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DCV 116 – Teoria Geral de Direito Privado II

Prof. Cristiano de Sousa Zanetti


Seminários para a aula do dia 1º.IX.17
Tema: Objeto do negócio jurídico

Exercício 1: João é um importante latifundiário no interior de Tocantins. Sua vida pessoal sempre
foi muito atribulada. Na juventude, manteve uma relação difícil com seus genitores. A ruptura
definitiva ocorreu aos 23 anos. Desde então, não mais se conversaram. João sequer compareceu ao
funeral de um e de outro. Mais tarde, João casou-se com Maria. Cinco anos depois, sobreveio o
divórcio. João permaneceu celibatário pelos vinte anos seguintes. Casou-se, então, com Rita, de
quem, no entanto, veio a se divorciar um ano depois. João não teve filhos.

No final da vida, João estabeleceu uma relação muito próxima com seu sobrinho André. Depois de
alguma reflexão, decidiu torná-lo seu herdeiro universal. Elaborou, assim, um testamento público,
por força do qual deixou todos os seus bens para André. Nessa mesma ocasião, incumbiu Durval,
administrador de suas fazendas, de dar cumprimento ao seu testamento.

João faleceu em 15 de outubro de 2015. Durval foi então chamado às pressas para dar continuidade
à administração das fazendas. Em particular, afigurava-se urgente a venda de certa safra, então em
risco de perecimento.

Durval decide então alienar a safra para Pedro, seu amigo de longa data. O negócio é fechado em 20
de outubro de 2008. A safra é colhida e os grãos são prontamente entregues a Pedro. Dez dias mais
tarde, Pedro vende os grãos a Durval.

Tendo em vista tais fatos, responda:

a) Os contratos de compra e venda existem?

Sim, os contratos de compra e venda existem.

b) Os contratos de compra e venda são válidos?

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo


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Para responder às indagações, tenha presente o disposto nos arts. 104, inc. II; 166, incs. II e VI; 482;
e 497, inc. I, todos do Código Civil. Considere, ainda, que o testamento não padece de qualquer vício
e que Durval dispunha de poderes para alienar a safra por ocasião do passamento de João.

O contrato de venda da safra a Pedro é válido. O contrato de venda da safra a Durval é nulo
por violar o art. 497, inc. I, do Código Civil. Trata-se de nulidade decorrente de fraude à lei.

Exercício 2: Considere o seguinte trecho doutrinário:

“São atos cujos objetos são inválidos, in genere, aqueles que restringem (a) os direitos da personalidade,
tais como os relativos à vida, à liberdade, inclusive econômica e sexual, ao nome, à honra, à saúde, e
(b) os direitos de família. Como exemplos de espécies concretas de objeto inválido, podemos
mencionar: (a) a doação feita com a finalidade de que certa pessoa jamais se case; (b) ou que somente
se case com certa pessoa; (c) para que pessoa casada se divorcie; (d) para que mulher grávida pratique
aborto ou para que mulher casada não engravide nunca; (e) para que o filho havido fora do
casamento não reivindique o reconhecimento da paternidade; (f) e o acordo: (f.a) entre comerciantes
ou industriais com a finalidade de levar um concorrente à falência; (f.b) entre empresas para fraudar
concorrência pública (todas oferecem preço maior do que aquela que foi escolhida para vencer).”
(trecho adaptado da obra de MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico – plano da validade, 9ª
ed., São Paulo, Saraiva, 2009, pp. 110-111).

Nele, o autor arrola diversos casos de invalidade do negócio jurídico em razão de seu objeto. Qual
o fundamento que justifica tal conclusão?

O fundamento reside na imoralidade de tais negócios jurídicos, cujos objetos ferem os bons
costumes.

Exercício 3: Após se deparar com a notícia de que não poderia gerar filhos de modo natural, Laura
procura Estela e as duas pactuam contrato pelo qual esta se compromete a ser barriga de aluguel
daquela. Assim, mediante o pagamento de certa quantia em dinheiro, Estela se obrigou a gerar, dar
à luz e, posteriormente, entregar o bebê a Laura.

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O contrato celebrado entre Laura e Estela é válido? Para responder à questão, considere o disposto
no art. 199, § 4º, da Constituição Federal, bem assim nos arts. 104, inc. II, e 166, inc. II, do Código
Civil.

Não, o contrato de barriga de aluguel não é válido, seja porque é vedada a comercialização
de órgãos (nesse caso, o “aluguel” do útero de Laura), seja porque a venda de uma criança
não pode ser objeto de negócio jurídico.

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