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TESTE

Defendendo na Terra o Domínio do Ar


A História da Infantaria da Aeronáutica

INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA


Rio de Janeiro
2017
FICHA TÉCNICA

Defendendo na Terra o Domínio do Ar


A História da Infantaria da Aeronáutica

Edição
Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

Editor
Maj Brig Ar R/1 José Roberto Scheer

Autor
Cel Inf R/1 Hermes de Souza Passos
1º Ten QCOA HIS Tiago Starling de Mendonça

Projeto Gráfico
Seção de Tecnologia da Informação

Capa
3S Tiago de Oliveira e Souza

Impressão
CONTACTUS SOLUÇÕES GRÁFICAS

Rio de Janeiro
2017
Apresentação

N ascida praticamente junto com a criação do Ministério da Aeronáutica, em


1941, em plena Segunda Guerra Mundial, a Rainha das Armas vem, até os
nossos dias, demonstrando a sua importância e o seu valor.
O preparo dos homens que a compõem, a diversidade das missões que realiza e
a evolução na sua formação bem consolidam o seu imprescindível papel no seio da
Força Aérea Brasileira.
A Infantaria com os seus combatentes, os infantes, sempre foi a principal força
combativa de um exército.
Seja em missões de guerra ou de paz, atacando ou defendendo, ela, no fundo, vive e
sobrevive para cuidar, para proteger.
O infante, guerreiro de elite, é preparado para combater em todos os tipos de terre-
no e sob quaisquer condições meteorológicas, além de poder utilizar vários meios de
transporte para ir ao campo de batalha.
Várias escolas da FAB já abrigaram e testemunharam as suas formações, o seu de-
senvolvimento através do tempo e a sua natural evolução operacional.
Não foi senão pela razão e pelo mérito que galgou o generalato. Da mesma forma,
transformou-se, multiplicando-se em Batalhões, Batalhões Especiais, Grupos e Briga-
da de Artilharia Antiaérea.
Essa merecida ascenção deve-se ao respeito pelas suas tradições e, fundamental-
mente, pela necessidade do acompanhamento de tudo que o progresso visto nessa
época nos compele a agir.
Exemplo de garra, de vontade e de perseverança, a Infantaria, neste momento, ale-
gra o Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica por se orgulhar em apresentar um
resumo de sua marcial trajetória.

TU ÉS DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA O FUZIL,


VIGILANTE, EM DEFESA DO BRASIL

Maj Brig Ar R/1 José Roberto Scheer


Subdiretor de Cultura do INCAER
TESTE
Defendendo na Terra o Domínio do Ar
A História da Infantaria da Aeronáutica

Hermes de Souza Passos


Tiago Starling de Mendonça

Introdução

A criação da Infantaria da Aeronáutica se deu praticamente com o surgimento do


Ministério da Aeronáutica (MAER), no início da Segunda Guerra Mundial.
O ato de criação do novo Ministério estabeleceu, desde logo, condições para o
desenvolvimento da Força Aérea Brasileira (FAB). Cabe enfatizar que a Força Aé-
rea representa o componente militar do Poder Aeroespacial que também é composto
pela Aviação Civil, pela Indústria Aeronáutica, pela Infraestrutura Aeroportuária e pelo
Complexo Tecnológico Aeronáutico.
Assim, os elementos existentes nas aviações do Exército Brasileiro (EB), da Marinha
do Brasil (MB) e da Aeronáutica Civil passaram a pertencer ao novo órgão, observando
que o novo Ministério recebeu todo o acervo de material e também de pessoal.

5
Em 10 de novembro de 1941, por in- Quanto aos oficiais, somente em 18
termédio do Decreto nº 3.810, foi organi- de maio de 1942, através da Portaria
zado o Corpo de Oficiais da Aeronáutica, n° 40, eram aprovadas as instruções para
o qual era composto da seguinte maneira: o recrutamento de segundos-tenentes do
Quadro de Infantaria de Guarda.
I - Combatentes
O Quadro de Oficiais de Infantaria de
a) Quadro de Oficiais Aviadores; e Guarda foi criado com acesso somente até
b) Quadro de Oficiais de Infantaria de o posto de primeiro-tenente e seu efetivo
Guarda. composto por trinta segundos-tenentes e
quinze primeiros-tenentes.
II - Serviços Pode-se considerar que o pensamen-
a) Quadro de Oficiais Intendentes; to dos oficiais, que, naquele primeiro
momento, procuravam organizar a In-
b) Quadro de Oficiais Médicos; fantaria na Força Aérea, foi estruturá-la
c) Quadro de Oficiais Engenheiros; e diferentemente da Infantaria do Exército
(conquista e manutenção do terreno) e da
d) Quadro de Oficiais Mecânicos.
Infantaria da Marinha (Fuzileiros Navais
– projeção do Poder Naval). Acredita-se
Por outro lado, o Decreto-Lei n° 3.930, que houve a preocupação de que a Infan-
de 11 de dezembro de 1941, criou as seis taria se adequasse à doutrina operacional
primeiras Companhias de Infantaria de e à cultura organizacional da nova Força,
Guarda (antiga denominação da Infantaria pensamento que seria sedimentado com
da Aeronáutica), que funcionariam nas Ba- a previsão da formação dos Oficiais de
ses Aéreas de Belém, de Fortaleza, de Re- Infantaria na Escola de Aeronáutica, de
cife e do Galeão e nos Destacamentos de acordo com o Decreto nº 30.698, de 1º
Natal e Salvador, que seriam operados pela de abril de 1952.
United States Army Air Force (USAAF).
Tal situação permitiria propiciar, com
Desta maneira, a história da Infanta- a continuidade dos cursos de pós-forma-
ria da Aeronáutica se confunde com a da ção de carreira, que os oficiais obtivessem
Força Aérea. Em 23 de janeiro de 1942, as competências necessárias para se tor-
por intermédio da Portaria n° 6, tendo em narem formuladores das doutrinas que
vista a urgência em organizar as seis já ci- adequariam as atividades da Infantaria à
tadas Companhias, foram baixadas dire- FAB. Apesar de tal pensamento, questões
trizes para o preenchimento dos próprios pontuais ou emergenciais vieram propor-
efetivos. Conforme essas normas, os cla- cionar outro encaminhamento à questão.
ros existentes seriam preenchidos com
sargentos e cabos da ativa do Exército, de O Decreto n° 31.630, de 21 de outubro
preferência da Arma de Infantaria, bem de 1952, fixou a idade limite, bem como
como por sargentos e cabos da reserva as condições para a matrícula no Curso
do Exército. de Formação de Oficiais de Infantaria de
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Guarda (CFOIG) na Escola de Aeronáu- alunos das escolas de formação de ofi-
tica, a saber: ciais do Exército e da Aeronáutica, quais
sejam: a Academia Militar de Agulhas
a) ser suboficial ou sargento da ativa;
Negras (AMAN), formadora de oficiais
b) ter até 29 anos de idade; e da Força Terrestre, e a Academia da For-
c) ter sido aprovado, na época, em ça Aérea (AFA), antigamente denomina-
concurso de admissão de nível corres- da Escola de Aeronáutica, formadora de
pondente ao Curso Científico. oficiais da Força Aérea1.
O espadim é o símbolo do cadete,
O Aviso n° 32, de 10 de junho de 1953, representando o futuro oficial que, por
autorizou a matrícula dos suboficiais e sua vez, tem, como símbolo do poder de
sargentos possuidores da medalha Cruz comando, a espada. As formaturas de re-
de Aviação, independentemente de con- cebimento, tanto do espadim quanto da
curso de admissão no CFOIG. Este foi espada, são marcadas por grande impor-
um ato que beneficiou os graduados que tância, formalidade e marcialidade, sendo
participaram das operações de guerra na que a formatura de entrega da espada,
Itália e no Brasil durante a Segunda Guer- que é realizada ao fim do curso de for-
ra Mundial, pois só os mesmos possuíam mação de oficiais, em várias ocasiões foi
tal condecoração. presidida pelo Presidente da República.
No mesmo mês, por solicitação dos Como solução para atender a neces-
suboficiais e sargentos selecionados para sidade de novos oficiais, o Ministro da
o referido curso, referendada por parecer Aeronáutica determinou a transferência
da Diretoria de Ensino, foi adiado o início do CFOIG para o Curso de Oficiais Es-
do CFOIG na Escola de Aeronáutica. pecialistas (COE), o qual passou a se de-
A razão de tal solicitação prende-se ao nominar “Escola de Oficiais Especialistas
fato de que os militares que não haviam e de Infantaria de Guarda (EOEIG)”, de
prestado concurso consideraram uma acordo com o Decreto n° 33.053, de 15
possível dificuldade de integração com de junho de 1953. Dessa forma, os ofi-
os jovens cadetes da Escola, pois já eram ciais formados deste ponto em diante
homens calejados, a maioria com mais de poderiam, conforme a legislação vigente
trinta anos, e não se sentiriam bem, farda- na época, ser promovidos até o posto de
dos com espadim. Tenente-Coronel, sem, contudo, possuí-
rem, no futuro, o direito de matrícula no
Cumpre explicar que o termo “cadete” Curso de Comando e Estado-Maior da
é o que designa oficialmente os militares Aeronáutica (CCEM).

1 A Escola Naval, centro de formação da oficialidade da Marinha, confere o termo “Aspirante” a seus
alunos.

A História da Infantaria da Aeronáutica 7


A Escola de Oficiais Especialistas e mento, Fotografia, Controle de Tráfego
de Infantaria de Guarda (EOEIG) Aéreo e Meteorologia) e de Infantaria de
Guarda. Os oficiais formados pela Escola
eram promovidos, no máximo, ao posto
de Tenente-Coronel, sem, contudo, terem
direito a cursar, posteriormente, a Escola
de Comando e Estado-Maior da Aero-
náutica (ECEMAR), principal requisito
para a promoção ao posto de Coronel.
Os cursos da Escola tinham a duração
de dois anos. Havia disciplinas comuns
a todos os cursos e disciplinas específi-
Formatura na EOEIG, em meados dos anos 60. cas. No geral, o conteúdo programático
Fonte: Arquivo Histórico do CENDOC era dividido em Instrução Básica (com-
preendendo as Instruções Fundamental,
A EOEIG funcionava no bairro de Teórica-Especializada e Militar), Técnica
Bacacheri, núcleo inicial da aviação na ci- e Aplicada. Ao todo, a carga horária mi-
dade de Curitiba. O local é sede, desde a nistrada era de, aproximadamente, 2.400
década de 1930, do Aeroclube do Para- horas/aula para cada um dos cursos.
ná, bem como de diversas organizações A primeira turma do CFOIG formou-
militares (OM), que lá operam desde os se em 28 de junho de 1955, sendo com-
tempos da Aviação do Exército, quando posta de dezenove aspirantes a oficial.
a FAB ainda não havia sido criada. Em dezembro de 1956, foi fixado um
Em 1937, foi ativado o 5º Regimen- novo efetivo de oficiais da Aeronáutica,
to de Aviação, ainda sob a jurisdição do sendo que o Quadro de Oficiais de In-
Exército. Com a criação da FAB, em fantaria de Guarda era constituído por 1
1941, o Regimento é incorporado e pas- tenente-coronel, 3 majores, 25 capitães,
sa a operar apoiado pelo recém-criado 65 primeiros-tenentes e um número inde-
Destacamento de Base Aérea de Curitiba. finido de segundos-tenentes.
Nos anos de 1950, o local passa a rece- A partir de 1959, os cadetes desligados
ber os cursos da EOEIG, e, finalmente, da Escola de Aeronáutica, por motivos
em 1982, o Segundo Centro Integrado de de saúde ou inaptidão ao voo, passaram
Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aé- a ter a oportunidade de permanecer nas
reo (CINDACTA II) passa a operar no fileiras da FAB por meio da formação na
local. EOIEG. Esta possibilidade já encontrava
Assim, a partir de agosto de 1953, a amparo no Aviso Ministerial nº 126/1942.
EOEIG passa a formar oficiais da ativa Mas, somente o Decreto nº 43.920, de 20
nos quadros de Especialistas (nas especia- de julho de 1958, regulamentou a auto-
lidades de Comunicações, Avião, Arma- rização para ex-cadetes ingressarem na

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referida Escola. Entretanto, este Decreto contemplou apenas a admissão no Curso de
Oficiais Especialistas em Suprimento Técnico. A matrícula de ex-cadetes no CFOIG
foi regulamentada pelo Aviso Ministerial nº 83-GM3, de 08 de novembro de 1963,
sendo que, apenas em 1965, ocorreram as primeiras matrículas oriundas deste ato.
A questão da formação dos oficiais de Infantaria foi retomada décadas depois, vol-
tando-se à ideia original da formação na Escola da Aeronáutica, já renomeada como
Academia da Força Aérea, proporcionando à Infantaria na Força Aérea um salto de
qualidade em todos os aspectos.

Ministro da Aeronáutica Nelson Freire Lavenère-Wanderley e seu sucessor, Ministro Eduardo Gomes, em
visita à EOEIG, no ano de 1964. Fonte: Arquivo Histórico do CENDOC

A História da Infantaria da Aeronáutica 9


A Estruturação das Unidades de unidade de Polícia Militar (precursora da
Infantaria da Aeronáutica Polícia da Aeronáutica) nas estruturas do
Quartel General de cada Comando de
Ao se realizar uma pesquisa historio-
Zona Aérea.
gráfica sobre a estruturação das unidades
de Infantaria da Aeronáutica, verificou-se
a existência de três fases distintas:

1ª Fase
Compreendida entre a década de 1940
e final da década de 1970, remonta à
criação e estruturação do Ministério da
Aeronáutica e da própria Infantaria. Na
data de 11 de dezembro de 1941, pelo
Decreto-Lei nº 3.930, foram criadas as
seis primeiras Companhias de Infantaria
de Guarda nas Bases Aéreas de Belém,
Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e do
Galeão. As bases estavam localizadas nas Capacete de uma antiga unidade de Polícia Militar
áreas de operações do Teatro de Guerra da Aeronáutica. Fonte: Acervo Histórico
da Segunda Guerra Mundial.2 da Base Aérea de Natal
Essas Companhias, criadas com estru-
tura ternária tradicional3, tinham como Posteriormente, já na década de 1950,
encargos, entre outros, fornecer os ele- as bases aéreas passaram a contar com
mentos de guarda, vigilância e defesa Companhias de Polícia da Aeronáutica
imediata das bases aéreas, aeródromos, e, em 1964, o efetivo da Polícia da Ae-
campos de pousos e estabelecimentos ronáutica das 3ª e 6ª Zonas Aéreas foi
da Aeronáutica. Em 1946, por intermé- agrupado no Esquadrão de Polícia da
dio do Decreto nº 9.889, foi criada uma Aeronáutica (EPA).

2 Segundo John W. Buyers, no livro “A História do 1º Grupo de Caça - 1943/1945”, no efetivo do 1º Grupo
de Aviação de Caça (1º GAvCa) para as ações na Segunda Guerra Mundial, houve a participação de gradu-
ados da Infantaria que trabalharam na segurança terrestre daquela Unidade, a saber:
- 2º Sgt Q IG FI José Adolfo Teixeira;
- 2º Sgt Q IG FI José da Silva Rondon; e
- 2º Sgt Q IG FI Severino Pessoa Muniz.

3 Estrutura de composição de tropas que consiste em três grupos de combate formando um pelotão, três pelotões
formando uma companhia e três companhias formando um batalhão.

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2ª Fase pitão. Além disso, a formação do oficial
foi simplificada para apenas um Estágio
Representa o período da década de
de Adaptação ao Oficialato, com duração
1980 a meados da década de 1990, ca-
de cerca de três meses e sem exigência de
racterizando-se na mudança de denomi-
que o aluno fosse graduado em curso su-
nação da Infantaria de Guarda para In-
perior.
fantaria da Aeronáutica, desvinculando
a aplicação da citada arma às atividades O Ministro da Aeronáutica, tendo em
exclusivas de defesa, e redirecionando-a mão o referido relatório, determinou a
no contexto da Força Aérea Brasileira. A assessoria de um oficial superior de In-
formação de oficiais passou a ser realiza- fantaria de Guarda, no sentido da contra-
da pela Academia da Força Aérea (AFA), argumentação das soluções apresentadas.
ombreando os futuros oficiais de Infanta- Das ponderações desse oficial4, muito
ria à elite da juventude militar brasileira. A bem fundamentadas, surgiu a determi-
segunda fase é marcada também por uma nação do Ministro de se nomear outro
nova estruturação da Infantaria. grupo de trabalho para tratar do tema em
questão. Desta vez, com o assessoramen-
É preciso ter em conta que, em termos
to de um oficial superior de Infantaria de
de evolução, não se verificou nenhuma
Guarda.
mudança organizacional nos 14 anos que
se seguiram entre 1966 até 1980. Incontinenti, o Sr. Ministro encami-
nhou ao Presidente da República um
Em 1981, o Ministro da Aeronáutica
decreto, modificando o nome da Infan-
determinou a composição de um grupo
taria de Guarda para Infantaria da Aero-
de trabalho com a finalidade de promover
náutica.Tal modificação semântica pode
a reestruturação do Quadro de Oficiais
parecer trivial aos olhos do leigo, mas a
da Aeronáutica. O trabalho desse grupo,
realidade é outra.
composto por sete oficiais superiores,
gerou um relatório final que sugeria ao A Infantaria de Guarda é, na verdade,
Ministro da Aeronáutica a extinção dos uma tarefa dentro da Infantaria, ligada ao
quadros de oficiais especialistas e de In- trabalho de guarda e segurança de patri-
fantaria de Guarda, a criação de um novo mônio com características nitidamente
quadro de oficiais composto por militares defensivas. Há na Infantaria um escopo
oriundos do Quadro de Suboficiais e Sar- diverso de subespecialidades como, por
gentos, selecionados por concurso e com exemplo, a Infantaria de Selva, a Infanta-
possibilidade de acesso até o posto de Ca- ria de Caatinga, a Infantaria Paraquedista,

4 O oficial em questão foi o Cel Inf R/1 CALMERON Vieira Leão, formado na EOEIG em 1964 e com
mais de cinquenta anos de relevantes serviços prestados à FAB e à própria Infantaria. O Cel Calmeron usou de
todos seus conhecimentos e do trânsito que possuía com o então Ministro da Aeronáutica - Ten Brig Ar DÉ-
LIO Jardim de Mattos - para articular a reestruturação da Infantaria e a formação de seus oficiais na AFA.

A História da Infantaria da Aeronáutica 11


a Infantaria da Marinha (Fuzileiros Na- Em fevereiro de 1986, foi realizado o
vais), entre outros. A nova denominação 1º Simpósio da Infantaria da Aeronáuti-
- Infantaria da Aeronáutica (INFAER) - ca, em Brasília, reunindo oficiais de todos
veio acompanhada de uma nova metodo- os postos e das diversas unidades, com o
logia de emprego, doutrina e armamento. intuito de aglutinar, em um documento,
Enquanto as providências citadas an- sugestões a serem passadas para o Alto
teriormente eram tomadas, o Grupo de Comando da Aeronáutica, a fim de possi-
Trabalho concluía o estudo com a reco- bilitar o incremento das condições opera-
mendação de que fosse mantido o Qua- cionais relativas à Infantaria da Aeronáu-
dro de Oficiais de Infantaria. Além disso, tica.
foi aprovada sua reformulação com aces- Em 15 de agosto de 1986, foi instituí-
so até o posto de Coronel, formação pela do, sob a coordenação do COMGEP, um
AFA e previsão da realização do Curso concurso, no âmbito de toda a FAB, vi-
Básico de Admissão (CBA) e do Curso sando à escolha da “Canção da Infantaria
de Comando e Estado-Maior (CCEM), da Aeronáutica”. No dia 10 de dezembro
ambos ministrados pela ECEMAR. de 1986, a Portaria n° 1.184/GM3 apro-
O Comando-Geral do Pessoal vou a canção vencedora do concurso,
(COMGEP) tomou as providências ne- cuja autoria pertence ao Suboficial Músi-
cessárias para a consecução das decisões co Sebastião Gonçalves Ribeiro. No
do Ministro, porém, solicitou ao Estado- dia 11 de dezembro de 1986, a canção foi
Maior da Aeronáutica (EMAER) uma de- executada pela primeira vez em uma for-
finição sobre o futuro oficial de Infantaria matura militar comemorativa do “Dia da
da Aeronáutica, tendo em vista a necessi- Infantaria da Aeronáutica”.
dade de se elaborar um currículo acadê-
mico em nível de 3° Grau. Assessorado Criação dos BGS/BINFA
pelo mesmo oficial do grupo de trabalho,
Concomitantemente ao crescimento
o Coronel Calmeron, o EMAER pôde
do Ministério da Aeronáutica e ao aper-
desenvolver um currículo afinado com
feiçoamento das atividades desenvolvidas
o perfil do oficial de Infantaria, voltado
pela FAB, novas frações de tropa de In-
para a ofensiva.
fantaria foram sendo criadas e ativadas,
Em 1983, três oficiais foram seleciona- para atender às necessidades de seguran-
dos para cursar o CBA. ça nas nascentes OM do Ministério.
Nesta fase, foi instituído o “Dia da
Destarte, seguiu a Infantaria de Guar-
Infantaria da Aeronáutica”, por meio
da, ao longo dos anos,  absorvendo cada
da Portaria n° 0954/GM3, de 13 de ju-
vez mais novas atribuições, o que veio a
lho de 1984, sendo comemorado em 11
ampliar substancialmente seu campo de
de dezembro, em uma alusão ao ano de
atuação dentro da Força Aérea.
1941, quando, nesta data, foi publicado o
decreto criando as primeiras Companhias Desta forma, os oficiais desse quadro,
de Infantaria da Aeronáutica. além de comandantes de unidades e de su-
12 Defendendo na Terra o Domínio do Ar
bunidades de tropa, passaram, também, a Numa modificação fundamental para a
chefiar Seções de Contra-Incêndio, Ban- estrutura da Infantaria da Aeronáutica, a
das de Música, Seções de Material Béli- Portaria n° R-124/GM3, de 10 de mar-
co, Seções de Instrução Militar, Seções ço de 1983, criou os Batalhões de Polícia
Mobilizadoras e Juntas de Alistamento de Aeronáutica (BPA), nos QG dos Co-
Militar. mandos Aéreos Regionais, e Batalhões de
Guarda e Segurança (BGS) em 42 organi-
Os oficiais, suboficiais e sargentos de
zações do MAER, comandados por ma-
Infantaria passaram ainda a ter importan-
jores de Infantaria, que, embora não fos-
te participação: na instrução militar dos
sem unidades independentes, finalmente
alunos das escolas de formação do Mi-
possibilitaram conjugar, sob comando
nistério; no planejamento e na execução
único, as operações de Polícia da Aero-
do cerimonial militar; no enquadramen-
náutica e de Segurança e Defesa, dentre
to disciplinar da tropa; na organização,
outras que, afetas à Infantaria, até então
orientação e controle dos serviços de
se encontravam espalhadas sob os mais
guarda e vigilância; e na formulação dos
diversos comandos dentro das unidades.
planos de segurança das OM.
Objetivando corrigir distorções, o
EMAER sugeriu, em setembro de 1984,
a criação de um novo tipo de unidade de
Infantaria da Aeronáutica, o que veio a
se efetivar pela Portaria n° R-531/GM3,
de 26 de setembro de 1984. A idéia dessa
nova unidade foi resultado do esforço de
um grupo de trabalho sediado em Brasília
e que contou, como membros, de oficiais
de Infantaria que foram ex-cadetes, atin-
giram o oficialato superior e que, através
de uma visão mais ampla da operacionali-
dade da Arma no âmbito da Força Aérea,
conceberam os Batalhões de Infantaria
da Aeronáutica (BINFA).
O documento citado extinguiu os
BGS e BPA e criou os BINFA, unidades
de múltiplo emprego, que incluíam su-
bunidades de Infantaria da Aeronáutica,
de Polícia da Aeronáutica e de Contra-
Incêndio.  Estas unidades enquadravam,
Componentes do Pelotão de Cães de Guerra da também, as Bandas de Música e Marciais,
Cia. de Polícia de Aeronáutica. Seções Mobilizadoras e de Instrução Mi-
litar e tinham como finalidade realizar as
A História da Infantaria da Aeronáutica 13
atividades da arma em todas as OM do tenentes-coronéis ou majores, também
Ministério Aeronáutica. de Infantaria, conforme estabelecido em
Os BINFA passaram a ser subordi- portaria de ativação.
nados diretamente ao Comandante da
Organização a que pertenciam, sendo co- A Portaria n° R-532/GM3, de 26 de
mandados por tenentes-coronéis de In- setembro de 1984, aprovou as “Instru-
fantaria, no caso dos BINFA de Coman- ções para Organização e Funcionamento
dos Aéreos Regionais (COMAR), ou por dos BINFA”.

Organograma do BINFA

14 Defendendo na Terra o Domínio do Ar


A Formação na Academia da Força Aérea (AFA)

A transferência da formação do oficial ção de Oficiais de Infantaria (CFOINF)


infante da EOEIG para a AFA é conside- na Academia da Força Aérea.
rada um marco no processo de reestrutu- O CFOINF, em seu ano inaugural no
ração da Infantaria. A primeira turma de “Ninho das Águias”, trazia em seu bojo
infantes formados na Academia iniciou as competências básicas de um curso su-
seu curso em 1982 e formou-se em 12 de perior de Engenharia, a ser ministrado
dezembro de 1984. em dois anos. Nos anos seguintes, a Ins-
trução Técnico-Especializada reforçou-
Ao longo de seus quase 30 anos de se, na parte prática, com o acréscimo das
existência, a EOEIG formou cerca de disciplinas de Tática de Infantaria, Ope-
380 oficiais de Infantaria. A despeito de rações e Sobrevivência na Selva.
sua contribuição inconteste para a his- A tabela a seguir esclarece melhor este
tória da atividade infante na FAB, é fato ganho qualitativo, demonstrando a dife-
reconhecer o salto qualitativo que repre- rença entre a grade curricular de ambos
sentou a realização do Curso de Forma- os cursos5:

EOIG 1981 AFA 1984


Instrução Científica 872 tempos 3068 tempos
Instrução Técnico-Especializada 1404 tempos 1519 tempos
Total 2276 tempos 4587 tempos

5 Fonte: PASSOS, 2002

A História da Infantaria da Aeronáutica 15


Pode-se perceber que a carga horária Os ganhos na instrução resultaram em
ministrada na AFA praticamente dobrou, oficiais mais bem preparados. Mas, os be-
quando comparada aos tempos de aula nefícios possibilitados pela formação na
da EOEIG. Enquanto que na instrução AFA não se limitam aos aspectos teóri-
científica da EOEIG havia 17 discipli- cos e técnicos da formação profissional.
nas, a mesma modalidade de instrução É mister considerar o estreitamento da
na AFA ministrava 37 disciplinas. Hou- convivência entre os cadetes de Infanta-
ve acréscimos significativos: maior tem- ria e a nata da juventude militar; os futu-
po para Cálculos e Geometria, Desenho ros oficiais intendentes e aviadores, que
Técnico, Física e Química. Foram inseri- iriam comandar a FAB no futuro. Ao
dos três módulos de Língua Portuguesa, unirem-se a eles, sob a égide de uma mes-
disciplina que era inexistente na EOEIG. ma instituição (o tradicional “Ninho das
Além disso, houve um aumento de 450 % Águias”), os jovens infantes comungaram
no tempo disponibilizado para Educação cultura e valores, agregando-se a essa elite
Física Militar. de oficiais e, com eles, criando laços de
fraternidade e espírito de corpo.
No tocante à Instrução Técnico-Espe-
cializada, houve um acréscimo de 14 disci- A formação na AFA possibilitou ainda
plinas, montante que representava a totali- a continuidade dos estudos em nível de
dade das disciplinas ofertadas na EOEIG. pós-formação, pois o diploma da Acade-
Foram também acrescentados tempos mia era pré-requisito para os estudos na
para as disciplinas Equipamento Bélico e ECEMAR, o que fez a Infantaria galgar
Tática de Infantaria, que, além de 130 tem- passos em direção ao oficialato superior e
pos extras, ganhou três módulos a mais. aos postos de oficial-general.
Na AFA, foi dada maior ênfase no caráter Por conta do conteúdo curricular dos
prático das atividades de Infantaria. cursos oferecidos pela ECEMAR, o ofi-

Primeiro curso de Formação de Oficiais de Infantaria (CFOINF) na Academia da Força Aérea, em 1982.
Sentados: Instrutores do curso. Em pé: cadetes da primeira turma de Infantaria.
Fonte: COMANDO GERAL DE OPERAÇÕES AÉREAS, 2011

16 Defendendo na Terra o Domínio do Ar


cial de Infantaria passou a reunir as con- 3ª Fase
dições para participar das deliberações
A terceira fase representa um novo pa-
dos órgãos de comando, direção-geral e
tamar para as atividades da Infantaria.
estado-maior.
Reestruturada em 1997, a Infantaria
Com efeito, em outubro de 2010, treze
da Aeronáutica passou a ter, como órgão
integrantes da primeira turma de Infanta-
centralizador das atividades de segurança,
ria formada na AFA foram oficialmente
o Comando-Geral de Operações Aére-
matriculados no Curso de Política e Es-
as (COMGAR), através da Subchefia de
tratégia Aeroespaciais (CPEA – 2011),
Operações Terrestres, transformada, em
realizado na ECEMAR.
1999, no Centro de Operações Terrestres
da Aeronáutica (COTAR) que, a partir de
2007, passou a ser chefiado pelo primeiro
oficial-general de Infantaria da Aeronáu-
tica, Brig Inf Agostinho SHIBATA.
Com a criação do COTAR, observa-
ram-se produtivas inovações, como a
incorporação do Esquadrão Aeroterres-
tre de Salvamento (EAS - PARA-SAR),
Formatura de entrega de espadas, em 12 de instituição da Reunião Anual de Infan-
dezembro de 1984, onde ombreiam aspirantes a taria (RAINF) e o desenvolvimento da
oficial Aviadores, Intendentes e de Artilharia Antiaérea de Autodefesa. Além
Infantaria da Aeronáutica.
disso, foram editadas várias publicações
Fonte: COMANDO GERAL DE doutrinárias em prol da organização, fun-
OPERAÇÕES AÉREAS, 2011
cionamento e emprego da Infantaria.
Na história recente do EAS, destaca-se
a operação de resgate das vítimas do voo
1907, da Gol Linhas Aéreas, ocorrido em
29 de setembro de 2006, que vitimou 154
pessoas. Em meio à selva amazônica, en-
frentando toda sorte de intempéries e di-
ficuldades, estiveram na linha de frente da
operação 37 militares do PARA-SAR, tra-
Confraternização da 1ª turma de oficiais balhando incessantemente para recolher
de Infantaria da Aeronáutica, no Clube de os despojos da vítimas, e proporcionar às
Aeronáutica de Brasília, por ocasião da promoção suas famílias um luto digno. Com dura-
ao posto de coronel, contando com a presença ilustre ção de 54 dias, tal operação foi a maior já
do Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti SAITO, empreendida no Brasil, computando um
Comandante da Aeronáutica.
total de 1534 horas/voo, empregando 49
Fonte: COMANDO GERAL DE aeronaves, mobilizando cerca de 60 orga-
OPERAÇÕES AÉREAS, 2011
A História da Infantaria da Aeronáutica 17
Militares do PARA-SAR sendo içados até uma clareiras abertas pela queda do avião da Gol,
durante a operação de resgate das vítimas do vôo 1907, em 2006.
Fonte: Agência Força Aérea.

nizações militares e civis e empregando mais de 800 pessoas. Foram retirados cerca de
1.650 Kg carga, e as 154 vítimas foram identificadas e resgatadas. Ninguém foi deixado
para trás.

Criação do Batalhão de Infantaria Especial (BINFAE)


Fruto do resultado de estudos de Grupo de Trabalho coordenado pelo Estado-
Maior da Aeronáutica (EMAER), foi criado, pela Portaria R-511, de 20 de setembro de
2001, o Batalhão de Infantaria Especial de Manaus (BINFAE-MN), revolucionando a
organização da tropa e, entre outras novidades, apresentando efetivo próprio, tabela de
viaturas e comandante designado pelo Alto-Comando da Aeronáutica.
Além do BINFAE-MN, foram criados o Batalhão de Infantaria Especial de Canoas
(BINFAE-CO), Batalhão de Infantaria Especial de Brasília (BINFAE-BR), Batalhão
de Infantaria Especial de Recife (BINFAE-RF), Batalhão de Infantaria Especial do Rio
de Janeiro (BINFAE-RJ), Batalhão de Infantaria Especial do Galeão (BINFAE-GL),
Batalhão de Infantaria Especial dos Afonsos (BINFAE-AF) e o Batalhão de Infantaria
Especial de Belém (BINFAE-BE).
18 Defendendo na Terra o Domínio do Ar
Organograma de BINFAE

Cmdo

S/1 S/2 S/3 S/4

1ª CINFA CPA CIPE PCI

SCS 2ª CINFA SMOB

No ano de 2009 o COTAR foi extinto, na de emprego formulada pela Subchefia,


passando a ser denominado Subchefia de os três principais ramos de atuação e es-
Segurança e Defesa, que, em parte, é o pecialização da Infantaria da Aeronáuti-
atual órgão gerenciador, pois a Infantaria ca passaram a ser: Operações Especiais,
não possui um órgão sistêmico das ativi- Artilharia Antiaérea e Proteção da Força.
dades, doutrina e logística para emprego Nesta última, a doutrina se desvinculou
operacional. das atividades de Serviço Militar, Contra-
Em 2012, com a nova Diretriz de Em- Incêndio, Formação de Soldados, Banda
prego da FAB e a modificação da doutri- de Música, Cerimonial e Material Bélico.

A História da Infantaria da Aeronáutica 19


Destaca-se também, nessa fase, o início Operação na
da participação da Infantaria da Aeronáu- MINUSTAH
tica na Missão das Nações Unidas para
a Estabilização do Haiti (MINUSTAH),
criada pelo Conselho de Segurança da
ONU. Desde 2011 em diante, a FAB en-
viou mais de 250 infantes, divididos em
diversos pelotões. Segundo avaliação do
Comando-Geral de Operações Aéreas
(COMGAR), “a avaliação da presença da
FAB no Haiti ao longo desses anos é mui-
to positiva. Tivemos um ganho operacio-
nal e pessoal muito grande. A experiência
adquirida por esses militares foi repassa-
da aos demais integrantes dos batalhões,
disseminando assim os conhecimentos
absorvidos naquele país. Em eventos fu-
turos nos quais seja necessário nosso en-
gajamento, estaremos preparados”.

Militares da FAB embarcando


Militar da FAB realizando ação de patrulha no Haiti para missão no Haiti
Fonte: Defesa Aérea e Naval

20 Defendendo na Terra o Domínio do Ar


Defesa Antiaérea na Força Aérea Brasileira

Durante a organização do Ministério mando de Defesa Aeroespacial Brasileiro


da Aeronáutica, em 1941, seus idealizado- (COMDABRA), organizando um sistema
res consideraram criar uma Diretoria de no qual as operações de defesa aérea eram
Defesa Antiáerea dentro do organograma conduzidas pela Força Aérea, enquanto
da FAB, seguindo o exemplo da Luftwaffe que o Exército e a Marinha responsabili-
(Força Aérea Alemã) na Segunda Guerra zavam-se pela Defesa Antiaérea.
Mundial. Em 1989, dois oficiais, o Cap Inf
Todavia, a ideia não vingou, pois o ter- RICARDO José Rodrigues Santos e o
ritório nacional não se encontrava sob a Ten Inf Luiz JOALDI Alves Limeira
ameaça de ataques aéreos e nossa aviação foram matriculados no Curso da Escola
operava, na Itália, a partir de bases defen- de Artilharia de Costa e Antiaérea
didas pelas forças terrestres aliadas. (EsACosAAe) do Exército Brasileiro.
Tais experiências não favoreceram o Logo depois, em 1994, o governo
desenvolvimento de uma capacidade de brasileiro adquiriu mísseis antiaéreos
portáteis IGLA (em russo: Иглa,
combate superfície-ar na Força Aérea,
“agulha”), da Rússia, e parte do lote foi
cuja mentalidade foi influenciada pelo
oferecido ao Ministério da Aeronáutica.
modelo norte-americano, onde o contro-
Na prática, esta ação favoreceu a criação
le das armas antiaéreas permenecia sob o
da primeira estrutura da FAB dedicada ao
comando do Exército.
combate superfície-ar: uma Companhia
A consolidação daquela mentalida- de Artilharia Antiaérea de Autodefesa
de efetivou-se durante a criação do Co- (CAAAD).

A História da Infantaria da Aeronáutica 21


Sediada na Base Aérea de Canoas GAAAD). Como primeiro Comandante,
(BACO), a CAAAD foi incorporada ao foi designado o Tenente-Coronel de
Batalhão de Infantaria da Aeronáutica Infantaria José Roberto de QUEIROZ
local, seu efetivo sendo composto por Oliveira. Posteriormente, o 1º GAAAD
militares capacitados pela Escola de Ar- recebeu a denominação de Grupo
tilharia de Costa e Antiaérea do EB. O Laçador, herói lendário da cultura gaúcha,
primeiro Comandante daquela estrutura que arremessava boleadeiras através do
foi o Cap Joaldi, cujos esforços pessoais ar, com o objetivo de abater suas vítimas.
contribuíram para implantar a doutrina
Buscando direcionar esforços para
de emprego dos armamentos antiaéreos
aprimorar a proteção da infraestrutura
na Instituição, bem como o aprestamento
do Poder Aeroespacial, em 05 de
da Companhia com modernos sistemas
janeiro de 2012, o CMTAER aprovou a
de comunicações e viaturas preparadas
DCA 21-6 “Diretriz de Implantação da
para todo tipo de terreno.
Primeira Brigada de Artilharia Antiaérea
No ano de 2009, o conhecimento e a de Autodefesa (1ª BAAAD)”, que
experiência, obtidos em diversos Exer- contemplou a criação de três Grupos,
cícios, permitiram a elaboração de uma um na BACO, outro na Base Aérea de
concepção operacional para a criação de Manaus (BAMN) e um terceiro na Base
uma estrutura de defesa antiaérea. Cou- Aérea de Anápolis (BAAN).
be ao Exmo. Sr. Major-Brigadeiro do Ar
Para coordenar as tarefas atribuídas às
Nivaldo Luiz ROSSATO, Comandan-
Unidades Antiaéreas, foi criado e ativado,
te do Quinto Comando Aéreo Regional
em 03 de abril de 2012, o Núcleo de Bri-
(V COMAR) à época, encaminhar o
gada de Artilharia Antiaérea de Autode-
texto ao Exmo. Sr. Comandante-Geral
fesa (NuBAAAD), cujo Comandante de-
de Operações Aéreas (COMGAR), o
signado foi o Coronel de Infantaria Luiz
Tenente-Brigadeiro do Ar Gilberto An-
Marcelo Sivero MAYWORM.
tonio Saboya BURNIER. O documento
serviu de base para o que viria estruturar O ato de criação e ativação do
a defesa antiaérea dos centros de coman- Segundo Grupo de Artilharia Antiaérea
do e controle, da rede de detecção e dos de Autodefesa (2º GAAAD) - Grupo
aeródromos do Comando da Aeronáutica Ajuricaba, na BAMN, foi oficializado pela
(COMAER). Portaria nº 579/GC3, em 31 de agosto de
2012. As instalações, o equipamento e o
Em 10 de novembro de 2011, após
pessoal alocados ao Grupo obdedeceram
considerar as razões expostas pelo
ao mesmo planejamento do 1º GAAAD.
COMGAR, o Exmo. Sr. Comandante
Seu primeiro Comandante foi o Tenente-
da Aeronáutica (CMTAER), Tenente-
Coronel de Infantaria Cláudio Bento
Brigadeiro do Ar Juniti SAITO, aprovou
NASCIMENTO da Silva.
a Portaria Nº R-762/GC3, criando, em
12 de janeiro de 2012, o Primeiro Grupo Posteriormente, em função de
de Artilharia Antiaérea de Autodefesa (1º modificações na Doutrina Básica da
22 Defendendo na Terra o Domínio do Ar
Força Aérea Brasileira, o COMAER estabelecida pelo Ministério da Defesa.
emitiu a Portaria nº 1.064/GC3, de 08 de No preâmbulo, o texto aludiu à missão
julho de 2014, alterando a nomenclatura síntese da Força Aérea Brasileira: “man-
do NuBAAAD, que passou a ser ter a soberania do espaço aéreo nacional,
denominado como Núcleo de Brigada com vistas à defesa da Pátria”.
de Defesa Antiaérea (NuBDAAE). Em
Outra importante missão realizada
consequência, os GAAAD receberam
pelo NuBDAAE foi planejar, coordenar
uma nova denominação: Grupos de
Defesa Antiaérea (GDAAE). e controlar, de maneira independente, o
primeiro lançamento real de armamentos
Uma das primeiras medidas do antiaéreos IGLA-S. Durante o período
NuBDAAE consistiu em atualizar a
entre 14 e 26 de abril de 2014, militares
doutrina de emprego das Unidades
do 1º e do 2º GDAAE dispararam um to-
Antiaéreas, compilando o “Manual de
tal de quatro mísseis portáteis no Campo
Defesa Antiaérea” (MCA 355-1), cuja
de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV) e
primeira edição foi aprovada em 02 de
conduziram treinamentos no período no-
junho de 2014. Neste MCA foram inseridos
turno, com vistas a homologar o empre-
os conhecimentos e as experiências obtidas
por militares da Força Aérea quanto ao go do imageador termal MOWGLI 2M.
emprego dos meios antiaéreos. Todos os alvos utilizados para verificar
Além disso, alguns conceitos foram in- o guiamento dos mísseis foram lançados,
troduzidos, tais como a classificação dos de forma inédita no Brasil, por uma ae-
meios antiaéreos em termos de alcance ronave F-5M do 1º Grupo de Aviação de
e a introdução de métodos de planeja- Caça (1º GAvCa), demonstrando toda a
mento tático calcados na doutrina recém- perícia dos combatentes antiaéreos.

A História da Infantaria da Aeronáutica 23


A velocidade de implantação das uni- Tática e Especializada (GITE), na cidade
dades antiaéreas impressionou e angariou de Parnamirim-RN.
o respeito de diversas autoridades, tanto Na primeira turma, formaram-se 8 ofi-
que ambos os Grupos foram designados ciais e 22 graduados, oriundos de diver-
para defender os estádios de futebol (Are- sas organizações do COMAER. Assim,
nas) na Copa do Mundo de 2014. completava-se uma antiga aspiração dos
Enquanto o 2º GDAAE foi incumbido combatentes antiaéreos de realizar sua
pelo COMDABRA da proteção dos jogos própria especialização, segundo as neces-
a serem realizados na Arena Manaus, cou- sidades e especificidades operacionais da
be ao 1º GDAAE a honra de defender o Força Aérea.
estádio utilizado pelo jogo de abertura da Finalmente, em 09 de setembro de
Copa do Mundo, realizado na Arena São 2015, foi criado e ativado o Terceiro Gru-
Paulo, no dia 12 de junho de 2014. Esse po de Defesa Antiaérea - Grupo Defen-
evento revelou-se um dos mais importan- sor, na BAAN. Seu Comandante é o Ma-
tes da competição, haja vista a presença jor de Infantaria Flávio Ricardo Pereira
dos Chefes de Governo e de Estado, bem SCHIATTI.
como de outros inúmeros dignitários na- Todos os GDAAE foram designados
cionais e estrangeiros. para participar das operações de defesa
Destaca-se, ainda, que, em 14 de junho aeroespacial no contexto dos Jogos Olím-
picos de 2016. Atualmente, as Unidades
de 2014, o Grupo Ajuricaba (2º GDAAE)
Antiaéreas encontram-se na expectativa
tornou-se a primeira unidade de defesa
de serem dotadas com material para em-
antiaérea a conduzir operações reais no
prego no curto/médio alcance.
período noturno, utilizando imageadores
termais. A partir de dezembro de 2015, o
NuBDAAE, numa clara demonstração, por
Uma vez consolidada a doutrina, no parte do Alto-Comando da Aeronáutica,
período entre 04 de agosto e 26 de setem- da importância da Artilharia Antiaérea para
bro de 2014, atendendo à ICA 37-616, a FAB, passou a ser comandado por um
foi realizado o primeiro Curso de Defe- oficial-general de Infantaria da Aeronáutica,
sa Antiaérea (CDAAe), coordenado pelo o então recém-promovido Exmo. Sr.
NuBDAAE e pelo Grupo de Instrução Brigadeiro de Infantaria Mayworm.

24 Defendendo na Terra o Domínio do Ar


Considerações Finais
A história demonstra que, ao longo de sua trajetória, com profissionalismo e dedi-
cação, a Infantaria da Aeronáutica evoluiu em sua organização e funcionamento, bem
como no desenvolvimento de suas doutrinas, possibilitando significativas mudanças
em sua concepção de emprego e de modernização de seus meios, com a finalidade de
se adequar às necessidades atuais de combate, com foco na missão da Força Aérea de
“MANTER A SOBERANIA DO ESPAÇO AÉREO E INTEGRAR O TERRITÓ-
RIO NACIONAL COM VISTAS À DEFESA DA PÁTRIA”.
A Infantaria da Aeronáutica, vetor de combate terrestre da FAB, hoje se consolida
como elemento imprescindível para a garantia da sobrevivência das operações aéreas,
certeza essa expressa pelo lema: “Defendendo na terra o domínio do ar”.

A História da Infantaria da Aeronáutica 25


Fontes Arquivísticas e Bibliográficas

- Acervo Histórico da Base Aérea de Natal.


- Acervo Histórico do Centro de Documentação da Aeronáutica.
- CENTRO DE OPERAÇÕES TERRESTRES DO COMGAR. Revista Aeronáuti-
ca. Edição Especial. Brasília-DF, Jan/2002.
- COMANDO GERAL DE OPERAÇÕES AÉREAS. Revista Infantaria Aeronáu-
tica. Edição Especial 70 anos da Infantaria da Aeronáutica. Brasília- DF, 2011.
- EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO QUADRO DE OFICIAIS DE INFANTARIA
DA AERONÁUTICA. (Manuscrito), s.d.
- INFANTARIA DA AERONÁUTICA - Os Guardiões dos Ninhos das Águias.
(Manuscrito), s.d.
- KERSUL, Maria Tereza. Ninguém Ficou Para Trás - A operação de busca e
resgate do vôo 1907. Rio de Janeiro: Action Editora, 2016.
- PADILHA, Luiz. FAB no Haiti - Missão Cumprida. Em: http://www.defesaaere-
anaval.com.br/fab-no-haiti-missao-cumprida/
- PASSOS, Hermes de Souza – Cel Inf R1. A Infantaria da Aeronáutica e sua Po-
sição na Cultura Organizacional da Força Aérea Brasileira. Monografia FGV -
MBA em Administração de Recursos Humanos. 2002

O Cel Inf R/1Hermes de Souza Passos pertence ao


efetivo deste Instituto e integra a equipe do SISCULT.

O 1º Ten QCOA HIS Tiago Starling de Mendonça perten-


ce ao efetivo deste Instituto e integra a equipe do SISCULT.

26 Defendendo na Terra o Domínio do Ar


Conectando o passado, o presente e o futuro da cultura aeronáutica
TESTE
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