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Regras de trânsito na água

Foto: Vidar Nordli Mathisen/Unsplash

Preferência, sinais e
outras regras
para navegar com segurança 
As normas que você não deve esquecer no
comando de um barco
   É verdade que o assunto “regras”, incluindo as de navegação, é meio
enfadonho. Porém, imagine a confusão e o perigo que seria se não
houvesse regras de trânsito na água! Com o aumento constante da
flotilha brasileira, a atenção ao pilotar, principalmente um jet ou uma
lancha, deve ser, consequentemente, cada vez maior. E, principalmente,
no verão e nos feriados prolongados, quando muitos barcos acabam se
concentrando nos canais e nas belas enseadas do litoral e das águas
interiores país afora.

   No nosso dia a dia dirigindo automóveis, temos as ruas, avenidas e


estradas repletas de sinais e fiscalização, que colaboram para que os
motoristas se portem de maneira civilizada no trânsito. Na água, não é
bem assim, mas a responsabilidade do condutor é a mesma que em terra.
Temos de saber, de pronto, o que fazer se estivermos em rumo de colisão
com outro barco e conhecer o significado das boias e balizas pela rota,
além de alguns sinais sonoros.

   Felizmente, para facilitar nossa vida, muitas das regras do RIPEAM


(Regulamento Internacional Para Evitar Abalroamento no Mar) são
parecidas com as normas que regulam o tráfego dos automóveis. Vamos
relembrar as principais? Confira, a seguir.
 

REGRAS GERAIS DE NAVEGAÇÃO


 

Preferência entre diferentes barcos


   A questão sobre quem deve desviar de quem, tratando-se de dois
barcos de qualquer tipo em rumos de colisão, depende de vários fatores,
começando pelo local, velocidade e tamanho das embarcações.
Obviamente, uma lancha é muito mais rápida e muito mais ágil que um
veleiro; então, é mais fácil e rápido uma lancha desviar de um veleiro do
que o contrário. Por isso, quando um barco a motor e um veleiro
ameaçarem se encontrar, a preferência será sempre do barco que estiver
navegando a vela. Pelo mesmo motivo, entre um veleiro e um barco a
remo, esse último tem preferência de passagem. Já um navio tem
prioridade sobre os três tipos de barcos anteriores, desde que esteja
navegando em um canal, onde o espaço e a profundidade restrita limitam
a manobra das embarcações de grande porte.

   Na verdade, essas regras são um pouco intuitivas. Afinal, quem é


maluco de ficar na frente de um navio de milhares de toneladas entrando
em um canal de acesso ao porto? Mesmo que o comandante deseje,
muito provavelmente um navio não conseguirá desviar ou parar para
você passar.

Barcos a motor em rumo de colisão


   Frente a frente – Quando duas embarcações navegando a motor se
aproximam frente a frente (ou roda a roda, uma analogia à expressão
roda de proa contra roda de proa, na linguagem naval), ambas viram para
a direita (boreste). À noite, ambas devem ter as luzes de bordos verde e
vermelha, com uma branca (posicionada no alto) entre elas. No caso de
um navio, com mais de 50 metros de comprimento, além das luzes verde
e vermelha, há duas luzes brancas (uma acima da outra).

   Cruzamento – Exatamente como quando dois automóveis encontram-


se em uma esquina sem semáforo nem sinal de via preferencial, se dois
barcos a motor se cruzam, o da direita tem preferência de passagem. À
noite, fica até mais fácil entender essa regra, pois quem tem preferência
visualiza a luz de bordo verde da outra embarcação (sinal verde), onde,
de forma oposta, enxerga-se a luz vermelha do outro barco (sinal
vermelho).

   Ultrapassagem pela direita – A embarcação que alcançar a outra


deve desviar, de preferência, passando pela direita do barco da frente (o
contrário da regra de ultrapassagem entre automóveis). À noite, a
embarcação alcançadora avista somente a luz branca do barco à sua
frente.

Velocidade
   Ainda que a preferência nos favoreça, também é intuitivo — e
imperativo — desviar de outro barco quando este não o fizer. É questão
de bom senso, assim como é jamais navegar em velocidade que gere,
pelo deslocamento da nossa embarcação, marola capaz de causar
estragos em áreas de ancoragem ou que possa fazer virar e afundar
embarcações pequenas nas proximidades. À noite, ou mesmo durante o
dia em condições de visibilidade prejudicada por chuva ou nevoeiro, é
prudente, principalmente no caso de barcos a motor, seguir com
velocidade reduzida, procedimento que costuma evitar muitos acidentes.

Nos canais
   Quando navegam em canais, todos os tipos de barcos devem manter-se
à direita — tratando-se de barcos, esta é uma regra universal, inclusive
no Reino Unido.

Luzes de navegação
   À noite ou durante o dia em condições de visibilidade reduzida, é
preciso reconhecer as luzes das embarcações, para saber quando se trata
de um navio, uma lancha, um barco de pesca com rede na superfície, um
veleiro ou um barco a remo. Além das luzes verde e vermelha (também
chamada de encarnada) nos bordos, navios, lanchas e veleiros mostram
uma luz branca (e somente ela) na popa, sendo que navios também têm
duas luzes brancas nos mastros, com a de ré mais alta que a do mastro da
proa. Barcos a motor de até 50 metros de comprimento, além das luzes
de bordos, só têm uma luz branca de mastro, enquanto os veleiros não
têm nenhuma luz branca no mastro. Já rebocadores puxando outro barco
exibem uma luz amarela na popa, acima da luz branca — jamais passe
atrás de um rebocador em operação, por causa do cabo de reboque.

   Há também as luzes circulares, que podem ser vistas de qualquer


ângulo (360 graus). Barcos a remo usam apenas uma luz circular branca.
Pequenos barcos a motor ou a vela, de até sete metros de comprimento e
com velocidade inferior a sete nós, também podem ter essa identificação
noturna. A luz circular branca sinaliza, ainda, barcos ancorados. Já
navios entrando ou saindo por um canal pouco profundo exibem, além
das luzes de navegação, três luzes circulares vermelhas. Barcos de pesca
em movimento têm as luzes de bordos e de alcançado (branca, de popa),
mais duas luzes circulares enfileiradas na vertical, no mastro de vante.
Caso a pesca seja de arrasto (com rede no fundo) a luz superior é verde e
a inferior é branca. No caso de barcos de pesca equipados com redes
boiadas (sempre mais perigosas à navegação que as redes de fundo), a
luz superior é vermelha e a inferior é branca. Barcos da praticagem, além
das luzes regulares de navegação, usam duas luzes circulares na vertical,
sendo a superior branca e a inferior vermelha. Um hidroavião tem uma
luz branca entre as luzes de bordos (verde e vermelha).
 

 
Sinais sonoros
   Apitos e buzinas são usados, normalmente, para chamar a atenção de
outro barco. Nos portos, porém, é comum escutarmos apitos ou buzinas
combinados em determinados sinais, que temos de conhecer bem e usar,
se necessário.

   1 apito curto (cerca de 1 segundo): o barco vai virar para a direita;

   2 apitos curtos: o barco vai virar para bombordo;

   3 apitos curtos: o barco vai dar marcha à ré;

   1 apito longo (de 4 a 6 segundos): deve ser usado antes de entrar em


uma curva;
   2 apitos longos e 1 curto: um barco pretende ultrapassar o outro por
boreste;

   2 apitos longos e 2 curtos: um barco pretende passar outro por


bombordo;

   5 apitos curtos: um barco não está entendendo as manobras do outro;

   1 apito longo, no máximo, a cada 2 minutos: sinal para ser usado em


nevoeiros.

Boias e balizas
   Boias são sinalizadores flutuantes e balizas são, normalmente,
sinalizadores encravados em algum ponto sólido. Ambos têm grande
valia nos canais, a fim de evitar lajes perigosas e águas rasas. Nas
Américas, usa-se o sistema de sinalização IALA B, formado por:

   Sinais laterais – Conjunto de boias verdes e vermelhas usadas para


indicar o canal de passagem. As verdes, chamadas “de bombordo” e
que devem ser deixadas à esquerda do barco que está entrando no
porto, têm formato cilíndrico ou de charuto (mais fino), com uma base
inferior circular ou não. Nos formatos de charuto, o sinal de bombordo,
mesmo estando com a cor verde desgastada, pode ser reconhecido de
longe pelo cilindro que tem no topo. Já as boias vermelhas
(encarnadas), chamadas “de boreste”, porque devem ser deixadas à
direita da embarcação com destino ao porto, apresentam-se em formato
cônico ou de charuto. Como ocorre com as boias verdes, nesse formato
de charuto, as boias vermelhas podem ter ou não uma base inferior
circular e também são reconhecidas de longe, pelo topo em forma de
cone. Há uma regra em inglês que facilita guardar por qual lado do barco
essas boias devem ser deixadas. Memorize a abreviatura, em inglês,
RRR, de Red Right Return, ou “vermelha à direita retornando ao
porto”. No sentido contrário, saindo do porto, as boias verdes devem
ficar a nosso boreste e as vermelhas a nosso bombordo, ou seja, no
mesmo bordo da luzes de navegação verde e vermelha do barco. Se
forem luminosas, a boia verde emite um lampejo verde e a vermelha
emite um lampejo vermelho.
Sinais laterais modificados – São semelhantes às boias verdes e
vermelhas acima, mas servem para indicar uma bifurcação com dois
canais à frente. As cores são as mesmas, mas com uma faixa horizontal
vermelha ou verde, no centro. O sinal de bombordo modificado é
representado por uma boia verde em qualquer formato da boia de
bombordo, com uma faixa vermelha no meio. Nesse caso, a orientação
para entrar no porto é continuar deixando essa boia à esquerda, pois o
canal preferencial é o da direita da boia. Já o sinal de boreste
modificado, que é uma boia vermelha com faixa verde, indica o oposto,
orientando quem segue para o porto a optar pelo canal principal, à
esquerda dessa boia, que deve permanecer à direita do barco. Se forem
luminosas, essas boias emitem lampejos verdes (bombordo modificado)
ou vermelhos (boreste modificado), em sequência de dois lampejos
seguidos e outro mais atrasado.

   Perigo isolado – É sinalizado por boias ou balizas pretas com faixas


horizontais vermelhas e duas esferas pretas no topo, indicando que há
um perigo embaixo delas, como uma laje ou um casco soçobrado. Se for
luminoso, esse sinal é identificado por dois lampejos brancos. Fique bem
longe dele.

   Águas Seguras – Boias ou balizas brancas com faixas verticais


vermelhas indicam as águas mais profundas e totalmente livres de
obstáculos perigosos à navegação na região. Se forem luminosas,
emitem luz branca com tempo de duração longo, de até 10 segundos, ou
a letra A em código Morse, representada por um lampejo curto e um
longo.

Sinais cardinais – São boias ou balizas nas cores amarela e preta, que
ficam próximas dos portos, orientando o navegante a seguir por um
quadrante a partir daquele sinal, a fim de livrá-lo de um perigo na região,
como uma laje ou uma área insegura para trafegar (como a proximidade
de aeroportos à beira d´água). Essas marcas orientam o piloto em relação
ao perigo. Por exemplo: um sinal cardinal leste indica que, a partir dessa
marca, a região livre de perigos está a leste; e que significa, portanto, que
no lado oeste, há algum obstáculo à navegação.
O modo de saber o que fazer ao encontrar um sinal desses é observar os
indicadores pretos existentes na sua parte superior: dois cones apontados
para cima orientam passar pelo norte; dois cones voltados para baixo
recomendam seguir pelo sul. Já o sinal cardinal para leste é formado por
dois cones base a base; e o oeste é representado por dois cones vértice a
vértice, que lembra um pouco a letra w (de west, ou oeste, em inglês).

E à noite? Se forem luminosos, os sinais cardinais emitem lampejos


brancos rápidos ou muito rápidos, que remetem às horas no mostrador de
um relógio analógico: um lampejo significa norte (12 horas); três
lampejos, leste (3 horas); seis lampejos, sul (6 horas); e nove lampejos,
oeste (9 horas). Basta, para isso, não esquecer do mostrador de um
relógio.

Imagens: Reprodução Navguide 2018, 8th edition, www.iala-aism.org


Para saber mais:

www.marinha.mil.br/dpc/normas/normam

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