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PAINEL 01: Abordagens sobre a mobilidade.

Vasconcellos, Eduardo
Alcântara. Transporte urbano, espaço e equidade: análise das politicas
publicas. Ed. Annablume, São Paulo. 2. ed. 2001: 21 a 42: A Cidade e o
Sistema de Circulação.
As condições de mobilidade de uma determinada população constituem
um dos indicadores de qualidade de vida e desenvolvimento econômico, e
entende-se que mobilidade sustentável seria aquela capaz de garantir bons
níveis de qualidade de vida e menor consumo e degradação de recursos
naturais.
Além disso, entende-se por mobilidade urbana sustentável as condições
para deslocamento de pessoas para suas diversas atividades no espaço
urbano, que tenham como premissas os menores recursos naturais, e também
uma configuração espacial que garanta segurança e conforto.
A mobilidade urbana, entre outras funções, pode ser incrementada pelo
projeto urbano, em diferentes e subsequentes projetos, de forma processual,
continuadamente revisada e renovada, conforme as mudanças dos hábitos da
população e suas condições econômicas, tecnológicas, culturais, demográficas
ou outras.
Na atualidade os sistemas de transporte urbano nas regiões
metropolitanas são extremamente complexos e preveem a multimodalidade.
No entanto, os problemas enfrentados, relacionados à poluição
ambiental local e global, aos congestionamentos, à falta de segurança e à
ineficiência dos sistemas de transportes, estes últimos especialmente no Brasil,
têm gerado uma série de questionamentos e redirecionamentos de políticas
públicas de mobilidade urbana.
Então, os espaços urbanos devem ser adequados para as pessoas, e
isso pode ser feito por projeto técnico, no caso o projeto urbano.
O projeto urbano se traduz na forma de pranchas de desenho técnico
de urbanismo, porém para sua efetivação na realidade, o projeto urbano
precisa estar de acordo com o plano diretor, ou seja, ser adotado e
regulamentado em duas áreas básicas, que são: a instância da estrutura
administrativa governamental, onde as propostas para o espaço estarão
formatadas conforme diretrizes de uso e ocupação, e tornadas leis para uso e
ocupação do terreno e mobilidade, conforme as necessidades.
Além do empenho do projeto urbano há outra muito importante que é a
sociocultural, presente em um tipo de planejamento e gestão urbana
participativa.
Nesta instância serão previstos programas para informação, motivação e
apoio aos usuários e comunidades, visando aperfeiçoar o uso dos espaços e
condições de mobilidade que o projeto urbano especifica, por exemplo, a
praça, o trajeto da ciclovia, a renovação da rua, etc.
A lei da política nacional da mobilidade urbana estabelece como um de
seus princípios o desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões
socioeconômicas e ambientais.
A constatação de que os sistemas de transporte têm sido um dos
maiores contribuintes dos impactos ambientais, especialmente no que diz
respeito à emissão de gases de efeito estufa, levando ao aquecimento global e
às mudanças do clima provocou uma discussão profunda sobre a necessidade
de mudança desses sistemas em todo o planeta.
Na atualidade os sistemas de transporte urbano nas regiões
metropolitanas são extremamente complexos e preveem a multimodalidade.
No entanto, os problemas enfrentados, relacionados à poluição
ambiental local e global, aos congestionamentos, à falta de segurança e à
ineficiência dos sistemas de transportes, estes últimos especialmente no Brasil,
têm gerado uma série de questionamentos e redirecionamentos de políticas
públicas de mobilidade urbana.
É premente, nesse contexto, a necessidade de se repensar a
mobilidade urbana que está inserida nas cidades com toda sua história e
características naturais.
As mudanças devem considerar a complexidade desse espaço urbano
para propor soluções que não podem excluir a mobilidade a pé como tem
ocorrido.
Esse conceito está presente na Lei da Política Nacional de Mobilidade
Urbana brasileira, cujo artigo 4º, inciso III, define como mobilidade urbana a
condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no
espaço urbano.
A mobilidade urbana é um conceito mais amplo do que o de transporte
urbano, pois a mobilidade inclui a estrutura de vias e acessos que, construídos
no espaço urbano, permitem os deslocamentos de materiais e pessoas.
O uso que se faz das vias (calçadas, rodovias, ferrovias, etc.) e
estruturas (sinalizações, estações e terminais de ônibus ou trens, etc.), tanto
para o transporte motorizado como para o não motorizado é o que efetiva as
condições de mobilidade urbana.
Um ponto de partida para se pensar a mobilidade urbana é a
constatação de que, independentemente do objeto que circule, sejam pessoas,
cargas ou, até mesmo as informações, é o mesmo espaço urbano que se
utiliza.
Dessa maneira, densidade populacional, localização de áreas de
emprego e das habitações e tipos de atividades econômicas, entre outros
aspectos, influenciam as condições de mobilidade.
Portanto a mobilidade urbana sempre inclui o modo de transporte a pé,
já que todos são pedestres e momentaneamente estão utilizando outro modo
de transporte.
Assim pensar em redes de mobilidade é a alternativa mais adequada
para o entendimento dos deslocamentos das pessoas nas áreas urbanas.
A Multimodalidade de transportes pode contribuir para o equilíbrio
social, ambiental e econômico.
Nesse sentido as políticas públicas para a Mobilidade sustentável,
devem, em concordância com as práticas dos projetos urbanos, inserir como
um ponto importante o papel dos deslocamentos a pé.
Além disso, os projetos urbanos de infraestrutura para o transporte têm,
em sua maioria, desconsiderado a caminhada e, quando a consideram,
normalmente, a infraestrutura para se caminhar está em áreas centrais das
cidades e não nas áreas periféricas, onde se concentram as populações que
fazem deslocamentos maiores, que incluem, muitas vezes, longas distancias a
serem percorridas a pé.
Outro aspecto importante é que a legislação, na maior parte dos
municípios brasileiros, delega aos proprietários de lote os cuidados com as
calçadas, ficando o poder público encarregado da fiscalização.
Isso tem resultado em uma rede de deslocamento ineficiente para o
pedestre.
Em função das características de mobilidade os problemas com o
trânsito, os congestionamentos e suas consequências, tais como a poluição
local e global e os problemas de saúde são mais evidentes nas regiões
metropolitanas brasileiras do que em outros municípios.
Portanto, se houver o reconhecimento da mobilidade a pé como um
meio de transporte, como tem ocorrido em outros países, às políticas públicas
deve ser direcionado à adequação do espaço urbano e à integração com os
sistemas de transporte existentes, em propostas adequadas a realidade
sociocultural de cada cidade, considerando a complexidade de seu espaço
urbano.

PAINEL 02: Contextualizando a cidade; uma rede de fluxos. Perulli, Paolo.


Visões da cidade: As formas do mundo espacial. Editora Senac , São
Paulo. 219-237: A rede dos fluxos.
Vivemos um momento em que todos agentes privados e públicos vão ao
território, no sentido de que suas estratégias são territorialidades, mas o
território não é um dado ou um sítio fixado.
É uma construção social conflituosa, uma produção coletiva, dinâmica,
multidimensional, com trajetória histórica em aberto.
Diante dos graves e complexos problemas provocados pelo crescimento
ininterrupto e desordenados dos centros urbanos e metropolitanos, os
cientistas sociais enfrentam um sério dilema: por um lado, sofrem a pressão
das autoridades e da opinião pública, no sentido de proporem planos e
diretrizes de ação, visando atenuar a situação calamitosa das cidades e de
suas populações.
Por outro, todavia, sentem-se inclinados a manter uma atitude
"científica", livre de juízos de valores e acima das lutas políticas.
No contexto da vida urbana na sociedade de classes, qualquer plano
viário, projeto de construção habitacional ou programa de desenvolvimento
comunitário torna-se instrumento de intervenção, de mudança dirigida nas
relações entre os diversos grupos e forças de pressão, que compõem a trama
da sociedade urbana.
Como herança do positivismo, acostumamo-nos a atribuir ao conceito
mudança a conotação de melhoria, progresso, o que pressupõe uma série de
parâmetros estabelecidos, metas e diretrizes em função de objetivos e valores
dos indivíduos ou grupos envolvidos por esses processos de mudança social
dirigida.
A natureza e o crescimento das cidades ocupam um espaço importante
nos debates sobre mudança social.
Na maioria dos trabalhos sobre urbanização é destacada a tendência à
concentração da produção e dos serviços em cidades-primatas ou metrópoles,
no decorrer do processo de crescimento econômico.
O crescimento mais do que vegetativo das cidades é considerado
vantajoso, por possibilitar a realização de economias de escala e o
oferecimento de toda uma gama de serviços técnicos, sociais e culturais que
seria difícil, senão impossível, encontrar nas aglomerações urbanas menores
do interior do país.
Sendo considerado, portanto, como um processo natural e inevitável,
pouca atenção é dispensada às disfunções das grandes aglomerações
metropolitanas e aos problemas decorrentes dos desequilíbrios regionais e
sociais, tais como o subemprego e a marginalização de amplas camadas da
população "urbanizada".
As críticas e objeções a essa política de urbanização são minimizadas
ou afastadas com a invocação economicista de que não se pode dividir o bolo
antes de ser feito - portanto, crescer e multiplicar são a palavra de ordem.
As disfunções serão corrigidas no decorrer do próprio processo e
aqueles que arcam com o ônus do crescimento caótico serão posteriormente
recompensados.
Não pretendemos discutir aqui os limites humanos dos sacrifícios
exigidos e os prazos da compensação.
Verdade é que, nos períodos de expansão econômica, os sacrifícios são
exigidos em nome da aceleração do processo fazer o bolo crescer mais
rapidamente, enquanto que nos momentos dramáticos de recessão econômica,
faltarão os recursos para atender às necessidades das camadas da população
menos privilegiadas.
Essa visão evolucionista da urbanização, cujos parâmetros foram
calcados nos modelos norte-americano e europeu das cidades, é irrelevante e
até prejudicial à compreensão da situação dos países em desenvolvimento,
porque transfere uma problemática vivida em época, lugares e condições
históricas diferentes, para as circunstâncias específicas e inéditas das cidades
nos países em desenvolvimento.
Ignorando a unicidade cultural e apoiando-se em paradigma
ultrapassado, segundo o qual o país mais adiantado mostra o caminho ao
atrasado, a visão evolucionista da urbanização é falha porque localiza os
problemas em sociedades específicas, em vez de considerar a rede de
relações e interações de cidades, regiões e nações, com potencial econômico
e poderio militar diferente.
Tanto a perspectiva teórica europeia, que pesquisa e analisa o processo
de urbanização a partir de suas origens históricas, na cidade medieval e pré-
industrial quanto a norte-americana, que se concentra no estudo das
modificações espaciais nas cidades industriais do século XX, são pouco
adequadas para a compreensão da dinâmica das metrópoles
incompletas semi-industrializadas e caracterizadas por subemprego e
marginalidade de grandes contingentes populacionais, nos países em
desenvolvimento.
Confirmando a permeação dos próprios conceitos por valores, as
definições do processo de urbanização são formuladas ora em termos
demográficos - número e densidade de habitantes em determinada área ou por
modelos geográfico-espaciais; ora por modelos econométricos que, na melhor
das hipóteses, conduzem à coleta de dados e indicadores para fins
administrativos.
Durante o maior período na história do planejamento urbano moderno,
prevaleceu a crença de que a organização física do espaço teria efeito direto
sobre o comportamento humano, o que conferiu aos arquitetos uma posição
privilegiada nos órgãos de planejamento, que começa a ser disputada pelos
arautos do determinismo econômico.
Contudo, a influência da abordagem físico-espacial continua a permear a
teoria e a prática do planejamento urbano, como, por exemplo, no caso de
"desenvolvimento de comunidade", em que os técnicos acreditam que bastaria
delimitar por critérios geográficos o espaço, para se obter a "comunidade".
Para compreender melhor o significado da cidade, ou melhor, da vida
urbana e dos tipos específicos de interação social que ela gera, vejamos o que
a teoria sociológica nos apresenta, a este respeito.
As teorias sociológicas da urbanização enquadram-na, geralmente, num
dos grandes modelos dualistas, elaborados e aplicados pela sociologia do
desenvolvimento.
Assim, dicotomias como rural-urbano, tradicional-moderno, sagrado
secular estão presentes na caracterização da urbanização, desde Spencer e
Durkheim até Weber e Parsons.
Da mesma forma, porém, com que o dualismo é encarado pela
sociologia do desenvolvimento, ou seja, duas posições polares e antagônicas
de um processo evolucionista, assim, também, na sociologia urbana está
subjacente uma visão sistêmica e descritiva, que não chega a explicar
tendências e problemas da sociedade urbana.
Por mais minuciosa que seja a descrição das características opostas dos
respectivos modelos ou pólos, nenhuma chega a explicar as causas e a
dinâmica da concentração metropolitana, os custos sociais crescentes, apesar
das economias de escala e, finalmente, as causas das tensões e conflitos que
ameaçam desintegrar as sociedades urbanas.
Mas, adotando os modelos polarizados do desenvolvimento, e
aplicando-os no estudo da urbanização, a partir da premissa de que o
estabelecimento de um contínuo rural-urbano permitiria prever as tendências e
a intensidade da mudança social, o dualismo assume características
operacionais e instrumentais do planejamento convencional, pois permite
prescrever o que deve ser.
PAINEL 04. A gestão do espaço e as políticas públicas. Vasconcellos,
Eduardo A. Mobilidade Urbana e Cidadania. Editora Senac, São Paulo.
143-160: O desenvolvimento urbano e as politicas publicam.
O transporte e a mobilidade urbana constituem-se em elementos
fundamentais ao desenvolvimento das cidades brasileiras.
São, ao mesmo tempo, direitos do cidadão na execução de seu direito
de ir e vir e no exercício da cidadania.
O desenvolvimento econômico brasileiro está acompanhado de uma
extrema precariedade urbana.
Nos grandes centros urbanos, onde existe a criação de mecanismos
precários de assentamentos, em sua grande maioria a população não tem
acesso aos serviços essenciais.
As cidades constituem espaço das contradições econômicas, sociais e
políticas e o sistema viário (ruas e avenidas) é um espaço em permanente
disputa entre pedestres, automóveis, caminhões, ônibus e motos.
Nos centros urbanos das grandes metrópoles há uma crise de
mobilidade que é ilustrada diariamente pelos longos congestionamentos e pelo
tempo gasto pelo cidadão no sistema de transporte coletivo, cujos ônibus ficam
presos no congestionamento dos automóveis.
Prevalece uma visão de que a cidade pode se expandir, resultando em
pressão sobre áreas de preservação e desconsideram-se os custos de
implantação da infraestrutura necessária para dar suporte ao atual modelo de
mobilidade, centrado no automóvel, cujos efeitos negativos e os custos de
circulação são socializados.
Os problemas das cidades são de maior ou menor intensidade,
conforme sua importância econômica e sua posição dentro de uma
classificação que usa como critério sua importância mundial, nacional ou
regional.
As cidades sofrem o impacto dos efeitos negativos da visão onde sua
principal meta é garantir circulação de bens, mercadorias e prestação de
serviços.
Essa visão relega a um segundo plano a necessidade de as pessoas
terem qualidade de vida para morarem nas cidades.
Há uma destruição em nome do progresso e as cidades circunvizinhas
consequentemente, reproduzem o modelo de desenvolvimento das cidades
maiores.
Observa-se que o setor de transporte de passageiros se alinha aos
setores básicos da economia ao lado da saúde e educação.
Por isso, não é possível pensar em uma sociedade sem esse setor.
E para que todos sejam beneficiados em suas necessidades de ir e vir,
de locomoção é essencial uma gestão planejada dos serviços que compõem o
transporte urbano de passageiros.
A ausência de planejamento e organização no transporte público faz
com que surja uma série de problemas internos no sistema, tais como
superlotação de passageiros nos ônibus, custos operacionais elevados,
congestionamento crônico, competição entre sistemas, queda da mobilidade e
acessibilidade e baixos níveis de qualidade de vida dos usuários do transporte
público.
Dessa forma, o transporte público de passageiros merece atenção, por
ser fundamental não somente no desenvolvimento das cidades, como também
na vida dos cidadãos.
O crescimento acelerado dos centros urbanos nos últimos anos e o
aumento do número de transportes individuais no total de viagens motorizadas
vem desconfigurando o papel das cidades, que é proporcionar qualidade de
circulação, intensificando os conflitos entre diferentes modos de deslocamento
e gerando gastos econômicos vultosos, na tentativa de viabilizar o fluxo de
veículos motorizados.
Muitas cidades foram adaptadas para o uso do automóvel particular, e
elas tiveram seu sistema viário ampliado como resposta a um crescimento
acelerado e fazendo com que o automóvel seja valorizado sobre outros
sistemas modais de transporte.
Essa situação, que deteriorou o ambiente urbano em algumas cidades,
leva hoje a uma revisão dos planos diretores, buscando privilegiar os pedestres
e o transporte coletivo sobre o veículo particular, prevendo a revitalização dos
espaços públicos.
A busca, com isto, é trazer vida a espaços urbanos que foram
descaracterizados e desumanizados pela presença intensiva e excessiva dos
automóveis particulares.
O grande desafio que deve ser abraçado pela mobilidade urbana é a
inclusão de parcelas consideráveis da população na vida das cidades,
promovendo a inclusão social á medida que proporciona acesso amplo e
democrático ao espaço urbano.
Hoje, com as questões ambientais sendo discutidas e priorizadas, o
planejamento urbano passa a desenvolver não só uma política de mobilidade,
mas incorpora também o conceito de sustentabilidade, incentivando o uso do
transporte coletivo e dos não motorizados de maneira efetiva, socialmente
inclusiva e ecologicamente sustentável.
Essa mobilidade é constituída de todos os sistemas modais de
transportes, bem como de suas inter-relações, como a articulação com o uso
do solo, do planejamento urbano e da qualidade ambiental.
O transporte deve ser um assunto mais político do que técnico, uma vez
que decisões do governo em diferentes escalas, da nacional à local,
repercutirão na qualidade de vida da população de acordo com o modelo
adotado.
Convém ressaltar que a política de mobilidade tem um papel relevante
na expansão da estrutura espacial urbana e as transformações
socioeconômicas das atividades humanas conduziram ao crescimento da
estrutura física das cidades, em novas formas de emprego, atividades
econômicas e estilos de vida.
E o crescimento urbano ocorreu paralelamente à expansão dos
corredores de transporte, sobretudo o rodoviário, que resultou na ampliação
territorial das cidades, formando áreas periféricas que passaram a receber
mais pessoas e atividades econômicas, aumentando diariamente o número de
viagens das pessoas.
Portanto a mobilidade urbana é um atributo das cidades e se refere à
facilidade de deslocamentos de pessoas e bens no espaço urbano, tais
deslocamentos são feitos através de veículos, vias e toda a infraestrutura que
possibilitam esse ir e vir cotidiano.
Isso significa que a mobilidade urbana é mais do que o que chamamos
de transporte urbano, ou seja, mais do que o conjunto de serviços e meios de
deslocamento de pessoas e bens.
É o resultado da interação entre os deslocamentos de pessoas e bens
na cidade, por exemplo, a disponibilidade de meios e infraestrutura adequados
para os deslocamentos de pessoas e bens numa área da cidade pode ajudar a
desenvolver tal área.
Do mesmo modo, uma área que se desenvolve vai necessitar de meios
e infraestrutura adequados para os deslocamentos das pessoas e bens
naquele local.
Pensar a mobilidade urbana é, portanto, pensar sobre como se
organizam os usos e a ocupação da cidade e a melhor forma de garantir o
acesso das pessoas e bens ao que a cidade oferece (locais de emprego,
escolas, hospitais, praças e áreas de lazer) não apenas pensar os meios de
transporte e o trânsito.

PAINEL 05. Uma abordagem sobre a Política Nacional de Mobilidade após


a edição da Lei 12.587/12, conhecida como Lei da Mobilidade Urbana.
Ministério das Cidades - SeMob. PlanMob: Caderno de Referência para o
Plano de Mobilidade Urbana. 2015-136: Planejamento da Mobilidade
Urbana
A Lei 12.587/12, conhecida como Lei da Mobilidade Urbana, determina
aos municípios a tarefa de planejar e executar a política de mobilidade urbana.
O planejamento urbano, já estabelecido como diretriz pelo Estatuto da Cidade
(Lei 10.257/01), é instrumento fundamental necessário para o crescimento
sustentável das cidades brasileiras.
A Política Nacional de Mobilidade Urbana passou a exigir que os
municípios com população acima de 20 mil habitantes, além de outros,
elaborem e apresentem plano de mobilidade urbana, com a intenção de
planejar o crescimento das cidades de forma ordenada.
Também conhecida com a Lei da Mobilidade Urbana, traz consigo a
constatação do fim de um modelo que demonstrou ser insuficiente para tratar
da necessidade de deslocamento, que apresenta cada vez mais complexidade
e grande impacto no planejamento urbano.
A mobilidade nas cidades é fator preponderante na qualidade de vida
dos cidadãos.
O modelo de circulação de pessoas e cargas dentro do território urbano
interfere no desenvolvimento econômico do País, pois dele dependem a
logística de distribuição de produtos, a saúde e a produtividade de sua
população, dentre outros.
Seu objetivo é garantir o direito à cidade como um dos direitos
fundamentais das pessoas, para que todos tenham acesso às oportunidades
que a vida urbana oferece.
É uma lei que representa a consolidação de conquistas reivindicadas há
mais de três décadas por diversos setores da sociedade, notadamente os
movimentos sociais.
Todas as esferas do Poder Público têm hoje como grande desafio
integrar as políticas urbanas que por décadas foram tratadas de forma
setorizada e segmentadas.
A qualidade do deslocamento depende de que o sistema urbano tenha
seus elementos urbanos integrados e planejados de forma a minimizar os
deslocamentos, otimizando tempo e espaço a fim de promover a
economicidade e um padrão de vida urbano satisfatório.
O cidadão, ao se locomover a pé ou por meio de bicicleta, interage muito
mais com o espaço urbano, além de colaborar para redução da emissão de
gases na atmosfera e serem estes os meios mais baratos de locomoção, pois
representam menor custo para os usuários, para o meio ambiente e para a
sociedade.
Da mesma forma, a utilização de transporte público coletivo reduz a
ocupação do espaço das vias com muito mais pessoas transportadas em
relação à área pública utilizada do que se fossem transportadas por veículos
motorizados individuais.
Também neste caso, o primeiro reduz emissões de gases na atmosfera
com custos individual e coletivo menores.
Os objetivos da PNMU visam definir um panorama para todo o País.
Para tanto, é fundamental que governos das três esferas, entidades públicas,
privadas e não governamentais, além de toda a sociedade civil, compartilhem a
responsabilidade de uma mudança comportamental, naquilo que couber a cada
um, no sentido de reduzir as desigualdades sociais, promover a acessibilidade
e qualificar as condições urbanas de mobilidade e de ocupação do espaço
público.
O artigo 24 da Lei n. 12.587/2012 determina que os municípios acima de
20 mil habitantes e os demais obrigados por lei elaborem seus Planos de
Mobilidade Urbana, como requisito para que acessem recursos federais para
investimento no setor.
O Plano Diretor é o principal instrumento instituído pelo Estatuto da
Cidade, reunindo os demais instrumentos e estabelecendo como cada porção
do território municipal cumpre sua função social.
É uma lei municipal que deve ser revista pelo menos a cada dez anos e
deve expressar a construção de um pacto social, econômico e territorial para o
desenvolvimento urbano do município.
O Estatuto da Cidade define quais cidades são obrigadas a elaborar o
Plano Diretor, que não deve tratar somente da área urbana, mas da totalidade
do território municipal, englobando as áreas rurais, as florestas, as
comunidades tradicionais, as áreas de preservação ambiental, os recursos
hídricos, enfim, toda a área do município.
Certamente, os Planos Diretores diferem de um município para outro,
em função de diversos fatores, tais como: da região em que o município se
insere, do bioma, da extensão do território e da área urbanizada, da
aglomeração urbana da qual eventualmente o município faça parte, do
tamanho da população, dos padrões de urbanização, dos aspectos
econômicos, dentre outros.
Outro aspecto fundamental de sua criação está na busca da definição de
uma Política Nacional de Desenvolvimento Urbano em consonância com os
demais entes federativos, demais poderes do Estado, além da participação da
sociedade visando à coordenação e à integração dos investimentos e ações
nas cidades do Brasil, dirigidos à diminuição da desigualdade social e à
sustentabilidade ambiental.
Cabe ao governo federal, por meio do Ministério das Cidades, definir as
diretrizes gerais da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, entretanto
cabem ao município (ou aos gestores metropolitanos, definidos por lei
estadual) o planejamento e a gestão urbanos e metropolitanos.
É nas cidades que os objetivos de participação cidadã e de garantia do
direito à cidade para todos podem ser concretizados.
O Ministério das Cidades atua no fortalecimento dessas competências,
não apenas por meio de apoio financeiro, mas principalmente oferecendo a
capacitação técnica de quadros da administração pública municipal e estadual,
além de agentes sociais locais.
Por isso a mobilidade urbana sustentável, entendida como a reunião das
políticas de transporte e de circulação, e integrada com a política de
desenvolvimento urbano, com a finalidade de proporcionar o acesso amplo e
democrático ao espaço urbano, priorizando os modos de transporte coletivo e
os não motorizados, de forma segura, socialmente inclusiva e sustentável.
Portanto, para alcançar a mobilidade urbana sustentável, minimizar os
fatores externos prejudiciais e tornar as cidades socialmente inclusivas, são
necessárias mudanças estruturais, de longo prazo, com planejamento e com
vistas ao sistema como um todo, envolvendo todos os segmentos da sociedade
e todas as esferas de governo.
É preciso adotar uma política que oriente e coordene esforços, planos,
ações e investimentos, para garantir à sociedade brasileira o direito à cidade,
com equidade social, maior eficiência administrativa, ampliação da cidadania e
sustentabilidade ambiental.

PAINEL 06. A Mobilidade Urbana no Plano Diretor de São Paulo.


PMSP. Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Caderno
Ilustrado.
A mobilidade é um atributo do indivíduo e expressa sua capacidade de
se deslocar pelo território da cidade, essa capacidade varia em função de sua
condição social, ou seja, um indivíduo terá maior ou menor mobilidade quanto
maior ou menor for sua renda.
Assim, a definição de mobilidade considera, sobretudo, a dimensão
econômica dos deslocamentos e pode ser avaliada em função da renda
familiar., pois as pessoas ou famílias de maior renda tendem a fazer um maior
número de viagens.
A condição de mobilidade de um conjunto de pessoas pode ser
verificada quando transformada em um indicador técnico denominado taxa
ou “índice” de mobilidade.
Esse indicador é calculado dividindo-se o total de viagens realizadas
pelo total da população residente em uma região.
Além disso, o indicador pode ser aprimorado para atingirem resultados
específicos como a taxa de mobilidade motorizada, que exclui as viagens feitas
a pé.
Na eventualidade do indivíduo ter sua movimentação restringida pela má
qualidade das infraestruturas urbanas, a restrição é função da falta de
acessibilidade ao espaço e não uma perda de mobilidade do indivíduo.
O espaço urbano, em suas diversas escalas, pode ser considerado tão
mais acessível quanto mais abrangentes e adequadas forem suas
infraestruturas de acesso.
Cada região da cidade tem maior ou menor acessibilidade em função do
padrão da infraestrutura de transporte e deslocamento.
Ao mesmo tempo a acessibilidade em suas diversas escalas é
instrumento de equiparação das oportunidades.
Por exemplo, uma avenida dotada de acessibilidade universal nos
passeios, com prioridade para o transporte coletivo no sistema viário e atendida
por transporte de alta capacidade garante uma ótima condição de
acessibilidade.
Nessa definição, a acessibilidade não é entendida como um atributo
econômico ligado ao valor das tarifas do transporte, o que não impede a busca
da modicidade tarifária enquanto meta.
O congestionamento viário, por sua vez, é uma condição do uso e não
um fator para a avaliação da acessibilidade de uma via ou região.
A mobilidade urbana é, acima de tudo, um atributo das cidades e
considera um amplo conjunto de predicados que uma aglomeração urbana
possui que são próprios ou favorecem uma mobilidade mais qualificada e
eficiente.
O transporte público coletivo é apenas um de seus componentes.
A mobilidade urbana também é qualificada pela presença de transporte
de alta capacidade, de acessibilidade universal nos passeios e edificações, de
prioridade ao transporte coletivo no sistema viário, de terminais de transporte
intermodais, da rede de transporte coletivo por ônibus, de acessibilidade
universal na frota de coletivos, de uma rede cicloviária, da existência de
bicicletários e paraciclos, de uma boa legibilidade dos sistemas de orientação,
de uma comunicação eficaz com os usuários, da modicidade tarifária e de uma
logística eficiente no transporte de carga, entre outros itens.
O Plano Diretor Estratégico de São Paulo traz uma mudança
fundamental no desenvolvimento urbano, ao estabelecer em sua estratégia o
desenvolvimento de eixos de estruturação da transformação urbana a partir da
infraestrutura de transporte coletivo de média e alta capacidade.
Ao longo destes eixos será concentrado o processo de adensamento
demográfico e urbano e promovida a qualificação do espaço público para
garantir um desenvolvimento urbano sustentável e equilibrado entre as várias
visões existentes no município.
Dentre os objetivos urbanísticos e estratégicos a serem cumpridos pelos
eixos de estruturação da transformação urbana, destaca-se o desestímulo ao
uso do transporte individual motorizado, articulando o transporte coletivo com
modos não motorizados de transporte.
O PDE também define o sistema de mobilidade urbana como o conjunto
organizado e coordenado dos modos de transporte, serviços, equipamentos,
infraestruturas e instalações operacionais necessários à ampla mobilidade de
pessoas e deslocamento de cargas pelo território municipal visando garantir a
qualidade dos serviços, a segurança e a proteção à saúde de todos os
usuários, principalmente aqueles em condição de vulnerabilidade social, além
de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas.
Nos objetivos do Sistema de Mobilidade que são estabelecidos no
projeto diretor, podem ser destacados: o aumento da participação do transporte
público coletivo e não motorizado na divisão modal; a redução do tempo de
viagem dos munícipes; a melhoria das condições de integração entre os
diferentes modais de transporte; a promoção do desenvolvimento sustentável
com a mitigação dos custos ambientais e socioeconômicos dos deslocamentos
de pessoas e cargas na cidade, incluindo a redução dos acidentes de trânsito,
das emissões de poluentes, da poluição sonora e da deterioração do
patrimônio edificado.
Os programas, ações e investimentos públicos e privados no sistema de
mobilidade urbana são orientados por um conjunto de diretrizes, dentre as
quais podem ser destacadas a priorização do transporte público coletivo, os
modos não motorizados e os modos compartilhados, em relação aos meios
individuais motorizados de transporte; desenvolvimento da bicicleta como modo
de transporte; implantação de uma rede de transporte integrada; promoção do
uso mais eficiente dos meios de transporte com o incentivo das tecnologias de
menor impacto ambiental; redução do consumo de energia, estabelecimento de
instrumentos de controle da oferta de vagas de estacionamento em áreas
públicas e privadas.
A edição do Plano de Mobilidade do Município de São Paulo ,atende ao
disposto na legislação federal e municipal e visa assegurar a continuidade das
políticas públicas de mobilidade urbana até o ano de 2028.
Sua orientação alinhada aos princípios da PNMU prevê a construção de
uma cidade com acessibilidade universal, igualdade no acesso e à qualidade
do sistema de mobilidade urbana, a fim de garantir a todos o direito de usufruir
das oportunidades e facilidades que a cidade oferece.
A construção dessa cidade mais humana segura e ambientalmente
saudável para o benefício da população requer esforços contínuos da
administração municipal.
As ações previstas para a mobilidade urbana abrangem diferentes
prazos, refletindo os diferentes tempos de maturação das intervenções
previstas que variam desde revisões de textos legais até a construção de
corredores de média capacidade.
Novos instrumentos do processo de planejamento devem ser
incorporados às atividades das áreas técnicas para facilitar a consolidação dos
objetivos e diretrizes, incluindo a formulação de indicadores para cada projeto,
como a verificação contínua da qualidade, que será utilizada na avaliação dos
serviços prestados pelas concessionárias do transporte coletivo público.
É necessário assegurar que após a implantação de cada ação seja
medido seu efeito, gerando um movimento contínuo de reavaliação de metas e
objetivos propostos inicialmente.
A amplitude dos prazos propostos no rol de ações favorece o
desenvolvimento desses indicadores que devem ser utilizados também de
forma a contribuírem na construção de uma cidade mais justa.

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