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São
Paulo
Apocalipse
e conversão
Para os senhores Aflredo Duarte e J. H. C.
To d o s o s d i r e i t o s d e p u b l i c a ç ã o e m Po r t u g a l
reser vados por :
ALÊTHEIA EDITORES
E s c r i t ó r i o n a Ru a d o S é c u l o, n . º 1 3
1 2 0 0 - 4 3 3 L i s b o a , Po r t u g a l
Te l . : ( + 3 5 1 ) 2 1 0 9 3 9 7 4 8 / 4 9 , F a x : ( + 3 5 1 ) 2 1 0 9 6 4 8 2 6
E-mail: aletheia@aletheia.pt
w w w. a l e t h e i a . p t
Capa:
Hug o Neves
Paginação:
Rita L. Henriques
Impressão e acabamento:
Várzea da Rainha Impressores, Óbidos
w w w. v a r z e a d a r a i n h a . p t
ISBN: 978-989-622-657-2
Depósito Legal: ?/14
Outubro de 2014
Prefácio
O professor António de Castro Caeiro, investigador e
membro de vários institutos e sociedades, é um distinto pro-
fessor de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa. Destaco
do seu já vasto leque de publicações, A Areté como Possibilidade
Extrema do Humano - Fenomenologia da Práxis em Platão e Aristóte-
les, e Ética a Nicómaco, numa notável tradução de Aristóteles.
Na Paróquia de São Nicolau foi palestrante em «conversas»
de enorme interesse, «Onde está sabedoria», «Conversão de
São Paulo», «Confissões - de Santo Agostinho», e promoveu
aí também as «Jornadas de Reflexão» do Departamento de
Filosofia da Universidade Nova de um conjunto de douto-
randos e mestres. Este caminho percorrido e a amizade que
permanece para além dele não me permitia recusar o amável
convite que o António Caeiro me dirigiu para que prefacias-
se o seu novo livro São Paulo. Aceitei, apesar de ter a noção
que perde a obra e perdem os seus leitores.
São Paulo, o livro de António Caeiro editado pela
Alêtheia, desenvolve-se em cinco andamentos: Viragem,
Servidão, Revelação, Espírito e Apocalipse. Estes títulos
condensam e expressam alguns dos temas maiores das car-
tas de São Paulo, sob os quais o autor agrega outros que os
confirmam e explicitam, num itinerário que tem início na
conversão e acompanha a obra do Apóstolo dos Gentios.
Viragem. No caminho de Damasco, depois de um pe-
ríodo em que perseguiu a Igreja nascente, dá-se o momen-
to decisivo da vida de Saulo que se traduz numa inversão
completa de perspectiva e de sentido. Inesperadamente,
Paulo considera «perda» e «esterco» tudo o que antes cons-
tituía a razão de ser da sua existência. Que lhe aconte-
ceu? Um encontro pessoal que o muda e transforma por
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António de Castro Caeiro
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São Paulo
7
N ota i n i c i a l
O que agora vem a lume resulta de uma aproxima-
ção com vista à compreensão do «pensamento» de São
Paulo. Uma tal aproximação tem-se desdobrado princi-
palmente em três frentes. 1) A minha actividade como
docente no Departamento de Filosofia da FCSH/UNL*.
2) Nas comunicações que tenho feito, para o público em
geral**. 3) Na produção de textos com teor académico,
insidindo, designadamente, sobre os conceitos «espírito»
(pneuma), «conscientia» (syneidêsis) e «instante» (hripê
ophthalmou)***. Este livro, contudo, foi concebido a pen-
sar em toda a gente que se possa interessar pela história de
amor que foi a vida de Paulo de Tarso.
Agradeço aos senhores Dr. João Holstein Campilho,
Pe. Tolentino Mendonça, Pe. Mário Rui, ao Núcleo Ca-
tólico da FCSH/UNL. Agradeço ainda à LIF/FLUC e à
minha Faculdade, FCSH/UNL, por me ter concedido
a licença Sabática no 2º Semestre de 2013-2014, para que
pudesse trabalhar o material de que dispunha com vista
à publicação deste livro. Finalmente, à Zita Seabra que
prontamente se dispôs a editar-me.
9
I
V IRA G E M
UMA VIDA
U M A B IO G RAFIA
A viragem na vida de Saulo é brutal. «Fui preso por
Cristo, Jesus».1 Pelas descrições que temos, ficou lite-
ralmente com as pernas para o ar. «Virado do avesso».
A partir de então, tudo ia ser diferente. É o que encon-
tramos nas notas autobiográficas.2 A circuncisão é uma
expressão da lei. Os que servem o espírito de Deus, po-
rém, foram glorificados em Cristo, Jesus. A lei é da carne,
ainda que admita certificação.3 A fé configura o coração4.
A glória para Paulo foi achada na condenação de Cris-
to. Com a excelência obtida com abertura a Cristo Jesus,
todas as coisas ficaram a valer uma pechincha. Tudo é para
que se possa fazer Cristo ganhar. Cristo não é encontra-
do. É Paulo quem é encontrado por Cristo e em Cristo.
A justificação já não pode resultar da lei. Ela resulta da fé
em (e de) Cristo. A justificação resulta de Deus. É de Deus
que depende toda a fé.
A fé abre à potência da possibilidade da sua ressurrei-
ção. A abertura à fé expõe-nos a tudo o que aconteceu a
Cristo. Paulo ficou configurado pela morte dele. Paulo vive
no encaminhamento da ressurreição dos mortos. Viver na
possibilidade desse encontro quer dizer que a ressurreição
não foi ainda recebida. Não há um cumprimento já efec-
tivo do sentido desse projecto. A vida é a perseguição no
encalço de Jesus, para ver se o apanhamos, tal como uma
vez Paulo foi apanhado.
E tudo o que aconteceu lá atrás fica esquecido. E tudo
é um lance por aí além. Estende-se tudo à nossa frente.
Tudo é futuro por ser.5
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António de Castro Caeiro
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CRI S E D E CO N S CI Ê N CIA
A primeira vez que Saulo é chamado Paulo é em «acta
apostolorum, 13, 9». As referências à experiência de con-
versão encontram-se em três passos. Devemos a Lucas ami-
go e médico de Paulo estas notas biográficas.
A primeira, é a descrição do acontecimento como que
de fora, cinematograficamente. A segunda, é contada pelas
palavras de Barnabás, quando este leva Paulo ao encontro
dos outros Apóstolos. Na terceira, Lucas põe o próprio após-
tolo a falar em discurso directo, quando o rei Agripa lhe dá
oportunidade de se defender. As outras referências a que alu-
dimos são contadas pelo punho do Apósotolo e permitem
uma tentativa de reconstituição do que se «terá passado».14
Nos actos dos Apóstolos, a primeira descrição é dividi-
da em duas partes fundamentais. Na primeira, a aparição
é descrita. Na segunda, é apresentado o sentido indissoci-
ável da aparição:– o chamamento para a missão apostólica
e o projecto de Deus, Jesus, para Paulo.
«E quando estava de caminho a aproximar-se de Da-
masco, de repente uma luz vinda do céu envolveu tudo
em redor e quando [Saulo] caiu por terra ouviu uma voz
que falava com ele: ‘Saulo, Saulo, porque razão me per-
segues?’ E ele respondeu: ‘quem és tu, senhor?’15. E a voz
respondeu: ‘sou eu, Jesus, quem tu persegues. Vá lá anda,
levanta-te e entra na cidade. Lá haverá alguém que dirá o
que deves fazer.’ Os outros homens que o acompanhavam
ficaram parados estupefactos: escutaram também a voz,
mas não viram ninguém. Paulo levantou-se, mas, mesmo
depois de ter aberto os olhos, não viu nada. Levaram-no
pela mão e fizeram-no entrar em Damasco. E durante três
dias ficou sem ver, não comeu nada nem bebeu».16
21
António de Castro Caeiro
para cima: algo que não é visto e que emerge, que salta de
baixo para cima. O repentino, o subreptício. O que des-
liza, se arrasta, como um réptil camuflado, sem barulho.
Mas o advérbio esconde muito mais em grego do que a
tradução deixa perceber.
O que estava como que desaparecido, como se não ti-
vesse estado lá nem nunca tivesse existido, aparece, não
se sabe de onde nem quando. O advérbio diz da latência,
do escondimento, da opacidade, do paradeiro desconhe-
cido. Da latência torna-se patente. Do escondimento, é
descoberto. Da opacidade, torna-se transparência. Do pa-
radeiro desconhecido, passa a ficar localizado.
O símbolo que descreve este encontro é a luz.
Uma luz desce do céu18. O prevérbio diz: a toda a volta,
em redor, περί (peri). Não apenas de Saulo: a toda a vol-
ta e por isso também à volta de Saulo. Mas o prevérbio
deixa identificar ainda um outro sentido. A luz é como
que um foco que está apontado para uma determinada
direcção. De repente o foco passa a ser virado. Essa vira-
gem da luz representa a aparição que arranca à escuridão
e entrega à transparência.
O que ouvimos de Saulo? Uma única pergunta em dis-
curso directo: «Quem és, senhor?» A pergunta não está
completamente indeterminada. O vocativo, «Senhor»,
indica a possibilidade de Saulo ter reconhecido quem lhe
aparece e o que lhe está acontecer.
A seguir o relato conta como o senhor responde às re-
servas de Ananias:
Paulo é o escolhido para semear, plantar e fomentar o
Seu nome junto da Humanidade no seu todo, sem distin-
ção. Paulo vai saber tudo por quem tem de passar em nome
Dele.19 Ananias explica a Saulo o que acabara de acontecer.
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São Paulo
23
somos o mais das vezes e primariamente impermeáveis.
A voz pode ressoar até nós. Mas nós não penetramos aque-
le horizonte. O emissário do apelo e o destinatário estão
verticalmente opostos. Mas o destinatário pode receber
o apelo. Pode querer ser chamado. Pode quer ser encon-
trado. O chamamento não nos retira de um sítio para nos
pôr noutro sítio. Nem inverte a direcção. Saulo não é cha-
mado de lado nenhum. Saulo não é chamado para lado
nenhum. A bem dizer, Saulo não é chamado da Terra para
o Céu, nem é inibido de ir para Damasco ou proibido de
fazer o que ia fazer. A missão não é inteiramente abortada.
Mas também não se trata de um apagamento sem mais
do que se foi no passado. De repente passa-se a ter uma
outra oportunidade, mas não como se têm oportunidades
na vida. As oportunidades e as ocasiões normalmente têm
o mundo como conteúdo. Não, aqui.
Este chamamento é inteiramente vertical, vem de cima
para baixo. O plano era a escuridão e de repente há luz a
toda a volta. Calado no zelo da missão, escuta uma voz,
que pronuncia um nome, o seu nome. A voz visa Saulo
sem apelo nem agravo. Não tem qualquer «consideração»
por quem ele é. Visa-o exactamente como ele mesmo é.
A possibilidade improvável, inconsistente, inespe-
rada do ponto de vista humano, advinda contra toda a
expectativa e até contra a vontade constitui-se como
a possibilidade possibilitante. O seu horizonte terá de ser
constituído numa dimensão que não está em lado nenhum
no mundo. O chamamento vem do futuro. Puxa Saulo
para o porvir. Põe-no em tensão com o advento do porvir.
O porvir que vem do céu, como a dimensão temporal que
provem da eternidade. Esta vida, neste mundo, passam a
ser configurados pela eternidade. Mas uma das alternati-
vas é que tudo passe a ser no encaminhamento da morte.
Fazer o caminho em direcção à morte causa asfixia.
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São Paulo
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António de Castro Caeiro
26
São Paulo
M U D A N Ç A D O CORA Ç Ã O
Paulo foi escolhido. Vai ser enviado para abrir os
olhos e fazer as pessoas passarem da escuridão para a luz.
Hão-de receber remissão dos pecados. Obter em sorte a
santificação pela fé em Cristo. Paulo descreve o que lhe
aconteceu relativamente a este conteúdo. Uma coisa é escu-
tar uma ordem. Outra, cumpri-la. Paulo diz ao rei Agripa
que não desobedeceu à visão do céu. Nem deixou de acre-
ditar nela.25 Desde esse tempo, Paulo diz às pessoas para se
arrependerem26, para se «converterem para Deus»27, «para
realizarem acções dignas de arrependimento»28.
Converter-se29 é virar-se de um sítio para outro, mu-
dar de direcção: da escuridão para a luz, do poder de Sa-
tanás para Deus, de uma vida para outra. Mas o que é
traduzido por «arrependimento»? Nem sequer em latim
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António de Castro Caeiro
28
São Paulo
A P OCALI P S E E
M ETA M ORFO S E
Que metamorfose é esta por que passa a nossa com-
preensão das coisas? Que compreensão é esta de que tudo
muda como se pela primeira vez tivéssemos finalmente
29
António de Castro Caeiro
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Uma esperança que não é vã. Uma esperança que nasce
no desespero. O sublime poder de Deus pode acontecer.
Não vem de nós. «Em todas as coisas passamos por afli-
ções, mas não nos angustiaremos. Sentiremos dificulda-
des, mas não desistiremos. Sofreremos perseguições, mas
não seremos nunca abandonados. Seremos escorraçados
mas jamais seremos destruídos. É por todo o lado que le-
vamos Jesus sempre a morrer na nossa vida, para que tam-
bém Jesus a viver seja manifestado na nossa vida. Nós que
vivemos fomos quem foi entregue à morte, por causa de
Jesus: – para que a vida de Jesus se manifestasse na nossa
carne mortal. É por isso que somos trabalhados pela mor-
te para que a vida vos seja dada.»35
O que quer que tenha acontecido a Paulo é esta histó-
ria incrível e improvável de uma paixão de um amor im-
possível. Improvável e impossível: mas do ponto de vista
humano. Num abrir e fechar de olhos, uma deflagração e
uma detonação. Num instante, num golpe de vista, num
piscar de olhos, num abrir e fechar de olhos: os mortos
hão-de acordar indestrutíveis e nós seremos alterados.
A morte há-de ser tragada pela vitória.36
A aparição não está desligada da missão. O que lhe
acontece põe-no a ser no tempo, no esgotamento, na
amortização da dívida por saldar, na obliteração de pos-
sibilidades atrás de possibilidades, num afluxo sempre de
cada vez mais débil e num escoamento com um caudal
temporal sempre a engrossar mais e mais. Mas a agenda
de Paulo não é constituída por nada deste mundo. A sua
vida aprazada não tem uma agenda mundana. Não se di-
vide em prazos que vingam. O prazo do tempo é por es-
sência irrevogável. A petição para o revogar ou prolongar
é sempre indeferida. Mas a compreensão do carácter irre-
vogável do tempo que pode fazer-nos compreender o que
é possível para nós ainda.
31
António de Castro Caeiro
32
II
S ER V I D Ã O
c o nd i çã o h um a n a
O remetente da Epístola aos Romanos caracteriza-se
cuidadosamente: «Paulo, escravo de Jesus Cristo, chamado
e enviado como embaixador, tendo sido apontado, para
dar a boa nova de Deus». O conteúdo da Epístola é in-
troduzido de imediato: a boa nova. O seu sentido, a pro-
messa da salvação. O seu anúncio habilita todo o humano
à sua herança. O anúncio é feito directamente por Deus.
A nomeação para o cargo resulta de uma acção de graça.
É também assim que o cargo é aceite por Paulo.
Os destinatários da mensagem, não são os Romanos em
exclusivo. São todos os povos sem excepção. A boa nova de
que se dá notícia é a possibilidade radical de recuperar-se
a si do coma profundo da morte. Dá-se num encaminha-
mento singular. Exige uma preparação da sua recepção. Im-
plica uma disponibilidade total para a conformação à sua
realidade. A possibilidade pode converter-se em realidade.
Como se realiza esta possibilidade? Como se compre-
endem as suas Condições? O que significa uma total con-
formação à mensagem? Toda a vida tem de ficar configu-
rada por essa possibilidade. Uma tal configuração implica
uma viragem catastrófica do quadro geral de sentido em
que habitualmente nos encontramos. A emersão total das
profundezas do abismo da morte até à superfície da vida é
o resultado da compreensão do sentido da fé.
A fórmula grega de Paulo é traduzida por «obediência à
fé». Traduzir «ὑπακοή (hupakoê)» por «obediência» apenas
faz sentido se interpretarmos a palavra a partir do étimo
latino. O o substantivo «oboedientia» e o verbo cognato «obo-
edio» têm o sentido de «ir ao encontro do que se ouve», «es-
cutar o que está a ser dito». Isto é: «entender, compreender».
Quem compreende, age. Quem não age não compreendeu.
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António de Castro Caeiro
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São Paulo
D IA S D E IRA
O conteúdo da Epístola aos Romanos é resumido em
1, 16-17: «O evangelho é o poder de Deus para a salva-
ção de todo o crente, primeiro o judeu e depois o grego.
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António de Castro Caeiro
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São Paulo
O A G E N TE P RO V OCA D OR
A condição faz que sejamos instrumentos ao serviço de
desejos e vontades. É isso que nos faz querer mundo, estar
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António de Castro Caeiro
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São Paulo
O P ECA D O É O ELE M E N TO 4 7
A minha relação com tudo é passiva. Essa condição
testemunha-se de cada vez que tenho necessidade de ir até
ao mundo para tratar de mim, com o carácter de maior
ou menor urgência do instante. A fome é a minha fome
no preciso instante em que se faz sentir. É quando só pen-
so em comer. A fome submerge-me na ditadura do seu
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António de Castro Caeiro
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São Paulo
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António de Castro Caeiro
A N O V A F É E A LEI A N TI G A
É na sequência destes passos que se enuncia o proble-
ma crucial da teologia Paulina: a oposição entre lei e fé50.
É ela que está na origem da história do ocidente post-
-advento do Cristianismo e está na base das grandes re-
voluções teológicas e assim também espirituais europeias
religiosas e filosóficas.
A oposição fulcral entre fé e lei resulta na impossibi-
litação da obtenção da graça apenas pelo cumprimen-
to do dever e observância à lei. A lei convida a perdição.
Pode varrer o domínio da lei no humano. É a possibili-
dade da mudança radical, da viragem total, provocada e
trabalhada pela Graça e pelo sopro santificador, que a fé
sedimenta. Ai, não existe acepção de pessoa junto de Deus.
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São Paulo
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António de Castro Caeiro
TE N TA Ç Ã O
A alternativa consiste pois em anular a condenação
à escravidão. Uma das suas vertentes é a observância da
lei. Cada uma destas formas de prisão isolam-nos e sub-
mergem-nos no agora como se não houvesse amanhã.
Sobrecarregam-nos de uma maneira tal que erradicam
qualquer outra possibilidade de vida. É na situação críti-
ca de fecho claustrofóbico, no desespero da aflição e da
angústia, que irrompe a possibilidade.
A lei é a tentação do fruto proibido. Faz-se cobiçar. A lei
pode ser a porta de passagem para o que ela justamente inter-
dita e proíbe. A nossa satisfação pode ficar reduzida às vezes
em que resistimos e não lhe cedemos. Este contentamento é
abreviado. Surgem sempre novas tentações. E a imaginação
da tentação nem precisa de ser fértil: o comando de inter-
dição pode transformar-nos no prazer da sua transgressão.
Há também satisfação com o incumprimento do de-
ver. Lesar e ferir de nulidade a lei leva à perversão que dá
o gozo extremo derivado do mal.
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São Paulo
A B ORLA
O anúncio faz-se de graça, é a promessa de que há uma
possibilidade impossível. Impossível do ponto de vista
mundano, impossível na psicologia da culpa, impossível
deste lado de cá da vida. E contudo é esse impossível em
que nos encontramos que é reconfigurado e se torna de
novo no possível, numa nova aurora, numa outra hipó-
tese, com uma outra oportunidade, pelo menos ainda.
A promessa está constituída em anúncio novo da possibi-
lidade de reclamar a herança. A promessa é o convite qua-
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São Paulo
O A M OR A S I P R Ó P RIO
A Epístola aos Romanos na sua fase final invoca o novo
mandamento de Jesus Cristo. Como podemos interpre-
tar o que Paulo nos quer diz? É o mandamento uma lei?
Mas a lei foi destruída. A salvação está na fé. E a fé é gra-
tuita. De onde vem o amor? Poderá o amor ser o conteúdo
de um mandamento? Não poderemos por esse mandamento
perverter o sentido da fé, isto é, fazer da fé a própria lei? Não
seria isso a perversão das perversões? Não poderia o amor
ao próprio e ao próximo dar azo a um desprezo maciço por
si e por outrem? Converter o usurpador em Anti-Cristo?
O outro tem de ser reconhecido como susceptível de
amor. O seu encaminhamento é em direcção à morte.
A sua condição é a da escravidão. Apenas assim a vida
não é em vão!
Mas eu posso ser escravo de mim. Posso viver a vida
inteira a servir o usurpador. Posso nunca me ter descober-
to. Posso nunca ter-me reconhecido como susceptível de
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António de Castro Caeiro
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São Paulo
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III
RE V ELA Ç Ã O
G á l ata s
Em Gálatas60, como é seu costume, Paulo apresenta-se ao
seu leitor logo nas primeiras linhas, como apóstolo61. Diz de-
pois da parte de quem vem. «Não, da parte de nenhum dos
Homens, nem através de nenhum homem (singular), mas
através de Jesus Cristo e de Deus pai que o ressuscitou dos
mortos.»62 A seguir transmite a mensagem que foi incum-
bido de entregar por Deus, nosso pai e pelo senhor, Jesus63:
«A graça e a paz»64 esteja convosco, a partir de Deus nosso
pai e do senhor. A graça e a paz têm como fundamento Je-
sus. O sentido da sua missão fora e é a entrega da sua vida
pelos nossos pecados. O fim derradeiro era e é a libertação
dos humanos desta vida.65 A configuração absoluta de uma
tal possibilidade é dada por Deus. A sua vontade implica-
-nos numa metamorfose do sentido do tempo. Livra-nos
deste tempo presente ruim66. Liberta-nos para o tempo
dos tempos. A glória é a atmosfera vibrante desta mutação.
O que São Paulo nos diz é claro: é um embaixador,
foi enviado com uma mensagem. Para desfazer equívo-
cos diz de onde não vem. Não é embaixador de nenhum
ser humano. Não foi enviado por (nem com a ajuda de)
nenhum ser humano. Não o meio ou instrumento de ne-
nhum ser humano. Diz, pelo contrário, afirmativamente
quem o enviou: Deus Pai.67
Estas linhas não podem, contudo, deixar de nos cau-
sar perplexidade. É que em última análise não é Paulo
que deseja na primeira pessoa a Graça e Paz aos Gálatas.
É um mero transmissor da mensagem. A Graça e a paz
são enviadas exclusivamente por Deus, nosso pai, e Jesus
Cristo, nosso senhor. Mais: elas apenas são configuráveis
por Deus e em Deus através de Jesus.
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U M A O U TRA V I D A
Paulo não está a transmitir uma mensagem de nenhum
ser humano. Ninguém no mundo, nenhum ser huma-
no, pode dar aquela graça e fazer aquela paz. Deus está
absolvido das gerações de gerações de seres humanos.
Comunica com Paulo telepaticamente68. Mas está a uma
distância absoluta do ser humano. A graça e a paz vêm
do alto. Vêm do fundo. Provêm do exterior absoluto.
Arraigam-se na interioridade total. De cima para baixo ou
de baixo para cima, de fora para dentro ou de dentro para
fora: não importa a sua localização nem a sua direcção.
A sua possibilidade era latente. A sua dimensão anónima.
Até que a paixão de Cristo as acorda. É a paixão de Cris-
to que leva Paulo à compreensão do sentido. O conteúdo
desse sentido é transmitido como que por um contacto
directo com Jesus em carne e osso.
A mensagem é o «evangelho»69 ou a «boa nova», ou a
promessa70. O seu emissor não está no mundo. A sua pos-
siblidadade não está disponível na vida humana. Trata-se
da possibilidade de a vida se converter numa outra for-
ma radicalmente diferente. Implica uma metamorfose e
uma transfiguração do horizonte da vida. A compreensão
efectiva desta metamorfose é simultaneamente também a
nossa metamorfose e transfiguração.
A metamorfose total da vida só pode constituir-se por
uma revelação71. Em I, 11: lê-se: «eu dei-vos a conhecer,
irmãos, a boa nova que [vos] foi transmitida por mim:
é que ela não é segundo o humano.»72 E prossegue: «por-
quanto nem eu a recebi junto de nenhum ser humano, nem
me foi ensinada por nenhum humano, mas pela própria
revelação de Jesus Cristo.»73 Com efeito: «foi decidido por
56
São Paulo
CO M U N ICA Ç Ã O
Mas como é possível comunicar o que é impossível
para a perspectiva humana? Como aceder ao que é im-
permeável ao ponto de vista humano? Mesmo acreditan-
do nesse contacto directo, telecomunicativo e telepático
de Deus com Paulo, como poderá Paulo transmiti-lo?
Como pode enunciá-lo? Terá de tornar presente o absolu-
tamente ausente. Terá de provocar a própria presença do
sentido. Um sentido que não tem referente. E pode por
isso ser interpretado como exterioridade ou opacidade ab-
soluta. E como é possível a comunicação entre Paulo e nós?
Do mesmo modo que Paulo teve de ser metamorfoseado,
assim também nós para o compreendermos teremos de
ficar configurados pelo seu horizonte de sentido. Se não
houver «encosto mediúnico», não se pode fazer experiên-
cia da presença viva do espírito! Sem essa presença de es-
pírito como pode a nossa vida ganhar corpo?
A revelação qualifica a natureza da libertação da pre-
cariedade da vida. Ela está na base da mudança de vida76.
De perseguidor, passa a aruto da Igreja. O fariseu conver-
te-se em apóstolo. Pelo próprio punho diz-nos que é de
acordo com a revelação77 que depois de três anos passados
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São Paulo
CO N V ER S Ã O
Já tínhamos visto que o substantivo «conversão» quer di-
zer mudança de direcção ou de orientação. O seu sentido
é tanto espacial e temporal como qualitativo. Por exemplo:
«virar do avesso», «de pernas para o ar», «para o interior»,
«de dentro para fora», etc., etc.. O infinitivo converter-se
quer dizer «virar-se de um sítio para outro», «comutar direc-
ções». Mas que palavra é traduzida por «arrependimento»?84
O convite não é para ver o que não está dado a ver.
É um convite para ver o que está dado à luz de um sen-
tido totalmente diferente. É uma intimação para que se
produza uma alteração absolutamente radical no nosso
modo de ser. Para que tal aconteça temos de ficar comple-
tamente transtornados. O transtorno exige compreensão.
Está assim em causa uma alteração absoluta da nossa ma-
neira de sentir e compreender as coisas. Apenas assim será
possível a conversão. Mas como é possível? Sozinhos não
conseguimos alterar nada. Como podemos não só mudar
de vida, mas mudar a própria vida?
Podemos estar a anos luz de perceber a natureza radical
desta transformação. A mudança é do coração. Tem um
único conteúdo: Cristo na Cruz: o escândalo e a loucura.
Compreendemos o que temos sido até agora ao compre-
endermos o conteúdo da teologia da cruz.85
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São Paulo
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São Paulo
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O S LA D O S D O TE M P O
O passo marca dois tempos completamente diferentes:
«outrora»93 e «agora» 94correspondem não apenas a datas
diferentes mas a situações de vida completamente diferen-
tes: «primeiro, por um lado»95, «depois, de outro modo»96.
O que define essas situações são a ignorância relativamen-
te a Deus: «nunca o tínhamos visto sequer uma vez»97 e o
momento em que se reconhece Deus98.
É Deus que se dá a conhecer. Somos conhecidos por
Deus99. Paulo rectifica a formulação. Não somos nós os
agentes do conhecimento de Deus. O humano só por si
não pode reconhecer Deus. Nem o pode fazer cogniti-
vamente nem afectivamente. A voz passiva tem o divino
como agente. Não nos constitui apenas em objecto de sa-
ber cognitivo teórico por Deus. Deus reconhece-nos como
seus filhos. A evidência desse reconhecimento é a entrega
64
São Paulo
P AI X Ã O
O amor é o resultado da «obra e graça do espírito san-
to». É «amor à primeira vista». A proveniência é de Deus.
Não é humana. Nem está no poder de algum ser humano
amar daquela maneira. Quando acontece é sempre a cada
um de nós. É de mim que se trata.
O que me acontece «a mim» não vem do mundo.
Não é nada. Não é ninguém. É uma promessa que se rasga.
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IV
E S P Í RITO
PNEUMA
A dimensão apocalíptica é espiritual. Só nessa zona é
possível uma escatologia. Compreendemos nós o sentido
da palavra que traduzimos para português por «espírito»?
Um estudo do sentido e do campo semântico em que ocor-
rem o substantivo pneuma e o adjectivo pneumatikos, -ê,
-on bem como do verbo pneô em São Paulo confronta-
-nos com dificuldades de variadíssima ordem.136
Há problemas técnicos por resolver. São postos ao ten-
tar fazer a aproximação à compreensão do sentido de uma
palavra. Podemos estudar a partir a morfologia. O seu éti-
mo configura uma família de palavras. Temos de as com-
preender em contexto. O trabalho de análise com vista ao
isolamento do foco de sentido não pode, porém, perder
a noção que preside à unidade orgânica do «corpus» em
que surge. De outro modo, corremos o risco de ficarmos
com um caleidoscópio de significações sem nexo entre si.
Ou então somos confrontados com diferentes formas de
compreensão, mas niveladas por uma única que aparenta
ser a predominante.137
Mas o estudo tem também de ser sintático. Nas línguas
antigas, a sintaxe dos casos requer uma interpretação semân-
tica. O mesmo se passa com as vozes e os aspectos verbais.
Depressa se percebe que o estudo tem de ser alargado a
palavras com outras raizes. Um mesmo campo semântico
«diz-se de muitas maneiras». É aqui o caso de «dianoia»
(compreensão discursiva ou raciocínio a partir de evidên-
cias), «psychê» (vida, lucidez e alma), «nous» (compreen-
são ou captação intuitiva).138 Só para nos atermos a nomes.
Nem podemos ignorar os opostos com que estes concei-
tos andam habitualmente a par. Neste caso, sôma (corpo
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ITI N ERÁRIO d e 1 C o r .
Concentramo-nos na primeira Epístola aos Corín-
tios.141 Encontramos aí as linhas fundamentais de uma
argumentação teológica totalmente assente na eclosão
apocalíptica do espírito. Os Capítulos 2 e 3 tratam da
Revelação operada «por obra e graça do Espírito Santo».
A revelação, como temos visto, não teve origem no hu-
mano nem se constituiu através de nenhum humano.142
O Capítulo 12 trata da complexa noção de Corpo de
Cristo. Somos uns-com-os-outros num corpo que extra-
vasa para fora da anatomia do corpo humano. Existimos
todos numa «atmosfera» de espírito que perpassa a «car-
ne». A metamorfose espiritual do corpo é total e absoluta.
Deixamos de «pensar» o humano hermeticamente fechado
num corpo visto ao espelho. Em Cristo somos o próximo,
o amigo, o irmão, o estranho. Somos também a geração a
que pertencemos e todas as gerações havidas e por haver.
O espírito é a atmosfera e o elemento essencial de cada
humano. Compreender uma tal possibilidade implica a
inserção sine qua non num horizonte de ser que é caracte-
rizado fundamentalmente por poder ser espírito. É por isso
que cada um é à escala mundial. Existe para toda a eternida-
de. É configurável pela totalidade do tempo. Está implica-
do em todos os outros que são, foram ou poderão vir a ser.
A aberta e reconhecimento da dimensão «pneumática»
dá-nos a capacidade de discernir a multiplicidade de es-
píritos. A integração em nós de uma variedade de dons é
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DISPOSIÇÃO
Como podemos compreender o eclodir do espírito?
Como é que uma «não-coisa» tem uma realidade efec-
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P RE S E N Ç A
O pneuma como fenómeno divino é na sua essência
caracterizado pelo casual. Sem origem no mundo, exclui-
-se o humano como o seu fundamento. Por maioria de
razão, excluem-se a natureza ou o reino animal.143 Mas há
expressões coloquiais que indicam haver uma compreensão
prévia, ainda que não temática, do acontecimento. Ao fa-
larmos em problemas morais, crises de identidade ou afec-
tivas, impactos emocionais, etc., etc., o plano de fundo de
onde vêm a ser esses acontecimentos é o espírito. O que
nos afecta e atinge, acontece-nos como seres espirituais.
A condição em que de cada vez nos encontramos, é
compreendida sempre já de algum modo. Nós achamo-nos
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A P RO P RIA Ç Ã O
A «apropriação do espírito» é descrita por metáforas de
«assimilação» de líquidos e alimentos sólidos. O espírito
«entra» para o interior do corpo humano. A outra descri-
ção metafórica da apropriação é a da imersão e alagamen-
to que enxarcam. O corpo entra num outro elemento,
o líquido. Apropiração dá-se por hosmose. A captação
é total: completamente imersos ou encharcados. Fica-se
«agarrado». Recebemos o espírito proveniente de Deus.
Num único espírito todos fomos baptizados num único
corpo.164 Todos bebemos de um único espírito.165 Come-
mos todos um único alimento espiritual. Todos bebemos
um mesmo líquido espiritual.166
O pneuma aparece substantivado. Deus é o agente da
revelação através da acção do espírito.167 Paulo apresenta-o
numa das suas operações fundamentais. Tudo perscruta.
Sonda até as profundezas de Deus.168 A não ser pela exis-
tência do espírito que existe em cada um dos humanos,
nenhum saberia do que é próprio de si.169 Nem ninguém
consegue reconhecer o que é pertença de Deus, a não ser
através do espírito de Deus.170 O espírito tudo perscruta.
O espírito sabe. O espírito reconhece. Tudo interpreta.171
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P O S S I B ILI D A D E
O espírito é compreensão e entendimento. É o que dá
sentido à prece. Se fazemos uma prece com a voz, o es-
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O E S P Í RITO N O COR P O
Da possibilidade da Ressureição, Paulo faz depender os
efeitos da presença de Jesus.203 Este elemento atmosférico
do vital e do compreensível existe na proporção ontológica
de cada ente vivo. Se é a forma de manifestação de Deus,
ao interpretarmos a forma de manifestação do espírito,
encontramos a forma de manifestação do seu poder e da
sua sabedoria, da sua vontade. A potência e a compreen-
são de Deus: criam. Ele sabe criar, não apenas manipular
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A G RA Ç A
Temos de esperar até 1 Cor. 15.10, para compreender-
mos qual a natureza desta Graça (χάρις), desta borla ou
favor dispensado por um plano indisponível ao homem,
enquanto dotado apenas de lucidez, alma e vida estrita-
mente humana (ψυχή).
«Mas, sob fundamento da Graça, sou o que sou e a gra-
ça que me foi concedida não foi em vão. Antes tive mais
trabalhos do que todos os outros. Não eu, mas a Graça de
Deus que está comigo».233
A possibilidade da Graça é toda ela feita depender da
dispensa de Deus. É ele que nos investe com ela.
Mas e se tal não acontecer? Paulo é claro:– eu existo
pela graça de Deus. Não no sentido em que é por mor
disso que vive ou que é essa a causa da sua vida, a única,
mas no sentido em que:– tem a Graça de Deus. existe na
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O A M OR 2 3 9
O amor resulta da «obra e graça do Espírito Santo».
A eleição da agapê como virtude suprema resulta do re-
conhecimento do seu carácter gratuito. O amor é uma
dádiva de Deus. As possibilidades humanas dadas ou
adquiridas– como a capacidade de fazer profecias, a ca-
pacidade de falar línguas estrangeiras ou de ter conheci-
mento– tornar-se-ão ineficazes, serão anuladas ou cessarão.
A agapê, porém, nunca cairá.
Na vida como crucifixão e impossibilidade o que sig-
nifica a acção do espírito. A obra e graça do espírito tem
a sua certidão de nascimento em Deus revelado no mis-
tério da morte. A possibilidade humana consiste no tra-
balho de exposição e vulnerabilidade totais para que ela
o trabalhe e aja a partir de uma possibilidade impossível.
Mas Paulo tem de mostrar um caminho ainda mais radical
e excessivo.240 É que o amor que se abre não é nem pode
ser humano. É a forma radical como o espírito se pode
concretizar. Na verdade, o espírito na graça de ser doado
e na forma como opera é amor. Um amor impermeável a
amores. É o amor da vida.
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V
A P OCALI P S E
HA B ILITA Ç Ã O D E
HER D EIRO S
O Novo Testamento habilita todos os seres humanos
sem excepção à Aliança. A habilitação é uma petição a que
cada ser humano tem de ser resolver. Mas há um tempo
em que o herdeiro é criança. A criança em nada difere do
escravo, apesar de ser senhor de tudo. A criança está sob
o domínio de tutores e administradores, até ao dia fixado
pelo seu pai. Assim também nós, quando éramos crian-
ças, estávamos sob o domínio dos elementos do mundo,
a eles sujeitos como escravos. Mas, quando chegou a ple-
nitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma
mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de recebermos
a adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos
nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abbá–
Pai. Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és
também herdeiro, por graça de Deus. »241
Em 13.10 lia-se: «quando chegar o perfeito, o que é par-
cial será anulado».242 Agora, lê-se: «quando chegou a pleni-
tude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma
mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de recebermos
a adopção de filhos.» A plenitude do tempo (πλήρωμα τοῦ
χρόνου) é o perfeito, o que tudo cumpre (τὸ τέλειον).
Há um tempo em que o herdeiro não se pode habilitar
à sua herança deixada em testamento porque é menor de
idade. Enquanto for criança, isto é, não atingir a maiori-
dade é como um escravo, mesmo que seja o dono de to-
das as coisas. Enquanto for criança, não pode fazer o que
quer. Não tem querer ou vontade própria. A prerrogativa
foi decretada pelo pai.
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O U TRO E P R Ó P RIO
Temos de deixar para já em suspenso qualquer julga-
mento sobre a forma como nos expomos a um conheci-
mento de que somos objecto e cujo agente da passiva é
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CO N V ITE
O convite para a possibilidade de um metamorfose no
modo de nos relacionarmos connosco e com os outros está
espelhado no segundo mandamento do amor. «amarás o
próximo como a ti mesmo». Paulo expande: «o amor não
opera o mal no próximo, porquanto, o amor é o preen-
chimento da lei». A respectiva interditação: «Não deve-
mos procurar o que nos agrada a nós próprios. […] Cada
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seiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso
a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus.
Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos
comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para
convosco, os que acreditastes. Sabeis que, tal como um
pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de
vós exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar
de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e
à sua glória.»262
Podemos distinguir as duas atitudes neste passo.
Por um lado, a relação de adulação, que procura agra-
dar a outrem, obsequiar o outro, como forma de o seduzir,
enganar, por forma a ganhá-lo para si: a) «É que a nossa
exortação não se inspirava nem no erro, nem na depra-
vação nem no engano»;263 b) «Falamos, não para agradar
aos homens, mas a Deus»; c) «…nunca nos apresentámos
com palavras de adulação, nem com pretextos de ambi-
ção, (…) nem procurámos glória da parte dos homens,
nem de vós, nem de outros.»264
Por outro, um modo de ser que exprime um outro tipo
de relação para com outrem, o próprio e Deus. a) «fomos,
antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que aca-
lenta os seus filhos quando os alimenta. Tanta afeição sen-
tíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar
convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida,
tão queridos nos éreis.» b) «comportámo-nos de modo rec-
to, justo e irrepreensível para convosco» c) «Sabeis que,
tal como um pai trata cada um dos seus filhos, também
a cada um de vós exortámos, encorajámos e advertimos a
caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao
seu reino e à sua glória.»
Ambos os modos de compreensão da afeição são modos
de ser. Podem aparentemente ser idênticos. Mas quando
distinguimos a glória que um e outro proporcionam, per-
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M A N D A M E N TO
O mandamento do amor é contrastado com a proi-
bição de fazer o que seja para nos agradarmos, satisfazer,
gratificar. E se o propiciarmos a outrem não poderá ser
para o seu bel-prazer mas com o fim de alcançar a edifica-
ção através do bem. Lê-se que Cristo nunca nem uma só
vez (negativa+aoristo) se proporcionou a si ou foi propício
àquilo que é agradável, gratificante. Tal quer dizer que o
prazer que nos podemos proporcionar terá de ser constru-
ído no bem e que o prazer que damos a outrem terá de ter
esse fundamento. Por outro lado, a afeição, o amor que se
sente por outrem terá de ser compreendido como o que é
sentido pelo próprio. Sentir amor por si é compreender a
si, num respeito por algo em si por que se sente estima.267
Vejamos um pouco mais de perto os traços fundamen-
tais que estão encerrados nesta formulação. A formulação
distingue claramente uma forma de afeição por si, um
amor-próprio, uma auto-estima, tão cara aos nossos tem-
pos, e, por outro lado, contrariamente, uma forma de amor
completamente diferente. Em que consiste? Não temos
já desde sempre uma afeição por nós? Encontramo-nos
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D E U S E O P O S S I B ILITA N TE
A possibilidade de Deus é encarada analogicamente
com a possibilidade do outro. Ou antes, a possibilidade de
um encontro com Deus é pensada analogicamente com a
possibilidade de um encontro com o outro. Quem vejo eu
quando vejo outro? Quem é que o outro vê, quando se dá
o caso de me ver? O outro não é o corpo, nem as formas
todas que o corpo assume ao longo da vida. E o que sucede
ao outro quando eu não o vejo? E o que nos sucede a nós
quando nós não somos vistos pelo outro? E o que pensa
o outro que pensamos dele quando ele não existe sequer
para nós? Vice versa, o que sucede quando pensamos no
que o outro pensa de nós quando não existimos para ele?
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P LE N O E V A Z IO
A aproximação ao preenchimento pleno ou não das
nossas vidas bem como ao esvaziamento do sentido está
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M ETA M ORFO S E
A situação que se abre a partir do projecto, da von-
tade ou da intenção de Deus,275 é abissalmente diferen-
te daquela em que nos encontramos. Pela sua criação,
há uma modificação radical e extrema no modo como
compreendemos o mundo do lado de cá da vida relati-
vamente à vida do lado de lá do tempo. Passamos a estar
configurados num horizonte que anula qualquer pessoa
que tenhamos sido, por mais diferentes pessoas que tenha-
mos sido ao longo da vida. Os outros passam a ser vistos
também numa relação constitutiva com o horizonte de
finitude crónica.
Como vimos anteriormente as formulações paulinas
descrevem a situação como que dependente na vertical
de Deus, num esquema passivo em que se é compreendi-
do por um agente proveniente do exterior e nos deixa ex-
postos a um golpe de vista que nos radiografa e faz uma
radioscopia a partir do horizonte temporal da eternidade,
constituído na boa nova da promessa. A vida humana, o
ser humano, tal como possa ser compreendida até aí sofre
uma metamorfose, fica alterado, tomado por uma confi-
guração absoluta e radicalmente de sentido.
A metamorfose e a transformação acontecem «pela
renovação da compreensão disposicional».276 A meta-
morfose leva a um afastamento das figuras ou das con-
figurações que resultam dos desejos que nos deixam na
ignorância do que efectivamente queremos277 ou que nos
deixam configurados a esta horizonte temporal da vida
terrena deste lado de cá do mundo: Rom., 12.2.2.: καὶ μὴ
συσχηματίζεσθε τῷ αἰῶνι τούτῳ. Apenas assim se prova a
intenção e o projecto que provem de Deus: genitivo sub-
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E P Í LO G O
Em face da possibilidade derradeira, mantém-se a trans-
formação do coração que é a vida de Jesus. Quem são aque-
les que Jesus amou? Aqueles que ele descobriu susceptíveis
de amor: os apóstolos, a família, os cobradores de impos-
tos, as prostitutas, as ovelhas negras, as crianças, os pu-
ros de coração. Judeus, Gregos, Romanos. Toda a gente.
Deixa de haver gentes para haver toda a gente. As gera-
ções de gerações de pessoas que habitaram e habitarão as
costas da Terra são vagas desta vida. São os outros afasta-
dos de nós. Os outros que se foram. São todos os outros.
Mas também os nossos. Todos os outros são metamorfo-
seados pelo olhar do amor. O olhar do amor descobre-
-nos a todos susceptíveis no encaminhamento da morte.
A vida dos outros não se encontra estagnada no seu
interior. Todos somos fluxos a escoar.
São esses que assim são metamorfoseados nesta cons-
tante perda que passam a ser descobertos na possibilidade
de ser amados. Os estranhos e os estrangeiros são todos os
nossos amigos e família e irmãos. Porque podem nunca
ter sido descobertos na susceptibilidade de amor que o seu
serem as suas mortes no-los revela. Não se trata da conta-
minação de um amor humano que transforma o estranho
em amigo, adopta todos os outros, os converte em amigos
e em irmãos. A doação é feita por uma estranha revelação
que os dá a ver na execução das suas vidas.
É isso que os põe a ser connosco num destino comum,
numa possibilidade radical de descobrir Jesus na Cruz a
poder trabalhá-los, na forma mais original como pode-
mos ser a única possibilidade que temos face à possibili-
dade simples da impossibilidade. É esta metamorfose do
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António de Castro Caeiro
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vido na sua crista, num surf em que as águas da eternidade
se convertem para nós em ondas de vida e se propagam.
«O que aconteceu a Paulo no fim da sua vida? Numa
altura em que tochas humanas ardiam em agonia no Vati-
cano e Roma estava exposta aos desígnios de um impera-
dor sádico, podemos imaginar Paulo já morto nessa altura,
sabe-se lá de que modo. Mas não temos a certeza disso.»
Por isso eu prefiro imaginar que Paulo finalmente veio até
à Península e que numa praia qualquer de Portugal ele
terá ido ver sempre o nascer e o pôr do sol que são sempre
diferentes e cada dia é menos um dia em que os vemos.
«E terá sido assim na mais ocidental praia do Ocidente
que ironicamente ele terá esperado a vinda iminente de
Jesus. E terá sido assim que um dia Jesus o veio buscar.»289
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Apendice 1
Palo nasce entre a última e a primeira década da nossa época:
I. Conversão em Damasco: Gal. 1:15-17, circa: 34
II. Fica três anos entre a Síria e a Arábia: Gal. 1:17-18.
III. Primeira visita a Jerusalem partida para a Síria e Cilicia: Gal.
1:18-21.
IV. Passa onze anos em actividade de apostolado: Gal. 2:1.
V. Segunda visita a Jerusalem («conferência»)--Gal. 2:1-10,
VI. Actividade nas igrejas da Galátia, Ásia, Macedónia e Grécia so-
bretudo recolhendo subsídios para Jerusalem: Gal. 2:10; I Cor.
16:1-4 (also II Cor. 8-9); Rom. 15:25-32
VII. Última visita a Jerusalem com as ofertas I Cor. 16:4; Rom. 15:
25-32
Apendice 2
1ª Carta aos Coríntios, 13: 1-13: Ainda que eu fale as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver agapê, sou como bronze que ressoa, ou
como címbalo que tine. 2 Ainda que eu tenha o dom da profecia e co-
nheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em ple-
nitude, a ponto de transportar montanhas, se não tiver agapê, nada sou.
3. Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas e entregue o meu
corpo a fim de ser queimado, se não tiver agapê, de nada me aproveita.
4. A agapê é paciente, a agapê é benigna, não é invejosa; a agapê
não se ufana, não se ensoberbece, 5. Não é inconveniente, não pro-
cura o seu interesse, não se irrita, não suspeita mal, 6. Não se alegra
com a injustiça mas rejubila com a verdade. 7. Tudo desculpa, tudo
crê, tudo espera, tudo suporta.
8. A caridade nunca acabará. As profecias desaparecerão, as lín-
guas cessarão e a ciência findará. 9. Porque a nossa ciência é imper-
feita e a nossa profecia também é imperfeita. 10. Mas quando vier o
que é perfeito, o que é imperfeito será abolido. 11. No tempo em que
eu era criança, falava como criança, sentia como criança, raciocinava
como criança; mas quando me tornei homem, eliminei as coisas de
criança. 12 Hoje vemos como por um espelho, de maneira confusa,
mas então veremos face a face. Hoje conheço de maneira imperfeita;
então conhecerei exactamente, como também sou conhecido.
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a tudo basta,
em tudo crê,
em tudo tem esperança,
a tudo resiste,
a ágape nunca se abate.
Se em 13:1-3, a agapê figura como complemento directo em ora-
ções condicionais, de tal sorte que se ela não estiver presente a con-
clusão é
a) não falo com sentido
b) sou nada
c) nada me aproveita,
vemos que há uma expansão da compreensão da sua acção quan-
do figura como sujeito de um enunciado declarativo negativo não
inveja, não faz alarde de si, não se ensoberbece, não desgraça, não
procura o interesse próprio, não se irrita, não pensa o mal, não reju-
bila com a injustiça.
A sua presença configura-nos numa determinada forma de sentido
e maneira de ser, para depois se expandir de uma forma omnipotente
a todas as coisas: tudo desculpa, em tudo crê, em tudo tem esperan-
ça, a tudo resiste. Nunca se abate.
A segunda parte do versículo 8 e os versículos 9 a 12 descrevem
as possibilidades alternativas ao ter agapê ou ao ficar exposto à sua
acção: fazer profecias, falar todas as línguas, saber tudo, nada é: hão-
-de ficar sem efeito, serão anuladas, katargêthêsontai. Correspondem
a formas de conhecimento parciais, ek merous. 11. A ágape é conce-
bida como compreensão absoluta e total da verdade, com o perfeito,
o completamente acabado, não parcial, mas totalizante: tò téleion, o
que está a vir, a sobrevir, o que está a chegar.
É esse total perfeito que permite compreender o carácter nulo de
cada ponto de vista humano, de cada vida humana, de cada geração
humana, de gerações de gerações de humanos havidas e por haver.
Quando o que perfeito vier, há-de completar, há-de preencher
na sua plenitude tal como simultaneamente anulará ou deixará sem
efeito o que até então se tiver sabido, profetizado ou trazido à expres-
são humana.
Em 11 ainda reconhecemos a relação entre o parcial, relativo, cir-
cunstancial temporal na relação com o todo perfeito como uma re-
lação analógica entre a nossa compreensão e maneira de ser enquan-
to crianças e a nossa compreensão e maneira de ser já amadurecidas
enquanto adultos. Tornar-se adulto significa de algum modo anular
ou deixar sem efeito a compreensão de criança. O que vemos agora
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São Paulo
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N ota s
* 2009/2010: 2º ciclo: 1º Semestre, Questões de Antropologia filosófica: «Epísto-
las escolhidas de São Paulo»; 2006/2007: «Filosofia da Religião: Interpretação
fenomenológica do religioso. Heidegger e São Paulo».
** «Epístola aos Romanos: A ΔΟΥΛΕΙΑ como característica inanulável da humana
condicio e a possibilidade de uma liberdade radical», Ciclo de Conferências or-
ganizado pelo Pe Tolentino Mendonça para o ano Paulino, Igreja de Santa Isabel,
13 de Abril de 2009; «São Paulo, figura da conversão», no ciclo de conferências
sobre Figuras da Conversão, Igreja de São Nicolau, Salão João Paulo II, 24 de
Novembro de 2011. «Conhecimento e Comunicação em São Paulo Saint Paul»,
Núcleo Católico, da FCSH/UNL, Lisboa, 13 de Dezembro, 2011.
*** «Parte e todo, outro e próprio, vazio e pleno Categorias existenciais em São Pau-
lo» in Categorias Existenciais III, FCSH/UNL, LIF/FLUC. Igreja de São Nicolau,
Salão João Paulo II, Lisboa, 27 e 28 de Outubro de 2012; «Elementos disposi-
cionais do conceito de PNEUMA em São Paulo», comunicação apresentada ao
Colóquio Categorias Existenciais II: Disposições, FCSH/UNL, LIF/FLUC, Igreja
de São Nicolau, Sala João Paulo II, 16 a 18 de Setembro de 2011.»
1 Phil. 3. 12.
2 Em Fil. 3, 3-14.
3 πεποίθησις.
4 Bloqueio
5 Fil. 3.13.3.: ἓν δέ, τὰ μὲν ὀπίσω ἐπιλανθανόμενος τοῖς δὲ ἔμπροσθεν
ἐπεκτεινόμενος.
6 Os fariseus acreditavam numa vida no alem. Os Saduceus, não. O que era fun-
damental para a pregação dos primeiros cristãos era a ressurreição de Jesus
dos mortos. Era o grande sinal que validava a missão de Jesus e garantia o seu
ensinamento.
7 1 Cor. 9.1.: «Οὐκ εἰμὶ ἐλεύθερος; οὐκ εἰμὶ ἀπόστολος; οὐχὶ Ἰησοῦν τὸν κύριον
ἡμῶν ἑώρακα;». O verbo utilizado é ὁράω, ὄψομαι, εἶδον, ἑώρᾱκα, o pretérito
perfeito do indicativo de ver com o aspecto resultativo. O mesmo verbo é utilizado
em Jo. 20.24. para referir uma semelhante experiência de contacto pós pascal
com Maria Madalena: «virou-se para trás e viu Jeus que alí estava de pé, mas
não sabia que era Jesus, ἐστράφη εἰς τὰ ὀπίσω, καὶ θεωρεῖ τὸν Ἰησοῦν ἑστῶτα,
καὶ οὐκ ᾔδει ὅτι Ἰησοῦς ἐστιν.» É o verbo utilizado para contar o sucedido aos
discípulos, Jo. 20.18: «ἔρχεται Μαρία ἡ Μαγδαληνὴ ἀγγέλλουσα τοῖς μαθηταῖς
ὅτι Ἑώρακα τὸν κύριον.» É assim que os discípulos relatam que também viram o
senhor, Jo.. 20.25.: «ἔλεγον οὖν αὐτῷ οἱ ἄλλοι μαθηταί, Ἑωράκαμεν τὸν κύριον.»
8 ἔκτρωμα.
9 1 Cor. 15.8.: ἔσχατον δὲ πάντων ὡσπερεὶ τῷ ἐκτρώματι ὤφθη κἀμοί, como a al-
guém que nasce fora de tempo, τῷ ἐκτρώματι, não necessariamente aborto, foi
visto por mim, o último de todos.
10 1 Cor 15, 8: ἔσχατον δὲ πάντων ὡσπερεὶ τῷ ἐκτρώματι ὤφθη κἀμοί As diversas
traduções mostram a dificuldade de interpretação. A construção com dativo não
é estranha ao agente da passiva mas não é a habitual. O dativo pode ser um
dativo de vantagem e não de agente. Mas se o dativo for agente da passiva?
A vulgata traduz: «nouissime autem omnium, tamquam abortiuo, uisus est et mihi.»
Há uma diferença fundamental entre «apareceu-me a mim também» e «foi visto
por mim também». Num caso temos a interpretação da voz média. No segundo,
a construção na passiva. No primeiro caso complemento indirecto. No segundo
agente da passiva. Mas a vulgata traduz ektrôma por aborto.
11 ἔσχατος δὲ πάντων.
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mascarado de velho andrajoso, apenas o cão tem o faro, o noos, para adivinhar
o seu dono.
31 O que nos diz o latim? A tradução da Vulgata diz: «annuntiabam ut paeniten-
tiam agerent et conuerterentur ad Deum digna paenitentiae opera facientes». A
«conversio» está dependente de um agere paenitentiam. Uma expressão que
dificilmente verte o grego. Ou talvez não.
32 1 Cor. 4, 11-13.
33 Gal. 1,1.: «Παῦλος ἀπόστολος, οὐκ ἀπ’ ἀνθρώπων οὐδὲ δι’ ἀνθρώπου ἀλλὰ διὰ
Ἰησοῦ Χριστοῦ καὶ θεοῦ πατρὸς τοῦ ἐγείραντος αὐτὸν ἐκ νεκρῶν.» (…)11-12.:
«Γνωρίζω δὲ ὑμῖν, ἀδελφοί, τὸ εὐαγγέλιον τὸ εὐαγγελισθὲν ὑπ’ ἐμοῦ ὅτι οὐκ ἔστιν
κατὰ ἄνθρωπον·οὐδὲ γὰρ ἐγὼ παρὰ ἀνθρώπου παρέλαβον αὐτό, οὔτε ἐδιδάχθην,
ἀλλὰ δι’ ἀποκαλύψεως Ἰησοῦ Χριστοῦ.» (…)16.:» ἀποκαλύψαι τὸν υἱὸν αὐτοῦ ἐν
ἐμοὶ ἵνα εὐαγγελίζωμαι αὐτὸν ἐν τοῖς ἔθνεσιν».
34 «Τί καὶ ἡμεῖς κινδυνεύομεν πᾶσαν ὥραν; 31 καθ΄ἡμέραν ἀποθνῄσκω».
35 2 Cor. 4, 7-12.
36 1 Cor., 52.
37 O futuro imperfeito abre à possibilidade.
38 «Jesus sabia que a sua hora tinha chegado para que transitasse deste mundo
para o do seu Pai, e aqueles que tinha amado durante toda a sua vida também
os amou no fim, amou-os até ao fim», Jo. 13, 1.
39 ὀργή.
40 ἐπιθυμία.
41 1 João 2.15-17.
42 Σάρξ.
43 ἐπιθυμίαι.
44 ὀρέξεις.
45 A ἁμαρτία (hamartia). A tradução latina verte a palavra em «pecado». A raiz em
sânscrito «pik-« significa «ficar furioso». A raiz grega diz «falhar o alvo», «passar
das marcas». O que o desejo, a aspiração, o apetite devorador, a vontade irre-
sistível, a ambição, a cobiça e a ganância confundem-nos. Ao substituírem-se a
nós, fazem pensar queremos o que querem.
46 Cf.: Karl Barth, Der Römerbrief, 1922, Zürich, Theologischer Verlag, 1999, 16ª
ed., p. 215.
47 «Eu sou o espírito que sempre e continuamente nega e com razão, pois tudo o
que nasce mais valia que morresse, o melhor era mesmo que nada nascesse.
E é, então, assim que ao que chamais pecado, destruição, numa palavra, o mal
todo, isso é meu próprio e autêntico elemento». (Ich bin der Geist, der stets ver-
neint! // Und das mit Recht; denn alles, was entsteht, // Ist wert, daß es zugrun-
de geht; // Drum besser wär’s, daß nichts entstünde. // So ist denn alles, was ihr
Sünde, // Zerstörung, kurz das Böse nennt, // Mein eigentliches Element.) Goe-
the, Faust.
48 Ro. 6.13
49 Ro. 1. 2, 4-: «não estarás tu a desprezar as riquezas da sua bondade, paciência
e generosidade, ao ignorares que a bondade de Deus te convida à conversão?
Afinal, com a tua dureza e o teu coração imutável na compreensão (ἀμετανοήτος),
estás a acumular ira sobre ti para o dia da ira e da revelação do justo julgamento
de Deus, que retribuirá a cada um conforme as suas obras. Para aqueles que,
ao perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibili-
dade, será a vida eterna; para aqueles que, por rebeldia, são indóceis à verdade
e dóceis à injustiça, será ira e indignação. Aflição e angústia para toda a vida,
ψυχή (pscyhê!), do ser humano que pratica o mal, primeiro o judeu e depois gre-
go! Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro o judeu e
depois para o grego! É que em Deus não existe acepção de pessoas.»
50 Respectivamente: νόμος e πίστις.
51 Ro.4.13, 16-18
52 pois até «O belo é o princípio do horror» (das Schöne ist nichts als des Schre-
cklichen Anfang) Rilke.
53 Ibid.: «ἐκ πίστεως».
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54 Ibid.: Προσαγωγή.
55 Ibid.: τῇ πίστει.
56 Ibid.: εἰς τὴν χάριν.
57 Ibid.: καυχώμεθα ἐπ’ ἐλπίδι τῆς δόξης τοῦ θεοῦ.
58 Ibid.: καταργάζεται ὑπομονὴν.
59 Ibid.: ἐλπίς.
60 A Epístola aos Gálatas é provavelmente o primeiro documento escrito do Novo
Testamento. É datada entre 55 e 60 D.C.. Portanto, é redigida bastante tempo
depois da data provável dos acontecimentos na estrada para Damasco cerca de
34. A carta encerra as grande preocupações teológicas de Paulo. Ela é motivada
pelos problemas concretos e complexos da teologia paulina: a diferença radical
entre fé e lei, a discussão da obrigação de circuncisão e a proibição de comer
oferendas sacrificiais, a oposição entre o corpo como carne e a vida como espí-
rito, pecado e redenção, dormir e acordar, morte e ressurreição.
61 «Paulo, apóstolo.» Quer dizer: «enviado como embaixador e mensageiro».
62 Gal. 1.1.
63 Ibid.: ἀπὸ θεοῦ πατρὸς ἡμῶν καὶ κυρίου Ἰησοῦ Χριστοῦ.
64 Gal. 1.3. χάρις ὑμῖν καὶ εἰρήνη ἀπὸ θεοῦ πατρὸς ἡμῶν καὶ κυρίου Ἰησοῦ Χριστοῦ.
O conteúdo da mensagem é a graça e a paz: χάρις ὑμῖν καὶ εἰρήνη . Parece ape-
nas um bordão. Faz parte das regras de etiqueta epistolar. É o que escrevemos:
«espero que esteja tudo bem». Ou então quando nos despedimos de alguém,
dizemos na nossa língua: «vai ou fica em paz». Os gregos tinham uma sauda-
ção idêntica quando se encontravam: χαίρε! que exprime a expressão do prazer
que temos em ver alguém ainda que o imperativo seja uma exortação: «que te
possas regozijar, que a graça esteja contigo». Nas cartas, Platão escreve sem-
pre a Dionísio, o seu destinatário: Πλάτων Διονυσίῳ εὖ πράττειν, 309a1: «Platão
deseja a Dionísio que este passe bem». Os latinos dizem: «salue» («que tenhas
estado a salvo e perseverado») ou «uale» («força, saúde»).
65 Gal. 1. 4: τοῦ δόντος ἑαυτὸν ὑπὲρ τῶν ἁμαρτιῶν ἡμῶν ὅπως ἐξέληται ἡμᾶς ἐκ
τοῦ αἰῶνος τοῦ ἐνεστῶτος πονηροῦ κατὰ τὸ θέλημα τοῦ θεοῦ καὶ πατρὸς ἡμῶν.
66 Cf.: LSJ ad loc.: «πονηρός, ά, όν, in physical sense, oppressed by toils,
πονηρότατος καὶ ἄριστος, of Heracles, Hes.Frr.138, 139. 2. of things, toilsome,
painful, grievous, ἔργα Hom.Epigr.14.20; νούσων πονηρότερον Thgn. 274; φορτίον
Ar.Pl.352. II. in bad case, in sorry plight, useless, good-for-nothing, σύμμαχοι
ib.220, cf. Nu.102; στράτευμα X.An.3.4.34; ἰατρός Antipho 4.2.4 (v.l. for μοχθηρός);
κύων, ἱππάριον, Pl. Euthd.298d, X.Cyr.1.4.19; δίαιτα, τροφή, σιτία, injurious,
Pl.R.425e, Lg.735b, Grg.464d, etc.; π. ἕξις σώματος Id.Ti.86e; π. σῶμα, opp.
χρηστόν, Id.Prt.313a, cf.R.341e; π. σκώμματα sorry jests, Ar.Nu.542; π. βούλευμα
Id.Lys.517 (Comp.); π. πράγματα a bad state of things, Th.8.97, cf. 24; π. Ἀρχὴ τῆς
παιδείας a bad beginning, Aeschin.1.11; π. τὴν ναυτιλίαν ναυτίλλεσθαι Pl.R.551c;
π. πολιτεία Arist.Pol. 1294b38. Adv., πονη-ρῶς ἔχειν to be in bad case, Th.7.83,
etc.; ἂ πονηρῶς ἔχει τῶν πραγμάτων Lys.14.35; π. διακεῖσθαι, διατεθῆναι, Isoc.
19.12, D.59.55. III. in moral sense, worthless, knavish, φήμη, βίος, ζόη, A.Ch.1045,
Frr.90, 401, etc.; οὐδεὶς ἑκὼν π. Epich.78; π. ἦθος Democr.192; πονηρὸς . . κἀκ
πονηρῶν rogue and son of rogues, Ar.Eq. 336-7; ὦ πόνῳ πονηρέ in a comic jin-
gle, Id.V.466, cf. Lys.350; π. πόρρω τέχνης past master in knavery, Id.V.192; π.
τοῖς φίλοις X.Cyr.8.4.33; πρὸς ἀλλήλους Id.An.7.1.39; π. λόγων ἀκρίβεια Antipho
3.3.3; πονηρότεροι σύμβουλοι Id.5.71; π. [ῥῆμα] malicious, Ev.Matt.5.11; τὰ π.
wickednesses, X.Cyr.2.2.25; πονηρὰ δρᾶσαι E.Hec.1190; τὸ π. LXX De.17.2;
δόλῳ πονηρῷ, Lat. dolo malo, SIG693.6 (Methymna, ii B.C.); ὁ π. the evil one,
Ev.Matt.13.19; π. δαίμων PLips.34.8 (iv A.D.), etc. 2. base, cowardly, S.Ph.437,
etc.; π. χρώματα, i.e. the coward’s hue, X.Cyr.5.2.34 (interpol.). 3. with a political
connotation, of the baser sort, E.Supp.424; οἱ λεγόμενοι π. Pl.R.519a; opp. καλοὶ
κἀγαθοί, Isoc.15.100, 316, cf. Ar.Eq.186.–On the variation of accent, πονηρός
and πόνηρος, v. μοχθηρός fin.»
67 Se lermos o genitivo com regência da preposição «ἀπό» (por). Foi enviado «atra-
vés» de Jesus Cristo, em genitivo regido pela preposição «διά». Portanto, dá-se
expressão do modo como vem, o caminho que percorreu, o meio ou instrumen-
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91 4,1: «Eu digo-vos que durante o tempo em que o herdeiro é menor, não se dis-
tingue em nada de um escravo, mesmo podendo ser o dono de todas as coisas,
2: mas está à guarda de um tutor e a cargo de procuradores. 3: assim também
se passa connosco, enquanto éramos menores estávamos escravizados aos
elementos deste mundo, 4: quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou
o seu filho, nascido de uma mulher, vinculado pela lei, 5: para que resgatasse
os que se encontram sob a custódia da lei, para que pudéssemos ser recebidos
em adopção.»
92 Gal 4.7.: «É pelo facto de vocês serem, diz-nos Paulo, filhos que o único Deus,
soprou o espírito do seu filho para dentro vossos corações, quando ele, naquele
momento gritou: Abba, pai.» Gal. 4.8.: «É assim que no tempo em que não tí-
nhamos sabido de Deus, servíamos a deuses que não o eram na sua essência,
φύσει μὴ ὄντες. 9: mas agora já reconheceram Deus, ou antes: foram reconhe-
cidos por Deus.»
93 «τότε».
94 «νῦν».
95 «μέν».
96 «δέ».
97 «οὐκ εἰδότες».
98 «γνόντες».
99 «γνωσθέντες ὑπὸ θεοῦ».
100 2 Cor. 4, 7-12 «temos este tesouro em vasos quebráveis para que aconteça o
sublime poder de Deus: o poder e o sublime não vêm de nos. Em todas as coi-
sas passamos por aflições, mas não nos angustiaremos; sentiremos dificuldades
mas não desistiremos. Sofreremos perseguições, mas não seremos nunca aban-
donados, seremos escorraçados mas jamais seremos destruídos: é por todo o
lado que levamos Jesus sempre a morrer na nossa vida, para que também Je-
sus a viver seja manifestado na nossa vida. Com efeito nós que vivemos fomos
entregues à morte por causa de Jesus para que a vida de Jesus se manifestasse
na nossa carne mortal. É por isso que somos trabalhados pela morte para que a
vida vos seja dada.»
101 Gal. 4.16-: «Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão,
ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo
em herança. De facto, se os herdeiros o são em virtude da lei, nesse caso tor-
nou-se inútil a fé e ficou sem efeito a promessa. É que a lei produz a ira; mas
onde não há lei também não há transgressão. Por isso, é da fé que depende a
herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se man-
tém válida para todos os descendentes.» A promessa («ἐπαγγελία») é garantida
apenas pela justificação da fé («διὰ δικαιοσύνης πίστεως»). De outro modo, se
a fé for anulada, também a promessa é neutralizada: («κεκένωται ἡ πίστις καὶ
κατήργηται ἡ ἐπαγγελία»). A lei produz a fúria e possibilita a transgressão («ὁ γὰρ
νόμος ὀργὴν κατεργάζεται· οὗ δὲ οὐκ ἔστιν νόμος οὐδὲ παράβασις».
102 Coríntios II, 4. [5] οὐ γὰρ ἑαυτοὺς κηρύσσομεν ἀλλὰ Χριστὸν Ἰησοῦν κύριον,
ἑαυτοὺς δὲ δούλους ὑμῶν διὰ Ἰησοῦν.
103 II Cor 4.6.: ὅτι ὁ θεὸς ὁ εἰπών Ἐκ σκότους φῶς λάμψει, ὃς ἔλαμψεν ἐν ταῖς καρδίαις
ἡμῶν πρὸς φωτισμὸν τῆς γνώσεως τῆς δόξης τοῦ θεοῦ ἐν προσώπῳ Χριστοῦ.
104 II Cor 4.7.: Ἔχομεν δὲ τὸν θησαυρὸν τοῦτον ἐν ὀστρακίνοις σκεύεσιν, ἵνα ἡ
ὑπερβολὴ τῆς δυνάμεως ᾖ τοῦ θεοῦ καὶ μὴ ἐξ ἡμῶν.
105 II Cor 4.8.: «ἐν παντὶ θλιβόμενοι ἀλλ᾽ οὐ στενοχωρούμενοι, ἀπορούμενοι ἀλλ᾽
οὐκ ἐξαπορούμενοι».
106 II Cor 4. 9.: «διωκόμενοι ἀλλ᾽ οὐκ ἐγκαταλειπόμενοι; καταβαλλόμενοι ἀλλ᾽ οὐκ
ἀπολλύμενοι».
107 II Cor 4.10.: «πάντοτε τὴν νέκρωσιν τοῦ Ἰησοῦ ἐν τῷ σώματι περιφέροντες, ἵνα
καὶ ἡ ζωὴ τοῦ Ἰησοῦ ἐν τῷ σώματι ἡμῶν φανερωθῇ.»
108 II Cor 4.11.: «εὶ γὰρ ἡμεῖς οἱ ζῶντες εἰς θάνατον παραδιδόμεθα διὰ Ἰησοῦν, ἵνα
καὶ ἡ ζωὴ τοῦ Ἰησοῦ φανερωθῇ ἐν τῇ θνητῇ σαρκὶ ἡμῶν.»
109 II Cor 4.12.: «ὥστε ὁ θάνατος ἐν ἡμῖν ἐνεργεῖται, ἡ δὲ ζωὴ ἐν ὑμῖν.»
110 Gal 5.6.:: «πίστις δι’ ἀγάπης ἐνεργουμένη.»
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111 Gal 5.14.: «ὁ γὰρ πᾶς νόμος ἐν ἑνὶ λόγῷ πεπλήρωται, ἐν τῷ ἀγαπήσεις τὸν
πλησίον σου ὡς σεαυτόν.»
112 Em Mt 22, 39 é plêsios («πλησίος»).
113 Em Romanos é «ἕτερος» (heteros).
114 Jo 15.13.
115 Ibid.
116 «ῥιπὴ ὀφθαλμοῦ».
117 I Cor 15.50.: «οὐδὲ ἡ φθορὰ τὴν ἀφθαρσίαν κληρονομεῖ.»
118 I Cor 15.51: «πάντες δὲ ἀλλαγησόμεθα.»
119 I Cor 15.51. «ἐν ἀτόμῳ».
120 I Cor 15.51 «ἐν ῥιπῇ ὀφθαλμοῦ».
121 I Cor. 54-55: «τότε γενήσεται ὁ λόγος ὁ γεγραμμένος,/ Κατεπόθη ὁ θάνατος εἰς
νῖκος./ ποῦ σου, θάνατε, τὸ νῖκος;»
122 «ἡμεῖς γὰρ πνεύματι ἐκ πίστεως ἐλπίδα δικαιοσύνης ἀπεκδεχόμεθα».
123 1. Cor, 15, 30-31.: «τί καὶ ἡμεῖς κινδυνεύομεν πᾶσαν ὥραν; καθ’ ἡμέραν
ἀποθνῄσκω.»
124 A categoria gramatical do tempo. Cf. LSJ ad loc.: «2. esp. Gramm., ὁ ἐνεστὼς
(sc. χρόνος) the present tense, Stoic.2.48, D.T.638.22, A.D.Pron.58.7, al.; also
ἐνεστῶσα συντέλεια the state of completion expressed by the perfect tense,
Id.Synt.205.15: also in aor., τοῦ ποτὲ ἐνστάντος when the moment has arrived,
Plot.4.3.13; τὰ ἐνεστηκότα πράγματα present circumstances, X.HG2.1.6; so τὰ
ἐνεστῶτα Plb.2.26.3.» É como se todas as categorias gramaticais de tempo: pas-
sado, presente e futuro, como se todos os aspectos: imperfeito, perfeito e mais
que perfeito estivessem colonizados e presos por este tempo já dado e já feito,
mesmo que possa ser dilatado a toda a eternidade.
125 Cf. Augustinus, Eccli. XI, 1. opera omnia, Guillon, vol. 35 p. 200: «Omitto com-
memorare quae mala in hac ipsa transitoria uita pene omnes patiantur infantes,
et quomodo explicetur quod dictum est: «Graue iugum super filios Adam a die
exitus de uentre matris eorum, usque in diem sepulturae in matrem omnium». Cf.
Wander-DSL Bd. 5, Spalten 1305-1306, p. 38: «Alsbald du geboren bist, so bist
du alt genug zu sterben.» Cf. Henisch, 1391, 65: «Alsbald wir werden geboren,
so sind wir schon verloren.» Cf. Calderón de la Barca, la vida es sueño. Monólo-
go de Segismundo, 1635: «qué delito cometí/ contra vosotros, naciendo/ aunque
si nací, ya entiendo/ qué delito he cometido: pues el delito mayor/del hombre es
haber nacido».
126 «εἰς τοὺς αἰῶνας τῶν αἰώνων: saecula saeculorum.»
127 «Eriperet» é terceira pessoa do singular do pretérito imperfeito do conjuntivo da
voz activa de «eripio, eripui, ereptum».
128 «ὅπως ἐξέληται ἡμᾶς» («para que eu vos liberte»). É utilizado em Acta apostulo-
rum por São Lucas para dizer: libertar das aflições. Aqui: «libertar-nos ou livrar-
-nos do tempo presente» («ἐκ τοῦ αἰῶνος τοῦ ἐνεστῶτος» I, 5). Compreende-se
a direcção do movimento do desvio (εἰς) para o interior de uma vida cujo tempo
está por ser e constituir, um futuro que promete, e abre a possibilidade da espe-
rança. Cf.: LSJ ad loc.: «14 ἐξαιρ-έω, fut. -ησω, later ἐξελῶ D.H.7.56, etc.: aor. 2
ἐξεῖλον, Ep.and Lyr. ἔξελον Il.16.56, Pi.O.1.26; inf. ἐξελεῖν:–Med., fut. ἐξαιρήσομαι
A.Supp.924; later ἐξελοῦμαι Alciphr. 1.9: aor. 2 ἐξειλόμην, rarely 1 ἐξῃρησάμην
Ar.Th.761 (perh. interpol.):–Pass., pf. -ῄρημαι, Ion. -αραίρημαι Hdt.:–take out,
ἔνθεν . . ἔξελε πέπλους Il.24.229; ἐπεί νιν καθαροῦ λέβητος ἔξελε Κλωθώ Pi.l.c.;
τὸ δέλτα τοῦ ὀνόματος Pl.Cra.413e; simply, take out, τὴν κοιλίην, τὴν νηδύν,
Hdt.2.40 (tm.), 87; πρὶν ἀνταράξας πῖαρ ἐξεῖλεν γάλα Sol.36.21:–Pass., εἰ τὸ ἔαρ
ἐκ τοῦ ἐνιαυτοῦ ἐξαραιρημένον εἴη Hdt.7.162, cf. Pericl. ap. Arist.Rh.1365a33.
2. Med., take out for oneself, φαρέτρης ἐξείλετο πικρὸν ὀϊστόν from his quiver,
Il.8.323; ἐξελέσθαι τὰ μεγάλα ἱστία their large sails, X.HG1.1.13; ἐ. τὰ φορτία dis-
charge their cargoes, Hdt.4.196; τὰ ἀγώγιμα X.An.5.1.16; τὸν σῖτον ἐς [τὴν στοὰν]
ἐξαιρεῖσθαι Th.8.90: abs., Syngr. ap. D.35.13, etc.:–Pass., to be discharged, of
a cargo, Hdt.3.6, D.34.8. II. take from a common stock, reserve, κούρην, ἣν ἄρα
μοι γέρας ἔξελον υἷες Ἀχαιῶν Il.16.56; Ἀλκινόῳ δ’ αὐτὴν γέρας ἔξελον Od.7.10,
cf. Il.11.627; βασιλέϊ τεμένεα ἐξελὼν καὶ ἱερωσύνας Hdt.4.161; Νίσῳ ἐ. χθόνα
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176 1 Cor. 2, 11, 4.: «ἡμεῖς δὲ οὐ τὸ πνεῦμα τοῦ κόσμου ἐλάβομεν ἀλλὰ τὸ πνεῦμα
τὸ ἐκ τοῦ θεοῦ».
177 1 Cor. 6.16-17.: «[ἢ] οὐκ οἴδατε ὅτι ὁ κολλώμενος τῇ πόρνῃ ἓν σῶμά ἐστιν; Ἔσονται
γάρ, φησίν, οἱ δύο εἰς σάρκα μίαν. ὁ δὲ κολλώμενος τῷ κυρίῳ ἓν πνεῦμά ἐστιν.»
178 1 Cor. 7.40.
179 Νοῦς é equivalente a πνεῦμα. 1 Cor. 14.14-15.: «ἐὰν [γὰρ] προσεύχωμαι γλώσσῃ,
τὸ πνεῦμά μου προσεύχεται, προσεύξομαι τῷ πνεύματι, προσεύξομαι δὲ καὶ τῷ νοΐ».
180 1Cor 15.45.: «εἰς ψυχὴν ζῶσαν.»
181 1 Cor. 15.45.: «ὁ ἔσχατος Ἀδὰμ εἰς πνεῦμα ζῳοποιοῦν.»
182 1 Cor. 15.46.
183 1 Cor. 14.44.: «σπείρεται σῶμα ψυχικόν, ἐγείρεται σῶμα Πνευματικόν.»
184 1 Cor. 2.13.: «ἃ καὶ λαλοῦμεν οὐκ ἐν διδακτοῖς ἀνθρωπίνης σοφίας λόγοις».
185 Ibid.: «ἀλλ’ ἐν διδακτοῖς πνεύματος». O genitivo é subjectivo.
186 1 Cor. 2.4-5.: «καὶ ἐν φόβῳ καὶ ἐν τρόμῳ πολλῷ ἐγενόμην πρὸς ὑμᾶς, καὶ
ὁ λόγος μου καὶ τὸ κήρυγμά μου οὐκ ἐν πειθοῖ[ς] σοφίας [λόγοις] ἀλλ’ ἐν
ἀποδείξει πνεύματος καὶ δυνάμεως, ἵνα ἡ πίστις ὑμῶν μὴ ᾖ ἐν σοφίᾳ ἀνθρώπων
ἀλλ’ ἐν δυνάμει θεοῦ.» É por mor dela que se ganha transparência, σοφία, rela-
tivamente aos seus requisitos. Faz agir retroactivamente já a lavagem, a santi-
ficação e a justificação, ἀπολύτρωσις, ἁγιασμός, δικαιοσύνη (1, 30). Mas estas
possibilidades existenciais não são compreendidas senão como tendo origem
em Deus. A σοφία é σοφία ἀπὸ θεοῦ (ibid.). A dificuldade consiste em compreen-
der como é que se opera este contacto entre o que Deus dá a compreender e a
compreensão demasiadamente humana. Deus é de confiança, é poder e sabe-
doria, πιστὸς ὁ θεός (1:9; 10:13); é Deus que converte a loucura ou a estultícia
de ὁ λόγος ὁ τοῦ σταυροῦ em δύναμις (1:18; 2:5; cf. 6:14); A σοφία θεοῦ (1:21;
2:7) configura Cristo como: δύναμις θεοῦ καὶ θεοῦ σοφία (1:24). O que quer que
se passe entre Deus e Cristo, entre Cristo e os humanos, entre Deus e os hu-
manos tem como meio o πνεῦμα ou o que é representado por si.
187 1 Cor. 2.13.: «πνευματικοῖς πνευματικὰ συγκρίνοντες.»
188 1 Cor. 2.14.: «ψυχικὸς δὲ ἄνθρωπος οὐ δέχεται τὰ τοῦ πνεύματος τοῦ θεοῦ».
189 Ibid.: «μωρία γὰρ αὐτῷ ἐστιν, καὶ οὐ δύναται γνῶναι, ὅτι πνευματικῶς ἀνακρίνεται.»
190 1 Cor. 2.15.: «ὁ δὲ πνευματικὸς ἀνακρίνει [τὰ] πάντα, αὐτὸς δὲ ὑπ’ οὐδενὸς
ἀνακρίνεται.»
191 1 Cor. 12.7-8. «ὁ ἐνεργῶν τὰ πάντα ἐν πᾶσιν, ἑκάστῳ δὲ δίδοται ἡ φανέρωσις
τοῦ πνεύματος πρὸς τὸ συμφέρον.»
192 1 Cor. 12.9-11. « ᾧ μὲν γὰρ διὰ τοῦ πνεύματος δίδοται λόγος σοφίας, ἄλλῳ δὲ
λόγος γνώσεως κατὰ τὸ αὐτὸ πνεῦμα, 12, 8, ἑτέρῳ πίστις ἐν τῷ αὐτῷ πνεύματι,
ἄλλῳ δὲ χαρίσματα ἰαμάτων ἐν ἐν τῷ ἑνὶ πνεύματι, ἄλλῳ δὲ ἐνεργήματα δυνάμεων,
ἄλλῳ [δὲ] προφητεία, ἄλλῳ [δὲ] διακρίσεις πνευμάτων, ἑτέρῳ γένη γλωσσῶν, ἄλλῳ
δὲ ἑρμηνεία γλωσσῶν· πάντα δὲ ταῦτα ἐνεργεῖ τὸ ἓν καὶ τὸ αὐτὸ πνεῦμα, διαιροῦν
ἰδίᾳ ἑκάστῳ καθὼς βούλεται.» Esta característica que faz depender as possibilida-
des oferecidas de um única fonte, radicalizada na ἐνέργεια de Deus, que encerra
em si a chave da compreensão do dom ou talento, da graça, do serviço e dedi-
cação e da obra, é o que permite perceber que tudo é πνευματικῶς. De tal sorte
que ao descer até ao concreto de cada um, nenhum é senão o que faz, manifes-
ta e exibe neste plano. ἑκάστῳ δὲ δίδοται ἡ φανέρωσις τοῦ πνεύματος πρὸς τὸ
συμφέρον, 12, 7. O pronome indefinido em dativo de atribuição, ἑκάστῳ, regido
por δίδωμι, é concretizado com nove exemplos, introduzidos por relativos e pro-
nomes indefinidos, que admitem por sua vez a multiplicidade de concretizações:
ᾧ μὲν γὰρ διὰ τοῦ πνεύματος δίδοται λόγος σοφίας, ἄλλῳ δὲ λόγος γνώσεως κατὰ
τὸ αὐτὸ πνεῦμα, ἑτέρῳ πίστις ἐν τῷ αὐτῷ πνεύματι, ἄλλῳ δὲ χαρίσματα ἰαμάτων
ἐν τῷ ἑνὶ πνεύματι, ἄλλῳ δὲ ἐνεργήματα δυνάμεων, ἄλλῳ [δὲ] προφητεία, ἄλλῳ
[δὲ] διακρίσεις πνευμάτων, ἑτέρῳ γένη γλωσσῶν, ἄλλῳ δὲ ἑρμηνεία γλωσσῶν·
12, 8-10. Destaque-se a instanciação lógica com a mesma estrutura formal ᾧ̣ …
δίδοται, τoda ela dependente das locuções adverbiais: διὰ τοῦ πνεύματος, κατὰ
τὸ αὐτὸ πνεῦμα, ἐν τῷ αὐτῷ πνεύματι, ἐν τῷ ἑνὶ πνεύματι. A conclusão: πάντα
δὲ ταῦτα ἐνεργεῖ τὸ ἓν καὶ τὸ αὐτὸ πνεῦμα, διαιροῦν ἰδίᾳ ἑκάστῳ καθὼς βούλεται,
12, 11.
159
António de Castro Caeiro
193 1 Cor. 15.14.: «Εἰ δὲ Χριστὸς οὐκ ἐγήρεται, κενὸν ἄρα καὶ τὸ κήρυγμα ἡμῶν, κενὴ καὶ
ἡ πίστις ὑμῶν.» 1 Cor. 15.17.: «Εἰ δὲ Χριστὸς οὐκ ἐγήρεται, ματαία ἡ πίστις ὑμῶν.»
194 1 Cor. 15.19.: «εἰ ἐν τῇ ζωῇ ταύτῃ ἐν Χριστῷ ἠλπικίτες ἐσμὲν μόνον, ἐλλεινότεροι
πάντων ἀνθρώπων ἐσμέν.»
195 Respectivamente: ματαία e κενή.
196 1 Cor. 1.7.: «ἀπεκδεχομένοι τὴν ἀποκάλυψιν.» O latim traduz por «expectantes».
197 1 Cor. 7.29.: «ὁ καιρὸς συνεσταλμένος ἐστιν.»
198 1 Cor. 7.31.: «παράγει γὰρ τὸ σχῆμα τοῦ κόσμου τούτου.»
199 1 Cor. 7.31.: «παράγει γὰρ τὸ σχῆμα τοῦ κόσμου τούτου.»
200 Ibid.: «καθ’ ἡμέραν ἀποθνήσκομεν.»
201 A partir de 1Cor. 15.20, opera-se à neutralização da reductio ad absurdum the-
ologicum: Cristo é ἀπαρχὴ τῶν κεκοιμημένων. «O último inimigo a ser destruído
é a morte» (1 Cor. 15.26).
202 Apo. 21.5.: «ἰδοὺ καινὰ ποιῶ πάντα.»
203 1 Cor. 14.5-57. Cf.: Irving F. Wood (1911), Paul’s Eschatology. II, The Biblical
World, Vol. 38, No. 3, pp. 159-170; Richard A. Horseley (1976): «Pneumatikos
vs. Psychikos Distinctions of Spiritual Status among the Corinthians», The Har-
vard Theological Review, Vol. 69, No. 3/4 (Jul. - Oct., 1976), pp. 269-288. Corne-
lius R. Stam, (1988): Commentary on The first Epistle of Paul to the Corinthians,
Berean Bible Society; Troels Engberg-Pedersen, (2012): Cosmology and Self in
the Apostle Paul, The Material Spirit, OUP.
204 Como se a criação fosse a expressão de um pensamento: οὐδεὶς θεὸς εἰ μὴ
εἷς, 8, 4, ἡμῖν εἷς θεὸς ὁ πατὴρ ἐξ οὗ τὰ πάντα καὶ ἡμεῖς εἰς αὐτόν, καὶ εἷς κύριος
Ἰησοῦς Χριστὸς δι’ οὗ τὰ πάντα καὶ ἡμεἰς δι’ αὐτοῦ, 8, 6. Deus é causa eficiente
de TODAS AS COISAS: τὰ δὲ πάντα ἐκ θεοῦ, 11, 12 e causa final que orienta e
dirige todo o viver humano e todas as vidas humanas: ὁ υἱὸς ὑποταγήσεται τῷ
ὑποτάξαντι αὐτῷ τὰ πάντα, ἵνα ᾖ ὁ θεὸς τὰ πάντα ἐν πᾶσιν, 15, 28.
205 1 Cor. 3.17.: «οὐκ οἴδατε ὅτι ναὸς θεοῦ ἐστε καὶ τὸ πνεῦμα τοῦ θεοῦ οἰκεῖ ἐν ὑμῖν;»
206 Mesmo que não reconhecido como tal, trata-se da possibilidade de ser inunda-
do pelo espírito santo (ἅγιον πνεῦμα, 1 Cor. 6.19.
207 1 Cor. 6.19.: «οὐκ οἴδατε ὅτι οὐκ ἐστὲ ἑαυτῶν».
208 A contradictio in actu adiectiuandi ou oxímoro é sem dúvida do ponto de vista
natural loucura e escândalo. Pelo menos, podemos dizer para já com Lindemann
que o corpo na expressão σῶμα πνευματικόν é «sehr ‘unkörperlich’» (1 Cor, 360)
ou na de Fitzmyer: «meaning diametrically opposed to «body.» Cf.: Joseph Fiz-
meyer, First Corinthians. A new Translation with Introduction and Commentary.
Yale, Yale University Press, 2008. Lindemann, A., ‘Die Funktion der Herrenworte
in der ethischen Argumentation des Paulus im ersten Korintherbrief ’ in The Four
Gospels 1992 (BETL 100; Festschrift F. Neirynck; ed. F. Van Segbroeck et al.),
Leuven: Leuven University Press/Peeters, 1992, 677–88.
209 1 Cor. 12.4-6.: «ὁ δὲ αὐτὸς θεὸς ὁ ἐνεργῶν τὰ πάντα ἐν πᾶσιν.»
210 Gal. 2.8; 3.5, Filip. 2.13, 1Cor 12.11.: «πάντα δὲ ταῦτα ἐνεργεῖ τὸ ἓν καὶ τὸ αὐτὸ
πνεῦμα διαροῦν ἰδίᾳ ἑκάστῳ καθὼς βούλεται.»
211 1 Cor. 12.7.: «ἑκάστῳ δὲ διδόται ἡ φανέρωσις τοῦ πνεύματος πρὸς τὸ συμφέρον.»
212 1 Cor. 12.12-31.
213 1 Cor. 12.12.: «καθάπερ γὰρ τὸ σῶμα ἕν ἐστιν καὶ μέλη πολλὰ ἔχει, πάντα δὲ
τὰ μέλη τοῦ σώματος πολλὰ ὄντα ἕν ἐστιν σῶμα, οὕτως καὶ ὁ Χριστός· καὶ γὰρ
ἐν ἑνὶ πνεύματι ἡμεῖς πάντες εἰς ἓν σῶμα ἐβαπτίσθημεν, εἴτε Ἰουδαῖοι εἴτε δοῦλοι
εἴτε ἐλεύθεροι, καὶ πάντες ἓν πνεῦμα ἐποτίσθημεν. Καὶ γὰρ τὸ σῶμα οὐκ ἔστιν ἓν
μέλος ἀλλὰ πολλά.»
214 οὕτως καὶ ὁ Χριστός.
215 Em 1 Cor. 13, estabelece-se o fundamento da possibilidade de todos uns com
os outros fazermos parte de um único «corpo».
216 1 Cor. 12.11.: «11. Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repar-
tindo a cada um como lhe apraz.»
217 1 Cor., 12, 15-17.
218 ἓν ἕκαστον αὐτῶν
219 ἐν τῷ σώματι
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São Paulo
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António de Castro Caeiro
διαφέρει δούλου κύριος πάντων ὤν, (2.) ἀλλὰ ὑπὸ ἐπιτρόπους ἐστὶν καὶ
οἰκονόμους ἄχρι τῆς προθεσμίας τοῦ πατρός. (3.) οὕτως καὶ ἡμεῖς, ὅτε ἦμεν
νήπιοι, ὑπὸ τὰ στοιχεῖα τοῦ κόσμου ἤμεθα δεδουλωμένοι· (4.) ὅτε δὲ ἦλθεν τὸ
πλήρωμα τοῦ χρόνου, ἐξαπέστειλεν ὁ θεὸς τὸν υἱὸν αὐτοῦ, γενόμενον ἐκ γυναικός,
γενόμενον ὑπὸ νόμον, (5.) ἵνα τοὺς ὑπὸ νόμον ἐξαγοράσῃ, ἵνα τὴν υἱοθεσίαν
ἀπολάβωμεν. (6.) Ὅτι δέ ἐστε υἱοί, ἐξαπέστειλεν ὁ θεὸς τὸ πνεῦμα τοῦ υἱοῦ
αὐτοῦ εἰς τὰς καρδίας ἡμῶν, κρᾶζον, Αββα ὁ πατήρ. (7.) ὥστε οὐκέτι εἶ δοῦλος
ἀλλὰ υἱός· εἰ δὲ υἱός, καὶ κληρονόμος διὰ θεοῦ. (8.) Ἀλλὰ τότε μὲν οὐκ εἰδότες
θεὸν ἐδουλεύσατε τοῖς φύσει μὴ οὖσιν θεοῖς· (9.) νῦν δὲ γνόντες θεόν, μᾶλλον δὲ
γνωσθέντες ὑπὸ θεοῦ, πῶς ἐπιστρέφετε πάλιν ἐπὶ τὰ ἀσθενῆ καὶ πτωχὰ στοιχεῖα,
οἷς πάλιν ἄνωθεν δουλεύειν θέλετε; (10.) ἡμέρας παρατηρεῖσθε καὶ μῆνας καὶ
καιροὺς καὶ ἐνιαυτούς. (11.) φοβοῦμαι ὑμᾶς μή πως εἰκῇ κεκοπίακα εἰς ὑμᾶς.»
242 «ὅταν δὲ ἔλθῃ τὸ τέλειον, τὸ ἐκ μέρους καταργηθήσεται.»
243 Gal. 4.6.: «ἐστε υἱοί».
244 Gal. 4.6.: «τὸ πνεῦμα τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ εἰς τὰς καρδίας ἡμῶν, κρᾶζον, Αββα ὁ
πατήρ.» A conclusão lógica: de tal sorte que, se não és ainda escravo, mas já
és filho. Se, portanto, és filho:– és também herdeiro por mor de Deus (7.) ὥστε
οὐκέτι εἶ δοῦλος ἀλλὰ υἱός· εἰ δὲ υἱός, καὶ κληρονόμος διὰ θεοῦ.
245 Agora já haveis conhecido Deus: νῦν δὲ γνόντες θεόν, ou antes haveis sido co-
nhecido por Deus, μᾶλλον δὲ γνωσθέντες ὑπὸ θεοῦ (Voz passiva, 9.). E se as-
sim é, como é que vos virais de novo para os elementos pobres e débeis aos
quais consentis uma vez mais a servidão? πῶς ἐπιστρέφετε πάλιν ἐπὶ τὰ ἀσθενῆ
καὶ πτωχὰ στοιχεῖα, οἷς πάλιν ἄνωθεν δουλεύειν θέλετε; (10.) Velai dias e me-
ses, as estações e os anos, ἡμέρας παρατηρεῖσθε καὶ μῆνας καὶ καιροὺς καὶ
ἐνιαυτούς. Temo ter-me esforçado em vão por vocês (11.) φοβοῦμαι ὑμᾶς μή
πως εἰκῇ κεκοπίακα εἰς ὑμᾶς.
246 Gal. 4.2.: «προθεσμία τοῦ πατρός».
247 Gal. 4.4.: «υἱοθεσία».
248 Gal. 4.4.: «ἐλθεῖν».
249 Gal. 4.4.: «πλήρωμα τοῦ χρόνου».
250 1 Cor. 13.10.: «τὸ τέλειον».
251 Jo. 8.32.: «ἡ ἀλήθεια ἐλευθερώσει ὑμᾶς.»
252 Em Gal., 5.13., lê-se: Irmãos, de facto, foi para a liberdade que vós fostes cha-
mados, ἐπ’ ἐλευθερίᾳ ἐκλήθητε. Só que não deveis deixar que essa liberdade se
torne numa ocasião para os vossos apetites carnais. Pelo contrário: pelo amor,
fazei-vos servos uns dos outros, διὰ τῆς ἀγάπης δουλεύετε ἀλλήλοις. É que
toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: Ama o próximo como a
ti mesmo. Mas, se vos mordeis e devorais uns aos outros, cuidado não sejais
consumidos uns pelos outros, (13.).: ὁ γὰρ πᾶς νόμος ἐν ἑνὶ λόγῳ πεπλήρωται,
ἐν τῷ Ἀγαπήσεις τὸν πλησίον σου ὡς σεαυτόν. (14) εἰ δὲ ἀλλήλους δάκνετε καὶ
κατεσθίετε, βλέπετε μὴ ὑπ’ ἀλλήλων ἀναλωθῆτε.
253 Rom. 1.24-26.: «Διὸ παρέδωκεν αὐτοὺς ὁ θεὸς ἐν ταῖς ἐπιθυμίαις τῶν καρδιῶν
αὐτῶν εἰς ἀκαθαρσίαν τοῦ ἀτιμάζεσθαι τὰ σώματα αὐτῶν ἐν αὑτοῖς, οἵτινες
μετήλλαξαν τὴν ἀλήθειαν τοῦ θεοῦ ἐν τῷ ψεύδει, καὶ ἐσεβάσθησαν καὶ ἐλάτρευσαν
τῇ κτίσει παρὰ τὸν κτίσαντα, ὅς ἐστιν εὐλογητὸς εἰς τοὺς αἰῶνας· ἀμήν. διὰ τοῦτο
παρέδωκεν αὐτοὺς ὁ θεὸς εἰς πάθη ἀτιμίας.»
254 Rom. 2.6.: «ὃς ἀποδώσει ἑκάστῳ κατὰ τὰ ἔργα αὐτοῦ».
255 Rom. 2.5-6.
256 Na formulação de Rom. 1.26, lê-se o mesmo verbo com o mesmo sujeito:
παρέδωκεν αὐτοὺς ὁ θεὸς e uma mesma reformulação da situação em que o
humano se encontra no sentido da presença de um para o outro baseado na
avidez cobiçosa e na ânsia do apetite: πάθη ἀτιμίας. 1.28. «Παρέδωκεν αὐτοὺς
ὁ θεὸς εἰς ἀδόκιμον νοῦν, ποιεῖν τὰ μὴ καθήκοντα, (29.) πεπληρωμένους πάσῃ
ἀδικίᾳ πονηρίᾳ πλεονεξίᾳ κακίᾳ. Em 1.28 o mesmo verbo com o mesmo sujei-
to. («É Deus que propicia que eles tenham uma compreensão que não passa o
teste e os leva a fazer o que não é devido: enchendo-se de toda a injustiça, de
ruindade, ganância e maldade.»)
257 Por causa de um ἀτιμάζεσθαι, de um desonrar-se ou dar importância ao que não
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São Paulo
é digno de estima.
258 Rom. 1.18-19.
259 Mc 12.31.: «δευτέρα αὕτη, Ἀγαπήσεις τὸν πλησίον σου ὡς σεαυτόν.» (O segundo
[mandamento] é este: ‘amarás o próximo como a ti mesmo.). Em Rom. 13.9, lê-se:
καὶ εἴ τις ἑτέρα ἐντολή, ἐν τῷ λόγῳ τούτῳ ἀνακεφαλαιοῦται, [ἐν τῷ] Ἀγαπήσεις τὸν
πλησίον σου ὡς σεαυτόν.» («E se houver um segundo mandamento resume-se
a esta fórmula: amarás o próximo como a ti próprio»). Paulo expande: «(10.) ἡ
ἀγάπη τῷ πλησίον κακὸν οὐκ ἐργάζεται· πλήρωμα οὖν νόμου ἡ ἀγάπη.» («O amor
não opera o mal no próximo, porquanto, o amor é o preenchimento da lei»). Tam-
bém em Rom. 15. 2, lê-se a respectiva interditação: «Ὀφείλομεν δὲ ἡμεῖς […] μὴ
ἑαυτοῖς ἀρέσκειν. (2.) ἕκαστος ἡμῶν τῷ πλησίον ἀρεσκέτω εἰς τὸ ἀγαθὸν πρὸς
οἰκοδομήν· (3.) καὶ γὰρ ὁ Χριστὸς οὐχ ἑαυτῷ ἤρεσεν. («Não devemos procurar
o que nos agrada a nós próprios. […] Cada um de nós deve procurar agradar
ao próximo com vista ao bem que leva à edificação. Pois, Cristo não procurou
agradar-se a si próprio.»).
260 De ἀρέσκω, encontramos a terceira pessoa do singular do presente do impera-
tivo, ἀρεσκέτω, o presente do infinitivo ἀρέσκειν e a terceira pessoa do singular
do aoristo do indicativo ἤρεσεν. impf. ἤρεσκον Th.5.37, etc.: fut. ἀρέσω D.39.33,
Ep. ἀρέσσω (συν-) A.R.3.901: aor.ἤρεσα Hdt.8.19, Com.Adesp.19.4D., etc., Ep.
ἄρεσσα A.R.3.301, inf. ἀρέσαι Il., X.: pf. ἀρήρεκαCorn.ND24, S.E.M.1.238:–Med.,
fut. ἀρέσομαι A.Supp.655 (lyr.), Ep. ἀρέσσομαι Il.4.362: aor.ἠρεσάμην, Ep. ἀρ- Hes.
Sc.255, Ep. part. ἀρεσσάμενος Il. 9.112, Thgn.762: aor. Pass. in med. sense,S.
Ant.500:–Pass., aor. ἠρέσθην Paus.2.13.8, J.AJ12.9.6., que significa 3. after
Hom., c. dat. pers., please, satisfy, οὔτε γάρ μοι Πολυκράτης ἤρεσκε δεσπόζων .
.Hdt.3.142; δεῖ μ’ ἀρέσκειν τοῖς κάτω S.Ant.75, cf. 89; ἀεὶ δ’ ἀρέσκειν τοῖς κρατοῦσιν
to be obsequious to them, E.Fr.93, cf. X.Mem.2.2.11; ἀ. τρόποις τινός conform
to his ways, D.61.19; τὸ κολακεύειν νῦν ἀρέσκειν ὄνομ’ ἔχει Anaxandr.42; πᾶσιν
ἀρέσκω 1 Ep.Cor.10.33; ἑαυτοῖς Ep.Rom.15.1:–Med., μάλιστα ἠρέσκοντό <οἱ> οἱ
ἀπ’ Ἀθηνέων pleased him most, Hdt.6.128.
261 De ἀγαπάω, encontramos a segunda pessoa do futuro imperfeito na voz activa
do verbo com valor imperativo: Ἀγαπήσεις do verbo ἀγαπάω (Dor. ἀγαπ-έω Ar-
chyt. ap. Stob.3.1.110), Ep. aor. ἀγάπησα Od.23.214: pf. ἠγάπηκαIsoc.15.147,
etc. I. greet with affection (cf. foreg.), once in Hom., Od.l.c.:–in Trag. only show
affection for the dead, ὅτ’ ἠγάπα νεκρούς E.Supp.764, cf.Hel.937:–Pass., to be
regarded with affection, ξένων εὐεργεσίαις ἀγαπᾶται Pi.I.5(6).70:– generally, love,
ὥσπερ . . οἱ ποιηταὶ τὰ αὑτῶν ποιήματα καὶ οἱ πατέρες τοὺς παῖδας ἀγαπῶσι
Pl.R.330c, cf. Lg.928a; ὡς λύκοι ἄρν’ ἀγαπῶσ’ Poet. ap. Phdr.241d; ἀ. τοὺς
ἐπαινέταςib.257e; ἐπιστήμην, τὰ χρήματα, etc., Id.Phlb.62d, al.; τούτους ἀγαπᾶ
καὶ περὶ αὑτὸν ἔχει D.2.19; ὁ μέγιστον ἀγαπῶν δι’ ἐλάχιστ’ ὀργίζεται Men.659; esp.
of children, αὐτὸν ἐτιθηνούμην ἀγαπῶσαId.Sam.32, etc.:–Pass., Pl.Plt.301d, etc.;
ὑπὸ τῶν θεῶν ἠγαπῆσθαι D.61.9; ὑπὸ τοῦ φθᾶ OGI90.4(Rosetta, ii B. C.); so in
LXX of the love of God for man and of man for God, Is.41.8, De.11.1, al., cf.Ev.
Jo.3.21, Ep.Rom.8.28:–as dist. fr. φιλέω (q. v.) implying regard rather than affec-
tion, but the two are interchanged, cf. X.Mem.2.7.9 and 12; φιλεῖσθαι defined as
ἀγαπᾶσθαι αὐτὸν δι’ αὑτόνArist.Rh.1371a21:–seldom of sexual love, for ἐράω,
Arist.Fr.76, Luc.JTr.2; ἀ. ἑταίραν Anaxil.22.1 (butἀ. ἑταίρας to be fond of them,
X.Mem.1.5.4; ἐρωτικὴν μέμψιν ἡ ἀγαπωμένη λύει dub. in Democr.271):–of bro-
therly love, Ev.Matt.5.43, al.
262 1 Ts 2, 1-12.
263 1 Ts 2.3.: «ἡ γὰρ παράκλησις ἡμῶν οὐκ ἐκ πλάνης οὐδὲ ἐξ ἀκαθαρσίας οὐδὲ ἐν
δόλῳ».
264 1 Ts. 2.5-6.: οὔτε γάρ ποτε ἐν λόγῳ κολακείας ἐγενήθημεν, οὔτε ἐν προφάσει
πλεονεξίας, (…), οὔτε ζητοῦντες ἐξ ἀνθρώπων δόξαν, οὔτε ἀφ’ ὑμῶν οὔτε ἀπ’
ἄλλων.»).
265 1 Ts. 2.5-6.: «οὔτε γάρ ποτε ἐν λόγῳ κολακείας ἐγενήθημεν, οὔτε ἐν προφάσει
πλεονεξίας, (…), οὔτε ζητοῦντες ἐξ ἀνθρώπων δόξαν, οὔτε ἀφ’ ὑμῶν οὔτε ἀπ’
ἄλλων.»
266 1 Ts. 2.11-12.: καθάπερ οἴδατε ὡς ἕνα ἕκαστον ὑμῶν ὡς πατὴρ τέκνα ἑαυτοῦ
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São Paulo
irmãos, e olhai atentamente para aqueles que procedem conforme o modelo que
tendes em nós. É que muitos– de quem várias vezes vos falei e agora até falo
a chorar– são, no seu procedimento, inimigos da cruz de Cristo: o seu fim é a
perdição, o seu Deus é o ventre, e gloriam-se da sua vergonha– esses que es-
tão presos às coisas da terra. É que, para nós a cidade a que pertencemos está
nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele
transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso, com
aquela energia que o torna capaz de a si mesmo sujeitar todas as coisas.
281 Ep. Rom. 13.11-12.: «Καὶ τοῦτο εἰδότες τὸν καιρόν, ὅτι ὥρα ἤδη ὑμᾶς ἐξ ὕπνου
ἐγερθῆναι, νῦν γὰρ ἐγγύτερον ἡμῶν ἡ σωτηρία ἢ ὅτε ἐπιστεύσαμεν. ἡ νὺξ
προέκοψεν, ἡ δὲ ἡμέρα ἤγγικεν. (Sabeis em que tempo vivemos: já é hora de
acordardes do sono, pois a salvação está agora mais perto de nós do que quan-
do começámos a acreditar. A noite adiantou-se e o dia está próximo.)»
282 1 Cor. 15, 51.: «ἰδοὺ μυστήριον ὑμῖν λέγω· πάντες οὐ κοιμηθησόμεθα, πάντες
δὲ ἀλλαγησόμεθα, ἐν ἀτόμῳ, ἐν ῥιπῇ ὀφθαλμοῦ, ἐν τῇ ἐσχάτῃ σάλπιγγι· σαλπίσει
γάρ, καὶ οἱ νεκροὶ ἐγερθήσονται ἄφθαρτοι, καὶ καὶ ἡμεῖς ἀλλαγησόμεθα. δεῖ γὰρ
τὸ φθαρτὸν τοῦτο ἐνδύσασθαι ἀφθαρσίαν καὶ τὸ θνητὸν τοῦτο ἐνδύσασθαι
ἀθανασίαν.»
283 A possibilidade da vida eterna implica uma alteração do sentido do ser da vida
tal como a compreendemos. Paulo diz: 51: πάντες οὐ κοιμηθησόμεθα, πάντες δὲ
ἀλλαγησόμεθα, nenhum de nós sem excepção há-de adormecer: todos seremos
transformados. Por essa transformação: 52b: οἱ νεκροὶ ἐγερθήσονται ἄφθαρτοι,
καὶ καὶ ἡμεῖς ἀλλαγησόμεθα. Os mortos há-de acordar indestrutíveis, tal como nós
nos transformaremos. (53.) δεῖ γὰρ τὸ φθαρτὸν τοῦτο ἐνδύσασθαι ἀφθαρσίαν καὶ
τὸ θνητὸν τοῦτο ἐνδύσασθαι ἀθανασίαν. Este ser destrutível emergirá revestido
de indestrutibilidade e este ser mortal emergirá revestido de imortalidade. Há um
outro horizonte de sentido que se constitui de que se reveste cada pessoa.
284 1 Cor. 15.30-31.: «τί καὶ ἡμεῖς κινδυνεύομεν πᾶσαν ὥραν; καθ’ ἡμέραν ἀποθνῄσκω,
νὴ τὴν ὑμετέραν καύχησιν, [ἀδελφοί,] ἣν ἔχω ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ. (Mas então não é
verdade que corremos riscos a toda a hora? Eu estou a morrer a cada dia, pela
vossa exultação, irmãos a que eu tenho em Cristo, Jesus.)»
285 Gal. 2. 2.: «μή πως εἰς κενὸν τρέχω ἢ ἔδραμον.»
286 Ep. Rom. 13 (11.) Καὶ τοῦτο εἰδότες τὸν καιρόν, ὅτι ὥρα ἤδη ὑμᾶς ἐξ ὕπνου
ἐγερθῆναι, νῦν γὰρ ἐγγύτερον ἡμῶν ἡ σωτηρία ἢ ὅτε ἐπιστεύσαμεν. (12.) ἡ νὺξ
προέκοψεν, ἡ δὲ ἡμέρα ἤγγικεν. («Sabeis em que tempo vivemos: já é hora de
acordardes do sono, pois a salvação está agora mais perto de nós do que quan-
do começámos a acreditar. A noite adiantou-se e o dia está próximo.») Em 13.10
tinha-se lido: «ὅταν δὲ ἔλθῃ τὸ τέλειον, τὸ ἐκ μέρους καταργηθήσεται, quando che-
gar o perfeito, o que é parcial será anulado». Agora, aqui, em 4.4, lê-se (4.) «ὅτε
δὲ ἦλθεν τὸ πλήρωμα τοῦ χρόνου, ἐξαπέστειλεν ὁ θεὸς τὸν υἱὸν αὐτοῦ, γενόμενον
ἐκ γυναικός, γενόμενον ὑπὸ νόμον, (5.) ἵνα τοὺς ὑπὸ νόμον ἐξαγοράσῃ, ἵνα τὴν
υἱοθεσίαν ἀπολάβωμεν. quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o
seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de rece-
bermos a adopção de filhos.» Τὸ πλήρωμα τοῦ χρόνου é τὸ τέλειον.
287 II Cor., 3.18.3.: ἡμεῖς δὲ πάντες ἀνακεκαλυμμένῳ προσώπῳ τὴν δόξαν κυρίου
κατοπτριζόμενοι τὴν αὐτὴν εἰκόνα μεταμορφούμεθα ἀπὸ δόξης εἰς δόξαν, καθάπερ
ἀπὸ κυρίου πνεύματος.
288 Fl 4.18.: «ἀπέχω δὲ πάντα καὶ περισσεύω· πεπλήρωμαι δεξάμενος παρὰ
Ἐπαφροδίτου τὰ παρ’ ὑμῶν, ὀσμὴν εὐωδίας, θυσίαν δεκτήν, εὐάρεστον τῷ θεῷ. ὁ
δὲ θεός μου πληρώσει πᾶσαν χρείαν ὑμῶν κατὰ τὸ πλοῦτος αὐτοῦ ἐν δόξῃ ἐν
Χριστῷ Ἰησοῦ.»
289 Cf.: A. N. WILSON, Paul, the Mind of the Apostle, 1998, Pimlico, pp.: 249-250:
«While the human torches screeched with agony in the Vatican Gardens of a sa-
distic emperor, some will have imagined Paul already dead; others perhaps have
supposed he died with them. But I prefer to think of him, far away in the west,
wholly oblivious to what he had started, eagerly gazing towards the heaving sea
on which he had so often been tossed and awayting the comig of the Christ»
165
Bibliografia
Fontes
NESTLE-ALAND, Novum Testamentum Graece, Grie-
chisch-Deutsch
28. Auflage, NA 28, Griechischer Text,
revidierter Luthertext und Einheitsübesetzung, Deuts-
che Bibelgesellschaft, 2013.
BIBLIA SAGRADA, Versão dos Capuchinhos, Difusora
Bíblica, Lisboa, Leiria, 2003.
Secundária
BARTH, Karl, Der Römerbrief, 1922, Zürich, Theolo-
gischer Verlag, 1999, 16ª ed.,
HEIDEGGER, M., Phänomenologie und Theologie, We-
gmarken, GA, vol. 9, ed.: F.-W. von Herrmann, Frank-
furt a. M., Vittorio Klostermann, 1976.
SCHMITZ, Hermann, Das Göttliche und der Raum,
System der Philsophie III, Teil 4, Studienausgabe,
Bouvier, 1977.
SLOTERDIJK, P., Sphären, três vol., Frankfurt a. M.,
Suhrkamp, 1999.
WILSON, A. N. Paul, the Mind of the Apostle, London,
Pimlico, 1998.
166
Í nd i c e
Prefácio........................................................................5
Nota Inicial..................................................................9
I. Viragem..................................................................11
Uma Vida Uma Biografia.......................................13
Crise de Consciência.............................................21
Mudança do Coração............................................27
Apocalipse e Metamorfose.....................................29
II. Servidão.................................................................33
Condição Humana................................................35
Dias de Ira.............................................................37
O Agente Provocador............................................39
O Pecado é o Elemento.........................................41
A Nova Fé e a Lei Antiga.......................................44
Tentação................................................................46
A Borla..................................................................47
O Amor a Si Próprio.............................................49
III. Revelação.............................................................53
Gálatas..................................................................55
Uma Outra Vida....................................................56
Comunicação........................................................57
Conversão.............................................................59
Os Lados do Tempo...............................................64
Paixão....................................................................65
IV. Espírito ................................................................77
Pneuma.................................................................79
Itinerário de 1 Cor.................................................80
Disposição.............................................................81
Presença ................................................................83
Apropriação...........................................................88
Possibilidade..........................................................89
O Espírito no Corpo.............................................93
A Graça...............................................................103
O Amor...............................................................108
V. Apocalipse............................................................109
Habilitação de Herdeiros.....................................111
Outro e Próprio ..................................................112
Convite...............................................................118
Mandamento.......................................................121
Deus e o Possibilitante.........................................126
Pleno e Vazio ......................................................132
Metamorfose.......................................................135
Epílogo.....................................................................141
Apendice 1...............................................................144
Apendice 2...............................................................144
Notas.......................................................................148
Bibliografia...............................................................166