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Um
texto,
mil
leituras:
como
assim?
Ler
significa
atribuir
sentidos
aos
estímulos
visuais
(verbais
e
não
verbais)
trazidos
pelo
texto
a
partir
de
um
propósito
de
leitura.
A
atribuição
de
sentidos
está
intimamente
relacionada
às
experiências
anteriores
do
leitor
com:
-‐
eventos
de
leitura
semelhantes
ao
que
está
vivenciando,
-‐
as
práticas
sociais
mediadas
por
esses
textos,
-‐
o
tema
focalizado,
-‐
informações
sobre
o
tema,
pressupostas
ou
indiretamente
acionadas
pelo
texto,
-‐
desejos,
expectativas,
receios
ou
preconceitos,
-‐
outros
textos
que
possam
estar
relacionados,
-‐
repertórios
de
recursos
linguísticos
e
expressivos
(vocabulário,
pontuação,
diagramação,
imagens,
etc.).
São
essas
experiências
e
o
propósito
de
leitura
da
situação
em
que
o
leitor
se
encontra
que
vão
orientar
diferentes
compreensões
do
texto.
Vamos
pensar
num
exemplo:
mesmo
que
uma
pessoa
não
conheça
nenhuma
palavra
em
alemão,
ao
sentar-‐se
à
mesa
de
um
restaurante
numa
cidade
na
Alemanha,
essa
pessoa
poderá
concluir
que
o
texto
que
recebe
do
garçom
(mesmo
sem
entender
nenhuma
palavra
desse
texto)
é
um
cardápio
–
isso
considerando
que
ela
costuma
frequentar
restaurantes
na
sua
vida
cotidiana.
Porque
está
familiarizada
com
o
gênero
cardápio,
ela
poderá
atribuir
sentidos
a
algumas
imagens
e
aos
números
para
escolher
um
prato
e
uma
bebida.
A
leitura
poderá
tornar-‐se
mais
eficiente
para
o
propósito
desejado
(pedir
um
prato
de
sua
preferência)
se
houver
uma
mediação
do
garçom,
explicando
com
gestos
ou
com
alguns
recursos
linguísticos
de
outra
língua
em
comum
algum
detalhe
dos
acompanhamentos
ou
do
tempero.
Da
mesma
forma,
alguém
que
foi
socializado
em
língua
portuguesa
e
aprendeu
o
sistema
da
escrita,
mas
que
nunca
folheou
histórias
em
quadrinhos,
ao
ser
convidado
a
ler
um
gibi,
poderá
atribuir
sentidos
bem
diferentes
às
histórias
se
comparado
à
compreensão
de
alguém
que
também
foi
socializado
em
língua
portuguesa,
mas
que
tem
familiaridade
com
esses
textos,
os
personagens
e
os
modos
de
relacionar
imagens
e
a
linguagem
escrita.
Em
nenhuma
das
situações,
no
entanto,
podemos
afirmar
que
os
leitores
não
estejam
se
relacionando
com
o
texto,
lendo
e
compreendendo.
Porque
estão
numa
situação
em
que
é
necessário
ler,
esses
leitores
estão
lendo
e
alcançando
uma
certa
compreensão
do
texto,
que
poderá
ou
não
ser
suficiente
para
os
fins
desejados.
Eles
estão
relacionando
os
estímulos
visuais
com
suas
experiências
prévias
e
com
o
propósito
de
leitura
do
evento
em
que
estão
participando.
A
compreensão
de
cada
um
desses
leitores
terá
o
alcance
das
relações
que
eles
conseguem
estabelecer
entre
os
estímulos
visuais
e
os
seus
conhecimentos
prévios.
Então
por
que
dizemos
que
alguém
compreende
o
texto
e
que
outro
não
compreende?
Quais
são
as
leituras
que
vamos
considerar
boas
leituras?
Quais
leituras
vamos
considerar
incompletas
ou
equivocadas?
A
partir
da
perspectiva
de
quem?
Isso
depende:
depende
de
quais
conhecimentos
prévios
são
mais
ou
menos
valorizados
pelos
participantes
naquele
contexto
de
leitura
específico;
depende
de
quem
é
considerado
como
leitor
mais
ou
menos
experiente
de
determinados
textos;
depende
da
posição
de
maior
ou
menor
autoridade
dos
participantes,
em
geral
ou
quanto
ao
tema
em
pauta;
depende
do
maior
ou
menor
acesso
a
conhecimentos
relacionados
ao
texto
que
possam
ser
relevantes
para
determinados
entendimentos.
Quanto
mais
as
pessoas
compartilharem
conhecimentos
prévios
e
tiverem
experiências
de
leitura
continuadas
de
determinados
textos
em
uma
determinada
esfera
de
atuação,
maior
será
a
probabilidade
de
terem
aprendido
as
expectativas
de
leitura
cultural
e
historicamente
associadas
a
esses
textos.
Essa
experiência
e
um
propósito
de
leitura
comum
aos
participantes
poderão,
assim,
orientar
a
seleção
de
quais
serão
as
interpretações
consideradas
preferidas
e
defensáveis
em
detrimento
de
outras
interpretações,
que
serão
consideradas
incompletas,
equivocadas
ou
pouco
defensáveis.
É
importante
lembrar
que
nos
tornamos
leitores
experientes
lendo
e
tendo
a
ajuda
de
outros
leitores.
Também
não
podemos
esquecer
que
seguimos
aprendendo
a
ser
bons
leitores
por
toda
a
vida.
Afinal,
ser
leitor
experiente
em
determinados
textos
não
nos
torna
automaticamente
experiente
em
outros.
E
mesmo
em
relação
aos
textos
que
já
lemos,
uma
nova
leitura
e
uma
discussão
com
outros
leitores
muitas
vezes
abre
novas
possibilidades
de
compreensão
–
isso
porque
já
podemos
contar
com
outros
conhecimentos
prévios,
que
não
tínhamos
na
primeira
leitura.
Para
que
nós
próprios,
como
professores,
e
nossos
alunos
possamos
chegar
a
interpretações
mais
parecidas
com
as
preferidas
pelos
leitores
experientes
nos
diversos
campos
de
atuação
relevantes,
é
importante
interpretar
e
aceitar
toda
e
qualquer
leitura
genuína
como
reveladora
dos
conhecimentos
prévios
que
cada
um
está
trazendo
para
atribuir
sentidos
ao
texto.
São
as
interpretações
colocadas
em
debate
que
podem
promover
a
busca
por
outros
conhecimentos,
outras
perspectivas
de
análise
das
informações
mobilizadas
no
texto
e
dos
possíveis
efeitos
de
sentido
pretendidos.
E
são
as
defesas
e
explicações
das
interpretações
feitas
que
vão
possibilitar
ajustes,
novas
leituras
e
leituras
mais
próximas
das
que
buscamos
como
leitores
proficientes,
capazes
de
reagir
ao
texto
da
maneira
crítica
e
criativa
e
de
usar
o
texto
para
seus
próprios
propósitos.