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Teoria do Direito
Teoria do Direito
O artigo 196 da Constituição fala do direito à saúde, indicando que as políticas públicas devem
ser universais e igualitárias. Em determinados casos, tentamos entender quais são os limites
previstos por essa norma. Um tratamento experimental no exterior pode ser requerido com
base nesse artigo da Constituição? Não é isso que está na lei – a lei parece se limitar a menos.
Mas muitos que buscam tratamentos desse tipo judicialmente possuem uma visão
jusnaturalista do direito, e estão, na verdade, pautados na ideia de que o direito à vida e o
direito à saúde são direitos naturais.
O jusnaturalismo foi muito defendido por Dworkin, enquanto o positivismo foi muito
defendido por Hart. Estudaremos esses autores.
Muitos que buscam justiça social com base na Constituição também estão perseguindo uma
noção jusnaturalista de justiça. O problema é que, apesar de muitas decisões no judiciário são
pautadas no jusnaturalismo, poucas vezes eles indicam que estão utilizando a corrente
jusnaturalista – falta honestidade intelectual nessas decisões. Nesse curso, em geral, será
proposto o positivismo conceitual.
O que são conceitos? No nosso dia-a-dia, precisamos de conceitos a todo tempo. Um conceito
de direito, ao ser adotado, tem uma implicação teórica e, por conseguinte, uma aplicação
prática.
Os conceitos se relacionam com a linguagem porque eles são representações mentais, e sem a
linguagem a representação mental não é possível.
• Conceitos são representações mentais (uma espécie de cola mental) que entrelaçam as
nossas experiências passadas com as nossas interações presentes com o mundo.
Conceituar é redescrever algo em termos mais abstratos.
• Conceitos são cruciais para os processos psicológicos de categorizar, realizar
inferências, memorizar, aprender, e tomar decisões.
Com base nos nossos conceitos, nós reagimos às coisas no dia-a-dia. Por exemplo, é com base
no conceito de cadeira que sabemos que não precisamos temer uma cadeira.
Conceitos e linguagem
A concepção essencialista de linguagem acredita que existe uma essência das coisas que pode
ser retratada pela linguagem. Essa é uma ideia platônica, adotada desde a antiguidade até o
século XIX. Ludwig Wittgenstein, grande teórico da Teoria clássica sobre os conceitos, indicava,
por exemplo, que a linguagem substitui os objetos do real com precisão absoluta (com base na
sua teoria pictória dos significados). Essa não será a linha que nós utilizaremos para definir
linguagem.
Não existiria, por fim, uma essência comum entre os fenômenos que chamamos de linguagem,
pois devemos examiná-la pelo seu uso de fato. Wittgenstein indica, porém, que os conceitos se
relacionam como se fosse da mesma família, em alguns casos – como poderia ser o caso, por
exemplo, entre direito e moral.
Eleanor Rosch confirmou essa ideia de que os conceitos se relacionam de forma flúida. Ela
concluiu que conceitos não são estáticos.
Conclusão: A ideia que devemos ter, por fim, é que o conceito não será uma coisa estática, ele
será fluído. Sendo assim, podemos definir o ato de conceituar como a ação de redescrever algo
em termos mais abstratos. Os conceitos não são estáticos, definidos por um conjunto de
propriedades necessárias e suficientes. Os conceitos formam categorias cujos membros
apresentam semelhanças de família.
• “Direito” é ambíguo;
• Vago/textura aberta (família pode crescer ou diminuir)
• Carga emotiva
O direito sofre por ser uma palavra ambígua, vaga (sem contornos precisos) e por possuir
grande carga emotiva devido à sua relação com a moral.
No seu texto, o Carlos Santiago Nino trabalha com três correntes: o jusnaturalismo
(Semprônio), o positivismo ideológico (que é uma caricatura - Caio) e o positivismo conceitual
(Tício).
Tício indica a existência de princípios morais vigentes, porém compartilha o conceito de
ordenamento jurídico com o Caio. Caio indica, porém, que a partir do momento em que se
verifica qual é o ordenamento jurídico vigente, somente ele deve ser cumprido. Para Tício, que
defende a tese da fonte, apesar de reconhecer a existência daquele ordenamento jurídico (ao
contrário do que defende Semprônio, que sequer reconhece a existência de um ordenamento
jurídico que não reflita a moral com base em princípios naturais, eternos e universais),
existiriam também princípios morais que não devem ser afrontados (como o direito à vida e à
saúde). Em alguns casos extremos, portanto, o direito imposto por determinado ordenamento
jurídico pode ser descumprido ao ser absurdo ao violar princípios morais. A tese da fonte
busca verificar o que é direito com base em conceitos empíricos. Essa tese confere clareza,
definindo bem os ordenamentos jurídicos – segundo essa tese, o ordenamento jurídico nazista
constitui direito. O ordenamento jurídico nazista é definido pela tese da fonte.
Teoria do Direito
Obs: Nas provas, não seremos perguntados sobre nossas opiniões – mas sim sobre as teorias
estudadas. Serão questões, assim, mais objetivas.
Na aula passada, verificamos as intuições de cada um sobre o caso que foi visto na aula
passada. Hoje, ao compararmos essas intuições, faremos uma análise profunda das teorias que
foram defendidas por Simprônio, Caio e Tício na aula passada.
1) Quais são os critérios de identificação do direito que cada juiz utiliza em sua decisão?
Semprônio: Só é direito o que refletir a moral, que por sua vez é universal. Não existe
direito injusto. / Princípios gerais de justiça que são eternos, universais, imperecíveis,
ínsitos à verdadeira natureza humana. Pressupõe que existe uma verdadeira natureza
humana e que existem determinados conceitos universais de justiça.
Caio: O direito é identificado por sua origem e não por seu conteúdo. / O direito é
observado por um critério fático, ou seja, observa-se quem, naquele lugar e naquele
tempo, detém o monopólio da força física e o controle do aparato coercitivo. Assim, o
critério para identificar o direito é o critério utilizado para verificar quem detém a
força.
Tício: O direito é identificado por sua origem e não por seu conteúdo. / Idem a Caio.
2) O que passa pela análise dos critérios? Ou seja, o que conta como substância ou
conteúdo do direito?
Semprônio: Não existe direito injusto – o direito deve refletir a moral. / Dignidade,
liberdade, e todas as decisões específicas que estiverem de acordo com princípios
como esses. Só é direito aquilo que está de acordo com princípios normais. Seria um
erro conceitual atribuir o termo direito para definir algo injusto ou imoral. O direito
teria uma essência, e essa essência seria relacionada aos princípios gerais de justiça.
Caio: Não interessa o conteúdo do direito, mas sim a sua origem. / O conteúdo pode
ser qualquer um – depende unicamente da vontade externada pelo soberano (pode ser
uma só pessoa).
Tício: Não interessa o conteúdo do direito, mas sim a sua origem. / Idem a Caio.
Semprônio: Sim. / Sim, porque a substância do direito está de acordo com princípios
morais de justiça.
Caio: Sim. / Sim, Caio usa a virtude moral para forçar a obediência ao direito. Assim,
ele preza pela segurança e pela previsibilidade.
Tício: Não. / Não. A moral, por vezes, indica justamente que o direito deve ser
rejeitado.
Críticas ao Semprônio: Não há como saber qual é a verdadeira natureza humana (alguns
definem que ela é ruim, enquanto outros definem que ela é boa). Além disso, é muito vago
estabelecer quais são os princípios gerais de justiça e, ainda que se faça essa definição, é muito
difícil controlar a sua aplicação prática. Assumir que os princípios eternos e imutáveis existem
mas não elaborar sobre eles faz com que surja uma posição arbitrária.
Teoria do Direito
Foram recordas as posições de Semprônio, Caio e Tício que discutimos na semana passada.
Hoje vamos explorar a diferença entre o positivismo (ideológico e conceitual) e o
jusnaturalismo.
O positivismo, seja conceitual ou ideológico, adota a tese da fonte ou tese da autoridade – será
direito aquele que tiver fonte legítima e tiver autoridade suficiente para exigir o seu
cumprimento. É muito comum que críticos do positivismo utilizem a caricatura do positivismo
ideológico para criticá-lo. Porém, os autores positivistas, quase em sua totalidade, defendem o
positivismo conceitual e não o positivismo ideológico. Praticamente não existe quem defenda
o positivismo ideológico. O positivismo muitas vezes é associado diretamente ao nazismo.
Para o positivista, direito e moral são sistemas normativos separados – mas não são total e
completamente separados, como os jusnaturalistas acusam ser o pensamento dos positivistas.
Os jusnaturalista indicam, criticando, que o positivismo impede uma avaliação moral do
direito.
Os jusnaturalistas, porém, não pensam todos da mesma forma – existem três linhas
tradicionais do jusnaturalismo: 1) a que indica que o direito natural viria de Deus (conforme
indicava Santo Agostinho); 2) a que entende que o direito natural viria da razão humana
(extremamente abstrata); e 3) a que entende que o direito natural é vinculado à natureza
humana. Quanto à terceira linha, a maior crítica à ela é a falta de consenso quanto a qual seria
a natureza humana – debate-se, por exemplo, qual seria a natureza humana: seria ela boa ou
ruim?
Alf Ross criticava o jusnaturalismo indicando que ele pode ser completamente arbitrário, por
teoricamente ter uma origem na “intuição”. Além disso, dependendo da sua ideologia pode-se
defender qualquer coisa recorrendo-se ao conceito de lei natural.
O positivismo, por outro lado, é uma palavra ambígua. Alguns, como Habermas, indicam que o
positivismo já foi derrubado, não possuindo mais espaço no debate atual. O positivismo é uma
tese que não diz nada sobre o conceito de direito.
O positivismo ideológico defende a tese das fontes (assim como o positivismo conceitual),
porém defende também a tese da obrigação moral de obediência ao direito. A tese das fontes
também pode ser concebida de forma diferente dependendo do autor.
O positivismo conceitual acredita na falácia naturalista, ou seja, indica que o fato de se indicar
o direito posto numa sociedade não pode levar, por si só, a conclusão de que ele deve ser
obedecido. Não existiria dever moral absoluto de obedecer ao direito. O positivismo
conceitual, sendo assim, só indica qual é o direito válido – não indica, porém, que é obrigatório
segui-lo.
O formalismo jurídico também foi citado em aula, retomando o que indica o texto do Noel – o
sistema jurídico, segundo essa ideia, seria um sistema autossuficiente e perfeito, apresentando
uma solução unívoca para cada problema jurídico.
Rio, 30 de março de 2012
Teoria do Direito
O positivismo indica que o direito é principalmente composto por regras, sendo que são elas
que identificam o ordenamento jurídico. Uma vantagem de defender o positivismo conceitual
é conseguir diferenciar o direito de outras esferas normativas, como as que reúnem as normas
morais ou as normas de etiqueta. Além disso, ser positivista te confere um ponto de vista
crítica, uma vez que a norma é distanciada da moral.
Devemos conhecer, também, a teoria do realismo. Seria essa uma teoria que fala sobre o
conceito de direito ou sobre uma decisão jurídica? Pelo realismo, se uma norma jurídica é uma
norma jurídica válida e aplicada na prática, isso não quer dizer, porém, que existe uma
obrigação moral de seguir o direito. A teoria do realismo é a teoria da previsão – para se
identificar o direito em uma determinada questão, há que se tentar prever como um juízo
daquela jurisdição solucionará aquela questão.
Teoria do Direito
A matéria da G1 irá até a aula passada. Hoje será feita uma revisão.
Sobre o conceito de conceito: devemos extrair que a ideia de conceito depende do tipo de
noção que se tem sobre linguagem. A linguagem representa uma convenção que a sociedade
optou por praticar ou retrata uma verdade, algo que se descobre por ter uma essência?
Existem pessoas que sustentam que existe uma essência das coisas que pode ser alcançada
pela razão, de forma a chegar a um conceito perfeito quanto a coisa, de modo que a
linguagem substitua a realidade (conforme teoria pictória de Wittgeinstein). Porém, para a
maioria, a linguagem representa unicamente uma convenção. Conceito seria redescrever uma
coisa em termos mais abstratos. Eleanor Rosch fez experimentos para tentar descobrir como
as pessoas criam um conceito.
As regras e princípios também são expressos pela linguagem – o direito é comunicado a partir
da linguagem. Sendo assim, o direito tem uma essência que devemos buscar? Ou é apenas um
fruto da linguagem humana, que por sua vez é imperfeita? Ou seja, quando definimos o direito
buscamos uma propriedade fática comum quanto a o que as pessoas percebem no direito ou
buscamos a verdadeira essência do direito? Noel defende que trata-se da busca pela
propriedade fática quanto a o que as pessoas percebem no direito. Essa é uma discussão
abstrata importante.
Para o jusnaturalista, o direito é um conjunto de normas. Para o realista, o realista não seria
um conjunto de normas porque as normas são preenchidas por posições do juiz. A discussão
sobre linguagem e conceito de conceito não cairá na prova. Brian Tamanaha indicou o quanto
é difícil criar um conceito essencial de direito.
Para o jusnaturalismo, o direito é definido por princípios morais universais, a justiça e a ideia
de natureza humana. Já para os positivistas, tanto os ideológicos quanto os conceituais
consideram a autoridade e a força para identificar qual é o direito que vigora.
Para os jusnaturalistas, a natureza da qual se extrai o direito natural pode ser, dependendo do
autor: a) vontade divina; b) razão humana; ou c) natureza humana (existindo aí um conflito
quanto ao homem ser bom ou mau). Essas são três formas emblemáticas de jusnaturalismo.
Alf Ross critica o jusnaturalismo indicando que ele se assemelha a uma prostituta, já que a
partir dele qualquer posicionamento poderia ser defendido.
A expressão “positivismo” é ambígua; existem outros positivismos que não são o jurídico (a
filosofia, por exemplo, também usa esse termo). Além disso, confunde-se o positivismo com
outras teses como: a) ceticismo ético (indica que ou não existem princípios acessíveis à razão
humana ou não possuímos instrumentos para alcança-los); b) positivismo ideológico (que
sustenta a tese das fontes – identificando o direito por suas fontes e não o seu mérito –
porém, indica a obrigação moral de seguir o direito); e c) formalismo jurídico (que entende que
o direito é completo, fechado, suas normas são precisas e não apresentam falhas). Devemos
saber diferenciar o positivismo conceitual, única tese defendida de fato pelo positivismo,
dessas outras teses.
John Gardner indica que reconhecer o que é o direito não indica nenhum mérito quanto a ele.
Ele cita o exemplo de que um anarquista deve saber o que é direito justamente para não
segui-lo. Assim, o positivismo conceitual defende a tese das fontes (verificar a fonte da norma
para considera-la direito válido) – ele identifica o direito como um sistema de normas que se
impõe pela autoridade estatal e tem uma origem legítima. O positivismo conceitual não é uma
tese completa sobre a natureza do direito, mas sim uma tese sobre a validade jurídica, sendo,
assim, compatível com qualquer outra tese sobre a natureza do direito.
O realismo jurídico considera a importância das regras. O realismo indica que o direito é
constituído por regras que são peças-chave para a explicação do fenômeno jurídico. Seria uma
vantagem do positivismo conceitual definir o direito como um sistema de regras – isso porque
partindo dessa premissa é possível responder a determinadas questões que não são
respondidas pelos jusnaturalistas.
O positivismo jurídico estabelece um solo comum que permite discutir o que é o direito.
O realismo jurídico indica que o direito poderia ser conceituado por meio de fatos sociais. Para
o realismo, o direito seria uma previsão que se pode tentar fazer sobre como os tribunais
decidem/decidirão. Deve-se saber como o direito irá intervir na sua vida – o direito será as
suas consequências práticas. Alguns indicam que o direito pode ser identificado pela doutrina,
enquanto outros indicam que o direito deve ser verificado pelo processo causal de tomada de
decisão. O realismo jurídico é cético com relação às normas. É inquestionável que existem
outros fatores que influenciam no processo causal de tomada de decisão.
Da ideia de que o direito depende em última análise de um critério de fonte, e não de mérito,
não extraímos nada em relação à aplicabilidade do direito. Essa ideia é normativamente inerte.
É uma tese conceitual, não normativa. Não prescreve nada. No âmbito da razão prática, onde o
raciocínio pretende estabelecer como devemos agir, o positivismo conceitual jamais pode
funcionar como uma premissa operativa, ou seja, não pode ser a premissa maior de um
silogismo prático. Já para aqueles que defendem que, por qualquer razão, as condutas devem
recorrer ao direito válido, a tese do positivismo conceitual é normativa. Mas é importante
atentar para o fato de que a tese, por si só, não é normativa.
Isso é complicado para os dogmáticos já que estes esperam que a filosofia estabeleça linhas de
conduta para que eles tenham certeza que o que estão fazendo está certo. Boa parte dos
mitos a cerca do positivismo jurídico vêm disso. São poucos aqueles que se auto-intitulam
positivistas e ainda defendem que, independentemente de qualquer coisa, deve-se aplicar o
direito válido. Esse é o positivismo ideológico. Já a tese do positivismo conceitual é uma tese
mínima cujo único objetivo é delimitar o que é o direito. Ela não responde os anseios dos
práticos.
Pra identificar o direito, segundo os positivistas, temos que utilizar um critério de fontes. Mas
quais são as fontes? No texto de Carlos Santiago Nino, vemos que os juízes se utilizam de uma
determinada concepção de fonte segundo a qual é direito aquilo que emana daqueles que
detêm o controle do aparato coercitivo. Essa é a concepção defendida por John Austin,
criticada por Hart.
Austin vai dizer que o direito nada mais é do que o conjunto de comandos provindos de um
soberano. Ele não faz nenhum juízo de valor no sentido de definir se o soberano deveria ser
bom, se os comandos devem ser justos etc. Para definir o que conta como direito, ele deve
também definir o que conta como comando e o que conta como soberano. O soberano é
aquele que é habitualmente obedecido por todos, mas que não tem o hábito de obedecer a
mais ninguém. Já o comando é uma ordem amparada por uma sanção. A ordem é a expressão
de uma vontade e a sanção é a possibilidade real de infligir um dano a alguém pela
desobediência dessa vontade.
1. Hart, em primeiro lugar, critica a definição de ordem. Não é toda ordem que expressa
a real vontade de quem a ordena.
2. A segunda crítica, talvez a principal, é a de que esse modelo não é capaz de explicar o
conceito de normatividade. Nele, sempre que se tem um comando, há um dever
correspondente de seguir o comando. O que Hart vai dizer é que não é sempre que há
uma obrigação amparada por uma sanção que haverá a obrigação correspondente de
seguir aquele comando. Existiria uma diferença entre se sentir obrigado e ter uma
obrigação. Uma obrigação surgiria apenas quando uma regra é internalizada e utilizada
como uma razão para ação e avaliação de comportamentos. Sentir-se obrigado pode
criar um hábito, mas não explica a normatividade do direito em termos de obrigações.
Para Hart, o critério último de identificação do direito é uma regra social. Deve haver
uma internalização da regra como um parâmetro de valorização das condutas próprias
ou alheias. O direito deve estar calcado em regras sociais, não em hábitos. Mas o que
impede que um grupo social tenha uma adesão íntima aos comandos do soberano por
veneração a ele, por exemplo?
3.
04.20
Positivismo conceitual
Os positivistas inclusivos afirmam que os princípios tem uma carga moral e como a fonte inclui
esses princípios, o direito “convidou” essas fontes morais a participar do direito. Já os
positivistas exclusivos afirmam que, na pratica, ao existir princípios dentro do ordenamento,
essas normas essencialmente controvertidas pelo seu caráter moral, funcionam como normas
que delegam poderes. Ou seja, elas transferem o poder para aquele que vai ter a palavra final
e esse vai decidir o que faz parte do direito. Ex: eu e você podemos ter uma briga. Não
conseguimos resolver e levamos ao judiciário. Cada um acha que tem razão. O juiz, depois de
pensar, afirma que a solução é que vence quem tem a justiça do seu lado. O juiz aqui não
resolve nada. O problema aqui é que cada um acha que tem a justiça. O único jeito de resolver
seria a tradução disso em termos não morais. Esse seria o positivismo exclusivo. Os princípios
não conseguem determinar condutas. Os princípios delegam poderes a um terceiro que vai
dizer o que conta.
Os positivistas inclusivos acham que, já que existem os princípios morais, a moral passa a fazer
parte do direito. Seria contingente, mas não necessário. O direito vai decidir incorporar essa
moral. Já os exclusivos afirmam que isso seria uma ilusão, não haveria uma incorporação
moral.
A tese do positivismo conceitual é normativamente inerte. Ou seja, não pode ser um guia pra
ação. A tese, por si só, não diz que o conteúdo do direito deve ser seguido e sim que o direito
valido é aquele que esta no ordenamento. Ela só diz o que seria direito valido, mas esse não
precisaria ser seguido. Não se diz o que fazer e sim define o direito de alguma maneira,
explicando o que seria direito.
No âmbito da pratica, para dizer o que deve ser feito, seria necessário uma premissa maior,
com caráter normativo. E isso não acontece no positivismo conceitual. Logicamente é
importante você saber qual o direito valido para você escolher como agir e essa tese ajuda,
como premissa menor, qual esse seria.
É muito difícil pra quem trabalha na pratica jurídica aceitar uma tese sem uma pretensão
normativa. Não se diz, aqui, como se deve seguir. Essa tese é minimalista. Não se fornece
todos os aspectos que se julga necessário para responder anseios práticos da sociedade.
Quando foi lido o texto do Nino, há uma concepção de fonte que seria: O critério de fontes
seria ver quem tem o controle do aparato coercitivo, a vontade externada por esse grupo de
pessoas e seria isso o direito.
Essa teoria é do John Austin. Hart não concorda com ele nesse sentido de dizer o que seria
direito valido (direito existente).
Austin diz que o direito nada mais é de um conjunto de comandos seguidos por um soberano.
Essas leis não precisam ser boas, as sanções não precisam ser justas. O critério do Austin é,
portanto, de fontes e não meritório. Aceitando essa fonte, fica mais fácil identificar o que seria
direito.
Austin define o que seria soberano e o que seria comando. O soberano não é o legitimado em
termos morais, não é o justo e sim é aquele que habitualmente é obedecido por todos, mas
que não tem o habito de obedecer a mais ninguém. Já comando seria uma ordem, amparada
por uma sanção. Uma ordem seria expressão de uma vontade e sanção seria uma possibilidade
real de infringir um dano a alguém, pela não observação dessa vontade.
1. Não é o caso que toda ordem expressa a vontade de quem ordena. Sera que uma norma
sempre expressa a vontade de quem ordena? Ex: uma lei que foi votada, as pessoas que nem
pararam pra pensar no conteúdo dela (apenas votaram seguindo o voto), elas expressam o
voto aqueles que votaram a favor?
2. Essa seria a critica mais interessante: O modelo do Austin não explica a noção de
normatividade. Na visão do Austin, sempre que há comando, há também obrigação de
obedecer aquele comando. Hart vai contra isso dizendo que não é sempre que se tem uma
ordem amparada por uma sanção, que você tem um dever correspondente ou uma obrigação
de seguir aquilo. Ex: um assaltante que coloca arma na sua cabeça e pede dinheiro. Você não
diria que há uma obrigação de entregar seu direito. Você se sente obrigado a entregar, mas
não tem uma obrigação. Se for pensando um mecanismo para se fugir, isso será feito. Austin
estaria pensando no modelo do ladrão e ampliando esse.
Ou seja, direito não se resumiria a comandos (ordem + sanção). Essas, podem gerar o habito,
mas não explica a normatividade do direito em termos de obrigações (o habito é criado tão
somente porque eu me sinto obrigado). Existe, porem, também a noção de regras, que podem
ser internalizadas. Para existir o direito, não se pode adotar o ponto de vista de só se sentir
obrigado. Com certeza há pessoas que devem ter internalizado aquela norma e tomado como
parâmetro de sua vida. Ou seja, Austin não imagina situações em que as pessoas usem a
linguagem da obrigação e tão somente do ser obrigado. Existem pessoas que só se sentem
obrigadas. Mas existem pessoas também que fazem por obrigação.
Para Hart, portanto, o critério de identificação do direito seria uma regra social. Existe
diferença entre habito e regra e o direito esta calcado em regras. As regras diferem do habito
quando possuem uma dimensão interna. Existe, por exemplo, o habito de ir ao cinema toda
segunda feira. Se eu deixar de ir, isso não faz com que eu receba criticas de outra pessoas e
faça uma critica pessoal. Deve-se ter uma internalização do habito, tornando essa regularidade
como parâmetro. Nesse caso, seria regra. Já quando você atravessa o sinal vermelho, se você
sente-se mal, assim como as outras pessoas, seria regra.
Para o Hart o direito estaria calcada na regra de reconhecimento ultima. Esse seria uma regra
social. Ou seja, uma pratica de internalização de certos critérios como sendo critérios de
identificação do direito. É a existência de uma regra na sociedade, de forma que a maior parte
das pessoas se conformam com sua regularidade. Desvios a respeito da regra são criticados e
essas criticas são consideradas justificadas, ou seja,não é necessário ficar justificando o porque
daquilo ser criticado.
Teoria do Direito
O solo comum dos positivistas conceituais é considerar que o direito advém de um critério de
fonte e não por um critério de mérito. Existem positivistas inclusivos e exclusivos, distinção
que permite averiguar até que ponto as fontes podem ser analisadas pelo caráter do mérito.
Segundo Hart, a teoria do Austin é ruim. Hart concorda com Austin que devemos recorrer ao
critério de fonte, mas não ao critério de mérito. Porém, Hart tem uma noção de fonte muito
mais sotisficada e rica do que a noção de Austin. Na aula passada (pegar com a Mica e a Jô),
começamos a ver os ataques que Hart faz aos conceito de fonte de Austin.
Para Austin, comando é uma ordem amparada por uma sanção. Uma ordem seria uma
expressão de vontade. Uma sanção seria a possibilidade de infringir a ordem. O soberano,
nesse caso, seria aquele a quem todos devem obedecer – e que não tem o hábito obedecer a
ninguém. Podemos reparar que, na teoria imperativista de Austin, não há valoração de mérito
quanto a determinado comando ou determinado soberano – simplesmente se utiliza esses
conceitos para verificar o que é o direito. Isso será o direito, independentemente dele ser bom
ou ruim.
Hart, porém, indica uma maneira mais sofisticada de averiguar o que é o direito. Vimos na
ultima aula duas críticas – uma menos importante e outra mais importante. A crítica mais
importante indica que o modelo de Austin não é capaz de dar conta da normatividade em
termo de obrigações, mas sim apenas de se sentir obrigado. Pela teoria imperativa, sempre
que existir um comando, existe um dever correspondente a esse comando (uma obrigação).
Para Hart, um comando não é capaz de explicar a noção de dever ou a noção de obrigação –
explica apenas que o direito obriga. Hart indica que ao ignorar a noção de regras, Austin não
consegue avaliar as obrigações. Só as regras teriam dimensão interna e gerariam, assim,
obrigações. Existiria uma diferença entre se sentir obrigado e ter uma obrigação. Hart indica
que o que permite enxergar que uma regra existe é a internalização pelas pessoas – e essa
internalização é evidenciada quando as pessoas se referem às regras por meio da linguagem
das obrigações. A melhor forma de visualizar é quando existe um assaltante coloca uma arma
na cabeça de alguém – nesse caso, a pessoa se sente obrigada a dar o dinheiro, porém ela não
sente uma obrigação de dar o dinheiro.
Para verificar qual é a noção de regra, Hart indica que devemos compará-la a um hábito. Uma
regra é mais do que um mero hábito. Por exemplo, pode-se ter o hábito de comer mingau
todo dia – não é, porém, uma regra. Ninguém irá fazer uma autocrítica ao deixar esse hábito
de comer mingau, assim como ninguém cobrará que a pessoa coma mingau se ela deixar de
fazê-lo. Assim, o hábito não gera situações críticas. Para que situações críticas sejam criadas,
deve existir a regra, que possui dimensão interna e pode ser um critério de avaliação das suas
condutas e da conduta alheia. O sinal de trânsito, por exemplo, é um indicativo da existência
de uma regra social – as pessoas analisam isso como um critério de avaliação de suas condutas
e das condutas dos outros.
Se um monge fica em silencio durante 20 anos e depois, por engano, fala, ele ficará chateado
porque não deveria ter falado. Os demais também irão estranhar, já que elas internalizaram o
fato daquele monge não falar como uma regra. Já no caso de uma pessoa que volta do coma e
fala, as demais pessoas ficarão surpresas, porém não repreenderão. Isso porque o fato daquela
pessoa não falar era apenas um hábito, e não uma regra. Para Austin, porém, não existiria
nenhuma diferença entre esses dois casos. Para um beahaviorista, nome dado àqueles que
não diferenciam o hábito da regra, os casos de ambos poderiam demonstrar uma
irregularidade.
Para Hart, a noção ultima do direito é uma regra social. O primeiro requisito para verificar se
determinada regra social existe dentro de uma sociedade é que deve existir conformidade dos
padrões em relação a ela. Outro requisito é a existência de críticas em caso de violação dessa
regra. O terceiro requisito é a existência de razões para que aquela regra tem uma razão na
sociedade – ou seja, o fato da regra ser considerada justificada. A regra social seria, para Hart,
a regra de reconhecimento última do direito.
Outro problema que Hart indica, que diz respeito à definição de comando por Austin, é que a
teoria imperativa do direito afirma que apenas comandos e ordens dotados de sanções como
diretivas existentes no direito – e, na realidade existiriam muitas outras diretivas que não
podem ser enquadradas nessas categorias trazidas por Austin. Existiriam, por exemplo, regras
de competências e regras jurisdicionais – elas não seriam comandos ou ordens dotadas de
sanções. Austin teria utilizado apenas o direito penal ao considerar a sua teoria,
desconsiderando diversas outras áreas do direito e sendo, assim, simplista. Mais uma vez,
portanto, falta a noção de regra – as demais regras não foram consideradas.
Quanto aos problemas quanto ao conceito de soberano, temos que para o novo soberano
ainda não existe prática reiterada de obediência. Ainda assim, enxergamos as suas práticas e
regras como leis. Para Hart, para entender a noção de soberano, devemos entender a noção
de cargo que, por sua vez, pressupõe a noção de regra (mais uma vez, recai na questão da
ausência do conceito de regra).
Outra crítica ao soberano é o fato de que, por vezes, o soberano também obedece a outros. A
teoria moderna do direito, que contempla os sistemas democráticos modernos, limita os
soberanos, que devem obedecer a certas regras. Assim, temos que Austin é reducionista ao
considerar apenas o modelo da monarquia absoluta. Austin, em toda a sua teoria, teria sido
simplista ao extremo, segundo Hart.
Em conclusão, falta à teoria de Austin a ideia de regra. Além disso, ele teria sido simplista ao
considerar apenas o direito penal e a monarquia absolutista.
Hart indica, portanto, que o direito é uma união entre regras primárias e secundárias. Para
visualizar isso, ele propõe um exercício de pensamento que considera uma sociedade
primitiva. Esse termo, porém, não faz nenhum juízo de valor sobre a sociedade – as sociedades
complexas não seriam melhores ou piores do que as sociedades primitivas.
Uma sociedade primitiva necessitaria apenas de regras primárias. Regras primárias são aquelas
que estabelecem direitos e obrigações para as pessoas, indicando quais ações elas podem e
não podem realizar.
Mas e quando a sociedade começa a se tornar mais complexa – ou seja, quando ela se torna
mais heterogênea e os laços de afinidade começam a se dissolver? Nesse caso, aparecem uma
série de problemas. A sociedade primitiva e os defeitos conforme vai se tornando mais
complexa: a) falta de certeza (quanto a o que será regra naquela sociedade); b) rigidez ou
caráter estático (quando se tem apenas regras primárias, as regras não se alterariam por si só);
e c) problema de eficácia (no caso de uma discussão quanto a se uma regra foi obedecida ou
não, as regras primárias não estabeleceriam os critérios para resolver aquelas disputas).
Uma das regras secundárias tem um papel importante na definição de Hart de direito: trata-se
da regra de reconhecimento, que seria uma regra social.
Teoria do Direito
Na última aula, vimos as críticas que Hart faz à teoria imperativista de Austin. Ambos são
positivistas, porém Hart considerou que a teoria de Austin é insuficiente para definir o direito,
justamente por não contemplar a noção de regra. Assim, Hart considera que Austin fracassa
em sua definição.
Foram revisadas as críticas de Hart e a metáfora da sociedade primitiva (apenas com regras
primárias) e da sociedade complexa (que necessita de regras primárias e regras secundárias).
Os problemas que levam à transição da sociedade primitiva para a sociedade complexa são,
como já foi visto na aula anterior: 1) falta de certeza; 2) rigidez ou caráter estático e 3)
problemas de eficácia. Para a falta de certeza, serão necessárias as regras de conhecimento,
para a falta de rigidez faz-se necessária a alteração e para o problema de eficácia se fazem
necessárias regras de julgamento. Hart define o direito, portanto, como a junção de regras
primárias e regras secundárias.
A palavra sistema, no campo do direito e fora dele, geralmente é explicada como um conjunto
somado a uma estrutura. É a introdução de regras secundárias que faz com que surja um
sistema jurídico – isso porque o direito não é mero conjunto, mas também uma estrutura,
sendo que esta só se faz possível, conforme Hart, por meio das regras secundárias. Quando
existem regras primárias e regras secundárias, podemos identificar o direito.
Para Hart, por meio da regra de reconhecimento última que serão explicados a existência, a
unidade e a normatividade do direito. Veremos essa regra de reconhecimento última na
próxima aula.
18 de maio de 2012
A sociedade primitiva, connforme vai se tornando mais complexo, desenvolve defeitos, como a
falta de certeza quanto às regras primárias que irão valer para todos. Como remédio, precisa-
se de regras secundárias de reconhecimento, as quaiss indentificam quais serão as regras
primárias que valerão para todos. Outro problema que se pode ter é o caráter de rigidez ou
estático das regras primárias - em sociedades complexas muitas vezes é preciso uma certa
flexibilidade em tirar e colocar uma lei, necessitando-se de regras secundárias de alteração ou
modificação. Por fim, outro problema que se tem é o problema da eficácia da regra primária,
sendo necessário regras secundárias de julgamento, que irão introduzir os órgãos de
julgamento que avaliarão a eficácia das primeiras.
Hart, portanto, não concorda com o brocardo referente ao fato de onde há sociedade há
direito - ube societas civi ius -, pois segundo ele tal existência não poderá ser verificada. Isso
porque pode-se ter uma gororoba primordial, seja de regras de comportamento, religiosas,
etc. A ideia de sistema jurídico só está presente quando se tem regras secundárias.
O Hart fala que em regras de reconhecimento, ele fala de uma regra fundamental - a regra de
reconhecimento último - a qual nada mais é do que uma regra social. Os positivistas buscam
mostrar comos as peças da máquina jurídica pertencem a um mesmo sistema (problema da
unidade). A regra de reconhecimeto último será aquela de dará fim ao problema de
reconhecimento.
- Regra de reconhecimento
•cadeia de validade - ex: agência administrativa - o que faz a Constituição ter força jurídica
de hierarquia máxima? Embora ela forneça critérios de identificação e existência do
direito, pressupõe algum tipo de fundamento. Hart irá comprarar essa regra de
reconhecimento último como sendo quem confere a unidade de medidad para o
reconhecimento da validez de outras coisas, sendo sua autoridade uma coisa que não
pode ser uma questão de sua validade formal.
•a regra de reconhecimento é uma regra social - existe enquanto uma convenção social
•é a que estabelece critérios para que outras regras sejam consideradas jurídicas. POde
não ser escrita ou explicitada, mas ela existe enquanto um fato social, ou seja, é praticada.
Ela é revelada e pode ser reconstruída como uma regra quando se analisa a prática
compartilhada e convergente de certos agentes relevantes (Hart não chega a ser preciso
quanto a esses agentes).
•Dessa forma, é o fato dessas pessoas estarem procurando direito num mesmo lugar que
permite ao teórico dizer o que seja o direito. Uma regra social existe a partor do momento
em que apresenta um certo grau de eficácia, acrescido de uma internalização dessa regra
como parâmetro para avaliar as próprias condutas e as dos outros, a chamada atitudo
crítica-reflexiva.
•a partir do momento em que a regra de reconhecimento último muda, muda o que se
reconhece como direito.
•a regra de reocnhecimento último nao é a Constituição em si, mas a prática de uma regra,
que não se confunde com a Constituição. Tal regra, não se subordinando a nenhuma outra,
não é juridicamente válida nem inválida. Para ela exisitr ele deve ser praticada, exisitindo
enquanto fato social. Seu pertencimento ao sistema jurídica se dá pela própria definição
de sistema jurídico.
Hart diz que existe uma série de pontos de vista que podem ser adotados. existem
basicamente dois: o prático - aquele que é adotado por alguém que deve resolver o que vai
fazer com aquilo (se vai tomar suas decisões no âmbito jurídico ou não); aqui pode-se aceitar
as regras, internalizá-las (parâmetor de avaliação das condutas todas), ou ainda não aceitá-las,
surgindo a figura do homem mau, sendo esse o ponto de vista do homem mau. O homem mau
é aquele que só está preocupado com os prejuízos que lhe podem acontecer, send aquele que
age pensando não nas regras, mas nas sanções. O homem mau é aquele que não internaliza as
regras.
Do ponto de vista teórico, pode-se ser um Behaviorista, aquele que registra regularidades,
adotando o ponto de vista extremo externo, não importanto a aceitaçãõ ou não das regras,
analisando apenas as regularidades, a frequência com que as coisas acontecem. Contudo,
existe o ponto de vista interno e externo, sendo aquele filósofo que parte do fato de que
algumas pessoas adotam o ponto de vista interno - Hart. Quando não se fala nessa
internalização, não se pode aferir o que seja o reconhecimento do direito, pois este só
acontece a partir do momento em que a pessoas inernalizam as regras. Mas em momento
algum ele diz que a pessoas devem internalizar as regras, não podendo ser tido comooum
positivista ideológico ou um jusnaturalista.
A posiçao do teórico positivista é uma análise não compromissada acerca dos compromissos
de outros - neutralidade moral (a teoria de Hart não envolve nenehum tipo de avalização
moral), mas em certo sentido ela avalia ao selecionar características importantes da atividade
complexa. A teria não fornce a resposta - inércia normativa -, sendo isso contrário ao que
Dworkin faz, o qual diz que deve-se fazer uma análise moral (mostrar o direito sob a sua
melhor luz). Mas porque não mostrar o direito sob a sua pior luz?
Teoria do Direito
Hart adota o ponto de vista externo interno, uma vez que ele não aceita aquelas regras (ponto
de vista externo), porém reconhece aquela regra como jurídica porque as pessoas
internalizaram aqueles critérios (ponto de vista interno). O principal é a averiguação do que as
pessoas estão internalizando. As regras podem ser jurídicas e não serem justas - para ser
jurídica, basta que sejam internalizadas
Hart faz uma analise não compromissada, uma vez que ele somente busca constatar a
existência do direito. Mais uma vez, ocorre a inercia normativa, uma vez que Hart é um
positivista. Não importa, para Hart, porque as pessoas internalizam determinada regra jurídica
e não internalizam outras regras – o importante é que existindo sanção, existirá regra jurídica.
Se a pessoa observa a regra por meio da sanção, não ocorre a internalização da regra, mas
trata-se apenas de um indicativo de que a pessoa adotou a postura do homem mau, que
apenas segue a regra por suas consequências e não por tê-la como internalizada.
A teoria de Hart seria neura por não envolver qualquer tipo de avaliação moral. Toda teoria
seria, de certa forma, não muito neutra por focar em um ponto específico que o teórico
considera como importante.
Podem ocorrer, por exemplo, lacunas normativas – isso suscitará dúvidas para o juiz, que terá
que recorrer a outros critérios externos ao direito. Outro problema que pode ocorrer é que as
regras reconheçam incompatibilidades – podem existir duas regras que são válidas mas que
indicam justamente ações opostas. Pode existir uma regra autorizando e outra proibindo uma
ação, por exemplo. Surgem, nesse contexto, inúmeros critérios para resolver conflitos de
regras.
Ocorre também outro problema no subsumir as regras (da subsunção). São problemas que
afetam a aplicação de certas regras na resolução de certos problemas. O primeiro problema
que pode surgir envolve a falta de conhecimento fático – por vezes, existe uma regra que
parece não contradizer nenhuma outra regra, porém é difícil determinar se aquela regra se
aplica ou não. Trata-se de uma falta de conhecimento fático. Por exemplo: se a regra x incidir
em caso de transação onerosa e a regra y em caso de transação não onerosa, caso o indivíduo
não saiba classificar aquela transação como onerosa não saberá aplicar a regra. Para buscar
sanar esses vícios, surgem as presunções – como as noções de ônus da prova, boa fé, entre
outros. Assim, a pessoa pode tomar decisões sem ter acesso absoluto aos fatos. Podemos
indicar, portanto, que esse é um problema relativamente solucionado pelo direito.
Pode ocorrer, ainda, mais um problema: o caso das intoxicações linguísticas. Podem ocorrer
problemas na linguagem do direito que fazem surgir certas dúvidas ao aplicar a norma a
determinado caso. São muitos os problemas que podem surgir quanto a isso, conforme
veremos a seguir. Por vezes, por exemplo, pode ser difícil conceituar determinado termo
presente na norma para que se verifique se a norma se aplica ao caso. É por isso que a
conceituação é algo tão importante para os juristas.
Conceituar careca, por exemplo, é algo difícil – assim, por vezes é difícil identificar se certa
pessoa que perdeu parte de seu cabelo pode ser ou não considerada como careca. Esse
exemplo do careca é um exemplo de vagueza de grau, uma vez que não se cabe a quantidade
de cabelo, ou a porcentagem de cabelo, que a pessoa deve perder para ser considerado um
careca. A vagueza combinatória ocorre quando um conceito depende de diferentes
propriedades e se tem dúvida de como essas propriedades devem estar combinadas para que
se esteja diante de algo que se encaixa naquele conceito. Por exemplo: um jogo parecido com
futebol porém sem goleiro, continua podendo ser considerado como futebol? Percebemos,
assim, que o problema de conotação gera um problema de denotação. Exemplos jurídicos que
já chegaram aos tribunais: se o colarinho integra o chopp e se Pringles é batata. A Pringles
possuía apenas 30% de batata – pode ser considerado, portanto, como um problema de
vagueza de grau – porém, pode-se questionar quais são as propriedades da batata, chegando a
um problema de vagueza combinatória (dependerá de como você irá encarar o problema).
Teoria do Direito
As intoxicações linguísticas são as fontes dos casos mais difíceis do direito. Já vimos o
problema da lacuna normativa – o surgimento das lacunas normativas está relacionado à
questão da regra de reconhecimento último. Se não existe nenhuma regra correlacionando o
caso a uma determinada solução, ou seja, se o caso não foi antecipado pelas regras de
reconhecimento, surgirá o problema da lacuna normativa. O direito é fruto de uma construção
social, e, por isso, é normal que ocorram erros e mensagens truncadas.
Para solucionar os problemas como as indeterminações linguísticas, podem ser utilizados os
critérios que o direito determina. As presunções, por exemplo, podem ser utilizadas.
O problema da vagueza pontual pode ser solucionado pela definição mais específica do
conceito, geralmente feito pelo poder judiciário na apreciação de um caso específico.
Hart fala sobre como o problema das intoxicações linguísticas, como vagueza e textura aberta,
podem ser solucionadas. Hart possui uma abordagem criteriológica e paradigmática:
começamos com um caso claro ou um paradigma. Por exemplo, no caso de proibição de
veículos no parque, o carro é um caso claro ou paradigma. Depois disso, deve-se pensar quais
são os critérios para que algo como uma bicicleta também possa ser considerado um veículo.
Por exemplo: bicicleta faz tanto barulho ou polui como um carro? Se a conclusão alcançada é
de que são suficientemente semelhantes nos critérios relevantes, também será aplica a regra
para aquele caso. Caso contrário, a regra não será aplicada. O juiz terá certa discricionariedade
ao selecionar os critérios relevantes.
Existem estratégias para refutar uma conclusão analógica advinda da utilização da abordagem
criteriológica e paradigmática. Inicialmente, pode-se apontar as diferenças relevantes entre o
caso alvo e o caso que está sendo comparado naqueles mesmos critérios utilizados pelas
pessoas. Essa é uma hipótese de refutação direta. Também pode ser feita a refutação indireta,
quando se ignora os precedentes e requisitos apresentados pelo oponente e se cria outra
cadeia analógica, considerando outros critérios. Assim, faz-se a comparação novamente por
outros critérios. A cadeia de precedentes alternativa pode justificar outro ponto de vista.
Assim, em síntese, já vimos os seguintes problemas que podem surgir no direito: 1) lacunas
normativas; 2) inconsistência normativa; 3) problemas relacionados à falta de conhecimento
fático; 4) problemas das intoxicações linguísticas. Ainda veremos o seguinte problema: 5) o
problema da sobreinclusão e da subinclusão das regras.
Sobreinclusão é o fato das regras incorporarem mais do que deveriam quando analisadas à luz
de seus propósitos subjacentes (que teriam motivado a regra). Já a subinclusão é o problema
contrário – quando as regras incorporam menos do que deveriam quando analisadas à luz de
seus propósitos subjacentes.
Frederick Shauer fala da linguagem diretiva (ou prescritiva) e as suas dimensões. Para ele, a
linguagem diretiva pode variar quanto à generalidade, à determinação ou precisão, à
canonicidade e ao peso. A generalidade está relacionada está relacionada à quantidade de
particulares pertencentes a uma certa categoria (quanto mais coisas são englobadas, mais
geral é a linguagem). A precisão está na nossa capacidade de reconhecer instâncias
particulares como pertencentes a essas categorias. A canonicidade é uma dimensão
relacionada à nossa capacidade de reconduzir aquela diretiva a um pouco fixo de referência.
Diretivas costumeiras são menos canônicas do que regras impostas em determinado lugar. O
peso é a capacidade de resistência de uma diretiva em face de outras exigências que
determinam condutas incompatíveis. Ou seja, a capacidade de resistir a outras demandas de
diretivas diferentes. Existe uma independência quanto a esses quatro critérios – uma regra
pode ter mais precisão e menos peso, entre outros.
As noções de generalidade e de peso serão essenciais verificar uma regra. Uma regra, para ser
uma regra é necessariamente geral – caso contrário, será apenas um comando, nunca uma
regra.
4 textos:
Cap. 4 e 6 da tese
Para Noel, essa definição não é muito boa, porque usa um termo variado do
termo que está sendo definido: “argumentos”. Para Noel, portanto, o melhor conceito de
argumentar seria dar as razões a favor de um ponto de vista.
5 – O cão guia, por exemplo, foi englobado injustamente por essa regra,
pensando na justificação da norma, porque geralmente se comporta muito bem. Então
podemos dizer, neste tópico, que existe uma SOBREINCLUSÃO nesta regra, porque engloba
coisas a MAIS que não deveriam ser incluídas, segundo a justificação, na regra. Já a subinclusão
é quando coisas que, por esta justificação, deveriam estar incluídas na regra, mas não estão –
por exemplos, crianças barulhentas deveriam estar incluídas nesta regra, adultos bêbados, etc.
Se X, então Y.
Consequente: Então Y.
8 – A gente tem que ter em mente, também, que se você pode, para
determinada regra, aplicar as razões subjacentes sempre, essa regra não tá cumprindo as suas
funções! É o que o Schauer vai dizer sobre o peso da regra. Se a regra não apresenta alguma
resistência – a regra deve no mínimo elevar o patamar argumentativo para que você possa
derrota-lo. “Você tem que rebolar” para derrotar a regra. Noel usa a imagem, por exemplo, de
um casaco de tricô super quente, que tem como objetivo não te fazer sentir frio. Mas aí em
uma situação qualquer, está MUITO frio, e aí você sente frio mesmo com o casaco. É a mesma
coisa da regra: o casaco de tricô não é invencível, ou seja, ele em algumas situações não será
suficiente. Mas para que o casaco de tricô seja derrotado, ou seja, para que você sinta frio, o
patamar de frio deve estar MUITO elevado. Com a regra, a mesma coisa: em algumas
hipóteses, ela pode ser derrotada. Mas, se for uma regra mesmo, será difícil que ela seja
derrotada, ela terá algum peso.