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Pandemia de Covid-19 redesenhou corrida presidencial nos EUA; entenda o cenário

Presidente dos EUA começou o ano como favorito à reeleição, mas avanço do novo
coronavírus embaralhou as discussões sobre temas importantes para os norte-
americanos. Cenário ainda não está definido.

Por Lucas Vidigal, G1

28/06/2020 11h09 Atualizado há 4 horas


Mulher usa máscara ao votar nas primárias do Partido Republicano na Virgínia, nos
EUA, em 23 de junho — Foto: Stephanie Klein-Davis/The Roanoke Times via AP

Mulher usa máscara ao votar nas primárias do Partido Republicano na Virgínia, nos
EUA, em 23 de junho — Foto: Stephanie Klein-Davis/The Roanoke Times via AP

Donald Trump não esperava enfrentar uma pandemia em pleno ano eleitoral nos Estados
Unidos. O novo coronavírus capaz de parar um país e matar dezenas de milhares de
pessoas em poucos meses embaralhou o debate de temas das eleições presidenciais
norte-americanas de 2020, marcadas para novembro.

Na primeira semana de fevereiro, Trump vivia um dos melhores momentos desde que
assumiu a Casa Branca, em 2017. A absolvição no processo de impeachment, os bons
números de emprego e a falta de coesão entre os opositores no Partido Democrata
pavimentavam o caminho à reeleição do republicano.

O fluxo da política, porém, tomou outro rumo com a escalada dos casos de Covid-19
nos EUA, sobretudo depois de março, quando Nova York começou a fechar
estabelecimentos e impor ordens de ficar em casa graças ao rápido aumento nos
contágios e nas vítimas. Os empregos, antes uma carta na manga de Trump,
despencaram em uma velocidade jamais vista por causa da epidemia.
Apoiador de Donald Trump usa máscara com a logo de campanha do presidente durante
comício em Tulsa, nos EUA, em 20 de juho — Foto: Leah Millis/Reuters

Apoiador de Donald Trump usa máscara com a logo de campanha do presidente durante
comício em Tulsa, nos EUA, em 20 de juho — Foto: Leah Millis/Reuters

E, enquanto o vírus começava a assustar os EUA, o antes fragmentado Partido


Democrata cerrou fileiras em apoio ao ex-vice-presidente Joe Biden — justamente o
nome que Trump queria investigar segundo o inquérito de impeachment que fracassou
no Congresso.

Antes favorito, Trump agora vê uma corrida mais acirrada. Ainda faltam quatro meses
até as eleições presidenciais norte-americanas, marcadas para 3 de novembro, e as
peças da corrida eleitoral podem se mover mais uma vez. Afinal, no início deste
mesmo 2020, o impacto da Covid-19 nos EUA ainda não parecia tomar as proporções de
hoje.

Veja abaixo, em detalhe, como a pandemia do novo coronavírus reorganizou a corrida


presidencial dos EUA.

Enfrentamento da pandemia

O presidente dos EUA, Donald Trump, segura uma máscara com o selo presidencial que
disse ter usado durante visita à fábrica de componentes da Ford em Ypsilanti,
Michigan, em 21 de maio — Foto: Reuters/Leah Millis

O presidente dos EUA, Donald Trump, segura uma máscara com o selo presidencial que
disse ter usado durante visita à fábrica de componentes da Ford em Ypsilanti,
Michigan, em 21 de maio — Foto: Reuters/Leah Millis
A postura de Donald Trump diante do novo coronavírus mudou desde os primeiros
relatos da doença nos EUA, ainda em janeiro:

Efeitos do coronavírus — O presidente acreditava, no início, que os EUA estavam


prontos para lidar com a Covid-19 e duvidava publicamente que ela geraria um grande
número de vítimas. Meses depois, ele reconheceu que a doença deixaria dezenas de
milhares de mortos no país.
Isolamento social — Inicialmente contrário a medidas mais rigorosas, Trump
mudou de ideia, passou a defender que as pessoas permanecessem em casa e até
discordou de governadores aliados que reabriam rapidamente o país. Depois, o
presidente voltou a pedir o retorno das atividades, mesmo com os EUA atingindo mais
de 2 milhões de casos oficiais.
Medicamentos — Trump defendia o uso da hidroxicloroquina nas primeiras semanas
de pandemia, tema que gerou atritos com o médico Anthony Fauci, principal consultor
da Casa Branca em epidemiologia. Com pesquisas que mostravam a pouca eficácia do
medicamento nos casos de Covid-19 e com o aparecimento de outras substâncias mais
promissoras, o presidente deixou de lado a defesa do remédio.

Essa postura errática do presidente dos EUA se traduz na oscilação do apoio a


Trump, aponta o doutor em relações internacionais Carlos Gustavo Poggio, professor
da Faap. "Houve no início até um aumento da aprovação, mas depois os eleitores
começaram a perceber que ele lida de uma forma não satisfatória com a epidemia",
avalia.

O professor pondera que, no entanto, o eleitorado ainda observa a reação da Casa


Branca à pandemia, em um cenário que pode mudar.

"É a primeira grande crise que Trump tem que enfrentar no governo. O povo
americano está julgando como ele lida com esse impacto", afirma Poggio.

Funcionários de restaurante separam mesas em Nova York após início de reabertura,


em foto de 25 de junho — Foto: Lucas Jackson/Reuters

Funcionários de restaurante separam mesas em Nova York após início de reabertura,


em foto de 25 de junho — Foto: Lucas Jackson/Reuters

Por outro lado, medidas como o pagamento de auxílio — cheques inclusive impressos
com o nome de Trump — e de parte dos tratamentos de pessoas doentes com o novo
coronavírus evitaram que outro tema difícil para os norte-americanos entrasse em
pauta: o sistema de saúde.

O assunto envolve discussões sobre pagamento compulsório de impostos e, assim, não


é unanimidade sequer entre o Partido Democrata, analisa Juliano Cortinhas,
professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).

"Os benefícios [aprovados por Trump] diminuíram a pressão sobre o sistema de


saúde, e achei que essa pressão viria com muito mais força no debate. É uma falha
dos democratas, que não chegam a um consenso sobre um plano financeiro e
orçamentário para a saúde pública", afirma.

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