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VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: Fapesp: Lincoln Institute, 2001.

Espaço intra-urbano: esse desconhecido

A questão semântica
Segundo Villaça (2001), aquilo que a literatura se refere a espaço urbano, relaciona-se ao “processo de
urbanização genericamente abordado” e em último caso aparecendo “elemento de estruturas espaciais
regionais, nacionais, continentais e planetárias”.
Desta forma, quando se estuda os espaços internos do urbano e regional, diz-se estudar o intra-urbano e
o intra-regional.

Espaço e sociedade

Conforme o autor as tendências da análise sócioespacial variam desde aqueles que acham que as
transformações sociais modificam o espaço até aqueles que defendem que as transformações do espaço
modificam a sociedade.
É possível distinguir 3 linhas de estudos:
1) Abordagem tradicional precedente da Escola de Chicago, que acabaram por desembocar em análises
marxistas. Dentro dessa linha destaca-se a Escola da Regulação, na qual sua análise baseia-se na influência da
sociedade, política e economia sobre o espaço com forte ênfase para o social. No entanto, segundo o autor não
tratam sobre: consumo, relações de trocas como “fruto da produção”, questões de valor produzido e não
discorrem “sobre o efeito do espaço sobre o social”.
2) Essa abordagem foca no estudos dos efeitos dos espaço sobre o social. São enfatizados o fator de
segregação das classes sociais como algo necessário no “exercício da dominação”, são enfatizados o fator
econômico, assim como as políticas e ideologias.
3) Tal esfera aborda, de forma dialética, as relações entre espaço e sociedade, mas que ainda está
bastante rudimentar.

Capítulo 3 - Os processos espaciais de conurbação. p. 49-67

Conforme Villaça (2001), conurbação pode ser entendida como “fusão de áreas urbanas”.
O processo de conurbação ocorre quando uma cidade passa a absorver vários núcleos urbanos
localizados à sua volta, pertençam eles ou não a outros municípios. Uma cidade absorve outra
quando passa a desenvolver com ela uma “intensa vinculação socioeconômica”. Esse processo
envolve uma série de transformações tanto no núcleo urbano absorvido como no que absorve.
(VILLAÇA, 2001)

Conforme Villaça (2001) existem formas de processo espacial de conurbação:

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A primeira forma são núcleos que nunca chegaram à condições de cidade, tais localidades
caracterizaram-se por se formarem ao redor de linhas férreas. Podendo até possuir mais de 500 mil habitantes,
porém não possui as características capazes de atender esse número populacional. A segunda forma é quando
seu polo central é formado a posteriori, i.e., no início dá-se por um polo pequeno distante do centro formado
em geral por pessoas de baixa renda e a economia consiste em pequenos comércios, isso ocorre frequentemente
com cidades em que o crescimento “transborda” para as cidades vizinhas, formando bairro afastados da sede da
cidade em questão. No entanto, até recentemente não havia no Brasil esse fenômeno de transbordamento
relacionado à pessoas de uma renda mais alta, os últimos quinze anos tem ocorrido a formação de bairros
afastados de alta renda.
A terceira forma se constitui por aglomerações que atingiram significativo desenvolvimento como
cidade. Em geral caracterizam-se por possuírem um centro forte (características de cidades do interior), ou seja,
o crescimento de cidades médias que cresceram a partir de seu centro.
O quarto processo de absorção constitui-se de cidades pequenas e importantes no período colonial e que
ainda não se expandiram.
A absorção é um processo, em geral lento, de crescente transformação de uma área urbana -
nucleada ou não, com mais ou menos características de cidade - em bairro ou conjunto de
bairros da metrópole. Esses bairro ou conjuntos de bairros podem ser industriais ou residenciais
ou ambos. Caracteriza-se pelos seguintes processos fundamentais: em primeiro lugar, a
tendência à crescente homogeneização socioeconômica em oposição à heterogeneidade que
caracteriza a cidade; em segundo, ocorre uma crescente polarização pelo centro metropolitano; e
em terceiro, a inserção no esquema geral da segregação metropolitana. (VILLAÇA, 2001)

Vias regionais e urbanização


O primeiro efeito que uma via regional ou terminal de transporte urbano provoca nos terrenos
adjacentes é a melhoria de sua acessibilidade e, daí, sua valorização [...]
Em virtude do aumento da acessibilidade, em última instância, ao centro da cidade, aqueles
terrenos adjacentes trarão economia de transporte a seus eventuais ocupantes; seus valores se
alterarão e seus proprietários embolsarão essa valorização. (VILLAÇA, 2001)

Setores oceânicos

Conforme Villaça (2001), diferentemente dos centros urbanos que ganham agilidade com infraestruturas de
transporte, as regiões praianas despertam interesse das classes mais abastadas, ou seja, as infraestruturas ligadas ao
transporte visam atender os interesses deste estrato social.

O valor simbólico do centro

De acordo com o autor o valor que as pessoas têm dado ao centro da cidade faz-se evidente, tal valorização
encontra suas raízes no fato das classes dominantes valorizarem a proximidade ao centro no decorrer da história. No
entanto, uma exceção a algumas cidades estadunidenses caracterizadas pela ocupação das camadas mais ricas nos
subúrbios. Outro exemplo apontado pelo autor é de bairros situados afastados do centro e ocupados por pessoas de alta
renda.

O centro principal

Com o passar do tempo, os centros principais foram sendo deixados pelas camadas mais ricas, dando lugar à
ocupação de pessoas de baixa renda e intensificando o comércio popular e de serviços, e com o desenvolvimento e
crescimento de seus estabelecimentos comerciais, passaram a atender áreas de serviços abandonados pela burguesia.

Os subcentros

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A expressão subcentro será por nós utilizada, [...], para designar aglomerações diversificadas e
equilibradas de comércio e de serviços, que não o centro principal. [...] “há cerca de uns vinte
anos para cá, em certos pontos da metrópole – nos bairros – que se caracterizavam, de modo
predominante, pela função residencial, desenvolveram-se também, com intensidade e
complexidade, muitos daqueles serviços até então só encontrados na área central[...] Esses
bairros, dispondo de serviços assinalados, representam um papel complementar, de centro de
atividades, sendo portanto denominados subcentro”. (VILLAÇA, 2001 apud IBGE-CNG, 1967,
13)
O shopping center

O shopping center é o sucessor da loja de departamentos, que por sua vez é a sucessora da loja
geral, de meados do século XIX. Têm por comum o fato de basear-se na economia de
aglomeração e na variedade de produtos que se complementam (em oposição à especialização).
Isso, aliás, todos esses tipos de estabelecimentos têm em comum com as áreas comerciais
diversificadas tradicionais – os subcentro. [...]
Há, entretanto, uma diferença fundamental entre, de um lado, o shopping center e, de outro, a
loja de departamentos e as lojas dos subcentro tradicionais. Nestes últimos, o comerciante é
quem toma várias decisões importantes a respeito do seu investimento, a começar pela
localização do estabelecimento; no shopping, é o promotor imobiliário quem define, não só a
localização, mas uma série de normas ao comerciante, como horário de funcionamento, aspectos
de comunicação visual, normas de segurança, etc. Ao controlar e impor o mix, também há um
domínio do capital imobiliário sobre o mercantil. O shopping representa pois a penetração do
capital imobiliário na esfera do capital mercantil e a sujeição do comércio varejista e dos
serviços ao capital imobiliário e – através deste – ao financeiro. (VILLAÇA, 2001)

Conforme o autor, os shoppings assim como os supermercados e hipermercados, representam “grande


força de concentração e de rentabilidade espacial”, de modo que um supermercado tem a concentração
equivalente em vendas de muitos outros pequenos estabelecimentos somados, tendo como consequência a
diminuição destes.

Segregação e estruturação do espaço intra-urbano


Torna-se cada vez mais acentuada a divisão de nossas metrópoles em duas cidades divorciadas
uma da outra – a dos mais ricos e a dos mais pobres e excluídos. Essas duas cidades estão
produzindo, inclusive, dois centros distintos: o que chamam de “centro velho”, que é o centro
tradicional, outrora dos mais ricos, mas hoje tomado pelas camadas populares; e o “centro
novo” dos mais ricos

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