One Night:
Unveiled
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Disponibilização:Juuh Alves
Tradução: Ana Rosa
Revisão Inicial:Regina
Revisão Final:Alessandra, Regina e Ana
Leitura Final: Regina
Formatação:Regina e Niquevenen
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Sinopse
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Para minha cúmplice. Algumas pessoas são voltadas
apenas para ser parte de sua vida; ela estará sempre
na minha. Katie Fanny Cooke, obrigado por estar lá
todos os dias. Obrigado por me deixar ser eu e me
amar por isso. Obrigado por saber quando eu preciso
ser deixado sozinho e por insistir quando você sabe que
eu preciso desabafar.
Obrigado por ler meus livros.
Obrigado por tudo.
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Prefácio
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nunca. Então levantou a mão tremendo e bateu na
porta. Sua pulsação acelerou quando ouviu passos,
e quase parou de respirar quando a porta se abriu.
Ela não tinha mudado muito, mas agora deveria
ter... Quantos? Oitenta anos? Então, quanto tempo
tinha passado? A mulher não parecia surpresa com
tudo, e ele não sabia se isso era bom ou ruim.
Reservaria o julgamento para quando saísse de lá.
Eles tinham muito que conversar.
Suas sobrancelhas, agora cinzenta, tinha um olhar
gélido, e quando ela começou a sacudir a cabeça
delicadamente, William sorriu levemente. Era um
sorriso nervoso. Começou a tremer todo.
— Bem, olha o que o gato trouxe –, ela disse, e
suspirou.
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CAPÍTULO 1
Isso é perfeito. Mas seria ainda mais perfeito se
minha mente não fosse atormentada por
preocupações, medo e confusão.
Rolando nas minhas costas na cama queen-size, eu
olho para as claraboias instaladas no teto
abobadado de nossa suíte de hotel. Olho as nuvens
macias que pontilham o céu azul profundo. Eu
também vejo os edifícios que se elevam para o céu.
Eu prendo a respiração e ouço o agora familiar sons
de Nova York pela manhã: buzinas assobiando e a
agitação geral perfeitamente detectável a uma
altura de doze andares. Arranha-céus semelhantes
nos cercam, fazendo parecer que esse edifício está
perdido na selva de vidro e cimento. O ambiente
que nos rodeia é incrível, mas não é isso que torna
tudo quase perfeito, mas o homem que eu tenho a
meu lado nessa cama enorme e fofa. Estou
convencida de que as camas nos Estados Unidos,
são maiores. Aqui tudo parece maior: construções,
carros, celebridades... o meu amor por Miller Hart.
Estamos aqui há duas semanas e eu sinto falta
terrivelmente de minha avó, mas eu falo com ela
todos os dias. Nós deixamos a cidade
completamente nos absorver e não fazemos nada,
mas limitando-nos um no outro.
Meu homem perfeitamente imperfeito está relaxado
aqui. Ele mantém seus modos exagerados, mas eu
posso viver com isso. Curiosamente, eu estou
começando a achar adorável muitos de seus hábitos
obsessivos compulsivos. Eu posso admitir agora. E
eu posso dizer-lhe, mas ainda prefiro ignorar o fato
de que a obsessão influencia a maioria dos
elementos de sua vida. Incluindo a mim.
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Pelo menos aqui em Nova York não sofremos
interferência. Ninguém tenta tirar dele o seu bem
mais valioso. Eu sou o seu bem mais precioso. E é
um título que eu honro ter mas também um fardo
que eu estou disposta a aguentar, porque sei que o
santuário que criamos aqui é apenas temporário.
Enfrentar esse mundo escuro é um plano de batalha
no horizonte da nossa existência presente, quase
perfeita. E eu me odeio por ter duvidado de minha
força interior que chega superá-lo; a força na qual
tanto depende Miller.
Uma agitação suave do meu lado me chama de
volta para a suíte que chamamos de casa, desde
que chegamos à Nova York, e eu sorrio quando vejo
ele se aconchegar em seu travesseiro com um
murmúrio bonitinho. Sua cabeça repousa com seus
cachos desordeiros e sua mandíbula sombreia a
grossa barba por fazer. Ele suspira e procura em
torno, meio adormecido, até que sua mão alcança
minha cabeça e seus dedos localizam meus cabelos
bagunçados. Meu sorriso intensifica e eu deixo meu
olhar encontrar seu rosto, e eu sinto seus dedos no
meu cabelo enquanto afunda para voltar a dormir.
Esse é um novo costume de meu cavalheiro perfeito
em tempo Parcial. Ele mexe em meus cabelos por
horas, mesmo quando está dormindo. Miller e eu
acordamos em nós em várias ocasiões, às vezes
com os dedos ainda entrelaçados, mas eu nunca
reclamo. Eu preciso de contato físico com ele, seja
de qualquer natureza.
Minhas pálpebras começam a fechar-se lentamente
embalada pelo seu toque. Mas a minha paz é logo
bombardeada por visões desagradáveis, incluindo
Gracie Taylor. Meus olhos se abrem, eu pulo para
cima e faço uma careta de dor quando sinto um
puxão no cabelo que faz minha cabeça ir para trás.
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— Merda!–, sussurro, levantando a mão para iniciar
a árdua tarefa de desembaraçar os dedos de Miller
de meu cabelo.
Ele rosna algumas vezes, mas não acorda, e coloco
sua mão sobre o travesseiro cuidadosamente antes
de me puxar para a borda da cama. Olho por cima
do ombro e vejo que está dormindo, e eu espero
que os seus sonhos sejam tranquilos e pacíficos. O
oposto do meu.
Deixando que meus pés encontrem o tapete macio,
que se estendem, levanto-me um pouco e termino
com um suspiro. Continuo em pé ao lado da cama,
olhando para a enorme janela. Eu poderia ver a
minha mãe pela primeira vez em dezoito anos? Ou
era apenas uma alucinação causada por estresse?
— O que preocupa essa bela cabeça? – Sua voz
grave e sonolenta interrompe meus pensamentos e
quando eu me viro, eu o vejo deitado de lado,
com as palmas das suas mãos descansando sob seu
queixo.
Eu forço um sorriso que eu sei que não vai
convencê-lo, e deixo Miller e toda a sua perfeição
distrair-me do meu conflito interior.
— Eu estava apenas sonhando –, disse baixinho,
ignorando sua expressão duvidosa.
Eu estive mentalmente me torturando com isso
desde que eu embarquei naquele avião, e joguei o
momento mais e mais na minha mente. E minha
silenciosa melancolia tem sido observada por Miller.
No entanto, não me empurrou, e eu estou
convencida de que eu acredito que estou refletindo
sobre a traumática situação, que nos trouxe para
Nova York. E parte estaria certo. Muitos eventos,
revelações e visões invadiram minha mente desde
que chegamos aqui, e isso me faz sentir mal por
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não ser capaz de apreciar plenamente a adoração e
devoção de Miller.
— Venha aqui –, sussurra, sem o acompanhamento
de palavras de qualquer gesto autoritário.
— Eu estava indo fazer café. – Sou uma tola se
acho que posso evitar suas perguntas por muito
mais tempo.
— Eu disse a você, uma vez. – Ele se inclina sobre
um ombro e inclina a cabeça. Seus lábios formaram
uma linha reta, e seus olhos azuis claros cruzam
com o meu olhar. — E não me faça repetir.
Agito suavemente a cabeça e suspiro. Deslizo sob
as cobertas e me aconchego contra seu peito
enquanto ele ainda está de pé e me permite
encontrar o meu lugar, com os braços em volta de
mim e enterra seu nariz no meu cabelo.
— Melhor?
Assinto contra seu peito e estou assistindo seus
músculos, enquanto ele me acaricia em volta e
respira profundamente. Eu sei que ele está
desesperado para me confortar e inspirar confiança.
Mas não adianta. Ele permitiu o meu sossego, e
deve ter sido extremamente difícil. Eu sei que ando
pensando muito. Eu sei. E o mesmo acontece com
Miller.
Ele afasta o calor do meu cabelo e passa alguns
momentos os organizando, depois de focar meus
conturbados olhos azuis.
— Não, nunca pare de me amar, Olivia Taylor.
— Nunca – eu digo, me sentindo muito culpada. Eu
quero que ele saiba que meu amor por ele não deve
ser uma preocupação. — Nunca mesmo.
Eu levanto minha mão, acaricio seu lábio inferior
com o polegar, assistindo ele deslizar a mão para
levar meu dedo em sua boca.
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Ele vira a palma suavemente e me beija no meio.
— Como eu digo, minha preciosa. Eu odeio ver você
triste.
— Eu tenho você. É impossível ficar triste.
Ele sorri amavelmente e se inclina para beijar a
ponta do meu nariz com delicadeza.
—Discordo.
— Você pode pedir tudo o que você quiser, Miller
Hart.
Eu sou rapidamente puxada para frente e colocada
em cima dele, prendendo-me as coxas. Segura meu
rosto com as palmas das mãos, e chega mais perto
com seus lábios o deixando a milímetros longe do
meu. Eu sinto sua respiração quente na minha pele.
Sou incapaz de controlar a reação do meu corpo. E
não quero.
— Deixe-me provar você. – murmura enquanto
procura meus olhos.
Subo a cabeça e bato contra seus lábios. Rastreio
seu corpo até que eu esteja escancarada em seus
quadris e sinto sua ereção, dura e ereta
sob a minha bunda. Gemo contra sua boca, grata
por suas táticas para distrair-me.
— Eu acho que sou viciado em você –, murmura
enquanto coloca as mãos em meu pescoço
puxando–me para frente até estar sentada.
Eu envolvo minhas pernas em volta de sua cintura e
ele descansa suas mãos na minha bunda para agitar
mais, como nossas línguas dançando lenta e
apaixonadamente.
— Fico feliz.
Interrompe o nosso beijo e muda um pouco para
pegar um preservativo na mesinha.
— Seu período deve chegar em breve. – Ele observa
e eu aceno.
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Vou ajudá-lo e estendo a mão. Eu removo e tiro da
embalagem, tão ansiosa quanto Miller para começar
a veneração.
— Bom. Assim, podemos nos livrar disso.
Nós colocamos o preservativo, ele me sustenta e
me levanta, fechando os olhos com força enquanto
guia sua ereção em minha abertura molhada. Desço
sobre ele para absorver tudo.
Meu gemido é grave e instável de satisfação. Nossa
união leva embora todas as minhas preocupações e
não deixa espaço para qualquer outra coisa, mas
um prazer implacável de um amor eterno. Ele vai
até o fundo, jogo a cabeça para trás enquanto me
agarro em seus ombros fortes para me apoiar.
— Mova-se –, eu imploro, agarrando-me em seu
colo e mal respirando pela minha necessidade por
ele. Sua boca encontra meu ombro e afunda seus
dentes quando ele começa a me guiar suavemente
completamente.
— Você gosta?
— Melhor do que qualquer coisa que eu possa
imaginar.
— Eu concordo. – Eleva o quadril enquanto me
segura para baixo, causando ondas de prazer em
nossos corpos arfantes.
— Olivia Taylor, eu sou completamente fascinado
por você.
Seu ritmo é mais que perfeito e nos aquece lenta e
preguiçosamente. Cada fricção nos traz mais perto
da explosão. O atrito do meu clitóris contra sua
virilha, quando ele vai até o final em cada mexida,
faz-me soluçar ofegante. Então, meu corpo continua
seu movimento circular e o delicioso prazer
resumidamente diminui, até que novamente eu
sinto o pico de frenesi alegre. Seu olhar cúmplice
me diz que ele está fazendo isso de propósito, ele
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pisca e seus lábios carnudos se separaram, fazendo
nada além de intensificar o meu desespero.
— Miller – gemo. Enterrando o rosto em seu
pescoço e perdendo a capacidade de me manter em
seu colo.
— Não me prive de seu rosto, Olivia,- ele adverte.
— Mostre-me.
Ofegante, eu lambo e mordo seu pescoço, e sua
barba raspa em meu rosto suado.
—Não posso. Sua veneração sempre me deixa
inútil.
— Para mim você pode. Mostre-me seu rosto. – Ele
pede asperamente, e me bate novamente com um
golpe de seus quadris.
Grito com a penetração súbita e profunda e fico
bem de novo.
— Por quê? – Exclamo em frustração e tempo em
êxtase. Me mantém nesse ponto, o ponto entre a
tortura e um prazer sobrenatural.
— Porque eu posso.
Coloca-me virada para cima e novamente penetra
com um grito de satisfação. Seu ritmo e dinâmica
aceleram. Nosso modo de fazer amor se tornou
mais intenso nas últimas semanas. É como se uma
luz tivesse sido ligada, e Miller notou que tomar um
pouco mais de força e agressividade não faz
diminuir o nível de veneração em nossos encontros.
Ele ainda faz amor comigo. Eu posso tocá-lo e beijá-
lo, e ele me retribui, responde e não para de me
dizer palavras amor, e me deixa claro que ele tem o
controle. É desnecessário. Eu confio no meu corpo,
tanto quanto confio em meu amor agora.
Agarra-me os pulsos, segurando-me firmemente
acima de sua cabeça e se apoia em seus braços
tonificados, cegando-me dos músculos definidos
de seu torso. Os dentes estão cerrados, mas ainda
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posso detectar esse feixe suave da vitória. Ele está
feliz. Ele é encantador no seu desespero de dar
prazer. Mas ele é tão desesperado por mim. Eu
levanto os quadris e começo a receber o forte
bombeamento. Nossos sexos colidem, ele se afasta
e volta a mergulhar de volta para dentro de mim
várias vezes.
— Você está tão apertada em volta de mim. Minha
doce menina –, suspirou.
Uma onda rebelde salta a testa com cada impacto
de nossos corpos. Cada uma de minhas terminações
nervosas começa a se contorcer com prazer
incontrolável, que se acumula no meu sexo. Eu
tento desesperadamente me conter, qualquer que
seja apenas para prolongar a magnífica imagem que
tenho diante de mim, encharcada de suor, seu rosto
quebrado com um prazer tão intenso que poderia
ser confundida com a dor.
— Miller! – Eu grito em êxtase. Minha cabeça
começa a tremer, mas meus olhos permanecem
fixos nos dele. — Por favor!
— Por favor, o quê? Você precisa vir?
— Sim!–, exclamo, e prendo a respiração quando os
ataques com tal intensidade me empurram para a
cabeceira da cama. — Não!– Eu não sei o que eu
faço. Eu preciso explodir, mas eu quero ficar para
sempre nesse lugar distante de tudo.
Rosnando Miller deixa seu queixo cair no peito e seu
aperto feroz libera meus pulsos, eu subo meus
braços imediatamente até os ombros. Cravo
minhas unhas curtas com força.
— Foda-se!–, ruge, e acelera o ritmo.
Eu nunca tinha tido tanta força, mas no meio desse
enorme prazer não há espaço para preocupação. Ele
não está me machucando, embora eu suspeite
que esteja machucando a ele. Meus dedos estão
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doendo.
Digo alguns palavrões e recebo cada impulso até
que de repente pára. Eu posso senti-lo expandir
dentro de mim, e depois de volta ele afunda
ligeiramente e expulsa um longo rosnado baixo.
Ambos descemos abruptamente em um abismo de
sensações indescritíveis e maravilhosas.
A intensidade do meu clímax me deixa sem sentido,
e como Miller cai no meu peito sem se preocupar se
está me esmagando me diz que ele está igual.
Ambos sem fôlego, ambos palpitamos
completamente exausto. Eu acho que essa intensa e
frenética vida amorosa poderia ser considerada
foda, e quando eu sinto que as mãos começam a
me acariciar e sua boca rasteja pelo meu rosto
olhando para os meus lábios, eu sei que Miller está
pensando o mesmo.
— Diga-me que não doeu. – Ele dedica alguns
momentos para adorar a minha boca, levando-a
macia e delicadamente beliscando em meus lábios
cada vez que ele se afasta. Eu posso sentir suas
mãos me adorando, descendo e acariciando-me em
todos os lugares. Eu fecho meus olhos, suspiro e
absorvo a sua atenção enquanto um sorriso
vagaroso e recolhe as poucas forças restantes para
abraçar e infundir segurança.
— Você não me machucou.
Eu sinto seu corpo pesado em mim, mas eu não
tenho nenhum desejo de aliviar o fardo. Estamos
ligados... Em toda parte.
Eu respiro profundamente.
— Eu te amo, Miller Hart.
Ele sobe lentamente até que olha para mim com
olhos brilhantes e os cantos de sua boca se curvam
para cima.
— Eu aceito seu amor.
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Eu tento em vão olhar irritada, mas só começo a
imitar a sua onda de alegria. É impossível quando,
recentemente, não mostrava o seu sorriso, que era
tão caro para ver.
— Você é um atrevido.
— E você, Olivia Taylor, você é uma dádiva de
Deus.
— Ou uma posse. – Dá um sussurro.
— Pelo menos no meu mundo.
Beija-me em ambas as pálpebras suavemente,
antes de levantar os quadris para sair de mim e
sentar-se sobre os calcanhares. Ajusto minhas veias
de satisfação e inundações de paz, quando ele me
puxa para seu colo e coloca minhas pernas em
torno de sua volta. As roupas se tornaram um
monte de tecido enrugado ao nosso redor, e ele não
parecia se importar, no mínimo.
— Isso é um desastre de cama –, diz com um
sorriso provocante enquanto coloca meu cabelo por
cima do ombro e desliza as mãos pelos meus braços
para cima, me agarrando.
— Minha obsessão por você na cama comigo,
excede em muito o de ter roupas ordenadas.
Meu sorriso se transforma em um enorme sorriso.
— Por que, Sr. Hart, você acabou de admitir que
você tenha uma obsessão?
Ele inclina a cabeça e eu flexiono uma das mãos até
eu perder o meu tempo e retirar a mecha de cabelo
rebelde da sua testa.
— Talvez você tenha razão. – Ele responde
totalmente sério e sem humor em seu tom certo.
Minha mão viaja em seus cachos. Eu o olho com
cuidado, esperando encontrar sua preciosa covinha,
mas não vejo, e olho interrogativamente, tentando
descobrir se ele está finalmente admitindo que sofre
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de TOC (transtorno obsessivo compulsivo),
tremendamente.
— Posso. – Acrescenta mantendo o rosto
inexpressivo.
Eu suspiro e espeto-lhe no ombro, forçando a risada
de som mais doce para escorregar da boca dele. A
visão e o som de Miller, exibindo o divertimento,
nunca falha de me fascinar. É sem dúvida a coisa
mais linda do mundo – não só o meu mundo, mas
do mundo todo. Tem que ser.
— Estou inclinada a dizer definitivamente –, eu
digo, interrompendo seu riso.
Ele balança a cabeça encantado.
— Você percebe o quanto me custa a aceitar que
você está aqui?
Meu sorriso se transforma em confusão.
— Nova Iorque?
Eu teria ido para Mongólia estrangeira, se ele
tivesse pedido. Em qualquer lugar.
Ele ri e olha para o lado um pouco. Agarro sua
mandíbula e viro seu rosto perfeito de volta ao meu.
— Explique-se. – Levanto as sobrancelhas com
autoridade e pressiono meus lábios juntos, apesar
da enorme necessidade que sinto em compartilhar
sua felicidade.
— Estar aqui –, ele diz com um encolher de ombros,
sólidos. — Comigo.
— Na cama?
— Na minha vida, Olivia. Transformando a luz
ofuscante de minha escuridão – Seu rosto vem
perto e seus lábios espreitam os meus.
— Transformando meus pesadelos em lindos
sonhos.
Ele está segurando meu olhar em silêncio, enquanto
espera para eu assimilar suas palavras sinceras.
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Como muitas das coisas que ele diz agora, eu
entendo e compreendo perfeitamente.
— Você poderia limitar-se a dizer-me o quanto você
me ama. Isso iria funcionar.
Eu pressiono meus lábios, desesperada para me
manter. É difícil quando ele apenas roubou meu
coração caído do meu peito com uma declaração tão
poderosa. Eu quero empurrá-lo de costas e
demonstrar meus sentimentos por ele com um beijo
de parar o coração, mas uma pequena parte de
mim anseia que ele pegue minha dica nada sutil. Ele
nunca disse nada sobre me amar. Sempre que ele
fala é de fascínio, e eu sei o que ele quer dizer. Mas
eu não posso negar o meu desejo de ouvir essas
três palavras tão simples.
Miller me deita de costa e cobre de beijos cada
milímetro de meu rosto vermelho devido à sua
barba por fazer.
— Estou profundamente fascinado por você, Olivia
Taylor. – Segura meu rosto entre as palmas das
mãos. — Você nunca vai saber o quanto.
Rendo-me a Miller para me deixar fazer o que ele
quiser.
— Embora gostasse de passar o dia inteiro perdido
sob esses lençóis com a minha obsessão, nós temos
um compromisso. – Meu nariz é mordiscado e ele
me puxa pra fora da cama me colocando de pé
brincando com o meu cabelo. — Tome um banho.
— Sim senhor!– Ela o cumprimenta, e ignora o rolar
de olhos dele e vai pra o chuveiro.
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CAPÍTULO 2
Estou parada na calçada do lado de fora do hotel,
olhando para céu. Faz parte da minha rotina diária.
Durante toda a manhã e à esquerda de Miller, se
vamos fazer algo junto eu fico na beirada da rua,
com a cabeça para trás, olhando fixamente as
maravilhas até o céu. As pessoas desviam-se, táxis
e veículos esportivos passam na minha frente a
toda a velocidade, e o caos New York satura meus
ouvidos. Estou cativa sob o feitiço de torres de vidro
e metal que guardam a cidade. É incrível.
Poucas coisas podem me tirar do meu estado de
abstração, mas seu toque é um deles. E sua
respiração no meu ouvido.
— Boomm–, ele murmura, transformando-me em
seus braços. — Eles não crescem durante a noite,
você sabia?
Eu olho para cima novamente. — É que eu não
entendo como eles ficam no lugar.
Fecha minha boca e puxa meu maxilar. Seu rosto é
suave e divertido.
— Talvez você devesse satisfazer esse fascínio.
Meu pescoço se retrai. — O que quer dizer?
Sua mão desliza para baixo do meu pescoço e
começa a me orientar em direção a Sixth Avenue.
— Que talvez você devesse começar a pensar em
estudar engenharia estrutural.
Me solto e coloco minha mão na sua. Eu e ele
entrelaçamos os dedos para acomodar nossas
mãos.
— Eu prefiro a história do edifício, não como foi
construído.
Eu olho para ele, eu deixo meus olhos caírem sobre
sua longa figura e sorrio. Ele está de jeans. Uma
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linda e confortável calça jeans e uma camisa branca
simples.
Usar ternos aqui seria extremamente inadequado.
Eu não hesitei em dizer a ele. Ele nem protestou e
deixou arrastá-lo pela Saks durante nosso primeiro
dia na cidade.
Não há necessidade de usar ternos em Nova York.
Ele não precisa fingir ser um distinto cavalheiro. No
entanto, Miller Hart ainda não fica bem confortável
vagando sem rumo. Ou se misturando com o resto.
— Então você não se lembra do seu desafio do dia?-
Pergunta levantando a sobrancelhas quando
paramos na frente de um sinal vermelho.
Eu sorrio.
— Sim, e eu estou pronta.
Ontem eu me perdi por horas na Biblioteca Pública
de Nova York, enquanto Miller fez uma chamada de
negócios. Eu não quero sair. Tortura-me um pouco
olhar "Gracie Taylor" no Google, mas é como se ela
nunca tivesse existido. Depois de algumas
tentativas frustradas, eu me perdi entre dezenas de
livros, mas nem todos eram de arquitetura
histórica. Eu também dei uma olhada sobre TOC, e
eu aprendi algumas coisas, tais como a sua relação
com a raiva. Miller, certamente tem um
temperamento.
— Qual edifício você escolheu?
— O Brill.
Ele parece estranhar.
— O Brill?
—Sim.
— Por que não o Empire State ou Rockefeller?
Eu sorrio.
— Todo mundo conhece a história dos dois.
Eu também achava que todo mundo conhecia a
história da maioria dos edifícios em Londres, mas
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estava errada. Miller não sabia nada sobre o Café
Royal e sobre sua história. Eu posso ter mergulhado
demais na opulência de Londres. Eu sei tudo sobre
ele, e eu não sei se isso me faz uma pessoa
obcecada triste ou me faz um maravilhoso guia.
— Ah sim?
Sua pergunta me enche de alegria.
— O Edifício Brill é menos conhecido, mas eu tenho
ouvido falar dele e eu acho que você gostaria de
saber o que eu aprendi. – As Luzes do sinal mudam
de cor e começamos a caminhar. — Ele tem uma
história interessante relacionado à música.
— De verdade?
— Sim. – Eu olho para ele e sorrio docemente. Pode
parecer surpreendente com os meus dados
históricos inúteis sobre arquitetura, mas eu sei que
eu gosto do meu entusiasmo.
— E você? Você se lembrou de seu desafio? – Eu
sou forçada a parar antes de atravessar outra rua.
Meu querido homem obsessivo e encantador, faz
beicinho e eu cuidadosamente observo. E sorrio. Ele
se lembra.
— Algo sobre fast food.
— Cachorro quente.
— Isso –, confirma cheio de vergonha — Você quer
que eu coma um cachorro-quente.
— Exatamente –, confirmo animada por dentro.
Todos os dias, desde que eu cheguei à Nova York,
temos proposto desafios um para o outro. Aquelas
propostas de Miller para mim têm sido bastante
interessantes, desde a preparação de um discurso
sobre um edifício local, como tomar banho sem
tocá-lo, mesmo que ele me toque. Foi uma tortura e
falhou miseravelmente; embora não parecia
importar-se muito, ele me fez perder um ponto. O
que tenho proposto a ele são coisas muito infantis,
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mas totalmente adequada para Miller, como estar
sentado no gramado do Central Park, comer em um
restaurante sem perfeitamente alinhar o copo de
vinho, e agora comer um cachorro-quente. Meus
desafios são muito fáceis... na aparência. Ele
conseguiu fazer alguns e não outros, como não
mover o copo de vinho. Como estamos indo? Oito a
sete para Olivia.
— Como queira –, responde, e tenta me puxar para
o outro lado da rua, mas eu fico firme e espero ele
voltar sua atenção para mim.
Ele me observa atentamente e, claramente,
pondera em sua cabeça.
— Você vai me fazer comer cachorro-quente de um
daqueles carrinhos horríveis, certo?
Eu aceno sabendo que ele tem visto o carrinho sujo
que fica apenas a alguns passos de distância.
— Aqui tem um.
— Conveniente –, murmura relutante, e segue-me
para o carrinho.
— Quero dois cachorros, – eu digo para o vendedor
com Miller me esperado, nervoso e desconfortável.
— Claro, querida. Cebola? Ketchup? Maionese?
Miller dá um passo adiante. —Nada!
— De tudo!– Eu o interrompo, o empurrando para
trás ignorando seu suspiro de indignação. – E
muito.
O vendedor começa a rir quando ele carrega o
cachorro com cebolas empilhadas, bastante ketchup
e maionese junto.
— A senhora não gosta de nada –, diz, entregando
o produto.
Eu passo direto a Miller com um sorriso.
—Gosto.
— Duvido muito –, Miller murmura olhando para o
seu café da manhã, hesitante.
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Eu sorrio me desculpando com o vendedor, pego o
meu cachorro e dou-lhe uma nota de dez dólares.
— Fique com o troco. – Eu digo, pegando o braço de
Miller e eu vou levando-o rapidamente.
— Isso foi muito rude de sua parte.
— O que? – Ele pergunta sinceramente, eu reviro
meus olhos para sua insensibilidade.
Afundo meus dentes em uma extremidade do meu
pão e faço um gesto para ele fazer o mesmo. Mas
ele apenas observa o cachorro-quente como se
fosse a coisa mais estranha que já viu. Ele começa
a girar na mão várias vezes, como se olhasse para
ele a partir de um ângulo diferente fosse torná-lo
mais palatável. Eu permaneço em silêncio,
apreciando o meu, e esperando por ele dar uma
mordida no seu. Estou na metade do meu, quando
ele toma a iniciativa de mordiscar uma
extremidade.
Então eu assisto com horror, que é quase irreal
para Miller, com um monte de cebola misturada a
quantidades copiosas de ketchup e maionese
deslizam na outra extremidade e cai na camisa
branca.
— Ups... – Meus lábios enrugam e engulo em seco,
me preparando para a explosão iminente.
Ele olha seu peito, com a mandíbula cerrada, e joga
o cachorro imediatamente ao chão. Todo tenso, eu
mordo meu lábio com força para evitar dizer algo
que eu possa atiçar a irritação clara, que emana
dele. Pego meu guardanapo e começo a esfregar,
freneticamente, espalhando a mancha, tornando-a
ainda maior. Encolho os ombros. Miller respira
profundamente para se acalmar. Em seguida, fecha
os olhos e os abri novamente devagar,
concentrando-se em mim.
— Só... porra... perfeito.
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Minhas bochechas incham, eu mordo meu lábio duro
e faço o meu melhor para não rir, mas eu não
posso. Eu jogo o meu cachorro quente no lixo mais
próximo e perco o controle.
— Sinto muito! – exclamo. —É só que... Você
encara como se o mundo fosse acabar.
Com brilho nos olhos, ele agarra o meu pescoço e
guia-me pela rua, enquanto eu me esforço para me
controlar. Ele não ia gostar se estivéssemos em
Londres, Nova York ou em Cochinchina.
— Isso vai fazer –, declara.
Eu olho para cima e vejo uma loja Diesel do outro
lado da rua. Ele guia-me rapidamente para o outro
lado da calçada, com apenas três segundos para a
contagem regressiva do Semáforo para pedestres.
Ele não queria atrasar sua missão de se livrar da
mancha horrível em sua camisa.
Estou completamente convencida de que isso não
seria uma de suas lojas de sua preferência em
circunstâncias normais, mas seu estado sujo não
permitiria procurar uma menos casual.
Nós entramos e imediatamente somos
bombardeados pela explosão de música alta. Miller
remove sua camisa e revela quilômetros de
músculos firmes na frente de todos.
Linhas definidas sobem a partir do cós da calça
jeans e deriva em abs estupidamente tenso... e que
peito... Eu não sei se choro por prazer ou se grito
por ele expor essa magnífica visão, perante todos.
Vários funcionários do sexo feminino competem
para ser o primeiro a chegar até nós.
— Que posso ajudar? – A Minúscula asiática ganha a
corrida e sorri maliciosamente para suas parceiras,
antes de babar em Miller.
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Para minha alegria, ele colocou sua máscara.
— Uma t-Shirt, por favor. Seja qual for – Ele acena
com a mão para a loja com desdém.
— Claro!– Ela fala e seleciona vários itens no
caminho e dizendo para segui-la, o que fazemos
quando Miller coloca sua mão sobre a minha nuca.
Nós caminhamos até chegar ao fundo da loja e a
funcionária tem um monte de roupas em seus
braços. Ela deixa no provador. — Chame-me se
precisar de ajuda.
Eu sorrio. Miller me dá um olhar de soslaio curioso e
sedutor, torcendo o nariz da dona.
— Eu acho que você tem que medir seus bíceps –,
eu me aproximo e passo a mão pela coxa com as
sobrancelhas levantadas. — Ou o interior da perna.
— Descarada –, ele simplesmente diz antes de virar
seu torso nu para a funcionária e avaliar a
montanha de roupas que ela tem em seus braços.
— Essa será suficiente.
Pega uma camisa azul e branca ocasional com
mangas arregaçadas e um bolso em cada peito. Ele
arranca a etiqueta cuidadosamente e joga longe,
deixando a Miss Glamour com os olhos arregalados
e eu o sigo para o caixa.
Deixe as tags no balcão ao lado de uma nota de
cem dólares e os botões de fixação.
Vejo quando ele sai da loja, e a funcionária
permanece ao meu lado, ainda atordoada e
babando.
— Obrigado. – Eu sorrio e vou atrás do meu
cavalheiro, parte esnobe e parte rude.
— Isso foi tão rude! – Exclamei quando o encontro
na rua, fechando o último botão.
— Eu comprei uma camisa. – Os braços caem a seu
lado, claramente surpreso com a minha raiva.
26
Preocupo-me com o fato de que é tão pouco
consciente do seu comportamento original.
— Você acha normal sua maneira de comprar?– Eu
pergunto, e eu olho para o céu, pedindo ajuda.
— Eu disse à funcionária o que queria, ela
encontrou, eu peguei e paguei a camisa. – Ele
abaixa a cabeça, cansado e eu encontro a familiar
expressão impassível.
—Ignorante.
— Apenas estou expondo os fatos.
Mesmo que eu tenha energia para discutir com ele,
o que não é o caso, eu nunca venceria. Velhos
hábitos custam a morrer.
— Está melhor?– pergunto.
— Isso vai ajudar. – Ele passa a mão sobre a
camisa e puxa a bainha.
— Sim, vai ajudar. – Ele suspira. — E agora para
onde vamos?
Coloca a mão no meu pescoço, no seu lugar favorito
e volta com um movimento do pulso.
— No edifício brilhante. É hora para o seu desafio.
— É Brill Building –, eu rio. — E é desse jeito. – Eu
desvio rapidamente, fazendo Miller perder seu
domínio e seguro sua mão. — Você sabia que
muitos músicos conhecidos escreveram seus
sucessos naquele prédio? Algumas das canções
mais famosas da história dos Estados Unidos.
— Fascinante –, diz Miller olhando-me com ternura.
Sorrio e estendo a mão para acariciar seu queixo
barbudo.
— Não é tão fascinante como você.
Depois de algumas horas vagando por Manhattan e
dando a Miller uma lição de história, não só no Brill
Building, mas também a igreja de St.Thomas,
começamos a passear pelo Central Park. Nós
levamos o nosso tempo, caminhando em silêncio
27
por um caminho arborizado, com bancos em ambos
os lados e um senso de paz nos envolve, deixando
para trás o caos de concreto. Assim que cruzamos a
estrada que corta o parque ao meio, se esquivou de
todos os corredores, e desceu as escadas de
concreto que leva a uma gigantesca fonte, onde eu
curvo a minha cintura e me coloco em pé na borda.
— Lá!–, ele diz, alisando minha saia para baixo.
— Dê-me sua mão.
Eu faço o que me pedi, sorriu para a formalidade e
deixo-o guiar-me ao redor da fonte. Ele continua no
chão, com a mão levantada para manter contato,
enquanto eu estou sobre a fonte. Eu tomo alguns
pequenos passos e vejo como ele desliza a mão
livre no bolso da calça jeans.
— Quanto tempo precisamos ficar aqui? – Peço
calmamente, retornando os meus olhos para frente,
principalmente para garantir que eu não escorregue
na parede e um pouco para evitar o que eu sei que
vai ser um rosto rasgado.
— Eu não tenho certeza, Olivia.
— Tenho saudades da minha avó.
— Eu sei. – Ele aperta minha mão em uma tentativa
de inspirar confiança. Não vai funcionar. Eu sei que
William vai estar no comando de seu bem-estar na
minha ausência, algo que me preocupa porque nós
ainda não sabemos o que ele disse a minha avó
sobre sua história com a minha e sua história
comigo.
Eu olho para cima e vejo uma menina correndo em
minha direção com muito mais estabilidade do que
eu. Não há espaço suficiente para as duas, então eu
estou prestes a sair, mas engulo em seco quando
Miller me agarra e me lança para permitir que a
garota rodeie antes de me colocar de volta na borda
elevada da fonte. Apoio as mãos em seus ombros
28
enquanto ele leva alguns momentos para arrumar
minha saia novamente.
— Perfeito –, diz para si mesmo, e pega a minha
mão para me guiar novamente. — Você confia em
mim, Olivia?
Sua pergunta me pega de surpresa, não porque
duvide de minha resposta, mas porque ele ainda
não tinha perguntado isso desde que chegamos. Ele
não falou sobre o que deixamos para trás em
Londres e que tem sido tudo bem, por mim.
Canalhas imorais, alguém me seguindo, Cassie vai
toda lunática com Miller, Sophia me avisando,
correntes, sexo por dinheiro...
Surpreendi-me como era fácil para eu enterrar tudo
isso dentro de mim, no caos de Nova York. Um caos
que eu estou achando calmante em comparação ao
que eu poderia estar me torturando. Eu sei que
Miller ficou um pouco confuso por minha falta de
pressão, mas há uma coisa que eu não consigo
ignorar tão facilmente. Algo que sou incapaz de
falar em voz alta, ou para Miller ou para mim
mesma.
Tudo o que eu precisava era saber que minha avó
seria bem cuidada. Agora eu sinto que tenho tempo
para a aceitação silenciosa de Miller sobre o meu
silêncio.
— Sim –, eu digo enfaticamente, mas ele não olha
para mim ou reconhece a minha resposta. Ele
continua olhando para frente, segurando a minha
mão suavemente enquanto eu sigo a curva da
fonte.
— E eu confio em você para compartilhar suas
preocupações comigo. – Ele para e se vira para
mim. Agarra-me nas duas mãos e me olha no rosto.
Eu fecho meus lábios. Eu quero ainda mais para que
ele me conheça tão bem, mas eu odeio o fato de
29
que isso significa que eu nunca posso esconder
nada.
Eu também odeio que ele se sinta tão obviamente
culpado de ter me arrastado a esse mundo.
— Diga-me, Olivia. – Seu tom é suave,
incentivando. Desesperado.
Meus olhos caiem para seus pés vendo-os mover
mais perto.
— Estou sendo boba –, eu digo, balançando a
cabeça ligeiramente. — Eu acho que toda a
comoção e tanta adrenalina me chateiam um pouco.
Ele me agarra pela cintura e me senta na borda da
fonte. Em seguida, ele se ajoelha e pega meu rosto
em suas mãos.
— Diga-me. – sussurra.
Sua necessidade de me confortar, dá a coragem de
cuspir o que estava me atormentando desde que
chegamos aqui.
— No aeroporto de Heathrow... Eu pensei ter visto
alguma coisa, mas eu sei que não foi. Eu sei que é
impossível e totalmente absurdo, e eu não podia ver
bem, estava tão estressada e cansada. – Suspiro
ignorando seu olhar arregalado. — Eu sei que isso
não pode ser. Porque ela está morta...
— Olivia! – Miller interrompe o meu vômito verbal,
de olhos arregalados e com um olhar de alarme em
sua face perfeita. — Que diabos você está falando?
— De minha mãe. Eu acho que a vi.
— O fantasma dela?
Eu não tenho certeza se eu acredito em fantasmas.
Ou talvez eu faça agora. Eu não sei o que dizer
então eu me limito a dar de ombros.
— Em Heathrow? – Insiste.
Eu assinto.
30
— Quando você estava esgotada, sensível por ser
sequestrada por uma ex-acompanhante com um
temperamento terrível?
Eu olho para ele com desconfiança.
— Sim –, disse com os dentes cerrados.
— Vê –, ele diz, e desvia o olhar brevemente antes
de voltar para me olhar nos olhos. — É por isso que
você está tão quieta e cautelosa?
— Eu percebo quão estúpida eu sou.
— Não estúpida –, ele argumenta em silêncio. —
Luto.
Eu franzo a testa, mas ele continua antes que eu
possa questionar a sua conclusão.
— Olivia, já passamos por tanta coisa. Ambos de
nossos passados têm sido muito presentes nas
últimas semanas. É compreensível que você
estivesse se sentindo perdida e confusa. – Ele chega
para frente e descansa seus lábios nos meus. — Por
favor, confie em mim. Não deixe que seus
problemas pesem você, quando eu estou aqui para
ajuda-la a suportar. – Se afastando, suaviza os
polegares através de minhas bochechas e me
derrete com a sinceridade que está brilhando de
seus extraordinários olhos. — Não gosto de você
triste.
De repente, eu me sinto muito boba e nada mais a
dizer. Envolve-me com os braços e chega mais
perto. É certo. É normal que minha mente esteja
atrapalhada depois de tudo que passamos até aqui.
— Não sei o que faria sem você.
Aceitando o meu forte abraço pega meu cabelo e
inala. Eu observo como eu tenho um bloqueio e
começo a mexer com ele.
— Bem, você estaria vivendo em Londres, vivendo
calmamente, – sussurra.
31
Sua declaração sombria me obriga a sair
imediatamente do calor do seu corpo. Eu não gosto
dessas palavras, muito menos seu tom.
— Uma vida vazia –, respondo.
— Prometa-me que nunca vai me abandonar.
— Eu prometo – Fala sem hesitar um segundo e diz:
— Mas agora isso não parece suficiente.
Eu não sei o que mais eu posso dizer para fazê-lo
me convencer. É semelhante ao que acontece com
ele sobre o meu amor. Eu sei que ele ainda está
hesitando, e eu não gosto. Ainda vivo com medo de
sair de novo, mesmo que não queira.
— Eu quero um contrato –, eu digo. — Algo legal
que diz que você não pode me deixar.
O que ele disse, eu percebo como idiota eu olho,
dou de ombros e me dou um tapa mental, através
de Central Park. — Eu entendi errado.
— Assim espero! – Ele diz, e quase caio de bunda a
seu lado em estado de choque.
Talvez não tenha esse significado, mas com sua
reação me sinto como se levasse um chute no
estômago. Eu não teria um casamento, ou qualquer
coisa além de tempo. Muitas coisas ofuscaram
nossos sonhos do futuro e felicidade juntos, mas
isso não ajuda. Sua aparente rejeição a ideia, faz
surgir algo em longo prazo ser impossível. Eu quero
casar um dia. Eu quero ter filhos, um cachorro, e o
calor de um lar. Eu quero a casa confusa e crianças.
Eu só percebi que eu quero compartilhar tudo isso
com Miller.
Então a realidade cai sobre mim. É claro que o
casamento parece algo terrível. Ele abomina
desordem, que coloca a casa de família
totalmente eliminada. E as crianças... Bem, eu não
vou perguntar, e não acho que é necessário, porque
eu me lembro da imagem de uma criança perdida e
32
desalinhada.
— Devemos ir –, digo, colocando-me de pé na
frente dele antes de adicionar mais coisas estúpidas
e ter que enfrentar outra reação indesejada. —Estou
cansada.
— Concordo – Responde claramente aliviado. Isso
não aumenta o meu humor. Nem as minhas
esperanças para o futuro... quando poderíamos
finalmente nos concentrar em nosso “viver felizes
para sempre".
33
CAPÍTULO 3
A atmosfera tem sido tensa e desconfortável entre
nós, desde que saímos Central Park. Miller me
deixou para me entreter na suíte e escolheu
desaparecer no espaço do escritório para a varanda.
Ele tem negócios a tratar. Não é raro para ele
passar uma hora fazendo chamadas, mas já se
passaram quatro horas, e em todo esse tempo
ele não levantou sua cabeça, e não me disse nada
que mostrasse sinal de vida.
Estou na varanda. Eu sinto o sol no meu rosto e me
inclino para trás na cadeira, desejando
silenciosamente que Miller esteja me olhando.
Desde que chegamos à Nova York, nunca tínhamos
sido assim por tanto tempo, sem algum tipo de
contato físico, e estava ansiosa para tocá-lo. Ele
estava ansioso para escapar da tensão quando
voltamos do nosso passeio, e eu estava aliviada por
mim mesma, quando ele murmurou a sua intenção
de trabalhar um pouco, mas agora me sinto mais
perdida do que nunca. Liguei para minha avó e
Gregory e eu conversamos de braços cruzados
sobre nada em particular. Eu também li metade do
livro de história, que Miller comprou ontem, e não
me lembro de nada.
E agora eu estou deitada aqui (são quase cinco
horas), brincando com meu anel e virando a cabeça
sobre a nossa conversa no Central Park.
Suspiro, eu tiro o meu anel, eu o uso novamente,
eu dou algumas voltas, estava paralisada quando
ouço o movimento através das portas do
escritório. Vejo que a maçaneta girar, e
rapidamente pego o livro e enterro meu nariz nele,
para dar a impressão de estar focada na minha
34
leitura.
A porta range e olho para cima a partir da página
que eu abri de forma aleatória. Miller está na porta,
me olhando. Ele está descalço, com o botão de cima
de seu jeans desabotoado e sem camisa. Ele tem o
cabelo selvagem, como se ele tivesse correndo os
dedos pelos cachos; e como eu olho em seus olhos
eu sei que isso é apenas o que ele estava fazendo.
Eles estão cheios de desespero. Tento sorrir e
quando isso acontece, eu me sinto como um milhão
de dardos preso em meu coração. Eu coloco o livro
de lado, me sento com os joelhos perto do queixo e
abraço minhas pernas.
A tensão está ainda espessa, mas tê-lo em torno de
novo é reacender a minha serenidade perdida.
Fogos de artifício crepitam sob a minha pele,
trabalhando sua maneira profunda, familiar e
reconfortante.
O sentimento é familiar e confortável.
Ele passa alguns momentos em silêncio, com as
mãos nos bolsos e um pouco encostado no batente
da porta, pensando. Então ele suspira e sem
falar nada, vem e senta-se na espreguiçadeira atrás
de mim, me incentivando a seguir em frente, antes
dele se estabelecer, desliza seus braços sobre os
meus ombros e puxa minhas costas no peito dele.
Fecho meus olhos e eu absorvo a totalidade dele,
seu sentir, seu batimento cardíaco contra mim e sua
respiração no meu cabelo.
— Desculpa –, ele sussurra, pressionando os lábios
contra meu pescoço. — Eu não quis te tornar triste.
Minhas mãos começam a desenhar círculos lentos
sobre o tecido da sua calça jeans.
— Está tudo bem.
— Não está nada bem. Se eu pudesse ter um desejo
–, ele começa a correr lentamente os lábios no meu
35
ouvido. — Gostaria de ser perfeito para você.
Ninguém mais, só você.
Abro os olhos e me viro para encará-lo.
— Bem, eu acho que o seu desejo já se tornou
realidade.
Ele ri um pouco e coloca a mão na minha bochecha.
— Você deve ser a pessoa mais linda que Deus
criou. Aqui... –, diz correndo a mãos ao redor do
meu rosto. — E aqui... –, coloca a palma da mão
em meu peito. Me beija ternamente os lábios, em
seguida, nariz, bochechas e testa. — Há algo para
você na mesa.
Instintivamente, eu me afasto.
— O que é?
— Vá ver. – Ele me encoraja, se inclina na cadeira e
faz um gesto com as mãos para as portas do
escritório. — Rápido!
Eu olho para a porta e a Miller várias vezes, até que
ele levanta uma sobrancelha expectante e eu movo
a bunda. Eu cruzo a varanda cheia de desconfiança
e curiosidade quando eu sinto seus olhos azuis nas
minhas costas, e quando eu chego à porta, olho por
cima do ombro. Em seu rosto perfeito eu vislumbro
um leve sorriso.
— Vá. – ele diz, pegando o meu livro na mesa e
começa a virar as páginas.
Lábios firmemente juntos, eu me volto para a mesa
de luxo e exalo enquanto me sento na cadeira de
couro verde. Mas o coração quase pula do meu
peito quando eu vejo um envelope no centro,
perfeitamente posicionado paralelamente com a
parte inferior da borda da mesa. Começo a rodar o
anel em meu dedo, preocupada, cautelosa,
curiosa... A única coisa que vejo quando olho para
esse envelope é o outro envelope, que me deixa
gelada na mesa, porque continha a carta que
36
escreveu para mim quando ele me abandonou. Não
tenho certeza se quero ler, mas Miller deixou aqui.
Miller escreveu tudo o que tem contido dentro, e
essas duas combinações fazem Olivia Taylor sentir
uma curiosidade tremenda.
Eu pego, eu abro e percebo que a cola ainda está
molhada. Tiro o papel e desdobro lentamente.
Respiro fundo e me preparo para ler as palavras
que ele escreveu.
37
Eu imploro que você seja minha por toda a eternidade. Porque
eu juro que eu sou seu.
Nunca pare de me amar.
Seu eternamente,
MILLER HART
X
Eu leio novamente, e dessa vez uma enxurrada de
lágrimas encharca a minha face. Suas palavras
elegantes me batem duro e elas transmitem
plenamente o amor que Miller Hart sente por mim.
Então, releio novamente e novamente, e cada vez
que eu faço o meu coração se amolece e meu amor
por ele se intensifica, até que eu sou um desastre
emocional, chorando pela mesa chique, ficando com
o meu rosto dolorido e inchado de minhas lágrimas
implacáveis. Miller Hart se expressa perfeitamente
bem. Eu sei o que ele sente por mim. Agora eu me
sinto boba e culpada por ter duvidado... por fazer
um negócio tão grande, mesmo se eu fiz isso
silenciosamente para mim. Mas ele viu meu tumulto
interno. E ele tem consciência disso.
—Olivia?
Eu olho para cima e vejo-o na porta, preocupado.
— Eu fiz você ficar triste?
Todos os músculos doloridos se liquefazem, meu
corpo exausto emocionalmente afunda na cadeira.
— Não... Eu só... – Eu pego do papel e de sacudo
no ar, enquanto eu seco meus olhos. — Eu não
posso... – Reúno força suficiente para expressar
algo compreensível, — Desculpe-me, eu sinto
muito.
Me levanto da cadeira e forço as minhas pernas
para manter o equilíbrio e me aproximar dele. A
38
cabeça treme um pouco, eu estou com raiva de
mim mesma por fazê-lo sentir a necessidade de se
explicar quando eu sei exatamente como ele se
sente.
Quando eu me encontro apenas alguns centímetros
de distância, estende os braços para me congratular
com seu abraço, eu praticamente me lanço sobre
ele. Sentindo meus pés saírem do chão e
imediatamente enterro meu nariz em seu lugar
favorito.
— Não chore –, ele me consola, apertando-me com
força. — Não chore, por favor.
Estou tão animada que eu não sou capaz de falar,
então eu retribuo o abraço com a mesma
intensidade e prazer de sentir cada borda afiada de
seu corpo contra o meu. Continuamos entrelaçados
por uma eternidade. Eu tento recuperar a
compostura, e ele espera pacientemente para eu
fazê-la.
Quando ele finalmente tenta me separar de seu
corpo, eu permito. Ele cai de joelhos e me puxa
para encontrar-me no chão com ele. Recebe-me
com um belo sorriso, empurra meu cabelo longe do
meu rosto e seus polegares recolhem as lágrimas
que fugiram dos meus olhos.
Ele está prestes a falar, mas, em vez disso, faz
beicinho e vejo a sua luta interna para expressar o
que ele quer dizer. Então eu decido falar em seu
lugar.
— Eu nunca duvidei do seu amor por mim. Eu não
me importo como você escolhe para se expressar.
— Fico feliz. Eu não tive a intenção de fazer você se
sentir mal.
Seu sorriso e seus olhos brilham intensifica.
— Eu estava preocupado.
— Por quê?
39
— Porque... – Ele baixa os olhos e suspira. — Todas
as mulheres, minhas clientes, são casadas Olivia.
Um anel e um certificado assinado por um padre
não significam nada para mim.
Sua confissão me surpreende. Lembro-me que
William disse alguma coisa que Miller Hart tem
claramente um problema com a moralidade.
Provavelmente ele nunca se envergonhou em
dormir com mulheres casadas em troca de dinheiro,
até que ele me encontrou. Passo a ponta dos dedos
sobre o queixo escuro e trago seu rosto perto do
meu.
— Eu te amo –, eu digo, e ele sorri com um sorriso
meio caminho entre tristeza e felicidade. Alegre e
escuros. — E eu sei que você sente um fascínio por
mim.
— É impossível você saber o quanto.
— Lamento discordar –, sussurro e coloco a carta
entre os nossos corpos.
Ele olha para ela e fica em silêncio por um
momento. Então, lentamente, levanta os olhos para
mim.
— Nunca farei nada menos que te adorar.
Empregarei cada segundo de minha vida a te
venerar.
— Eu sei.
— Cada vez que você sentir, eu tocar sua alma,
será gravado em sua linda cabeça para toda a
eternidade.
Eu sorrio.
— Eu sei.
Ele pega a carta e joga de lado e leva minhas mãos
aos olhos.
— Você faz apenas ser capaz de compreender a
minha realidade.
40
De repente, eu percebo que ele está expressando
em voz alta as palavras escritas. Preparo-me para
impedi-lo, para dizer-lhe que não é necessário fazê-
lo, mas ele coloca a ponta de seu indicador sobre
meus lábios para me silenciar.
— Você é a minha alma, Olivia Taylor. Você é minha
luz. Você é minha razão de viver. Nunca duvide. –
Sua mandíbula estava tensa, e, embora seja uma
versão reduzida de sua carta, ouvir pronunciar seu
discurso se faz mais difícil. — Eu imploro que você
seja minha por toda a eternidade. – Ele enfia a mão
no bolso e remove uma pequena caixa. — Porque
eu juro que eu sou seu.
Olho para a pequena caixa, apesar da minha
necessidade de manter contato visual com ele. Eu
sou muito curiosa. Quando ele pega minha mão
e coloca a caixa no centro da palma, eu finalmente
deixo seu olhar e olha para cima a para ele.
— É para mim?
Ele balança a cabeça lentamente e me senta em seu
colo.
— O que é?
Sorri, e ao fazer surge as covinhas em seu rosto,
tão difícil de resistir.
— Amo a sua curiosidade.
— Eu devo abri-lo?
Meus dedos chegam a sua boca e ele começa a
morder a ponta do polegar. Um turbilhão de
sentimentos, pensamentos e emoções invadem
minha mente.
— Talvez eu seja o único homem que pode
satisfazer essa curiosidade incessante que você
tem.
Eu rio um pouco e meu olhar corre entre a caixa e a
forma pensativa no rosto de Miller.
41
— Você é o único que desperta curiosidade em mim,
Miller, e minha sanidade depende de você saciar
também.
Ele se junta a meu entusiasmo e aponta para a
caixa.
—Abra-a.
Quando eu pego a tampa, meus dedos tremem de
emoção. Olho para Miller por um momento e vejo
que seus olhos azuis estão em mim. É tenso.
Nervoso. E isso me faz ficar nervosa também.
Levanto a tampa lentamente. E engasgo. É um anel.
— De diamantes –, sussurra. — A pedra.
Engulo em seco e olho para o comprimento do
grande anel que sobe formando um pico sutil no
centro: um diamante oval flanqueado por uma
pedra em forma de lágrima de cada lado. Outras
pedras menores ao redor do aro, tudo lindamente
cintilante. As peças estão embutidas no anel de
ouro branco, que são cortadas fazendo olhar cada
pedaço incrustado separado da pedra principal ter
evoluído diretamente do diamante principal. Eu
nunca tinha visto nada parecido.
— É uma antiguidade? – Eu pergunto, deixando
uma beleza para outra. Eu olho para ele. Ainda
nervoso.
— Art Nouveau de 1898 para ser exato.
Eu sorrio e balanço a cabeça com espanto. Ele é
sempre preciso.
— Mas é um anel –, eu digo, mesmo sendo óbvio.
Depois do momento tenso no Central Park e a carta
de Miller, esse anel me deixou fora do lugar.
Este anel foi tirado de mim apenas para um laço.
A caixa é de repente tirada do meu alcance e
colocada ao lado. Ele senta-se em seu bumbum,
pega a minha mão e me puxa para frente. Caminha
de joelhos e eu estou entre suas coxas. Estou nas
42
minhas pernas novamente e estou ansiosa por suas
palavras. Eu não tenho nenhuma dúvida de que elas
vão penetrar profundamente, tão profundamente
como os olhos de cristais azuis estão fazendo agora.
Pega a caixa e coloca entre nós. Flashes saem da
peça requintada, causando cegueira.
— Esta aqui –, diz apontando para o diamante
central, — Representa nós dois.
Cubro meu rosto com as palmas das mãos para que
ele não veja as lágrimas em meus olhos de novo,
mas isso não me dá muita privacidade por muito
tempo. Suas mãos pegam a minha e coloca no meu
colo e sua linda cabeça acena lentamente,
percebendo minha emoção.
— Essa pedra em forma de lágrima brilhante que
ladeia o diamante, sou eu.
Desliza o dedo até o outro lado.
— E essa representa você.
— Miller, eu...
— Shh. – Põe o dedo na minha boca e levanta as
sobrancelhas escuras como uma advertência
amorosa.
Uma vez certa de que cumpri seu desejo de deixá-
lo terminar, ele dá sua atenção de volta para o anel
e eu não posso fazer nada mais do que esperar por
ele terminar a sua interpretação do que esse anel
significa.
Ele descansa o dedo indicador sobre o diamante em
forma de lágrima que me representa. — Essa joia é
linda!
A almofada do dedo traça do outro lado do campo
correspondente a lágrima. — Ela faz essa mais
brilhante. – Ele complementa.
— Mas essa, que nos representa –, acrescenta
descansando seu dedo na joia principal, e olha para
43
meu rosto ardendo. — Essa é a mais brilhante, mais
cintilantes de todas elas.
Fecha os olhos lentamente, como ele normalmente
faz, e remove o antigo bloco de veludo azul escuro,
enquanto eu mantenho uma luta interna para
manter a compostura.
Esse homem perfeitamente imperfeito é mais bonito
do que ele jamais vai aceitar, mas eu sei que ele se
tornou um homem melhor também, não porque
tentei mudá-lo, mas porque ele quer ser uma
pessoa melhor. Por mim.
Levanta o anel e desliza o dedo sobre as dezenas de
pequenas pedras ao redor do topo.
— E todos esses fragmentos de brilho são os fogos
de artifício que criamos juntos.
Eu esperava que suas palavras me penetrassem
profundamente, mas eu fiquei paralisada.
— É perfeito. – Eu ergo minha mão, acaricio o seu
rosto áspero e sinto aqueles fogos de artifício
efervescerem para acender dentro.
— Ainda não –, tira minha mão de seu rosto. Eu
assisto deslizar lentamente o anel no meu dedo
anelar esquerdo. — Agora é perfeito.
Beijando o topo do anel no meu dedo, tão
brevemente que seja, coloca seu rosto contra a
minha palma e feche os olhos.
Eu estou sem palavras... quase. Ele acabou de
colocar um anel em meu dedo. Na mão esquerda.
Eu não quero quebrar a perfeição do momento, mas
há uma pergunta que continua a assombrar minha
cabeça.
— Você está me pedindo em casamento?
Seu sorriso, com sua covinha e uma ruga manhosa
em sua testa, quase me fez desmaiar. O que me
ajuda é que estou sentada na minha bunda,
enquanto coloco minhas pernas em torno de sua
44
cintura e ele me puxa para fechar o espaço entre
nós.
— Não, Olivia Taylor. Eu não estou pedindo. Eu
estou pedindo que você seja minha por toda a
eternidade.
Eu sou incapaz de conter a emoção que toma conta
de mim. Seu rosto, sua sinceridade... seu
esmagador amor por mim. Em outra tentativa vã de
esconder minhas lágrimas, me ato contra seu peito
e choro em silêncio, enquanto ele suspira em meus
cabelos e acaricia minhas costas com círculos
reconfortantes. Eu não sei por que eu choro quando
estou tão feliz.
— É um anel para a eternidade -, diz antes de
agarrar a cabeça entre as mãos e silenciosamente
me obrigar a vê-lo continuar. — O dedo que você o
usar não é importante. Além disso, você tem outra
pedra fantástica em seu outro dedo, e nunca me
ocorreu perguntar-lhe em substituir o anel de sua
avó.
Sorrio entre lágrimas. Eu sei que não é a única
razão de Miller colocar o anel em minha mão
esquerda. É a sua maneira de dar um pouco do que
eu imaginei que queria.
— Eu amo seus ossos, Miller Hart-.
— E você tem completamente o meu fascínio, Olivia
Taylor. – Ele coloca seus lábios nos meus e
completa a perfeição do momento, com um beijo
maravilhoso de veneração.
— Eu tenho um pedido -, diz contra a minha boca
no meio de uma das rotações delicadas de sua
língua macia.
— Eu nunca vou parar –, confirmo permitindo que
me ajude a levantar, enquanto mantemos nossas
bocas e nossos corpos juntos.
— Obrigado.
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Me pega, me segura contra seu peito e começa a
caminhar em direção à outra porta que leva à sala
de estar da suíte. O tapete em frente da
lareira é creme, cor suave, macio, e isso é para
onde estamos indo. Interrompe o nosso beijo e me
coloca de costas para ele.
— Espera. – Ele pede em um tom suave, e sai da
sala, me deixando com fogo e cheia de desejo.
Olho o anel e lembro-me da magnificência e quanto
isso significa. Meus lábios curvam e formam um
sorriso, mas tornam-se sério quando olho para cima
imediatamente e vejo Miller Hart nu.
Não diz nada enquanto avança em minha direção,
os olhos cheios de promessas de prazer. Eu estou a
ponto de ser adorada, e algo dentro de mim me diz
que essa sessão vai eclipsar todas as anteriores.
Percebo a necessidade emanando em cada poro do
meu corpo. Ele quer completar suas palavras, seu
dom, sua promessa e seu beijo com uma
confirmação física. Cada terminação nervosa, cada
gota de sangue e cada músculo do meu corpo é
transformado em calor.
Deixa um preservativo ao meu lado e se ajoelha,
com seu membro já sólido e latejando diante dos
meus olhos.
— Eu quero o meu hábito nua -, diz em voz baixa e
rouca, aumentando os meus desejos e
necessidades.
Caindo no cotovelo, de modo que seu corpo longo
flanqueia o meu lado, e minha pele se derrete
quando a mão desliza debaixo da minha saia de
tecido e viaja na curta distância até o interior da
minha coxa.
Tento inspirar e expirar profundamente e seguro a
respiração, mas apenas que o contenham. A
suavidade de suas mãos traçando círculos
46
tentadores perto da minha abertura é uma terrível
tortura, e nós ainda nem sequer começamos.
— Você está pronta para ser adorada, Olivia Taylor?
–Ele esfrega suavemente um dedo sobre a minha
calcinha e me faz arquear as costas e expirar
de uma vez.
49
Perco a razão. Desintegro as imagens de minha
mente, de modo que novamente me concentro em
seu rosto.
— Mantenha seus olhos em mim.
Seu pênis vai para trás e para fora do meu túnel
lentamente. A fricção preguiçosa me faz difícil de
cumprir sua ordem. Mas eu tento, mesmo quando
penetra dolorosamente lento. Todos e cada um dos
meus músculos são ativados e se esforçam para
imitar a sua velocidade controlada. Empurra duro e
cada vez que empurra me tira o fôlego e faz um
leve gemido escapar dos meus lábios. As arestas de
seu peito apertam e incham e um leve brilho de
suor começa a cobrir sua pele lisa. Apesar da
tortura de veneração por suas habilidades, os
rítmicos, e os constantes bombeamentos de seus
quadris me dando um prazer indescritível, eu
desenvolvo um padrão de respiração regular. Em
seguida, tritura-me com cada impulso, com o peito
arfando e apertando cada vez mais difícil.
Coloco minha mão em seu cabelo e puxo,
desesperada para agarrar em alguma coisa, porque
Miller está além de mim.
— Puta que pariu, Olivia. Assistir sua luta para adiar
dá-me uma satisfação doentia. – Fecha os olhos
bem fechados e seu corpo vibra.
Meus mamilos começam a doer e começo a sentir
alguma dor nos músculos da barriga. Como de
costume, eu estava presa naquele lugar até a
metade.
Eu quero gritar e me levar ao limite, mas eu
também quero evitar o inevitável, tornar este durar
para sempre, apesar da doce tortura e prazer
enlouquecedor.
— Miller... - Me contorço e arqueio as costas.
50
— Mais alto –, me pede, atirando para frente e
menos controlador. — Porra, diga mais alto, Olivia!
— Miller! – Grito seu nome quando seu último
ataque me leva direto para a beira do orgasmo.
Ele dá um gemido baixo estrangulado, enquanto
toma as rédeas de sua força de fazer amor
novamente a uma velocidade controlada.
— Toda vez que eu te levo, acho que saciarei meu
desejo. Mas isso nunca acontece. No minuto em que
terminamos, eu quero ainda mais.
Ele descarta as minhas pernas e cai em seus
antebraços, apoiando em cada lado da minha
cabeça, preso sob seus músculos definidos. Minhas
coxas se espalham mais longe, dando ao seu corpo,
o espaço exigido, e seu rosto se aproxima do meu,
nossas respirações se tonam uma só. Nós olhamos
um nos olhos do outro e ele balança seus quadris,
puxando gradualmente para o auge de euforia.
Eu enterro minhas mãos em seus cabelos e puxo os
cachos bagunçados, enquanto os meus músculos
apertam seu pênis.
— Isso porra! Mais uma vez. – Seus olhos são
cristalinos e seu timbre original me encoraja. Eu
contraio os músculos das costas quando a ponta de
seu pênis sólido atinge mais profundamente a
minha parte. — Fodaaaaaa!
Eu sinto um enorme prazer em ver seu queixo
abaixar e sentir seu corpo estremece com prazer.
Sabendo que eu posso fazer isso para tornar-se tão
vulnerável agora, me enche de energia. Ele se abre
totalmente para mim. Está exposto. Ele torna-se
fraco e poderoso ao mesmo tempo. Eu levanto os
quadris e gosto de ver como desmorona em cima de
mim. Eu contraio a musculatura, tudo o que puder
sobre cada um de seus cursos trêmulos. Seu rosto
perfeito começa a apertar e vejo o abandono
51
selvagem, refletido em suas penetrantes esferas
azul.
— Me desarma, Olivia Taylor. Porra, você me
desarma. – Ele rola no tapete e me colocando em
cima dele. — Termine –, ele ordena severamente,
cheio de saudade e desespero. — Porra, termine.
Estremeço um pouco com a mudança súbita de
posição me faz penetrar mais fundo ainda. Coloca
as mãos fortes em minhas coxas e seus dedos se
apegam à minha pele. Estou completamente
lanceada por ele, e eu prendo a respiração por mais
que tente acomodar o tamanho nesta posição.
— Mova-se, doce menina – Eleva os quadris. Eu
grito e ponho as mãos contra o peito dele. — Agora!
Seu grito repentino me deixa em movimento e
começo a girar os quadris em cima dele, ignorando
as pontadas de dor e concentrando-me nas rajadas
de prazer entre eles. Miller rosna e ajuda movendo
meus quadris empurrando contra as minhas coxas.
Vou para o meu ritmo, e vejo como ele me observa
por sua vez, enquanto eu estou fazendo as duas
coisas cada vez mais perto de nós, à beira da
explosão.
— Eu estou vindo, Olivia.
— Sim!- Eu grito, e meus joelhos descem sobre ele.
Solta um monte de palavrões e acelera o ritmo,
forçando-me a me pôr de quatro. Agarra-me os
quadris e me penetra, enquanto começo a chorar
gratificante.
— Oh, Deus! Miller!
— Sim, você me sente, Livy? Sinta tudo o que tenho
para dar.
Puxa meu corpo um pouco mais contra o dele, me
fazendo explodir em queda livre e descendo na
escuridão. Meu corpo cai sobre o tapete e
convulsiona enquanto meu orgasmo se apodera de
52
mim. Eu estou flutuando, sentindo a perda de Miller,
dentro de mim e suas continua maldições, ele deixa
cair minhas costas, mudando sua virilha e desliza o
pau dele sobre o vinco do meu rabo, resmungando
e mordendo o meu pescoço, antes de deslizar de
volta para meu núcleo trêmulo.
O prazer inundou meu cérebro e eu não posso me
preocupar em ter um orgasmo antes dele. Eu posso
sentir o leve toque de seu membro duro acariciar
minhas paredes e entrar e sair de mim calmamente.
E, em seguida, Miller torna-se uma torrente de
orações silenciosas.
Abro os olhos e olho, ofegante e respirando com
dificuldade. Olho além do tapete cor creme e tento
recuperar o pensamento cognitivo.
— Você não me machucou -, sussurro, com dor de
garganta e arranhado. Eu sei que essa será a
primeira coisa que vai me perguntar quando tiver
recuperado o fôlego. Sua natureza animal, que tinha
sido escondido de mim, está tornando-se viciante.
Ele ainda está me venerando.
Estico os braços acima da cabeça com um suspiro,
enquanto Miller puxa para fora de mim. Então ele
está trabalhando o seu caminho pela minha
espinha, lambendo e mordiscando conforme ele vai
descendo.
Eu fecho meus olhos enquanto seus lábios seguem
preguiçosamente até a minha bunda. Afunda-me os
dentes, muito severamente, mas eu estou exausta,
eu sou incapaz de gritar ou mover-me para detê-lo.
Uma vez que ele teve seu preenchimento, sinto-o
rastejar acima do meu corpo e se encaixa por cima
de mim, suas mãos deslizando até meus braços até
as mãos dele achar a minha. Ele entrelaça nossos
dedos, empurra seu rosto em meu pescoço e libera
um exalar de satisfação.
53
— Feche os olhos -, ele murmúra.
Então, de repente, a música imunda o silêncio.
Música suave com letras de grande profundidade.
— Eu reconheço essa música -, sussurro, e eu ouço
a calmante melodia Miller cantarolando em minha
mente. Não é em minha mente.
Abro os olhos e luto até que ele é forçado a
levantar-se de mim, e posso girar para vê-lo. Para
de cantarolar, ele sorri para mim com os olhos
brilhantes e deixando a música assumir mais uma
vez.
— Essa música, eu começo.
— Eu cantarolo pra você de vez em quando -, ele
sussurra timidamente. — Gabrielle Aplin. “The
Power of Love” -, termina colocando seu corpo
próximo ao meu, me empurrando para me colocar
em minhas costas e descansando seu peso sobre
mim.
— Hummm –, ele cantarola.
Ainda estou agitada, ainda trêmula, ainda pulsante.
Uma eternidade não pode ser suficiente.
54
CAPÍTULO 4
Meus sonhos são felizes. Eles são uma repetição da
última parte de ontem. Minhas pálpebras sonolentas
e minha mente sonolenta se abrem, prestes a
acordar, registro sua presença perto de mim. Muito
perto. Eu me enrolei ao lado dele, enrolada e
abraçando-o como ele gosta.
Com muito cuidado e em silêncio, eu levanto a mão
esquerda e procuro o meu anel, suspirando e
saboreando a insistência da minha mente lembrar
cada palavra e ações do dia anterior.
Os sonhos plácidos só ocorrem quando você está
dormindo.
Aproveitando que Miller está em um sono profundo,
eu passo algum tempo sozinha para desenhar as
linhas de seu peito. Ele está morto para o mundo,
pelo menos a maioria dele. Eu assisto com fascínio
quando seu pênis começa a endurecer, quando
deslizo a mão na direção do V pronunciado nascido
na parte inferior de sua barriga, até que esteja
totalmente ereto e palpitante, implorando por
atenção.
Eu quero que ele acorde gemendo de prazer, então
eu começo a descer lentamente o seu corpo e me
estabelecer entre as suas coxas.
Abrem-se para mim, sem necessidade de empurrá-
las separadas, e eu estou perto de sua ereção de
manhã, lambendo meus lábios e mentalmente
preparando eu mesmo deixá-lo selvagem.
Estendo a mão e desvio o olhar para o rosto dele,
enquanto agarro seu membro na base e espero por
algum sinal de vida, mas eu não encontro nenhum.
Somente seus lábios se separam. Eu volto minha
55
atenção para o difícil comprimento do músculo ao
meu alcance e sigo meu instinto. Minha língua
circula a ponta lentamente e reuni gotas de sêmen
que já está vazando. O calor de sua carne, a
suavidade de sua pele firme e sua dureza por baixo,
é tudo tão viciante e encontro-me a subir de joelhos
e deslizando logo meus lábios no comprimento dele,
gemendo em indulgência enquanto eu trabalho meu
caminho para trás. Toda a minha atenção está
focada exclusivamente em lamber e beijar. Passo
uma eternidade a desfrutar da deliciosa sensação
dele na minha boca. Eu não tenho certeza em que
ponto começa a gemer, mas as suas mãos no meu
cabelo de repente me avisa sobre isso e eu sorrio
nos movimentos lentos da minha boca enquanto eu
embainho seu pênis novamente e novamente.
Começa a subir os quadris levemente para cada um
dos meus progressos e suas mãos guiam minha
cabeça perfeitamente.
Seus murmúrios sonolentos com voz entrecortada e
débil são indecifráveis. Minha mão começa a
acariciar para cima e para baixo, imitando os
movimentos de minha boca e multiplicando o seu
prazer. Suas pernas duras e a cabeça balançam
lentamente de um lado para o outro. Cada músculo
em contato com o meu corpo tornar-se rígido e o
tamanho do seu pênis na minha boca me diz que
está próximo, assim acelero o ritmo de minhas
mãos e minha cabeça e eu sinto que eu bato no
fundo de minha garganta, aumentando meu próprio
prazer.
— Para! -, exclama. E continuo a empurrar minha
cabeça contra ele.
— Para, por favor.
Ele vai vir a qualquer momento, e sei que estou o
encorajado a continuar.
56
— Não!– Levanta o joelho e me bate na mandíbula
fazendo-me gritar de dor.
Vira-me enquanto eu pego o rosto e aplico pressão
para aliviar a dor grave e liberto sua ereção.
— Não me toque!
Ele se levanta e volta a cair no chão até que volta a
bater no sofá, com um joelho levantado e a outra
perna estendida na frente dele. Seus olhos azuis
estão bem abertos e cheios de medo; seu corpo
suado e seu peito arfante mostram uma aflição
clara.
Meu corpo se afasta por instinto. Meu choque e
desconfiança não permitem que eu vá confortá-lo.
Eu não posso nem falar. Fico ali, assistindo
como enfrenta todos os lugares, com a mão no
peito para tentar acalmar as palpitações. Eu sinto
uma dor tremenda no maxilar, mas meus olhos
secos não produzem lágrimas. Estou chocada
emocionalmente. Parece um animal assustado,
encurralado e indefeso, e quando ele olha para sua
virilha, os meus olham também.
Siga emendados. Seu pênis começa a tremer e ele
rosna e deixa cair à cabeça sobre os ombros.
Então ele vem.
E ele sussurra cabisbaixo.
Líquido branco é derramado em seu estômago,
coxas, e parece nunca parar de sair.
— Não!- Ele resmunga para si mesmo enquanto
junta seus dedos pelo cabelo e fecha os olhos com
força. — Não! -, grita, as mãos batendo no chão e
fazendo-me estremecer.
Não sei o que fazer. Ainda estou sentada longe dele,
a mão ainda na mandíbula, e eu continuo
ponderando sobre sua cabeça. Um monte de
flashbacks na minha mente. Ele me deixou chupar
uma vez. Ele foi curto e não apressado. Gemeu de
57
prazer, ele me ajudou, me orientou, mas logo se
retirou. Das outras vezes que eu tinha aproximado
dessa área com a boca ele me parou. Depois,
deixou-me masturbar em seu escritório, e lembro-
me que ele deixou claro que eu só poderia usar a
mão.
Eu também me lembro dele me dizendo que não se
masturbava em privado.
Por quê?
Ele pega um lenço de papel da caixa que fica perto
da mesa e tem de ser limpo como um louco.
— Miller? – Eu digo baixinho, unindo minha voz ao
som frenético de sua respiração e ações.
Eu não posso reduzir a distancia. Não até que ele
esteja ciente de que eu estou aqui.
— Miller, olhe para mim.
Deixa cair os braços, mas seus olhos estão por todo
o corpo, exceto para o meu rosto.
— Miller, por favor, olhe para mim. – Inclino-me
levemente para frente, com cautela, desesperada
para confortá-lo, porque é claro que era necessário.
— Por favor. – Espero impaciente, mas eu sei que
eu tenho que ir com cuidado. — Eu te imploro.
Lentamente, fecha os olhos azuis atormentados e os
reabre novamente, cravando-os nas profundezas do
meu coração. Começa a sacudir a cabeça.
— Eu sinto muito -, ele diz, quase engasgando com
as palavras, sua mão à garganta, como se isso lhe
custasse respirar. — Eu machuquei você.
— Eu estou bem –, eu digo, mas eu tenho a
sensação de que me quebrou a mandíbula.
Me solto, me aproximando dele e, lentamente,
enrolo-me em seu colo.
— Eu estou bem –, eu repito.
58
Meu rosto molhado enterrado em seu pescoço e
sinto um grande alívio que aceite o consolo que eu
lhe ofereço.
— Você está bem? - Ele solta um foro de respiração
quase rindo.
— Eu não sei muito bem o que aconteceu. – Eu fiz
uma careta e percebo imediatamente que vai fugir a
quaisquer perguntas que fizer sobre isso.
— Você pode me dizer. – Eu pressiono.
O destacamento rápido do meu peito dos olhos dele
e seus olhos no meu me faz sentir pequena e inútil.
Seu rosto impassível não está ajudando também.
— Dizer o quê?
Encolho os ombros levemente.
— A razão para a sua reação.
Sinto-me desconfortável sob a intensidade de seus
olhos. Eu não entendo por que, desde que eu era a
única no centro de seu olhar penetrante desde que
eu o conheci.
— Sinto muito. – Os olhos dele suaviza e são cheios
de preocupação fixo na minha mandíbula. — É que
você me pegou de surpresa, Olivia. Nada mais.
Ele gentilmente acaricia meu rosto com a mão.
Ele está mentindo, mas eu não posso forçá-lo a
compartilhar algo que pode achar que é muito
doloroso para expressar. Eu aprendi isso. O passado
sombrio de Miller Hart precisa ficar no escuro, longe
da nossa luz.
— Ok -, eu digo, mas não penso em tudo. Eu não
estou bem em tudo, e eu sei que Miller quer. O que
eu quero é dizer-lhe para explicar, mas o instinto
me impede. Esse instinto que me guiou desde que
eu conheci esse homem intrigante. Insisto em
repetir isso para mim, mas agora eu me pergunto
onde teria seguido todas as reações naturais que
me levaram a ele e sem resposta como tenho feito
59
a situações em que ele colocou-me. Eu sei onde:
morta, morta, fingindo ser feliz com a minha
existência solitária. Ele pode ter dado a minha vida
uma mudança radical, o qual foi cheia com
situações dramáticas para compensar a falta de
emoções, nos últimos anos, mas não vou deixar a
minha determinação de ajudar ao homem que eu
amo, nessa batalha. Estou aqui para ele.
Eu descobri muitas coisas sobre Miller escuro Hart,
e no fundo eu sei que há mais. Eu tenho mais
perguntas. E as respostas, quaisquer que sejam não
vão mudar nem um pouco o que eu sinto por ele.
Sei que é doloroso para ele, o que me faz ser assim.
Eu não quero causar mais sofrimento, e é isso que
teremos de forçar a me dizer. Então, os curiosos
podem ir tomar no cu. Eu ignoro aquela vozinha
irritante na minha cabeça que diz que talvez na
verdade eu não queira saber.
— Eu te amo até os ossos -, sussurro na tentativa
de distraí-lo do constrangimento do momento
desconfortável. — Eu amo seus fodidos, obsessivos
ossos.
Um largo sorriso ilumina a expressão séria no rosto,
revelando suas covinhas e os olhos brilhantes.
— E os meus ossos fodidos e obsessivos estão
profundamente fascinado por você. – Ele levanta a
mão para tocar meu queixo. — Dói?
— Não muito. Eu estou acostumada a ser atingido
na cabeça.
Ele dá de ombros, e eu percebo imediatamente que
eu falhei em meus esforços para acalmar a
atmosfera.
— Não diga isso.
Estou prestes a pedir desculpas quando o telefone
de Miller tocar alto à distância.
60
Saio de seu colo e gentilmente me coloca ao lado
dele. Beija-me na testa, se levanta e vai até a mesa
para pegá-lo.
— Miller Hart -, responde com o mesmo habitual
tom frio e indiferente, durante a caminhada de seu
corpo nu pelo quarto.
Ele fecha a porta atrás dele cada vez que ele recebe
um telefonema, mas dessa vez foi deixada aberta.
Interpreto o gesto como um sinal. Levanto e sigo
até que ele alcance o limite e estou assistindo-o,
reclina nu na cadeira e esfrega as têmporas com as
pontas dos dedos. Parece irritado e estressado, mas
quando ele olha para cima e me encontra toda a
emoção negativa desaparece e é substituída por um
sorriso e olhos azuis brilhantes.
Eu levanto minha mão e me viro para sair.
— Um momento-, ele diz de repente no caminho, e
coloca o telefone em seu tórax nu. — Está tudo
bem?
— Claro. Eu vou deixar você trabalhar. – E saio do
escritório.
Segura o telefone, que agora repousa em seu peito,
os olhos dele para cima e para baixo no meu corpo.
— Não quero que você me deixe -, diz e olha nos
meus olhos, e eu detecto um duplo significado na
frase. Inclina a cabeça, e eu abordo com cautela,
surpresa com sua ordem, embora não pelo
crescente desejo que começo a sentir.
Miller olha para mim com um leve sorriso no rosto,
ele pega a minha mão e beija o topo do meu novo
anel.
— Sente-se. – Puxa-me até que eu sente em seu
colo nu, e todos os meus músculos tencionam
quando seu pênis semi-ereto está encravado entre
as minhas nádegas.
61
Convida-me a reclinar, de modo que atinja com
costas o seu peito e aconchego a cabeça na curva
do pescoço dele.
Ele continua ordenar por telefone.
Eu sorrio para mim mesmo na capacidade de Miller
ser tão suave e doce para mim e tão seco e
grosseiro com quem está do outro lado do telefone.
Um braço musculoso passa por volta da minha
cintura e prende-me com força.
— É Livy -, ele fala. — Eu poderia estar falando com
a cadela da rainha, mas se Olivia precisa de mim, a
rainha vai ter que esperar.
Minha face enrugada em confusão, mas também
infla satisfação. Viro-me para encará-lo. Eu quero
perguntar quem é, mas algo me impede. É o
som abafado de uma voz suave, familiar e muito
simpática.
William.
— Ainda bem que esclarecemos isso –, Miller fala, e
eu recebo um beijo nos lábios antes de furar minha
cabeça contra seu pescoço e se mover um pouco
na cadeira para me apertar mais perto de seu
corpo.
Está silencioso e começa a jogar ociosamente com
uma mecha do meu cabelo, torcendo-o várias vezes
até que ele começa a puxar o meu couro cabeludo e
mostrar meu aborrecimento dando um leve toque
sobre as costelas. Eu ouço o tom suave da voz de
William, mas não posso saber o que eles estão
dizendo. Miller me desvenda bloqueio de torção
para voltar novamente.
— E você estabeleceu algo sobre isso?-, pergunta
Miller.
Imagine o que eles devem estar falando sobre, mas
para estar aqui no colo, ouvindo esse tom tão plano
e distante, aumenta minha curiosidade. Deveria
62
ter ficado na sala de estar, mas agora eu continuo
ponderando em minha mente e me perguntando o
que será que Willian descobriu.
— Um minuto -, ele respira, e eu vejo, com o canto
do meu olho, como a mão que está segurando o
telefone cai sobre o braço da cadeira.
Meu cabelo está solto, provavelmente deixando um
monte de nós. Apoia a mão no meu rosto e me vira
para ele. Olha-me profundamente nos olhos,
pressiona um botão em seu telefone e o deixa sobre
a mesa sem olhar para longe de mim. Mesmo
quebrando o contato para verificar onde ele deixou
ou para me reposicionar.
— William, diga olá para Olivia.
Agito-me nervosamente no colo de Miller e um
milhão de sentimentos abafam a serenidade que eu
estava sentindo protegidas em seus braços.
— Oi, Olivia -, diz William com voz reconfortante.
Ainda não quero ouvir qualquer coisa que ele tem a
dizer. Ele tinha me avisado de Miller, a partir do
momento que ele sabia do nosso relacionamento.
— Olá, William. – Dirijo-me a Miller rapidamente e
contraio os músculos tensos, pronta para sair do
colo de Miller.
— Vou deixá-lo trabalhar em paz.
Mas eu não vou a lugar nenhum. Miller olha para
mim balançando a cabeça lentamente e me mantém
apertada.
— Como vai? - A pergunta de William era fácil de
responder... meia hora atrás.
— Bem. -, castigando-me por me sentir estranho,
mas o pior de tudo não saber como agir. — Eu
estava prestes a fazer o café da manhã.
Eu tento levantar-me... e de novo, eu não posso.
— Willian, Olivia vai ficar. – Continue.
63
— Como éramos? -, William pergunta surpreso, o
que faz com que meu desconforto se transforme em
puro pânico.
— Como estávamos. -, responde Miller. Coloca a
mão em meu pescoço e começa a massagear minha
tensão com firmeza e determinação. Perda de
tempo.
O silêncio na outra extremidade da linha é feita.
Uma espécie de movimento, em seguida, ouço
William provavelmente está se mexendo
desconfortavelmente na cadeira enorme
do escritório, antes de falar.
— Não tenho certeza...
— Ela está hospedada. - Miller o corta, e eu me
preparo para um contra ataque de William... que
nunca chega.
— Hart, eu questiono sua moral diariamente.
Miller ri, e é uma risada sombria e sarcástica.
— Mas, eu sempre tive certeza de sua sanidade, no
entanto algumas de suas façanhas não foram.
Sempre soube que você estava perfeitamente
lúcido.
Quero saltar e colocar William em linha reta. Não
há nada em Miller que seja lúcido quando ele perde
a paciência. Ele é violento e irracional. Torna-se
oficialmente louco. Ou não? Me viro lentamente
para olhar para seu rosto. Seus olhos azuis
penetrantes queimam minha pele imediatamente.
Seu rosto, porém impassível, é angelical. Minha
mente gira quando pergunto se o que William está
dizendo é verdade ou não. Não posso concordar.
Talvez William nunca viu Miller com o tipo de raiva
que desencadeou, uma vez que ele me conheceu.
— Eu sempre sei exatamente o que fazer e por que
eu faço isso -, diz Miller lentamente e de forma
concisa. Ele sabe o que estou pensando. — Às vezes
64
posso perder a razão por uma fração de segundo,
mas apenas por uma fração de segundos. –
Sussurra tão baixinho que acho que William não
ouviu. E só assim, ele responde a pergunta que
estava passando por minha cabeça. — Minhas ações
são sempre válidas e cobertas de garantias.
William ouviu essa parte. E eu sei que riu.
—Em que mundo, Hart?
— No meu. – Ele volta a concentrar-se no telefone e
me agarra mais forte. -E agora no seu também,
Anderson.
Suas palavras são enigmáticas. Eu não entendo,
mas o medo que se eleva acima de minha espinha e
o longo silêncio assustador que me acompanha e
diz que eu devo ter cuidado com eles. Por que eu
vim aqui? Por que eu não fui direto para a cozinha
para pegar alguma coisa para comer? Eu estava
com fome quando eu acordei. Mas não agora.
Agora meu estômago é um vácuo rapidamente
preenchido com ansiedade.
— Seu mundo nunca será meu -, William responde
em tom cheio de raiva. — Nunca.
Eu tenho que sair. Este poderia ser um daqueles
momentos em que seus dois mundos colidem, e não
quero estar por perto quando isso acontece. O
Atlântico entre eles pode impedir confronto físico,
mas a voz de William, suas palavras, a raiva e a
vibração no corpo de Miller abaixo de mim são
indicações claras de que a coisa entre eles vai ficar
feia.
Eu digo que eu quero sair, e tento puxar a mão de
Miller de minha barriga.
— Fique aqui, Olivia. – Minhas tentativas são em
vão e a irracional insistência de Miller para eu ficar
para testemunhar esta visão feia, revive minha
65
ousadia.
— Deixe-me. Sair. Daqui.
67
perdeu a paciência com uma menina bonita. Você
vê onde estou querendo chegar?
Eu rolo os olhos para o impulso necessário de
Willian depreciar Miller. Eu também me sinto
tremendamente culpada. Minha ignorância das
consequências de minhas ações e meu
comportamento têm acelerado a situação e têm
conquistado.
— Perfeitamente, Anderson. – Miller suspira e acha
no meu cabelo outra vertente para torcer. O
silêncio. É um silêncio constrangedor, o que
aumenta o meu desejo de escapar do escritório e
deixar esses dois homens continuaram a sós com
especulações sobre sua situação diabólica.
Passa-se um bom tempo antes de William falar
novamente, e quando isso acontece, eu não gosto
do que ele diz.
— Você deve ter antecipado o impacto de sua
demissão, Hart. Você sabe que não é decisão sua.
Eu me enrolei ao lado de Miller, como se menor eu
pudesse chegar lá dentro, e ele poderia apagar a
realidade. Eu não tinha muito espaço no meu
cérebro para pensar nas correntes invisíveis de
Miller ou bastardos imorais que possuem as chaves.
O fantasma de Gracie Taylor tem monopolizado a
minha mente, e curiosamente, agora que parece
muito mais atraente do que isso. Esta é a
verdadeira realidade, e ao ouvir a voz de William,
sinto o tormento de Miller e de repente me consumo
pela derrota me empurrado para o limite da
ansiedade. Eu não estou inteiramente certa do que
nos espera em Londres quando voltar, mas eu sei
que é para me testar, testar-nos, testar mais do
que nunca antes.
A sensação de seus lábios macios na minha tempora
me trás de volta para a sala.
68
— Naquele tempo não estava muito preocupado -,
admite Miller.
— Mas você sabia?- A pergunta de William e a
rapidez com a qual foi feita, claramente que só há
uma resposta possível.
— Agora eu só me preocupo em proteger Olivia.
— Boa resposta -, responde William secamente.
Eu olho para cima e vejo Miller perdido em
pensamentos, olhando.
Eu odeio que ele pareça tão derrotado. Eu já vi
esse olhar muitas vezes, e me preocupo mais do
que qualquer outra coisa. Sinto-me cega, inútil e,
não encontrando palavras apropriadas para o
conforto, deslizo a mão pelo pescoço dele e o puxo
com força para mim, para manter meu rosto em sua
barba que cobre sua garganta.
— Eu amo você -, eu sussurro. Minha declaração
escapa da minha boca naturalmente, como se o
meu instinto poderia indicar que um reforço
constante de meu amor por ele é tudo o que eu
tenho. Relutantemente e silenciosamente eu sei que
é.
— Não acredito que você foi estúpido o suficiente
para desistir -, William continua.
Os músculos de Miller apertam instantaneamente.
— Estúpido? -, murmura, e me reposiciona em seu
colo.
Eu posso quase sentir suas emoções fervendo
através de nossos corpos nus.
— Você está sugerindo que eu continuasse a foder
outras mulheres enquanto eu tenho um
relacionamento com Olivia?
Sua forma de expressão me obriga a fazer uma
careta, como as imagens que enchem minha mente,
cintos e... Chega!
69
— Não -, William não recua — O que eu sugiro é
que você nunca deva querer o que você não pode
ter. Mas tudo isso vai desaparecer se você fizer a
coisa certa.
— A coisa certa. Diga-me. É voltar para Londres e
ser o Special One?
Eu não posso conter a raiva que está instalada em
mim depois de ouvir as palavras de William,
especialmente vendo que insiste em ser um babaca.
— Sim, ele pode me ter -, espeta na minha ousadia,
enquanto eu me esforço nos braços de Miller. Me
projeto para me aproximar do telefone, tanto
quanto possível para me fazer ouvir alto e claro.
— Não se atreva a começar com isso, William! Não
me force a lhe enfiar uma faca e torcê-la!
— Olivia!-, Miller me trás de volta para perto de seu
peito, mas meu desafio injeta força em meu ligeiro
quadro, e eu me afasto dele para perto do telefone.
Eu posso ouvir sua exasperação alta e clara, que
isso não vai me impedir.
— Eu sei que você não está me ameaçando com
violência-, diz William para mim em um tom
ligeiramente zombeteiro.
— Gracie Taylor. Eu digo o nome dela com os
dentes cerrados e não me agrado em ouvir sua
inspiração com dor, através da linha. — Tem visto?-
Peço, exigindo uma resposta.
Miller imediatamente me puxa para seu peito e
começo a lutar com os punhos duros de meus
braços.
— Foi ela?-, eu grito. Na minha frenesi, eu jogo um
cotovelo para trás e dou-lhe uma cotovelada nas
costelas.
— Foda-se!-, Miller ruge quando me liberta.
70
Me lanço sobre o telefone e tento respirar para
exigir uma resposta, mas Miller vem para frente e
desliga antes que eu chegue a ele.
— O que você fez?! -Eu grito, empurrando suas
mãos enquanto ele tenta me segurar.
Ele ganha. Me trás para perto de seu corpo e agarra
meus braços com força.
—Acalme-se!
Me deixo levar pela raiva absoluta, cega pela
determinação.
— Não!– Uma nova força vem em cima de mim. Me
estico e arqueio as costas com violência em uma
tentativa de escapar do abraço de Miller, cada vez
mais preocupado.
— Acalme-se Olivia-, ele sussurra em meu ouvido
um aviso através de seus dentes quando ele
finalmente consegue me segurar contra seu torso
nu. A raiva
nos invade tanto, que o calor é palpável através da
nossa pele. — Não me faça ter que repetir.
Minha respiração está pesada e meu cabelo em um
emaranhado de cachos cai em meu rosto.
— Deixe-me ir!- Eu mal posso falar com o meu
cansaço auto-infligido.
Miller respira profundamente, ele empurra seus
lábios em meu cabelo e me solta. Sem perder
tempo, eu me levanto de seu colo, fugindo de
minha realidade fria, eu bato a porta atrás de mim e
não paro até chegar ao banheiro do quarto
principal. Também fecho a porta. Me dirijo com
raiva para a banheira em forma de ovo e abro as
torneiras. A raiva que vem sobre mim bloqueia as
instruções enviadas pela minha mente para me
acalmar. Eu tenho que acalmar, mas meu ódio por
William e meu tormento mental sobre a minha mãe
não me permitem. Agarro meus cabelos e puxo com
71
força. A raiva se transforma em frustração. Em um
esforço para me distrair, eu derramo um pouco
creme dental na escova de dente e escovo. É uma
tola tentativa de eliminar de minha boca o gosto
amargo que ficou comigo por pronunciar seu nome.
Depois de passar mais tempo do que o necessário
escovando os dentes, eu cuspo, eu lavo e me olho
no espelho. Minhas bochechas pálidas estão rosadas
uma mistura de raiva e o familiar resplendor do
desejo que tem estado sempre presente nos dias de
hoje. Mas meus olhos azuis escuros refletem aflição.
Depois dos horríveis eventos que nos obrigou a fugir
de Londres, enterrar minha cabeça em um fundo do
poço de areia tem sido fácil. E agora a dura
realidade quer me punir.
— Bloqueie o fique aqui comigo para sempre e o
mundo lá fora - sussurro para mim mesma, e perco-
me no reflexo dos meus próprios olhos.
Tudo ao meu redor fica mais lento quando me
seguro o lado da pia e bato o queixo no peito. O
desespero toma conta da minha mente agitada. É
uma sensação desagradável, mas a minha mente e
meu corpo exausto não conseguem encontrar
qualquer vestígio de determinação entre todas
essas emoções negativas. Tudo parece novamente
impossível.
Suspiro triste. Eu olho para cima e vejo que a água
da banheira está prestes a transbordar, mas não
vou até ela, não tenho energia. Viro-me e
lentamente arrasto meu corpo através do banheiro
para fechar as torneiras. Me coloco na banheira e
mergulho na água, resistindo à vontade de fechar
os olhos e afundar meu rosto. Eu ainda estou de pé,
olhando fixamente, forçando minha mente para
desligar. Ela funciona em certa medida. Foco-me
nos tons agradáveis da voz de Miller, em cada uma
72
das maravilhosas palavras que me dirigiu, e a cada
carícia em meu corpo. Em todos. Desde o início até
agora. E espero e rezo para que haja muitos mais
no futuro.
Um leve toque na porta do banheiro me chama a
atenção e eu pisco várias vezes para umedecer
meus olhos novamente.
— Olivia? -, Miller diz com uma voz profunda de
preocupação que me faz sentir como uma merda.
Não espera por respostas, mas gradualmente abre a
porta e prende o punho quando ele olha o quadro e
me encontra olhando para ele. Está com uma
boxers preta e eu vejo que tem uma mancha
vermelha na altura das costelas, graças a mim.
Quando seus olhos azuis brilhantes me encontram,
meu sentimento de culpa multiplica por mil.
Ele tenta sorrir, mas apenas olha para o chão.
—Desculpe-me.
Seu pedido de desculpas me confunde.
— Pelo o quê?
— Por tudo -, responde sem hesitação. —Ter
deixado você se apaixonar por mim. Ter... - Me olha
e respira fundo. — Lamento por ser fascinado por
você e não deixar você em paz.
Forma-se um sorriso triste nos meus lábios e
estendo a mão para pegar o shampoo antes de
entregá-lo.
— Pode me conceder a honra de lavar o meu
cabelo?
Ele precisa me adorar um tempo para esquecer
tudo, nada para estabilizar nosso mundo instável.
— Nada me agradaria mais -, confirma com suas
pernas longas devorando a distância entre nós.
Ele se ajoelha ao lado da banheira, pega o frasco de
shampoo e derrama um pouco do conteúdo em suas
mãos. Eu sento e viro de costa para ele para
73
facilitar o acesso, fecho meus olhos quando eu sinto
seus fortes dedos massageando meu couro
cabeludo. Seus movimentos lentos e cuidadosos
para infundir um pouco de paz nos meus ossos em
causa. Ficamos em silêncio por um tempo.
Massageia-me a cabeça, me ordenando baixinho
que enxágue e aplica o condicionador sobre o meu
cabelo.
— Eu amo seus cabelos -, sussurra e leva tempo
sentindo-o e penteando com os dedos enquanto
canta alguma coisa.
— Eu tenho que cortá-los -, eu digo, e sorrio
quando seus dedos diligentes param de repente.
— Apenas as pontas -, pega meu cabelo molhado e
escorregadio em um rabo de cavalo e torce até que
ele tem todo seu punho. — E eu quero ir com você.
Puxando delicadamente para trás, ele inclina-se e
traz meu rosto perto dele.
— Você quer controlar meu cabeleireiro? - Eu
pergunto, achando engraçado, deslocando-me na
água, e agradecendo a sua intenção de me distrair.
— Sim. Eu quero. – Eu sei que ele não está
brincando. Me beija de leve nos lábios e, em
seguida, me dá uma infinidade de pequenos beijos
até colocar sua língua quente profundamente em
minha boca e eu lamber carinhosamente. Eu me
perco no seu beijo, eu fecho meus olhos e me
estabilizo no mundo.
— Eu amo o seu gosto. – Interrompe o nosso beijo,
mas mantém seu rosto perto quando ele desenrola
meu cabelo cuidadosamente até que caia nas
minhas costas e metade do comprimento estende-
se na água. Ele cresceu muito. Há muito tempo, e
agora se comprimento está quase na minha bunda,
mas isso parece vai ficar assim.
74
— Vamos retirar o condicionador de seus cachos
indisciplinado.
Me acaricia a bochecha com o polegar por um
momento antes de passar a mão em volta do meu
pescoço para me incentivar a mergulhar a cabeça
na água. Eu afundo na banheira e fecho os olhos
enquanto eu desapareço sob a água e minha
audição se torna abafada.
Eu prendo a respiração fácil. Eu tenho feito muitas
vezes desde que conheci Miller, quando eu roubo
um venerável beijo ou quando me tráz ao orgasmo.
Com minha visão e audição comprometida, eu só
sinto. Mãos firmes estão trabalhando em meu
cabelo. Eliminando o condicionador e minha
impotência ao mesmo tempo. Mas, em seguida, sua
mão sai da minha cabeça e desce do lado do meu
rosto até que minha garganta. Minha garganta, meu
peito e um mamilo inchado. A ponta do meu mamilo
queimando com antecipação. Deliciosamente ao
redor e então deixa cair o seu toque na minha
barriga até a parte interna de minha coxa. Fico
tensa debaixo d'água e eu tento ficar quieta e
seguro a respiração. A escuridão e o silêncio
desenvolvem meus outros sentidos, especialmente
o toque. Seu dedo desliza entre meus lábios
trêmulos e penetra profundamente. Minhas mãos
voam instantaneamente para fora da água, e agarro
a borda da banheira e me levanto rapidamente. Eu
preciso aproveitar cada elemento gratificante da
veneração de Miller, como, por exemplo, o rosto
cheio de satisfação.
Estou ofegante e meus pulmões cheios de ar. E
Miller começa a bombear seus dedos
preguiçosamente.
— Hmmm. – Eu descanso minha cabeça e deixá-lo
75
cair para o lado para ver como ele me encontra com
os dedos prodigiosos.
— Bom? - Ele pergunta asperamente, enquanto
seus olhos escurecem.
Eu confirmo, mordo meu lábio e contraio todos os
meus músculos internos, com a intenção de conter
o arrepio que sinto no meu estômago. Mas eu
desconcentro quando ele pressiona o polegar contra
o meu clitóris e começa círculos rastreamento
tortuosos e precisos da minha parte mais sensível.
— Tão bom -, respiro, e começo a ofegar.
Meu prazer intensifica quando vejo que separa os
lábios e muda de posição ao lado da banheira para
ter um melhor acesso em mim.
Retirando-se lentamente, ele fecha os olhos com os
meus e empurra para frente com nada mais que
satisfação e vitória jorrando de cada parte dele. Meu
corpo começa a tremer.
— Miller, por favor -, eu peço, começando a tremer
sem sentido e minha cabeça em desespero. — Por
favor, faça acontecer.
Minha solicitação não é negligenciada. É tão
desesperada como para apagar a angústia do nosso
tempo no escritório. Ele se inclina sobre o vaso
sanitário enquanto degolo seus dedos, aproximando
sua boca na minha e me beijando até o clímax.
Quando eu chego ao orgasmo, eu mordo seu lábio
inferior. Eu acho que a pressão dos meus lábios nos
dele deve ter causado dor, mas isso não impede
sua determinação para consertar o que aconteceu.
Intensas rajadas de prazer ataca meu corpo
incessantemente, novamente e novamente. Começo
tremer violentamente, espirrando água em volta de
mim até eu perder as forças e caio na água. Agora
estou totalmente exausta por uma razão diferente,
76
e muito melhor do que o esgotamento de alguns
momentos atrás.
— Obrigada -, gaguejo, ofegante, e forço-me a abrir
as pálpebras.
— Nunca me agradeça, Olivia Taylor.
Minha respiração é pesada e trabalhosa, enquanto o
meu corpo absorve os restos de minha explosão
satisfatória.
— Me desculpe, eu te machuquei.
Ele sorri. É apenas um leve sorriso, mas qualquer
sugestão daquela bela visão é bem-vinda. E assim
eu vou precisar mais a cada dia que passa. Inspira,
extraindo os dedos de dentro de mim e desliza por
minha pele até atingir meu rosto. Eu sei o que ele
vai dizer.
— Você não pode me ferir fisicamente, Olivia.
Sento-me e deixo que me ajude a sair da banheira
e envolver-me com uma toalha. Pega outra da
prateleira próxima e começa a remover o excesso
de água do meu cabelo.
– Venha para secar esses cachos incontroláveis.
Me agarra o pescoço, me leva para a cama e me
manda sentar, no fim de tudo com um gesto. Eu
obedeço sem protesto, sabendo que em breve as
suas mãos estarão tocando meu cabelo durante a
secagem. Retire o secador da gaveta e liga-o. Ele se
senta atrás de mim num piscar de olhos, com uma
perna de cada lado do meu corpo, de modo que me
envolve com elas. O ruído do dispositivo impede a
conversa, que eu aprecio. Relaxa-me, eu fecho
meus olhos e desfruto a sensação de suas mãos
massageando meu couro cabeludo enquanto o ar do
secador bate em meus cabelo. Eu também sorrio só
de imaginar o olhar de realização no rosto.
Cedo demais para o meu gosto, o ruído para e Miller
se aproxima de mim, enterrando o rosto no meu
77
cabelo lavado e me envolvendo firmemente pela
cintura com os braços.
— Você foi cruel Olivia –, diz em voz baixa, quase
cautelosa. Eu odeio a sua necessidade de voz, mas
é o seu direito, eu adoraria fazer isso tão
delicadamente.
— Eu já me desculpei.
— Você não pediu desculpas a William.
Eu fico dura.
— Desde quando você se tornou fã de William
Anderson?
Toca-me na coxa com a perna. É um aviso
silencioso à minha insolência.
— Ele está tentando ajudar. Preciso de informações,
e eu não posso obtê-las eu mesmo, enquanto eu
estou aqui em Nova York.
— Que informação?
— Não há necessidade de se preocupar com isso-.
Aperto minha mandíbula e fecho meus olhos para
me armar com paciência.
— Você é minha preocupação. – Eu digo e
simplesmente saio da pressão de Miller, ignorando
sua respiração audível, respiração cansada. Ele
também estava tentando ser paciente. Eu pego
minha escova de Cabelo e deixo Miller cair de
costas, murmurando maldições. Torço o nariz,
irritada, zangada eu saio do quarto e me sento
no sofá. Pego a escova de cabelo e começo a puxar
os nós, como se iniciai uma vingança estúpida iria
deliberadamente danificar uma das coisas favoritas
de Miller.
Eu caio em desânimo. Continuamente puxo a
escova através de minhas ondas e recebo uma
satisfação doentia do desconforto causada pela dor.
As ferroadas de dor absorvem os solavancos da
minha atenção e evita que eu pense em outras
78
coisas. Eu mesmo começo a ignorar o ligeiro
formigamento que sinto sob a pele e toma posse de
todo o meu ser a cada segundo que acontece. Eu
sei que ele está próximo, mas não o procuro e
continuo arrancando os cabelos da cabeça.
— Hey!– Para as ações destrutivas de minha mão,
segurando-a no ar e arranca-me a escova dos
dedos. — Você sabe que eu aprecio minhas posses-,
rosna.
Passa as pernas atrás de mim e coloca o cabelo em
meus ombros. Suas palavras, no entanto, são
arrogantes, me vêm por aí.
— E isso é parte da minha posse. Não maltrate. – A
escova de cerdas macias desliza desde o meu couro
cabeludo e até as pontas dos meus cachos. Em
seguida, ele começa a cantar God Only Knows, dos
Beach Boys.
O temperamento de Miller se recusa a aparecer, e
a intervenção de uma música tão alegre e enérgica
diz que ele está bem, então eu fico sozinha com a
minha raiva.
Uma parte irracional de mim espera para provocar,
um pouco para conseguir alguma coisa contra para
que minha raiva saltasse fora.
— Por que você desligou William?
— Porque você estava fora de controle Olivia. Você
está se tornando um bom concorrente sobre
questões de insanidade. Você atingiu o limite de sua
sanidade. Eu detectei desespero em sua voz. E
culpa.
Assinto em silêncio e aceito que ele está certo. Ele
se foi das minhas mãos. É verdade que me traz ao
limite.
— Você mencionou um homem chamado Charlie.
Quem é?
79
Respira fundo antes de começar a falar. Eu prendo a
respiração.
— Um bastardo imoral.
E isso é tudo o que ele diz e minha próxima
pergunta que eu sei a resposta, escapa dos meus
lábios com a liberação de conteúdo de ar.
— Você é responsável perante ele?
Um silêncio constrangedor é feito e me preparo para
a resposta que eu sei que está prestes a dar.
— Sim, eu sou.
Minha cabeça começa a doer um pouco, por causa
de todas as questões que se levantam e mandam-
me muito facilmente. Miller responde a um homem
chamado Charlie. Eu posso imaginar que tipo de
caráter tem, se Miller o teme.
— Ele pode te machucar?
— Eu faço um monte de dinheiro para ele, Olivia.
Não pense que eu o temo, porque não.
— E então por que deveríamos fugir?
— Porque eu preciso de tempo para respirar, para
pensar sobre qual a melhor maneira de lidar com
essa situação. Eu lhe disse que não é tão fácil como
apenas desistir. Eu pedi pra confiar em mim,
enquanto tento resolver isso.
— E o que você fez?
— William me comprou algum tempo.
— O quê?
— Eu disse a Charlie que ele e eu tínhamos brigado.
Que ele estava me procurando.
Eu franzir a testa.
— William disse a Charlie que você tinha se
chateado?
— Ele tinha que explicar o que estava fazendo no
meu apartamento. William e Charlie não se dão
muito bem, como William e eu, como você
imaginou.
80
Ele está sendo irônico, e eu bufo meu aceno de
cabeça.
— Charlie não deve saber que estou associado a
William, caso contrário, ele terá problemas. Não
gosto dele, mas também não quero Charlie indo
atrás dele, não importa que ele seja perfeitamente
capaz de cuidar de si mesmo.
Minha pobre mente entra em colapso novamente.
— Onde isso nos leva?- Minha voz é mal decifrável
através do meu medo do que pode ser a resposta.
— Anderson acredita que é melhor voltarmos para
Londres, mas eu discordo.
Eu cedo, aliviada. — Eu não vou voltar para
Londres, se você tiver que me esconder e continuar
a entreter essas mulheres para encontrar uma
saída.
Me abraça para incutir segurança, como se
soubesse o que eu estou pensando.
— Eu não vou a lugar nenhum até ter certeza de
que não você corre perigo.
— Perigo? Você sabe quem me seguiu?
O breve silêncio é ensurdecedor, como resultado da
minha pergunta não trava a minha preocupação
crescente. Ele só olha para mim enquanto a
gravidade da nossa situação aperta-me em suas
cruéis garras.
— Foi Charlie?
Ele acena lentamente, e chão desaparece de mim.
— Ele sabe que você é a razão de eu querer sair.
Ele deve sentir meu pânico, porque deixa a escova
cair e me vira ajustando-me em seu colo. Estou
trancada no "o que ele gosta", mas hoje não me faz
sentir melhor.
— Shh. – Ele tenta me tranquilizar. — Confie em
mim. Eu vou lidar com isso.
81
— Que outra escolha eu tenho? - pergunto. Essa
não é uma questão de múltipla escolha. Aqui só há
uma resposta. Eu não tenho escolha.
82
CAPÍTULO 5
Miller passou o dia tentando me animar. No hotel
pegamos um ônibus turístico de topo aberto que
corre New York. Ele sorriu com carinho quando eu
ignorei o guia turístico, escolhendo dar-lhe o meu
próprio resumo dos pontos turísticos que vimos.
Ele escutou com interesse o que eu dizia e até me
fez algumas perguntas, as quais respondi
instantaneamente. Ele estava relaxado quando
descemos para uma caminhada, e aceitou de bom
grado quando eu o arrastei para um restaurante
típico. O ritmo acelerado da cidade, que me
intimidava um pouco quando eu cheguei, agora
estou me acostumando. Eu pedi rápido e paguei
ainda mais rápido. Depois de comermos, nós demos
um passeio, algo novo para Miller. Sentiu-se um
pouco desconfortável, mas não se queixou. Fiquei
emocionada, mas fingi ser assim, como se a nossa
vida diária fosse sempre assim.
O drama de manhã e o turismo me deixaram
fisicamente incapaz para me sustentar, quando
voltamos para a cobertura. A ideia de enfrentar
doze seções de escadas quase me tira o ar e Miller,
ao invés de enfrentar seu medo de usar o elevador,
me pega em seus braços e leva meu corpo exausto
escada a cima.
Gosto da proximidade, como sempre. Reúno a
energia que me resta para segurá-lo. Eu posso
senti-lo e cheirá-lo, mas meus olhos pesados
recusam-se a permanecerem abertos. Sua firmeza
contra o meu corpo e seu aroma característico me
levam para um mundo de sonhos que ultrapassa o
melhor dos meus sonhos.
83
— Eu amaria me enterrar em você nesse exato
momento -, murmura, e, ouvindo seu timbre sexual
profundo, minhas pálpebras se abrem, deixando-me
na cama.
— Ok –, concordo rapidamente, mas com sono.
Remove os Converse verdes de meus pés e coloca-
os cuidadosamente para um lado. Eu sei que isso é
o que ele faz pelo o tempo que leva para continuar
despir-me. Esta em plano metódico, e plano
também adorador. Tira meus shorts jeans pelas
pernas abaixo.
— Você está muito cansada, minha menina.
Meus shorts são dobrados e colocados juntos com
os meus sapatos. Eu não sou mesmo capaz de
reunir força suficiente para protestar, o que me diz
que tem toda razão. Eu não sou nada agora.
Me levanta um segundo, para remover a coberta, e
me coloca suavemente no colchão.
— Braços pra cima. – Me dá seu sorriso insolente
por um momento, e seu rosto desaparece por trás
do tecido da minha camisa. Eu só ergo os braços
porque ele obriga-os a subir ao tirar a minha
camisa, e assim que ele libera minha calcinha e
meu sutiã, eu me deixo cair de costas com um
suspiro e viro de lado aconchegando-me. Eu sinto o
calor de sua boca no meu ombro por um tempo.
— Leve-me em seus sonhos perfeito, Olivia Taylor.
Eu não posso sequer acenar ou falar que eu vou. O
sono me chama, e a última coisa que ouço é o som
familiar de Miller cantarolando.
Eu tive sonhos doces, e Miller apareceu lá em toda a
sua glória perfeita e descontraída. Eu abro meus
olhos, e me confundo com o escuro imediatamente.
Eu tenho sensação de ter passado anos dormindo.
Me sinto cheia de energia e pronta para começar o
dia se... for de manhã. O colchão afunda atrás de
84
mim e eu noto que Miller se aproxima. Eu digo bom
dia, mas eu acho que é um pouco prematuro. Então
eu me viro, e empurro meu rosto no cabelo grosso
de sua garganta. Então eu fico inspirada e coloco o
joelho entre as suas coxas.
Ele se adapta a minha demanda por intimidade e
me deixa movimentar e agitar até que eu me sinta
confortável, e minha respiração tornar-se relaxada
novamente. Há um tranquilo silêncio até Miller
começa a cantarolar The Power of love e me faz
sorrir.
— Você cantou isso pra mim uma das primeiras
vezes que estivemos juntos.
Pressiono meus lábios para o oco sob o pomo de
Adão e sugo brevemente antes de deslizar a língua
por seu queixo.
— É verdade -, ele diz, e deixando-me mordiscar
seu lábio inferior. — Você virou meu mundo perfeito
em um caos absoluto.
Eu estou impedido de dar meus pensamentos sobre
essa afirmação quando ele se afasta e coloca-me do
meu lado antes do espelhamento de minha nova
posição. Está escuro, mas eu posso ver seu rosto
agora que meus olhos ajustaram-se. E eu não gosto
do que vejo. Melancolia. Preocupação.
— O que é isso? -, eu pergunto, e meu pulso
começa a correr.
— Tenho que te dizer algo.
— O quê? -, eu digo bruscamente.
Viro-me, ligo o interruptor na lâmpada de cabeceira
e o quarto é inundado com luz suave. Piscando para
o ataque repentino em meus olhos e
em seguida, dirijo-me a Miller novamente. Ele está
sentado e parece inquieto.
— Diga-me -, insisto.
85
— Prometa que vai me ouvir. – Segura minhas
mãos nas dele e me aperta. — Prometa que não vai
sair antes do final de...
— Miller! Diga-me agora!- O Frio que se instala em
mim, e acelera meu pânico e meu medo.
Seu rosto parece distorcido pela dor.
— É sobre sua avó-.
Eu engasgo.
— Meu Deus. O que aconteceu? Está tudo bem?
Eu tento tirar Miller do caminho para pegar o meu
telefone, mas ele me mantém firme no lugar.
— Você prometeu que ia me deixar terminar.
— Mas eu não sabia que era sobre a minha avó! -
Eu grito, e eu sinto minha sanidade me abandonar.
Eu pensei que ia ser atingida com outro obstáculo,
com um fragmento ou sua história... Eu não tenho
certeza do que, com qualquer coisa, menos isso.
— Diga-me o que aconteceu!
— Ela sofreu um ataque cardíaco.
Meu mundo explodiu em um milhão de fragmentos
de devastação.
— Não! Quando? Onde? Como você...?
— Olivia, droga, deixe-me falar! - Ele grita com um
tom seco, mas delicado, e levanta as sobrancelhas
para apoiar a sua advertência para manter a calma.
Como posso ficar calma? Está me fornecendo a
informação em quantidades mínimas. Eu abro
minha boca para deixar escapar alguns palavrões,
sob o meu aumento de impaciência e preocupação,
mas ele levanta a mão para me silenciar, e eu
finalmente aceito que vou descobrir mais cedo, se
eu calar a boca e ouvir.
— Ela está bem -, ele começa, acariciando minhas
costas com sua mão em círculos, mas nada irá
reduzir a minha preocupação. Ela ficou doente e eu
86
não estava lá para cuidar dela. Eu sempre fui para
ela. Lágrimas de culpa me faz queimar os olhos.
— Ela está no hospital e eles estão cuidando.
— Quando foi isso?- Pergunto engasgando com um
soluço.
— Ontem de manhã.
— Ontem?!-, grito, perplexa.
— George a encontrou. Ele não queria chamá-la
para não te preocupar, e não tem o meu número
para contato. Ele esperou que William passasse pela
casa. Anderson disse a ele que iria me deixar saber.
Eu sinto muita simpatia pelo velho George. Com
certeza se sentiu perdido e indefeso.
— Quando ele ligou?-
— Ontem à noite no último minuto. Você estava
dormindo.
— E você não me acordou? – Sacudo as mãos e
desvio o olhar novamente longe do alcance de
Miller.
— Você precisava descansar, Olivia. – Tenta segurar
a minha mão novamente, mas bato nelas e saio da
cama.
— Sim, eu poderia estar na metade do caminho
para casa agora!
Eu ando para o guarda-roupa, irritada e chocada
que ele ache que o ataque de coração da minha avó
não era razão suficiente para interromper o meu
sono. Eu puxo a mochila pra fora do armário de
uma só vez e começo a colocar tudo o que posso
nela. Muitas das coisas que eu comprei ficarão
aqui, uma vez que teremos de voltar para cá.
Nós tínhamos planejado comprar malas, mas ainda
não tinha. Eu não tenho tempo para se preocupar
deixando para trás centenas de dólares em roupas.
Meu frenético pânico é interrompido quando ele
remove o saco de minhas mãos e joga no chão. Eu
87
não posso conter minhas emoções por muito mais
tempo.
—Você é um idiota!- Eu gritei na cara dele, e depois
prossigo para bater em seu ombro. Ele não se move
ou me repreende por isso. Permanece frio e
impassível.
— Você é um babaca! Idiota! Idiota!- Estou
atacando novamente, e minha frustração cresce
com a falta de reação.
— Você deveria ter me acordado! Agora em punhos
bato duas vezes no peito dele. Eu perdi o controle
das minhas emoções e do meu corpo inquieto. Eu só
quero desabafar e Miller é tudo o que tenho para
alcançar. — Por quê? - Eu desmorono contra o peito
dele, exausta e cheia de dor. — Por que você não
me contou?
Meu corpo mantém-se, com uma mão em meu
pescoço, apertando-me contra ele, enquanto a
outra circula esfregando minhas costas, para me
confortar. Eu sou silenciada repentinamente com
seus beijos de novo e de novo em minha cabeça até
que meus soluços diminuem e choro em seus
ombros.
Me agarra e segura meu rosto desfigurado nas
mãos.
— Lamento que você sinta que eu a trai...
Ele para me olhando cautelosamente e estou
convencida de que ele sabe que não vou gostar de
suas próximas palavras. — Não podemos voltar
para Londres, Olivia. Não é seguro.
— Como você se atreve, Miller! - Estou tentando
reunir forças, algo que irá mostrar-lhe que isso não
é negociável. — Chame William e diga-lhe que estou
voltando para casa.
88
Eu posso sentir o tormento. Reflete-se
perfeitamente em suas feições tensas. Falha ao
encontrar essas forças.
— Leve-me para casa!- Eu imploro enxugando as
lágrimas que não vão parar de cair. Por favor, me
leve para a minha avó.
Eu vejo como o derrotismo invade o rosto
compassivo, quando ele acena com a cabeça
ligeiramente. Eu sei que ele não está satisfeito. Não
está pronto para voltar para casa. Se sente
encurralado.
89
CAPÍTULO 6
A palma de sua mão no meu pescoço tem sido uma
fonte constante de conforto, desde que saímos de
Nova York no aeroporto JFK, no avião, em
Heathrow, e todas as oportunidades disponíveis
para me segurar têm sido tomadas. Algo que eu
precisava e eu aceitei com prazer.
Eu mal tinha conhecimento do ambiente que me
rodeava. Eu nem sequer me chateei quando
pediram os passaportes. Sob a massagem suave no
meu pescoço, minha mente só permitiu-me pensar
em minha avó.
Tivemos tempo para comprar malas de viagem.
Muito tempo. Pedi para Miller ir comprá-las ele
mesmo, mas meu pedido foi ignorado. Ele estava
certo. Eu teria rastejado no chão da sala, escalado
as paredes, se eu ficasse sozinha na suíte. Então,
nós fomos às compras juntos, não pude deixar de
apreciar as suas tentativas para me distrair. Pediu
minha opinião, sobre a cor, tamanho e estilo da
mala que deveríamos comprar, no entanto, claro, a
minha resposta não ajudava em nada. Depois de lhe
dizer que gostei do tecido vermelho, ouvi metade de
suas razões por que devemos comprar um
Samsonite na cor grafite.
Uma vez que pegamos nossas malas na chegada,
eu ouço Miller bufar de irritação quando vê alguns
arranhões na mala, quando ela saiu pela porta
“Chegadas” e emergiu no ambiente ao ar livre da
noite de Heathrow. Eu vejo o motorista William
imediatamente, antes de Miller ir em direção ao
veículo. Saúdo com um aceno educado e entro no
banco de trás. O homem encontra-se com Miller na
parte traseira do carro para ajudar guardar as
90
malas.
Após Miller vir comigo para a parte de trás, e coloca
a mão no meu joelho.
— A minha casa, Ted. - Ele diz.
Eu me inclino para frente.
— Obrigado, Ted, mas você poderia me levar direto
para o hospital? - Eu pergunto, mas meu tom indica
claramente que não há outra opção.
Miller está atrás de mim me olhando, mas não vou
encará-lo.
— Olivia, você acabou de sair de um voo de seis
horas. A diferença de horário... -
— Eu estou indo ver a minha avó -, eu digo com os
dentes cerrados, sabendo muito bem que meu
cansaço não tem nada a ver com os protestos de
Miller. — Se você preferir ir para casa, eu vou
sozinha.
Eu vejo no espelho como Ted olha para mim e
depois para a estrada. Seus olhos estão sorrindo.
Olhos amorosos.
Miller expressa sua frustração atirando um longo
suspiro exagerado.
— Para o hospital, por favor, Ted.
— Sim senhor -, ele diz, balançando a cabeça. Ele
sabia que não era uma questão negociável.
Quando nós cruzamos os limites do aeroporto, a
minha impaciência crescia à medida que o motorista
de William apressa o tráfego na M25. Se vê forçado
a ficar parado em mais de uma ocasião, e cada vez
eu tenho que restringir o meu impulso para deixar o
carro e executar o resto do caminho.
Quando Ted finalmente chega ao hospital, já está
escuro e estou fora de mim. Deixo o veículo, antes
mesmo de parar, e ignoro Miller gritando atrás de
mim. Estou sem fôlego quando chego a recepção.
— Taylor Josephine -, eu digo para a recepcionista.
91
A mulher olha-me um pouco alarmada.
— Amiga ou família?
— Eu sou sua neta. – Mexo-me com impaciência ao
digitar o nome e franzo a testa olhando para a tela.
— Há algum problema?
— Não está listado no nosso sistema. Não se
preocupe, vamos provar o contrário. Você sabe sua
data de nascimento?-
— Sim, é... – Eu paro no meio da frase quando
Miller segura meu pescoço e me chama para longe
do balcão.
— Você vai ver sua avó muito mais rápido se você
me escutar, Olivia. Eu tenho dados. Eu sei qual é o
número do quarto e como chegar lá. Você é
impaciente.
Eu permaneço em silêncio, conforme indicado pelo
túnel branco sem fim e minha ansiedade aumenta a
cada passo. É esmagadora, e nossos passos ecoam
eternamente no espaço vazio. Miller também em
silêncio, e eu me odeio por ser fisicamente e
mentalmente incapaz de aliviar sua preocupação
óbvia para mim.
Nada vai me fazer sentir melhor até ver minha avó
viva e bem e me dando algumas broncas.
— Por aqui. – Virou a mão levemente no meu
pescoço e me forçou a virar à esquerda, onde um
par de portas automaticamente abre e se vê um
sinal
diz: BEM-VINDO A SALA WARD. Sala 3.
Me sinto inconstante e fraca quando Miller me solta
e aponta para a segunda porta à esquerda. Eu ando
cambaleando, e meu coração se recusa a reduzir o
seu martelar constante. O calor da sala bate-me
como uma marreta e o cheiro de antisséptico enche
meu nariz. Um pequeno empurrão nas costas me
encoraja a agarrar a maçaneta da porta e, depois
92
de carregar meus pulmões de ar, giro o punho e
entro no quarto, mas ele está vazio.
A cama está bem feita e ordena todas as máquinas
em um canto. Não há nenhum sinal de vida. Eu
estou ficando tonta.
— Onde ela está?
Miller fica sem resposta. Me passa e para de
repente para ver o quarto vazio com seus próprios
olhos. Eu continuo olhando para a cama. Tudo borra
em torno de mim, incluindo o meu ouvido que só
registra as palavras de Miller insistindo que é o
quarto certo.
— Eu posso ajudar com alguma coisa? -, pergunta
uma jovem enfermeira.
Miller está chegando.
— Onde está a mulher que ocupava esse quarto?
— Josephine Taylor?- ela pergunta.
Ela desvia o olhar para o chão e eu não sei se vou
ser capaz de suportar o que vai dizer em seguida.
Se forma um nó na garganta. Me agarro no braço
de Miller e o arranho. Ele responde gentilmente
afastando os dedos de sua carne e apertando a
minha mão antes de trazê-los a sua boca.
— Você é sua neta? Olivia?
Assinto incapaz de falar, mas antes que ele possa
responder, eu ouço uma risada familiar no hall.
— É ela!-, exclamo. Tiro minhas mãos de Miller e
quase derrubo a enfermeira para passar por ela.
Os sons e vibrações familiares ainda me invadem a
cada passo. Eu viro a um cruzamento e paro
quando o som desaparece. Olho para a esquerda e
vejo quatro camas, todos com idosos dormindo.
Não é novo.
Aquela risada.
Avó rindo.
93
Viro a cabeça para a direita e vejo outras quatro
camas, todas ocupadas.
E lá está ela, sentada em uma cadeira ao lado de
sua cama de hospital, assistindo TV. Está
perfeitamente penteada e usando sua camisola.
Viro-me para ela e aprecio a vista maravilhosa, até
chegar ao pé da cama. Olhos azul-safira se
distanciam da tela e olha para mim. Eu me sinto
como um se uma sonda elétrica me devolvesse à
vida.
— Minha querida menina. – Estende a mão para me
tocar e meus olhos caem em prantos.
— Meu Deus, vovó!- Agarro a cortina e removo para
sua cama quase caindo com a maldita coisa.
— Olivia! - Miller pega meu corpo impressionante e
rapidamente estabiliza-me nos meus pés. Eu estou
tonta. Ele executa uma verificação rápida por cima
de mim, em seguida olha por cima do meu ombro.
— Puta que pariu -, ele respira, e cada músculo
relaxa visivelmente.
Ele também achava. Ele pensou que ela estava
morta.
— Mas que bom!-, ela fala. — Como você acha que
pode vir aqui, causar um caos e xingar por todos os
lados. Você vai fazer com que me expulsem!-
Reviro os olhos e o sangue começa a fluir
novamente.
— Claro, porque você não causou bastante caos
você mesmo?- ele retrucou.
Ele sorri maliciosamente.
— Fui uma dama, só para você saber.
Eu ouço uma risada zombeteira atrás de nós, e
Miller e eu nos voltamos para a enfermeira.
— Uma dama -, e olha para minha avó com tão
altas sobrancelhas que não sei onde elas acabam e
começa seu cabelo.
94
— Eu só iluminei o lugar -, responde minha avó na
defensiva, chamando a nossa atenção novamente.
Ela está apontando para as outras três camas,
ocupadas por idosos fracos, todos dormindo. — Eu
tenho mais vida do que aqueles três juntos! Eu não
vim aqui para morrer, eu lhe garanto.
Eu sorrio e olho para Miller, que está olhando para
mim com diversão e olhos brilhantes.
— Um tesouro de vinte e quatro quilates.
Miller cega-me com um sorriso branco completo que
quase me força segurar a cortina novamente.
— Eu sei. – Eu sorrio, e quase me jogo na cama nos
braços de minha avó. — Eu pensei que você
estivesse morta -, eu digo, inalando o cheiro
familiar de seu
sabão em pó, incorporado no tecido de sua
camisola.
— A morte parece muito mais atraente do que esse
lugar -, rosna, e se desloca de mim. — Ops!
Cuidado com os meus fios!
Engulo em seco e me afasto instantaneamente,
repreendendo-me mentalmente por ser tão
descuidada. Ela pode parecer corajosa como
sempre, mas ela está aqui por uma razão. Eu
assisto ela puxa em uma linha de seu braço e
resmungando sob sua respiração.
— O horário de visitas acabou as oito -, diz a
enfermeira, aproximando-se da cama para atender
minha avó. — Eles podem voltar amanhã.
Eu deixo meu coração afundar.
— Mas é que... –
A mão de Miller no meu braço interrompe o meu
protesto, e olha para a enfermeira.
— Você se importaria?- Ele gesticula com a mão
para longe da cama e eu vejo, divertida, como a
95
enfermeira sorri timidamente e se afasta, virando a
esquina depois das cortinas.
Ergo as sobrancelhas, mas Miller simplesmente
encolhe os ombros e segue a enfermeira. Ele pode
estar cansado, mas ainda é um espetáculo para os
olhos. E só me dá um pouco mais de tempo, então
eu não me importo em tudo se a enfermeira babar
um pouco, e ele saber sobre o estado da minha avó.
Eu sinto olhos me observando, então olho para
longe de Miller e olho para baixo, para minha avó
corajosa. Mais uma vez ela parece muito travessa.
— Sua bunda parece ainda mais gostosa com esses
jeans.
Eu rolo meus olhos e sento na cama em frente a
ela.
— Não pensei que você gostasse de um jovem.
— Miller ficaria gostoso até com um saco de
batatas. – Ela sorri, pega a minha mão e aperta na
sua. É de conforto, o que é absurdo considerar
quem está doente aqui, mas também me faz pensar
imediatamente quem é minha avó. — Como você
está, querida?
— Bem. Eu não sei o que fazer ou o que devo dizer.
Eu preciso saber, é claro, mas... ela realmente
precisa saber? Eu tenho que falar com William.
— Hmmm... - Me olha com desconfiança e mexo-me
desconfortável na cama, evitando seu olhar.
Eu tenho que mudar o rumo da conversa.
— Você não prefere um quarto privado?
— Não começa!– Ela solta minha mão, se recosta na
cadeira, pega o controle e direciona para a TV.
Desliga a tela. — Eu estava ficando louca naquele
quarto!
Olho as outras camas com um leve sorriso e acho
que provavelmente minha avó está colocando
loucos esses pobres idosos. A enfermeira
96
definitivamente parecia que tinha tido seu
preenchimento.
— Como está se sentindo? - Eu pergunto. Volto-me
para ela e encontro-a novamente brincando com os
cabos.
— Deixe-os!
97
— Querida, eu perdi muito de você -, ela suspira e
me segura contra seu corpo atarracado. — Embora
eu tenha que alimentar três grandes homens.
Enrugo a testa contra seu peito. — Três?
99
CAPÍTULO 7
Acomodo-me na parte traseira do carro de Willian
sentindo-me como se alguém tivesse tirado um
enorme fardo. Existem um milhão de diferentes
encargos que devem continuar esmagando sob sua
pressão, mas eu não posso sentir nada, só a alegria
de ver com meus próprios olhos que a vovó está
bem.
— Para minha casa, por favor, Ted -, diz Miller, e
estende o braço na minha direção.
— Vem aqui.
Ignoro sua mão estendida.
— Eu quero ir para minha casa.
Ted puxa o carro para o trânsito e olha no espelho
retrovisor com aquele sorriso afável em suas feições
duras, mas simpáticas. Eu olho com desconfiança,
de uma forma breve, embora ele já não esteja
olhando para mim. Volto minha atenção para Miller,
me olhando pensativo, a mão ainda no ar.
— O instinto me diz que quando você diz "casa" não
quer dizer a minha. - Ele deixa a mão cair no
assento.
—Sua casa não é a minha casa, Miller.
Minha casa tradicional, a casa da minha avó,
confusa com aquele cheiro familiar e reconfortante.
E eu preciso estar cercado pelas coisas típicas da
minha avó agora.
Miller bate no assento de couro e me observa de
perto. Puxando-me de volta para o meu lugar,
desconfiado.
— Eu tenho um pedido -, ele sussurra antes de
retornar para reivindicar minha mão, onde eu tenho
o meu novo anel de diamante, e atualmente o tenho
girado repetidamente.
100
— O que é? - Pergunto lentamente. Algo me diz que
ele não vai me pedir para nunca deixar de amá-lo.
Eu sei como responder a essa solicitação, e sua
mandíbula um pouco tensa, eu temo a resposta que
ele vai dar.
Também começa a mexer com o meu diamante,
meditando, enquanto assisto seus dedos tocarem a
joia, e viro a cabeça me preparando para ouvir seu
pedido. Passa um longo e desconfortável momento
antes que inspira profundamente, seus olhos azuis
preguiçosamente movem-se através do meu corpo
e esses poços sem fundo, emocionalmente
carregados, que cavam até o meu. É de tirar o
fôlego... e me faz perceber de imediato que o que
ele está prestes a me perguntar significa muito para
ele.
— Eu quero que minha casa seja sua casa também.
Eu fico boquiaberta, minha mente em branco. Nem
uma palavra me vem à mente. Exceto uma.
— Não -, retrucou de imediato, sem parar para
pensar sobre como expressar a minha recusa em
um pouco mais de consideração. Assusto-me com a
visão da decepção clara em seu rosto perfeito.
— Quer dizer... -, maldito cérebro não consegue
carregar a minha boca com nada que possa me
redimir, e eu me sinto muito culpada por ser a
causa de sua dor.
— Você não vai ficar sozinha.
— Eu preciso estar em casa. – Ele afasta seus olhos
dos meus. Não está mais preparado para enfrentar
em seu olhar intenso. Nenhum protesto. Limitou-se
a suspirar e apertar a minha mão pequena na sua.
— A Casa de Livy, por favor, Ted -, ele pedi
baixinho, e é silencioso.
Eu olho e vejo que está olhando para fora da janela.
Ele está pensativo.
101
— Obrigada-, sussurro. Me aproximo dele e me
enrolo ao seu lado. Dessa vez não me ajuda a
estabelecer-me e continua a olhar pela janela,
observando o mundo exterior.
— Não, não me agradeça, nunca, respondeu com
voz calma.
— Mantenha a porta fechada-, diz Miller, e pega
meu rosto com as mãos. Inspeciona o meu rosto
com uma expressão de preocupação, quando
dissemos adeus na porta. — Não abra pra ninguém.
Eu voltarei assim que tiver recolhido algumas
roupas limpas.
Franzo a testa. — Devo esperar visitas?
A preocupação desaparece num piscar de olhos,
substituída pela exasperação. Após a nossa troca de
palavras no carro que eu sabia que tinha marcado
uma vitória, mas sinceramente nunca esperei Miller
de tão bom grado permanecer aqui.
Eu quero que ele fique, é claro, mas não tinha a
intenção de testar a sua paciência já limitada. Já o
fiz insistindo que queria estar aqui. Eu não estava
preparada para ir para o outro lado da cidade,
enquanto Miller poderia dar uma olhada em seu
apartamento e pegar algumas roupas limpas. Ele
teria a oportunidade de me trancar lá, e eu não
tenho nenhuma dúvida que ele faria. Mas eu não
sou tão ingênua a ponto de acreditar que Miller
tem alguma coisa a ver com minha casa, e eu me
preocupo com as coisas sobre a minha avó.
— Não seja tão insolente, Olivia.
— Você ama minha insolência. – Tiro suas mãos do
meu rosto e a devolvo. — Eu vou tomar um banho.
Coloco-me na ponta dos pés e beijo seu queixo,
despachando-o.
—Seja rápido -, digo.
— Serei –, ele responde.
102
Viro-me de costas e estou muito consciente de que
ele está esgotado. Parece exausto.
— Eu te amo.
Eu recuo até que estou na sala e agarro a
maçaneta.
Um sorriso irônico curvou seus lábios. Ele coloca as
mãos nos bolsos da calça jeans e começa a voltar
no caminho.
— Feche a porta-, ele repete.
Assinto, fecho a porta devagar, eu fecho a chave e a
corrente de segurança. Eu sei que não vai sair até
que ouça que tudo está fechado.
Depois de passar muito tempo olhando para o longo
corredor que leva até a cozinha à espera de ouvir o
som familiar e reconfortante da minha avó
movimentando sobre ela, fico parada ali por uma
eternidade.
Finalmente convenço meu corpo cansado para me
levar para as escadas. Mas, de repente eu paro
quando eu ouço uma batida na porta. Intrigada, eu
vou lá e estou a ponto de girar as chaves, mas algo
me impede quando me lembro da voz de Miller me
dizendo para não abrir pra ninguém. Eu respiro
fundo e pergunto quem ele é, mas param. Será o
meu instinto?
Eu calmamente ando para longe da porta, entro no
quarto e me aproximo da janela. Todos os meus
sentidos estão em alerta máximo. Sinto-me
inquieta, nervosa, e dou um salto enorme quando
ouço batidas novamente.
— Foda-se! -Exclamo provavelmente muito alto.
Meu coração bate rapidamente em meu peito,
enquanto vou na ponta dos pés até a janela e espio
através da cortina.
De repente, um rosto aparece diante de mim.
— Foda-se! -Eu grito, e me puxo para fora da janela
103
em execução. Agarro meu peito. Eu mal posso
respirar em estado de choque. Meus olhos e minha
mente estão tentando registrar um rosto que
reconheço. — Ted? – A face enrugada em confusão.
O homem sorri afavelmente e faz um aceno de
cabeça em direção à porta antes de desaparecer de
vista. Eu rolo meus olhos e engulo em uma
tentativa para evitar que o meu coração saia pela
minha boca.
— Está querendo me matar- murmuro algo, e vou
para a porta. Estou convencida de que ele está aqui
desde que Miller me deixou, montando guarda.
Desbloqueio e abro a porta. Um corpo vem em
disparada em minha direção e mal consigo me
afastar a tempo.
— Merda!-grito batendo contra a parede do
corredor.
Meu pobre coração ainda não se recuperou do
choque de ver o rosto de Ted na janela.
Miller passa ao meu lado com sua mala e deixa ao
pé da escada.
— Ted mantinha a guarda?- Eu pergunto, para
confirmar. É isso o que me espera? Tenho meus
próprios guarda-costas?
— Você realmente achou que eu ia deixá-la
sozinha? -Miller passa ao meu lado novamente e
vira a cabeça para seguir até Ted, que está
fechando o porta-malas do Lexus. — Obrigado.
Ele entrega as chaves e sacode a mão.
— Um prazer-. Ted sorri, sacode a mão e olha na
minha direção. — Boa noite, senhorita Taylor.
— Boa noite!-, murmuro, e vejo como Miller vira e
volta para o caminho do jardim.
Ted se instala no assento do motorista e desaparece
num piscar de olhos. Então o mundo desaparece,
quando Miller fecha a porta e corre as travas.
104
— Precisamos aumentar a segurança-. Ele se vira
para encontrar meu rosto pasmo. — Está tudo bem?
Piscando sem parar. Meu olhar indo da porta para
ele repetidamente.
— Existem três travas, uma cilíndrica, um encaixe e
uma corrente.
— E ainda assim eu sou capaz de entrar-, diz,
lembrando-se dos tempos em que ele se esgueirou
para a minha casa para conseguir “o que ele mais
gosta”.
— Porque eu olhei pela janela, vi Ted e abri a porta
-eu respondo.
Sorri em reconhecimento do minha insolência, mas
não responde.
— Preciso de um banho.
— Eu adoraria me juntar a você -, sua voz
sussurrada é profunda e se aproxima de mim. Ele
deixou cair os braços e eu sinto meu sangue
aquecido. Dá mais um passo para frente. — Eu
gosto de minhas mãos molhadas massageando seus
ombros, cada centímetro de seu corpo até que em
sua linda cabecinha só haja espaço para mim.
Ele já conseguiu, e até mesmo me tocou, mas eu
aceno de qualquer maneira e mantenho a calma até
que eu o tenho diante de mim e me levanta em
seus braços.
Eu envolvo os braços e afundo o rosto em seu
pescoço. Sobe as escadas para o banheiro. Eu
sorrio, ele inclina para ligar a água e arranca
minhas roupas.
— Não há muito espaço -, eu digo, e colocando
minhas roupas no balde de lavagem,
comprometemo-nos, até que eu estou
completamente nua.
Ele balança a cabeça ligeiramente, puxa a bainha da
camisa sobre a cabeça. Os músculos de seu
105
estômago se contraem e relaxam, como resultado
do movimento, e eu não posso olhar para longe de
seu torso. Meus olhos cansados, piscam algumas
vezes e vai para as pernas quando retira suas
calças jeans. Suspiro sonhadora.
— Terra para Olivia. – A suavidade de sua voz me
chama a olhar para ele. Eu sorrio e me aproximo
dele para colocar a mão no meio do peito. Depois
de um dia mental e fisicamente desgastante, eu só
preciso senti-lo e sentir o prazer do toque
reconfortante.
Percorro o seu peito e os meus olhos seguem o
traço do caminho. A cabeça de Miller cai me
observando. Sinto as mãos na minha cintura
suavemente, tomando cuidado para não
interromper os meus movimentos controlados.
Minha mão sobe para seus ombros, para seu
pescoço, e seu queixo escuro até chegar aos lábios
hipnóticos. Separa-se lentamente e desliza meu
dedo entre eles. Ele inclina a cabeça com um sorriso
quando dá pequenas mordidas leves.
Em seguida, nossos olhos se encontram e trocam
um milhão de palavras sem falar. Amor. Adoração.
Paixão. Desejo. Precisa...
Libero meu dedo e ambos nos aproximamos um do
outro lentamente.
E toda essa coisa intensifica quando nossas bocas
são ligadas. Eu fecho meus olhos e deslizo as mãos
até a cintura. Ele agarra meu pescoço e me abraça,
enquanto, minha boca é reverenciada por uma
eternidade e me muda para um lugar onde apenas
nós existimos, Miller e eu; um lugar criado para me
fundir a ele. Um lugar seguro. Um lugar tranquilo.
Um lugar perfeito.
Me mantém apertada, como sempre, e o poder que
transparece é esmagador, mas sua ternura
106
constante elimina qualquer medo possível. Não há
dúvida que é sempre Miller quem dirige as coisas. É
ele quem domina o meu corpo e meu coração. Sabe
o que e quando eu preciso dele. E ele me mostra
em todos os aspectos do nosso relacionamento, não
só nos momentos em que ele está me adorando.
Como hoje, quando eu precisava ir ao hospital
imediatamente. Ou quando eu precisava chegar em
casa e mergulhar na presença persistente de minha
avó. Como quando eu precisava para ele deixar seu
mundo perfeito e estivesse aqui comigo.
Nosso beijo desacelera, mas Miller ainda me segura
firme. Depois de beliscar seu lábio inferior, nariz e
bochecha, se afasta e meus olhos divididos, depara
com o eventual dilema. Ele não sabe o que focar e
meu olhar oscila, repetidamente, entre suas
ofuscantes esferas azuis e a boca hipnótica.
— Vamos tomar um banho, minha menina bonita.
Passamos meia hora na água quente. O espaço
limitado faz com que seja um banho muito íntimo,
mas não esperava menos. Seria assim se
tivéssemos hectares de espaço. As mãos apoiadas
sobre os azulejos da parede, eu penduro minha
cabeça e meus olhos veem como a água espumosa
desaparece no ralo enquanto as mãos macias de
Miller com sabão massageiam cada músculo do
meu corpo cansado, provocando um sentimento
divino. Coloca shampoo e condicionador para aplicar
as extremidades. Eu ainda permaneço em silêncio o
tempo todo, e só me movo quando me coloco na
posição mais confortável que ele encontra para
cumprir a sua missão. Depois de beijar suavemente
cada milímetro do meu rosto molhado, ele me ajuda
a sair do banho e me seca antes de me levar para o
meu quarto.
107
— Está com fome?-, ele pergunta quando passa
uma escova nos cabelos molhados.
Eu balanço minha cabeça e decido ignorar os
ligeiros movimentos atrás de mim, mas insiste. Eu
sou colocada na cama e ele rasteja atrás de mim
até que nossos corpos nus estejam fortemente
interligados e seus lábios começam a dançar
preguiçosamente ao redor dos meus ombros. O
sono vem facilmente, assistida pelo sopro tênue de
Miller e o calor de seu corpo pressionado
completamente atrás de mim.
108
CAPÍTULO 8
Um motim arranca-me dos meus sonhos e me faz
descer as escadas a uma velocidade absurda.
Desembarco na cozinha, ainda meio adormecida,
nua e com a visão ligeiramente turva. Pisco várias
vezes para limpar a minha vista até que eu vejo
Miller, que tem o torso no ar e uma caixa de cereais
na mão.
— Qual é problema? -, ele pergunta, seus olhos
preocupados e inspecionando o meu corpo nu.
A realidade bate no meu cérebro acordando de
novo, uma realidade que não é a minha avó que
está agitada na cozinha, feliz e contente; é Miller, o
que parece estranho e fora do lugar. Eu consumo
uma tremenda culpa por me sentir decepcionada.
— Você me assustou. - Isso é tudo que posso
pensar para dizer e, de repente muito alerta,
percebo que estou nua e começo a voltar pela
cozinha.
Eu olho por cima do meu ombro. — Vou pegar
algumas roupas.
— Okey -, ele concorda, me observando de perto
enquanto eu desapareço pelo corredor.
Eu volto lá para baixo, e encontro a mesa posta
para café da manhã e Miller, ainda mais fora do
lugar, sentado com o telefone no ouvido. Ele indica
para eu me sentar, o que eu faço lentamente
enquanto ele continua com sua chamada.
— Eu vou estar na hora do almoço-, diz ele, direto
ao ponto antes de pendurar e pousar o telefone
dele. Ele olha do outro lado da mesa para mim, e
constato após apenas alguns segundos de estudá-lo
que ele está se tornando o homem sem emoções
109
que repele todo mundo. Estamos de volta a
Londres. Tudo o que está faltando é o terno dele.
— Quem era?-, eu pergunto, pegando a chaleira
fumegante, colocada no centro da mesa, e me sirvo
de uma xícara de chá.
— Tony. – Sua resposta é curta e seca, no mesmo
tom que ele estava usando apenas agora a pouco.
Coloco o bule, um pouco pesado, à minha direita,
faço o trabalho rápido de adição de leite, mexendo e
depois assisto com espanto Miller se inclinar sobre a
mesa e pegar o bule, colocando-o exatamente de
volta no centro da mesa.
Suspiro. Eu bebo um gole de chá e me encolho
imediatamente ao perceber o seu sabor. Engulo
como eu posso e deixo o copo em cima da mesa.
— Quantos sacos de chá você colocou?
Ele franze as sobrancelhas e olha o bule.
—Dois.
— Não tem gosto de nada. Tem gosto de leite
morno. Chego mais perto, retiro a tampa e olho
dentro. — Aqui não há nada.
— Eu os tirei.
— Por quê?
— Porque eles bloqueiam o bico.
Eu sorrio.
— Miller, um milhão de chaleiras na Inglaterra têm
sacos de chá em suas bocas e não ficam
bloqueadas.
Ele revira os olhos, inclina-se para trás na parte
traseira de sua cadeira e cruza os braços sobre o
peito nu.
— Eu sou intuitivo... –
— Miller Hart?-, presunçosamente interrompo
sorrindo. — Nunca.
Sua expressão meramente cansada alimenta a
minha diversão. Eu sei que ele estava curtindo
110
minha brincadeira, mas se recusava a seguir o jogo.
— Você está sugerindo que as minhas habilidades
para preparar o chá deixa muito a desejar.
— Sua intuição é correta.
— Pensei assim-, murmura. Pega o telefone da
mesa e tecla alguns botões. — Eu estava tentando
fazer você se sentir em casa.
— Eu estou em minha casa. – Me assusta com a
visão de seu olhar e a expressão de dor. Eu não
quis dizer o que parecia. — Eu...
Miller pega o telefone próximo ao ouvido.
— Prepare o meu carro para as nove-, ordena.
— Miller não...
— E verifique se ele está impecável -, continua,
ignorando minhas tentativas de explicar.
— Você já o levou...
— E isso inclui o boot, também.
Eu pego minha caneca, só assim eu posso bater
para baixo. E eu faço. Com força. — Deixe de ser
infantil!
Ele encolhe os ombros em sua cadeira e desliga.
—Desculpe-me?
Eu sorrio um pouco.
— Não começa, Miller. Eu não tive a intenção de
ofendê-lo.
Apoia os antebraços sobre a mesa e se inclina para
frente.
— Por que você não vem comigo?
Olho seus olhos suplicantes e suspiro.
— Porque eu preciso estar aqui -, digo, e quando
vejo que ele não entendeu, prossigo, esperando
fazê-lo compreender. — Preciso de tudo pronto para
quando ela voltar para casa. Eu preciso estar aqui
para cuidar dela.
111
— Bem, ela vir morar conosco-, responde
imediatamente.
Ele está sério, e eu estou perplexa.
— Você está preparado para se expor à
possibilidade de alguém além de mim para quebrar
a perfeição de sua casa? - Avó acabará
enlouquecendo Miller. Não importa o quão doente
ela está, ela iria tentar assumir o controle da casa.
Seria a anarquia, e Miller não iria suportar.
— Acredite em mim -, eu digo, — Você não sabe o
que está dizendo.
— Sim, eu sei -, ele responde, e eu apago o sorriso
de seu rosto. — Eu sei o que você está pensando-.
– O que? – eu o amaria se confirmasse os meus
pensamentos, porque se ele fizer isso, será como
uma espécie de admissão.
— Você sabe o quê? -Seus olhos estão advertindo-
me. — Vou me sentir melhor se você permanecer
na minha casa. É mais seguro.
Eu reúno toda a paciência que me resta para não
demonstrar a minha exasperação. Eu devia ter
adivinhado. Eu me recuso há ter o dia todo com
alguém me protegendo. Apaixonei-me por Miller
Hart porque ele me deu a liberdade, despertou o
meu desejo de viver e de sentir, mas eu também
estou consciente de que minha liberdade renovada
pode levar a determinadas limitações. Eu não vou
deixar isso acontecer.
— Eu fico aqui-, eu digo com absoluta
determinação, e o corpo de Miller relaxa em sua
cadeira.
— Como queira-, ele fecha os olhos e olha para
cima. — Porra insolente.
Eu sorrio. Amando ver Miller tão exasperado, mas
sua rápida aceitação eu amo ainda mais.
— O que vai fazer hoje?
112
Ele abaixa a cabeça e olha para mim com os olhos
apertados, desconfiado.
— Você não vai se juntar a mim, certo?
Meu sorriso se intensifica.
— Não. Vou ver minha avó.
— Você pode vir para o Ice comigo em primeiro
lugar.
— Não. – Eu balanço minha cabeça lentamente.
Imagino que Cassie vai estar lá e eu não quero
olhar seu rosto de desprezo ou suas palavras, que
provavelmente vão me reduzir a poeira. Eu tenho
coisas melhores a fazer do que entrar em um
campo de batalha, e eu não vou estar atrasada nem
por um segundo para ir ver minha avó.
Ele se inclina para frente, seu queixo treme.
— Você está esgotando minha paciência, Olivia.
Você vem, e você vai aceitar.
Eu vou? Eu sei que ele está tentando impor suas
regras, suas maneiras arrogantes, mas tudo o que
consegue é despertar minha insolência, em vez de
me forçar a ser razoável. Apoio as mãos sobre a
mesa e me movo mais rápido, tornando Miller para
trás em sua cadeira.
— Se você quiser me manter como uma posse, você
tem que parar de agir como um idiota! Eu não sou
um objeto, Miller. Você apreciar suas posses não
significa que você vai mandar em mim-. Eu me
levanto e guincho a cadeira para rastejar de volta
contra o chão. — Vou tomar banho.
Meus pés correm para fugir da fúria crescente que
emana em Miller como resultado de minha
insubordinação. Eu não posso deixá-lo ir, e eu não
posso satisfazê-lo em tudo.
113
Eu levo o meu tempo para tomar banho e me vestir
e surpreendo-me quando volto ao térreo e vejo que
Miller se foi. Mas eu não estou surpresa de ver que
tanto a cozinha cheira como se tivesse sido atacada
por um spray antibacteriano e brilha como se
estivesse coberta com glitter. Eu não vou reclamar,
porque isso significa que eu posso ir para o hospital
sem demora. Pego minha bolsa, abro a porta e eu
corro enquanto eu olho para minhas chaves na
minha bolsa.
— Oh!-, de repente grito quando bato no peito de
alguém e salto para trás. Colido no batente da porta
e bato meu ombro. — Porra! – Minha mãos chegam
nas minhas costas e esfrego para aliviar a dor da
pancada.
— Você está com pressa?- Dedos fortes seguram
meu braço e me seguram no lugar.
Meus olhos viajam em uma figura e eu sei quem
vou encontrar uma vez que se aventura além do
pescoço. E não estou enganada: William. O velho
cafetão de minha mãe e meu anjo da guarda
autonomeado.
— Sim, portanto, se você me der licença... -
Eu me movo para evitá-lo, mas ele se move e
bloqueia minha passagem. Mordendo minha língua,
eu respiro profundamente para me acalmar,
endireito os ombros e queixo para cima. Ele não
está nem um pouco envergonhado, eu não me
sinto bem. Minha insolência está ficando difícil de
conter. É desgastante.
114
— Para o carro Olivia-. Sua voz me deixa louco, mas
eu sei que se eu recusar não irá me levar a lugar
nenhum.
— Ele fez você vir aqui não foi?- Não acredito!
Desgraçado!
— Eu não vou negar-. William confirma meus
pensamentos e diz que o carro de Ted espera com a
porta aberta e com aquele sorriso perpétuo em sua
cara dura, mas amigável.
Eu sorrio de volta e fico com raiva de novo quando
eu volto novamente para William.
— Se você me encher, eu vou cortar sua cabeça,
seu estúpido!
— Estúpido? Cortar? Como sair? William ri. "Idiota",
"cortar a cabeça", o que vem depois?
— Chutar sua bunda. – Eu falo, e passo à frente
dele para entrar no carro. Eu não sei se Miller e
você notaram, mas eu sou uma pessoa adulta!
— Senhorita Taylor-, Ted me cumprimenta, e toda a
minha raiva desaparece no instante que entro na
traseira do carro.
— Oi, Ted-, eu digo alegremente, e finjo que eu não
vejo o rosto de descrença que William joga para seu
motorista. Ele dá de ombros e leva sem importância
à questão.
Eu não poderia estar irritada com este tipo tão
amigável, mesmo se eu quisesse. Tem uma aura de
calma que parece contagiante. E que dirige como
um louco.
Apoio-me no banco e espero que William sente do
outro lado, enquanto eu viro meu anel e olho para
fora da janela.
— Eu tinha pensado em ir visitar Josephine essa
manhã, de qualquer foram-, diz.
Eu finjo não ouvir e puxo meu telefone de minha
bolsa para enviar uma mensagem para Miller.
115
“Eu estou com raiva de você.”
116
-O que eu fiz para você ficar com raiva, minha
doce menina?
118
quando eu caio no salão do hospital, morta de tanto
rir. Porra! Eu ri, e eu olho para William enquanto eu
seco as
lágrimas que escaparam dos meus olhos. Minha
raiva em torno de nós, claramente desconfortável.
Boa tentativa, William. Eu continuei meu caminho e
me deixei seguir sem hesitação. Ele está
desesperado.
— Desculpa por desapontá-lo-, digo por cima do
ombro. — Mas Gregory é gay.
— Sério? -Sua resposta atordoada me faz sorrir
novamente, satisfeita em ver o formidável William
Anderson surpreendido. Poucas coisas o perturbam,
mas isso foi feito para minha grande satisfação.
— Sim, por isso não desperdice saliva.
Eu deveria estar furiosa com sua insistência de me
colocar longe de Miller, mas meu prazer não
permite isso. Mas se Miller descobre que William
está tentando interferir, não vai ser tão gentil.
Deixo Willian recuperar a compostura, e movo-me
rapidamente através da sala e vou para o quarto,
onde está minha avó.
— Bom Dia!-, cantarolo para encontrá-la sentada
em sua cadeira com um vestido floral e
perfeitamente penteada.
Tem uma bandeja em seu colo e ela está colocando
seu dedo em algo que se parece com um sanduíche
de ovos.
Seus olhos azuis olham para mim afastando minha
alegria por um segundo.
— São bons?
Rosna, e empurra a bandeja sobre a mesa.
Eu deixo meu coração afundar quando eu me sento
na beirada da cama.
— Você está no melhor lugar, vovó.
119
— Pfff!- resmunga, retirando seus cachos perfeitos
de seu rosto. — Sim, se eu estivesse morta, mas
acho que estou perfeitamente bem!
Para não ser condescendente, forço meus olhos pra
não rolar.
— Se os médicos consideram que você está
perfeitamente, então porque a mantém.
— Eu pareço assim? - Levanta os braços e aponta
para uma velha enrugada que está na cama oposta.
Eu pressiono meus lábios, sem saber o que dizer.
Não, a verdade é que minha avó não parece nada
com a pobre mulher cochilando com a boca aberta.
Parece que ela está morta.
— Enid!–, grita minha avó, e eu pulo de susto. —
Enid, querida, essa é a minha neta. Lembra-se de
que lhe falei dela?
— Vovó, ela está dormindo!-, eu assobio apenas
quando William aparece ao virar da esquina. Ele
está sorrindo, provavelmente ouviu Josephine
causando estrago.
— Ela não está dormindo -, responde minha avó.
— Está dormindo Enid?
Balanço a cabeça e olho para William novamente
com olhos suplicantes, mas ele simplesmente
continua sorrindo e encolhe os ombros. Ambos
atiraram-nos olhares soslaio quando ouvimos tosses
e gemidos que emana de Enid, e vejo seus olhos
pesados olhar esse alvo em todos os lugares,
desorientada.
— Olá! Por aqui!–, minha avó balança o braço como
o inferno no ar.— Coloque seus óculos, querida. Eles
estão em seu colo.
Enid tateia em torno das cobertas por um momento
e coloca os óculos. Um sorriso desdentado
materializa em seu rosto desfigurado.
120
— É muito bonita - fala, e deixa cair a cabeça para
trás de novo, fecha os olhos e abre a boca.
Eu estou prestes a levantar-me, alarmada.
— Ela está bem?-, William ri e se junta a mim, na
cama na frente de minha avó.
— É a medicação. Ela está bem.
— Não-, interveio minha avó. Eu estou bem. Ela
está em seu caminho para as portas do céu.
Quando vou receber alta?
— Amanhã, ou talvez sexta-feira, isso depende do
que o médico concordar -, William diz a ela,
trazendo um sorriso esperançoso no rosto de minha
vó.
— Depende do que diz o cardiologista-, reitera
observando atentamente minha avó.
— Certamente ele vai concordar-, ela responde
confiante também, e coloca as mãos no colo. O
silêncio escuro de seus olhos azuis viaja entre
William e eu algumas vezes, com curiosidade.
— Como estão vocês?
— Muito bem.
— Bem. - Minha resposta confronta com a de
William e olhamos, pelo canto do olho, um para o
outro.
— Onde está Miller?-, ela continua, atraindo a
atenção de volta à sua presença absorvendo.
Mantenho o pensamento tranquilo que William vai
voltar a responder, mas ele fica em silêncio e deixa-
me falar. A tensão entre nós é clara, e para minha
avó isso não passa despercebido. Nós não estamos
ajudando em tudo. Eu não quero que ela se
preocupe com nada além de se recuperar.
— Está trabalhando-. Eu começo a brincar com o
jarro de água na mesa de cabeceira ao lado da
cama, apenas para mudar de conversa. — Quer um
um pouco de água fresca?
121
— A enfermeira trouxe um pouco antes de você
chegar. - Ela apressa-se a responder, por isso
desvia a atenção para o copo de plástico ao lado do
jarro.
— Quer que eu lave?-, eu perguntei esperançosa.
— Já fizeram isso.
Entrega-me e eu encaro o rosto com curiosidade.
— Você precisa de mim para trazer roupas ou
pijamas? Coisas de banho?
— William teve o cuidado de me trazer ontem de
manhã.
— Ah sim? – Surpresa, olho para William e ele finge
que não vê... — Que tipo da parte dele.
O homem de terno se levanta da cama e se inclina
para beijar a minha avó na bochecha. Ela o recebeu
com um sorriso caloroso, levantando a mão e dando
um tapinha no braço.
— Ainda tenho muitos créditos?-, ele pergunta.
— Sim!- Minha avó pega o controle remoto e
direciona-o para a TV. Isso vem a vida e se inclina
para trás em sua cadeira. — A invenção
maravilhosa. Sabia!
— Eu posso ver todos os episódios de "EastEnders"
do mês passado com o clicar de um botão?
— Incrível-, concorda William, e redireciona seu
sorriso para mim.
Eu estava atordoada assistindo em silêncio,
enquanto minha velha avó e o cafetão de sua filha
conversam como se fossem da família. William
Anderson, Mr. Bass do mundo, não parece estar
tremendo agora. E minha avó não parece baixar sua
coragem contra o homem que levou sua filha
embora.
O que ela sabe? Ou o que William disse a ela?
Ninguém que os visse diria que houve inimizade ou
rancor entre eles. Eles parecem confortáveis e
122
felizes com a sua amizade mútua. Me deixa confusa.
— É melhor eu ir agora-, anuncia William,
suavemente, interferindo os meus pensamentos e
me traz de volta para a realidade do quarto de
hospital que se fazia sentir.
— Comporte-se Sra. Josephine-.
— Sim, sim-, murmura minha avó, despedindo-se
com um aceno de mão. — Se eles me liberarem
amanhã, vou ser um anjo.
William ri e os olhos de cristal cinza brilham com
amor pela minha amada avó.
Sua liberdade depende dele. Mas eu vou atrás. Sua
figura alta se vira para mim e o sorriso intensifica
ante a minha perplexidade óbvia.
— Ted voltará para buscá-la depois que me deixar
na Sociedade. Ele irá levá-la para casa.
A menção ao estabelecimento de William
interrompeu o meu impulso de recusar quando as
memórias do clube luxuoso, e as lembranças
começam a dançar em minha mente e me forço a
fechar olhos para contê-los.
— Tá bem-, murmuro.
Levanto-me e arrumo o travesseiro macio para
evitar enfrentar o olhar severo que está me dando
mais tempo do que o necessário.
A campainha do meu iPhone é cronometrada
perfeitamente, permitindo-me focar minha atenção
na busca de meu celular, assim que acabar de
arrumar o travesseiro.
126
minhas retinas. Eu olho para ela, deixo queimar
também os meus problemas.
— Miller não é um traficante de drogas-, eu digo
calmamente. Seria fácil perder a cabeça nesse
momento.
— E que tal Sophia, ainda não está claro quem ela
é, mas com certeza não é trigo limpo. Ele começa a
rir. — Sequestro?
— Ela é apaixonada por Miller.
— Pobre vovó -, Gregory continua. Ela convidou
William para a sua mesa como se fossem velhos
amigos.
— Eles são.
Relutantemente eu admito que ele deva tentar
descobrir o quão longe, mas também sei que minha
avó é delicada, e desenterrar velhos fantasmas
seria uma estupidez agora. Levanto a cabeça com
um suspiro, embora ele não perceba. Gregory segue
seu próprio raciocínio, ansioso para compartilhar
suas conclusões.
— Ele foi vê-la todos os dias quando você não
estava... Ele finalmente para, e estica o pescoço
para trás em seus ombros largos. — Eles são
amigos, você disse?
— Ele conhecia minha mãe-. Eu sei que essas
palavras provocam uma torrente de perguntas,
então eu levanto minha mão quando eu o vejo
tomar um fôlego.
— Miller trabalha para essas pessoas, e eles não
querem o deixar parar. Ele está tentando encontrar
uma maneira de fazê-lo.
Olha-me com um olhar severo.
— E o que isso tem a ver com o padrinho?
Eu não posso deixar de sorrir para sua piada.
— Foi o chefe de minha mãe. Ele e o chefe de Miller
não se dão bem. Ele está tentando ajudar.
127
Abre os olhos arregalados.
— Fodaaa...
— Estou cansada, Gregory. Eu estou cansada de me
sentir tão frustrada e impotente. Você é meu amigo,
por isso peço-lhe para não aumentar essa
percepção. – Eu suspiro e noto que todos esses
sentimentos também são ampliados, simplesmente
por causa da minha própria confissão. — Eu preciso
de você para ser meu amigo. Por favor, seja meu
amigo.
— Maldição!-, murmura, e abaixa a cabeça
timidamente. — Agora eu me sinto como uma
merda de primeira classe.
Eu não quero me sentir culpada. Eu quero dizer que
eu não quero me sentir mal e deixá-lo se sentir mal
também, mas não encontro força para fazê-lo.
Desencosto da parede e rastejo em direção à saída.
Ele pode estar muito zangado com Miller, mas
também sei que ele é o único capaz de me consolar.
Sua palma desliza em meu ombro e suas pernas
imitam meu passo. Mas ele não diz nada,
provavelmente demasiadamente assustado para
enviar-me mais em desânimo. Olho para o meu
melhor amigo quando ele me puxa um pouco mais
perto, mas ele permanece focado para frente.
— Você não vai ver minha avó?
Ele balança a cabeça com um sorriso triste.
— Eu vou falar com ela no Skype através da TV tão
grande. Ela fica toda animada.
— Ela tem internet?
— E telefone, mas ela gosta de me ver.
— Vovó está usando internet?
— Sim. E muito. William não para de recarregá-la
de credito. Deve ter gasto uma fortuna com ela nos
últimos dias. Ela está viciada.
Eu ri.
128
— Como está Ben?
— Chegando lá.
Sorrio feliz ao ouvir a notícia. Isso só pode significar
uma coisa.
— Fico feliz. Você trouxe a van?
— Sim. Gostaria de ir a algum lugar?
— Sim. – Eu sorrio e me aconchego em seu peito.
Eu não estou indo com Ted. — Podemos ir para a
cafeteria, por favor?
129
CAPÍTULO 9
O telefone de Gregory começa a tocar assim que o
carro para na esquina da cafeteria, ele levanta a
bunda do assento para procurá-lo no bolso de sua
calças enquanto eu abro a porta.
— Eu vou te ligar mais tarde -, digo me inclinando
para beijá-lo na bochecha.
De repente, eu o vejo franzindo a testa para a tela.
— O que foi?
— Espere. – Ele levanta um dedo para eu esperar
um momento enquanto atende. — Olá? – Ele relaxa
um pouco, minha mão descansando na maçaneta da
porta aberta. Eu o ouço atentamente por alguns
segundos. Parece incomodado em seu assento. —
Ela está comigo.
Encolho-me, e cerro os dentes de uma vez, em
seguida, instintivamente, eu deixo a Van e fecho a
porta. Meus pés são ligeiros para passar para o
outro lado da estrada. Eu devia ter adivinhado que
haveria um grupo de busca, depois de deixar Ted
esperando no hospital e não ter respondido a
inúmeras chamadas de Miller e William.
— Olivia! -, Gregory grita.
Eu me volto quando estou em segurança do outro
lado da estrada, eu olho e o vejo balançando a
cabeça. Eu dou de ombros e me sinto
tremendamente culpada, mas só porque eu não
disse a Gregory que Ted estava esperando por mim
sob as ordens de William. Eu não vou
intencionalmente arrastá-lo para o centro dessa
batalha.
Eu levanto a mão, viro as costas e desapareço por
uma estrada que vai me levar para a cafeteria. Mas
eu estremeço quando meu sofisticado iPhone
130
começa a tocar que “Eu sou sexy e eu sei”, na
minha bolsa.
— Merda -, murmuro. Eu tiro ele, chorando por
dentro por escolher este tom para o meu melhor
amigo.
— Gregory! –, digo mantendo o passo.
— Você foi desonesta!
Eu rio e verifico o tráfego antes de atravessar a rua.
— Eu não fui desonesta. Eu só não te disse que
tinha um motorista me esperando.
— Foda-se, Olivia! William está muito irritado, e eu
tive o Senhor parafuso solto me chamando também.
— Miller? Eu não sei por que eu pergunto. Quem
mais seria o outro parafuso solto?
— Sim. Porra, baby! Quando que minha amiga se
transformou em algo perigoso? Eu temo pela minha
coluna, meus ossos... e minha porra de cara bonita!
— Relaxe, Gregory. - Pulo quando uma buzina de
carro me assusta, e levanto a mão pedindo
desculpas quando chego à calçada. — Eu vou falar
com os dois agora.
— Tenha certeza -, ele rosna.
Isso é um absurdo, e agora eu estou ponderando o
que é pior. Minha auto infligida vida solitária foi um
pouco lenta, mas muito mais simples, já que era só
eu para dirigi-la. Nada mais. Eu sinto que Miller me
acordou, me libertou, como ele disse, mas agora
está tentando arrebatar toda sensação de liberdade,
e eu estou começando a ressentir por isso. Gregory
é suposto estar do meu lado. Eu vou perdê-lo, se
ele levar o meu melhor amigo para o lado negro.
— Você é meu amigo ou não?
— O quê?
— Você me ouviu. Você é meu amigo ou não? Ou
talvez, William e você tenham se tornado próximo
nesse tempo eu estive fora?
131
— Muito engraçado, bebê. Muito engraçado.
— Não é uma piada. Responda a pergunta. – Há
uma curta pausa, seguida por uma longa inspiração.
— Seu -, responde enquanto exala.
— Eu estou muito feliz por ter clarificado. - Faço
uma careta, e desligo Gregory. Olho para os dois
lados, antes de atravessar a rua que leva até a
lanchonete.
Meus pés estão voando no asfalto, e quase salto
quando me aproximo do meu local de trabalho. Eu
também estou sorrindo.
— Olivia! – Um grito de ódio me faz parar no meio
da estrada e balançando ao redor. Eu ouço muitas
buzinas e gritos de horror.
— Olivia! Mova-se!
Olho ao redor freneticamente, confusa tentando
descobrir a fonte e a razão para a comoção. Então
eu vejo um SUV preto que vem para mim a toda
velocidade. Minha mente emite os comandos
apropriados:
“Mexa-se!”
“Corra!”
“Saia do caminho”.
Mas meu corpo ignora todos eles. Eu estou em
choque. Imóvel. Presa fácil.
As ordens constantes de minha mente ofuscam
todos os outros sons em torno de mim. A única
coisa que posso me concentrar é que o carro está se
aproximando cada vez mais.
O rangido das rodas é o que finalmente me tira do
meu transe, seguido de passos pesados no asfalto.
Alguém me agarra e me tira do chão. O impacto me
traz de volta à vida, mas meu destino é suave.
Estou desorientada. Confusa. De repente, eu estou
me movendo, mas não por minha própria
vontade, e logo me vejo sentada com Ted se
132
agachando na minha frente. De onde é que ele
veio? Se eu o deixei no hospital...
— Você vai ser a causa da minha demissão menina
- ele diz, inspecionando o meu rosto e meu corpo
para ter certeza que eu não estou ferida. — Pelo
amor de Deus!-, resmunga, ajudando-me a
levantar.
— Eu só... desculpa -, gaguejo enquanto Ted
balança minhas roupas infinitamente e bufa de
irritação. Me balança o corpo inteiro. — Eu não vi o
carro.
— Isso é o que eles queriam -, murmura baixinho,
mas ouço alto e claro.
— Eles tentaram me atropelar de propósito? -, Eu
pergunto confusa e petrificada diante dele.
— Talvez fosse apenas uma advertência, mas não
vamos tirar conclusões precipitadas. Onde você
estava indo?
Eu indico cegamente por cima do meu ombro para o
café em frente, incapaz de colocar em palavras.
— Eu vou esperar aqui.
Ele balança a cabeça, enquanto o telefone é retirado
do bolso e me olha com firmeza para me avisar
para não escapar novamente.
Eu estou com as pernas trêmulas e faço todo o
possível para recuperar alguma estabilidade, antes
de me apresentar aos meus colegas. Não quero que
eles suspeitem que algo esteja errado. Mas algo
está muito errado. Alguém tentou me atropelar, e
se eu tiver em mente a preocupação expressa de
Miller nos últimos dias, só posso concluir que os
bandidos imorais ou o que eles chamam de
bastardos, são responsáveis. Eles estão enviando
uma mensagem.
Eu sinto o cheiro familiar e os sons da lanchonete, e
quase me fazem sorrir.
133
— Meu Deus! Livy! – Sylvie corre ao redor da sala e
deixa um monte de clientes atordoados quando ela
continua caminhando para mim. Eu permaneço
onde estou com medo de bater contra a porta se eu
me afastar. — Estou tão feliz em vê-la!
Ela me abraça e me deixa sem fôlego.
— Oi -, eu digo com o pouco de ar que me sobrou, e
eu franzo a testa para trás para ver um rosto
desconhecido atrás do balcão do café.
— Como vai? -, Sylvie se afasta, mas mantém as
mãos nos meus ombros e aperta os lábios ao
inspecionar meu rosto.
— Bem! -, eu respondo apesar de quão pouco eu
estou distraída com a menina atrás do balcão, que
controla o café como se ela tivesse aqui há anos.
— Estou feliz!-, diz Sylvie sorrindo. — E Miller?
— Bem, também-, confirmo, e de repente eu me
sinto desconfortável e começo a mover meus pés
nervosamente.
Uma surpresa de férias. Isso é o que ela pensa.
Depois de altos e baixos na nossa relação, Miller
querer desfrutar de um pouco de qualidade de
tempo comigo, foi uma desculpa perfeitamente
credível para justificar a minha desculpa ausência
repentina. Del pareceu surpreso quando eu liguei
para dizer-lhe que estaria afastada por uma
semana, mas ele me deu sua bênção e me desejou
uma boa viagem. O problema é que tem sido mais
de uma semana.
Meu telefone toca em minha mão e começo a
reavaliar os benefícios de não ter um. Oculto a tela
dos olhos curiosos de Sylvie, e silencio meu
telefone. É também Miller ou William e eu ainda não
quero falar com qualquer um dos dois.
134
— Como estão as coisas aqui?- Eu pergunto, usando
a única técnica de distração que eu tenho. Ela
funciona.
Ela joga seus brilhantes cabelos pretos de lado a
lado, quando ela balança a cabeça e suspira
cansada.
— Está uma loucura. E ele tem mais ordens do que
nunca de Buffet.
— Livy!- Del aparece na porta de vaivém da
cozinha, seguido por Pa— Quando você voltou?
—Ontem.
Eu sorrio um pouco desconfortável e envergonhada
por não ter avisado. Mas tudo foi muito repentino, e
desde que Miller me contou sobre o ataque cardíaco
minha avó eu não conseguia pensar em outra coisa
que não fosse ela. Tudo o mais parecia
inconsequente, incluindo o meu trabalho. No
entanto, agora que eu estou aqui, eu
esperava para começar de novo assim que
certificar-me de que minha avó foi recuperada.
—Que bom ver você, querida -, Paul pisca para
mim, volta para a cozinha e deixa Del enxugando as
mãos no um pano.
Ele olha de soslaio para a nova garota, que agora
está entregando café para um cliente, e olha para
mim novamente com um sorriso embaraçoso.
De repente eu me sinto autoconsciente e fora do
lugar.
— Eu não sabia quando você estaria de volta, e nós
não aguentávamos em nossos pés. Rose veio
perguntar se havia qualquer vaga livre, e ela caiu
bem nela.
Meu coração afunda em meu Converse. Fui
substituída e pela cara de culpado do Del e o som
de sua voz de lamento, ele não planeja me
reintegrar. — Claro. - Eu sorrio, fingindo
135
indiferença.
Eu não o culpo. Apenas algumas semanas antes, eu
fui para o meu desaparecimento.
Eu assisto Rose carregar o filtro de café e sinto um
senso de propriedade irracional. O fato de que ela
está executando a tarefa com tanta facilidade e ela
estende a outra mão para pegar um pano, não
ajuda. Substituíram-me, e o pior é que fui
substituída por alguém mais competente. Sinto-me
magoada, e estou esgotando todas as minhas forças
para não deixa-lo notar.
— Não se preocupe, Del. Sério. Eu nunca esperei
que mantivesse meu emprego aberto para mim. Eu
não achei que ficaria afastada por tanto tempo.
Olho o meu telefone na minha mão e eu vejo o
nome de Miller piscando, mas eu ignoro e forço-me
a manter o meu sorriso fixo no rosto. — Além disso,
minha avó terá alta amanhã, então eu vou ter que
ficar em
casa para cuidar dela.
É irônico. Eu passei muito tempo usando minha avó
como uma desculpa para ficar longe do mundo,
dizendo que eu tinha que cuidar dela, e agora
realmente ela precisa da minha ajuda. Quando eu
quero ser parte do mundo. Sinto-me
tremendamente culpada por ter ressentimento.
Estou começando a ficar com raiva de tudo e todos.
As mesmas pessoas que me dão a liberdade a tiram
de mim.
— Sua avó está doente?-, Sylvie pergunta com
compaixão. — Nós não sabíamos de nada.
— Oh, Livy, querida, eu sinto muito-. Del se
aproxima de mim, mas eu me afasto e sinto minhas
emoções tomar conta de mim.
— Foi apenas um susto, nada grave. Eles darão alta
amanhã ou sexta-feira.
136
— Bem eu estou feliz. Cuide dela.
137
— Tenho ordens para levá-la para casa, senhorita
Taylor.
Ele ignora a minha observação, que me diz que os
lábios de Ted são selados, que não vai me dizer
nada. Enfim, não há nada para saber. Isso me faz
pensar por que então tentar investigar. Minha avó
não poderia suportar.
Eu decido acabar com o silêncio de Ted.
— Obrigado por me salvar –, digo, mostrando
minha bandeira branca como forma de
agradecimento.
— Um prazer, senhorita Taylor. – O Motorista
mantém os olhos na estrada e evita contato com os
meus olhos através do espelho.
Olhando pela janela, vejo o mundo passar. Uma
enorme nuvem preta desce e envolve a minha
cidade favorita em uma escuridão sombria que se
harmoniza com o meu estado mental atual.
138
CAPÍTULO 10
17 de julho de 1996
Peter Smith
Banqueiro de investimento, 46 anos de idade. Chato por nome, mas
selvagem por natureza. Mais uma vez um homem mais velho.
Casado, mas claramente não recebendo o que ele precisa. Acho
que por agora ele pode implorar.
140
— Sim, você pensa muito, às vezes, não muito
claramente como agora.
Ele se agacha ao lado do sofá ao meu lado.
— Diga-me o que está incomodando você, minha
menina.
— Além do fato de que alguém tentou me atropelar
essa tarde?
Seus olhos refletem perigo e sua mandíbula se
aperta. Por um momento, eu acho que ele vai brigar
comigo pela minha desatenção, mas não diz nada, o
que me diz tudo que eu preciso saber.
— Tudo... – Não hesito em continuar. — Tudo está
errado. William, vovó, Gregory, meu trabalho.
— Eu -, ele respira, chegando a tocar a minha
bochecha. O calor de sua pele na minha me faz
fechar os olhos e meu rosto faz carinho em seu
toque. — Não desista de mim, Olivia. Eu te peço.
Meu queixo treme, eu seguro sua mão e a puxo
para exigir que ele fique. Ele não nega, apesar de
estar vestido da cabeça aos pés com roupas
mais delicadas do que o dinheiro pode comprar. O
calor de seu corpo se junta ao meu, e seus lábios
macios encontram o meu pescoço. Não preciso
reafirmar minha promessa com palavras, então eu
deixo meu corpo falar por mim e me agarro a ele
em todos os lugares.
Encontro a paz.
Encontro à serenidade.
Encontro um profundo conforto familiar que não
pode ser encontrado em qualquer outro lugar. Miller
semeando o caos em minha mente, meu corpo e
meu coração. Mas também ele se dissipa.
Uma hora depois, ainda estamos na mesma
posição. Nós não falamos, nós apenas apreciamos a
presença um do outro. Está ficando escuro. O terno
novo, de três peças, de Miller deve estar muito
141
enrugado e meu cabelo deve estar cheio de nós
depois que ele ficou torcendo sem parar. Acho que
dormi em seus braços sinto como se um milhão de
agulhas espetassem minha pele.
— Tem fome?- pergunta contra o meu cabelo. Eu
balanço minha cabeça. — Você já comeu alguma
coisa hoje?
— Sim!- Eu minto. Eu não quero comer qualquer
coisa, meu estômago não iria tolerar isso, e se ele
tentar me forçar a comer algo, vou liberar um pouco
da minha insolência.
Ele se senta, se inclina sobre os antebraços e olha
para mim.
— Vou vestir algo mais confortável.
— Quer dizer que você está indo para colocar seus
shorts?
Seus olhos brilham e seus lábios curvam.
Eu vou fazer você se sentir confortável.
— Já estou confortável.
As imagens de seu torso nu perfeito de certa noite
inundaram minha mente. Uma noite que se tornou
uma vida. A noite que eu só pensava que duraria
vinte e quatro horas, embora estivesse esperando
por mais. Mesmo agora, no meio desse pesadelo, eu
não me arrependo de ter aceitado a oferta.
— Você pode estar, mas o meu terno novo
certamente não. – Olho seu torso com um olhar
descontente quando ele tira o corpo de cima de
mim. — Eu vou ser rápido. Eu quero você nua
quando eu voltar.
Eu sorrio recatadamente quando ele vira antes de
sair do quarto. Seus olhos passam rapidamente pela
minha figura e parece rasgar minhas roupas com
seu olhar intenso. Eu sinto faíscas transformarem-
se em raios de fogo ardentes. Em seguida, ele
desaparece e me deixa excitada e com nada a fazer
142
senão obedecer, assim eu começo a despir-me
lentamente.
Depois de deixar de lado as roupas, puxo um
cobertor de lã me cubro ligando a TV, Miller retorna,
mas não colocou os shorts. Ele não está vestindo
nada. Eu não posso afastar meu olhar grato, e meu
corpo implora sua atenção. Ele está em pé na minha
frente, com as pernas fortes e ligeiramente
afastadas olhando para baixo. Sua beleza desafia a
imaginação. É uma magnífica obra de arte. É
incomparável. E é minha posse.
— Terra para Olivia -, sussurra.
Eu enfrento seu olhar penetrante e olho para ele,
totalmente encantada. Meus lábios se separaram
para respirar pela boca quando o vejo piscando
preguiçosamente.
— Eu tive um dia muito estressante.
Bem-vindo ao clube, eu levanto minhas mãos. Eu
espero que ele se junte a mim no sofá, mas, em vez
disso, me puxa e meu cobertor de lã cai no chão
aos meus pés. Coloca suas mãos nas minhas costas,
aplica um pouco de pressão e me puxa para perto
de seu peito. Estamos conectados. Por todas as
partes.
— Você está pronta para desestressar?- Seu hálito
quente corre pelas minhas bochechas, aquecendo-
as ainda mais. — Você está pronta para ir para esse
lugar onde nada existe, exceto nós dois?
Eu aceno e deixo minhas pálpebras fecharem
quando ele desliza a outra mão ao longo das minhas
costas e chega a minha cabeça e começa a pentear
meus cabelos com os dedos.
— Vem comigo. – Agarra-me pelo pescoço e minhas
costas e me leva para fora da sala.
Quando estamos no meio da escada, ele me
mantém seguindo em frente. Desliza as mãos pelos
143
meus quadris e puxa-os ligeiramente para trás.
— Coloque suas mãos em um degrau.
— Na escada?– Olho por cima do meu ombro e não
vejo nada, só um desejo que emana de todas as
arestas de seu ser.
— Na escada-, confirma, ele pega as minhas mãos e
estende para levá-las para onde elas precisam ser
estendidas. — Quando estivermos velhos e com os
cabelos brancos, não haverá um único lugar onde
eu não tenha te reverenciado, Olivia Taylor. Você
está confortável?
Eu aceno e ouço quando abre uma embalagem de
alumínio. Eu uso o tempo necessário para colocar o
preservativos para tentar preparar-me. Sua mão
acaricia levemente minhas costas nuas. Minha
respiração está ofegante. Estou encharcada e
tremendo por antecipação. Seus carinhos e atenção
apagam de uma só vez todas as minhas
preocupações.
Ele é a minha fuga. Eu sou a dele. Isso é tudo o que
eu tenho: a sua atenção e amor. É a única coisa que
me ajuda a passar por isso.
Flexiono as mãos no degrau e altero a posição dos
meus pés. Penduro minha cabeça e eu vejo meu
cabelo caindo sobre o tapete, e quando eu sinto a
ponta de sua dureza tocar a minha abertura, eu
prendo a respiração. Ele passa alguns torturantes
momentos massageando com a palma das mãos o
meu traseiro. Em seguida, percorre a linha da
minha coluna, de volta para minha bunda e me
separa as nádegas. Eu fecho meus olhos ainda mais
apertados, quando ele desliza o seu dedo pela
minha passagem anal. Uma sensação se intensifica
com minha agitação. Estou vibrando. Meu corpo
todo treme. Seu pênis perto do meu sexo continua
com a sensação adicional de seu dedo em meu
144
outro buraco, eu imploro que me penetre. Por
onde quer que seja.
— Miller! -, respiro, e movo as minhas mãos para a
borda da escada para me preparar.
Suas carícias suaves sobem e descem através do
meu ânus e para bem no anel muscular tenso. Eu
fico rígida imediatamente, e ele calmamente desliza
a mão para o meu sexo molhado. Empurro de volta
para tentar obter alguns atritos, mas não consigo.
Retira a mão e agarra meus quadris. Ele avança
lentamente e fico sem fôlego quando seu membro
duro e firme me penetra; assobiando entre os
dentes me agarro com tanta força que quase me
machuco. Gemo, metade do caminho entre uma
mistura de prazer imensurável e dor leve que leva
estrelas para minha escuridão. Miller bate dentro de
mim e todos os meus músculos internos me
dominam.
Eu sou uma escrava de sensações. Eu sou uma
escrava de Miller Hart.
— Se mova. – Ele manda, e força minha cabeça
para levantar-se e olhar para o teto. — Se mova!
A inspiração súbita ressoa por trás de mim. Miller
flexiona os dedos em meus quadris.
— Está se tornando uma amante muito exigente,
certo? – me penetra ainda mais, eu tento bater de
volta, mas não recebo nada. Só me segura com
mais força para ficar no lugar. — Sinta Olivia. Isso
vai ser do meu jeito-.
— Foda-se -, eu sussurro com voz rouca, e olhando
para dentro de mim para buscar alguma calma e
autocontrole. Eu me sinto impotente. Não há nada
que eu possa fazer para gerar atrito como meu
corpo necessita. — Você sempre disse que nunca
me obrigaria a fazer algo que eu não quisesse.
—Hein?
145
Se eu não estivesse tão focada no meu desespero
atual, eu riria de sua verdadeira confusão.
— Você não quer ser adorada? -, ele pergunta.
— Não, eu não quero que você me mantenha no
limbo!- Não há nenhuma calma para ser encontrada
em qualquer lugar. — Miller, por favor, me faça
sentir bem, não me faça esperar.
— Foda-se, Olivia! – Ele se volta, retira
dolorosamente lento e paira agora apenas uma
fração permanece dentro de mim. Ainda está, mas
sua respiração ofegante agita o jogo, e eu sei que
ele está lutando para manter o controle. — Me
implore.
Eu cerro os dentes e salto gritando a minha
satisfação quando ele bate duro e profundo.
— Foda-se, Olivia!– ele remove e deixe-me em
silêncio soluçando. — Eu não posso ouvi-la.
Sinto-me derrotada e minha mente embaralhada.
Freneticamente procurando as simples palavras que
eu preciso para cumprir sua exigência.
— POR FAVOR !- Meu grito me pega de surpresa, e
tento em vão voltar. No entanto, eu me sinto
impotente presa em suas mãos, enquanto a sua
figura poderosa ainda permanece atrás de mim,
esperando para eu cumprir seu pedido. — Eu pedi
duas vezes. – Ele diz ofegante. — Não escutei.
Olivia.
— Por favor.
— Mais alto!
— POR FAVOR!- Eu grito, e sigo acompanhada por
um grito, quando seus quadris veem para frente,
mais difícil do que eu esperava.
Foco a minha atenção em meus músculos internos
moldando ao redor dele, e do prazer que me dá
quando o atrito removido é indescritível. Eu estico
meus braços para manter a estabilidade quando se
146
afunda de volta para mim, e deixo cair o queixo
para o meu peito, sem vida.
— Eu estou vendo meu pau perdendo-se dentro de
você, minha menina.
Tudo se alinha e me lança para aquele lugar
distante, de pura felicidade. Depois de mais
algumas estocadas estabelece um ritmo constante;
nossos corpos param para retornar essa sintonia e
deslizam sem esforço. Miller não para de rosnar e
resmungar seu incoerente prazer, mantendo sua
maneira meticulosa. Fascina-me seu autocontrole,
mas eu sei que não é fácil manter. Eu levanto a
cabeça, olho por cima do meu ombro e vejo a
expressão cativante que eu amo: lábios úmidos e
entreabertos; sua mandíbula apertada, sombreada
e quando ele olha para sua ereção dentro e fora de
mim, seus olhos azuis brilhantes fazem o pacote
completo.
— Você sempre luta?–, faço minha pergunta com
um fio de ar enquanto ele empurra para frente sem
problemas.
Ele sabe o que quero dizer. Ele balança a cabeça
preguiçosamente e afunda profundamente em mim.
— Não com você.
A força que eu preciso para manter a cabeça virada
para olhá-lo desaparece e eu olho para frente
novamente. Eu sinto minhas pernas começarem a
tremer e apoio um joelho em um dos degraus. Seus
ataques são constantes e o prazer é interminável.
Flexiono os braços e bato a testa contra o degrau.
Então eu sinto o calor de seu peito cobrindo minhas
costas e forçando meu corpo para deitar na escada.
Fico ligada até Miller estar mentido sobre mim e
continuar colocando em colapso meus sentidos,
agora com os quadris na posição perfeita para
dançar nas minhas costas.
147
— Vamos? -Assim quando eu levanto meus braços e
agarro-me a um dos balaústres da escada.
—Sim.
Mantendo o controle, acelera o ritmo. Eu fecho
meus olhos quando um interruptor é ligado dentro
de mim e de repente meu orgasmo progride
rapidamente.
Não há como voltar atrás, menos ainda quando
Miller trava seus dentes no meu ombro e dá uma
sacudida para frente inesperadamente.
— Miller!– Minha temperatura corporal aumenta por
segundos e começa a queimar a pele.
— É isso, Livy. – Arremete para frente novamente e
se junta a um prazer indescritível. — Grite meu
nome doce menina.
—Miller!
— Porra, isso soa bem. – Ele me bate com outro
avanço difícil. -Outra vez!
Nuvens em torno de mim, visão, audição...
— Miller!- Estendo a mão para o clímax e explode
em uma névoa difusa de estrelas, centrada só para
apreciar as deliciosas ondas de prazer que me
ultrapassam.
— Porra!-, ele engasga. — Foda, foda, foda!
— Eu concordo. – Ele suspira, empurrando
preguiçosamente dentro de mim. — Porra, eu
concordo.
Estou reduzida a uma massa de partes do corpo se
contorcendo presa pelo seu corpo e deliciando-se
com a batida contínua de seu pênis ainda dentro de
mim, quando ele alcançou seu próprio orgasmo. Os
nós dos meus dedos estão brancos e dormentes por
agarrar-se ao balaústre, eu estou ofegante e
encharcada. Eu estou perfeita.
— Olivia Taylor, eu acho que eu sou viciado em
você. –Seus dentes passeiam em meu ombro e ele
148
puxa o cabelo para me forçar a levantar a cabeça.
— Deixe-me saboreá-la.
Deixo-o fazer o que ele quer comigo, enquanto
estamos esticados nas escadas. Eu só sinto a
aspereza do tapete na minha pele molhada através
do meu estado de bem-aventurança. Suga-me o
lábio inferior e aplica uma leve pressão com os
dentes sensíveis, antes de me dar beijos até minha
bochecha.
Meus músculos cansados protestam e tentam se
agarrar a ele quando desliza cuidadosamente para
fora de mim. Ajuda-me a virar e coloca-me em um
degrau. Miller se ajoelha em minha frente. A
expressão de concentração em seu rosto perfeito
mantém a minha atenção quando em um momento
de silêncio coloca meus cabelos sobre os ombros.
Ele não perde a chance de mexer com alguns fios.
Olha-me nos olhos.
— Você é real, doce menina?
Sorri, estende a mão e belisca um mamilo, mas não
salto ou me afasto. Ele sorri de volta e se inclina
para beijar minha testa com carinho.
— Vamos lá. Vamos vegetar. – Ajuda-me e me guia
pelas escadas segurando meu pescoço.
— Você vai assistir TV Miller? - Eu pergunto quando
ele se instala no sofá, pronto para vegetar.
Eu não posso imaginar Miller assistindo TV, como eu
não imagino fazer a maioria das coisas que as
pessoas normais fazem. Ele se inclina para trás e
me dá um sinal para que eu me junte a ele, então
eu deito sobre seu peito, encaixo perfeitamente a
minha cabeça sob o queixo e deixo cair o corpo
entre suas pernas quando as separa.
— Você gostaria de assistir TV? -, ele pergunta,
pega a minha mão e leva em sua boca.
149
Eu passo por cima do fato de que ele não respondeu
à minha pergunta, e eu tomo o controle remoto com
a outra mão. A tela vem a vida e sorrio quando vejo
Del e Rodney Trotter.
— Você deve ter assistido “Only Fools and Horses’”.
É um tesouro nacional!
— Eu não tive o prazer.
— Verdade?- Eu pergunto incrédula para ele. Em
seguida, o provoco. — Você não pode perder.
— Como quiser -, ele concorda em silêncio, e
começa a massagear meu pescoço com adoráveis
círculos. — Tudo o que você quiser.
Estou apenas observando, não entendo nada do que
eles dizem, quando minha mente divaga para um
lugar em que as palavras de Miller são verdadeiras
e altivas. Eu tenho tudo que desejo. Desenvolvo
uma lista mental de todas as coisas que eu quero, e
eu sorrio quando eu sinto as vibrações de uma
risada debaixo de mim. Meu refinado cavalheiro
divertindo-se em tempo parcial com as palhaçadas
na tela diante de nós, e a normalidade desse fato
me enche de alegria, por mais trivial que seja.
Mas então o telefone de Miller toca à distância e
quebra a magia do momento.
Alguns movimentos simples me tiram de sua
presença debaixo de mim, e eu odeio o telefone
imediatamente.
— Desculpe-me -, murmura, e leva o corpo para o
corredor. Eu o assisto desaparecer e sorrio olhando
suas nádegas relaxarem, a cada passo que ele
toma. Enrolo-me em uma bola para o lado e me
jogo sobre o cobertor de lã, ainda no chão.
— Ela está comigo-, praticamente gritando quando
ele retorna para o quarto.
Eu rolo meus olhos. Não pode haver outro homem
perguntando onde eu estou, e eu não quero
150
confrontá-lo ou seu descontentamento com a minha
fuga hoje.
Eu desejo que meu cavalheiro fraudulento não fale
de mim como se eu fosse um objeto o tempo todo
ou, como nesse caso, como se fosse uma criminosa.
Olho para a outra extremidade e ele senta na borda
do sofá e vejo a alegria de alguns momentos atrás
se evaporando.
— Eu estava ocupado–, ele assubia ocupado com os
dentes cerrados, e me olha por um momento. —
Isso é tudo?
Meu ressentimento se intensifica, agora destinado
exclusivamente a William Anderson. Parece ter o
propósito de fazer minha vida tão difícil e miserável
possível. Eu adoraria arrancar o telefone das mãos
de Miller e falar algumas palavras para ele.
— Bem, ela está comigo, segura, e eu estou
cansado de dar explicações, Anderson. Vemos você
amanhã. Você sabe onde me encontrar.
Desliga o telefone todo tenso.
— Quem era? - Eu pergunto, e Miller sorri quando
olha para mim com a boca aberta.
— Realmente, Olivia?
— Ok, relaxe. -, digo, e ponho os pés no chão. —
Eu estou indo para a cama. Você vem?
— Talvez eu pudesse amarrá-la.
Encolho-me um pouco, e uma torrente de imagens
traz à minha mente, lembranças de alguma coisa.
Correias.
Miller visivelmente estremece quando vê o horror,
inconfundível em meu rosto.
— Para não me acertar os joelhos nas bolas. - Ele
se apressa a esclarecer. — Porque você não para de
se mover quando você dorme.
Desconfortável, passa a mão pelo seu cabelo
enquanto ele se levanta.
151
Eu rio e as imagens desaparecem. Eu sei que sou
uma inquietação quando durmo. O estado dos
lençóis de manhã são a prova disso.
— Tenho pegado você nas joias da coroa?
Ele franze a testa.
— No quê?
— Nas joias da coroa. – Ele sorriu. — Bolas.
Suas mãos veem em minha direção, mas mantenho
meus olhos fixos em seu rosto cheio de
exasperação, e aproveito o fato de saber que ele
está fazendo todo o possível para não alimentar a
minha insolência.
— Muitas vezes. Nas costelas, joelhos nas bolas...
Mas, é apenas o pequeno preço que tenho que
pagar por estar em meus braços.
Eu aceito a sua mão e deixo-me puxar para meus
pés.
— Sinto muito-. Eu não me arrependo de todo. Eu
daria qualquer coisa para ser uma mosca na parede,
para testemunhar a minha malícia noturna e Miller
lutando para suportá-las.
— Eu já perdoei. E eu vou te perdoar de novo
amanhã de manhã.
Eu rio baixinho, mas paro instantaneamente quando
uma batida forte na porta interrompe a nossa
conversa.
— Quem é?- Eu pergunto, e meus olhos são
automaticamente direcionados para a janela. Minha
insolência recebe o equivalente a bem conhecida
faísca que inflama o combustível. Se William se
preocupou em vir aqui para expressar sua raiva em
pessoa, eu acho que minha insolência poderia
explodir.
Miller desaparece instantaneamente, levando o
cobertor de lã com ele, deixando-me nua e sozinha
na sala. Não gosto nada das vibrações de ansiedade
152
que emanava dele antes de sair. Rastejando na
ponta dos pés até a porta, eu espio o corredor e
vejo que a cintura está coberta com o cobertor, mas
permanece com tudo apresentável. Então, quando
ele abre a porta e sai sem dizer uma palavra e não
se preocupa em estar nu, minha mente começa a
girar.
E então eu vejo uns brilhantes cachos negros pouco
antes da porta se fechar.
Explode em chamas.
— A puta atrevida!- Exclamo sem ninguém para me
ouvir.
Estou preste a ir me encontrar com Miller, mas paro
instantaneamente quando eu percebo que estou
nua.
—Merda!
Eu me viro e corro para a sala. Eu olho para minhas
roupas e as visto. Corro para a fonte da minha raiva
em velocidade imprudente e abro a porta. Deparo
com as costas nuas de Miller, mas a raiva me
consome muito para apreciar a vista. Eu o empurro
de lado e deixo meus olhos raivosos fazerem furos
na moldura perfeita de Cassie, pronta para baixar
uma torrente de insultos contra ela.
Só que hoje ela não parece perfeita, e seu estado
lamentável me surpreende tanto que eu paraliso.
Ela está pálida, quase cinza, e as roupas de grife
que usava agora estão longe de se ver. Vestindo
calças pretas de legging e um suéter de gola alta
cinza claro. Os olhos vazios deixam Miller e caiem
sobre mim. Apesar de sua crise pessoal, é evidente
que a minha presença a causava mais do que
desprezo puro.
— Bom te ver Olivia–, me diz sem a menor
sinceridade em seu tom.
153
Na sugestão, Miller coloca a mão no meu pescoço e
tenta em vão acalmar a minha irritação. Me livro
dele e endireito meus ombros.
— O que você faz aqui?
— Livy, vá para dentro.
Miller agarra meu pescoço e tenta virar-me. De jeito
nenhum.
— Eu fiz uma pergunta-, digo.
— E é rude não responder, certo?- Cassie responde
cheia de presunção.
Uma névoa vermelha começa a descer. Ele não usa
só comigo esse termo? Eu nunca tinha pensado
nisso, mas agora, após essa puta louca ter me
esfregado isso no rosto, eu não consigo pensar em
qualquer outra coisa. Ele parece um louco arrogante
quando diz isso, ainda há um sentimento de traição
lá. E eu sei que é bobagem.
Tudo que posso fazer agora é ver Cassie encima de
Miller todas às vezes, e então eu tenho uns
flashbacks do escritório de Miller e como
ela atacou com unhas afiadas e gritou como se
fosse louca.
— Cassie!-, Miller adverte ainda tentando me
colocar pra longe do que poderia acabar em uma
batalha real.
— Tudo bem. – Responde e revira os olhos
dramaticamente.
— Você vai entrar? -, Miller estala e treme por fora
novamente. — Depois do que ela fez com você da
última vez, quando o atacou, você realmente espera
que eu entre?
— E quanto a mim o que ele fez comigo? –interveio
Cassie — Os hematomas só desapareceram!
— Então, você não deveria se comportar como um
animal. – Eu assobio na cara dela, com os dentes
154
cerrados. Dou um passo à frente, consciente de que
ela não era a única e o outro animal estava
começando a se contorcer ao meu lado.
— Maldição!-, Miller murmura, afastando-se para o
lado. — Cassie, eu lhe disse que iríamos tratar esse
assunto amanhã.
— Eu quero tratá-lo agora.
— Tratar o quê?- Eu pergunto, irritada. — E como o
inferno você sabe onde eu moro?– Olho para Miller.
— Você disse?
— Não. – Fala entre dentes e seus olhos azuis estão
agora cheio de exasperação. — Ninguém sabe que
eu estou aqui.
Estendo os braços em direção a Cassie.
— Ela sim!
— Olivia!- Miller grita e aperta minha cintura contra
ele. Eu não tinha percebido que eu estava
avançando. Foda-se. É como se o diabo estivesse
tomado minha mente e meu corpo. Sinto-me
perigosa.
— Por que ela está aqui?!- Eu grito. É isso. Eu sei
que perdi os acontecimentos do dia, e os últimos
meses finalmente me pegam. Vou a tirar toda a
merda de cima de mim, e Cassie vai pagar o pato.
— Vim para pedir desculpas-, diz indignada.
— O quê?
— Nós conversaremos amanhã-, interveio Miller, e
aponta o dedo, segurando-me firmemente. — E eu
lhe disse para esperar até manhã. Por que diabo
não me ouviu?
— Está arrependida?- Eu pergunto.
Cassie olha para mim com um olhar severo e, em
seguida para Miller.
—Sim.
— Por quê?- eu insisto.
155
— Pelo modo como tratei você-. Ela se vira para
mim lentamente. Ainda não soa sincera. Ela está
aqui porque não quer perder Miller. Ela odeia que
ele está deixando-a para trás, para deixar seu
mundo escuro para encontrar a sua luz.
— Agora Miller é meu–. Eu me livro dos braços de
Miller e dou um passo adiante. —Corpo e alma.
Ignorando o sofrimento da ansiedade que surge,
como resultado da leve dúvida que Cassie
evidentemente está tentando esconder.
— Eu sou a luz de Miller, mas ao mesmo tempo
estou consciente de que ele é uma espécie de
escuridão para mim. Mas isso é irrelevante. Não há
um sem o outro; há apenas nós. Entendeu?
Cassie olha para mim e Miller permanece em
silêncio e me permite dizer o que tenho a dizer.
— Eu entendi.
Eu mantenho o meu olhar por uma eternidade. Não
quer ser aquela que recua. Nem pisca também.
Cassie finalmente olha para o lado, depois silencia
em submissão, eu me viro, saio e a deixo na porta.
Eu quase subo quando eu ouço a porta se fechar.
— Olivia -, a maneira serena que Miller me chama
me golpeia. Viro-me e agarro firmemente ao
corrimão. — Ela também precisa parar. Não vou
deixá-la para trás. Nós dois fomos apanhados nesse
mundo, e vamos sair juntos.
— Será que ela quer sair?
— Sim-, ele declara, e dá um passo à frente. — Eu
não quero ver você triste.
Eu balanço minha cabeça.
— Isso é impossível.
— Eu já fechei a porta. Isso já acabou. Agora
estamos somente você e eu aqui.
— Mas o mundo ainda está lá fora, Miller-, eu digo
em voz baixa. — E nós temos que abrir aquela porta
156
e enfrentá-los.
Eu fujo e o deixo lá em baixo angustiado e uma
bagunça.
Ele precisa das coisas dele tanto quanto eu e eu me
odeio por privar isso a ambos.
157
CAPÍTULO 11
Miller não nos priva do que gostamos. Ele se junta a
mim na cama depois de alguns minutos. Eu queria
rejeitá-lo, machuca-lo por ter me machucado,
mesmo que ele não tivesse feito diretamente. Mas
eu não me afasto do seu delicioso calor. Minha
própria necessidade de encontrar conforto era maior
do que a minha necessidade de puni-lo.
Ele passou a noite envolvendo todo o meu corpo,
limitando a minha capacidade de me mover
dormindo, então essa manhã eu acordei na mesma
posição. Ao amanhecer, permaneci deitada sem
dizer uma palavra. Eu sei que estava acordado
porque ele torcia meu cabelo e batia os lábios
contra meu pescoço.
Então seus dedos deslizaram para baixo na minha
coxa e eu fiquei preparada para uma sessão de
adoração. Leva-me para trás, nossos corpos em
conchinha, e não havia nenhuma palavra. O único
som era nossa respiração difícil. Ele estava
tranquilo, relaxado. E ambos viemos em uníssonos
suspiros ofegantes.
Miller me abraça enquanto morde meu ombro
gozando dentro de mim, então ele me solta, se
aconchega em minhas costas e se estabelece
em mim. Ele ainda não falou nada, nem eu. Afasta
meus cabelos do rosto e nos olhamos por uma
eternidade, enfeitiçados. Acho que Miller fala
através desse olhar intenso o que poderia ter feito
com palavras. Até mesmo o esquivo "eu te amo"
teria transportado o que eu vi naqueles olhos.
Eu fiquei fascinada.
Eu estava sob seu feitiço poderoso. Ele estava
falando comigo.
158
Depois de ter suavemente meus lábios nos dele por
um momento, ele se afasta de mim e vai tomar
banho, enquanto eu fico em um emaranhado de
lençóis pensando. Ele se despede me dando um
beijo carinhoso em seu cabelo e arrasta o polegar
sobre o meu lábio inferior. Depois pega meu celular
da mesa de cabeceira e brinca com ele um pouco
antes de deixá-lo em minhas mãos, beijando cada
uma de minhas pálpebras antes de sair. Eu não o
questionei, o deixo ir embora antes de olhar para a
tela do dispositivo e ver que estava aberta no
Youtube, com uma canção de Jasmine Thompson.
Eu pressiono o play e ouço atentamente enquanto
ela canta “Ninguém” para mim. Fiquei deitada lá por
um longo tempo até que a música terminou e o
quarto ficou em silêncio novamente. Quando eu
finalmente me convenci a me levantar, eu tomo um
banho e passo a manhã limpando a casa e ouvindo
música uma e outra vez.
Então eu vou ver minha avó. Não protesto quando
descubro Ted. Nem protesto quando se torna a
minha sombra durante o dia. Eu não arranco os
cabelos quando vejo William sair do hospital no
momento da minha chegada. Eu não respondi
quando Gregory voltou a implicar repreendendo-me
pelos meus crimes. E eu não respondi a nenhuma
mensagem de Miller. Mas fiquei extremamente
desapontada quando o cardiologista visitou minha
avó e disse-lhe que não lhe daria alta pela manhã
no pretexto de que eles tinham que mandá-la para
casa com a medicação adequada. Ela, é claro, teve
um acesso de raiva. E para não manter seus
insultos, eu mantive minha boca fechada todo
tempo.
Agora estou em casa. É depois das nove. Estou
sentada na mesa da cozinha sentindo o aroma
159
familiar de um bom guisado pesado e farto. Eu ouço
o murmúrio da televisão na sala de estar, onde Ted
estabeleceu sua base, e eu ouço o som frequente de
seu celular antes de responder e falar com um
grave sussurro, provavelmente assegurando a
William ou Miller que estou aqui e estou bem. Eu
preparei incontáveis xícaras de chá e falei com ele
sobre qualquer coisa em particular. Até tentei
abordar o assunto de minha mãe de novo, mas não
tive nada além do que um olhar de soslaio e um
comentário que eu sou igual a ela.
Ele não me disse nada que eu já não soubesse.
Meu telefone toca. Olho para a mesa onde ele está
localizado e ergo as sobrancelhas em surpresa ao
ver o nome de Sylvie na tela.
— Oi -, eu respondo, e acho que disfarço o meu
desespero muito bem.
— Olá!- Parece que ela está fora do ar. — Estou
correndo para pegar o metrô, mas queria chama-la
o mais rápido possível.
— Por quê?
— Uma mulher veio para o refeitório perguntando
por você.
—Quem?
— Não sei. Ela saiu muito rápido quando Del
perguntou quem queria saber.
Minhas costas se endireitam na cadeira e minha
cabeça começa a girar.
– Como ela era?
-Ela era loira, impressionante e muito bem vestida.
Meu coração está batendo tão rápido que eu acho
que vai sair do peito.
— Em trono dos quarenta?
— Trinta e muitos ou quarenta anos. Você a
conhece?
— Sim, eu a conheço. – Minha palma encontra
160
minha testa e inclino meu cotovelo na mesa.
Sophia.
— Pequena cadela rude -, cospe Sylvie indignada.
Bufo e concordo com ela. Porque diabos ela está me
procurando?
— O que você disse?
— Não muito, já não estava trabalhando lá. Quem
é?
Respiro fundo e mergulho de volta na cadeira, ferida
pelo lembrete de Sylvie que já não tenho um
emprego.
— Ninguém importante.
Sylvie ri se engasgando. É uma risada que relata
sentir insultada e incrédula.
— Claro -, ela diz. — Bem, eu te chamei porque eu
pensei que você deveria saber. Eu estou na estação,
tão cedo não terei conexão. Gostaria de te ver na
próxima semana.
— Eu vou -, respondo, embora a falta de
entusiasmo seja transmitida através da minha voz.
Tão estúpido quanto parece, eu não quero ver
minha substituta a manipular com precisão e servir
café famoso no estabelecimento com sanduíches de
atum.
— Cuide-se Livy -, diz Sylvie. Eu digo em voz baixa,
e não desligo antes de lhe assegurar que vou. Essa
resposta não seria mais convincente do que o
anterior.
Estou prestes a chamar Miller, mas congelo quando
um número desconhecido ilumina minha tela. Eu
olho para o telefone na minha mão enquanto, eu
tento entender o profundo sentimento de ansiedade
que toma conta de mim e me diz para não atender.
Claro, eu ignoro e respondo.
— Alô?- Digo timidamente e inquieta. Estou
nervosa, mas não quero que a pessoa do outro lado
161
da linha saiba. Não obtenho resposta, repito a
pergunta, dessa vez limpando a garganta e
fazendo-me parecer certo.
— Alô? - Ainda sem resposta, e nenhum som de
fundo é ouvido. Eu respiro e falo de novo, mas
então detecto um som familiar e apenas contenho
o ar que eu inspiro. Eu ouço palavras. Uma voz
familiar no exterior, sotaque rouco e grave.
— Miller, querido, você sabe o que eu sinto por
você.
O ar me falta e eu tento não afogar-me.
— Eu sei, Sophia - Responde Miller com uma voz
suave de aceitação que me faz querer vomitar.
— Então, por que você está me evitando? - ela
pergunta no mesmo tom.
Minha mente começa a reproduzir a cena do outro
lado da linha e não gosto do que vejo.
— Eu preciso de uma pausa.
— De mim?
Levanto minha bunda da cadeira até que eu estou
em pé à espera da resposta de Miller. Eu o ouço
suspirar, e definitivamente ouço o choque de vidro
contra vidro. Foi servida uma bebida.
— De tudo.
— Eu aceito as outras mulheres. Mas não fuja de
mim, Miller. Eu sou diferente, certo?
— Sim -, confirma ele sem hesitação. Sem qualquer
tipo. Meu corpo todo começa a tremer e meu
coração está batendo alto no meu peito. Minha
cabeça é tão rápida que estou ficando tonta em
torno de mim.
— Eu senti sua falta.
— E eu de você, Sophia.
Bile sobe do meu estômago para a garganta e uma
mão invisível envolta no meu pescoço me asfixia. Eu
desligo a ligação. Eu não preciso ouvir mais nada.
162
De repente, eu não posso respirar. E, no entanto,
estou perfeitamente calma quando eu enfio a
cabeça pela porta da sala para encontrar Ted do
lado da janela, de pé e relaxado. Ele está quase na
mesma posição, desde que chegamos em casa.
— Eu estou indo tomar um banho-, eu digo, e ele
olha por cima do ombro e me dá um sorriso
caloroso.
— Vou ficar bem -, ele diz, e se vira para olhar para
fora da janela.
Eu paro de assistir e subo as escadas para me
vestir. Estou tentando pensar com clareza e lembrar
as palavras de Miller para Sophia.
E as palavras de Miller para mim sobre Sophia. Tudo
desapareceu, deixando um enorme vazio em minha
mente e ela se enche de muitos outros
pensamentos desagradáveis. Ele sabia que ela era
diferente, alguém foi mais cauteloso. Coloco um par
de jeans apertados e um top de cetim. Eu evito meu
Converse e calço meu sapato preto de salto agulha.
Eu acaricio meus cabelos um pouco para moldar os
cachos e termino aplicando algum pó no rosto.
Então eu pego minha bolsa, desço as escadas e
espero pelo meu momento para escorregar para
fora da porta sem ser notada. Meu momento vem
sob a forma de uma chamada do celular de Ted. O
olhar furtivo sob Ted olhando para fora sem
perceber. E o momento vem quando o celular toca.
Ele vira as costas para a janela e começa a andar
pela sala falando em voz baixa. Eu calmamente me
aproximo da porta e saio sem ser apressada. A
raiva me domina. Por que diabos eu estou tão
calma?
Os porteiros que guardam a entrada do ICE,
armado com suas pranchetas, é um problema.
Quando eu vejo um deles, eu vou ser relatada para
163
o QG central Local e Tony virá à minha procura.
Isso não combina comigo em tudo. Apoio as costas
contra a parede e eu considero minhas opções
limitadas... Eu não posso pensar em nada. Eu não
sou tão ingênua a ponto de pensar que o porteiro
não vai me reconhecer, por isso não tenho um
disfarce convincente, eu não tenho nenhuma
maneira de entrar nesse clube sem disparar os
alarmes.
Todo o meu ser estava tão cheio de propósito no
momento em que desliguei a chamada. Um
obstáculo apagou essa coragem e sobrou um pouco
de espaço para a sensibilidade de me tomar segura.
Permiti-me considerar as consequências de minhas
ações por um momento, e começo a entender o
perigo a que estou me expondo, mas, em seguida,
uma discussão na rua me tira de meus
pensamentos e chama a minha atenção para a
entrada. Um grupo de quatro homens com a suas
noivas não param de gritar, os seguranças estão
tentando pacificar o grupo. Não parece funcionar, e
afasto da parede de trás quando a cena atinge um
novo nível de alteração. Uma das mulheres se
depara com um dos seguranças e grita em seu
rosto. Ele levanta as mãos para sugerir que ela
relaxe. Sua tentativa tem o efeito oposto e em um
segundo os quatro homens estão encima dele.
Reviro os olhos arregalando-os para testemunhar o
caos que está se desenrolando. É a falta de
controle. De repente percebo que essa poderia ser
minha única chance de entrar sem ser notada.
Corro para o outro lado da rua e certifico-me de
ficar tão perto da parede possível. Entro no clube,
sem que ninguém perceba. Estou perfeitamente
onde eu queria estar. Eu me sinto calma e recupero
a determinação anterior, ao caminhar mais próximo
164
do escritório de Miller. Mas agora me deparo com
outro obstáculo. Meus ombros sedem. Eu me
esqueci do código para entrar no seu
escritório. A verdade é que eu não planejei isso
muito bem.
E agora? Se eu tiver que chamar, eu vou perder o
elemento surpresa, e eu vejo a câmera de qualquer
forma antes de chegar à porta.
— Idiota -, murmuro. — Você é uma idiota.
Tomo uma respiração profunda, eu aliso a camisa e
fecho os olhos por alguns segundos em uma
tentativa de limpar a minha cabeça. Sentindo-me
mais tranquila, embora a fúria ainda me queimando
por dentro. É uma fúria agressiva. Ela está contida,
mas isso pode mudar uma vez que enfrentar Miller.
Estou em pé na frente da porta, sob o olhar da
câmera, mesmo antes de ter dado a ordem para as
minhas pernas me carregarem daqui, e eu
bato calmamente em rápidas sucessões. Como
imaginava os olhos de Miller saem de órbitas,
quando ele abre a porta, mas imediatamente coloca
sua máscara de impassível. Advirto que é a
contragosto lindo. Mas sua mandíbula tensa, seus
olhos olham para mim com uma expressão de
advertência e respira de uma forma agitada.
Ele sai e fecha a porta atrás de si e passa a mão
pelo cabelo.
— Onde está Ted?
— Em casa.
Suas narinas se incham, puxa o telefone e disca
rapidamente.
— Envie-me a porra do seu motorista aqui–, grita
na linha. Depois de digitar mais alguns números
traz o celular de volta ao ouvido. — Tony, eu não
vou perguntar como diabos Olivia conseguiu passar
por você. – Ele sussurra, mais o tom moderado não
165
impede sua autoridade. — Venha buscá-la e a vigie
até Ted chegar aqui. Não a deixe sair de sua vista.
Fique de olho. – Ele coloca o telefone no bolso
interno do paletó e olha pra mim. — Você não
deveria ter vindo aqui; as coisas estão delicadas.
— Que coisas são delicadas? - eu pergunto. — Eu?
Sou a coisa delicada que você não quer quebrar e
nem chatear?
Miller se inclina para mim e desce ligeiramente para
colocar o rosto perto do meu.
— Do que você esta falando?
— Você acha que eu sou frágil e fraca.
— Eu acho que você está sendo forçada a lidar com
coisas que estão além de você, Olivia -, sussurra
claro e sem rodeios. — E eu não tenho ideia do
caralho como tornar menos doloroso.
Olhamo-nos fixamente por um tempo e meu olhar
se eleva para manter a conexão, quando ele se
endireita e recupera a sua altura.
A angústia que eu detecto em sua expressão quase
me mata. Preciso de alguma coisa, então me movo,
mas ele dá um passo para trás, balançando a
cabeça em aviso.
Alvoradas de realização rápida e eu olho para a
câmera de segurança acima da porta. Ela está nos
observando.
— Por que ela está aqui? -Eu pergunto em voz alta,
calma.
— Quem? -, Miller pergunta na defensiva, e seu
rosto reflete culpa. — Não há ninguém aqui.
— Não minta pra mim. – Meu peito começa a inflar
sob a pressão de ter que respirar apesar da minha
fúria. — Quanto você sentiu falta dela?
— O quê?– Ele verifica novamente por cima do
ombro e eu aproveito a oportunidade de seu lapso
momentâneo para passar por ele. — Olivia!
166
Entro em seu escritório de uma forma muito menos
elegante que eu esperava, mas logo recupero a
compostura, sacudo meu cabelo longo e coloco a
bolsa no ombro debaixo do braço. Então eu sorrio
ao levantar os meus olhos para o que eu sei que
vou encontrar. E eu não estou enganada.
Encostada na cadeira de Miller, com as pernas
cruzadas, vestindo um casaco de cor creme e
fumando um cigarro longo fino está Sophia.
Sua condescendência me sufoca. Ela sorri
maliciosamente. E estou ansiosa para saber como
ela conseguiu meu número. É irrelevante. Ela me
queria fora do meu esconderijo e ela conseguiu.
Eu caí em sua armadilha.
— Sophia. – Eu garanto ser a primeira a quebrar o
silêncio doloroso. — Parece que essa noite você me
ganhou.
Quando eu termino a frase detecto duas coisas: a
surpresa de Sophia, porque eu vejo claramente
quando seus lábios vermelhos estão ligeiramente
separados, e como a ansiedade de Miller é
multiplicada por mil, porque eu percebo como se
contorce atrás de mim.
— Só quero me servir uma bebida antes de sair.
Meus saltos altos me levam ao armário de bebidas e
me sirvo de um copo de vodca.
— Menina, eu não sou estúpida -, responde Sophia,
e seu tom soberbo esmaga a minha confiança.
Eu fecho meus olhos e tento controlar minhas mãos
trêmulas. Uma vez convencida de que eu consegui,
eu pego o copo e viro para meus telespectadores.
Eu olho de perto para Sophia, pensativa; Miller está
nervoso enquanto eu levo o copo aos lábios.
— Não sei o que quer dizer. – Viro e bebida em um
gole e suspiro antes de enchê-lo mais uma vez.
A tensão é palpável no ar. Eu olho do outro lado
167
para Miller e detecto desaprovação no rosto. Eu
bebo o segundo copo e saio com um estrondo que
me encolho fisicamente. Miller quer sentir o que
estou sentindo. Eu quero ficar mais forte e
machucá-lo. Isso é tudo que eu sei.
— Quer dizer... - Sophia fala com segurança, me
olhando com um leve sorriso nos lábios vermelhos.
— Você está apaixonada por ele e você acha que
pode tê-lo. — Mas você não pode.
— Não nego a sua conclusão. Porque você o quer.
— Eu o tenho.
Miller não discutiu com ela ou a colocou em seu
lugar, e quando eu olho, vejo que ele não tem
intenção de fazê-lo. Eu nem sequer encontro a
sabedoria para me convencer de que há alguma boa
razão, então eu me sirvo de mais um copo de vodca
e viro a cabeça em direção a ele. Ele fica perto da
porta como uma estátua, com as mãos nos bolsos e
visivelmente irritado. Olha-me com a beleza
emocional inexpressiva que me cativou desde o
início.
É predominante . Seu mecanismo de defesa está
fechado. Paro-me em frente ao alto móvel, e olho
para cima e noto uma ligeira pulsação em sua
mandíbula áspera e escura.
— Eu espero que você esteja feliz em sua escuridão.
— Não me empurre, Olivia. – Sua boca mal se
move, mas suas palavras são audíveis, estão cheios
de ameaça... e decido trabalhar em torno delas.
— Nos veremos por ai.
Eu fecho a porta atrás de mim e ando pelos
corredores labirínticos com urgência para encontrar
as escadas, desço os degraus dois de cada vez,
enquanto eu engulo minha terceira vodca, ansiosa
para chegar ao bar e manter a insensibilidade que o
álcool tinha solicitado.
168
—Livy?
Eu olho para cima e vejo Tony e Cassie em pé em
cima da escada, ambos olhando para mim com um
olhar severo. Não tenho nada a dizer, então dou um
passo a frente e viro a esquina, com vista para o
clube principal.
— Livy!-, Tony grita. — Onde está Miller?
Dirijo-me a olhar para ambas as expressões
preocupadas. E eu sei o porquê.
— Em seu escritório -, digo andando para trás para
não atrasar minha fuga. — Com Sophia.
Tony diz maldições e Cassie parece realmente
preocupada, mas não perco tempo avaliando a
causa das preocupações. Minha necessidade furiosa
de reivindicar meus direitos está lá, mas eu também
preciso machucar Miller depois de ouvir aquele
chamado e a confiança de Sophia afirmando que
Miller pertencia a ela. Eu sei que não é verdade, e
ele sabe que não é verdade, mas não interveio e a
memória de ouvi-lo dizer que ela estava perdida.
Faço meu caminho através da multidão e o ritmo
intenso de Prituri nit de Planinata Grit inunda meus
ouvidos. Vou para o bar, coloco no balcão meu copo
vazio e uma nota de vinte.
— Vodca com tônica. E uma tequila. - Eu peço.
Meu pedido é entregue rapidamente e ele me dá o
troco com a mesma velocidade. Bebo minha tequila
imediatamente, seguido de perto pela vodca. O
líquido queima minha garganta a baixo até meu
estômago. Eu fecho meus olhos e sinto seu ardor.
Mas isso não me impede.
— Outro!- grito quando o garçom termina de servir
o cara que está perto de mim.
Cada bebida que eu bebo é como se eu aumentasse
a insensibilidade em minha mente, meu corpo e
meu coração, e o sentimento de ansiedade logo
169
desaparece. Eu gosto. Começo a sentir certa
indiferença.
Inclino-me contra o bar e olho para o clube. Eu
assisto as legiões de pessoas tomando seu tempo,
minha bebida pronta para os meus lábios,
perguntando-me se a minha falta de pressa para
me perder na multidão e causar estrago no meu
tempo parcial de sanidade.
Meu subconsciente pedindo pra não ser precipitada
e parar de beber, ficar sóbria e pensar sobre o que
está acontecendo e por quê.
Talvez.
Pode ser.
Sem dúvida.
Posso estar a caminho de uma bebedeira, mas eu
ainda posso apreciar esse gene imprudente,
dormente, que tinha que me levar a olhar para os
clientes de minha mãe, rebaixar-me a esse nível. Eu
não posso nem pensar nisso. De repente, eu sinto
fogos de artifício familiar interno e desvio o olhar do
clube, dessa vez menos casual, mas com medo, e
eu o vejo avançar em minha direção.
Merda. Qualquer noção de que Miller não podia
controlar as circunstâncias? Foi esmagado
drasticamente. Ele parece homicida, e eu sou o
único foco de sua raiva.
Ele vem em minha direção com lábios franzido e
olhos escuros e retira a bebida de minha mão.
— Nunca mais sirva essa menina de novo.- Ele fala
sobre meu ombro, sem olhar para longe de mim.
— Sim, senhor-, responde o garçom timidamente
atrás de mim.
— Saia daqui-, diz Miller. Ele mal pode se conter.
Lanço um ligeiro olhar por cima do ombro e
confirmo que Sophia está no clube, conversando
170
com um homem, mas seus olhos estão em nossa
direção. Olhos interessados.
Eu pego minha bebida por trás de mim.
— Não–, eu sussurro antes de beber.
— Eu pedi uma vez.
— E eu já lhe respondi uma vez.
Ele tenta pegar o meu copo de novo, mas eu parto
em uma tentativa de me esquivar de Miller. Eu não
vou muito longe. Miller agarra meu braço e me fez
parar.
— Deixe-me ir.
— Não faça uma cena Olivia-, diz, tentando pegar o
copo de minha mão. — Você não vai ficar no meu
clube.
-Por quê?- Eu pergunto, incapaz de impedir de me
empurrar para frente. — Eu estou interferindo no
seu negócio? – Ele me para imediatamente e me
vira.
Ele empurra seu rosto no meu, tão perto que de
longe parece estarmos beijando.
— Não, porque você tem um péssimo hábito de
deixar outros homens saborear você quando está
com raiva de mim.
Seus olhos caem até minha boca, e eu sei que está
trabalhando para conter a necessidade de me
atacar, provar-me. Seu hálito quente no meu rosto
a minha raiva se dissipa, deixando espaço para
outro calor. Mas ele se afasta, um passo de
distância e seu rosto se torna grave.
— E eu não hesitarei em quebrá-lo ao meio-,
sussurra. — Eu estou muito bravo com você.
-E eu também. Você disse que sentia falta dela. Eu
ouvi, Miller.
— O quê?- Não se incomoda nem mesmo em negar.
— Ela ligou para o meu telefone.
171
Sua respiração se aprofunda. Eu posso ver e ouvir.
Me segura, dá a volta e me empurra com força.
— Confie em mim–,ele pede. — Eu preciso que você
confie em mim.
Empurra-me no meio da multidão, enquanto eu
tento desesperadamente agarrar a minha fé. Minhas
pernas tornam-se instável, e minha mente ainda
mais. As pessoas estão nos observando; Eles se
desviam e ficam de lado enquanto nos jogam
olhares curiosos. Não, eu paro de estudar seus
rostos... até ver aquele rosto familiar.
Meus olhos permanecem fixos no homem, viro a
cabeça lentamente quando vamos passando. Eu o
conheço, e pela sua expressão, eu também sei que
ele me conhece. Ele sorri e caminha para
interceptar, de modo que Miller não tem escolha a
não ser parar.
— Ei, você não precisa acompanhar a senhorita até
a saída -, diz ele. — Se você está muito bêbada, eu
ofereço-me a assumir a responsabilidade por isso.
— Afaste-se-, diz Miller com tom letal. — Agora.
O cara dá de ombros ligeiramente, implacável, ou
simplesmente passa uma ameaça implícita nas
palavras de Miller.
— Vou lhe poupar o aborrecimento de expulsá-la.
Eu olho para longe de seu olhar intenso e eu tento
lembrar. De onde eu o conheço? Mas então eu dou
de ombros e dou um passo atrás quando sinto que
alguém mexe em meu cabelo. Um arrepio de frio no
meu pescoço me diz que não é Miller que torce
meus cachos loiros. É o estranho.
— É o mesmo sentimento de todos aqueles anos
atrás, - diz melancolicamente. — Eu pagarei apenas
pelo prazer de sentir seu cheiro novamente. Eu
nunca esqueci esse cabelo. Ainda fazendo truques?
172
Todo o ar é sugado de meus pulmões quando a
realidade me bate no estômago.
— Não-, eu digo, e volto colido com o peito de
Miller.
Calor e tremores corporais indicam que Miller está
em estado psicótico, mas a concentração de que
precisa para apreciar o perigo é absorvida pelas
lembranças incessantes; memórias que tinha
conseguido banir nas profundezas da minha mente.
Agora eu não posso. Esse homem as despertou, ele
conseguiu recuperar o golpe. Elas me fazem segurar
a cabeça com as mãos e gritar de frustração. Elas
não vão embora. Atacam-me e forçam-me a
testemunhar o encontro do meu passado que tinha
levado para a escuridão, ele estava escondido em
um canto da minha memória por muito tempo. Eles
já foram libertados e nada pode detê-los. As
memórias são repetidas e me acerta por trás dos
olhos.
— Não! - Exclamo baixinho, e agarro meus cabelos
e puxo, puxando os fios da mão do estranho.
Eu sinto meu corpo rendido ao choque e estresse.
Deixo todos os meus músculos, mas eu não caio no
chão, e se eu fizer Miller ainda está me segurando
pelo braço. Eu estou fora do espaço em torno de
mim. Eu fecho meus olhos com força e tudo se
torna escuro. Minha mente está fora e tudo é
silencioso. Mas isso não me livra de ter consciência
da bomba que me sustenta.
Ele passa do meu lado em um piscar de olhos e eu
balanço com a ausência de apoio. Deixando-me cair
no chão por falta de apoio. Minhas palmas batem no
chão causando forte dor em meus braços. Meus
cabelos acumulam ao meu redor de mim. A visão
dos meus cachos dourados no meu colo me faz
doente; Eu não posso ver nada, assim que levanto a
173
cabeça eu me engasgo com a visão de Miller em um
ataque de sua psicose violenta. Tudo acontece em
câmera lenta, tornando a colisão assustadora de
seu punho contra a face do homem. Ele é
implacável. Não para de atacar sua vítima várias
vezes, enquanto rugi sua raiva. A música para. As
pessoas gritam: Mas ninguém se atreve a intervir.
Eu soluço e me encolho cada vez que Miller atinge o
homem no rosto ou corpo. Respingos de sangue em
toda parte. O pobre homem não tem nada a fazer.
Ele não lhe dá qualquer oportunidade de defesa.
Está completamente indefeso.
— Não! – eu grito quanto vejo Tony ao lado,
olhando com horror a cena. — Por favor, pare com
isso.
Eu me arrasto do chão com algum esforço
determinado. Ninguém no seu perfeito juízo iria
tentar intervir. Eu aceito o fato com tristeza, e
quando o foco da fúria de Miller cai sem vida no
chão ele não para de chutá-lo no estômago, eu
considero a minha necessidade de escapar.
Eu não posso continuar a assistir isso.
Eu fujo.
Eu faço o meu caminho através da multidão,
soluçando, com o rosto inchado por causa das
lágrimas, mas ninguém percebe. Todo mundo fica
atento ao caos que deixo a minha volta. Esses
bastardos não são capazes de desviar o olhar da
cena terrível. Eu por minha vez, tropeço, chocada e
desorientada, para a saída de ICE. Quando chego à
calçada, chorando de angústia e tremendo
incontrolavelmente olho para a rua e vejo um táxi
que me levará para longe daqui, mas a minha
chance se escapa, ele desaparece quando alguém
me agarra por trás. Não é Miller, eu sei disso. Sem
174
fogos de artifício ou sentir um desejo ardente
dentro de mim.
— Entra, Livy. – A voz perturbadora de Tony
penetra em meus ouvidos e volta, embora eu saiba
que não vou conseguir nada por confrontá-lo.
— Tony, por favor, por favor.- Eu imploro. — Por
favor, deixe-me ir.
— Não tem chance.- Me guia pela escadaria que
conduz ao labirinto que se esconde sob o ICE. Não
entendo. Tony me odeia. Por que ele quer que eu
fique, se Miller acha que precisa concentrar-se
nesse mundo? Um mundo que agora é tudo muito
claro.
— Eu quero ir embora.
— Você não vai a lugar nenhum.
Empurra-me no canto e para baixo nos corredores.
— Por quê?
A porta do escritório de Miller é aberta e eu sou
empurrada para dentro. Eu viro a cara para Tony,
encontrando seu corpo atarracado, arfando, sua
mandíbula apertada. O dedo aparece e aponta na
minha cara, me fazendo recuar um pouco.
— Não saia, porque quando o maníaco terminar de
bater naquele homem até a morte, ele vai
perguntar por você... Ele vai querer te ver! E eu não
vou me arriscar a ser a segunda rodada dele
quando ele lhe procurar, Livy! Portanto, fique aqui!-
Ele sai batendo a porta ferozmente, deixando-me
em pé no meio do escritório, com os olhos
arregalados e o coração batendo forte.
Ainda não há nenhuma música chegando do clube.
Eu estou sozinha nas entranhas do ICE, no silêncio
e no austero escritório de Miller para a empresa.
— Arhhhhhhhhhh!- Eu grito, reagindo tarde para as
táticas de Tony. Minhas mãos mergulham nos meus
traiçoeiros cabelos loiros e como se eu pudesse
175
puxar os acontecimentos das últimas horas de
minha cabeça.
— Eu te odeio!
Eu fecho meus olhos com força por causa da dor
auto-infligida e começo a chorar de novo. Eu não sei
quanto tempo eu gasto lutando comigo mesma,
parecem horas, e eu paro apenas por causa do
esgotamento físico e da dor que eu sinto no couro
cabeludo. Soluço enquanto eu ando em círculos,
minha mente é uma bagunça, incapaz de deixar
algum pensamento positivo para me tranquilizar.
Então eu vejo o barzinho de Miller e paro.
O álcool.
Eu corro até ele e tiro, desajeitadamente, uma
garrafa aleatória entre muitas mais. Soluço e
engasgo com minhas emoções quando abro e levo a
garrafa aos lábios. O licor queima instantaneamente
na minha garganta fazendo maravilhas e queima o
foco dos meus pensamentos para me fazer esboçar
uma careta ao sabor poderoso.
Então, eu bebo um pouco mais.
Bebo até que a garrafa esteja vazia e lanço pelo
escritório com raiva e fora de mim. Eu fico olhando
para todas as outras garrafas. Seleciono outra
aleatória e bebo quando cambaleio para trás indo
para o banheiro. Bato na parede, na porta e no
quadro até chegar ao banheiro, e olhar para o
reflexo da desapropriação de uma mulher no
espelho. Algum rímel preto se espalha pelas minhas
bochechas vermelhas, meus olhos estão vidrados e
torturados, e meu cabelo loiro é uma massa de
cachos emaranhados emoldurando meu rosto
pálido.
Eu vejo minha mãe.
176
Eu olho para meu reflexo com desprezo, como se
fosse o meu arqui-inimigo, como se fosse à coisa
que eu mais odiasse no mundo.
E agora... é.
Levanto a garrafa aos lábios e bebo mais álcool
quando eu olho em meus olhos. Eu respiro fundo e
cambaleio de volta à mesa de Miller. Eu abro as
gavetas e passo a mão pelos objetos colocados
precisamente lá dentro, quebrando sua perfeita
ordem até encontrar o que eu estou procurando. Eu
olho para o objeto de metal brilhante, quando
flexiono minha mão ao redor da alça eu agarro e
bebo da garrafa enquanto eu penso.
Depois de olhar fixamente por uma eternidade, eu
me levanto, eu volto para o banheiro cambaleando
e coloco a garrafa contra o balcão. O espelho reflete
de volta um rosto inexpressivo e levo minhas mãos
para a cabeça. Eu pego um monte de cabelo, abro e
tesoura encaixo em torno de meus cachos,
deixando-me com um punhado de cabelos loiros e
na minha cabeça metade do comprimento que era.
Curiosamente, o stress parece evaporar quando eu
faço isso, então eu pego outro punhado e corto
mais.
—Olivia!
Eu deixo minha cabeça bêbada virar em direção à
voz e vejo Miller na porta do banheiro. É uma
bagunça. Seus cachos escuros estão em uma
confusão caótica. Tem o rosto e o pescoço coberto
de sangue, a camisa e terno esfarrapado, e está
todo suado. Seu peito sobe e desce tremendo, mas
eu não tenho certeza se ele se esforçou na luta ou
no choque com que ele encontrou. Minha expressão
permanece intacta, e agora, vendo o horror em seu
rosto sempre impassível, quando me lembro de
177
todas as vezes que me avisou para eu não cortar o
cabelo nunca.
Então pego outra mexa, aproximo a tesoura e
começo a cortar como uma louca.
— Foda-se, Olivia, não!– Vindo em minha direção
como uma bala começa a lutar comigo.
— Não!– Eu grito, contorcendo-me ferozmente e
segurando a tesoura. — Deixe-me! Eu quero
desaparecer! - Eu jogo meu cotovelo em suas
costelas.
— Foda-se!-, Miller grita com os dentes cerrados. A
partir de seu tom de voz eu sei que eu o
machuquei, mas me recuso a me render.
— Me dá a porra da tesoura!
— Não!– Transporto para frente. De repente eu me
sinto livre e volto-me descontroladamente, quando
Miller vem contra mim.
Meu corpo adota uma posição defensiva e levanto
as mãos instintivamente. Seu corpo alto e
musculoso me bate e me faz voltar alguns passos.
— Foda-se!– Ele ruge.
Abro meus olhos e o encontro ajoelhado diante de
mim. Eu dou um passo para trás enquanto assisto a
mão em seu ombro. Com os olhos arregalados, eu
olho, eu tenho uma tesoura na mão e vejo o
gotejamento de um líquido vermelho das laminas.
Engulo em seco e solto imediatamente, me deixo
cair ao chão. Então de joelhos, eu vejo como o
paletó é removido com algum estremecimento e,
para meu horror, a camisa branca está encharcada
de sangue.
Engulo o meu medo, meu remorso e minha culpa.
Abre seu colete e faz o mesmo com sua camisa,
arrancando os botões e os fazendo saltar para todos
os lugares.
178
— Merda-, amaldiçoa ao inspecionar a ferida, uma
ferida da qual sou responsável.
Quero consolá-lo, mas meu corpo e minha mente
estão desconectados. Eu não posso nem mesmo
falar para expressar um pedido de desculpas. Gritos
de histeria saem de meus lábios e aperto os olhos
encharcados de lágrimas, então eu posso vê-lo.
Minha intoxicação não ajuda a minha visão
distorcida. Ver Miller ferido e sangrando é ruim o
suficiente, mas por saber que eu sou a causa de
suas dores é insuportável.
E com esse pensamento em mente, vou para o
banheiro e vômito. Eu não posso parar a forte
queimação de sabores queimam em minha boca,
enquanto minhas mãos apertam os músculos de
meu estômago que se contorce ao contato. Eu sou
uma bagunça, um despojo frágil e miserável.
Desesperado e vivendo em desespero, em um
mundo cruel.
— Jesus Cristo-, murmura Miller atrás de mim, mas
eu me sinto muito culpada para virar e encarar
meus erros.
Apoio a testa contra o assento do vaso sanitário
quando eu finalmente paro de sofrer ânsia. A
cabeça está me matando, meu coração dói e eu
estou com a alma despedaçada.
— Tenho um pedido-. As palavras calmas
inesperadas de Miller anima o resto do meu colapso
nervoso e faz lágrimas brotarem e derramarem
pelos meus olhos.
Minha cabeça está latejando principalmente porque
não tenho forças para levantar-me, mas também
porque eu ainda sou muito covarde para olhar para
seu rosto.
— Olivia, saiba que é falta de educação não olhar
para mim quando estou falando.
179
Eu balanço minha cabeça e permaneço na
clandestinidade, com vergonha de mim mesmo.
— Droga–, ele diz amaldiçoando, e então eu sinto a
mão em meu pescoço.
Não me convida a levantar a cabeça suavemente,
mas me puxa bruscamente. Não importa. Eu não
sinto nada. Agarra a ambos os lados do meu rosto e
me faz olhar para frente, mas olho para o pedaço
de pele nua e ensanguentada que espreita através
de sua camisa aberta e colete.
— Não me prive de seu rosto, Olivia-. Ele luta com
minha cabeça até que eu levante os meus olhos e
que fiquem nítidos o suficientemente para se
concentrar nele.
Seus lábios estão apertados. Seus olhos azuis são
selvagens e brilhantes, e as cavidades de sua
latente bochechas. — Eu tenho um pedido porra. E
você vai cumpri-lo.
Deixo escapar um soluço e todo o meu corpo afunda
em meus joelhos, mas suas mãos sobre minha
cabeça me mantém em pé. Os segundos que
passam parecem uma eternidade.
— Eu não quero nunca pare de me amar, Olivia
Taylor. Você está me ouvindo?
Eu concordo em suas mãos ao inspecionar meu
rosto quebrado e se aproxima até que estamos face
a face.
— Diga-me... - ordena. — Agora.
— Eu não vou parar -, eu respondo.
Sufoco em meio a um soluço, e sinto suas mãos
deslizar pelas minhas costas e me puxar para
frente.
— Dê-me “o que eu mais gosto”-.
Não há suavidade em seu pedido, mas a calma
instantânea que toma conta de mim quando o calor
180
do seu corpo começa a misturar com o meu, é tudo
que eu preciso.
Nossos corpos se chocam e se agarram um ao outro
como se fossemos perder nossas vidas se nos
separássemos.
Talvez.
As rachaduras da nossa existência estão
completamente abertas agora. Nós não podemos
escapar da dura realidade que temos de enfrentar.
As correntes. Livrar-nos deles. Seja à beira do
desespero à medida que enfrentamos os nossos
demônios. Eu só espero que recomecemos após
essas rachaduras e quando saltarmos e não vamos
cair na escuridão.
Miller confortar-me, enquanto eu tremo em seus
braços, a tensão de sua segurança não reduz a
vibração dos meus tremores.
— Não fique triste-. Ele implora, agora com um tom
mais suave. — Por favor, não fique triste.
Retira meus dedos cravados em suas costas e
segura minhas mãos entre nós, busca a minha face
molhada de lágrimas e beija enquanto eu tremo.
— Sinto muito!-, murmuro fracamente, e meus
olhos caem para o meu colo para escapar de seu
belo rosto. — Tem razão. Não posso lidar com isso.
— Não existe eu sem você Olivia. – Pega o meu
queixo com as pontas dos dedos e levanta meu
rosto, eu olho para os olhos cheios de
determinação. — Existe apenas nós. Nós vamos
lidar com isso, juntos.
— Sinto que o conheço tão pouco e ainda muito-,
confesso com a voz entrecortada e áspera.
Ele compartilha tanta informação comigo, algumas
voluntariamente e outras por obrigação, mas ainda
existem muitos espaços em branco.
181
Meu perfeito cavalheiro em tempo parcial com
exaustão, pisca lentamente enquanto leva minhas
mãos à boca e deposita seus lábios contra a parte
de trás de cada um.
— Você possui cada uma das partes do meu ser,
Olivia Taylor. Eu imploro perdão para todas as
coisas que tenho feito. – Seus olhos procuram os
meus.
Eu vou perdoá-lo por tudo que fez, e perdoá-lo por
tudo o que ele não fez. Fazer as coisas que fazem
ele doente?
— Eu saio desse inferno apenas com a ajuda de seu
amor.
Meu lábio inferior começa a tremer e eu tenho o nó
na garganta aumentando rapidamente.
— Eu vou te ajudar, - flexionando minha mão em
seu aperto até que ele a libera. Olho para cima, um
pouco desorientada, até que eu sinta seu queixo
áspero.— Confio em você.
Acena com a cabeça ligeiramente. A determinação
inunda seu rosto cheio de emoção e os olhos
expressivos. Meu distante e fraudulento Cavalheiro
está de volta.
— Deixe-me sair daqui. - Ele levanta o longo corpo
do chão sem problemas e me ajuda a ficar de pé. A
mudança de posição faz com que todo o sangue vá
para minha cabeça e balanço um pouco. –Você está
bem?-
— Sim, eu estou bem -, eu digo balançando a
cabeça.
— Você tem certeza -, diz Miller casualmente, como
se eu tivesse que saber exatamente o que ele quer.
Eu não posso franzir a testa em confusão porque eu
estou concentrando toda a atenção para não cair de
cara no chão. — Você não combina com álcool.
182
Agarra o meu pescoço e braço e orienta minhas
pernas trêmulas até o sofá do escritório.
— Sente-se -, ele pede, e me ajuda a fazer isso.
Ele se ajoelha diante de mim e balança a cabeça
quando chega para tocar a destruição que eu fiz no
meu cabelo. Passa os dedos entre o que foi deixado
dele e a dor é claramente refletida em seu rosto.
— Você continua linda -, murmura.
Eu tento sorrir, mas eu sei que ele está exausto e
não consigo. Eu ouço a porta se abrir e olho para
fora. Tony permanece ali por um momento,
assimilando a situação. Parece que vai explodir sob
pressão. Miller sobe lentamente, ele se vira e coloca
as mãos nos bolsos.
Eles estão enfrentando um ao outro. Tony avalia
seu chefe, e depois olha para mim. Sinto-me
pequena e estúpida debaixo de seus olhos atentos,
e na tentativa de evitá-los eu escondo o resultado
do meu colapso nervoso, eu escovo o cabelo do
rosto e uso a liga de borracha no pulso para prendê-
lo em um coque despenteado.
— Qual é a situação?– Miller pergunta tocando seu
ombro e recua ligeiramente.
— A situação?-, Tony fala entre sarcasmo e uma
risada. — Nós temos uma bagunça do caralho,
garoto!- Fecha a porta, vai para o bar, e se serve
um uísque e bebe num gole. — Eu tenho um sujeito
meio–morto lá em baixo e uma multidão se
perguntando o que diabos aconteceu!
— Controlou os danos?–, pergunta Miller também se
servindo de uma bebida.
Tony ri novamente.
— Você tem uma máquina do tempo? Porra, Miller,
o que diabos você estava pensando?
— Eu não estava pensando -, responde, e faz-me
encolher no sofá, como se a causa de toda essa
183
confusão fosse passar despercebida se eu me
tornasse minúscula.
Meu fracasso é confirmado quando Tony olha para
longe com os olhos estressados em minha direção.
Minha necessidade irracional de ferir Miller terminou
com um banho de sangue no clube e confirmou as
suspeitas de Sophia sobre a verdadeira natureza da
nossa relação.
— Não, esse é o problema. É a história de sua vida,
garoto-, Tony suspira. — Você não fica como um
louco para bater em um cara, por uma mulher que
supostamente é só diversão, e levanta a mão para
afastar a camisa de Miller com uma careta. — E
essa ferida, esfaqueamento?
Miller coloca a mão nela e deixa sua taça no
armário. Eu congelo quando vejo ele se reposicionar
antes de começar a puxar sua camisa.
— Não é nada.
— Será que ele tinha uma faca?
— Não é nada-, Miller repete lentamente. Tony
inclina a cabeça careca de maneira curiosa. — E
Sophia?
— Sophia? Ela tem suas garras sobre você, garoto.
Não questione sua lealdade para com Charlie. Ela é
sua mulher!
Abro os olhos com lágrimas. Sophia é a esposa de
Charlie? E ela é apaixonada por Miller? Charlie tem
as chaves da cadeia de Miller. Sabe que Sophia
morre de amores por seu Special One? Eu não acho
que isso poderia se tornar uma teia de corrupção
mais emaranhada.
Tony tenta recuperar a compostura. Bebe outra
bebida e coloca as mãos sobre o móvel do bar ao
lado, cabisbaixo.
— Nossas vidas corruptas são mesmo reais garoto,
e será até o dia da nossa morte-.
184
— Não precisa ser assim -, responde Miller baixinho,
como se ele duvidasse de sua própria declaração.
Faz meu estomago revirar.
— Acorde garoto! -Tony deixa o copo vazio de lado
e pega os braços de Miller, causando um
estremecimento, mas o homem não se dá conta.
— Nós já passamos por isso um milhão de vezes.
Quem entra nesse mundo nunca o abandona. Você
não pode parar e correr quando quiser. Ou você
tem toda a sua vida, ou você a perde!
Engasgo-me com minha própria saliva quando eu
absorvo a franca explicação de Tony. Sophia já
disse. Miller confirmou, e agora é a ratificação de
Tony.
— Só porque ele não quer mais transar por
dinheiro?- interrogo incapaz de me conter.
Miller olha para mim e espero que ele me mande
calar a boca, mas eu estou surpresa de ver que
depois de olhar para Tony, como se ele também
esperasse uma resposta à minha pergunta.
— Envolver-se com Miller Hart será sua morte.
— Não é tão fácil como apenas desistir.
— As consequências serão devastadoras.
Correntes. Chaves. Dívida de vida.
Eu estou a ponto de forçar o meu corpo a subir em
uma tentativa de parecer forte e estável quando a
porta se abre novamente e Sophia entra
tranquilamente. O ambiente torna-se um milhão de
vezes mais tenso e desconfortável. Sento-me na
cadeira enquanto ela olha em volta e todos nós
envolvidos reparamos um momento de seus olhos
redondos, enquanto desenha com um cigarro. Estou
ainda mais cautelosa quando Cassie aparece
também, mais uma vez perfeita, mas ela parece
preocupada e cautelosa.
185
Sophia caminha para o armário de bebidas e se
empurra entre Miller e Tony. Eles desviam para
deixar que ela chegue e se sirva. Ela leva seu
tempo, sua postura e ações gritam supremacia. Em
seguida, ela se vira para Miller.
— Uma reação violenta para alguém que
supostamente só transou com ela-. O Sotaque
europeu de Sophia torna-se quase uma sexy
ameaça.
Eu fecho meus olhos brevemente. A culpa prega
novamente suas garras abomináveis. Que idiota eu
sou. Abro um olho e vejo que Miller está olhando
para ela, sua expressão é inexpressiva e seu corpo
estranhamente também. Seu tempo me escondendo
se esgotou. Seu tempo de pensar a melhor maneira
de lidar com isto acabou. Por causa de minhas
ações precipitadas.
— Eu só faço amor com essa mulher-. Olha-me, e
quase me deixa paralisada com o calor que reflete
em seus olhos. Eu quero correr para seus braços e
estar ao seu lado para enfrentarmos juntos, mas
meus músculos inúteis falham novamente. Quando
Miller volta seu olhar para Sophia, sua expressão se
torna fria e impassível novamente. — Eu a idolatro.
O choque no rosto de Sofia é óbvio. Tenta escondê-
lo tomando um gole do seu copo e dá uma tragada
no cigarro, mas eu vejo isso claro como o dia a
partir daqui.
— E você deixa ela te tocar?- ela pergunta.
—Sim.
Sua respiração se acelera, e uma ligeira raiva agora
surge através da surpresa.
— Deixa beijar você?
— Sim. – Sua mandíbula aperta e seus lábios
amassam com raiva. — Ela pode fazer o que quiser
comigo. E aceito voluntariamente tudo. – Ele se
186
inclina em direção a ela. — Na verdade, até chego a
implorar por isso.
Meu coração explode em 1 milhão de pedaços mal
se contentando, fazendo minha mente já instável
tonta.
Sophia fica sem palavras e dá um rápido e frenético
gole em sua bebida, fumando seu cigarro entre os
goles. A confissão de Miller derruba a compostura
orgulhosa. Ela já suspeitava disso, então não deve
ser nenhum choque. Ou talvez ele tenha
subestimado a situação? Talvez ele pensasse que
era bobagem.
Se assim for, é simplesmente um erro.
Como uma mera observadora dos eventos que
estão ocorrendo, eu olho para Tony e vejo
verdadeiro pânico em seu rosto. Então olho para
Cassie que está tão chocada quanto Sophia.
— Eu não posso protegê-lo dele Miller -, diz Sophia
calmamente, embora a sua ira ainda esteja
evidente. Ela está lançando um aviso.
— Em nenhum momento eu esperava que você
fosse fazer isso, mas eu quero que você tenha uma
coisa bem clara: eu já não estou à sua disposição.
Estou indo embora -, declara Miller, e se afasta de
Sophia.
Ele se vira para mim com determinação e com um
passo leve, mas acho que não sou capaz de me
levantar. Não paro de tremer. Ele chega para mim.
Sua mão se estende em minha direção. Eu levanto
meus olhos para olhar aqueles olhos azuis me
confortando com imensa segurança.
— Você acha que haverão faíscas? -, sussurra, sua
boca parece se mover em câmera lenta. Seus olhos
brilham e enche-me com força e esperança.
Eu aceito a sua oferta e mantenho meus olhos nos
dele enquanto eu o deixo me ajudar. Sua mão em
187
meu cabelo coloca alguns fios soltos atrás das
minhas orelhas, delicadamente, e inspeciona meu
rosto. Ele não está com pressa. Não há urgência
para retirar-se da situação horrível. Ele está
simplesmente contente em me fazer derreter ante
dele, sob o efeito penetrante de seus olhos. Ele me
beija. Suavemente. Lentamente.
É um sinal, uma indicação. E eu mais que aceito.
— Vamos para casa, minha menina. – Reclama meu
pescoço e me guia até a porta de seu escritório.
A ansiedade começa a evaporar dentro de mim por
saber que em breve estaremos fora daqui, longe
desse mundo cruel. Por essa noite, podemos fechar
a porta.
E eu espero que amanhã nunca chegue para não ter
que reabri-la.
— Você lamentará essa decisão, Miller. – Ameaça
Sophia em um tom que o faz parar no meio do
caminho, e me para também.
— O que lamentarei categoricamente é a vida que
levei até agora -, responde Miller em voz pausada.
— Livy é a única coisa boa que aconteceu comigo, e
eu não tenho nenhuma porra de intenção de
terminar com ela.
Ele se vira lentamente, levando-me com ele.
Sophia recupera seu ar de superioridade, Tony olha
pensativo e Cassie com lágrimas nos olhos. Eu fico
olhando por um momento, ele deve perceber,
porque, de repente me lança um olhar, e sorri.
Não um sorriso presunçoso, na verdade ele está
longe disso. Parece um triste sorriso de
reconhecimento, mas depois de alguns segundos eu
percebo que é um sorriso reconfortante. Acena com
a cabeça um pouco e confirma os meus
pensamentos. Ele entende tudo.
188
Sophia ri maliciosamente, e Cassie e eu viramos a
nossa atenção para a sua figura decorada com um
terno de grife.
— Eu poderia acabar com isso em um segundo,
Miller. E você sabe. Posso dizer que ela se foi. Que
ela significa nada para você.
Eu me sinto insultada, mas Miller permanece
relaxado.
— Não, obrigado.
— É uma fase.
— Não é uma fase - Responde Miller friamente.
— Sim, seguramente é -, rebate Sophia balançando
a mão para mim com desdém. Seu olhar de censura
me apunhala severamente e faz-me encolher um
pouco.
— Você só sabe fazer uma coisa, Miller Hart. Você
sabe fazer com que as mulheres gritem de prazer,
mas não sabe o que realmente importa.
Ele sorri com petulância.
— Você é especial. Você só sabe foder.
Eu estremeço, resistindo minha esmagadora
tentação de colocá-la em seu lugar, mas eu já fiz
bastante dano. A razão de Sophia estar aqui,
escorrendo falso moralismo, é culpa minha.
Eu sinto que Miller começa a ficar em modo
maníaco.
— Você não tem ideia do caralho do que eu sou
capaz. Eu venero Olivia. – Sua voz treme diante da
raiva que ferve.
Ela franze o rosto em uma careta e dá um passo em
frente.
— Você é ingênuo, Miller Hart. Ele nunca vou deixar
você sair.
Miller explode.
— Eu a amo!- Fala rugindo, dirigindo-se a todos os
presentes. — Eu a amo com todas as minhas forças,
189
caralho!
Meus olhos transbordam em lágrimas, e eu fico ao
lado dele. Ele imediatamente agarra-me apertado
contra seu corpo.
— Eu a amo. Eu amo tudo que ela representa, e eu
amo o quanto ela me ama. Isso é mais do que você
me ama. É mais do que qualquer um de vocês
dizem que me amam! É um amor puro, é luz, e me
faz sentir. Ele me faz desejar mais. E eu vou matar
qualquer desgraçado que tente levá-la de mim.
Ele para por um segundo para respirar.
— Lentamente-, ele acrescenta, tremendo ao meu
lado, me segurando com força, como se estivesse
com medo de que alguém tentasse fazer isso agora.
— Eu não me importo com o que ele diz. Não me
importo o que você acha que pode me fazer. Aquele
que tem que dormir com um olho aberto, Sophia,
não sou eu. Então o diga. Corra pra ele e confirme o
que ele já sabe. Eu não quero continuar transando
por porra de dinheiro. Diga a ele que não quero
continuar enchendo seus bolsos. Eu não vou deixar
me chantagear. Miller Hart está fora do jogo. O
Special One se demitiu!- Outra pausa e toma um
momento para recuperar o fôlego enquanto todos o
olham chocados. Inclusive eu.
— Eu a amo. Vá e diga a ele que eu a amo. Diga
que agora eu pertenço a Olivia. E avise que se ele
tocar em um fio de cabelo de sua cabeça será a
última coisa que ele fará.
Fomos para a saída, mesmo antes de assimilar o
que estávamos deixando para trás, embora eu
imagine perfeitamente. Eu não posso nem processar
sua violenta declaração. Seu braço está sobre meu
ombro. Sinto o seu calor e conforto, mas isso não é
nada comparado com o sentimento de posse que eu
tenho quando ele agarra meu pescoço, como de
190
costume. Agito-me a deixo ir e ele olha para mim,
totalmente perplexo, à medida que avançamos. Ele
coloca sua mão no meu pescoço e eu rodeio sua
cintura com o braço. Miller suspira com aceitação e
volta a concentrar-se em seu caminho.
A música é reproduzida através dos alto-falantes em
todos os lugares, mas a clientela de elite não voltou
ao normal. Existem grupos se reunindo em todos os
lugares, provavelmente, comentando sobre a cena
que tinha acontecido um tempo atrás, envolvendo o
dono do clube. Eu tenho uma pergunta então.
— Você sabe quem são essas pessoas?- Pergunto
sentindo um monte de olhares de todas as direções
escavando em nós quando saímos da escada.
Ele não olha para mim.
— Alguns. – Sua resposta, concisa e direta, me diz
que ele sabe o que quero dizer, e não o fato de que
ele é o proprietário do estabelecimento.
O ar da noite bate no meu corpo e imediatamente
me faz tremer. Eu ainda estou aconchegada a Miller
e olho um dos porteiros.
Seu rosto severo fica sério quando vê como Miller
me acompanha desde o local até o outro lado da
rua, onde ele estacionou o Mercedes de Miller.
Guia-me para o banco de passageiro, olho para o
lado e vejo como outro segurança coloca em um
táxi o cara que Miller espancou até quase matá-lo.
De repente eu estou muito preocupada.
— Ele precisa de tratamento -, eu digo. — Os
médicos vão fazer perguntas-.
A porta se abre e empurra-me suavemente para o
assento.
— Esse tipo de pessoa não gosta da polícia se
metendo em seu próprio negócio, Olivia. – Ele puxa
o cinto para trás e o afivela. — Não se preocupe
com isso.
191
Me beija suavemente a mão e fecha a porta. Em
seguida, o telefone do bolso faz uma breve
chamada enquanto entra no carro.
Esse tipo de pessoa.
Esse mundo.
É muito real.
E eu estou bem no meio.
192
CAPÍTULO 12
O álcool e a exaustão me alcançaram. Eu estou
entorpecida e minhas pernas parecem gelatina.
Quando chegamos ao saguão do seu prédio, Miller
me pega em seus braços e continua a caminhar.
— Onde você deveria estar -, sussurra e cola os
lábios na minha testa.
Rodeio seu pescoço com os braços e apoio a cabeça
em seu ombro. Eu fecho meus olhos e finalmente
cedo à exaustão. Ele se recusa a obedecer ao meu
pedido de me levar para a casa de minha avó. Eu
não insisto. Ele precisa de calma, e eu sei que seu
apartamento comigo dentro, conseguirá ajudar.
Até que abra a porta novamente amanhã de manhã.
A porta preta brilhante nos acolhe. Miller a abre
entra, e fecha suavemente com o pé, deixando o
mundo exterior de fora. Mantenho os olhos fechados
em seus braços. O aroma familiar me faz relaxar
ainda mais. Não é tão aconchegante como a casa da
minha avó, mas estou feliz de estar aqui com Miller.
— Você pode ficar em pé? - pergunta ele, virando-
se para mim.
Eu aceno e deixo-me gentilmente baixar para o
chão. Sua expressão de concentração quando ele
despe-me lentamente e com cuidado me deixa
encantada. Hábitos estão sempre presentes: dobra
as roupas antes de colocá-los no cesto de roupa
suja, separa os lábios ligeiramente e seus olhos
brilham de entusiasmo. Uma vez que sua
tarefa foi cumprida, olha para mim e me dá uma
ordem em silêncio, então eu obedeço e ele começa
a se despir. Mesmo seu terno manchado de sangue
é dobrado antes de colocá-lo no cesto, mesmo que
ele realmente tenha que jogá-lo fora. É impossível
193
ignorar a facada e o sangue em sua perfeição. Ele
tem as mãos, peito e queixo coberto com manchas
vermelhas. Não tenho certeza se o sangue pertence
a Miller ou ao cara que veio tão inesperadamente de
meu passado sórdido. Ele não poderia ter escolhido
um momento pior, embora eu duvide que a reação
de Miller tivesse sido menos violenta se tivesse
acontecido em qualquer outra hora.
Eu levanto minha mão e gentilmente marco a área
da ferida com o dedo, tentando avaliar se ele
precisa de cuidados profissionais.
— Não dói -, diz suavemente, pegando minha mão e
colocando sobre o coração. — Isso é tudo o que me
preocupa.
Sorrindo um pouco, me aproximo de seu peito e
levo-me em direção a seu corpo, envolvendo os
meus membros em torno dele, absorvendo-o.
— Eu sei!– eu murmuro contra o pescoço dele como
ele gosta, mais longe do que o habitual, e acaricio o
nariz, e a grossa barba na bochecha.
Suas mãos fortes deslizam em minha bunda e as
pernas musculosas são direcionadas para o
chuveiro. Empurra-me de volta contra os azulejos
da parede quando se afasta de mim, apertando meu
rosto para o calor de seu pescoço.
— Só quero nos limpar -, diz com uma ligeira
careta.
—Explique-se.
Me sinto feliz quando vejo que os cantos da curva
de seus lábios ligeiramente se curvam para cima e
seus olhos assumem um brilho brincalhão.
— Como quiser.
Ele liga o chuveiro e, instantaneamente, a água
quente cai sobre nós. Seu cabelo está achatado na
cabeça e sangue de seu peito começa
a desaparecer.
194
—Faça.
Acena a mão um pouco para trás e retira as minhas
pernas de sua cintura antes de fazer o mesmo com
os meus braços. Eu fico lá parada, com as costas
contra a parede, observando Miller cuidadosamente.
Cola as palmas das mãos contra os azulejos, em
ambos os lados da minha cabeça, e se aproxima até
que o seu nariz fique em uma distância de um
milímetro do meu.
— Eu vou deslizar as minhas mãos em cada curva
do seu corpo perfeito, Olivia. E eu vou assistir
enquanto você se contorce e luta para conter o seu
desejo por mim. – A ponta de seu dedo traça um
caminho ardente para o meu quadril molhado. Já
estou lutando para me controlar, e ele sabe disso.
Eu descanso minha cabeça na parede e meus lábios
entreabertos para inspirar mais ar.
— -Eu só vou prestar especial atenção aqui. – O
Calor intenso viaja quando ele gentilmente acaricia
meu sexo latejante, novamente e novamente. E
aqui. Abaixa a sua cabeça no meu peito e suga o
meu mamilo ereto no calor de sua boca.
Eu prendo a respiração e bato com a cabeça contra
a parede, eu resisto ao meu instinto natural para
agarrá-lo, senti-lo, beijá-lo...
— Diga-me o que você sente -, ordena. Apertando
seus dentes nos meus mamilos e uma pontada
aguda de dor para o meu sexo, onde os seus dedos
deslizam para frente e para trás suavemente e com
calma.
Chego pra trás na tentativa de escapar das faíscas
intensas de prazer, mas acabo empurrando os
quadris pra frente, ansiosa para pegar os
sentimentos e fazê-los durar para sempre.
— Bom. – Minha voz é um coaxar grave e lascivo.
—Detalhes.
195
Eu começo a sacudir a cabeça, incapaz de obedecer
à sua ordem.
— Você quer me tocar?
—Sim!
— Você quer me beijar?
— Sim!- Exclamo.
Por um momento, estou prestes a colocar minha
mão sobre a dele para aumentar a pressão sobre o
meu clitóris, mas sem saber como encontrar força
de vontade para não.
— Então o faça. – É uma ordem, e apenas um
segundo mais tarde eu estou atacando sua boca e
minhas mãos frenéticas estão em cima dele. Ele
morde meus lábios, de modo que eu volte a mordê-
lo também e rosna. — Faça o que quiser comigo,
minha menina.
Então eu pego seu pau e aperto. É difícil. Está
quente. Ele joga a cabeça para trás e grita. Seus
dedos aceleram seu toque em meus nervos
latejantes, cada vez mais perto do clímax,
incentivando minha própria mão sobre o seu eixo.
— Foda-se!- Engole a saliva e abaixa a cabeça, o
rosto desfigurado de prazer, sua mandíbula e todas
as suas características nítidas. Meu orgasmo é
acelerado sob o poder de seus olhos em mim e eu
começo a tremer meus quadris para frente para
receber mais suas carícias. Ele continua.
Olhamos um para o outro enquanto me masturba,
me clama constantemente, e Miller ofega em meu
rosto. As gotas de água se acumulam nos cílios
escuros e faz seus olhos, queimarem, reluzir com
intensidade.
— Estou indo!- Eu grito, e tento me concentrar na
explosão de prazer que está prestes a me
enlouquecer, enquanto eu certifico-me de continuar
196
acariciando Miller, então ele consegue sua liberação
também.
— Também vou!
É tudo muito urgente. Meus pés deslocando para
me estabilizar, Miller cola o corpo mais contra mim
e os nossos lábios colidem e beijam com frenesi.
— Foda-se! Venha Olivia!
E eu faço. Seu pedido me faz estourar. Eu mordo
minha língua, cravando as unhas em sua carne,
aperto seu pênis duro e o sinto pulsando em minha
mão.
— Foda-se! - ruge.
Torna-se flácido e cai contra mim, me empurrando
contra a parede. Eu sinto o calor de sua essência
derramando sobre minha barriga através da água.
— Calma –, ele diz. — Não pare.
Eu faço o que ele pede e continuo masturbando-o,
para cima e para baixo enquanto estou escovando
os meus quadris contra sua mão, com o coração a
mil por hora e concentrando-me e desfrutando do
meu prazer. Leva-me contra a parede, com o seu
corpo alto e seu rosto enterrado em meu pescoço.
Nossa respiração é áspera e trabalhosa. Nossos
corações batem através dos nossos corpos. E os
nossos mundos são perfeitos.
Mas só por esse momento.
— Eu não usei sabão, - diz ofegante e sacudindo os
dedos em volta do meu corpo, antes de lentamente
introduzi-los em mim. Eu fecho meus olhos e eu
contraio os músculos ao redor. — Mas eu me sinto
mais limpo.
— Leve-me para a cama.
— E te dar “o que eu mais gosto”? - Me morde o
pescoço, em seguida, me suga suavemente.
Eu sorrio apesar do meu cansaço, largo seu pênis
semiereto e rodeio os braços em seus ombros. Pego
197
em seu rosto até que ele é obrigado a liberar meu
pescoço e direcionar para os meus lábios.
— Quero que todas as partes de seu corpo me
toquem-, murmuro entre seus lábios. — Eu não
quero afastar-me de você por toda a noite.
Rosna e me beija com mais intensidade, mas me
empurrando ainda contra a parede. Nossas línguas
deslizam e enrolam sem dificuldade. Eu poderia
passar minha vida beijando Miller Hart, e eu sei que
ele sente o mesmo.
— Vamos primeiro nos lavar.
Eu tenho um grande sentimento de perda quando
ele me coloca no chão e beija meus lábios e pega o
gel de banho.
— Vamos ver o quão rápido você é capaz de fazer
isso.
Deixo por um momento que despeje o sabão na
mão e olha para mim com conhecimento de causa.
— Eu gosto de tomar meu tempo com você. –
Coloca o frasco de volta em seu lugar exato, e
começa a formar um pouco de espumas nas mãos.
Ele está na minha frente, exalando seu hálito
quente no meu rosto e, em seguida, executa um de
seus piscar preguiçosos e olha para mim com seus
olhos azuis escaldantes.— Você sabe, Olivia.
Eu prendo a respiração, fecho os olhos com força e
me preparo para receber o toque de suas mãos.
Começa por meus tornozelos, traçando lentas e
delicadas rotações para remover a sujeira do dia.
Minha mente se concentra em seu toque quente,
massageando minhas pernas. Lentamente. E eu não
me importo.
— O que acontecerá agora? -, eu pergunto
finalmente.
Tenho evitado essa questão desde que deixamos o
ICE. Estamos juntos, trancado no apartamento de
198
Miller, mas não podemos ficar para sempre assim.
— Acho que Sophia irá transmitir a Charlie tudo o
que eu disse.
— Charlie sabe que Sophia está apaixonada por
você?
Ele ri um pouco.
— Sophia não tem desejo suicida.
— E você?
Respire fundo e olha-me nos olhos.
— Não, doce menina. Agora eu realmente quero
viver. Você me deu essa paixão, e nem mesmo o
diabo vai me impedir que eu tenha minha
eternidade com o meu alguém.
Eu chego e pouso um beijo em seu rosto.
— Charlie é o diabo?
— Mais ou menos -, sussurra.
— Você já pensou o que vai fazer?
— Sim -, responde com segurança.
— Você vai me dizer?
— Não, bebê. Mas eu quero que você saiba que eu
sou seu e tudo isso vai acabar em breve.
— Desculpe fazer isso mais difícil. - Eu não digo
mais nada. Ele sabe o que eu quero dizer.
— Sabendo que tenho você no final, torna mais fácil
Olivia-. Com muita hesitação, ele chega e puxa a
liga do meu cabelo. Incapaz de conter uma careta
ao ver que o meu cabelo, antes muito longo, agora
está apenas um pouco abaixo dos ombros.
— Por quê?- sussurra, e penteia com os dedos
com cuidado, mantendo os olhos sobre os cabelos
cortados.
— Eu não quero falar sobre isso.
Eu penduro minha cabeça. Lamentando muito o que
fiz, mas não porque eu vou sentir falta da minha
massa incontrolável de cabelo loiro, mas porque eu
sei que Miller sim.
199
— Como você se sentiria se eu raspasse minha
cabeça?
Eu levanto minha cabeça, horrorizada. Eu amo o
seu cabelo. Agora ele está mais comprido, e cachos,
quando seco, destacam-se caprichosamente na
nuca, e indisciplinado cai naturalmente na testa.
Não, não, ele não pode.
— Eu estou sendo intuitivo aqui -, ele respira na
minha cara, — E eu vou sugerir que pela que olho
na sua cara, ia doer profundamente.
— Sim, muito. Eu não posso negar isso, então eu
não nego. Seu precioso cabelo faz parte desse
homem perfeito. Fere-me qualquer coisa que possa
arruinar seu corpo. — Mas eu não te amaria
menos-, respondo, querendo saber aonde ele quer
chegar.
— Nem eu-, ele murmura, — Mas eu quero que
você saiba que eu a proíbo de cortar o cabelo.
Pega o shampoo e coloca um pouco em minha
cabeça.
— Não-, asseguro-lhe. Eu não acho que pegaria
uma tesoura em minha vida de novo depois do que
eu fiz, e digo para Miller, não o meu cabelo. Ele
esfrega as mãos ainda nos cachos que restaram e
olho para o ferimento no ombro.
— Não me refiro só a você.
Franzo a testa, mas me coloca virada para a
parede, então não posso mostrar a minha confusão.
— O que você quer dizer? - Eu pergunto com ele
massageando minha cabeça até que saia espuma.
— Nunca!-, diz curto e categoricamente, sem mais
explicações.
Me vira novamente e coloca-me sob a água para
enxaguar.
— Nunca o quê?
200
Não olha para mim, apenas continua com sua
tarefa, imune a minha perplexidade.
— Eu não quero que você corte o cabelo, nunca.
Nem por qualquer pessoa.
— Nunca?- Eu pergunto, pasmo.
Olha-me sério. Eu conheço a expressão. Ele está
inflexível. Ele está adicionando meu cabelo à sua
lista de obsessões. Ele pode ter se rendido a alguns,
mas vai compensar com outros... como com o meu
cabelo.
— Isso é o que eu disse, certo?- Ele aponta
totalmente sério. — Eu sei que pode parecer
irracional, mas é o que eu quero, e eu gostaria
que aceitasse.
Fico surpreendida por sua arrogância, embora não
devesse. Eu enfrentei muitas vezes.
— Você não pode me dizer o que devo ou não fazer
com o meu cabelo, Miller.
— Muito bem-. Ele dá de ombros com indiferença e
enxágua os cachos. — Então eu raspo o meu.
Abro os olhos arregalados em sua ameaça, mas
logo controlo a minha exasperação, porque uma
coisa eu tenho certeza.
— Você adora o seu cabelo tanto quanto eu-,
declaro com segurança... e presunçosamente.
Aplica algum condicionador tranquilamente em
meus amados cachos enquanto eu permaneço
encostada contra a parede do chuveiro, imitando
sua arrogância.
Coloca sua cabeça debaixo d’água, enxaguando e o
cabelo é puxado para trás com a mão. Meu sorriso
se intensifica. Ele está meditando sobre o assunto e,
depois de inspirar profundamente lida com a minha
diversão. Descansa as mãos na parede de cada lado
da minha cabeça e o rosto perto do meu.
201
— Está preparada para correr esse risco?- Seus
lábios estão perto, e eu desviei o olhar
presunçosamente.
—Talvez.
O calor de sua pele atinge meus seios quando sua
risada silenciosa faz com que seu peito se expanda.
— Ok!– Ele respira em meu ouvido. — Eu prometo a
você que se você se atrever sequer a olhar um
cabeleireiro, eu corto o meu cabelo-.
Abafo um suspiro, eu olho para ele e o encontro
com as sobrancelhas levantadas, desafiando-me.
—Não.
— Ponha-me à prova. –Seus olhos empurram para o
meu e por um momento seus lábios bloqueiam
minha boca. — Eu mudei muito desde que caí de
amores por você, Olivia Taylor. – Eu mordo os
lábios e meu coração acelera de felicidade.
— Acredite em mim, eu vou cumprir essa
promessa-.
Ele me ama. Eu não prestei muita atenção quando
ele gritou para Sophia no ICE, porque não estava
acreditando, ou por estar processando. Mas agora
as palavras ecoam através do meu núcleo me
inundando de calor.
— Não me importo-, anuncio. — Você acabou de me
dizer que me ama. Faça o que quiser.
Ele ri. Realmente rindo com a cabeça para trás, os
olhos muito brilhantes e tremendo
incontrolavelmente. Eu sou incapaz de fazer
qualquer coisa. Nem se quer respirar. Extasiada
observo em silêncio esse homem maravilhoso
morrendo de rir de mim e balanço a cabeça prestes
a chorar.
— Olivia-, ele tosse, me pega e me embala nos
braços fortes. — Eu sempre te digo que te amo-.
— Não, você não disse. Você sempre diz
202
"fascinado".
Chegamos à enorme cama de Miller e
cuidadosamente ele me coloca na parte superior. Eu
começo a esgueirar-me sob os lençóis enquanto ele
remove todas as almofadas e se coloca no pé da
cama.
— Talvez não possa usar essas palavras, mas elas
estão lá, toda vez que eu olho para você. Ele desliza
na cama e deixa cair seu físico musculoso em cima
de mim. Separa-me as coxas e fica a vontade entre
elas. Olha-me no mais ínfimo dos sorrisos.
— Está escrito em todas as partes-, sussurra e beija
minha testa em confusão. — Eu escrevo com os
meus olhos em cada parte do seu corpo, cada vez
que eu olho para você. – Vem até meus lábios e me
beija mergulhando delicadamente sua língua entre
eles.
A ironia do meu contentamento, depois de um dia
tão traumático está fazendo minha cabeça girar. Eu
estou sendo constantemente jogada da alegria total
ao desespero total. — E eu escrevi isso sobre você,
fisicamente.
Sorrio e franzo a testa, enquanto ele continua
adorando minha boca com ternura.
Mas então eu caio.
— Em seu estúdio... -, murmuro contra seus lábios.
— Você escreveu na minha barriga com tinta
vermelha.
— Lembro-me perfeitamente, e eu também me
lembro de que apaguei antes que você visse.
— Exatamente-. Ele olha para o meu rosto sorrindo.
Ele está me sentindo em todos os lugares, mas
agora, com aqueles olhos azuis penetrantes e
hipnóticos, ele está tocando minha alma.
— Eu vou te amar até que não haja ar em meus
pulmões, Olivia Taylor. – Olha minha mão e o anel
203
de diamante e leva aos lábios. — Por toda a
eternidade.
Eu balanço minha cabeça.
— A eternidade não será suficiente.
— Bem, então além-, sussurra.
204
CAPÍTULO 13
Como eu pensei, quando eu acordo de manhã eu o
encontro agarrado a mim. O sinto entre as minhas
coxas, minha cabeça, tanto quanto possível perto
do meu pescoço e dos braços estendidos para os
lados da minha cabeça. Enterro o nariz no cabelo
dele e inalo sua essência enquanto meus dedos
percorrem os músculos fortes e definidos de suas
costas por uma eternidade.
205
— Shhh!-, eu digo. Eu cubro seu corpo nu com o
lençol e beijo sua longa barba agora para acalmá-lo.
— Eu só vou ligar para o hospital.
Dito isso, ele sede e atira-se para frente e desliza os
braços debaixo de seu travesseiro. Deixo Miller
dormindo, eu corro pelo o quarto para procurar meu
celular e de repente eu me pego falando com o
hospital.
— Eu sou a neta de Josephine Taylor-, eu digo a
caminho para a cozinha. — Me disseram que ela iria
ter alta hoje.
— Ah sim!- A enfermeira declara praticamente
gritando, como se sentindo aliviada ao confirmar.
— O cardiologista vai visitá-la no início da tarde,
então eu espero ter a alta preparada às três. Disse
as quatro para ter uma margem.
— Genial!- Exclamo com emoção, apesar de estar
meio adormecida ainda. — E você já tem toda a sua
medicação?-
— Sim, querida. Enviei as receitas para a farmácia
hospitalar. Devem nos mandar antes da saída. Ela
deve pegar leve por um tempo. E nós iremos
agendar uma consulta de acompanhamento.
— Obrigado. – Sento-me em uma cadeira, na mesa
de Miller, e respiro aliviada quando eu acho que
esse descanso é mais fácil dizer do que fazer. Eu
tenho um bom desafio na mão e, sem dúvida
semanas de insolência típica das Taylor dirigida
para mim.
— Então, tudo bem. Na verdade ela foi a alegria
desse lugar triste nos últimos dias.
Eu sorrio.
— Mas você não vai perder isso, hein?
A enfermeira deixa escapar uma gargalhada.
— Bem, na verdade eu vou.
206
— Então eu sinto muito, mas não poderá mantê-la-,
declaro rapidamente. — Eu estarei ai às quatro.
— Vou deixá-la saber.
— Obrigado pela sua ajuda.
— Um prazer-. Ela desliga e eu fico sentada sozinha
na cozinha tranquila, incapaz de conter minha
alegria. Hoje pode não ser tão ruim, afinal.
Eu pulo e decido fazer café da manhã para Miller,
mas preciso fazer alguma coisa antes que ele
chegue. Eu quero ser perfeita, e só há uma
maneira. Eu corro para o quarto e me jogo na
cama, fazendo com que o corpo de Miller salte no
colchão. Ele acorda imediatamente alarmado, com o
seu cabelo selvagem maravilhoso e olhos
sonolentos.
— O que é isso?
— Eu preciso de um momento-, eu digo, e eu
agarro seu braço e começo a puxá-lo. — Venha.
Seus olhos sonolentos não são mais tão sonolentos.
Eles agora estão cheios de desejo. Com um super
veloz movimento calculado, o braço é liberado,
agarra-me, me coloca de barriga para cima, e
monta em minha barriga, e imobiliza meus braços
acima da minha cabeça.
— Eu preciso de um momento-. Sua voz é áspera,
grave e extremamente sexy. — Vamos?
— Não-, eu respondo antes que eu possa pensar em
como controlar o meu estúpido impulso.
— Desculpe-me? - Ele se sente compreensivelmente
rejeitado.
— Nós iremos em breve. Eu quero preparar com
você um café da manhã.
Seus olhos azuis viram um pouco desconfiados e
aproxima meu rosto para o seu.
— Na minha cozinha?
207
Eu rolo meus olhos. Eu estava esperando essa
incerteza de sua parte.
— Sim, em sua cozinha.
— E se você está indo fazer o café da manhã, por
que você precisa de mim?
— Eu preciso de cinco minutos.
Observa-me por um momento e considera o meu
pedido. Ele não será negado. Eu despertei sua
curiosidade.
— Como quiser-. Ele me tira da cama. — O que
você, minha linda, menina vai preparar para o meu
café da manhã?
— Isso não é da sua conta.
Permite que guie seu corpo nu para a cozinha,
ignorando seu bufar de diversão com a minha
insolência.
— O que quer que eu faça? - pergunta quando
entramos.
Eu o assisto inspecionar o local arrumado, como se
anotando mentalmente a posição de cada objeto, se
algo se moveu de um lugar enquanto eu estou solta
em seu espaço perfeito. É um absurdo. Ele sabe
exatamente onde está tudo. — Ponha a mesa. - eu
comando.
Viro-me de costas e gosto de ver as rugas que
formam em sua testa.
— Por favor.
— Você quer que eu ponha a mesa?
— Sim. – Talvez seja capaz de preparar um café da
manhã perfeito, mas eu sei que é impossível pôr a
mesa corretamente.
— De acordo -, ele parece hesitante e vai para a
gaveta onde eu sei que tem facas e garfos.
O aparecimento de todos os músculos em suas
costas me dá uma visão perfeita, enquanto ainda
está ali, mas a visão é ainda melhor quando ele vai
208
para a mesa. Seu rosto, seus olhos, suas coxas,
peito, cintura firme... Seu pau duro. Eu balanço
minha cabeça determinada a não desviar a minha
atenção. Eu assisto sua afobação através do espaço
e me lança olhares curiosos de vez em quando, eu
continuo quieta e silenciosa de lado e deixando-o
terminar.
— Perfeito!- Diz, e aponta para a mesa com um
gesto de seu braço. — E agora?
— Volte para a cama. – Ordeno, a caminho para a
geladeira.
— Enquanto você está nua em minha cozinha?-
Quase cai na gargalhada. — De jeito nenhum.
— Miller, por favor. Eu viro sobre meus pés
descalços, quando pego a maçaneta da porta da
geladeira e vejo que está olhando quase franzindo a
testa. — Eu quero fazer algo para você.
— Eu posso pensar muitas coisas que você pode
fazer por mim, Olivia, e nenhuma delas precisa que
esteja na minha cozinha. – Endireita seu corpo e
olha em torno pensativo.— Ou talvez...
— Volte para a cama! Eu não estou considerando
isso-
Abaixa a cabeça, deixa cair os ombros e suspira
profundamente.
— Como quiser-, murmura, e sai da cozinha. — Mas
eu não consigo dormir sem você, então eu vou ficar
deitado ali pensando sobre o que eu vou fazer
depois que você me alimentar.
— Como quiser-, eu digo, com um sorriso sarcástico
e aceno com a cabeça para fazer doce.
Miller luta para conter o sorriso e continua fingindo
que está ofendido e desaparece, deixando-me lá. A
primeira coisa que faço é pegar o chocolate e os
morangos da geladeira. Eu não vejo iogurte natural
sem gordura em nenhum lugar. Então eu pico os
209
pedaços de chocolate para derreter, removo as
folhas dos morangos e lavo-os.
Viro-me para a mesa e vejo que tudo está em sua
adequada posição... ou a posição correta para
Miller. Mordo o interior da minha bochecha,
enquanto vejo tudo com cuidado e acho que não
vou ser capaz de colocar no lugar depois de
desfazê-lo. Eu poderia antes tirar uma foto. Eu
balanço minha cabeça sobre um sentimento
agradável, proibido, dando um nó na parte de trás
de minha cabeça. Mas então eu tenho uma ideia
ainda melhor: Vou até as gavetas e começo a abrir
e fechar, certificando-me de não bagunçar o
conteúdo, então eu olho para baixo. Fico paralisada
no momento em que meus olhos caem no jornal
com a foto de Miller. Ele está chamando novamente.
— Merda – amaldiçoo, e forço-me a fechar a gaveta,
deixando-o onde ele deveria estar.
Eu finalmente encontro o que eu estava procurando.
Bem, não realmente.
Eu encontro algo melhor.
Eu removo a tampa e olho para o marcador
permanente, e logo chego à conclusão de que essa
é melhor do que a caneta esferográfica.
— Ok. – Inspiro fundo, eu olho para a mesa e vejo
cada uma das peças perfeitamente colocadas.
Eu inclino a cabeça, enquanto eu bato no lábio
inferior com a ponta da caneta. Os pratos. Eu
poderia começar por aí.
Coloco os dedos no centro da porcelana para
manter no lugar e continuo a desenhar um círculo
em torno do prato enquanto sorrio.
— Perfeito -, eu digo em voz alta.
Eu sento e vejo o resto da mesa. Estou muito
orgulhosa de mim mesmo, e isso se reflete na
minha cara astuta. Eu faço isso com todos e cada
210
uma das coisas na mesa. Traço seus contornos com
a caneta, linhas perfeitas que marcam a localização
exata de cada um.
— Que diabos você está fazendo?!
Volto-me ao ouvir o seu grito de angústia, armada
com minha caneta e em uma tola tentativa de
esconder a evidência, escondo-a atrás das costas,
como se houvessem mais de um milhão de pessoas
no apartamento de Miller, que poderiam ter sido
responsável por desfigurar sua mesa. O olhar de
horror em seu rosto é como uma verificação da
realidade. — Que diabos você acabou de fazer?-
Com os olhos arregalados e incrédulos seu corpo nu
muda-se para a mesa e olha atordoado.
Em seguida, pega um prato e olha para o círculo.
Em seguida, um copo. E depois um garfo.
Eu mordo o interior da minha bochecha e me
preparo para ser bombardeada freneticamente que
está prestes a explodir. Senta sua bunda na cadeira
e enterra a mão em seu cabelo.
— Olivia!- Me olha com os olhos esbugalhados,
como se tivesse visto um fantasma. — Você riscou
ao redor da mesa.
Olho a mesa, levo o polegar à boca e começo a roer
a unha em vez de minha bochecha. Isso é um
absurdo. É uma mesa. Qualquer um pensaria que
alguém morreu. Suspiro, exasperada, jogando a
caneta de lado e me aproximando da mesa. Levanto
os objetos novamente para verificar se realmente
estava tudo marcado. Eu não sei se eu confirmo ou
deixo-o continuar examinando para descobrir por si
mesmo.
— Eu fiz a nossa vida mais fácil.
Ele me olha como se houvesse me brotado chifres.
— Realmente?- Ele deixa cair um prato e eu sorrio
quando o vejo mover um pouco até que esteja
211
dentro da marcação. — Você poderia explicar?
— Bem... -Me sento ao lado dele e penso na melhor
maneira de colocar-me a compreender. Agora estou
sendo boba. Estamos falando de Miller Hart: a
minha aberração de homem obsessivo. — Agora eu
posso pôr a mesa, sem o risco de que sua doce
menina estrague todos -, eu torço meus lábios-...
seus modos particulares.
— Minha doce menina?- Me olha, incrédulo. — Você
está longe de ser doce, Olivia. Agora você é um
pouco a porra do diabo! Por que iria...? Como...?
Inferno olhe isso!– Ele balança os braços ao redor
apoia os cotovelos na mesa e esconde o rosto entre
as mãos. — Não me atrevo a olhar.
— Agora eu posso pôr a mesa como você gosta.
Evito usar o verbo "necessidade". É assim que ele
precisa. — É um mal menor.
Ele estende a mão e apoia a cabeça e tem que olhar
para mim.
— Se você não quiser ser sempre incomodando,
você tem que se acostumar com isso. – Eu aponto
para mesa sorrindo. — Você pode ter reagido mal,
mas só será por agora. – Ele finalmente aceita as
marcações. A alternativa é ter um mini ataque cada
vez que eu colocar a mesa. Obviamente, esse é o
melhor.
— Você é a única coisa má aqui, Olivia. Só você.
— Considere uma forma de arte.
Bufa com minha sugestão estende a mão para
agarrar-me.
— É uma bagunça do caralho, isso é o que é.
Meu corpo afunda na cadeira, e eu vejo como ele
olha para mim pelo canto do olho, especialmente
com raiva. Por causa de uma mesa? — É
substituível?
212
— Sim–, resmunga. — E é uma tarefa fazê-lo, você
não acha?
— Bem, eu não sou substituível, e eu não vou
passar a minha vida me preocupando se eu coloquei
um prato estúpido no lugar certo.
Ele recua com a minha aspereza, mas vamos lá! Já
fui mais do que complacente com seus hábitos
obsessores. Sim, ele facilita em alguns, mas ainda
há muito trabalho a ser feito, uma vez que Miller se
recusa a admitir abertamente que ele tem um
transtorno obsessivo compulsivo grave e
simplesmente se recusa a ir a um psicólogo. Ele
terá que se acostumar com minha maneira de
ajudá-lo. E me ajudar ao mesmo tempo.
— Não é grande coisa-, diz fingindo indiferença
completa.
— O que não é grande coisa?– pergunto rindo. -
Miller, seu mundo está enfrentando uma catástrofe
de proporções históricas!
Praticamente rosna para o meu comentário, e eu rio
ainda mais.
— Agora-, eu levanto e puxo minha mão, — você
quer café da manhã ou vai negar porque não viu se
eu preparei do jeito que você gosta?
— Não há nenhuma necessidade de insolência.
— Há sim. – Deixo o meu homem mal-humorado
sentado a mesa, pego a tigela de chocolate
derretido e ouço resmungos enquanto levanto a
louça. — Oh! - Eu digo quando eu olho para uma
tigela e não vejo nenhuma semelhança com o
creme de chocolate denso e delicioso que
desenvolvi para Miller.
Pego uma colher de madeira, e começo a mexer um
pouco solto quando a semi lama escura engole o
instrumento. Eu começo a fazer beicinho e de
repente eu me coloco em alerta, e eu sei que ele se
213
aproxima para investigar. O calor de seu peito bate
em minhas costas e apoia o queixo em meu ombro.
— Eu tenho um pedido-, diz em minha orelha,
fazendo meu ombro estalar acima e pressionar
minha cabeça contra seu rosto em uma vã tentativa
de parar o formigamento que começa a invadir o
meu corpo.
— O quê?- Eu seguro a colher e tento remover o
chocolate.
-Por favor, não me faça comer isso.
Todo o meu corpo esvazia, decepção substituindo o
frio na barriga.
— O que eu fiz de errado?
Retira a colher de minha mão e coloca na tigela
antes de me virar em seus braços. O desânimo
desaparece. Eu sou agora o alvo de sua diversão.
— Você passou muito tempo rabiscando minha
mesa e o chocolate secou -, explica
presunçosamente. — Infelizmente não lamberei o
chocolate em partes do seu corpo.
Eu não tenho nenhuma solução. Eu sei que é
bobagem, porque eu simplesmente arruinei sua
mesa no processo, mas queria fazer essa coisa
trivial, porque não é tão trivial no mundo de Miller.
— Sinto muito. – Suspirei e encosto a testa contra
seu peito.
— Você está perdoada-. Seus braços me envolvem
em seguida, cola os lábios contra a minha cabeça. -
E se pularmos o café da manhã hoje?
—Ok.
— Passamos para o dia vegetativo. E, em seguida,
almoço.
Eu encolho os ombros. Eu sabia que esse seria o
seu plano. Trancar-me e me proteger do mundo.
Mas não pode ser, porque minha avó volta para
214
casa hoje. — Eu tenho que buscar minha avó no
hospital às quatro.
— Eu vou buscá-la. – Ele oferece, mas eu sei
exatamente qual seu plano. E eu não vou ficar longe
de minha avó. E não vou trazê-la para cá.
— Nós já conversamos sobre isso. Ela precisa estar
em sua própria cama, cercada por tudo o que ela
gosta. Ela não vai gostar de viver aqui.
Eu me afasto para longe dele e para fora da
cozinha. Eu não estou pronta para deixá-lo tentar
convencer-me. Vai ser um desperdício de tempo e
acabaremos discutindo. Depois da noite passada eu
imagino que ele vai ser insuportavelmente protetor.
— O que há de errado com a minha casa?-, solicita
ofendido.
Eu dou a volta e me sinto um pouco chateada que
ele seja tão obtuso em relação a minha avó.
— Porque não é uma casa!– Eu cuspo e uma
pequena parte de mim quer saber se ele realmente
me quer por aqui andando pelo seu apartamento
com a minha falta de ordem ou se é uma atitude
desesperada para me proteger, ou seria capaz de
torturar-se para ter minha avó e eu aqui
permanentemente.
Eu vejo que o meu comentário o feriu e fecho a
boca antes de torcer a faca.
— Eu entendo-, ele diz friamente.
— Miller, eu...
— Não, não aconteceu nada.
Para do meu lado tentando não me tocar. Sinto-me
terrível e olho para o teto e as paredes altas de seu
apartamento. Eu feri seus sentimentos. Ele só está
tentando ajudar. Ele está preocupado comigo, e eu
estou me comportando como uma cadela real.
Eu levanto minha mão, belisco a ponte de seu nariz
e gemo de frustração antes de ir atrás dele.
215
— Miller! - Eu o chamo quando o vejo desaparecer
no quarto. — Miller não quis ferir seus sentimentos.
Quando eu chego, vejo que ele está esticando os
lençóis com raiva.
— Eu disse que tudo bem.
— Claro. - Suspiro e deixo cair os braços para os
lados.
Chego mais perto para ajudar, seria como um ramo
de oliveira na forma de estilo Miller, mas eu sei que
vou apenas irritá-lo ainda mais.
— Você não quer morar aqui-. Ele ajeita os
travesseiros e alisa a superfície com a mão. — Eu
aceito isso. Eu não gosto, mas aceito.
Furiosamente puxa o edredom do pé da cama e
começa a colocá-lo no lugar. Eu presto atenção no
silêncio, um pouco surpresa com seu
comportamento louco e infantil. Ele está com raiva.
Não com raiva à beira de um surto psicótico, mas
simplesmente com raiva.
— Foda-se!- Ele grita e agarra os lençóis perfeitos e
joga-os do outro lado da cama. Ele se senta na
borda e coloca as mãos nos cabelos, sua respiração
fica agitada. — Eu quero você em meus braços
todas as noites. – Levanta os olhos e olha para mim
com olhos suplicantes. —Eu preciso, para protegê-
la.
Aproximo-me dele e me segue com os olhos até que
eu esteja em sua frente. Separa as pernas e me
deixa colocar-me entre elas. Apoio às mãos em seus
ombros e ele segura em minha bunda. Olha-me de
novo e suspira. Depois de apoiar a cabeça em meu
estômago minhas mãos sobem para seu pescoço e
afunda em seu cabelo.
— Eu sei que pareço necessitado e exigente-,
sussurra. — Não é só porque eu estou preocupado.
Acostumei-me a ficar com você e dormir com você.
216
Você é a última coisa que eu vejo antes de fechar
os olhos e a primeira coisa que vejo quando eu os
abro. E isso não me impede de ter qualquer
diversão, Olivia.
Naquele momento eu entendo qual é o problema.
Nós não nos separados por semanas. New York era
um sinal constante de veneração, para receber o
que mais gosto e entregando-se um ao outro. Agora
estamos de volta à realidade. Ele sorri com tristeza,
sem saber o que dizer ou fazer para se sentir
melhor. Nada vai me deixar longe de minha avó.
— Ela precisa de mim -, murmuro.
— Eu sei. – Me olha e faz todos os esforços para
me dar um de seus sorrisos. Tentativas. Mas a
preocupação inunda suas feições e não permite
atravessar. — Quem me dera eu pudesse controlar
a minha necessidade de você.
Por um lado eu quero e não há outro controle que
precisa.
— A sua necessidade é da minha presença ou de
garantir a minha segurança? - Eu pergunto, porque
essa é a questão. Eu sei o que está do outro lado da
porta de Miller.
— As duas.
Aceno e admito a resposta, tento respirar para
encher os pulmões.
— Você sempre me prometeu que nunca me
obrigaria a fazer algo que eu não quero fazer.
Fecha os olhos com força e morde os lábios.
— Estou começando a me arrepender de ter feito
isso.
Meus lábios se esticam em um sorriso. Eu sei que
ele disse realmente.
— Essa não é discutível. A única solução é você vir
para casa com a gente.
217
Abre seus olhos arregalados e eu controlo o meu
sorriso, sabendo qual é o problema com essa
solução.
— Como vou adorá-la na casa de sua avó?
— Você fez bem, no outro dia.
Ele ergue as sobrancelhas e esferas azuis sedutores
de desejo recordam o nosso encontro na escada.
Ele franze a testa ligeiramente, aplica pressão em
minhas costas e me puxa para ele.
— Mas ela não estava no palácio.
— Você fala como se fosse realeza!
— Bem, não é?
Bufo com um aceno e curvo até que nossos rostos
estão na mesma altura.
— Tenha a honra de se juntar a mim, Sr. Hart. Vou
para casa com minha avó. Conceda-me a honra de
me acompanhar?
Eu morro disso quando eu vislumbro um leve brilho
em seus olhos e os lábios estão lutando para conter
um sorriso, mas falham miseravelmente.
— Eu vou-, fala com um murmúrio mal-humorado
em sua luta para libertar-se da atitude lúdica. — Vai
ser um inferno, mas eu vou fazer de tudo por você,
Olivia Taylor. Inclusive prometer não tocar em você.
— Isso não será necessário!
— Discordo-, responde tranquilamente quando ele
se levanta e me levanta até a sua cintura. Eu enlaço
meus tornozelos em volta dela.
— Eu não vou desrespeitar sua avó.
— Ela ameaçou amputar sua masculinidade, você se
lembra? - Devo lembrá-lo, na esperança de livrar
sua consciência de um disparate.
Sua testa enruga de uma forma maravilhosa. Está
se lembrando.
— Certo, mas agora ela está doente.
218
— O que significa que vai custar mais para pegar
você.
Perdeu a batalha para conter sua alegria e me cegar
com seu sorriso maravilhoso.
— Eu amo ouvir você gritar meu nome quando você
atinge um orgasmo. Isso não será possível. Eu não
quero que sua avó ache que não respeito a sua
casa.
— Então eu vou sussurrar em seu ouvido.
— Lá vem minha menina com sua insolência a
caminho?
Encolho os ombros como se não fosse nada. — E o
homem que eu amo fingindo ser um novo
cavalheiro?
Respira de repente, como se tivesse nocauteado.
— Estou ofendido.
Eu me curvo e mordo a ponta do seu nariz. Então
ele enfia a língua lentamente em minha orelha. Eu
posso sentir o seu ritmo cardíaco acelerando sob
meu peito.
— Então me dê uma lição-, eu sussurro em voz
baixa, sedutoramente em seu ouvido antes de
morder o lóbulo de sua orelha.
— Me sinto obrigado a fazer. – Com uma série de
movimentos rápidos e especialistas, me agarra e
me joga na cama.
— Miller! – Eu grito através do ar enquanto balanço
os braços.
Ele desembarca no centro de sua enorme cama,
rindo e tentando me atingir. Ele fica ao pé da cama,
ainda calmo, olhando como se eu fosse sua próxima
refeição. Minha respiração acelera. Tento sentar-me
sob a sua supervisão. Seus olhos estão cheios de
desejo.
— Venha pra mim, minha menina-, diz com uma
voz rouca que acelera meu coração ainda mais.
219
— Não. – Eu me encontro recusando. Eu quero ir
com ele. Desesperadamente. Eu não sei por que eu
disse que não, a julgar pela sua expressão de
perplexidade Miller também fica atordoado.
— Venha. Para. Mim. – Pontua cada palavra e
corando com seu tom sério.
— Não!- Eu sussurro teimosamente, e passo para
trás um pouco, me distanciando dele.
Esse é um jogo. A caçada. Eu gostaria muito, mas
saber o quanto ele me quer aumenta os riscos e
aumenta nosso desejo para um ponto quase
insuportável... o que torna essa perseguição muito
mais gratificante.
Miller inclina a cabeça e seus olhos brilham.
— Quer jogar duro não é?
Encolho os ombros e olho por cima do ombro para
planejar minha fuga.
— Não sinto que eu queira te adorar agora Miller.
— Isso é um absurdo, Olivia Taylor. Você sabe tão
bem quanto eu. – Ele avança para mim e leva o
olho direito entre as minhas pernas. — Eu posso
cheirar como você está pronta pra mim.
Eu me derreto por dentro, mas fecho minhas coxas
no local e mudo de posição em uma vã tentativa de
conter o desejo que me invade.
— E eu vejo o que você está disposto a me dar.
Foco a atenção em seu pênis, batendo visivelmente
diante dos meus olhos.
Sobe a mão para a mesa de cabeceira e lentamente
puxa para fora um preservativo, ele leva-o
lentamente sobre os lábios e lentamente abre com
os dentes. Então eu olho como ele estende sua
ereção. Com esse olhar é suficiente para
enfraquecer-me. Meu sangue se transforma em
larvas derretidas e minha mente em mingau.
— Vem pra mim.
220
Eu balanço minha cabeça e me pergunto por que
diabos eu continuo resistindo. Estou prestes a
explodir. Mantenho-me olhando para ele, à espera
de sua próxima jogada, e eu vejo como seu pênis
aumenta um pouco mais. Chego para trás.
Ele balança a cabeça ligeiramente. Seu topete
rebelde caindo na testa e uma pequena curva em
sua boca capturam a minha necessidade. Eu tremo
visivelmente todo o corpo. Eu não posso controlar
isso. E eu não quero. A antecipação está me
deixando louca com desejo e tudo culpa minha. Ele
se aproxima com determinação ameaçadora e nota
com alegria como eu recuo abafando um grito de
expressão.
— Jogar é tudo que você gosta, Olivia. Mas dez
segundos e eu vou estar em você.
— Isso nós vamos ver -, eu digo com arrogância,
mas antes que ele possa antecipar seu próximo
movimento, dispara para fora em minha direção em
alta velocidade. — Merda!- Eu grito.
Eu corro e rastejo até a borda da cama com pressa,
mas ele agarra meu tornozelo e me puxa me
virando de costa. Estou ofegante em seu rosto
quando ele alcança com o corpo e expira no meu
rosto em forma constante, controlada.
— É o melhor que você pode fazer? - Ele pergunta,
inspecionando meu rosto até que seus olhos
pousam em meus lábios.
Ele se move e eu sinto a suavidade de sua pele
contra a minha, entrando em ação me pegando
desprevenida. Ele está a um nano segundo em
minhas costas e eu viro e monto sobre ele,
segurando seus pulsos acima de sua cabeça.
— Nunca baixe a guarda-, eu digo em seu rosto
antes de mordidela tão tentadora em seu lábio
inferior.
221
Rosna e levanta os quadris para cima para mim
enquanto tenta pegar meus lábios. Eu nego fazendo
rosnar em frustração.
— Touche -, ele brinca e volta a me colocar em
baixo dele novamente.
Eu faço uma vaga tentativa, em vão, de segurar
seus ombros, mas as minhas mãos são
interceptadas, me prendendo contra a cama. Um
bom sorriso de menino em seu rosto é marcado
divinamente e alimenta minha insolência e meu
desejo.
— Desista, menina.
Eu grito de frustração e me esforço melhor para me
libertar. Eu começo a virar e salto, mas a sensação
de queda livre ofusca minha determinação.
— Merda! -Eu grito enquanto Miller é rápido para
girar a sua volta e me segurar antes que eu caia no
chão.
Não pareço ter me ferido, e apenas em
desvantagem por um segundo, antes de me ter
novamente presa embaixo dele. Choro permitindo
que a frustração me consumisse. Também ignoro a
suspeita de que estou cedendo por vontade própria,
deixando-me com a sensação que vou conseguir
alguma coisa antes dele recuperar o poder.
Olho arrebatada em seu rosto corado, e seus olhos
emanando paixão, segurando minhas mãos acima
de minha cabeça.
— Nunca me deixe -, sussurra frustrado, então ele
inclina a cabeça e pega a ponta do meu mamilo
entre os dentes.
Eu grito e ignoro o conselho dele. Estou
extremamente frustrada!
— Miller!– Eu grito, e contorço-me impotente
debaixo dele, sacudindo a cabeça de um lado para o
outro enquanto eu me esforço para controlar o
222
prazer que vem em cima de mim por todos os
ângulos. — Miller, por favor!
Sua mordida se arrasta por toda a minha
protuberância sensível. Deixando-me louca.
— Você não quer jogar, Olivia?- Me beija e coloca o
joelho entre minhas coxas forçando a separá-los. —
Você está lamentando isso?
—Sim!
— Bem, agora você tem que implorar para parar.
— Por favor!
— Doce menina, por que você tenta negar minhas
atenções?
Minha mandíbula aperta.
— Não sei.
— Eu também não. – Empurra os quadris para
frente provocando um prazer insuportável. — Porra!
A invasão poderosa me pega de surpresa, mas o
fato de que não é inesperada, a satisfação absoluta
torna mais gratificante. Meus músculos internos se
agarram a ele com toda sua força e tento liberar
meus pulsos de suas mãos de ferro.
— Deixe-me te abraçar.
—Shhh - Eu fico muda e tento levantar o corpo e
descansar nos braços, mantendo-me presa embaixo
de seu corpo. — Nós vamos fazer do meu jeito,
Olivia.
Eu reclamo em meu desespero, eu jogo a cabeça
para trás e arqueio as costas violentamente.
— Te odeio!
— Não, não odeia. – Responde certamente
planejando voltar em minha abertura; tentando me
provocar. — Você me ama. – Ele empurra um
pouco para frente. — Você ama o que eu posso
fazer pra você. – Empurra um pouco mais. — E eu
amo o que você sente quando eu faço.
223
Pum!
— Porra!– Eu grito desesperada e impotente sob
suas garras, sob seu ataque enérgico. Embora não
possa detê-lo nem em um milhão de anos. Anseio
por seu poder. — Mais! -, gemo, desfrutando a
deliciosa dor que está me causando.
— É rude não olhar para as pessoas quando fala-,
ele suspira enquanto tira lentamente.
— Quando combina com você!
— Olhe para mim!
Levanto a cabeça, e abro os olhos e grito de raiva.
— Duro e rápido? Ou suave e lento?
Estou muito desesperada para fazê-lo suave e lento.
Eu sou maneira suave e lenta, e acho que nem a
demanda do Miller para saborear isso ajudará.
— Duro!- Engasgo e levanto meus quadris o mais
que posso. — Mais forte -, eu digo sem vergonha
ou medo ou desconfiança. Eu tenho toda a sua
devoção, seu amor e atenção, se ele me fode ou me
adora.
— Porra, Livy. - Ele retira inteiramente e me deixa
um pouco confusa e pronta para o objetivo, mas,
em seguida, eu sou girada em minhas mãos e
joelhos, ele agarra minha cintura por um momento.
Eu engulo e aprecio a profundidade que Miller pode
alcançar nessa posição. Porra é mais forte do que
posso esperar. — Diga-me que você está pronta.
Eu aceno empurrando minha bunda para ele,
ansiosa por essa profundidade. Não perco tempo e
não me preocupo em ir devagar. Penetra-me a
parte inferior e lança um rugido ensurdecedor que
me intoxica, provocando arrepios de euforia e
prazer. Choro, apoio os punhos sobre o tapete, e
jogo a cabeça de volta desesperadamente. Miller
ataca sem piedade, com cada impulso, cravando os
dedos na pele macia dos meus quadris. Eu sinto a
224
aspereza do carpete em meus joelhos. Ele está se
comportando invulgarmente violento comigo,
embora eu sinta uma ligeira dor e a força
implacável de seu corpo batendo no meu, não me
desencoraja, mas ele faz mais do que mendigar.
— Mais forte -, murmuro fracamente, deixando
Miller assumir o controle total enquanto as forças
para suas batidas duras começam a falhar eu posso
me concentrar no prazer que me consome e invade
todos os cantos do meu corpo.
— Foda-se, Olivia!- Flexiona os dedos e novamente
finca na minha carne. — Estou te machucando?
— Não! – Exclamo, temendo que possa parar. —
Mais forte!
— Foda-se! Você é uma porra de um sonho! -
Espalha seus joelhos e acelera o ritmo. Nossos
corpos colidem fazendo barulho. — Eu estou vindo,
vou gozar Olivia!
Eu fecho meus olhos. O ar deixa meus pulmões e
minha mente também fica vazia. Deixo-me em um
mundo escuro e silencioso onde meu único
propósito é aproveitar as atenções de Miller. Não há
nada para me distrair a partir dele, nada que irá
arruinar nosso precioso tempo juntos. Estamos
sozinhos juntos, meu corpo e seu corpo fazendo
coisas maravilhosas.
O prazer aumenta. Cada colisão de seu corpo com o
meu está me empurrando em direção total ao
arrebatamento. Eu quero falar, dizer o que está me
fazendo sentir, mas eu fico em silêncio, incapaz de
pronunciar uma palavra. Eu só posso expressar
gemidos de imenso prazer. Eu posso sentir seu
clímax se aproximando. Ele se expande dentro
mim e um rugido alto me traz de volta para o
quarto. Meu orgasmo me pega de surpresa e eu
grito quando me atravessa como um tornado. Todos
225
os meus músculos se apertam, exceto meu pescoço,
deixando minha cabeça cair sem vida em meus
braços. Miller ataca com força acelerando
novamente para chegar ao limite e em seguida,
puxa meu corpo rígido contra ele.
— Arhhhhhhhhhhhhhh! -brame, e ele me atinge
com uma força que só é capaz de entender quando
você está recebendo. E eu estou fazendo.
A intensa dor através de mim, misturada com as
efervescentes bolhas de prazer entre as minhas
pernas leva tudo de mim.
— Foda – ele respira, mantendo nossos corpos.
Estou prestes a entrar em colapso. Miller é o único
que me segura, e quando tira os dedos de meus
quadris, eu perco esse apoio e deixo-me ir de
bruços ao chão, ofegante e arfando.
A frieza do tapete é bem-vinda no meu rosto
enquanto eu assisto Miller se deitar ao meu lado e
colocar os braços sobre a cabeça. Seu tórax se
expande com violência agitado. Ele está
encharcado, e a carne firme de seu torso brilha com
o suor. Se eu tivesse energia suficiente, esticaria a
mão para acariciá-lo, mas eu não posso. Estou
totalmente inutilizável. Mas não o suficiente para
fechar os olhos e privar a magnífica visão de Miller
após o orgasmo.
Ambos permanecemos espalhados no tapete por
uma eternidade. Meus ouvidos são invadidos por
inspiração longa e constante. Finalmente, eu reúno
forças de algum lugar, arrasto os braços do tapete e
acaricio seu lado com as pontas dos meus dedos.
Ele desliza facilmente através da umidade de sua
pele quente. Deixa cair sua cabeça para um lado até
que seus olhos encontrem os meus e a exaustão
desaparece, permitindo-nos recuperar a fala. Mas
ele me trás para frente.
226
— Eu amo você, Olivia Taylor.
Eu sorrio e coloco todo o meu esforço para chegar
em cima dele, me acalmar e enterrar meu rosto no
conforto do seu pescoço.
— E eu estou profundamente fascinada por você,
Miller Hart.
227
CAPÍTULO 14
— Vamos ver, então.
Ele está esperando na calçada em frente ao salão de
beleza, e eu sei que está super nervoso. Ele
continua andando para lá e pra cá e parece muito
preocupado com meu novo corte de cabelo.
Permitiu-me vir com instruções restritas para aparar
na quantidade mínima, embora ele tenha se
encarregado de dar instruções para o cabeleireiro, e
só me deixou quando o forcei ver o quão nervosa
ele estava fazendo sentir-me com o seu monte de
ordens.
Miller observando certamente terminaria com uma
destruição pior do que eu já tinha.
Meus cachos, em pouco tempo, selvagem, agora
estão macios e brilhantes que caem longo abaixo
dos meus ombros. Inferno, eu mesmo estou
nervosa. Levo a mão à cabeça, eu corro meus dedos
através deles e sinto um toque sedoso comigo
enquanto Miller cuidadosamente observa. Eu
espero. E eu espero. Até que a exasperação e
impaciência que me ultrapassam.
— Diga alguma coisa!- ordeno, odiando o silêncio ao
qual ele está me sujeitando. Não é incomum ele me
observar tão de perto, mas a intensidade não é
bem-vinda nesse momento. — Não gostou?
Ele desliza suas mãos para o bolso da calça. Pensa,
depois fecha a distância entre nós e enterra o rosto
no meu pescoço como ele costuma fazer. Eu fico
tensa. Não posso evitar. Mas não é por causa de
sua proximidade. É por seu silêncio.
Respira fundo e diz:
228
— Não há necessidade de dizer que eu estava um
pouco preocupado com a perspectiva de perder
ainda mais.
Eu solto uma cínica explosão de seu eufemismo.
— Um pouco?
Ele se vira e murmura pensativo.
— Eu sinto algum sarcasmo.
— Os seus sentidos funcionam perfeitamente.
Me sorri maliciosamente, se aproxima do meu
pescoço com o braço e me trás pra perto dele.
— Eu adorei.
— Realmente? -Estou perplexa. — Está mentindo?
— Sim, realmente.– Fala contra minha cabeça e
novamente inspira profundamente. — E eu gosto
ainda mais quando você está animada e molhada.
Passa seus dedos pelos cabelos, firmemente
apertando e puxando-os. — Perfeito.
Eu sinto um tremendo alívio. Absolutamente
enorme.
— Eu estou feliz que você gostou, mas se não fosse
assim, eu teria uma conversa com você. Ela seguiu
suas instruções ponto a ponto.
— Eu não esperava menos.
— Você a deixou nervosa.
— Eu estava lhe confiando o meu bem mais
precioso.
Ela tinha que estar nervosa.
— Meu cabelo é minha posse.
— Você é minha-, responde com confiança.
Eu reviro os olhos para sua impertinência, mas evito
desafio.
— Aonde vamos?- Eu pergunto, tomando-lhe o
pulso para verificar o relógio. É muito cedo para
pegar minha avó.
— Agora vamos visitar alguém-. Segura meu
pescoço e vamos para o seu Mercedes.
229
A preocupação me invade. Não gosto do som disso.
— A quem?
Miller parece que está se desculpando com os olhos.
— Vou te dar três chances.
O mundo está vindo sobre mim. Não há necessidade
de três.
— William!-, suspiro.
— Correto. – Ele não me dá a oportunidade de me
opor. Guia-me até seu carro e fecha a porta com
firmeza antes de passar em frente e tomar o seu
lugar.
— Eu amei seu cabelo -, diz em voz baixa, enquanto
se acomoda, como se estivesse tentando
apaziguar... relaxar.
Mantenho-me olhando para frente, enquanto avalio
as vantagens de fugir. Eu não quero ver William. Eu
não quero enfrentar a desaprovação, sua petulante
arrogância. Miller não sabe, e nunca me forçou a
fazer algo que eu não queira fazer, mas eu temo
que dessa vez vá quebrar sua promessa. Mas eu
não perco nada tentando.
— Não quero ir. – Falo para ele e vejo sua
expressão pensativa.
— Sorte!-, sussurra e liga o carro, não me deixando
outra escolha senão engolir a raiva.
Miller agora depende de William para informações.
Eu sei que Miller não gosta, e William muito menos.
Definitivamente não me agrada. Infelizmente,
nenhum de nós parece ter escolha. Eu fecho meus
olhos e abro-os novamente quando chegamos. Nós
não dissemos nada, deixo que o silêncio inunde o
espaço fechado em torno de nós. É desconfortável.
É doloroso. E isso faz com que a viagem seja
eterna.
Quando finalmente chegamos ao nosso destino, eu
detecto a tensão de Miller. A atmosfera parece
230
congelar e cada músculo do meu corpo fica tenso.
Ainda nem sequer se viram um ao outro, mas
inimizade é percebida, e faz o meu cabelo em pé e
o meu pulso acelerar. Eu sinto como se
voluntariamente entrasse na cova dos leões.
— Abra os olhos, Olivia.
O tom descontraído de Miller acaricia minha pele e
pálpebras, embora eu não tenha nenhum desejo de
ver o que está do lado de fora do carro. Mas eu
mantenho meus olhos em volta e vejo meu anel da
eternidade virando em meu dedo freneticamente
através dos meus próprios nervos inconscientes.
— E olhe para mim. - ordena.
Antes que eu possa obedecer, ele agarra o meu
pescoço e eu viro a cabeça para olhar para ele. Fixo
os olhos em Miller, sabendo o que eu vou ver se eu
me aventurar a olhar para além dele.
A Sociedade.
William Club.
— Melhor!-, diz, e estende a outra mão para
segurar o meu novo cabelo. — Você sabe que
William Anderson não é a minha devoção -, ele
declara. — Mas ele se preocupa muito com você,
Olivia.
Eu engasgo e abro minha boca para argumentar,
para dizer-lhe que todas nas ações de William estão
cravadas por sua culpa. Ele não pode salvar a
minha mãe, e está tentando purificar sua alma me
salvando. Mas ele coloca a palma das mãos sobre
meus lábios me silenciando antes que abrisse a
boca.
— Se eu posso aceitar sua ajuda, você também.
Minha cara torce em derrota, por trás de sua mão e
reviro os olhos ligeiramente. A ligeira curva de seus
lábios me diz exatamente quais serão as próximas
231
palavras que saíram de sua boca perfeita. E eu não
estou enganada.
— Insolente! - Diz, tirando rapidamente sua mão e
substituindo com a boca.
O toque dos lábios obtém o efeito desejado.
Desfaço-me do cinto enquanto devolvo o beijo e
passo para o assento ao lado para sentar em seu
colo.
— Hmmm-, murmura, e isso me ajuda a ficar
confortável enquanto nossas línguas dançam em
perfeita sincronia. Está infundindo a força que eu
preciso para enfrentar William, para entrar a
Sociedade. — Vamos lá. Vamos acabar com isso.
Minha objeção e gemido fazem todo o possível para
tornar difícil a tarefa de separar minha boca de
Miller e abrir a porta. Ele inclina a cabeça para me
colocar para fora, e eu gemo de forma audível.
Levanta-me de seu colo e eu estou em pé na
calçada mais cedo do que eu pretendia. Tento evitar
olhar para cima. Passo a mão no vestido, coloco o
cabelo atrás de meus ombros, e puxo um pouco na
minha testa, e aceito a minha bolsa quando ele
passa ao meu lado. Meus pulmões absorvem
lentamente o ar e, finalmente, reúno forças para
enfrentar o edifício que tem no lado oposto.
Anos de angústia parecem crescer em meu corpo,
me prendendo ao chão debaixo dos meus pés me
sufocando. O ar se torna espesso e difícil para
respirar. Arde meus olhos com o lembrete visível do
meu passado sórdido. O edifício é apenas como eu
me lembrava, com enormes blocos de pedra
calcária, entre um gigantesco vitral original,
desgastados degraus de cimento que conduzem às
portas gigantescas que vai me levar para o mundo
de William. Uma porta de metal preto brilhante
guarda a fachada, com picos de ouro na ponta de
232
cada haste, dando uma aparência de luxo e
opulência, mas com um ar de perigo. Umas placas
de ouro fixadas em um dos pilares ladeiam a
entrada e diz em grandes letras em negrito: A
Sociedade. Eu continuo olhando para as portas e
me sinto mais vulnerável do que nunca. Esse é o
centro do mundo de William. Esse é o lugar onde
tudo começou quando uma jovem mulher tropeçou
e mergulhou em direção ao desconhecido.
—Olivia?
Eu saio do meu devaneio, olho para Miller e vejo
que está me olhando. Tentando esconder sua
apreensão... sem sucesso. Emana de seus olhos,
embora eu não saiba se é por causa do lugar para o
qual nós vamos ou o meu desânimo crescente.
— A última vez que eu vim aqui, William mandou-
me embora para sempre.
Miller franze os lábios e sua expressão torna-se tão
perturbada quanto a minha.
— Eu não queria ver esse lugar novamente em
minha vida, Miller.
Sua angústia é duplicada e ele avança para me dar
o que ele gosta. É o lugar perfeito para me abrigar.
— Eu preciso de você ao meu lado, Livy. Eu me
sinto, assim constantemente, à beira de um buraco
negro que vai me engolir e voltarei à escuridão
absoluta com um único passo em falso.
Suas mãos se levantam em minhas costas até que
elas atinjam os lados da minha cabeça. Extraindo-
me de meu esconderijo e buscando o meu olhar. Eu
odeio sentir derrotismo em seus olhos. — Não
desista de nós, eu lhe peço.
Uma luz brilha em resposta ao apelo de Miller, e
recupero, mentalmente, a minha compostura infeliz.
Miller Hart não é um homem fraco. Eu não vou
confundir sua confissão com fraqueza. Ele não é
233
fraco em tudo. Eu sou apenas uma pequena fenda
na armadura desse homem tão desconcertante. Mas
também sou uma fortaleza, porque sem mim, Miller
nunca conseguiria deixar a vida de degradação. Eu
dei a razão e a força para fazê-lo. Eu devo colocar
mais difíceis do que já são as coisas para ele. Minha
história é apenas isso, uma história. É um passado.
É a história de Miller que nos impede de seguir em
frente. Temos de corrigir isso.
— Vamos!- eu digo decisiva, desafiando a
apreensão ainda sentida nas profundezas do meu
ser.
Caminho com firmeza e determinação. Dessa vez eu
é que guio Miller, como de costume, até que a porta
dupla aparece me impedindo de continuar. Fico
atordoada quando Miller digita o código para a
memória do teclado. Como isso é possível?
— Você sabe o código?
Ele mexe desconfortável.
— Sim-, responde categoricamente.
— Como?- Gaguejo.
Eu vou aceitar quaisquer sinais que me diga que a
questão será resolvida. Não está. William e Miller se
detestam. Não há nenhuma razão para saber o
código de acesso ao estabelecimento de William.
Ele para em suas tentativas de me distrair e começa
a mexer com as mangas de seu terno, alisar cada
um para baixo.
— Eu passei por aqui um par de vezes.
— O que você fez? –Eu começo a rir. — Para que?
Para fumar um charuto e rir com William enquanto
você bebia uma dose de uísque envelhecido?
— Não há nenhuma necessidade de ser insolente,
Olivia.
Eu balanço minha cabeça. Eu não preciso corrigi-lo
ou perguntar o que eles falaram durante essas
234
visitas. Claro, foram palavras bastante curiosas.
Mas a minha maldita curiosidade não me deixa calar
a boca.
— Para que?– Executa um piscar preguiçoso,
mostrando um pouco de impaciência. Sua
mandíbula também está tensa.
— Podemos não gostar um do outro, mas quando se
trata de você, eu entendo Anderson. – Esfrega a
cabeça com expectativa. — E agora vamos.
Eu sinto as rugas de raiva no meu lábio inferior,
mas sigo a sua ordem, contraindo-me dos pés à
cabeça.
O grande salão da Sociedade exala elegância. Não
há dúvida de que os pisos de madeira polida e
decoração são originais, mas agora é cor creme e
ouro em vez de profunda opulência vermelho e
dourado transmitido. Ele está nadando em riqueza.
É muito luxuoso. É excelente. Mas agora, a
encantadora decoração se parece mais com uma
fantasia, algo que engana as pessoas de ver o que
realmente representa esse edifício e o que acontece
aqui. E quem frequenta esse estabelecimento
elegante.
Para manter meus olhos familiarizados com o
espaço em torno de mim, eu continuo em frente,
muito a meu pesar saber onde se encontra o
escritório de William; mas Miller agarra meu braço e
eu lanço um olhar para ele.
— No bar-, diz suavemente.
Me sinto erriçada, injustificada e desnecessária, mas
eu não posso ajudá-lo. Eu odeio esse lugar,
provavelmente mais do que Miller.
— Qual?- Eu digo, mais duramente do que
pretendia.
— O Lounge Bar, o bar de música ou o de misturar-
se.
235
Ele solta meu braço, coloca as mãos nos bolsos da
calça e me olha com cuidado. É claro que ele está
se perguntando se a minha insolência vai diminuir
algum dia. Eu não posso confirmá-la. Quanto mais
eu entro na Sociedade, mais eu sinto minha
insolência difícil de controlar. De repente eu perco
todas as palavras que Miller me disse. Eu não me
lembro. Preciso lembrar.
— O Lounge Bar-, ele responde com calma e
sinaliza para a esquerda com uma varredura de seu
braço. — Depois. – Miller está levando a atrevida
que eu estou jogando em seu caminho sem
retaliação. Ele não está mordendo. Ele está calmo,
fresco e consciente da irritação que queima dentro
de sua doce menina. Sobre o mais longo gole de ar
já provável que levar, eu arranco algum motivo de
Deus sabe onde e sigo o braço de gestos do Miller.
Está ocupado, mas tranquilo. O Lounge Bar, assim
como eu me lembro, é quase tranquilo. O espaço é
preenchido com poltronas de veludo, corpos
reclináveis em muitas delas, todos com copos de
vidros nas mãos contendo um líquido escuro. A
iluminação é fraca, a conversa tranquila. É
civilizado. Respeitoso. Ele desafia tudo o submundo
que William representa. Meus pés nervosos cruzam
o limiar da porta dupla. Eu posso sentir Miller atrás
de mim.
A reação do meu corpo à sua proximidade está
sempre presente. Eu estou fervendo por dentro,
mas eu normalmente não posso desfrutar das
deliciosas sensações internas causadas pelo espaço
requintado que tortura minha mente angustiada.
Algumas cabeças giram quando vamos para o bar.
Miller é reconhecido. Eu posso dizer pelas
expressões de surpresa que substituem a
curiosidade inicial. Ou me reconhecem? Eu começo
236
a dominar rapidamente meus pensamentos
perturbando minhas divagações, continuo
caminhando até o bar. Eu não posso pensar nisso.
Eu não deveria fazer. Eu vou terminar correndo
para a saída a qualquer momento se eu não
conseguir parar meus pensamentos. Miller precisa
de mim ao seu lado.
— O que deseja?
Dirijo cuidadosamente minha atenção para o
garçom e ele impecavelmente bati meu pedido
instantaneamente.
— Vinho. Seja qual for.
Sento-me em um dos bancos de couro e reúno toda
sabedoria do meu ser para tentar me acalmar. O
álcool. O álcool vai ajudar. O garçom acena com a
cabeça e começa a preparar o meu pedido olhando
para Miller esperando ele dizer o que quer.
— Uísque–. Miller resmunga. — O melhor que você
tiver. E faça dose dupla.
— Chivas Regal Royal Salute, cinquenta anos. É o
melhor, senhor.
Ele aponta para uma garrafa em uma caixa de vidro
atrás do bar e Miller rosna de aceitação, mas não se
senta no banco ao meu lado, decide ficar em pé,
inspecionando o bar e acenando para alguns rostos
curiosos. "O melhor que temos." Ninguém paga
bebidas na sociedade. As taxas caríssimas cobrem
as despesas. E Miller sabe disso. Ele está fazendo
isso de propósito. Ele se lembra de como William
bagunçou seu bar impecável, quando se serviu de
uma bebida. É uma espécie de vingança infantil.
Seria isso suficiente?
Um copo de vinho é colocado em minha frente e eu
imediatamente bebo um gole e fico saboreando uma
boa bebida por muito tempo, paro apenas quando
uma figura enorme aparece do nada atrás do bar.
237
Olho à minha direita com meu copo suspenso no ar
diante de mim e admiro a presença ameaçadora do
gigante. Ele tem os olhos azuis claros como
espelho, e, atravessa a atmosfera descontraída
como um facão. O cabelo dele, na altura dos
ombros, é puxado para trás em um rabo de cavalo
apertado. Todo mundo percebe a sua presença,
incluindo Miller, cuja ondulação parece completa.
Lembro-me dele, eu nunca poderia esquecer, mas
não consigo lembrar seu nome, o que eu tenho na
ponta da língua. É o braço direito de William. Ele
está muito bem vestido, mas seu terno não
consegue diminuir as más vibrações que emanam
de todos os poros.
Me sento no banco, eu bebo mais um gole de vinho
e tento ignorar sua presença. É impossível. Eu sinto
seus olhos espelhados fixo na minha pele.
— Olivia! - ruge.
Eu respiro fundo para me acalmar, e cercada por
Miller. Ele está prestes a perder a cabeça. Agora ele
está preso à minha volta e quase sinto como treme
de fúria.
Eu não posso falar. Eu só posso engolir, enviando
mais vinho em minha garganta rápido.
— Carl!-, murmura Miller baixinho, lembrando o
nome dele. Carl Keating. Um dos homens mais
assustadores que eu já conheci na minha vida. Ele
não mudou nem um pouco. Não envelheceu... Ele
não perdeu sua aura assustadora.
— Nós, não estávamos esperando por você-, diz
Carl, que pega das mãos do garçom um copo vazio
e acena com a cabeça para fazê-lo desaparecer sem
verbalizar a ordem.
— É uma visita surpresa-, responde Miller com
arrogância.
Carl coloca o copo no balcão de mármore, se vira e
238
pega uma garrafa preta com uma etiqueta de letras
douradas.
— O melhor que nós temos.- Ele levanta suas
sobrancelhas negras, ele levanta a garrafa e tira a
tampa dourada.
Eu me mexo desconfortavelmente no meu
banquinho e atrevo-me a olhar por cima do ombro
de Miller, temendo o que eu poderia encontrar. Sua
expressão firme e seus olhos azuis cheios de raiva,
direcionado para Carl, não ajudam a reduzir minha
ansiedade.
— Só o melhor. – Miller diz em uma voz clara, sem
deixar vacilar sua concentração.
Piscando lentamente enquanto tomo ar e agitando
as mãos, levo o meu copo aos meus lábios
novamente. Eu vi algumas situações dolorosas
ultimamente, e essa é uma das piores.
— Nada mais que o melhor para o Special One,
certo?- Carl sorri maliciosamente para si mesmo e
derrama alguns dedos de licor.
Eu me engasgo com o vinho e deixo o copo para
baixo antes de largá-lo. Ele está jogando um jogo
muito perigoso, e ele sabe disso. O peito de Miller
arfando e dilatando e levantando contra minhas
costas. Pode explodir a qualquer momento.
Carl oferece-lhe o copo e o segura no ar, em vez de
deixá-lo no balcão para Miller pegar. Então, se volta
ligeiramente... Para provocar. Eu encolho os ombros
e pulo quando a mão de Miller voa pega a bebida e
começa a beber, de modo que dá um sorrisinho
besta maliciosamente. Ele está desfrutando de
grande estímulo da paciência de Miller e começa a
irritá-lo. Miller drena o álcool em um liso gole antes
de bater o copo no balcão e, lamber os lábios
lentamente. Eu vejo murchar ligeiramente os cantos
de sua boca, como se fosse uma fera prestes a
239
atacar. Seus olhos permanecem fixos em Carl. O
que se respira de inimizade entre esses dois
homens está me deixando tonta.
— Sr. Anderson espera por você em seu escritório.
Ele vai se reunir com você em breve.
Miller agarra meu pescoço antes de Carl terminar de
falar, e eu deixo o bar sem ser capaz de terminar o
meu vinho tanto que eu preciso. A fúria emanada de
Miller é muito intensa. Estou muito nervosa, por
estar aqui. Todas essas más vibrações não ajudam.
Passos pesados dos caros sapatos de Miller martela
o assoalho polido, e ecoam nas paredes pairando
sobre mim quando o corredor nos engole. E então
eu vejo a porta. A porta que me fez cambalear a
última vez que a vi. A maçaneta artificial parece
expandir-se diante dos meus olhos, seduzindo, me
mostrando o caminho, e as luzes das paredes
parecem maçante à medida que avançamos. O
barulho suave do clube ostentoso torna-se um
zumbido atrás de mim, e algumas lembranças
dolorosas sequestradas, implacável em minha
memória.
Com os olhos fixos na maçaneta da porta, vejo a
mão de Miller se aproximar em câmera lenta,
empurra para baixo e abre. Conduz-me ao interior
com bastante firmeza. Eu nunca pensei que iria ver
essa sala novamente, mas antes de me dar tempo
para absorvê-lo, eu ouço a porta se fechar, eu paro
e levo com convicção. Me pega desprevenida.
Engulo em seco e cambaleio para trás, atordoada. O
beijo de Miller é ansioso e imperioso, mas eu aceito
e sou grata por ter me impedido de assimilar onde
estou.
Nossas bocas colidem repetidamente enquanto nós
consumimos um ao outro. Então devora meu
pescoço, minha bochecha, meu ombro, minha boca
240
novamente.
— Eu amo você-, rosna e começa a se mover em
direção a mim, incentivando-me a andar para trás
até que eu sinta a madeira dura por trás das minhas
pernas. — Eu quero foder você aqui mesmo e fazê-
la gritar de prazer e vir em torno de meu pau.
Me levanta e me coloca na mesa atrás de nós.
Levanta meu vestido até a cintura e continua
atacando minha boca. Eu sei o que ele está fazendo.
E eu não me importo.
Esse é o reabastecimento de força que eu preciso.
Faz-me engasgar quando a mão desce em meu
cabelo e puxa.
Miller rosna em minha boca enquanto desabotoa o
cinto e as calças antes de voltar a colocar as mãos
em mim e afastar minha calcinha. Interrompemos
nossos beijos e olho para sua virilha. Seu pênis
implora minha ansiosa agitação e calor.
— Venha aqui-, ordena com voz rouca, e desliza a
mão na minha bunda e puxa-me para frente em
direção ao seu corpo e ao mesmo tempo olha para
baixo e acaricia gentilmente sua ereção. — Venha
pra mim, minha menina.
Me mexo um pouco e apoio as mãos atrás de mim
com a certeza de não desviar por um momento os
olhos de seu rosto perfeito para não deixar-me
lembrar de onde estamos. A cabeça molhada de seu
pênis toca meu sexo e faz apitar entre os dentes e
me coloca mais tenso. A força que eu preciso para
manter os olhos abertos quase me mata. Mete a
ponta de sua ereção dolorosa desenhando círculos
uma e outra vez em volta da minha carne, usando
familiares técnicas de provocação, apesar de sua
urgência anterior.
— Miller!
241
Forma punhos com as mãos atrás de mim cerrando
os dentes.
— Você quer que eu penetre em você, Olivia?– Ele
desvia seu olhar de sua virilha para meu rosto
corado e provocando minha abertura. — Você quer?
— Sim. Coloco as pernas em torno de sua cintura,
usando como uma alavanca para trazê-lo para mim.
— Sim!– Exclamo, a penetração é imediata e
profunda, me deixa sem respiração.
— Foda-se, Livy!- Ele retira-se lentamente e
observo ele emergir de dentro de mim, apertada.
Depois olha para mim e mantém o silêncio. Seus
olhos azuis escurecem visivelmente, e eu agarro as
coxas fortes e... pronto. Espero o que esteja por vir
e eu seguro o olhar firme enquanto se aproxima
vestido até o tronco se inclina sobre mim e nossos
narizes quase se tocam. No entanto, ele permanece
imóvel na minha abertura, com apenas a ponta
dentro. Eu não me movo. Continuo paciente
sentada quando eu cuidadosamente observo,
ofegante em seu rosto, querendo movimento, mas
também desesperada por Miller tomar as rédeas,
porque eu sei que é apenas o que ele precisa.
Agora.
Aqui.
Em mim.
Nos olhamos fixamente nos olhos. Nada vai desviar
nossos olhos. E quando reduz lentamente o
pequeno espaço entre nós e me beija com ternura,
eu ainda não perco de vista suas esferas azuis.
Mantenho os olhos bem abertos nele. Seu beijo é
breve, mas é carinhoso. É um beijo de veneração.
— Eu te amo-, sussurro, e novamente olho para
cima, mas ainda não dou ao luxo de desviar o olhar.
Eu sorrio. Eu continuo apoiada em um braço e
usando o outro para chegar à frente. Acaricio sua
242
bochecha com as pontas de meus dedos enquanto
ele continua me olhando com cuidado.
— Ponha a mão na mesa.- É gentil mas firme, e
obedeço instantaneamente. Eu sei exatamente o
que ele pretende. Vejo por trás da ternura de seus
olhos. Eu vejo seu desejo desesperado.
Ele respira fundo e seu tórax se expande sob o
tecido de seu terno.
Eu também inspiro e prendo a respiração, preparo,
silenciosamente desejando para continuar.
Aperta seus lábios bonitos e cheios e balança a
cabeça suavemente, extasiado.
Não tem nenhuma ideia do quanto eu o amo.
E então ele me penetra lançando um rugido gutural.
Grito, meus pulmões explodindo com todo o ar que
tinha contido.
—Miller!
Ele congela dentro de mim, mantendo nossos
corpos preso, preenchendo ao máximo. Com apenas
esse impulso único e o poder de seu corpo contra o
meu, nós dois estamos sem fôlego. Há tanta coisa
por vir, por isso tomo fôlego novamente e levo os
poucos segundos que está me dando
para me preparar para seu próximo ataque
enquanto ele balança e empurra dentro de mim.
Isso acontece mais cedo do que o previsto. Recebo
alguns segundos de tortura dolorosa enquanto ele
me deixa lentamente antes de deixar ir
completamente. É implacável. Nossos corpos
colidem de novo e de novo, criando belos sons e
sensações. Nossos gritos de prazer intenso inundam
o espaçoso escritório e nossos movimentos
mandam-me para aquele lugar além do prazer.
Minha mente se desliga e se concentra
exclusivamente em aceitar sua brutalidade. Tenho
243
certeza que tenho hematomas quando estamos a
fazer, e eu não me importo.
Eu quero mais forte. Mais rápido. Eu preciso de
mais. Mais de Miller. Eu agarro o seu paletó e me
agarro a ele como se estivesse vivendo para ele. Eu
esmago minha boca contra dele e seu ataque de
língua. Ele precisa saber que estou bem. Ele quer
transar mais com veneração. Ele quer as coisas que
nos fazemos. Tocando-me. Provando-me. Amando-
me.
— Mais forte! -Eu grito em sua boca para que ele
saiba que eu estou gostando disso. Eu amo isso. Eu
gosto de toda a sua força, a crueldade com que ele
está me tomando, sua reivindicação de mim, onde
estamos...
— Porra, Livy-. Sua boca move contra o meu
pescoço. Morde e suga e joga a cabeça para trás
quando eu me apego a seus ombros.
... Ele não hesitou nem por um segundo... A
velocidade de seus quadris é uma velocidade
superior. Ou duas. Ou talvez três.
—Foda-se!
— Deus! -exclamo, sinto todo o fluxo de sangue
arremessando para o centro. — Foda, foda, foda!
Miller! – Minha audição é abafada, minha mente
neblina e finalmente desisto e fecho os olhos, fico
cega também. Agora tudo que eu sinto é o prazer.
Muito prazer. — Eu estou indo!
— Isso! Vem para mim, minha menina! - O rosto
dele levanta do meu pescoço e aborda minha boca.
Sua língua faz o seu caminho através dos meus
lábios impaciente quando eu não consigo abrir para
ele. Estou muito focada em meu orgasmo iminente.
Ele vai fazer o meu mundo explodir em mil pedaços.
Eu começo a entrar em pânico quando eu vejo que
estou em um ponto de não retorno, mas sem
244
avançar na minha explosão. Fico totalmente tensa.
Eu fico rígida em seus braços, apenas movendo-me
eu movo apenas pelo controle que Miller tem sobre
nossos corpos. Bombeando-me de novo e de novo,
puxando meu corpo contra o dele enquanto nossas
bocas devoram uns aos outros. Mas isso não vai
acontecer. Não aqui, e minha frustração explode.
— Mais forte, Porra! -Grito desesperadamente.
— Faça acontecer!
Eu levanto minha mão e puxo seu cabelo, fazendo-o
gritar.
Mas ele para. De repente. Minha raiva é
multiplicada por um milhão quando eu o vejo sorrir
para mim maliciosamente. Ele me vê respirar
ofegante, sinto aperta-lo dentro de mim quando eu
contraio meus músculos internos em torno dele. Ele
também está prestes a explodir. Eu vejo além da
expressão de satisfação presunçosa em seu olhar.
Mas eu não sei se a satisfação é devido ao fato de
que ele está me fazendo ficar louca ou que eu estou
sentada sobre a mesa de William.
A fina camada de suor na testa brilha e minha
atenção momentaneamente é desviada... até que
ele fala, e atrai meu olhar de volta para o dele.
— Diga que eu sou seu. – Ele ordena
tranquilamente.
Meu coração bate com mais força.
— Você é meu, - eu digo cem por cento convencida.
—Explique-se.
Ele está me mantendo a beira de um orgasmo, nos
segurando firmemente junto contra meu sexo.
— Você-Me-Pertence. -Eu digo, palavra por palavra,
e eu estou morrendo de vontade de ver o brilho de
satisfação em seus olhos. — Você é meu – digo.
— Ninguém mais pode te provar – Cubro seu rosto
com as palmas das mãos, me ato aos seus lábios e
245
mordo um pouco antes de lamber. — Eu te amo.
Um longo gemido que emana de meu senhor em
tempo parcial. Um gemido de felicidade.
— Certo. - ele murmura. -Deite-se, minha menina.
Obedeço de bom grado. Libero seu rosto e deixo-me
cair em minhas costas ainda olhando para ele. Ele
oferece-me aquele sorriso maravilhoso que me faz
perder a consciência, profunda e lentamente
balança a virilha e imediatamente me empurra
sobre a borda do precipício.
— Oooh - gemo, e fecho meus olhos. Suas mãos em
meus cabelos me mantêm enquanto eu balanço a
cabeça de um lado para outro.
— Eu concordo –, o gemido de Miller com voz
gutural tremendo em cima de mim antes de
remover o membro do meu corpo e descansar na
minha barriga. Ele não estava usando um
preservativo.
Ele roda em minha barriga e seu pau pulsando
enquanto nós contemplamos ele se esvaziar em
silencio.
Não preciso dizer que nós dois sabemos. Minha
mente me consume não havia espaço para pensar
em proteção quando ele me empurrou para o
escritório de William.
Ele estava pensando em apenas me marcar no
escritório de um de seus inimigos.
Mau? Sim. Se me importo? Não.
Lentamente desce o corpo do meu, me imobilizando
na mesa e ele olha no lugar do meu pescoço que ele
tanto ama fazendo caricias com amor.
— Sinto muito.
Um sorriso se forma em seus lábios e
provavelmente é tão perverso como os atos
irracionais de Miller.
246
—Não...
De repente, o som de uma porta batendo ecoa pela
sala, interrompendo-me no local. E o rosto de Miller
levanta lentamente de meu pescoço olhando para o
meu rosto. O sorriso calculado que desenha em sua
boca magnífica faz-me morder o lábio para não
imitar.
— Que Deus nos ajude!
— Maldito filho da puta! -A voz suntuosa de William
está cheio de veneno. — Porco maldito filho da puta
imoral!
Abro os olhos arregalados pela enormidade da
nossa situação do que a satisfação que me faz
doente. Embora o sorriso maroto de Miller
permaneça fixo no lugar. Ele se inclina e me beija
com ternura.
— O prazer é meu, minha doce menina.
Ele sai do meu corpo, mantendo as costas para
William para cobrir minha calcinha enquanto ele se
dobra. Sorri para mim e sabe que é sua maneira de
me dizer para não me preocupar. Coloca minha
calcinha no lugar e puxa meu vestido para baixo,
que eu aprecio, porque eu estou paralisada pela
ansiedade e sou incapaz de me fazer descer. Então
eu saio da mesa e dou um passo para o lado,
expondo-me para a fúria poderosa que emana da
figura de William.
Porra, parece que está prestes a matar alguém.
William faz uma cara de nojo. Está fisicamente
tremendo. E agora eu também estou. Mas Miller
não. Não. Ele ignora a fúria, removendo
silenciosamente uma cadeira, me vira e empurra
meu corpo em estado de choque para o banco.
— Minha senhora! -diz, e eu sorrio de sua
arrogância continua. Anseia por sua própria morte:
não tem explicação.
247
Dirijo meu olhar perdido para frente, começo a
mexer com o meu anel de diamante no dedo
nervosa e com o canto dos olhos, vejo como Miller
examina seu terno calmamente antes de se sentar
na cadeira ao meu lado. Dou-lhe um olhar de
soslaio. Ele sorri para mim. E pisca! Não posso
acreditar. Levo a mão à boca e começo a rir. Na
tentativa de conter os risos finjo que me deu um
ataque de tosse. É um desperdício de energia.
Essa situação não tem nada engraçada. Miller havia
me violado na mesa de William e ele
definitivamente não gostou. Estamos ambos em
apuros. A bagunça duas vezes maior do que quando
chegamos.
Permaneço rígida e paro de rir quando ouço o som
de passos se aproximando, enquanto Miller fica
confortável, ele se inclina para trás, descansa seu
tornozelo em seu joelho e suas mãos nos braços da
cadeira. William em torno da mesa e meu olhar
cauteloso segue em frente. A atmosfera é apenas...
horrível.
Senta lentamente em sua cadeira, mantendo seus
olhos cinzentos em Miller, que permanece
indiferente. William fala, mas suas palavras não me
atormentam.
— Você mudou seu cabelo.
Ele se vira para mim e vê o meu novo corte, que
agora é provavelmente uma confusão após a nossa
sessão de sexo. Eu sinto meu rosto quente e meu
corpo ainda está queimando.
— Eu cortei -, eu respondo. Agora, ele dirigi seu
desprezo por mim, eu sinto minha insolência
reviver.
— Em um cabeleireiro?
Meu corpo começa a deslocar-se
desconfortavelmente. Isso não é bom. As pessoas
248
costumam ir para obter um corte de cabelo no
cabeleireiro, presume-se, portanto, o fato de que
ele me perguntava não tinha qualquer graça.
— Sim. – Não minto. Eu fui cortar meu cabelo no
cabeleireiro... depois de ter me tosquiado.
William junta as mãos à boca formando um
triângulo enquanto me assiste continuar em
movimento para evitar seu olhar inquieto. Seus
olhos e suas palavras hostis de repente param de se
concentrar em mim e se transfere para Miller.
— Que diabos você estava pensando?
Ele injetou um pouco de calor para o tom, e me
atrevo a olhar para ele e me pergunto se ele quer
dizer com o que ele acabou de encontrar ou o que,
sem dúvida, sabe dos acontecimentos de ontem à
noite no ICE.
Miller limpa a garganta e levanta a mão para
apertar o ombro apenas para baixo. É um encolher
de ombros deliberados. Ele está pressionando todos
os botões de William, e apesar de eu ter feito tantas
vezes, eu não tenho certeza que esse seja o
momento. Eu seguro minha insolência... mais ou
menos. Miller também deve controlar a sua
imprudência.
— Ela é minha -, diz para William. — E eu faço com
ela o que eu quiser.
Me encolho na cadeira, atordoada com seu egoísmo
absoluto em um momento tão delicado. É ele quem
diz que precisamos da ajuda de William, então por
que está se comportando como um idiota total? Ele
não diz que entendeu? Estou vendo! Eu sei que ele
tem uma maneira peculiar de usar as palavras.
Acabo aceitando, mas essa frase é claramente
desenhada para enfurecer ainda mais William, ainda
mais quando eu me atrevo a olhar para o velho
cafetão de minha mãe e meu. Vejo que
249
praticamente saí fumaça por suas orelhas, é muito
óbvio.
William se levanta da cadeira, batendo as palmas
das mãos sobre a mesa e se inclina para frente com
o rosto desfigurado pela raiva.
— Você está a um milímetro de distância de ser
esmagado, Hart! E eu estou ficando no meio dessa
porra de situação para me certificar de que isso não
aconteça!
Eu saio de minha cadeira para colocar distância
entre William e eu. É uma vã tentativa de evitar
vibrações agressivas que emanam de seu corpo
agitado. Essa situação é cada vez mais insuportável
a cada segundo. Miller sobe lentamente de seu
assento e imita a postura de William. Pra piorar.
Não confundo o movimento calmo de Miller com um
sinal de controle. Sua mandíbula apertada e os
olhos apertados dizem o contrário. Estou paralisada
e me sinto impotente como esses dois homens
poderosos se enfrentando.
— Você sabe tão bem o quanto eu que sou capaz de
quebrar todos os ossos do seu corpo parasita. – Ele
praticamente sussurra as palavras na cara de
Willian. O rosto de William como seus ombros
sobem e descem quase constantemente
descontraídos. — Não se engane. Eu não penso
duas vezes, e eu vou rir no processo.
— Foda-se!- Maldiz William, e estende suas mãos,
agarra a camisa de Miller até a garganta, torce e
puxa o pano para ele.
Eu pulo, mas não grito para eles pararem. Eu sou
incapaz de pronunciar uma palavra.
— Me... solte... agora -, diz Miller lento e conciso
um tom cheio de ferocidade. — Agora.
Ambos os homens ainda permanecem o que parece
uma eternidade, até que William amaldiçoando
250
novamente empurra Miller para trás, antes de cair a
bunda na cadeira e jogar a cabeça para trás
olhando para o teto.
— Você realmente arruinou tudo, Hart. Sente-se,
Olivia.
Eu obedeço imediatamente. Eu não quero causar
mais problemas. Miller olha e vejo que está
suavizando a camisa e o nó da gravata se encaixa
antes de sentar também. Eu tenho uma sensação
absurda de alívio quando estende a mão, e agarra a
minha e fecha bem. É a maneira que ele me diz que
está tudo bem. Controlando a situação.
— Eu imagino que você está se referindo ao dia de
ontem à noite.
A risada sarcástica escapa da boca de William e
abaixa a cabeça. Seu olhar corre entre Miller e eu.
— Quer dizer ao contrário de você marcando o que
você acha que é seu território no meu escritório?
— O que eu sei é o meu território.
— Oh, Senhor!
— Ok, Basta! -Eu grito correndo minha exasperação
a Miller — Parem com isso!- Ambos os homens
recuam em suas cadeiras e seus rostos atrativos
refletem obviamente uma surpresa. — Chega dessa
merda de macho Alpha!
Minha mão solta Miller, mas ele leva para reivindicá-
la. Ele a leva para sua boca, coloca no lábio e volta
a beijá-la repetidamente.
— Sinto muito-, ele diz com sinceridade.
Eu balanço minha cabeça e respiro fundo. Então eu
dirijo minha atenção para William, que está
observando cuidadosamente Miller.
— Eu pensei que tinha concordado em não separar-
nos-, digo e percebo que a chuva de beijos de Miller
em minha mão para.
251
Depois de William ajudar-nos a fugir de Londres
estava convencida de que não haveria interferência
dele.
Ele suspira e Miller senti o quão fracas minha mão
ficam em seu colo.
— Estou constantemente tendo uma conversa
comigo mesmo sobre isso, Olivia. Reconheço o
amor quando chego perto. Mas é um desastre. Eu
não tenho nenhuma porra de ideia de como eu
deveria agir para seu benefício. – Ele limpa a
garganta e me olha como se pedisse perdão. —
Desculpe a minha linguagem.
Bufo sarcasticamente. O que desculpar sobre sua
linguagem?
— Aonde vamos a partir daqui?- William continua
ignorando a minha confusão e olha para Miller.
— Sim, vamos terminar com isso de uma vez. – Eu
olho para Miller também, fazendo se deslocar
agitado em sua cadeira.
— Eu quero sair-, diz Miller, claramente
desconfortável sob o olhar de dois pares de olhos, e
ainda entrega a sua declaração com absoluta
determinação. Determinação é bom. Embora, para
mim, não é suficiente.
— Sim, isso está claro. Mas eu vou perguntar de
novo: Você acha que eles vão deixar você sair? - É
uma pergunta retórica. Não requer nenhuma
resposta. E não tem nenhuma. Então William
continua. — Por que a levou lá, Hart? Sabendo que
as coisas estavam delicadas? Por quê?
Eu olho para cima. Cada músculo do meu corpo
solidifica com a culpa do resultado dessa questão.
Eu não posso deixar que ele leve a culpa, mas
também suporto a acusação.
— Ele não me levou lá-, sussurro envergonhada. Eu
sinto Miller apertar minha mão com mais força.
252
— Miller estava no ICE. Eu estava em casa. Recebi
uma chamada no meu celular. Um número
desconhecido.
William franze a testa.
—Continue.
Eu engulo, reúno um pouco de coragem, olho para
Miller com o canto do olho e detecto uma expressão
terna e amorosa.
— Eu ouvi uma conversa e não gostei do que ouvi.
Espero pela pergunta óbvia, mas engasgo quando
William diz algo inesperado.
— Sophia. – Fecha os olhos e inspire cansado.
— Aquela maldita Sophia Reinhoff. –Seus olhos se
abrem e fixa em Miller instantaneamente. — Então
o obriga a jogar seu relacionamento com Olivia para
baixo.
— Miller não fez nada-, digo, e me inclino para
frente. — Fui eu quem causou toda a situação. Fui
para o clube levei Miller ao limite.
— O quê?
Eu fecho minha boca e levanto de minha cadeira
novamente. Eu não acho que ele queria ouvir isso,
assim como Miller não quer ver.
— Eu... - Me levo sob o olhar expectante de William.
—E...
— Foi reconhecida-, interveio Miller, e eu sabia que
ele fez porque ele vai colocar a culpa dessa parte
em William.
—Miller...
— Não, Olivia.– Me para e se inclina ligeiramente
para frente. — Ela foi reconhecida por um de seus
clientes.
Arrependimento inunda o rosto de William e me
enche de culpa.
— Eu vi como um canalha tentou recuperá-la na
minha frente. Ele se ofereceu para cuidar dela.–
253
Estava começando a tremer. A memória estava
revivenciando sua raiva. — Diga-me, Sr. Anderson,
o que você teria feito?
— Eu o mataria.
Eu estremeço ao ouvir sua resposta enfática e
ameaçadora e sabendo que diz muito serio.
— Bem, eu o poupei... a vida. – Miller relaxa em sua
cadeira. — Eu acho. Isso me faz um homem
melhor?
— É possível-, responde William sem hesitação e
com absoluta sinceridade. Por alguma razão, não é
de se admirar.
— Fico feliz que tenha esclarecido. Agora,
prosseguimos -, Miller muda de posição na cadeira.
— Eu vou sair. E eu estou levando Cassie comigo, e
eu vou te dizer como eu pretendo fazer
exatamente.
William olha o relógio com cuidado por um tempo, e
depois ambos se voltam para mim.
— Querem que eu saia?-, eu pergunto.
— Espere por mim no bar-, diz Miller friamente, e
olha para mim com uma cara que eu estou
acostumada. É o que me diz que isso não é
negociável.
— Então você só me trouxe aqui para me foder na
mesa dele?
— Olivia!- William me repreende, me forçando a
mudar a minha zombaria com Miller por um
momento.
Me devolve o olhar e, se não tivesse tão chateado
agora, ele rosnaria. Mas eu estou ciente que eu não
posso ser de nenhuma ajuda aqui. De fato, tudo o
que nos levou a esse momento só confirma que eu
sou um obstáculo, mas eu estou chateada com
dele... além de tudo. Por estar me sentindo inútil, é
difícil.
254
Silenciosamente me levanto, viro as costas sem
uma palavra para fugir da tensão e fecho a porta
atrás de mim. Eu ando um pouco pelo corredor
atordoada e de cabeça baixa vou para o banheiro
feminino, ignorando o fato de que eu sei
exatamente onde eu tenho que ir. Eu ignoro os
olhares de interesse que os homens, mulheres e o
pessoal do clube jogam pelo meu caminho.
É difícil, mas eu entendo. Conheço o estado de
desespero que poderia potencialmente causar-me,
aqueles olhares me dão a força para alcançar.
Quando eu termino de usar o banheiro, lavo as
mãos e olho fixamente para mim no espelho por
uma eternidade. Quando volto ao bar, e me sento
em um banquinho rapidamente peço uma taça de
vinho, qualquer coisa só para me concentrar em
outra coisa até voltar ao escritório de William.
— Srta. - O garçom sorri e desliza a minha bebida.
— Obrigada-. Eu bebo um longo gole e inspeciono o
bar.
Felizmente, Carl não está aqui. Um rápido olhar
para o celular me diz que é apenas meio dia. Parece
que essa manhã se arrasta ao longo de anos, mas a
ideia de ver minha avó e levá-la para casa em
poucas horas levanta o meu humor cansado.
Eu sinto como se relaxasse na atmosfera agradável
do bar e graças aos meus goles contínuos de
vinho... Esse sentimento eu não tinha tido desde
que parti para Nova York, de repente sou
bombardeada com arrepios novamente. Calafrios.
Eu eriço os cabelos sobre os ombros, e o pescoço
também. Eu levanto minha mão para massagear o
pescoço e olho para o lado. Não vejo nada fora do
comum; apenas os homens tomando suas bebidas e
conversando calmamente com uma mulher sentada
255
em um banquinho ao meu lado. Eu decido
minimizar e continuar bebendo.
O garçom se aproxima e sorri para ir atender à
senhora.
— Hendrick, por favor–, chama como um pano
macio, rouca e sensual, como a maioria das
mulheres de William.
É como se tivessem aprendido a aperfeiçoar a arte
da sedução verbal. Mesmo algo tão simples como
pedir uma bebida soa erótico em suas bocas.
Apesar do lembrete, eu sorrio para mim mesma, e
não tenho ideia do por que. Talvez seja porque
tenho certeza que nunca tive essa voz.
Levo o meu vinho aos lábios e observo o garçom
servir a bebida e a mulher segura seu copo, antes
de eu virar em direção à entrada do bar, à espera
de Miller e William aparecer. Quanto tempo vai
demorar? Eles ainda estão vivos? Eu tento parar de
me preocupar, e acho que é muito fácil quando
todos esses sentimentos indesejados voltam e me
forçam a virar lentamente.
A mulher está olhando para mim, e suavemente
detém o copo com os dedos delicados.
Dedos como os meus.
Meu coração vai para minha cabeça e explode,
espalhando milhões de lembranças em uma névoa
flutuante diante de mim. As visões são claras. Bem
claras.
— Minha filha. – Ela sussurra.
256
CAPÍTULO 15
Até ouço o barulho do copo caindo no chão quando
eu largo de minhas mãos paralisadas, para afastar
nossos olhos.
Safira em safira.
Tristeza e choque.
Mãe contra filha.
— Não. – Eu soluço, e me levanto tremendo e sem
fôlego com minhas pernas instáveis. — Não!
Viro-me para escapar, tonta, tremendo e sem
respirar, mas eu esbarro com um enorme armário.
Eu sinto quão forte minhas mãos embrulham seu
antebraço. Olhando para cima eu vejo Carl
avaliando a minha expressão de angústia com os
olhos cheios de preocupação. Isso só confirma que
o que eu vi era real. O cara parece inquieto, algo
que atinge a todos.
Explosões de lágrimas nos meus olhos enquanto
estou atormentada. Suas enormes vibrações que
emanam de seu corpo anseia que me acalme.
— Maldita!–, ruge. — Gracie, o que diabos você está
fazendo?
A menção de minha mãe injeta vida em meu corpo
bloqueado.
— Deixe-me ir!- Eu grito, e começo a empurrar,
cheia de ansiedade e pânico. — Por favor, deixe-
me!-
— Olivia?- Sua voz penetra nos mais profundos
recantos da minha mente e provoca um ataque por
romper uma barragem de memórias perdidas.
— Olivia, por favor.
Eu ouço a voz dela de quando eu era uma
garotinha. Ouço como cantarolava canções de ninar,
257
me sinto como seus dedos acariciassem minha
bochecha. Eu a vejo novamente pela última vez
saindo da cozinha de minha avó. Tudo está confuso.
Seu rosto causou tudo.
— Por favor-, eu olho para Carl com os olhos cheios
de lágrimas e com a voz trêmula. Meu coração está
asfixiando-me. — Por favor.
Espreme seus lábios e todas as emoções possíveis
reproduzem como um quadro: compaixão, tristeza,
culpa, raiva.
— Foda - maldiz, e de repente me leva por trás do
bar. Ele esmaga o punho apertando um botão
escondido atrás de uma estante cheia de licor e um
alarme é acionado brotando através da construção,
fazendo todo mundo sair de suas cadeiras.
A agitação da atividade é instantânea, e o som
insuportável é estranhamente reconfortante. Ele
está atraindo a atenção de todo mundo, mas eu sei
que ele quer a presença de um homem aqui.
— Olivia, baby.
Eu sinto um choque elétrico percorrer meu corpo
quando ela segura meu braço com a mão macia.
Mas faz-me começar a lutar com Carl novamente,
só que dessa vez eu me livro.
— Gracie, deixe-a em paz! - ele ruge quando eu
corro por trás do bar a uma velocidade tal que paro
instantaneamente sentindo as pernas dormentes.
Eu não consigo pensar em nada além de escapar.
Sair daqui. Fugir para longe. Eu consigo chegar até
a porta do bar e viro a esquina rapidamente. Então
eu vejo que ela vem atrás de mim, mas William
aparece do nada e a bloqueia.
— Gracie! - William exclama enquanto ele luta com
um tom ameaçador. — Como você pode ser tão
estúpida?
— Não a deixe ir!- Ela grita. — Por favor, não a
258
deixe ir!
Eu sinto a angústia em sua voz e vejo o terror em
seu rosto bonito, antes de desaparecer de minha
vista quando viro a esquina. Eu vejo. Mas eu não
me arrependo. Eu sinto minha própria dor, minha
raiva, a minha confusão, e eu não posso suportar
qualquer um desses sentimentos. Eu novamente me
concentro em continuar em frente e correr para as
portas que vão me tirar desse inferno, mas de
repente paro de me mover, e isso leva um tempo
para entender o porquê: minhas pernas se movem,
mas as portas não chegam consumida pela
ansiedade.
— Olivia, eu estou aqui-, ele sussurra em meu
ouvido e é impressionante como Miller me acalma.
Mas, por mais baixo que tenha dito, eu ouço
perfeitamente apesar do grito do alarme e a
atividade frenética que está ao meu redor. —Shhh.
Soluço, e me viro, meus braços estão em torno dele
e agarro-me a ele como se eu estivesse vivendo
nele. — Ajude-me -, choro em seu ombro. — Tire-
me daqui, por favor.
Eu posso sentir meus pés deixando o chão. E eu me
sinto como se ele me abraçasse contra seu peito.
— Shh.– Apoia a mão em minha cabeça e empurra
meu rosto em seu pescoço, um conforto quando ele
começa a andar rapidamente. Eu posso sentir o
pânico em mim começando a diminuir apenas por
estar em seus braços. — Vamos, Olivia. Eu vou tirar
você daqui.
Músculos me trazem à vida pela força de seus
braços e sua voz suave, então eu o abraço para
mostrar a minha gratidão, uma vez que eu ainda
sou incapaz de colocar em palavras. Eu só estou
ciente de que as sirenes de repente param de tocar,
259
mas claramente ouço passos se aproximando atrás
de nós. Dois pares de pés. E não são os de Miller.
— Não tire ela de mim!
Engulo em seco e afundo mais meu rosto no
pescoço de Miller enquanto ele ignora o apelo de
minha mãe e continua a avançar.
— Gracie!- Rosna William parando a alguns passos e
ainda faz com que Miller hesite por um segundo,
mas quando sente a cabeça mais enterrada em seu
pescoço ele retorna para acelerar o ritmo. — Gracie,
caramba! Deixe-a em paz!
—Não!
De repente, nós paramos em um trecho e Miller
rosna e vira o rosto para minha mãe.
— Largue meu braço!- sibila com os dentes, e seu
tom torna-se um nível de ameaça, que eu já o vi
usar com os outros. O fato de que essa mulher seja
minha mãe é exatamente a mesma coisa. — Não
vou repetir.
Miller fica parado, esperando que ela o liberte, em
vez de se livrar dela com um puxão.
— Eu não vou deixar você levá-la. – A Voz
determinada de Gracie me enche de pânico. Eu não
posso olhar. Eu não quero vê-la. Eu tenho que falar
com ela. Eu preciso explicar muitas coisas.
Miller começa a se mexer, e é nesse ponto que eu
começo a compreender a situação. Ele está olhando
para minha mãe. Ele está olhando para a mulher
que me deixou.
— Ela falará com você quando estiver pronta-,
responde calmamente, mas é inconfundível o aviso
por trás das palavras. — Se ela estiver pronta.
Vira o rosto para minha cabeça encosta os lábios
em meu cabelo e sua respiração é profunda. Ele
está me tranquilizando. Está me dizendo que não
260
vou fazer nada que eu não queira, e eu o amo
muito por isso.
— Mas eu preciso falar com ela agora. – Seu tom é
cheio de determinação. — Ela precisa saber...
Miller perde instantaneamente a paciência. — Você
acha que ela está pronta para falar com você?- Ele
rugiu, me fazendo tremer em seus braços. — Você a
abandonou!
— Não tive escolha–. São as palavras de minha
mãe, com a voz trêmula carregada de emoção.
No entanto, eu não sinto nenhuma empatia, e me
pergunto se isso me faz uma pessoa cruel e sem
coração. Não, eu tenho um coração, e agora está
batendo em meu peito, lembrando sua crueldade,
há tantos anos. Em meu coração não há espaço
para Gracie Taylor. Ele está preenchido por Miller
Hart.
— Todos nós temos escolhas-, Miller diz, — E eu fiz
a minha. Seria capaz de atravessar as entranhas do
inferno por essa menina, e eu estou fazendo isso.
Você não fez. Isso é o que me faz merecedor de seu
amor. Isso é o que eu mereço.
Meu soluço retorna com toda a força ao ouvir sua
confissão. Sabendo que ele me ama enche o vazio
que eu sinto dentro de mim com uma gratidão pura
e absoluta. Ouvi-lo confirmar que ele é digno do
meu amor faz tudo se transbordar.
— Você é um hipócrita filho da puta!-, Gracie
explode a insolência das Taylor.
— Gracie, querida... - intervém William.
— Não, Will! Deixe-me impedi-la que seja
submetida à depressão que enfrentei. Eu fui de país
em país durante dezoito anos, morrendo por dentro
diariamente por não estar com ela. Não podendo
ser sua mãe! Eu não vou permitir que esse homem
261
invada sua vida e estrague todo doloroso tempo que
tive que suportar durante esses dezoito anos!
Essa frase permanece em minha mente alto e claro,
apesar de que o meu estado de ansiedade
permanece.
Sua dor? Será a porra da sua dor? Eu sinto uma
necessidade de saltar dos braços de Miller e dar um
tapa no rosto dela. Por um momento a raiva
escurece minha compreensão, mas ele inspira
profundamente para acalmar e segura minha
cintura estreitando mais, distraindo-me da minha
intenção. Ele sabe. Ele sabe o efeito que essas
palavras têm sobre mim. Desliza a mão para a parte
de trás da minha perna e puxa-a de volta na
esperança de reagir, então eu enrolo minhas coxas
ao redor da cintura dele em resposta, talvez, para
esfregar no rosto de minha mãe.
Isso é tudo que eu preciso. Ele não vai desistir de
mim, e eu não vou deixá-lo ir. Nem mesmo por
minha mãe.
— Olivia é minha-, declara Miller com voz fria,
calma e segura. — Nem mesmo você vai roubá-la
de mim. Sua promessa quase irracional me enche
de esperança.
— Tente-me, Gracie. Atreva-se a experimentar.
Se vira e sai da Sociedade comigo enrolada no
corpo como um cachecol, um cachecol bem atado
que nunca mais soltará.
262
— Você tem que me soltar agora. – Diz Miller em
meu cabelo quando chegamos ao seu carro, mas eu
respondo agarrada a ele e protestando em seu
cabelo. — Olivia, vamos lá.
Quando minhas lágrimas diminuem, eu tiro meu
rosto molhado de seu pescoço e mantenho os olhos
fixos em seu encharcado colarinho da camisa
branca. Eu localizei toda a minha maquiagem. Há
rímel e blush rosa embutidos no tecido. — Já era.
Eu não preciso olhar em seu rosto para saber que
ele tem uma carranca.
— Está tudo bem-. Responde com tom cheio de
confusão, o que confirma meu pensamento anterior.
— Vamos lá, desça.
Cedo e me desprendo de seus quadris. Eu estava
diante dele, com os olhos baixos, não querendo
enfrentar a sua perplexidade. Isso vai exigir uma
explicação a minha falta de interesse. Eu não quero
explicar, e não insiste muito para conseguir fazê-lo.
Por isso, é mais fácil evitar o seu olhar
interrogativo.
— Venha, vamos pegar minha avó. - praticamente
eu cantarolo, e eu me viro e caminho para o banco
do passageiro, deixando para trás um Miller
decididamente confuso.
Eu não me importo. Quanto a mim o que aconteceu
nunca aconteceu. Eu entro no carro, fecho a porta e
coloco o cinto com pressa. Estou morrendo para
pegar minha avó. Estou desesperada para levá-la
de volta para casa e começar a ajudá-la com sua
recuperação.
Ignoro o calor de seus olhos em mim, quando ele
desliza ao meu lado e eu decido ligar o rádio. Sorrio
quando Mid night City de M83’s começa a tocar
estridente nos alto-falantes. Perfeito.
263
Passam-se alguns segundos e Miller ainda não ligou
o carro. Eu finalmente reúno coragem de enfrentá-
lo. Meu sorriso intensifica.
— Vamos lá!
Ele quase não contém sua surpresa.
— Livy, o que...?
Eu levanto minha mão e coloco os meus dedos em
seus lábios para silenciá-lo.
— Eles não existem Miller-, eu começo,
serpenteando meu caminho até sua garganta
quando eu tenho a certeza de que vai me deixar
continuar sem interrupção. O pomo de Adão incha
sob o meu toque quando engole em seco. —Apenas
nós.
Eu sorrio e vejo como seus olhos se estreitam com
a incerteza e balança a cabeça e para trás
lentamente. Em seguida, volta para mim com um
leve sorriso, e pega minha mão para levá-la a boca
e a beija com ternura.
— Nós–, ele confirma, ampliando seu sorriso.
Assinto, e reclamo minha mão e fico confortável no
assento de couro, com a cabeça no encosto olhando
para o teto. Meu maior esforço para concentrar
meus pensamentos é apenas uma coisa.
Minha avó.
Vejo seu rosto lindo, ouço suas palavras corajosas,
sentindo seu corpo quando a abraçar com força e
aproveitar o tempo enquanto ela estiver se
recuperando. É o meu trabalho de mais ninguém.
Ninguém tem o prazer de desfrutar essas coisas. Só
eu. Ela é minha.
— Por agora, eu vou respeitar o seu pedido-, diz
Miller enquanto aciona a máquina.
Eu olho com o canto do olho e vejo que ele está
fazendo o mesmo comigo. Desvio o olhar
rapidamente e passo em frente ignorando suas
264
palavras e seus olhos, que me diz que eu não
permanecerei ignorante por muito tempo. Eu sei
disso, mas agora eu tenho a distração perfeita e me
concentro em me jogar nele por completo.
265
rindo com a televisão. Eu relaxo debaixo da mão de
Miller e fico a observando por um tempo, até que
seus olhos azuis escuros viram longe da tela e me
encontram. Ela tem os olhos molhados de tanto rir.
Levanta a mão e seca as lágrimas de suas
bochechas.
Então seu sorriso desaparece e olha para mim com
um olhar severo, fazendo com que a minha alegria
desapareça e meu coração antes cheio de alegria
acelere, mas dessa vez de preocupação. Ela sabe de
algo? Tudo deve estar escrito em meu rosto?
— Já era hora!-, protesta enquanto dirigi o controle
remoto para a tela e desliga a TV.
Sua hostilidade restaura instantaneamente a minha
felicidade e meus medos de que poderia saber algo
desaparecem. Ela nunca deve saber. Eu me recuso
a colocar a sua saúde em risco.
— Eu vim meia hora mais cedo-, eu digo, segurando
o pulso de Miller e olhando para o relógio. — Me
disseram as quatro.
— Bem eu estou sentada aqui há horas. Minha
bunda está dormindo-. Ela olha de sobrancelha
franzida. — Você cortou o cabelo?
— Só um pouco. – Levo minha mão ao cabelo e
aliso um pouco.
Ela faz um movimento para se levantar e Miller
caminha rapidamente. Ele pega a bolsa e oferece
sua mão. Ela para, olha para ele, sua irritação
sendo substituída instantaneamente por um sorriso
travesso.
— Você é muito cavalheiro-, ela diz entusiasmada, e
suporta a mão enrugada sobre a de Miller. —
Obrigado.
— De nada - Responde Miller que está se curvando
para ajudá-la a se levantar. — Como está, senhora
Taylor?
266
— Perfeitamente bem -, responde ficando de pé. Ela
não está bem em tudo, tem as pernas um pouco
tremulas, e eu olho para Miller por um momento
para ele confirmar que também notou. — Me leve
pra casa, Miller. Vou preparar o bife de Wellington.
Eu zombo dos meus pensamentos sobre isso, e olho
para a minha direita quando a enfermeira aparece
com um saco de papel.
— A medicação de sua avó. - Ela sorri quando me
entrega. — Ela já sabe para que servem as pílulas e
quando deve tomá-las, mas também expliquei a seu
filho.
— Seu filho?– Eu falo com os olhos arregalados.
A enfermeira fica vermelha.
— Sim, aquele cavalheiro que vem todos os dias
para vê-la.
Me viro para ver Miller tão confuso quanto eu,
minha avó sorri de orelha a orelha. Ela começa a rir
e se inclina ligeiramente quando Miller segura seu
braço.
— Oh, querida. Aquele homem não é meu filho-.
— Oh... -diz a enfermeira, e se junta a Miller e eu
em nossa perplexidade. — Eu pensei... bem, ele
tinha assumido.
Minha avó recupera sua compostura, se endireita,
revira os olhos e pega o braço de Miller.
— William é um velho amigo da família, querida.
Me espanto novamente, mas eu mantenho a calma
quando minha avó me dá um olhar interrogativo.
Um velho amigo da família? Realmente? Minha
mente não para de remoer em minha cabeça, mas
eu tento com todos os esforços impedir a fuga de
minhas perguntas. Eu não quero nada. Eu apenas
deixei o velho amigo da Família na Sociedade,
segurando minha ma...
267
— Está pronta?- Eu pergunto, ansiosa para
esquecer esse pequeno mal-entendido.
— Sim, Livy. Estou pronta à uma hora - Responde,
faz beicinho e vira o olhar para a enfermeira.
— Esse é o namorado de minha neta - ela anuncia
mais alto que o necessário, como se para mostrar
toda a magnífica sala de troféus que ela tem no
braço.
— É descontroladamente bonito, não acha?
— Vovó! - Exclamo, olhando com o rosto vermelho
de Miller. — Pare!
A enfermeira sorri e se afasta lentamente.
— Repouso total por uma semana, senhora Taylor.
— Sim, sim – Responde para a enfermeira cansada,
apontando com a cabeça para Miller. — Ele tem
uma bela bunda.
Sufoco-me. Miller e a enfermeira sorriem e eu fico
vermelha como um tomate com os olhos
direcionados para a referida área de Miller, mas
então meu telefone começa a tocar na minha bolsa
e sou salva do comportamento impertinente da
minha avó. Balanço a cabeça completamente
exasperada, enfio a mão na bolsa. Olho o
dispositivo e fico paralisada quando vejo o nome de
William na tela.
Eu bato "Rejeitar".
O coloco de volta na bolsa e vejo o rosto sorridente
de Miller cauteloso quando o telefone dele começa a
tocar no interior do bolso. Seu sorriso desaparece
em meus olhos e detecta a melodia de seu celular.
Eu balanço minha cabeça suavemente, esperando
que minha avó não entenda as mensagens
silenciosas que nós estamos trocando e eu fico com
raiva quando ele deixa a bolsa de minha avó no
chão lentamente e leva a mão ao bolso. Grito
silenciosamente para ele não atender atirando
268
continuas mensagens do outro lado da cama, mas
me ignora e responde a chamada.
— Pode?- pede, me indicando que eu venha apoiar
minha avó.
Com máximo esforço para não enrugar a cara de
raiva, porque eu sei que minha avó está nos
observando, aproximo-me lentamente do braço, e
substituo o de Miller pelo meu.
— É uma chamada importante?- Vovó pergunta
desconfiada. Eu deveria saber que nada passa
despercebido.
— Você poderia dizer que... -Miller me beija na
testa em uma tentativa de acalmar, e minha avó
suspira enfeitiçada, enquanto observa as nádegas a
distância.
— Sim? - Miller diz ao telefone ao mesmo tempo
longe do corredor.
Eu estou fazendo beicinho. Eu não consigo me
controlar, e eu me recinto com Miller por não ser
capaz de ver o que eu consigo com muita
facilmente: enterrar a cabeça na areia;
Ignorá-lo; continuar como se nada de terrível
tivesse acontecido.
— Está tudo bem entre vocês dois? - Minha avó
pergunta com preocupação, interrompendo meus
pensamentos e me trazendo de volta para o lugar
onde eu quero estar.
— Tudo!- Eu minto forçando um sorriso e pegando a
bolsa do chão. — Pronta?
— Sim!-, resmunga exasperada, e imediatamente
seu velho rosto sorri novamente. Então ela se vira
para frente da cama e me obriga a virar-me com
ela.
— Adeus, Enid!- grita incomodando a pobre velha
que parece estar dormindo profundamente. — Enid!
— Vovó, ela está dormindo!
269
— Ela sempre está dormindo. Enid!
A velha abre lentamente os olhos e olha em todos
os lugares, um pouco desorientada.
— Estou aqui!- Vovó grita, levanta a mão e sacode
sobre sua cabeça. — Hooolaaa!-
— Meu Deus-, murmuro para minha avó e meus pés
são postos em prática quando minha avó começa a
caminhar ao redor do quarto.
— Não fale o nome de Deus em vão, Olivia-. Ela me
censura arrastando-me com ela. — Enid, querida,
eu estou indo para casa.
Enid nos dá um sorriso desdentado, levantando um
pequeno sorriso para mim. Ela parece muito frágil,
e parece ser um pouco senil.
— Onde você está indo?- pergunta. Ela tenta
sentar-se, mas desiste ofegante e com exaustão.
— Para casa, querida. – Minha avó me leva até a
cabeceira de Enid e solta meu braço para segurar
sua mão. — Essa é a minha neta, Olivia. Você se
lembra? Você a conheceu no outro dia.
— Ah sim?-Ela se vira para mim, inspeciona e
minha avó faz o mesmo seguindo seu olhar e sorri
quando eu desvio o olhar. — Ah sim. Eu me lembro.
Eu sorrio enquanto as duas mulheres me mantém
no lugar com os mais velhos e sábios olhos e eu me
sinto um pouco desconfortável sob seu olhar
examinador.
— Foi um prazer conhecê-la, Enid.
— Tome cuidado, querida. – Ela tira a mão de
minha avó com algum esforço e agarra o ar diante
de mim, pedindo-me para lhe dar o que ela está
procurando. O apoio de minhas mãos nas dela.
— Tudo vai ser perfeito-, diz, e inclina a cabeça,
sem saber o que está acontecendo. — Ele será
perfeito para você.
270
— Quem?- Eu pergunto com um riso nervoso e
desvio o olhar para o rosto sério de minha avó.
Ela dá de ombros e se volta para Enid, que desenha
no ar, mas não diz mais nada. Sua mão se solta e
ela volta a adormecer.
Eu mordo o lábio e seguro a minha vontade de
acordar Enid e dizer que ele é perfeito para mim,
muito estranho essa sua incrível declaração.
— Hmmm-. Murmuro, minha avó recebe a minha
atenção. Observo Enid dormindo com um sorriso
carinhoso. — Não tem nenhuma família-, diz, e
desperta imediatamente em mim uma enorme
tristeza. — Está aqui há mais de um mês e ninguém
veio visitá-la. Você pode imaginar o que deve ser
ficar sozinha?
— Não!- Admito contemplando tal solidão. Eu posso
ficar isolada do mundo, mas eu nunca me senti
sozinha. Eu nunca estive sozinha. Miller, no entanto,
sim.
— Se cerque de pessoas que amam você -, vovó diz
a si mesma, embora, obviamente, eu quero ouvir, e
não seja a razão para tal declaração. — Me leve
para casa, querida.
Sem perder um único segundo, passo meus braços
em torno de minha avó e começo uma lenta marcha
em direção à saída.
— Você está bem? - Eu pergunto quando Miller vira
o corredor com um leve sorriso nos lábios cheios de
certezas.
Ele não me engana. Eu vi a ansiedade em seus
olhos e seu rosto impassível, antes que ele nos
visse.
— Aqui está ele! -, Vovó fala. Todo adequadamente
vestido.
Miller pega a bolsa de minha avó, a coloca em
frente a ele e oferece-lhe o braço, que ela aceita
271
alegremente.
— A rosa entre dois espinhos-, diz rindo. Ela força a
ambos para perto dela com um surpreendente
aperto de seus braços. — Adeus! –grita minha avó
para a enfermeira quando passamos pela recepção.
— Adeus!
— Adeus, senhora Taylor!
Todos riem enquanto a escoltamos para a saída, e
eu sorrio minhas desculpas à equipe médica que
tem sofrido vários dias com seus comentários. A
verdade é que eu sinto muito, apenas pelo fato de
não ser a única que está constantemente recebendo
a insolência das Taylor.
Demorou um pouco, mas finalmente deixei o
hospital. Miller caminha alegremente, tendo que
manter constantemente minha avó para não correr
para fora do lugar que tem sido uma prisão durante
a internação. Eu não olho para Miller uma vez que
demoramos vinte minutos para chegar ao carro,
mas eu sinto seus olhos voltados para mim sobre a
cabeça de minha avó em mais de uma ocasião,
provavelmente avaliando meus processos mentais.
Se minha avó não estivesse entre nós, gostaria de
lhe dizer exatamente que meus pensamentos são
salvá-lo dos problemas. É simples: eu não me
importo e não quero saber. Seja o que for que
William e ele falaram, quaisquer que sejam os seus
planos, eu não quero conhecê-los. O fato de que
William atualiza Miller sobre o tema de minha mãe
despertou a minha curiosidade em tudo. No
entanto, eu cheguei à conclusão de que William
sabia que Gracie Taylor estava aqui e decidiu não
me contar. Não sei se eu deveria estar com raiva ou
grata.
— Bem! Olha quanta educação! - Vovó ri quando
272
Miller abre a porta traseira do seu Mercedes e
abaixa o braço para guiá-la com ar cavalheiresco.
Ele está aproveitando a imaginação ilusória de
minha avó e está fingindo que é sempre assim. Mas
eu vou deixá-lo em execução, mesmo que só para
continuar vendo o incrível sorriso em seu rosto. Eu
olho um pouco de esguelha que se esforça para
evitar imitar sua expressão de diversão ao mesmo
tempo ajudar minha avó a sentar-se.
— Oh! - Ela suspira ficando a vontade no banco de
trás. — Me sinto uma rainha!
— Você é, senhora Taylor - Responde Miller antes
de fechar a porta, escondendo o rubor de satisfação
apenas formado em suas bochechas.
Agora que minha avó não está mais no meio, é só
Miller e eu e não gosto da expressão pensativa que
vejo em seu rosto. Onde está toda passividade?
Uma vez que eu amo e odeio todas essas
expressões faciais.
— William quer falar com você -, sussurra, o que eu
aprecio, porque minha avó está a apenas alguns
centímetros de distância, embora esteja atrás de
uma porta fechada.
Imediatamente me coloco na defensiva.
— Agora eu... - assobio por entre os dentes,
sabendo muito bem que, na verdade, quero dizer
"nunca". — Agora eu tenho outra prioridade.
— Concordo - Responde Miller para minha surpresa.
Ele dobra até que nossos rostos estejam nivelados.
Seus olhos azuis confortam-me confiança e eu sou
enfeitiçada com sua segurança e conforto, fazendo
meus braços tremerem ao meu lado.
— É por isso que eu disse a ele que você não está
pronta.
Eu desisto de lutar contra meus braços e envolvo
seus ombros, cheia de gratidão.
273
— Eu te amo.
— Nós estabelecemos isso há algum tempo atrás,
minha menina-, sussurra, e afasta-se para me olhar
no rosto. — Deixe-me te provar.
Nossas bocas se ligam, meus pés deixam o chão.
Nossas línguas começam uma dança delicada e
mordiscamos os lábios um do outro quando nós
ocasionalmente nos separamos. Estou perdida,
consumida, alheia ao nosso redor em publico... até
que de repente me lembro do local e retorno ao
presente e nós nos separamos. Miller começa a rir
em descrença e que ambos se voltam para a janela
de seu carro. Não posso ver o rosto de minha avó,
porque os vidros são escuros, mas se eu pudesse,
certamente estará pressionada contra o vidro,
rindo.
— Meu tesouro! Miller fala me soltando e alisando
minhas roupas antes de suas próprias.
Faz algum tempo que ele não alisava seu terno,
agora estava compensando, levou uma boa hora
colocando tudo no lugar enquanto eu assisto com
um sorriso confortado por um de seus caminhos
mimados, mesmo alcançando e tirando fiapos. Ele
sorri em resposta, me pega na nuca, atrai-me para
ele e me beija na testa.
Toc, toc, toc!
— Senhor, dá-me forças-, resmunga contra a minha
pele, e então me solta e novamente, franzindo a
testa na janela de seu carro. — Coisas bonitas
devem ser saboreadas, Sra. Taylor.
Minha avó responde com outra rodada de batidas na
janela solicitando que Miller se dobrasse e se
aproximasse dela, ainda franzindo a testa. Eu
começo a rir quando vejo que ele bate para trás. Eu
ouço o grito de indignação de minha avó, mesmo
através da porta fechada, mas que não tem nenhum
274
efeito sobre o seu Tempo cavalheiro. Ataca
novamente.
— Miller, comporte-se-. Eu rio amando a irritação
que invade com o comportamento impertinente de
minha avó.
— Ela é mesmo real-. Ele endireita e coloca as mãos
nos bolsos. — É uma verdadeira...
— Dor na bunda? - Eu termino a frase para ele
antes de dizer algo que eu possa me arrepender, e
eu vejo a culpa em seu rosto instantaneamente.
— Às vezes-, ele admite, e me faz rir.
— Levamos vossa Senhoria para o palácio, não é?-
Miller acena com a cabeça para o outro lado do
carro e eu sigo sua instrução. Viro-me sozinha no
banco de passageiro e fico a maior parte para trás
com minha avó.
Quando tenho que colocar o cinto eu olho para trás
e a encontro brincando com o dela, então eu lhe
dou uma mão e fixo-o para ela.
— Vamos!- eu digo, recosto-me no banco e observo
como ela inspeciona o suntuoso interior do carro de
luxo de Miller.
Levanta a mão e aperta um botão que acende uma
luz e depois a desliga novamente. Aperta os botões
do ar condicionado entre o espaço do pé e murmura
sua aprovação. Pressiona novamente um botão que
faz a sua janela para baixo e pressione para voltar a
fechá-la. Em seguida, encontra um apoio de braço
entre nós, ela o abaixa, puxa de volta e descobre
que contém porta-copo. Sua fascinação e seus
velhos olhos azuis escuros olham para mim e ela
forma um O com os seus lábios rosados.
— Eu aposto que o carro da rainha não tem a
metade de todo esse luxo.
Seu comentário deveria me fazer rir, mas eu estou
muito ocupada com Miller lançando olhares
275
nervosos no espelho retrovisor, tentando avaliar sua
reação para o fato de que minha avó está mexendo
em seu mundo perfeito.
Está olhando para mim com sua mandíbula
apertada. Dou-lhe um sorriso estranho e digo um
silêncio "desculpe" com o rosto enrugado. Ele
balança a cabeça bonita de um lado para o outro,
balançando os cachos enquanto praticamente
derrapa para fora do espaço do estacionamento. Eu
imagino que ele quer terminar essa viagem o mais
rapidamente possível, limitando o tempo que a
minha querida avó tem de vasculhar o seu mundo
perfeito. Deus não permita que descubra os
mostradores de temperatura na parte frente. Eu
sorrio para mim mesmo. E ele queria levá-la para o
seu apartamento? Inferno, teria um ataque a cada
cinco minutos!
Buzinas continuam enquanto Miller continuamente
desvia o tráfego de Londres, mas para mim a
excitação desaparece quando a mão esquerda apoia
no banco. Instantaneamente detecto o que chamou
sua atenção. Estende a mão, e agarra a minha,
puxando em sua direção e estudando em silêncio.
Não posso fazer nada mais do que sair e me
preparar para a reação dela. Olho com olhos
suplicantes para o espelho retrovisor e vejo que
Miller observa de forma intermitente, mantendo a
atenção na estrada.
— Hmmm, - ela murmura para ele, e passa a
almofada do polegar na parte superior do meu anel.
— Bom, Miller, quando é que você vai se casar com
a minha linda neta?
A questão é para Miller, mas suas sobrancelhas
grisalhas levantam rapidamente em minha direção e
eu encolho no assento de couro. Melhor encontrar
uma resposta rápida, porque eu não tenho ideia do
276
que dizer. Ela precisa parar de olhar para mim
desse jeito. Eu estou ficando como um tomate, e
sinto a garganta fechando por causa da pressão,
evitando falar.
— Bem? -Insiste.
— Eu não vou fazer isso. – A resposta curta e afiada
de Miller, faz com que tudo morra por dentro.
Não tem nenhum problema em dizer abertamente a
minha avó e, embora eu entenda, eu não tenho
certeza se ela vai entender. É muito tradicional.
— E porque não? - Ela olha ofendida, quase com
raiva, e eu considero a possibilidade de estender a
mão e dar uma pancada na cabeça de Miller. Ela
provavelmente o faria. — O que há de errado com a
minha neta?
Eu rio como se não fosse capaz de encontrar ar para
respirar. O que há de errado comigo? Tudo!
— Esse anel representa meu amor, senhora Taylor.
Meu amor eterno.
— Sim, isso é bom, mas por que é no dedo anelar
onde se toma casada?
— Porque o seu precioso anel está na mão direita, e
nunca seria tão desrespeitoso como pedir-lhe para
substituir algo em sua vida que leva mais tempo do
que eu.
Encho-me de orgulho e minha avó gagueja seu
espanto.
— Nós podemos trocar?
— Você se casaria comigo? Pergunto, finalmente,
quando encontro algumas palavras.
— E porque não?– ela resmunga com o nariz
esticado. Nenhuma explicação respeitosa de Miller
consegue substituir o seu desgosto. — Você acha
que vai viver sempre em pecado?
Sua escolha distraída de palavras ressoa no meu
coração e os meus olhos encontram os de Miller no
277
espelho: os meus estão abertos; os seus
cautelosos.
Pecado.
Há muitas coisas pecaminosas que ela não conhece.
Coisas que minha pobre mente está tentando
assimilar. Não importa o quanto atrevida e corajosa
ela pode ser, eu não a exponho agora a ela. Não por
sua saúde precária, depois de sofrer um ataque
cardíaco, embora ela nunca soubesse.
Permanecer hospitalizadas nos últimos dias parece
ter injetado ainda mais descaramento em seus
ossos Taylor.
Miller retorna seus olhos para a estrada e eu
continuo no meu lugar olhando tensa mais
expectante que minha avó não desperte o famoso
TOC, no meu sofrido ex-prostituto, ex-
acompanhante masculino notório...
Suspiro. Minha mente não tem forças para
mentalmente listar intermináveis coisas
pecaminosas que Miller representa.
— Tenho a intenção de venerar sua neta para o
resto da minha vida, senhora Taylor-, diz Miller
calmamente, mas a triste voz que minha avó ouviu
indica perfeitamente que ela tem que se contentar
com isso. Para mim é o suficiente, e embora eu
sempre diga que nada mais importa, o fato é que a
aprovação de minha avó faz muita diferença. Eu
acho que eu tenho isso. Eu só tenho que manter
dizendo a mim mesma que ela não saber de toda a
verdade não tem nenhuma importância, que a sua
opinião não mudaria no mínimo, se ela soubesse
dos detalhes sórdidos.
— Lar doce lar, senhora–, diz Miller, interrompendo
meus devaneios quando paramos na frente da casa
de minha avó.
278
George e Gregory esperavam inquietos na calçada,
ambos sentados no muro baixo no final do nosso
jardim no quintal. Eu não tenho nem tempo nem
energia para me preocupar com o fato de que Miller
e Gregory estão em uma distância tão curta. Espero
que eles se comportem.
O que eles fazem aqui?- Minha avó resmunga, não
fazendo nenhuma tentativa de sair do carro, à
espera de Miller abrir a porta. Para mim, ela não me
engana. Ela gosta de estar recebendo esse
tratamento especial, não que ela não recebesse em
dias normais. — Eu não estou inválida!
— Discordo–, Miller responde com firmeza,
oferecendo sua mão, que ela aceita com uma ligeira
careta.
— Não seja tão insolente, Sra. Taylor.
Deixo o carro rindo para mim mesmo e encontro
com eles na calçada enquanto minha avó não para
de tagarelar e Miller indignadíssimo bufa.
— Como se atreve?
— Olivia certamente aprendeu com a melhor delas.
-Ele resmunga, levando minha avó até George
quando ele avança, um olhar preocupado corre todo
seu velho rosto.
— Como está, Josephine? -Ele diz tomando-lhe o
braço.
— Estou bem! -Minha avó aceita o braço de George,
indicando a sua necessidade de apoio, e se deixa
guiar ao longo do trajeto do jardim. — E você, como
está, Gregory? -Ela pergunta ao passar ao seu lado.
— E Ben?
— Ele contou a ela?- Olho meu amigo, como Miller e
George. Gregory se agita desconfortável com quatro
pares de olhos sobre ele. Suas botas raspam o solo
e olha a todos nós com os olhos arregalados
enquanto ainda olhamos para o pobre menino,
279
esperando por sua resposta. Ele limpa a garganta.
— Er ... Sim, bem. Estamos bem. Como está, vovó?
— Perfeitamente – Ela responde instantaneamente,
e faz um gesto para George continuar avançando.
— Nós preparamos um pouco de chá.
Todo mundo é colocado em ação e segue minha avó
e George para dentro de casa, mas logo passo a
frente para abrir a porta e permitir que todos
entrem e deixo a porta aberta. Solto um profundo
suspiro ao cruzar o limiar da porta e absorvo a
familiaridade do lar me enchendo de uma alegria
tão completa que poderia rivalizar com o lugar
maravilhoso que Miller me toma quando eu sou o
único foco de atenção. E isso não é pouca coisa. Tê-
la em casa, e ver e ouvir sua insolência limpa a
minha mente de outras questões mais espinhosas
que me esforço para evitar.
Gregory entra e pisca para mim descaradamente,
aumentando a minha felicidade, seguido de Miller,
me aliviando na porta e me diz para continuar com
um aceno de cabeça.
— Como um cavalheiro. – eu provoco, e dirijo-me
para ver minha avó com George levando-a para a
cozinha na outra extremidade da casa, quando ela
deveria estar no sofá ou até mesmo ir para a cama.
Isso não vai ser fácil. É impossível! Eu rolo meus
olhos, a perseguição começa a estabelecer algumas
regras, mas de repente, um tapinha em minha
bunda me faz parar. A dor é imediata, e eu coloco
minha mão para trás para esfregar em uma
tentativa de aliviar a dor enquanto eu viro e vejo
Miller fechando a porta.
— Ow! Ai! – Não tenho outras palavras Eu não
posso pensar. Miller Hart, o homem cujos modos
envergonhariam até mesmo a Rainha da própria
280
Inglaterra, me deu um tapa na bunda? Não bateu.
Foi um tapinha. E muito forte, de fato.
Um rosto perfeitamente em linha reta se vira para
mim. Inspira quando o terno é suavizado tomando
seu tempo ridículo enquanto eu estou totalmente
perplexa diante dele, esperando... eu não sei... o
que.
— Me diga uma coisa! -Exclamei indignada ainda
esfregando a parte de trás.
Termina de afastar seus cabelos do rosto, seus
olhos escurecem. Cruza as pernas em pé.
— Quer outro?- pergunta apenas com aquele brilho
de malícia nos seus belos olhos.
Eu respiro fundo e seguro minha respiração. Mordo
meu lábio inferior com força. — O que está
acontecendo? Você está tomando essa atitude na
casa de minha avó?
— O que eu gostaria de fazer é realmente morder
sua bela bunda.
Todo o ar deixa meus pulmões e a antecipação
sexual me devora. Ele é um bastardo. Ele não tem a
menor intenção de terminar o que começou. Mas
isso não acalma minha ansiedade ou a minha
necessidade. Maldito seja!
Ele se aproxima lentamente, como se estivesse a
espreita, e meus olhos segue-o até que eu o tenha
respirando sobre mim.
— A sua doce avó não está em uma posição para
caminhar segurando uma faca.
Ele mexe uma sobrancelha sugestivamente. Essa é
provavelmente a ação contraria a de Miller tudo
possui algumas ações que eu experimentei quando
nosso relacionamento cresceu. Não posso evitar.
Estou começando a rir, mas ele não se afasta
ofendido como esperado. Também começa a rir e,
embora o meu desejo desesperado por ele se
281
dissipa um pouco, a felicidade tremenda que corre
nas minhas veias é um bom compromisso.
— Não tenha tanta certeza -, eu respondo rindo
enquanto ele me agarra pela cintura, me coloca em
seus braços e me guia até o alto com o queixo no
meu ombro.
— Acho que a medicação tem desenvolvido a sua
insolência.
Cola sua boca no meu ouvido. Eu fecho meus olhos
e desfruto de cada momento delicioso que vai
passar por mim.
— Eu concordo -, e eu mordisco o lóbulo de sua
orelha.
Não há necessidade de lutar contra as chamas do
desejo ardente em minhas veias porque eles se
tornam chamas de raiva quando chego até a
cozinha e vejo minha avó enchendo a chaleira na
pia.
—Vovó!
— Eu tentei!-, George exclama jogando os braços
no ar, quando ele se senta. — Mas ela não me
escuta!
— Eu também!-, Gregory intervém para obter uma
visão geral da situação enquanto se senta em uma
cadeira na mesa da cozinha. Ele olha pra mim e
balança a cabeça. — Eu não estou pronto para uma
surra verbal. Eu já tive o suficiente com o físico.
Por um segundo, a culpa vem sobre mim depois de
ter sido áspera com meu melhor amigo, mas
novamente me concentro sobre a situação quando
ouço a chaleira bater na borda da pia.
— Por favor, vovó!- Eu grito, e atravesso a cozinha
correndo para ver ligeiras oscilações. Miller também
vem instantaneamente, ao ouvir o barulho de duas
cadeiras no chão, indicando-me que Gregory e
George também se levantaram. — Porque você não
282
pode só nos ouvir! –, eu grito com uma mistura de
raiva e preocupação que me faz tremer quando a
seguro.
— Pare de se preocupar!- Ela late, suas mãos
tentando se afastar. — Eu não sou inválida!
Eu preciso convocar toda a minha força para não
gritar a minha frustração. Dirijo os meus olhos
desesperados para Miller e choco ao ver uma
expressão de raiva em sua face. Ele tem os lábios
apertados, que em circunstâncias normais teria que
me preocupar, mas agora só espero que me ajude
a controlar minha avó teimosa.
— Dê-me! – ele murmura impaciente removendo a
chaleira de suas mãos e colocando-a para baixo
antes de reivindicar minha avó. — E agora você vai
se sentar, Sra. Taylor.
Guia minha avó na frente de George e Gregory que
olham com expressão de espanto, ela senta em
uma cadeira. Olha para Miller em sua posição
sentada com os olhos desconfiados, enquanto
ergue-se sobre ela, desafiando-a a desafiá-lo. Ela
está sem palavras, sua boca cai aberta em choque.
Miller inspira profundamente e lentamente para se
acalmar. Em seguida, engata as pernas das calças
um pouco até a coxa e ajoelha diante dela. Minha
avó continua olhando até que eles estão no mesmo
nível. Ele permanece em silêncio, como o resto de
nós.
— A partir de agora você vai fazer o que te
disserem-, começa Miller, e é rápido a levantar a
mão e colocar um dedo em seus lábios enquanto ela
inspira deixando escapar alguma insolência. — Ah-
ah - Miller corta antes de começar.
Eu não vejo o rosto, mas eu vejo como a cabeça se
inclina um pouco como um aviso, e estou
283
convencida de que também a mantém no lugar com
os olhos.
Miller lentamente remove o dedo com cuidado e
imediatamente ela franze os lábios, indignada.
— Você é um pouco mandão, né?
— Você não sabe o quanto, Sra. Taylor.
Minha avó olha me procurando... Eu não sei por
que, mas eu sei que estou dando algo a ela, mas eu
estou tentando tudo o possível para não. Minhas
bochechas estão vermelhas como um tomate, e eu
amaldiçoo meu rosto por me trair e me mexo
desconfortável sob seu olhar curioso.
— Senhora Taylor–, diz Miller em voz baixa, para
salvar o escrutínio de seus olhos enquanto ela volta
a atenção para ele. — Eu estou familiarizado com a
insolência das Taylor. – Ele aponta o dedo por cima
do ombro para mim, e me faz querer anunciar que
eu uso apenas em circunstâncias especiais, mas
abstenho-me com sabedoria. – Na verdade, eu me
acostumei com isso.
— Me sinto muito feliz por você-, murmura minha
avó com o nariz arrogante para o ar. — O que você
vai fazer? Me Chicotear?
Tusso para esconder o riso, e George e Gregory
fazem o mesmo. Ela é uma joia!
— Não é o meu estilo-, responde Miller levemente
sem cair nas provocações, que não é fácil, mas
incita mais as arestas dos comentários de minha
avó, o que faz com que o resto de nós estejamos
prestes a chorar de tanto rir.
Isso não tem preço, tanto quanto possível olho para
os olhos e George e Gregory, porque eu vejo o
momento em que eles começarão a se desdobrarem
de rir para ver suas próprias expressões de
diversão.
284
— Você sabe o quanto eu amo sua neta, Josephine?
Essa pergunta para instantaneamente o riso e o
rosto de minha avó suaviza instantaneamente.
— Eu tenho uma boa ideia-, diz ela em voz baixa.
— Bem, então me deixe confirmar isso a você -, diz
Miller formalmente. — Me dói como o inferno. -
Estou paralisada e vejo como o rosto de minha avó
se ilumina de felicidade atrás do ombro de Miller. —
Bem aqui. - Ele pega a sua mão e coloca-a na
camisa do terno em seu peito. — Minha doce
menina me ensinou o que é amar, e isso só me faz
amá-la ainda mais. Ela significa tudo para mim. Eu
não suporto vê-la sofrer ou triste, Josephine.
Eu permaneço silenciosamente em segundo plano,
como Gregory e George. Ele está falando com ela
como se estivessem sozinhos. Eu não sei o que isso
tem a ver com a minha avó ser obediente, mas
parece estar funcionando, e eu desconfio que tem
alguma relevância.
— Eu sei o que sente. -Murmura minha avó
forçando um sorriso triste. Acho que vou chorar. —
Eu também já senti isso.
Miller acena e estende a mão para tirar um cacho
cinza de sua testa.
— Olivia é apaixonada por você, minha cara
senhora. E eu também a aprecio muito.
Vovó sorri timidamente e Miller firma sua mão.
Estou convencido de que ele está fechando com
força.
— Você não é ruim.
— Me sinto feliz que esclarecemos as coisas.
— E tem uma bela bunda!
— Assim me disseram-. Ele ri, se inclina e a beija na
bochecha.
Eu me derreto por dentro de felicidade, quando
285
deveria estar rolando no chão de tanto rir de seu
comentário atrevido.
Miller nunca teve ninguém. Agora, não é só eu, mas
também tem a minha avó. E a extensão de sua
apreciação de repente é palpável. Ele ama minha
avó também. A outro nível é claro, mas seus
sentimentos por ela são intensos. Muito intenso, e
tem mostrado com cada palavra e cada ação desde
que voltamos de Nova York.
E agora ele se levanta e deixa minha avó sentada
com expressão sorridente e sonhadora.
— Olivia vai colocá-la na cama. Eu vou ajudar
Gregory a fazer o chá, George levará para o seu
quarto.
— Se você insiste...
— Eu insisto. – Miller olha para mim e está
interessado em ver meus olhos vidrados. — Venha!
Instantaneamente recupero a compostura e minha
avó levanta da cadeira, ansiosa para escapar da
presença desse homem maravilhoso antes que ele
me tenha chorando por toda a cozinha.
— Você está bem?- Eu pergunto quando saímos da
cozinha, caminho pelo corredor e subo as escadas,
passo a passo.
— Melhor do que nunca-, responde com sinceridade
completa.
Minha felicidade logo se transforma em medo,
porque eu sei o quanto eu quero enterrar minha
cabeça, só há uma coisa que eu não posso esconder
para sempre.
Gracie Taylor.
Eu ainda estou tentando me assimilar. Minha avó
não pode saber.
— Ele vai casar com você um dia – ela murmura
mais para si mesma puxando-me do meu devaneio
angustiado. — Ouça, Olivia. Eu nunca tinha visto um
286
amor tão rico e tão puro nas minhas oito décadas
de vida. – Ela sobe a escada com cuidado e eu sigo
e a seguro por trás, faz minha mente um turbilhão
de conflitos, sentimentos indescritíveis de alegria e
tristeza sombria. — Miller Hart te ama com todo seu
coração.
287
CAPÍTULO 16
Passei mais de uma hora assistindo minha avó
desfrutar de cada momento, ajudei a tomar banho e
aconchegar-se na cama. Eu seco e escovo seus
cabelos, eu a ajudo a colocar sua camisola e seguro
seus travesseiros antes de ajudá-la ir para a cama.
— Aposto que você está adorando isso-, diz
enquanto deita tateando ao redor. Senta-se, com
ondas perfeitas e cinzas agitando sobre seus
ombros quando ela fica confortável.
— Eu gosto de cuidar de você–, confesso, mas eu
me contenho e não acrescento que eu prefiro cuidar
dela quando ela realmente não precisa disso.
Eu quero que ela fique bem, que volte ao normal.
Ela pode ter recuperado o seu brilho, mas não me
engano, eu sei que isso não significa que ela esteja
recuperada.
— Não pense que eu vou deixar você voltar para o
mundo vazio em que você viveu antes do
aparecimento de Miller–, ela me diz mantendo seu
olhar nos lençóis. Faço uma pausa e agito quando
olha para mim pelo canto dos olhos. — Só para você
saber.
— Eu sei!-, e tento ignorar a sombra de dúvidas,
ameaçando a partir de um canto da minha mente.
Seria fácil me esconder, e não lidar com todo o
desafio que tenho pela frente.
— Eu avisei antes Olivia–, continua. Eu não gosto da
direção que essa conversa está tomando.
— Apaixonar-se é fácil. Manter-se firme para isso é
especial. Não acredite que sou burra o suficiente
para acreditar que tudo é perfeito. Eu vejo um
homem e uma menina apaixonados-, ela faz uma
288
pausa. — E eu vejo demônios ainda mais claros
habitando em Miller Hart.
Eu perco a respiração.
— Eu também posso ver o desespero. Ele não pode
se esconder de mim. – Me olha mais perto. Ainda
estou prendendo a respiração. — Ele depende de
você, minha querida. Para ajudá-lo.
Uma batida na porta do quarto me assusta e eu
corro para abrir a porta; minha mente corre e a
necessidade de escapar me faz entrar em pânico.
George olha para mim um pouco reticente com uma
bandeja nas mãos.
— Está tudo bem, Olivia?
— Sim! - eu digo estridentemente e me afasto para
deixá-lo passar.
— Você é capaz de receber visitas? Eu trouxe o chá.
— Leve-me para dançar, George!- Minha avó grita
atrás de mim fazendo George sorrir.
— Eu vou levar isso como um sim.– George entra
no quarto e seu sorriso torna-se mais amplo por ver
minha avó, limpa e já na cama. — Você está
espetacular Josephine.
Surpreende-me não ouvir um ar zombeiro ou uma
resposta sarcástica.
— Obrigado, George. -Minha avó aponta o criado-
mudo para depositar sua bandeja, o que ele faz
prontamente e com cuidado. — Vamos ver se o chá
está bom.
— Ninguém prepara um chá como você, Josephine-,
George diz com alegria quando adiciona açúcar nas
xícaras.
Observo por um momento quando saio pela porta e
sorrio para ver minha avó e George lhe dando um
tapa nas costas de sua mão e ele sorri todo feliz.
Ele está feliz de tê-la em casa e, embora ela nunca
vá admitir, também tem o prazer de ter George de
289
volta sob seu teto. A inversão de papéis fará discutir
mais do que o habitual.
— Eu vou estar lá embaixo-, digo antes de sair do
quarto, mas também não me dão a mínima atenção
e minha avó e George continuam dando instruções
em como preparar um bom chá. Tentativas pobres
em vão; ninguém faz chá como minha avó.
Deixo-os com sua comédia, desço as escadas,
aliviada por estar fora do radar de minha avó, e vou
para a cozinha. Miller está inclinando sobre o balcão
e Gregory está em uma cadeira. Os dois olham para
mim e eu me sinto como se estivesse sob um
microscópio, mas, embora isso seja muito
desconfortável, é melhor quando as mãos são
atiradas ao redor de seu pescoço.
Meu alívio desaparece logo, quando eu noto uma
preocupação no ar e rapidamente descubro o
porquê do olhar tão apreensivo.
Miller lhe disse sobre minha mãe. Meu mecanismo
de defesa é colocado em estado de alerta, pronto
para atirar no primeiro que decidir atacar meu
ponto de vista, mas depois de um longo e doloroso
silêncio, nenhum deles abre a boca. Eu decido
tomar as rédeas da situação.
E enterro minha cabeça como avestruz.
— Ela está descansando e George está com ela. -
Vou até a pia e mergulho minhas mãos em água
morna e sabão. — Ela parece animada, mas precisa
de pelo menos uma semana de descanso. – Eu lavo
e coloco os copos e as canecas no escorredor de
prato. Então agito minhas mãos na pia. — Não vai
ser fácil.
— Olivia! -Miller se aproxima de mim por trás. Eu
fecho meus olhos e deixo para remover a água em
vão. — Pare com isso.
290
Tira minhas mãos da pilha e começa a secá-las com
uma toalha, mas eu livro-me dele e pego um pano.
— Eu vou limpar a mesa-. Passo o pano úmido
sobre a mesa e Gregory se afasta ligeiramente.
Estou ciente do olhar desconfiado que ele joga para
Miller sobre meu ombro. — Eu preciso manter a
casa limpa e arrumada. – Minhas mãos trabalham
furiosas sobre a madeira, limpando a sujeira
inexistente. — Ela vai protestar e tentar limpar por
si mesma.
Mãos fortes fecham em torno de meus pulsos e me
impede de me mover.
— Já é suficiente.
Eu paro e meus olhos se ascendem no terno, seu
pescoço e seu queixo sombreado. Olhos azuis me
pregando na alma. Entendimento. Não preciso de
compreensão, o que eu preciso é que me deixe ir
com as minhas coisas.
— Não está pronto.
— Eu não quero expor você a mais sofrimento. – Ele
retira o pano de minha mão, dobro-o
cuidadosamente, enquanto eu agradeço em silêncio
e tenho um momento para recuperar a compostura.
— Vou passar a noite aqui, então eu preciso ir para
casa e pegar algumas coisas.
— Ok -, concordo, enquanto eu aliso meu vestido de
verão.
— Eu tenho que ir -, diz Gregory levantando-se e
estendendo a mão para Miller, que o aceita de
imediato e assente. É uma mensagem silenciosa
para o meu amigo se sentir seguro.
Em qualquer outro momento da troca de cortesias
me pareceria maravilhoso, mas não agora. É como
se eles tivessem se aliado, como um último recurso
para cuidar da donzela indefesa. Eles não estão
sendo educados, porque eles sabem que eu gostaria
291
de saber que eles podem chegar a gostar um do
outro. Eles estão fazendo isso por medo de
derrubar-me sobre a borda.
Gregory se aproxima de mim e me dá um abraço
que eu me esforço para retornar. De repente, eu me
sinto muito frágil.
— Eu te ligo amanhã, baby.
— Certo!- E me separo dele.
— Eu vou levá-lo até a porta.
— Ok!-, ele diz lentamente e vai para a porta da
cozinha, dizendo adeus a Miller com a mão.
Eu vejo a resposta de Miller ou qualquer
intercambio que é passado no meio do corredor.
— Ela é uma bombinha!-, George diz, rindo. Eu olho
para cima e vejo-o descer as escadas. Mas ele está
esgotado. — Vou deixá-la descansar.
— Você já vai, George?
— Sim, mas eu volto amanhã ao meio-dia em
ponto. Tenho as minhas ordens–, responde ao
chegar ao final das escadas com o peito arfando
com o esforço. –— Cuide bem dela –, faz o pedidos
me dando um aperto no ombro.
— Vou levá-lo para casa, George -, diz Gregory, que
aparece com as chaves na mão. Desde que você
não se incomode de compartilhar o assento com um
monte de ferramentas.
— Ha! Eu dividi o espaço com coisas muito menos
desejável durante a guerra, meu rapaz.
Gregory passa por mim rindo e abre a porta para
George.
— Eu espero que você me conte tudo ao longo do
caminho.
— Ele vai fazer seus dedos ondular!
Eles deixam a trilha, George lhe contará sobre a
guerra e Gregory ocasionalmente vai rir em
resposta. Eu fecho a porta e deixo o mundo
292
exterior, mas logo percebo que eu não posso fechar
a minha mente. Eu estou me enganado. Estar aqui,
cheirando a nossa casa, sabendo que minha avó
está segura, Miller circulando em torno de toda a
sua perfeição não está indo como eu esperava.
Chocantemente a exata conclusão de minha avó,
apenas está aumentando isso.
Ouço o tom distante do meu telefone e eu não
tenho pressa para pegá-lo. As pessoas que eu quero
falar ou estão aqui ou apenas à esquerda. Eu me
arrasto de volta para a cozinha; nenhum sinal de
Miller. Localizo a bolsa, enfio a mão dentro e tiro a
origem do som persistente. Rejeito uma chamada e
vejo que eu tenho seis, todas de William. O
desligo e coloco no fundo da bolsa, olhando para
ele.
Eu, então, olho para Miller. Está na sala de estar,
sentado num canto do sofá. Ele tem um livro na
mão. Um livro preto. Está altamente concentrado na
leitura.
—Miller!
Ele começa e fecha o livro enquanto eu me
aproximo a toda velocidade para tirá-lo.
— -Onde você conseguiu isso?– Pergunto,
segurando-o pelas costas com vergonha do mesmo.
— Ele estava preso do lado do sofá-. Ele aponta
para o fim do que tomou e eu me lembro de quando
eu joguei a leitura no sofá da última fez em que um
parágrafo me torturou. Como eu pude ser tão
descuidada?
— Você não deveria lê-lo–, fala sentindo como se
estivesse queimando sua mão, como se de uma
forma estranha estivesse voltando à vida. Forço-me
a parar de pensar sobre essas coisas antes de
capturar sua minha atenção. — Lembrando os
velhos tempos? – pergunto — Pensando em tudo
293
que você perdeu?
Lamento o meu ataque desprezível mesmo antes de
ver o rosto de Miller torcer com a dor. Foi um golpe
baixo e desnecessário.
Ele sentiu as minhas palavras. Eu estou sendo cruel
com a pessoa errada.
Ele se levanta lentamente, a sua altura normal a
expressão cai impassível. E ocupa-se por puxar as
mangas do paletó e endireitar a gravata. Estou
mudando em meus pés, procuro algo em meu
cérebro para me redimir. Nada. Eu não posso
removê-lo.
— Perdoe-me-. Abaixo a cabeça com vergonha,
resistindo à vontade de lançar o livro no fogo.
— Você está perdoada. -Ele responde com
sinceridade e eu caminho para ele.
— Miller, por favor!- Eu procuro agarrar seu braço,
mas ele se esquiva de mim, furtivamente
removendo-se do meu alcance. — Miller!
Ele se vira e me mantém afastada com seu olhar
feroz pousado em mim. Sua mandíbula está
pulsando, seu peito expandindo rapidamente. Eu
murcho com todos os ângulos e o cinzelado da
expressão em seu rosto, indicando seu estado
mental atual. Aponta-me o dedo.
— Nunca mais jogue isso na minha cara de novo –,
adverte começando a tremer diante de mim. —
Você está me ouvindo? Nunca mais!
Sai batendo a porta e deixando-me imóvel, com sua
raiva violenta. Ele nunca tinha se dirigido a mim
com tal intensidade. Parecia que ele queria me
quebrar em pedaços, e embora eu apostasse minha
vida que ele nunca colocaria a mão em mim, eu
temo por qualquer um que cruze seu caminho
agora.
— Foda-se!- Eu ouço os passos se aproximando
294
novamente trovejando maldição. Eu não me movo
do lugar, imóvel e em silêncio, até que ele entra
pela porta da sala. Mais uma vez me apontando o
dedo e agitando ainda mais do que antes. — Fique
aqui, está bem?
Não sei o que acontece. Seu pedido provoca algo e
levanto-me antes que ele possa parar e pensar
sobre os prós e contras de responder. Eu empurro a
mão com uma bofetada.
— Não me diga o que fazer!
— Olivia, não me provoque.
Não importa que não tenha nenhuma intenção de ir
a qualquer lugar, porque eu não quero deixar minha
avó sozinha. É uma questão de princípio.
— O que você tem!-Range os dentes.
— Pare de ser tão impossível! Você vai ficar aqui!
Meu sangue ferve e falo algo que me surpreendeu
tanto quanto Miller.
— Você sabia?
O pescoço de Miller se retrai em seus ombros e
franze a testa. — O quê?
— Você sabia que ela estava de volta!- Eu grito,
pensando o quão bem ele lidou com a situação. Não
foi nenhuma surpresa. Ele estava calmo, quando me
preparou para esse momento. — Quando pensei
que estava ficando louca você tirou a ideia de minha
cabeça, você sabia que ela estava de volta?
— Não. – Ele fica firme, mas não acredito nele. Ele
faria qualquer coisa para aliviar a minha dor. Não
tinha ninguém falando. Ted se esquivou. William me
evitou a todo custo até agora que sabemos com
certeza, e Miller praticamente jogou o telefone em
cima da mesa para cortar a conversa logo que
mencionei o nome de Gracie. E depois Sylvie
ligando, quando ela me disse que uma mulher
estava procurando por mim. Sua descrição se
295
encaixa perfeitamente com Sophia, mas também
com a minha mãe. A clareza é uma coisa
maravilhosa.
O sangue ferve em minhas veias.
— William! Você disse a ele para não me dizer,
certo?
— Sim! Eu disse! -Ele grita olhando para mim. — E
você sabe que eu não me arrependo! -Mantém meu
rosto firmemente com as mãos, quase mostrando
agressividade, e pressiona. Toca-me com a ponta
do seu nariz e seus olhos me pregam na alma. — Eu
não sabia o que fazer!
Eu não posso falar pela maneira que ele segura o
meu rosto não posso abrir a boca. Então eu sento e
deixo-me embriagar pela emoção; todo o stress,
preocupação e medo passam por minha auto-
vulnerabilidade. Ele só estava tentando me proteger
de mais sofrimento.
— Você não vai sair–. Ele examina o meu rosto,
seus olhos examinando cada milímetro, e embora
seja uma ordem, eu sei que ele quer que eu
concorde. Eu balanço a cabeça novamente. —
Bom!- Ele apenas diz e, em seguida, bate seus
lábios nos meus e me beija com força.
Quando ele me liberta, eu passo para trás e pisco
para a vida novamente, mesmo a tempo de vê-lo
desaparecer.
Fecha a porta com um estrondo.
Então eu choro como um bebê, tentando conter o
som para não acordar minha avó. É um absurdo; se
ela tivesse que acordar já teria feito com todos
esses gritos e todas as portas batendo. Sufoco,
meus soluços patéticos não vão acordá-la.
— Está tudo bem, senhorita Taylor?
Eu olho para cima e vejo Ted na porta da sala de
estar.
296
— Tudo bem. -Esfrego os olhos. — Estou cansada,
isso é tudo.
— É compreensível-, ele diz suavemente e me faz
sorrir um pouco.
— Você também sabia que ela estava de volta,
certo?
Ele balança a cabeça e olha para baixo.
— Não era meu assunto para compartilhar, querida.
— Então você sabia dela.
— Todo mundo sabe quem é Gracie Taylor-. Ele
sorri sem levantar os olhos do chão, como se
tivesse medo de olhar para mim e eu pedir mais.
Não vou fazer. Eu não quero saber.
— É melhor levantar a postura-. Ele aponta para o
meu ombro e quando ele finalmente olha para mim,
o rosto áspero parece surpreso.
— Eu sinto muito por ter desaparecido novamente.
Ele ri.
— Você está segura, é isso que importa-. Atravessa
a sala e se coloca ao lado da janela. Eu o olho por
um tempo e lembro-me o quão bem ele dirige. Eu
tenho que saber mais.
— Você sempre trabalhou para William?
—Vinte e cinco anos.
— O que você fez antes?
— Fui militar.
— Soldado?
Nenhuma resposta, apenas balança a cabeça, que
me diz que ele já me deu bastante conversa. Ted
olha para a esquerda e eu arrasto meu corpo
exausto escadas acima para o banheiro, com a
esperança de que um bom banho alivie as tristezas
da minha mente e meu coração, ao mesmo tempo
meus músculos doloridos. Os diferentes elementos
da pressão estão se tornando muitos, e ambos
297
estamos tentando levar tudo. Não vai demorar em
sermos esmagados.
Abro a torneira e estou em pé na pia, olhando para
o meu rosto desfigurado e olheiras que tenho sob os
olhos. Queria dormir e acordar daqui a cem anos e
assim todas as minhas preocupações tivessem
acabado. Suspirando, eu abro o armário espelhado
quando uma avalanche de cosméticos cai sobre
mim.
— Merda!- Resmungo pegando as garrafas e tubos,
uma por uma e coloco de volta no lugar. Estou
quase terminando, só falta o Tampax...
—Tampax.
Eu olho para a caixa. Tampax. Estou atrasada. Eu
nunca atrasei. Nunca. Eu não gosto da sensação do
nervosismo vibrando no estômago ou o pulsar de
sangue em seus ouvidos. Eu tenho que calcular
quando foi minha última menstruação. Três
semanas ou quatro atrás? Em Nova York, eu não
comprei. Merda.
Eu corro para o meu quarto e encontro a caixa vazia
da pílula do dia seguinte. Puxo a bula para fora, e
desdobro com dedos nervosos até que eles se
espalham ao longo da cama. Chinês. Alemão.
Português. Italiana.
— Não! Em qualquer linguagem que eu não posso
entender!- Eu grito virando-o e prendendo-o para a
cama. Passo vinte minutos lendo montanhas de
letras pequenas. Eu não entendo nada, apenas a
taxa de sucesso. Não há garantias. Algumas
mulheres, uma percentagem muito pequena
engravidou depois de tudo. Todo o sangue circula
em minha cabeça. Sinto tonturas e o quarto gira.
Rápido. Eu caio na cama e olho para o teto. Eu
estou com frio, estou suando e eu não posso
engolir.
298
—Merda...
Não sei o que fazer. Estou em branco,
completamente atordoada. Meu telefone! Volto para
a vida e para a cozinha a toda velocidade. Minhas
mãos desajeitadas se recusam a cooperar, meus
dedos estúpidos não batem nos botões.
— Maldita seja!
Chuto o chão e, em seguida, fico imóvel, tentando
conseguir ar em meus pulmões. Deixo sair, com
calma, e começo de novo. Consigo abrir o
calendário. Eu estou contando os dias uma e outra
vez; são mais do que o esperado, pensando que
com a loucura da vida que levei, eu posso ter
cometido um erro. Não é assim. Segundo a maioria
faz, o resultado é sempre o mesmo: eu tenho uma
semana de atraso.
—Merda.
Me deixo cair sobre o balcão, giro meu iPhone para
o meu alcance. Eu preciso ir a uma farmácia, eu
tenho que ter certeza. É possível que essa histeria
seja desnecessária. Olho o relógio na cozinha: já
passa das oito. Mas, com certeza, há uma farmácia
de plantão. Minhas pernas estão em ação antes de
meu cérebro. Já estou no corredor quando a cabeça
começa a correr e paro, para pegar a jaqueta jeans
no rack.
—Minha avó.
Perco o impulso. Eu não posso sair, não importa que
seja uma emergência. Eu não posso olhar no
espelho novamente se alguma coisa lhe acontecer
na minha ausência. Além disso, Ted está me
vigiando. Eu não acho que ele vá aguentar muito
mais brigas por causa de minhas tendências a
escapar antes de perceber que não vale a pena ser
demitido.
Solto a jaqueta, eu estou no degrau mais alto e
299
abaixo a cabeça para minhas mãos. Apenas quando
eu pensei que as coisas não podiam piorar, aparece
mais uma para adicionar à minha lista interminável
de merdas para lidar. Eu gostaria de me tornar uma
bola e me envolver em Miller como ele gosta, para
me proteger desse mundo abandonado por Deus.
Seu rosto bonito e reconfortante é desenhado em
minha mente e me envia sobre esse lugar seguro.
Em seguida, ele dissolve em raiva se manifestando
diante de sua fúria.
Eu não me importo, se eu disser, eu tenho certeza
que não gostaria de ouvir o que ele tem a dizer. Eu
gemo e esfrego o rosto com as mãos, tentando
apagar... tudo. Eu sou uma idiota. Uma idiota de
primeira classe. Uma idiota que vive enganada e
deve enfrentar todo acontecimento ao seu redor e
descobrir a renomada insolência das meninas Taylor
para lidar com isso. O que aconteceu com a vida
tranquila? Miller está certo: eu não sou capaz de
lidar.
300
CAPÍTULO 17
Meus sonhos são sonhos. Eu sei por que tudo é
perfeito: Miller, minha avó, e eu... vida. Conteúdo
para permanecer imersa em meu mundo de ilusão,
e eu me enrolo um pouco mais, gemo de prazer e
abraço o meu travesseiro. Tudo é brilhante. É tudo
muito leve e colorido e embora eu saiba que o que
me envolve é uma falsa sensação de segurança, eu
não acordo.
Eu estou à beira do sono e da vigília, tentando
conseguir mais em meus sonhos, tudo para atrasar
um pouco mais o fato de ter que enfrentar a difícil
realidade. Eu sorrio. Tudo é perfeito. Gracie Taylor.
Ela se junta a mim em meus sonhos, ela deixa a
sua marca e é impossível me livrar dela. Eu acordo
imediatamente.
De repente, tudo está escuro.
Tudo está desligado.
— Não!- Eu grito, irritada por ter interrompido a
única paz que eu poderia encontrar no meu mundo
de tribulações. — Saia!
—Olivia!
Levanto-me como um relâmpago, ofegante, e viro a
cabeça, olhando para ele. Miller está sentado ao
meu lado de cueca, desgrenhado e preocupado.
Ombros caídos, metade aliviado, metade irritado.
Aliviado por estar aqui e irritado sobre ser acordado
em alerta. De volta ao mundo real. Suspiro e afasto
o cabelo do rosto.
— Foi só um sonho mal. - Ele se aproxima, me
cerca, recolhe o meu corpo em seus braços e me
segura em seu colo.
— Eu não consigo ver a diferença. – Eu suspiro em
seu peito e hesito por um momento. Eu estou sendo
301
honesta com ele. Não noto a diferença entre
pesadelos e realidade e ele precisa saber.
Eu sei, mas eu suponho que ele está ciente do que
eu estou passando, porque ele está vivendo comigo.
Quase tudo. Me desperta cada vez mais e eu
começo a ficar alerta, lembrando o que aconteceu
na noite passada depois que ele me deixou: posso
estar grávida. Mas há algo mais importante do que
bloquear a minha preocupação.
— Minha avó. – Tento levantar, apavorada.
— Ela está ótima -, ele me tranquiliza me abraçando
mais apertado. — Estava deitada no sofá. Eu servi
uma refeição para ela e dei a medicação.
— Realmente? E estava de cuecas?
De repente, tudo o que vejo é minha avó sendo
servida por Miller usando apenas a boxer. Eu teria
gostado de vê-los através de um buraco.
Certamente minha avó teve paciência com ele,
enquanto olhava para sua bunda.
— Sim. – Me beija na cabeça e com uma respiração
profunda, inala o perfume suave do meu cabelo.
— Você também precisa descansar, minha doce
menina. Eu voltei e encontrei você dormindo na
escada.
Eu começo a me livrar de seus braços, mas logo
desisto quando seus braços me bloqueiam mais
apertado. — Miller, eu tenho que ir ver minha avó.
— Eu te disse ela está bem.
Luta comigo até que ele me tem onde quer,
montada em seu colo. É muito reconfortante ele
mexendo no meu cabelo, e ainda mais por seu
redemoinho indisciplinado me pedindo para ser
colocado no lugar. Eu suspiro e o tiro de sua testa.
Erguendo minha cabeça eu pergunto com espanto
quando minha memória refresca de todos os traços
bonitos de Miller Hart. Eu ri.
302
— Eu preciso de você agora -, ele sussurra, fazendo
com que meus dedos percorram seu peito nu. — Eu
quero “o que eu mais gosto”-, ele diz em voz baixa.
— Por favor.
Eu abraço e envolvo-o com todo o meu ser. Meu
rosto procura por o conforto do pescoço dele,
enquanto ele fecha sua mão na minha nuca,
segurando-me no lugar. — Perdoe-me. murmuro
pateticamente. — Desculpa por ser tão odiosa.
— Eu já perdoei você.
Algumas lágrimas silenciosas escorrem pelo meu
rosto e pescoço. A culpa está me matando. Ele tem
sido ótimo, tem estado atento, tem nos protegido e
tem nos ajudado, minha avó e eu. Eu não tenho
nenhuma desculpa.
— Eu te amo.
Afasto-me de seu peito e muito lentamente eu
enxugo as lágrimas.
— E eu amo você. – Sem códigos ou frases
alternativas ou ações. Simplesmente entrega. — Eu
não posso ver você triste, Olivia. Cadê a insolência
que tanto amo?
Eu sorrio, pensando que muito provavelmente não
está falando a sério. — Eu joguei fora -, admito.
Muita energia é necessária para ser petulante ou
corajosa ou o que ele quiser chamá-la. Sinto-me
exausta, as únicas sucatas disso deixei reservada
para cuidar de vovó e certificar-me de que Miller
sabe como eu o amo. Todo o resto pode ir para o
inferno.
— -Não, não. Temporariamente você perdeu coisas,
isso é tudo. Precisamos recuperá-las novamente-.
Ele me dá um sorriso encantador que ilumina o meu
escuro por um momento. — Eu preciso de você
forte e para mim, Olivia.
303
Minha mente atolada em problemas, agora eu me
sinto culpada. Ele tem sido forte para mim. Ele ficou
por mim, apesar de todos os meus traumas. Eu
tenho que fazer o mesmo para ele. Nós ainda temos
que lidar com os problemas de Miller, que também
são meus, porque só agora que nós existimos. Mas
Gracie Taylor acrescenta uma nova dimensão ao
nosso mundo louco. E agora mim menstruação está
atrasada.
— E aqui estou eu para você-, afirmo. — Sempre.
— Às vezes eu duvido.
Minha culpa se multiplica por um milhão.
Recomponha-se, digo a mim mesma. Isso é o que
eu faço. Os problemas não vão desaparecer, não
importa o quanto ignorá-los.
— Eu estou aqui.
—Obrigado.
— Não me agradeça.
— Sempre vou ser grato, Olivia Taylor.
Eternamente. Você sabe. –Pega a minha mão e
beija o meu diamante.
— Eu sei.
— Fico feliz.
Me dá um beijo no nariz, o outro na boca, na
bochecha, depois outro e outro antes de cobrir o
meu pescoço com beijos.
— Tempo para tomar um banho.
— Me conceda a honra de me acompanhar?– Eu
aperto o cabelo em minhas mãos, sorrindo quando
ele faz uma pausa e puxa lentamente da minha
garganta.
— Te adorar no chuveiro minúsculo? - Assinto, em
êxtase ao ver o brilho brincalhão em seus
penetrantes olhos azuis.
É a mais bela visão do mundo.
304
— Quanto tempo você acha que sua avó vai
levantar do sofá, ir para a cozinha, olhar para a
maior e mais mortal faca e subir a escada?
Eu sorrio.
— Em circunstâncias normais, menos de um minuto.
Mas agora, eu estimo que cerca de dez minutos, se
der ao trabalho de subir.
— Então nós vamos.
Eu rio. Me pega e caminha em direção à porta em
alta velocidade. Eu não preciso saber quanto.
— Você não quer desrespeitar a minha avó-,
lembro-lhe.
— O que ela não sabe não vai machucá-la.
— Nós não podemos fazer barulho.
— Tomando nota.
— Você não pode me fazer gritar seu nome.
— Tomando nota.
— Temos de estar alerta para escutar vovó.
— Tomando nota.
Abre e feche a porta do banheiro com um pontapé.
Ele não tomou conhecimento de nada.
Eu sou colocada nos meus pés, e o chuveiro é
ligado. Eu não uso qualquer roupa e a cueca boxer
cobre os quadris deliciosos de Miller. Em poucos
segundos, nós dois estamos nus.
— Entre. – Indica com sua cabeça para coincidir
com suas palavras, um elemento de urgência para
sua abordagem. Ele não me incomoda um pouco
Meu desespero está crescendo a cada segundo
doloroso que abstém-se de tocar-me.
Entro no chuveiro, na água quente, e espero.
E eu espero.
E eu espero.
Ele está de pé olhando para mim, seus olhos
vagueiam pelo meu corpo nu molhando lentamente.
Mas eu não me sinto desconfortável. Em vez disso,
305
eu uso o tempo para beber em cada peça perfeita
dele, cada centímetro de seu corpo perfeito
murmuro para mim mesmo como que ele pode ser
mais perfeito a cada dia. Seus hábitos obsessivos
estão mostrando sinais de diminuir, ou talvez eu
tenha me acostumado a coisas que eram muito
óbvias antes. Ou talvez nos encontramos em algum
lugar médio que não estamos percebendo.
Provavelmente porque somos tão consumidos um
pelo outro, e quando não estamos, nós estamos
enfrentando obstáculos.
Mas uma coisa eu sei muito bem. A única coisa que
é indiscutível: Estou loucamente apaixonada por
Miller Hart.
Meus olhos trabalham em suas pernas bem
torneadas procurando até encontrar, sem hesitação,
seu pênis duro e pés perfeitos. Vou mais alto, pelo
resto de seu corpo: seus abs cinzelados, seu
peitoral firme, aqueles ombros fortes e... seu rosto
perfeito, os lábios, os olhos e, finalmente, os cachos
de seu precioso cabelo. Poderia, mas não vou fazê-
lo. Eu também sou fascinada pela sua perfeição.
— Terra para Olivia. – Sua voz rouca contradiz a
doçura da sua voz. Eu finalmente deixo meus olhos
se deliciarem com o resto. Eu não tenho nenhuma
pressa para chegar àqueles incríveis olhos azuis que
me capturou a primeira vez que eu o encontrei.
—Finalmente.
Eu sorrio e eu chego para ele.
— Vem comigo. – Eu digo sem fôlego, desesperada.
Pega minha mão e nossos dedos acariciam e
brincam um tempo. Continuamos assistindo. Miller
os entrelaça com firmeza. Ele entra no chuveiro e
fica em torno de mim, me dando mais opções que
eu tenho de ir de volta para trás contra os azulejos
306
frios. Me olha de cima, olhos fixo nas profundezas
de mim.
Levanta nossas mãos e cruza na parede acima da
minha cabeça. Em seguida, desliza a mão livre na
parte de trás da minha coxa puxando com firmeza.
Eu levanto a minha perna e envolvo-o em torno da
cintura, puxando-o para mim. Minha boca está
entreaberta e Miller faz o mesmo. Ele se dobra e
esfrega os narizes.
— Diga-me o que você quer, minha doce menina-.
Seu hálito quente acaricia meu rosto e ele libera
uma potência de desejo que corre nas minhas veias
e se torna precisa.
— Você!- Fecho os olhos enquanto sua boca fecha
sobre a minha.
E toma o que é dele.
307
CAPÍTULO 18
Vovó parece bem. Mas, vê-la sentada em silêncio ao
lado da mesa da cozinha com uma xícara de chá em
suas mãos, eu me preocupo um pouco. Eu esperava
encontrar se mexendo na cozinha, apesar de ser
dito que ela tem que descansar. Minha avó nunca
foi boa em fazer o que lhe é dito.
— Bom dia!– digo alegremente sentando ao lado
dela e colocando uma xícara de chá.
— -Eu não me incomodaria -, responde minha avó
para a minha saudação. Não é um "Olá" ou um
"bom dia".
— Com o que?-
— Com o chá-. Enruga o nariz para farejar seu copo
e torcer o gesto. — Tem gosto de mijo de gato-.
O bule atinge a borda do copo em que tento servir o
chá e Miller desata a rir do outro lado da cozinha.
Eu olho para ele com desconfiança. Está divino em
um terno de três peças cinza carvão vegetal, camisa
azul clara e gravata a combinar. Ele parece
delicioso, todo preparado, e pelo que parece tão
bem vestido, pronto para ir para o trabalho.
Perfeito. Eu olho em seus olhos e sorrio.
— É uma joia. Tem um tesouro de vinte e quatro
quilates de ouro, bem aqui.
Eu fico séria. Ele sabe, mas passa sobre meu
sarcasmo e se senta com a gente.
— É muito gentil de sua parte, senhorita Taylor.
— Como estava o chuveiro?– vovó diz e o maldito
chá quase cai. Eu tenho certeza que devo ter
rachado a xícara. Eu olho para ela com os olhos
arregalados e encontro aquele sorriso endiabrado
em seus lábios. A sirigaita!
308
— -Quente!-, diz Miller pronunciando cada sílaba
lentamente. Agora é a ele que eu olho com os olhos
arregalados. Ele está lutando contra um sorriso,
esses dois são intoleráveis, quando colocado juntos.
Mas eles também são adoráveis e muito carinhosos
um com o outro.
— Você devia ter tido Olivia para te mostrar como
funciona o botão de temperatura.
Eu olho para minha avó. Ela está brincando com a
alça da xícara cuidadosamente, se fazendo de
inocente. É incorrigível!
— Eu fiz! Miller responde casualmente, imitando os
gestos de minha avó com sua própria xícara.
—Eu sabia -, suspira minha avó. — Diabinho!
Eu desisto deles, balançando a cabeça. Nenhum
deles está tomando qualquer aviso de meu evidente
choque e meu pescoço está doendo. Eu me inclino
para trás na cadeira e os deixo continuar seu jogo,
enquanto eu sinto uma sensação agradável. A
vendo tão viva, está fazendo maravilhas para o meu
estado de espírito.
Miller pisca para minha avó com um sorriso
deslumbrante que sabota suas tentativas de ficar
mal.
— Desculpe-me, Sra. Taylor. Desculpe-me por amá-
la ao ponto de ser doloroso quando eu não estou
tocando nela.
— Diabinho. – Minha avó repete suavemente, com
seus cachos acenando abaixo das orelhas quando
balança a cabeça. — Você é um diabo.
— Podemos terminar com essa história?- Eu
pergunto, tomando meu cereal. — Ou eu me
acomodarei para apreciar o show?
— Terminado-, ele diz tomando a liberdade de
colocar o leite em meus cereais. — E você, senhora
Taylor?
309
— Sim, tudo pronto -, ela diz dando um gole em seu
chá e fazendo uma careta de desgosto. — Você é
como o queijo, Miller Hart, mas faz um chá terrível.
— Eu concordo -, eu adiciono e levanto meu copo e
coloco em frente ao meu rosto. — É horrível. Tão,
tão ruim.
— Observado!–, ele resmunga. — Eu nunca disse
que era um especialista em fazer chá-, o sorriso
pernicioso retorna para o seu rosto e tenho que
largar o meu copo devagar, com cautela. — Me
pergunte sobre adorar-, ele sugere
Eu engasgo com os cereais, que rapidamente atrai a
atenção de minha avó.
-— Huummm... - ela diz com seus olhos azuis me
perfurando. — -O que é adoração?
Eu me recuso a olhar e olho para minha tigela.
— Eu sou muito bom nisso-, declara Miller com
petulância.
— Quer dizer sexo?-
— Senhor, dai-me forças!– eu pego minha colher e
mergulho em meu prato, e levo à boca uma boa
colherada de café da manhã.
— Eu chamo de adoração.
— Então você realmente adora o chão que ela anda,
minha avó pergunta sorrindo.
— -Sim, eu realmente faço.
Eu quero morrer e eu rezo para que a providência
divina intervenha e me salve. Eles são impossíveis.
— Parem, por favor -, eu imploro.
—-Tudo bem -, eles falam, em uníssono, sorrindo
como um par de idiotas.
— Bom. Eu tenho que ir ao supermercado.
— Mas eu gosto de fazer as compras-, protesta
minha avó. Uma amostra do que me espera. —
Você vai trazer tudo errado.
310
— Então me dê uma lista-, respondo resolvendo o
problema de imediato. — Você não vai sair dessa
casa.
— Eu vou te levar Olivia-, diz Miller colocando o
açúcar um pouco mais para a direita e ordenando
um pouco mais para a esquerda. — E isso não está
em discussão. – Acrescenta com um olhar de aviso.
— Eu vou estar bem-, digo, não recuando. Eu posso
obter o tom que ele usa ou o que ele parece
lembrar. — Você pode ficar aqui com vovó.
— Eu tenho que ir para o Ice.
Eu olho, e eu sei que não vai funcionar realmente.
— Pelo amor de Deus! Eu não preciso de ninguém
para ficar aqui para cuidar de mim-, minha avó
resmunga.
— Lamento discordar!- Eu estou saindo. Já é ruim o
suficiente ser vigiada por Miller. Eu não precisava da
minha avó também.
— Ela está certa, Sra. Taylor. Você não deve ser
deixada sozinha.
Adoraria ver minha avó dar-lhe um olhar de
advertência idêntico ao que me jogou, e ainda ver
vovó discutindo.
— -Tudo bem-,ela murmura. — Mas você não pode
me manter trancada para sempre.
— Apenas até se sentir apta-, eu a acalmei. Eu
mostro o meu apreço pelo apoio de Miller com um
rápido aperto de joelho debaixo da mesa, que ele
ignora, surpreendendo-me.
— Vou levá-la para fazer as compras -, levanta-se
da mesa e pega um par de pratos.
Essa apreciação desaparece num piscar de olhos.
— Não, você vai ficar aqui com minha avó.
— Não, eu vou levá-la ao supermercado-, responde
sem fazer atenção à advertência expressa a minha
311
ordem. — Eu conversei com Gregory. Ele e Ted
estarão aqui em breve.
Eu desabo na cadeira. Vovó bufa chateada, mas
permanece em silêncio, e Miller acena sua
aprovação em seu próprio anúncio. Tem tudo
planejado. Não gosto. Eu não posso comprar um
teste de gravidez com Miller em meus calcanhares.
Merda...
312
Eu começo a formar um plano na minha cabeça,
tramando e planejando descobrir a melhor forma de
pegar alguns momentos sozinho no supermercado
para comprar o que eu preciso, e colocar minha
mente em repouso ou enviá-la em uma pirueta mais
rápida. Há apenas uma maneira.
Estacionamos o carro no parque, e mergulhamos no
caos do supermercado. Nós andamos pelos
corredores, eu armada com uma lista que nos foi
dada pela minha avó, e Miller olhando todo
estressado. Só posso concluir que o caos entorno de
nós foi a causa. Existem carrinhos abandonados em
todos os lugares e nada e as prateleiras estão uma
bagunça. Estou morrendo de rir por dentro e eu
aposto que ele está se controlando para não
arrumar. Mas seu celular toca no interior de seu
bolso ele olha para a tela, franzindo a testa mais do
que nunca e rejeita a chamada. Eu acho que o caos
no Tesco não é a única coisa que o incomoda. Eu
não pergunto quem está chamando porque não
quero saber. Na verdade, eu estou traçando nossa
separação.
— Eu tenho que pegar algumas coisas para minha
avó na seção de higiene pessoal-, eu digo fingindo
com todo o meu ser que não é importante. Pegue a
lista e termine de pegar o que está faltando.
Eu dou a lista, a que eu adicionei alguns itens que
eu conheço que estão na outra extremidade do
supermercado.
— Nós iremos juntos-, diz sem hesitação,
estragando meus planos.
—Vai ser mais rápido se nos separarmos-, eu digo
de improviso. —Eu sei que você odeia esse lugar.
Eu uso o seu desconforto e começo a andar antes
que ele possa abrir a boca, ocasionalmente, olhando
para trás para me certificar de que ele não me siga.
313
Ele está olhando a lista com a mais terrível carranca
do mundo.
Eu viro o corredor e continuo caminhando
rapidamente, olhando para os cartazes dos
corredores procurando o que eu quero. Eu apenas
tomei um momento para chegar ao corredor correto
e começo a procurar caixa após caixa de testes de
gravidez ... cada um com seu próprio lacre de caixa
individual, uma medida de segurança idiota.
— Genial-, murmuro e pego o primeiro que garante
resultados rápidos e precisos. Eu pego, inspeciono
os desenhos, enquanto eu comecei a andar
novamente e, em seguida, choco contra alguma
coisa.
— Desculpa!–, exclamo enquanto a caixa cai de
minhas mãos. A embalagem salta fora criando um
barulho estrondoso. Há um par de pés que não
conheço. Eu não gosto do arrepio que percorre
minha espinha ou a sensação de vulnerabilidade
que vem em cima de mim de repente.
— Sinto muito-. O homem tem voz elegante e veste
um terno caro. Ele se abaixa para pegar a caixa
antes que eu possa ver seu rosto e fica agachado
olhando para o teste de gravidez. Eu não vi seu
rosto, apenas sua cabeça enquanto ainda está
agachado a meus pés. Definitivamente não
reconheço os cabelos grisalhos, mas algo me diz
claramente que ele me conhece. Ele tinha toda
intenção de estar nessa lugar comigo de propósito,
um salão cheio de artigos de higiene feminino.
Ele pode estar em um supermercado, com as
pessoas em todos os lugares, mas a sensação de
perigo é palpável no ar.
O estranho levanta-se e eu vejo seu rosto. Olhos
negros mostrando todos os tipos de ameaças. Uma
cicatriz corre ao longo da bochecha esquerda para o
314
canto dos lábios, que são finos e desenhando um
sorriso falso que acentua a cicatriz. É um sorriso
que tenta me dar uma falsa sensação de segurança.
— -Eu acho que isso é seu. Diz estendendo a mão
para a caixa e eu forço minhas mãos a parar de
tremer antes de pegar. Eu sei que falhei quando
levanto uma sobrancelha, apesar de pegar a caixa,
ele não se deixa ir. Ele está verificando o quanto eu
me arrepio.
Meus olhos caem, porque eu não posso mais
suportar a dureza do seu.
— Obrigado. – Eu engulo o medo e tento continuar,
mas ele bloqueia a passagem. Limpo minha
garganta, qualquer coisa para conseguir a
segurança que eu tão desesperadamente preciso
para enganá-lo. — Licença. – Desta vez eu passo
para o outro lado e ele faz o mesmo com uma
risada sinistra.
— Aparentemente, não vai a lugar nenhum, certo?–
ele se move ficando muito perto de meu espaço
pessoal, que dobra o meu nervosismo.
—Não–, tento me esquivar novamente, e
novamente bloqueia meu caminho. Eu respiro fundo
e me forço a olhar para cima até que meus olhos
dão com seu rosto.
É a própria imagem do mal. Emana por todos os
seus poros e faz-me instantaneamente esgotada.
Ele sorri e estende a mão, e pega uma mecha do
meu cabelo e torce entre dedos. Eu congelo,
paralisada de terror.
Ele emite um som... sinistro... pensativo de mau
presságio. Em seguida, ele se inclina e coloca sua
boca em meu ouvido.
— Querida-, sussurra. — Finalmente nos
encontramos.
Eu salto de volta em um suspiro, minha mão
315
voando para o meu cabelo e o escovo, afastando os
vestígios da sua respiração, enquanto ele fica
ligeiramente inclinado, com um sorriso diabólico nos
cantos dos lábios me estudando cuidadosamente.
— Olivia?- Alguém me chamou de longe, em um
tom de preocupação e viu o estranho, olhando por
cima do meu ombro e aquele sorriso perverso se
torna maior. Eu me viro e eu fico sem ar nos
pulmões, por ver Miller caminhando na minha
direção. É muito grave, mas seus olhos refletiam
uma acumulação de emoções: alívio, medo,
cautela... raiva.
— Miller-, sussurro. Minha energia fluindo através
de meus músculos mortos, e minhas pernas entram
em ação e percorre a distância que me separa de
seu peito, ao qual me agarro com toda a minha
força. Ele está tremendo. Agora todos gritam
"perigo!".
Miller repousa o queixo no topo da minha cabeça e
me segura com um braço contra seu peito, e há um
silêncio de pedra em meio a campanha publicitária
de atividade em torno de nós, mas estamos presos
em uma bolha e ninguém, exceto os três de nós
estão cientes do perigo e hostilidade poluindo o ar
do supermercado. Não tenho que olhar para saber
que ele ainda está atrás de mim. Eu posso sentir
sua presença bem como posso sentir Miller tentando
espremer algum conforto dentro de mim. A dureza
dos músculos tensos do Miller contra mim é uma
pista. Então eu permaneço escondida na minha
zona de conforto.
Eu sinto Miller relaxar um pouco, e eu arrisco uma
espiada, olhando por cima meu ombro. O homem
está passeando no corredor, suas mãos
descansando casualmente nos bolsos de sua calça,
navegando nas prateleiras como se ele frequentasse
316
o supermercado diariamente. Mas tal como Miller,
ele parece fora do lugar.
— Você está bem?- Miller pergunta afastando-se um
pouco e estudando meu rosto lívido. —Ele fez
alguma coisa?
Eu balanço minha cabeça, pensando que seria louca
de dizer qualquer coisa que explodisse minha
bomba humana. Nem eu acredito que é preciso.
Miller sabe quem é o homem, sem eu ter que dizer
nada.
— Quem é?- A questão do “eu não quero saber a
resposta” e, a julgar pela expressão de dor de
Miller, é claro que ele não vai me dizer. Ou
confirmá-la. É o bastardo imoral.
Eu não tenho certeza se Miller nota que eu cheguei
a essa conclusão ou simplesmente não quer
esclarecer alguma coisa, mas a minha pergunta não
recebe uma resposta e rapidamente pega o telefone
do bolso. Aperta um botão e em poucos segundos
fala com alguém do outro lado.
— O tempo acabou-. É tudo o que ele disse antes de
desligar e segurar minha mão.
Mas ele pra sua urgente sequência de movimentos,
quando algo chama sua atenção.
Alguma coisa que está na minha mão.
Cada osso derrotado de meu corpo desiste de mim.
Eu não faço o menor indício de esconder. Eu não
tento me desculpar ou inventar nada.
Está inexpressivo, olhando por um século a caixa
antes de levantar seus olhos azuis vazios em meus
olhos lacrimejantes.
— Oh meu Deus!-, exclama e levanta a ponta do
polegar e do indicador de encontro à sua testa.
Fecha os olhos com força.
317
— Acho que a pílula do dia seguinte não funcionou-.
Eu sufoco sobre minhas palavras, eu sei que não
preciso dizer mais nada por agora e ele não pede.
As mãos pelos cabelos, ele está empurrando os
cachos do rosto e incha as bochechas. Gestos de
abalo.
—Porra!
Eu faço uma careta quando ouço a maldição. Agora
os nervos tomam o lugar do medo.
— Eu não queria dizer nada até que eu tivesse
certeza.
— Merda! Miller me agarra pelo pescoço e me
empurra pelo corredor, onde o carrinho nos espera
cheio de compras. Ele lança, descuidadamente, a
caixa de teste no carrinho, e empurra o carrinho
com a mão livre, nos levando para os caixas.
Meus movimentos são automáticos, meus músculos
trabalhando sem instrução, talvez apreciando a
situação delicada ou o estado explosivo de mau
humor de Miller. Estou colocando as coisas na
correia transportadora, olho em silencio e
desconfiada enquanto Miller reposiciona tudo como
ele gosta.
Eu vou para o outro extremo para embalar em
sacos, mas sou poupada dessa tarefa, também,
quando Miller ocupa a posição ao meu lado e
começa a remover e reembalar tudo.
Eu cruzo meus braços e deixo-o continuar. A
mandíbula treme de vez em quando, enquanto seus
movimentos da mão, rápidos e precisos, classificam
os itens em sacos, em seguida, colocamos no
carrinho. Ele está tentando restaurar alguma calma
em seu mundo ruído.
Depois de pagar a quantia para o caixa, o que ele
adora, empurramos o carrinho e ele me e conduz,
com mão firme, para a saída dos limites do
318
supermercado. Mas o mal-estar de Miller não
desaparece, e agora eu não sei por que, se foi pela
surpresa da minha notícia ou pelo homem sinistro e
sua visita inesperada.
Só de pensar nisso eu começo a olhar em todas as
direções.
— Ele se foi-, diz Miller quando chegamos ao seu
carro. — Entre!
Faça o que diz, sem pensar, e deixo Miller guardar
os sacos no porta-malas. Sem demorar muito,
deixamos o estacionamento zumbindo e estamos na
estrada.
O ar é irrespirável, mas não há como escapar.
— Aonde vamos?-, pergunto, de repente
preocupada que ele planeje não me levar para casa.
— Para o ICE.
— E quanto a minha avó? Eu falo com calma. —
Você pode me levar para casa primeiro.
Não tenho nenhum desejo de acompanhar Miller ao
Ice. Prefiro começar com meu passatempo favorito
de tarde e enterrar a cabeça um pouco mais.
— Não-, responde resolvido, não deixando espaço
para negociação. Eu conheço esse tom. Eu sei que
essa é a forma de agir. — Não podemos perder
tempo, Olivia.
— Cuidar de minha avó não é perca de tempo!
— Gregory cuidará dela.
— Eu quero cuidar dela.
— E eu de você.
— O que isso significa?
— Isso significa que agora não tenho tempo para a
sua impertinência. – Faz uma curva acentuada para
a direita e canta os pneus para uma rua lateral. Isso
não vai resolver a menos que eu resolva.
319
Meu coração bate no peito. Eu não gosto da
determinação do aviso nas endurecidas
características de seu rosto e em sua voz profunda.
Eu deveria me sentir aliviada vê-lo tão determinado
a consertar as coisas. O problema é que eu não
tenho certeza de como ele vai fazer isso, mas uma
pequena voz na minha cabeça me diz que eu não
vou gostar. E por onde vai começar? Dê-me cinco
minutos e eu vou listar toda a porcaria com que
lidamos, mas, depois, teria de enfrentar o nosso
problema sempre: qual é a prioridade? Algo me diz
que minha gravidez pode levar a lista. Ou o
reaparecimento de minha mãe.
Não. Parece que o nosso encontro com esse tipo
sinistro vem em primeiro lugar na nossa lista de
merda pendente. O bastardo sem moral. O homem
que Miller vai me esconder. O homem que tem a
chave para a cadeia de Miller.
320
CAPÍTULO 19
É a primeira vez que eu vejo o Ice completamente
vazio.
Miller, senta-me em um banquinho e me coloca de
frente para o bar antes de fazer sua volta em torno
e pegar um copo de espumante de uma das
prateleiras de vidro. Ele o bate para baixo com
força, aproveita uma garrafa de uísque e derrama o
copo até a borda. Então, toma toda a bebida,
jogando a cabeça para trás. Lentamente, ele se vira
e lança contra o bar, olhando para o copo vazio.
Parece derrotado e que me assusta o inimaginável.
—Miller?
Fica um bom tempo concentrado em seu copo,
antes de olhos azuis atormentados encontrarem o
meu olhar.
— O homem do supermercado era Charlie.
— O Bastardo imoral-, eu digo com a intenção de
que ele saiba que eu entendo. Ele é exatamente
quem eu temia, ainda que minha conclusão sobre o
homem tenha sido pelo o que Miller falou dele. Não
lhe fez justiça. Ele é assustador.
— Por que não permite que você saia? - pergunto.
-Porque quando você está em dívida com Charlie
você está em dívida para toda vida. Se ele te faz
um favor, você o paga para sempre.
— Ele te tirou das ruas há anos! – eu deixo escapar.
— Isso não justifica a sua dívida com ele por toda a
vida. Ele tornou você em um prostituto, Miller! E
então, te promoveu a “special one“!- Estou com
tanta raiva que eu quase caio para fora do banco.
— Isso não está certo!
— Ei, Ei, Ei... – ele rapidamente deixa o copo vazio,
no bar e se coloca ao meu lado. Ele faz isso com
321
facilidade e elegância e seus pés pousam
calmamente em minha frente. — Acalme-se.
Tenta apaziguar a minha raiva. Ele leva o meu rosto
com as mãos e levanta-o para os meus olhos cheios
de lágrimas. — -Não há nada na minha vida que
tenha sido boa, Olivia.
Me abre as coxas com o joelho e se aproxima.
Levanta meu rosto para que os nossos olhos não se
separem, embora não ao nível que me leva.
— Eu sou uma porra de bagunça, minha doce
menina. Nada pode ajudar. Meu clube e eu somos a
mina de ouro para Charlie. Mas não é apenas o
benefício para mim ou que o ICE seja conveniente
para seus negócios. É uma questão de poder e
princípios. Se você der sinal de fraqueza, o inimigo
o terá pelas bolas. – Respira profundamente
enquanto eu assimilo tudo. — Eu nunca pensei em
desistir porque eu nunca tive um motivo para fazê-
lo-, continua. — -E ele sabe disso. E ele sabe que se
o fizesse,
seria por uma boa razão. Ele franze os lábios e
lentamente fecha os olhos, um gesto geralmente
fascinante, compensador. Mas não hoje. Hoje é
apenas adicionado a uma hesitação, mas piora as
coisas porque eu sei que está piscando e respirando
profundamente em uma tentativa de reunir forças
que ele precisa para dizer o que ele vai dizer em
seguida. Quando ele reabre os olhos, eu prendo
minha respiração e me preparo para o pior. Está me
olhando como se não houvesse nada mais valioso
do que eu em seu universo. Porque eu sou.
— Eles eliminarão essa boa razão. – Fala-me
calmamente, me deixando sem ar nos pulmões. —
De uma forma ou de outra. Ele a quer fora da
minha vida. Não tenho agido como um lunático
neurótico à toa. Eu pertenço a ele, Olivia. Não você.
322
Meu pobre cérebro explode, sob a pressão da
explicação brutal de Miller.
— Eu quero que você seja meu-, eu digo sem
pensar. Não há nenhum pensamento por trás dele,
apenas desespero. Miller Hart não está disponível e
não só para que sua fachada permaneça
firmemente no lugar.
— Eu estou trabalhando nisso, minha linda e doce
menina. Acredite em mim, eu estou deixando a pele
para fazê-lo. – Me beija na cabeça e respira minha
fragrância inalando uma dose de força que recebe
de mim. — Eu tenho que te pedir uma coisa.
Eu não confirmo o que eu sei que vai perguntar. Eu
preciso ouvir.
— Qualquer coisa.
Ele me pega e me faz sentar no banquinho do bar,
como se eu estivesse subindo o famoso pedestal.
Em seguida, se coloca entre as minhas coxas, e
olhando-me nos olhos, envolve minha cintura com
as mãos. Corro os dedos pelos cachos sobre sua
cabeça, até que eu massageie seu pescoço.
— Nunca deixe de me amar, Olivia Taylor.
—Nunca.
Ele sorri um pouco, afundando o rosto em meu
peito e deslizando as mãos pelas minhas costas
para fortalecer o nosso abraço, fundindo-se. Eu olho
fixo na base do seu pescoço, acariciando o conforto
nele.
— Com certeza?- pergunta do nada.
Minhas mãos o acariciam sem cessar, buscando
forças para enfrentar mais uma de nossas
revelações, chocantes.
— Claro! -Limito-me a responder, porque eu tenho.
Como tudo o resto, eu não posso e não deveria
esconder isso.
323
Ele lentamente me libera e pega o teste para fora,
vendo como um filme, olhando entre ele e a caixa.
— Claro que não é o suficiente.
Pego a caixa hesitante.
— -Vou fazê-lo.
Ele não diz nada quando deixa-o para baixo e se
serve de outra bebida. Eu caminho para o banheiro
feminino e me preparo para a confirmação em preto
e branco. Minhas ações são irracionais, uma vez que
eu entro na cabine até eu deixá-la. Eu tento ignorar
e espero alguns minutos. Eu li que eu tenho que
esperar e dedico-me a lavar as mãos. Também
tento ignorar a possível reação de Miller. Pelo
menos agora ele está ciente de que é possível, mas
vai amortecer o golpe? Ele vai querer? Eu paro de
pensar nessas coisas antes que eu fuja. Eu não
espero que ele salte de felicidades para a possível
gravidez. Em nossa vida não há lugar para as
celebrações.
Pego o teste e giro para olhar a pequena janelinha.
Então eu saio do banheiro, de volta ao clube onde
eu encontro Miller a minha espera, batendo no
bar. Ele olha para mim. Está impassível, sem
expressão. Mais uma vez eu sou incapaz de
adivinhar o que ele está pensando. Então eu mostro
o teste na esperança que seus olhos processem. Ele
não será capaz de ver nada a essa distância, então
eu murmuro uma palavra. — Positivo.
Ele esvazia diante dos meus olhos e meu estômago.
Então ele inclina a cabeça, ordenando-me sem
palavras a me aproximar dele. Eu obedeço, com
cuidado, e com um par de passos eu fico ao lado
dele. Me sento no bar, ele se coloca entre as minhas
pernas, afundando a cabeça no meu peito e as
mãos me pegam por trás.
324
— É errado eu estar feliz?-, pergunta e me deixa
chocada. Eu estou esperando um ataque de Miller.
Fiquei tão ocupada com a minha própria reação, que
não esperava uma reação contraria a negativa de
Miller, eu não tinha parado para pensar que ficaria
alegre com a notícia. Tenho visto isso como outro
obstáculo no nosso caminho, outra tempestade para
resistir. Miller, por outro lado, parece que viu de um
ponto de vista completamente diferente.
— Eu não sei-, eu admito em voz alta. Podemos
ficar alegres no meio de toda essa escuridão que
nos rodeia? Queria ver a luz? Meu mundo tem
se tornado tão escuro como o de Miller e eu não
posso ver nada, além de tristeza no horizonte.
— Então eu vou te dizer. - Ele levante a cabeça e
sorri. — Tudo o que quer me dar é um presente
para mim, Olivia. – A mão suave acaricia minha
bochecha. — Sua beleza, para que eu possa
admirar-. Examina o meu rosto por uma eternidade,
antes de deslizar a mão lentamente pelo meu peito
e desenhar círculos ao redor de meus seios. Eu
tremo e prendo a respiração arqueando as costas.
— Seu corpo para sentir. Tenta manter o seu sorriso
e me olha nos olhos. — Sua insolência para lidar
com ela. Eu mordo o lábio para contrariar o desejo
brotando, eu tenho que dizer-lhe que, basicamente,
ele é responsável pela minha insolência.
— Explique-se-, eu ordeno. A verdade é que ele já
deixou muito claro.
— Como você desejar–, ele concorda sem hesitação.
—E isto-, diz beijando minha barriga, — é outro
presente que você está me dando. Você sabe que
protejo ferozmente tudo que é meu.
Ele olha para mim e me perco na sinceridade de
seus olhos.
325
— O que cresce dentro de você é meu, minha doce
menina, e destruirei qualquer um que tentar tirá-lo
de mim.
Sua escolha ímpar de palavras, sua maneira de
expressar seus sentimentos são irrelevantes porque
eu falo a língua fluentemente de Miller. Eu não
poderia ter dito melhor.
— Eu quero ser um pai perfeito-, sussurra.
Me invade a felicidade, mas, mesmo assim, concluo
que Miller estava se referindo a Charlie. Charlie é
quem vai destruir. Ele sabe sobre mim. Ele sabe
que fui fazer o teste de gravidez. Eu sou aquele
bom motivo para Miller ir embora, e agora ainda
mais. Charlie mata as boas razões. E Miller destrói
qualquer um que tente levar para longe dele. É
assustador porque eu sei que é perfeitamente
capaz.
O que significa que Charlie está no corredor da
morte.
Uma batida leva meus pensamentos e eu viro a
cabeça em direção à entrada do clube.
— Anderson- murmura Miller colocando a máscara
novamente. Nosso breve momento de felicidade
chega ao fim.
Me dá um pequeno aperto na coxa antes de separar
de mim... E a minha insolência aparece do nada.
— O que ele está fazendo aqui?- Peço escorregando
do banquinho do bar.
—Para nos ajudar.
Não quero vê-lo. Agora eu sei com certeza que
minha mãe está em Londres e Miller não vai impedi-
lo de falar sobre isso. Não quero. De repente
tenho uma sensação claustrofóbica, entre as quatro
paredes do gigantesco ICE. Eu vou ao bar e vejo
que tem fila após fila de álcool de alto grau. Tenho
que sufocar a raiva e é isso que vamos fazer. Eu
326
pego uma garrafa de vodca, tiro a tampa e despejo
sem pensar um triplo. Mas quando o copo frio toca
meus lábios não despejo o conteúdo pela garganta,
principalmente porque me distraio com uma
imagem mental.
A imagem de um bebê.
— Merda! Suspirei e lentamente coloco o copo no
bar. Eu olho para ele, girando lentamente até parar
o líquido claro em movimento. Não quero isso.
Álcool ultimamente tem servido por uma coisa:
tentar fazer-me esquecer das minhas dores. Mas
não mais.
— Olivia?– O tom curioso de Miller trás meu corpo
cansado de volta para ele e mostro o meu rosto... e
o copo desolado. — O que você está fazendo?-
Ele avança para frente, a incerteza rastejando em
seu rosto quando ele acende os olhos de mim para
o vidro.
A culpa é anexada ao desespero e balanço a cabeça,
lamentando ter servido a bebida.
— Não ia beber.
— Espero que não. – Vira no bar, e remove o copo
das minhas mãos e joga o conteúdo para o ralo.
— Olivia, eu estou à beira da loucura. Não me dê o
empurrão que eu preciso para perder a cabeça. Ele
me adverte muito a sério, apesar de eu ver que a
doçura em sua expressão não tem nada a ver com a
dureza de suas palavras. Ele está me implorando.
— Eu não sei o que eu estava pensando-, começo a
dizer. Eu quero que ele saiba que eu servi sem
pensar. Eu mal tive tempo para digerir a notícia.
— Não tinha a intenção de beber, Miller. Eu jamais a
faria mal a nosso bebê.
— O quê?
Meus olhos alargam em resposta a esse grito
chocado, e Miller praticamente rosna.
327
Ah. Meu. Deus!
Eu não volto para enfrentar o inimigo. Não há
nenhum pedaço de insolência sobre mim, ela se
apagou o mapa com um olhar de desaprovação ou
boa reprimenda. Em vez disso eu estou olhando
com cautela para Miller, silenciosamente
implorando-lhe para estar no comando da situação.
Não há nada agora que possa me proteger de
William Anderson, exceto ele.
O longo silêncio que se estende torna-se doloroso.
Estou mentalmente pedindo que Miller seja o único
a quebrá-lo, mas eu fecho meus olhos firmemente
quando ouço William suspirar, aceitando que em
vez disso vai ser ele.
— Diga-me que o que eu estou pensando não é
verdade. – Eu ouço um baque; e William cai em um
banquinho. — Por favor, me diga que não é.
As palavras "eu estou" fervem na minha garganta,
com "Então o que?". Mas ficam no lugar, elas se
recusam a sair. Estou zangada comigo mesma,
louca que eu sou inútil quando quero ser uma
bravura desencadeando em William.
— Ela está grávida-, o queixo de Miller sobe e seus
ombros na quadratura. — E estamos muito felizes.
Desafia William terminando a frase.
William aceita o desafio.
— Pelo amor de Deus. – Anderson fala. — É a coisa
mais estúpida que você poderia ter feito, Hart.
Eu me recomponho. Eu não gosto da ascensão e
queda do peito de Miller. Eu quero abraçá-lo, para
apresentar uma frente comum, mas o meu maldito
corpo se recusa. Então continuo com minhas costas
para William, enquanto minha mente continua sua
avaliação da situação perigosa iminente.
328
— Nós concordamos que se Charlie não tinha nada
de concreto na Olivia já, iria em breve. Em breve, é
agora.
Ele atinge-me e coloca um braço em volta do meu
pescoço, me encorajando em seu abraço.
— Eu disse que se ele se aproximar dela, será a
última coisa que fará. Ele apenas respirou perto
dela.
Eu não posso vê-lo, mas eu sei que a hostilidade de
William fica aquém da de Miller. Noto vibrações
frígidas atrás de mim.
— Nós discutiremos mais tarde-. William abandona
o assunto muito rapidamente. — Mas por agora que
continue assim entre nós-.
— Ele sabe. – A Confissão de Miller ficou como um
suspiro ao grito de William. Miller continua falando
antes que William possa interrompê-lo. — Ele
encontrou Olivia comprando um teste de gravidez.
— Oh! Meu Deus-, William resmunga, minhas costas
ficam tensas. Miller vê a minha reação e acaricia
meu pescoço. — Você não precisa que eu diga que
você apenas redobrou suas munições.
— Não, não será necessário.
— O que ele disse?
— Não sei. Eu não estava lá.
— Onde diabos você estava?
— Ela tinha me enviado a caça ao tesouro.
Eu mordo meu lábio e enrolo sob o queixo de Miller.
Sentindo-me culpada e mais idiota.
— Foi amigável. - Minhas palavras afogam a ação
contra Miller. — Ou ele pelo menos tentou. Eu sabia
que ele era perigoso.
William soltou uma risada sarcástica.
— Aquele homem é tão amigável como uma cobra
venenosa. Ele tocou em você?
329
Eu balancei minha cabeça, tendo a certeza de que
estou fazendo a coisa certa para manter aquela
pequena parte do meu encontro com Charlie só
para mim mesmo.
— Te ameaçou?
Mais uma vez eu balancei minha cabeça.
— Não diretamente.
— Direto. – O tom de William atinge determinação.
-É hora de parar de pensar e começar a agir. Você
não quer estar em guerra com ele, Hart, a menos
que seja tarde demais. Charlie sabe como ganhar.
— Eu sei o que fazer-, declara Miller.
Não gosto da sensação de Willian enrijecer atrás de
mim ou quando o pulso de Miller acelera.
— Isso não é uma opção-, diz William calmamente.
— Nem pensar.
Me viro para olhar para ele e vejo uma total rejeição
na face de William. Então, meu olhar questionador
desvia de volta para Miller, embora saiba que eu
olhe sem entender nada, William afasta sua
expressão impassível.
— Não fique todo sentimental, Anderson. Não vejo
outra solução.
— Vou pensar em uma-, William resmunga em sua
mandíbula e mostra seu desgosto. —Você está
pensando o impossível.
— Nada é impossível. – Miller vai pra longe de mim
e me deixa desamparada e vulnerável. Pega dois
copos. — Eu nunca pensei que alguém poderia me
fazer seu completamente. Começando a encher-lhes
uísque escocês. —Eu nunca sequer pensei sobre
isso porque quem quer considerar o impossível?–
Ele se vira e desliza um dos copos para William.
—Quem quer sonhar com o que não pode ter?
Eu posso ver claramente como as palavras de Miller
estão golpeando uma corda emocional em William.
330
Seu silêncio e a forma como seus dedos fecham
lentamente no copo e em torno de mim, diz tudo.
— A relação com Gracie Taylor era impossível.
— Ninguém pensou que eu seria realmente capaz
de amar-, continua Miller. — Eu não achava que
havia alguém capaz de me fazer duvidar de tudo o
que sabia -, dá um longo gole em sua bebida
enquanto olha para William, que mexe
desconfortavelmente no banco enquanto gira o
copo. — Então eu conheci Olivia Taylor-.
Meu coração salta um salto e apenas processo que
William tomou o uísque em um gole.
— É assim?- Ele está na defensiva.
— Sim. – Miller levanta o copo para William e a
bebe. É o mais sarcástico na história do brinde,
porque ele sabe o que William está pensando.
Queria poder voltar no tempo. Mas eu não. Tudo o
que aconteceu me trouxe Miller. Ele é o meu
destino.
Todos os arrependimentos de William, meus
arrependimentos, erros de minha mãe e passado
sombrio do Miller têm me levado até agora. E
embora esta situação esteja nos destruindo, em
última análise, faz-nos tão bem.
— Eu vou te dizer outra coisa que não é impossível
para mim -, Miller continua, como se desfrutasse
em torturar William, fazendo-o lembrar de todas as
coisas que se arrependeu. Apontando-me o dedo.
— A paternidade. Não tenho medo, porque não
importa o quão fodido eu seja, não importa como
estou assustado que alguns dos meus genes
ferrados vão passar para o sangue do meu sangue,
eu sei que alma linda de Olivia irá ofuscar tudo. –
Do outro lado me olha e rouba o fôlego com sua
sinceridade. — Nosso filho vai ser tão perfeito como
ela é -, ele sussurra. — Em breve eu vou ter duas
331
luzes brilhantes e bonitas no meu mundo, e é o meu
dever protegê-los. E assim, Anderson –, endurece o
seu rosto e ele volta sua atenção para um silencioso
William, — você vai me ajudar, ou eu levo o
bastardo imoral sozinho?
Esperamos cheios de apreensão, William responder.
Ele parece tão surpreendido pelo discurso de Miller
quanto eu.
— Dê-me outra bebida. William suspira com toda a
sua alma e empurra o copo em direção a Miller. —
Eu vou precisar.
Seguro-me no bar para não cair, eu estou tonta de
alívio e Miller dá um aceno afiado de respeito, antes
de derramar mais uísque para William, que bate de
volta tão rápido como o primeiro. Eles dois caíram
na modalidade do negócio.
Eu sei que ele não quer que eu ouça os detalhes e
eu sei que Miller não vai querer também, por isso
peço desculpas ante que me ordene para sair. — Só
vou ao banheiro.
Ambos os homens viram me lançando olhares
preocupados e de repente prefiro explicar porque eu
quero sair.
— Eu prefiro não ouvir como você planeja lidar com
Charlie. – Me recuso a sequer pensar nisso.
Miller passa a mão na testa para desviar os cabelo
do rosto.
— É só esperar dois minutos enquanto faço uma
chamada. Então eu vou te levar até o meu
escritório. Me beija no rosto e me deixa
imediatamente antes que eu pudesse protestar.
Maldito veja! Bastardo conivente! Ele sabe que eu
não quero ficar sozinha com William e eu tenho que
tomar a força para não correr atrás dele. Estou
ameaçando mover minhas próprias pernas e meus
332
olhos olham em toda parte enquanto meu pulso
acelera.
— Sente-se, Olivia -, pede William suavemente,
apontando para o banco ao lado dele. Eu não vou
sentar ou ficar confortável porque eu não planejo
ficar aqui por muito tempo. Dois minutos, disse
Miller. Espero que eles sejam literais. Trinta
segundos já se passaram. Mais noventa e isso é
tudo.
— Eu prefiro ficar em pé. – Permaneço no lugar,
exalando tanta confiança quanto eu possa reunir.
William balança a cabeça, cansado, e
autodeterminado a falar, mas eu desligá-lo com a
minha própria pergunta. — O que é impossível?– Eu
pergunto, colocando firme. Embora eu não queira
saber nada sobre como eles vão lidar com Charlie,
eu prefiro falar sobre isso do que sobre minha mãe.
— Charlie é um homem perigoso.
— Isso eu já sei-, eu digo bruscamente.
— Miller Hart é um homem muito perigoso.
Isso me cala a boca. Volto para abrir e fechar um
par de vezes, enquanto o meu cérebro tenta
encontrar palavras e colocá-los na linha. Nada. Já vi
o temperamento de Miller. Pode ser a coisa mais
feia que já vi em minha vida. E Charlie? Bem, isso
me aterrorizava. Exala sordidez. Ele carrega ao
redor em plena exibição. Miller não faz isso. Ele
esconde a violência que rasteja para dentro dele.
Luta contra isso.
— Olivia, um homem poderoso que está consciente
de seu poder é um homem mortal. Eu sei do que ele
é capaz e bem, mas ele enterra profundamente. Se
desenterrado, pode ser catastrófico.
Um milhão de perguntas rodam em minha mente,
enquanto eu fico imóvel como uma estátua,
333
absorvendo cada gota de informação de William.
— Revelando será catastrófico.
— O que quer dizer?- Eu me pergunto se eu sei.
— Há apenas uma maneira de ser liberada.
Eu mal posso pensar, muito menos dizer; minha
garganta fecha na tentativa de me impedir de
expressar uma coisa tão ridícula.
— Quer dizer que Miller pode matar. – Eu estou
ficando doente.
— É mais do que capaz, Olivi-.
Engulo em seco. Assassino Eu não posso
acrescentar à longa lista de defeitos de Miller. Estou
começando a ver os benefícios para a conversa
sobre a minha mãe, apenas tentando esquecer o
que eu apenas deixei minha mente ir.
— Olivia, ela quer desesperadamente ver você.
A mudança de assunto me pegou desprevenida.
— Por que você não me contou? Estalo, o medo se
transforma em raiva. — Porque você mentiu para
mim? Deixou-me sozinha em mais de uma ocasião,
e em vez de fazer o que qualquer pessoa decente
teria feito, dizer que a minha mãe não estava
morta, que ela tinha voltado para Londres, tem se
dedicado para tentar separar Miller de mim. Por
quê? Por que disse para aquela cadela egoísta?
— Hart insistiu que você não deveria saber.
— Ah!- Eu ri. — Sim, então você conseguiu dizer
Miller que ela está de volta, mas não pensou que eu
talvez devesse saber? E desde quando você o
ouve?-, eu grito irritada. Minha raiva está fugindo
de mim. Conheço bem por que Miller o reteve, mas
eu vou me apegar qualquer coisa para validar
minha repugnância por William e sua razão para
ficar por aqui.
— Desde que ele teve seus melhores interesses no
coração. Eu posso não gostar, mas ele tem
334
demonstrado em mais de uma ocasião o quanto
você significa para ele, Olivia. Que quer enfrentar
Charlie, dizendo alto e claro. Ele está tomando
todas as decisões pensando apenas em você.
Não tenho resposta para isso e deixo William
preencher o silêncio.
— Tudo que sua mãe fez, também foi por uma
razão. — Mas foi você quem a mandou embora-, eu
o lembro, percebendo no momento que eu deslizo
as palavras por meus lábios que eu estou errada.
— Ai Deus! Era uma mentira, não é?
Sua expressão triste vale mais que mil palavras e
em silêncio, confirma minhas suspeitas.
— Você não a mandou embora, ela deixou você e
eu!
— Olivia, não é...
— Eu preciso ir ao banheiro-. Minha resposta rápida
indica a minha dedução. Falar sobre isso não vai
ajudar em nada. Eu corro e deixo para trás um
homem em agitação emocional clara. Não me
importa.
— Você não pode fugir para sempre de sua mãe. Ele
diz com raiva e meus passos param
instantaneamente.
Fugir dela? Viro-me violentamente.
-— Sim!- eu grito. — Sim, eu posso! Ela correu para
longe de mim! Ela escolheu sua vida! Para mim ela
pode ir para o inferno se ela acha que pode voltar
em minha vida quando eu finalmente consigo
superar o que ela fez!
Cambaleio para trás, estou com tanta raiva que eu
não fico em pé. William me olha com tristeza. Vejo
que ele está incomodado, mas não sinto a menor
compaixão. Ele está tentando consertar as coisas
com Gracie Taylor, embora eu não tenho ideia
335
porque essa cadela egoísta quer estar de volta em
sua vida.
— Eu tenho tudo que preciso-, eu termino mais
calma. — Por que ela está aqui agora? Por que ela
voltou depois de tanto tempo?
William franze os lábios e seus olhos endureceram.
— Ela não teve escolha.
— Você não vai começar de novo!- Eu grito
enojada.
— Você não teve escolha! Ela não teve escolha!
Todo mundo tem uma escolha!
Lembro-me que Gracie disse na sociedade — “Eu
serei amaldiçoada se esse homem invadir sua vida e
estragar cada momento doloroso que estive
suportando por dezoito anos”!
E, de repente, tudo faz sentido. É tão óbvio que é
estúpido.
— Ela só voltou por causa de Miller, certo? Ela está
usando você! Ela voltou para tirar a única felicidade
que conheço, desde que ela me deixou. E ela tem
você fazendo o trabalho sujo! Eu quase ri. Ela me
odeia?
— Não diga bobagem!
Não é nenhum absurdo. Como ela não pode ter o
seu "felizes para sempre" com William, eu não
posso ter o meu com Miller.
— Ela está com ciúmes. Ela morre de ciúme porque
eu tenho Miller, porque Miller fará de tudo para que
possamos estar juntos.
— Olivia, é... -sussurra
Lentamente viro as costas para o ex-cafetão de
minha mãe. — Diga a ela que ela pode voltar para
onde ela estava. Aqui ninguém a quer.
Surpreendo-me com a facilidade com que eu digo, e
William suspira magoado. Eu sei que eu não
esperava ter o coração como uma pedra. É uma
336
pena que nenhum dos dois parasse para pensar
sobre os danos que fariam em mim, depois.
Eu me arrasto em todo o clube, sem olhar para trás
para ver o dano que eu causei. Acho que vou me
enrolar no sofá do escritório de Miller e esquecer o
mundo.
—Ei.
Eu olho para cima enquanto eu ando pelos
corredores do porão do Ice e vejo Miller se
aproximando de mim. Sorte a dele, eu não posso
atirar as palavras que escolhi para ele.
—Olá.
— Qual é o problema?
Recebo-o com a reprimenda que merece e se retira
de imediato. Boa decisão.
— Você parece cansada, minha doce menina.
— Eu estou.
Eu me sinto como se tivesse sido deixada sem vida.
Vou direto até ele e com o restante da força que eu
arrastei meu corpo o agarro com braços e pernas.
Ele entende que eu preciso de sua força, vira e refaz
seus passos.
— Eu tenho a impressão de que faz muito tempo
que ouvi suas risadas-, diz suavemente, abrindo a
porta de seu escritório e me levando para o sofá
atrás.
— Temos muitas razões.
— Lamento discordar-, ele fala, levando-nos para o
couro, rangendo comigo engatada nele. Mas eu não
o libero. — Eu vou consertar as coisas, Olivia. Tudo
sairá bem.
Eu sorrio triste, para mim mesma. Eu admiro sua
coragem, mas eu me preocupo que a correção de
algumas coisas estraguem outras. Eu começo a
pensar que Miller também não pode livrar-se de
minha mãe.
337
— Ok, desculpe. – Respiro, sentindo meu cabelo
sendo torcido até que ele está puxando meu couro
cabeludo.
— Você quer que eu te faça alguma coisa?
Eu balanço minha cabeça. Eu não preciso de nada.
Apenas Miller.
— Eu estou bem.
— Muito bom.– Ele coloca as mãos atrás das costas
e começa a tirar minhas pernas. Eu não vou ficar
difícil mesmo que eu queira manter-me perto dele
para sempre. Meus músculos estão soltos e me
torna uma pilha inútil sob ele. — Durma um pouco.
Me dá um beijo na testa, ele se levanta, ajeita seu
terno e me dá um pequeno sorriso antes de sair.
— Miller?
Ele para na porta e se vira lentamente em seus
sapatos caros, até sua expressão estoica encontrar
a minha.
— Encontre outra maneira. – Não há necessidade de
dizer mais nada.
Acena com a cabeça lentamente, mas sem
convicção. Em seguida, ele sai.
Minhas pálpebras pesam. Eu tento mantê-las
abertas e assim que se fecham eu vejo minha avó
na minha escuridão e abro-as. Eu tenho que ligar
para ela. Minha mão cai, pego o telefone e disco o
número. Cai na caixa postal.
Eu recomeço.
E soa novamente.
—Olá?
Eu franzo a testa ao ouvir a voz estranha ao
telefone e olho para a tela para verificar se eu não
tenho o número errado. Mais uma vez eu levo o
telefone à orelha.
— Quem é?
338
— Um velho amigo da família. Você é Olivia, certo?-
Eu estou sentado no sofá e uma fração de segundo
mais tarde e eu estou de pé. Aquela voz. Minha
mente é atacada por imagem após imagem dele. A
cicatriz no rosto, seus lábios finos, os olhos que
abrigam todo o mal do mundo.
Charlie.
339
CAPÍTULO 20
— O que você está fazendo aí?- O sangue drena em
minha cabeça, mas eu não sinto e começo a fazer
exercícios de respiração, o que é uma boa ideia.
Acho que vou desmaiar.
— Bem é que a nossa conversa foi interrompida
mais cedo, então eu pensei sobre a obtenção de
uma visita-, diz com voz gelada. É uma pena que
você não está em casa, mas sua avó sabe entreter.
É uma mulher excepcional.
— Se encostar em um fio de cabelo... -, se dirigiu
para a porta, determinada, e a energia parecia
bloquear seu cansaço. — Se você respirar nela... -
Ele ri. É uma risada maquiavélica e fria.
— Por que eu iria querer machucar, uma adorável
senhora idosa?
Eu estou correndo agora, minhas pernas me levam
para fora do escritório de Miller e atravesso os
corredores do porão do ICE. É uma questão muito
séria e tem uma boa resposta.
— Porque isso iria me destruir e destruindo-me, iria
destruir Miller também. É por isso.
— Você é uma garota esperta Olivia-, diz, e então
eu ouço uma voz no fundo. Minha avó. Sua voz
alegre põe fim a minha pausa e parada no topo das
escadas. Porque o som de meus passos e minha
respiração não permitem que eu escute o que
minha avó diz.
— Com licença-, Charlie diz casualmente. Eu posso
apenas assumir que ele está segurando o telefone
ao seu peito. —— Dois de açúcar, Sra. Taylor-, diz
tão feliz. — Mas sente-se, por favor. Você não deve
fazer esforços. Eu vou cuidar para você. – Volta a
340
colocar o telefone próximo ao ouvido e respira forte
o suficiente para me mostrar a sua presença.
Onde está Gregory?
Eu fecho meus olhos e rezo para que nada lhe
aconteça. Meu instinto me culpa. Minha avó não
está ciente de que está em perigo. Isto é, fazer chá,
perguntando quanto de açúcar colocar para aquele
bastardo, não sabendo o que acontece.
— Devo dizer-lhe para preparar três xícaras?-
pergunta Charlie e meus pés se movem novamente.
Corro em direção à saída do ICE. — Eu vou ver você
em breve Olivia-. Ele desliga e meu pavor multiplica
por 1 milhão.
A adrenalina corre nas minhas veias e puxo a porta
com toda a minha força... e não move um
milímetro.
— Abra! Eu arranco meus olhos repetidamente à
procura de um bloqueio. — Porra! Abra de uma vez!
— Olivia!- O Tom preocupado Miller perfura minha
volta, mas não desisto. Bato e bato até meus
ombros ficarem feridos, mas a maldita porta não
abre.
— Por que elas não abrem?- grito, tremendo e
olhando ao redor. Eu estou disposto a demoli-la
com o que quer que apareça, a fim de alcançar o
mais rapidamente possível minha avó.
— Droga, Olivia!– Estou presa por trás e imobilizada
por trás, mas a adrenalina continua a todo vapor.
— O que diabos está errado com você?
— Abre a porta!- Eu grito acertando chutes.
— Merda!- Miller grita e espero poder me libertar,
mas ele me segura mais apertado, ao redor de seu
peito. — Acalme-se!
Eu não posso me acalmar. Minha calma está longe
de ser encontrada.
341
— Minha avó!–, eu grito me libertando do seu
abraço e batendo nas portas de vidro. Eu sinto uma
dor aguda em minha cabeça e, em seguida, ouço
uma maldição de Miller e William.
— Já basta!- Miller vira-se e fica contra mim e as
portas de vidro. Olhos azuis enormes examinam
minha cabeça e, em seguida, olha as lágrimas
desesperadas rolarem pelo meu rosto. O que
aconteceu?-
— Charlie está em nossa casa!- Eu digo a toda
velocidade, esperando que Miller compreenda
rapidamente e me leve para casa o quanto antes. -
Eu liguei para saber como Vovó estava e ele
atendeu ao telefone-.
— Filho da...! William diz apressadamente, se
aproximando. Miller parece atordoado, mas William
compreendeu perfeitamente minhas frases
fragmentadas. — Abra a porta, Hart.
Miller parece voltar à vida, pega algumas chaves do
bolso. A porta é aberta rapidamente, eu sou guiada
para fora rapidamente e entregue a William, ao
mesmo tempo em que trava. — Coloque-a no carro.
Eu não tenho voto no processo que se segue e eu
não quero. Os dois homens estão trabalhando
rápido e com urgência, e estou bem com isso.
Eu entro no banco de trás do carro de Miller,
ordenando-me que coloque meu cinto e William se
senta na frente e dá a volta, deslocando-se para
olhar por cima do ombro. Ele decide me olhar muito
a sério.
— Nada vai acontecer, eu não vou permitir-.
Eu acredito nele. É fácil, porque por meio de toda
esta dor de cabeça e tormento, uma coisa é óbvia,
os sentimentos que tanto William quanto Miller têm
por minha avó. Eles a amam quase tanto quanto eu.
342
Eu engulo em seco e aceno a cabeça. A porta do
motorista aberta e Miller toma seu lugar.
— Você está apto a dirigir?- William pergunta,
olhando desconfiado para Miller.
— Sim. – Liga o motor, coloca em primeira e saiu
do estacionamento mais rápido do que o
recomendado.
Em circunstâncias normais, eu estaria rezando por
minha vida, talvez mesmo a dizer-lhe para abrandar
o inferno, mas estes não são circunstâncias
normais. Tempo é a essência. Eu sei disso, William
sabe disso, e Miller sabe disso.
Depois de ter ouvido de Charlie, tendo tido o prazer
de sua companhia, eu não tenho dúvida de que,
direta ou indiretamente, realiza qualquer ameaça
que fizer. Ele é um homem que não tem moral,
coração e consciência. E agora ele está tomando
chá com a minha querida avó. Começo a agitar o
lábio inferior e de repente parece que Miller não
corre o suficiente para o meu gosto. Olho no
espelho retrovisor e percebo o sentimento
familiar nos olhos azuis, que fica preso na minha
alma. Olha-me assustado. Sua testa banhada em
suor. Eu sei que ele está tentando me acalmar com
toda sua força, mas é uma batalha perdida. Ele
pode até mesmo ocultar seu medo, não faz sentido
que tente tirar o meu.
Não demorou muito para andar pelas ruas de
Londres para me levar para casa. Miller realiza
inúmeras manobras ilegais: inverte no trânsito,
conduz na contramão e amaldiçoa incessantemente,
enquanto William está indicando que ele pegue
atalhos.
Quando finalmente chego em minha casa com uma
desaceleração, saio do meu lugar e executo o
caminho, mesmo sem fechar a porta do carro.
343
Apenas ouço os dois pares de sapatos correndo
atrás de mim, mas eu noto os braços fortes que me
pegam e me levanta do chão.
— Espere um minuto, Olivia-, Miller diz calmamente
e eu sei por quê. — Não o deixe ver como você está
preocupada e com medo. Ele se alimenta de medo -
Libero-me das mãos de Miller e me levo para frente,
tentando colocar algum juízo na minha perna,
através da névoa de pânico que abrange minha
mente.
— As chaves-, gaguejo. — Eu não tenho minhas
chaves.
William quase ri. Eu olho para ele. — Você sabe o
que fazer, Miller-.
Eu franzo a testa e me volto para Miller. Ele revira
os olhos e coloca sua mão no bolso.
— Eu disse que precisávamos instalar um sistema
de segurança-, rosna e tira um cartão de crédito.
— O mais provável é que minha avó o convidou-.
Passa bruscamente sem olhar para mim com
desdém. Bastou deslizar o cartão entre a madeira e
o parafuso, se move um pouco, aplica um pouco de
pressão e em dois segundos a porta está aberta e
se afasta.
— Espere!– Me pega e vai se encostando contra a
parede do recesso da porta. — Maldita, Olivia. Você
não pode entrar como a sétima cavalaria-, sussurra,
segurando-me no lugar com uma mão enquanto
desliza seu cartão de volta em seu bolso
— Ok, vamos esperar até ouvi-la gritar, está bem?
— É como sua mãe-, comenta William e desvia
minha atenção de Miller. Sobrancelhas arqueiam
para enfrentar-me. — Você me ouviu-, em seguida,
ele inclina a cabeça em um gesto de “estamos indo
para discussão?". Eu odeio isso.
344
— Eu quero ir para minha avó-, murmuro à
poderosa presença de William com um olhar.
— Poupe-me de insolência, Livy-, me avisa Miller.
—Não é a hora.
Me solta e se dedica à tarefa ridícula de fixar a
roupa, exceto que agora eu não o deixo encontrar a
calma. Eu me odeio quando não consigo terminar o
que começo. Removo os cabelos do rosto e aliso o
vestido. Depois pega a minha mão e me puxa para
entrar pela porta.
— Na cozinha-, eu digo empurrando pelo corredor.
— Ele disse que estava indo para fazer chá.
Como eu disse, um acidente no final do corredor é
ouvido. Salto, e Miller solta maldições. William abre
caminho entre nós antes que eu possa falar.
Minhas pernas não se movem. Miller começa a
correr atrás dele e eu os sigo com meus medos
elevados ao cubo.
Eu vou para a cozinha e bato na traseira de Miller
antes de chegar na frente dele. Eu inspeciono o
espaço aberto e não vejo nada, apenas olho para
William olhando para o chão. Eu fico olhando para
ele, olhando para qualquer expressão facial ou
reação. Minha mente não está pronta para enfrentar
o que chamou sua atenção.
— Droga!- A Maldição de minha avó através do
terror me infunde coragem de olhar para o chão. Ela
está de joelhos com uma pá de lixo e escova,
recolhendo os restos de açúcar e de um prato
quebrado.
— Deixe comigo! Um par de mãos aparece do nada
e luta com os dedos. — Eu disse a você, velha tola.
Eu estou no comando!
Gregory tira a pá e capta olhares exasperados para
William.
— Está tudo bem, cara?
345
— Tudo bem-, diz William olhando entre Gregory e
minha avó. — O que aconteceu?
— Essa mulher-, diz Gregory apontando para minha
avó com a escova e a pá que está do lado,
enquanto ela pressiona seus lábios. — Não faz o
que lhes dizem. Quer levantá-la?
— Pelo amor de Deus! -Vovó grita batendo coxas.
Vou voltar para o hospital, porque todos vocês
estão me enlouquecendo!
Meu corpo parece que se tornou uma papa, desde a
imensa sensação de alívio. Lancei meu olhos de
Gregory. William está dando uma olhada. Um olhar
sério.
— Você deve tirá-la daqui.
William se encaixa em ação, lançando-se para baixo
para pegar minha vó. — Vamos, Josephine.
Sinto-me um pouco inútil vendo William ajudar
minha avó se levantar. Estou mais calma, confusa e
preocupada. É como se Charlie nunca tivesse estado
aqui. Mas eu ainda não descobri a chamada e desde
então eu não estava sonhado com a voz de minha
avó alegremente ao fundo. Se não fosse o olhar
revelador que Gregory lançou para William.
Eu gostaria de questionar a minha sanidade mental.
Mas eu já vi esse olhar. Ele esteve aqui. E ele
acabou de sair? Os olhares de Gregory estão
abalados, então por que diabos minha avó, não
parece aterrorizada?
Eu hesito quando sinto um calor suave, polindo meu
braço e olho para baixo para ver a mão perfeita de
Miller pegando meu cotovelo nu. E só agora que eu
me pergunto onde estão os sinais de fogos de
artifício internos. Faz muito tempo que eu os senti.
Eles foram afogados por tanta irritabilidade.
346
— Eu acho que você deveria... , diz Miller me
levando de volta para a cozinha. Avó já está de pé
com o braço de William ao redor de seus ombros.
Eu só queria esclarecer que tenho um nó na
garganta, antes de tomar o lugar de William e levar
minha avó para fora da cozinha.
Tenho certeza que Gregory irá contar a William e
Miller o que aconteceu. Entramos na sala e
sentamos no sofá. A TV está ligada, mas sem voz e
eu a imagino sentada no sofá com o controle
remoto na mão, ouvindo Gregory abrir a porta para
Charlie.
— Vovó, esteve alguém aqui com você antes?- Eu
dobro os cobertores sob o corpo, evitando os olhos
dela.
— Acha que eu sou estúpida como um pincel.
— Por quê?- Me maldiçoo por convidá-la para
explicar. Eu sou a idiota aqui. Ninguém mais.
— Eu posso ser velha, minha querida menina, mas
não sou estúpida. Todos vocês acreditam nisso.
Eu me sento no braço do sofá e brinco com o meu
diamante, de cabeça baixa.
— Ninguém acha que você é estúpida, Vovó.
— Acha sim.
Eu olho com o canto do olho e vejo que suas mãos
estão no seu colo. Não vou discutir para não insultá-
la ainda mais. Eu não sei o que ela pensa que sabe,
mas posso garantir que a verdade é muito pior.
— Aqueles três estão falando sobre meu convidado,
eles provavelmente estão planejando como se livrar
dele-. Ela faz uma pausa e eu sei que ela está
aguardando eu olhá-la no rosto. Eu não faço. Eu
não posso. Ela chegou a essa conclusão, me deixou
atordoado e eu sei há muito mais. Eu não preciso
ver o seu rosto pra me assustar. Ele só confirma o
que ela pensa. — Porque ele ameaçou você-.
347
Engulo em seco e fechar os olhos. Eu mantenho o
meu anel virando.
— Charlie, é o nome daquele filho da puta nojento-,
ela diz.
Eu volto para minha avó horrorizada.
— O que ele fez?
— Nada. – Ela se inclina para frente, ela pega a
minha mão e me dá um aperto tranquilizador.
Estranhamente, ele funciona.
— Você me conhece, Olivia. Não há ninguém que
possa jogar de doce velha ignorante melhor do que
eu. – Ela sorri levemente e eu sorrio para ela.
— Porque eu sou mais esperta do que as mangas
de um colete.
Eu estou cambaleando pelo seu frescor. Ela está
certa com suas suposições e eu não sei se devo
ficar grata ou horrorizada. Sim, existem algumas
lacunas – lacunas que não serão preenchidas – mas
ela tem a estrutura básica. Ela não precisa saber
nada mais do que isso. Não quero fazer algo tão
estúpido como elaborar sua conclusão pontilhada,
então eu fico calada, contemplando aonde ir a partir
daqui.
— Eu sei muito mais do que você gostaria, minha
querida menina. Eu trabalhei duro para ficar longe
da sujeira de Londres e arrependida de ter falhado-.
Eu franzo a testa enquanto ela desenha círculos na
parte de trás da minha mão para me confortar.
— Você sabe sobre esse mundo?
Ela acena e respirar profundamente.
— Assim que eu vi Miller Hart eu suspeitei que
estivesse relacionado com ele. William reaparecer
do nada quando você foi para a América, só
confirmou isso. - Estuda meu rosto e eu me inclino
para trás, surpresa com o que ela acabou de dizer.
Ela estava determinada em juntar Miller e eu com
348
jantar e tudo o que ele fez por estarmos juntos,
mas ela muda antes de poder pedir o raciocínio.
— -Mas, pela primeira vez em muito tempo eu vi
seus olhos cheios de vida, Olivia. Ele lhe devolveu a
vida. Eu não podia tirar isso de você. Eu já vi esse
olhar antes nos olhos de uma menina e eu tive de
suportar a terrível devastação quando foi tirada
dela. Não quis passar por isso outra vez.
Minha alma começa a entrar em colapso, em queda
livre a meus pés. Eu sei o que vai dizer a seguir e
eu não tenho certeza se eu poderia suportá-lo.
Meus olhos se enchem de lágrimas de dor e
silenciosamente peço para não continuar.
— Essa menina era sua mãe, Olivia.
— Pare, por favor. – Eu soluço tentando me
levantar e fugir, mas minha avó segura minha mão
direita e eu não consigo continuar. — Vovó, por
favor.
— Essas pessoas roubaram toda minha família de
mim. Eu não vou deixá-los levar você também-, diz
com voz forte e determinada, inabalável. — Deixe
Miller fazer o que tem que fazer.
— Vovó!
— Não!– Me puxa para mais perto dela em uma
sessão e agarra meu rosto com as mãos. — Pare de
se esconder como um avestruz, minha menina.
Você tem alguma coisa para lutar. Eu deveria ter
dito o mesmo para sua mãe e eu não o fiz. Eu
deveria ter dito a William e eu não fiz.
— Você sabia?-, eu digo, tropeçando, querendo
saber o que vai surpreender-me então. Meu pobre
cérebro está sendo bombardeado com muitas
informações.
— Claro que eu sabia!- Parece muito em frustração.
— Eu também sei que a minha menina está de volta
e ninguém teve a decência de me dizer!
349
Dou um salto para cima de tal forma que planto na
outra extremidade do sofá. Meu coração está na
minha garganta.
— Você... - Sem lhe dizer uma palavra, ela me
deixou sem palavras. Até que ponto eu subestimei a
minha avó. Como...?
Instala-se de volta no travesseiro, tão calma,
enquanto eu estou chocada com as costas presas no
sofá, procurando alguma coisa para dizer. Nada.
Não tenho nada.
— Eu vou tirar um cochilo-, diz ficando confortável,
como se os últimos cinco minutos não tivessem
acontecido. — E quando eu acordar, quero que
todos vocês deixem de me tratar como se eu fosse
estúpida. Deixe-me descansar.
Fecho os olhos e imediatamente obedeço, temo
retaliações se não fizer. Eu levanto o meu corpo
para fora do sofá e começo a deixar a sala de estar.
Eu vacilo uma, duas, três vezes, pensando se
deveríamos continuar a conversar. Mas para falar
eu preciso articular palavras e eu não obtenho
nenhuma. Eu fecho a porta calmamente e eu estou
corredor, enxugando os olhos e alisando meu
vestido amassado. Eu não sei o que fazer com tudo
isso. Uma coisa é certa, porém. Minha cabeça foi
bem e verdadeiramente arrancada da areia. Não
tenho a certeza se deve ser grata ou preocupada de
que ela está ciente de tudo.
Os sussurros vindo da cozinha tiram-me de meus
pensamentos e os meus pés começam a caminhar
sobre o tapete, me levando para uma situação que
estou certa que só vou acrescentar ao meu estado
confuso. Ao entrar na cozinha sinto uma sensação
ruim. Miller tem sua cabeça em suas mãos, sentado
à mesa, e William e Gregory estão encostados no
balcão.
350
— O que é isso?- Pergunto tentando forçar minha
impressão de voz. Não sei quem estou tentando
enganar.
Três cabeças viram-se para mim, mas eu tenho
olhos apenas para Miller.
— Olivia-. Ele se levanta e anda até a mim. Eu não
gosto da máscara que esconde seu desespero.
—Como ela está?
A questão retorna a chafurdar na escuridão e tento
explicar sua condição. Nada aqui é aceitável, exceto
a verdade.
— Ela sabe-, murmuro. Querem detalhes. Miller
olha inquisidor para mim. Eu não estou preocupada
em vão.
— Explique-se–, ele ordena.
Eu suspiro e deixo que ele me leve para a mesa da
cozinha e senta-me em uma cadeira.
— Ela sabe que Charlie não era boa notícia. Ela sabe
que tem algo a ver com vocês dois-. Eu aponto para
Miller e William. — Ela sabe de tudo.
O rosto de William me diz que ele sabia disso.
— Ela foi tirar um cochilo e disse que depois que ela
acordar, não quer que a tratemos como se fosse
uma estúpida.
William deixa escapar um riso nervoso como
Gregory. Eu sei o que ele está pensando, ou pelo
menos pensando além da surpresa inicial. Eles
estão pensando que isso é demais para ela, que
acabou de sair do hospital. Eu não sei se eles estão
certos. Eu acho que a subestimei. Eu não sei, mas
eu sei que estou prestes a jogar o maior choque de
vergonha.
— Ela sabe que minha mãe está de volta.
Todos na cozinha suspiram.
— Oh Jesus !- Gregory sussurra, se agacha e é
rápido para me dar um abraço. — Oh, pequena,
351
você está bem?
Assinto no ombro dele.
— Eu estou bem-, eu lhe asseguro, embora eu não
estivesse bem. Ele me embala, conforta-me, e beija
minha cabeça repetidamente. E quando ele se
afasta da minha forma sentada, ele olha para mim
por uma eternidade, tudo com muito carinho.
— Estou aqui para você.
— Eu sei-. Eu pego suas mãos e as aperto.
Aproveito essa oportunidade para avaliar os rostos
dos os outros dois homens na cozinha, após a
minha notícia chocante. William tem uma estranha
combinação de temor e preocupação ele. E quando
eu olho para Miller, não vejo... nada. Ele tem uma
cara de pôquer. A máscara está no lugar, mas há
algo em seus olhos. Eu o estudo tentando descobrir
o que é. Eu não consigo.
Levanto-me, fazendo com que Gregory sente sobre
suas pernas, e me aproximo de Miller. Seus olhos
me seguem até eu estar diante dele, quase tocando
seu peito, olhando em seus olhos.
Mas não me abraça ou mostra sinais de sentir
qualquer coisa.
— Eu preciso ir para casa.
— Eu não vou sair daqui. – Eu deixo claro antes de
começar a me dar ordens. — Eu não vou deixar
essa casa ou deixar minha avó sozinha até isso tudo
terminar.
— Eu sei. Sua fácil aceitação me assusta, ainda
mantendo a compostura, não estou disposta a
expor qualquer fraqueza mais. — Eu preciso de... -,
ele faz uma pausa, pensa por um minuto. — Eu
tenho que ir para casa e pensar.
Eu quero chorar por ele, precisar de sua calma é
normal para recompor seus pensamentos. Seu
mundo se explode no caos. E parece que ele está
352
prestes a ruir. Eu entendo, realmente, mas uma
pequena parte de mim está devastada. Eu quero ser
a pessoa em seus braços, dando-lhe o que ele
gosta. Mas isso não é tempo para ser egoísta. Miller
não é a única pessoa que considera a solidão
quando nós estamos imersos no outro.
Ele limpa a garganta e fica do outro lado da
cozinha.
— Dê-me o pacote que ele deixou para mim.
Um envelope almofadado marrom aparece ao meu
lado e Miller pega sem agradecimentos.
—Abra-o.
Em seguida se vira e vai embora.
Eu vejo-o desaparecer pelo corredor, então eu ouço
a porta se abrir e fechar. Eu já estou sentindo falta
dele e não se passaram dois segundos. É como se o
coração fosse parar no peito, por mais ridículo que
possa parecer. Eu me sinto abandonada.
Estou perdida.
353
CAPÍTULO 21
Um banho quente me acalma um pouco. Quando
saio, a casa está em silêncio. Espreito a cabeça para
fora da porta e vejo que a avó continua dormindo.
Levo meus passos para a cozinha. Gregory está na
frente do fogão, mexendo algo em uma panela.
— Onde está William?- pergunto me aproximando.
— Fora, falando ao telefone. – A colher de madeira
atinge a parede da panela e os respingos mancham
os azulejos da parede. — Merda!
— O que é isso?-, enrugo o nariz ao ver a papa
marrom que mexe constantemente. Parece nojento.
— Se supõe que é uma sopa de alho-poró e batatas
-,solta a colher e se afasta. Pega um pano de prato
para limpá-la.
— Vovó terá um ataque. – Obrigo-me a sorrir e vejo
que tem gotas de papinha nas bochechas.
— Espere. – Tiro a toalha e começo a limpá-lo.
—Como você conseguiu sujar a cara toda?
Não me responde. Deixa-me fazer e me observa em
silêncio. Demoro mais do que o necessário, até ter
certeza que ele não vai ter bolhas. Qualquer coisa
para evitar o inevitável.
— -Acho que já está limpo-, murmura segurando
meu pulso para que termine com a operação de
limpeza.
Olho em seus olhos castanhos e camisa branca que
cobre o peito.
— E aqui também-, reivindico minha mão e começo
a limpar queimaduras.
— Para, Baby.
— Não me faça falar-, lhe solto sem desviar o olhar
da mão segurando meu pulso. — Mais tarde, mas
agora não.
354
Gregory apaga o fogo e se senta em uma cadeira.
— Preciso do seu conselho.
— Ah sim?
— Sim. Pronta?
— Sim -, aceno com entusiasmo. Eu o amo por não
me pressionar. Por entender. — Diga-me.
— Ben vai dizer à sua família neste fim de semana.
Mordo meu lábio, feliz porque pela primeira vez não
é para rir. Um sorriso real. Não um sorriso forçado
ou falso. Um sorriso como Deus manda.
— De verdade, realmente?
— Sim, realmente.
—E...
— E que?
— Você está muito feliz, é claro.
Finalmente se forma um grande sorriso em seu
rosto.
— É claro-. Mas o sorriso desaparece tão rápido
como apareceu e o meu também. — Mas parece que
seus pais não esperam. Não vai ser fácil.
Pego sua mão e dou-lhe um aperto.
— Tudo vai ficar bem-, lhe garanto. Assinto quando
me olha pouco convencido. — Eles vão te adorar.
Como não iriam fazê-lo?
— Porque não sou uma garota-, ele diz rindo e
beijando as costas da minha mão. — Mas Ben e eu
temos um ao outro e isso é o que conta, certo?
— Verdade. – Afirmo, sem demora, porque sei que
ele está certo.
— É meu alguém, baby.
Estou muito feliz por meu melhor amigo. Deveria
estar cautelosa por ele. Afinal de contas, Ben tem
sido um completo idiota em mais de uma ocasião,
mas é ótimo que finalmente decidiu ignorar o que
os outros pensam de sua sexualidade. Além disso,
eu não sou ninguém para julgar. Nós todos temos
355
nossos demônios, alguns mais do que outros. Miller,
muito mais do que a maioria. Mas todo mundo tem
jeito. Todo mundo pode ser perdoado.
— Qual é o problema? -pergunta me tirando para
fora do meu devaneio.
— Nada. – Balanço a cabeça para parar de pensar
coisas estranhas e me sinto mais viva do que me
senti... em várias horas. Foram apenas algumas
horas? — O que estava no envelope?
A falta de jeito com que Gregory se mexe me diz
que sabe o que quero dizer. Ele estava lá, ele viu e
sabe disso, e tenho a impressão de que há mais, e
isto o impede de me olhar no rosto.
— Sobre o quê?
Rolo meus olhos.
— Você está falando sério?
Franze o rosto em sinal de derrota.
— O filho do mal deu para mim. Disse-me que
entregasse a Miller. Você sabe que não é a primeira
vez que o vejo certo? É o mesmo bastardo cruel que
apareceu quando foi para Nova York. O deixei com
William no apartamento de Miller, ambos se olhando
para ver quem aguentava mais tempo sem rir.
Sério, pareciam dois cowboys prestes a
desembainhar. Quase desmaiei quando eu abri a
porta.
— Você o deixou entrar?-, digo ofegante.
— Que nada! Foi sua avó! Ele disse que era um
velho amigo de William e eu não sabia o que fazer.
Não me surpreende. Vovó sabe mais do que nós
imaginamos.
— O que está no envelope?
Ele dá de ombros.
— Não sei.
—Gregory!
—Tudo bem!- Volta a se contorcer nervosamente.
356
—Eu só vi o papel.
— Que papel?
— Não sei. Miller leu e voltou a guardá-lo.
— Como ele reagiu a lê-lo?
Não sei se é uma pergunta boba. Vi sua reação
quando entrei na cozinha. Sua cabeça em suas
mãos.
— Ele parecia calmo e normal... -, se levanta
pensativo. — Ainda que não tanto depois de te
abraçar-.
Me eu volto para ele rapidamente.
— O que quer dizer?
— Bem... -, se mexe um pouco desconfortável. Ou
preocupado? — Me perguntou assim muito
tranquilo, se alguma vez você e eu...
—Não!
Retrocedo, temendo o horror dos horrores, se
algum dia Miller descobrir nosso deslize debaixo das
cobertas.
— Não! Mas merda, baby. Foi muito desconfortável.
— Eu nunca vou dizer a ele sobre isso-, prometo
sabendo exatamente o que quer dizer. Apenas
Gregory e eu sabemos, a menos que um dos dois
deixe escapar e Miller fique sabendo.
— Me jura com sangue?-, ele pergunta com um
sorriso irônico. Dá-lhe um calafrio de verdade, como
se ele estivesse imaginando o que faria Miller se
discobrisse nosso pequeno flerte.
— Não seja paranóico-, digo. É impossível que
saiba. Agora que me lembro: — Ele mostrou o papel
à William?
—Não.
Pressiono meus lábios e me pergunto se Gregory
está em conluio com Miller e William. Essa carta, ou
o que quer que seja, bloqueou emocionalmente meu
357
cavalheiro em tempo parcial. Precisava pensar. Ele
foi para casa para estar em sua casa limpa e
arrumada para pensar. E não levou a mim, que
segundo ele diz sirvo de terapia e para
desestressar.
— -Acho que vou passar a sopa-, diz William ao
entrar na cozinha. Gregory e eu olhamos para ele e
o vemos mexer na panela com a colher, franzindo o
nariz.
— Boa chamada-, diz Gregory dando-me um
sorriso. Eu olho, sem acreditar nenhum pouco. Ele
sabe mais do que diz. Tosse, controla o riso e se
levanta da mesa para escapar do meu olhar
inquisidor.
— Vou preparar outra coisa.
O celular de William começa a tocar e olho ele
procurando no bolso. Não imaginei o tumulto em
seu belo rosto enquanto olhava tela.
— Desculpe-me, tenho que atendê-lo-, diz com o
telefone na mão, antes de sair para o jardim pela
porta dos fundos.
Levanto-me assim que a porta se fecha.
— Vou à casa de Miller-, anuncio pegando o telefone
de cima da mesa e saindo da cozinha. Tenho
certeza Miller não deixara a vovó, mesmo com
Gregory estando aqui. Vovó estará segura. Tudo
indica que algo está errado: o comportamento de
Gregory, a calma aparente de William... Tenho um
mau pressentimento.
— Olivia, não!
Nunca esperei que pudesse sair com facilidade,
então corro pelo corredor antes que Gregory possa
me alcançar ou avisar William de minha fuga.
— Não deixe a vovó sozinha!-, grito antes de sair de
casa e correr pela rua para a estrada principal.
— Puta que pariu!- Gregory grita; a frustração em
358
sua voz ecoa e me bate nas costas. — -Às vezes eu
odeio você!
Estou no metrô em um piscar de olhos. Ignoro o
celular. Gregory e William estão ligando, mas
enquanto desço os túneis do metrô pela escada
rolante fico sem cobertura, e já não tenho que
rejeitar mais chamadas.
359
descobre que não são tão agradáveis como pensou.
Poucas coisas são tão bonitas por dentro e por fora.
Embora haja exceções.
Miller é uma dessas exceções.
Eu estou em uma espécie de transe, confortada pela
música suave. Não pretendo deixá-lo por agora,
embora saiba que tenho que encontrar Miller e dizer
que não vai me perder. Seu apartamento e tudo
nele são como um cobertor agradável que me
envolve para que esteja quente e segura. Fecho os
olhos e respiro fundo para segurar todos os
sentimentos, imagens e pensamentos que me
deram tanta felicidade, como o sofá que posso ver
na minha escuridão, onde ele deixou claro suas
intenções, pela primeira vez. Lembro-me das
grandes taças de morangos maduros em sua
cozinha. O chocolate derretido, a geladeira e a
língua de Miller lambendo cada parte de mim. Todos
me catapultam para ao começo. Entro em seu
estudo, absorta em meus pensamentos negros, e
vejo o caos que tanto me surpreendeu. Foi uma
maravilhosa surpresa. Seu hobby. A única coisa na
vida de Miller que está desarrumado. Pelo menos,
isso era tudo até que ele me encontrou.
Estou de pernas abertas em cima da mesa e ele
desenha linhas na minha barriga com tinta
vermelha, ou, como eu sei agora, me escreve sua
declaração de amor. Demons toca ao fundo.
Muito apropriado.
Nós estamos enredados em seu sofá dilapidado,
envolvidos um no outro, agarrandos como lapas. E
as vistas. Elas são quase tão espetaculares como
Miller.
Quase?
Sorrio para mim mesma. Nem perto disso.
360
Minhas reflexões não poderiam ser melhores, mas,
em seguida, os fogos de artifício maravilhosos que
haviam sumido começam a fazer cócegas sob a
minha pele e minha escuridão está cheia de luz.
Uma luz brilhante, forte, orgulhosa.
— Bang-, sussura em meu ouvido e sinto o calor de
sua boca na bochecha, como se meu corpo
estivesse caindo nessa maravilhosa luz. Não posso
distinguir os sonhos da realidade e também não
quero. Se eu abrir meus olhos, vou ficar sozinha no
apartamento. Se eu abrir meus olhos, cada
pensamento perfeito do tempo que passamos juntos
se perderá na nossa feia realidade.
Agora sinto suas mãos quentes na minha pele e a
estranha sensação de movimento... sem se mover.
— Abra os olhos, minha doce menina.
Os fecho ainda mais forte, não estou preparada
para perder mais um sonho: o de seu toque, de sua
voz.
— Abra os olhos. – Lábios macios me chicoteiam e
gemo. — Faça. – Dentes mordiscam meus lábios,
colados a sua boca. — Não deixe de me iluminar
com sua luz, Olivia Taylor.
Engulo em seco e abro os olhos. Tenho diante de
mim o mais espetacular que vou ver na vida.
Miller Hart.
Meus olhos digitalizam os contornos de seu rosto e
cada um de seus detalhes perfeitos. Estão todos lá:
os penetrantes olhos azuis cheios de emoção, a
boca apenas entreaberta, a sombra que cresce em
seu queixo, cabelo ondulado, a mecha rebelde no
lugar... tudo. É bom demais para ser verdade.
Estendo o braço para tocá-lo, a ponta dos meus
dedos, toma seu tempo para sentir tudo, para
verificar se não é uma invenção da minha
imaginação.
361
— Eu sou de carne e osso-, sussurra prendendo
meus dedos para parar a expedição silenciosa. Beija
meus dedos e leva minha mão ao pescoço, onde
meus dedos se afundam na mata de cabelo.
— Sou teu.
Sua boca desce sobre a minha e me pega nos
braços, me gruda ao seu corpo. Nos saboreamos,
nos acarciamos, e lembramos um ao outro o poder
de nossa união.
Minhas coxas se enroscam ao redor de sua cintura
com força. Sei que não estou imaginando. Tenho as
entranhas queimando, soltando faíscas, em chamas.
Me consomem, me ultrapassam, me regeneram.
Preciso dele. Ambos precisamos. Agora não há mais
nada, só Miller e eu.
Nós.
O mundo pode esperar.
— -Me adore -, imploro sem que nossa línguas se
separem, puxando para baixo sua jaqueta dos
ombros, impaciente. Estou morrendo para estar
pele com pele. — -Por favor.
Geme, me solta primeiro um braço, depois o outro,
para se livrar do tecido de luxo. Me ocupo com a
gravata, tirando o nó de qualquer jeito, mas não
protesta, tem tanta presa quanto eu para eliminar
tudo o que está entre nós. Me segura pelo traseiro
com uma mão e com a outra me ajuda a tirar a
gravata por cima da cabeça sem desfazer o nó,
então o colete. Me atrevo a pegar a camisa e abri-la
bruscamente. Me preparo para bronca esperando
por mim, embora já tenha decidido que tanto faz,
mas não diz nada. Os botões saltam e se espalham
por toda parte, batendo ao cair no chão. Começo a
puxar o tecido, baixar primeiro um braço e, em
seguida, o outro. Sinto o calor de seu peito nu
contra o meu vestido, estamos um passo mais perto
362
de estarmos nu. A camisa se reúne no chão com a
jaqueta, gravata e colete, e minhas mãos agarram
seus ombros enquanto nosso beijo se torna mais e
mais intenso. Ele não me diz o que diz sempre. Não
tenta diminuir ou me parar. Me permite que o beije
com frenesi e tocá-lo o quanto eu quiser enquanto
gemo e rosno, o desejo que tenho dele.
Consigo tirar os converse e subir um pouco mais por
seu corpo até que ele tem que inclinar a cabeça
para trás para evitar quebrar o nosso beijo.
— Eu quero estar dentro de você -, suspira
começando a andar. — Agora mesmo.
Ele para e coloca as mãos atrás das costas para
descer minhas pernas, sem deixar de devorar minha
boca como um animal faminto. Já de pé, minhas
mãos vão para seu cinto, o tiram apressadamente e
o jogam no chão. A seguir são as calças. Elas são
desfeitas em um flash e então abaixo tudo o que
posso até as coxas, sem separar minha boca da
dele. Miller faz o resto e a boxer é removida. Em
seguida, dá um chute para se livrar de tudo: calças,
boxers, meias e sapatos. Meu desejo de voltar a ver
seu corpo perfeito em toda a sua nudez não é maior
do que o meu desejo de continuar a beijá-lo, mas
quando levanta a bainha do meu vestido para tirá-lo
por minha cabeça não me resta outra escolha senão
me separar dele e aproveitar esta pausa para
contemplá-lo. O tecido do meu vestido cobre meu
rosto por um momento e interrompe minhas
observações, mas recebo alguns segundos extras
quando Miller acaricia minhas costas para
desenganchar o sutiã e baixá-lo muito lentamente
pelos braços. Meus mamilos ficam duros, sensíveis,
e as palpitações em minha virilha lhe suplicam para
que a acaricie. Olho em seus olhos, está sem fôlego,
assim como eu. Tira meu sutiã sem olhar onde ele
363
cai e atinge o polegar sobre o elástico da minha
calcinha. Mas não as remove, se conforma em ver
como eu me desespero mais e mais. Que não
comece com sua mania de controlar tudo. Agora
não.
Balanço a cabeça ligeiramente, observando o canto
da boca, desenhar o mais fraco dos sorrisos. Em
seguida, ele pisa para frente, sem remover seus
polegares de seu lugar, então eu tenho que andar
para trás até que minhas costas estão contra a
parede. O frio me pega de surpresa e deixo escapar
um suspiro. Jogo a cabeça para trás.
— Por favor -, lhe imploro quando começo a notar
que baixa a minha calcinha por minhas coxas. O
pulsar entre as minhas pernas se acelera até que se
transforma em um zumbido constante. Tenho a
calcinha nos tornozelos.
— Livre-se delas-, me ordena com doçura e
obedeço, tentando me concentrar no que vai
acontecer a seguir. Não me faz esperar muito
tempo. Sinto calor entre as coxas. A fonte? Os
dedos de Miller.
— Deus!-, aperto as pálpebras enquanto me acaricia
no lugar mais íntimo. Me encosto mais na parede,
tentando escapar de sua tortura.
— Está muito molhada-, ruge colocando um dedo e
pressionando minha parede frontal. Me agarro a
seus ombros e empurro até que tenha os braços
esticados. — Vire-se.
Engulo em seco e tento processar o pedido, mas
seus dedos ainda estão dentro de mim, imóveis, e
se eu me mexer roçará, coisa que fará com que
cedam meus joelhos e me deixe deitada no chão
feito uma bola do desejo e cobiça. Assim não me
movo, para não aumentar o meu desejo de possuí-
364
lo.
— Vire-se.
Balanço a cabeça teimosamente, mordendo o lábio
inferior e cravando as unhas curtas abaixo da
clavícula. De repente, uma mão afasta meus braços
e ele cola ao meu corpo. Seus dedos se afundam
mais profundamente em mim.
— Não!- Não tenho onde me esconder. Estou contra
a parede, impotente.
— Assim-, murmura mordiscando minha mandíbula
e a bochecha. Estamos tão colados como podemos,
enquanto me vira, certificando-se de que seus
dedos sigam dentro de mim. Como eu temia, as
sensações produzidas pelos meus movimentos não
fazem nada além de me deixar um pouco mais
louca, e começo a respirar profundamente,
lentamente, para não gritar de desespero.
— As mãos contra a parede.
Obedeço imediatamente.
— Para trás.- Uma mão agarra a minha cintura e
me guia de volta. Roça meu calcanhar com o pé
para que o mova para o lado. Estou pernas abertas,
à sua merce. — Você está confortável?
Torce os dedos dentro de mim e coloca o traseiro no
ar para bater contra seu pacote.
— Miller! grito e apoio a cabeça contra a parede.
— Você está confortável?
—Sim!
— Bom.– Solta minha cintura e imeditamente sinto
a ponta de sua ereção, dura e larga, prestes a
entrar. Prendo a respiração. —Respire, minha doce
menina.
É um aviso, e fico sem ar nos pulmões quando tira
os dedos para abrir caminho para seu pau duro. Eu
não tenho tempo para sentir falta dele. Desliza para
365
dentro de mim com um juramento ininteligível.
Me sinto completa.
— Mova-se-, imploro me apertando contra sua
pélvis, levando-o até o fundo. — Miller, mova-se.
Faço força com os braços até que me separo da
parede e posso levar a cabeça para trás.
Atende minhas súplicas. Mãos macias seguram
meus quadris e crava seus dedos, se preparando.
— Eu não quero que você venha, Olivia.
— O quê?- exclamo, começo a tremer só de pensar
em conter meu orgasmo. Quase todos aparecem do
nada. Ele é o cara especial, tem um talento que
nenhum dos dois entendemos. — Miller, não me
peça o impossível!
— Você pode fazer isso-, me assegura em vão,
esfregando-se contra meu traseiro. — Concentre-se.
Sempre me concentro e é inútil, terei que confiar
em sua habilidade e experiência, enquanto me
mantêm no limbo. A tortura que me espera em suas
mãos cai como um balde de água fria, na minha
mente nublada pelo desejo. Vou gritar de
desespero, é possível até que lhe morda e arranhe.
Sempre me mantêm na terra de ninguém, e o
simples fato de que tenha me avisado, me
preocupa.
Fecho os olhos e deixo escapar um grito
entrecortado, enquanto sai de mim e deixa apenas
a ponta.
— Miller–, já estou implorando.
— Diga-me o quanto você me quer.
— Te dejeso muitíssimo-, confesso, me contendo
para não levar a bunda para trás e voltar a me
sentir completa.
—Muitíssimo?
A pergunta me pega de surpresa, como a minha
resposta.
366
—Tudo.
Continua atrás de mim. Está pensando sobre o que
eu disse.
—Tudo?
— Tudo-, afirmo. Sua força e energia apagaram
grande parte da minha agonia. Eu sei.
— Como quiser-. Se inclina para frente, cola o peito
em minhas costas e morde meu ombro. — Amo
você -, sussurra e depois beija a marca deixada por
seus dentes. — Você entende?
Entendo perfeitamente.
— Sim. – Aproximo a bochecha de seu rosto e
desfruto do toque de sua barba antes de se
endireitar e tomar ar. Me preparo.
Mas não há preparação suficiente no mundo para
que eu não grite quando investe contra mim.
Esperava que se detivesse por um instante,
assustado ao me ouvir gritar, mas não faz.
Rapidamente se retira e ataca novamente com um
grunhido. As primeiras investidas são para marcar o
ritmo. Ele é incansável, implacável. Afunda os dedos
em minha pele e tira de mim sem parar, me
arrancando um grito após o outro. Tenho fé que
sabe o que penso e não tento conter os gritos.
Sempre que seu corpo bate contra o meu, escapa
um da minha alma e logo tenho a garganta seca e
áspera. Mas isso não me impede. Meu corpo não me
pertence. É de Miller e ele está gostando. É quase
brutal, mas a paixão e o desejo entre nós me
mantém em um estado de êxtase total.
Continua em um ritmo incansável até que a única
coisa que me impede de cair no chão ele é. O ar não
passa entre sua virilha e minha bunda, contra a
qual arremete uma e outra vez, o som de pele
contra pele é cada vez mais forte à medida que
começamos a suar. A penetração profunda, não só
367
preenche meu corpo, mas também a alma, cada
impulso me lembra daquele lugar maravilhoso que
me leva a cada vez que me faz sua, seja em ritmo
terno e controlado ou selvagem e cruel. Aqui não há
controle. Pelo menos não parece, embora eu
suspeite que ele esteja lá. Não, eu sei que está lá.
Aprendi que, faça o que fizer, sempre me adora. Ele
faz tudo com amor, esse amor sem limites que ele
sente por mim.
Começo a notar um formigamento no clitóris. É o
princípio do fim. Meu Deus, não vou conseguir pará-
lo! Tento de tudo: a concentração, a respiração,
tudo. Mas o confronto constante de seu corpo
musculoso contra o meu, não me permite fazer
mais do que aceitá-lo. Absorvê-lo. Tomo tudo que
tem para me dar. Será sempre assim.
— Você está tensionando dentro, Livy!-, grita sem
abrandar, quase assustado, como se soubesse a
batalha campal em fúria dentro de mim. Eu não
tenho chance de confirmar que ele está certo. Sai
de mim e me vira. Me levanta e volta a me
penetrar.
Grito circulando sua cintura com as pernas e
golpeando o ar. A perda repentina de atrito não me
ajudou em nada. Ele vai muito rápido.
— Meu nome, baby-, arqueja em meu rosto. —
Grite meu nome. Para enfatizar sua ordem, me
levanta um pouco e então me deixa cair.
—Miller!
— Isso aí! Outra vez-. Repete o mesmo movimento,
desta vez mais forte.
— Foda-se!-, grito, tonta pela profundidade a que
chega.
— Meu nome!
Estou ficando chateada. Os esforços de Miller para
controlar meu orgasmo iminente está me deixando
368
insolente.
— Miller!-, grito, puxando seus cabelos, jogando a
cabeça para trás enquanto continua me penetrando.
Cada vez é mais difícil, demora muito tempo, mas o
bastardo se recusar a terminar.
— Você não vai me arranhar?-, me provoca e
minhas unhas se lançam para cumprir sua missão.
Me surpreende minha própria violência, mas não
paro.
Cravo minhas unha e lhe arranco pele.
— Aaaah! ruge de dor, jogando a cabeça para trás.
—Porra!
Nenhum de seus gritos, nem seus insultos me
contém. Estou arranhando-lhe como uma louca, e é
estranho, mas acho que ele gosta.
— Você é uma preguiçosa, minha doce menina-,
bufa me desafiando.
Me olha nos olhos. Está sério. Quer que eu o
machuque? Seus quadris param de repente e meu
clímax se dilui.
Perco o controle.
— Mova-se-, puxo seu cabelo com tanta força que o
faço inclinar a cabeça. Mas ele sorri.
— Mova-se você, seu filho da puta! -Arqueia as
sobrancelhas com interesse, mas continua sem se
mover e começo uma corrida louca para tentar
recuperar o atrito. Não funciona. — Maldito seja,
Miller!
Sem pensar duas vezes, cravo os dentes em seu
ombro e o mordo com todas as minhas forças.
— Foda-se! Seus quadris estão de volta em
ascensão e ressucitam meu orgasmo lânguido.
— Você... Porra!
Agora sim, vai de uma vez por todas e se lança
contra mim como um animal.
369
Não solto seu ombro. Faço-o gritar, gemer, grunhir
enquanto puxo seu cabelo sem parar. Estou sendo
tão estúpida como Miller e me encanta. O prazer é
indescritível e a dor ocupa o lugar da pena. Está
tirando os arrependimentos com os golpes de seu
pau, mesmo que apenas temporariamente, mas
aqui vai. Me tortura. Eu o torturo. Minhas costas
golpeiam uma e outra vez a parede e ambos
emitimos sons guturais de satisfação.
— Hora de terminar, Olivia-, suspira levantando
minha cabeça do ombro dele e devorando minha
boca. Nós nos beijamos como se fosse a primeira
vez. Rápido, com pressa e desespero, e num piscar
de olhos, estou no chão, sob Miller. Ele nos mantém
juntos e me penetra duro até que contorço os
tornozelos e grito a plenos pulmões quando o
orgasmo me atravessa, e as contrações longas e
pulsantes em minhas entranhas o apertam
furiosamente contra minhas paredes internas.
Rosna, diminui o ritmo, murmura palavras
ininteligíveis em meu pescoço. Deixei-o seco e eu
estou estourando, desfrutando do calor pegajoso
dentro de mim.
— Bom Deus-, suspiro deixando cair os braços
acima da minha cabeça.
— Eu concordo-, geme saindo de mim e tombando
de barriga para cima ao meu lado. Inclino a cabeça
e vejo que ele está jogado no chão sem nenhum
cuidado e balbucia olhando para o tecto. Ele está
pingando, com o cabelo emaranhado, e a boca mais
aberta do que de costume, tentando fazer com que
o ar chegue aos pulmões.
— Me dê “o que mais gosto”.
— Não posso me mover! -, protesto, espantada que
se atreva a me pedir. — Você apenas me fodeu até
a exaustão.
370
— Vai fazer por mim -, insiste, me pegando pela
cintura. — Venha.
Não me deixa escolha. Além disso, quero envolvê-lo
com meu corpo e minha boca. Me levanto, rolo até
ele e tombo meu corpo sem forças sobre o seu. A
única que ainda funciona é a minha boca,
lambendo, chupando e mordendo seu pescoço.
— Você tem um gosto delicioso-, afirmo. - E um
cheiro divino.
— Chupe mais forte.
Faço uma pausa em devorá-lo com beijos e levanto
a cabeça muito lentamente. Sei que estou franzindo
a testa. Nunca em um milhão de anos eu teria
imaginado que Miller Hart quisesse levar um chupão
no pescoço.
— Como disse?
— Chupe mais forte-. Arqueia as sobrancelhas
ligeiramente para enfatizar sua ordem. — Vou ter
que lhe dizer três vezes?
Isso tem seu encanto. Volto para seu pescoço,
mordo e me pergunto se vai retirar a ordem, mas
depois de alguns minutos de mordida inocente me
pede pela terceira vez.
— Mais forte!
Meus lábios se fecham sobre seu pescoço e chupo.
Forte.
— Mais forte, Livy.
Me agarra pela nuca e abaixa minha cabeça. Tenho
dificuldade para respirar. Mas faço o que ele me diz
e levo um bom pedaço de pele na boca, chupo e
chupo até cortar a circulação. Isso será visto em
technicolor acima do colarinho de suas camisas de
luxo. O que diabos está errado com ele? Mas não
posso parar. Para começar, Miller tem a palma bem
firme em minha nuca e não me deixa levantar a
cabeça. Além disso, estou gostando disso que todos
371
possam ver a marca que fiz em meu cavalheiro de
boas maneiras.
Eu não sei quanto tempo passamos assim. Tudo o
que sei é que meus lábios e minha língua doem.
Quando finalmente me solta, puxo ar e contemplo a
monstruosidade que criei em seu pescoço perfeito.
Franzo a testa. Agora já não é perfeito. É um horror
e tenho certeza que Miller vai concordar quando vê-
lo. É tão feio que não posso parar de olhar para ela.
— Perfeito-, ele suspira. Ele boceja e agarra meu
pescoço, em seguida, nos rola até que estou
debaixo dele e ele está montando meus quadris,
sentando-se em cima de mim. Continuo sem
entender nada e Miller não esclarece nada para mim
quando começa a desenhar o contorno dos meus
seios com as pontas dos dedos.
— É muito feia-, confesso me perguntando quando
ele irá ver o horror que fiz.
—Talvez-, murmura sem se preocupar como
deveria. Continua traçando meu torso tão feliz.
Encolho os ombros. Claro que, se o rei do stress não
move um músculo, eu tampouco vou me preocupar.
Em vez disso, faço a pergunta que está rondando
minha mente desde que cheguei... antes que me
tocasse com aquelas mãos e me distrair com sua
adoração. Embora desta vez tenha sido um pouco
mais feroz. Bem, não só um pouco. Sorrio. Foi uma
foda das boas e, para minha surpresa, eu apreciei
cada segundo.
— O que está no envelope?-, digo lentamente,
sabendo que é um terreno pantanoso.
Não me olha e tampouco deixa de me acariciar com
os dedos, desenhando todas minhas linhas
invisíveis.
— O que aconteceu entre Gregory e você?- Me olha.
Ele sabe. Meu amigo tinha motivos para se
372
preocupar. — Gregory parecia desconfortável
quando lhe perguntei.
Fecho meus olhos e fico em silêncio. Não consigo
esconder quando me sinto culpada.
— Me diga que não significou nada.
Engulo saliva e procuro a melhor maneira de
abordá-lo. Confesso ou nego tudo? Minha
consciência está ganhando.
—Estava tentando me consolar-, digo
atropeladamente. — Saiu do nosso controle.
—Quando?
— Depois que você me levou para o hotel.
Ele faz uma careta e respira profundamente para se
acalmar.
— Não houve sexo-, continuo nervosa, desejando
esclarecer suas piores suspeitas. Eu não gosto que
tenha começado a tremer.
— Apenas nos atrapalhamos um pouco. Nós dois
nos arrependemos. Por favor, não o machuque.
Suas narinas abrem e fecham como se estivesse
tentando não explodir com toda a força.
— Se machucar ele, estarei machucando você. Eu já
a fiz sofrer bastante-, diz entre dentes. — Mas isso
não vai acontecer novamente.
É uma afirmação, não uma solicitação ou uma
pergunta. Isso não vai acontecer novamente.
Permaneço em silêncio até que vejo sua respiração
voltar ao normal. Está mais calmo, mas minha
pergunta permanece sem resposta e quero obtê-la.
— O envelope.
— O que tem o envelope?
Mordo o interior da bochecha, deliberando se devo
insistir ou não. Ele está ficando distante.
— O que estava dentro?
— Uma nota de Charlie.
373
Sabia, mas surpreendo-me que ele tenha me dito.
— O que dizia?- Desta vez pergunto sem rodeios.
— Me explica como sair deste mundo.
Abro muito a boca. Existe uma saída? Charlie vai
livrá-lo de suas correntes invisíveis? Meu Deus! Só a
ideia de que tudo isso termine, de poder seguir em
frente com nossas vidas, é demais para mim. Não é
de admirar que Miller pareça estar em paz, mas há
um pequeno detalhe que me traz de volta à dura
realidade. Um grande detalhe. Estava na minha
cozinha, quando leu a carta e foi uma merda, nada
a ver com sua máscara impassível. Ele estava
atormentado, preocupado. O que mudou para que
esteja tão tranquilo? Me armo de coragem e
pergunto o que deveria ter perguntado antes de
deixar o intusiasmo me invadir.
— Como você pode deixar este mundo?- Estou
segurando minha respiração, o que significa que eu
não vou gostar da resposta.
Mas apesar da minha pergunta, seus dedos não
hesitam, ele continua me acariciando e continua
sem olhar para mim.
— Isso não importa, porque não penso em fazê-lo.
— É tão ruim?
— O pior-, responde sem hesitação, colocando uma
expressão de raiva, antes de colocar cara de nojo.
— Tenho outra saída.
—Qual?
—Matá-lo.
—O quê?
Agito-me embaixo de seu corpo, presa pelo pânico,
mas não posso me mover e eu pergunto se está
sentado assim de propósito, sabendo que iria
enchê-lo de perguntas e iria começar a correr assim
que me respondesse. Não sei por que ajo como se
eu estivesse surpresa. Depois do que disse William
374
e vendo o rosto de Miller, tinha medo que ele ia
dizer exatamente isso. E o que Charlie lhe propôs é
ainda pior? Como isso é possível?
— Não se mova-, diz muito tranquilo, demais. E isso
me assusta ainda mais. Pega meus pulsos com uma
mão e as segura por cima da cabeça. Agora sou eu
quem bufa esgotada em seu rosto. — É o único
modo-.
— Não é!-, discuto. — Charlie te deu outra saída.
Aceite-a!
Nega com a cabeça, inflexível.
— Não! Fim de conversa!
Aperta os dentes e me olha em sinal de advertência.
Não me importa. Não há nada pior do que matar
alguém. Não vou permitir que o faça.
— Nada disso!-, grito. — Me solte!
Mexo-me e tento me virar. Não consigo.
— Pare!-, prende meus pulsos contra o chão, a cima
da minha cabeça, e consigo soltá-los um pouco.
— Maldita seja! Pare de se mexer!
Permaneço quieta, mas só porque estou esgotada.
Suspiro em seu rosto, tentando lançar-lhe um olhar
assassino com as forças que me restam.
— Não há nada pior do que matar alguém.
Respira fundo. Está tentando reunir ânimo e todo
meu corpo fica tenso.
— Sei que o que ele me pede te destruirá, Olivia. E
não há garantias de que não volte a me pedir que
faça outra coisa. Enquanto estiver vivo, é uma
ameaça para nossa felicidade.
Nego com a cabeça, teimosa como uma mula.
— É muito perigoso. Você nunca conseguirá. Tenho
certeza que ele tem um monte de brutamontes
guardando suas costas-. Estou entrando em pânico.
Ouvi Gregory falar de armas. — E não poderá viver
carregando esse peso em sua consciência.
375
— É muito perigoso não fazê-lo e Charlie me deu a
ocasião perfeita.
Suas palavras me confundem e me calo por um
momento antes de compreender tudo.
— Ai, Deus. Ele quer que você vá a um encontro?
Assente levemente, sem dizer mais nada, enquanto
assimilo a notícia. Isso não faz nada mais do que
piorar. Tem que haver outro modo.
Dentro de mim algo possessivo e muito profundo se
remexe só de pensar alguém que o toque ou beije,
além de mim. Uma parte do meu cérebro grita: "O
deixe matar Charlie. O mundo estará melhor sem
ele." E uma parte de mim assente. Mas minha
consciência também tem voz e me olha com cara de
pena, sem dizer nada, ainda que saiba o que diria
se falasse:
"Que vá a esse encontro."
"Será apenas uma noite."
"Não significará nada para ele."
— É a irmã de um grande traficante de drogas
russo-, diz em voz baixa. — Me deseja há anos,
mas me enoja. Se excita degradando seu parceiro.
Tudo o que ela quer é poder. Se Charlie me
entregar a ela, poderá fazer negócios com os
russos. Ser seu sócio traria grandes benefícios e
está há muito tempo desejando isso.
—Por que não unem forças sem você?
— Porque irmã do russo se recusa, a menos que me
consiga.
— Deixe-me ir-, sussurro. Ele o faz e se separa de
mim, e se ajoelha ao meu lado.
Apreensão está derramando dele. Eu também me
ajoelho, me aproximo dele e o vejo franzindo a
testa. Mas me deixa fazer do meu jeito. Coloco
minhas mãos em seus ombros para virá-lo e quando
olho para trás eu tomo um bom susto.
376
Que desastre. É um labirinto de linhas vermelhas.
De algumas emanam pequanas gotas de sangue e
outros estão inchadas. Parece um mapa de
estradas. Eu queria machucá-lo de verdade, mas
por razões que não tinham a ver apenas com a
combinação de dor e prazer. Ele queria ficar
marcado. Agora ele pertence a alguém.
A mim.
Levo as mãos ao rosto e cubro meus olhos. Sou
incapaz de evitar meus soluços cheios de dor.
— Não chore-, ele sussurra se virando e me
abraçando. Me beija repetidamente, acaricia meu
cabelo e me aperta contra seu peito. — Não chore,
por favor.
A culpa me corrói e grito para mim mesma que
tenho que fazer o correto, vendo Miller disposto a
fazer uma coisa tão abominável por mim. Por mais
que me diga que Charlie é o próprio diabo em
pessoa, que ele merece, não consigo me convencer
em deixar que acabe com ele. Miller carregará a
culpa pelo resto da sua vida e agora que eu sei, eu
também. Eu não posso deixar que nos faça isso.
Seria como ter a corda no pescoço pelo resto de
nossas vidas.
— Shhhhhh... -me consola, me aconchegando em
seu colo.
—Vamos embora-, soluço. É a única alternativa.
— Podemos pegar a vovó e ir muito, muito longe.
Faço uma lista mental de todos os lugares que
poderiamos enquanto me olha com ternura, como
se eu não tivesse entendido nada.
— Nós não podemos fazer isso.
A finalidade da sua resposta me irrita.
— Sim podemos.
— Não, Olivia. Não é possível.
377
— Podemos!- eu grito. Faz uma careta e fecha os
olhos. Ele está tentando ser paciente. — Não diga
que não podemos, porque não é verdade!
Nós poderíamos ir agora mesmo. Pegar a vovó e
sair. Não me importa onde, se estivermos sempre
muito longe de Londres e deste mundo cruel e
desprezível. Eu não tenho bem certeza do por que
Miller diz que vai direto para o inferno, me parece
que já vive nele. E ele está me arrastando.
Abre lentamente os olhos azuis. Olhos azuis
atormentados. Deixam-me sem ar e me param o
coração, mas não como de costume.
— Eu não posso ir-, diz claramente, com um tom e
olhar que me desafiam a interromper. Não acabou.
É verdade que não pode sair de Londres e há uma
razão de peso. — É uma coisa que poderia me fazer
muito dano.
Odeio o instinto natural do meu corpo para ficar
longe de seus braços.
Sento-me longe, e reúno a coragem de perguntar o
que é.
— Que coisa?-, digo em voz baixa.
Seu pomo de Adão sobe e desce quando engole o
nó na garganta, seu belo rosto muda de expressão
e seu rosto diz... nada.
—Matei um homem.
A corda que estava tentando evitar colocar no
pescoço começa a me estrangular e o faz
rapidamente. Engulo em seco, várias vezes,
arregalo os olhos e não consigo desgrudá-los de seu
rosto impassível. Minha boca está seca e eu mal
posso respirar.
Afasto-me lentamente, aturdida, tateando o chão
para me certificar de que continua lá. Estou caindo
no inferno.
378
— Não pode provar-, digo minha cabeça vai explodir
e minha língua diz coisas que não posso controlar.
Pode ser meu subconsciente que se recusa a
acreditar que é verdade. Não sei. — Ninguém iria
acreditar nele.
Assim é como acorrentou Miller. Faz chantagem
com ele.
— Tem provas, Livy. Em vídeo. – Está muito calmo.
Sem medo ou pânico. —Se não fizer o que quer, me
entregará.
— Meu Deus. Passo as mãos pelos cabelos e olho
em todas as direções. Miller vai para a cadeia.
Nossas vidas terão acabado. — Quem? -, pergunto
me obrigando a olhar para ele, enquanto ouço
Gregory, o sarcasmo em sua voz naquele dia em
que disse que teria que acrescentar ser um
assassino à longa lista de defeitos de Miller.
— Isso não importa-, aperta os lábios.
Acho que preciso ficar irritada, mas não consigo.
Meu namorado só confessou ter matado alguém e
eu estou aqui fazendo perguntas como uma idiota.
Eu não quero acreditar que haja uma razão para eu
estar reagindo assim. Deveria começar a correr,
perna para que te quero, no entanto estou sentada
no chão de seu apartamento, nua, olhando para ele.
— Explique-se-, murmuro e indireito meus ombros
para demonstrar força.
— Eu não quero-, sussurra abaixando a cabeça.
—Eu não quero contaminar sua mente pura e bela,
com isso, Livy. Prometi a mim mesmo muitas vezes
que não te mancharia com meu pincel sujo.
— Tarde demais-, digo em voz baixa, e rapidamente
me olha nos olhos. Para ver se percebe de uma vez
que minha mente, aparentemente pura e bela, está
a muito tempo cheia de merda, e não apenas de
Miller. Eu também tenho vivido a minha. — Conte-
379
me.
— Não posso contar-, suspira com o rosto coberto
de vergonha. — Mas eu posso te mostrar.
Levanta-se lentamente e estende a mão para mim.
Instintivamente, eu aceito-a. Me ajuda a levantar e
nossos corpos nus se esfregam. O calor de sua pele
nua me envolve instantaneamente. Não me afasto.
Não está me segurando, não me segura à força. Eu
escolhi ficar. As pontas de seus dedos levantam
meu queixo, para que olhe para ele.
— Eu quero que você me prometa que você não irá
sair correndo depois de vê-lo, mas sei que não é
justo.
—Eu prometo-, digo em voz baixa, sem pensar. Eu
não sei por que, mas Miller não acredita em mim,
porque me beija nos lábios com um leve sorriso.
— Nunca deixa de me surpreender. – Me pega pela
mão e me leva até o sofá, não se importando de
que estou nua. — Sente-se.
Fico confortável, enquanto vai até um dos armários
e abre uma gaveta. Tira algo antes de voltar junto a
televisão. Observo em silêncio como tira um DVD de
um envelope que me parace familiar e coloca-o no
leitor. Em seguida, olha para mim. Me dá o controle
remoto.
— Clique em "Play" quando estiver pronta-, diz me
oferecendo novamente para que o pegue.
— Eu estarei em meu escritório. Eu não posso vê-
lo...
"... outra vez".
Ele ia dizer que não podia vê-lo novamente. Balança
a cabeça, pega a minha com as duas mãos e beija o
topo. Em seguida, ele inspira, é a mais longa
inspiração de toda a história, como se estivesse
tentando memorizar o meu cheiro para o resto de
sua vida.
380
— Eu amo você, Olivia Taylor. Eu sempre vou te
amar.
E com isso, vejo como a distância entre nós cresce
e me deixa sozinha na sala.
Eu quero gritar para ele voltar, para segurar minha
mão, ou apenas me segurar. O controle remoto
queima minha mão e eu quero jogá-lo contra a
parede oposta. A tela está escura. Como minha
mente. Giro o controle remoto. Sento-me para trás,
como se estivesse tentando manter distância de
algo que eu sei que vai fazer explodir o que resta do
meu mundo. Miller me confirmou. Então, quando
deixo de dar voltas em torno do lixo, pressiono o
botão. Eu só quero saber por que diabos estou
fazendo isso por uma fração de segundo, antes que
a imagem de um quarto vazio ponha fim aos meus
pensamentos. Eu franzo a testa e me inclino para
frente um pouco para ver bem o quarto, que parece
muito elegante. Ele está cheio de móveis antigos,
incluindo uma enorme cama de dossel, e isso
mostra que eles não são imitações. As paredes
estão forradas de madeira e pinturas de paisagens
parecem estar penduradas ao acaso, em suas
intrincadas molduras douradas. É tudo muito
elegante e luxuoso. Estou certa de que a câmera
está em um canto porque eu posso ver toda a sala.
Está vazia e silenciosa. A porta na parede oposta à
câmera se abre e eu pulo para trás. Deixo cair o
controlo remoto.
— Jesus!- Meu coração vai sair do peito e tento
controlar a respiração. Não dura muito tempo
porque quase deixa de bater quando aparece um
homem no limiar. Meu sangue congela nas veias. O
homem está nu, exceto por uma venda que cobre
os olhos. Ele tem as mãos em suas costas e não
381
demoro em saber por quê. Ele está algemado. Acho
que meus olhos vão sangrar.
Ele é jovem, como um adolescente. Não tem
músculos no peito, nem tem pernas fortes e tem a
barriga lisa, sem rastros dos abdominais marcados.
Mas está muito claro quem é esse garoto.
382
CAPÍTULO 22
— Não!- Os olhos me enchem de lágrimas e eu
cubro minha boca com as mãos. — Miller, não. Não,
não, não!
Alguém o coloca no quarto e fecha a porta. E fica lá,
de pé, em silêncio. Não se ouve nada, nem mesmo
quando a porta foi fechada. Tento fechar meus
olhos, eu não quero ver mais, mas é como uma
alavanca que os mantêm abertos, não há
escapatória. Eu não posso pensar.
“O controle. Procure o controle. Desligue. Não
olhe!”.
Mas eu olho. Fico sentada lá como uma estátua,
congelada, a única coisa que me funciona são os
olhos e a cabeça. Meu cérebro me ordena que
procure uma maneira de colocar fim a isso, não só
agora, mas também o que acontece antes. Se
coloca de joelhos. Eu acho que estou tendo uma
experiência fora do corpo. Me vejo sentada ao lado
dele, gritando. Miller abaixa a cabeça e sufoco um
grito ao ver um homem aparecer no canto inferior,
de costas para a câmera. Começo a chorar quando
pega Miller pelo pescoço. Ele está bem vestido, ele
é alto, vestindo um terno preto. Não posso vê-lo,
mas conheço exatamente o olhar em seu rosto.
Superioridade. Poder. A arrogância da pior espécie.
Continuo me torturando. Me dizendo que isso não é
nada comparado com o que meu amor está
suportando. O desconhecido continua segurando
Miller pelo pescoço e tira o cinto bruscamente. Eu
sei o que vem a seguir.
— Filho da puta-, sussurro me colocando de pé.
Ele fica confortável. Com a outra mão segura o
rosto de Miller e aperta até que o obriga a abrir a
383
boca. Em seguida, ele se coloca até o fundo e
começa a empurrar como um demente. Mordo meu
lábio enquanto vejo como violam Miller, meu
homem forte e poderoso, da pior maneira possível.
Continua e continua. Por mais lágrimas que
derrame, por mais que soluce com todo o meu
coração, não posso evitar o horror do que está
acontecendo diante dos meus olhos. Meu estômago
se revira quando o desconhecido lança cabeça para
trás e diminui o ritmo, movendo-se em círculos na
boca Miller como se fosse a coisa mais normal. Eu
acho que vou vomitar quando vejo Miller engolir.
Então, como se nada tivesse acontecido, sobe a
braguilha, afasta Miller com um empurrão e se vai.
Eu suspiro com todo o meu ser, até ficar sem ar nos
pulmões, quando eu vejo Miller imóvel no chão, sem
qualquer indicação do que passa pela sua cabeça.
Agora entendo porque é tão cuidadoso quando o
chupo e por em New York reagiu tão violentamente
no dia em que decidi acordá-lo com um boquete.
Estou tremendo de raiva, tristeza, todas as emoções
possíveis, e é tudo por ele. Eu choro e engulo o
ranho, encorajando-o a se levantar e sair.
— Vá-, imploro. — Saia daí.
Mas isso não acontece. Não faz nada. Só se move
quando outro homem aparece no mesmo canto que
o primeiro. Está novamente joelhos.
— Não!-, grito com a aproximação do homem,
também vestido em um terno, como um predador.
— Miller, não! Não por favor!
O homem repete a mesma seqüência de
movimentos do anterior, exceto que ele acaricia a
bochecha de Miller. Mais uma vez cubro minha boca
com as mãos para conter o vômito. Começa a
desabotoar as calças.
— Não!
384
Olho para o controle remoto. Não posso ver mais.
Minhas mãos trabalham como loucas, jogando
travesseiros e almofadas em todos os lugares.
— Onde se meteu?!-, grito começando a suar. Estou
exausta e desesperada para acabar com o que está
acontecendo na tela que tenho atrás de mim.
Me abaixo e olho para o chão. Está debaixo da
mesa. Me ajoelho, pego e me viro para desligá-lo,
mas meus dedos não apertam o botão. Eles ficam
em cima, tremendo enquanto com os olhos muito
arregalados vejo Miller arrancar a venda dos olhos.
Engasgo, meu coração vai sair do peito, bate tão
forte que caio da bunda. Posso ver seus olhos. Não
há nada. Eles estão vazios. Escuros. Familiar.
O homem tropeça e dá um passo para trás,
surpreso, abotoando as calças a toda a velocidade,
enquanto Miller levanta. O perigo emana de cada
um dos poros de sua pele nua. Ele disse que matou
um homem. Este homem. Não noto os braços, nem
os dedos. Eu sei o que vai acontecer e não sou
mesmo capaz de me sentir mal pela alegria sádica
que tenho ao vê-lo. No vídeo Miller não está tão
quadrado e musculoso como agora, mas seria muito
tolo subestimar a violência animal que segue seu
ser. Dá um passo em frente, impassível, sem um
traço de raiva ou emoção. Parece estar
perfeitamente controlado. É um robô. Uma
máquina. É letal.
Lentamente, consigo me levantar. O encorajo em
silêncio.
O homem levanta as mãos para defender-se quando
os músculos de Miller ficam tensos, pronto para
atacar...
E, em seguida, a tela fica em branco.
385
Engulo e aperto o "Play" sem parar. Já acabou? Eu
preciso ver como acaba com ele. Eu preciso ver que
se vingou.
— Funciona de uma vez, porra! - grito, mas depois
de pressionar o botão até desgastá-lo, me dou por
vencida. — Foda-se!-, grito jogando o controle do
outro lado da sala com todas as minhas forças. Nem
sequer pisco quando se choca contra um dos
quadros de Miller e quebra o vidro que protegia a
lona. Viro-me, tremendo e soluçando. Me se sinto
enganada.
— Miller-, exalo. Começo a correr em torno do
apartamento como uma alma corre do diabo e logo
atravesso o corredor que leva a seu estúdio.
Entro com uma exalação e paro para procurá-lo. Ele
está sentado na ponta do sofá debotado, com os
cotovelos apoiados nos joelhos e seu rosto em suas
mãos. Mas não demoram em aparecer supresos
olhos azuis. Estão vivos. Resplandecem e brilham.
Nada haver com os do vídeo e nada haver com o
que eram quando nós nos conhecemos. Tudo
mudou muito desde que encontramos um ao outro e
prefiro caminhar sobre as brasas do inferno que
perder tudo. Um soluço doloroso pode mais do que
a minha raiva e começo a correr em direção a ele
com os olhos cheios de lágrimas. Quase não o vejo
se levantar.
— Olivia?- Hesitante, dá um passo para frente com
o cenho franzido. Não pode acreditar que continuo
aqui.
Me lanço em seus braços. Nossos corpos nus se
chocam e tenho certeza que me machucaria se não
houvesse outra agonia tomando conta de todas
minhas terminações nervosas.
— Sou fascinada por você-, soluço agarrada ao seu
pescoço, fundindo-me com ele.
386
Miller aceita meu abraço de urso e me abraça tão
forte quanto, ou talvez mais. Me aperta tanto que
não posso nem respirar, mas não me importo. Não
penso em soltá-lo nunca.
— Eu também te amo-, sussurra escondendo a
cabeça em meu pescoço. — Eu te amo muito,
Olivia.
Fecho meus olhos e a ansiedade do horror do que
eu acabei de ver, desaparece com o que nós mais
gostamos.
— Queria ver você fazê-lo, - confesso, seja sensato
ou não. Eu preciso ser parte do quebra-cabeça. Ou
pode ser que só precise me assegurar que de
verdade matou esse bastardo filho do mal.
— Charlie o tem.
Não afrouxa seu aperto, e isso é bom, porque eu
não quero que faça. Poderia me apertar ainda mais
forte que eu não protestaria.
Começo a me acalmar e pensar com mais clareza.
— Ele vai dar para a polícia? Miller acena com a
cabeça ligeiramente em meu pescoço.
— Se eu não fizer o que ele quer.
— E você não vai fazer o que ele quer, certo?
—Não, Olivia. Eu não poderia fazer isso. Eu não
poderia me olhar no espelho novamente.
— E você pode viver com as mãos manchadas de
sangue?
— Sim, ele diz rápida e decisivamente, antes de me
afastar de seu corpo e me olhar atentamente.
— Porque a alternativa é manchar as minhas mãos
com o seu sangue.
Fico sem ar, mas Miller continua falando. Assim,
não tenho que encontrar as palavras. Não há
palavras. Eu sei com toda a certeza que não há
nada que eu possa fazer para evitar que Miller mate
Charlie.
387
— Não sinto nenhum remorso pelo que fiz para
aquele homem. Eu vou ter menos ainda com
Charlie. Mas se alguma coisa te acontecesse, eu
jamais poderia permitir.
Fecho meus olhos. A sinceridade de suas palavras
me machuca e, finalmente, me permito pensar
sobre o que lhe fizeram. No vídeo ele era muito
jovem. Como se o pobre não tivesse sofrido o
suficiente. Quando foi? Quantas vezes antes de se
rebelar? Charlie foi quem organizou isso? Sem
dúvida. E agora ele quer entregá-lo a uma russa
que só quer voltar a humilhá-lo. De jeito nenhum.
— Eu tenho que responder - diz Miller quando o
telefone toca.
Me pega nos braços e me leva para a cozinha. Não
me solta. Arraga o telefone com uma mão e a mim
com a outra.
—Hart.
Apoia o traseiro na mesa e deixa-me entre as
coxas. Continuo presa em seu peito, mas não
protesta ou me pede para deixá-lo sozinho.
— Está aí?
Ouço claramente a voz irritada de William. Normal,
tenho o rosto colado a uma das bochechas de Miller
e ele tem o telefone na outra.
—Sim, está aqui.
—Acabei de receber uma chamada-, diz William.
—De quem?
—Charlie.
Entro em pânico enquanto ouço seu nome. Por que
terá ligado para William? Eles são inimigos.
— Então já sabe com certeza que estou dormindo
com o inimigo?- Há um toque de ironia na pergunta
de Miller.
— Hart, tem cópias do vídeo.
388
Meu coração afunda. Sei que Miller notou porque
me abraça mais forte.
— Deixe-me ver se adivinho. Se algo acontecer, há
outras duas pessoas com cópias do vídeo e as
instruções sobre o que fazer com ele-.
Longa pausa. Imagino William esfregando as
têmporas grisalhas.
—Como você sabe?
—Sophia me disse. Também me disse que tinha
destruído todas as cópias.
O suspiro que viaja através da linha telefônica me
dá arrepios.
—Não. - William quase parece na defensiva. — E
você acreditou nela?
—Sim.
— Miller-, diz William usando seu primeiro nome.
— Charlie é intocável.
—Parece quase como se não quisesse que o mate.
—Foda-se. - William diz com um suspiro.
—Adeus.
Miller deixa, negligentemente, o telefone sobre a
mesa e passa os braços em torno de mim.
—William... -, sussurro contra seu pescoço, sem
compreender totalmente a conversa de alguns
segundos atrás. —Sabe o que está no vídeo?-
—Eu suponho que imagine. Charlie terá confirmado.
Sempre houve rumores sobre uma noite no Templo
onde eu acabei matando um homem, mas isso foi
tudo. Ninguém estava ciente das circunstâncias
exatas e ninguém sabia se era verdade. É como o
segredo mais bem guardado, do submundo de
Londres.
Miller tentar me separar um pouco dele. Ficamos
tanto tempo presos que é como se estivesse
removendo um emplastro. Protesto um pouco, mas
depois grunho e ele apenas sorri para mim com
389
carinho. Não sei o que é esse sorriso, não há nada
de engraçado. Acaricia-me timidamente a testa e
coloca meu cabelo atrás da orelha.
— Me surpreendeu você ainda não ter ido, minha
doce menina.
Sorrio um pouco, procurando seu rosto.
— Me surpreende que você tenha a bunda nua na
mesa de jantar.
Tenta me olhar ofendido.
— Obrigada a minha linda namorada, minha mesa
de jantar não poderia estar mais suja-. Ele para
pensando em algo.
— Você ainda é minha namorada?
Não é nada apropriado, mas não posso deixar de
sorrir como uma idiota para o meu belo amado.
—Você continua sendo meu namorado?
— -Não-, balança a cabeça, pega minhas mãos e
leva à boca beijando cada um dos meus anéis e
minhas juntas. — Sou seu escravo, minha doce
menina. Eu vivo e respiro somente por você.
Faço um beicinho olhando para seus cachos escuros
e lábios carnudos que enchem as minhas mãos com
beijos. Eu não gosto da palavra escravo e ainda
menos depois do que acabo de ver.
—Prefiro namorado. Ou amante. Qualquer coisa,
menos escravo.
—Como quiser.
—Quero isso.
Levanta a cabeça até que estamos cara a cara e
cuidadosamente estuda meus olhos. Sinto que está
se alimentando da luz que afirma ter encontrado
neles.
—Eu faria qualquer coisa por você-, sussurra.
— Qualquer coisa.
Assinto. Olha-me tão intensamente que meus olhos
ardem.
390
—Eu sei-. Ele tem me demonstrado. —Mas você não
pode ir para a cadeia.
Não pode lutar por sua liberdade para acabar atrás
das grades. Essa possibilidade é inaceitável. Só o
veria uma vez por semana. Por mais que seja, não
seria o suficiente.
—Eu não poderia viver um único dia sem me perder
em você, Olivia Taylor. Não é uma opção.
Que alivio.
— E agora o que?
Abraça-me ferozmente, antes de me soltar e secar
as bochechas. Ele parece determinado e, embora
devesse me tranquilizar realmente me dá nos
nervos.
— Ouça com atenção- Coloca suas mãos em meus
ombros para que não me mova. Meu pulso se
acelera. — Charlie acha que ele me tem
encurralado. Acha que vou aceitar esse encontro e
estou confiante de que irá cumprir a sua parte no
trato. E se você tiver a menor dúvida, eu quero que
você saiba que nunca tive a intenção de cumprir
com a minha parte -, dá uma batidinha em minha
têmpora e arqueio as sobrancelhas.
Eu não gosto do aspecto que isso está tomando.
Miller está muito determinado e vejo claramente
que tenta me convencer também. Eu não sei se isso
é possível.
—O que você está tentando me dizer?
— Que eu vou para o Templo. Eu aceitei a oferta de
Charlie e...
— Não! Eu não posso nem te imaginar com ela-.
Sei que esse é o menor dos nossos problemas, mas
estou ficando cada vez mais possessiva a cada
segundo. Não posso controlar isso.
— Shhhh-, me corta cobrindo minha boca com um
dedo. — Eu acho que eu lhe disse para me ouvir
391
com atenção.
— Faço isso!- Estou ficando louca. — E eu não gosto
do que ouço.
— Olivia, por favor. - Me agita um pouco pelos
ombros. — Eu tenho que manter esse encontro. É a
única maneira de entrar no Templo e me aproximar
de Charlie. Não vou tocar aquela mulher.
Se aproximar de Charlie. Arregalo os olhos.
— Então você realmente vai matá-lo?
Não sei por que estou perguntando. Ele disse a
William. Eu mesmo já ouvi, mas acreditava que ia
acordar. Este é o pesadelo mais longo da história.
—Você tem que ser forte por mim, Olivia. - Me
segura com tanta força que quase me machuca. Me
beija na testa e suspira. — Confie em mim.
O olhar de súplica de Miller me assusta e então, as
imagens repugnantes que acabo de ver se repetem
em minha mente. Leva-me um segundo para
lembrar o desejo que eu tinha que ver Miller rasgar
o homem. Saber que ele tinha feito justiça. Eu
quero que tudo isso termine. Quero que Miller seja
meu. Agora entendo as palavras de Miller: “Você
possue todas e cada uma das partes do meu ser,
Olivia Taylor. Eu imploro clemência por todas as
coisas que fiz e farei mal. Só conseguirei sair deste
inferno com a ajuda de seu amor".
— Está bem.
Eu não estou surpresa de quão pouco me custa
aceitar. É uma decisão fácil. De repente, eu também
estou determinada. Estou de acordo e sei o que tem
que fazer.
Eu quero me livrar desses fios invisíveis, porque eu
também estou presa. Mas mais do que qualquer
coisa, eu quero Miller livre. Livre de tudo. Que possa
decidir a quem pertence. Ele nunca vai ser meu até
que isto termine. Sem mais interferências. Sem
392
mais viver na borda do abismo. Nossos passados
vão ser o que tem que ser: passado.
— Faça-, sussurro. — Você me tem aqui. Sempre.
Seus olhos se enchem de lágrimas e seu queixo
treme. Acho que vou chorar também.
— Não chore-, imploro me aproximando de seu
peito e circulando sua cintura com os braços. — Por
favor, não chore.
— Obrigado-, ele diz com a voz entrecortada,
enquanto me abraça com força. — Não acredito que
possa te amar mais.
— Me tem fascinada por você, também-, sorrio,
triste, planejando o que vou fazer enquanto ele
cumpre sua promessa de matar Charlie. Alguém
pode morrer uma noite e, em seguida, voltar à
vida?
Quando finalmente deixamos de nos abraçar, Miller
pega o telefone e sai da cozinha para fazer algumas
chamadas.
Enquanto isso ando por aí à procura de algo para
fazer, algo para limpar ou arrumar. Nada. Suspiro
minha exasperação, e encontro o pano de prato sob
a pia, em seguida, começo a limpar marcas d'água
em torno da pia que não existem. Repasso os
mesmos lugares uma e outra vez, esfregando o aço
inoxidável até que se pareça com um espelho. Meu
reflexo é horrível, então continuo esfregando.
Paro.
Boom...
Me viro muito lentamente, esfregão na mão, me
apoiando na pia. Ele está na porta, encostado na
moldura e dando voltas com o telefone na mão.
— Tudo bem?-, pergunto, dobrando o pano e me
virando para guardá-lo no lugar. Eu acho que é
melhor agir normalmente. Que pensamento idiota.
Não tenho nenhuma idéia do que é isso de ser
393
normal.
Como não responde me viro mordendo meu lábio,
nervosamente.
— O arranjo está feito-, se refere ao suposto
encontro.
Assinto ligeiramente, girando meu anel.
— Quando?
— Esta noite.
— Esta noite? -Tão logo?- Eu não esperava.
— Há um evento no Templo. Sou obrigado a
acompanhá-la.
— Certo-, engulo em seco e assinto com
determinação. — Que horas são?
—Seis.
— A que horas...?- Me ergo e respiro fundo. — Que
horas é o encontro? - Essas palavras me fazem
querer vomitar.
— As Oito-, responde sem outra palavra e sem tirar
os olhos azuis frios da minha falsa expressão de
coragem.
— Temos duas horas para te preparar -, digo.
—Nós?
—Sim, eu vou ajudá-lo.
Vou dar banho nele, fazer sua barba, vesti-lo e dar
um beijo de despedida, como qualquer mulher que
envia seu namorado para o trabalho. É outro dia no
escritório, isso é tudo.
— Olivia, eu...
— Não tente me impedir-, advirto me aproximando
e segurando sua mão. Ele quer que eu seja forte.
— Vamos fazer do meu jeito. Puxo ele até o docking
station à procura de uma canção alegre. — Perfeita-
, proclamo colocando a escolhida.
Diamonds da Rihanna começa a tocar e me viro
com um sorriso tímido. Miller também sorri de um
modo adorável e me encanta.
394
— Sim, é.
Começo a levá-lo para o quarto, mas me para.
—Espere.
Freio com relutância. Só quero me concentrar em
arrumá-lo.
— Antes de fazer as coisas à sua maneira-, ele diz
me levando em seus braços, — Vamos fazer da
minha.
Ele está se movendo antes que possa resmungar.
Me leva para o quarto, me coloca suavemente na
cama, como se fosse o objeto mais delicado no
universo, e se senta na borda, colocando uma mão
para ficar em cima de mim.
—Você tem que ser minha novamente.
Pressiono meus lábios e tento conter minhas
emoções. Isso significa uma vez mais, antes de ir
para assassinar alguém. A ponta de seu dedo pausa
um momento em meu lábio inferior e me observa
com cuidado. Em seguida, acaricia meu queixo,
pescoço e peito.
Todas minhas terminações nervosas se acendem
como chamas sob sua carícia suave. Meus mamilos
ficam duros, implorando sua atenção. Ele não a
nega. Sem deixar de olhar para mim, leva um a
boca e o roça com a língua, antes de mordiscar a
ponta. Arqueio as costas e luto para não mover os
braços. Pega o outro seio com a mão, reivindicando
o que é dele, moldando e massageando enquanto
desenha círculos com a língua no outro mamilo.
Agito-me na cama, minhas pernas estão tremendo e
levanto os joelhos até que tenho as solas dos meus
pés plantadas na cama.
Ele está sendo superterno, nada a ver com a nossa
foda de antes. Acho que não se trata apenas de ser
sua novamente. Ele quer recuperar a força.
395
— Bom? - pergunta antes de encher a boca com
meu peito e chupar com delicadeza.
— Sim -, gemo de prazer e sinto a pressão na
minha virilha se intensificar. Meus braços ganham
vida e minhas mãos procuram seus cachos macios.
Lambe, acaricia, chupa e mordisca com precisão
enquanto o seguro pelo pescoço, seguindo seus
movimentos, mas indicando onde o quero em meu
peito.
— Você tem um gosto fora deste mundo, Livy-,
murmura, beijando a aréola e o bico. Fecho meus
olhos, eu estou no céu, curtindo cada segundo
precioso com ele, seus beijos, carícias e adoração.
Seus lábios estão em toda parte e me faz gemer e
suspirar. Morde-me, me enche de beijos e por um
momento consegue me fazer esquecer nosso futuro
imediato.
Prendo a respiração quando sua mão vai até minha
virilha, minha pele macia, úmida e sensível lhe
suplica que se aventure por ela. Gemo. Inclino a
cabeça e lhe comunico meus desejos em silêncio,
puxando seu cabelo da nuca. Eu quero a sua boca
lá.
Com o polegar faz círculos em meu clitóris enquanto
beija minha barriga. É um toque delicioso, me faz
ficar tensa e segurar a respiração.
— Sempre pronta para me receber.
Suspiro e o deixo me mimar a seu gosto. A
sensação na virilha se torna mais intensa e minha
respiração superficial. Tento não gemer para poder
ouvir os sons prazerosos emitidos por Miller.
— Eu quero que você venha assim primeiro. Me
penetra com seus dedos e meus músculos
gananciosos apertam com toda sua força. — Então
eu vou fazer amor muito a sério.
396
— Sempre que faz amor comigo me leva muito a
sério -, murmuro levando as mãos à cabeça e
segurando com força o couro cabeludo. Levanto os
quadris por instinto, seguindo o ritmo.
—E é o melhor do mundo-, dobra os dedos dentro
de mim e engulo saliva. — A maneira como seus
olhos brilham quando você vai gozar, e os suspiros
entrecortados que tenta controlar. – Continua com
os círculos, aplicando mais pressão, até que me
levanto da cama. — Nada se compara a ver como
explode embaixo de mim.
Estou prestes a explodir.
— Está quase?-, pergunta com ternura, abaixando a
cabeça para assoprar em minha virilha em chamas.
Me leva à beira do abismo. Seguro meu cabelo com
força e me agarro aos seus dedos que me penetram
e fazem círculos em meu interior.
— Aaaah-, suspirou, balançando a cabeça de um
lado para o outro. — Miller, eu preciso gozar.
O sangue vai para minha cabeça e tento controlar a
respiração. Choro quando sua boca toma meu
clitóris, e seus dedos lentamente me penetram.
Começo a tremer descontroladamente.
— Miller!
Tira seus dedos e rapidamente e se coloca entre
minhas coxas e abre minhas pernas. Fico rígida e
pode ser até que lhe machuque sem querer, mas é
que o orgasmo se apodera de mim. O calor úmido
de sua boca sugando suavemente me leva ao
êxtase e deixo escapar um longo suspiro. Me
derreto na cama. Pulso contra sua língua, longo e
firme, tomo ar ocasionalmente e movo os quadris
em um círculo contra sua boca.
— Amo quando você gritar meu nome,
desesperadamente.
397
Lambe meu sexo encharcado, me acalma, me ajuda
a me recuperar da minha sutil explosão.
— Amo quando você me leva a beira do desespero.
Sinto espasmos enquanto seus lábios distribuem
beijos ternos na minha virilha inchada e sobem pelo
meu corpo até que estamos cara a cara. Sem deixar
de me olhar nos olhos, me penetra até o fundo com
um movimento dos quadris, que me pega de
suspresa. Tem a testa encharcada de suor e a
mecha rebelde, fora do lugar.
— Você está muito quente-, penetra um pouco
mais. Seus olhos brilham. — Eu gosto tanto de estar
dentro de você.
Beijo-o na boca e responde com um longo gemido.
Nossas línguas se entrelaçam.
— Não tanto quanto ter você dentro de mim-,
sussurro contra seus lábios; a sombra de sua barba
raspa meu rosto.
Me dá um beijo de esquimó.
— Vamos concordar em discordar-. Seus quadris
entram em ação e saem, lentamente.
— Olivia-. Sussurra meu nome e meu pulso se
acelera, minhas veias queimam. — Olivia Taylor,
meu bem mais precioso. - Volta a me penetrar
lentamente, suavemente, sobcontrole.
Arqueio minhas costas e me agarro a seus ombros.
Posso sentir seus músculos se contraírem e
relaxarem quando volta a sair.
— Eu amo tomar meu tempo com você.
Fecho meus olhos com um gemido longo e o deixo
fazer.
— Não me prive de seus olhos, minha doce menina.
Eu preciso deles. Mostre-me eles.
Eu não posso recusar. Sei que sobrevive em parte
graças à força e segurança que lhe dou. Agora
precisa de verdade, assim, mostro meus olhos
398
safira a seus olhos azuis penetrantes. Ele está
apoiado em seus braços e me observa atentamente
enquanto me penetra lentamente. Meus quadris
começam a se mover no ritmo dos seus e giram e
giram juntos. É uma carícia divina e constante,
unidos pela virilha, desenhando círculos
intermináveis. Começo a ofegar.
— Por favor.
— O que quer?- me pergunta com calma. Eu não sei
como o faz. Me deixa louca. Eu posso sentir meu
corpo perder o controle de prazer.
— Preciso gozar outra vez-, admito e adoro como
seu pênis cresce quando digo. — Eu quero que você
me faça gritar o seu nome.
Seus olhos brilham como faróis e sua ereção
responde, aumentando um pouco mais. Meus
quadris estão no piloto automático. Melhor, porque
eu só posso me concentrar no fogo ardente entre
minhas coxas.
— Nada de gritos hoje -, diz se lançando em minha
boca. — Você vai gemer meu nome na minha boca
e eu vou engolir a cada segundo.
Aumenta a velocidade de seus quadris me atirando
de volta na beira do abismo. Devoro sua boca com
ânsia, mas aproveito porque sei o que vai me dizer.
— Saboreia-me, Livy-, me ordena com ternura,
freiando-me.
Acaricio seus braços fortes e desço até seu traseiro.
Gemo de felicidade de quão duro está. Primeiro lhe
acaricio e, em seguida, me agarro a ele com força.
Agora, ele também geme e nossos gemidos colidem
em nossas bocas, que duelam.
— Aí vem ele-. Sua língua acelera e me encoraja a
segui-la, o que eu faço, e meu corpo fica tenso
embaixo do dele. Se aproxima. Está sem fôlego,
399
apertado e tremendo. — Droga, Olivia!- Morde meu
lábio e continua seu ardente e apaixonado beijo.
—Pronta?
—Sim! - grito me esforçando para chegar ao topo.
—Quase lá. Está...
— Eu estou vindo!- grita na minha boca. -Venha
comigo, Olivia!
—Miller!
—Foda-se, sim!
Um círculo final. Sai de mim e volta a me penetrar
muito lentamente com um gemido áspero que me
catapulta para as estrelas. Minhas costas se
arqueiam o máximo possível e me desfaço em mil
pedaços entre os seus braços, com os olhos fechado
e a cabeça inclinada sobre o travesseiro, exausta.
Um calor úmido e pegajoso banha minhas
entranhas e Miller desaba sobre mim, ofegando no
meu pescoço. Na minha neblina pós-climax, noto
que se torna pequeno dentro de mim.
E nós adormecemos ao mesmo tempo, fundidos um
com o outro, cobertos com nossos corpos.
400
assim.
Lamento quando se levanta e deixa a sua ereção se
colocar entre minhas pernas, antes de voltar a
entrar em mim com um gemido. Me reposiciono
para poder recebê-lo e suspiro quando ele começa a
se mover muito lentamente, dentro e fora, dentro e
fora.
— Eu amo você-, sussurra cobrindo minha boca com
a sua.
Mais uma vez, todos os problemas são abafados
pela sua adoração e minha dor por ele. Desfruto de
tê-lo dentro de mim e correspondo os golpes
lânguidos de sua língua. Se afasta um pouco e apoia
sua testa na minha, enquanto prossegue os seus
cursos lentos e silenciosos.
— Você vai ser tudo o que vejo o tempo todo-. Ele
circula seus quadris em um deliciosa moagem
profunda.
Gemo.
— Diga-me que você sabe.
— Eu se i-, sussurro.
Começa a ir um pouco mais rápido, entra e sai com
precisão sem separar nossas testas. Arqueja e
libera pequenas baforadas de ar. Começa a tremer.
Eu também estou perto.
— Deixe-me provar-te, Olivia.
Deixo que ele me beije até gozar e me junto a ele,
enquanto fica tenso e fica rígido com um gemido
afogado, tremendo cada vez mais forte. Estremeço
de tal modo que grito em sua boca e me solto para
poder abraçá-lo e senti-lo mais perto enquanto
continuamos nos beijando, lentamente, com
ternura, com amor, muito depois de nossos
orgasmos.
Foi sua despedida.
401
— Agora nós podemos fazer do seu jeito-, diz em
voz baixa colado em meu pescoço. Volta a cheirar
meu cabelo, guardando minha fragrância.
Fico muito séria comigo mesma e me digo que
posso fazer isso. Me mexo debaixo dele para que se
levante. Nossas peles suadas se desgrudam
lentamente, e meu coração se parte quando deixo
de sentir seu comprimento dentro de mim. Mas
tenho que ser forte. Não posso dar sinais de
fraqueza ou de dor, coisa que é muito difícil porque
tenho minhas dúvidas e me mata pensar no que vai
ser obrigado a fazer. Me olha e sei que ele também
tem dúvidas. Me obrigo a sorrir para ele e dar-lhe
um beijo casto.
— Vamos tomar banho.
— Como você desejar-. Relutantemente, ele
desconecta-se de mim em uma inspiração profunda
e ajuda-me a ficar em meus pés, mas impede-me
de fazer meu caminho para o banheiro. — Um
momento.
Fico de pé em silêncio, enquanto ele fica por um
bom momento arrumando meu cabelo para que caia
de uma determinada maneira sobre meus ombros.
Franze o cenho quando uma das novas camadas
curtas se nega a ficar onde ele havia deixado. Seu
belo rosto, contrariado, me faz sorrir.
— Voltará a crescer -, o tranquilizo.
Me olha nos olhos e se rende.
— Prefereria que você não tivesse cortado, Olivia.
Meu coração afunda.
— Já não gosta?
Nega com a cabeça, frustrado, e me pega pela nuca
para me levar ao banheiro.
— Eu adoro. Apenas odeio me lembrar, o que te
empurrou a cortá-lo. Odeio que fez isso para si
mesma.
402
Chegamos ao banheiro e abre a torneira do
chuveiro antes de pegar as toalhas e indicar para
que eu entre no cubículo. Gostaría de dizer-lhe
como odeio tudo que ele fez a si mesmo, mas
mordo minha língua porque não quero que as coisas
fiquem ainda piores. Estes minutos juntos são
impagáveis e as memórias serão o que vão me
manter viva esta noite. Eu não quero discutir.
Obedeço e entro no chuveiro, pego o gel de banho e
coloco um pouco na palma da mão.
— Eu quero te ensaboar-, diz me tirando a garrafa.
De jeito nenhum. Eu preciso disso.
— Não-, respondo suavemente, pegando o frasco
novamente. — Vamos fazer do meu jeito.
Deixo a garrafa em seu lugar e esfrego minhas
mãos para fazer espuma. Passo uma eternidade
examinando seu delicioso corpo, procurando o
melhor lugar para começar. Cada músculo dele me
chama, me pede para tocá-lo.
— Terra chamando Olivia-, sussurra dando um
passo até a mim e pega meus pulsos. — E se você
começar por aqui?- Coloca minhas mãos em seus
ombros.
— Nós não vamos sair daqui até que você tenha
acariciado o último centímetro.
Abaixo minha cabeça e busco no fundo da minha
alma a força que eu precisarei para deixá-lo ir
quando terminar de arrumá-lo. Ele desliza por entre
meus dedos com cada palavra e cada toque que
trocamos.
403
— Fique comigo-, sussurra sem soltar minhas mãos.
As guia através do seu corpo e observo seu peito
subir e descer enquanto meus olhos sobem por seus
músculos e me perco em um oceano de cor azul.
— Toque-me, Olivia. Toque-me da cabeça aos pés.
Contenho um soluço e eu engulo as lágrimas que
tentam escapar dos meus olhos. A encontro.
Encontro a força que preciso para sobreviver a isso,
para que nós dois sobrevivamos. A encontro na
desolação e dou um passo até ele, me aproximando
de seu corpo, para massagear suavemente seus
ombros.
— Bom-, ele suspira, fecha os olhos tristes e joga a
cabeça para trás.
Está esgotado. Eu sei. Mental e fisicamente. Tudo
está sendo levado para fora dele. Me pega pela
cintura e me aproxima mais um pouco.
— Melhor.
Penso em Miller e em nada mais que Miller e não
permito que nada e nem ninguém penetre minhas
barreiras. Sem pensamentos, sem preocupações...
Nada. Deslizo as mãos por todas as partes, de seus
ombros a seus peitorais, seu ventre, suas coxas,
seus joelhos, suas panturrilhas e os pés. Logo, subo
de novo, muito lentamente antes de ir para suas
costas. Faço uma careta ao ver o destroço que lhe
fiz. O lavo depressa e com cuidado e depois o afasto
da minha vista para poder ver o seu rosto. A única
coisa que se ouve é a água cair. Só penso em Miller.
Mas quando chego a seu pescoço e começo a
enxaguá-lo, vejo que tem os olhos fechados e me
pergunto se ele só pensa em mim. Não quero
acreditar que talvez, esteja pensando na noite que
lhe espera, em como vai executar seu plano, em até
onde terá que chegar com a russa, em como vai
livrar o mundo de Charlie. Se que se estivesse
404
pensando em mim, estaria me olhando. Como se
lesse meus pensamentos, seus olhos azuis
aparecem lentamente e ele pisca aquele olhos
maravilhosos. Não consigo esconder o quão triste
estou rápido o suficiente.
— Eu te amo-, diz em voz baixa, assim, de repente.
Vê. Não há maneira de enganá-lo. — -Eu te amo, eu
te amo, eu te amo.
Começa a andar para frente e retrocedo até que
estou colada à parede de azulejos e rodeada de pele
molhada e quente.
— Diga-me você entende.
— Eu entendo-, digo em voz baixa, e embora eu
tenha certeza, sei que não é o que parece. — Eu
entendo-, repito tentando injetar um pouco de
convicção em minhas palavras. Fracasso
completamente.
— Não vou dar-lhe a oportunidade de me provar.
Me dá um arrepio. Nem quero pensar. Assinto e
pego o shampoo. Tento não pensar sobre o seu
olhar de preocupação e sei que está me estudando
cuidadosamente, enquanto me preparo para lavar
seu cabelo. Continuo cuidando dele com paciência e
cuidado, mas por trás de minha ternura, repito para
mim palavras de incentivo para me dar segurança.
Minha mente é um turbilhão silencioso de palavras
de encorajamento e eu vou ter certeza que
continuem tocando ao fundo até que Miller volte.
Miller parece uma estátua. Ele só se move quando
eu peço e me olha de soslaio. Sei que pode ler
minha mente apenas com um olhar, porque me
responde em voz alta. Pertenço a ele, de corpo e
alma, e nada pode mudar isso.
Fecho a torneira do chuveiro e saio para pegar uma
toalha para secar Miller, em seguida, a envolvo em
torno de sua cintura. Sei o quanto custa para ele
405
não assumir o controle e ele começar a cuidar de
mim.
Abro o armário sobre a pia, pego o desodorante e o
aceno. Sorri e levanta um braço para que eu possa
colocá-lo. Então coloco na outra axila e guardo o
desodorante. Agora o closet. Pego sua mão e o levo
para quarto, sem deixar de repetir mentalmente o
meu mantra de pensamentos positivos.
Mas quando entro perco o fio e quase derrapo. Solto
a mão de Miller e corro meus olhos pelas tres
paredes cobertas de trilhos. Me deixou sem
palavras.
— Você comprou um guarda-roupa totalmente
novo?- pergunto sem poder acreditar.
Não parece envergonhado.
— Claro-, diz como se fosse idiota por pensar que
não iria fazê-lo. Deve ter custado uma fortuna!
—Qual você quer que eu use?
Gesticula com a mão apontando todos os ternos e o
sigo até que me afogo em um mar de tecido caro.
— Não sei-, confesso, um pouco sobrecarregada.
Começo a girar meu anel, enquanto eu inspeciono
os trilhos em busca de algo para colocar nele. Me
decido quando vejo um terno risca de giz azul
escuro. Toco no tecido. É muito suave, um luxo. Ele
acende seus olhos. — Este -, puxo o cabide do trilho
e me viro para mostrá-lo. — Eu amo esse.
Tem que estar perfeito quando deixá-lo sair de casa
para ir matar alguém. Balanço a cabeça tentando
eliminar tais pensamentos.
— Não me admira-. Ele se aproxima e pega o terno.
— Ele custa três mil libras.
— Quanto?- pergunto horrorizada. —Três mil libras?
— Certo - diz como se fosse nada. — Você recebe o
que você paga.
Tiro o terno dele e penduro na porta do armário.
406
Vou procurar um boxer e me ajoelho para colocá-lo.
Primeiro um pé, em seguida, a outro. Subo por suas
coxas e me certifico de tocá-lo em minha subida.
Não estou imaginando: fecha os olhos a cada toque
e sua respiração se altera. Quero deixar minha
marca por todo seu corpo.
— Aí está-, digo-lhe arrumando o elástico da
cintura. Me afasto para vê-lo melhor. Não deveria,
mas o grande corpo de Miller vestindo apenas um
boxer branco é digno de se ver. É impossível não
ficar enfeitiçada. É impossível não tocá-lo. Ninguém
iria resistir a tocá-lo.
Mas ela não pode prová-lo. Eu tenho duas frentes
abertas e minha mente vai de uma para outra,
ambas são pesadelo e não vou pensar em
nenhuma. Contemplo seu impressionante torso
muscular, tentador, forte e poderoso. No vídeo
parecia letal. Não era tão sólido como agora, não
parecia perigoso, à primeira vista, mas seus olhos
vazios diziam tudo. Agora seu temperamento mortal
deve adicionar a força de seu corpo. "Pare"!
Pego as calças. Como eu gostaria de poder arrancar
todos esse pensamentos da cabeça.
— Agora as calças -, digo a tropeços, desabotoando
bruscamente e me ajoelhando de novo a seus pés.
Não comenta meus movimentos nervosos. Sabe o
que estou pensando. Fecho meus olhos e abro
somente quando o ouço se mexendo, ao me ver
com suas calças na mão. Não vai dizer nada e eu
lhe agradeço.
“Concentre-se. Concentre-se. Concentre-se".
Demoro uma eternidade para subir por suas pernas
os deixo sem abotoar na cintura, suspensas por
seus quadris. Meu coração está batendo com força
no peito, mas tantas emoções o tem esgotado. Não
vai demorar em falhar. Ele está me quebrando,
407
literalmente.
— A camisa-, digo em voz baixa, como se estivesse
repassando uma lista. — Precisamos de uma
camisa.
Relutantemente afasto minhas mãos dele e procuro
entre os trilhos de camisas caras. Não me incomodo
em examinar todos elas, pego uma das muitas
camisas brancas e a desabotôo com cuidado para
não enrugá-la. Sua respiração beija minhas
bochechas enquanto a seguro e coloca os braços.
Ele está calado e colaborando. Me deixa fazer ao
meu ritmo. Abotôo lentamente, escondendo a
perfeição de seu peito. Levanta o queixo para tornar
mais fácil abotoar o colarinho. E lá está ele: o
chupão mais escandaloso do mundo. Passo punhos
ignorando minha mente, imaginando como ele vai
lavar o sangue deste tecido tão fino. Haverá
sangue?
Fecho meus olhos por um momento para deixar de
pensar nessas coisas.
Gravata. Há muitas, um arco-íris completo. No final,
decido por uma cinza prateada, combinando com as
listras do terno. Me aproximo dele e me dou conta
de quão difícil vai ser. Nunca vou conseguir fazer
um nó a seu gosto. Começo a brincar com o tecido,
olho para cima e seus olhos azuis preguiçosos me
observam. Imagino que é assim que deve ter
estado me olhando, desde que me fechei no meu
mundo e comecei a vestí-lo.
— Melhor você fazer-. Aceito minha derrota e lhe
ofereço a gravata, mas afasta minha mão e me
agarra pela cintura me sentando na cômoda.
Me dá um beijo nos lábios e levanta a gola da
camisa.
— Não, você faz.
408
— Eu?- Não confio em mim e ele nota. — Eu não
vou fazer bem feito-.
— Eu não ligo-, leva minhas mãos ao seu pescoço.
— Quero que faça o nó da gravata para mim.
Nervosa e surpresa, passo a suave tira de seda por
seu pescoço e deixo cair as duas extremidades
sobre seu peito. Minhas mãos tremem e titubeiam.
Respiro fundo um par de vezes, me acalmo e me
concentro em fazer o nó da gravata de Miller Hart.
Tenho certeza que nunca, ninguém teve o privilégio.
Dou muitas voltas e perco meu tempo, mas não
importa. Sinto uma enorme pressão, tudo bobagem
minha. Não pareço ser capaz de ser racional e não
dar mais importância do que tem. Para mim, é
importante. Bato o nó cem vezes, inclinando a
cabeça, passando por cima de todos os ângulos. Me
dá a impressão de que está bastante perfeito.
Tenho certeza que para Miller parece ser uma
tragédia grega.
— Feito-, anuncio colocando as mãos no colo, mas
sem afastar a vista do nó mais ou menos perfeito.
Não quero ver sua cara de desgosto.
— Perfeito-, sussurra levando minhas mãos aos
lábios. Ele utilizando esse adjetivo para descrever o
trabalho de outro me deixa pasma.
Me atrevo a olhar para seu rosto, tem a respiração
em meus dedos.
— Você nem viu.
— E eu nem preciso.
Franzo a testa e olho de novo a gravata.
— Mas não está perfeita ao estilo Miller-, digo
perplexa. Onde está o tremor das mãos, que estão
morrendo de vontade por arrumá-lo?
— Não-. Miller beija uma e outra mão e volta a
deixá-las perfeitamente em meu colo. Logo, baixa o
409
colarinho da camisa, com pouco cuidado. — Está
perfeito ao estilo Olivia.
Olho para cima como um raio. Seus olhos brilham
um pouco.
— Mas, perfeito ao estilo Olivia não é perfeito de
verdade.
Um sorriso bonito se une ao brilho em seus olhos e
traz ordem ao caos do meu mundo.
— Você está errada-. Retrocedo ao ouvir sua
resposta, mas não discuto. — O colete?-
— Certo-, pronuncio a palavra lentamente, desço da
cômoda e volto aos trilhos.
Mantêm o sorriso no lugar.
— Se apresse.
Com a testa franzinda vou pegar o colete. Não
posso parar de olhar para ele, morta de curiosidade.
— Aqui está-. Sustento o colete para que ele pegue.
— Vamos fazer do seu jeito-, me lembra, se
aproximando e estendendo um braço para que eu o
vista. — Gosto que você cuide de mim-.
Bufo zombando, e começo a rir. Tiro o colete do
cabide e começo a colocá-lo. Logo o tenho cara a
cara e pega minhas mãos para que abotoe. Só
posso obedecer, abotôo todos os botões e pego as
meias e os sapatos quando termino. Me ajoelho com
a bunda nos calcanhares, para colocá-los e amarrar
os cordões, antes de esticar a calça para baixo. Por
último, o paletó. Com isso está pronto. Está
espetacular e tem o cabelo molhado e super
encaracolado.
Está divino.
Deslumbrante.
Devastador.
— Pronto-, suspiro e dou um passo para trás, para
vê-lo melhor enquanto puxo minha toalha. — Ah! -
Corro para pegar o frasco de Tom Ford. Não resisto
410
em cheirar o frasco antes colocar algumas gotas no
pescoço de Miller. Levanta o queixo para me ajudar
e crava seus olhos em mim, enquanto o perfumo.
— Agora sim, está perfeito.
— Obrigado-, sussurra.
Guardo o frasco, evitando olhá-lo nos olhos.
— Não tem que me agradecer.
— É verdade-, responde suavemente. — Tenho que
agradecer ao anjo que te colocou em meu caminho.
— Ninguém me colocou em seu caminho, Miller.
Diante de mim, há uma beleza inemaginável e
estreito os olhos para que não queime minhas
pupílas. — Você me encontrou.
— Me dê “o que mais gosto”.
— Eu vou te amassar todo.
Não sei por que procuro desculpas, quando morro
por abraçá-lo. Bem, eu sei: não serei capaz de
soltá-lo.
— Eu te pedi uma vez-, avança até mim, com
delicadeza, mas ameaçador. — Não faça com que
eu tenha que me repetir, Olivia.
Aperto os lábios e nego com a cabeça.
—Não poderia suportar ter que soltá-lo. Não serei
capaz de deixar você ir.
Faz uma careta e seus olhos azuis ficam vidrados.
— Eu te imploro, por favor.
— E eu te imploro que não me obrigue a fazê-lo-.
Me mantenho firme, sei que é o certo. —Te amo.
Vá.
Nunca fui tão desafiadora na minha vida. Não ceder,
está me matando e ver Miller sem saber o que
fazer, tampouco me ajuda. Seus sapatos caros não
se movem do lugar e seus olhos não se afastam dos
meus, como se estivesse tentando ver o que há
mais além do meu forçado e resistente exterior.
Este homem lê meus pensamentos. Sabe o que
411
estou fazendo e grito em silêncio que me deixe
fazê-lo. Do meu jeito. Tenho que fazer do meu jeito.
Sinto um grande alívio quando dá meia volta e me
seguro à cômoda para não cair. Anda devagar, seus
passos lentos refletem sua dor, e ainda não saiu do
quarto. Sinto o impulso irrefreável de gritar que não
vá e meus pés ameaçam começar a correr atrás
dele.
"Seja forte, Olivia".
As lágrimas ardem meus olhos e meu coração vai
sair pela garganta. Isso é uma agonia.
Para na porta.
Prendo minha respiração.
Ouço-o puxar uma respiração.
— Olivia Taylor, nunca deixe de me amar.
Desaparece.
Fico sem forças e desabo no chão. Mas não choro.
Não até que ouço a porta principal fechar. Então
tudo sai de mim em jorros, como uma cascata.
Apoio as costas na cômoda e levo meus joelhos ao
peito. Afundo a cabeça neles e os circulo com meus
braços. Me faço tão pequena quanto posso.
Choro.
Durante uma eternidade.
Está vai ser a noite mais longa da minha vida.
412
CAPÍTULO 23
415
— Olivia... - faz uma pausa, como se não quisesse
me dar a informação. Meu estômago revira, fazendo
com que eu me sinta doente instantaneamente. Ele
planejou drogar Miller e entregá-lo a essa russa
diabólica.
— O quê?
Solto a maçaneta e cambaleio.
— Meu Deus...
Começo a tremer. Não poderá matar Charlie. Entro
em pânico só de pensar, mas como sei o que essa
mulher seria capaz de lhe fazer, passo diretamente
ao terror absoluto. Destruirá tudo que tanto lhe
custou consertar. Será outra vez como no vídeo.
Minha garganta se fecha. Não posso respirar.
— Livy!-, grita Sophia me tirando do meu ataque de
pânico. —Dois, zero, um, cinco. Lembre-se desse
número. Além disso, você também precisa saber
que eu destruí a pistola. Eu tenho um vôo para
lugar nenhum. Ligue para William. Tem que deter
Miller, antes que perca ele para sempre.
Desliga.
Solto o telefone e fico olhando para a tela. Sem
parar para pensar no que devo fazer a seguir, saio
pela porta, impulsionada pelo pânico.
Preciso de William. Tenho que descobrir onde está o
Templo. Mas primeito tento ligar para Miller e grito
de desespero quando cai no correio de voz. Desligo
e tento de novo. De novo. E de novo.
— Atenda ao telefone!-, grito apertando o botão do
elevador. Não atende. Vai para o correio de voz
mais uma vez e tento pegar ar para falar, rezando
para que escute a mensagem antes de aceitar uma
bebida no Templo.
— Miller-, arquejo enquanto se abrem as portas.
—Me ligue, por favor. Eu... - minha língua parece
ter virado trapo e meu corpo nega se mover quando
416
olho o interior do elevador. — Não-, sussurro
retrocedendo, fugindo do que me dá tanto medo.
Deveria dar meia volta e começar a correr, mas
meus músculos se transformaram em pedra e
ignoram os gritos do meu cérebro. — Não-, balanço
a cabeça.
É como se tivesse me olhando em um espelho.
— Olivia-, os olhos azuis marinhos de minha mãe se
dilatam um pouco. — Olivia, baby, o que você tem?-
Não sei por que acredita que meu estado se deve a
algo mais do que tê-la encontrado no elevador. Dou
um passo para trás.
— Olivia, por favor. Não fuja de mim.
— Vai, sussurro. -Vai embora, por favor.
É a última coisa que preciso. Ela não. Tenho coisas
mais importantes que requerem da minha atenção,
que merecem minha atenção, que precisam da
minha atenção. Meu ressentimento aumenta quando
penso que vai me atrasar ainda mais. Se não fosse
pelo tempo correndo, a atacaria com essa insolência
que herdei dela. Mas não tenho nenhum minuto a
perder. Miller precisa de mim. Dou meia volta e
corro para a escada.
— Olivia!
Ignoro seus gritos desesperados, atravesso a porta
e desço as escadas de cimento de dois em dois. Os
cliques altos de seus saltos indicam que está se
aproximando de mim, mas os Converse correm
mais que os saltos, principalmente quando se tem
pressa. Desço um piso atrás do outro, enquanto
tento marcar o número de William com os dedos
torpes no tempo em que fujo de minha mãe.
— Olivia!-, grita sem fôlego. Corro ainda mais
depressa. — Sei que você está grávida!
— Você não tinha direito de contar!- Corro escadas
abaixo. O medo e a preocupação se transformam
417
em fúria implacável. Me devora por dentro e ainda
que me assuste com o quão rápido se apodera do
meu corpo, sei que será de ajuda quando tiver
conseguido escapar dessa prostituta egoísta e
esteja com Miller. Preciso desse fogo em minhas
entranhas e ela as está enchendo.
— Me contou tudo. Aonde Miller foi, o que vai fazer
e porque vai fazer.
Paro bruscamente e me viro. Se apoia contra a
parede esgotada, ainda que seu terninho branco
pareça imaculado, igual a seus cachos perfeitos e
brilhantes. Me coloco na defensiva e amaldiçôo
aquele taridor do William e toda a sua linhagem.
— Onde fica o Templo?- Exijo saber. — Me diga!
— Não vou te dizer, para que se meta nessa
carnificina -, me diz inflexível.
Mordo a língua, rezando para manter a calma.
— Diga-me!-, grito. Estou perdendo a pouca
sanidade que me resta. — Você me deve! Diga-me!-
Faz uma careta, ferida, mas não sinto a menor
compaixão.
— Não me odeie. Não tive escolha, Olivia.
— Todo mundo tem escolha!
— Miller teve?
Retrocedo em desgosto.
Dá um passo até mim, em dúvida.
— A tem agora?
— Cale-se!
Não o faz.
— Está disposto a fazer qualquer coisa, contanto
que você esteja à salvo?
— Cale-se!
— Daria sua vida por você?
Agarro-me ao corrimão com tanta força que não
sinto a minha mão.
— Por favor.
418
— Eu faria-, se aproxima um pouco mais. — E já o
fiz-.
Fico congelada no lugar.
— Minha vida acabou no dia em que te abandonei,
Olivia. Desapareci da face da terra para te proteger,
querida.
Estende a mão até mim e observo horrorizada e em
silêncio como se aproxima.
— Sacrifiquei minha vida para que você pudesse ter
a sua. Nunca teria estado à salvo se tivesse ficado
com você. – Sua suave carícia aterrissa em meu
braço, olho para ela sem conseguir afastar a vista
até que pega minha mão e a aperta com ternura.
— E voltaria a fazê-lo, eu te juro.
Não posso me mover. Procuro desesperadamente a
falsidade em suas palavras, mas não a encontro. Só
ouço que fala de coração, com a voz quebrada pela
dor. Entrelaça os dedos com os meus. Permanece
em silêncio. O cimento da escada está frio, mas
sinto um calor em sua pele que me tranquiliza no
mais profundo, e que emana dela, da mulher que
odiei quase toda a minha vida.
Brinca com a safira que levo no dedo, logo levanta
minha mão, para que o brilho da pedra se reflita em
nós.
— Carrega meu anel-, sussurra, com um toque de
orgulho. Franzo o cenho, mas não afasto a mão.
Estou confusa pela sensação de paz que seu toque
me provoca.
— É o anel da vovó-, corrijo.
Gracie me olha com um sorriso triste nos lábios.
— William me deu esse anel-.
Engulo em seco e balanço a cabeça pensando em
todas as vezes que William brincou com o anel que
uso no dedo.
419
— Não. Vovô deu de presente para a vovó e vovó
me deu quando completei vinte e um anos.
— William me deu esse anel de presente, querida. O
deixei aqui para você.
Agora sim, afasto a mão rápido.
— O quê?
Seu queixo treme e se mexe incômoda. Reage igual
a William quando lhe falo dela.
— Disse que lembrava meus olhos.
Olho para a escada vazia. Minha cabeça dá voltas.
— Você me abandonou-, murmuro.
Gracie fecha os olhos, devagar, como se estivesse
tentando lutar contra as lembranças dolorosas, e
agora acredito que é possível que seja verdade.
— De verdade, não tive escolha, Olivia. Todas as
pessoas que gostava, você, William, a vovó e o
vovô, corriam perigo. Não foi culpa de William-.
Aperta minha mão. — Se tivesse ficado, o dano
teria sido muito maior. Ficaram todos melhores sem
mim.
— -Isso não é verdade-, discuto debilmente com um
nó na garganta. Tento encontrar o ódio que senti
por Gracie por toda a vida, para carregar minhas
palavras com ele, mas ele desapareceu. Se foi. Não
tenho tempo para pensar. — Me diga onde está!-,
exijo saber.
Seu corpo bem vestido murcha quando vê o que
está atrás de mim. Algo chamou sua atenção e me
viro para ver o que é.
William nos observa no pé da escada.
— Temos que encontrar Miller-, digo me preparando
para a oposição que sei que terei que encontrar.
— Me diga onde fica o Templo.
William nega com a cabeça.
— -Tudo terá terminado antes que se dê conta-, diz
com toltal segurança, mas isso não vai funcionar.
420
— Will - Gracie diz com doçura.
Lança-lhe um olhar de advertência e nega com a
cabeça. A está advertindo. A está advertindo para
que não me diga.
Gracie não tira os olhos de cima dele. Não tenho
tempo para voltar a perguntar.
— O número oito do Park Piazza-, sussurra.
William amaldiçoa em voz alta, mas eu ignoro e
coloco meus pés em movimento. Empurro William
para que me deixe passar.
— Olivia! - diz pegando meu braço e me
imobilizando.
— Sophie me ligou-, digo entredentes. - Charlie vai
drogar Miller. Se ele entregá-lo a essa mulher, o
perderemos para sempre.
— O quê?
— Ele vai drogá-lo! Não vai conseguir se livrar de
Charlie, porque estará em coma! O destruirá para
sempre!
Se indireita, olhando atrás de mim, para Gracie.
Comunicam-se sem trocar palavras e eu olho de um
para outro tentando entender do que se trata.
Pode ser que eu não esteja em minha sensatez,
mas sei o que eu ouvi e não tenho tempo para
convencer William. Desço correndo o último degrau
da escada e corro até a saída. Dois pares de pés me
seguem, mas nenhum conseguirá me deter. Procuro
um táxi e grito de frustração ao não ver nenhum.
— Olivia!-, grita William, enquanto atravesso a rua
a toda pressa.
Dobro a esquina e suspiro aliviada ao ver que um
táxi para junto à calçada. Apenas dou tempo ao
passageiro para pagar antes de me sentar e fechar
a porta.
— Ao Park Piazza, por favor.
421
Me jogo no assento e passo a viagem rezando para
que não seja tarde demais. Amaldiçôo a gritos cada
vez que não atende minha chamadas.
O enorme edifício branco que está por trás de três
linhas de árvores é imponente. Tenho borboletas no
estômago e me custa respirar. Me assusto ao ver o
Lexus branco de William aparecer na esquina. Não
tento me convencer de que não sabe onde Miller
está. Parte de seu trabalho é estar à par de tudo.
Subo a escada até as portas duplas. A medida que
me aproximo os sons do interior se distinguem com
mais claridade. Há risos, conversas e música
clássica soa ao fundo, mas a felicidade que se
respira entre essas quatro paredes não elimina
minha apreensão. Noto as barreiras invisíveis que
tentam me impedir que continue avançando, é
como se a casa falasse comigo.
"Este não é o seu lugar."
"Vá embora."
Ignoro.
Vejo um interfone e uma aldrava, mas o que chama
a atenção é o teclado. Quatro dígitos.
Dois, zero, um, cinco.
Digito, e ouço como o bloqueio se destrava e
empurro a porta com cautela. Os sons se
intensificam, saturam meus ouvidos e me arrepiam.
— Você não sabe o que é bom para você, não é
mesmo?
Me viro com um suspiro. Tony está atrás de mim.
Ele também vai tentar me deter. O instinto toma
controle, chuto a porta e entro em um vestíbulo
gigantesco, com escadas em caracol em ambos os
lados e um hall enorme. É ostentoso até não poder
mais e por um instante fico atordoada. Então me
dou conta de que não sei o que fazer. A única coisa
em que pensava era em encontrar Miller, em
422
impedir que o destruíssem para sempre sem que eu
pudesse arrumá-lo.
— Por aqui-, Tony me pega pelo braço e me leva
pela direita, de forma agressiva. —Você é uma
grande dor na bunda, Livy. – Me leva em uma sala
das mais extravagantes e fecha a porta com uma
batida. Me solta e me empurra contra a parede. —
Vai conseguir que o matem!
Não tenho tempo para contar a Tony as novidades,
porque a porta se abre de repente e fico sem fôlego
ao ver Charlie.
— Me alegro de voltar a te ver, doce menina.
— Merda-, amaldiçoa Tony, passando uma mão
trêmula pela careca suada. — Charlie.
Olho de um para o outro. Meu coração bate tão
forte que acredito que podem ouví-lo. O sorriso
malévolo de Charlie me diz que pode sentir meu
medo. Aproxima-se casualmente sem deixar de me
olhar e dá a Tony um tapinha no ombro. É um gesto
amigável, mas sei que de cordial não tem nada e
me basta um olhar para perceber que Tony também
sabe. Está nervoso.
— Só tinha que se encarregar de uma coisa-,
murmura Charlie, enquanto Tony se afasta receioso.
— Manter a garota longe.
O olhar acusatório de Tony me cai como um jarro
de água fria e perco a coragem.
— Te peço desculpas-, murmura balançando a
cabeça, desesperado. — A garota não sabe o que é
bom para ela, nem a ela nem ao garoto.
Se pudesse encontrar minha insolência, a
despararia em Tony como se fossem as balas de
uma metralhadora.
— Ah-, Charlie cai no riso. É um riso sinistro, para
me dar medo.
Consegue. Esse homem é o mal em pessoa.
423
— O garoto é especial-. Dá um passo até mim. —
Ou melhor, dizendo, meu garoto especial-. Dá outro
passo. — Mas você queria que fosse seu-. O tenho
frente a frente, despejando sua respiração em meu
rosto. Estou tremendo. — Quando as pessoas
tentam tirar o que é meu, elas pagam.
Fecho os olhos tentando esquecer o quão perto o
tenho, mas não surge efeito. O cheiro e o sinto. O
garoto especial. Quero vomitar, meu estômago se
revira e minha cabeça vai a cem por hora e me diz
que estava louca em acreditar que poderia
concertar isso sozinha. Só passei alguns segundos
na companhia de Charlie e de Tony, o suficiente
para saber que não vou sair deste quarto.
— Só uma pessoa tentou tirar algo que era meu e
viveu para contar.
Abro os olhos. Tem o rosto a um milimetro do meu.
Quer que eu lhe pergunte quem e quero, mas meu
cérebro não consegue enviar a minha boca as
palavras necessárias para obedecer a sua ordem
silenciosa.
— Sua mãe era minha.
— Ai, Deus-, murmuro. Não sinto os joelhos e
cambaleio. A parede é a única coisa que me
sustenta. — Não -, balanço a cabeça.
-— Sim-, responde. — Me pertencia e a única razão
pela qual não arranquei as tripas de William
Anderson foi pela satisfação que tinha ao saber que
sem ela o resto de sua vida ia ser um inferno.
Me encurrala com um cão de caça e tira o ar dos
meus pulmões. Não posso falar. Não posso pensar.
Fiquei em branco.
— Matá-lo teria sido muita bondade-. Acaricia minha
bochecha, mas nem sequer pisco. Sou uma estátua.
Uma estátua atordoada. — O que você sente ao
saber que te abandonou para salvar sua vida?
424
Tudo se encaixa. Tudo. William não se desfez dela.
Ela não me abandonou porque não me queria.
Charlie a obrigou a ir embora.
— Afaste-se Charlie.
Não move um músculo. Seu corpo me tem presa
contra a parede. Apenas posso respirar, mas essa
voz é o som mais maravilhoso do mundo.
— Pode ir, Tony-, a ordem de William não admite
protestos.
Ouço como a porta se fecha e passos. Ainda que
não possa ver William, sua presença é como uma
faca que corta a tensão no ar.
— Eu disse para você se afastar-, repete
severamente.
O vejo com o canto do olho, imponente, mas não
posso afastar a vista dos olhos vazios de Charlie.
São cinza.
Vou desmaiar.
Me lança um sorriso ameaçador de superioridade,
como se pudesse ver o que acabo de compreender.
— Olá, meu querido irmão-, diz lentamente,
virando-se para ele.
Minha mandíbula chega ao chão e tenho um milhão
de palavras na ponta da língua. Irmão? Os olhos.
Como é que não me dei conta antes? Os olhos de
Charlie são idênticos aos de William, exceto que os
de William são doces e brilhantes e os de Charlie
são duros e frios. São irmãos. Também são
inimigos. Não posso conter o bombardeio de
informações fragmentadas que cai sobre minha
mente, dados que tomam sentido e confirmam uma
realidade muito complicada.
Gracie, William e Charlie.
Canificina.
Os olhos cinza de William endureceram tanto
quanto os de seu irmão e suas palavras beiram a
425
ameaça. São pedaços de William que conheço, só
que corrigidos e aumentados. Da tanto medo como
Charlie.
— Você não é nada para mim, apenas uma mancha
na minha vida.
— Eu também te amo, irmão. - Charlie se aproxima
tranquilamente de William e abre os braços em um
gesto condescentente. — Não vai me dar um
abraço?
— Não-. William aperta os lábios e se afasta, longe
da presença imponente de Charlie. — Eu vim para
levar Olivia.
— Nós dois sabemos que isso não vai acontecer-.
Me olha por cima do ombro de seu irmão. — Não
pode controlar Gracie, Will. O que te faz pensar que
poderá controlar sua filha?
Desvio os olhos, seu olhar intenso me incomoda. Ele
sabe quem eu sou.
William começa a tremer.
— É um desgraçado.
Charlie arqueia as sobrancelhas. Parece que lhe
interessa.
— Um desgraçado?
Não gosto da preocupação que cruza o rosto de
Charlie quando pisca até mim antes de voltar a
sustentar o olhar de gelado de seu irmão. Mas não
diz nada.
— Um desgraçado... - medita Charlie pensativo. -
Que classe de desgraçado colocaria essa linda
menina para trabalhar?
Franzo o cenho sem tirar os olhos de cima de
William. Sei que está lhe custando ficar quieto. Está
incomodado. Já o vi assim antes e, quando me olha,
meu coração afunda.
— O que você acha?- Parece uma pergunta
inocente, mas sei para onde vão os tiros.
426
— Não continue-, adverte William.
— Não tem que dizer nada-, suspira Charlie com um
sorriso ameaçador de satisfação. — Me diga, que
classe de desgraçado colocaria sua sobrinha para
trabalhar?-
— Charlie! - ruge William, mas o feroz rugido não
me assusta. Acabo de morrer.
— Não-, sussurro negando com a cabeça como uma
louca. Não é possível. Olho em todas as direções e
todo meu corpo treme.
— Me perdoe, Olivia-, diz William abatido. — Não
sabe o quanto eu sinto. Eu te disse, quando soube
quem você era te mandei de volta para casa. Não
sabia.
Vou vomitar. Olho para William, mas só vejo dor.
— Então não disfrutou, permitindo que minha filha
vendesse seu corpo?
— Você e eu não somos feitos da mesma massa,
Charlie. – A desaprovação distorce o rosto de
William.
— Somos do mesmo sangue, Will.
— Não nos parecemos em nada.
— Tentou tirar Gracie de mim-, diz Charlie
apertando os dentes, mas a raiva que ferve em seu
interior não é o resultado de ter perdido a mulher
que amava. É uma questão de princípios. Não
queria ser o perdedor.
— Não queria vê-la neste mundo podre! E você,
maldito sanguessuga, a obrigou a permaner nele!-
— Era minha mina de ouro-, bufa Charlie com
insolência. — Tínhamos um negócio para manter,
irmão.
— Não podia suportar a ideia de queria a mim. Não
podia suportar o jeito que te detestava!- William dá
um passo até ele, cheio de agressividade. O terno
427
treme sobre seu corpo gigantesco. — Deveria ter
sido minha!
— Mas não lutou o suficiente por ela!-, ruge Charlie.
Essas palavras. Estremeço ante a complexidade da
história da minha mãe, que se repete na minha
frente. Dois irmãos amargos. Uma dinastia dividida.
William deixou o bastardo sem moral, para poder
ser imoral sozinho.
William praticamente ruge:
— -Tentei lutar com todas as minhas forças contra o
que sentia por ela. Não queria vê-la neste mundo
doente em que vivemos, você e eu. Você a enfiou
até o fundo. E a dividia com seus clientes!
— Ela não protestava. Ela adorava a atenção... A
disfrutava.
Faço uma careta e William faz cara de nojo antes de
perder a calma. Está lívido. Vai explodir. É óbvio.
— Você gostava de me machucar e você se
aproveitava. A empurrou para a bebida e lavou seu
cérebro. Gostava de me ver morrendo pouco a
pouco.
Começo a rezar. Quero que isso não seja real. Que
o sangue deste demônio não seja o que corre por
minhas veias.
Charlie sorri satisfeito e me dá calafríos.
— Teve a minha filha, Will. Isso a fez minha.
— Não.
A voz melodiosa de Gracie flutua no quarto e todos
nos viramos até a porta. Está de pé, erguida, com o
queixo bem alto. Entra no quarto e sei que está
lutando para ser valente na presença de Charlie.
Porém, tem medo dele.
— Olivia não é sua e você sabe.
Arregalo os olhos. William observa minha mãe, quer
mais detalhes.
— Gracie?
428
Ela olha para ele, mas dá um passo para trás
quando Charlie se aproxima, ameaçador.
— Não se atreva!-, ele ruge.
Ela se sobressalta, mas William e eu viramos
pedras.
— Ele ameaçou machucá-la se eu contasse a
alguém.
— Maldita vadia!-, se lança sobre ela, mas William o
intercepta e o envia a vários metros de distância
com soco no meio da cara. William ruge furioso.
Charlie recupera o equilibrio e minha mãe grita.
— Não se atreva a tocá-la!- late apertando os
punhos, enviando faíscas de raiva pelos olhos.
Tento me concentrar em metade dessa loucura.
Charlie não é meu pai? Estou chocada demais para
poder me alegrar com a notícia de que não seja. É
demais. Muita informação a uma velocidade que
minha frágil mente não pode processar.
Gracie contêm William, mas não demora em se
afastar dele, como se também tivesse medo.
— Me prometeu que deixaria em paz meu bebê se
desaparecesse -, diz desolada.
Parece envergonhada. William olha para ela como
se estivesse vendo um fantasma. — Me prometeu
que não mataria você...
Respira fundo para tomar coragem.
— Não-, murmura William. Sua mandíbula treme.
— Por favor, Gracie, não.
— Me prometeu que não mataria o pai da minha
filha se eu desaparecesse.
— Não! Joga a cabeça para trás, grita para o céu e
leva as mãos a cabeça.
Meu mundo se faz em pedaços. A parede me segura
quando cambaleio para trás, desorientada, e me
seguro a ela, como se pudesse me engolir e evitar
os horrores que estou enfrentando. William deixa
429
cair a cabeça e um milhão de emoções invadem seu
rosto, uma atrás da outra: surpresa, dor, raiva... E
a culpa quando levanta os olhos até mim. Não
posso lhe oferecer nada. Sou uma estátua. O único
que resta são meus olhos arregalados e meu corpo
petrificado, mas não precisa de mais do que isso.
Nós dois estamos alucinando.
Charlie lança a minha mãe um olhar mortal.
— Puta. Não te bastavam dez homens na semana.
Ainda queria que meu irmão fosse seu.
— Me obrigou a aceitá-los-, ela grita. —Você me fez
escrever a porra dos detalhes!
— Você me enganou!-, Charlie solta fumaça. Pela
primeira vez desde que entrei por essa porta vejo
seu rosto desfigurado por sua perigosa ira. — Achou
que eu fosse imbecil, Gracie!
Se aproxima da minha mãe e meu pulso se acelera
quando a vejo retroceder e William rapidamente se
interpõe entre eles para protegê-la
— Não me obrigue a te matar, Charlie.
— Não poderia colocar as mãos nos bolsos-,
provoca, esticando os punhos da jaqueta. É um
jesto que me lembra de Miller e de repente volto a
vida e me afasto da parede que permaneci colada
todo esse tempo. Tenho que encontrá-lo.
Saio disparada até a porta.
— Aonde acha que vai, minha querida sobrinha?-
Vacilo ao sentir sua respiração em minha nuca. Mas
não me detenho.
— Vou buscar Miller-.
— Acho que não-, afirma muito seguro de si
mesmo. Agora sim, paro. — Isso seria sensato.
Me viro muito lentamente. Não gosto de tê-lo tão
perto. Mas por pouco tempo. William me pega pelo
braço e me afasta dele.
430
— Nem olhe para ela-, diz William pegando Gracie
com a outra mão e nos apertando contra seu peito.
— São minhas. As duas.
Charlie começa a rir.
— É uma reunião familiar das mais comoventes,
meu querido irmão, mas acredito que se esquece de
uma coisa. -Se inclina para frente. — Posso colocá-
los na cadeia por toda a vida, você e o menino com
rosto bonito, com apenas uma chamada para o
entregador-. Sorri muito satisfeito consigo mesmo
— -A pistola que matou nosso tio, Will, eu a tenho.
Está cheia de impressões digitais, adivinha de quem
são?
— Bastardo!
— -Não tem a pistola-, balbucio. De repente penso
com clareza. Me separo de William e ignoro Gracie,
que me diz para voltar, preocupada. William tenta
pegar meu braço, mas me afasto. — Deixe-me.
— Olivia-, me adverte William tentando me pegar
outra vez.
— Não.
Dou um passo a frente. O desprezo com que me
olha Charlie, me dá coragem. Esse filho do mal é
meu tio. Prefiro tê-lo como tio a pai, mas só sendo
da mesma familia me faz ter vontade de tomar
banho com uma lixa.
— Sua mulher te deixou.
Compõe um sorriso de escárnio. Acha a notícia
engraçada.
— Não se atreveria a fazê-lo.
—Está em um avião.
—Besteira.
—Para fugir de você.
—Jamais.
— Mas antes de escapar contou um segredo a Miller
- continuo. Estou gostando de ver como seu sorriso
431
maligno não é tão grande como antes. — Já não há
nenhum vídeo de Miller matando um de seus
homens-, digo com calma, serena. Agora ouço com
absoluta clareza a voz de Sophia antes de desligar.
— Porque Sophia o destruiu.
Adeus sorriso.
O bastardo sem moral se arrastou por toda a vida
como um réptil a base de chantagens e
manipulações. O ressentimento o devorou durante
anos. É um malvado que vai de cabeça para o
inferno e espero que um dos homens que amo o
ajude a ter uma boa viajem.
— Gracie não te queria e Sophia muito menos.
— Eu te disse para se calar!-, está tremendo, mas
meu medo desapareceu quando minhas ideias
clarearam.
— Também se desfez da pistola. Você não tem
nada!
De repente estou voando e presa contra a parede,
com a mão de Charlie em meu pescoço.
Ouço gritos mas não são meus. É Gracie.
— Não a toque!
Charlie gruda o rosto no meu e seu corpo me
encurrala contra a parede. Engulo saliva várias
vezes, tentando pegar ar.
— Você é uma pequena vadia patética -, ruge. —
Igual a sua mãe. Sua respiração sobe por minha
cara de espanto.
Mas só durante uma fração de segundo, porque seu
corpo sai disparado para trás e William o tira do
chão com um só movimento. Os observo
horrorizada enquanto o todo o inferno quebra solto.
Não preciso ficar para saber como isso terminará.
Eu imagino e minha missão é encontrar Miller. Toda
essa depravação, a teia de enganos e mentiras, tem
432
desempenhado um papel muito importante na vida
de ambos. Acabou.
Faço meu caminho e ouço uma série de golpes, que
devem ser os socos que William está oferecendo a
Charlie, na cara, seguido de uma torrente de gritos
e insultos. Eles estão por conta própria. Não penso
em perder um segundo a mais no inferno de suas
vidas destroçadas. Já tive que suportar bastante e
estou a ponto de arrancar Miller das garras
corruptas de Charlie. Saio do estúdio e deixo para
trás uma comoção de proporções épicas. Corro até
os risos e conversas. Acreditava que tinha todos os
dados. Acreditava que sabia o que tinha acontecido.
Estive tentando entender tudo por nada. Agora
tenho uma nova versão atualizada e a odeio ainda
mais do que a anterior.
Sigo até o imenso salão. Estou perdida em um mar
de trajes de noite e smokings. As mulhes tem taças
de champanhe na mão e os homens bebem copos
de uísque. O dinheiro está aqui dentro. Mas só
posso pensar em Miller. Olho por todas as partes,
todos os rostos, procurando-o desesperadamente.
Não o vejo. Minhas pernas começam a andar entre
a multidão. Alguns me olham, outros franzem o
cenho, mas a maioria se limita a desfrutar da
companhia e da bebida. Um garçon passa ao meu
lado com uma bandeija de taças de champanhe e
ainda se detêm e franze o cenho , me oferece uma.
— Não-, digo-lhe rudemente sem deixar de
inspecionar a sala, e grito de frustração quando não
consigo encontrá-lo.
— Olivia, baby... - uma mão quente toca meu braço
e me viro rapidamente. Minha mãe me olha
preocupada.
— Onde está?-, grito atraindo um milhão de
olhares.
433
— Tenho que encontrá-lo!-
O pânico acaba com minha determinação e minhas
emoções transbordam. Tremo e meus olhos se
enchem de lágrimas de terror. Me entreti demais.
Pode ser que seja muito tarde.
— Shhhh... -, me diz como se tentasse acalmar um
bebê. Puxa meu corpo sem vida, até que me tem ao
seu lado e acaricia meu cabelo.
Apenas uma pequena parte de mim se permite
sentir o imenso consolo de ter seu calor ao meu
redor. É estranho e me confunde, mas me faz muita
falta. Ele vai contra tudo, mas é o melhor do
mundo. Do meu esconderijo no oco de seu pescoço,
percebo que mexe a cabeça. Ela também está
procurando Miller.
— Me ajude-, sussurro melancólica, desmoronando.
— Me ajude, mamãe. Por favor.
Deixa de se mover e embaixo da palma da minha
mão se acelera seu coração. Me afasta um pouco e
durante alguns instantes estuda cada traço do meu
rosto, até chegar a meus olhos. Vejo safiras iguais
as minhas e seca as lágrimas que rolam por minha
bochecha.
— Nós o encontraremos, baby-, me promete
fechando os olhos e me dando um beijo na testa.
— Encontraremos o seu amado.
Me conduz entre a multidão, sem tentar ser
educada ou considerada.
— Afasta-, ordena e as pessoas se afastam
receosas. Custa-me seguir seus passos e não me
escapa como muitos pronunciam surpresos o nome
de minha mãe. Não sou a única que sente que ela
ressucitou dos mortos.
Chegamos ao enorme vestíbulo e Grace se detêm.
Olha de um lado para o outro. Não sabe aonde ir.
434
— -Está na suíte Dobly-, diz Tony saindo do nada.
Me viro e me oferece uma chave. Meu coração
afunda. Não posso respirar. Está em um quarto.
Pego a chave e subo escadas acima como uma bala,
frebética e gritando seu nome.
— Miller!-, grito ao chegar ao hall. — Miller!-
Vejo uma placa dourada em uma porta. Suíte
Dobly. Meto a chave na fechadura com os dedos
desajeitados antes de bater a porta como uma bola
de demolição. O choque da madeira contra a parede
retumba em toda a casa e me sobressalta. A suíte é
muito grande e olho em todas as direções com
olhos arregalados, presa pelo pânico, não posso
nem pensar em me mover.
Então o vejo.
E meu coração se quebra em mil pedaços.
Está nu e com os olhos vendados e preso em
algemas douradas que saem do luxuoso papel
pintado. Fico gelada. Tem o queixo fundido ao peito.
Respiro com dificuldade e não consigo me mover
por mais que grite a mim mesma que corra para
seu lado. Não moveu um músculo. Engulo um
soluço afogado ao me dar conta que cheguei tarde
demais e grito em frustração. Só então, vejo a ruiva
alta que se aproxima de mim com um chicote na
mão.
— Como se atreve a nos interromper?-, grita
açoitando o chicote. A ponta roça minha bochecha e
retrocedo. Imediatamente noto meu rosto começa a
sangrar. Levo a mão a ferida e quase caio de susto.
Meus olhos vão sair das órbitas: quero ver Miller,
mas a maldade que emana dessa mulher me
impede. É poderosa e avassaladora, como um
maremoto.
— Está nos atrapalhando-, ruge com um forte
sotaque russo. — Vá embora.
435
Nem de brincadeira vou deixa Miller assim. Meu
sangue ferve.
— Não é seu!-, grito enloquecida, e me afasto
quando volta a estalar o chicote. A raiva é mais
forte que eu e reduz a cinzas meu medo.
Procuro no quarto qualquer objeto com que possa
me defender e vejo algo de metal na cama. É o
cinto de Miller. Me apresso para arrancá-lo das
calças. Tenho o corpo tenso e a ira me cega. Me
preparo para atacar.
— Pequena vagabunda, o que acha que vai
conseguir?-, se aproxima silenciosa como um
predador, retorcendo o chicote. Sem se abalar.
-— Ele me pertence-, murmuro entre os dentes,
enquanto luto deseperadamente para me manter
firme. Não estarei completa até que saia daqui com
Miller são e salvo em meus braços.
Seus lábios desenham um sorriso feroz que não faz
um arranhão ao muro de fúria que me rodeia. Eu
também sorrio, e com o olhar a desafio a vir me
pegar. O vejo com o canto do olho, pendurado
inerte a parede. Me enfureço mais ainda. Minha pele
arde com o calor que desprende do sangue que
ferve em minhas veias e antes de me dar conta
estou estalando o cinto e a fivela sacode no ar. Não
espero para ver onde aterrissa, mas grita e sei que
a acertei. Corro até Miller e lhe acaricio a bochecha
e a barba. Murmura algo ininteligível e estreita os
olhos em minha mão. Tenho um barril de pólvora
embaixo da pele e minhas mãos procuram suas
ataduras. Começo a tirar as algemas calmamente.
— Afaste-se dele!-, de repente a tenho ao meu
lado, puxando o braço de Miller, marcando
território. Ele faz uma careta e choraminga. É de
partir o coração.
Não posso suportar.
436
Me viro, furiosa, acertando tapas sem parar para
pensar.
— Não o toque!-, grito e lhe dou um tapa bem
sonoro com o dorso da mão. Cambaleia
desorientada, e aproveito para empurrá-la longe de
Miller. Meu Miller.
Não tenho medo. Nem um pouco. Me concentro de
novo em Miller, mas afogo um grito quando algo
agarra meu pulso e não é uma mão. A dor é intensa
e o couro de seu chicote de pervertida contrai a pele
castigada de meu pulso.
— Afaste-se-, repete levando o chicote e me
aproximando dela. Grito de dor. Me meti numa boa.
Não vai renunciar a ele.
— Afaste-se você, Ekaterina.
Giro a cabeça ao ouvir a voz de minha mãe. Está
ofegante na porta, avaliando a situação. Parece
zangada. Tem as pernas abertas e olha para mim e
Miller, antes de se concentrar na pervertida que
está me segurando com chicote. Minha mãe a olha
com desprezo.
Leva uma arma.
Fico pasma sem poder tirar os olhos da arma que
aponta direto para a russa.
Só tenho que esperar alguns segundo antes que o
couro deslize de meu pulso e o esfrego para aliviar
a dor.
— Gracie Taylor-, medita sorridente. —Vou fingir
que não está me apontando uma arma-. Seu
sotaque é hipnótico e está muito calma.
— Me parece bom-, minha mãe não se intimida.
— Logo vai ligar para seu irmão e dizer que Charlie
não cumpriu sua parte.
Sombrancelhas perfeitamente depiladas se
arqueiam surpresas.
— Porque iria fazer isso?
437
— Porque o acordo a que haviam chegado seu
irmão e Charlie é nulo. Miller já não é propriedade
de Charlie, Ekaterina. Charlie não tem direito de
entregá-lo. Veja, parace que ele consentiu isso? Foi
coisa de Charlie. Tenho certeza que não é o que
esperava depois de tudo que te contaram sobre o
garoto especial-. Minha mãe sorri com uma frieza e
uma dureza que não havia visto antes. —Tem uma
reputação excelente, se não quer arruiná-la nem
que digam que é uma violadora, Ekaterina.
Solta o chicote e olha para Miller com um beicinho.
Depois olha para minha mãe.
— Eu gosto que me implorem para parar-, ela
parece muito indignada. Lentamente se aproxima
de Gracie, que baixa a pistola com cautela. — E digo
que Charlie Anderson o drogou e o entregou para
mim completamente inútil?
— Você quer escrito em sangue?
— Sim-, diz desdenhosa olhando minha mãe de
cima a baixo. — Com o sangue de Charlie-, diz
sério.
— Acredito que vou ligar para meu irmão. Ele não
gosta de me ver irritada.
— Ninguém gosta de te ver irritada, Ekaterina.
— Certo-, quase começa a rir e vira seus olhos
sujos até mim. — Se parece com você, Gracie.
Deveria lhe ensinar bons modos.
— Seus modos são perfeitos quando está com a
companhia adequada-, responde e Ekaterina lhe
sorri com frieza. — Charlie está no salão. William o
deixou com vida. Considere um presente de
agradecimento por parte de minha filha.
Sorri e assente satisfeita.
— Tem uma filha valente, Gracie. Talvez, até
demais - estremece de prazer só de pensar na
vingança.
438
— Obrigada pelo presente.
Tem um sotaque lindo, apesar da deixa violenta de
suas palavras.
— Adeus, Gracie -, sai rebolando do quarto, seus
quadris se movem sedutores enquanto arrasta o
chicote como se fosse a cauda de um vestido.
Gracie deixa escapar um suspiro de alivio. A pistola
cai no chão enquanto a russa desaparece. Vou
direto a Miller. No caminho pego uma toalha na
cama. Meu coração parte enquanto a enrolo em sua
cintura e tiro as algemas. Cai em cima de mim e a
única coisa que posso fazer é me colocar embaixo
para amortecer a queda.
Inclusive drogado se abraça a mim e ficamos no
chão por uma eternidade. Ele balbucia coisas
ininteligíveis e eu cantarolo suvemente em seu
ouvido.
Sei que não pode falar, mas lhe entendo
perfeitamente quando arrasta a mão em meu
ventre. A move em círculos com ternura até que
tenho certeza que nosso bebê responde a suas
carícias. Tenho borboletas no estômago.
— Meu bebê -, sussurra.
Minha mãe coloca a mão em meu ombro e me
desce de minha nuvem de felicidade. Seu calor se
extende por toda minha pele e vai direto para o
meu coração. Afasto-me de Miller confusa, porque
sei que não é ele o que tanto me conforta. É um
consolo extra. Abro os olhos. Gracie está ajoelhada
ao nosso lado, sorrindo um pouco.
— Pronta para levá-lo para casa, baby?-, pergunta
enquanto acaricia meu braço com ternura.
Assinto. Detesto ter que incomodar Miller, que está
deitado feliz em meus braços, mas morro para tirá-
lo daqui.
439
— Miller-, sussurro dando-lhe um pequeno
empurrão. Não responde. Olho para minha mãe em
busca de ajuda.
Willam entra andando a passos largos. Não posso
esconder a surpresa. Está feito um desastre: com o
cabelo cinza desgrenhado, o terno amassado.
Flexiona os dedos e dá pra ver que ainda está
irritado. Tem apenas uma contusão no queixo, mas
tenho a impressão de que Charlie não saiu tão bem.
— Temos que sair daqui-, diz depois de processar a
imagem diante dele.
— Miller não pode andar-, me dói tanto que quase
não posso dizê-lo.
Com movimentos tranquilos e eficientes, William
atravessa a suíte e pega Miller nos braços. Indica a
Gracie que me ajude e ela se apressa em obedecer
porque sabe que, apesar da calma aparente, ainda
corremos perigo.
— Estou bem-, a voz rouca de Miller me tira de meu
devaneio. Tenta fazer que William o solte. — Posso
andar, porra.
Que alívio. Se endireita e passa a mão pelos cachos,
que estão muito mais despenteados do que de
costume, para deixá-los só meio despenteados.
Arruma a toalha e me olha com seus olhos azuis.
Tem as pupilas tão dilatadas que parecem negras.
Fico imóvel, deixo que me disfrute, que lembre-se
de mim, até que assente muito lentamente e fecha
os olhos como gosto.
— O que está acontecendo?
Ele vai ter um ataque. É o centro das atenções,
meio nu e vulnerável.
— Drogaram você. Deixemos as explicações para
mais tarde-, lhe diz William não tão calmo. —
Temos que sair daqui.
440
Me afogo nessa suite tão fina. Os olhos de Miller vão
sair das órbitas. Não diz nada, fica ali de pé
assimilando a notícia. A mandíbula treme com
violência. Acho que sou uma sádica, porque gostaria
de saber o que está pensando.
— Onde está Charlie?- pelo seu tom de voz, tem a
intenção de matá-lo.
William se adianta e lhe devolve um frio olhar cinza.
— Acabou Miller. É um homem livre, sem as mãos
manchadas de sangue e sem que te pese a
conciência.
— Não me pesaria a conciência – zomba. — Nem
um pouco.
— -Por Olivia.
Lança um olhar assassino a William e franze o rosto.
— Ou porque é seu irmão.
— Não, porque somos melhores que ele.
William inclina a cabeça e Miller fica olhando para
ele, pensativo alguns instantes.
— Onde está a minha roupa?-, percorre o quarto
com os olhos, a vê em cima da cama e vai pegá-la.
— Um pouco de privacidade, por favor.
— Hart, não temos tempo para que você seja
exigente.
— Dois minutos! - grita jogando as calças sobre os
ombros.
Faço uma careta ao ver que William morde a língua
para não responder.
— Um minuto-, pega Gracie pelo braço e a tira do
quarto. Fecha a porta com um golpe.
O Miller Hart que conheço vai aparecendo com cada
peça de roupa requintada que coloca. Puxa os
punhos da camisa, arruma a gravata e o colarinho.
Nunca o havia visto fazê-lo tão rápido. Voltou a ser
o ele de sempre, ainda que não tudo. O olhar
ausente continua ali e suspeito que vá demorar em
441
ir. Quando termina, seu pomo de Adão sobe e desce
e me olha.
— Você está bem?-, pergunta olhando para minha
barriga. — Me diga que os dois estão bem.
Levo a mão a barriga sem pensar.
— Estamos bem-, asseguro e ele assente.
— Ótimo-, suspira aliviado, apesar de sua resposta
formal. Sei o que está fazendo, está se distanciando
e o entendo. Vai sair pela porta, forte e distante
como sempre. Não está preparado para mostrar a
esses bastardos cruéis nenhuma gota de fragilidade.
Por mim, perfeito.
Se aproxima de mim e quando estamos frente a
frente me pega pela nuca e massageia meu
pescoço.
— Estou loucamente apaixonado por você, Olivia
Taylor-, sussurra com a voz rouca e apoia a testa
na minha com delicadeza. — Vou deixar essa casa
do meu jeito, mas quando tivermos saído daqui sou
seu para que faça o que quiser comigo.
Me dá um beijo na testa e um apertão na nuca.
Sei o que está tentando me dizer, mas não quero
fazer o que me dá vontade com ele. Simplesmente
o quero. Nunca o obrigarei a nada, não depois do
que passou. É livre e não vou colocar condições,
exigências nem restrições. Pode fazer o que quiser
comigo. Me afasto e sorrio ao ver sua mecha
rebelde fazer das suas. A deixo onde está.
— Sou sua, sem condições.
— Fico feliz, senhorita Taylor - ,assente satisfeito e
me beija, desta vez, nos lábios. — Ainda que não
tivesse escolha.
Sorrio e me pisca o olho. É lindo apesar da
escuridão átipica em seus olhos.
— Vamos -, digo, empurrando-o até a porta.
442
Aperta os lábios e começa a andar para trás,
agarrando as lapelas da jaqueta até que estamos
fora. Deixamos a porta aberta. Gracie e William
estão nos esperando. Os dois olham para Miller
como se houvesse ressucitado. Ele fez. Sorrio um
pouco por dentro, enquanto William segue a
silhueta perfeita de Miller pelo hall, balançando a
cabeça rindo zombeteiro, antes de alcançá-lo e
flanqueá-lo quando começa a descer a escada.
Os sigo, nem sequer pisco ou protesto ao notar que
me passam um braço pelos ombros. Gracie me olha
fixamente.
— Ele vai ficar bem, Olivia.
— Claro que sim.
Sorrio e descemos juntas a escada, atrás de
William, que acompanha o garoto especial para
longe desse inferno. Mas quando chegamos ao
vestíbulo entro em dúvida. Charlie está apoiando-se
na parede de seu corredor. Deram-lhe um boa
surra. Um de seus homens se vira até nós com um
gesto depreciativo. Minha alegria durou pouco.
Isso não acabou. Nem de longe.
William e Miller parecem destemidos.
— Boa noite -, não é a voz de William, muito menos
de a de Miller, nem de nenhum dos capangas de
Charlie.
Todos os olhares se voltam até a entrada e a tensão
pode ser cortada com uma faca. Há uma besta
marrom que quase não cabe na porta. É um gigante
de cabelo grisalho e um rosto cheio de marcas de
varíola.
— -Você quebrou o trato, Charlie.
O russo.
Gracie coloca uma mão tremula em meu braço com
o olhar fixo no ser ameaçador que tem a atenção de
todos.
443
Charlie e seus homens já não estão tão tranquilos.
Observo.
— Tenho certeza que poderemos renegociá-lo,
Vladimir.
Charlie tenta rir, mas sai mais como uma espécie de
ronco.
— Um trato é um trato.
Sorri e um exército se junta a ele, todos vestidos
com terno, todos tão grandes como Vladimir e todos
focados em Charlie.
Silêncio.
Os homens de Charlie se afastam de seu chefe, o
deixam desprotegido, agora é uma presa fácil.
E o inferno quebra.
William tenta pegar Miller pelo braço, que se lança
contra Charlie com uma expressão assassina.
Ninguém poderá detê-lo. Os homens de Charlie não
movem um dedo e Miller tem o caminho livre até o
bastardo sem moral.
Não demonstro nem surpresa, nem preocupação.
Nem sequer quando Miller agarra Charlie pelo
pescoço, o levanta do chão e o bate tão forte contra
a parede que acredito que tenha quebrado o gesso.
Charlie tampouco demonstra medo e nem surpresa.
Está impassível, mas a aura de maldade
desapareceu. Ele esperava.
— Vê isso?-, pergunta Miller em voz baixa, de pura
ameaça, correndo com dedo a cicatriz da bochecha
de Charlie, até a costura dos lábios. — Vou pedir-
lhes que completem o sorriso de palhaço antes de
matar você.
Volta a empurrar Charlie contra a parede, desta vez
mais forte. O golpe retumba pelo vestíbulo e os
quadros da parede caem no chão por causa da
vibração. Não movo um músculo e Charlie continua
444
imperturbável, aceitando o castigo de Miller. Não
lhe resta nada. Está acabado.
— Lentamente-, sussurra Miller.
— Te verei no inferno, Hart-, zomba Charlie com
desdém.
— Eu já estive lá-, Miller o empurra contra a
parede, ainda mais forte, para terminar, antes de
soltá-lo. O filho do mal desliza parede abaixo, fraco
e patético, enquanto Miller toma seu tempo para
alisar seu terno com esmero. — Eu adoraria matar
você com minhas próprias mãos, mas nosso amigo
russo aqui é um expert. - Dá um passo a frente, se
ergue alto e ameaçador sobre o corpo jogado de
Charlie. Clareia a garganta com som sujo que
parece durar para sempre. O olha fixamente e
cospe em seu rosto. — E se assegurará de que não
reste nada que sirva para identificá-lo. Adeus,
Charlie.
Se vira e então começa a andar sem olhar para
trás, ignorando a todos os que contemplam a cena
silenciosamente, incluindo eu.
— Que seja doloroso-, diz ao passar ao lado de
Vladimir.
O russo esboça um sorriso aterrador.
— Será um prazer.
De repente estou em movimento, cortesia de
Gracie, que me guia e por cima do meu ombro vê
Charlie deslizando no chão, tentando se levantar.
Não sinto nada... Até que vejo como William
observa atentamente a patética figura de Charlie.
Se olham nos olhos durante um século, em silêncio.
William é quem quebra a conexão para olhar para
Vladimir. Assente fracamente. Triste.
E nos segue para fora.
Me custa um esforço sobre-humano não ficar
olhando.
445
O chófer de William levanta o cap para me
comprimentar, sorri para mim e abre a porta.
— Obrigada.
Assinto e entro no carro. William e Miller estão
conversando. Bom, William é quem fala. Miller se
limita a escutar com a cabeça baixa, assentindo de
vez em quando. Quero baixar o vidro e ver o que
eles dizem, mas minha curiosidade se transforma
em pânico quando começo a assimilar o que
aconteceu. De repente, no transcorrer de um só dia,
tenho mãe e pai. Miller não sabe. Não sabe que
William Anderson é meu pai e algo me diz que a
notícia vai surpreendê-lo ainda mais do que a mim.
Saio do carro em um nanosegundo. Eles ficam me
olhando: Miller com o cenho franzido e William com
quase um sorriso de satisfação. Ele está gostando,
eu sei. Podia passar anos procurando as palavras
adequadas sem que as encontrasse. Não há nada
que possa dizer para atenuar o golpe. Miller me olha
fixamente, continuo sem dizer nada. Puxo todo o ar
que posso e aponto... meu pai.
— -Miller, te apresento a meu pai.
Nada. Põe cara de pôquer. Está impassível.
Imperturbável. Nunca o havia visto tão inescrutável.
Passei todo esse tempo aprendendo a interpretar
suas expressões faciais e agora não tenho ideia.
Começo a me preocupar e dar voltas em meu anel,
nervosa, sob seu olhar em branco. Olho para
William, para ver que olhar tem. Ele está tendo um
bom momento.
Balanço a cabeça, isso é impossível. Miller parece
que vai ter alguma coisa.
— Miller?-, pergunto preocupada. Este silêncio está
se arrastando demais.
— Hart?-, William tenta me ajudar a tirar Miller de
seu estado catatônico.
446
Depois de alguns segundos incômodos, dá sinais de
vida. Nos olha de um para o outro e respira fundo.
Muito fundo. E deixa sair lentamente, três palavras
familiares:
— Apenas... fodidamente perfeito.
William cai no riso. Uma gargalhada adequada.
— Agora sim que vai ter que me respeitar! - diz
entre risos. Está se divertindo com a reação de
Miller.
—Foda-me.
—Me alegro que você tenha gostado.
—Puta que pariu!
—Menos palavrões na frente da minha filha.
Miller se engasga e me olha com olhos arregalados.
—Como... -. Faz uma pausa, aperta os lábios... E
não demora em esboçar um sorriso travesso em
direção a William. Alisa as mangas da jaqueta.
O que ele estará pensando?
Termina de indireitar o terno e estende os braços
até William.
— Encantando em te conhecer-, sorri de orelha a
orelha. — Papai.
— Vá se foder-, William responde rejeitando o
abraço de Miller. — Por cima do meu cadáver, Hart!
Você tem sorte que eu te permita fazer parte da
vida da minha filha. – Fecha a boca envergonhado,
acaba de se dar conta de que não cabe a ele decidir.
— Cuide bem dela-, termina de dizer nervoso. —
Por favor.
Miller me pega pela nuca e sussurra em meu
ouvido:
— Nos dá um minuto?-, gira meu pulso para me
colocar em direção ao carro. — Entre.
Não protesto, principalmente porque, por mais que
deseje atrasar a conversa que os dois vão ter, cedo
ou tarde terei que deixá-los falar.
447
Entro no carro e fico confortável. Fecho a porta e
resisto a tentação de grudar a orelha na janela. A
outra porta do carro se abre e aparece Gracie. Se
abaixa para ficar da minha altura. Me mexo
incômoda. Seus olhos azuis marinhos me olham
com muito carinho.
— Sei que não tenho direito-, afirma em voz baixa,
quase como se não quisesse dizer, — Mas estou
muito orgulhosa de você por ter lutado por seu
amor.
Sua mão treme. Quer me tocar, mas não sabe se
faz, pode ser porque Miller voltou ao normal e eu
pareço mais estável. Ao menos, me sinto mais
estável. Mas mentiria se dissesse que não preciso
dela. Esteve ao meu lado quando precisei, pode ser
que tenha feito por que se sente culpada, mas
estava ali. Pego sua mão trêmula e dou-lhe um
aperto, dizendo sem palavras que está tudo bem.
-Obrigada-, sussurro tentando sustentar seu olhar,
simplesmente porque acho que vou começar a
chorar se não afastar. Não quero chorar mais.
Leva minhas mãos aos lábios e a beija com os olhos
fechados.
— Amo você -, diz com a voz rouca.
Tiro forças da fraqueza para não desmoronar diante
dela. Sei que a ela também faz.
— Não seja muito dura com seu pai. Tudo o que
aconteceu foi culpa minha, querida.
Balanço a cabeça, irritada.
— Não. Foi culpa de Charlie-. Tenho que perguntar,
porque há uma coisa que ainda não entendi.
— Conheceu William antes de Charlie?
Ela assente franzindo o cenho.
— Sim.
— E William rompeu com você?
Assente e posso ver que dói lembrar.
448
— Eu ignorava a existência do mundo de William.
Ele queria me manter afastada daquilo, mas dormi
com Charlie para castigá-lo. Não sabia onde estava
me metendo, não soube até que foi tarde demais.
Não estou orgulhosa do que fiz, Olivia.
Agora quem assente sou eu. Eu entendo. Tudo. E
apesar dos horrores que meus pais tiveram que
suportar, não posso evitar pensar que não teria
meu alguém se nosso passado tivesse sido
diferente.
—Porque não foi pedir ajuda a William?-, pergunto.
— Poque não lhe contou que eu era sua filha, o que
Charlie te fez...?-
Me sorri com carinho.
— Era jovem e idiota. E tinha muito medo. Me fez
uma lavagem cerebral. Tinha que tomar uma
decisão muito simples: ou eu sofria, ou sofriam
todas as pessoas que eu amava.
—Sofremos de qualquer jeito.
Assente e engole em seco.
— Não posso mudar o passado e as decisões que
tomei. Quem dera, pudesse -, aperta minha mão.
— Só espero que possa me perdoar por não ter feito
melhor.
Não tenho dúvidas. Não tenho nem que pensar.
Saio do carro e abraço minha mãe. Afundo o rosto
em seu pescoço e ela soluça sem parar. Não a solto.
Não penso em soltá-la.
Até que William pega Gracie pelos quadris e tenta
tirá-la de mim.
— Vamos, querida-, lhe diz. Gracie dá beijos em
meu rosto antes que consiga tirá-la de mim.
Sorrio ao ver William completo com minha mãe.
— Não queria que odiasse a sua mãe-, ele diz sem
que precise perguntar por que mentiu para mim
sobre tê-la mandado embora. Ele não sabia que a
449
tinham coagido para que desaparecesse. Pensava
que havia abandonado a nós dois. — Não queria
que soubesse quem era seu pai. – Gracie lhe dá um
apertão no antebraço. — Bom, eu achava que ele
era seu pai.
– Mas meu pai é você-, digo sorridente. Me devolve
o sorriso.
— Decepcionada?
Nego com a cabeça e volto a me sentar no carro,
sorrindo como uma boba. A outra porta se abre e
Miller entra, se acomoda e diz:
— Você vem para casa comigo. William falou com
Gregory. Está tudo arranjado.
De repente me sinto muito culpada. Com todo a
bagunça, havia me esquecido da vovó.
— Tenho que ir vê-la.
Estará morta de preocupação. Lembro-me de tudo o
que disse. Sabe que Gracie voltou e não acredito
nem por um segundo que não queira vê-la. Tenho
que ir para casa e prepará-la para o reencontro.
— Não é necessário.
Miller me olha com as sobrancelhas no alto e me
encanta que tenha voltado a me irritar, mas não me
emociona que insista em me manter longe de minha
avó.
— Sim, é -, respondo com um olhar desafiador.
Rogo a Deus que não insista. Acabo de recuperá-lo
e não quero começar a discutir.
— Precisamos estar a sós-, diz suavemente,
apelando para meu coração.
Sei que estou me dando por vencida. Como vou
negar isso, depois do que ele passou?
— Preciso de você em meus braços, Olivia. Só você
e eu. Eu te imploro -, acaricia meu joelho com a
mão.
450
— Quero “o que eu mais gosto”, minha doce
menina.
Suspiro com os ombros caídos. As duas pessoas que
eu mais amo no mundo, precisam de mim e não sei
qual escolher. Porque não posso ter os dois?
— Venha para casa comigo-, sugiro resolvendo o
dilema em um segundo, mas minha alegria dura
pouco. Miller balança a cabeça.
—Preciso da minha casa, minhas coisas... você.
Quer dizer que precisa do seu mundo perfeito. Esse
está de pernas para o ar e ele tem que colocar um
pouco de ordem. Não estará tranquilo até o faça. Eu
entendo.
— Miller, eu... -
William entra no carro.
— Vou levar sua mãe na casa de Josephine.
Entro em pânico e tento sair do carro.
— Mas...
— Nada de mas. – William me adverte.
Fecho o bico e olho para ele indignada, ainda que
não se mostre menos inflexível ou autoritário.
— Por uma vez vai fazer o que eu digo e confiar que
é pelo bem de sua avó.
— Ela está frágil-, protesto saindo do carro. Não sei
por que, não vou a lugar nenhum.
— Entre-, William quase ri e volta a me sentar no
carro. Miller aproveita e me aprisiona entre seus
braços.
— Solte-me-, resmungo, me mexendo em uma
tentativa inútil de escapar.
— Você está falando sério, Olivia? - murmura
cansado. — Depois de tudo que passamos hoje, de
verdade vai ser insolente?-, me aperta
decididamente. — Não tem escolha. Você vem para
casa comigo e fim de história, minha doce menina.
Feche a porta, Anderson.
451
Olho para William com uma cara triste. Encolhe os
ombros e vai fechar a porta, quando uma mão com
a manicure perfeita toca seu antebraço. Gracie olha
para ele suplicante. Suspira e coloca a mesma cara
triste para Miller. Me junto a festa. Meu pobre
homem tem três pares de olhos suplicantes fixos
nele. Nem sequer me sinto culpada pela expressão
de derrota que obscurece seu rosto. Com o quão
decidido estava em me ter só para ele...
— Apenas...fodidamente perfeito -, suspira.
— Tenho que vê-la Miller-, intervém Gracie. William
não a detêm. — E preciso de Olivia do meu lado.
Prometo que nunca mais te pedirei nada. Conceda-
me apenas isso.
Engulo minha dor e Miller assente.
– Então eu também vou-, adiciona cortante para
assegurar que não é negociável. — Nos vemos lá.
Vamos Ted. - Miller nem me olha.
— Sim senhor-, confirma Ted me olhando sorridente
pelo retrovisor. – Será um grande prazer.
A porta se fecha e nos colocamos em movimento.
William acompanha minha mãe, que parace muito
frágil, no Audi de Tony. Não perco tempo tentando
imaginar o que nos espera ao chegar à casa da
vovó. Não adiantaria nada.
452
me incentive a entrar. Ainda que saiba que não o
fará. Me dará todo o tempo do mundo, se for o que
eu precisar, não vai me apressar. Sabe que é uma
situação muito delicada, a qual nunca pensei que
teria que enfrentar. Mas aqui estamos e não tenho
nem ideia de como abordar. Entro e a preparo,
digo-lhe que Gracie está a caminho? Ou espero e
entro diretamente junto com minha mãe? Não sei,
mas quando a porta principal se abre e Gregory
aparece, parece que a decisão foi tomada. Demoro
um instante para me dar conta de que não está
sozinho. Não está com a vovó nem com George.
Está com Ben.
— Boneca!-, exclama suspirando de alívio e
rapidamente me dá um grande abraço, sem pedir
permissão a Miller. Já não precisa. Me aperta com
força e Ben sorri com carinho. Nem sequer o fato de
ver Miller apaga o sorriso de seu rosto.
— Você está bem?-, Greg pergunta e me solta.
Examina minhas feições e torce o rosto ao ver o
corte em minha bochecha.
Tento assentir porque sei que agora mesmo sou
incapaz de articular uma palavra, mas nem para
isso meu corpo serve. Gregory se dirige a Miller.
— Ela está bem?
— Perfeita-, diz e ouço que seus sapatos de couro
se aproximam.
— E você?-, pergunta Gregory, preocupado de
verdade. — Você está bem?
Miller responde com a mesma palavra.
— Perfeito.
— Fico feliz-. Me dá um beijo na testa. — William
me ligou.
Nem pisco. William colocou meu melhor amigo a par
de... tudo e este me confirma quando baixa o olhar
453
para minha barriga. Sorri, mas consegue não dizer
nada a respeito.
— Está te esperando.
Ben e ele me dão espaço para eu ir ver minha avó,
mas não chego ser cautelosa, porque um carro para
na calçada.
Me viro, ainda que saiba quem é. Sai do carro,
segurando-se a porta, hesitante. Está fazendo o
mesmo que eu, fica olhando para a casa, um pouco
perdida e oprimida. William vai para o seu lado e
circula sua cintura com o braço. Ela olha para ele e
força um sorriso. Ele não diz nada, só assente
encorajando-a, e observo fascinada como tira forças
da conexão que compartilham, igual a Miller e eu.
Respira fundo e solta a porta do carro.
Ninguém diz nada. É um assunto delicado e todos
estamos nervosos, não apenas eu. Aqui todo mundo
gosta muito da vovó, inclusive Ben, que obviamente
tem estado visitando-a com frequência. Todo
mundo é consciente do quão importante é o que vai
acontecer. Mas ninguém dá o primero passo.
Estamos todos na calçada, esperando que alguém
tome a iniciatva, fale, coloque as coisas em
movimento.
Mas não é nenhum dos presentes.
— Deixem-me passar-. Todos giramos a cabeça ao
ouvir a vovó. — Saiam do meu caminho-. Com um
empurrão tira do meio Ben e Gregory e aparece em
cena.
Está de camisola, mas seu cabelo está perfeito. Ela
é perfeita.
Se detêm no degrau da escada e se apoia na parede
para não cair. Quero correr para dar-lhe um abraço
e dizer que está tudo bem, mas algo me impede. Dá
um passo á frente, seus olhos azuis marinho idosos,
olham além de mim, no final da trilha.
454
— Gracie?-, sussurra, tentando focar a vista, como
se não pudesse acreditar no que seus olhos vêem.
— Gracie, querida, é você?
Dá outro passo vacilante e leva a mão a boca.
Cerro os dentes com força e as lágrimas nublam
minha vista. Soluço sem parar, sem me consolar
com Miller circulando minha cintura com o braço.
Olho para minha mãe. William a sustenta e ela está
agarrada a ele como estivesse se agarrando a vida.
— Mamãe... - soluça e as lágrimas molham seu
rosto.
Um grito que é pura dor faz com que me vire até a
vovó e me assuto ao ver que cambaleia. Está
suspresa e feliz.
— Minha menina linda.
Começa a inclinar-se para frente, seu corpo não é
capaz de mantê-la em pé por mais tempo.
— Vovó!
Meu coração sai do peito e corro até ela, mas se
adiantam. Gracie chega primeiro, pega vovó, e elas
caem suavemente no chão.
— Obrigada, meu Deus, por me devolvê-la-, soluça
vovó, jogando os braços em volta do pescoço da
minha mãe e abraçando-a com todas as forças.
Abraçadas choram uma no pescoço uma da outra.
Ninguém intervém, as deixamos assim, reunidas
enfim depois de tantos anos perdidos. Olho a todos
os presentes, todos estão com lágrimas nos olhos.
Todos tem um nó na garganta. É um reencontro
carregado de emoção. É como se a última peça do
mundo, que estava em pedaços, se encaixasse em
seu lugar.
Em um instante olho para Miller. Me entende sem a
necessidade de dizer nada e me pega pela nuca
com cuidado. As duas precisam estar juntas,
455
sozinhas. E em meu coração sei que minha valente
avó poderá se virar sem mim um pouco mais.
E em meu coração sei que Miller não.
456
CAPÍTULO 24
— Venha-. Miller se abaixa para me pegar nos
braços ao pé da escada, mas insisto em afastá-lo.
— Está esgotado-, protesto e não ligo que se irrite.
— Posso subir andando.
Subo devagar para que seu corpo cansado possa
seguir meu ritmo, mas não demora em me pegar
nos braços.
— Miller!
— Vai deixar que eu te adore, Olivia-, diz. — Isso
fará com que me sinta melhor.
Me rendo com facilidade. Como ele quiser.
Seus passos regulares ressoam no cimento. Passo
os braços em seus ombros e estudo seu rosto
enquanto subimos os dez andares. Não parece estar
cansado, respira normalmente, tão bonito e
impassível como sempre. Não posso tirar os olhos
de cima dele. Estou me lembrando do momento em
que me levou pelas escadas pela primeira, quando
não sabia nada sobre esse homem misterioso, mas
estava tão fascinada com ele que me assombrava
por completo. Nada mudou. Sempre me terá
fascinada e todas suas manias alegram minha vida.
Para sempre.
Até o fim dos tempos.
E mais além.
Uma vez Miller me disse que ia direto para o
inferno. Que só eu poderia salvá-lo.
Nós estivemos lá.
E voltamos juntos.
Sorrio para mim mesma quando me olha de soslaio,
e me pego encantada com ele.
457
— No que você está pensando?-, pergunta
enquanto volta a se concentrar em chegar a seu
apartamento.
Me deixa no chão com o máximo de cuidado, abre a
porta e me convida a entrar. Entro muito
lentamente e contemplo o interior. Não tenho
dúvidas que esse é meu lugar.
— Estou pensando que fico feliz de estar em casa-.
Sorrio quando ouço uma exclamação silenciosa de
suspresa, mas não me movo do lugar. Seu
apartamento é perfeito e pomposo.
— Não é como se você tivesse escolha-, responde
fingindo indiferença. Sei o quanto significa para ele.
— O bebê vai precisar de um quarto-, provoco.
Vou levar uma quantidade enorme de prazer de sua
reação quando ele finalmente registrar que bebê é
igual a bagunça. Agora que já não tem que pensar
em coisas horríveis e deprimentes, não acredito que
vá demorar em se dar conta.
— Concordo-, se limita a responder. Sorrio.
— E haverá parafernália do bebê em todos os
lugares o tempo todo.
Desta vez demora a responder.
— Explique-se.
Me viro para saborear o pânico que vai entrar só de
imaginar. Não posso esconder como me diverte.
— Fraldas, pijamas, mamadeiras, leite em pó, tudo
no balcão de sua cozinha-. Mordo meu lábio quando
o pânico se intensifica.
Coloca as mãos nos bolsos para tentar disfarçá-lo.
Fracassa miseravelmente.
— A lista é interminável-, adiciono.
Encolhe os ombros com um beicinho.
— São coisas pequenas. Eu não posso imaginar que
ele ou ela vai causar muita perturbação.
458
Poderia continuar apertando-o até a morte. Está
claro que ele precisa.
— Tem certeza Miller?
— Bom, não haverá leite em pó, porque vai
amamentá-lo no peito. E teremos lugar para
guardar todo o resto. Está fazendo uma tempestade
em um copo d'água.
— Seu mundo perfeito está a ponto de voar pelos
ares, Miller Hart.
Me presenteia com um de seus sorrisos com
covinhas, seus olhos se iluminam e tudo. Sorrio
para ele e me puxa para cima, me levanta do chão
e me leva para sala colada a seu peito.
— Meu mundo perfeito nunca foi tão perfeito e
luminoso como agora, Olivia Taylor. – Me dá um
beijo cinematográfico e rio em sua boca. — E vai ser
melhor ainda, minha doce menina.
— Eu concordo-. Me leva para o quarto e solto um
gritinho quando me joga na cama e suas almofadas
saem voando em todas as direções. Me
surpreendeu, e me supreende ainda mais quando se
lança em cima de mim, de roupa e tudo. — O que
você está fazendo?-, pergunto entre risos, abrindo
minhas pernas para que possa se acomodar.
Começa a puxar os lençóis da cama, a arrancá-los,
e enrolá-los em uma bola sem o menor cuidado. Eu
grito e rio, surpresa e feliz enquanto rodamos pela
cama e nos enrolamos em algodão branco.
— Miller! -, rio e o perco de vista, assim como o
quarto, quando fico enterrada embaixo de uma
montanha de tecido branco. Estou presa. Os lençóis
se esticam porque tento me mover. Miller ri e
amaldiçoa ao tentar nos desenrolar, mas só
consegue bagunçar mais.
459
Não sei quantas voltas me deu. Estou debaixo dele,
em cima dele, unidos pelo emaranhado de lençóis,
sem ver nada e morrendo de rir.
— Não posso sair!-, digo fazendo um esforço para
me chutar minhas pernas para fora. — Não posso
me mover!-
— Cacete-, amaldiçoa nos virando outra vez, mas
erra de lado e de repente não há cama debaixo de
nós.
— Oh!-, choro quando caimos no chão com um
estrondo. Rio estrondosamente e Miller puxa e
procura entre os lençóis tentando me achar.
— Onde diabos você está?-, grunhe.
A única coisa que vejo é algodão. Algodão branco
por todas as partes, mas posso cheirá-lo e senti-lo e
quando os lençóis são chicoteados do meu rosto em
uma maldição educada, também posso vê-lo. Ele
tira o meu fôlego.
— Cair da cama está se tornando um hábito-,
sussurra dando-me um beijo de esquimó, antes de
me deixar tonta com um beijo carregado de toda
uma vida de amor e toneladas de um requintado
desejo. — Você tem um gosto maravilhoso.
Nossas línguas dançam lentamente e nossas mãos
exploram sem pudor. Temos os olhos abertos,
queimando de paixão. Voltamos a estar sozinhos,
Miller e eu, em nossa pequena bolha de felicidade,
como muitas outras vezes antes. Só que agora já
não há um mundo cruel espreitando lá fora.
Acabou.
Uma noite que se converteu em uma vida. Bom,
também é muito mais que isso.
— Eu morro por seus beijos, Miller Hart-, murmuro
em sua boca e sorrio quando noto que seus lábios
se esticam.
— Isso me faz muito feliz.
460
Se afasta e realiza uma sequência de movimentos:
pisca lentamente, entreabre um pouco os lábios e
me olha com olhos apertados, intensamente. É
como se soubesse que todas e cada uma dessas
coisas tivessem contribuído para que ficasse
fascinada por ele desde o começo e quisesse me
lembrar. Não precisa. Fecho os olhos e as vejo.
Abro os olhos e as vejo. Meus sonhos e minha
realidade se confundem, mas agora tudo está bem.
Já não me escondo. É meu de dia, de noite, nos
sonhos e de verdade. Me pertence.
— Você está amassando meu terno, minha doce
menina-, diz muito sério e solto uma sonora
gargalhada. Agora ele só se preocupa com o tecido
fino. — O que você acha tão engraçado?
— Você!-, me acabo de rir. — Você e você!
— Ótimo-, conclui cortante. Se levanta. — Isso
também me faz feliz-. Pega minhas mãos e senta.
— Quero fazer uma coisa.
— O quê?
— Shhh-, diz me ajudando a ficar de pé. – Venha
comigo.
Me pega pela nuca e fecho os olhos, saboreando sua
carícia, o calor que emana de sua pele se extende
por minha pele. Desde o pescoço até a ponta dos
pés. Estou imersa no calor e na tranquilidade de
suas carícias.
— Terra chamando Olívia-, sussurra em meu
ouvido. Abro os olhos.
Sorrio com os olhos apertados e deixo que me leve
a seu estúdio. A sensação de paz se multiplica por
mil quando entramos.
— O que fazemos aqui?
— Uma vez alguém me disse que eu ficaria muito
mais satisfeito pintar algo de carne e osso que me
parecesse belo. – Me leva até o sofá, me senta,
461
levanta minhas pernas e as coloca no sofá a seu
gosto. — Quero testar essa teoria.
— Você vai me pintar?- Não esperava. Pinta
paisagens e prédios.
— Sim -, responde decidido. Alucino. Pega um
cavalete e o coloca no centro do estúdio. — Tire a
roupa.
— Nua?
— Correto. - Não me olha.
Encolho os ombros.
— Alguma vez, você pintou algo vivo?-, pergunto
me sentando e tirando os jeans. Quero saber se
alguma vez pintou alguém. Quando me olha com
olhos sorridentes sei que desvendou minha
pergunta e sabe exatamente a que me refiro.
— Nunca pintei uma pessoa, Olivia.
Tento disfarçar que é um grande alívio, mas minha
cara não coopera e sorrio de orelha a orelha, sem
querer.
— É ruim que isso me agrade muito?
— Não. - Começa a rir. Pega um tela em branco que
estava apoiada na parede e a coloca no cavalete.
Estou falando com ele por cima do encosto do sofá,
que está virado para a janela, longe do resto.
— Como vai me pintar se não pode me ver?
Quando vem até mim, estou tirando a camiseta,
esperando que vire o sofá para tê-lo de frente, mas
não. Ajuda-me a tirar minha lingerie, lentamente e
luta com meu corpo até que estou sentada no
encosto do sofá e os pés no assento. Estou de
costas para o quarto, olhando o espetacular céu de
Londres. Só as luzes dos edifícios o iluminam.
— Não seria melhor fazer de dia?- pergunto. Deixo
cair o cabelo pelos ombros e coloco as mãos no
sofá, junto a meus quadris. — Assim, verá melhos
os edifícios.
462
Estremeço quando o calor de se hálito roça minha
pele, seguido por seus lábios. Me beija nas costas,
no ombro, na coluna, no oco atrás da orelha.
— Se tivesse luz, você não seria o tema principal-.
Me pega pela cabeça e a vira até que vejo seus
olhos azuis.
— Você é a única que vejo-. Me beija com carinho e
relaxo com os atentos movimentos de seus lábios.
— De dia ou de noite, você é a única coisa que vejo.
Não digo nada. Permito que me encha de beijos.
Vira minha cabeça até a janela e me deixa sentada
no encosto do sofá, nua e sem um pingo de
vergonha. Tento admirar a paisagem de Londres a
noite, no que normalmente me perco com
facilidade, mas me distraí demais ao ouvi-lo
trabalhar atrás de mim. Olho por cima do ombro.
Está pegando pincéis e tinta, um pouco abaixado,
com a mecha rebelde em exibição. Sorrio quando
sopra para afastá-la da testa, não pode fazê-lo com
as mãos, porque as tem cheias de utensílios.
Arruma tudo o que precisa, tira a jaqueta e sobe as
mangas da camisa. Mas todo o resto continua em
seu lugar: o colete, a gravata...
— Você vai pintar usando um terno novo? -
pergunto enquanto arruma os potes e tintas. Isso
sim seria uma novidade.
— Não é grande coisa-. Sem prestar atenção em
mim, continua se preparando para a sessão de
pintura. — Olhe para o ombro esquerdo.
Franzo o cenho.
—Quer que eu olhe o ombro esquerdo?
—Sim.
Se aproxima e molha o pincel na tinta vermelha. O
sigo com o olhar até que o tenho atrás de mim.
Pega o pincel de ponta fina e o leva ao meu ombro.
Escreve três palavras.
463
EU TE AMO.
— Ainda não o escrevi em seu ombro esquerdo. Não
tire os olhos dessas palavras.
Beija meu rosto sorridente e se vai outra vez. Mas
não olho para ele, porque não tiro os olhos dessas
palavras. São ainda mais bonitas que a paisagem de
Londres.
Não me movo mais do que para piscar. Vejo como
se move com o canto do olho, mas não vejo seu
rosto e isso me machuca um pouco. O que ele está
fazendo o relaxa e fico feliz em ajudar. Os segundos
se convertem em minutos e os minutos em horas.
Sou uma estátua e aproveito esse momento de
quietude para pensar em tudo pelo que temos
passado e o que nos espera no futuro.
Um futuro que inclui nosso bebê, minha mãe e meu
pai. Não há lugar para o ressentimento.
Começaremos nossa nova vida sem problemas.
Impecável e perfeita. Minha mente está livre das
coisas ruins e assim será nossa vida. Agora mesmo
só sinto uma paz absoluta. Respiro fundo, calma,
serena e sorrio para mim mesma.
— Terra chamando Olivia-. Seu tom fluido atravessa
minha felicidade e me excita.
Sinto o formigamento de sua proximidade em
minha pele nua. Levanto o olhar e o vejo atrás de
mim, continua imaculado. Não lhe caiu nenhuma
gota de tinta.
— Estava pensando em mim?- Apoia as mãos
limpas em meus quadris e minhas costas contra seu
peito, envolvendo-me no tecido caro.
– Sim-, removo as mãos da parte de trás do sofá e
coloco nas suas, estão um pouco úmidas. — Quanto
tempo estive assim?
—Um par de horas.
464
— Meu traseiro dormiu.– Tudo está, e imagino que
as pernas também. Vão doer quando me levantar.
— Venha-. Me levanta e me deixa no chão, sem me
soltar, até que tenho certeza que não vou cair.
— Dói? - massageia meu pescoço para tentar me
devolver a vida.
— Só está um pouco duro.
Me seguro em seus ombros enquanto, toma seu
tempo massageando-me, até que chega ao meu
ventre e os movimentos circulares param. Olha para
baixo, mas não diz nada durante muito tempo. O
deixo tranquilo, feliz que está me olhando.
— Acha que nosso filho vai ser perfeito?-, pergunta
muito preocupado. Me faz sorrir.
— Em todos os sentidos-, digo-lhe, porque sei que
será... igualzinho a Miller. — Filho?
Me olha, seus olhos brilham de felicidade.
—Pressinto que será um menino.
—Como você tem tanta certeza?
Balança um pouco a cabeça, não muito disposto a
satisfazer minha curiosidade.
—Simplesmente sei.
Está mentindo para mim. Pego seu queixo e o
obrigo a me olhar.
— Explique.
Tenta fechar os olhos, mas eles brilham demais.
— Eu sonhe i-, diz acariciando meu cabelo. Brinca
com ele, arruma algumas mechas aqui e ali. — Me
permiti sonhar com o impossível, assim como fiz
com você. E tenho você agora.
Relaxo os ombros. Estou calma, contente. Cobre
minha boca com a sua.
Vai me adorar.
— Preciso fazer amor com você, Olivia -, murmura
em minha boca. Desliza os lábios por minha
bochecha, minha orelha, meu cabelo. — Incline-se-.
465
Me pega pela cintura e dá um par de passos para
trás, segurando meus quadris. —Coloque as mãos
no sofá.
Assinto e me seguro no encosto do velho sofá.
Desabotoa as calças. Não está preparado para
perder tempo tirando a roupa e me parece bom.
Estou como minha mãe me trouxe ao mundo e
Miller está completamente vestido, mas sinto que
assim é muito mais poderoso e agora mesmo
precisa se sentir poderoso.
— Está pronta para mim?- pergunta deslizando os
dedos entre minhas coxas e mergulhando-os em
minha umidade. O convido a entrar, lhe suplico.
Grunho minha resposta, não que isso seja
necessário. Estou escorrendo. — Sempre está
pronta para mim-, sussurra beijando minha coluna
antes de lamber meu pescoço. — Sabe como me
sinto quando não me deixa ver seu rosto.
Inalo através do prazer e faço o que me pede. Viro
meu rosto para que veja meu perfil e assim possa
me perder nele. Não me preocupa ver seu peito nu,
seu rosto me basta.
— Melhor-. Tira seus dedos e me sinto vazia e
enganada, mas não por muito tempo. Os substitui
com ponta de sua ereção brincando com minha
entrada, umidecendo-me toda. Gemo e balanço a
cabeça suplicante. Sabe o que quero. — Não quero
te fazer esperar, minha doce menina.
Ele empurra para frente com um gemido profundo,
deixando cair a cabeça para trás, mas seus olhos
continuam trancados com os meus.
Afundo as unhas no sofá, meus braços ficando
rígidos. Entra em mim sem levar em consideração o
dano que pode me fazer.
—Merda!
466
—Shhhh-, diz com uma voz gutural, seus quadris
tremem. —Isso é bom para caralho.
Se retira de mim, trêmulo e imediatamente entra
outra vez e desenha círculos com os quadris contra
meu traseiro.
Minha respiração falha.
—Eu adoro esse som-, tira outra vez e me penetra
de novo. Não paro de gemer e de suspirar. —Não
sabe o quanto eu gosto.
— Miller-, bufo tentando não me mover por ele.
Abro as pernas para lhe dar melhor acesso. —Deus,
Miller!
—Você gosta, não é?
—Sim.
—O melhor?
—Deus, sim!
—Eu fodidamente concordo, doce menina-. Ele está
em seu ritmo agora. Bombeando lentamente,
desenhando circulos repetidamente. —Vou tomar
meu tempo com você -, me promete. —Toda... a...
noite.
Me parece bom. Quero estar colada a ele para
sempre.
— Começamos aqui-, mergulha até o fundo, grito e
me inclino para frente para disfrutar da sensação.
— Logo, vou fazer contra a geladeira. – Retira, pega
ar. Seu peito se expande sob a camisa e o colete.
— No chuveiro-, dentro outra vez.
– Na mesa do estúdio.
Move os quadris contra meu traseiro, me coloco na
ponta dos pés e gemo.
—Em minha cama.
—Por favor – imploro.
—No sofá.
—Miller!
—Na mesa da cozinha.
467
—Eu vou vir.
—No chão.
—Deus!
—Vou te ter em todos os lugares.
"Bang!"
—Aaaaah!
—Você quer gozar?
—Sim!- O quanto antes. Estou suando e tremendo.
Puxo ar a grandes golfadas e aperto todos os
músculos do meu corpo. Quero esse orgasmo que
está a ponto de explodir em meu interior. Vai ser
um dos grandes. Vai fazer com que minhas pernas
cedam e que fique rouca te tanto gritar. —Estou
vindo! -, grito sabendo que não há maneira de
pará-lo.
—Quero ver seus olhos -, me avisa. Sabe que me
tem enlouquecida. —Não os esconda de mim, Olivia.
Gira os quadris sem parar, cada vez com mais
precisão. É impossível compreender quão bem se
move, a menos que te submeta às suas habilidades.
Já me tem bem submetida. Compreendo tudo. Vai
me fazer sentir eufórica e feliz ao deixar a mente
em branco. Se pudesse, gritaria. Engulo em seco
quando percebo que pulsa e aumenta dentro de
mim. Amaldiçoa. Ele também está perto.
— Preciso que gozemos juntos-. Arqueja
aumentando o ritmo, batendo contra o meu
traseiro, afundando os dedos em minha cintura.
—Ok?
Assinto. Estreita os olhos e me puxa contra ele com
força.
Minha mente nubla, uma onda de prazer inunda
meu corpo como um maremoto e quase caio no
chão.
— Miller! -, grito. Recuperei a voz. — Miller, Miller,
Miller!
468
— Santa merda!-, ruge , puxando-me para ele e me
segurando lá, tremendo em cima de mim. Está
tremendo e tem os olhos fechados. Deixo cair a
cabeça, esgotada, sentindo como escorre por
minhas pernas e me aquece. Me completa. — Deus,
Olivia. Você é uma deusa.
Entra em colapso, o tecido de seu terno caro está
enxarcado de suor em minhas costas. Respira
entrecortadamente em meu pescoço.
Estamos no chão, tentando recuperar a respiração.
Minhas pálpebras pesam, mas sei que não vai me
deixar dormir.
— Vou te adorar a noite toda-. Se desgruda de
minhas costas nuas e me vira em seus braços. Seca
o suor do meu rosto e me enche de beijos.
— A geladeira-, sussurra.
469
CAPÍTULO 25
Estou deliciosamente dolorida entre minhas coxas
com os braços e pernas esparramados na cama de
Miller, os lençóis enrolados em volta da cintura.
Sinto o ar frio do quarto nas costas. Estou pegajosa
e tenho certeza que meu cabelo está revolto e
emaranhado. Não quero abrir os olhos. Revivo cada
momento da noite. Fizemos em todas as partes.
Duas vezes. Poderia passar um ano dormindo, mas
me dou conta que Miller não está ao meu lado e
apalpo a cama para ver se meu radar está falhando.
Não. Brigo com as cobertas até que fico sentada na
cama, afastando o emaranhado loiro do meu rosto
sonolento. Não está.
— Miller?- olho em direção ao banheiro. A porta
está aberta, mas não ouço nada. Com o cenho
franzido, me aproximo da borda da cama e algo
puxa meu pulso. — Mas o que...?-
Tenho um fio branco de algodão amarrado no pulso.
O pego com a outra mão e vejo que uma das pontas
é muito grande, chega até a porta do quarto. Com
um meio sorriso e um pouco curiosa me levanto da
cama.
— O que estará aprontando?-, pergunto ao vazio.
Enrolo-me em um lençol e pego o cordão com
ambas as mãos. Sem soltá-lo, começo a andar até a
porta, a abro, jogo um olhar no corredor e aguço o
ouvido.
Nada.
Faço um beicinho. Sigo o cordão branco pelo
corredor, sorrindo chego à sala de Miller, mas o
cordão não acaba ali e meu sorriso se apaga ao ver
que me leva a um dos quadros de Miller.
470
Não é uma paisagem de Londres.
É um quadro novo.
Sou eu.
Levo à mão a boca, assutada com o que estou
vendo.
Minhas costas nuas.
Com o olhar percorro as curvas de minha cintura
pequena e meu traseiro, sentado no sofá. Logo subo
o olhar, até que vejo meu perfil.
Eu pareço serena.
Com clareza.
Perfeita.
Não há nada de abstrato. Aí estão todos os detalhes
de minha pele, do meu perfil, e meu cabelo está
impecável. Sou eu. Não usou seu estilo habitual e
não borrou a imagem ou a afetou.
Exceto o fundo. Mais adiante do meu corpo nu, as
luzes dos edificios são manchas de cor, quase todas
negras com toques de cinza para acentuar as luzes
brilhantes. Ele capturou o vidro da janela
perfeitamente e ainda que pareça impossível, no
reflexo se vê claro como o dia: meu rosto, meu
peito nu, meu cabelo...
Balanço a cabeça lentamente e me dou conta de
que estava segurando a respiração. Tiro a mão da
boca e dou um passo adiante. O óleo brilha, não
está completamente seco. Não o toco, ainda que as
pontas dos meus dedos morramde vontade por
desenhar o contorno.
— Miller... -, sussurro, espantada com a beleza do
que tenho diante de mim. Não porque pintou a
mim, e sim pela imagem tão bela que meu homem
criou de mim, tão bonito e com tantos defeitos.
Nunca deixará de me surpreender. Sua mente
complexa, sua força, seu carinho... Seu incrível
talento.
471
Pintou-me à perfeição, quase parece que estou viva,
mas um caos de pintura me rodeia. Começo a
compreender uma coisa, justo quando me fixo em
um pedaço de papel que há no canto inferior
esquerdo do quadro. Avançando com apenas uma
pequenina fração minúscula de incerteza, porque
Miller Hart tem uma história de quebrar meu
coração com suas palavras escritas, eu o puxo para
baixo e desdobro o papel, enquanto mordisco meu
lábio inferior.
São apenas quatro palavras.
E me deixam sem fala.
472
Na mesa há paginas soltas, amassadas e cortadas.
São as páginas de uma agenda. Pego algumas e
examino em busca de algo que confirme minhas
suspeitas.
E encontro.
A letra de Miller.
— Ele queimou a agenta de encontros-, sussurro e
deixo que os restos de papéis caiam sobre a mesa.
E não as recolheu? Não sei o que me surpreende
mais. Pararia para pensar sobre este dilema se não
visse uma foto. Volto a sentir tudo o que senti a
primeira vez que a vi: a tristeza, o desespero, a
raiva e ainda meus olhos se enchem de lágrimas.
Pego a foto de quando Miller era pequeno e a olho
por um bom momento. Não sei por que, mas algo
me empurra a virá-la, apesar de que não tenha
nada escrito no verso.
Ou não havia.
Aí está a caligrafia de Miller e eu volto a estar feita
em um mar de lágrimas.
473
Os segundo me parecem séculos enquanto espero
impaciente que se abram as portas do eleavador.
Aperto o botão sem parar, sei que não serve para
nada, só para desbafar.
— Abra de uma vez!-, grito.
Ding!
— Graças a Deus!-
O cordão que estava suspenso no ar cai em meus
pés quando as portas começam a abrir.
Os fogos de artifício explodem. É como um festival
de pequenas explosões que me deixa tonta e
atordoada. Nem sequer vejo direito.
Mas aí está.
Agarro-me a parede para não cair de susto. Ou é
alívio?
Está sentado no chão do elevador, com as costas
grudadas na parede, a cabeça baixa e a outra ponta
do cordão atada a seu pulso...
O que diabos faz aqui dentro?
— Miller?-, me aproximo, hesitante, me
perguntando como vou me encontrar e lidar com
isso. — Miller?
Levanta a cabeça. Abre os olhos muito lentamente e
quando seus penetrantes olhos azuis se cravam nos
meus, minha respiração para.
— Não há nada que eu não faria por você, minha
doce menina-, suspira estendendo a mão até mim.
— Nada.
Balança a cabeça para que eu entre no elevador e
obedeço sem pensar duas vezes, pronta para
reconfortá-lo. Porque está no elevador? Mistério.
Porque se tortura assim? Quem sabe.
Pego sua mão e tento levantá-lo, mas me senta em
seu colo sem me dar tempo para reagir ou tirá-lo
deste buraco.
474
— O que você está fazendo?-, pergunto-lhe, me
contendo para não discutir com ele.
Coloca-me onde quer.
—Você que vai me dar “o que eu mais gosto”-.
—O que?-, pergunto sem entender nada. Quer o
que mais gosta no maldito elevador? Com o medo
que tem?
—Eu te pedi uma vez -, salta impaciente. Diz sério.
Porque está fazendo isso?
Como não tenho nada mais a dizer e como não me
deixa tirá-lo deste buraco infernal, o envolvo entre
meus braços e o aperto contra meu peito. Passamos
vários minutos assim, até que noto que deixa de
tremer. E compreendo tudo.
— Você se meteu aqui por vontade própria?-
pergunto, porque não acho que alguém tropece e
acabe por acidente no eleavador.
Não responde. Respira grudado em meu pescoço,
seu coração bate a um ritmo estável contra meu
peito e não vejo sinais de pânico. Há quanto tempo
está aqui dentro? Eu vou descobrir. Por enquanto,
deixo que me abrace até estar satisfeito. As portas
se fecham e agora sim, seu pulso se acelera.
—Case-se comigo.
— O quê?-, grito saltando de seu colo. Não o
entendi bem. Impossível. Não quer se casar. Olho
em seu rosto. Ainda que esteja atordoada, vejo que
está coberto de suor.
— Você já me ouviu-, responde sem mover um fio
de cabelo. Move somente os lábios, que se abrem
muito lentamente quando fala. Seus enormes olhos
azuis nem piscam e estão cravados em meu rosto
chocado.
— Acha... Achava...
— Não faça com que eu me repita-, me adverte e
fecho a boca, continuo mais que surpresa. Tento
475
dizer algo coerente. Não me sai. Minha mente não
responde.
Fico olhando seu rosto impassível, esperando uma
pista que me esclareça o que acabo de ouvir.
— Olivia...
—Diga outra vez! -, exclamo apressada,
bruscamente, mas me nego a me desculpar. Estou
muito atordoada. Normalmente quando me irrito é
porque ele também está irritado, mas não hoje.
Hoje eu não sirvo para nada.
Miller respira fundo, estende os braços e puxa o
lençol que me cobre, para me levar até ele.
Estamos cara a cara, olhos azuis resplandecentes e
olhos de cor safira inseguros.
— Case-se comigo, minha doce menina. Seja minha
para sempre.
Levo tanto tempo segurando a respiração que meus
pulmões ardem. Não queria fazer o menor ruído
enquanto repetia o que achava que tinha dito.
— Uuuuuf-. Solto o ar acumulado em meus
pulmões. — Acreditava que não queria se casar de
maneira oficial.
Eu tinha me acostumado com a ideia. Sua palavra
por escrito e sua promessa me bastam. Como
Miller, não preciso de testemunhas nem uma
religião para validar o que temos.
Aperta os lábios carnudos.
— Eu mudei de opinião e não há mais nada a dizer-.
Minha mandíbula chega ao chão. Assim, desse jeito?
Perguntaria para ele o que mudou, mas acho que é
evidente e não vou questioná-lo. Disse que Miller
tinha razão e realmente acreditava nisso. Talvez
porque fazia sentido, talvez porque parecia
inflexível.
476
— Mas, porque está no elevador?- Penso em voz
alta. Estou tentando entender o que está
acontecendo.
Pensativo, olha ao redor como se estivesse em
perigo. Mas se concentra em mim.
— Sou capaz de fazer qualquer coisa por você-, diz
com total segurança.
Ee o entendo.
Se pode fazer isso, poderá fazer qualquer coisa.
— Em minha vida há ordem e harmonia, Olivia
Taylor. Agora sou eu que devo ser. Seu amante.
Seu amigo. Seu marido-. Leva o olhar até meu
ventre, maravilhado, e o medo desaparece de seus
olhos. Agora estão sorridentes. — O pai do nosso
bebê.
Deixo que olhe minha barriga durante uma
eternidade. Me dá tempo para assimilar que se
declarou para mim. Miller Hart não é um homem
comum. É um homem que é impossível descrever.
Acredito que sou a única que pode fazê-lo. Porque o
conheço. Todo o mundo, incluindo eu há algum
tempo, utilizou adjetivos que acreditávamos ser
adequados para descrever Miller Hart.
Distante. Frio. Incapaz de amar. Impossível de
amar.
Nunca foi nenhuma dessas coisas, ainda que tenha
tentado com todas as forças. E com bastante êxito.
Repelia o que era bom e recebia de braços abertos
todo o mal. Como em suas pinturas, deixava feia
sua beleza natural. As barreiras de Miller Hart eram
tão altas que corria o risco de que nunca pudesse
saltá-las. Porque assim era como as queria. Eu não
derrubei essas barreiras. Ele as derrubou comigo,
tijolo por tijolo. Deseja me mostrar o homem que
queria ser de verdade. Por mim. Nada no mundo me
dá mais prazer ou satisfação do que vê-lo sorrir.
477
Parece pouca coisa, eu sei, mas em nosso mundo
não é. Cada sorriso que me presenteia é um sinal
da verdadeira felicidade e apesar de sua aparência
fria e impassível, sempre saberei o que pensa. Seus
olhos são um mar de emoções e sou a única que
sabe interpretá-las. Terminei o curso de iniciação a
Miller Hart e me formei com honras. Mas não me
engano, não o fiz sozinha. Nossos mundos se
chocaram e explodiram. Eu decifrei a ele e ele me
decifrou.
Antes éramos ele e eu.
Agora somos nós.
— Pode ser quem você quiser-, sussurro-lhe me
aproximando. Preciso tê-lo mais perto.
Uma paz inimaginável se reflete em seu rosto
quando voltamos a nos olhar nos olhos.
— Quero ser seu marido-, diz com ternura, em voz
baixa. — Case-se comigo, Olivia Taylor. Eu te
imploro.
Me deixa sem fôlego.
— Por favor, não faça com que eu me repita.
— Mas...
— Não terminei-, fecha meus lábios com um dedo.
— Quero que seja minha de todas as maneiras
possíveis, incluindo diante de Deus.
— Mas você não é um homem religioso-, lhe
recordo o óbvio.
— Se ele aceita que você que você é minha, serei o
que quiser. Case-se comigo.
Me derreto de felicidade e me lanço em seus braços.
O que sinto por meu perfeito cavalheiro não cabe
em meu peito.
— Como quiser-, sussurro.
Sorri contra meu pescoço e me confina em seu
abraço de urso.
— Vou levar isso como um sim-, diz em voz baixa.
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— Correto-, sussurro, sorrindo contra seu pescoço.
— Bom. Agora me tire deste maldito elevador.
479
Epílogo
Seis anos mais tarde.
480
isso. Apoio a cabeça no escosto da cadeira, dou
algumas batidinhas com o controle no descanso de
braço e sorrio ao ver seus pés. A cor do dia: coral. A
verdade é que faz sua elegante roupa de trabalho
parecer menos formal, mas não importa. Minha
menina tem pelo menos cinquenta pares e vou
acrescentar muitos mais à coleção. Não posso
evitar. Cada vez que vejo uma cor nova, entro na
loja e saio com uma caixa ou duas debaixo do
braço... Às vezes três. Seu rosto se ilumina cada
vez que lhe compro mais um Converse novo. De
fato, acho que estou um pouco obsecado com
encontrar todas as cores do espectro. Enrugo a
testa. Só um pouco? Ok, sim, de vez em quando
procuro no Google e reservo um dia ou dois para a
procura e captura de sapatos Converse. Mas isso
não significa que estou obsecado. O que acontece é
que me entusiasma. Sim, entusiasma. Fico com isso
e não me importo com o que o terapeuta diz.
Assinto me dando razão e volto a me concentrar na
tela. Uma mecha rebelde faz cócegas em minha
testa e a penteio com a mão. Suspiro. Minha esposa
é a imagem viva da perfeição. Acaricio meu lábio
superior com o indicador pensando em todo o
tempo que reservei essa noite para adorá-la. E
amanhã à noite. E na próxima. Sorrio me
perguntando em que planeta vivi todos esses anos.
Sabia que uma noite não ia ser o suficiente. E tenho
certeza que ela também sabia.
Estou esperando-a.
E chega.
Não demora.
Lá vamos nós. Sorri quando olha para a câmera e
deixa cair o peso sobre o quadril. Já está cansada.
Mas não eu. Nem me movo, vou fazê-la esperar-.
481
— Um minuto, minha doce menina-, murmuro. —
Dê-me o que mais gosto.
Meu pau lateja em minhas calças quando rola os
olhos e mudo de postura para que deixe de
empurrar contra minha braguilha. Dá às costas a
câmera. Solto o ar que estava segurando e tento
recuperar a respiração. Não funciona.
— Senhor, me ajude.
Extende as pernas e flexiona o torso muito
lentamente. Coloca o traseiro no ar e o tecido de
suas calças se estica sobre suas nádegas. Minha
virilha enlouquece quando minha mulher joga o
olhar para trás com um minúsculo sorriso.
— Santo Deus!- Me levanto com um salto e corro
até a porta. Derrapo e freio antes que a pressa me
faça esquecer uma coisa muito séria. Começo a
alisar meu terno. Resisto a olhá-lo. Arrumo o
colarinho da camisa e a gravata, estico as mangas.
Não funciona.
Jogo a cabeça para trás e deixo cair sobre o ombro.
O controle remoto não está em seu lugar. Tenho
que voltar a minha cadeira, que tampouco está
como tem que estar, porque me levantei rápido
demais.
"Deixe-os assim. Deixe-os assim. Deixe-os assim."
Não posso. Meu escritório é o único lugar sagrado
que me resta.
Pego o controle e o guardo na gaveta superior da
mesa.
— Perfeito! - exclamo, pronto para arrumar a
cadeira.
Toc, toc.
Viro a cabeça até a porta e por alguma razão me
sinto muito culpado.
Até que ouço sua voz sedosa do outro lado.
482
— Sei o que você está fazendo!- cantarola, está a
ponto de começar a rir. — Não se esqueça da
cadeira, querido.
Fecho os olhos como se pudesse me esconder dos
meus crimes.
— Não há necessidade de ser impertinente-,
murmuro. A amo e a odeio. Conhece-me bem
demais.
— Como você não há, Miller Hart. Abra a porta ou
abro eu.
— Não!-, grito empurrando a cadeira contra a mesa.
— Sabe que eu gosto de abrir a porta para você.
— Então se apresse. Tenho que estudar e ir
trabalhar.
Aproximo-me da porta. Arrumo meu terno e passo a
mão pelo cabelo, irritado. Pego a maçaneta, mas
não abro.
— Me diz que não vai me denunciar.
Tenho que me conter para não abrir a porta antes
que diga que sim. É como um imã e só a porta está
entre nós.
— À sua terapeuta?-, pergunta morrendo de rir.
Meu pau se contorce em minha virilha.
— Sim. Prometa-me que não vai contar.
— Eu prometo. Deixe-me te provar.
Abro a porta e me preparo para seu ataque. Rio
quando seu corpo se choca contra o meu a toda
velocidade. “O que eu mais gosto” dura pouco, beija
a sombra de barba em meu rosto e afunda a língua
em minha boca.
— É possível que me escape por acidente-, sussurra
mordiscando e lambendo meus lábios.
Entro em seu jogo. Sorrio.
— Quanto vai me custar seu silêncio?
— Toda uma noite de adoração-, afirma sem
demora.
483
— Não é como se você tivesse escolha.
Circulo sua cintura estreita, a levo ao sofá e a
coloco em meu colo sem que ela solte minha boca
um segundo. É um beijo maravilhoso.
— Não quero ter escolha. Estou de acordo, está
discussão não faz sentido.
— Garota inteligente-. Pareço um arrogante. Eu não
ligo. — Obrigada pela visita, doce menina.
Interrompe nosso beijo. Protesto com um grunhido,
mas meu desgosto passa quando vejo seu lindo
rosto. Enrosco os dedos nas mechas loiras de seu
cabelo.
— Me agradece todos os dias, como se eu viesse
por vontade própria-, sussurra.
Arqueio as sobrancelhas.
— Nunca te faço fazer nada que qu saiba que não
quer fazer-, lembro-lhe. Encanta-me quando me
olha indignada. — Ou faço?
— Não-, diz arrastando a palavra, no limite de sua
paciência. — Mas esse é um dos seus hábitos
obsessivos que interferem em meu dia de trabalho.
Falarei com seu terapeuta para que se encarregue
de corrigí-lo.
Bufo.
— Se ela tentar, não utilizarei mais os seus
serviços.
Não posso negar que adquiri manias novas, mas
também me livrei de muitas outras. Não deveria me
castigar, mas sim, me recompensar.
Desta vez não fica arrogante, ainda que saiba que
está morrendo de vontade de soltar uma de suas
pérolas. Mas minha mulher, inclusive, se deu conta
de que por mais que me envie a isso que ela chama
de terapia não vou mudar nenhum de meus hábitos
relacionados a ela. Além do mais, sei que gosta da
484
maioria deles. Nãos sei por que finge que lhe
incomodam, que são um estorvo em sua vida.
Como não diz nada tenho tempo para devorá-la
com os olhos. É um prazer. Nunca vi nada tão
perfeito em minha vida. Bom, até que me lembro do
menino mais adorável do mundo.
— No que você está pensando?-, pergunta
inclinando a cabeça. Não pode ser mais bonita.
— Estou pensando que meu homenzinho e você são
absolutamente perfeitos.
As safiras reluzentes se estreitam para mim.
—Falando de seu homenzinho...
Meu contentamento se esvai.
—O que ele fez agora?
Ocorrem-me mil coisas e rezo para que não tenha
dado amostras de comportamento obsessivo.
—Roubou as meias de Missy.
Que alívio. Outra vez? Estou tentando não rir.
Realmente.
—Por quê?
Eu sei por que.
Olivia me olha como se eu fosse idiota.
—Porque não combinavam-. Ela não acha nenhum
pouco engraçado.
—Eu entendo.
Me dá um tapa no ombro e me lança punháis com
os olhos. Faço cara de que me machucou e esfrego
o ombro.
-Não tem graça.
Suspiro fundo. Quantas vezes vamos ter que ter
essa conversa?
—Eu já te disse. Basta dizer a todas as crianças que
tem que usar as meias iguais. É muito simples.
De verdade, não é tão dificil.
—Miller, ele fica na entrada e faz com que as outras
crianças mostrem-lhe suas meias.
485
Assinto.
—É muito detalhista.
—Ou muito malvado-. Os belisca se as meias não
combinam. Quer ir explicar aos pais porque seus
filhos voltam sem meias da escola?
— Sim, e também lhes direi como solucionar o
problema.
Suspira, farta. Não sei por quê. Como sempre, dá
mil voltas em tudo e não vou tolerar que os pais dos
companheiros de escola do meu filho a conveçam
que nosso homenzinho faz algo errado.
— Eu vou me encarregar-, asseguro-lhe, olhando
seus cachos loiros entre meus dedos. Franzo o
cenho e a olho nos olhos. — Hoje você está
diferente. Não sei como não me dei conta antes.
Me preocupo quando o sentimento de culpa brilha
em seus olhos de sor safira, se levanta e passa uma
eternidade endireitando a roupa.
Me levanto e estreito os olhos.
—Conheço minha doce menina perfeitamente e sei
que é culpada como o pecado.
Seu famoso brío entra em ação e me lança um olhar
assassino dos que assustam.
—Foram só dois dedos!
Eu sabia!
—Você cortou o cabelo!
—Tinha pontas duplas-, explica. —Parecia pelo de
rato!-
—Nada disso! - protesto, mordendo o lábio - Porque
fez isso comigo?
—Eu não fiz nada para você! É meu cabelo!
—Ah!-, rio ofendido. —Então é assim?-
Arranco até o banheiro. Sei que ela virá atrás de
mim.
—Não se atreva a fazer isso, Miller!
486
—Te fiz uma promessa e eu sempre cumpro minhas
promessas.
Abro o armário e pego a máquina de cortar cabelo.
Empurro o plugue na tomada violentamente. Ela
cortou o cabelo!
—Dois dedos! Foram apenas dois dedos! Ainda
chega a minha bunda!
—Minha propriedade!-, rujo levando a máquina a
cabeça com a intenção de cumprir minha promessa.
—Tudo bem-, diz muito calma.
Não esperava por isso.
—Raspe a cabeça. Continuarei te amando do
mesmo jeito.
Olho para ela com o canto do olho. Está apoaida na
moldura da porta, um mar de arrogância.
—Vou fazê-lo-, ameaço aproximando a maquininha
de minha cabeça.
—Sim, você já disse isso-. Está me provocando.
—Ok-. Jogo a cabeça para trás. Aproximo a
máquina e me olho no espelho. As lâminas roçam
meus cachos escuros, que tanto gosto. Estou
ficando nervoso. —Foda-se-, digo mais calmo. Não
posso fazê-lo. Contemplo meu reflexo, derrotado,
tentando me convencer de fazê-lo até que vejo sua
imagem atrás da minha.
-Ainda me fascina, Miller Har-. Acaricia o lóbulo da
orelha sem dar importância a sua vitória. —Foram
só as pontas.
Suspiro. Sei que estou exagerando, mas me custa
ser racional.
—Eu também te amo. Deixe-me saborear você-.
Obedece. Coloca-se entre a pia e eu e deixa que
disfrute dela todo o tempo do mundo.
—Tenho que ir trabalhar-, diz perturbando minha
felicidade e me dando um beijo no nariz.
487
—Percebi-. Deixo-a sair. —Meu homenzinho e eu
iremos ver a vovó depois do colégio.
—Ótimo.
—E depois iremos ver essa terapeuta estúpida.
Sorri de orelha a orelha e me abraça com força.
—Obrigada.
Não discuto. Por mais que proteste, não posso
negar que me divirto com meu homenzinho.
—Dança comigo antes de ir?
—Aqui?
—Não -. Pego-a pela mão. Adoro quando ela morre
de curiosidade. A levo ao clube.
— Miller, tenho que ir trabalhar-, insiste com um
sorriso. Sei que não tem pressa. Pouco importa.
Não tem escolha. Já deveria saber. Ignoro seus
protestos e a coloco extamente no centro da pista
de dança, arrumo seu cabelo e me aproximo da
cabine do DJ. Há um montão de botões e
interruptores.
— Merda! - amaldiçôo baixo e toco todos até que os
autofalantes ligam. — O que você gostaria?-,
pergunto procurando entre a lista interminável de
músicas que aparecem na tela do computador.
— Algo animado. Um longo dia me espera.
— Ok-, respondo e encontro a canção perfeita.
Sorrio, e coloco a Eletric Field de MGMT soando no
clube. Está sorridente. É o mais bonito do mundo.
Olho em seus arrasadores olhos safira desço da
cabine e caminho até ela. Que Deus a abençoe.
Observo que morre por começar a se mover no
ritmo da música. Não o fará. Tomo meu tempo,
como sempre. Baixa o queixo, entreabre os lábios,
com os olhos estreitos e seus cílios longos
esvoaçantes.
Quer me dizer para que me apresse, mas não o
fará. Saboreio. Lentamente, sempre. Saboreio cada
488
nanosegundo que demoro para chegar a seu lado,
disfrutando sua beleza natural e requintada.
— Miller-, suspira com a voz carregada de sexo,
desejo, luxúria e impaciência.
— Quero tomar meu tempo com você, minha doce
menina-.
Me colo a seu corpo, sinto as batidas fortes e
constantes de seu coração.
Circulo sua cintura com o braço, lanço e a aperto
contra mim. Explodo de felicidade quando me lança
um sorriso travesso.
—Pronta para que te adore na pista de dança?
—Pronta.
Devolvo-lhe o sorriso e seguro com uma mão. Ela
joga os braços em meu pescoço e aproxima meu
rosto do seu enquanto esfrega seu ventre contra
minha virilha no ritmo da música. Quando a canção
terminar estará nua no chão. Meu pau lateja,
gritando para que me apresse.
Abro as pernas e flexiono um pouco os joelhos para
que nossas faces estejam no mesmo nível. Ela
segue o ritmo dos meus quadris e se assegura de
que nossa virilhas não se separem.
Sorrio e a olho nos olhos. Não nos movemos do
lugar até que dou um passo para trás e ela me
segue enquanto balança seu corpo de um lado para
o outro.
— Diga-me que vale a pena chegar tarde por isso-
sussurro empurrando meus quadris duramente para
frente, quando demora a me responder. —Diga-me.
Aperta os lábios e estreita os olhos.
—Vai adicioná-lo a sua lista de manias obsessivas?
Sorrio.
— Talvez-
— Isso quer dizer que sim.
489
Começo a rir e damos voltas. Nosso corpos se
separam e pego sua mão. Solta um grito e ri
quando a atraio até mim, até que estamos nariz
com nariz, sem nos movermos, com a música de
fundo.
— Correto.
Planto um beijo em sua boca que nos deixa sem
fôlego. Giro-lhe, seu cabelo loiro se abre como um
leque no ar. Ri e sorri, e seus olhos de cor safira
brilham como estrelas. Tenho uma sorte que não
acredito. Em meu mundo já não há escuridão,
somente luz. E tudo graças a essa linda criatura.
Estou tão imerso em meus pensamentos que perco
a capacidade de dançar. Trago-a novamente até a
mim, e a abraço. Preciso do “o que eu mais gosto”.
Não a solto por um bom tempo e ela não protesta.
Minha realidade às vezes me golpeia como um
martelo e tenho que comprovar que tudo ao meu
redor é de verdade e é meu. “O que eu mais gosto”
é a melhor maneira de fazê-lo. O problema é que
nunca me canso de tê-la a salvo em meus braços.
Nem que estivessemos assim toda a eternidade.
A música acaba, mas eu continuo abraçando-a com
força, nos balançando de um lado para outro. Não
protesta e sei que não vai me pedir para soltá-la.
Me encho de coragem e me separo dela.
— Vá trabalhar, minha doce menina -, sussurro em
seu ouvido e dou uma palmada em seu traseiro
como despedida. Me custa o mundo ficar onde estou
e não ir com ela. Todos os dias é a mesma coisa.
Tento ignorar a dor em meu coração quando se
afasta de mim. Eu tento. Nunca consigo. Não
voltarei a estar completo até que volte a vê-la e me
dê “o que eu mais gosto”.
Olho todos os pés que passam diante de mim em
busca de tornozelos nus. Balanço a cabeça. É
490
intolerável a quantidade de crianças que saem para
a rua com meias diferentes. O que tem de mal que
meu homenzinho queira resolver? Está fazendo-lhes
um favor.
Estou de pé junto à porta, com as mãos nos bolsos.
Nem me importo em devolver o sorriso a todas as
mulheres que passam ao meu lado, segurando seus
filhos pela mão. Se sorrisse para elas, estabeleceria
contato com essas estranhas, lhes daria espaço
para falar, me fazer perguntas, me conhecer. Não,
obrigado. Assim, mantenho minha expressão
estóica e só permito que meus músculos faciais se
movam quando o vejo. Sorrio ao vê-lo sair com a
mochila nas costas, a camisa Ralph Lauren enfiada
nos shorts cinza sem cuidado e as meias azul
marinho de listras até os joelhos. Usa Converse
cinza no tornozelo com os cadarços destados e os
cachos negros emaranhados caem até suas orelhas.
Meu homenzinho.
— Boa tarde, cavalheiro -, comprimento-o me
abaixando para amarrar seus cadarsos. — Você teve
um bom dia?
Herdou os olhos das garotas Taylor. É azul marinho,
brilhantes. Indignados.
— Cinco pares, papai-, me diz. — É inaceitável.
— Cinco?-, sôo surpreso, porque estou. Tem que ter
entrado em apuros. O olho com olhos estreitados e
termino com seus cadarsos. — E o que você fez a
respeito, Harry?
— Disse-lhes que peçam meias de presente de
Natal.
Eu rio e seguro sua mão.
— Temos um encontro com a bisavó.
Grita de emoção. Me faz rir.
— Vamos-, pego sua pequena mão e começo a
andar, mas ouço me chamarem.
491
— Senhor Hart!-
Olho para meu menino com a cabeça inclinada, mas
põe cara de pôquer e encolhe os ombros.
— Não consegui me concentrar na aula de desenho.
— Você lhes disse que pedissem meias de Natal, e
fez com que eles tirassem as meias diferentes?
—Correto.
Não posso evitar. Sorrio e a luz branca e brilhante
explode ao meu redor quando meu homenzinho me
devolve o sorriso.
—Senhor Hart!
Me viro com a mão do meu filho. Sua professora
caminha apressadamente até nós. Veste uma saia
floral que chega até os tornozelos. Está cheia de
rugas da cabeça aos pés.
—Senhorita Phillips-, suspiro para que veja que
estou cansado antes que comece com o sermão.
—Senhor Hart, sei que você é um homem
ocupado...
—Correto -, a interrompo, para que fique claro.
Ela se desloca nervosa. Ela ruborizou? A observo
com curiosidade um momento. Sim, ela ruborizou e
está uma bagunça de nervos.
— Sim, veja... -, extende a mão para me mostrar
um bola de peças de ponto. Meias. — Encontrei no
banheiro dos meninos. Na lixeira.
Com o canto do olho vejo que meu homenzinho as
olhar com cara de desgosto.
—Eu vejo... -, murmuro.
—Senhor Hart, isso começa a ser um problema-.
—Deixe-me ver se entendi-, começo a dizer,
pensativo, afastando a vista do gesto de
repugnância de Harry. —Acho que o que está
querendo dizer é que está começando a ser um
incômodo.
492
— Sim-. Assente decididamente, olhando para meu
filho. Não me surpreende quando seu rosto muda: a
frustração desaparece e dedica a meu filho um
sorriso terno. — Harry, querido, não está certo
roubar as meias dos seus colegas.
Harry está a ponto de ter um ataque de raiva, mas
intervenho, antes que tenha que explicar... outra
vez. Tem uma compulsão. Só uma: combinar
meias. Fico feliz que não tenha mais nenhuma, mas
não quero tirar-lhe essa. É parte dele. Não tenho
nada a temer. A alma de Olivia eclipsou toda minha
escuridão.
— Senhorita Phillips, Harry gosta de meias que
combinam. Já te disse outras vezes. Odeio me
repetir, mas abrirei uma excessão. Peça aos pais
que façam o certo e coloquem em seus filhos meias
do mesmo par. Não é tão difícil. Além do mais, não
entendo como os deixam sair de casa com as meias
erradas. Problema resolvido-.
— Senhor Hart, não me compete dizer aos pais dos
meus alunos como devem vestir seus filhos.
— Não, mas parece que lhe compete vir me dizer o
que meu filho vai ter que suportar no colégio.
—Mas...
—Não terminei-, interrompo-a bruscamente e
levanto um dedo para que espere em silêncio.
—Todo mundo está dando voltas demais nesse
assunto. Meias iguais. É assim tão simples. – Circulo
os ombros de Harry com o braço e o levo. — E será
melhor que não voltemos a falar sobre isso.
— Estou de acordo-, acrescenta Harry. Passa o
bracinho por minha coxa e se abraça a minha
perna. — Obrigado, papai.
— Não me agradeça, meu doce menino.
Digo-lhe em voz baixa e me pergunto se estou
pegando a obsessão de Harry. Muitas vezes eu me
493
pego olhando para os tornozelos, das pessoas sem
me dar conta, incluindo quando meu filho não está
comigo. O mundo precisa se livrar das meias
diferentes.
494
— Meu menino grande!-, começa rir e aperta suas
bochechas, —Você é mais bonito que um sol.
Harry continua sorrindo a Josephine, que lhe pega
pela mão e o leva para cozinha.
—Fiz sua torta favorita.
—Torta de abacaxi?- Harry não cabe em si de
alegria. Se nota pelo entusiasmo com que disse.
—Sim, querido. Mas também é a torta preferida do
tio George. Terá que dividi-la.
Os sigo sorrindo como um louco por dentro. Ela diz
a Harry que se sente.
—Olá, George -, comprimenta Harry enfiando o
dedo na lateral da torta. Não sou o único que faz
uma careta. George está horrorizado.
O idoso deixa o jornal na mesa e olha para
Josephine, que encolhe os ombros sem dar
importância. Ela o deixa fazer tudo. Sobra para
mim.
— Harry, isso não é educado o repreendo, mas me
custa porque está chupando os dedos com a língua.
— Sinto muito, papai -, e abaixa a cabeça
envergonhado.
— Fiquei vinte minutos olhando para a torta-.
George pega a faca e começa a cortar um pedaço
para cada um. — A bisavó Josephine sempre me
repreende quando coloco o dedo.
— É que é muito boa! Você quer um pouco papai?-,
me pergunta Harry e aceito o prato que põe diante
de mim. Logo coloca o guardanapo no colo e me
olha com seus preciosos olhos azuis. Sorri.
Me sento a seu lado e bagunço seu cabelo.
— Eu adoraria.
— George, papai também quer um pedaço.
— Eu ouvi, garoto.
George me serve um pedaço da famosa tarta tatín
de Josephine. Reajusto a posição do meu prato só
495
um pouco, apesar de não querer fazê-lo. É um
costume. Não posso evitar. Olho meu menino, e
sorri ao ver que também coloco o guardanapo no
colo.
É perfeito.
Meu menino está à frente em tudo. Está pronto e
não mostra sinais de transtorno obsessivo
compulsivo. Todo mundo têm direito a uma
peculiaridade. A de Harry são as meias. Eu não
poderia estar mais orgulhoso dele. Me faz babar.
Pisco-lhe o olho e morro de felicidade quando
começa a rir feliz e tenta me devolver a piscada,
ainda que feche os dois olhos ao invés de um. Ok,
pode ser que não vá ser tão adiantado em tudo.
— Vá em frente, belo cavalheiro.
Josephine se senta do outro lado de Harry e
empurra a colher para convidá-lo a se lançar na
torta. Imediatamente, ela mesma se dá um tapa e
volta a colocar a colher no lugar.
—Bisavó Josie!-, exclama escandalizado. —Papai
não gosta que mudem a colher de lugar!-
— Ah, perdão!- Josephine me olha com um olhar de
culpa e encolho os ombros. A estas alturas já
deveria saber. —Ia tudo tão bem!
—Não foi nada, Harry-, aplaco a ira de meu menino.
—Papai não se importa.
—Tem certeza?
—Muita.
Mudo o garfo de lugar e começa a rir. É música para
meus ouvidos e alivia a vontade que tenho de
colocá-lo onde estava. Me contenho. Não posso ver
como me afeta a minha obsessão. Acredito que meu
filho, é o menino mais desorganizado do mundo.
Parece que Deus está tentando encontrar o
equilibrio.
496
George também ri, leva as mãos ao colo e olha
Josephine muito sério.
— Bisavó Josephine-, diz balançando a cabeça,
—está perdendo a memória.
— Sua bunda!-, diz baixo e se desculpa enquanto
Harry e eu começamos a tossir.—Desculpe, pessoal.
Se levanta da mesa e se senta ao lado de George,
que parece assustado. Faz bem.
—Olha, Harry! - grita entusiasmada acenando um
canto da cozinha. Harry sorri e olha onde apontou a
bisavó. Eu também sorrio quando a muito
impertinente dá um tapa no bom George.
—Ai!-, coça a cabeça com um beicinho. —Você
exagerou um pouco.
Não digo nada. Não sou tão tonto como George.
—Já terminou de repreender Georege, bisavó?-,
pergunta Harry. É uma pergunta tão inocente que
todos sorrimos, incluindo o pobre George. —Porque
estou com fome.
— Já terminei, Harry.
Acaricia o ombro de George com afeto, é sua forma
de fazer as pazes e se senta.
—Que alívio-, suspira George, que morre por pegar
a colher. —Podemos começar já?
— Não!-, grita Harry, que já pode voltar a olhar
para a comida. —Temos que fechar os olhos para
abençoar a mesa.
Obedecemos instantaneamente e ele faz as honras.
—Obrigado Senhor pelas tortas da bisavó Josephine.
Obrigado por me dar os melhores pais do mundo, e
pela vovó Gracie, o vovô William, a bisavó Josie, o
tio Gregory, o tio Ben e o bom George. Amém.
Sorrio e abro os olhos, mas volto a fechá-los
instantaneamente porque grita:
—Espere!-
497
Franzo o cenho e me pregunto por quem mais quer
agradecer. Não me ocorre ninguém. Espero que
continue.
—E, por favor, faz com que as mamães e os papais
de todas as crianças na terra levem as meias iguais.
Sorrio e abro os olhos.
— Amém!-, exclamamos todos em uníssono. Todo
mundo pega sua cobertura e começa a comer, só
que Harry tem muito mais fome que eu.
—Bisavó, posso perguntar uma coisa?-, diz com a
boca cheia.
—Claro. O que você quer saber?
—Porque papai diz que você é um diamante de vinte
e quatro quilates?
Josephine começa a rir, assim como George e eu. É
uma pergunta curiosa.
—Porque sou especial-, diz Josephine me olhando
com carinho um momento antes de voltar a
terminar de responder a meu filho. —Isso converte
você em um diamante de trinta e seis quilates.
—Mamãe diz que sou muito especial.
—Mamãe tem razão-, confirma Josephine. —Você é
muito especial.
—Eu concordo-, acrescento. George termina sua
primeira porção. Não contriburá com a conversa
enquanto estiver comendo.
Se faz silêncio enquanto todos saboreamos a
deliciosa torta de Josephine. Ela conseguiu que meu
Harry não tire o sorriso do rosto. Sua mãe tem um
efeito estranho em mim, mas esse homenzinho
pegou o mundo que ela encheu de luz e o converteu
em uma beleza esmagadora. Com ele tudo é
perfeito, sem a necessidade de fazer com que seja.
Mais ou menos. Ok, nossa casa parece que foi
vítima de uma bomba de peças de Lego. Deixamos
para trás as fralda, mamadeiras e os malditos
498
brinquedos barulhentos e começamos com o lego,
os pratos de plástico e os talheres sem corte. Eu
vou sobreviver. Eu acho.
—Chegamos tarde?
Aparece Greg, seguido de Ben. Os dois estão mais
contentes do que de costume. Algo aconteceu.
—Tio Gregory! Tio Ben!-, Harry se levanta como um
raio e corre para comprimentar seus tios postiços.
—Harry!- Gregory o pega nos braços e o joga por
cima do ombro com elegância. — Temos uma
grande novidade!-, diz Gregory muito estusiasmado
e olhando seu parceiro, que lhe pisca o olho antes
de roubar-lhe Harry.
Já não resta a menor dúvida: uma grande
novidade? Me reclino no assento com os braços
cruzados.
Não tenho que perguntar por que meu filho o faz.
Sente tanta curiosidade como eu.
—Que grande novidade?-
—Tio Ben e eu vamos ter um bebê!-
Contenho-me para não engasgagar. George se
engasga de verdade.
-Eu vou ser amaldiçoado! - balbucia com a boca
cheia de torta, enquanto Josephine se apressa em
bater em suas costas.
Me sento muito ereto. Minha surpresa se transforma
em assombro quado vejo Harry dar um passo para
trás e uma mecha rebelde cair sobre sua testa.
Balança a cabeça e Ben o deixa no chão.
—E quem será a mamãe, tio Gregory?
Quase cuspo a comida, assim como Josephine e
George. Mas Gregory e Ben sorriem com ternura ao
pequeno curioso.
—Não terá mamãe-, diz Greg se abaixando para
estar da mesma altura que meu homenzinho.
Harry franze o cenho.
499
—O bebê crescerá em sua barriga?-
—Harry Hart, você pensa cada coisa!-, Greg ri.
—Os bebês não podem crescer nas barrigas dos
homens. Agora, tio Ben vai te explicar como
teremos um bebê.
—Desculpe?-, balbucia Ben, vermelho como um
tomate. Minha barriga dói de tanto rir.
Greg me lança um olhar assassino. Encolho os
ombros como pedido de desculpas.
—Isso, Ben-, me uno a festa. Coloco um pedaço de
torta na boca e mastigo devagar. —Como os
homens tem um bebê?
Rola os olhos, olha para Greg e ele também se
agacha junto a Harry.
—Vamos ajudar uma moça-.
—Que moça?
—Uma moça muito boa.
—Usa as meias iguais?
Morremos todos de rir, inclusive Greg e Ben.
—Sim-, diz Greg. —Na verdade, Harry, usa as meias
do mesmo par.
Rio sem parar. Deveria dizer-lhe que não fosse tão
arrogante, mas não posso fazer isso porque passei o
dia todo dzendo-lhe que é perfeito. Quando se
enche de lama até as orelhas no parque, é perfeito.
Quando sujas as orelhas de ketchup, é perfeito.
Quando parece que passou um tornado por seu
quarto, é perfeito.
—Olá!
A saudação me traz de volta ao mundo real. Harry
sai correndo da cozinha, já não se interessa pela
grande novidade de Greg e Ben.
—O vovô e a vovó chegaram!-, grita desaparecendo
pelo corredor.
—Felicidades-, digo a Gregory e Ben, que se
levantam do chão. —Fico muito feliz por vocês.
500
—É uma notícia maravilhosa!- exclama Josephine e
lhes dá um abraço de urso. —Que maravilha!
O pobre George resmunga e continua com a torta
que ficou esperando todo o dia.
—Já estou aqui, querido!-, diz Gracie com um
sorriso. Ouço corpos se chocarem e sei que Harry
fez como sempre: lançar-se nos braços da avó. —Eu
senti tanto sua falta!
—Eu também senti a sua, vovó.
Rolo os olho. Gracie e William o levaram para jantar
ontem à noite. Mas sabendo o muito que ama meu
filho, eu entendo. Os dias de escola arrastam-se
dolorosamente.
—O tio Gregory e o tio Ben, vão ter um bebê!
—Eu sei-, responde Gracie sorrindo afetuosamente
aos futuros pais quando entra na cozinha com meu
menino nos braços. Não me surpreendo que saiba.
Estes ultimos anos têm estado muito unidos.
—Olá, Gracie-, a comprimento.
—Miller-, sorrie e senta à mesa.
—Olá, querida. Você gostaria de um pouco de torta?
—Não, obrigado! Estou ficando com coxas enormes
por causa de suas tortas.
—Suas coxas estão bem-, diz William entrando na
cozinha e olhando Gracie com se estivesse louca.
—E o que você sabe?-, responde ela.
—Eu sei tudo-, contra ataca William com convicção.
Sorrio e Gracie bufa. William saúda a todos com um
gesto e se aproxima de Harry com uma sacola do
Harrods. —Olha o que eu tenho-, diz para chamar
sua atenção. —Mamãe me disse que a professora te
deu um prêmio semana passada por ajudar seus
colegas. Muito bem!
Rio para mim mesmo. Sim, isso foi antes que lhes
roubasse as meias.
501
—Sim!- Harry está tão emocionado que é
contagioso. Já sei o que há na bolsa. —É para mim?
—Sim, é para você. - Gracie afasta a bolsa e lança a
William um olhar de advertência. Ele obedece
imediatamente. — Mas, primeiro me conte como foi
na escola.
— Não pergunte!-, grita Josephine recolhendo
alguns pratos da mesa. — Meias sem combinar por
toda a parte!
Gracie suspira e Harry levanta e abaixa a cabecinha,
indignadíssimo.
— Cinco pares, vovó!
— Cinco?- Gracie parece surpresa. Normal. Temos
tido um par ou dois, mas cinco é um recorde e
perturbou o equilíbrio do mundo do meu pequeno.
—Sim, cinco.
Harry desce do colo de sua avó e suspira
exasperado, mas não diz mais nada. Nem precisa.
Agora que estamos todos aqui, quer a prova de que
a coisa não vai mais longe. George e eu nos
colocamos de pé. William, Greg e Ben, ainda
permanecem sentados. Levantamos as calças para
que inspecione nossas meias. As minhas não precisa
ver, meu filho sabe que seu pai é legal, mas me
aponto igualmente.
William me olha de soslaio e me arrisco a olhá-lo,
ainda que saiba que não vou gostar do que sei que
vou encontrar. Tenho certeza que parece
aborrecido.
— É um menino, siga a corrente-, sussurro sem dar
importância a sua risada irônica. Sei o que está
pensando. Acha que essa mania se deve a Harry ser
meu filho. — São somente as meias-, asseguro-lhe.
Meu homenzinho avança lentamente, com os lábios
apertados, como se estivesse se preparando para o
pior. Sei que William, Greg, Ben e eu sempre
502
estaremos a altura de suas expectativas. Com
George nunca se sabe.
— Boa escolha, George!-, exclama Harry muito
contente, ajoelhando-se para ver melhor.
George tem o peito cheio de orgulho.
— Obrigada, Harry. São presentes da bisavó.
William e eu respiramos aliviados e olhamos aos
tornozelos de George. Usa um par de meias, azuis
marinho grossas de lã. São feias pra caramba, mas
são iguais, assim que passam na inspeção.
Josephine sorri satisfeita.
Agradeço-lhe silenciosamente por manter firme o
idoso, porque ter que ver os pés, quando Harry o
obriga a tirar as meias, não é nada agradável.
Estremeço.
— Boa escolha?-, pergunta William baixo, dando-me
uma cotovelada. — Nós usamos seda e as
montruosidades de George levam todos os créditos?
Eu rio e solto as pernas da calça. Agora que a
inspeção terminou, Harry vai para seu avô.
— Vovô, me dá meu presente?
William olha para Gracie, pedindo permissão. Ela
assente. William se senta ao lado de Harry, que
imediatamente tenta arrancar-lhe a bolsa das mãos.
— Hey!-, o repreende afastando a bolsa e lançando-
lhe um olhar de advertência. — Onde estão seus
modos?
— Desculpe-me, vovô -, Harry se desculpa, com o
rabo entre as pernas.
– Muito melhor. Sabe o que? Só há um homem
neste mundo que permito que a vovó ame mais que
a mim.
— Eu!-, diz Harry instantaneamente — Mas não é
como se tivesse escolha.
503
Não posso evitar. Caio na gargalhada, para o
desespero de William. Agarro meu estômago e seco
as lágrimas.
— Desculpe-. Eu rio e sei que tenho que controlar o
riso, antes que eu apanhe.
— Te juro que ás vezes me assuta-, grunhe William
balançando a cabeça e se esquivando do tapa de
que Gracie tenta dar em seu ombro.
—Hey!
— Não, eu falo sério-, diz apertando a bochecha de
Harry com muito carinho. —Como é possível?
— É perfeito-, intervenho, e com o guardanapo
limpo o resto de torta nos dedos de Harry.
— Obrigada, papai.
— De nada. – Quero pegá-lo nos braços e dar-lhe “o
que mais gosto”, mas me contenho.—Vamos ter que
ir.
— Espere que abra meu presente-, diz procurando
na bolsa e tirando o que todos sabemos que há
dentro. — Vejam!
É incrível a alegria que sente com um par de meias.
Eu sei, mas não acho que encontre maneira de
consertá-lo.
— Ual!- exclamo admirado. Mostra-me e as pego.
— São muito elegantes.
— E tem cavalos!-, as leva de mim e as leva ao
peito. –Vão combinar com minha camisa. Ooooh,
isso é muito legal!
Estou radiante. Gracie está radiante. Todos os
presentes estão cheios de felicidade. Que ninguém
venha me dizer que meu filho não é perfeito.
Elevadores. Há três elevadores me olhando. Como
eu vejo, estão todos brigando entre eles, para ver
qual dos três vai ter o gosto de me ver tremer de
medo, como se fosse o melhor de seu dia miserável.
Ganha o do meio. As portas se abrem e meu pulso
504
se acelera. Mas não quero que meu filho veja. Não
quero que tenha que carregar nunca essa parte de
mim. Todo mundo sabe que você não pode deixar
que seu filho veja que tem medo.
Porque o escritório da terapeuta tem que estar no
oitavo andar? As perninhas de Harry não podem
subir tantos degraus e seu ego não deixaria que o
levasse nos braços. Então, tenho que aguentar e
subir no maldito elevador, porque Olivia insiste que
venhamos aqui. Fico de mal humor.
Uma mãozinha se flexiona dentro da minha e me
tira do meu transe. Merda, o estou machucando.
— Você está bem papai?- Seus olhos azuis escuros
sobem por meu corpo até que encontram os meus.
Estão muito preocupados e me odeio por fazê-lo
sofrer assim.
—Muito bem, homenzinho-. Me obrigo a ser valente
e repito um mantra de palavras de incentivo
enquanto entramos na caixa dos horrores.
"Pense em Harry. Pense em Harry. Pense em seu
filho."
— Quer que subamos pela escada?-
A pergunta me deixa surpreso. Nunca antes havia
me perguntado.
— E porque iria querer fazer isso?
Encolhe os ombros.
— Não sei. Talvez hoje você não goste dos
elevadores.
Me sinto como uma idiota. Meu filho de cinco anos
está tentando me ajudar. Meus dias de esconder
esse medo terrível acabaram? Ele me descobriu?
As portas se fecham e Harry aperta minha mão.
Baixo o olhar e está me olhando atentamente.
— No que você está pensando?-, pergunto, ainda
que não queira saber.
Sorri para mim.
505
— Em quão bonito você está hoje, papai. Mamãe
gostará desse terno.
— Mamãe gosta das roupas de ficar em casa-, lhe
recordo e rio quando estala a língua para expressar
sua desaprovação. Detesto pensar nos ternos que
comprei durante anos, todos requintados, tudo para
que ela sempre me ache mais bonito com jeans
desgastados.
Ding.
As portas se abrem na recepção do consultório da
terapeuta.
— Já chegamos!
Começa a correr e me puxa. Meu coração volta a
bater normalmente e me arrasta até a mesa da
recepcionista.
— Olá-, saúda Harry alegremente.
Meu menino poderia arrancar um sorriso da pessoa
mais triste do mundo, tenho certeza, e a
recepcionista é a pessoa mais triste do mundo. É
assustador, mas se desfaz em sorrisos com meu
pequeno, como se não houvesse amanhã.
— Harry Hart! Que alegria!
—Como vai, Anne?
—Muito contente em te ver. Quer se sentar?
—É claro. Vamos, papai.
Me conduz a dois assentos vazios, mas a mim, Anne
não sorri com adoração como a meu filho. Sua
alegria desaparece enquanto seus olhos pousam em
mim.
— -Senhor Hart-, diz quase com um rosnado. Não
estica a conversa, se concentra em seu teclado.
Parece uma levantadora de pesos e se comporta
como um bulldog. Eu não gosto.
Puxando as pernas de minhas calças para cima, me
sento ao lado de Harry, tomo meu tempo olhando
ao redor. Está muito tranquilo, como sempre que
506
viemos nesse horario. Nossa única outra companhia
é uma mulher, Wendy, que se nega a olhar alguém
nos olhos, nem sequer a Harry, quando se falam.
Harry deixou de tentar falar com ela e a chama e
Wendy a estranha.
— Eu já volto-, diz Harry se aproximando do
cantinho das crianças, onde há um montão de peças
de Lego guardadas ordenadamente. Não estarão
assim por muito tempo. Relaxo em minha cadeira e
vejo como as coloca de cabeça para baixo e as
espalha por todas as partes. Olho de soslaio para
Wendy a estranha quando Anne lhe avisa que pode
ver a doutora.
Desaparece apressadamente. Meu homenzinho e eu
somos os únicos na sala de espera, além de Anne.
Fecho os olhos e vejo safiras por todas as partes,
brilhantes, luminosas, lindas safiras e cabelos loiros
selvagens. Sorrio e ouço o ruído das peças de Lego
que chegam do outro lado da sala. E ele também é
meu.
— Senhor Hart?
Dou um pulo ao ouvir a voz impaciente. Abro os
olhos, tenho Anne acima de mim. Me coloco de pé
rapidamente, não gosto de me sentir tão vulnerável
com ela.
—Sim?
—Já pode ir-, me informa e sai. Pega sua bolsa
atrás de sua mesa e desaparece nos elevadores.
Estremeço e procuro Harry. Está na porta com a
mão na maçaneta, me esperando para entrar.
— Anda, papai! Vamos chegar tarde!
Coloco-me em ação e entro com Harry na sala. Faço
uma careta quando os problemas de um milhão de
pessoas me golpeiam no rosto. Permanecem no ar e
me dão calafríos. Não entendo porque sempre me
acontece isso. A sala está decorada com gosto, é
507
quente e acolhedora. Odeio vir aqui. Mas há um
problema: Harry adora e esta mulher não para de
convidá-lo. Pessoalmente acho que disfruta estando
sentada atrás de sua enorme mesa fina e me vendo
passar mal.
Grunho e me sento na cadeira diante de sua mesa,
assim como Harry, só que eu estou irritado e faço
cara feia e ele sorri feliz. Me faz sentir um pouco
melhor e as cantos dos meus lábios esboçam um
pequeno sorriso.
— Olá, Harry-, diz. Sua voz é como mel, suave e
sedosa. Não a vejo, só ouço sua voz, mas quando
dá a volta em sua cadeira e aparece, sua beleza me
deixa tonto por um instante. E meu pau dança em
minhas calças.
— Olá, mamãe!-, exclama Harry encantado.
Seus olhos azuis, idênticos aos do meu filho,
brilham como diamantes.
— Eu tive um dia maravilhoso e agora que está
aqui, é ainda melhor. - Olha-me com esses olhos
deliciosos. Tem as bochechas rosadas. Quero me
lançar sobre ela e adorá-la aqui mesmo. Seu amplo
sorriso fica tímido e cruza as pernas. — Boa tarde,
Sr. Hart.
Aperto os lábios e me mexo em meu assento,
tentando me comportar como um ser racional e não
perder a cabeça diante do meu filho.
— Boa noite, senhora Hart.
Cada bendito raio de luz que banha nossas vidas,
desde que nos conhecemos, chocam em cima da
mesa e explodem. Endireito as costas e meu pulso
se acelera. A beleza pura, natural e inocente desta
mulher me deu mais prazer do que achava ser
possível. Não só na intimidade, mas sim,
completamente por ser o objeto de seu amor. Sou
seu mundo e ela é o meu.
508
Harry salta de sua cadeira e se aproxima das
estantes cheias de livros.
—Como foi seu dia?-, pergunto.
—Esgotador. E tenho que estudar quando
chegarmos em casa.
Tenho que me controlar para rolar os olhos, sei que
darei de cara com sua insolência se pensar em
expressar que não gosto nada disso. É só um
emprego de meio período, ainda que não precise
trabalhar, insiste que é bom para seus estudos, que
lhe dá uma ideia de como será quando estiver
qualificada para exercer como psicoterapeuta. A
única coisa que vejo é que está esgotada, mas não
posso negar-lhe o gosto. Quer ajudar as pessoas.
—Terá um consultório como esse?- Olho para o
consultório de seu sócio. O roubamos toda quarta-
feira às seis.
—Talvez.
Volto a olhar em seus olhos com um sorriso
travesso.
—Poderei me referir a você como minha terapeuta
quando exercer de verdade?-
—Não. Seria um conflito de interesses.
Franzo o cenho.
—Mas me ajuda a me desestressar.
—De um jeito muito pouco profissional!-, ela ri,
abaixa a voz e se inclina sobre a mesa. —Ou por
acaso sugere que deixe todos os meus pacientes me
adorarem?
Me faz endurecer.
—Ninguém mais pode adorar você-, rujo. Só a ideia
me leva a um lugar que passo muito tempo
evitando.
Mas me recupero quando Harry volta a se sentar
com um pulo em sua cadeira e me olha com
curiosidade.
509
—Tudo bem, papai?
Bagunço seu cabelo e ignoro Olivia, que tira sarro
de mim em sua cadeira.
—Tudo ótimo.
—Mamãe, não vamos para a casa?
—Ainda não-. Pega o controle remoto e temo pelo
pior. —Preparados? -, pergunta com um sorriso
zombeteiro.
Fico olhando fixamente minha mulher, mas noto
que meu filho tem os olhos cravados em meu perfil
e me viro até ele. Seu rostinho é a imagem da
exasperação.
— Não acho que tenhamos escolha-, lembro, ainda
que ele saiba.
–Está louca-, suspira.
— Eu concordo-. Não posso fazer outra coisa porque
tem razão. Me estende a mão e a seguro. —
Pronto?-
Assente e nos colocamos de pé quando Olivia aperta
o botão que faz o escrtório tomar vida. Não nos
movemos, apesar de que Happy de Pharrell Williams
soa a todo volume. Contemplamos como a mulher
de nossa vida, pula feliz e contente, e se livra dos
Converse com um chute.
— Vamos! - exclama. Circula a mesa e nos pega
pela mão. — Hora de desestressar!-
Existem coisas que eu poderia responder, mas me
lança um olhar de advertência dos que não admitem
réplica. Faço cara de dor.
—Se me acont... - Não posso evitar mas não acabo
a frase porque tapa minha boca com a mão.
Se aproxima sem mover a mão.
— Comprei chocolate Green & Blacks.
Minhas pupilas se dilatam e o sangue sobe para
minha cabeça.
510
— Morangos?-, murmuro contra sua mão, tentando
não tremer de antecipação quando assente. Sorrio
igual a ela e traço mentalmente meu plano para
essa noite. Vou adorá-la. Vou adorá-la em
abundância.
—Vamos dançar ou o quê?- pergunta Harry
chamando nossa atenção, impaciente. —Se
controlem um pouco -, murmura.
Nós rimos e seguramos nossas mãos, em um
circulo.
— Vamos dançar-, digo me preparando para o que
tenho que aguentar, pelo o que vou fazer.
Nos olhamos de soslaio por um instante,
sorridentes, até que Harry dá o primeiro passo. Meu
filho se põe a cantar em voz alta e parece que seu
corpinho está tendo um ataque. Nos solta, levanta
os braços, fecha os olhos e começa a correr e pular
pela sala como de estivesse louco. É o mais bonito
do mundo.
— Venha, papai!-, grita, corre até o sofá e se põe a
saltar entre as almofadas. Não posso evitar em ficar
nervoso pelo caos que arma sem se dar conta, mas
começo a disfarçar melhor. Além do mais, sempre
arrumamos tudo antes de ir.
— Isso-. Olivia me dá uma cotovelada. — Solte-se
um pouco, senhor Hart.
Encolho os ombros. — Como quiser.
Tiro a jaqueta num piscar de olhos e planto um
sorriso falso no rosto. A jaqueta cai no chão, mas
fica lá e corro para junto do meu homenzinho,
arrastando Livy comigo.
— E aí vou eu!-, grito lançando-me no sofá com ele.
Sua risada e o brilho de felicidade em seus olhos me
incentivam a continuar. Fico louco. Mexo a cabeça,
no alto do sofá e viro Livy, como se fosse um peão e
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canto com meu filho a plenos pulmões. Vai saber
como está meu cabelo.
—Yupiiiiiii-, grita Harry pulando do sofá.—Para a
mesa, papai!
Pego ele, começo a correr e subimos com um pulo a
impotente mesa de trabalho.
—Você pode, Harry!
—Sim!
Suas pernas dão tudo e os papéis saem voando da
mesa.
E eu não ligo nenhum pouco.
Estão chovendo folhas de papel, estamos dançando
como bobos, e rimos e cantamos as partes que
sabemos. Estamos no céu.
Meus anjos e eu nos encontramos em nossa bolha
de felicidade, só que agora nossa bolha é
gigantesca. E nada pode estourá-la.
A canção acaba, mas nós continuamos com muita
energia. Parecemos demônios da Tasmânia e
começa a tocar Happiness de Goldfrapp.
— Vamos!-, grita emocionado afastando os cachos
da testa. — Minha favorita!
Desce da mesa bruscamente e damos as mãos
novamente em um círculo. Já sei o que vem agora.
Vou ficar tonto. Só posso fazer uma coisa para
evitar o inevitável: olhar fixamente para Olívia
enquanto Harry começa a mover os pés para que
giremos. Está outra vez em seu mundo, assim que
não se dá conta de que só tenho olhos para sua
mãe. E ela só tem olhos para mim.
Damos voltas e mais voltas. Harry canta e Olivia e
eu nos olhamos intensamente.
— Amo você -, pronunciam meus olhos com um
meio sorriso sem emitir nenhum som.
— Morro por seus ossos, Miller Hart-, me responde
em voz baixa com um sorriso radiante.
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Obrigado, meu Deus. Não sei o que fiz para merecê-
la.
Quando a música acaba estou suando. Continuamos
com nossa tradição e nos jogamos no chão,
esgotados, ofegantes e tentando recuperar o fôlego.
Harry ainda ri com sua mãe.
Eu sorrio olhando o teto.
— Tenho que perdir-lhes uma coisa-, digo sem
fôlego, resistindo a ver a carinha que meu
homenzinho põe ao ouvir essas palavras. — E só há
uma resposta correta.
— Nunca deixaremos de te amar, papai-, responde
apressadamente me dando a mão.
Balanço a cabeça para olhar para ele.
— Obrigado.
— Nós também temos que te pedir uma coisa.
Respiro fundo e engulo o nó em minha garganta,
um nó de pura e absoluta felicidade.
— Até que não me reste ar nos pulmões, meu
menino.
Meu mundo está em seu lugar e tudo volta a ser
perfeito.
Olivia Taylor causou estragos em meu mundo de
ordem e meticulosidade. Mas era real. Ela era real.
O que eu sentia era real. Cada vez que a adorava,
sentia que purificava um pouco mais minha alma.
Era lindo. Significava algo. A excessão de uma noite
lamentável, quando fazíamos amor nunca era só um
choque violento de corpos com um único objetivo.
Prazer.
Alívio.
Nossa intimidade tampouco foi automática, não no
sentido de que meu corpo tomava o controle e se
limitava a... cumprir. Ainda que fosse automático
porque acontecia sozinho. Era natural, não
tínhamos que nos esforçar.
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Era assim que tinha que acontecer.
Uma noite se converteu em uma vida.
E nem sequer isso me basta. Nunca terei o
suficiente de Harry e nem o suficiente de Olivia.
Me chamo Miller Hart.
Sou o garoto especial.
Mas sou especial, porque nunca haverá neste
mundo um homem mais feliz que eu.
É desnecessário me explicar.
Sou livre.
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