto com a artilharia como com
a aviação. Nesta luta contra a Co-
vid19 é a mesma coisa. A vigilân-
cia epidemiológica é que nos vai
permitir definir critérios de tes-
tagem e mais do que isso, decidir
no terreno quem testar. A ideia de
testagem generalizada, que é mui-
to popular entre quem não percebe
do assunto, não é viável. É inútil,
caríssima, desnecessária e tem
problemas logísticos insuperáveis.
A vigilância epidemiológica con-
segue ciblar perfeitamente quem
deve ser testado. E tem estado
a funcionar muito bem. Mesmo
assim a esmagadora maioria dos
testados são negativos, o que sig-
nifica que, estamos a testar com
uma baixíssima taxa de erro de
não testarmos os que deviam ser
testados. Além disso a testagem
generalizada pode ter também
efeitos colaterais pois pode dar
uma sensação falsa de segurança:
quem testa negativo hoje pode ser
positivo 24 horas depois.
Por todas estas razões, os moçam-
bicanos podem dormir tranquilos
o sistema de vigilância epidemio-
lógica montado pelo INS está a
funcionar bem.
É demasiado cedo para
fazer avaliações globais
Atrasar o progresso da pandemia
é a melhor estratégia? Porquê?
Sem qualquer dúvida, em qual-
quer país, mas sobretudo em paí-
ses como o nosso, em que o SNS
é bastante frágil. Vejamos: a Co-
vid-19 mata menos gente e requer
menos hospitalizações do que a
malária, por exemplo, mas a ma-
lária vai surgindo gradualmente ao
longo do ano, as admissões hospi-
talares vão-se fazendo, também as
altas e os óbitos vão ocorrendo e
as camas hospitalares vão ficando
disponíveis para novos doentes.
Os casos de malária também ocu-
pam muito do tempo dos clínicos
que fazem consulta externa. Em
suma: a malária ainda é a prin-
cipal causa de atendimento em
consultas externas e em admissões
hospitalares, mas dentro de limites
comportáveis para o nosso SNS, a
que já estamos habituados. Com a
chegada da Covid-19 a malária e
as outras doenças não vão desapa-
recer. A Covid-19 será uma sobre-
carga adicional. Ora o coronavírus
é um vírus altamente infeccioso
que, se não for travado, se propa-
ga muito rapidamente, pelo que,
se não nos acautelarmos, vão sur-
gir muitos casos em muito pouco
tempo. É certo que a população
depois vai ficar imunizada, mas a
verdade é que serão casos demasia-
do coronavírus
dos ao mesmo tempo. Felizmente
que a esmagadora maioria dos ca-
sos não precisa internamento hos-
pitalar, mas os que precisarem po-
dem vir a ser demais, para a nossa
capacidade. Então tomar medidas
de prevenção vai atrasar a evolução
da doença, vai contê-la dentro de
limites que são suportáveis para
o nosso frágil SNS e vai-nos dar
mais tempo de preparação para o
que estiver para vir. Permite-nos ir
controlando a evolução da doença
no nosso país, irmos fazendo pre-
visões a curto prazo muito mais
realistas e não nos basearmos em
cenários catastrofistas produzidos
no exterior, que não têm nada a ver
com a nossa realidade. Entretan-
to, também pode suceder que se
descubra uma vacina ou melhores
protocolos de tratamento, o que
viria aliviar a situação. Por outro
lado, este empurrar da pandemia
vai fazer com que ela dure mais
tempo, o que é um inconveniente,
mas este pequeno inconveniente
é largamente compensado pelas
vantagens.
As restrições impostas na se-
quência do estado de emergência
são eficazes?
Se querem uma avaliação global,
é ainda muito cedo. Nesta fase em
que tivemos o 1º caso ainda só há
cerca de um mês é demasiado cedo
para fazer avaliações globais. Só
poderia dar asneira. Mas temos al-
gumas razões para optimismo.
Primeiro: o que podemos aprender
dos outros: medidas idênticas es-
tão a ser utilizadas em outros paí-
ses com resultados positivos, pelo
que podemos pensar que em Mo-
çambique também devem dar. Se-
gundo: temos um facto concreto e
que não pode ser contestado: Um
mês depois do primeiro caso só te-
mos 41 (até ao fecho da edição, esta
quarta-feira) casos confirmados.
Outros países ao fim de um mês
tinham muito mais de 100 casos.
Isto ninguém pode negar. Tercei-
ro: Nem todas as medidas de pre-
venção estão a ser bem cumpridas;
umas sim, mas outras não. Não
me parece que de momento haja
necessidade de estabelecer mais
medidas restritivas, mas obvia-
mente há ainda muito espaço para
melhorias significativas na forma
de implementação das medidas de
prevenção até aqui estabelecidas:
só alguns exemplos: Está a haver
muito má utilização das máscara
e muito pouca utilização das vi-
seiras, que na minha opinião têm
grandes vantagens. Para constatar
o mau uso das máscaras basta ver
a TV. Ainda há muita mobilidade
desnecessária inter e intra provin-
cial, inter e intra distrital, dentro
das cidades. Não sou partidário de
medidas policiais, mas tem de se
apelar à consciência dos cidadãos
para serem mais disciplinados e
mais cumpridores. No que se re-
fere ao transporte público ainda
se notam alguma falta de cum-
primento das normas. A nossa
estratégia de comunicação e in-
formação está bem definida, mas
podemos melhorar muito a sua
implementação. Enfim, há muitas
outras áreas onde se pode fazer
muito melhor!
No contexto moçambicano, ha-
verá soluções mais locais?
Elas devem surgir como inicia-
tivas locais inovadoras para me-
lhor implementação das normas
estabelecidas. Deve-se incentivar
todas essas iniciativas. Por exem-
plo: a iniciativa do Município de
Chimoio de fazer pulverizações é
extremamente louvável. Devia ser
imitada por outros municípios e
administrações de Distrito e de
Posto Administrativo e de bairros
urbanos. No WhatsApp já surgi-
ram imagens muito interessantes
de dispositivos, quer metálicos
quer de madeira, para lavagem das
mãos com água e sabão, todos ac-
cionados por pedais. Também vi
na TV iniciativas de pessoas e ins-
tituições que reuniram máquinas
de costura e mobilizaram pessoas
que as sabem usar para produ-
zir máscaras de pano. Tudo isto é
extremamente positivo e deve ser
incentivado. Aproveito aqui esta
oportunidade para lançar um ape-
lo à nossa Academia e às Ordens
e Associações Profissionais para
que, cada um no seu ramo, tenham
iniciativas de desenvolvimento de
dispositivos que se revelem úteis e
baratos para o combate a esta pan-
demia. Um apelo também à Aca-
demia para desenvolverem novos
projectos de investigação sobre a
pandemia e não só nos aspectos
médicos, mas no que concerne à s
suas implicações económicas e
sociais.

Savana 24-04-2020
A nossa população é extre-
mamente jovem
Até que ponto é que variáveis
como a estrutura etária da po-
pulação moçambicana; a densi-
dade populacional/sua dispersão
pelo território; a mobilidade das
pessoas, no campo e na cidade; a
imunidade pré-existente entre as
populações; factores ambientais,
entre outros, podem jogar a favor
de Moçambique?
Todos esses factores são extrema-
mente importantes. Comecemos
pela estrutura etária da população.
A nossa população é extremamen-
te jovem. A nossa idade mediana
(VSHURTXHQXQFDDWLQMDPRVRVSUHVVXSRVWRVGRQtYHO
C
omo evitar efeitos colate-
rais das medidas de pre-
venção?
Os médicos, na sua prá-
tica clínica, estão muito habitua-
dos a avaliar efeitos colaterais,
no passado chamados efeitos
secundários. Praticamente, não
há medicamento nenhum que
não tenha a possibilidade de dar
efeitos colaterais: uns só dão esses
efeitos muito raramente, outros
mais frequentemente; uns podem
dar origem a efeitos colaterais
muito ligeiros e bem tolerados,
outros efeitos colaterais mais gra-
ves. Este exercício que os clínicos
estão habituados a fazer é uma
análise dos riscos e dos benefí-
cios. Cada caso deve ser sopesado
antes de tomar qualquer decisão
terapêutica. Muitas vezes o doen-
te só vê o médico escrever uma
receita, mas todos os médicos
responsáveis, antes de escrever a
receita, devem fazer esta análise.
Em Medicina clínica, se houver
um mau cálculo de risco, as con-
sequências são para um só doente.
Em Saúde Pública esta situação
também existe, mas é bem mais
complicada, porque se houver um
erro de cálculo, as consequências
são para muita gente. De modo
que os Especialistas de Saúde Pú-
blica têm de ser bem mais cuida-
dosos com as suas recomendações
e decisões. Antes de propor ou de
tomar qualquer medida é preciso
fazer uma análise muito cuidado-
sa de todas as consequências e de
todos os possíveis efeitos colate-
rais, que podem vir a ser «danos»
colaterais. Os Especialistas de
Saúde Pública estão muito habi-
tuados a este tipo de exercício. Os
políticos deviam aprender com os
Especialistas de Saúde Pública a
fazer muito ponderadamente este
tipo de análise e não correrem
para copiar decisões de outros
países, que são inadequadas para
o seu próprio país.
Um confinamento total em Mo-
çambique traria mais danos ou
benefícios?
Acho simplesmente que um con-
finamento total, no nosso país,
é impossível. Espero que nunca
atinjamos os pressupostos do ní-
vel 4, para que decisões desse tipo
tenham de ser equacionadas. Por
enquanto, estamos muito longe
é de 17,6 anos e a percentagem
de pessoas com 65 anos ou mais é
só de 3%. Na Itália, por exemplo,
idade mediana é de 47,3 anos e a
percentagem de pessoas com 65
anos ou mais é de 24%. Sabemos
que a doença é mais grave nos ido-
sos. Nunca Moçambique terá uma
situação de gravidade comparável
à da Itália.
No que respeita à densidade po-
pulacional, a nossa é de 38,7 habi-
tantes por Km2, mas a maioria dos
países da Europa têm mais de 100
habitantes por Km2; a Polónia, por
exemplo, tem 123 habitantes por
Km2. Para além disso, nas zonas
dessa situação, pelo que não vale
a pena equacioná-la.
O que nos espera pela frente; o
que será de nós com as fragili-
dades do nosso SNS e como nos
prepararmos como país?
Apesar de que eu tenho sido
muito crítico do desinvestimen-
to que tem sido feito na Saúde,
que revela que o sector de Saúde,
de facto, não tem representado
uma prioridade para os sucessi-
vos governos, de pelo menos, os
últimos 15 anos, com as nefastas
consequências que isso tem tido,
acrescido da corrupção que tem
existido em todo o país e a que
o sector da Saúde não escapou,
não sou nada pessimista, quanto
ao grau de preparação do nosso
SNS, para fazer face ao Covid19,
bem pelo contrário; pode ser que
me engane, mas sou optimista.
As condições estruturais não se
alteraram, pelo menos por en-
quanto, mas com a nova lide-
rança no MISAU as condições
conjunturais alteraram-se. Nos
primeiros dias depois da tomada
de posse, a epidemia ainda parecia
longe de nós e ainda houve uma
preocupação de análise da situa-
ção para alterações de fundo, mas
muito cedo houve uma oportuna
compreensão de que havia uma
ameaça que tínhamos de enfren-
tar e que tarde ou cedo iríamos
ser abrangidos. Nessa altura e de
forma muito atempada, todo o
MISAU foi orientado no sentido
duma preparação muito dirigida
para esta situação que obrigato-
riamente se tinha de sobrepor a
todas as outras questões estra-
tégicas. Note-se que os órgãos
centrais do MISAU não são um
órgão de implementação. A im-
plementação é feita no dia a dia
das diversas unidades sanitárias
do país e essa continua a fazer-se
como anteriormente. As outras
doenças continuam e, portanto, o
SNS tem de continuar a funcio-
nar como antes e está a funcionar
como fazia antes.
Mas o MISAU é um órgão de
orientação estratégica e neste
momento, as preocupações estra-
tégicas devem estar todas viradas
para a Covid19. E é isso que está a
acontecer e isso sucedeu atempa-
damente. Em todas as províncias
e não só na Cidade de Maputo,
há enfermarias convenientemente
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rurais de Moçambique, onde ha-
bitam 2/3 da população moçam-
bicana, a densidade populacional
é muito menor. Estas populações
rurais vivem e sempre viveram em
permanente distanciamento so-
cial: a casa do meu vizinho fica a
50 metros da minha. Mesmo em
meio urbano não temos nada pa-
recido com as grandes cidades de
África, como Lagos (com 26 mi-
lhões de habitantes), Joanesburgo
ou Dakar nem com as grandes
megapolis das Américas, da Euro-
pa ou da Ásia.
No referente à mobilidade, a nossa
taxa de veículos automóveis é mui-
preparadas e equipadas prontas a
receber os primeiros casos. Nessas
enfermarias existe o equipamento
básico necessário, vêm-se botijas
de oxigénio que é o mais impor-
tante, vêem-se mesmo os famige-
rados ventiladores, cuja utilidade
é mais questionável, vê-se que há
pessoal preparado para fazer face
ao que der e vier e felizmente que
essas enfermarias estão vazias,
muito bonitinhas porque nunca
foram usadas, o pessoal forma-
do, por enquanto, ainda lá não
se encontra, porque não havendo
doentes não tem nada para fazer.
Dos 41 casos até hoje registados,
só 2 foram hospitalizados em
clínicas privadas, porque tinham
meios financeiros para isso, mas é
discutível se necessitariam. Como
todos sabemos, a esmagadora
maioria dos doentes desta doença
podem e devem ser tratados em
casa (tratamento domiciliário).
Por outro lado, o sector privado
também se preparou e aí também
existe uma capacidade adicional.
Também existem ofertas de hos-
pitais de campanha em tendas,
mas também há a hipótese, se isso
eventualmente viesse a ser neces-
sário, de transformar estádios de
basquetebol em hospitais de cam-
panha, como foi previsto noutros
países e, em muitos casos, não fo-
ram necessários. Portanto, dentro
dos nossos condicionalismos (a
nossa realidade não se pode trans-
formar de um dia para o outro),
o país está bem preparado para
enfrentar a pandemia e, mais uma
vez eu digo que os moçambicanos
podem dormir tranquilos, pois o
SNS está preparado para este em-
bate.
Como garantir que a Covid-19
não relegue outras doenças para
um segundo plano?
As outras doenças continuam a
existir e o SNS continua a traba-
lhar como habitualmente. Talvez
só os acidentes de viação tenham
diminuído, como sucedeu nou-
tros países em que as segurado-
ras tiveram lucros astronómicos.
Penso que as pessoas que forem
acometidas de doença continua-
rão a dirigir-se às unidades sa-
nitárias como antes, à procura de
cuidados curativos. As grávidas
também continuarão a dirigir-se
às maternidades para o parto. Os
doentes com doenças crónicas ou
to baixa comparada com a de ou-
tros países de África e sem compa-
ração com os países de outros con-
tinentes. Nas nossas zonas rurais o
vírus circula a pé ou de bicicleta.
Assim não vai longe. A nossa vi-
gilância epidemiológica detecta-o
antes que ele provoque estragos.
Eu pessoalmente tenho suficientes
razões científicas para concluir que
não vamos ter nenhum problema
sério em zona rural. A nossa aten-
ção deve ser dirigida aos cerca de
10 milhões de cidadãos urbanos.
Quanto a factores imunitários da
população moçambicana é uma
matéria para investigação e eu pró-
prolongadas (tuberculosos, doen-
tes em tratamento antirretroviral,
hipertensos, diabéticos, asmáti-
cos, doentes oncológicos e outros)
devem continuar os seus trata-
mentos e fazer as suas consultas
de controlo como antes.
A grande questão é que as angús-
tias provocadas pela pandemia
podem levar a um retraimento
da população relativamente aos
cuidados preventivos. Portanto o
meu apelo a todos os moçambica-
nos é que continuem a vacinar as
vossas crianças, continuem a levá-
-las aos Centros de Saúde para as
consultas de controlo do cresci-
mento, as grávidas continuem a
ir às consultas pré-natais, as puér-
peras continuem a ir às consultas
pós-natais e de planeamento fa-
miliar, etc.. Não podemos recuar
no domínio preventivo e isso de-
pende de todos nós.
Como gerir o pânico das redes
sociais e suas notícias falsas?
Isso é a grande praga. Os jornalis-
tas têm o dever deontológico de
verificar a credibilidade das suas
fontes, mas o pior são as redes
sociais. Há pessoas que recebem
mensagens sem nenhuma credi-
bilidade e reenviam-nas para uma
quantidade de outras pessoas. O
meu apelo é que cada um seja res-
ponsável e só reenviem notícias
que tenham um mínimo de pro-
babilidade de serem verdadeiras.
Eu penso que se devia aprimorar
as leis existentes sobre difusão de
notícias falsas. Alguém me dis-
se, mas não pude verificar, que a
Lei das telecomunicações já pre-
vê isso. Mas se prevê, não está a
ser implementada. No Governo
de Transição, no início de 1975,
devido à destabilização social que
estava a ser criada pela difusão de
boatos (nessa altura era de boca-
-a-boca), foi criada a Lei con-
tra o boato. Era uma Lei muito
simples, com poucos artigos, mas
muito pragmática e eficaz. Devia-
-se pensar numa Lei dessa natu-
reza.
Como fazer o equilíbrio entre
a emergência da pandemia e o
país, que não pode parar?
Há muitas actividades econó-
micas e sociais que não podem
parar, começando pelos chama-
dos serviços essenciais: Saúde,
abastecimento de água e energia,
abastecimento da população em
9
prio estou a dirigir uma equipa de
investigação que está a estudar essa
matéria. Não quero adiantar muito
sobre uma matéria ainda em inves-
tigação, da qual ainda não saíram
resultados. Por enquanto trata-se
de hipóteses que estão a alimentar
essa investigação. O nosso ponto
de partida para essa investigação
foi um artigo, saído em meados de
Março passado, sobre um eventual
efeito protector da vacinação pelo
BCG em relação à Covid-19. Se
as hipóteses, repito, são puras hi-
póteses, se viessem a concretizar,
Continua na Pág. 13
bens essenciais, bombeiros, forças
da Lei e Ordem, aeroportos, por-
tos, postos de fronteira, serviços
meteorológicos e de controlo do
espaço aéreo, administração pú-
blica, transportes públicos, tele-
comunicações, serviços financei-
ros e tantos outros classificados
como essenciais. Mas além disso é
preciso que a economia não pare.
Infelizmente há sectores econó-
micos que pela sua natureza já
estão numa crise profunda, como
é o caso do turismo, da hotelaria,
do transporte aéreo, das instân-
cias de lazer, a prática desporti-
va, o negócio do show business e
outros. Há sectores também que
estão a sofrer por falta de procu-
ra, como a restauração, transporte
de passageiros, certas indústrias
alimentares ligadas à hotelaria e
à restauração, parece que o têxtil
e outros. Também, a procura de
alguns produtos de exportação
parece ter diminuído.
Contudo, não percebo porque a
agricultura ou a construção civil
devam sofrer. A área económica
não é a minha especialidade e
deixo isso aos economistas.
O que posso dizer é que ir tra-
balhar deve ser uma justificação
válida para sair de casa.
Quais é que podem vir a ser as
consequências económicas, so-
ciais e outras desta pandemia?
As consequências económicas,
sociais desta pandemia já estão
à vista. Mas devemos tentar, por
todos os meios, que as actividades
económicas que não tenham im-
plicações significativas, na aglo-
meração de pessoas, não parem.
São os dirigentes dessas activida-
des que devem tomar as medidas
apropriadas para que elas não pa-
rem e para que o país não colapse.
Há grandes grupos económicos,
como grandes multinacionais,
principais bancos, grandes em-
preendimentos mineiros e indus-
triais, etc. que em anos anteriores
têm registado lucros fabulosos.
Durante este ano podem ter pre-
juízos e não devem vir pedir aju-
das do Estado. Até deviam fazer
contribuições voluntárias para
a luta contra esta pandemia. As
ajudas do Estado devem ser re-
servadas para as pequenas e mé-
dias empresas.
 DIVULGAÇÃO
10 Savana 24-04-2020

5   


 55 

  
¡›55
5¨

Dr. ENEAS DA CONCEIÇÃO COMICHE
 555   
55


R5,)-5 /(ù#*-5
R5 #("-5("),-55'/-5("),-5
Antes de mais, gostaria de cumprimentar a to-
dos os que me escutam, fazendo votos de que
estejam bem e que estejam a cumprir, com rigor,
as medidas de prevenção da COVID-19 toma-
das pelo nosso Governo.

,)-5)(#ã)-65
Sinto-me na obrigação de prestar esclarecimen-
tos em torno da situação em que eu e a minha
família nos vimos envolvidos nas últimas sema-
nas, relativa ao nosso estado de saúde.
Depois de regressar de Londres, onde, partici-
pei na Cimeira sobre Água e Clima, tendo con-
seguido criar parcerias para o financiamento de
alguns projectos de desenvolvimento e melho-
ramento de infra-estruturas do nosso município
e do Grande Maputo, no valor de 50 milhões de da minha família, nomeadamente filhos, noras e
dólares, gerou-se uma situação pouco clara em netos.
torno da minha saúde. Esta situação de desconforto atingiu o Conse-
Efectivamente, logo que recebemos a notícia de
lho Municipal, particularmente os membros do
que Sua Alteza Serena o Príncipe Albert II, do
Conselho, os Quadros de Apoio Directo ao Pre-
Mónaco, que participou na Cimeira anterior-
sidente e todos os que nos dias subsequentes à
mente referida, havia sido diagnosticado posi-
minha chegada de Londres tinham estado em
tivo para a COVID-19, submeti-me a um teste
no dia 20 de Marco de 2020, tendo em seguida contacto directo comigo em encontros de traba-
ficado em quarentena domiciliar. lho e privados, incluindo membros de diferentes
Após a realização do segundo teste, a 23 do mes- órgãos do Partido FRELIMO e do Estado mo-
mo mês, comecei a ficar preocupado e descon- çambicano.
fortável porque não cheguei a receber, dentro Face ao cenário que se vivia, como já referi na
dos prazos previstos, informação oficial a mim minha primeira declaração pública sobre o as-
dirigida sobre os resultados dos mesmos. sunto, decidimos aconselharmo-nos junto da
Por ter começado a haver uma onda de desin- nossa médica e amiga da família, a Dra. Beatriz
formação e especulações sobre o meu estado de Ferreira, que nos advertiu para a necessidade de
saúde, gerou-se um mal-estar, não só a nível da fazermos análises clínicas que pudessem ajudar a
minha pessoa e da minha mulher, como no seio esclarecer o nosso estado de saúde.
 DIVULGAÇÃO
Savana 24-04-2020
Recebi três resultados positivos, sendo dois em
meu nome e um em nome da minha mulher, Lú-
cia Maria Comiche - (i) o primeiro enviado por
e-mail do INS de 26.03.2020, às 17h20 e em
formato físico no dia 06.04.2020, cuja colheita
foi feita no dia 20.03.2020; (ii) o segundo posi-
tivo para a COVID – 19, recebi por e-mail no
dia 11.04.2020, às 14h58, cuja colheita foi feita
no dia 23.03.2020; no dia 06.04.2020, recebi, em
formato físico do INS o resultado positivo re-
lativo à minha mulher, enviado novamente por
e-mail do INS, recebido no dia 11.04.2020, às
14h58.
5 
5 
5  5
Face a esta situação, submeti-me, de imediato, ao
tratamento médico recomendado, tendo eu fica-
5
<5
do internado no Instituto do Coração e a minha
mulher em isolamento domiciliário.
,)-5)'*.,#).-65
A COVID-19 é real!
Não escolhe famílias, raças, religião, idade, ori-
gem étnica ou social.
Esta doença pode afectar qualquer um de nós e
é fatal.
Neste momento, o mundo inteiro está a ser afec-
tado por esta pandemia que já atinge mais de
dois milhões e trezentos mil pessoas, causando a
morte de mais de 160 mil.
No nosso País, felizmente, não temos mortes a
lamentar, muito embora a propagação da doença
mereça a nossa crescente atenção, visto que o nú-
mero de infectados tem vindo a crescer e atinge
agora 39 doentes, segundo os dados das autori-
dades sanitárias.
É com satisfação que constatamos que, tanto a
nível mundial, como no nosso país, estão a regis-
tar-se casos de recuperação de doentes.
Com efeito, dum universo de dois milhões e tre-
zentos mil infectados pelo novo CORONAVI-
RUS, pouco mais de 600 mil já se encontram
recuperados.
5 5 
±65
5 
¡›5

 5

5 5
8
55
5

5
11
(INS) e outro do ICOR, enviado por um labo-
ratório sul-africano.
Eu recebi três resultados negativos: (i) o primei-
ro do INS, de 04.04.2020, cuja colheita foi fei-
ta no dia 02.04.2020; (ii) o segundo negativo
do INS, para SARS COVID – 19, recebido por
e-mail do ICOR, de 07.04.2020, cuja colhei-
ta foi feita no dia 04.04.2020 e no mesmo dia
07.04.2020 recebi, através do ICOR e (iii) o ter-
ceiro resultado negativo para SARS –COV -2
PCR, enviado por um laboratório sul-africano.


-19!


Fico feliz em saber que, para além da minha
mulher, não infectei ninguém. Sei que os meus
familiares directos, os quadros anteriormente
referidos que trabalham comigo, fizeram testes
com resultados negativos. Testes foram feitos
também aos meus empregados domésticos, mo-
toristas e Ajudantes de Campo (ADC’s), com
resultados negativos para a COVID-19.
("),-55("),-65
Nesta oportunidade, quero agradecer, muito
profundamente, o carinho e o encorajamento
que recebi da minha mulher, desde a primeira
hora. Peço-lhe perdão por tê-la infectado.
Agradeço o carinho e o apoio dos meus filhos,
noras e netos, dos meus irmãos e respectivos
cônjuges e dos meus sobrinhos.
Um reconhecimento especial e agradecimento
do fundo do meu coração à Sra. Dra. Beatriz
Ferreira, fundadora e Directora- Geral do Ins-
tituto do Coração e toda a sua equipa por ter
criado condições para o meu internamento no
ICOR. Foi, certamente, o primeiro caso de in-
ternamento de um infectado pela COVID-19.
Foi, por isso, necessário criar condições de iso-
lamento em quarto devidamente equipado e in-
vestir em equipamento adequado para médicos,
enfermeiros, técnicos de laboratório e análises
clínicas e auxiliares. Muito obrigado aos Médi-
5

5- cos- Dra Catarina David, Dr Manuel Tomas,

85 Dra Suraida Kilim; Radiologia-Técnicos Tere-
Ela com dois resultados negativos recebidos no sa Calças, Eusébio Aly. Laboratório: Técnicos:
dia 11 de Abril corrente, sendo um do laborató- Maria Espirito Santo, André Foquisso Shabir
rio de referência – Instituto Nacional de Saúde Mussa e Tarcisio Júnior; Enfermeiros:
 DIVULGAÇÃO
12
Margarida Facoco, Bartolomeu João, Nilton Ma-
lovote, Rogério João, Elton Massaiete, Ricardo
Chambale, Hélio Simbine, Saraiva Mangomela,
Carlos Cazonda, Jaime Poiares, Generoso Ma-
nuel e Vanildo Mainga. Auxiliares de Enferma-
gem:
Roberto Paninga, Félix Tovele, Joaquim Macheie,
Samuel Bila, Moises Malhuza, Constantino Vi-
lanculos, José Macamo, Arte Solemane, Isaías
Maunote, Sérgio Joaquim.
Agradeço os votos formulados por vários camara-
das, telefonicamente, telefonicamente, por SMS
ou via Whatsapp.
Agradeço os votos formulados pelos Membros
do Conselho Municipal de Maputo, Quadros de
Apoio Directo ao Presidente do Conselho Mu-
nicipal, pela minha Chefe de Gabinete e pela mi-
/(ù#*-65
nha Secretária Particular.
Agradeço a força, o encorajamento, as orações de
familiares e amigos e de diversas comunidades
religiosas, designadamente cristãs, muçulmanas,
Hindú e outras.
Agradeço em particular a Sua Reverendíssima
Bispo da Igreja Anglicana, Dom Carlos Matsi-
nhe, bem como ao Padre Giorgio Ferrati, Pároco
da Nossa Senhora da Conceição Sé Catedral de
Maputo pelas suas orações.
Agradeço aos membros do Corpo Diplomático
que me telefonaram ou enviaram mensagens de
encorajamento com votos de melhoras.
Apelo às estruturas do Ministério da Saúde para
um tratamento com qualidade e mais humaniza-
do aos infectados ou afectados pelo COVID – 19.
Não é correcto sermos tratados como números.
Mais X infectados, dos quais Y recuperados, sem
informação directa ao interessado e sem uma pa-
lavra de aconselhamento. O cidadão testado ao
COVID – 19 tem o direito de ser informado, em
primeira mão, dos resultados dos testes realizados.
Gostaria de agradecer a todos os munícipes de
Maputo pelas mensagens de carinho, conforto,
apoio e encorajamento que eu e a minha mulher
recebemos, de diversas formas e fontes, durante
o período em que estivemos em quarentena e em
isolamento.
Devo, igualmente, reconhecer que esta situação
poderá ter causado desconforto e mal-estar aos
Savana 24-04-2020
munícipes, em geral, e aos que directas ou
indirectamente estiveram em contacto co-
migo. A estes vai o nosso carinho, apreço e
consideração por tudo aquilo que foram as
dificuldades e experiências vividas em torno
deste processo.
Neste sentido, retorno ao trabalho, com a
mesma energia e com mesma determinação
nas funções de Presidente do Conselho Mu-
nicipal de Maputo – que todos vocês me con-
fiaram, comprometo-me a prosseguir com a
implementação do nosso Plano de Desenvol-
vimento Municipal, no quadro dos desafios
que nos são impostos pela Pandemia contra
a qual exorto a todos os munícipes unirmos
esforços.
,)-5
Quero apelar a todos os munícipes que, nes-
te momento de perigo e de grandes incer-
tezas em torno desta doença, mantenhamos
calma, evitemos o pânico, desinformação e o
estigma, sobretudo, que sejamos todos soli-
dários e tenhamos sempre uma atitude posi-
tiva, responsável e de prudência perante esta
pandemia.
Devemos envidar todos os esforços para que,
de forma individual e colectiva, observemos
as medidas de prevenção já anunciadas por
Sua Excelência o Presidente da República,
no âmbito do Estado de Emergência já em
vigor no nosso País e que se prolongará até
ao dia 30 deste mês.
Eu, Eneas da Conceição Comiche, Presiden-
te do Conselho Municipal de Maputo, reite-
ro o meu compromisso de continuar a im-
plementar todas as medidas de prevenção e
fiscalização necessárias contra a COVID-19.
Reitero, igualmente, o meu compromisso de
continuar a zelar por todos os munícipes, em
especial, os que se encontram em situação de
vulnerabilidade.
Unidos e Coesos, vamos fazer Maputo, uma
Cidade mais limpa, bela, segura, empreende-
dora e próspera.
Agradeço a atenção dispensada!
Maputo, 20 de Abril de 2020

Savana 24-04-2020
Covid-19: o equilíbrio entre saúde e fome
O
antigo reitor da Universi-
dade Politécnica Lourenço
do Rosário considera que
que o Governo deve gerir
o “difícil equilíbrio” entre a conten-
ção do alastramento da Covid-19
e a sobrevivência das populações
pobres, fora de um confinamento
geral.
“O Estado tem de encontrar uma
vizinha saudável no limite entre a
segurança sanitária e a segurança
alimentar para as populações mais
desfavorecidas”, defendeu Louren-
ço do Rosário em entrevista à Lusa.
Esse balanço, prosseguiu, passa por
as autoridades moçambicanas im-
pedirem uma catástrofe que seria
provocada por um rápido alastra-
mento da pandemia da covid-19 ao
mesmo tempo que permitem que as
famílias sem recursos continuem a
assegurar o seu rendimento na eco-
nomia informal.
“Como o nosso Estado não é capaz
de providenciar uma cesta básica
para estas pessoas que são retiradas
da sua fonte de sobrevivência do
dia-a-dia tem de se encontrar uma
fórmula que permita de facto con-
jugar os limites de cada um desses
problemas”, acrescentou.
A imposição de um confinamento
domiciliário geral em Moçambi-
que, no contexto de uma eventual
prorrogação do estado de emergên-
cia, que termina no dia 30 de Abril,
é impossível, porque iria provocar
uma perturbação da paz social,
avisa Lourenço do Rosário, que é
actualmente presidente do Fórum
Nacional do Mecanismo Africano
de Revisão de Pares (MARP).
“A gente está expectante, para ver
o que vai acontecer, o que é que o
Governo vai inventar para manter a
economia minimamente funcional
e, por outro lado, manter o controlo
da contaminação”, observa.
Continuação da pág. 10
Moçambique estaria numa posição
privilegiada, pois logo depois da
Independência houve uma Cam-
panha Nacional de Vacinações,
com uma altíssima taxa de cober-
tura, que vacinou pelo BCG todas
as crianças até aos 15 anos. Depois
dessa campanha, em Moçambique
a taxa de cobertura da vacinação
pelo BCG sempre foi muito alta
em zona urbana, que, como já ex-
pliquei, deve ser o motivo da nossa
maior atenção. Em zona urbana,
quase toda a população de menos
de 58 anos de idade está vacinada.
Quanto aos factores ambientais
sobretudo no que respeita facto-
res climáticos (temperatura mé-
dia, humidade relativa média e
radiação solar, em especial por
raios ultravioletas), posso dizer
que também são objecto da nossa
investigação. Todos sabemos que
muitas das doenças gripais as-
sumem maior virulência no in-
verno, do que no verão. Não se
sabe ainda se com a Covid-19 será
ou não a mesma coisa. Com no-
táveis excepções, os países até ag-
Rosário recordou que mais de 50%
da população moçambicana é po-
bre e é constituída por agregados
familiares com uma média de cinco
pessoas e depende normalmente de
um provedor que tem um trabalho
independente e precário na econo-
mia informal.
Lourenço do Rosário considerou
louvável a actuação do Governo no
campo da saúde, assinalando que a
concentração da testagem nos focos
de maior suspeita é a melhor abor-
dagem, dadas as gritantes carências
do país.
“O nosso Ministério da Saúde e
as autoridades sanitárias estão a
agir de uma forma muito pruden-
te e louvável, que é tentar manter
o controlo da informação sobre a
contaminação em conformidade
com a capacidade sanitária instala-
da”, referiu.
Uma testagem mais direccionada
permite às autoridades de saúde um
compasso que lhes dá tempo para
retardar o pico até uma altura em
que o Sistema Nacional de Saú-
de esteja minimamente preparado
para um cenário mais complicado
ou em que se vislumbre uma vacina.
ora mais atingidos são quase todos
no hemisfério Norte, que deste o
início do ano estavam no inverno.
Ninguém sabe o que vai acontecer
quando eles estiverem no Verão e
nós do hemisfério Sul no inverno.
Esta é também uma matéria que
estamos a investigar. Quando ter-
minarmos a investigação em curso
(talvez dentro de um mês) faremos
uma conferência de imprensa para
informar.
Para além de medidas de higiene
e de saneamento e do uso apro-
priado de máscaras e viseiras, a
prevenção inclui medidas como
distanciamento social e redução
de mobilidade, o que significa
ficar em casa. Como se resolve
esta equação, num contexto em
que grande parte da população
tem de ir à rua todos os dias para
conseguir colocar prato na mesa?
Todos devemos ficar em casa o
mais que for possível. Devemos
interiorizar esse princípio, e tentar
cumpri-lo o mais possível. Eu ha-
bitualmente já saia pouco de casa,
mas ia todos os dias ao ginásio e
SOCIEDADE
Lourenço do Rosário
Lourenço do Rosário avisou que a
testagem e rastreio dirigidos apenas
a focos suspeitos em detrimento de
uma testagem em massa pode estar
a deixar de fora muitas pessoas in-
fectadas.
“Não significa que os números que
estão a ser apresentados sejam to-
talmente reais, mas é o que é real-
mente conhecido, as próprias en-
tidades sanitárias reconhecem que
têm capacidade limitada para poder
seguir todos os contornos de conta-
minação que possam existir no nos-
so país”, notou o académico.
Enquanto o país não conhece uma
explosão de casos de infecção por
covid-19, os moçambicanos vão
mostrando uma “admirável sereni-
dade”, edificada por uma história de
sofrimento provocada por conflitos
armados e desastres naturais.
“As pessoas criaram uma, digamos
assim, cultura de convivência com
a ansiedade, com catástrofes e com
medos”, ressalvou.
'HVFRQÀDQoDLQWHUQDFLRQDO
Para o académico, a falta de con-
fiança da comunidade internacional
no Governo pode dificultar a cana-
à piscina. Tive de me privar disso,
mas não constitui para mim um
motivo de preocupação ou de an-
gústia. Mas isso não é assim para
toda a gente. Há pessoas que têm
o hábito de sair para ir tomar o
café, para tomar uma bebida com
os amigos e para tantas outras
actividades, afinal dispensáveis.
Bom! Têm de ter paciência e ad-
quirir novos hábitos, pelo menos
por algum tempo. Encontrar out-
ras formas de ocupação do tempo.
Pertenço a um grupo de What-
sApp de escritores. Tenho visto
que alguns escritores, sobretudo
poetas, têm tido, nestes últimos
dias, notável produção poética,
pelo que é de esperar que depois
disto passar, vamos ter mais livros
de boa poesia. São soluções destas
que as pessoas devem encontrar
para não entrarem em pânico nem
ficarem angustiadas. O humor
também é uma forma de aliviar a
angústia. Têm surgido agora algu-
mas anedotas muito bem-humor-
adas e muito ligadas a este prob-
lema. Acho excelente que essas
anedotas sejam circuladas.
lização de ajuda financeira para o
combate à pandemia da covid-19.
“O país vive sob uma permanente
desconfiança dos parceiros inter-
nacionais”, desde que, em 2016, se
tornaram públicas dívidas secre-
tamente avalizadas pelo anterior
executivo, afirmou Lourenço do
Rosário.
Lourenço do Rosário avança que a
rejeição pelos parceiros internacio-
nais de um pedido de financiamen-
to de 700 milhões de dólares do
Governo para o combate à covid-19
traduz esse clima de desconfiança.
“Isso veio acrescentar o olhar nega-
tivo sobre o nosso país e o Minis-
tério da Saúde está a jogar com as
armas que tem”, referiu.
Alguns parceiros de cooperação já
anunciaram que vão canalizar ajuda
em espécie e não em dinheiro e ou-
tros defenderam a abertura de uma
conta especial a ser gerida pelo Mi-
nistério da Saúde para o desembol-
so directo de apoio financeiro para
o combate à covid-19.
“Sofremos um bloqueio efectivo no
acesso à ajuda internacional”, que
é também “um bloqueio mental e
psicológico”, devido à falta de cre-
dibilidade do Estado junto dos par-
ceiros internacionais, acrescentou
Lourenço do Rosário.
O facto de uma parte da comuni-
dade internacional evitar o apoio
directo ao Orçamento do Estado
limita a eficácia na planificação
das despesas sectoriais por parte
do executivo e provoca embaraços,
referiu o académico.
Lourenço do Rosário defendeu que
a falta de um esclarecimento judi-
cial sobre o escândalo das dívidas
ocultas está a atrasar a recupera-
ção da confiança das instituições
moçambicanas no plano interno e
externo.
Rosário assinalou que o contencio-
so entre o Governo moçambicano
Agora, não é possível ficar sem-
pre em casa. Alguém da família
tem de sair para fazer compras
de comida, de medicamentos e de
outros produtos essenciais. O que
se não deve fazer é sair a família
toda para fazer compras, nem que
seja para comprar um rancho para
um mês. Basta sair um membro
da família de cada vez. Podem-no
fazer rotativamente.
Também é essencial que o país
não pare e há pessoas que devem
sair para ir trabalhar. Esses não
devem ser impedidos de o fazer,
bem pelo contrário. Por fim há
ainda aqueles que, como você diz:
«têm de ir à rua, todos os dias, para
conseguir colocar prato na mesa».
Esses devem sair mesmo, não há
outra hipótese. Na vossa edição da
semana passada o SAVANA pôs
um título: «Escapar da Doença e
Morrer à Fome». Este título traduz
bem uma realidade do nosso país.
Por isso devemos ser muito cau-
telosos e não tentar copiar tudo o
que fazem os países do Norte. Em
primeiro lugar, ainda se está para
saber se essas medidas, no contex-
13
e a comunidade internacional não
deve impedir a ajuda ao país con-
tra a pandemia da covid-19, porque
se trata de uma emergência global
com impacto devastador sobre to-
das as sociedades.
“O povo moçambicano não tem
culpa”, observou.
1DGDVHUiLJXDO
Lourenço do Rosário observa igual-
mente que a pandemia da covid-19
pode levar a uma maior aposta dos
governos africanos nos sistemas de
saúde, que têm sido negligenciados
por elites que recorrem aos países
ricos para atendimento médico.
“O confinamento está a dar esta
lição, quando isto acabar nada vai
ser igual”, no modo como os gover-
nantes africanos gerem os sistemas
de saúde, defende Lourenço do Ro-
sário.
O facto de os dirigentes africanos
estarem impedidos de recorrer a
cuidados médicos no exterior, de-
vido ao encerramento de frontei-
ras no âmbito da Covid-19 levará
a uma mudança de abordagem em
relação à saúde.
“Neste momento, toda a gente está
de braços atados, à espera que o sis-
tema nacional de saúde possa resol-
ver a questão”, afirma.
A medicina privada em África não
é alternativa para o atendimento de
casos da covid-19, devido ao seu
fraco desenvolvimento, sendo os
hospitais públicos a única opção,
prosseguiu.
“Nós não temos um subsistema pri-
vado que possa resolver a questão
colocada pela covid-19”, sublinha.
Lourenço do Rosário entende que
o risco de colapso que os sistemas
de saúde de todo o mundo enfren-
tam devido à pandemia da covid-19
deve servir de lição para as elites
africanas.
to deles, eram as mais apropriadas.
Há comentadores que as questio-
nam. Por outro lado, só devemos
tomar medidas adequadas à nossa
realidade. Muitas das medidas to-
madas pelos países do Norte não
se adequam à nossa realidade. Al-
guns países de África, mas não só,
tomaram medidas muito drásticas,
do nível 4, mesmo antes de re-
unirem os pressupostos para isso.
Estamos a ver as consequências.
A Índia, que tem registado muitos
poucos casos e óbitos, em relação
à sua enorme população, tomou
essas medidas de forma muito
violenta, mas já teve de as sus-
pender e o Primeiro-Ministro já
veio pedir desculpa, conceito que
em Moçambique os governantes
desconhecem. Na África do Sul,
no Quénia e no Egipto estão a
haver muitos protestos contra es-
sas medidas. É que nesses países
também há muita gente que, como
você diz, «têm de ir à rua, todos os
dias, para conseguir colocar prato na
mesa». E os governantes não viram
isso. Temos também de aprender
dos erros dos outros.

14
Admissões ao Ensino Superior – Expectativas, Dilemas e Incertezas (2)
Por Jorge Ferrão, Carlos Lauchande e Ivan Collinson
O
s exames de admissão ao En-
sino Superior em Moçam-
bique, são, essencialmente,
um instrumento de selecção,
porém, essa função do exame não é
nova. Ao longo de anos, os exames de
admissão se estabeleceram como o di-
visor de águas para o ingresso e acesso
ao Ensino Superior em Moçambique,
sobretudo, no período anterior à in-
trodução do Ensino Superior privado.
Com o Ensino Secundário composto
por uma rede de cerca de 757 escolas
e um universo de aproximadamente
1.134.830 alunos, dos quais cerca de
306.993 são do segundo ciclo (dados
de 2018), o estabelecimento dos exa-
mes de admissão passou, rapidamente,
a significar um martírio para os nu-
merosos estudantes que tentam, como
acontece um pouco pelo mundo, o
acesso às universidades públicas, isto
é, as estruturantes.
É inevitável, diante do contexto em
que vivemos e dos desafios impostos
pela pandemia do COVID-19, iniciar
uma reflexão sobre o processo de ad-
missão para o ano académico de 2021,
colocando as questões de forma mais
crua possível: será justo aplicar-se um
exame de admissão à todos, de igual
modo, mesmo com a possível altera-
ção do calendário escolar? Ou ir ao
extremo e suspender temporariamen-
te alguns requisitos à admissão?
Sobre as Origens
Em Moçambique, os exames de ad-
missão ao ensino superior foram
adoptados a partir de 1991, conforme
se poderá depreender mais adiante,
mais na realidade, o “exame de admis-
são” tem uma origem distante do foro
escolar, pois este “instrumento” terá
sido usado perto do ano 3000 a.C.,
para admissão ao exército imperial
chinês, mas também à administração
pública, em especial para os serviços
burocráticos e civis da dinastia Han e
do período Ming-Qing, portanto, en-
tre o século III a.C. até à Idade Média
ou muito perto do início do século
XX d.C (Hill, 2013). Foi, entretanto,
pela mão dos Jesuítas, no século XVI
d.C., que, pela primeira vez, os exames
Figura 1 Relação entre o desempenho dos alunos e o índice de pobreza multidimensional
Gráfico 2. A média global dos candidatos pelas das 10 melhores escolas
Fonte: INE e MINEDH, 2016
foram adoptados para o ambiente es-
colar, nos colégios católicos (Luckesi,
2003). Mais tarde, no século XVII
d.C., estes também foram importa-
dos pelas escolas protestantes, sendo
que no século XIX d.C., o conceito de
“exame” estava completamente difun-
dido por toda a Europa.
Este facto teve um profundo impacto
social, aliás, continua a tê-lo: através
dos exames, a sociedade burguesa de
então, que não tinha os direitos que
os aristocratas gozavam, desde à nas-
cença, podia ascender socialmente,
ou seja, o exame era visto como ins-
trumento de ascensão social. Por esta
razão, Voltaire via os exames como
meio para transição de uma socieda-
de aristocrática à meritocrática, pois
permitia(e) regular o acesso às profis-
sões, abrindo oportunidades à todos
os strata da sociedade.
No contexto do Ensino Superior,
em especial na Idade Média, segun-
do Goodchild & Wechsler (1997), a
admissão ao Ensino Superior era o
culminar bem-sucedido da frequên-
cia aos cursos básicos (o Trivium) e as
artes liberais (o Quadrivium). Mas foi
a partir do início do século XX d.C.,
também na Europa, que o exame de
admissão foi introduzido ao Ensino
Superior, inicialmente dirigido aos
jovens candidatos pré-seleccionados
(“selecção social”), sendo que esta
pré-selecção acabou, também, por ser
abolida, atribuindo exclusividade aos
exames de admissão, com algumas ex-
cepções, como por exemplo, o Abitur e
a possibilidade que oferecia de admis-
são automática ao Ensino Superior,
na França e Alemanha, como afirma
Rüegg (2011).
Ora, esta breve resenha histórica do
exame de admissão ao Ensino Su-
perior é importante para se poder
efectuar uma análise mais informa-
da sobre os mecanismos actuais de
admissão ao Ensino Superior. Sobre
este propósito, os vários sistemas de
educação, das várias latitudes, foram
adoptando, segundo Coates, Edwards
e Friedman (2010), diferentes mode-
los de admissão ao Ensino Superior,
designadamente, (i) o exame como
requisito único, como na China, Co-
reia do Sul, Grécia e Portugal; (ii) o
exame como requisito-chave com-
plementar, aplicado nos EUA, Japão,
África do Sul, Suécia e Turquia e;
(iii) outros testes específicos, muito
usados no Canadá, México e Reino
Unido. À estes modelos acrescenta-se
uma outra proposta tipológica (Hel-
ms, 2008), segundo a qual, dentro do
contexto da OCDE, a admissão ao
Ensino Superior pode recorrer à cinco
opções, designadamente, (i) uso dos
exames finais do Ensino Secundário,
como acontece na Áustria, França, Ir-
landa, Egipto, Tanzânia, Reino Unido
e Austrália; (ii) exame de admissão
separado ou agregado, visto na China,
Irão, Geórgia, Turquia, Espanha, Ar-
gentina, Paraguai, Bulgária e Sérvia;
(iii) exames padronizados de aptidão,
usados na Suécia e EUA; (iv) exames
múltiplos, em aplicação no Japão,
Rússia, França, Finlândia, Israel e Ín-
dia e; (v) admissão sem exame, como
na Noruega, também Canadá e algu-
mas instituições de Ensino Superior
dos EUA.
Se considerarmos que o exame de
admissão é uma avaliação feita à can-
didatos que preenchem determinados
requisitos, será importante inventa-
riar os vários conceitos de avaliação
propostos por vários autores, curio-
samente, muito associados às funções
desempenhadas pelos próprios ins-
trumentos avaliativos, nomeadamen-
te, (i) medida; (ii) descrição; (iii) juízo
de valor; (iv) negociação e construção;
(v) examinação; (vi) classificação do
desempenho; (vii) instrumento ava-
liativo dos processos educativos; (viii)
regulação; (ix) diagnóstico quantita-
tivo da rentabilidade e eficiência es-
colar; (x) prestação de contas e; (xi)
controlo de qualidade do sistema
educativo.
Os exames de admissão
ao Ensino Superior em
Moçambique
Em Moçambique, o exame de admis-
são ao ensino superior foi instituído
através do Despacho Ministerial nr.
86/90, com efeitos a partir do ano
de 1991, sendo que na Universidade
Savana 24-04-2020
Pedagógica, foi introduzido a partir
de 1996. Ora, no caso de Universi-
dade Pedagógica de Maputo (UP-
-Maputo), e de todas as demais uni-
versidades públicas em Moçambique,
o conceito de avaliação adoptado para
os exames de admissão aos cursos de
graduação (licenciatura) é o da classi-
ficação do desempenho do aluno/can-
didato, proposto há muito (Scriven &
Stufflebeam, 1978), porém ainda em
pleno uso, pela utilidade que se presta.
O aumento exponencial de IES abriu
espaço para que milhares de moçam-
bicanos tivessem acesso ao Ensino
Superior. A Universidade Pedagó-
gica, criada há 35 anos, 1985, abriu
espaço para que mais de 40 mil jo-
vens, de todo o País, tivessem acesso a
formação. Na prática, a Universidade
Pedagógica deixou de representar um
espaço de exclusão e, somente, desti-
nado às elites e se converteu num sis-
tema aberto, até porque é das poucas
universidades compreensivas que o
País possui.
De qualquer forma, o facto de os exa-
mes de admissão representarem um
modelo que selecciona os que conse-
guem as notas mais altas, não deter-
minou os critérios mínimos de aces-
so às universidades públicas. Assim,
quanto mais massivo o sistema se tor-
nava, mais se ressentia da qualidade
dos estudantes que chegavam do En-
sino Secundário ou pré-universitário.   sional é baixo (<0.30). O outro gru-
Dois factores precisam de ser equa-
cionados. Se, por um lado, o leque
de opções formativas aumentou, fa-
cilmente foram criados cursos que
pouco significaram para a economia
e para o sistema produtivo do País,
mesmo considerando a responsabili-
dade do Ensino Superior com todas
as dimensões sociais, políticas, econó-
micas, culturais, desportivas e lúdicas.
Por outro lado, a prolongada guerra
de desestabilização teve, e continua
tendo, efeitos nefastos na qualidade
da oferta escolar, na maior das escolas
do Centro e do Norte de Moçambi-
que, com algumas excepções, natural-
mente. Em 2015, das 10 (dez) escolas
públicas com melhor desempenho,
nos exames da 12ª classe, sete eram
do Centro e Norte do País, tendo se
destacado, por exemplo, a Escola Se-
cundária da HCB. Aliás, a prioridade,
quando se chegou ao Acordo de Paz,
que foi sendo violado ao longo dos
anos, era a de se massificar a oferta
educativa no Ensino Primário, e se
optou por uma formação pouco con-
sistente dos professores.
Deste modo, os problemas estruturais
do País e, sobretudo, as desigualdades,
foram preponderantes para que o vas-
to conjunto de alunos que almejavam
o nível superior, pudessem chegar
com as competências exigidas para
este nível. Se, numa primeira fase, esta
situação foi remediada pela introdu-
ção de um semestre preparatório (o
BUSCEP, no caso da Universidade
Eduardo Mondlane; o Propedêutico
no caso da Universidade Lúrio, para
citar alguns exemplos de instituições
públicas de Ensino Superior), as re-
formas curriculares, subsequentes,
motivadas por contínuas revisões à
legislação, eliminaram esta fase pre-
paratória.
NO CENTRO DO FURACÃO
O facto é que os dados mostram que a
probabilidade de uma criança, nascida
no Sul, completar o Ensino Básico, é
duas vezes mais que no Norte e Cen-
tro do País. As assimetrias entre o Sul
e o Norte são explicadas, em parte,
por factores relacionados com o nível
socioeconómico dos agregados fami-
liares, o nível de educação da mãe da
criança e os baixos níveis de subnutri-
ção crónica  das crianças dos 0 aos 5
anos – menos de 30% na região Sul,
contra  cerca de 50% em Nampula e
Zambézia (INE, 2014). Existem evi-
dências substanciais que relacionam
crescimento retardado ao baixo de-
senvolvimento cognitivo e desempe-
nho escolar.
Numa pesquisa sobre a relação entre
os dados da pobreza multidimensio-
nal1 e o desempenho dos alunos, na
avaliação nacional da 3a classe, mostra
uma correlação negativa (MINEDH,
2016), isto é, quanto maior a pobreza
multidimensional, menor o desem-
penho dos alunos. A figura abaixo
mostra o diagrama de dispersão do
desempenho médio em leitura pelo
índice de pobreza multidimensional,
por província.(Ver Figura 1)
O Gráfico mostra dois grupos de pro-
víncias, sendo um constituído pelas
províncias do Sul, onde o desempe-
nho médio transcende os 10.5 pontos
e o índice de pobreza multidimen-
po, essencialmente, constituído pelas
províncias do Centro e Norte do País
onde, para quase todas, o desempe-
nho está abaixo de 10.5 e o índice de
pobreza multidimensional é acima de
0.4.
O dilema moral presente no binó-
mio “Maslow before Bloom”, nos faz
pensar, constantemente, no perfil so-
cioeconómico dos alunos e potenciais
candidatos ao Ensino Superior, num
futuro próximo. Para além dos dados
demonstrados anteriormente, o País
enfrenta desafios profundos no pre-
sente ano, que só serão agravados pela
pandemia do COVID-19, pela ins-
tabilidade no Norte do País, insegu-
rança alimentar e pobreza, conforme
demonstra o mapa ilustrativo.
O segundo nível de factores está  as-
sociado à própria escola, sua lideran-
ça e gestão escolar.  A capacidade de
liderança nas escolas provou ser fac-
tor vital. Um estudo recente, onde se
contrastou    as 6 melhores e 6 piores
escolas, na província de Inhambane,
constatou que as escolas com bom de-
sempenho são aquelas cujos gestores
têm atitudes positivas e observam as
melhores práticas de gestão, incluin-
do a elaboração e implementação de
instrumentos de administração e ges-
tão escolar, controle da pontualidade e
assiduidade dos professores e alunos,
monitoria dos processos pedagógicos,
prestação de apoio pedagógico aos
professores e interacção com as co-
munidades, através dos Conselhos de
Escola (Lauchande & Chimbutane,
2018). Estes resultados confirmam a
1. Os indicadores usados pelo INE, na
avaliação multidimensional da pobreza,
têm como foco a educação, saúde,
saneamento, habitação e a posse de bens
duráveis.
Savana 24-04-2020
intrínseca relação entre gestão escolar
e desempenho dos alunos.
Tendo em consideração as desigual-
dades regionais, relativamente a qua-
lidade de educação oferecida pela
escola, a questão que se coloca é a
seguinte: Como assegurar que o sis-
tema de admissão ao Ensino Superior
garanta que os estudantes que entram
tenham, por um lado, acesso uma for-
mação com qualidade e, por outro ,
o sistema possibilite uma maior equi-
dade?
Os exames de admissão à universida-
de e o crescente volume de candidatos
têm muito a ver com a falta de opção
por outros cursos técnicos, para além
da enorme dependência que os em-
pregadores têm em relação aos títulos
académicos, inclusive o próprio Esta-
do (veja-se, por exemplo, os requisi-
tos necessários à admissão à Função
Pública descritos no Qualificadores
Profissionais de Carreiras, Catego-
rias e Funções de Direcção, Chefia e
Confiança em vigor no aparelho do
Estado). Com efeito, faltam institutos
técnicos e a opção tem sido a própria
universidade. A Função Pública, ao
criar uma tabela salarial disfuncional
em função do nível académico, privi-
legiou a formação ao nível de licen-
ciatura como a meta que todos pre-
tendem alcançar.  Superior, mas não só. Aliás, a este res-
Os exames de admissão são um exer-
cício caro e, questiona-se a disponi-
bilidade dos agregados familiares de
manterem essa disponibilidade fi-
nanceira para fazerem o investimento
para estes exames, na altura do ano
em que mais se observa falta de re-
cursos. 
Os testes padronizados, com
perguntas de escolha múlti-
pla, têm sido o instrumento
privilegiado de selecção
de candidatos ao Ensino
Superior mas, existirá uma
outra alternativa?
O exame de admissão ao ensino supe-
rior às universidades públicas é hoje
essencialmente elaborado recorrendo
à testes de escolha múltipla, intro-
duzidos a partir de 2003, e consiste
numa prova em que os candidatos
recebem 4 ou 5 opções para cada
pergunta, e devem optar por uma das
respostas. Embora especialistas consi-
derem este tipo de teste válido e fiável
na forma de avaliar as competências
dos candidatos, há outros que o con-
sideram ser um teste com vantagens
e desvantagens (Martin, 2003). Entre
as vantagens, destacam-se as seguin-
tes: a) a natureza objectiva do teste
limita o enviesamento de pontuação;
b) os alunos podem responder rapi-
damente a muitos itens, permitindo
uma cobertura de uma amostra gran-
de de conteúdos; c) eficiente para
administrar e pontuar; d) com uma
correcta calibração, reduz-se a pro-
babilidade de respostas aleatórias; f )
reduz os custos administrativos à sua
aplicação (por exemplo, quantidade
de papel, tempo de correcção, correc-
ção e publicação de resultados).
Entre as desvantagens, observa-se as
seguintes: a) não possibilita identificar
os problemas de aprendizagem dos
estudantes de forma a retroalimentar
o processo de ensino e aprendizagem;
b) não é possível avaliar a capacidade
de organizar e exprimir ideias, isto é, a
capacidade de comunicação; c) tende
a focar-se em objectivos de aprendi-
zagem de menor complexidade; d)
os resultados podem ser enviesados
devido a problemas de interpretação
do texto pelos estudantes; e) o desen-
volvimento de bons itens para testes
de escolha múltipla é demorado e
exige altos níveis de especialização
psicométrica para a calibração dos
itens; f ) não permite avaliar todas as
competências de um candidato (por
exemplo, o teste de escolha múltipla
não permite avaliar as competências
de escrita, redacção e até retórica de
um candidato ao curso de licenciatu-
ra em Ensino de Francês); g) acarreta
custos mais elevados, pois abre espaço
à outro tipo de perguntas (perguntas
abertas), com implicações ao prazo e
recursos à correcção.
O histórico escolar dos es-
tudantes como mecanismo
para uma avaliação justa e
HÀFD]
Tendo em consideração as vantagens
e desvantagens dos testes de escolha
múltipla é necessário reflectir so-
bre critérios adicionais do processo
de admissão de alunos. Com efeito,
diante da fatalidade que o exame de
escolha múltipla impõe ao candidato,
seria “justo” compensar com o histó-
rico do desempenho do estudante ao
longo do Ensino Secundário, como
referido anteriormente, nos modelos
de exames de admissão existentes
pelo Mundo. Este modelo permite
conjugar o espólio de conhecimento e
desempenho ao longo de doze classes,
nas várias disciplinas, aos exames de
admissão ao Ensino Superior.
A inclusão de informação relativa ao
processo do estudante, ao longo do
Ensino Secundário, possibilitaria ob-
ter uma informação mais contextual
sobre o desenvolvimento intelectual
do aluno bem como dados sobre ou-
tro tipo de inteligência, para além da
cognitiva. Por exemplo a inteligência
emocional relacionada com a capa-
cidade de o candidato perceber os
sentimentos dos outros, ter consciên-
cia do seu caracter, emoções e senti-
mentos e saber aplicá-los para bene-
fício social. Um estudo feito em 2011
(Albino, 2011) concluíu, por exemplo,
que o exame de admissão de Mate-
mática elaborado na UP, no ano de
2009, foi difícil (considerando as aná-
lises ao nível de dificuldade), possui
fraca fiabilidade e validade, ou seja,
não reflecte a medida de inteligência
dos candidatos sujeitos ao teste. Com
estas conclusões, foi recomendado
a introdução de procedimentos im-
portantíssimos à elaboração de exa-
mes, nomeadamente, a concepção do
blueprint (também chamado de tabela
de especificações) para elaboração de
testes.
A proposta de inclusão do histórico
escolar tem como pressuposto o facto
de que o Ensino Geral ou Técnico-
-Médio, seja fiel aos seus programas
de ensino, em especial no que se refe-
re ao cumprimento do mesmo, com o
15
rigor necessário para que se atinja os Figura 2. Distribuição da insegurança alimentar pelo País.
objectivos cognitivos (inicialmente)
definidos, para além dos psico-moto-
res e afectivos.
No artigo que publicamos na sema-
na passada, foi mencionado sobre as
competências de leitura, escrita e cál-
culo que os alunos da 3ª classe pos-
suem. Por outro lado, fizemos uma
referência à eficiência interna da 12ª
classe, demonstrando os desafios ele-
mentares que o nosso sistema enfren-
ta. Com estas menções, percebe-se
que não se trata apenas de optar por
este ou aquele modelo, mas há que
criar as bases para que, qualquer mo-
delo adoptado, possa responder às ne-
cessidades de um sistema tipicamente
moçambicano, com as características
específicas do nosso contexto, da rea-
lidade do nosso povo. Assim, faz-se
indispensável repensar-se na necessi-
dade de um teste de cultura geral, com
perguntas abertas e redacção, aplicá-
vel à todos os candidatos, de todos os
cursos. Estes elementos, conjugados,
permitiriam uma melhor caracteriza-
ção do potencial dos candidatos, que
tendem a aumentar.
Com esta referência, o papel das esco-
las secundárias e instituições de En-
sino Técnico-Médio seria vital para
a preparação dos alunos ao Ensino
peito, a UNESCO admite que os exa-
mes são verdadeiros Gatekeepers, quer
para o Ensino Superior, quer para o Fonte: Projecção Fews Junho-Setembro 2020.
ingresso à vida profissional, pelo que
a responsabilidade destas instituições exames iria implicar uma gestão de-
36 países, revelou que no Peru, onde
de Ensino Médio (Geral Ou Técni- licada a nível das escolas, uma vez que
se contemplou 319 escolas primárias,
co-Médio) é extremamente grande. as salas usadas para estes exames, vol- não houve qualquer evidência de me-
Daí ser fundamental o investimento tarão a estar ocupadas com as aulas do lhoria das competências de cálculo ou
na provisão de recursos ao Ensino 3º trimestre que iniciam no dia 24 de de línguas, para além de que o efeito
Secundário para a contratação de re- Agosto. Um total cancelamento dos na assiduidade dos alunos não regis-
cursos humanos, apetrechamento de exames em Agosto, poderia implicar tou melhorias (IDB, 2012).
laboratórios e outros afins. Entretan- a sua realização na 1ª ou 2ª épocas, Alguns países como a França, Itália,
to, a necessidade do investimento no em Novembro e Dezembro, tal como Reino Unido, China, Holanda, Es-
Ensino Médio não se resume à estes acontece com os exames nacionais da panha, Estados Unidos, Hong Kong,
dois aspectos associados à “saída”, mas vizinha África do Sul, onde a MA- Índia, Paquistão, Malásia, Vietname,
à constatação empírica dos retornos. TRIC prevista para Maio/Junho des- Irlanda e algumas regiões da Ale-
Ora vejamos: segundo o World Econo- te ano, será realizada em Novembro. manha, adiaram e/ou cancelaram os
mic Forum, o investimento no Ensino Um aspecto que deverá preocupar é seus exames finais e/ou de admis-
Secundário na África Subsaariana, sobre os conteúdos a serem avaliados, são ao Ensino Superior, sendo que a
permite um retorno de 24,6% à renda de facto, considerando que o presen- lista cresce a cada semana, fazendo
individual (Psacharopoulos & Patri- te trimestre, que encerra(ria) a 30 de lembrar o cancelamento dos exames
nos, 2004). Como estruturas perfei- Abril, está altamente comprometido, nacionais na França, após a agitação
tamente dependentes, muito longe do mesmo considerando os esforços para civil que se estendeu ao longo do mês
elitismo que permeia alguns corredo- que o contacto com os conteúdos seja de Maio de 1968. Em Moçambique,
res universitários (as “torres de mar- mantido. Este sim, será um gran- esta possibilidade é ainda prematura,
fim”), parece-nos claro que o sucesso de desafio para o País, com algumas porém, a título inicial, a possibilidade
do Ensino Superior, depende muito excepções, nomeadamente, o Ensino de adiamento dos exames extraordi-
do seu recurso inicial, o graduado do Privado. Em 2006, um estudo revela- nários já deverá merecer alguma aten-
Ensino Médio. Servindo-nos agora va que apenas 3 (três), em cada 100 ção, sendo que para os exames nacio-
de uma analogia fabril, na educação (cem) alunos, possuíam televisão em nais, há que reflectir profundamente
há uma combinação de recursos de casa e, no meio urbano, 7 (sete), em sobre que conteúdos seriam sujeitos
trabalho e capital, para a produção cada 100 (cem) alunos, tinham acesso à avaliação, numa altura em que o
de graduados, neste caso, os melhores à um computador (UNESCO, 2006). novo regulamento de avaliação previa
candidatos para o Ensino Superior. Entre os países da OCDE, 8 (oito), a avaliação dos conteúdos de última
Voltando às questões iniciais, e à em cada 10 (dez) alunos, de escolas classe do ciclo.
margem do exame de admissão, cer- desfavorecidas, possuem, pelo menos, Moçambique ainda vive o início do
ca de 46% do total de candidatos à um computador (em média), sendo impacto da pandemia e já se ressen-
Universidade Pedagógica de Maputo que, na Indonésia, apenas 1 (um), em te da mesma, contudo, os aftershakes,
terá concluído o Ensino Médio no cada 10 (dez) alunos, tem um com- a médio prazo, são imensos, e alguns
ano lectivo imediatamente anterior ao putador. imprevisíveis, tocando várias dimen-
exame. Portanto, é necessário que se Por outro lado, há que questionar o sões e, portanto, não há como disso-
reflicta também sobre os possíveis ce- uso de tecnologias de informação e ciar estas realidades que envolvem
nários para os exames finais do Ensi- comunicação e seu real impacto na o dia-a-dia do futuro candidato ao
no Secundário, incluindo um possível melhoria das competências básicas. Ensino Superior, requerendo, deste
adiamento dos exames extraordiná- Em 2012, durante a avaliação do modo, sensibilidade e empatia dos
rios cuja inscrição já inicia no próxi- projecto “One Laptop Per Child”, que decisores, a todos os níveis, mas tam-
mo dia 04 de Maio, até 15 do mesmo permitiu a distribuição de mais de bém muita compreensão por parte das
mês. Um possível adiamento destes dois milhões de computadores, por famílias.
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16 Savana 24-04-2020

Recomendações para mitigação do impacto sócio-económico do COVID 19

Apenas 1/5 das famílias em situação de pobreza extrema, concentrando-se a maioria nas zonas rurais, recebe
algum tipo de protecção através do Sistema de Segurança Social Básico, considerando que 55% a 60% da
população, quase 16 milhões de pessoas, vivem abaixo do limiar da pobreza (MEF, 2019).
Policy Brief
O encerramento das escolas, o baixo nível de alfabetização de grande parte da população rural e as pressões de
Recomendações para mitigação sobrevivência económica dos pais dificultaram o acompanhamento do ensino das suas crianças, colocando um
do impacto sócio-económico do COVID 19 grande desafio ao ensino à distância proposto pelo MINEDH, podendo originar um possível abandono escolar e o
agravamento dos índices de aproveitamento pedagógico.
O presente Policy Brief sumariza uma análise sobre os principais aspectos sócio-económicos a considerar Num possível cenário 4, a medida de confinamento total (lockdown) das populações rurais será praticamente
no contexto do Cenário 3 e 4, em Moçambique, em resposta à pandemia da COVID-19, tendo em conta a impensável, uma vez que a sua sobrevivência depende do acesso à machamba1 , ao mercado ou à fonte de
declaração do Governo sobre o Estado de Emergência a partir de 1 de Abril de 2020 e as recentes medidas água próxima.
anunciadas.
Atenção às zonas rurais fronteiriças onde houve maior mobilidade.
O documento contém, ainda, um conjunto de recomendações para os diferentes sectores do Governo, por No centro e norte do país, particularmente na província de Cabo Delgado, será ainda um desafio maior a tomada de
forma a contribuir para as estratégias de mitigação dos riscos e o impacto sócio-económico a curto e médio medidas de prevenção da pandemia do COVID-19 pelas comunidades afectadas pelo conflito armado, sendo
prazo, com enfoque para os grupos sociais mais vulneráveis e desprotegidos economicamente, com intuito necessário uma atenção especial a estas comunidades.
de garantir que as actuais e futuras acções governamentais observem os direitos humanos, a segurança e a
protecção social dos cidadãos, em especial das mulheres, crianças, idosos, pessoas com doenças crónicas Para as Zonas Urbanas:
e com deficiência. Estas recomendações poderão ser, igualmente, úteis para as iniciativas e intervenções De modo geral as áreas
Trinta e quatro por cento (34%) da população do país é económicas que tem sido
das organizações da sociedade civil para apoiar a resposta à actual pandemia no país.
mais afectadas pela
Apesar do crescimento de uma classe média com razoável poder pandemia do COVID19, são
PRINCIPAIS ASPECTOS SÓCIO-ECONÓMICOS A CONSIDERAR: económico, a grande maioria da população urbana e periurbana é o turismo, hotelaria e
constituída por cidadãos com grande vulnerabilidade económica, sujeitos a restauração, transportes;
Para as zonas rurais: uma queda total ou elevada no seu rendimento, e ao desemprego.
mercados grossitas e a
Para uma implementação eficaz Destacam-se como grupos mais vulneráveis: vendedores ambulantes e em
mercados formais e informais, maioritariamente mulheres e jovens,
retalho, médias e pequenas
e com mínimos riscos, é 81% empresas do secto terciário.
66% da população da população especialmente as “muqueristas”2 ; trabalhadores por conta própria em
fundamental que as medidas e depende da
moçambicana A maior parte da força pequenos negócios, “chapeiros”; trabalhadores domiciliares:
acções adoptadas na resposta à vive nas
agricultura para
de trabalho está jardineiros e guardas, entre outros, e trabalhadores do sector público ou privado com empregos de baixa renda;
a subsistência
pandemia da COVID-19 zonas rurais.
(UNICEF).
concentrada na
agricultura (8,2 milhões
considerem as especificidades de moçambicanos), Grande número de trabalhadores “por conta própria” e do sector informal não inscritos no INSS e sem acesso aos
existentes nos meios rurais e As mulheres sendo que 25% do PIB programas de Protecção Social.
Moçambicano advém
urbanos, bem como no seio dos compõem a
do Sector Agrário
diferentes grupos populacionais principal força
(Banco Mundial, IESE).
A maioria dos trabalhadores domésticos sem contrato de trabalho e não inscritos no INSS, sujeitos à boa vontade dos
de trabalho empregadores para receberem salário.
e as condições locais de cada agrícola no
Zonas periurbanas de alta densidade demográfica, pouca
região do país. país.
salubridade e condições habitacionais precárias com fraco
PREVENÇÃO, EDUCAÇÃO E FRACO ACESSO À
acesso à água e saneamento ( incluindo água potável).
O alastramento da pandemia, nas zonas rurais, poderá representar INFORMAÇÃO
uma enorme queda na produção alimentar agravando a actual IGUALDADE DE GÉNERO E VIOLÊNCIA
Fraca organização administrativa dos bairros.
insegurança alimentar e gerando uma crise humanitária para todo país Apenas 4,3% da população tem
(IESE).
Em ambos contextos, rural e 01 acesso à internet (Sekelekani). Famílias numerosas em habitações pequenas com apenas um
urbano, é preciso considerar a
Há fraco acesso aos serviços e infra-estruturas de saúde com qualidade, a dois compartimentos, sem quintal ou quintal compartilhado.
probabilidade de um aumento da
difícil acesso à água e saneamento básico e à informação. 45,5% das famílias moçambicanas
violência baseada no género e Elevado número de famílias lideradas por mulheres cuja renda é
possuem um receptor de rádio, e o
violência doméstica, contra a diária e advém da venda de produtos, sendo que 33% dos
24%
das famílias
moçambicanas, 43% das crianças,
mulher, criança, incluindo idosos 02 acesso à televisão é de 19,55% nos agregados familiares são chefiados por mulheres.
particularmente
com idades
meios urbanos e apenas 1.1% nas
nas zonas rurais,
compreendidas
e pessoas com deficiência face Elevado número de pessoas sem abrigo, em especial crianças
vive uma situação
entre os 5 meses
zonas rurais.
de insegurança
e os 5 anos,
sofrem de
às medidas de confinamento órfãs, pessoas com deficiência e idosos sem fonte de rendimento.
alimentar crónica
(PMA).
desnutrição social. A telefonia móvel é o meio com
crónica.
Transportes públicos que permanecem superlotados, apesar da
03 maior expansão no país, e muitos medida de redução de passageiros e transportadores sem
Agravamento generalizado das condições de vida com os recentes É, igualmente, provável o telefones móveis têm aplicativos de capacidade de cobrir os custos de deslocação da viatura.
desastres naturais (Ciclones IDAI e KENNETH). aumento da sobrecarga do rádio.
trabalho da mulher, e a violação Fraca higiene e limpeza dos espaços públicos.
Protecção social nas zonas rurais é quase nula, existindo apenas
dos seus direitos. A rádio é, ainda, o meio de
programas de segurança social básica, dirigidos a grupos limitados A maioria dos mercados informais e formais não oferece, ainda,
considerados de maior risco, que se baseiam em transferências 04 comunicação de maior alcance,
as condições de higiene adequadas e devida organização para
monetárias ou intervenções de serviço social junto às famílias. potenciado com a existência de
o cumprimento eficaz das medidas de prevenção da pandemia
rádios comunitárias.
Em 2019, o orçamento do sector da Acção Social representava apenas 0,7% do PIB e os programas de Protecção do COVID-19.
Social do INAS abrangeram apenas 609,405 famílias, em todo País.

01 1
Campo de cultivo de produtos agrícolas.
02
2
Revendedores informais.

Recomendações para mitigação do impacto sócio-económico do COVID 19 Recomendações para mitigação do impacto sócio-económico do COVID 19

RECOMENDAÇÕES RECOMENDAÇÕES SECTORIAIS PARA ÁREAS ESPECÍFICAS

As recomendações que se seguem têm aplicação para a actual fase de implementação das medidas de nível 3
decretadas ao abrigo do Decreto de Estado de Emergência, porém são igualmente importantes para a preparação de
condições, caso se verifique a necessidade de se avançar para um cenário de nível 4, com a aplicação de medidas
Protecção e Segurança Social
mais rigorosas, incluindo um possível “lockdown”. Assim, e perante o que se expõe acima, recomendamos:
1. Estudar a possibilidade da introdução de um rendimento básico universal para todos aqueles que não
estão inseridos em nenhum sistema de segurança social e que sejam a maioria dos trabalhadores do mercado
informal e trabalhadores por conta própria. (MEF, MT)
Recomendações Gerais para o Governo
2. Considerar a hipótese de revisão da legislação sobre a segurança social, por forma a que o INSS possa
introduzir um subsídio de desemprego de Estado de Emergência, que abrangeria não apenas os beneficiários
1. Adoptar mecanismos que permitam uma maior coordenação intersectorial, tendo em conta não só os inscritos no sistema, independentemente do seu histórico contributivo, até a empresa retomar a actividade, mas,
aspectos ligados à Saúde Pública, todavia todas as dimensões da pandemia que contribuam para uma melhor também, os trabalhadores informais inscritos no sistema. (MT, INSS)
resposta e que visem reduzir o impacto sócio-económico das medidas que serão adoptadas.
3. Ponderar a integração no sistema de segurança básico dos trabalhadores domésticos não inscritos no INSS
2. Garantir a articulação destes mecanismos de coordenação intersectorial com a Sociedade Civil. (empregados/as domésticas/os, guardas, e outros), cujos empregadores tenham deixado de ter condições
financeiras para lhes pagar um salário. (MGCAS)
3. Criar, à semelhança da Comissão Cientifica estabelecida, Comissões Sectoriais ou Grupos de Trabalho
4. Revisão dos critérios de elegibilidade para os programas de Segurança Social Básica, para que se possa
para as Principais Áreas sócio-económicas (Ex.: Economia, Segurança Alimentar, Protecção Social, Informação e
alargar o leque de beneficiários a trabalhadores do mercado informal ou em situação de auto-emprego afectados
Comunicação, etc.). Utilizar o conhecimento e “knowhow” de quadros moçambicanos que tenham uma longa
pela situação presente. (MGCAS)
experiência nas diferentes áreas relevantes para a gestão da crise nestes grupos/comissões.
5. Promover acções de solidariedade interna. Adoptar iniciativas como o Banco de Solidariedade, um fundo
4. Usar, nos mecanismos de coordenação do governo, a experiência acumulada em gestão de desastres do de contribuição dos cidadãos, destinado aos grupos mais afectados e/ou reforço dos sectores na linha de frente no
combate à pandemia.
INGC e os mecanismos já instituídos, tais como o Conselho Nacional de Emergência e Conselho Nacional
Operativo de Emergência, por forma a maximizar o uso dos recursos, tanto humanos como materiais e financeiros. 6. Usar as lições e experiências resultantes da actual situação para repensar o Sistema de Protecção Social e
Segurança no País. (MT e INSS)
5. Adequar os planos e orçamentos do Estado (geral e sectoriais) à nova realidade, para garantir uma
aplicação contextualizada das medidas de prevenção adoptadas e da redução dos impactos negativos 7. Criação de linhas de informação e assistência, em caso de violação dos Direitos Laborais. (MT)
sócio-económicos daí resultantes.
6. Na revisão dos planos e orçamentos do governo, a nível central e local, deve-se garantir que sejam Acção Social:
priorizadas as áreas da saúde, protecção e acção social e economia, adiando os programas e actividades não
8. Identificação de famílias e pessoas em extrema pobreza, tais como: idosos desamparados, crianças e
muito prioritárias.
adolescentes na rua, pessoas sem abrigo que necessitarão de apoio alimentar e de abrigo temporário, garantindo
7. Reforço da coordenação com os países da região e do continente, incluindo a aprendizagem de que sejam integradas no sistema social básico ou em instituições vocacionadas para o efeito. (MGCAS)
experiências bem-sucedidas em outros países, nas medidas adoptadas. 9. Zelar as peças e condições existentes em todos os lares de idosos, orfanatos e outras instituições que
abrigam pessoas vulneráveis (alimentação, material de higiene e protecção, observância rigorosa das medidas de
RECOMENDAÇÕES GERAIS AOS GOVERNOS LOCAIS E MUNICÍPIOS protecção, acompanhamento do estado de saúde de utentes e cuidadores, para a detecção precoce de qualquer
PARA MAPEAMENTOS E LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS situação de risco). (MGCAS)
10. Organizar equipas de voluntários, devidamente protegidos, que realizem acções de apoio às pessoas ou
A identificação dos casos de famílias onde Levantamento, mediante critérios bem famílias que, estando em quarentena obrigatória, não têm como se abastecer de produtos de primeira necessidade
(efectuar as suas compras, fornecer apoio presencial). (SEJ, CNV, CVM).
01 existam idosos e doentes crónicos ou outros
com doenças que podem ser um factor de risco
estabelecidos, de famílias ou pessoas em maior
vulnerabilidade ao impacto negativo económico e
11. Apoiar as iniciativas já existentes de linhas de apoio telefónico psicossocial e divulgá-las. (MGCAS, MISAU)
(tuberculose, HIV, ou cancro, por exemplo). 05 social que as actuais medidas e restrições
resultantes do Estado de Emergência já estão a 12. Promover acções de apoio aos trabalhadores de saúde e outros trabalhadores na linha da frente no
A verificação das condições habitacionais para criar, e que se irão agravar caso entre em vigor o combate à pandemia. (MGCAS, MISAU)
as medidas de quarentena, isolamento ou confinamento obrigatório para todos.
02 distanciamento social ou, ainda, caso se decrete Direitos humanos, em particular, das mulheres e crianças:
o confinamento total (previsto nas medidas do Identificação de famílias sem o acesso aos meios
nível 4 de alerta) para determinar quem de informação (rádio, telemóvel, etc.) para que 13. Realização de acções de sensibilização sobre os direitos humanos a serem protegidos, em particular,
precisará de abrigo temporário. 06 possam receber equipamento. direitos da mulher e da criança em tempo de crise.
14. Garantir linhas telefónicas e outras de assistência, em caso de violência doméstica e violência baseada no género.
Identificação de alternativas viáveis, caso as Para estes levantamentos, os governos locais e
condições habitacionais em determinadas zonas municípios deveriam receber o apoio técnico do 15. Reforçar as campanhas e medidas contra a violência baseada no género, bem como a violação e o abuso sexual de menores. (MGCAS)
03 não permitam o confinamento seguro. Por INE e do MGCAS, através do INAS. As equipas 16. Divulgar mensagens que promovam a participação de todos os membros da família nos trabalhos
exemplo, mapeamento de instalações públicas que realizarem estes levantamentos poderiam
ou privadas que, em caso de necessidade, 07 contar com o apoio de quadros e activistas das
domésticos e o cuidado de doentes e outros, evitando a sobrecarga na mulher.

possam ser usadas como abrigo temporário organizações da sociedade civil presentes em Sensibilização, Informação, Divulgação
para as pessoas ou famílias sem condições e cada região, devidamente preparados para o
sem abrigo. efeito. 17. Intensificar acções de informação e sensibilização, não apenas relacionadas à doença em si, mas, também,
com o que melhor pode contribuir na implementação das medidas de prevenção e outros aspectos relevantes, tais
Identificação de famílias com idosos ou doentes como..... (GABINFO, equipa já estabelecida nesta área)
04 em situação de maior risco. 18. Garantir que todas as mensagens sejam, não apenas traduzidas para as línguas nacionais, mas,
sobretudo, que sejam culturalmente e contextualmente adaptadas à realidade de cada local. 04
03
 OPINIÃO
Savana 24-04-2020 17

Medo e ansiedade social podem ser mais

perigosos do que o próprio vírus
Por Arild Drivdal*

É
natural que uma pandemia seja
acompanhada de medo e ansie-
dade social, um aspecto psico-
lógico das pandemias que deve
ser gerido tão eficazmente quanto os
aspectos mais tangíveis do sistema de
saúde, como promover medidas de
prevenção e preparar pessoal médico
e equipamento hospitalar para uma
afluência de pacientes com necessida-
de de tratamento. O medo é a reação
emocional e, muitas vezes, irracional
que temos à iminência de perigo per-
cebido ou real, enquanto a ansiedade
social é o medo de ser julgado ou re-
jeitado pelas pessoas ao nosso redor.
O director-geral da OMS apontou os
riscos numa conferência de imprensa
no início de Março, quando disse: “O
estigma é mais perigoso do que o pró-
prio vírus”.
Num indivíduo, o medo e a ansiedade
social podem causar depressão, stress,
aumento da frequência cardíaca e
pressão arterial mais alta, além de au-
mentar o risco de doenças cardíacas,
o que ironicamente pode aumentar
o risco de morte por coronavírus se
infectado. Também pode afectar a
forma como avaliamos o nosso ris-
co pessoal, como reagimos ao risco
e como interagimos com as pessoas
ao nosso redor. Duma perspectiva de
saúde pública, sabe-se há muito tem-
po que o estigma e a discriminação,
que decorrem do medo e da ansiedade
social, directos, indirectos ou anteci-
pados, reduzem a probabilidade de
as pessoas com sintomas procurarem
atendimento médico, negligenciarem
medidas de prevenção e, desse modo,
contribuírem para o aumento das ta-
xas de transmissão.
Em termos práticos, isso significa que
uma pessoa com sintomas da Co-
vid-19 pode decidir ocultar o facto de
estar doente por medo de ser estigma-
tizada. Ela pode até decidir deixar sua
casa para retornar à aldeia onde nas-
ceu, potencialmente levando o vírus
para lá e expondo outros no transporte
público em que viajou para lá chegar.
Essa dinâmica é exacerbada quando
o estigma se associa à raça, aparência
ou outras características de grupo. Por
exemplo, algumas pessoas aparente-
mente de origem chinesa foram es-
pancadas nos países africanos porque
estavam associados ao coronavírus, e
o mesmo parece ter acontecido com
os africanos na China, quando foram
acusados de fazer ressurgir os casos
da Covid-19 naquele país. Quando o
medo e a ansiedade social estão fora
de controlo, a violência das multidões
geralmente não está longe. É fácil
imaginar um cenário em que os mem-
bros da comunidade possam espancar
ou até matar um de seus vizinhos se
ele for acusado de ser um propagador
de doenças. Isso pode acontecer por-
que o processo cognitivo envolvido é
impulsionado por emoções e não pelo
pensamento racional. Precisamos re-
duzir o medo e a ansiedade social.
No contexto da pandemia, um aspecto
dessa dinâmica é que as pessoas geral-
mente acreditam que correm mais ris-
cos do que a realidade, uma percepção
impulsionada em parte pela comu-
nicação inadequada e, em parte, pela
desinformação activa, desconfiança
e superstição. Qualquer pessoa pode
estar infectada porque o vírus não
discrimina as pessoas. Portanto, não
significa que você é uma boa ou má
pessoa se for infectado, mas o risco de
infecção depende muito de onde você
mora, onde trabalha e que medidas
preventivas você toma a nível pessoal
(lavar as mãos, usar máscaras, seguir a
etiqueta da tosse, evitar estar em gru-
pos, proteger os idosos). É importante
ressaltar que o risco de morte pela Co-
vid-19 em Moçambique é baixo por
causa da estrutura populacional jovem,
e isso deve afectar a forma como ava-
liamos nosso risco pessoal e, portanto,
como reagimos: seguir as orientações
do MISAU, manter a calma e não es-
tigmatizar ou discriminar aqueles que
forem infectados.
A formação da resposta psicológica da
população à pandemia, tanto em ter-
mos de superação de barreiras à pre-
venção, cuidados e tratamento, como
na definição de como interagimos
com as pessoas ao nosso redor, resu-
mem-se em grande parte à comunica-
ção em saúde ou, às vezes, a chamada
comunicação de risco. Os objectivos
da comunicação normalmente in-
cluem ajudar as pessoas a reconhecer
sintomas, tomar medidas preventivas e
procurar tratamento, mas a comunica-
ção também deve abordar a natureza
da exposição (uma pessoa não é boa
nem má se for infectada), probabilida-
de de morte (baixa) e construir con-
fiança nas orientações dadas pelas au-
toridades de saúde (importantes para
adesão e resultados positivos). É difícil
construir confiança a curto prazo se as
pessoas geralmente não confiam nas
autoridades, mas existem vários passos
simples que podem ser tomadas para
melhorar a comunicação, que por sua
vez criarão confiança, reduzirão o es-
tigma, o medo e a ansiedade social e
aumentarão a eficácia das medidas de
prevenção.
Políticos de alto nível precisam sina-
lizar liderança e um senso de contro-
le. Eles podem se inspirar em como
a chanceler alemã Angela Merkel e
o governador de Nova York Andrew
Cuomo foram reconhecidos e aplau-
didos em resultado da gestão com-
petente da crise, exactamente porque
projectam liderança e controle. Ao
mesmo tempo, os comunicadores
precisam reconhecer os medos e an-
siedades das pessoas, sendo abertos,
tranquilizadores e pedagógicos na
sua abordagem, explicando porquê
algumas medidas são necessárias e o
que as pessoas podem esperar. Deve-
rão encurtar as suas conferências de
imprensa, serem claros e focados nas
principais informações (uma apre-
sentação de 15 minutos é suficiente),
seguindo o princípio de que menos é
mais e devem repetir incansavelmente
as medidas básicas de prevenção até
que cada pessoa no país as conhe-
ça. Quando o objectivo é informar o
público em geral, não são necessários
termos técnicos de saúde pública ou
linguagem médica. Eles devem deli-
berada e sistematicamente trabalhar
para eliminar o estigma e a discrimi-
nação usando a linguagem com cui-
dado, e podem convidar pessoas que
recuperaram para contar a sua história.
Eles devem também combater activa-
mente o fluxo constante de desinfor-
mação, desconfiança e superstição que
poluem a mente das pessoas e causam
confusão. A desinformação é como
uma erva daninha que cresce demais
na machamba, impedindo que todos
separemos o bem do mal.
*Assessor técnico sénior da H2N. Mes-
trado em Saúde Pública

Recomendações para mitigação do impacto sócio-económico do COVID 19 Recomendações para mitigação do impacto sócio-económico do COVID 19

19. Publicitar mais ainda as linhas para o atendimento ao público, tanto as já existentes como as que forem BREVES CONCLUSÕES:
criardas sobre saúde, apoio psicossocial, assistência em caso de violência doméstica e violência baseada no
género; violação de direitos e questões laborais, e direitos humanos, em geral. - O Governo deverá garantir uma coordenação intersectorial a todos os níveis, central, provincial e distrital, envolvendo
a sociedade civil, permitindo a maximização de esforços e recursos para reduzir os danos sociais e económicos que
20. Maior apoio às rádios comunitárias, em particular, as que possuem materiais para divulgação. já estão a ser causados, no contexto de Estado de Emergência, e que poderão se agravar e originar uma crise
humanitária sem precedentes.
21. Promover o uso da cultura como veículo de mensagens, em especial, a música e o teatro radiofónico. - É crucial que as estratégias e medidas para a mitigação tenham em conta as especificidades da realidade urbana e
rural, e observem continuamente os direitos humanos, especialmente os direitos das mulheres e crianças, idosos,
22. Desenvolver uma estratégia para o combate à desinformação e divulgação de notícias falsas nas redes doentes crónicos, e as pessoas com deficiência.
sociais. - É fundamental que os cidadãos, sobretudo as famílias mais carenciadas, possam ter o acesso à informação, à
segurança alimentar e à protecção social, o que requererá de uma imediata revisão de todo Sistema Nacional de
Educação: Protecção e Segurança Social.
23. Com o ensino à distância, garantir que os conteúdos curriculares, em formato de rádio-aulas, alcancem o
maior número de crianças possível, mesmo nas zonas mais recônditas, usando rádios comunitárias, garantindo que LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
as famílias mais pobres possam ter acesso ao rádio. (MINEDH) DNA Direcção Nacional de Águas
24. Delinear programas de recuperação, para o período posterior ao reinício das aulas, em especial, para as GABINFO Gabinete de Informação
crianças que não foram alcançadas com o ensino à distância. (MINEDH) IESE Instituto de Estudos Sociais e Económicos
INAS Instituto Nacional de Acção Social
25. Preparar as escolas e os professores para o retorno às aulas, garantindo as condições de higienização das INSS Instituto Nacional de Segurança Social
mesmas. (MINEDH) MARD Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural
MEF Ministério da Economia e Finanças
26. Promover acções de sensibilização para que não se verifiquem desistências de crianças, para o período de
MGCAS Ministério do Género Criança e Acção Social
reabertura das escolas, e que durante o confinamento, os direitos das crianças sejam salvaguardados. (MINEDH)
MIC Ministério da Indústria e Comércio
MISAU Ministério da Saúde
27. Criar linhas de atendimento para a assistência aos pais e encarregados de Educação.
MTESS Ministério do Trabalho Emprego e Segurança Social
28. Desenvolver parcerias estratégicas com as escolas privadas no desenvolvimento dos conteúdos pedagógi- MTC Ministério dos Transportes e Comunicações
cos para vídeo-aulas ou rádio-aulas. PMA Programa Mundial de Alimentação
SETSAN Secretariado Técnico de Segurança Alimentar Nacional
Nutrição e Segurança Alimentar UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

29. Monitoria permanente da situação de segurança alimentar, disponibilidade de produtos alimentares no

mercado e de combate à inflação dos produtos de primeira necessidade. (Ministério da Agricultura e Ministério da
Industria e Comércio)

30. Garantir que a comercialização de produtos agrícolas seja feita em todo o país. (Ministério da Indústria e BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
Comércio e Ministério da Agricultura)
31. Incentivar uma maior produção de bens alimentares pela Indústria nacional para reduzir a necessidade de CASTEL-BRANCO, Ruth e ANDRÉS, Ruben Vicente (2019): “Rumo à Segurança Social Universal para a Pessoa Idosa
importações. (Ministério da Indústria e Comércio) em Moçambique”, OIT, Maputo, Moçambique
CASTEL-BRANCO, Ruth, (2020) : “O trabalho e protecção social num contexto de Estado de Emergência”, Southern
32. Promover e enraizar hábitos alimentares saudáveis, assentes na produção local de vegetais, fruta, Centre For Inequality Studies, University of the Witwatersrand, Johannesburg
tubérculos e cereais. (SETSAN) CASTEL-BRANCO, Ruth (2019), “ O trabalho doméstico em Moçambique: uma década após a sua formalização” ,
33. Incentivar a produção de hortas familiares, divulgando-se técnicas simples de produção hortícula e Estudo a pedido do Fórum Mulher, com o apoio da Open Society Foundation,
facilitando a aquisição de sementes. (SETSAN) Maputo
Gender in Humanitarian Action (Asia and the Pacific)(2020): “The COVID-19 Outbreak and Gender: key advocacy
34. Divulgar técnicas simples de conservação de alimentos. (SETSAN) points from Asia and Pacific”
INE (2017). Censo Populacional
Água e Saneamento Ministério do Género Criança e Acção Social (2019): Informe Orçamental: Acção Social, Moçambique 2019
Ministério do Género, Criança e Acção Social (2018): Apresentação sobre a Protecção Social Básica, Maputo
35. Colocação, particularmente nos meios urbanos, de depósitos de água em zonas mais afectadas pela falta QUIVE, Samuel António (2007): “Protecção Social em Moçambique: uma rede furada”, CIEDIMA, Maputo
de água e criar comités comunitários, para o controlo da sua utilização. (Municípios) SIÚTA, Moisés e SAMBO, Michael (2020): “COVID-19 em Moçambique: dimensão e possíveis impactos”, IESE, IDeIAS,
Maputo, Moçambique
36. Distribuir sabão às pessoas e famílias mais vulneráveis. (Municípios) UNICEF (2017). Relatório sobre Nutrição em Moçambique. Acessado em: https://www.unicef.org/mozambique/nu-
tri%C3%A7%C3%A3o
37. Acelerar os programas de criação de novas fontes de água ou reabilitar as já existentes. (Direcção Nacional
WATERHOUSE, Rachel (2008): “Vulnerabilidade em Moçambique: padrões, tendências e respostas” , estudo para o
de Águas)
SETSAN, Maputo.

Transportes Públicos
38. Estudar a possibilidade de bonificar o preço dos combustíveis, para os transportadores que mantiverem as
suas viaturas em funcionamento, durante a vigência do Estado de Emergência. (Ministério dos Transportes)
39. Estudar a possibilidade de suspender, durante o Estado de Emergência, o pagamento de qualquer taxa
cobrada aos transportadores. (Ministério dos Transportes)
Contactos-Sede: Av.Julius Nyerere nº 258, Maputo-Moçambique
40. Sensibilizar, cada vez mais, os transportadores e o público, em geral, sobre a importância das Telefones: +258 845108505/824708431 06
medidas de prevenção do COVID-19 adoptadas para a área de transportes. (Ministério dos Transportes) 05 Fixo: +258 21487552 Fax: +258 21487565
Email: info@cescmoz.org
 OPINIÃO
18 Savana 24-04-2020

Cartoon
EDITORIAL
Pobreza e injustiça não
são as causas da guerra
em Cabo Delgado
M
oçambique é uma sociedade patologicamente deformada, com desigual-
dades sócio-económicas que devem estar entre as mais altas do mundo.
O seu coeficiente GINI, que numa escala de zero a 100 mede o nível
de desigualdade na distribuição de rendimentos entre as famílias mais
ricas e as mais pobres, situava-se em 2018 na região de 40, segundo dados do Banco
Mundial. Um coeficiente de zero significa equidade absoluta, e 100 o inverso.
Não é difícil, por isso, atribuir todos os problemas que o país enfrenta à pobreza
e às significativas desigualdades económicas e sociais. Falar da pobreza como cau-
sa de todos os problemas é tão óbvio como dizer que depois do domingo vem a
segunda-Feira.
É por isso que para ocultar o verdadeiro problema, se torna muitas vezes conve-
niente dizer que a crise de insegurança que se vive em Cabo Delgado é resultado da
pobreza e das injustiças que se abatem sobre aquela província, especialmente nesta
época de exploração de valiosos recursos naturais.
Nota-se ainda um esforço para dar a ideia de que os problemas de Cabo Delgado

Falência dos zeladores

são resultado de políticas erradas adoptadas pelo governo em relação à explora-
ção dos recursos naturais que abundam naquela região, nomeadamente minerais e
hidrocarbonetos. Cita-se com muita frequência os fracassos nas políticas de reas-
sentamento e na expropriação de terras sem a devida compensação, como factores

A
que terão contribuído para o surgimento de uma onda de descontentamento que
conduziu à actual revolta. quela frase chavão, que fa- “suspenso” entre dimensões - como os autoridades apuram o que pode explicar
Pode ser que isso corresponda à verdade. Houve muitos erros que organizações da zia a felicidade dos tradicio- espíritos. Ou não lemos todos que essas infecções.» - li hoje.
sociedade civil tiveram a oportunidade de apontar no devido momento, mas que o nalistas: “É reconfortante o coronavírus é pouco mais do que Duzentos mil mortos para já, e para
governo, no seu instinto autocrático e imparável corrida para dar resposta à pressão saber que os mortos zelam um pacote de material genético en- além desta cifra, afinal o corona pode
exercida pelas petrolíferas e outras multinacionais mineiras, ignorou completamen- pelos vivos!”, hoje, só causará des- volvido por uma casca de proteína, desabrochar de novo, entre os que se
te. Em alguns casos, perante tais advertências, o governo tratou essas organizações conforto, porque ecoa esvaziada de com um milésimo da largura de uma “curarem”, expondo-os de novo à sorte
da sociedade civil como criminosos. qualquer sentido, pertinência, ou, pestana, e leva uma existência seme- da lotaria. Como não intuir que os tão
Regimes autocráticos têm esta tendência de acreditar que se o que estiverem a imagine-se, de corpo. lhante à de um morto-vivo, de tal baixos números apresentados em Áfri-
fazer é para o benefício da maioria, então não precisam de dialogar com ninguém, Os registros de mortes pularam de 30 modo que só com reservas se consi- ca resultam de por aqui ser reduzido o
e não se sentem na obrigação de terem que explicar aos seus cidadãos (que são mil para 40 mil  nos Estados Unidos, dera um organismo vivo? número de testes? Cuide-se o leitor;
os potenciais beneficiários) o que eles acreditam estarem a fazer para o benefício em apenas três dias. Mais do que se maneirinho, invisível, o vírus prefere
Bom, uma boa notícia com duplici-
destes mesmos cidadãos. Por isso é que a repressão é vista por estes regimes como o aos anónimos os nomes.
conta por vítimas diárias em muitas dade de leitura: o corona, como Deus,
antítodo para qualquer acção que tenha o potencial de agir como um entrave para Tentemos, em não tendo outras, duas
guerras. Pura falência dos zeladores. E não descrimina, embora tenda a ceifar
a agenda desenvolvimentalista do governo. explicações míticas:
que consolo traz uma falência? mais os pobres. Nisto, é vicioso.
Muitas atrocidades foram cometidas em Cabo Delgado, em nome do governo es- O freio, na língua de Deus, ficou
A Ametramo reconheceu que não tem Por outro lado, as evidências de algum
tar à procura de criar condições para permitir o desenvolvimento da província e cativo da palavra «desalfandegar».
receitas nem curas para oferecer, que sucesso na medicina tradicional africa-
das suas populações localizadas em pontos onde decorrem investimentos de gran- Mais adesivo que velcro, o vocábulo
os “espíritos” calaram sobre quaisquer na prendem-se com o conhecimento
de envergadura. Residentes locais que eram vistos como estando na dianteira de não despegava.
reivindicações por um tratamento justo e digno foram perseguidos e acusados de terapias para a maleita. Está demons- terapêutico dos efeitos de algumas
trado: o corona é à prova de espírito. plantas, mas como é que os chineses Qual a origem do termo? Reuniu-se
serem agitadores, e de estarem ao serviço de organizações da sociedade civil, estas, uma comissão para averiguar o mal,
que por sua vez eram acusadas de estarem ao serviço da tal “mão externa” que quer Gostei da atitude, da honestidade – a têm estudos sobre a acupuntura há
associação não pretende ludibriar nin- milhares de anos e aqui é ainda in- que já inchava nas gengivas de Deus.
desestabilizar o governo. Sucederam-se meses de acaloradas
Mesmo assim, todos esses problemas não podem ser o principal motivo para a guém. Por outro lado, a impotência suficiente o que se faz para certificar
discussões, enquanto o misterio-
guerra que se instalou em Cabo Delgado. Os enormes danos económicos e sociais admitida reduz muito o alcance dos cientificamente e valorizar socialmente
so desalfandegamento se deslocou,
resultantes da violência são de longe desproporcionais aos ganhos que seriam obti- espíritos. Será uma questão de escala - o melhor destas práticas? Por que não
indo implantar-se no palato, num
dos se eventualmente o governo decidisse mudar de postura e corrigir os seus erros. afinal, para lá do umbral, os espíritos só se investe um terço da energia usada
enjoo que ameaçava tirar a Deus o
Com muitos investimentos estrangeiros a ocorrerem dentro do país, exigindo do conhecem o mesmo que viam enquan- na política e a desmanchar o “inimigo”
gosto com que saboreava a gelatina,
Estado grandes extensões de terras, há várias regiões que em termos de pobreza to vivos, sem uma mirada telescópica com o esforço investigativo que dê à
a sua sobremesa favorita.
e de injustiça concorrem em pé de igualdade com a província de Cabo Delgado. para o macro ou o micro? É pouco, e medicina tradicional africana a digni- Então Deus criou o mundo e repar-
Desde a Nigéria, passando pelo Mali, Chade, Burkina Faso, Somália e Quénia, aí, atesta-se que é preciso acreditar ma- dade que merecia? tiu-o em países para que houvesse
problemas de desenvolvimento local têm sido explorados pelo chamado Estado ningue para se divisar a causalidade na Porque vou eu à acupuntura de olhos as alfândegas e ficassem afadigadas
islâmico, nas suas diferentes versões, para fazer avançar a sua agenda global de acção dos mortos sobre os vivos. fechados e não me entrego nas mãos aquelas cinco sílabas, tão difíceis de
ocupação de territórios onde as populações locais são depois subjugadas e sujeitas Abre-se a hipótese dos espíritos cor- de um curandeiro? E não sou amare- extirpar de sua santa boca.
a novas regras de vida, que incluem a proibição de outras religiões, do ensino e de responderem ao efeito-placebo, na far- lo. Como na matemática, aquilo que Esta mania recente dos povos não
qualquer ocupação profissional para as mulheres. Não há nenhum desenvolvimento macologia convencional. é comprovável não tem cor; tal como quererem fronteiras entre si já ir-
económico e social a que estes fundamentalistas se propõem empreender, e toda a Não estou a ser sarcástico, apenas este os átomos, ou os neurónios não co- ritava, no palácio celestial. É como
promessa de acabar com o sofrimento das populações é apenas um truque. limite confessado devia fazer-nos re- nhecem as cores, no mundo inteiro, se um pequeno gânglio ganhasse de
Durante muito tempo, os chamados insurgentes actuavam como se não tivessem flectir sobre as bases e os pressupostos só aquilo que é incerto e do foro da novo asas. Cogitou aí Deus, que não
uma agenda política. Nos últimos tempos, já içam a sua bandeira e gravam men- dalgumas práticas terapêuticas. Não superstição apresenta modulações cro- chupava nem as ideias de fora nem
sagens que mostram que pretendem alterar a actual ordem política, substituindo-a sou despido de laivos de espirituali- máticas ou religiosas. a emigração, em criar o corona para
pelos seus valores. dade, acredito noutros “níveis da exis- Quanto à retribuição dos espíritos às dificultar e re-burocratizar o trânsito
Toda a sua actuação desde 2017 mostra que eles estão a seguir um plano sofisticado tência”, na multiplicidade de mundos nossas preces, é unânime: meteram entre as fronteiras.
e de longo prazo, traçado já há bastante tempo, e que nada tem a ver com possíveis e dimensões; porém, as lentes tradi- folga. Os espíritos, tal como nós, espe- Outra: O esparvoado filho de Deus
reivindicações que a população local possa ter, ainda que jovens locais estejam a ser cionais para percepcionar essas outras ram por respostas da ciência, talvez por não conseguia compreender o signi-
usados como carne para canhão. modulações da existência parecem-me injecções. ficado da palavra «amenidade» - não
São planos estratégicos traçados ao nível internacional, mas que podem ganhar redutoras, rebarbativas, e aquém das E vou-vos dizer o que é o inferno: lhe entrava na pinha. Deus então
ressonância ao nível de sectores internos que encontram na actual situação campo complexidades com que a realidade «Na Coreia do Sul, mais 16 pessoas que criou o Corona. E disse-lhe:
fértil para avivar os seus desígnios de um maior protagonismo no campo político. nos interpela. haviam se recuperado do coronavírus Estás a ver esta coisa insignificante?
Moçambique pode tentar fugir da realidade, mas quanto cedo assumir a noção de Ou a realidade dos espíritos é apenas apresentaram novamente resultados po- É uma caganita de ácaro, não é, per-
que esta guerra é muito mais do que parece, estará em melhor posição para encon- mistérica, não sendo uma manifesta- sitivos para a infecção, segundo o gover- guntou-lhe o pimpolho. Vais ver a
trar a solução mais adequada e conseguir mobilizar os apoios de que vai necessitar
ção da/na natureza, como a dos vírus? no. Isso significa que 179 pessoas no total importância duma caganita de ácaro,
para enfrentar este monstro.
Ó ironia, ainda por cima o corona, tiveram um novo teste positivo depois de assegurou-lhe o pai. E, vai daí, criou
não sendo sequer um ser vivo, está terem sido liberadas da quarentena. As o resto do mundo.

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Savana 24-04-2020
Coroa (corona) de espinhos (vírus)
Por Severino Ngoenha, Eva Trindade e Giverage do Amaral
O
risco Covid-19 é hoje
prerrogativa comum
da humanidade. Ou
estamos afectados e
infectados ou estamos à espera
de sê-lo. O seu impacto, via mí-
dia globalizada, produz efeitos
desesperadores para o mundo
inteiro e sobretudo para as co-
munidades mais pobres.
O seu impacto espinhoso ace-
lerou a velocidade da comuni-
cação e reduziu a distância dos
espaços; o pânico que provocou
atingiu os nossos ‘chapas’ e ‘my
loves’, mas também as mais so-
fisticadas aeronaves e cruzeiros
do mundo; abalou os nossos
dumbanegues como as indús-
trias da silocom valley, atingiu
as nossas barracas como como
as praças financeiras de wall
street, Londres ou Zurich; as
nossas sociedades de mendigos
como petro-homens da Arábia
Saudita.
O ceticismo clássico e as teo-
rias modernas de suspeita re-
fizeram surfasse; como chegou
o vírus ao homem? Não haverá
intervenção humana? Quem
foi, chineses, americanos, eu-
ropeus? Moçambicanos não
podem ser, changues e nha-
gumelos estão na cadeia. E se
fossem eles para se vingarem
do mundo ingrato?
Alguns cientistas dizem que a
invasão humana aos espaços de
outras espécies, devido, entre
outras razões, ao crescimento
demográfico, teria levado a que
concepções sobre a alimen-
tação fosse alargada a espé-
cies cujas naturezas produzem
bactérias nocivas ao homem.
Aventa-se que a ocupação ex-
cessiva do espaço por parte do
homem reduz consideralvel-
mente o habitat dos animais
que, por razões de sobrevivên-
cia, invadem o corpo humano
Então a pandemia deveria
levar-nos a reflectir sobre os li-
mites do consumível - animais
silvestres, pangolins, morcegos
-, mas também da invasão a
espaços ecológicos de sobrevi-
vências das outras espécies.
Esta constatação resulta em
questionamento sobre os re-
sultados da ciência. Foi ele que
favoreceu a longividade da vida
como nunca na história dos
homens, que diminuiu a mor-
talidade infantil e, com estes
efeitos combinados, favoreceu
o crescimento demográfico. Ela
Também favoreceu o aumento
da produção de alimentos mas
foi incapaz de distribui-las por
todos. Mas sobretudo, mantém
vivo velhos demasiado tempo,
o que contraria os cálculos das
caixas de pensões e cria proble-
mas a todo o sistema.
Se o corona, dizimasse essa ve-
lharia, doravante inútil que
teme a não morrer, reduziria a
sobrecarga sobre o sistema de
pensões e o colocaria o sistema
a funcionar segundo as previ-
sões do Pós II Guerra: traba-
lhar toda a vida e depois da
reforma morrer, quando muito,
um ou dois anos depois.
Isso evitaria a importação de
negros e indianos, selecionados
a prova de travessia do medi-
terrâneo, para com um trabalho
escravo, pós-escravatura, rea-
bastecerem as caixas. As extre-
mas direitas do mundo inteiro
-Trumps, Bolsonaros Lepenes,
Sociobiologitas, Eugenistas-,
encontrariam aqui o seu Nir-
vana: não só eliminar negros,
índios, asiáticos, mas também
os velhos, por que não, tam-
bém os drogados, os HGBLT,
os desempregados e o mundo
voltaria a ser o jardim de Eden
antes da traição da Eva.
O corona vírus veio nos re-
cordar, se disso tivéssemos ne-
cessidade, que vivemos numa
sociedade de incertezas e que
a globalização é essencialmen-
te de riscos e não das benesses
(Ulrich Beck). Que há quem
tem milhões para que a even-
tual vacina se destine, em pri-
meiro lugar e talvez só, aos seus
concidadãos; mas que antes ela
deva ser testada nos corpos ne-
gros dos africanos; que a bola
tem donos e se não deixamos
que eles marquem golos, mes-
mo em fora de jogo, podem
leva-la para casa; foi o que não
compreendeu a organização
mundial da saúde.
Os trilhões de dólares (benes-
ses) postos à disposição pelos
estados mais ricos (UE, EUA,
Grã-Bretanha) visam mitigar
o impacto negativo nos seus
países e proteger as suas fortes
economias, o que de certa for-
ma pode vir a transformar-se
numa ulterior depredação das
economias mais fracas e au-
mentar a dependência política
e económica em que já sobre-
vivem.
As constatações são a grande
desigualdade entre Norte e o
Sul, mas também entre o norte
do Sul e o seus subúrbios.
E se fossemos imunes aos ví-
OPINIÃO
rus? E se a nossa cor escura, a
irradiação do calor ou o nosso
consumo de drogas contra a
Malária, Sida, Tuberculose nos
tornassem inapeticíveis para os
espinhos da coroa? Isso não
mudaria nada, pois os seus
efeitos, graças a comunicação
global e a nossa assimilação
acrítica, já devastaram o pou-
co de economia que tínhamos.
Barracas fechadas, chapas va-
zios, may loves sem love e até
escolas e universidades, lugares
de esperança ou ilusão, encer-
radas.
As consequências não são só
económicas mas são também
políticas. O corona obriga-nos
a confiar mais poderes a regi-
mes e dirigentes duvidosos. Se
os EUA tiverem de declarar
um lockdown, terão de confiar
mais poderes a um Trump, que
até há pouco meses atrás estava
num processo de impeachment.
A França teria que dar mais
poderes a um Macron, que du-
rante meses e meses enfrentou
protestos dos camisas amarelas.
E o Reino Unido do coronado
e anti-parlamentar Boris John-
son, o Brasil do bolso (naro)?
O que dizer de Moçambique,
onde os desintegrados parla-
mentares, os eleitos do povo,
aqueles que deveriam ser os
garantes da integridade e da
saúde pública são os fomenta-
dores da confusão são ou até os
portadores da coroa, por aper-
tos de mão reais, para o país?
Os moçambicanos – como os
outros povos- esperam uma
solução, uma vacina contra a
Covid-19, contudo, ninguém
espera que a vacina venha das
nossas doutas instituições de
ensino superior. Estes nossos
centros de pesquisas, alimenta-
dos pelos nossos impostos, são
orientados para conferências e
congressos internacionais que
dão resposta aos problemas dos
outros...
A Covid demonstra, se fosse
ainda necessário, que Grams-
ci tinha razão: a historia tem
muito a ensinar mas não tem
discípulos.
Apesar das experiências da
década 80, em que o repolho
nacional foi o salva vidas dos
moçambicanos, nós recaímos,
voluntariamente, numa nova
dependência alimentar para
com a República da África do
Sul. Se ela decidir fechar as
suas fronteiras, como já o fez
parcialmente, as nossas lojas
de alimentação, de material es-
colar, de vestuários ficarão va-
zias.
Esta é uma questão não só das
universidades, que não respon-
dem às necessidades primárias
locais, mas das nossas políticas
públicas, que não sabem que a
segurança nacional é antes de
mais a segurança alimentar.
Por isso, preteriram os poucos
produtos nacionais a favor de
importações desnecessárias e
custosas, até de produtos ge-
neticamente modificados que
são exibidas nas prateleiras dos
supermercados, não só em Ma-
puto, mas em todas as provín-
cias do país, do Zumbo ao Ín-
dico e do Rovuma ao Maputo.
Oxalá a suspensão do ensino
presencial imposto pelo vírus
ajude as nossas instituições de
ensino superior, e mesmo as
do ensino médio, a deixar de
considerar os artefactos da tec-
nologia de comunicação como
simples instrumentos de lazer,
para transformá-los em sérios
instrumentos pedagógicos, de
trabalho de investigação e ex-
tensão. Tudo leva a crer que a
pedagogia pós-coronavírus e
o mundo do trabalho nunca
mais serão os mesmos, e se isso
é uma lição que temos de tirar
para antever o futuro, cons-
tituirá um dos únicos pontos
positivos da crise que estamos
a atravessar.
Ha alguns anos atrás o filóso-
fo guineense, Filomeno Lopes,
escreveu um livro intitulado “E
se a África desaparecesse do
mapa mundo?”.
“E se os moçambicanos desa-
parecessem do mapa mundo?
Aliás, este processo está par-
cialmente em curso. Assisti-
mos, impotentes, as populações
de Mocímboa da Praia a serem
empurradas por jihadistas ou
Petro-jihadistas, a serem for-
çados a abandonarem as suas
terras, para deixar o terreno
livre para a exploração e do-
mínio da dolarocracia global,
à semelhança dos iraquianos
e líbios que foram forçados a
abandonar os seus sítios ricos
em petróleo e as suas obras de
arte, alta expressão de sua exis-
tência, não ao Allah dará, mas
a um ‘dará’ com nome, rosto e
poder militar.
O Brasil das elites de São Pau-
lo e Rio de Janeiro viu-se ra-
pidamente obrigado a admitir,
sobretudo durante a crise da
coroa, que as domésticas são
19
importantes para o bem-estar
dos seus senhores (patrões). E
nós negros e africanos, porque
é que o mundo deve continuar
a suportar a nossa existência? A
financiar a nossa economia e
orçamentos? Até quando?
Devemos começar a cultivar
o nosso jardim (Voltaire), e
(aude) ousarmos pensar que
temos que ter uma existência
própria, independente do bom
querer dos senhores do mundo;
termos brio e “aquilo no lugar”,
para “fazermos a nossa existên-
cia e fazer face as vicissitudes
dos tempos, das coronas e do
mundo que certamente há-de
vir (Derrida).
Se nos últimos anos ficou claro
que ciência sem consciência e
sabedoria é mortal, fica ainda
mais claro que a sobrevivência
passa pela - nossa -cooperação
e pelo sentido dos outros; esses
outros que hoje são percebidos
como perigo da contaminação,
mas que também, pela sua
prudência, podem ser a nossa
possibilidade de sobrevivência.
A Covid-19 é essencialmente
comunitária, como a marra-
benta, ou dançamos com os
outros e nos salvamos todos,
ou descriminamo-nos, e pere-
cemos todos. Hoje somos to-
dos chamados a usar máscaras,
mas do que servirá a minha
máscara se o outro não parti-
cipa no carnaval? Máscaras só
para alguns só pode significar a
morte de todos.
O coronavírus vai deixar se-
quelas indeléveis para aqueles
que terão a sorte – ou o azar -
de ficar. Vai (ou devia) mudar a
nossa maneira de ser e estar, de
fazer a política, a educação; vai
infelizmente enfraquecer ulte-
riormente a nossa economia,
aumentar a nossa pobreza mas,
inshaallah, esperemos que nos
tire dos nossos egoísmos e for-
taleça o nosso nível de solida-
riedade; a ideia de que as nos-
sas vidas estão intrinsecamente
ligadas; pobres e ricos, norte e
sul, e que só a cumunia ( cum
munia), partilha de bens, pode
nos garantir um amanhã...
Depois da liberdade e igualda-
de, é tempo da fraternidade.
Moçambicanos, um pouco
mais de esforço...
Bilene, num Domingo de Ra-
mos sem ramos e em isolamen-
to social.

20
Parábola do ser positivo
N
a manhã do dia seguinte, Jacob, o
cego, voltou ao jardim botânico.
Escolheu um banco a meio cami-
nho entre os dois grandes portões
que abrem acesso ao lugar, de modo a poder
aperceber-se com perfeição de tudo ou quase
tudo o que se passava a sua volta.
E pôde sentar. Colocou ao seu lado no ban-
co comprido e largo a caixa que tinha ganho
como prenda no dia anterior.
O jardim estava extremamente calmo e silen-
cioso, o que lhe permitiu notar, contrariamen-
te, ao que tinha acontecido no dia anterior,
a fragrância das centenas de árvores, umas
poucas de frutas, muitas outras de sombra e
curiosidade científica, pequenos arbustos, er-
vas e flores.
Ao mesmo tempo, Jacob, apercebeu-se, cla-
ramente, do chilreio permanente e alegre dos
pássaros, uns por cima das árvores, outros por
entre a relva, outros mesmo ao rés do chão.
No dia anterior tinha sido, absolutamente,
impossível aperceber-se disso tudo. O lugar
tinha sido escolhido pelas autoridades com-
petentes para acolher as celebrações do três de
Dezembro, dia mundial do deficiente.
Pra ali tinham acorrido, desde as primeiras
horas da manhã, deficientes de várias associa-
ções que os agregam, pra ali levados em mini
bus que os tinham recolhido a partir das sete
ou sete e meia, nas sedes das suas próprias as-
sociações. De modo que por volta das oito e
meia, meia hora antes da hora marcada para o
inicio das celebrações, o lugar fervilhava com
as vozes, risos e pequenos cantares de cerca de
duas centenas de deficientes de varia ordem
que ali se tinham juntado.
Por volta das nove e meia o ruído e o trocar
de palavras entre os presentes tornou-se um
SACO AZUL
Em nome do povo que representais…
O
uvíamos recorrentemente a an-
terior Presidente da Assembleia
da República a utilizar “sabia-
mente” a expressão “em nome
do povo que representais…” sempre que
fosse para aprovar algo. Em contrapar-
tida, sem qualquer tipo de relaxamento,
sabia-se que os deputados estavam ou
estão ali em nome do partido que repre-
sentam. Ou seja, a parte legal encaixava
a representação do povo mas, a legítima,
a do partido. Os da oposição, por razões
óbvias, sempre estiveram mais próxi-
mos de representar o referido povo. Os
da “posição”, por seu turno, nem sempre
conseguiram separar as águas: por um
lado, “o povo a defender” e, por outro, os
interesses do partido. O exemplo mais
mediático não deixa de ser, por exemplo,
a primeira parte das chamadas dívidas
ocultas. A sua soberanização. Os debates
chegaram mesmo a atingir o rubro mas,
no entanto, uma suposta defesa do grupo
OPINIÃO
pouco mais alto, uma vez que já se registava
um atraso de meia hora.
A brigada que para ali tinha sido designada
para dirigir as cerimónias só chegou ao lugar
as onze e meia naquela mesma manhã.
E sobre o atraso de duas horas e meia, nin-
guém se dignou dar cavaco. Via-se, claramen-
te, que se partia do profiláctico princípio de
que pobre não zanga. E como se sabe, por um
erro de paralaxe mental, toda gente tende a
pensar que o deficiente, seja qual for a ori-
gem e o tipo da sua deficiência, é um pobre.
É mendigo.
E frequentemente associa-se a isso a diminui-
ção notável das suas faculdades mentais. De
modo que, sobre o atraso ninguém se dignou
dizer nem A e nem B. Estava tudo claro.
E começou-se, imediatamente, a distribuição
dos kits que estavam reservados aos deficien-
tes.
Jacob, como outros cegos, recebeu no seu kit
uma lanterna superpotente que era alimenta-
da ou por pilhas ou por energia eléctrica solar
ou eólica. Não via que utilidade é que podia
dar a isso, mas é o que tinha cabido a ele e a
todos os outros cegos.
Aos amblíopes foram distribuídos pares de
binóculos superpotentes capazes de, mesmo
a noite, fazer o seu utente ver com claridade.
Eram binóculos dotados de infravermelhos
como alguém explicou.
Aos amputados dos membros inferiores, con-
soante o seu sexo, foram distribuídos ou pares
de patins ou de skates, em qualquer dos casos,
fosse com patins ou skates, os beneficiários
levavam, ainda, um par de bengalas brancas
como porte de suporte durante o seu movi-
mento.
Aos amputados dos membros superiores fo-
ram oferecidos kits de cálculo constituídos,
Por Luís Guevane
(e não do povo) teve o condão de arrefecer a
proactividade da justiça. Onde ficou a von-
tade do povo? Quem se deu ao luxo ou ao
trabalho de medir essa mesma vontade? De
facto, enquanto os cães ladravam a carroça ia
passando; não se sabendo muito bem quem
hoje detém a sabedoria sobre a monitoria
desse “barulho” que não faz parar a carroça.
A liderança ad-hoc esvaziou-se nos comen-
tários do “povo que representais”. Neste
sentido, é líquido que os “dinheiros” passem
por uma aprovação por consenso, diferente-
mente de outras matérias sobre “o povo que
representais”. Por que razão só há consenso
nos “dinheiros”? O idealismo perde diante
da materialidade! Ninguém quer terminar
os cinco anos para depois esconder que foi
deputado da AR por não ter ido ao encontro
das expectativas do povo. Terminado o man-
dato, o ponto é: quais são os bens materiais
deste ex-deputado? O que melhorou na sua
vida por ter passado da AR? Igual raciocínio
é válido para médicos, doutores, chefes disto
basicamente, por ábacos ou máquinas simples
de calcular com um jogo de canetas ou lápis
de cores e uma resma de papel A4.
Aos autistas foi oferecido um kit com um
aparelho que emitia ultra sons continua-
mente, parecendo terem sido gravados junto
de um bando de morcegos em plena caçada
nocturna.
Aos surdos e mudos em fim, foi oferecido
um kit constituído por uma aparelho de rá-
dio com capacidade para sintonizar em fre-
quências moduladas, ondas curtas ou medias
e, ainda por cima, com capacidade para ler
discos compactos ou flashs.
Como acessório a esse equipamento, cada
surdo mudo levava um flash onde estavam,
como se dizia: gravadas canções revolucioná-
rias ou poesia de combate.
Era tudo ouro sobre o azul, um mar de rosas,
um realizar de sonhos embora não soubesse
exactamente como.
Quase no fim da cerimónia o mestre anun-
ciou que cada presidente ou secretário geral
de cada uma daquelas associações ali presen-
tes teria como prenda extra, uma cadeira de
rodas, porque, como se sabe, os dirigentes tem
que ter um meio de locomoção apropriado ao
seu nível.
Tudo isso ao som de uma banda que não se
soube bem porque o seu equipamento não di-
zia se era militar ou da polícia. Mas que era
uma boa banda era, ao menos tocava canções
que, embora muitos não percebessem por não
prestar atenção ou porque não lhes interessas-
se, fazia o seu trabalho com brilho e entrega
total.
Por volta das quinze, a brigada deu por fim o
seu trabalho e anunciou muito candidamente:
“Os Mini-bus que vos foram buscar nas sedes das
vossas associações de manhã, a esta hora não estão
ou daquilo, etc. E isto é um dos fortes pres-
supostos da manutenção da corrupção.
Os compromissos solenes assumidos na in-
vestidura foram esquecidos “em nome do
povo que representais”. Expressões como
“olha isto e aquilo que usa, nem parece médi-
co, ou professor, ou doutor” tendem a ser evi-
tadas pelos deputados que perceberam que o
problema é estrutural. É preciso ter um nível
de vida cuja “integração” faça lembrar que se
está diante de um ex-deputado. De que vale
ter assumido cargos ou funções socialmente
relevantes no conjunto da Sociedade para
depois ser tomado como “irrelevante” do
ponto de vista social mas, sobretudo, finan-
ceiro? O povo reclama socialmente porque o
deputado tem um cão, mas também o faz se
não o tiver, julgando-o pouco digno. Os de-
putados furtam-se, assim, a qualquer tipo de
discriminação positiva ou negativa do povo
que era suposto representarem. O estatuto
remuneratório não pode perder de vista a
dignidade, mas também não pode colocar a
Savana 24-04-2020
disponíveis, é por isso que fizemos tudo para que a
cerimónia terminasse cedo, cada um de vocês terá
tempo, assim, para ver como se desenrasca para
chegar à casa. Obrigado pela presença e até o pró-
ximo ano”.
Jacob, o cego, sereno como sempre, orientou-
-se, perfeitamente, no meio do labirinto da
baixa da cidade até chegar o terminal do mer-
cado central. Antes disso, passou pelos escri-
tórios do jardim botânico e deixou o kit que
tinha ganho aos cuidados do seu compadre
Singatela Tembe, porque viria busca-lo no dia
seguinte. Aquela hora havia de atrapalha-lo
muito.
No terminal do mercado central, Jacob, o
cego, apanhou o chapa que o levou até o Xi-
quelene, daí fez a ligação para o terminal de
Laulane, daí a caminhada que fazia, rotineira-
mente, até a sua casa.
Chegou, então, a tempo de se banhar e mu-
dar de roupa e jantar. Depois do jantar, estava
sentado na sala ao lado da Judite Mfumo, a
sua esposa, a ver o jornal da noite que, como
seria de esperar, destacava a celebração e as
cerimónias centrais da sua celebração do dia
mundial do deficiente donde se destacou o
discurso do grande líder e resumidamente di-
zia e foi citado: “Sentimo-nos orgulhosos porque
estamos no caminho certo na construção de uma
sociedade justa, inclusiva onde todos gozam das
mesmas prerrogativas e têm as mesmas oportuni-
dades de singrar e vencer na vida.
Bem ajam os moçambicanos, bem ajam deficien-
tes moçambicanos, vanguarda da nossa luta pelos
direitos humanos”.
A mulher de Jacob, o cego, passou-lhe, cari-
nhosamente, a mão pelo ombro e perguntou-
-lhe: “Então Jacob como te sentes?”
Ele respondeu: “Feliz minha querida. Sinto-me
prenhe de energias positivas. Apetece-me viver.”
ética como um conceito algo irrelevante
escudando-se numa pretensa complexi-
dade do mesmo, “em nome do povo que
representais”.
Cá entre nós: pode ser que um jornalismo
investigativo seja necessário para trazer à
superfície o processo de “ascensão e queda”
dos deputados. Este pequeno detalhe pode
melhorar a percepção do que se deve en-
tender como “disciplina partidária”. O que
obriga a que os rebanhos cegamente comun-
guem os caminhos por onde andam, mesmo
contra a vontade? Isso, provavelmente,
ajudará a aprofundar o cabimento da ex-
pressão “o povo que representais”, o que não
configura ironia de qualquer tipo. Quais os
termos de referência para um deputado da
AR? Em que legislatura começarão a fisca-
lizar o Governo? Quando começarão a ser
deputados da AR como o povo pretende que
sejam?
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Savana 24-04-2020 21

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22
Covid-19 obriga parceiros a abandonarem o futebol feminino
LNFF em maus lençóis
Por Paulo Mubalo
T
al como aconteceu com
algumas provas, a sexta
edição da Liga Nacio-
nal de Futebol Feminino
(LNFF) acabou sendo inter-
rompida, abruptamente, depois
de ter sido disputada apenas a
jornada inaugural, isto devido à
covid-9. Mau grado, porque este
certame marcava o fim de uma
série de adiamentos anteriores
originados por outras razões,
sendo a financeira a principal.
Neste momento, segundo Au-
gusto Dhlamine, presidente da
LNFF, a situação se apresenta
imprevisível, pois os principais
parceiros estratégicos que ar-
cavam com as despesas da rea-
lização do evento fecharam as
torneiras, deixando o órgão sem
pernas para andar. Mas como
a esperança é a única a morrer,
Dhlamine espera por um mi-
lagre, de modo a que o certame
reate logo que o estado de emer-
gência cesse. A seguir os excer-
tos da conversa.
A Covid-19 levou à interrup-
ção dos jogos referentes a sexta
edição da LNFF, depois de ter
sido disputada apenas a primei-
ra jornada. Quais são os passos
subsequentes?
-De facto, a prova parou numa
altura em que acabava de arran-
car, e isso acontece depois de,
num passado não muito distante,
a competição em alusão ter so-
frido vários adiamentos devido
a questões financeiras. Clara-
mente que depois do arranque
do certame as expectativas eram
enormes, mas esta triste realida-
de originada pela Covid-19 aca-
bou colocando em causa toda a
nossa programação. A primeira
jornada foi muito interessante
de seguir, as meninas jogaram
com toda a vontade, estavam
motivadas, até porque é uma
prova na qual estão habituadas
a participar. Todo o país estava
a se movimentar, estava em fes-
ta, vivia-se uma pura adrenalina,
mas infelizmente o sonho foi
interrompido. Foi simplesmente
constrangedor, mas a vida está
em primeiro lugar.
Concretamente, o que esperam
fazer?
-Estamos sem saber o que fazer
neste momento, porque a pan-
demia continua, e os números
apresentados pelas autoridades
da saúde são preocupantes. Mes-
mo assim, estamos a fazer tudo
por tudo, estamos a orar, estamos
a cumprir com as normas de hi-
giene, mas sempre acompanhan-
do as orientações do Governo
de observarmos um isolamen-
Depois de um arranque pomposo, há incerteza sobre o reatamen-
to social, de modo a podermos
controlar a pandemia. A nossa
esperança é que como a prova
começou ela tem de terminar.
Caso haja possibilidades de re-
tomar a disputa da sexta edição
da LNFF que mexidas se espera
fazer?
- Teremos de refazer o figurino,
sobretudo porque não sabemos
quando é que o estado de emer-
gência vai terminar. Poderemos
usar o sistema de eliminatórias,
como já o fizemos uma vez, isto
tendo em conta o tempo que vai
restar que certamente será curto,
pois, para além da sexta edição,
temos que realizar, em princí-
pio, a sétima ainda este ano. Mas
tudo isto será feito em coordena-
ção com a Federação Moçambi-
cana de Futebol. Para além desta
situação, estamos condicionados,
do ponto de vista financeiro,
porque tivemos desistência de
alguns parceiros estratégicos,
uns nos deixaram em stand by,
devido ao coronavírus, porque os
afectou bastante. Mesmo assim
vamos lutar para conseguirmos
mais parceiros, até porque os que
temos neste momento são de ex-
pressão insignificante.
Quem são os parceiros que dei-
xaram de apoiar a LNFF?
-Eticamente, não podemos dizer
quem são os parceiros que dei-
xaram de nos apoiar, porque não
o fizeram por vontade própria,
foi, sim, devido à situação que
aconteceu, mas esperamos que
voltem a nos apoiar. Já tínhamos
perdido o principal parceiro e
agora perdemos mais dois. As-
sim estamos à espera que entrem
mais parceiros para que logo que
termine a pandemia possamos
recomeçar.
Entre a espada e a parede
Pelos vistos a LNFF está entre a
espada e a parede...
-É verdade, estamos entre a es-
DESPORTO
to da LNFF
pada e a parede, pois não esta-
mos em condições de realizar-
mos normalmente a prova sem
apoios, mas, como já disse, a
mesma terá de ser reformulada
e também está dependente do
apoio de parceiros que possam
aparecer e dos que nos manda-
ram esperar. Não desistiram na
totalidade, apenas nos manda-
ram esperar em função da situa-
ção da actual conjectura, mas
certamente irão se pronunciar
logo que terminar a pandemia.
Esta é a sexta edição, a nossa
perspectiva é terminarmos todas
as edições, ou seja, a sexta e a séti-
ma. Nós trabalhamos muito para
que esta competição acontecesse,
foram noites sem dormir, foram
dias a corrermos de um lado para
outro, mas só entregamos tudo
nas mãos de Deus .
Num passado recente o rela-
cionamento entre a FMF e a
LNFF era considerado como
problemático. Qual é a situação
real neste momento?
-O relacionamento está num
bom estágio e mesmo esta prova
que foi interrompida acontece
no âmbito do entendimento en-
tre as partes. Ademais, a sétima
edição será organizada pela pró-
pria liga . A Federação, por sua
vez, vai apoiar a Liga, daí que
digo que estamos num bom ca-
minho. Estamos a lidar com pes-
soas experientes e responsáveis,
por conseguinte estamos a ter
uma transição muito pacífica e
responsável de ambas as partes .
A finalizar?
-Estamos com uma dose alta de
esperança, porque o bem sempre
venceu o mal. Vamos vencer a
pandemia, o mais importante é
continuarmos com a higieniza-
ção, continuarmos com poucas
deslocações, respeitarmos o iso-
lamento social, e entregarmos os
nossos corações a Deus, porque
ele está acima de tudo.
Savana 24-04-2020
Eu
Vamos dar uma volta!
H
á várias questões que me ocorrem, como por exemplo esta: a ten-
dência para os ciclistas, motoristas e automobilistas ultrapassarem
pela esquerda. Quando é expressamente proibido! Excepto, em ra-
ras excepções como por exemplo, quando o veículo da frente assi-
nala que vai virar à direita!
POLÍCIA DE TRÂNSITO
A nossa polícia continua a fazer vista grossa ao acima exposto, assim como
e erradamente, aos motociclistas que em pleno andamento na via, circulam
sem o uso de capacete!
Tanto numa questão, como na outra, estão fora da lei! Como tal, deverão ser
sancionadas. Gratos pela compreensão!
COVID-19
Tenho andado tranquilo, mas preocupado com essa malfadada pandemia.
Só não consigo perceber o porquê de até agora, não ter visto ou ouvido nin-
guém da saúde a recomendar que nos restaurantes, pastelarias, hotéis, etc,
etc, passem a usar temporariamente penso, toalhas, pratos, talheres, copos,
etc, etc, descartáveis.
Sou um zero à esquerda nesta matéria da Covid-19, mas… não tenho a
mínima dúvida que uns dos mais activos agentes transmissores desta doen-
ça é, com toda a certeza, a envolvência errada de tudo isto; que poderão
passar nos referidos apetrechos, que nos poderão infectar. Isto, salvo melhor
opinião!?
BANCOS
Parabéns Rui Garcês! O teu pai aonde está, tal como a tua mãe, deverão
estar muito orgulhosos de ti.
Evidentemente que não me vou imiscuir nas mexidas que aconteceram na
administração do BCI. Porém, não deixarei de referir que a Caixa Geral de
Depósitos não deverá fazer como fizeram em Portugal ,que só depois de 540
anos… é que conseguiram apresentar uma portuguesa negra na governação!
Lamento, que aqui também se esteja a caminhar para o mesmo, mas no
verso da medalha. Ou seja: Os não negros são (?) incompetentes, por isso
salvo em raríssimos casos, não são
“ Bosses”!
Mas Moçambique no pós-independência, era um exemplo no mundo e so-
bretudo em África, da nossa Moçambicanidade!...
Ainda sobre os bancos, precisa-se de alguém que tenha autoridade para en-
gendrar uma outra forma de digitarmos o código nas ATM’s.
É que como se está a fazer, é um autêntico desafio ao nosso destino: Ficar
contaminado! Assim sendo, com a permissão dos patrões, donos, adminis-
tradores e da sociedade em geral que se passe a usar uma caixa, com um
tecido embebido em javel, em todas as entradas, do que quer que seja, para
desinfectar os sapatos.
Ainda sobre os bancos, nos postos das ATM’s deveria haver reservatórios
com produtos desinfectantes, para que possamos limpar as mãos ou fazer
como se faz no bottle store “BEA KING REAL BOTTLE STORE” na
24 de Julho, ao lado da Loja das Damas, que nos dão um palito descartável,
para introduzirmos o Pin no POS.
Só espero também, que no Departamento De Crédito do BCI, conheçam
melhor o tipo de clientes que lhes procuram!....É que há os que não tenha
matambira, mas são maningue sérios e honestos!...
ARTIGO E PREPOSIÇÃO
Nas escritas, formais, protocolares, privadas, populares, nos media, em suma,
em todo o lado, está-se a cair num grande erro que não tem sentido.
Tentando explicar : “ A minha filha estuda”. Neste caso não se escreve à
minha filha, porque é um artigo.
Contudo, se disser vou levar a minha filha à escola; este à já é uma preposi-
ção, como tal leva um acento!
Desculpem-me a ousadia, mas a Moçambicanização do Português não de-
verá incorrer em erros, mesmo sabendo-se que a língua portuguesa é difícil
e, se não nos cuidarmos, torna-se traiçoeira!
20.000.000,00 Milhões
É isso mesmo, a previsão oficial dos contaminados com Covid-19, dos Mo-
çambicanos.
Apetece-me dizer que se for verdade, pouco ou nada se está a fazer! Se não
for mentira então, já não há necessidade de se investir na área das casas
funerárias…
LEIA S.F.FAVOR: A 1 vez que ouvi falar ou dei atenção à palavra De-
mocracia foi em Outubro de 1964 em Coimbra, no fim de um jogo da
Académica. Quando a Trope nos apanhou na rua, depois da Académica ter
perdido em casa, salvo erro com o Varzim!
Foi em pleno regime fascista, que o chefe da Trope em Coimbra, zona li-
bertada em Portugal, falou-me e aos estudantes que estavam comigo da
Democracia e dos Movimentos de Libertação nas Ex-Colônias, em África.
Foram 10 anos que também em Portugal os Portugueses, levaram até à sua
libertação no 25 De Abril de 1974!
Congratulo-me, parabenizando os Movimentos de Libertação, que obriga-
ram o regime e o império português a capitular.
Como moçambicano falante de português, muito me orgulha o actual regi-
me democrático vigente em Portugal!!!
Parabéns Portugal, portugueses e nós que nos preparemos para comemorar
condignamente o nosso 25 de Junho, sem Covid!
Cuidem-se estimadas e estimados leitores. Até para semana.
Longo.Alcance17@hotmail.com
 DESPORTO
Savana 24-04-2020 23

A aproximadamente 45 anos depois, projecto sócio mil é quase uma realidade

Mais músicos aderem ao projecto do Textáfrica

N
o âmbito da campanha
sócio mil, a direcção do
Grupo Desportivo e
Recreativo Textáfrica
(GDRT) através do responsável
da área da cultura e imagem do
clube, Dj Ardiles, tem levado a
cabo uma mobilização de artistas
nacionais para comporem can-
ções com temas relacionados ao
projecto sócio mil, uma das apos-
tas do seu presidente, Quinito
Júnior.
Esta é uma das maiores inovações
da nova direcção do GDRT, de-
pois de ver cancelada a conferên-
cia internacional de investidores,
que pretendia reunir empresários
e empresas, quer nacionais como
internacionais, para discutirem o
passado, o presente e o futuro da-
quele clube histórico.
O Textáfrica foi a primeira colec-
tividade a conquistar o campeo-
nato nacional de Moçambique,
pós-independente, em 1976, sob a
batuta de Mário Esteves Coluna (
Monstro Sagrado), que mais tarde
viria a ocupar o cargo de seleccio-
nador nacional, mas nas últimas
edições luta por conseguir uma
manutenção tranquila.
Aliás, a direcção fabril traçou
como meta, particularmente no
último dos quatro anos de man-
dato, a conquista do título nacio-
nal que já lhe foge a aproxima-
damente 45 anos. Mas também
constitui prioridade a conquista
da Taça de Moçambique antes do
término do mandato.
Sabe-se que outro evento não de
menos importante que também
teve a mesma sorte – adiamen-
to - foi a gala de homenagem aos não pára de convidar mais pessoas parcerias, razão pela qual acaba de Conjo acaba de ser indicada pela
primeiros campeões nacionais, a residentes em Chimoio, e não só, a receber da empresa Laxi Rente a direcção do Textáfrica como a
qual procurava agradecer não só aderirem ao projecto. Car, termómetro para o lar da co- nova embaixadora da responsabi-
a entrega dos jogadores, mas tam- Mas para além dessas iniciativas, lectividade. lidade social daquela colectivida-
bém de todos os trabalhadores do o clube tem estabelecido várias Outrossim, a cantora Matilde de.
clube, com realce para o pessoal
menor.
Entretanto Quinito Júnior fez sa-
ber, recentemente, que o clube está
numa negociação com uma opera-
dora por forma a que as músicas
dos artistas sejam enquadradas na
lista de toque nice e vibratoques,
onde os adeptos do Textáfrica de-
verão, através dos serviços, definir
a música do seu gosto ao toque de
espera, contribuindo assim para a
rentabilidade do clube .
Para já, fazem parte da campanha
os artistas, Dr. Mingos, Dj Ardiles,
Edú, Pedro Celso, Mega Jr, Sam-
son, Paulino Barrigudo, Ta Basily,
sendo que muitos outros poderão
abraçar o projecto e o Textáfrica
torna-se no primeiro clube no país
a inovar neste sentido, ao que or-
gulha a direcção fabril.
Sabe-se que na busca de soluções
para a sustentabilidade do clube,
os fabris do planalto vão realizar,
no mês de Outubro, na Soalpo , a
VI edição do festival de Pandza.
Quinito Júnior defende a neces-
sidade de união para que todo o
esforço do seu executivo se torne
uma realidade e que o pensamen-
to diferente não venha ser causa
de divisão, mas sim espaço para
discussões e soluções que levem
o clube para a materialização dos
objectivos do quadriénio.
Neste momento, o número de só-
cios que está a aderir ao projecto
do Textáfrica está a aumentar a
cada dia que passa, situação que
deixa feliz a direcção do clube, que

mediaFAX
Assinatura do Diário Electrónico
2017

DESTINO PERÍODO
Trimestral Semestral Anual
Ordinária 2.000,00mt 3.850,00mt 7.300,00mt
USD 0,00 USD ,00 USD ,00

Instituicao Nacional 3.850,00Mt 7.300,00Mt 11.700,00Mt

Embaixadas 5.000,00Mt 9.500,00Mt 18.300,00Mt

ONG’s 5.000,00Mt 9.500,00Mt 18.300,00Mt

Cada período é renovável a qualquer altura do ano.

Contra valor em moeda estrangeira é feito ao cambio do dia,
Banco de Moçambique, venda.

Para mais informação contacte:

Srs. Fabiao Matavele ou Dinguizwayo Chiconela
(fabiao.Matavele@mediacoop.co.mz, dinguizwayo.chiconela@mediacoop.co.mz, mediafaxm@gmail.com)

APBX, 21 327631 / 21 301737 / 82 3171100 / 84 3171100

Fax, 21 302402 / 21 304265 admc@mediacoop.co.mz

24
Luis Sepúlveda
Um contador de histórias nunca morre,
apenas muda de morada
Por Sérgio Almeida*
O
escritor Luis Sepúlveda,
também cineasta e jorna-
lista, que morreu a semana
passada, aos 70 anos, via a
literatura como um ponto de en-
contro entre o escritor e o leitor, mas
também entre o homem e os seus
fantasmas.
Se tivesse podido escolher o momen-
to em que se despediria dos leitores,
fiéis seguidores dos seus livros duran-
te quase três décadas, Luis Sepúlveda
não teria desdenhado o que o destino
lhe proporcionou: durante cinco dias,
entre os dias 18 e 23 de Fevereiro,
esteve na Póvoa de Varzim, Portugal,
num festival bem conhecido dos es-
critores moçambicanos, e do qual fez
parte desde o início, confraternizan-
do com homens da pena, editores e,
acima de tudo, leitores, afinal o que
mais prezava.
Foi a sua derradeira aparição literá-
ria e pública: os primeiros sintomas
gripais aconteceram ainda nas “Cor-
Era uma vez, Tchaguatica Nzero
U
ma figura que se escondia por
detrás das ondas da rádio,
ofuscando, assim, cada vez
mais ao Nelson Coutinho de
Sousa, seu nome de registo. Morreu,
na última terça-feira, 21 de Abril.
Thaguatica Nzero, mais conhecido
pelo programa “O riso não paga im-
posto”, da Rádio Moçambique, perdeu
a vida aos 59 anos. Sua morte chocou
a muitos. Pereceu vítima de complica-
ções de saúde, que nos últimos anos
andava debilitada. O humorista mor-
reu acamado, no Hospital Central de
Maputo. Foi-se num momento em
que o mundo mais precisava de moti-
vos para sorrir, visto que está confina-
do, numa quarentena que não se sabe
quando terá o seu fim.
Covid-19 também assombra às artes
Por Lucas Muaga
A
fatalidade da Covid-19 é
também visível no mundo
das artes. A nova pandemia
tem vitimado artistas de di-
ferentes áreas de actuação, mostran-
do alguma tendência para os mais
velhos, que marcaram gerações e
conquistaram o mundo.
Em consternação, esteve o mundo da
literatura, depois de ter sido comuni-
cada a morte do escritor chileno Luís
Sepúlveda, que encontrou a morte em
Oviedo, na Espanha, vítima da Co-
vid-19, no último 16 de Abril. O ro-
mancista ficou famoso por ter escrito,
dentre outros livros, “O velho que Lia
romances de Amor” e “História de
uma gaivota e do gato que a ensinou
a voar”. Ganhou os prémios como
Luis Sepúlveda,
rentes”, mas só alguns dias volvidos,
a 29, veio a confirmação de que era
o primeiro infectado na região das
Astúrias, onde residiu durante duas
décadas. As suspeitas de que pudesse
ter contagiado algum dos convidados
do festival revelaram-se infundadas
(apesar de terem dado origem a qua-
rentenas que envolveram um número
significativo de pessoas), mas o mes-
mo não se pode dizer do estado de
Nzero, que era natural de Nampula,
nasceu em Janeiro de 1961. Foi como
Nelson Coutinho de Sousa que os
seus pais, Ana e Alberto de Sousa,
acreditaram que conquistaria o mun-
do, longe de pensar que as vicissitudes
da vida o fariam adoptar um nome ar-
tístico. Essas convicções mudaram em
pouco tempo. O jovem Nelson Cou-
tinho de Sousa viu-se a pensar numa
carreira artística e, por consequência,
num pseudónimo.
Longe ainda do humor, Nelson de
Sousa pensou em conquistar o mun-
do cantando. Queria ser cantor. E foi.
Também assim fica registado na sua
biografia pela eternidade. Nelson de
Sousa foi um baterista, dizem muitos,
dos bons. Ainda criança aventurou-se
na música e integrou o agrupamento
Casas das Américas (Cuba), Gabrila
Mistral de Poesia (Chile), Rómulo
Gallegos e Ciudad Alcalá de Henares
(Espanha).
Sepúlveda morreu quando ainda se
estava a lamentar a morte da poeta e
cineasta francesa, Sarah Maldoror, a
12 de Abril, em Paris. Também foi
vítima do novo Coronavírus. Com
fortes ligações à Angola, terra natal
de Mário Pinto de Andrade, com
quem se casou, Sarah Maldoror fica
na história como pioneira do cinema
africano.
A Covid-19, no último 24 de Março,
foi também responsável pela mor-
te do dramaturgo norte-americano
Terrence McNally, na Flórida, EUA.
Conhecido como umas das figuras
mais importantes do teatro contem-
CULTURA
saúde, que se foi agravando de dia
para dia.
A notícia mais temida
A 11 de Março, entrou em coma in-
duzido, estado quase irreversível que
conheceu agora o seu desfecho mais
brutal. Embora, infelizmente, já espe-
rado pelo seu círculo mais próximo de
familiares e amigos. Foi, apesar disso,
com um “turbilhão de sentimentos”
que Manuel Alberto Valente, editor e
amigo do autor chileno há três déca-
das, viveu o dia de ontem. Assim que
recebeu a notícia que menos queria
ouvir, partilhou uma imagem na sua
página do facebook em que um mui-
to jovem Sepúlveda visitava Portu-
gal pela primeira vez, nos alvores de
Abril, na emblemática “vila morena”
de Grândola.
Embora convicto de que “os escrito-
res nunca morrem”, e os contadores
de histórias muito menos, o director
editorial da Porto Editora lamenta
a perda do “extraordinário homem”.
“Oliveira Muge”, em Chimoio. Tc-
haguatica chegou a fazer dupla com
Célio Figueiredo no trabalho musical,
de 1994, intitulado “Haja Amor”. De
pequeno, o artista também brincou de
ser actor de teatro.
Mas, sem tirar os devidos méritos mu-
sicais, foi mesmo como humorista que
Nelson de Sousa destacou-se e, nesse
mesmo sentido, o de arrancar sorrisos,
o artista preteriu adoptar um pseudó-
nimo. Tornou-se o Tchaguatica Nzero
(algo como “Juízo Estragado”) e mar-
cou gerações.
E, como acontece com muitos artistas,
há quem não conheça o seu nome de
registo, aquele pelo qual responde no
seu bilhete de identidade. Mas isto
pouco interessa, basta que ele arran-
que os sorrisos das famílias moçam-
porâneo, Terrence McNally perdeu a
vida, aos 81 anos. O mesmo destino
também teve a actriz e directora de
teatro brasileira, Erika Ferreira.
Ainda no cinema, a Covid-19 não
poupou a vida da actriz Lee Fierro,
que morreu aos 91 anos. A actriz fi-
cou conhecida por actuar no filme
“Tubarão”, de 1987. O actor norte
americano Mark Blum morreu tam-
bém vítima de Covid-19.
Na música, o novo Coronavírus foi
também responsável pela morte do
saxofonista, Lee Konitz, aos 92, em
Nova York. O músico participou em
mais de 150 discos, sendo um dos
destaques em “Birth of the Cool”, em
1957, com Miles Davis, um dos mais
destacados nomes da música norte-
-americana. Junto de Miles Davis,
Separá-lo do escritor era tarefa im-
possível. “Ficávamos a escutá-lo, ex-
tasiados, muito tempo, sem sabermos
ao certo se aquilo era verdade ou
mentira. E, na realidade, pouco im-
portava”, recorda.
Memória e ficção pontuavam os seus
relatos orais, mas também os literá-
rios. Autênticos exercícios de ima-
ginação cujas origens gostava de ir
buscar aos povos indígenas. Essa ad-
miração sem reservas pelo saber an-
cestral atravessa grande parte da sua
obra, seja nas novelas e nos contos ou
nos livros para os mais jovens.
Como calar um idiota
De “O Velho que Lia Romances de
Amor” a “Um Cão Chamado Leal”,
passando por “Mundo do Fim do
Mundo”, há em boa parte da sua bi-
bliografia uma defesa dos valores de
resistência, que considerava a melhor
forma de enfrentar o risco da unifor-
mização em curso. “O pensamento
único ameaça o planeta”, acusava o
bicanas. Aliado a isso, há quem diga
que o seu pseudónimo, pouco estra-
nho e engraçado, é de uma grafia por
muitos desconhecida, havendo apenas
concordância no seu segundo nome
“Nzero”.
Tchaguatica chegou a Maputo, nos
anos 90 e, na altura, integrou à vas-
ta equipa da Rádio Moçambique,
a estação mais antiga do país. Terá
inaugurado o humor nesta estação,
tornando-o algo digno de fazer parte
da sua agenda radiofónica.
Antes de adivinhar que as complica-
ções de saúde lhe sairiam como um
tiro pela culatra, Tchaguatica Nzero
montou, na Rádio Moçambique, o
programa “O riso não paga imposto”,
projectado por Luísa Meneses, sua
colega. Há, ao menos, a certeza de ter
também ficou famoso o trompetista
Wallace Roney, natural da Filadél-
fia, nos EUA, que também perdeu a
batalha contra o novo Coronavírus.
Foi responsável por mais de 20 dis-
cos. Wallace e Konitz formam um
trio jazz, junto de Manu Dibango,
que também perdeu a vida, na Fran-
ça, onde o camaronês havia montado
residência.
Mas não foi só o jazz que saiu a per-
der. No Brasil a Covid-19 matou
o cantor MC Dumel, aos 28 anos,
funk. Além disso, o músico norte-
-americano Adam Schlesinger, aos 52
anos, também perdeu a vida. Schle-
singer integrou à banda “Fourtains of
Wayne”, formada em 1996 e muito se
dedicava ao rock alternativo.
As artes plásticas também não foram
Savana 24-04-2020
autor numa entrevista a este jornal no
início dos anos 2000.
O discurso incisivo contra os poderes
instalados, na esteira do amigo José
Saramago, dava lugar a uma atitude
oposta sempre que se deparava com
atitudes lastimáveis dos seus colegas
de ofício. Como se sofresse por ver-
gonha alheia. Foi o que aconteceu
num congresso literário realizado no
Porto nessa altura, em que Sepúlveda,
por sortilégio da organização, foi co-
locado ao lado de um escritor tão co-
nhecido pelo talento como pela afec-
tação. Lobo Antunes, autor em causa,
ao aperceber-se disso, logo bradou,
para quem o quis ouvir, que se recu-
sava a sentar ao lado de um “escritor
popular”. Quando todos esperavam
que o ficcionista sul-americano rea-
gisse com cólera latina a tamanha
afronta, Luis Sepúlveda limitou-se
a entreabrir a boca e a dizer: “Com
muito gosto”.
*in JN. Texto editado
sido mais conhecido falando nos mi-
crofones da rádio.
Ao humor se entregou até à morte.
Igualmente, a rádio foi sua casa. De
quando em vez, no seu programa,
integravam outras figuras do humor
moçambicano. Figuras como Ring
Ring, Bufalo, Watsongo e Mito Mun-
guambe, desfilaram a sua classe, neste
programa, que também se pode dizer
que os lançou.
Mas não se pode afirmar que o ho-
mem do “Riso não paga imposto” era
tão discreto. Tchaguatica Nzero foi
rosto de publicidades que dominaram
a praça. Aí podia visitar às famílias
moçambicanas por meio da televisão.
Foi-se o homem, ficou a obra.
poupadas, pela Covid-19, que ceifou
a vida do desenhista e artista plástico
Daniel Azulay, que encontrou a morte
aos 72 anos, no Rio de Janeiro, Brasil.
A Covid também matou o músico Joe
Diffie, aos 61 anos, nos Estados Uni-
dos. Diffie notabilizou-se nos anos
90, onde sua música, “country” fez
muito sucesso e com a faixa “Same
Old Train”, com a qual ergueu um
Grammy (1998). Aos 61 anos, a can-
tora norte-americana Cristina Monet
Zilkha também morreu foi vítima do
novo Coronavírus.
O vocalista, guitarrista e actor, Alan
Merril também perdeu a batalha con-
tra a Covid-19 aos 69 anos. O artista
ficou mais conhecido com o “I Love
Rock ‘n’ Roll” – com a banda “Ar-
rows”, umas das músicas mais famo-
sas da história do estilo rock.

Savana 24-04-2020
Canal de acesso ao porto da Beira
Areia “entope” relações entre Simango e CFM
Por Raul Senda
E
stá instalado um clima de
crispação entre o Conselho
Municipal da Beira (CMB) e
a empresa Portos e Caminhos
de Ferro de Moçambique (CFM). O
móbil da tensão são as areias dragadas
do canal de acesso ao porto da Beira,
que foram solicitadas pela edilidade
do Chiveve a preço bonificado, para
o aterro de terrenos que estão a ser
parcelados em diferentes bairros de
expansão da cidade a fim de serem
atribuídos às comunidades locais.
Os CFM referem que só podem dis-
ponibilizar os solos mediante o pa-
gamento de 12 dólares norte-ameri-
canos por metro cúbico (m3), que é o
custo da dragagem e da retirada dos
solos para a superfície (repulsão).
Por seu turno, o CMB diz que só
pode pagar quatro dólares por metro
cúbico, que é o custo real dos solos.
A cidade da Beira localiza-se abaixo
do nível das águas do mar, o que deixa
o seu território vulnerável aos efeitos
climáticos. Cada vez que chove, os
bairros da cidade ficam completamen-
te alagados.
Além de abertura de valas de drena-
gem para o escoamento da água das
chuvas, a outra forma de minimizar os
efeitos negativos do alto lençol freáti-
co, segundo o município, é a elevação
dos terrenos através de aterros.
Para o efeito, o município da Beira
contactou a empresa CFM para o for-
necimento de areias dragadas no canal
de acesso ao porto. São cerca de 600
mil metros cúbicos de areia armazena-
das, há muitos anos, no cais 11.
Daviz Simango, presidente do muni-
cípio da Beira, reconhece que a voca-
ção da empresa é gerir o negócio e as
infraestruturas ferro-portuárias. Mas
também tem o dever social para com
a comunidade, sobretudo aquela que
circunda os seus empreendimentos.
Sublinha que para descongestionar
o centro e as periferias da cidade, o
município está a parcelar terrenos em
diferentes bairros de expansão.
Contudo, como essas parcelas se loca-
lizam em zonas pantanosas. Antes de
serem atribuídos, os terrenos precisam
de ser aterrados e os solos escasseiam
ao nível da Beira e arredores.
Assim, o município é obrigado a tra-
zer solos do distrito de Dondo, há 30
quilómetros de distância, enquanto os
CFM estão constantemente a dragar
areias do mar e a acumular num sítio.
Explicou que o município da Beira
tem um projecto de construir 25 mil
casas para os munícipes e a zona onde
o plano será implantado precisa de
“Todas entidades que se aproximaram à empresa a precisarem dos solos, exigi-
mos que arquem com os custos operacionais”, Augusto Abudo
“Negociámos com os CFM para que tivéssemos material dragado para fazermos
aterros, mas não conseguimos”, Daviz Simango
aterro. Com as areias acumuladas no
cais 11, pelos CFM, a operação seria
muito mais barata e flexível.
“Negociámos com os Caminhos de
Ferro para que tivéssemos material
dragado para fazermos aterros, mas
não conseguimos. Os CFM têm mui-
ta areia acumulada no cais 11 sem ne-
nhuma utilidade”, referiu.
Há vários anos que o município está a
pedir areia para aterrar os bairros em
terrenos já demarcados para a popu-
lação, mas a empresa não aceita, de-
clarou.
Daviz Simango considera que a fi-
xação de um preço proibitivo é uma
forma indirecta de recusa que os CFM
encontraram. A empresa está a cobrar
preços completamente insustentáveis
e proibitivos, lamenta.
Simango diz que a empresa CFM
exige pelo negócio 12 dólares, ou seja,
três vezes acima do que considera cus-
to real. Nas contas do autarca, o preço
real são quatro dólares.
Para Daviz Simango, não se explica
que a empresa cobre o valor da dra-
gagem e da colocação dos solos na su-
perfície, porque, para manter o porto
da Beira acessível, tem a obrigação de
dragar o canal.
A dragagem é um custo fixo da em-
presa e que não devia ser cobrado.
“Durante muitos anos, a empresa
dragava o canal e deitava os solos no
alto mar. Pedimos para que em vez de
desperdiçar os solos, podiam trazer a
superfície para serem reaproveitados e,
o município, como parte interessada,
podia custear as despesas de colocação
dos solos dragados na superfície”, re-
feriu.
Para sua surpresa, a empresa quer que
o município suporte todas as despe-
sas, arcando com os custos de draga-
SOCIEDADE
gem e repulsão, o que é inconcebível,
queixou-se.
Frisou que num espírito de parceria,
o município explicou à empresa que
muito mais do que negócio, ao ceder
solos dragados, a empresa estaria a
prestar um serviço social aos muní-
cipes da Beira, na medida em que os
aterros beneficiariam todos os resi-
dentes da cidade.
“Não sabemos se são ou não moti-
vações políticas. A realidade é que o
nosso parceiro não está a colaborar,
prefere acumular solos sem nenhuma
utilidade, em vez de ceder a quem pre-
cisa”, finalizou.
Custos operacionais
Augusto Abudo, director-executivo
dos CFM Centro, começou por assi-
nalar que o porto da Beira está numa
zona onde desaguam dois rios, o Búzi
e o Púnguè.
Esses cursos trazem consigo grandes
quantidades de saltes, que exigem dra-
gagem constante.
INSS diz que não vão faltar pensões
A
garantia foi dada, nesta
segunda-feira, pelo direc-
tor-geral do Instituto Na-
cional de Segurança Social
(INSS), Alfredo Mauaie, durante
uma conferência de imprensa sobre
o nível de preparação da instituição
para responder ao crescente desafio
da covid-19.
Na ocasião, Alfredo Mauaie garan-
tiu, sem apontar dados, que o INSS
dispõe de uma saudável condição
financeira capaz de dar assistência
aos mais de 90 mil pensionistas por
meio de prestações de subsídios por
doença, internamento hospitalar e
maternidade.
Está também em condições de pa-
gar as pensões por invalidez ou por
velhice em todo o período em que
a covid-19 continuar a ameaçar o
país.
Aquele responsável avançou que a
entidade não abriu um novo pacote
para assistir os pensionistas inscri-
tos e que poderão ser infectados
pelo novo coronavírus.
Em caso de infecção, será pago o
subsídio de doença, como sempre
No extremo norte, também há um
outro fenómeno derivado do banco de
Sofala, que também liberta as areias
do rio Zambeze para o mesmo canal,
o que também obriga a dragagem.
Segundo Abudo, normalmente, quan-
do são dragados, os solos retirados do
canal são despejados no alto mar, mas
havendo necessidade de uso são tra-
zidos à superfície, através do processo
de repulsão.
Portanto, quando os CFM não preci-
sam dos solos atira-os para o alto mal.
Só em caso de necessidade é que bom-
beia para a superfície.
Neste momento, a empresa tem um
projecto de construção de um novo
cais, que será denominado cais 11.
Ao longo do espaço portuário, foi lo-
calizado um lugar que durante muito
tempo esteve sub-aproveitado.
Depois começou o processo de repul-
são dos solos dragados para a constru-
ção do cais.
“Cientes da necessidade de podermos
aterrar outros locais dentro do espaço
ferro-portuário, tivemos que repulsar
um pouco mais. Portanto, naquele
espaço, acabamos repulsando cerca de
600 mil metros cúbicos de solos con-
tra 350 mil necessários para assentar e
construir o cais. O custo da dragagem
ajuntado ao custo da repulsão saiu-nos
a 12 dólares por m3”, avançou.
Portanto, explica Abudo, os quatro
dólares reivindicados por certas enti-
dades correspondem apenas à repul-
são. Não incluem a dragagem.
“Ou seja, a entidade que solicitou os
solos, quer pagar uma parte dos custos,
o que no nosso entender é improce-
dente”, referiu.
Para Augusto Abudo, qualquer enti-
dade que precisa dos solos dragados
do canal deve arcar com todos os cus-
tos operacionais e não uma parte das
despesas, visto que a empresa sairia
lesada.
foi em casos do género, esclareceu
Alfredo Mauaie.
Em caso de óbito, o INSS garan-
te que vai continuar a atribuir os
subsídios por morte e de funeral e
a pensão de sobrevivência aos fami-
liares com direito a essa prestação.
A Segurança Social adiantou que,
dado o momento que o mundo
vive, vai envidar esforços para não
faltar assistência a todos os que es-
tão inscritos e precisem do auxílio
do INSS.
Numa altura em que 217 empresas
comunicaram ao Governo sobre
a sua incapacidade de continuar a
operar, o director - geral esclareceu
“que a instituição não vai pagar sa-
lários”.
Enfatizou que as normas do INSS
não prevêem o pagamento de sub-
sídio de desemprego, o que afasta
qualquer ajuda aos contribuintes
desempregados.
O esclarecimento surge num con-
texto de incertezas, devido ao im-
pacto da covid-19.
Entretanto, o Ministério do Traba-
lho e Segurança Social já garantiu
que nenhum funcionário será dis-
25
“A todas as entidades que se apro-
ximaram à empresa e precisam dos
solos, apresentamos esses custos”, de-
clarou.
A vocação da empresa, prosseguiu,
não é vender terra. A repulsão dos so-
los ocorre quando há necessidade de
uso.
“Os solos a mais podemos ceder, me-
diante o pagamento de toda a cadeia
de custos operacionais”, enfatizou Au-
gusto Abudo.
Sem mencionar o nome do municí-
pio da Beira, Augusto Abudo referiu
que, se as partes interessadas tivessem
cumprido as exigências da empresa, o
negócio estaria fechado.
Abudo avançou que é obrigação da
empresa repassar custos a terceiros sob
o risco da mesma arcar com despesas
alheias.
O director-executivo dos CFM-
-Centro referiu que a empresa acon-
selhou a entidade que precisava dos
solos que, em caso de discordância em
relação ao preço de 12 dólares, podia
negociar directamente com a Empresa
Moçambicana de Dragagem (EMO-
DRAGA), que é a firma executora da
dragagem do canal.
Nega que motivações políticas estejam
por detrás da não cedência dos solos.
“Repulsámos os solos para responder
às nossas necessidades e a perspectiva
era, à medida que fossem aparecendo
projectos dentro do porto, cedêssemos
o remanescente, mas na condição de
cobertura de custos”, detalhou.
Convidado a pronunciar-se sobre
o papel social da empresa, Augusto
Abudo frisou que a questão ultrapassa
a jurisdição da direcção-executiva.
A orientação da direcção regional é de
que quem precisa dos solos deve arcar
com todos os custos operacionais, su-
blinhou.
pensado sem a observação da Lei
do Trabalho.
Na sequência das recomendações
do Governo e da Organização
Mundial de Saúde (OMS), o INSS
decidiu suspender temporariamen-
te a realização da Prova Anual de
Vida aos pensionistas, assegurando
a manutenção do pagamento da
pensão.
Nesse sentido, a prova de vida que
devia ter arrancado no dia 01 deste
mês vai ser realizada quando as au-
toridades de saúde nacionais conse-
guirem conter o vírus.
Esse cuidado visa evitar colocar em
perigo a vida dos funcionários da
entidade e dos pensionistas.
Os mais de 90 mil pensionistas
fazem parte do grupo dos benefi-
ciários a longo prazo, englobando
a pensão de velhice, sobrevivência
e invalidez.
Sem divulgar dados, o director-ge-
ral do INSS sublinhou que o nú-
mero mais elevado dos pensionistas
a longo prazo são os beneficiários
da pensão de velhice, seguido da
pensão de sobrevivência e, em últi-
mo, a pensão de invalidez.
(Elias Nhaca)

26
Notas sobre a recente situação sombria em
Cabo Delgado (2)
Por Fernando Lima*
O
s acontecimentos em
Cabo Delgado são in-
quietantes e preocupam
todos.
Em tempo de Coronavírus, esta é
a segunda parte das minhas notas
sobre Cabo Delgado, depois de ter
preenchido na edição anterior as
minhas reflexões sobre as Forças
Armadas.
Ficam agora por abordar mais
dois vectores importantes neste
conflito:
2- A ausência do Estado ou o Es-
tado capturado;
3- A qualificação ideológica e
confessional da violência em CD.
2- A ausência do Estado ou o
Estado capturado: Argumenta-
-se que a presente situação de
conflito em Cabo Delgado re-
sulta da ausência de Estado ou
de um Estado e suas instituições
demasiado fracas. Argumenta-se
que o Estado é pouco mais que
o posto da administração, com a
sua bandeira, posto de polícia e
alguns serviços. A ser verdade tal
asserção, teríamos situações idên-
ticas em quase todo o país, pois o
modelo de desenvolvimento não
difere muito de outras províncias.
A Zambézia, uma das províncias
mais populosas de Moçambique,
perante a desconstrução do mo-
delo económico colonial, não se
transformou numa nova rebelião
pós 1992, pesem as simpatias pela
oposição que decorrem das frus-
trações decorrentes de pobreza e
desemprego. A Zambézia produz
hoje o maior exército de infor-
mais de todo o país, como pode
ser constatado em quase todas as
capitais provinciais a norte e a sul
do Grande Rio.
Para Cabo Delgado, no topo dos
questionamentos, colocar-se-ia a
própria mística das áreas liberta-
das e da tradição da luta armada,
um justificativo para a não contes-
tação de resultados eleitorais obti-
dos pela Frelimo nesta província
desde 1994.
Eventualmente, há outros pro-
blemas de fundo sobre desenvol-
vimento e assimetrias regionais,
onde o Governo não tem sido
assertivo em combater e corrigir
desequilíbrios que decorrem do
próprio estágio de desenvolvi-
mento à altura da independência.
A escola, a educação enquanto
veículos de transferência de poder,
por força do domínio de maior
conhecimento e técnicas, afinal de
pouco serve enquanto ferramenta
e veículo de ascensão social e eco-
nómica. Os novos projectos, têm
dificuldade em absorver mão de
obra local, mesmo utilizando-se
mecanismo de discriminação po-
sitiva, como igualmente aconteceu
em Tete com o advento do carvão.
Um outro argumento de peso é
a captura do Estado pelas elites
locais que decorre exactamente
da mística da luta armada. Aos
poderes e privilégios decorrentes
do Partido-Estado, que não foi
desmantelado pela Constituição
de 1990, há a componente hierar-
quizada dos “antigos combaten-
tes” que tem uma palavra a dizer
sobre os mais variados aspectos da
vida da província. Deste “lobby”
poderoso giram negócios e as no-
meações dos gerenciadores de in-
fluências, da localidade ao distrito,
até à província.
A gestão de interesses implica,
numa primeira fase, recursos pri-
mários como os troféus de fauna
e da floresta e, numa fase mais
desenvolvida, o envolvimento em
redes de tráfico humano e corre-
dores de droga. Sem se apercebe-
rem, muitos dos líderes locais, por
força de relações de poder eco-
nómico extremamente desiguais,
transformaram-se em pequenos
peões de redes internacionais
musculadas. A investigação feita
sobre o comércio de madeira para
a China expôs o ridículo dos líde-
res locais de pés de barro e como
o mosaico de instituições criadas
para defender o Estado estava
completamente subvertido pelos
interesses externos. Do polícia no
posto de controle, ao funcionário
aduaneiro, o despachante no por-
to, os funcionários do Ministério
Público e da magistratura judicial.
Face às fragilidades e ao desen-
canto popular, argumenta-se, os
sectores marginais foram empur-
rados para a informalidade, esta
fórmula mágica como os governos
contornam os problemas sócio-
-económicos, na ausência de po-
líticas públicas vigorosas, capazes
de alterarem o que, na prática é
apresentado como algo de pre-
destinação. Fica o “desenrascar”
à custa dos produtos do mar, da
intermediação dos troféus de caça,
no abate desregrado da floresta e
do garimpo aventureiro de pedras
preciosas. Fica assim estruturada
a economia política do informa-
lismo. Ninguém incomoda nin-
guém. Cada qual tem uma quota
e todo o mundo finge que não vê.
No fim do dia Cabo Delgado fica
muito longe, os organismos cívi-
cos funcionam por importação a
partir de Maputo, a imprensa é
praticamente inexistente e sem
músculo para enfrentar os pode-
rosos do dia a dia.
Porém, mais recentemente, a im-
OPINIÃO
plantação de indústrias de ponta
na província começou a alterar o
status quo. Eram demasiados os
escândalos que fizeram manche-
tes na imprensa internacional e
que, não raras vezes, ganharam
espaço na imprensa da capital.
A institucionalização da explora-
ção de rubis afastou do mercado
uma faixa importante de infor-
mais. O maior controle de ma-
deiras e marfim afastou para fora
do negócio outro segmento de in-
formais. Está por apurar a fatia de
negócio que era o tráfico de ilegais
dos Grandes Lagos e do Corno
de África que agora transitam por
Tete, via Malawi. Também não
estão contabilizados os ganhos
locais com a chegada da heroína
vinda do Oriente.
Na contramão do que ensinam os
manuais do nacionalismo econó-
mico, nomeadamente a transfor-
mação da madeira em serrações de
nacionais criando emprego local e
a produção de artefactos acabados,
a eliminação das exportações em
bruto deu lugar a protestos com
ampla circulação na comunicação
social, da perda de renda por força
do fechar de portas à madeira car-
neirada para a China. Numa épo-
ca em que, ironicamente, ainda es-
tava no ouvido de todos o discurso
da auto-estima.
Eventualmente, a combinação de
todos estes factores propulsionou
material de combustão lenta feito
de frustração, descontentamento,
pobreza e, muitas vezes, falta de
luz no fundo do túnel. O assalto às
esquadras de polícia a 5 de Outu-
bro de 2017, pode não ser genui-
namente uma jihad, uma revolta
popular, mas, pelos desenvolvi-
mentos subsequentes, mostram o
descontentamento transformado
em acções de contestação violenta
dos símbolos do Estado, do apa-
relho económico de que não se
sentem parte e das forças armadas
e policiais, como aparelho de pro-
tecção do Estado.
3- A qualificação ideológica e
confessional da violência: Cor-
recta ou incorrectamente, foi em
nome do islão que desde o iní-
cio foram reivindicadas todas as
acções do que começou por ser
uma rebelião de “ansar al-sunna”
(apoiantes da tradição) e que a
população chama de “al shabaab”.
Queira ou não o discurso oficial e
os que são seus devotos encobri-
dores. Mesmo usando a capa de
doutos académicos.
O ataque às esquadras e a onda
de terror que se seguiu, com de-
zenas de populares decapitados e
centenas de casas queimadas foi
precedida de outros eventos mui-
to pouco mediatizados. Há anos
que, sobretudo junto à costa, bar-
racas de bebidas alcoólicas eram
destruídas por fiéis islâmicos. A
escola pública era contestada por
alternativa à madrassa onde se
divulgava o Corão. Mais para sul,
sobretudo a partir de Nampula,
dezenas de crianças eram inter-
ceptadas nas estradas a caminho
de Maputo, para ingressarem em
escolas islâmicas. Pela fronteira
com a Tanzania, por meios le-
gais ou menos legais, centenas
de moçambicanos partiram para
o exterior para fazerem estudos
islâmicos no Sudão e na Arábia
Saudita. Este desusado movimen-
to, se passou despercebido às au-
toridades moçambicanas, era mo-
tivo de observação por parte dos
serviços de informações de países
ocidentais com representação em
Maputo. Vários relatórios foram
passados às autoridades compe-
tentes. Mas, eventualmente, fo-
ram atirados para o fundo de uma
gaveta menos frequentada por
uma distraída “madiba” de uso ofi-
cial. A corrente wahabita entre os
sunitas vai ganhando mais espaços
nas confrarias a partir de Ango-
che, avançando para o interior de
Nampula e para o Niassa. Entre
os jovens educados, as encruzilha-
das do desenvolvimento são en-
trelaçadas pela visão islâmica. O
belo filme de Yara Pereira dá-nos
odores subtis a partir da Ilha de
Moçambique.
Os excessos anti-religiosos do
pós-independência podem expli-
car alguma indiferença perante
estas tendências, quando no ex-
terior as páginas dos jornais são
preenchidas com atentados da Al
Qaeda e do movimento Taliban
no Afeganistão, correntes disso-
nantes do islão tradicional.
Uma outra explicação, bem mais
subversiva e comprometedora,
sugere uma teia de interesses de-
senvolvidos a partir de negócios
com chorudas contribuições para
o partido Frelimo. Esta situação,
amplamente documentada em
períodos eleitorais, pode explicar
a dificuldade em qualificar a na-
tureza da rebelião em Cabo Del-
gado, mesmo que os seus contor-
nos confessionais sejam difusos e
grosseiros. A proclamação de um
Estado Islâmico para Moçambi-
que não aconteceu a 25 de Março,
em Quissanga. A inspiração corâ-
nica sempre esteve presente entre
os jovens rebeldes.
Como argumentam estudiosos
da área militar, a ausência de uma
Savana 24-04-2020
definição clara de opositor no
teatro de operações, dificulta a
natureza das missões e a prepara-
ção táctica das forças que devem
enfrentar a rebelião. Uma parte
da brutalidade com que são trata-
dos os suspeitos da causa jihadista
reflecte exactamente esta incom-
preensão da natureza dos grupos
que combatem as forças armadas.
A ausência dessa caracterização
não permite o desenvolvimen-
to de outras acções que possam
potencialmente funcionar como
dissuasores, funcionando as FDS
como uma “tropa de ocupação”. É
confuso, sobretudo para os milita-
res com pouco preparação, ouvi-
rem um discurso de “malfeitores”
e “homens sem rosto” quando no
terreno se deparam com grupos
bem armados e, sobretudo, com
bons níveis de combatividade e
auto-confiança.
Do ponto de vista mais amplo,
a exposição das decapitações, da
destruição de infra-estruturas
usando bandeiras confessionais,
permite ou permitiria, uma clara
demarcação do islão de paz pro-
fessado pela esmagadora maioria
dos crentes moçambicanos. A ex-
pressão clarificadora a que se as-
sistiu nas últimas semanas a partir
das mesquitas, tal como aconteceu
em 2017, é importante e consoli-
da o tecido social de que é feito o
país. O terror que é semeado em
todo o mundo pelos grupos que
sonham com novos califados não
afasta as convicções dos crentes
que acreditam no islão, profunda-
mente enraizado nas suas convic-
ções e modo de vida.
A identificação clara de um pro-
blema enquanto nação em cons-
trução, enquanto país, não nos
deve dividir. Pelo contrário soli-
difica a nação de pertença de um
país que é de todos e em que a
religião não pode ser usada como
arma de arremesso ou capital para
dividendos políticos. Com o mes-
mo traço de união, exactamente
por não perceber a dimensão que
podem representar os raptos no
país, o governo do dia tornou-se
refém de expedientes mesquinhos
que cavam divisões e desconfian-
ças.
O pressuposto de que há um ani-
mus confessional por detrás da
violência em Cabo Delgado não
afasta uma reflexão sem comple-
xos e, sobretudo, um modus ope-
randi por objectivos comuns.
Nos dias conturbados que vive-
mos, torna-se difícil perceber essa
clarividência para os combates e
os desafios que, afinal, são de to-
dos.
Esse déficit pode vir a revelar-se
tragicamente perigoso.
*jornalista
 OPINIÃO
Savana 24-04-2020 27

Pedro Madruga (Texto)

Três beijos Incabáveis

-
Senhor Zeca, há quanto tempo, o que vai levar?
- Um pouco de tudo, minha senhora. Não sei se o di-
nheiro vai chegar. Dê-me meio quilo de um pouco de
tudo.
- É pra já, fraguêz!
De compras feitas, com um jornal apertado na axila, o pró-
prio Zeca Mafulige, abandonou o mercado, carregado de coi-
sas. Com esta venda Teresa Mondlane tinha feito dia, por
isso tirou alguns minutos para ver a cascata de mensagens do
WhatsApp:
«Depois do pedido de 700 milhões, acharam pouco e como
se não bastasse aprovaram aquele tacho dos deputados. Hoje
apresentaram um estudo pessimista e alarmante de que pelo
menos 20 milhões de moçambicanos vão morrer? Come on,

Ilec VIlanculo
se o problema é fazem bem estatística por que não pedem
logo desculpa ao Dr. Rosário Fernandes?
A ministra Comoana leu o famoso documento usando más-
cara. E depois ficou imune ao contágio…ou sabe que não faz
parte dos 20 milhões…»
«Está a arder o ximoco da senhora três beijos. Parece que quis
dar de bacela o quarto beijo ao primeiro-ministro, mas o boss
não aceitou. Ela já pediu demissão e o Big do Rosário nem
hesitou em dar aval. Será que esqueceu da Covid-19?»
« O Salema deu um banho às explicações enroladas do mano
Galiza. Não se pode tapar o sol com a peneira. Como diz o
meu primo «a gente sabemos!»
«Hoje o nosso humor está de luto. Vão a enterrar os restos
mortais do grande Nelson de Sousa, mais conhecido por Tc-
haguatika Nzero. Vá em paz, com a tua «última incabável da
vida de um gajo», amigo. Até sempre!
«Sempre fui fã do kota Comiche. Mas vou tirar umas folgas
por uns dias. Desculpa qualquer coisa..»
- Comadre, sabes quem é essa dama cacata que só dá três
beijos? – perguntou Felismina, de ironia maliciosa.
Naita Ussene

Ilec VIlanculo
 À HORA DO FECHO
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Savana 24-04-2020
Covid-19
Vale apoia com 2,0 milhões de dólares
N
o âmbito do combate à
pandemia do novo coro-
navírus, a Vale assinou,
na semana finda, em Ma-
puto, um memorando de entendi-
mento com o Governo moçambi-
cano. O documento foi assinado
por Márcio Godoy, Country Ma-
nager da Vale em Moçambique, e
Bruno Chicalia, Gerente de Rela-
ções Institucionais da empresa, e
por Iolanda Sofia da Silva Santos,
directora Provincial de Saúde de
Maputo.
A ajuda da Vale está avaliada em
cerca de USD 2,0 milhões. Esta
ajuda inclui diversos materiais de
higiene, equipamento hospitalar e
itens de protecção individual para
os profissionais de saúde e 80 mil
testes rápidos.
A oferta de luvas, máscaras, ócu-
los de protecção, botas, macacões
e aventais figuram, também, da
lista dos itens de protecção in-
dividual para o pessoal de saúde.
Em termos de material de higie-
ne, a doação inclui pulverizadores
Nuno Quelhas assume
Puma Energy e BCI mobilizam-se liderança da vodacom
no combate à Covid-19
A
Puma Energy Mo-
çambique, empresa
dedicada ao forneci-
mento de produtos e
serviços de combustíveis em
Moçambique, e o Banco Co-
mercial e de Investimentos
(BCI) apoiam o Ministério da
Saúde (MISAU), no combate
à pandemia do novo Corona-
vírus.
Nesta quarta-feira, a Puma
Energy Moçambique fez a
entrega de 25 mil litros de
combustível para abastecer as
ambulâncias indicadas pelo
Ministério da Saúde, com vis-
ta a viabilizar as operações de
combate a esta pandemia. O
BCI contribui com os servi-
ços electrónicos de controlo de
abastecimento das ambulân-
cias nos postos.
Na ocasião, o ministro da saú-
de, Armindo Tiago, agradeceu
pelo apoio prestado. “Manifes-
tamos aqui o nosso apreço a
Puma Energy, hoje recebemos
um donativo de 25 mil litros
EVENTOS
0DSXWRGH$EULOGH‡$12;;9,,‡1o 1372
eléctricos, álcool de desinfecção,
barras de sabão e frascos de cer-
teza. Além disso, no que se refere
a equipamentos hospitalares, serão
entregues bombas de infusão, kits
de colheita de amostras, aspirado-
res, desfibrilhadores entre outros.
O processo de entrega da doação
teve início no dia 18 de Abril, em
Tete. Nos próximos dias, o apoio
chegará a outros pontos do país
como Nampula e Niassa. Com
o material importado, espera-se
contribuir para os esforços das
autoridades nacionais de saúde no
combate à disseminação da doen-
ça no país.
“Estamos cientes da nossa res-
ponsabilidade, neste momento
desafiador para todos. Esta inter-
venção demonstra o nosso com-
promisso com a sociedade mo-
çambicana, porque entendemos
que somos parte das comunida-
des nas quais estamos inseridos e
também um agente importante de
transformação”, disse Márcio Go-
doy, Country Manager da Vale em
Moçambique.
para abastecimento de ambulância
cujo objectivo é de reforçar a ca-
pacidade do sector da saúde na sua
resposta na luta contra o Covid-19.
Faremos o uso racional do donativo
confiado, vamos fazer reportagem
regular do todo o processo de uso;
E apelamos a PUMA que através
das suas bombas, denunciar quais-
quer tentativas de uso irregular des-
te combustível por parte dos nossos
EVENTOS
colegas”, disse.
Por seu turno, Danilo Correia,
PCA Puma Energy, explicou
que “tentamos encontrar solu-
ções para equipar o MISAU na
luta contra a pandemia, e apro-
veitar a exposição mediática
para apelar outras entidades a
colaborarem com o MISAU
nesta luta”, rematou.
A
Operadora de telefonia
móvel, Vodacom apresen-
tou, esta terça-feira, Nuno
Quelhas como seu novo
PCA em substituição de Salimo
Abdula que terminou o seu man-
dato de três anos, no âmbito da
rotatividade entre os accionistas da
operadora.
Quelhas, que integra o Conselho de
Administração da operadora há 10
anos, foi eleito ao cargo em repre-
sentação da Watana Investiments
da Graça Machel, enquanto Salimo
Abdula estava em representacao do
accionista Intelec Holdings.
Após assumir o cargo, o novo ti-
moneiro, comprometeu-se a dar
continuidade aos projectos inicia-
dos pelos seus antecessores visando
colocar a Vodacom como referência
na prestação de serviços de comu-
nicação no país e fornecimento de
tecnologia de ponta.
“É um grande desafio, mas ao mes-
mo tempo uma oportunidade única
fazer parte de uma equipa multidis-
ciplinar, com grande determinação e
confiança no seu trabalho. Para já, a
estratégia passa por consolidar a po-
sição da Vodacom como uma em-
presa activa na sociedade moçambi-
cana e, assim, continuar a contribuir
1
para uma sociedade mais equitativa
e sustentável. A nossa responsabili-
dade para com os moçambicanos é
diária e é por isso que assumo e acei-
to com orgulho e satisfação o cargo
de novo PCA”, disse Quelhas.
Relativamente a pandemia do coro-
narvírus que afecta o país e o mun-
do fazendo com que muita gente
trabalhe a partir de casa, incluindo
estudantes, o que faz soar os alarmes
acerca do custo da internet, Quelhas
disse que a operadora está a estudar
a melhores propostas, isto porque há
que fazer um balanço entre a garan-
tia de serviços de qualidade e a taxa
aplicar.
Explicou que devido a pandemia os
serviços de dados estão a registar
um súbito crescimento visto que há
muita gente a trabalhar a partir de
casa, o que acaba sobrecarregando a
rede do que o costume. Deste modo,
entende Quelhas que é preciso um
balanço para garantir que a rede
funcione com qualidade pois há o
risco de reduzir os preços, aumen-
tar ainda mais a procura e a rede
colapsar ou reduzir drasticamente a
qualidade. Avançou que a pandemia
encontrou a todos de surpresa pelo
que é preciso dar passos lentos, mas
com segurança na busca de soluções
para o povo.
2 Savana 24-04-2020
EVENTOS

ExxonMobil providência apoio Millennium bim

contra a propagaçãodoCOVID-19 apresenta novo
visual no smart IZI
A O
ExxonMobil Moçambi-
que doou 6.700 máscaras,
165 litros de álcool gel e
mais de 25 mil pares de lu-
vas as autoridades nacionais de saú-
de para apoiar nos esforços contra a
propagação do novo Coronavírus.
A doação resulta de engajamento
com o Ministério da Saúde, que an-
tecede o primeiro caso confirmado
de COVID-19 em Moçambique.
De acordo com o Director geral
da ExxonMobil Mocambique, Jos
Evens, a intenção destas acções é
fazer parte da resposta a crise, ca-
nalizando apoio directo as comuni-
dades neste período de necessidade.
“Estamos gratos pelo esforço das
equipas de primeiros socorros e os
profissionais de saúde que estão
a trabalhar para mitigar o impac-
to desta pandemia”, acrescentou
Evens.
Por seu turno, a Directora Nacional
de Saúde Pública, Rosa Marlene,
agradeceu o apoio prestado, afir-
mando que o equipamento terá um
impacto imediato na protecção dos
profissionais de saúde contra a pro-
pagação da Covid-19.
Em coordenação com o Governo, a
ExxonMobil também patrocinou a
criação de um Anúncio de Serviço
Público (ASP) que demonstra as
técnicas para travar a propagação
do Covid-19. Trata-se de um anún-
cio de banda desenhada da menina
Tina, que luta contra a pandemia
através da consciencialização, su-
blinhado as técnicas de prevenção,
incluindo o distanciamento social e
boa lavagem de mãos.
Millennium bim reforça a
sua liderança na inovação
do sistema bancário com o
lançamento do novo visual
do smart IZI. A ferramenta digital,
actualizada com novas funcionali-
dades, está disponível na Google
e Apple store, e vai proporcionar
experiências dinâmicas e bastante
gratificantes aos Clientes do Ban-
co. Agora, ficar em casa, vai ser ain-
da mais agradável.
Entre as novidades do smart IZI re-
novado destacam-se a possibilidade
de se efectuar transferências para
as contas de moeda electrónica, do
M-pesa para o e-Mola e vice-versa;
o pagamento à segurança social e
a recuperação da palavra-passe do
canal Internet Banking e, muito em
breve, será também possível fazer
transferências para o estrangeiro.
Os Clientes podem ainda usar o
novo smart IZI para gerir e contro-
lar a segurança dos seus cartões.
“No actual contexto de eclosão da
pandemia do Coronavírus, o Mil-
lennium bim oferece as melhores
soluções mobile que permitem aos
Clientes acederam aos serviços
bancários, com segurança e como-
didade, sem saírem de casa. Assim
sendo, o Banco recomenda que os
Clientes privilegiem sempre os
serviços bancários disponibiliza-
dos pelas suas plataformas digitais,
devendo deslocarem-se às Agên-
cias somente em caso de absoluta
necessidade”, sublinha o banco em
comunicado.
Importa referir que o Millennium
bim é Melhor Banco em Segu-
rança de Informação e Prevenção
de Fraude em todo o continente
africano, uma distinção interna-
cional que reconhece o esforço do
Banco na protecção de dados dos
seus Clientes, numa altura em que
a era digital contribui para a sim-
plificação e agilidade das operações
financeiras.

Agradece e UAU recompensam

os Clientes por permanecerem conectados
Durante estes tempos difíceis e sem precedentes,
a DStv e a GOtv aliviam a carga com algumas grandes
notícias. A partir hoje, 20 de Abril de 2020, os Clientes
da DStv e da GOtv que tenham as suas subscrições pagas,
serão automaticamente actualizados para o pacote acima
sem custos adicionais.
Agnelo Laice, Director Geral da MultiChoice Mo-
oDPELTXHD¿UPDTXHHVWDRIHUWDpXPDIRUPDGHDJUDGHFHU
aos seus valiosos Clientes pela sua lealdade, pois “a nossa
SULRULGDGH p FRORFDU RV &OLHQWHV QR FHQWUR GH WXGR R TXH
fazemos, e, alinhado à nossa missão de disponibilizar um
excelente entretenimento, mesmo durante os momentos mais
difíceis como os que atravessamos, optamos por oferecer
à nossa leal e valiosa base de Clientes a oportunidade de
experimentar uma gama mais ampla de conteúdos de quali-
GDGHGLVSRQtYHLVQRVQRVVRVRXWURVSDFRWHV(VWHpRQRVVR
sinal de apreço pelo seu apoio contínuo. Estimado Cliente
DStv, Conte Connosco”.
Todos os Clientes activos, bem como os Clientes e
desconectados dos pacotes DStv Fácil, Família, Grande e
Grande Mais que pagarem pelo seu pacote actual, serão
actualizados para um pacote acima para desfrutar de uma
experiência de visualização mais ampla. Os Clientes do DStv
)iFLOSRGHPDJRUDGHVIUXWDUGRV¿OPHVGRAXN e MNET
Movies Zone enquanto as crianças desfrutam das animações
GR&DUWRRQ1HWZRUNHQTXDQWR¿FDPHPFDVD2V&OLHQWHV
do pacote Família vão explorar conteúdos de entretenimento
do canal VIDA TVHGHVIUXWDUGRV¿OPHVH6HULHVGRFOX
Life, FOX e Cinemundo, enquanto entretêm as crianças na
Disney Júnior. Podem ainda assistir os documentários do
National Geographic. Os Clientes do pacote Grande irão
GHVFREULUXPPXQGR¿OPHVQRFox Movies e entretenimento
no Boom TVDFRPSDQKDUDVQRWLFLDVGHUHOHYRDWUDYpVGR
SIC NotíciasHDVFULDQoDV¿FDUmRHQWUHWLGDVFRPRVFDQDLV
TXILLO e Panda Biggs. Os clientes do DStv Grande
Mais GHVIUXWDPGRPHOKRUGDVVpULHVLQWHUQDFLRQDLVH¿OPHV
nos canais TV Cine Top, Action, Emotion e Edition, as
emoções infantis do Disney Channel.
Para clientes GOtv, a oferta está disponível para
FOLHQWHV /LWH (VVHQFLDO H 3OXV VLJQL¿FDQGR TXH RV WH-
OHVSHFWDGRUHV GD *2WY /LWH SRGHP GHVIUXWDU GRV ¿OPHV
do DStv Pipoca, as maravilhosas novelas do Eva + bem
como manter as crianças animadas e activas com o Disney
Júnior e Nickelodeon. Clientes da GOtv Essencial podem
desfrutar da maravilhosa variedade de conteúdos locais e
internacionais no pacote GOtv Plus, incluindo as viciantes
telenovelas no Telemundo e Zee World e descobrir o
fantástico reino animal com NAT Geo Wild. Os Clientes
GOtv Plus podem entrar num mundo de entretenimento
com uma variedade de 54 opções de canais para toda a
família no GOtv Max como BET, CBS Reality e Zee
World SDUDDOpPGHGHVIUXWDUGRVFRQWH~GRVLQIDQWLVQRV
canais Cartoon Network e Nickelodeon.
Para aderir a esta oferta imperdível, os clientes têm
VLPSOHVPHQWH GH VH FHUWL¿FDU GH TXH D VXD VXEVFULomR
esteja totalmente paga, sentar-se, relaxar e desfrutar do
entretenimento.
Para se manterem activos, os Clientes DStv podem
UHFRUUHUDYiULRVPpWRGRVGLJLWDLVHRQOLQHGHSDJDPHQWR
e para assistência, podem recorrer agora ao WhatsApp no
número 853788000, que lhes permite gerir as suas contas,
HOLPLQDUHUURVDOXJDU¿OPHVQR%R[2൶FHWURFDUGHSDFRWH
entre outros, tudo no conforto das suas casas.
Para mais informações, visitem www.dstvafrica.com
ou www.gotvafrica.com.
 3
PUBLICIDADE
Savana 24-04-2020 EVENTOS

Estimado Cliente,

A saúde e o bem-estar dos clientes e colaboradores são de extrema

importância para a GES20, a sua fornecedora de Água Mineral em garrafão
retornável de 18,9 L, que sempre se regulou pela máxima exigência ao nível da
higiene e segurança.
Com o surgimento dos primeiros indicadores sobre o Covid-19 avançamos de
imediato para a implementação de medidas de higiene e segurança
extraordinárias adequadas à situação, de acordo com as orientações das
autoridades nacionais e das instituições internacionais.
Estamos a seguir atenta e reforçadamente as instruções das autoridades
nacionais e das instituições internacionais para proteger os nossos clientes e
colaboradores. Os nossos distribuidores e técnicos foram instruídos para cumprir
os mais elevados padrões de segurança exigidos pela situação, seguindo
procedimentos rigorosos de higiene para evitar eventuais riscos. Além disso,
conforme é nosso procedimento normal, todos os funcionários que apresentarem
sintomas de gripe devem ficar em casa e não entrar em contato com colegas ou
clientes.
Comprometemo-nos a fornecer o melhor serviço aos nossos clientes, mesmo
em circunstâncias sem precedentes.
Aproveitamos para relembrar as normas que, para além das habituais,
tornarão correta e segura a utilização do nosso equipamento numa situação
sensível como é a que vivemos:

‡/DYHEHPDVPmRVDQWHVGHWURFDURJDUUDImR
‡(YLWHWRFDUQDVVDtGDVGHiJXDGRVGLVSHQVDGRUHVDRHncher um copo ou
uma garrafa.

Garantimos que estamos a tomar todas as medidas preventivas necessárias

para evitar riscos de contaminação.
Para mais informações, entre em contacto com a GES20 através do nosso
Call Center, ou por e-mail para encomendas@ges20.co.mz.
Sempre que possível mantenha-se em casa, a GES20 garante que
chegará até si com Água Mineral elevada
e a de e qualidade.
e ada qu
4 Savana 24-04-2020
EVENTOS

MCTESTP mobiliza dispositivos móveis

O
Governo, através do Mi-
nistério da Ciência e Tec-
nologia, Ensino Superior
e Técnico Profissional
(MCTESTP), mobilizou junto
dos seus parceiros, um total de 400
telemóveis e um computador, a se-
rem usados para garantir a moni-
toria do aplicativos de prevenção e
controlo do novo Coronavírus nas
Instituições de Ensino Superior
(IES) e Ensino Técnico Profissio-
nal (ETP).
Trata-se de um aplicativo infor-
mático Web/mobile com objectivo
de acompanhar o nível de propa-
gação da infecção do Covid-19 e
o estado de saúde de estudantes,
docentes, investigadores e corpo
técnico-administrativo do Ensino
Superior e Técnico Profissional,
que permite a Identificação, Lo-
calização e comunicação atempada
de casos suspeitos na Comunida-
de Académica, bem como fazer
acompanhamento da rotina diária
e evolução do estado clínico dos
membros da comunidade subme-
tidos à quarentena (através do uso
da geolocalização).
Concebido pelo MCTESTP, em
coordenação com o Instituto para
a Democracia Multipartidária
(IMD) e a MidiaLab, o aplicativo
de prevenção e controlo da Co-
vid-19 surge como medida com-
plementar para conter e monitorar
a propagação da Covid-19, face ao
Estado de Emergência que im-
põem medidas restritivas do nível
3 em todo o território moçambi-
cano.
Intervindo por ocasião da cerimó-
nia de entrega do equipamento, o
Ministro da Ciência e Tecnologia,
Ensino Superior e Técnico Profis-
sional, Gabriel Salimo, agradeceu
aos parceiros pela iniciativa que
visa colmatar parte das preocu-
pações do Governo, tanto pela
disponibilidade do equipamento
tecnológico, como pelo desenvol-
vimento do software que se adapta
a um problema especifico que é
controlar a saúde da comunidade
estudantil, permitindo saber onde
estão e como estão os estudantes.
Na ocasião, o ministro avançou
que os celulares serão distribuí-
dos pelos pontos focais de todas
as instituições de Ensino Superior
e Técnico Profissional para inte-
ragirem com os seus membros da
Instituição a que pertencem e com
as autoridades do MCTESTP e
da Saúde.
Segundo Salimo, apesar de ser um
acto simples, o mesmo carrega
elevado sentido de responsabili-
dade na medida em que “estamos
perante uma pandemia de dimen-
são mundial” desafiando o sec-
tor Ciência e Tecnologia, Ensino
Superior e Técnico Profissional, a
usar a criatividade para produzir
soluções locais.
“Com a criatividade todos pode-
mos fazer algo para fazer face a
pandemia da Covid-19. O que nós
queremos é garantir informação
sobre a saúde dos nossos estudan-
tes, assim como o país quer saber a
saúde de todos nós. A ajuda irá re-
solver um dos grandes problemas
que o Sector tem, que é saber onde
estão e como estão os nossos es-
tudantes”, salientou o governante.
Num outro desenvolvimento, o
ministro explicou que o acesso
à plataforma é automático logo
que o membro da comunidade
académica se regista na platafor-
ma SIMECACIN (Sistema de
Identificação dos Membros da
Comunidade Académica e Cien-
tífica Nacional), para beneficiar de
internet bonificada, podendo no
caso de necessidade de acesso aos
serviços de saúde, a aplicação com
base na geolocalização do necessi-
tado identificar automaticamente
o hospital disponível (com camas
vagas) mais próximo.
Por sua vez, o Director Executi-
vo do IMD, Hermenegildo Mu-
lhovo, agradeceu a oportunidade
concedida pelo MCTESTP em
colaborar para o desenvolvimento
do aplicativo que vai servir para
garantir informação sobre o estado
de saúde da comunidade estudan-
til.
Para Mulhovo, a parceria constitui
estimulo e encoraja o IMD a con-
tribuir para dar resposta a doença
que apesar de ser nova, assola a
todo o mundo.
“Neste momento, com a Covid-19
nenhum país pode contar com
outro e esperar que as soluções
venham de fora. Cada país deve
encontrar soluções inovadoras que
se ajustam a sua realidade” decla-
rou Mulhovo, reiterando que com
a contribuição o Governo venha
a ter informações que ajudem a
tomar decisões em relação ao Co-
vid-19 no seio da comunidade aca-
démica, sublinhou.
Na sua alocução, o Director Exe-
cutivo da MidiaLab, Rui Lamar-
ques, destacou a experiência da
monitoria do processo eleitoral
através do aplicativo que permitiu
obter informação em tempo real
através da participação de activis-
tas. “O aplicativo permitiu a moni-
toria em tempo real dos resultados
eleitorais com financiamento pela
Embaixada do Reino dos Países
Baixos. Com esta experiência con-
cluímos que poderíamos contri-
buir adaptando o aplicativo para
monitorar o caso de Covid-19 em
tempo real na população estudan-
til”, referiu Lamarques.

Água da Namaacha distinguida pelo

Assinatura do jornal
European Quality Award
A
A partir de 01 de Agosto de 2017 Água da Namaacha, uma destacando o seu forte potencial análise de dados estatísticos aber-
marca propriedade da competitivo no mercado mundial. tos, análise de estudos de mercado,
DESTINO PERÍODO Sociedade de Águas de Este prestigiante galardão é conce- recomendações das autoridades,
Trimestral Semestral Anual Moçambique (SAM), que dido a empresas regionais de desta- organizações sociais, instituições,
também é proprietária da marca que que demonstram excelência em câmaras de comércio, associações,
TODO O PAÍS 1.000,00mt 1.850,00mt 3.500,00mt Fonte Fresca, foi distinguida com termos de qualidade, imagem, ges- sindicatos, instituições de ensino
USD 20,00 USD 35,00 USD 60,00 mais um relevante prémio inter- tão e satisfação de clientes, funcio- entre outras.
nacional de qualidade, o European nários e outras partes interessadas. A SAM, proprietária das marcas
Quality Award. Os indicadores que determinam Água da Namaacha e Fonte Fres-
PAÍSES DA SADC USD 40,00 USD 75,00 USD 130,00 a atribuição do prémio são cui- ca, é a empresa moçambicana mais
O European Quality Award, Pré- dadosamente seleccionados por premiada ao nível do sector das
RESTO DO MUNDO USD 50,00 USD 100,00 USD 200,00 mio Europeu de Qualidade, reco- uma equipa de pesquisa profissio- águas engarrafadas, com distinções
nhece a alta qualidade da empresa nal que analisa critérios rigorosos recebidas nos continentes africano,
1.550,00Mt 2.480,00Mt 4.340,00Mt ao nível da produção e serviços, em termos de comunicação social, americano e europeu.
Assinatura versao
electrónica USD 25,00 USD 40,00 USD 70,00

Cada período é renovável em qualquer altura do ano.

Galp disponibiliza gás aos centros hospitalares

A
Entrega ao domicílio nas Cidades de Maputo, Matola e Beira. Galp doou 5 toneladas de
Aceitamos propostas para novos agentes, distribuidores gás de botija para o abas-
e angariadores de assinaturas em todo território nacional. tecimento dos 17 Centros
Hospitalares de Primeira
Linha no Combate e Tratamento
Para mais informação contacte: da Covid-19 espalhados por todas
as províncias de Moçambique.
Miguel Bila, 82 4576190 / 84 0135281 / 87 0135281 A entrega das primeiras botijas de
(miguel.bila@mediacoop.co.mz, mediafax@mediacoop.co.mz, mediafaxm@gmail.com) gás (GPL) aconteceu em Maputo,
sendo que a distribuição é extensiva
Danilo Matsimbe, 82 7356980 / 84 5723175 a todo o país e vai decorrer até ao
APBX, 21 327631 / 21 301737 / 82 3171100 / 84 3171100 final do corrente mês de Abril. Esta
Fax, 21 302402 / 21 304265 admc@mediacoop.co.mz actividade vem no seguimento de
várias outras iniciativas de apoio ao
sector da saúde e a instituições pú-
blicas na luta contra a propagação
da Covid-19.
Nesse âmbito, foram desenvolvidas
acções de sensibilização comunitá-
ria em 16 centros de acolhimento
localizados várias províncias, tendo
sido abrangidas mais de 70 mil pes-
soas entre crianças e jovens, assim
como vários utentes de unidades de
saúde e beneficiários de programas
de reabilitação nutricional.
O referido apoio inclui também a
distribuição de materiais de higiene
tais como: sabão, lixívia, baldes com
torneira, máscaras, termómetros ul-
tra vermelhos e luvas descartáveis.
São igualmente realizadas activi-
dades de sensibilização às popula-
ções e funcionários nos centros de
acolhimento para os cuidados a ter
em relação à higiene pessoal e dos
espaços.
Assim que eclodiu o surto da pan-
demia da Covid-19, a Galp tomou
medidas restritivas de contacto
pessoal a nível global, incluindo em
Moçambique. Contudo, os postos
de abastecimento mantêm-se em
funcionamento e sem constrangi-
mentos, assim como todas as suas
actividades operacionais. No en-
tanto, foram redobradas todas as
medidas de higienização e limpeza
das zonas mais críticas de contacto
com os clientes.