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SUMÁRIO

1 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DE CONHECIMENTO.................3

2 LEGISLAÇÃO QUE DEFINE O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DE


CONHECIMENTO .....................................................................................................4

2.1 Objetivo do Ensino Religioso ..............................................................6

2.2 Eixos e Conteúdo do Ensino Religioso...............................................6

2.3 Culturas e Tradições Religiosas .........................................................6

3 ESCRITURAS SAGRADAS E/OU TRADIÇÕES ORAIS ..........................7

4 Teologias ..................................................................................................8

4.1 Ritos ...................................................................................................8

4.2 Ethos ..................................................................................................9

5 COMPETÊNCIAS E APRENDIZAGENS ................................................ 11

5.1 O Que São Textos Sagrados ........................................................... 13

6 ALGUNS ENSINAMENTOS ÉTICOS NOS TEXTOS SAGRADOS ........ 15

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 20

7 ARTIGO COMPLEMENTAR ................................................................... 22

8 AS DIRETRIZES CURRICULARES DE ENSINO RELIGIOSO DO ESTADO


DO PARANÁ COMO DOCUMENTO DE CONCEPÇÃO E ORIENTAÇÃO ............. 22

9 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 23

10 AS DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS PARA O ENSINO


RELIGIOSO............................................................................................................. 24

11 FORMAÇÃO CONTINUADA – DEB ITINERANTE .............................. 27

11.1 A aula simulada: ............................................................................ 30

12 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................. 33

1
13 ENSINO RELIGIOSO NO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA
PESSOA 33

13.1 RESUMO ...................................................................................... 33

14 Introdução ............................................................................................ 33

15 Aspiração religiosa no desenvolvimento do ser humano ..................... 38

16 Reflexões finais ................................................................................... 44

2
1 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DE CONHECIMENTO

Fonte: vestibular.uol.com.br

O Ensino Religioso é uma das dez áreas de conhecimento definidas pelas


Diretrizes Curriculares Nacionais aprovadas em 1998 pelo Conselho Nacional de
Educação. A Diretriz nº. 04 afirma que:
“IV - Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade de acesso para
alunos a uma Base Nacional Comum, de maneira a legitimar a unidade e a qualidade
da ação pedagógica na diversidade nacional, a Base Nacional Comum e sua Parte
Diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular, que vise
estabelecer a relação entre a Educação Fundamental e:
A) Vida Cidadã através da articulação entre vários dos seus aspectos
como: a Saúde, a Sexualidade, a Vida Familiar e Social, o Meio Ambiente, o Trabalho,
a Ciência e a Tecnologia, a Cultura as Linguagens;
B) as Áreas de Conhecimento: Língua Portuguesa, Língua Materna (para
populações indígenas e migrantes), Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua
Estrangeira, Educação Artística, Educação Física e Educação Religiosa (na forma do
art. 33 da LDB) [Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental/ CNE]”.
As áreas do conhecimento são marcos estruturados de leitura e interpretação
da realidade, essenciais para garantir a possibilidade de participação do cidadão na
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sociedade de forma autônoma. Cada uma das dez áreas contribui para que os
estudantes compreendam a sociedade em que vivem e possam interferir no espaço e
na história que ocupam; pois uma das preocupações da Educação Básica é a
formação do cidadão e que os estudos que as crianças e adolescente realizam
contribuam para os estudos e o trabalho que exercerão posteriormente. Ou seja, é
uma relação do presente, uma releitura do passado e uma construção do futuro.

2 LEGISLAÇÃO QUE DEFINE O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DE


CONHECIMENTO

Fonte: coolturadventista.com/

As Diretrizes Nacionais para o Ensino Fundamental no Brasil, após a sanção


da LDBN, ou seja, da Lei nº 9394/96, são instituídas através da Resolução nº 2 de 7
de abril de 1998, pela Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE). Essas Diretrizes incluem o ensino religioso no conjunto das dez
áreas de conhecimento que integram o currículo escolar do ensino fundamental, cf.
art. 3º, item IV, alínea “a”.
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O art. 2º da referida Resolução define o que são Diretrizes Curriculares
Nacionais, a saber: “Diretrizes Curriculares Nacionais são o conjunto de definições
doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimento da educação básica
expressas pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que
orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino na organização, articulação,
desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas”.
O art. 3º estabelece como “Diretrizes” o que deve ser colocado em prática
diretamente pelas Escolas, incluindo: a definição dos marcos norteadores de suas
ações pedagógicas, entre os quais, os princípios éticos, os princípios dos Direitos e
Deveres, os princípios estéticos, a forma de definir suas propostas pedagógicas, o
que devem considerar como aprendizagens e suas múltiplas relações, seus níveis de
abrangência e natureza. É no item IV que estabelece uma base nacional comum, para
se garantir a unidade na diversidade nacional. Esta é complementada pela parte
diversificada, integrando-se ao “paradigma curricular” para estabelecer a relação entre
educação fundamental, incluindo a vida cidadã, com seus vários aspectos, e as áreas
de conhecimento.
As áreas de conhecimento, segundo a Resolução 02/98, estão agrupadas em:
Língua Portuguesa, Língua Materna para populações indígenas e migrantes,
Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística,
Educação Física, Educação Religiosa, na forma do art. 33 da Lei 9394/96, de 20 de
dezembro de 1996, alterado pela Lei nº 9475 de 22 de julho de 1997.
A referida Resolução nº 02/98 é precedida do Parecer nº 04, aprovado em 29
de janeiro de 1998, estabelecendo as normas a serem observadas pelos sistemas de
ensino sobre os aspectos considerados fundamentais na implantação das Diretrizes
Curriculares para o Ensino Fundamental. A disciplina Ensino Religioso não perdeu a
sua configuração primeira como tal, mas foi absorvida e ampliada, em sua natureza e
em toda extensão, pela Educação Religiosa enquanto área de conhecimento, nos
termos da citada Resolução, após o pronunciamento do Parecer 04/98 sobre a matéria
em pauta.

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2.1 Objetivo do Ensino Religioso

Promover a compreensão da Religiosidade e a identificação do Fenômeno


Religioso em suas diferentes manifestações, linguagens e paisagens religiosas
presentes nas culturas e nas sociedades.

2.2 Eixos e Conteúdo do Ensino Religioso

O Ensino Religioso na sua articulação destaca alguns aspectos fundamentais


para a sua concretização, tais como: as contribuições das áreas afins, como a
antropologia, psicologia, pedagogia, sociologia, ciências da religião e teologias; a
busca permanente do sentido da vida; a superação da fragmentação das experiências
e da realidade; o pluralismo religioso; a compreensão do campo simbólico; e a
necessidade de evitar o proselitismo. Tendo presente a riqueza e a complexidade do
campo religioso, o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso, para a efetivação
desta área do conhecimento, definiu cinco eixos e os respectivos conteúdo: Culturas
e Tradições Religiosas, Escrituras Sagradas e/ou Tradições Orais, Teologias, Ritos e
Ethos.

2.3 Culturas e Tradições Religiosas

É o estudo do fenômeno religioso à luz da razão humana, analisando questões


como: função e valores da tradição religiosa, relação entre tradição religiosa e ética,
teodiceia, tradição religiosa natural e revelada, existência e destino do ser humano
nas diferentes culturas. Esse estudo reúne o conjunto de conhecimentos ligados ao
fenômeno religioso, em um número reduzido de princípios que lhe servem de
fundamento e lhe delimitam o âmbito da compreensão. Assim, não se separa das
ciências que se ocupam com o mesmo objeto como: filosofia da tradição religiosa,
história e tradição religiosa, sociologia e tradição religiosa, psicologia e tradição
religiosa, nem delimita, de maneira absoluta e definitiva, um critério epistemológico
unívoco.

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Conteúdos estabelecidos a partir de:
Filosofia da tradição religiosa: a ideia do Transcendente, na visão tradicional
e atual;
História e tradição religiosa: a evolução da estrutura religiosa nas
organizações humanas no decorrer dos tempos;
Sociologia e tradição religiosa: a função política das ideologias religiosas;
Psicologia e tradição religiosa: as determinações da tradição religiosa na
construção mental do inconsciente pessoal e coletivo.

3 ESCRITURAS SAGRADAS E/OU TRADIÇÕES ORAIS

São os textos que transmitem, conforme a fé dos seguidores, uma mensagem


do Transcendente, onde pela revelação, cada forma de afirmar o Transcendente faz
conhecer aos seres humanos seus mistérios e sua vontade, dando origem às
tradições. E estão ligados ao ensino, à pregação, à exortação e aos estudos eruditos.
Contém a elaboração dos mistérios e da vontade manifesta do Transcendente
com objetivo de buscar orientações para a vida concreta neste mundo. Essa
elaboração se dá num processo de tempo-história, num determinado contexto cultural,
como fruto próprio da caminhada religiosa de um povo, observando e respeitando a
experiência religiosa de seus ancestrais, exigindo a posteriori uma interpretação e
uma exegese. Nas tradições religiosas que não possuem o texto sagrado escrito, a
transmissão é feita na tradição oral.
Conteúdos estabelecidos a partir de:
Revelação: a autoridade do discurso religioso fundamentada na experiência
mística do emissor que a transmite como verdade do Transcendente para o povo;
História das narrativas sagradas: o conhecimento dos acontecimentos
religiosos que originaram os mitos e segredos e a formação dos textos;
Contexto cultural: a descrição do contexto sociopolítico-religioso
determinante na redação final dos textos sagrados;
Exegese: a análise e hermenêutica atualizada dos textos sagrados.

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4 Teologias

É o conjunto de afirmações e conhecimentos elaborados pela religião e


repassados para os fiéis sobre o Transcendente, de um modo organizado ou
sistematizado.
Como o Transcendente é a entidade ordenadora e o senhor absoluta de todas
as coisas, se expressa esse estudo nas verdades de fé. E a participação na natureza
do Transcendente é entendida como graça e glorificação, respectivamente no tempo
e na infinidade. Para alcançar essa infinidade o ser humano necessita passar pela
realidade última da existência do ser, interpretada como ressurreição, reencarnação,
ancestralidade, havendo espaço para a negação da vida além-morte.
Conteúdos estabelecidos a partir de:
Divindades: a descrição das representações do Transcendente nas tradições
religiosas;
Verdades de fé: o conjunto de mitos, crenças e doutrinas que orientam a vida
do fiel em cada tradição religiosa;
Vida além-morte: as possíveis respostas norteadoras do sentido da vida: a
ressurreição, a reencarnação, a ancestralidade e o nada.

4.1 Ritos

É a série de práticas celebrativas das tradições religiosas formando um


conjunto de:
a) Rituais que podem ser agrupados em três categorias principais:
Os propiciatórios que se constituem principalmente de orações, sacrifícios e
purificações;
Os divinatórios que visam conhecer os desígnios do Transcendente em
relação aos acontecimentos futuros;
Os de mistérios que compreendem as várias cerimônias relacionadas com
certas práticas limitadas a um número restrito de fiéis, embora também haja uma
forma externa acessível a todo o povo;
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Fonte: www.institutoibe.com.br

b) Símbolos que são sinais indicativos que atingem a fantasia do ser, levando-
o à compreensão de alguma coisa;
c) Espiritualidades que alimentam a vida dos adeptos através de
ensinamentos, técnicas e tradições, a partir de experiências religiosas e que permitem
ao crente uma relação imediata com o Transcendente.
Conteúdos estabelecidos a partir de:
Rituais: a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos
diferentes grupos religiosos;
Símbolos: a identificação dos símbolos mais importantes de cada tradição
religiosa, comparando seu (s) significado (s);
Espiritualidades: o estudo dos métodos utilizados pelas diferentes tradições
religiosas no relacionamento com o Transcendente, consigo mesmo, com os outros e
o mundo.

4.2 Ethos

É a forma interior da moral humana em que se realiza o próprio sentido do ser.


É formado na percepção interior dos valores, de que nasce o dever como expressão

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da consciência e como resposta do próprio "eu" pessoal. O valor moral tem ligação
com um processo dinâmico da intimidade do ser humano e, para atingi-lo, não basta
deter-se à superfície das ações humanas.
Essa moral está iluminada pela ética, cujas funções, por sua vez, são muitas,
salientando-se a crítica e utópica. A função crítica, pelo discurso ético, detecta,
desmascara e pondera as realizações inautênticas da realidade humana. A função
utópica projeta e configura o ideal normativo das realizações humanas.
Essa dupla função concretiza-se na busca de "fins" e de "significados", na
necessidade de utopias globais e no valor inalienável do ser humano e de todos os
seres, onde ele não é sujeito nem valor fundamental da moral numa consideração
fechada de si mesmo.
Conteúdos estabelecidos a partir de:
Alteridade: as orientações para o relacionamento com o outro, permeado por
valores;
Valores: o conhecimento do conjunto de normas de cada tradição religiosa
apresentado para os fiéis no contexto da respectiva cultura;
Limites: a fundamentação dos limites éticos propostos pelas várias tradições
religiosas.
Baseando-se no pressuposto de que o Ensino Religioso é um conhecimento
humano e, enquanto tal, deve estar disponível à sociabilização, os conteúdos do
Ensino Religioso, não servem ao proselitismo, mas proporcionam o conhecimento dos
elementos básicos que compõem o fenômeno religioso. Com esses pressupostos, o
tratamento didático dos conteúdos realiza-se em nível de análise e conhecimento, na
pluralidade cultural da sala de aula, salvaguardando-se assim a liberdade da
expressão religiosa do educando.
O tratamento didático subsidia o conhecimento. Assim, o Ensino Religioso
pelos eixos de conteúdo – Culturas e Tradições Religiosas, Escrituras Sagradas e/ou
Tradições Orais, Teologias, Ritos e Ethos – vai sensibilizando para o mistério,
capacitando para a leitura da linguagem mítico-simbólica e diagnosticando a
passagem do psicossocial para a metafísica/ Transcendente. O tratamento didático
dos conteúdos do Ensino Religioso prevê, ainda, como nas outras disciplinas, a
10
organização social das atividades, organização do espaço e do tempo; seleção e
critérios de uso de materiais e recursos.
Os eixos e conteúdo do Ensino Religioso foram elaborados a partir da
concepção de que a atuação do ser humano não se limita às relações com o meio
ambiente e as relações sociais, mas sim, está sempre em busca de algo que
transcende estas realidades. Os eixos e conteúdo do Ensino Religioso em muito
podem contribuir para que o ser humano inacabado, inquieto e aberto ao
Transcendente, siga na busca e encontre o sentido para a vida e seja feliz.

5 COMPETÊNCIAS E APRENDIZAGENS

Competência é a capacidade de expressão, de compreensão de fenômenos,


de resolução de problemas, de construção de argumentos para viabilizar uma
interação comunicativa, de articulação entre o individual e o coletivo, por meio da
elaboração de propostas de intervenção na realidade (MACHADO, 2000).
Habilidades são modalidades estruturais da inteligência; decorrem das
competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do “saber fazer”.
Há diferentes níveis de habilidades:
Básico: se refere ao conhecimento dos conteúdos. São ações que possibilitam
a apreensão das características e propriedades permanentes dos objetos
comparáveis, ou seja, propiciam a construção de conceitos. São realizadas,
principalmente, pelas seguintes atividades: identificar, indicar, localizar, descrever,
discriminar, apontar, constatar, nomear, ler, observar, perceber, posicionar,
reconhecer, representar e suas correlatas.
Operacional: se refere à aplicação dos conteúdos apreendidos. São ações que
pressupõem o estabelecimento de relações entre os objetos. Essas competências
atingem o nível da compreensão e a explicação; mais que o saber fazer, supõem
alguma tomada de consciência dos instrumentos e procedimentos utilizados,
possibilitando sua aplicação a outros contextos. São realizadas, principalmente, pelas
seguintes atividades: associar, classificar, comparar, conservar, compreender,
compor, decompor, diferenciar, estabelecer, estimar, incluir, interpretar, justificar,
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medir, modificar, ordenar, organizar, quantificar, relacionar, representar, transformar
e suas correlatas.
Global: os conteúdos se relacionam entre si para a interpretação da realidade.
São ações e operações mais complexas, que envolvem a aplicação de conhecimentos
a situações diferentes e a resolução de problemas inéditos. São realizadas,
principalmente, pelas seguintes atividades: analisar, antecipar, avaliar, aplicar,
abstrair, construir, criticar, concluir, supor, deduzir, explicar, generalizar, inferir, julgar,
prognosticar, resolver, solucionar e suas correlatas.
Competências e habilidades referentes ao Ensino Religioso
Competência Aprendizagem fundamental
Investigação e compreensão Compreensão dos elementos que
constituem a identidade religiosa das
diversas culturas.
Compreensão e interpretação da
história religiosa.
Compreender o desenvolvimento das
Tradições Religiosas na sociedade
através do processo de ocupação de
espaços físicos e as relações da vida
humana, em seus desdobramentos
políticos, culturais, econômicos e
humanos.
Ético-valorativa Respeito à diversidade religiosa.
Expressão da espiritualidade.
Criação das relações com o
Transcendente.
Alteridade
Representação e comunicação Releitura e interpretação do fenômeno
religioso.
Decodificação dos símbolos
religiosos.
Ressignificação do fato religioso nas
culturas.
Entender o significado e diferença
entre o discurso religioso e os demais,
a fim de estabelecer uma
comunicação eficaz e eficiente nos
diferentes ambientes e culturas.
Contextualização sociocultural- Compreensão da produção e do papel
religiosa histórico das instituições religiosas,
associando-as às práticas dos
diferentes grupos e atores.
12
Tradução dos conhecimentos
religiosos em condutas e atitudes de
indagação, análise, problematização
e protagonismo diante dos contextos
pessoais e coletivos.

5.1 O Que São Textos Sagrados

Os povos fazem religião, cada um à sua maneira. Este jeito de fazer religião
acaba sendo registrado, guardado e transmitido para as pessoas que virão no futuro,
através de livros, histórias contadas, músicas, danças, poesias, pinturas, desenhos,
esculturas.
Imagine se você se tornasse repentinamente um santo, as pessoas de sua
religião iriam querer contar sobre você para todos os outros, para seus filhos e netos.
Gostariam de passar para outras gerações o seu exemplo de vida e ensinamentos.
Deste modo alguém poderia escrever em um livro a sua história, seus pensamentos,
e este livro seria a memória viva do que você foi. Poderiam fazer peças de teatro,
músicas cujas letras transmitissem seus ensinamentos. Nos templos, ou lugares
sagrados poderiam pintar a sua experiência. Todas estas formas estariam buscando
transmitir às pessoas a sua mensagem.
Bem, vamos cair na real Você não é um personagem religioso importante, pelo
menos por enquanto. Mas, já pode compreender o que é um texto sagrado e qual a
sua função. As pessoas são diferentes e as religiões também. Sendo assim, cada
religião tem os seus próprios textos sagrados.
As diversas tribos indígenas, que não utilizavam à escrita, tinham a sua religião
valorizada e transmitida para as futuras gerações por meio das histórias que eram
contadas. Estes povos não só narravam seus textos sagrados, como os desenhavam,
dançavam, teatralizavam, etc. Com esta forma eles conseguiram preservar suas
tradições religiosas. Do mesmo modo, os povos africanos, trazidos à força para o
trabalho escravo, assim o fizeram. Esses homens e mulheres negros buscaram
manter viva a sua religião através da arte de seus costumes e de sua forma própria
de cultuar.
Vamos conhecer agora alguns textos sagrados escritos:
13
A religião chamada Hinduísmo, a qual surgiu na Índia, país localizado no
Oriente, possui muitos livros sagrados, muitos mesmo, chamados Vedas. Vedas
significa “conhecimento” em sânscrito, uma das línguas dos indianos.

Fonte: umbandauthis.blogspot.com.br

Os adeptos da religião chamada Islamismo, a qual se originou na Arábia,


seguem os preceitos contidos no livro sagrado Corão. Este livro, conforme o Islamismo
é uma forma de louvar o Deus Único, chamado Alá. Por isso, certas vezes este livro
é denominado de Alcorão. Este “Al” colocado no início, é uma forma de prestar
homenagem a Alá.
Para o Judaísmo, religião que surgiu no Oriente Médio, um dos textos sagrados
é chamado de Torá. Torá significa “a Lei” para os judeus. Para os cristãos, o livro
sagrado é a Bíblia. Nela estão contidos os principais ensinamentos para seus
seguidores. O Cristianismo também surgiu no Oriente Médio. Atualmente essas
religiões têm seus representantes nos mais diferentes pontos do planeta.
Cada tradição religiosa tem os seus próprios textos sagrados, os quais são
considerados como fruto de inspiração divina.

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6 ALGUNS ENSINAMENTOS ÉTICOS NOS TEXTOS SAGRADOS

O ensinamento religioso na maioria das vezes, é transmitido para as pessoas


por meio dos textos, estes textos muitas vezes são escritos e formam os livros
sagrados. Outras vezes, ele é contado verbalmente: são as histórias sagradas de
transmissão oral. As ideias sagradas podem ser também pintadas, como por exemplo,
as pinturas encontradas nas paredes das igrejas, templos, vitrais, etc.
Existem muitas religiões no mundo, todas elas com ensinamentos éticos que
orientam os seus seguidores quanto às formas de se viver em comunidade e em
sintonia com o Transcendente.
Vamos ver agora alguns destes ensinamentos:
Uma mensagem hinduísta: “Não faças aos outros aquilo que, se a você fosse
feito, causar-lhe-ia dor. ”
Uma mensagem budista: “De cinco maneiras um verdadeiro líder deve tratar
os seus amigos e dependentes: com generosidade, cortesia, benevolência, dando o
que deles espera receber e sendo fiel à sua própria palavra.
Uma mensagem judaica: “Não faça ao seu semelhante aquilo que para você
é doloroso.
Uma mensagem taoísta: “Considera o lucro do seu vizinho como seu próprio
e o prejuízo dele como se também fosse seu. ”
Uma mensagem cristã: “Tudo quanto quer que os outros façam para você
faça-o também para eles. ”
Uma mensagem muçulmana: “Ninguém pode ser um fiel até que ame o seu
irmão como a si mesmo. ”
O Hinduísmo - surgiu aproximadamente há 4000 anos antes de Cristo na Índia.
Preocupa-se muito com o aprimoramento espiritual das pessoas. Seus adeptos
acreditam que o Hinduísmo não teve começo, é o Caminho Eterno para a evolução
espiritual dos seres.
O Budismo – seu surgimento também se deu na Índia com a experiência de Sidarta
Gautama, o Buda (560 a C.) e tem como preocupação principal a compaixão por todos
os seres. Compaixão significa sentir piedade quando alguém sofre algum tipo de mal
15
e fazer o possível para ajudar. A palavra Buda significa, iluminado, desperto ou auto
realizado.

Fonte: religiao.culturamix.com

O Judaísmo surgiu no Oriente Médio (1800 a C.). Abraão é considerado pelos


judeus como o primeiro dos patriarcas, a quem o Deus único se revelou. Moisés é o
grande profeta e legislador a quem Deus entregou a Torá. O Judaísmo tem como
ponto chave a justiça, isto significa viver de forma justa não prejudicando seus
companheiros e praticando a caridade.

Fonte: espiritodevida.com.br

16
O Taoísmo é uma antiga religião que começou na China. Seus seguidores
buscam compreender a vida de forma bastante profunda, percebendo qual é a
essência de todas as coisas.

Fonte: natrilhadotao.com.br

O Confucionismo é também uma das importantes religiões da China, Confúcio


(551-479 a C.) foi um famoso mestre e filósofo, organizou esta religião baseado na
ética social. O Confucionismo a qual chegou a ser uma religião oficial na China antiga.

Fonte: jornalismocolaborativo.com

17
O Xintoísmo é a antiga religião nacional do Japão, existe desde os tempos
mais remotos da história deste país. O culto aos espíritos naturais e aos antepassados
é o principal fundamento para o Xintoísmo. A cerimônia e o ritual desta religião
contribuíram para a organização política e estabilidade nacional do Japão.

Fonte: peroratio.blogspot.com.br

O Cristianismo – surgiu a mais de 2000 mil anos no Oriente Médio assim como
o Judaísmo. Sofreu forte influência do pensamento judaico, se organizou e se
diferenciou deste após os ensinamentos de Jesus Cristo. Para os cristãos o amor
fraterno é o principal fundamento de vida. O Cristianismo como outras religiões,
separou-se em diversos grupos ou igrejas. Essas separações se devem a vários
fatores históricos, mas principalmente, à diferentes maneiras de interpretar os
ensinamentos de Jesus e dos seus Apóstolos.

18
Fonte: www.scrapsdinamicos.com.br

O Islamismo - organizado por Maomé (630 d. C.) também surgiu no Oriente


Médio. O ponto principal desta religião é a crença e a submissão à um único Deus,
Alá.

Fonte: www.missaoatenas.com.br

A Fé Bahá’í - é uma religião de caráter universal. É a mais recente das grandes


religiões do mundo. Fundada por Baha’u’llah (1817-1892), surgiu na Pérsia, hoje Irã.
Prega a unicidade de Deus, de todas as religiões e culturas, um dos seus pontos

19
chaves é a cooperação mútua para a construção da paz no mundo. A palavra bahá’í
significa luz. Luz no sentido de conhecimento.

Fonte: povodebaha.blogspot.com.br

BIBLIOGRAFIA

BOWKER, John. Para entender as religiões. São Paulo, Ática, 1997.

CELANO, Sandra. Corpo e mente na educação - Uma Saída de Emergência.


Petrópolis, Vozes, 1999.

FINE, Dorren. O que sabemos sobre o judaísmo. São Paulo, Callis, 1998.

GANERI, Anita. O que sabemos sobre o budismo. São Paulo, Callis, 1999. (Ver
comentário sobre o volume: O que sabemos sobre o Judaísmo?).

_____O que sabemos sobre o hinduísmo. São Paulo, Callis, 1998. (Ver comentário
sobre o volume: O que sabemos sobre o Judaísmo?).

GHAI, O P. Unidade na diversidade – Coleção herança espiritual. Petrópolis – Vozes,


1990.

HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Justein. O livro das religiões. São
Paulo, CIA das Letras, 2000.

MARCHON, Benoit e KIEFFER, Jean-François. As grandes religiões do mundo. São


Paulo, Paulinas, 1995
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7 ARTIGO COMPLEMENTAR

DISPONÍVEL EM: http://www.pucpr.br/eventos/educere


/educere2009/anais/pdf/2393_1633.pdf
AUTORES: NIZER, Carolina do Rocio
VIEIRA, Wilson José
ACESSO EM: 18/07/2016

8 AS DIRETRIZES CURRICULARES DE ENSINO RELIGIOSO DO ESTADO DO


PARANÁ COMO DOCUMENTO DE CONCEPÇÃO E ORIENTAÇÃO

Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas. Agência


Financiadora: Secretaria da Educação do Estado do Paraná.

As Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso da Secretaria de Educação do


Estado do Paraná foi um documento construído coletivamente com a participação dos
professores da rede estadual de ensino, de professores de instituições superiores e
de diferentes organizações religiosas com o objetivo de desenvolver uma proposta
para o Ensino Religioso que superasse a “tradicional aula de religião”, ou seja, que
desenvolvesse uma perspectiva laica do Ensino Religioso. Após a elaboração desse
documento houve a necessidade de uma efetiva implementação e tal ação, foi
desenvolvida através do processo de formação continuada denominada “DEB
Itinerante”. Nome que se dá à ida dos técnicos do Departamento de Educação Básica
aos 32 Núcleos Regionais de Ensino do Estado do Paraná para desenvolver oficinas
nas quais se discutiam as Diretrizes Curriculares e práticas oriundas de tal
perspectiva. Um dos principais elementos presentes nesse documento é a definição
do objeto de estudo o Sagrado que possibilita o tratamento das diferentes
manifestações religiosas sem que ocorra o tratamento privilegiado de uma religião em
detrimento de outra. Neste documento o Ensino Religioso tem como intenção superar
o próprio processo histórico de proselitismo ao apresentar a disciplina enquanto forma
de abordar a religião como conteúdo escolar.
22
Palavras-chave: Diretrizes Curriculares, Ensino Religioso, Sagrado.

9 INTRODUÇÃO

O Ensino Religioso em boa parte da história da educação brasileira foi


desenvolvido de forma confessional e catequética. Existiram outras concepções,
porém mesmo que as orientações tenham um cunho a confessional a prática não
acompanhava, e em muitos lugares ainda não acompanha, tais orientações. Uma
orientação importante no processo de constituição de um Ensino Religioso laico é a
concepção presente nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 e
correção, em 1997, pela Lei 9.475 que em seu artigo 33 da LDBEN, diz:

Art. 33 – O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da


formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de Educação Básica assegurado o respeito à diversidade
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§1º – Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a
definição dos conteúdos do Ensino Religioso e estabelecerão as normas para
a habilitação e admissão de professores.
§2º – Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas
diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do
ensino religioso.
Assim com o intuito de atender a LDB, os profissionais responsáveis pela
disciplina na rede pública estadual do Paraná, com demais entidades que se
preocupam com o Ensino Religioso, repensaram as fundamentações
teóricas, os conteúdos desenvolvidos em sala de aula, a metodologia de
ensino, e elaboraram as Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso.

Esse artigo tem como objetivo apresentar o processo de construção e o início


da implementação das Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso nas escolas
públicas do Estado do Paraná. O recorte parte da aprovação da Deliberação 03/02 do
Conselho Estadual de Educação, em 2002 aprovou e regulamentou o Ensino
Religioso nas Escolas Públicas do Sistema Estadual de Ensino do Paraná.
A partir daquela deliberação o Ensino Religioso passou a ser uma disciplina de
oferta obrigatória nos horários normais em sala de aula nas escolas públicas do
Estado do Paraná, mas de frequência facultativa ao aluno. A Secretaria de Estado da

23
Educação (SEED), por sua vez, elaborou a Instrução Conjunta n. 001/02 do
DEF/SEED, que estabeleceu normas para o ensino desta disciplina.
Em 2003 iniciou-se o processo de repensar a proposta curricular da disciplina
de Ensino Religioso de modo a superar a tradicional aula religião. Um dos
encaminhamentos utilizados para superar a tradicional catequese foi o processo de
formação continuada de professores envolvidos em encontros, simpósios e grupos de
estudos para desenvolver uma proposta que contemplasse o respeito a diversidade
religiosa. As discussões realizadas nesses eventos fundamentaram o processo de
construção coletiva das Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso.
A partir desses encontros e discussões foi encaminhado ao Conselho Estadual
de Educação um questionamento que propiciou a aprovação da Deliberação 01/06 de
10 de fevereiro de 2006 estabelecendo normas para a disciplina de Ensino Religioso,
o repensar no objeto de estudo, como também, o compromisso do Estado na formação
continuada dos docentes. (DCE de Ensino Religioso, 2008 p. 45)

10 AS DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS PARA O ENSINO RELIGIOSO

Na perspectiva de trabalhar o Ensino Religioso superando a tradicional aula de


religião e consolidar a proposta de uma disciplina que possibilite a identificação, o
conhecimento e o entendimento da diversidade cultural e religiosa do ser humano,
nas Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso apresentam como objeto de estudo o
Sagrado.
Tal concepção de Sagrado apresentado nas Diretrizes Curriculares de Ensino
Religioso possibilita ao professor trabalhar as diferentes manifestações religiosas
inclusive com as religiões que não se organizam como instituições.
“Etimologicamente, o termo Sagrado se origina do termo latim sacrátus e do
ato sagrar. Como adjetivo, refere-se ao atributo de algo venerável, sublime inviolável
e puro”. (DCE, 2008 p. 48). Para Eliade, que fundamenta teoricamente as Diretrizes
Curriculares de Ensino Religioso, o Sagrado é uma experiência denominada de
hierofania, ou seja, “a manifestação de algo “diferente' – de uma realidade que não

24
pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo
“natural”, “profano”. (ELIADE, 2001 p. 17).
Assim, ao definir o Sagrado como objeto de estudo o professor tratará as
manifestações religiosas como conhecimento e a sua função nos diversos grupos
humanos, pois, a religião contribui para o processo civilizatório da humanidade.
O espaço e o sentido do Sagrado, não se constituem, no entendimento dessas
diretrizes, omo um a priori. Ao contrário, no contexto da educação laica e republicana,
as interpretações e experiências do Sagrado devem ser compreendidas
racionalmente como resultado de representações construídas historicamente no
âmbito das diversas culturas e tradições religiosas e filosóficas. Não se trata, portanto,
de viver a experiência religiosa ou a experiência do Sagrado, tampouco de aceitar
tradições, ethos, conceitos, sem maiores considerações, trata-se antes. De estudá-
las para compreendê-las e problematiza-las. (DCE p. 48).
A partir do esquema abaixo, podemos compreender de que maneira a disciplina
de Ensino Religioso se apresenta como área de conhecimento, pois os conteúdos são
a própria expressão do Sagrado e são nesses conteúdos que o Sagrado se manifesta.

25
SAGRA

DO

Conteúdos Estrutur ntes


a

AGEM P UNIVERSO SIMBÓLI TEXTO SAGRADO


GIOSA
AIS R RGIOSOO
ELI ELI

Conteúdo s Básic
s

5ª série ª série
Organizações Religiosas Temporalidade Sagrada
Lugares Sagrados Festas Religiosas
Textos Sagrados orais ou Ritos
Escritos Vida e Morte
Símbolos Religiosos
DCE Ensino Religioso, 2008.

O esquema acima ilustra que o tratamento a ser dado aos conteúdos


estruturantes nunca deve ser estanque. Portanto, os conteúdos estruturantes:
Paisagem Religiosa, Universo Simbólico Religioso e Texto Sagrado não devem ser
entendidos isoladamente, pois quando o professor prepara aula pensando nos
conteúdos básicos ele estará automaticamente trabalhando com esses três conteúdos
estruturantes. Podemos citar como exemplo as pirâmides, que tiveram a função de
paisagem religiosa porque em tal local foram enterrados os faraós, além de todo um
significado simbólico pela sua própria forma estruturada para ascensão ao céu e de
texto sagrado por ser o local onde se encontram os registros.
No 5ª/6º ano, o primeiro conteúdo básico trabalhado é organização religiosa o
aluno estuda a estrutura da religião e o seu processo de institucionalização. Também,
os papéis dentro do sistema religioso, para depois avançar para lugares sagrados
onde ocorre as diferentes manifestações religiosas, os textos sagrados orais ou

26
escrito expressam, asseguram e guardam os ensinamentos da religião e como último
conteúdo o aluno conhecerá os aspectos simbólicos que envolve as diferentes
manifestações religiosas.
Na 6ª/ 7º ano, o conteúdo inicial é a temporalidade sagrada, onde o aluno
entenderá de que maneira as religiões explicam a criação do mundo. Ainda neste
conteúdo o professor poderá compreender as diferentes formas de contagem do
tempo através dos calendários de comemorações, as festas religiosas e sua função
social, os ritos que aproximam o homem religioso com o divino e fazem reviver as
manifestações sagradas e o conteúdo vida e morte em que as religiões dão
explicações do que acontecerá com o homem após a morte.
Todos os conteúdos apresentados podem ser desenvolvidos em qualquer
manifestação religiosa. Assim, o professor desenvolverá os conteúdos do Ensino
Religioso em consonância com o processo histórico.

11 FORMAÇÃO CONTINUADA – DEB ITINERANTE

A Secretaria de Estado da Educação (SEED) conforme previsto na LDB tem o


dever de propiciar aos professores da rede estadual pública momentos de formação
continuada, nesse artigo relataremos o que foi o DEB Itinerante de Ensino Religioso
que aconteceu entre os anos de 2007 a 2008. Essa formação continuada foi um
momento em que as escolas estaduais pararam suas atividades normais, durante dois
dias, para refletir e discutir possibilidades de implementação das Diretrizes
Curriculares.
O DEB Itinerante foi realizado nas próprias escolas e estruturado em oficinas
com máximo de 40 professores. Era de responsabilidade dos técnicos pedagógicos
do Departamento de Educação Básica (DEB) ministrarem as oficinas que tinham
como foco estudar conteúdos de fundamentação da disciplina, possibilidades de
práticas pedagógicas e colocar as Diretrizes Curriculares em ação.

O DEB Itinerante foi um projeto de formação continuada descentralizada, com


os eventos sediados nos 32 Núcleos Regionais de Educação, possibilitando
o contato direto da Secretaria de Estado da Educação por meio do
Departamento de Educação Básica com todos os professores de todas as
27
disciplinas da Rede Estadual de Educação, o formato foi realizado através de
oficinas disciplinares e oficinas com equipes pedagógicas. As oficinas
disciplinares trabalham na perspectiva da efetivação das Diretrizes
Curriculares Estaduais nos Projetos Político Pedagógicos e nos Planos de
Trabalho Docente. Nesse sentido, são discutidos os conteúdos estruturantes,
básicos e específicos de cada disciplina, além de se abordarem o uso e a
produção de materiais didáticos e a utilização das novas tecnologias em sala
de aula. Contribuindo assim, para a qualidade do ensino das Escolas Públicas
do Estado do.
Paraná.(http://www.diaadia.pr.gov.br/deb/modules/conteudo/conteudo.php?

O DEB Itinerante de Ensino Religioso apresentou características específicas,


pois na maioria dos casos, os professores não possuíam formação e não eram
concursados na disciplina de Ensino Religioso.
As oficinas de Ensino Religioso eram iniciadas com a discussão das Diretrizes
Curriculares de Ensino Religioso através da problematização: “Se o fenômeno
religioso pertence a vida, e portanto, deve participar da formação básica do cidadão
de que forma ela deve ser trabalhado e estudado em sala de aula? ”
Em primeiro momento os professores entendiam e aceitavam que a nossa
sociedade é composta pela diversidade cultural e religiosa, porém, na sua prática
escolar nem sempre isso era possível perceber, pois a justificativa se dava “meus
alunos 99% são cristãos” primeiramente a compreensão de cristão estava limitada
entre católicos e evangélicos, segundo o 1% dos demais alunos eram excluídos.
Como forma de fortalecimento as DCE de Ensino Religioso e para os
professores perceberem que tal proposta não está em desacordo com as demais
discussões nacionais, era apresentado o vídeo “Diversidade religiosa e direitos
humanos”. Neste vídeo, um dos aspectos centrais tratado era a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, promulgada em 1948, que afirma em seu XVIII artigo o
seguinte:

Toda a pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e


religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a
liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo
culto e pela observância isolada ou coletivamente, em público ou em
particular.

Após apresentação inicial das leis que garantem o respeito à diversidade


religiosa, os professores tiveram então contato com as Diretrizes Curriculares de

28
Ensino Religioso. A discussão em torno deste documento seguiu a seguinte ordem:
dimensão histórica da disciplina, fundamentos teórico-metodológicos, conteúdos
estruturantes e conteúdos básicos, encaminhamentos metodológicos e sistema de
avaliação.
Na discussão relativa a dimensão histórica foi dada a possibilidade ao
professor de compreender que a disciplina de Ensino Religioso sempre esteve
presente nos currículos escolares mesmo assumindo posturas legais e pedagógicas
diferentes. Mesmo não tendo essa denominação, o Ensino Religioso se faz presente
na educação brasileira no período jesuítico. É a primeira forma de uma educação
catequética e de imposição de uma religião através do documento Ratio Studiorum.
Em seguida foram apresentados outros períodos para o entendimento do
processo de constituição da disciplina de Ensino Religioso até as orientações atuais.
Ao estudar o processo histórico o professor pode entender os motivos da disciplina
ser facultativa para o aluno e não ser objeto de aprovação ou reprovação.
Na fundamentação teórica encontramos os motivos pelos quais a religião e o
conhecimento religioso devem estar presentes no espaço escolar e assim
desenvolvidos como conteúdo não dissociados da cultura, da economia, da política e
do social. Segundo Costella,
[...] não pode prescindir da sua vocação de realidade institucional aberta ao universo da
cultura, ao integral acontecimento do pensamento e da ação do homem: a experiência religiosa faz
parte desse acontecimento, com os fatos e sinais que a expressam. O fato religioso, como todos os
fatos humanos, pertence ao universo da cultura e, portanto, tem uma relevância cultural, tem uma
relevância em sede cognitiva. (2004, p. 104)
Os conteúdos estruturantes e básicos possibilitaram desenvolver trabalhos
relacionados com a própria prática pedagógica do professor, pois, além da definição
de cada um dos conteúdos eram apresentadas possibilidades de desenvolvimentos
em sala de aula, sempre contemplando a diversidade religiosa.
Os técnicos pedagógicos possíveis recursos para a efetivação dessa proposta,
como por exemplo, o Caderno Pedagógico de Ensino Religioso (“O Sagrado no
Ensino Religioso”), a Biblioteca do Professor, os Folhas Publicados, o Portal da
Educação e também o Livro Didático Público de Ensino Religioso em processo de
finalização.
29
No encaminhamento metodológico era apresentada as possibilidades de
trabalho relativos aos conteúdos básicos e a necessidade de se partir do
conhecimento prévio dos alunos.
A avaliação gerava polêmica pela particularidade da disciplina que não
constitui objeto de aprovação ou reprovação. Nesse momento era necessário fazer
menção ao próprio processo histórico da disciplina que legalmente afirma ser o Ensino
Religioso parte da formação do cidadão, porém de frequência facultativa para o aluno
mesmo sendo ministrada em horários normais nas escolas públicas.
As orientações dos procedimentos avaliativos ocorriam mesmo a disciplina não
sendo objeto de reprovação, pois isso, não tira a responsabilidade do professor em
avaliar e de estabelecer critérios de avaliação e o registro das práticas escolares.
Após todo o estudo das Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso entendendo
que depois dessa discussão os professores passaram a ter conhecimento do
documento que concebe e orienta a disciplina de Ensino Religioso no estado, partimos
para o momento de implementação e efetivação das Diretrizes Curriculares de Ensino
Religioso através da aula simulada.
A aula simulada foi produzida somente com materiais disponíveis ao professor
da rede, Folhas publicado no portal, Caderno Pedagógico de Ensino Religioso, TV
Multimídia (música, vídeos e imagens) que foram baixados através do Paraná Digital.
Aula simulada foi desenvolvida a partir do Folhas “Onde podemos encontrar
o Sagrado? ” Com a intenção de propor um material possível de utilização em sala
de aula e que segue as Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso.

11.1 A aula simulada:

Primeiramente, era apresentada, através da TV multimídia, a imagem baixo:


Em seguida com a imagem na TV Multimídia era contada a história de
Mariazinha:
Toda vez que alguém bronqueava com Mariazinha, ela saía correndo e subia
no “morro da pedra bonita”. Era um lugar no alto de um morro em que havia uma pedra
grande de onde podia se ver toda a cidadezinha. Para ela, aquele lugar era sagrado.

30
Lá ela se sentia segura, ficava observando de cima toda a cidade e parecia que estava
olhando para si mesma e aos poucos ia se acalmando.
Após a historinha trabalhamos com as seguintes problematizações:
Mas o que é um lugar sagrado? Quais são as características de um lugar
sagrado? O que faz com que um lugar seja considerado como sagrado?
A partir desses questionamentos os professores explicitavam suas
compreensões desses conceitos e o grupo aprofundava as discussões sobre os
lugares sagrados para algumas manifestações religiosas. Entre os lugares sagrados
foram trabalhadas as pirâmides para o Egito, as cidades sagradas como Meca e
Jerusalém, o Terreiro, o rio Ganges e os cemitérios.
Após a apresentação desses Lugares Sagrados os professores concluíam que
Lugares Sagrados são diferentes nas manifestações religiosas, mas o que torna um
lugar sagrado é a identificação e o valor que o grupo atribui a ele. Para encerrar essa
parte da oficina apresentava-se a música a Casinha Branca e os professores tinham
que articular o conteúdo Lugares Sagrados com a letra dessa música. Depois tinham
que pensar em encaminhamentos metodológicos para o trabalho desse conceito com
os alunos.
Além desse recurso foram também passados vídeos sobre Lugares Sagrados,
todos devidamente explorados de acordo com o tema dos filmes.
O Ensino Religioso no seu processo histórico passou por diversos períodos que
muitas vezes não se levava em conta à diversidade religiosa existente no Brasil. A
partir da separação do Estado da Igreja no período da República é que se começam
movimentos para um Ensino Religioso a confessional.
Essa separação e a tentativa de superar as aulas tradicionais de religião se
concretizam no artigo 33 da LDBEN que estabelece o Ensino Religioso como uma
disciplina escolar nos horários normais das escolas públicas estaduais. Por isso a
Secretaria do Estado do Paraná a partir de 2003 vem trabalhando na construção e
implementação das Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso a fim de consolidar os
conteúdos escolares dessa disciplina como conhecimento sobre o sagrado nas mais
diversas manifestações religiosas.

31
A disciplina de Ensino Religioso é componente do currículo escolar no Estado
do Paraná e é tratada, pedagogicamente como qualquer outra disciplina de maior
tradição. Isso se comprova na importância dada à construção do documento de
orientação, como também, no processo de formação continuada e elaboração de
materiais didáticos voltados aos professores que ministram essa disciplina.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

BRASIL, Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997.

COSTELLA, D. O fundamento epistemológico do ensino religioso. In: JUNQUEIRA,


S.; WAGNER, R. (Orgs.) O ensino religioso no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Ensino


Religioso. Curitiba, 2008.

ELIADE, M. O Sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

GIL FILHO, S. F.; ALVES, L. A. S. O Sagrado como foco do Fenômeno Religioso. In:
JUNQUEIRA, S. R. A.; OLIVEIRA, L. B. de (Org.). Ensino Religioso: memórias e
Perspectivas. 1 ed. Curitiba: Editora Champagnat, 2005, v. 01, p. 51-83.

32
12 LEITURA COMPLEMENTAR

13 ENSINO RELIGIOSO NO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA PESSOA

Maria Judith Sucupira da Costa Lins


Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFRJ
mariasucupiralins@terra.com.br

13.1 RESUMO

Este artigo focaliza o ensino religioso nas escolas como um fator do


desenvolvimento pessoal. Não há intenção de descrever nenhuma religião em
particular. O objetivo deste artigo é mostrar como é importante para as crianças e para
os jovens que tenham a oportunidade de receberem ensino religioso nas escolas.
Referências bibliográficas mostram que o ensino religioso é um tópico de interesse
aos educadores em diferentes países. Foi descrito que o ensino religioso é também
um componente para o desenvolvimento social, cognitivo, emocional e moral dos
estudantes. É também sugerido que este artigo deva ser continuado por pesquisas.
Palavras-chave: Ensino religioso; Desenvolvimento humano; Formação da
pessoa; Escola; Religião

14 INTRODUÇÃO

Dentre os diversos fatores referentes ao desenvolvimento integral da pessoa,


consideraremos neste artigo apenas a questão da aspiração a uma religião. Supondo
que a adesão a uma religião seja um dos fatores do desenvolvimento integral da
pessoa, passamos a pensar sobre o ensino religioso e seu papel neste
desenvolvimento.
Por que ensino religioso? Esta é a pergunta fundamental que norteará nossa
reflexão. Procuraremos analisar o papel da religião no desenvolvimento de uma

33
pessoa, buscando entender o significado desta para a sua vida. O que significa a
religião na totalidade do ser humano? Uma vez considerando o papel da religião,
entende-se que se faz necessário o ensino religioso?
Poderíamos iniciar tomando como referência estudos teóricos e especulativos
sobre o assunto, mas preferimos começar pela observação das idéias presentes no
documento sobre ensino religioso da Secretaria de Estado de Educação e Cultura do
Rio de Janeiro, elaborado na gestão da professora Myrthes Wenzel (Secretaria s/d)
no final da década de 70, destacando a seguinte: “A Educação Religiosa é um grande
fator de liberação e de humanização dos educandos, pois contribui essencialmente
para a compreensão do mundo e da vida à luz da fé” (Secretaria, p.15).
Partimos da hipótese de que, além de outros fatores, para que aconteça o
desenvolvimento integral da pessoa, pressupõe-se a existência da religião, e, para
que esta aconteça, faz-se necessário o ensino religioso. Este artigo resulta de
pesquisa bibliográfica, não sendo resultado de investigações de campo.
Consideramos o desenvolvimento da pessoa tendo em conta a religião como
um de seus componentes, conforme autores de psicologia infantil e da adolescência,
entre os quais podemos citar Erikson (1971), Hurlock (1979) e Giussani (1995). Na
realidade, quando afirmamos que o ensino religioso é um dos fatores presentes no
desenvolvimento integral da pessoa, estamos apontando o voltar-se para a religião
como este fator. Assim é que afirma Giussani, em outra obra (1998, p. 26):
O aspecto da experiência que melhor indica isto está no fenômeno da exigência
(grifo do A.) humana, indestrutível, seja como busca e afirmação do questionamento
intelectual último (que sentido tem o mundo? Qual é o destino do homem e de tudo?),
seja como urgência existencial (amor, justiça e felicidade).
Como alguém chega a perceber a presença da religião em sua vida? Qual o
reconhecimento da importância da vivência religiosa na vida de uma pessoa?
A fé é o elemento primordial, no entanto esta não sobrevive sem um contínuo
fortalecimento, o qual será, em parte, favorecido pelo ensino religioso. Lembremo-nos
ainda de que “a razão humana, considerada sem alguma relação com Deus, não é
suficiente por suas forças naturais apenas para procurar o bem dos homens e dos
povos”, conforme explica Maritain (1930, p. 52).
34
Tratando-se de um artigo especificamente de educação, não faremos aqui
nenhum estudo de cunho teológico, pois este é outro campo de estudo. Além disso,
nenhuma religião em particular será analisada. Estamos também longe de qualquer
discurso sobre a fé. O que está sendo posto como problema é a importância do ensino
religioso no desenvolvimento integral da pessoa, tomando-se como hipótese a
resposta positiva.
A idéia básica está exatamente na relação entre educação e ensino religioso,
sempre se entendendo este como organização sistemática visando a aprendizagem
de uma religião que já está anteriormente presente, mesmo que de forma primária, na
criança e no jovem, principalmente por imitação do que acontece na família. Na
criança, que ainda não tem a capacidade de decidir, a religião está presente por
orientação dos seus pais. Não é uma criança que escolhe uma religião, de modo que
é possível que a partir da juventude esta venha a abandonar a religião dos pais,
trocando-a por outra ou deixando de ter fé em qualquer religião.
As verdades consideradas essenciais de cada religião são apresentadas pelos
pais ou outros parentes, incluindo-se os próprios ritos de iniciação, particulares a cada
credo professado por estes. Na adolescência ocorre o contrário, quando o jovem
começa a se descobrir como alguém independente, iniciando-se um período de
grandes controvérsias (ERIKSON, 1976). Em seus estudos sobre a personalidade do
jovem, incluiu a questão da religião ao analisar a construção da identidade.
Nosso objetivo é discutir se existe a presença de uma aspiração religiosa que
faça parte integrante do desenvolvimento da pessoa. Como estaremos restritos a este
objetivo, não abordaremos o conteúdo do ensino religioso, nem suas modalidades,
prescrições, métodos, especificações ou qualquer outro tema específico. Nosso
interesse está na preocupação que o ser humano tem com as perguntas sobre sua
vida, suas indagações, na medida em que estas ultrapassam o plano filosófico e
ganham uma outra dimensão, exatamente, a dimensão religiosa. Que dimensão é
esta?
Quais são as inquietações do ser humano que podem ser identificadas como
religiosas? Que inquietações são estas? Ou mais concretamente, há estas
inquietações?
35
Todas estas perguntas surgem na introdução de modo a levar o leitor ao cerne
do nosso debate. Encontramos, no levantamento bibliográfico realizado, elementos
que são trabalhados nesta reflexão de modo a nos encaminhar para a análise da
presença do ensino religioso no desenvolvimento integral da pessoa. Se há uma
busca do fenômeno religioso, faz-se necessário o ensino religioso.
A educação utiliza processos de aprendizagem. Uma pessoa se educa por
meio de práticas de aprendizagem, intencionais ou não, sistematizadas ou não. É
impossível se pensar em educação sem que haja aprendizagem, embora nem toda
aprendizagem seja educação. A aprendizagem se expressa pela aquisição, retenção
e generalização, conforme Lins (2004).
Aprender a manipular uma seringa pode ter como finalidade a auto-aplicação
de insulina, no caso de pessoas diabéticas, ou o uso de drogas. Neste caso, a
finalidade da aprendizagem define o seu tipo. Isto se deve à aplicação de critérios de
valores que modificam o significado de uma aprendizagem, tornando-a ou não
educativa. Assim é que valores, princípios e outros critérios determinarão quais são
as aprendizagens necessárias e pertinentes ao processo de educação, em oposição
àquelas que desviam a pessoa do processo de aperfeiçoamento típico da atividade
educativa.
Esta explicação, fundamental para todos que se iniciam no problema da
aprendizagem humana, por ser simples e clara, nos permite continuar a reflexão
específica de nosso tema, entendendo-se que, ao se falar em ensino religioso,
estamos necessariamente implicando uma aprendizagem religiosa. Dentro desta
perspectiva, consideramos que a educação integral da pessoa se faz por meio de
diferentes aprendizagens, incluindo-se entre as mais importantes aquelas
proporcionadas pelo ensino religioso.
Como o ensino religioso deve ou não ser proposto não é tema de nossa
discussão neste artigo. A discussão está limitada ao desejo que nasce no ser humano
de se voltar para um ser superior que o criou, Deus, o qual responde a diferentes
denominações. Esta ligação estabelecida entre o ser humano e um Deus é a base,
inclusive etimológica, da idéia de religião. Entende-se então que a reflexão própria a
este artigo se limita à compreensão da aspiração do ser humano num plano que é
36
superior às suas capacidades mais elevadas, cognitivas, afetivas e sociais, ou seja, o
plano da fé. Sim, porque fundamental a uma vontade religiosa está a fé. No ser
humano a fé e a razão estão intimamente relacionadas, de modo que não se pode
falar de uma sem outra. Por que fé? Porque toda religião pressupõe em primeiro lugar
uma fé.
O ensino religioso não tem a pretensão de fornecer fé, de espécie alguma, a
ninguém. Entende-se a fé, segundo diferentes credos religiosos, como dom. É algo
recebido gratuitamente. Há no ser humano um movimento de correspondência à fé, o
que torna necessária a aprendizagem, e por isto o ensino. Deste modo, o ensino
religioso se submete à fé. Razão e fé têm que estar vinculadas, pois o ser humano
tem como característica a sua capacidade cognoscitiva. É na racionalidade que
encontrará o caminho que será completado pela fé. Sobre estes aspectos veja- se a
Encíclica de João Paulo II (1998), intitulada Fé e Razão.
Partimos da hipótese de que o ser humano, mesmo que não tenha ainda
claramente compreendido qual é o objeto da sua busca, volta-se para caminhos que
lhe mostrem a fé em Deus. A partir desta hipótese, consideramos, em segundo lugar,
que o ensino religioso fará parte integrante de seu desenvolvimento pleno, pois terá
um papel central na consolidação desta fé.
O tema aqui proposto é extremamente complexo. Trabalhando filosoficamente,
permaneceremos muito mais no plano dos questionamentos do que de afirmativas,
pois o espanto e a indagação nos guiarão nesta perspectiva. Se tivéssemos optado
por uma metodologia teológica, a linha de pensamento seria outra, pois, mesmo
havendo os questionamentos, a fé estaria como base para fornecer as respostas.
A presente discussão é realmente uma das mais atuais, no plano filosófico,
assim como em outras áreas, como a antropologia e a psicologia. Pessoas de todas
as idades se referem à religião, de um modo ou outro, seja em conversas informais
ou em estudos mais profundos. Crescem os grupos religiosos, as iniciativas sociais
religiosas e diferentes denominações religiosas recentes mostram esta dinâmica em
plano mundial.
Trata-se de um assunto presente nas discussões contemporâneas, no mundo
inteiro, no qual aumenta o número de pessoas que se auto- identificam como
37
seguidoras de uma religião. E ainda, mesmo os que não seguem uma religião
estabelecida se definem como interessados em assuntos de religião para a sua
própria vida. Há uma preocupação cada vez maior com a religiosidade, mesmo que a
pertença e a obediência desta derivada não estejam presentes nos comportamentos
das pessoas.
Manifestações de diversas religiões conseguem agregar multidões. Meios de
comunicação divulgam temas de religião; nos espaços reconhecidamente
dispendiosos de rádios, jornais, revistas e TV assuntos de religião estão sempre
presente. É inegável um movimento de busca de alguma coisa transcendental, mesmo
que muitas vezes não se tenha consciência clara do que se quer. Por isso, o
esclarecimento a ser dado pelo ensino religioso vem corresponder a esta ânsia do
ser humano. Apesar disso, “A Europa, cristã apenas de nome, afinal de contas, já há
quatrocentos anos tornou-se o berço de um neopaganismo que cresce sem solução
de continuidade”. Como observava o então Cardeal Ratzinger (1974, p. 297)
As controvérsias sobre o assunto evidenciam a necessidade de uma contínua
discussão, de modo que não pretendemos com este artigo chegar a uma afirmativa
conclusiva.

15 ASPIRAÇÃO RELIGIOSA NO DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO

O que mais chama a atenção no momento em que alguém se dispõe a analisar


o problema aqui focalizado é a justificação da discussão sobre este por conta de sua
abrangência, na medida em que visamos a análise do ser humano enquanto alguém
que está em processo de desenvolvimento. A formação da pessoa, ou o tornar-se
pessoa, incluirá a aprendizagem da questão religiosa.
Nesta formação fornecida pelo ensino religioso não se pretende que uma
pessoa se torne um teólogo, ou mesmo um especialista em religião, teórico ou
pesquisador de categorias religiosas. Trata-se de não privar o sujeito de subsídios que
devem fazer parte de sua formação visando o pleno desenvolvimento. Por que
devem? Esta pergunta se volta para a questão da natureza humana e para as
indagações filosóficas.
38
Analisando a filosofia da religião, Penna (1999, p. 27) faz o seguinte
comentário:

Sobre os efeitos produzidos pela presença da religiosidade na cultura e no


próprio indivíduo, tanto os apontam os que operam no estrito domínio da
filosofia da religião como os que se situam nas áreas da psicologia, da
sociologia e de outras ciências sociais. Não custa recordar o registro, em
espaço anterior, da função integradora especialmente realçada pelos
sociólogos, bem como, num plano estritamente ético, a célebre advertência
de Dostoievski quando apontou para o fato de que “se Deus não existe, então
tudo se torna permitido”, consequência terrível, dado que, se tudo é permitido,
a convivência humana se tornará impossível (1999, p. 27).

Existe na natureza humana algo que faça a pessoa se voltar para uma religião?
E se assim fosse, seria este um comportamento instintivo, mecânico, reativo a algum
estímulo ou condicionado de qualquer forma? Ou qual seria a inspiração? Trata-se de
uma atitude resultante de uma reflexão ou apenas de uma ação aleatória?
Na natureza humana se insere uma busca por algo que o sujeito não
compreende de imediato. Há que lhe ser ensinado o caminho, embora mistérios
permaneçam sem solução, pois mistérios fazem parte da relação do ser humano com
o divino. “Quanto mais o homem é religioso, mais ele é real”, afirma Mircesa Eliade
(1959, p. 392), concluindo extensos estudos sobre as mais diversas religiões,
comparando elementos míticos e de fé, analisando budistas e cristãos, observando
manifestações profanas e sacras. Há valores fundamentais de espiritualidade que
conferem ao ser humano uma forma especial de ser, manifestada em diferentes
culturas.
Quando nos perguntamos “por que o ensino religioso?”, “para que tal ensino?”,
buscando motivos e finalidades, pensamos neste ser real que se desenvolve e que
aperfeiçoa as suas capacidades iniciais, que transforma em capacidades suas
virtualidades. Ensina-se algo que se considera importante para o educando aprender.
A inclusão de um conteúdo de saber, de qualquer área, num currículo escolar deve
ser consequência de uma rigorosa avaliação de sua importância. Quais são as
contribuições que este conteúdo traz para o desenvolvimento da criança e do jovem?
Também para o ensino religioso está pergunta deve ser feita.
A escola é uma instituição social que tem, entre outras características, a
promoção da formação e da informação dos alunos. Não pode fugir à sua vocação
39
específica de instituição social que busca o desenvolvimento pleno de todas as
crianças, visando primordialmente sua socialização. O ensino religioso faz parte deste
elenco, principalmente se entendermos a educação inserida numa cultura e a religião
como um dos elementos da cultura.
O que se faz preciso para se formar uma pessoa? O que promove seu
desenvolvimento?
A psicologia do desenvolvimento infantil nos informa, com abundantes
pesquisas, tornando-se até mesmo um conhecimento já popularizado, que o bebê
humano é dos mais frágeis, se não for mesmo o mais frágil, necessitando para sua
sobrevivência de atenção e cuidados especiais. Do ponto de vista biológico, social,
psicológico e espiritual, se faz necessário o encaminhamento de aprendizagens para
que a criança se desenvolva plenamente.
O que significa desenvolvimento espiritual?
Como entendemos de desenvolvimento espiritual e religião? Ensino religioso
promove desenvolvimento espiritual?
Há uma participação do desenvolvimento espiritual no desenvolvimento pleno
da pessoa? Em que o desenvolvimento espiritual interfere no desenvolvimento pleno
da pessoa?
Que tipo de pessoa se deseja? Quais são as finalidades da educação?
Todas estas perguntas, e muitas outras mais, nos levam a prosseguir na
análise do tema. Antes mesmo de chegarmos às respostas, observamos que o
conteúdo das indagações se referem a estilos de vida das pessoas, ao seu
comportamento e a sua maneira de ser.
A religião pode ser entendida como o resultado de uma busca pela felicidade
empreendida pelo ser humano. Maritain (1972, p. 122) dá o exemplo de uma religião,
mostrando que o Bramanismo “é uma religião no sentido estrito de palavra (...) uma
religião unicamente em virtude da sede do Absoluto”. Esta sede do Absoluto se
manifesta de diferentes formas e algumas vezes não é compreendida pelo ser
humano, que tenta então se satisfazer com outras respostas.
Muitas vezes, procurando compreender o significado da religião na vida
humana, se tende a buscar respostas que na realidade são muito mais ligadas à ética
40
e à educação moral do que ao ensino religioso. Há diferenças entre educação moral
e ensino religioso? Por que educação moral não é suficiente? A aprendizagem das
virtudes, do ponto de vista ético, já não seria suficiente? Um ensino de ética não
substituiria o ensino religioso?
Ética é uma prática social importante, considerando-se a sua origem no Ethos
grego descrito por Aristóteles (utilizamos a tradução francesa de 1965), de modo que
seja possível uma vida em harmonia. Tem uma enorme importância na vida política
(polis) e resulta do exercício da virtude, como se pode aprender em sua obra básica
sobre este tema, A Ética a Nicômaco.
Uma religião, no entanto, não se resume à ética. Viver uma religião pressupõe
uma adesão consciente que ultrapassa o cumprimento das virtudes e a vivência de
valores que constituem a ética, compreendendo não só o aspecto místico, mas aliando
a este a transcendência da relação com o divino. A religião, além de ser um fato
integrante da formação plena da pessoa, estabelece ainda esta ligação com o ser
divino, criador, de tal modo que as coisas passam a ser entendidas numa outra
perspectiva. Mesmo que não queiramos aqui abordar esta outra perspectiva,
consideramos importante afirmá- la para caracterizar a distinção entre ética e religião.
Viver eticamente pressupõe um tipo de exigência diverso do que a vida entendida
numa perspectiva religiosa, como salienta Bert (2000), comentando a relação entre as
duas instâncias.
Não desenvolveremos esta comparação, pois o tema específico aqui é outro;
apenas tocamos neste ponto porque freqüentemente surge esta dúvida. De modo
geral se observa uma confusão entre ética e religião, mesmo no meio de pessoas com
níveis de escolarização mais altos.
Voltando à nossa hipótese inicial, perguntamos: há um papel do ensino
religioso no desenvolvimento do ser humano?
A experiência religiosa se faz necessária, tanto do ponto de vista espiritual
como do cognitivo, afetivo, social e moral, para que uma criança se desenvolva, é o
que apontam pesquisas que analisaram escolas religiosas e não-religiosas,
destacando-se a discussão apresentada por McKinney (2006). Vale também lembrar
que as escolas públicas na Inglaterra, Alemanha, Canadá e França oferecem ensino
41
religioso, e as escolas particulares religiosas nestes países recebem subsídios do
governo. No caso da Inglaterra, observe-se que “escolas Britânicas Anglicanas e
Católicas são financiadas pelo estado e são parte do sistema escolar do estado”
(IFNEC@ADMIN.HUMBERC.ON.CA). Pode-se também consultar a
página: http://www.ofsted.gov.uk/publications, na qual se encontra informação sobre
o ensino religioso na Inglaterra.
Quanto ao Canadá, mesmo havendo as províncias de origem inglesa e
francesa, a informação que se tem é de que “religião é freqüentemente parte de todas
as escolas no Canadá”, segundo Goodman (1999).
Também na Holanda, país reconhecidamente de atitudes laicas, isto acontece,
de modo que:

O sistema escolar holandês atual consiste de escolas públicas e


predominantemente neutras ao lado de escolas privadas e amplamente
confessionais. Ambas as formas de educação são totalmente subsidiadas
pelo governo desde a revisão da Constituição em 1917 e a Lei de Educação
de 1920 (WINGERDEN, 2003, p.27).

Estudo de Gardner, Cairns e Lawton (2005) discute a questão das chamadas


escolas religiosas, os posicionamentos da sociedade em relação a estas, o que há
de consenso e o que existe de conflito, mostrando sua importância no
desenvolvimento da pessoa. O ensino religioso aparece como uma preocupação das
famílias a ser garantida nas escolas que estas escolhem.
Mesmo que alguém, chegando à idade adulta, resolva abandonar a fé de sua
infância, ou mesmo que na adolescência deixe para trás os ensinamentos, a sua
personalidade poderá ser mais ampla em sua construção pelo que recebeu no ensino
religioso, é o que se pode inferir dos citados estudos. De maneira geral se tende a
pensar que os jovens estão arredios à Religião, ou que não têm preocupação religiosa,
mas as pesquisas atuais mostram que uma mudança neste aspecto está ocorrendo.
Citamos, por exemplo, que:
(...) adolescentes americanos não são tão hostis em relação à religião
organizada como os pesquisadores pensavam, de acordo com um recente estudo
conduzido na Universidade de Norte Carolina em Chapel Hill. O Estudo Nacional de
Juventude e Religião descobriu que cerca de dois terços dos norte-americanos da 12a
42
série escolar dizem que não se sentem alienados em relação à religião organizada.
Somente 15% disseram que se sentem hostis em relação à religião estabelecida,
enquanto outros 15% disseram que não têm nenhum sentimento sobre o assunto
(RELIGION JOURNAL, 2004).
Uma das principais idéias apontando para o fato de que o ensino religioso tem
sentido para a vida do ser humano se expressa na afirmativa da existência de Deus
feita por cientistas de diferentes áreas do conhecimento. Em um documento alemão,
são muitos os citados, mas não nos estenderemos repetindo a enorme lista de
cientistas e seus depoimentos, apenas alguns, como Max Planck (1858-1947)
relatando a relação entre religião e ciência natural, afirma que não há oposição, “pelo
contrário, elas se completam e se ligam. Deus está no início de tudo para quem crer,
e para o físico, no fim de todas as reflexões”. Ou ainda o cientista Von Braun (1912-
1977): “Ciência e Religião são irmãs e não oponentes” (Katholik Junge Gemeid, s./d.,
p.6).
Muitos estudos estão em progresso atualmente sobre a importância do ensino
religioso no desenvolvimento da pessoa, tais como o realizado por Nicholas
Commons-Miller, James Day and Michael Lamport CommonsI (2006), referente aos
estágios neoPiagetianos do desenvolvimento cognitivo e o comportamento religioso.
(Commons@tiac.net - http://dareassociation.org/).
A dinâmica entre a escola e a cultura, principalmente no sentido de que a
cultura é a premissa educativa e não resultado desta, traz também a reflexão sobre o
lugar das formas culturais no âmbito do ensino, de modo que a educação responda a
estas exigências, como bem destaca Giussani, “é o itinerário de experiência que a
educação propõe” (1995, p. 136). E este itinerário de experiência, é para o autor, a
experiência completa de vida a partir do encontro fundamental com a pessoa divina,
origem da perspectiva religiosa. Uma escola não pode se furtar a esta missão. Dentre
suas responsabilidades, tanto de informação como de forma ção, o ensino religioso
se faz presente.

43
16 REFLEXÕES FINAIS

Quando se pretende estabelecer a importância do ensino religioso, de modo


algum o proselitismo está presente. Como lembra Santoro (2003, p.9):

Afirmar a natureza confessional do ensino religioso, longe de ser um


obstáculo, é um fator de crescimento do movimento ecumênico e do diálogo
inter- religioso. Todas as confissões religiosas têm o direito de comunicar a
sua visão cultural às novas gerações por meio do ensino, desde que sejam
reconhecidas e credenciadas.

A questão do ensino às novas gerações reflete os problemas do


desenvolvimento humano.
Erikson, do ponto de vista psicanalítico e cultural, realizou extensas pesquisas
sobre os progressivos estágios do desenvolvimento da maturidade da pessoa, desde
a infância até a idade adulta. Dentre suas conclusões, observa o seguinte: “Temos
relacionado a confiança básica com a instituição da religião” (1971, p.234).
Lembremo-nos que, para este autor, a expressão “confiança básica” designa a
primeira etapa psicossocial a ser construída pela personalidade, além de que não
significa um degrau abandonado posteriormente, mas algo fundamental
continuamente conquistado pela personalidade madura.
Indo mais além, vejamos as contundentes anotações de Viktor Frankl, médico,
psiquiatra, sobrevivente de Auschwitz, que, narrando os horrores do campo de
concentração e observando o comportamento dos prisioneiros, afirma que o
significado que se confere à própria vida fazia diferença entre estes homens e
mulheres torturados e humilhados. O aspecto religioso da vida de cada um deles
sobressaia em sua maneira de enfrentar as situações extremas contra a dignidade
humana as quais eram obrigados a suportar. A leitura de sua obra fundamental nos
leva a inferir a necessidade crucial do ensino religioso, não como uma história da
religião ou como uma doutrinação, mas como uma possibilidade que se abre ao aluno
para sua reflexão pessoal. Como um horizonte novo que se lhe oferece caminhos
abertos à sua escolha. Esta é a idéia do autor, principalmente por ter constatado que
“uma vez que a busca de sentido por parte do indivíduo é bem sucedida, isto não só

44
o deixa feliz, mas também lhe dá capacidade de enfrentar sofrimento” (Frankl, 1987,
p.151).
Os conhecidos estudos realizados por Kohlberg (1981) sobre o
desenvolvimento da ética e da moralidade e as perspectivas da educação moral,
elaborados principalmente a partir de pesquisas empíricas com a aplicação de
problemas que se constituíam em dilemas levaram o autor a estabelecer um quadro
evolutivo com níveis que se superpõem hierarquicamente. Estes níveis partem do
mais elementar, no qual a criança age para fugir da punição ou para obter uma
recompensa até o sétimo nível do exercício livre da justiça e da preocupação
social/ética/moral, com a conotação religiosa bastante forte.
Seus últimos estudos apontam para um oitavo nível, que seria caracterizada
por uma espiritualidade e que resultaria da aprendizagem decorrente da percepção
religiosa da vida. O ensino religioso encontra nas pesquisas de Kohlberg um forte
respaldo, salientando-se que em nenhum momento este aponta para alguma religião
em particular, mas para o papel da religião na capacidade do indivíduo de resolver
dilemas da vida diária.
Podemos concluir que o ensino religioso tem um lugar importante no
desenvolvimento integral da pessoa, principalmente quando se sabe que se faz
necessário o pleno desabrochar vocacional de cada indivíduo. Neste sentido é que
mais se entende a proposta de que há uma vocação da humanidade para transformar
o mundo e há uma vocação de todo ser humano para a vida divina. As duas, como
vimos, são intimamente ligadas: a transformação do mundo condiciona para um
grande número, numa ampla medida, o acesso à vida divina, e, sem uma vida de fé,
a humanidade desespera pela transformação do mundo (SUAVET, 1959, p. 101)
Não podemos, no entanto, nos esquecer da liberdade das pessoas, de modo
que “A pluralidade da sociedade nos mostra a necessidade da convivência das
pessoas filiadas a diferentes grupos religiosos. Não se pode pretender a arbitrariedade
de um ensino religioso único para todos” (LINS, 2004, p. 3). Esta é uma exigência
fundamental para que não se caia numa intolerância e numa forma de preconceitos e
também de perseguições. O respeito à consciência livre da cada um é portanto fim e
base do ensino religioso.
45
O compromisso da escola com o desenvolvimento pleno da pessoa engloba
diferentes aspectos, desde os especificamente individuais a todos os relacionamentos
sociais. Além da excelência de ensino, do ponto de vista científico-técnico, da
informação atualizada e das pesquisas das diferentes áreas de conteúdo do saber, há
que se proporcionar ao indivíduo em formação o ensino religioso, como um dos
pontos fundamentais de sua escolarização. O ensino religioso não é algo distanciado
desta realidade, pois sua proposta coincide exatamente com esta dupla formação para
a criança e para o jovem, não excluindo a alta qualidade que deve ser meta da escola.
Devido à complexidade do tema deste artigo, observa-se que na maioria das
vezes as perguntas ficaram sem resposta. É importante, pois, que pesquisas
abordando a questão do ensino religioso possam continuar a proposta aqui
apresentada. De modo algum pretendíamos concluir este estudo de forma fechada,
pelo contrário, abrimos novos caminhos para reflexão e constante indagação.

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