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Resumo interessado e comentado do Livro “Cultura da Interface” de Steven

Johnson Capítulo 4 - Links

No capítulo 4, o autor escreve sobre os Links. Essa ferramenta dentro dos sites (e hoje
até dentro de processadores de texto) que nos levam da página da web que estamos para
outra, proporcionando um tipo de elo entre onde estávamos para onde estamos agora.
O autor inicia o capítulo explicando sobre as gírias que são incorporadas ao vocabulário
com a introdução das novas tecnologias na vida cotidiana. Em especial, a transposição da
expressão surfar, que surge com o controle remoto das TV’s, ou seja surfando pelos
canais, para o ambiente da web: surfar na web . Esse seria um dos casos em que a
transposição do vocabulário não manteve sua metáfora, já que “Um surfista de canais fica
saltando entre diferentes canais porque está entediado. Um surfista da Web clica num link
porque está interessado”.
Mais a frente o autor escreve que o link é “uma maneira de forjar relações semânticas”.
Nesse sentido, a interface que media a relação entre um surfista da web e o acervo de
uma galeria ou museu, poderia investir justamente nesse caráter de construção de
sentido do link. Ao invés de apresentar uma exposição física transposta para o meio
online, apresentar uma interface que, por meio do link e de suas possibilidades de criação
de sentido, com sua característica intrínseca de criar conexões e elos entre conteúdos,
utilizasse o potencial do meio digital para evidenciar elos e narrativas que não seriam
possíveis ao visitar a exposição in loco.
Como o meio digital está repleto de possibilidades de conteúdo jorrando em nossas telas,
o link pode ser essa ferramenta que “finalmente fornece esse sentido de coerência”. O
trabalho curatorial no meio digital seria um trabalho de criação de links, de conexões entre
peças do acervo e também, por que não?, entre as peças do acervo e outras peças ou
referências ao mundo social. Essa estratégia pode fornecer orientação num meio que
transborda informação. Como decidir o que ver? O que assistir? Que museu ou galeria
visitar virtualmente? Talvez, as instituições que apostem na criação dos links, já que
constroem narrativas orientadas em meio ao conteúdo disperso da web, tornando mais
interessante a sua narrativa. Por isso, uma expressão que, na visão do autor, pode ser
mais coerente que surfar quando nos referimos a Web seria a noção de trilha: “que
concatena documentos que partilham alguma qualidade semântica”.
Talvez ainda mais interessante seria uma interface onde o usuário pudesse tecer suas
próprias trajetórias dentro do acervo, uma interface que estimulasse esse pensamento
através de links pré estabelecidos, e que mais tarde o usuário pudesse vislumbrar o
caminho particular que fez no acervo.
Utilizando os links, a interface acaba ganhando uma espécie de tridimensionalidade, ao
invés de ter um quadro ou escultura de um artista chapado na tela. Há a possibilidade de
adentrar um universo repleto de trilhas possíveis, se aproximando do que o autor chama
de “espaços-histórias”, assim cada um de nós estaria “alinhavando nossos enredos sob
medida a cada clique do mouse”. Ao invés de uma peça unificada (poderíamos entender
como um cubo branco da exposição transposto para os sites tal qual eram no mundo
físico), um formato mais tridimensional (encarar o site como interface feita com links que
indicam caminhos e trilhas possíveis pelo meio digital).

Por último o autor explicita o caráter de linguagem que o link pode ter. Num primeiro
momento, o link pode ser encarado como uma ferramenta de dispersão, que leva para
vários conteúdos (fora) diferentes, fragmentando uma narrativa linear. No entanto, isso vai
depender de como se utiliza o link. Num exemplo retirado dos textos de dois hackers que
escreviam uma coluna diária na web, o autor identifica o poder que o link teve de tornar a
escrita deles sucinta e ao mesmo tempo, através da ironia, possibilitar múltiplos
entendimentos de uma mesma frase, usavam o link como pontuação. Cito uma
passagem mais extensa do autor: “Apontando para si mesmo com seus links, Suck
rompeu com as convenções tradicionais, dirigidas para fora, do hipertexto: o que tornava
o link interessante não era a informação na outra ponta — não havia nenhuma "outra
ponta" — mas o modo como o link se insinuava no período. Modificar "corrupto" com um
link que levava de volta a eles mesmos era uma maneira abreviada de dizer "sabemos
que somos tão culpados de mercantilismo quanto qualquer um"”.

Felipe Luiz Fernandes Coripio

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