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Ian e David, meus filhos gêmeos de um ano e dois meses, começaram sua vida acadêmica. Desde a
semana passada eles estão na escola, não um simples berçário ou um hotelzinho, mas uma escola
mesmo, na qual o etimologista vai identificar o termo grego "scholé", que significa primariamente
"ócio", "tempo livre", mas também "estudo", "aula" e, finalmente, "escola".
Para dissolver o paradoxo, precisamos tentar entender melhor como os gregos viam o ócio, a
"scholé". Aristóteles, na "Política" (livro VIII, parte III), escreveu: "O primeiro princípio de toda
ação é o ócio. Ambos (ação e ócio) são necessários, mas o ócio é melhor do que a ocupação e é o
fim em razão do qual esta existe".
Tanto para os gregos como mais tarde para os latinos, o ócio é o valor positivo. Não deve ser
entendido como uma inatividade embora possa também sê-lo, mas sim como o tempo que alguém
gasta em seu próprio interesse. Não é surpreendente, portanto, que "scholé" esteja na raiz da palavra
"escola".
O termo negativo, "ascholía" em que o prefixo "a" indica privação tem o sentido de "ocupação" e
também o de "dificuldade". O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao termo latino "otium".
Acrescido do prefixo negativo "nec", forma a palavra "negotium". "Dedicar-se aos negócios" é,
portanto, tudo aquilo que os antigos cuidavam de evitar.
Filósofos como o alemão Josef Pieper (1904-1997) foram ainda mais longe, a ponto de afirmar que
o lazer, o ócio, ao inaugurar a reflexão filosófica, é o fundamento da cultura.
Voltando aos gêmeos, eles iniciam agora sua aventura pelo mundo da cultura. Vão passar espero os
próximos vinte e tantos anos dedicando seu tempo sua "scholé" a si mesmos, à sua formação
intelectual. Após esse período, em que serão de alguma forma moldados pela sociedade, estarão
aptos a dar seus próprios passos nas carreiras que escolherem, podendo eventualmente deixar
marcas na sociedade que os conformou.
(…)