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1-Qual o conceito de paralisia cerebral?

2-Quais as principais manifestações sistêmicas associadas a paralisia


cerebral?
3-Qual a classificação da paralisia cerebral?
4-Quais as principais manifestações bucais em pacientes com paralisia
cerebral?
5-Qual a importância do tratamento odontológico para esses pacientes?

Respostas:
1) Paralisia cerebral (PC) é um quadro permanente, uma lestão estável, não
progressiva, que ocorre antes dos 2 anos de idade e que resulta em
desenvolvimento motor pobre e retardo mental, localizada em estruturas
motoras, de etiologia multifatorial. É o resultado de uma lesão no cérebro não-
hereditária, acarretando má postura e desenvolvimento motor anormal, que se
inicia nos períodos pré, peri e pós-natais.

Na PC, as lesões que ocorrem no Sistêma Nervoso Central (SNC) têm


preferência pelas áreas dos núcleos o córtex cerebral e cerebelo. Essa lesão
no SNC pode ser isolada ou acompanhada de diversos transtornos – psíquicos,
sensoriais e/ou de linguagem, dependendo da área afetada e da extensão da
lesão.

2) Os pacientes com PC apresentam muitos problemas, mas nem todos são


relacionados a lesões cerebrais. Os mais frequentes são:

Epilepsia: é comum ocorrerem convulsões ou crises epiléticas, de maior ou


menor intensidade.

Deficiencia mental: com ocorrência de aproximadamente 50% dos casis, tem


levado a distorcões e preconceitos acerca dos potenciais desses portadores de
deficiência, devendo-se diferenciar os diversos graus de comprometimento
mental de cada criança, baseado em acompanhamento especializado e
evolutivo.
Deficiências visuais: ocorrem casos de baixa visão, estrabismos e erros de
refração que podem ser precocemente diagnosticados e tratados, com bom
prognóstico.

Dificuldades de aprendizagem: as crianças com PC podem ter problema de


aprendizagem, o que não significa que não possam ou não consigam aprender,
necessitando apenas de educação especial, integração social para o estimulo
de comunicação e aprendizagem.

Dificuldades de fala e alimentação: em razão da lesão cerebral, muitas


crianças tem tonus flutuante dos músculos da face e consequentemente
problemas relacionados à comunicação verbal e alimentação. A orientação
fonoaudiológica pode minimizar e até resolver alguns desses distúrbios. Para
as crianças que não falam, há os comunicadores alternativos e as linguagens
por meio de símbolos.

Outros problemas como: dificuldades auditivas, disartria, déficits sensoriais,


escoliose, problemas odontológicos, salivação incontrolável, etc. Todos
esses problemas podem surgir associados ou isoladamente, dependendo do
tipo de paralisia cerebral.

3) A classificação da PC será de acordo com a localização das lesões e áreas


do cérebro que foram afetadas, as manifestações poderão ser diferentes.

Espástica: Caracterizada por paralisia e aumento de tonicidade dos músculos,


resultante de lesões na córtex ou nas vias daí provenientes. Pode resultar em
um lado do corpo afetado (hemiparesia), os quatro membros (tetraparesia) ou
maior comprometimento dos membros inferiores (displegia). Representa 75%
do total dos casos de PC.

Atetóide: Caracterizada por movimentos involuntários e variações na


tonicidade muscular, resultantes de lesões dos núcleos situados no interior dos
hemisférios cerebrais (sistema extrapiramidal). Esse tipo de PC atinge
aproximadamente 18% dos casos.

Atáxica: Caracterizada pela diminuição da tonicidade muscular, incoordenação


dos movimentos e equilíbrio deficiente. É provocada por lesões no cerebelo ou
nas vias cerebelosas. Esse tipo de paralisia cerebral não atinge 2% dos casos.
De acordo com os membros atingidos, podemos ter:

 O grupo das displegias, com comprometimento maior das extremidades


inferiores que das superiores
 O grupo das quadriplegias que apresenta comprometimento do corpo
todo.
 O grupo das hemiplegias, em que há um dimídio (lado) do corpo
comprometido.

Quanto a alterações provocadas no tônus muscular:

Espasticidade: Causada por lesão no córtex, que controla os pensamentos, os


movimentos e as sensações. Caracteriza-se por hipertonia e hiper-reflexia,
podendo estar presente automatismos e clônus muscular e afetando:

 Um lado do corpo (hemiparesia ou hemiplegia);


 Os membros inferiores (paraparesia ou paraplegia)
 Ou os quatro membros (quadriplegia).

Atetonia: A lesão ocorre nos gânglios da base, é responsavel por movimentos


finos e delicados, caracterizada por distonia e movimentos involuntários.

Ataxia: A lesão ocorre no cerebelo, que controla e coordena os moimentos, as


posturas e o equilibrio. Caracteriza-se por diminuição da tonicidade muscular e
pedra do equilibrio com descoordenação dos movimentos, podendo haver
movimentos trêmulos das mãos e fala comprometida.

4) Índice de cárie: há um alto índice de cárie nesses pacientes por falta de


coordenação nos movimentos e de higienização e pela falta de conscientização
e dedicação dos cuidadores. Além da higiene, os músculos de mastigação e
deglutição estão afetados. Um sistema que não funciona adequadamente fica
doente, e o acometimento na boca é a cárie e a doença periodontal. Dietas
ricas em carboidratos e muito moles aumentam esta possibilidade. O fato de
terem musculatura orofacial hipotônica, associada à respiração bucal, torna
esses pacientes xerostômicos, o que aumenta o índice de cárie e doença
periodontal.
Gengivite e periodontopatia: provocadas pelas razões descritas
anteriormente com incidência maior em crianças acima de 5 anos.

Hipoplasia de esmalte: maior incidência na dentição decídua, sobretudo nos


pacientes com história de prematuridade ou hiperbilirrubinemia.

Hiperplasia gengival: em pacientes com epilepsia associada, aparece a


fibromatose gengival dilantínica, causada por medicamentos anticonvulsivantes
à base de hidantoína.

Maloclusao: alto índice, em função das ações musculares e da respiração


bucal.

Traumatismos: traumas de tecidos moles, ocasionados por contrações


musculares e maloclusão.

Bruxismo: É mais frequente na PC do tipo espástico e atetóide (hipertonia dos


músculos).

Perda precoce dos dentes: a perda precoce dos dentes causa maiores
problemas mastigatórios, fonéticos e respiratórios, por isso o dentista deve
preservar os dentes para que haja melhores condições fonéticas, respiratórias,
funcionais e estéticas.

5) O objetivo principal é oferecer boas condições de tratamento para o


paciente de acordo com suas necessidades e limitações. Pequenas
modificações deverão ser feitas para atender a esse grupo de pacientes, no
intuito de oferecer maior proteção em relação aos riscos inerentes ao
tratamento, principalmente para aqueles em que há comprometimento nas
reações e nos reflexos normais. A prevenção da saúde bucal desses pacientes
deve ser o ponto mais importante do tratamento e, para que se consiga isso, o
primeiro passo é a conscientização da família quanto à importância na
elaboração da dieta e dos hábitos de higiene.

Quadros como hiperplasia gengival, cárie, doença periodontal, gengivite, fazem


parte do nosso cotidiano e são facilmente resolvidos. Quanto maior o nível de
prevenção, menos procedimentos invasivos tornam-se necessários, garantindo
que o paciente consiga se alimentar adequadamente (respeitando suas
dificuldades fisiologicas), ter menos quadros de dor, menos portas de entrada
para patógenos oportunistas, menos chances de perda precoce dos dentes (o
que acarreta em menos em menos problemas mastigatórios, fonéticos,
respiratórios, funcionas e estéticos) e resultando em uma melhor saúde geral.

Mesmo que o paciente tenha problemas cerebrais, ele continua sendo digno de
ter um tratamento adequada para sua saúde. Eles sentem dor, sentem
dificuldades, e a boca é a porta de entrada do nosso corpo. É cientificamente
comprovado, que a boca pode causar alterações sistêmicas importantes, seja
de melhora em quadros sistêmicos, ou de piora quando não tratados. Portanto,
assim como qualquer outro ser humano, é estritamente necessário todos os
cuidados com o meio bucal, e a visita regular ao cirurgião-dentista.

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