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KINZO.

A democratização brasileira: um balanço de processo político desde a


transição. São Paulo em Perspectiva, 15(4), 2001.

Objetivo do artigo é destacar os constrangimentos presentes no processo de democratização,


ponto que a visão bastante crítica em torno do processo por vezes ignora.

Alicerces de duas naturezas da ditadura militar que tem influência nos fatores de longo prazo
no processo de democratização. Instituições políticas: instituição militar arena de disputa pelo
poder político, conflitos entre oficiais radicais e moderados durante todo o período.Manteve
mecanismos e procedimento democráticos, mesmo que alterados, Congresso e Judiciário,
eleições, alternância na presidência. Efeito: constantes crises políticas, instabilidade,
dificuldade de institucionalização do regime. Linz (1973) caracteriza como situação, do que
regime. Arranjo político híbrido teve grande impacto na transição.

Modelo econômico: continuidade de Vargas, substituição de importações que reserva ao


Estado papel de empreendedor. Milagre econômico de 1967-1973.
substituição de importações de bens de capital e matérias-primas, sustentada por
investimentos do setor público e empréstimos estrangeiros. Depois, desequilíbrio.

A mais longa transição democrática, durou 11 anos. Dividida em três fases.

1974-1982 (controle total militar)

Ascensão de Geisel, revogação parcial da censura, valorização das eleições legislativas.


Sucesso do MDB, reação dos radicais. queda brusca da atividade econômica, dívida e
inflação. 78- fim do AI-5. Mudanças eleitorais para neutralizar oposição.

Segunda fase: 1982 a 1985 (aparecimento de novos atores)

Governadores eleitos pelo voto popular desde 1965. PMDB elegeu governadores e senadores
em 9 estados, 200 cadeiras na Câmara.
1984 - Diretas Já (emenda constitucional derrotada, mostrando como militares queriam a
qualquer custo o controle sobre o processo sucessório presidencial. Oposição: ou quebrava as
regras do jogo por meio da mobilização popular ou buscava simpatizantes dissidentes dentro
do governo. ( PMDB, PT, PDT) PTB - votou contra a emenda em troca de cargos no
governo.

PMDB opta por tentar influenciar o processo sucessório conforme as regras do jogo.
Tancredo Neves ( PMDB e dissidentes do PDS - criaram o PFL), vice Sarney x Maluf.
Estratégia moderada teve êxito, mas com consequências importantes: dissidentes do regime
autoritário desempenhassem papel importante no novo regime - e passariam a ser parceiro de
todos os governos que se seguiram. Espaço para contestação da legitimidade do processo pela
esquerda. PT denuncia a transição negociada.
Terceira fase: 1985 a 1990 ( militares perdem papel central)
Déficit de legitimidade, Sarney anos de vínculos com militares sem respaldo das urnas.
vulnerável a todos os tipos de pressão.
86-94 mudou quatro vezes de moeda. crise econômica e social, problemas de
governabilidade.
Constituição de 88 ilustrativa da complexidade do processo de democratização. embate entre
variados grupos, efeito do processo. A pecha por ser uma transição negociada acabou
fazendo com que seus condutores, líderes políticos moderados - se tornassem mais
vulneráveis, mais sensíveis às pressões de aprofundamento democrático. em função desse
fator, é provável que a estrutura constitucional tenha se tornado muito mais democrática do
que se esperaria das circunstâncias.

Eleição de 1989 Collor, marcava simbolicamente o fim do processo de transição.


Impeachment em 1992, Itamar Franco. plebiscito parlamentarismo 1993, tentativa de revisão
constitucional em 1994, Anões do orçamento (CPI) 1994, PLANO REAL, eleição de 1994
que acabou se transformando em um plebiscito sobre a política econômica (FHC). sucessão
de crises exterior, impacto no Brasil (95, 97, 98 crise Russa - desfecho reeleição de FHC).

Análise

como em outros momento da nossa história, a democratização não foi o produto de uma
ruptura com a antiga ordem, o que implicou em uma reconstrução do sistema político por
meio de acomodações e entrelaçamento de práticas e estruturas novas e antigas, combinação
que estruturou as opções e estratégias seguidas pelos principais atores do processo político.

Atende as duas dimensões da poliarquia de Dahl (contestação pública e participação política),


problema qualidade dessas dimensões, e ao funcionamento do processo decisório.
extrema desigualdade e pobreza
sistema partidário altamente fragmentado - dificuldade do eleitor em criar identidade
partidária e definir quem é quem. eleição de representantes pouco fiéis aos partidos e aos
eleitores, ( voto por excedente). Impossibilidade do presidente ter apoio partidário-
parlamentar majoritário, obriga o presidencialismo de coalizão.

Figueiredo e Limongi ( 1994) isso não afeta o processo decisório, uma vez que a
fragmentação partidária é mais nominal que real, dada a reaglutinação nas posições dos
partidos.
Questão colocada: qual a relevância de existirem então tantos partidos se eles ocupam
posições semelhantes no espectro político-ideológico, e também nas eleições fazem aliança?
Consequências no processo decisório propriamente dito:
na hora de negociar, apesar das alianças, cada partido o faz como ator distinto. de modo que
continua sendo um hogo de poder fragmentado.
sistema de múltiplos vetos, mais longo, mais propícia a manutenção do status quo.
presidencialismo tem funcionado às custas de mecanismos de decisão concentradores de
poder (Medidas provisórias) e de recursos clientelísticos para negociar apoio parlamentar.
a permanência dessa situação - que reproduz à enésima potência o sistema de contrapesos do
modelo de Madison - pode ser entendida como fruto da acomodação possível do contexto de
um padrão de desenvolvimento político como o descrito.

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