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ANÁLISE TÉCNICO-ECONÔMICA DA SUBSTITUIÇÃO DO

HEXANO POR ETANOL NA EXTRAÇÃO DE ÓLEO DE SOJA

POTRICH E2, MIYOSHI SC 1, FURLAN FF1,2, RIBEIRO MPA1,2, GIORDANO RC1,2 e


CRUZ AJG1,2
1
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Química, DEQ/UFSCar
2
Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química,
PPGEQ/UFSCar
E-mail para contato: erich.potrich@gmail.com

RESUMO – O Brasil foi responsável na safra 2016/2017 por 30,7% da soja, 14,5% do
farelo de soja e 15,5% do óleo de soja produzido no mundo. Todo esse óleo obtido
advém da extração utilizando hexano como solvente. Apesar da excelente capacidade
extrativa do hexano, ele é derivado do petróleo, uma fonte não renovável. Uma forma
de tornar o processo de extração mais sustentável seria a substituição do hexano pelo
etanol, um solvente renovável amplamente produzido no Brasil. Processos de extração
utilizando etanol foram realizados em escala laboratorial ou piloto. Assim, simulações
de processos industriais e análises técnico-econômicas (ATE) de sua viabilidade são de
extrema importância. Este trabalho se utiliza do valor presente líquido (VPL) como
medida econômica. Os VPLs, com uma taxa interna de retorno (TIR) de 11%, dos
processos de extração do óleo de soja utilizando hexano, etanol hidratado e etanol
anidro foram comparados. Os processos de preparação, extração e degomagem do óleo
de soja foram simulados no software EMSO (Environment for Modeling, Simulation
and Optimization). A simulação inclui as principais operações da unidade como:
secagem, moagem, quebra, laminação, extração, dessolventização, tostagem,
degomagem e refino. Os produtos foram: óleo de soja refinado, farelo de soja e casca
de soja peletizada. Os dados termodinâmicos foram estimados por métodos de
contribuição de grupos para cada elemento que compõe a matéria-prima e os produtos.
Os valores de VPL calculados para um período de 20 anos de operação foram positivos
para os casos analisados. O processo que utiliza hexano como solvente apresentou VPL
entre 52,6% a 68,8% mais alto que os demais processos. Entretanto, processos que
utilizam etanol apresentam menor impacto ambiental e ainda podem ser otimizados.

1. INTRODUÇÃO
O Brasil se destaca no cenário mundial do agronegócio, como grande produtor de soja e
cana-de-açúcar, como também de seus produtos como óleo de soja e etanol. Atualmente, a
indústria de óleo de soja no Brasil usa o hexano como solvente. Substituir pelo etanol
(advindo da cana-de-açúcar) reduziria o impacto ambiental do processo de extração. A
extração de óleo de soja utilizando etanol tem sido realizada apenas em escala de laboratório
até o momento, portanto a simulação do processo industrial é necessária para avaliar sua
viabilidade econômica. O simulador de processos EMSO (Environment for Modeling,
Simulation and Optimization) é utilizado neste trabalho para esse propósito. A métrica para a
análise tecno-econômica (TEA) foi o valor presente líquido (VPL). No cálculo do VPL
considerou-se: taxa interna de retorno de 11%, imposto de 34%, depreciação nos 10 primeiros
anos, e período de operação da planta de 20 anos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os processos de extração simulados neste trabalho foram implementados no simulador
de processos EMSO. O fluxograma do processo de extração de óleo de soja ilustrado na
Figura 1 foi elaborado a partir de dados de literatura (Meirelles et al., 2011; Sawada et al.,
2014; Mandarino et al., 2015). Quatro configurações diferentes foram analisadas: (1) extração
por hexano (processo tradicional); (2) extração por etanol hidratado; (3) extração por etanol
anidro e sua recuperação por destilação extrativa usando glicerol, e; (4) extração por etanol
anidro e sua recuperação por desidratação utilizando mono etileno glicol (MEG).

Os principais componentes utilizados na simulação foram: água, proteína, óleo, ácidos


graxos, celulose, hemicelulose, lignina, cinzas, glicose, sacarose, impurezas, hexano e etanol.
Os componentes óleo e ácido graxo são pseudocomponentes constituídos da mistura molar de
outros quatro componentes. 12,20% de ácido palmítico (C16H32O2), 4,00% de ácido esteárico
(C18H36O2), 24,86% de ácido oleico (C18H34O2) e 58,94% de ácido linoleico (C18H32O2).

Todas propriedades termodinâmicas foram estimadas usando métodos de contribuição


de grupo: Constantinou/Gani, Bondi e Riedel. O peso médio ponderado das propriedades foi
calculado para os pseudocomponentes. Foi utilizado o modelo termodinâmico UNIFAC para
os desvios da idealidade da fase líquida na etapa de evaporação.

Para analisar o desempenho econômico da planta, utilizou-se a metodologia baseada no


valor presente líquido (VPL), métrica que determina o valor presente de pagamentos futuros
descontados a uma taxa de juros apropriada, menos o custo do investimento inicial. Se o VPL
for positivo, o projeto cobrirá tanto o investimento inicial quanto a remuneração mínima
exigida pelo investidor, a taxa interna de retorno (TIR), gerando um superávit financeiro
(Furlan et al., 2016).

Na análise econômica, assumiu-se período de dois anos para a construção da indústria e


de capital de giro no terceiro ano. A indústria funcionará por vinte anos, com TIR de 11%.
Nos primeiros dez anos de operação, o custo de depreciação assumido foi de 10%. No último
ano de operação, há um retorno sobre o capital de giro. Os impostos foram 34%. O lucro da
indústria vem da venda de três produtos: óleo de soja, farelo de soja e casca de soja. O valor
de venda dos produtos foi pesquisado nos últimos cinco anos no mercado brasileiro, e sua
média foi corrigida com a taxa de inflação brasileira. O valor considerado para os produtos
foi: R$ 2.950,00/ton para óleo de soja, R$ 1.481,00/ton para farelo de soja e R$ 330,00/ton
para casca. Valores em dólar foram convertidos utilizando a conversão de R$ 2,9047 por
dólar, que é média mensal do período compreendido entre janeiro de 2013 e dezembro de
2017.
Figura 1 – Processos de fabricação de óleo de soja implementados no EMSO

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com base em valores levantados em: indústrias brasileiras, Aspen Plus V8.8 e Cheng e
Rosentrater (2017), construiu-se a Tabela 1 que apresenta os valores encontrados para as
quatro configurações de extração avaliadas. Pode-se constatar que a planta com extração por
hexano obteve o maior de VPL, sendo o melhor resultado com etanol obtido para o solvente
anidro com recuperação por glicerol (VPL 52,6% menor que para o hexano). Ressalte-se que
o processo com etanol não foi otimizado. Além disso, incentivos fiscais, agregação de valor
por marketing verde ou por venda de crédito de carbono podem tornar atraente a alternativo
com etanol em comparação ao hexano.
Tabela 1 – VPL para extração de óleo de soja por quatro configurações diferentes

Substância Custo Fixo Capital de giro Custo variável VPL (milhões


Extratora (milhões de R$) (milhões de R$) (R$/ton) de R$)

Hexano 278,458 41,770 64,610 314,357

Etanol Hidratado 346,385 51,957 90,116 138,875

Etanol Anidro
350,059 52,509 87,136 148,925
(glicerol)

Etanol Anidro
393,522 59,030 89,741 98,145
(MEG)

4. CONCLUSÕES
Dentre as alternativas avaliadas para extração de óleo de soja usando etanol como
solvente, o melhor resultado foi obtido para a que utiliza etanol anidro recuperado por
glicerol, embora o valor do VPL obtido tenha sido 52,6% inferior ao valor obtido para o
processo de extração com hexano. Contudo, entende-se que o resultado é promissor,
mormente porque a planta empregando etanol ainda não foi otimizada.

5. REFERÊNCIAS
CHENG MH, ROSENTRATER KA, Economic feasibility analysis of soybean oil production
by hexane extraction. Industrial Crops & Products., v. 108, p. 775-785, 2017.
FURLAN FF, COSTA CBB, SECCHI AR, WOODLEY JM, GIORDANO RC, Retro-
Techno-Economic Analysis: Using (Bio)Process Systems Engineering Tools To Attain
Process Target Values. Ind. Eng. Res., v. 55 (37), p. 9865-9872, 2016.
MANDARINO JMG, HIRAKURI MH, ROESSING AC, Tecnologia para produção do óleo
de soja: descrição das etapas, equipamentos, produtos e subprodutos. 2ª Edição. Embrapa
Soja. Documentos 171. 41 p., 2015.
MEIRELLES AJA, RODRIGUES CEC, GONÇALVES CB, BATISTA EAC, KATEKAWA
ME, PI0900869-1 A2, INPI, 2011.
SAWADA MM, VENÂNCIO LL, TODA TA, RODRIGUES CEC, Effects of different
alcoholic extraction conditions on soybean oil yield, fatty acid composition and protein
solubility of defatted meal. Food Research International., v. 62, p. 662-670, 2014.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à FAPESP pelos auxílios Proc. 2017/13993-9 (pós-doutorado de Simone
Miyoshi), 2014/21252-0 e 2016/10636-8, bem como ao CNPq (doutorado de Erich Potrich).

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