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6/16/2020 Inteiro Teor (6904982)

Data e Hora: 26/04/2019 16:51:44

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0006349-13.2012.4.03.6100/SP


2012.61.00.006349-9/SP
RELATOR : Desembargador Federal VALDECI DOS SANTOS
APELANTE : JAIR FRANCISCO ROSS BENAVIDES e outro(a)
ADVOGADO : SP251156 EDIMILSON DE ANDRADE
: SP314968 CAMILA BARRETO DA SILVA
APELANTE : ROSIMEIRE ADRIANA MERLIN BENAVIDES
ADVOGADO : SP311593 NAYARA GHALIE CURY e outro(a)
APELANTE : Caixa Economica Federal - CEF
ADVOGADO : SP172328 DANIEL MICHELAN MEDEIROS e outro(a)
APELANTE : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
SP145779 ROSEMEIRE CRISTINA DOS SANTOS MOREIRA e
PROCURADOR :
outro(a)
ADVOGADO : SP000030 HERMES ARRAIS ALENCAR
APELADO(A) : FERNANDO TOQUEIRO TOME
ADVOGADO : SP207456 OTAVIO CELSO RODEGUERO e outro(a)
APELADO(A) : MARCOS NILSON FERREIRA BARBOSA
ADVOGADO : SP253953 NORIVAL FELISBERTO e outro(a)
APELADO(A) : TELEMAR NORTE LESTE S/A
ADVOGADO : SP142024 VAGNER AUGUSTO DEZUANI e outro(a)
APELADO(A) : OS MESMOS
No. ORIG. : 00063491320124036100 7 Vr SAO PAULO/SP

RELATÓRIO

Trata-se de apelações interpostas pela Caixa Econômica Federal - CEF, pelo Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS, pela parte ré e pelos oponentes, em ação de reintegração de posse, bem como
nos autos de oposição, em face da sentença que julgou parcialmente procedente a referida ação e
extinguiu o processo, com resolução de mérito, nos termos do art. 269, inciso I, do Código de Processo
Civil de 1973, para confirmar a liminar anteriormente concedida em favor dos coautores concedendo-
lhes a reintegração definitiva da posse da área descrita na petição inicial, rejeitando o pedido relativo à
condenação dos réus ao pagamento de aluguéis ou lucros cessantes. Determinou, ainda, que as
despesas relativas aos honorários periciais devem ser ressarcidas pelos réus, se dentro do prazo de
cinco anos houver modificação superveniente da situação econômica e financeira dos mesmos, nos
termos dos artigos 7º e 12, da Lei nº 1.060/50. Decretou, ademais, a sucumbência recíproca, nos
termos do artigo 21 do Código de Processo Civil de 1973.
Prosseguindo, julgou parcialmente procedente o pedido contraposto deduzido pela Caixa Econômica
Federal - CEF nos autos da Oposição nº 2012.61.00.006349-9, acolhendo a extensão da medida
liminar concedida na ação de reintegração de posse, rejeitando a condenação dos oponentes ao
pagamento de aluguéis ou lucros cessantes. Por fim, condenou os oponentes ao pagamento de
honorários advocatícios em favor dos opostos, arbitrados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), a teor do
artigo 20, § 4º do CPC/73.
Em suas razões recursais, a CEF requereu a condenação dos réus ao pagamento dos aluguéis ou lucros
cessantes como decorrência da ocupação ilegal do imóvel e de sua exploração comercial indevida,
sustentando, em síntese, que os réus além de explorarem comercialmente o imóvel mediante operação
de estacionamento para veículos, ainda admitiram a celebração de contrato para instalação de antena
de telefonia no local, com a empresa Telemar Norte Leste S/A, o que justificaria a cobrança de
aluguéis ou lucros cessantes em razão da vedação legal ao enriquecimento ilícito. Pugnou, ainda, pela
condenação dos réus ao pagamento de honorários advocatícios. Nos autos de oposição, a CEF alegou a
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existência de coisa julgada e ausência de interesse de agir, requerendo, ainda, a extensão dos pedidos
principais em face dos opoentes e a majoração dos honorários advocatícios.
Apelaram também os réus requerendo a reforma da sentença em face de alegada fragilidade do laudo
pericial, uma vez que o perito responsável "constatou que o projeto do levantamento planimétrico
fornecido pela CEF não era tecnicamente representativo para a discussão em tela, tendo em vista a
análise da linha sucessória do imóvel objeto da transcrição nº 377; à duas porque referido perito
deixou de apresentar o que seria o real levantamento topográfico por falta de verba para a
contratação de serviços de terceiros" (fl. 1578). Por fim, requereu fosse deferida a imediata
reintegração de posse do imóvel aos ora apelantes.
Por sua vez, o INSS requereu a reforma da sentença, para que fosse arbitrado o valor da indenização
pelo uso indevido do imóvel, por ter sido comprovado o esbulho da posse do bem, nos termos do
artigo 952, do Código Civil, c.c. o artigo 921 do Código de Processo Civil de 1973, alegando que o
ordenamento jurídico veda o enriquecimento ilícito. Afirma, ademais, que a "exploração comercial do
bem exercida pelos detentores, auferindo lucros decorrentes da utilização da área como
estacionamento de veículos e, ainda, percebendo aluguéis pela locação do espaço para instalação de
antena de telefonia pela empresa ré Telemar Norte leste S/A é prova contundente do prejuízo sofrido
pelos proprietários do bem - CEF e INSS." (fl. 1929).
Além disso, embora a ação de reintegração de posse e a oposição tenham sido julgadas conjuntamente,
os honorários advocatícios deveriam ser fixados em cada uma delas, uma vez que se trata de ações
distintas.
Nos autos da oposição, o INSS alegou, em sede de questão preliminar, a existência de coisa julgada e,
no mérito, reafirmou as razões deduzidas na apelação interposta na ação principal de desapropriação.
Por fim, em sua apelação nos autos de oposição, os oponentes arguiram, preliminarmente, a nulidade
da sentença, em razão de ocorrência de cerceamento de defesa, tendo em vista a necessidade de
realização de nova perícia. No mérito, alegaram que a CEF é empresa pública federal e seus bens não
são considerados bens públicos em face do exercício de atividade econômica, sendo possível, portanto,
o reconhecimento da posse sobre a área discutida.
Oferecidas contrarrazões subiram os autos para esta Egrégia Corte Regional.
O Ministério Público Federal, por meio do órgão oficiante em segundo grau, manifestou-se pelo
provimento parcial da apelação da CEF na oposição, pelo provimento parcial das apelações da CEF e
do INSS na ação de reintegração de posse e na oposição, para majorar os honorários advocatícios, e
pelo desprovimento das demais apelações.
É o relatório.

VOTO

Inicialmente, quanto ao contido na petição de fls. 2.135/2.136, cabe salientar que o pedido de
restituição dos valores recolhidos a maior, a título de custas judiciais, deverá ser deduzido perante o
juízo de primeira instância. Impõe-se a medida para evitar novas diligências nos presentes autos,
ensejando assim prestação jurisdicional mais célere e que atenda aos anseios das partes, levando-se,
ainda, em consideração, a natureza sensível da lide.
Superado o pleito acima, passo ao exame das questões preliminares deduzidas nos recursos alhures
mencionados.
Desde logo, deverá ser afastada a alegada ocorrência de coisa julgada nos autos, considerando que a
decisão proferida pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no âmbito de ação de
Interdito Proibitório (proc. nº 0118902-30.2005.8.26.0100), não vincula terceiros que não foram partes
no referido feito, a teor da norma contida no artigo 472 do CPC/73, atual artigo 506 do CPC/2015.
Ademais, a alegação de nulidade da sentença proferida nos autos, em face da ocorrência de
cerceamento de defesa, é matéria que se confunde com o mérito e como tal deverá ser tratada.
A presente ação de reintegração de posse foi ajuizada com o intuito de ver reconhecida a proteção
possessória do imóvel situado entre a Rua Professor Geraldo Ataliba, Avenida Juscelino Kubitschek e
Avenida Henrique Chammas, com área total de 8.697,362 m², em favor dos autores, em face do
reconhecimento de esbulho praticado pelos réus, bem como sejam estes condenados ao pagamento de
aluguéis ou lucros cessantes pela utilização indevida da área mencionada, de propriedade da Caixa
Econômica Federal - CEF e do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, isso até a efetiva
desocupação da propriedade esbulhada.
Como autora originária da ação, a CEF informa que a área objeto do processo é de sua propriedade e
do INSS em condomínio pro indiviso desde o ano de 1982, e que referido imóvel encontra-se
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matriculado sob nº 59.085, no 4º Cartório de Registro de Imóveis (CRI) e nº 36.173, no 13º Cartório de
Registro de Imóveis, ambos desta cidade de São Paulo, restando comprovada propriedade sua em
porção maior da área (70%), e, do INSS, em porção menor da área (30%).
Os autos dão conta que parte da área originária foi desapropriada pela Prefeitura de São Paulo para a
construção e ampliação da malha viária da cidade, bem como outra parte do terreno foi destinada à
construção do chamado "Parque do Povo", conforme tombamento levado a efeito pelo
CONDEPHAAT, nos termos da Resolução SC nº 24, de 03 de junho de 1995.
Aduzem, tanto a empresa pública quanto a autarquia federal, que referida área fora ocupada
indevidamente pelos réus, sendo que estes a utilizavam para fins de exploração comercial de
estacionamento de veículos, além de locação de parcela menor da área para a instalação de antena de
telefonia celular.
Com o intuito de comprovar as suas alegações, a parte autora juntou aos autos levantamento
topográfico planialtimétrico da área em questão e diversos outros documentos, expedidos por Cartórios
de Registro de Imóveis e pela Prefeitura do Município de São Paulo, que atestariam ser a referida área
de propriedade da CEF e do INSS (fls. 176/198).
O réu Fernando Toqueiro Tomé, por sua vez, argumenta ter a posse mansa e pacífica do imóvel em
questão desde 1984 e que o mesmo não pertence às coautoras, tendo em vista que não foi considerado
pela CEF o deslocamento da margem do Rio Pinheiros, de modo que a área atualmente ocupada pelos
réus não integra o terreno afeto às matriculas apresentadas, haja vista que a sua localização está entre a
antiga e a nova margem do Rio Pinheiros, ou seja, entre rios (fls. 229/244). Aduz que pende ainda de
decisão incidente de falsidade instaurado para discutir a autenticidade de vários documentos
apresentados pela CEF.
Por sua vez, o réu Marcos Nilson Ferreira Barbosa alega que adquiriu a posse da área contestada em
2002 por instrumento particular de cessão de direitos possessórios. Todavia, deixou de acostar os
comprovantes de pagamento do Imposto Predial Territorial Urbano - IPTU, pois "não há lançamento
de contribuinte para o imóvel" (fls. 402/417).
Os corréus mencionados interpuseram ainda oposição em ação de usucapião, cujo trâmite se deu
perante a 3ª Vara Federal de São Paulo (Processo nº 2007.61.00.001467-5), com o objetivo de serem
reconhecidos como proprietários do terreno objeto do litígio.
Todavia, os pedidos formulados na ação de usucapião e na de oposição foram julgados improcedentes,
restando reconhecido que o terreno usucapiendo integrava área maior, de propriedade da CEF e do
INSS (fls. 307/321).
Os autores da supracitada ação de usucapião, Jair Francisco Ross Benavides e Rosimeire Adriana
Merlin Benavides, ingressaram com Oposição (Processo nº 2012.61.00.006349-9) perante a presente
ação de reintegração de posse alegando que adquiriram a área mediante instrumento particular de
cessão de direitos possessórios em 10 de maio de 2002.
A perícia realizada no processo de usucapião, pelo engenheiro civil José Luiz Serra, concluiu que o
imóvel usucapiendo está inserido na área matriz das matrículas nº 59.085 do 4º CRI-SP e nº 36.173 do
13º CRI-SP, de modo que atesta ser a área pertencente à Caixa Econômica Federal - CEF e ao Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS (fls. 274/305).
Por sua vez, foi realizada perícia técnica nos presentes autos pelo engenheiro civil Milton Lucato (fls.
1.253/1.327), que apresentou conclusão no sentido de que os títulos de propriedade da CEF e do INSS
são nulos, devido a irregularidades observadas na cadeia filiatória, tendo em vista que o imóvel em
disputa integrou o espólio de Pedro Christe do Nascimento e foi transmitido a seus herdeiros, de
acordo com a Carta de Sentença e Formal de Partilha assinada pelo Juiz da 1ª Vara de Órfãos, no ano
de 1916, sendo posteriormente alienado pela viúva meeira, porém, sem que constasse no título de
transmissão referência ao número da matrícula original do imóvel, razão pela qual teria havido quebra
na linha sucessória.
O INSS juntou aos autos parecer discordante (fls. 1.330/1.334) alegando que o laudo anterior atestou
que os imóveis estão contidos em área maior conhecida como "Parque do Povo".
A CEF também apresentou laudo discordante (fls. 1.360/1.371) apontando supostas irregularidades no
laudo pericial produzido em juízo, especialmente com relação à ausência de documentos para sustentar
as suas conclusões.
Os corréus concordaram com o laudo pericial requerendo a imediata devolução da posse (fls.
1.343/1.345). Foi juntado também parecer de assistente técnico dos corréus (fls. 1.584/1.675).
A sentença houve por bem de julgar parcialmente procedente a ação para conceder à CEF e ao INSS a
reintegração definitiva da posse da área descrita na petição inicial, julgando, porém improcedentes os

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pedidos relativos à condenação dos réus ao pagamento de aluguéis ou lucros cessantes. Ainda, julgou
parcialmente procedente o pedido contraposto deduzido pela CEF nos autos da Oposição.
Pois bem. Delineados os fatos nos seus pontos essenciais, cabe salientar que as ações de reintegração
de posse não se prestam a discutir a propriedade do imóvel em si, mas a pretensão possessória. Porém,
no presente caso, a resolução da titularidade do domínio se mostra indispensável por se tratar de
imóvel onde também se discute sobre a sua natureza de bem público, o que poderia afastar a condição
de terceiros titulares da posse, já que esta não se configuraria em relação a imóveis de propriedade de
ente estatal, pois o bem público não confere tal condição a seu mero ocupante, caracterizando simples
detenção decorrente de tolerância ou permissão precária por parte do Poder Público.
Nesse sentido, o entendimento firmado na jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:
"PROCESSO CIVIL - ADMINISTRATIVO - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - IMÓVEL
FUNCIONAL - OCUPAÇÃO IRREGULAR - INEXISTÊNCIA DE POSSE - DIREITO DE RETENÇÃO
E À INDENIZAÇÃO NÃO CONFIGURADO - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - EFEITO
INFRINGENTE - VEDAÇÃO.
1. Embargos de declaração com nítida pretensão infringente. Acórdão que decidiu motivadamente a
decisão tomada.
2. Posse é o direito reconhecido a quem se comporta como proprietário. Posse e propriedade,
portanto, são institutos que caminham juntos, não havendo de se reconhecer a posse a quem, por
proibição legal, não possa ser proprietário ou não possa gozar de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade.
3. A ocupação de área pública, quando irregular, não pode ser reconhecida como posse, mas como
mera detenção.
4. Se o direito de retenção ou de indenização pelas acessões realizadas depende da configuração da
posse, não se pode, ante a consideração da inexistência desta, admitir o surgimento daqueles direitos,
do que resulta na inexistência do dever de se indenizar as benfeitorias úteis e necessárias.
5. Recurso não provido."
(STJ, Segunda Turma, REsp 863.939/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, julgado em 04/11/2008,
DJe 24/11/2008)
Assim sendo, insta passar ao exame das alegações deduzidas e ao cotejo da documentação colacionada
aos autos pelas partes.
A Caixa Econômica Federal - CEF trouxe para os autos a Escritura Pública de Transação e Dação em
Pagamento averbada nas matrículas dos imóveis registrados sob o nº 59.085 do 4º Cartório de Registro
de Imóveis e sob o nº 36.173 do 13º Cartório de Registro de Imóveis, onde consta que a instituição
financeira e a autarquia previdenciária são os entes públicos proprietários das áreas descritas, na
proporção de 70% (setenta por cento) e 30% (trinta por cento), respectivamente, desde 11 de dezembro
de 1981, data em que realizada a dação em pagamento (fls. 24/44).
Apesar de as informações nos referidos documentos estarem desatualizadas, em razão da
transformação sofrida pela área nas últimas décadas, inclusive com a obra de transposição do leito do
Rio Pinheiros, é possível constatar que o terreno em disputa, localizado entre os cruzamentos da
Marginal Pinheiros (antiga Avenida das Nações Unidas) e as Avenidas Presidente Juscelino
Kubitschek, Henrique Chamma e Rua Professor Geraldo Ataliba, está abrangido pela área descrita nos
referidos documentos, conforme informações precisas prestadas pelo 4º Cartório de Registro de
Imóveis (fls. 136/138), que esclarecem, ainda, sobre a abertura de diversos logradouros que podem ser
observados nos levantamentos topográficos planialtimétricos.
Ademais, como bem asseverado pelo juízo a quo, o referido Ofício sugere uma nova demarcação da
área total, com base na Ação de Retificação de Área de Imóvel (processo nº 583.00.2007.221050-4,
ajuizado perante a 1ª Vara de Registros Públicos desta Capital), que se coloca de acordo com as plantas
juntadas pela CEF em sua peça contestatória nos Autos de Oposição (fls. 595/605).
Não bastasse isso, o Município de São Paulo, que, frise-se, não tem interesse no litígio, por meio de
sua Procuradoria-Geral do Departamento Patrimonial, identificou - na documentação juntada aos autos
- que a área em discussão é de propriedade da CEF e do INSS (fls. 176/198), anotando, inclusive, que
foi lavrada autuação contra a CEF por manter instalações de telefonia no local sem o alvará de
execução emitido pelo órgão competente da Prefeitura Municipal, além da ausência de placa de
identificação dos responsáveis pelo referido equipamento, exigência da legislação municipal de
posturas.
Anote-se, ainda, que, apesar de a CEF ter sido autuada, a instalação das referidas antenas, pela
empresa Telemar Norte Leste S/A, se deu em razão de contrato de locação de espaço firmado com os

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corréus (fls. 597/600), que passaram a perceber a quantia mensal de R$ 8.000,00 (oito mil reais) após a
celebração do referido instrumento, em 16/06/2009.
Ademais, como já dito anteriormente, a perícia realizada no processo de usucapião movido pelos
oponentes corrobora a versão da CEF ao concluir que o imóvel em discussão está inserido na área
matriz das matrículas nº 59.085 do 4º CRI-SP e nº 36.173 do 13º CRI-SP, de modo que a titularidade
da área pertence à Caixa Econômica Federal - CEF e ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
(fls. 274/305).
Contam os oponentes com Escritura de Cessão de Direitos Possessórios onde consta que a área em
disputa foi cedida por Edvaldo de Jesus da Silva para o oponente Jair Francisco Ross Benavides, em
10 de maio de 2002 (fls. 36/39 dos Autos de Oposição), com os respectivos recibos de pagamento. Há,
ainda, o contrato de locação realizado entre o oponente e a empresa RM Estacionamento Ltda. (fls.
64/68) em 02/09/2002 e demais documentos referentes à atividade comercial da empresa locatária.
Narram, ainda, que ocuparam a área desde 10 de maio de 2002 e que exploram no local a empresa RM
Estacionamento Ltda. desde o dia em que a mesma foi constituída, em 06/09/2002. Ajuizaram,
inclusive, ação de usucapião da área (proc. nº 2007.61.00.001467-5) que foi julgada improcedente na
primeira instância e aguarda apreciação pela 2ª Turma desta Egrégia Corte.
Por sua vez, os corréus trouxeram para os autos declaração de fls. 647/648, lavrada no âmbito do 26º
Cartório de Notas desta Capital, firmada por Vander Expedito Alves, onde consta que o imóvel jamais
pertenceu a Edvaldo de Jesus da Silva, tendo em vista que havia sido transferido pelo declarante ao
corréu Fernando Toqueiro Tomé, em meados de 1995. Colacionaram, ainda, fichas cadastrais de
clientes da empresa Real Forte Estacionamentos (fls. 964/972).
Todavia, tais elementos de prova não logram confrontar a farta documentação juntada aos autos pela
Caixa Econômica Federal e pelo Instituto Nacional do Seguro Social, concluindo-se que o imóvel em
questão é de propriedade das referidas instituições.
Com efeito, consta dos autos que mediante escrituras públicas de transação e dação em pagamento,
com cláusula de constituti, a instituição financeira e a autarquia federal - antigo IAPAS - passaram a
ser proprietárias, em condomínio pro indiviso, da área descrita nas matrículas referidas nos autos. Quer
dizer, por meio dessa segunda cláusula, passaram a ter a propriedade da área em comum e de forma
indivisível e, por meio da primeira cláusula, foi transmitida a ambas o domínio, direito, ação e posse
sobre a mencionada propriedade.
Portanto, trata-se de bem público, de modo que a sua ocupação pelos réus e pelos oponentes configura
ato de mera detenção precária, decorrente da tolerância ou permissão do Poder Público, o que
inviabiliza a proteção possessória contra os entes estatais.
E nem se diga que os bens da Caixa Econômica Federal, por se tratar de empresa pública, podem ser
adquiridos por usucapião.
Ora, a própria Constituição Federal dispõe que "os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião" (art. 183, § 3º). Aliás, também dispõe a Súmula 340, do Supremo Tribunal Federal, o
seguinte: "Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não
podem ser adquiridos por usucapião". A referência é ao Código Civil de 1916.
Certamente, o imóvel tratado nestes autos, de propriedade comum e indivisível da CEF e do INSS,
destina-se à realização de objetivo de interesse comum e prestação de serviço público por parte das
referidas instituições. Convém insistir que se trata de bem afetado à consecução de serviço público,
decorrendo daí a imprescritibilidade.
Nessa mesma linha de raciocínio, ainda que voltado ao Sistema Financeiro da Habitação, anoto, da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, os seguintes julgados:
"DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. IMÓVEL DA CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL VINCULADO AO SFH. IMPRESCRITIBILIDADE. PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS LEGAIS. REEXAME DE FATOS E PROVAS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL
NÃO COMPROVADO.
1. Ação de usucapião especial urbana ajuizada em 18/07/2011, da qual foi extraído o presente recurso
especial, interposto em 11/01/2013 e concluso ao Gabinete em 01/09/2016.
2. Cinge-se a controvérsia a decidir sobre a possibilidade de aquisição por usucapião de imóvel
vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação e de titularidade da Caixa Econômica Federal.
3. A Caixa Econômica Federal integra o Sistema Financeiro de Habitação, que, por sua vez, compõe
a política nacional de habitação e planejamento territorial do governo federal e visa a facilitar e
promover a construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de
menor renda da população, de modo a concretizar o direito fundamental à moradia.

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4. Não obstante se trate de empresa pública, com personalidade jurídica de direito privado, a Caixa
Econômica Federal, ao atuar como agente financeiro dos programas oficiais de habitação e órgão de
execução da política habitacional, explora serviço público, de relevante função social, regulamentado
por normas especiais previstas na Lei 4.380/64.
5. O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque
afetado à prestação de serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois,
imprescritível.
6. Alterar o decidido pelo Tribunal de origem, no que tange ao preenchimento dos requisitos legais
para o reconhecimento da usucapião, seja a especial urbana, a ordinária ou a extraordinária, exige o
reexame de fatos e provas, o que é vedado em recurso especial pela Súmula 7/STJ.
7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido."
(STJ, Resp nº 1.448.026/PE, 3ª Turma, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJE 21/11/2016)
"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE USUCAPIÃO URBANO. IMÓVEL DA
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL VINCULADO AO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO.
AUSÊNCIA DE ANIMUS DOMINI. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. "O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque
afetado à prestação de serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois,
imprescritível" (REsp 1.448.026/PE, Rel. Ministra Nancy Andrighi).
2. A Corte de origem, mediante o exame do acervo fático-probatório dos autos, concluiu não ter sido
demonstrado o requisito do animus domini para a caracterização da usucapião especial urbana, tendo
em vista que o imóvel está vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação e que a parte autora sabia
ser pertencente a outrem. Infirmar as conclusões do julgado, para reconhecer a existência de posse
mansa e pacífica, demandaria o revolvimento do suporte fático-probatório dos autos, o que encontra
óbice na Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça.
3. Agravo interno a que se nega provimento.
(STJ, Resp nº 1.584.104/AL, 4ª Turma, Relator Ministro Raul Araújo, DJE 08/09/2017)

Merece atenção também trecho da minuciosa apreciação feita pela eminente juíza sentenciante na ação
de usucapião que, além de tratar com precisão dos documentos colacionados àqueles autos, ainda faz
pormenorizado exame das confrontações do terreno, in verbis:
"Observo que há farta documentação nos autos caracterizando o imóvel usucapiendo como parte do
imóvel objeto da matrícula nº 59.085 do 4º C.R.I. da Capital, ou seja, em todos os documentos a área
do imóvel acompanha a linha que corresponde ao atual alinhamento da Avenida Juscelino Kubitschek.
Destaco os que seguem.
As plantas juntadas pelo 4º C.R.I. a fls. 50/52 identificam o imóvel como parte da referida matrícula,
delas constando ainda que o Memorial de Loteamento denominado 'Cidade Jardim' foi inscrito em
03/01/1939. No documento de fls. 52, reproduzido a fls. 503, verifica-se que a área situava-se entre
rios e que confrontava ao sul com a gleba nº 5 e ao norte com a gleba nº 4 pertencentes à Cia. Light &
Power.
A cláusula primeira, parágrafo quarto do Compromisso de Cessão de Direitos de Superfície descreve
a 'área 3' cedida à Prefeitura, que consiste de uma área de 8700,08 m² que tem as mesmas
confrontações do imóvel usucapiendo.
Às fls. 681/684 documentos da lavra do corpo de engenharia da Prefeitura também identificam o
imóvel com a área 3 do imóvel dos réus, ressaltando-se a tabela de fls. 683 que compara a área
descrita pelos autores na inicial e a área descrita na escritura de concessão, e observa que as ruas
confrontantes em ambas as descrições.
Às fls. 772 encontra-se acostado levantamento planialtimétrico da área, elaborado pela empresa
CTAGEO a pedido da Caixa Econômica Federal, onde se identifica em traçado amarelo o contorno
da área de propriedade pública, e que é compatível com todos os demais documentos já mencionados.
O único elemento dissonante constante dos autos é o desenho técnico de fls. 528, reproduzido a fls.
583, o qual, partir do que seria o marco 3 do memorial descritivo, inicia o fechamento da área
formando um estranho ângulo agudo de defleção, não constante em qualquer outro desenho da área,
antigo ou atual.
Verificado por este Juízo que o referido desenho não continha identificação ou assinatura de quem o
elaborou, foi denominada a regularização, bem como que o autor do desenho esclarecesse a
divergência supra apontada. Em resposta foi apresentado pelos Autores o laudo explicativo de fls.
663/666 da lavra do arquiteto Carlos Henrique Lamberti da Silva Maia, o qual afirma que reconferiu
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a situação, confrontações, rumos e distâncias, sem contudo fazer qualquer menção à origem do
ângulo de defleção que utiliza. Com referência à planta de fls. 52 afirma que 'nada é possível
comentar ou mesmo esclarecer, pois se trata de parte reduzida e sem escala da planta arquivada no 4º
C.R.I.'.
Entretanto a planta elaborada cria uma linha oblíqua à original, a qual passa exatamente pela borda
da quadra pretendida pelos Autores, excluindo-a. Para sustentar que a quadra em questão está fora
da área de titularidade dos réus os Autores afirmam a fls. 520 que a planta acostada a fls. 370 soma
uma área de 244.772,61 m² e a matrícula refere-se a uma área de 237.665,00 m², sendo a diferença
correspondente àquela quadra. Porém a linha em questão exclui do imóvel uma área muito maior que
a pleiteada pelos Autores, conforme salta aos olhos do observador mais leigo, e pode também ser
visualizado nos desenhos de fls. 727 e 728. O laudo do arquiteto dos Autores não apresenta o cálculo
da área, porém o parecer elaborado pela Caixa Econômica Federal a fls. 724/730 demonstra que a
alteração do rumo excluiu uma área de 38.531,13 m², reduzindo portanto a área pertencente aos réus
a 206.241,48 m².
Resta demonstrado, portanto, que a planta elaborada pelos Autores não se coaduna com a transcrição
imobiliária.
Quanto à planta acostada a fls. 370, que soma uma área de 244.772,61 e que fundamenta a alegação
autoral de que há erro na delimitação feita pelos Réus, algumas considerações se fazem necessárias.
Em primeiro lugar, referida planta apresenta uma divergência de 7.107,61 m², quando a área
usucapienda possui 8.706,24 m². Em segundo, nada sustenta a alegação de que essa divergência
corresponde à área usucapienda.
Prosseguindo, aquela planta foi elaborada pela EMURB, e não pelos proprietários, e dela consta
tratar-se de uma estimativa. A área pleiteada na inicial, por exemplo, foi medida como tendo 8.748,36
m².
Porém o mais relevante é que as divisas e confrontações estão corretas, sendo que a diferença
encontrada, correspondente a pouco menos de 3% da área total, pode ser creditada a erros de
medição, uma vez que não interferiu nos imóveis vizinhos.
Por fim, é pueril a alegação feita pelos Opoentes a fls. 697/698 de que o terreno em debate está acima
da margem direita do antigo canal do Rio Pinheiros e portanto não se insere nas matrículas
apresentadas. O novo canal situa-se à oeste do antigo, ao contrário do que parecem entender os
Opoentes. Todas as plantas e desenhos acostados aos autos, inclusive pelos Autores, demonstram que
a área usucapienda está entre rios.
Por todo o exposto, resta evidenciado que a área de terreno pleiteada pelos Autores e Opoentes
insere-se em área maior, objeto das matrículas nº 59.085 do 4º C.R.I. e 36.173 do 3º C.R.I., de
propriedade, em condomínio pro indiviso, da Caixa Econômica Federal e do Instituto Nacional do
Seguro Social, constituindo-se em bem público em razão da natureza do órgão previdenciário -
Autarquia Federal.
Portanto, não pode a referida área ser adquirida por usucapião, nos expressos dos artigos 183, §3º e
191, p.ú. da Constituição Federal e 102 do Código Civil, e em decorrência é descipienda a análise da
posse dos Autores ou dos Opoentes."
Assim, deve ser reconhecida a posse da Caixa Econômica Federal e do Instituto Nacional do Seguro
Social desde 1982, data em que os coautores adquiriram o título de domínio, com a consequente
concessão da reintegração de posse definitiva da área descrita na inicial, tendo em vista que restou
caracterizado o esbulho possessório de bem público.
No que concerne à perícia técnica realizada pelo engenheiro civil Milton Lucato (fls. 1.253/1.327),
cabe consideração pormenorizada do trabalho desenvolvido pelo auxiliar do Juízo.
Desde logo, cabe anotar que o referido perito afirmou que os títulos de propriedade da CEF e do INSS
seriam nulos, em razão de alegada irregularidade que teria ocorrido em transferência patrimonial
ocorrida no ano de 1917.
Narra o perito que a área registrada sob o nº 377 no 1º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo,
teriasido posteriormente desmembrada e originou o imóvel em discussão, vendido por Maria Francisca
de Oliveira a Horácio Belfort Sabino em 31 de julho de 1917, sendo tal venda irregular uma vez que a
área pertencia, de fato, a seu filho José de Oliveira Christe, em razão do espólio de Pedro Christe do
Nascimento.
Todavia, para se averiguar a alegada irregularidade do supracitado negócio jurídico, com a
consequente desconstituição retroativa de mais de 100 (cem) anos de cadeia sucessória, seria
necessário fazer exame profundo do espólio de Pedro Christe do Nascimento, o que se mostra no caso
fora de propósito.
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Nesse sentido, concluir pela anulação da venda do imóvel e de todas as transações ocorridas
posteriormente, além das relações jurídicas que se estabeleceram em face da transmissão do imóvel ao
longo de um século, com base em apenas um único documento é descabido e foge ao senso comum.
Com efeito, para anular um negócio jurídico com consequências de tamanha magnitude seria
necessário um acervo probatório incontestável capaz de dirimir qualquer dúvida a respeito da eventual
ilicitude do ato. Porém, não é isso que se constata nos autos, pois falta base documental às conclusões
do perito e, não bastasse, não cabe a este, no seu trabalho técnico, fazer considerações de ordem legal,
tendo desbordado das balizas de seu ofício.
Não bastasse, rechaçou o perito o levantamento planialtimétrico trazido aos autos pela CEF uma vez
que, nas suas palavras, "não é tecnicamente representativo para cuidar do que se discute na área do
Parque do Povo ou Parque Municipal Mário Pimenta Camargo". Todavia, tal assertiva não se funda
em nenhum documento capaz de confrontar o conteúdo do referido trabalho topográfico.
Portanto, não oferece o laudo pericial produzido pelo perito Milton Lucato supedâneo consistente para
dirimir a situação apresentada nos autos. Contudo, as bases para o deslinde seguro da questão é
encontradiça na vasta documentação carreada aos autos, conforme descrito em vários pontos aqui
detidamente apreciados.
Nessa esteira, ressalta-se, ademais, que o magistrado não está vinculado à conclusão do laudo pericial,
podendo se valer de outras provas produzidas nos autos, conforme jurisprudência a seguir:
"DESAPROPRIAÇÃO. TERRA NUA BENFEITORIAS. DESÁGIO. JUROS. HONORÁRIOS. - Não
está o magistrado adstrito às conclusões do laudo oficial, estando livre para valer-se de outros
elementos de convicção constantes dos autos, ou mesmo fora deles, desde que devidamente
justificados. - TERRA NUA - o fato de três peritos apontarem valores próximos, por si só já é
suficiente para afastar o valor da demandada, principalmente porque não leva em conta as
peculiaridades de cada propriedade. Quanto a sistemática de cálculo, a decisão recorrida procedeu
na forma determinada pelo o art. 12, § 1º da Lei nº 8.629/93, que dispõe "verificado o preço atual de
mercado da totalidade do imóvel, proceder-se-á à dedução do valor das benfeitorias indenizáveis a
serem pagas em dinheiro, obtendo-se o preço da terra a ser indenizado em TDA. - BENFEITORIAS
NÃO REPRODUTIVAS - as construções na área rural diferem substancialmente da área urbana, seja
pelo custo da mão-de-obra, pelas distâncias e principalmente acabamentos, revelando-se
demasiadamente elevado o valor indicado pelo perito na tabela de fl. 267. A sentença é irrepreensível
em mensurar pelo valor de mercado e não pelo custo da obra, seja qual for o parâmetro utilizado. -
BENFEITORIAS REPRODUTIVAS - Este item se subdivide em pastagens, eucalipto e cana-de-açúcar.
Pastagens - A decisão encontra-se fundada na Lei nº 4.771/65 e não merece qualquer reparo.
Eucalipto - O ilustre magistrado aqui optou pelo valor oferecido pelo perito do Juízo (R$ 48.857,98)
afastando o valor oferecido pelo INCRA R$ 48.857,98 e atribuído pela expropriada (R$ 132.661,73).
Apontou também a proximidade com aquele valor o que foi encontrado pelo assistente técnico do
INCRA. A fundamentação é adequada e não merece ser alterado. Cana-de-açúcar - Também correta a
decisão. Esta avaliação, segundo a sentença constou apenas do perito judicial, que foi a considerada.
Afastou-se o abatimento pleiteado pelo INCRA - BENFEITORIAS NÃO AVALIADAS - A decisão
encontra-se de acordo com a norma da Lei nº 8.629/93, art.12. - DESÁGIO DOS TDA's - Afasta-se de
plano este pedido, com base na jurisprudência dominante do STJ. - JUROS - Quanto aos juros
compensatórios, a Medida Provisória 1.577, de 11.06.1997, introduziu no DL 3.365/41 o art. 15-A,
reduzindo a taxa dos juros compensatórios de 12% (Súmula 618/STF) para 6% ao ano. Porém, a
expressão "de até seis por cento ao ano", constante do citado dispositivo, teve sua eficácia suspensa
pelo STF, em 13.09.2001, em medida liminar na ADIn 2.332/DF, com o que ficou restabelecida a
legislação anterior, sendo os juros compensatórios devidos no percentual previsto na Súmula 618/STF.
- JUROS DE MORA - A determinação trazida pela Medida Provisória 1.997-34, de 13.01.2000, ao
introduzir no Decreto-lei 3.365/41 o art. 15-B, para que o termo inicial dos juros moratórios seja "1º
de janeiro do exercício àquele em que o pagamento deveria ser feito", é regra que se coaduna com
orientação mais ampla do Supremo, segundo a qual não há caracterização de mora do ente público, a
justificar a incidência dos correspondentes juros, sempre que o pagamento se faça na forma e no
prazo constitucionalmente estabelecidos (arts. 33 do ADCT e 100 da CF). RESP 493529/RS; Rel.
Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI - HONORÁRIOS - "A sentença que fixar o valor da indenização
quando este for superior ao preço oferecido condenará o desapropriante a pagar honorários do
advogado, que serão fixados entre meio e cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto
no § 4º do art. 20 do Código de Processo Civil, (...)" (artigo 27, § 1º, do Decreto-lei n. 3.365/41,
alterado pela Medida Provisória n. 2027-38, de 04.05.00, reeditada por último sob o n. 2183-56, de

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24.08.01). Desta maneira deve ser provido op recurso do INCRA para que os honorários advocatícios
sejam fixados no percentual de 5% sobre a diferença condenada."
(TRF 4ª Região, AC nº 200170110010158, 3ª Turma, Rel. Des. Fed. Vânia Hack de Almeida, DJ
01/06/2005, pág. 427)

Quanto ao pedido de pagamento de aluguéis, cumpre esclarecer que a CEF e o INSS pretendem, na
verdade, indenização a título de perdas e danos alegadamente sofridos pela impossibilidade de lucrar
no período em que o imóvel permaneceu em poder de terceiros.
Em que pese a pretensão acima de reverterem a sentença na parte em que indeferiu o pleito de
indenização, observa-se que não houve menção do dano material suportado, não restando demonstrada
a efetiva ocorrência de qualquer prejuízo gerado em face da conduta praticada pelos corréus ou
oponentes.
A propósito, os artigos 927 e 952 do Código Civil, estabelecem a hipótese de indenização no caso de
usurpação ou esbulho quando configurada deterioração da coisa ou nos casos de lucros cessantes e a
necessidade de comprovação do prejuízo suportado pela parte que pleiteia a indenização.
Dispõem os citados dispositivos o seguinte:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.
Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização
consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes; faltando a
coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado.
Com efeito, não havendo sido demonstrada a ocorrência de danos sofridos, em consequência de
deterioração do imóvel ou mesmo de prejuízo relativo aos lucros cessantes, incabível se torna a
indenização por perdas e danos.
Nesse sentido, colho da jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 2ª Região os seguintes
julgados:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PRÓPRIO NACIONAL. CAMPO DE INSTRUÇÃO DO GERICINÓ.
IMÓVEL DA UNIÃO.
I - Agravo retido não conhecido, eis que, além de não constar dos autos a peça recursal com o
correspondente processamento, o agravo restou prejudicado, tendo em vista a prolação da sentença.
II - Ação de reintegração de posse de bem público da União, com pedido de condenação dos réus em
perdas e danos.
(...)
X - Não houve comprovação de qualquer dano sofrido pela União em decorrência da ocupação de
seu imóvel pelos réus, sendo certo que a União se limitou a formular pedido de perdas e danos de
forma genérica, sem fazer qualquer menção aos supostos prejuízos por ela suportados em razão da
ocupação da área, ou, ainda, à existência de danos a serem ressarcidos. Tampouco fez prova a
amparar a sua pretensão, razão pela qual não se desincumbiu do seu ônus processual, nos termos
do art. 333, I, do CPC, pelo que entendo improcedente o pedido de condenação dos réus em perdas e
danos.
XI - Sucumbência recíproca, tendo em vista que a autora decaiu de parte do pedido. (CPC, art. 21)
XII - Agravo retido não conhecido.
XIII - Remessa necessária e apelo conhecidos e parcialmente providos.
(AC 200751010062353, Desembargador Federal JOSE ANTONIO LISBOA NEIVA, TRF2 - SÉTIMA
TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data::30/03/2011 - Página::430/431 .Grifei)
Outrossim, a ausência de comprovação do prejuízo suportado acarretou a formulação de pedido
genérico, o que inviabiliza a pretensão recursal.
Deveras, postula apenas a condenação do apelado ao pagamento de indenização relativa aos aluguéis,
lucros cessantes ou perdas e danos, em valor não especificado, pelo período em que os réus
permaneceram irregularmente na detenção do imóvel. Tal pedido carece de substância quando não há
elementos aptos a subsidiar os seus valores, sendo esta a hipótese dos autos.
Vale ressaltar que a dedução de pedido genérico no caso não se enquadra em nenhuma das hipóteses
que excepcionam a regra da certeza e especificidade do pedido elencadas no artigo 286 do Código de
Processo Civil de 1973 (atual artigo 324 do CPC de 2015), sendo, portanto, vedada pelo ordenamento
jurídico, conforme se vê da redação do citado artigo:
Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;
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II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as consequências do ato ou do fato ilícito;
III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.

Nessa mesma linha o norte da jurisprudência dos Egrégios Tribunais Regionais Federais da 2ª e 3ª
Região:
CIVIL. PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL INVADIDO.
RESSARCIMENTO DE DANOS. ALUGUÉIS. PEDIDO GENÉRICO. DESCABIMENTO.
1. A questão em debate no presente recurso cinge-se à possibilidade de condenar, em ação de
reintegração de posse, o esbulhador a ressarcir o autor por perdas e danos na forma de alugueres,
sem que tenham vindo aos autos elementos necessários para aferir o valor aproximado dos mesmos.
2. O artigo 286 do Código de Processo Civil reza que o pedido deve ser certo ou determinado, sendo
lícito o pedido genérico nas ações universais, se o autor não puder individuar, na petição, os bens
demandados; quando não for possível determinar, de modo definitivo, as consequências do ato ou do
fato ilícito; ou quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu, não se enquadrando a hipótese dos autos em nenhuma das exceções previstas em
lei.
3. O autor restringiu-se a requerer a condenação do réu ao pagamento de alugueres cujos valores
consistam no valor de mercado do aluguel do imóvel a partir da ocupação, sem entretanto fornecer
qualquer elemento que pudesse lastrear minimamente a fixação dos valores pretendidos.
4. De fato, a ausência de meios para fixação do valor a se cobrado pelo aluguel por total ausência de
subsídios mínimos que deveriam ser carreados pela autora, parte interessada no mesmo, inviabiliza a
condenação almejada.
5. Apelação improvida. Sentença confirmada.
(AC 200451010190780, Desembargador Federal GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA,
TRF2 - SEXTA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data::12/08/2010 - Página::152/153)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA.
PEDIDO GENÉRICO. ARTIGO 286 DO CPC. EMENDA A INICIAL. JUÍZO DE
CONVENCIMENTO. ANÁLISE DE PROVA PERICIAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
1. O artigo 286 do Código de Processo Civil preceitua que o pedido deve ser certo e determinado e
excetua as hipóteses em que se admite pedido genérico, sendo que nenhum dos casos elencados no
citado artigo correspondem à situação em apreço.
2. A decisão do magistrado a quo ao determinar a juntada da planilha de cálculos, estava buscando
elementos que pudessem formar o juízo de convencimento.
3. A questão relativa à prova pericial não foi analisada em primeira instância, sendo vedada a sua
apreciação por ocasião do julgamento do agravo de instrumento, sob pena de supressão de instância.
4. Agravo de instrumento improvido.
(AI 200603000719535, DES. FED. VESNA KOLMAR, TRF3 - PRIMEIRA TURMA, DJF3 CJ2
DATA:01/06/2009 PÁGINA: 251)
Desse modo, ante a falta de demonstração da ocorrência de prejuízo, bem como em vista da
generalidade do pedido deduzido, resta incabível a condenação dos réus à indenização por perdas e
danos.
Por fim, no que concerne aos honorários advocatícios, dispõe o artigo 20, §§ 3º e 4º, do Código de
Processo Civil de 1973, in verbis:
"Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os
honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado
funcionar em causa própria.
§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por
cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos:
a) o grau de zelo do profissional;
b) o lugar de prestação do serviço;
c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o
seu serviço.
§ 4º Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação
ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados
consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo
anterior."
O arbitramento dos honorários advocatícios pelo magistrado fundamenta-se no princípio da
razoabilidade, devendo, como tal, pautar-se em apreciação equitativa dos critérios contidos nos
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mencionados §§ 3.º e 4.º do artigo 20 do Código de Processo Civil de 1973, evitando-se que sejam
estipulados em valor irrisório ou excessivo.
Os honorários devem ser fixados em quantia que valorize a atividade profissional advocatícia,
homenageando-se o grau de zelo, o lugar de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa,
o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço, tudo visto de modo
equitativo.
Assim sendo, afigura-se razoável a fixação de honorários advocatícios em 20% (vinte por cento) sobre
o valor atribuído à causa com relação aos autos principais (R$ 100.000,00 - em 16-12-2009 - data do
protocolo da inicial), bem como 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa com relação aos autos de
Oposição (R$ 10.000,00 - em 29-03-2012 - data do protocolo da inicial), ambos devidos à CEF e ao
INSS em face da complexidade da causa e do trabalho desenvolvido pelas partes, considerando os
aspectos delineados acima.
Isto posto, nego provimento às apelações da parte ré na ação principal e dos oponentes nos autos
de oposição, e dou parcial provimento às apelações da Caixa Econômica Federal - CEF e do
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, em ambas as ações, apenas para majorar os honorários
advocatícios, nos termos da fundamentação, mantida quanto ao mais a sentença recorrida.
É o voto.
VALDECI DOS SANTOS
Desembargador Federal

Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a


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Data e Hora: 18/06/2018 14:22:50

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