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Subseção DIEESE/CUT-Nacional

Algumas considerações sobre os


resultados do PIB no 2º trimestre de
2018
Alguns comentários sobre o PIB brasileiro do 2º trimestre de 2018

 Os resultados do 2º trimestre de 2018 apontam variação positiva de 0,2% em


relação ao 1º trimestre de 2018 e avanço de 1,4% em relação ao acumulado nos
quatro últimos trimestres (ou 12 meses).
 A paralisação dos caminhoneiros, apesar de ter efeito estatístico, não justifica o
fraco desempenho da economia, aliás, serve para reforçar o baixo dinamismo
brasileiro que já vinha sendo verificado anteriormente.
 Esse baixo dinamismo é resultado principalmente no lento ritmo pelo qual o
consumo das famílias e dos investimentos tem variado: enquanto o mercado
interno sofre com a instabilidade da atividade econômica e precariedade do
mercado de trabalho, os investimentos têm permanecido, na pratica, estagnados
mesmo após forte queda a partir de 2016, refletindo pessimismo sobre a
economia e incerteza sobre o futuro.
 O setor público, que poderia atuar de forma a minorar esse fraco desempenho
através do gasto anticíclico, tem atuado de forma contrária, com os cortes fiscais
piorando a atividade econômica.
 Indicadores da fraca atividade econômica:
o Inflação abaixo do piso da meta, inclusive com forte efeito do preço dos
derivados de petróleo (fruto da política de preços da Petrobrás), planos
de saúde e energia elétrica.
o Elevada capacidade ociosa na Indústria: há um evidente descompasso
entre a oferta (que irá andar mais lentamente) e a demanda (mais
influenciada pela conjuntura). Pouco avanço tem ocorrido.
o Mercado de trabalho volátil e se expandindo através do emprego
informal e outras formas precárias: queda no consumo interno;
o Arrecadação fiscal, apesar de expansão, permanece inferior em termos
reais aos patamares pré-2015, assim como permanece acelerada a
deterioração fiscal;
o Aumento da incerteza sobre 2018 e 2019: pessimismo influencia
negativamente o gasto privado;
o Nenhuma ação da política monetária.

Introdução

A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) no 2º trimestre de 2018 vai


explicitando de forma evidente a fraqueza da “recuperação econômica” anunciada pelo
governo federal no início do ano. Aliás, saliente-se que o próprio fato de a greve/lockout
dos caminhoneiros ter sido utilizada insistentemente como justificativa para o resultado
é, na verdade, uma evidência de quão fragilizada permanece a economia. Os resultados

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do 1º trimestre de 2018 apontam variação positiva de 0,2% em relação ao último


trimestre de 2017 e avanço de 1,4% em relação ao acumulado nos quatro últimos
trimestres (ou 12 meses).
A greve/lockout dos caminhoneiros, no final de maio de 2018 não foi evento
desprezível: foram 10 dias no total (incluindo feriado e fim de semana) que tiveram
impacto sobre as estatísticas relacionadas á produção industrial, aos serviços (em
especial transportes), comércio e no índice inflacionário do mês. A questão, no entanto,
é que este cenário se assemelha a um carro que foi ininterruptamente freado: se ele
estivesse acelerando muito rápido, esta ação diminuiria sua velocidade, mas não o
pararia; mas se estivesse devagar, qualquer movimento já seria suficiente para lhe parar.
A economia brasileira é o “carro devagar” (ou que está patinando), sua “aceleração”
estava lenta e, essa pisada no “freio” (paralisação dos caminhoneiros) foi suficiente para
que o próprio governo reduzisse sua expectativa de crescimento para 2018, que
inclusive já havia sido diminuída. Dito de outra forma, a suposta “recuperação” da
economia brasileira vem ocorrendo em ritmo extremamente lento, em período anterior á
greve dos caminhoneiros, e esta teve o efeito de desacelerar ainda mais, mas não é
causador dessa vagarosidade inicial. Aliás, saliente-se também que a paralisação dos
caminhoneiros foi fruto da política de preços da Petrobrás a partir de 2016, que elevou
de forma acentuada os preços dos combustíveis.
No geral, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) para o 2º trimestre de 2018
vem confirmando a visão anterior da Subseção DIEESE/CUT-Nacional de que há uma
baixa intensidade de avanço do PIB, que certamente gera uma “herança” de baixo
dinamismo e lenta recuperação ao patamar pré-2014.

Resultados do PIB do 2º trimestre em relação ao 1º trimestre de 2018

Considerando o resultado do PIB brasileiro no 2º trimestre de 2018 em relação


ao trimestre imediatamente anterior (1º trimestre de 2018), houve um avanço de 0,2%,
segundo trimestre seguido de avanço depois da desaceleração verificada no decorrer de
2017.
Esta variação positiva, pela perspectiva setorial, se relacionou principalmente a
algum avanço das Atividades Imobiliárias, Informação e Comunicação, Atividades
financeiras e Eletricidade e gás, água e esgoto. Por outro lado, Transporte,
armazenagem e correio foram o que teve pior resultado, refletindo de forma mais direta
a paralisação dos caminhoneiros, além das atividades segmento da indústria de
transformação e da Construção Civil. A agropecuária depois de consideráveis altas
desde 2017, permaneceu estagnada.
Em relação à ótica da demanda, houve uma pequena elevação do Consumo do
governo, permanecendo praticamente estável o Consumo das famílias. Houve queda
expressiva nas exportações, importações e, muito importante, uma queda dos
investimentos, na comparação com o 1º trimestre (com ajuste sazonal), refletindo a
instabilidade da economia brasileira em 2018.

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Gráfico 1: Variação do PIB, 2º trimestre de 1997 a 2018, em % (dado


dessazonalizado).
3,0
2,0
1,0
0,0
-1,0
-2,0
-3,0
1996.II
1997.II
1998.II
1999.II
2000.II
2001.II
2002.II
2003.II
2004.II
2005.II
2006.II
2007.II
2008.II
2009.II
2011.II
2013.II
2015.II
2016.II
2017.II
2018.II
Fonte: Sistema de Contas Nacionais – IBGE.

Resultado acumulado em 12 meses

Considerando agora o intervalo de 12 meses, de julho de 2017 a junho de 2018,


a economia brasileira avançou 1,4%, um aumento de 0,1% em relação ao período
anterior. Esse resultado foi fruto dos avanços no período do Comércio, Indústria e
Serviços. E do ponto de vista da demanda, o que tem tido maior destaque, ainda, foram
exportações, seguido dos investimentos, Consumo das famílias, além de uma forte
expansão das importações, com um resultado negativo no Consumo do governo.
Setorialmente, a alta verificada no segmento Comércio, nesta informação de 12
meses, ainda reflete a expansão das atividades do setor em 2017 que tiveram como
causa a baixa base de comparação, a liberação dos saques do FGTS e festas de final de
ano, assim como na Indústria de Transformação (que incluiria também um aumento da
produção derivado de ajuste de estoques e vendas externas). Mas conforme visto acima,
apesar do resultado ainda positivo, estes vêm perdendo fôlego desde o início de 2018,
refletindo o cenário de estagnação da economia no período.
Observando os itens da demanda, por sua vez, o destaque é o avanço do
Consumo das famílias que, no entanto, também tem seu resultado muito mais
influenciado pelo desempenho de 2017 do que uma expansão expressiva no começo de
2018 já que, passado os efeitos dos saques do FGTS e do PIS/PASEP, dependem da
dinâmica do mercado de trabalho, este ainda muito volátil e avançando na geração de
renda em torno do emprego informal e/ou precário em sua maioria. Já os investimentos
(formação bruta de capital fixo) tem observado resultado positivo em 12 meses,
especialmente na recomposição de estoques a partir do 3º trimestre de 2017, mas ainda
permanece em patamar reduzido em patamar do PIB.

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Gráfico 2: Variação do PIB, taxa acumulada em 4 trimestres, em %.


10,0
8,0
6,0
4,0
2,0 1,4

0,0
-2,0
-4,0
-6,0

Fonte: Sistema de Contas Nacionais – IBGE.

Apesar dos resultados positivos, o consumo das famílias permanece


praticamente estagnado nos últimos meses, e os investimentos estão em trajetória de
queda; boa parte do fraco desempenho da economia brasileira em todo primeiro
semestre de 2018 tem como causa o baixo dinamismo desses dois indicadores, cenário
no qual (aí sim) a paralisação dos caminhoneiros teve efeito negativo adicional no
último trimestre. Por fim, o Consumo do governo, por sua vez, reflete a crise econômica
e a precariedade da situação fiscal do governo, que dada crise econômica (promovida
por sua política de austeridade) teve perda de arrecadação e corte de gastos.

Tabela 1: Taxa de variação acumulada em 4º trimestres (12 meses), PIB e subsetores.


Fonte: Sistema de Contas Nacionais – IBGE.
Subsetores de atividade econômica 2018.I 2018.II
Agropecuária 6,1 2,0
Indústrias extrativas 1,6 0,3
Indústrias de transformação 2,8 3,5
Eletricidade e gás, água, esgoto, ativ. de gestão de resíduos 0,1 1,0
Construção -3,9 -2,4
Comércio 3,4 3,7
Transporte, armazenagem e correio 2,1 2,5
Informação e comunicação -1,8 -1,1
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados -0,3 0,3
Atividades Imobiliárias 2,0 2,5
Outras atividades de serviços 1,0 1,0
Adm., defesa, saúde e educação públicas e seguridade social -0,3 0,1
Itens de demanda
Consumo das Famílias 2,1 2,3
Consumo do Governo -0,6 -0,4
Formação Bruta de Capital Fixo -0,1 2,6
Exportação 6,2 4,7
Importação 4,6 7,1
PIB 1,3 1,4
Fonte: Sistema de Contas Nacionais – IBGE.

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