Costa porque precisa do apoio do Presidente, que chega ao povo para
almofadar as sequelas do terramoto económico e social que aí está. E Marcelo porque, com a direita a valer 30%, precisa dos votos socialistas para somar com folga os 51% necessários. Mas, como entre os dois o jogo nunca pára, mais do que pôr as mãos no fogo pela trama que se segue é aconselhável esperar pelas cenas dos próximos capítulos. Até porque o tempo opera sempre alterações nos personagens. Na saga cinéfila, Jerry (o rato) permaneceu bastante estável, mas a personalidade de Tom mudou consideravelmente. No início, andava sobre quatro patas e comportava-se sempre ao ataque, mas com o tempo passou a andar sobre duas patas e a ter um registo mais humano, ao ponto de sentir culpa por alguns comportamentos contra Jerry. Há episódios em que o gato chega até a parecer deprimido. E embora nestes cinco anos Marcelo e Costa tenham alternado nos dois papéis — nos fogos de 2017, o Presidente foi o gato que engoliu o rato, mas na gestão da pandemia foi o primeiro- ministro quem soube agarrar o parceiro —, a verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa entrou em cena com a expectativa de ser o felino e foi ele quem mais surpreendeu o público por, em vez de comer o rato, se ter em alguns momentos deixado comer por ele.