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Seminário Multimundos

1º Ciclo: “Cultura e Sensibilidade”


2019/1

Resumo
BENEDICT, Ruth. Padrões de Cultura. Tradução: Alberto Candeias. Lisboa: livros do
Brasil, 2013.
Mirian Barreto Lellis1
O antigo método de construção de uma história da cultura humana baseada em
prova arqueológica que tenta estabelecer conexões entre as diversas características
culturais, atualmente, perdeu grande parte da sua influência. A arqueologia encontrou nos
materiais e objetos colhidos informações sobre a vida social, econômica, tecnologia, arte,
religião entre outras categorias diversas, mas faltava a "cola" que unificava todas essas
categorias, daí surge a antropologia como método de análise.
O método antropológico, possibilitou unificar a história da cultura e da civilização,
influenciando a análise das culturas e, por isso, o “trabalho com culturas vivas resultou num
maior interesse na totalidade de cada cultura". (BENEDICT, 2013, p.10- 11).
A obra “Padrões de Cultura” de Ruth Benedict propõe refletir como as distintas
culturas foram determinantes para a constituição da personalidade dos indivíduos que nela
estão inseridos. Essa metodologia inovadora no período em que foi pesquisada, apresenta
uma visão mais dinâmica da cultura, centrada na ideia holística, em que se olha o todo para
se compreender as partes.
Benedict nos convida a compreender o papel que o costume desempenha no
comportamento e na formação dos atores sociais que compõe uma determinada cultura.
No primeiro capítulo Ruth Benedict, discute o papel e atuação da ciência, em especial
da antropologia, no âmbito dos fenômenos sociais e culturais do grupo onde estão inseridos.
A autora explica que para os antropólogos de sua época o costume era considerar com certa
inferioridade os estudos sobre comunidades primitivas, a ideia que prevalecia ali era da
“supremacia do homem branco”, ou seja, atribui-se à civilização ocidental a modelização de
padrões e desenvolvimento cultural faz com que as outras culturas sejam tomadas como
inferiores e sem importância.
Destacamos também neste capítulo a tentativa de desconstrução do conceito de
costume pelo viés biológico, visto que, historicamente, fomos levados a diferenciar padrões
culturais pelos aspectos biológicos e estéticos como as características físicas tão evidentes
em algumas sociedades. Benedict afirma que o homem não é obrigado a obedecer a
qualquer estrutura biológica para dirigir seu comportamento, posto que a cultura não é uma
estrutura social transmitida biologicamente.

1Aluna de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT


– Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: mirian.lellis@gmail.com
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1º Ciclo: “Cultura e Sensibilidade”
2019/1

A fim de esclarecer as formas e processos culturais na sociedade atual, devemos nos


deter ao material das sociedades primitivas, "que tenham a menor relação histórica
possível" com outras sociedades. (BENEDICT, 2013. p.23). Visto que as culturas primitivas
são hoje “(...) laboratório onde podemos estudar a diversidade de instituições humanas. Em
razão de seu relativo isolamento (...) tiveram séculos para elaborar as características
culturais que lhes são próprias" (BENEDICT, 2013. p.23).
O capítulo II intitulado “A Diversidade de Culturas” aborda a cultura sob seu caráter
distintivo, isto é, particularidades presentes numa sociedade ou grupo que os diferenciam
de outros grupos, a exemplo disso Benedict cita a adolescência e puberdade, a guerra, o
casamento e a religiosidade, as feições culturais, a crença no divino e no sobrenatural. Ela
aborda singularidades em cada ponto considerando os processos tidos como essenciais na
inter-relação cultural de cada grupo.
Para Benedict (2013, p. 40) "precisamos ser capazes de analisar traços da nossa
cultura considerando suas diversas partes. Nossa análise (...) ganharia clareza se
aprendêssemos a compreender (...) complexidade dos nossos comportamentos". Nesse
sentido, compreendemos que as questões sociais são fatores que determinam uma cultura e
compreendê-los requer de nós um esforço e abertura a fim de separar o que é de ordem
biológica do preconceito condicionado, especialmente introduzidos pelos povos anglo-
saxões.
No terceiro capítulo “A Integração da Cultura” Benedict foca sua discussão e análise
nos padrões normatizadores de comportamento que são (re)produzidos pelos indivíduos.
Compreendemos que em relação ao campo do comportamento humano, esse é visto sob
diferentes óticas dependendo da sociedade em voga. Pois, temos sociedades diversas e
padrões de cultura variáveis de acordo com os costumes e outros fatores sociais que regem o
equilíbrio sociocultural de um povo.
A partir dessa ideia, os antropólogos começaram a estudar as culturas primitivas - no
plural - dando importância a sua análise ou estudo como um todo e não como parte, ou seja,
comparando aspectos de determinadas culturas e identificando padrões clássicos que antes
não apareciam. Essa ideia de que para se compreender as partes, é preciso, antes,
compreender o todo sofreu influência influenciou da "era Gestalt" e toda uma gama de
concepções em torno processo de dar forma, de configurar o que é colocado diante dos
olhos, ou seja, tornar mais explícito o que está implícito. Assim, o que interessa
verdadeiramente é uma investigação que priorize o conjunto da cultura em sua totalidade e
amplitude e não os componentes particulares que os torna únicos.
Para Benedict (2013, p.47) "o estudo de povos mais simples é a maneira de se
compreender melhor o problema da formação dos padrões de hábito das pessoas sob a
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influência do costume tradicional". Mas, isso não significa dizer que as descobertas
realizadas no estudo são aplicáveis somente a civilizações antigas, visto que as configurações
culturais são importantes e potentes em sociedade mais avançadas e complexas como a que
vivemos hoje.
Logo, as questões sociais como fatores determinantes da cultura de um povo, Ruth
afirma que a história da cultura tem sua base na natureza, contudo o vínculo genético que é
usado para definir traços estéticos são enganosos. A cultura e as ordens sociais se erguem
das inter-relações e suas vastas combinações de fatores sociais como religião, costumes,
crenças, comportamentos, sistema financeiro etc.

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