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R$ 7,00
Expediente Sumário
4 Editorial
O perdão das ofensas
10 Entrevista: André Trigueiro
Por um meio ambiente sadio e agradável
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: AUGUSTO ELIAS DA S ILVA 13 Presença de Chico Xavier
Renovemo-nos hoje – Cairbar Schutel
Revista de Espiritismo Cristão 21 Esflorando o Evangelho
Ano 129 / Novembro, 2011 / N o 2.192
Cada qual – Emmanuel
ISSN 1413-1749 32 A FEB e o Esperanto
Propriedade e orientação da
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Espiritismo e Esperanto – A propósito de um
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Editor: ALTIVO FERREIRA cinquentenário – Zêus Wantuil
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO NOLETO 33 Trovas/Troboj – Casimiro Cunha
BEZERRA, GERALDO CAMPETTI SOBRINHO,
MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA E 42 Seara Espírita
SADY GUILHERME SCHMIDT
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA
Gerente: ILCIO BIANCHI 5 O Livro dos Médiuns – Reuniões espíritas
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE
Equipe de Diagramação: AGADYR TORRES PEREIRA E 8 Passeterapia – Manoel Philomeno de Miranda
SARAÍ AYRES TORRES
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA 12 Repara a Natureza – Emmanuel
CARVALHO
REFORMADOR: Registro de publicação
14 Uma boa ideia – Richard Simonetti
o
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de
Polícia Federal do Ministério da Justiça) 16 A religião do Espiritismo – Mário Frigéri
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503
18 Escravidão – Christiano Torchi
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PARA O BRASIL 34 O Auto-de-fé em Barcelona e o desafio atual da
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36 Zêus Wantuil – Affonso Soares
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38 Palavras fraternais – Natanael
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39 O Livro dos Médiuns e o “Plano de Trabalho do
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA Movimento Espírita Brasileiro” – Esther Fregossi González
Editorial
O perdão das
ofensas
P
oderemos utilmente pedir a Deus que perdoe as nossas faltas? perguntou
Allan Kardec aos Espíritos superiores. E eles responderam: “Deus sabe dis-
cernir o bem do mal; a prece não esconde as faltas. Aquele que a Deus pede
perdão de suas faltas só o obtém mudando de proceder. As boas ações são a melhor
prece, por isso que os atos valem mais que as palavras”.1
O maior exemplo de perdão que o ser humano conhece é o de Jesus no Calvário.
Humilhado, ferido, agredido injustamente, inaugurou uma Nova Era para a Huma-
nidade, pronunciando as sublimes palavras: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o
que fazem!” (Lucas, 23:34). Ensinou-nos, com este gesto, que quem perdoa de
forma autêntica se liberta, uma vez que quebra o círculo vicioso do ódio e da vio-
lência que se perpetua na reciprocidade. O perdoado, todavia, continuará carregando
consigo a responsabilidade de reparar os seus erros se quiser libertar-se, também.
Em um mundo que se pretende ser de Regeneração, a prática do perdão é de fun-
damental importância, pois é a maneira pela qual se lança um véu sobre o passado,
de forma definitiva, para que esses hábitos infelizes não venham a prejudicar o
ambiente de harmonia e de fraternidade que se pretende construir entre os seres
humanos, e que se faz necessário para concretizar a previsão de Jesus, exposta no
Sermão do Monte, de que “os mansos possuirão a Terra” (Mateus, 5:5).
Oportunas, portanto, as palavras de Simeão: “Espíritas, jamais vos esqueçais de
que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um
termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e
não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. [...] Cuidai, portanto, de
os expungir [os pensamentos] de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que
demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode
todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo”.2
1
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
Q. 661.
2
______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2011. Cap. 10, it. 14.
4 402 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
O Livro
dos Médiuns
Reuniões espíritas
A
s reuniões espíritas são ralmente das instruções prece- Estes as apreciam bastante e a
o campo favorável para o dentes. Como tal, elas devem elas não faltam, por aí gozarem
exercício e aprimoramen- tomar as mesmas precauções e de inteira liberdade para se
to da faculdade mediúnica. É se preservar das mesmas difi- exibirem. É nessas reuniões
também local de desenvolvimen- culdades que os indivíduos que se perguntam banalidades
to da solidariedade e outros va- isoladamente. Foi por essa ra- de toda sorte, que se pede aos
lores morais, pela oportunidade zão que colocamos este capí- Espíritos a predição do futuro,
recebida de auxiliar o próximo: tulo em um dos últimos luga- que se põe à prova a perspicá-
res desta obra. cia deles em adivinhar as ida-
As reuniões espíritas podem As reuniões espíritas apresen- des, ou aquilo que cada um
oferecer grandes vantagens, por tam características muito dife- tem no bolso, em revelar pe-
permitirem que as pessoas que rentes, conforme o fim com que quenos segredos e mil outras
nelas tomam parte se esclare- se realizam; por isso mesmo, coisas sem importância.2
çam, mediante a troca de ideias, suas condições intrínsecas de-
pelas perguntas e observações vem diferir. [...]1 As reuniões mediúnicas de ocor-
que façam entre si, das quais to- rência usual nos centros espíritas
dos aproveitam. [...]1 As reuniões espíritas são classi- da atualidade não apresentam, em
ficadas pelo Codificador em frívo- geral, tais características, ainda
Por outro lado, pondera Allan las, experimentais e instrutivas,1 que Espíritos levianos e outros, os
Kardec: cujos significados são os que se mal-intencionados, assediem os
seguem. médiuns na tentativa de se mani-
[...] Mas, para que produzam festarem e ocuparem o espaço
todos os frutos desejados, re- Reuniões espíritas frívolas destinado aos desencarnados que
querem condições especiais buscam esclarecimento e consolo
que vamos examinar, pois pro- São reuniões compostas espirituais. Daí a necessidade de di-
cederia mal quem as compa- rigentes e demais integrantes da
rasse às reuniões comuns. [...] de pessoas que só veem o reunião mediúnica se prepararem
Aliás, sendo as reuniões verda- lado divertido das manifesta- adequadamente para a realização
deiros todos coletivos, o que ções, e que se divertem com os da tarefa, adquirindo conhecimento
lhes diz respeito decorre natu- gracejos dos Espíritos levianos. espírita, em geral, e sobre a prática
Ilustração retirada do livro Desobsessão, pelo Espírito André Luiz. Ed. FEB.
denominadas “reuniões de cura”, Outros tipos de reuniões de
“de tratamento físico-espiritual” ou efeitos físicos – materializações de
terminologia semelhante. O pro- Espíritos, transporte de objetos,
pósito de tais reuniões é prestar vozes e escritas diretas etc. –, são
assistência espiritual a pessoas por- mais incomuns. Nos dias atuais
6 404 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
dirigir-se são de natureza especia- Um aspecto da reunião, que ja- preparam antecipadamente e é
líssima; que, não podendo o subli- mais deva ser desconsiderado, diz raro faltarem”.8
me aliar-se ao trivial, nem o bem respeito à sua homogeneidade: Perante tais esclarecimentos,
com o mal, quem quiser obter boas devemos envidar esforços para
coisas precisa dirigir-se a Espíritos Toda reunião espírita deve, que a reunião mediúnica seja
bons”.5 2) Conceito de reunião me- pois, buscar a maior homoge- não só séria, mas também ins-
diúnica séria: “Uma reunião só é neidade possível. Estamos nos trutiva, de acordo com estes
verdadeiramente séria quando se referindo, naturalmente, àque- esclarecimentos:
ocupa de coisas úteis, com exclusão las em que se deseja chegar a re-
de todas as demais [...]”.5 3) Favo- sultados sérios e verdadeira- Uma reunião é um ser coletivo,
recer a presença de bons Espíritos: mente úteis. [...]7 cujas qualidades e proprieda-
“[...] Não basta, porém, que se evo- des são a resultante das de seus
quem Espíritos bons [...]. Ora, Espí- membros, formando uma espé-
ritos superiores não comparecem a
reuniões de homens levianos e su- Uma cie de feixe. Ora, quanto mais
homogêneo for esse feixe, tanto
perficiais, assim como jamais com- mais força terá. [...] Já que o
pareceriam quando encarnados”.5
Neste sentido, os integrantes da
reunião é Espírito [comunicante] é de
certo modo alcançado pelo
reunião mediúnica devem adqui- pensamento, como nós o so-
rir conhecimento sobre a teoria e
prática do Espiritismo, não me-
um ser mos pela voz, vinte pessoas,
unindo-se com a mesma in-
dindo esforços para se transforma- tenção, terão necessariamente
rem em pessoas melhores, uma vez
que o estudo, aconselha o Codifi-
coletivo mais força do que uma só;
mas, a fim de que esses pensa-
cador, é de grande valia, ainda mais
“para os médiuns de manifesta-
ções inteligentes, sobretudo para
formando mentos concorram para o
mesmo fim, é preciso que vi-
brem em uníssono, que se
aqueles que desejam seriamente
aperfeiçoar-se”.6 Pelo conhecimen-
to espírita, evita-se cair nas ma-
uma espécie confundam, por assim dizer,
em um só, o que não pode se
dar sem o recolhimento.9
lhas da obsessão, as armadilhas
colocadas pelos Espíritos engana-
dores.6 Assim, “todo médium que
de feixe Referências:
1
KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.
sinceramente não queira tornar-se Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp.
instrumento da mentira deve, Além do mais, prossegue Kar- Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 29,
portanto, procurar trabalhar nas dec, há “outro ponto não menos it. 324, p. 539-540.
2
reuniões sérias [...] aceitar agra- importante: o da regularidade das ______. ______. It. 325.
3
decido, mesmo solicitar, o exame reuniões. Em todas elas sempre ______. ______. It. 326.
4
crítico das comunicações que re- estão presentes Espíritos a quem ______. ______. Cap. 14, it. 175.
5
ceba. Se estiver às voltas com Espí- poderíamos chamar frequentado- ______. ______. Cap. 29, it. 327.
6
ritos enganadores, esse é o meio res habituais [...]. Estamos nos re- ______. ______. It. 329, p. 523.
7
mais seguro de desembaraçar-se ferindo aos Espíritos protetores ______. ______. It. 331, p. 547-548.
8
deles, provando-lhes que não o [...]. Quando as reuniões se reali- ______. ______. It. 333, p. 548-549.
podem enganar”.6 zam em dias e horas certos, eles se 9
______. ______. It. 331, p. 546-547.
A
proposta de Jesus para que timentos da simpatia, da amizade encontra ressonância na Espiri-
os seus discípulos se apli- e da compaixão, a fim de envol- tualidade que, de imediato, se faz
cassem ao ministério da ver o enfermo em ondas de ener- presente através de nobres Ami-
cura das enfermidades, que afli- gia favorável à sua recuperação. gos dedicados ao labor da miseri-
gem as criaturas humanas, encon- Cuidados especiais são-lhe im- córdia e do progresso.
tra suporte abençoado na terapia prescindíveis, tais como a higiene Naturalmente, à medida que
através dos passes. física e mental, mediante os há- o passista se afeiçoa à atividade e
A transmissão da energia cons- bitos superiores da oração e dos adquire autoconfiança, mais fa-
tituída por raios psíquico-magné- bons pensamentos, cultivando as cilmente registrará as presenças
ticos está ao alcance de todas as ideias edificantes, reflexionando dos nobres guias espirituais que
criaturas que se queiram devotar em páginas portadoras de conteú- passarão a supervisionar-lhe a
à ação do bem. dos morais relevantes, para servi- tarefa, predispondo-se ao auxílio
O dom de curar não constitui rem de sustentáculo emocional ao valioso com segurança por seu
privilégio de ninguém, embora al- equilíbrio. intermédio.
gumas pessoas sejam mais bem A mente é a fonte geradora da O passista é alguém que opta
aquinhoadas dos recursos energé- energia que procede do Espírito pelo edificante serviço de ajuda
ticos destinados a esse fim. e se transforma em ação. Todo e ao próximo por ocasião da sua
Desejando contribuir em favor qualquer investimento inicia-se problemática no campo da saúde.
da saúde do seu próximo, cabe ao na sede da alma, transformando- Mas, não somente pode ser útil no
interessado equipar-se dos recur- -se em ideia e corporificando-se período de enfermidade, quanto
sos hábeis para o desiderato. em ato. também nos processos de revitali-
Inicialmente, o desejo sincero Pensar corretamente, cultivan- zação de energia dos que estão
de servir torna-se-lhe fundamen- do os ideais do amor, da fraterni- mais debilitados, assim como na
tal para o empreendimento a que dade e do bem, são a regra áurea renovação de entusiasmo e de for-
se propõe. Interessado em adqui- para uma existência saudável e, ças para o prosseguimento da jor-
rir o conhecimento para lograr os portanto, para ser repartida em nada reencarnacionista.
resultados melhores, cabe-lhe co- favor daqueles que se encontram De igual modo, favorece a soli-
nhecer a natureza humana, a cons- em situação menos favorável. dariedade por meio da conversa-
tituição orgânica e os fulcros de Adotando atitudes morigera- ção edificante, do aconselhamento
energia no corpo físico bem como das e evitando qualquer tipo de fraternal, ensejando, a quem ne-
no perispiritual, assim como as comportamento esdrúxulo ou car- cessite, diretrizes dignas para o fe-
leis dos fluidos, desse modo, equi- regado de misticismo, o passista liz desiderato existencial.
pando-se com os elementos valio- deve manter-se sempre sereno e Trabalhando-se emocionalmen-
sos indispensáveis ao tentame. em condição de sintonia com os te e cada vez mais conscientizan-
Em seguida, torna-se necessária abnegados mentores do Mais Além. do-se da responsabilidade assu-
a consciência do contributo que A iniciativa do bem nasce no mida, é imperioso esforçar-se pa-
deve oferecer, trabalhando os sen- sentimento da criatura humana e ra adquirir e multiplicar os bônus
8 406 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
de energia que possa doar. Tal prio. Por certo, deve estar intoxi- tas e edificantes torna-se de vital
recurso é conseguido como de- cado pelos resíduos de vibrações significado.
corrência natural do esforço que negativas, por tentativas de per- Restituí a saúde aos enfermos –
empreende e da dedicação ao ser- turbação provindas de fora, por propôs Jesus – enfermos, que so-
viço socorrista. obsessão instalando-se... mos ainda quase todos, nele, o
De bom alvitre também, ter Cabe-lhe suspender de ime- sublime Psicoterapeuta, encontra-
em mente que a investidura cura- diato o concurso fraternal e, mos o apoio necessário a fim de
tiva não o imuniza contra os agen- mentalmente, em clima de calma, servirmos com abnegação, certos
tes do mal, as contaminações, os sem qualquer prática externa, de que ao largo do tempo conse-
desgastes, os fenômenos pertur- concentrar-se, e, pelo pensamen- guiremos a saúde integral.
badores, as possíveis obsessões, to, procurar eliminar as energias
os transtornos do cansaço e do deletérias, expulsando-as das áreas Manoel Philomeno de Miranda
mal-estar... em que se encontram localiza-
Todo indivíduo encontra-se das, fazendo-as sair pelas extre- (Página psicografada pelo médium Dival-
sujeito às intecorrências da jor- midades inferiores... do Pereira Franco, na sessão mediúnica
nada empreendida, não havendo Noutras circunstâncias, é de da noite de 19 de janeiro de 2009, no
regime de exceção, e caso hou- bom alvitre, antes da aplicação dos Centro Espírita Caminho da Redenção, em
vesse daria lugar a procedimen- passes nos enfermos, fazê-la em si Salvador, Bahia.)
tos de injustiça nos divinos códi- próprio através dos recursos men-
gos, privilegiando uns em detri- tais de que é portador.
mento de outros. A irrestrita confiança em Deus,
O trabalho é o campo especial conectando-se às Fontes da
de desenvolvimento dos valores Vida, proporcionará a
adormecidos no ser, que se agigan- correta captação de for-
ta na razão direta em que empreen- ças psíquicas e fluídi-
de as atividades de enobrecimen- cas que serão transmi-
to moral e espiritual. Desse mo- tidas aos sofredores,
do, a ginástica para o Espírito é o auxiliando-os na ne-
contínuo labor em benefício da cessária recuperação.
autoiluminação. Em qualquer come-
Para bem desincumbir-se, por- timento, portanto, de
tanto, do mister aceito esponta- natureza espiritual, são
neamente, é necessário ao passista indispensáveis o amor
desfrutar de saúde, especialmente e a caridade como re-
moral, tanto quanto psíquica, emo- cursos transcendentes
cional e física, a fim de poder trans- para os bons resultados
miti-la com eficiência aos necessi- do labor em desenvolvi-
tados que o busquem. mento.
Sempre que experimente, po- Conscientizando-se de
rém, algum mal-estar ou qual- que sempre transitará na
quer outra sensação desagradá- faixa vibratória dos pró-
vel durante a operação socorris- prios pensamentos e
ta, é justo considerar que algo se atos, a manutenção
encontra desajustado nele pró- dos valores otimis-
Reformador: Como surgiu seu in- espíritas mantinham do tema “meio Reformador: Que destaque daria,
teresse em relacionar Espiritismo e ambiente”, como se a exaltação em obras de Kardec, com relação ao
Ecologia? dos valores espirituais nos eximisse tema?
Trigueiro: Sou espírita, jornalista de responsabilidade para com o Trigueiro: Bem entendida, a po-
interessado em sustentabilidade que acontece aqui e agora em nos- sição assumida pelo Espiritismo
há pelo menos 20 anos, e tenho sa casa planetária. Mas isso está em favor da vida – condenando o
uma pós-graduação em Gestão mudando. aborto, a eutanásia e o suicídio –
Ambiental pela COPPE/UFRJ. A alcança também a dimensão pla-
combinação desses fatores me pre- netária na condenação do ecocídio,
cipitou na direção dessa linha de ou seja, a capacidade de a Huma-
investigação. O livro – já na ter- nidade realizar escolhas que redu-
ceira edição – não esgota o as- zem nossas possibilidades de exis-
sunto, mas deixa claro a razão pe- tência nesse plano. Todo o capítu-
la qual nós espíritas devemos ter lo de O Livro dos Espíritos que ver-
atenção redobrada nesta encarna- sa sobre a Lei de Conservação é
ção para com os limites do planeta um tratado de sustentabilidade.
que generosamente nos acolhe. A Quando a Doutrina estabelece a
situação é difícil e a Humanidade é diferença entre o que é necessário
a responsável direta pela crise e o que é supérfluo, e nos orien-
ambiental sem preceden- ta em relação ao uso inteligente
tes que experimentamos dos recursos naturais (“A
no momento. A educa- Terra produziria sempre o
ção para a sustentabi- necessário, se o homem
lidade encerra prin- soubesse contentar-se com
cípios éticos e mo- o necessário”)1 há sinergia
rais que são caros à absoluta em relação aos mo-
Doutrina Espírita. dernos relatórios da ONU
Devo dizer que me
incomodava muito 1
Op. cit., Trad. Evandro Noleto
uma certa distân- Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de
cia que várias casas Janeiro: FEB, 2011. Q. 705.
10 408 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
que condenam os atuais meios de transgenia irresponsável, o con- e muitos espíritas se surpreendem
produção e de consumo. Outro sumismo desvairado, o crescimen- com o circo dos horrores que se
tema que me interessa muito é a to desordenado das cidades e ou- esconde por detrás dessa indús-
influência de nossos sentimentos tros problemas que fazem parte do tria. Como eventuais consumi-
e pensamentos na qualidade da psi- nosso tempo e exigem respostas dores de carne, devemos zelar
cosfera terrena. Temos o poder de de nossa parte ainda nesta existên- pelo bem-estar animal e pelo que
influenciar coletivamente a Natu- cia. O espírita está sendo convoca- se convencionou chamar de “abate
reza, através da qualidade e da in- do à ação aqui e agora. A maior humanitário” (o nome é esquisito
tensidade de nossas vibrações. A nação espírita do planeta está si- mas é assim mesmo).
Doutrina Espírita também reco- tuada no único país com nome de
nhece o trabalho dos elementais, árvore, que concentra o maior Reformador: Que ações recomen-
seres encarregados de proteger a estoque de água doce (superficial daria aos espíritas?
Natureza e sustentar seus proces- de rio ou subterrânea), a maior Trigueiro: Precisamos fazer agora
sos cíclicos. Outra informação va- quantidade de solo fértil, o maior tudo o que esteja ao nosso alcance
liosa remete à identificação visce- número de espécies conhecidas e em favor do uso responsável e éti-
ral que temos com a Terra: somos catalogadas. Mera coincidência? co dos recursos naturais não re-
feitos dos mesmos elementos que nováveis do planeta. Muitos espí-
constituem o planeta, e isso vale Reformador: Como os espíritas ritas se acomodam pelo fato de o
para o corpo material ou o peris- têm reagido ao seu livro e em even- mundo de regeneração estar a ca-
pírito. “Do pó viestes para o pó tos que participa? minho. Supõem que não haja o
voltareis” [Gênesis, 3:19] não é Trigueiro: Percebo enorme recep- que fazer em relação ao planeta,
poesia bíblica, é Ciência. E o que tividade e acolhimento aos assun- pois que o destino do orbe já está
acontece com a terra, o ar e a água, tos do livro. Tenho recebido mui- selado. Convém recordar as expli-
portanto, fora de nós, reverbe- tas manifestações (especialmente cações de Santo Agostinho, em O
ra dentro de nós. Estamos todos em mensagens endereçadas pela Evangelho segundo o Espiritismo,
conectados. Internet) de espíritas que usam o sobre as diferentes categorias de
livro para palestras, trabalhos em mundos habitados. Ao explicar o
Reformador: Você relaciona even- mocidades, ou para orientar mu- que é o mundo de regeneração,
tuais desrespeitos ao meio ambien- danças estruturais nas rotinas da Santo Agostinho confirma a con-
te às alterações climáticas? própria instituição. É particular- dição de orbe mais evoluído ética
Trigueiro: O livro de nossa autoria mente interessante a reação das e moralmente, entretanto, não há
traz informações atualizadas sobre pessoas à forma como abordamos qualquer menção às qualidades
a maior crise ambiental da Histó- a questão do consumo de carne. ambientais deste mundo. Ou seja,
ria da Humanidade e como somos Se é verdade que o consumo de podemos deduzir que os supri-
responsáveis por isso. Na verdade, carne na alimentação é condizen- mentos de água limpa, solo fértil,
somos parte do problema e deve- te com o nível evolutivo em que ar puro, biodiversidade e as con-
mos ser parte da solução. A crise muitos de nós nos encontramos, dições climáticas serão definidos a
climática é a mais preocupante e também é verdade que isso não partir das escolhas que realizar-
demanda soluções urgentes. Mas deve justificar o uso de métodos mos agora, e que se persistirmos
nossas atenções devem estar vol- cruéis, dolorosos, que impõem em não nos modificarmos nesta
tadas também para a destruição sofrimento desnecessário aos nos- encarnação (hábitos, comporta-
sistemática da biodiversidade, a pro- sos irmãos menos evoluídos da mentos, estilos de vida e padrões
dução monumental de lixo, a es- Criação. O Brasil é o maior produ- de consumo), poderemos deter-
cassez de recursos hídricos, a tor de proteína animal do mundo minar uma situação curiosa num
Renovemo-nos
hoje
Meus amigos: ro de aperfeiçoamento do homem, com a sublima-
ção do caráter.
Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos conserve o Entre as realidades amargas que nos visitam os
amor no coração e a luz no cérebro, para que nossas templos de intercâmbio e certas predicações de com-
mãos permaneçam vigilantes e diligentes no bem. panheiros cultos e entusiastas, mas imperfeitamente
acordados para as responsabilidades que lhes com-
Q
uem assinala os dramas de aflição a emergi- petem, lembremo-nos de que quase vinte séculos de
rem da treva nas sessões mediúnicas, perce- Cristianismo verbal viram passar no mundo tronos
be facilmente a importância da vida humana e Estados, organizações e monumentos, guerras e
como estação de refazimento e aprendizado. acordos, casas de caridade e santuários de estudo em
Principalmente para nós, os que procuramos no todas as linhas da civilização do Ocidente, erguendo-
Espiritismo uma porta iluminada de esperança para -se em nome de Jesus e tornando ao pó de que nas-
o acesso à verdade, a existência na Terra se reveste de ceram, tão somente com o benefício da experiência
subido valor, porque não desconhecemos os perigos dolorosa, haurida entre a sombra e a desilusão.
da volta à retaguarda. Levantemo-nos para a fé que nos redima por dentro.
Sentimos de perto o martírio das criaturas desen- Deus é o Senhor do Universo e da Natureza, mas
carnadas que se deixaram arrastar pelos furacões do determina sejamos artífices de nossos próprios
crime e o tormento das almas, sem a concha física, destinos.
que ainda se apegam desvairadamente à ilusão. Renovemo-nos hoje ao Sol do Evangelho!
Somos testemunhas de culpas e remorsos que pas- Cada qual de nós use a ferramenta das ideias su-
saram impunes diante dos tribunais terrestres, e ano- periores de que já dispõe e de conformidade com a
tamos a Justiça Imanente, Universal e Indefectível, lição de nosso Divino Mestre, estudada por nós nesta
que confere a cada Espírito o galardão da vitória ou noite. Trabalhemos, “enquanto é dia”, na preparação
o estigma da derrota, segundo as realizações que edi- do futuro de paz.
ficou para si mesmo. O Espiritismo não é um esporte da inteligência.
Sabemos que não vale perguntar com a Ciência, É um caminho de purificação para a glória eterna.
menoscabando a consciência, e não ignoramos que No cume da montanha que nos compete escalar,
as tragédias e as lágrimas que fazem o inferno, nas aguarda-nos o Senhor como o Sol da Vida.
regiões sombrias, se originam, de maneira invariável, Desentranhemos, assim, a gema de nossa alma do
do sentimento desgovernado e vicioso. escuro cascalho da ignorância, para refletir-lhe a
Vede, pois, que, em nos conchegando ao Cristo de Divina Luz!
Deus, buscando-lhe a inspiração para os nossos ser-
Pelo Espírito Cairbar Schutel
viços e ideais, nada mais fazemos que situar os nos-
sos princípios no lugar que lhes é próprio, porque a Fonte: XAVIER, Francisco C. Vozes do grande além. Diversos
nossa Doutrina Renovadora é, sobretudo, um rotei- Espíritos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. 14.
C
erta feita perguntaram a dando a entender que não temos como irmãos, praticando a carida-
Mahatma Gandhi o que uma civilização em toda sua abran- de cristã. Até então, sereis apenas
ele achava da civilização gência, já que esses princípios povos esclarecidos, que só percorre-
ocidental: estão longe de serem observados ram a primeira fase da civilização.
Resposta: em qualquer país do Ocidente.
– Acho que seria uma boa Na verdade, caro leitor, não são Perfeito!
ideia. observados em plenitude em ne- Temos os esclarecimentos ne-
Bem-humorado e perfeito o nhum país deste nosso Mundo de cessários para compor uma civili-
pensamento do grande líder espi- Expiação e Provas, orientado pelo zação, mas entre o saber e o fazer
ritual. egoísmo. interpõe-se o velho egoísmo hu-
Para entender o alcance de suas
mano, que usa o saber em provei-
palavras, consideremos civiliza- to próprio, comprometendo o
ção, em sua expressão mais sim- Na questão 793, de O Livro dos fazer.
ples, como sinônimo de uma co- Espíritos,1 interroga Kardec: Entendo que o trânsito para
letividade orientada por organi- uma verdadeira civilização impli-
zação social adequada, leis justas Por que sinais se pode reconhecer ca admitir o saber como indecli-
e igualitárias que promovam o uma civilização completa? nável convocação para o fazer.
bem-estar da população. Reconhecê-la-eis pelo desenvol- O problema está em definir
Oportuno lembrar, a propósito, vimento moral. Credes que estais bem o saber, porquanto muita
que todos os homens têm direito à muito adiantados, porque fizestes gente pensa saber tudo e não sabe
vida, à liberdade e à felicidade, grandes descobertas e invenções nada, enfeitando-se de cultura,
como sugere a proclamação da in- maravilhosas; porque vos alojais e aprendendo muito sobre os mais
dependência dos Estados Unidos vos vestis melhor do que os selva- variados assuntos, mas permane-
da América. gens. Contudo, não tereis verdadei- cendo ignorante no assunto fun-
A população, por sua vez, nu- ramente o direito de dizer-vos civi- damental – a Vida.
ma civilização, exercita a cortesia, lizados, senão quando houverdes Enquanto não entendermos o
o respeito às normas e ao próxi- banido de vossa sociedade os vícios que é a Vida, de onde viemos,
mo, guardando fidelidade à pró- que a desonram e quando viverdes por que estamos na Terra, para
pria consciência. onde vamos, patinaremos em ter-
Dá para perceber por que 1
Op. cit. Trad. Evandro Noleto Bezerra. mos de saber. Estaremos apenas a
Gandhi fala de uma boa ideia, 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. incensar o egoísmo com a pretensão
MÁRIO FRIGÉRI
C
ontinuando meus estudos Tomei também a liberdade de Eu sei que a Alma é ser preexistente
da Revista Espírita, de Allan agrupar os temas por afinidade, a E sobrevive à desencarnação;
Kardec, cada vez mais me fim de facilitar a composição do Para que o homem cresça e siga
surpreendo com o manancial de poema, e de acrescentar no iní- [em frente,
verdades cristalinas que emanam cio de alguns a palavra “Crer”, já Eu sei da Lei da Reencarnação.
de seus filões aurifulgentes. que se encontra subentendida no
Desta vez fui encontrar uma original. III – Crer na perfectibilidade dos
belíssima reflexão do emérito Co- Eis o que preleciona o mestre seres mais imperfeitos.
dificador, em cujo contexto se en- de Lyon: Crer na felicidade crescente com
contram os fundamentos da reli- a perfeição.
gião do Espiritismo, e que conden- I – Crer num Deus Todo-Pode-
sa, em postulados lapidares, o espec- roso, soberanamente justo e bom. Eu sei também que o ser mais
tro preciosíssimo de ensinamentos [imperfeito
que enfloram a Terceira Revelação. Eu sei que Deus é Todo-Poderoso, Pode atingir um dia a perfeição,
Pincelei a página inesquecível Único, Eterno, Justiceiro e Bom, E tão depressa quanto houver
com o luminoso conceito exarado E como Pai criou, sempre [eleito
por Emmanuel na epígrafe, e dela [amoroso, Jesus por guia de seu coração.
se evolou com naturalidade o poe- O ser humano e lhe imprimiu seu
ma “Eu sei”, que apresento a se- [dom. IV – Crer na duração da expia-
guir ao amigo leitor em dez estro- ção limitada à duração da imper-
fes lavradas em versos decassíla- II – Crer na alma e em sua imor- feição.
bos, precedendo cada quadra pelos talidade.
respectivos tópicos da mensagem Crer na preexistência da alma como Eu sei que a dor e o sofrimento
de Kardec que lhe deram causa. única justificação do presente. [humanos
Crer na pluralidade das existên- São só processos de reeducação,
1 cias como meio de expiação, de E a expiação, mesmo que dure
XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo
Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio reparação e de adiantamento [anos,
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 354. intelectual e moral. Não durará além da imperfeição.
Eu sei que a Lei Divina, sem favores, Eu sei que o Bem, se vivido e se Estes são alguns dos pilares de
É igualitária em toda a Criação: [feito sustentação desse templo de sabe-
A cada um segundo seus labores Com a alma acesa em sagrado doria infinita, espiritual, univer-
É sua justa retribuição. [ideal, salista, assectária e de origem di-
Transforma o homem num ser vina a que Allan Kardec deu o no-
VI – Considerar a vida terrestre [mais perfeito, me de Espiritismo. Estudar esses
como transitória e uma das fases E no futuro – num Ser Integral. postulados ou não estudá-los,
da vida do Espírito, que é eterno. conhecê-los ou não conhecê-los,
Crer no livre-arbítrio do homem, IX – Submeter todas as crenças assimilá-los ou não assimilá-los,
que lhe deixa sempre a escolha ao controle do livre-exame e da sabê-los ou não sabê-los é opção
entre o bem e o mal. razão, e nada aceitar pela fé de cada um.
cega. Entretanto, senhoreando-nos
Eu sei que a vida humana é Respeitar todas as crenças since- de uma das mais belas bênçãos do
[transitória, ras, por mais irracionais que nos Apocalipse – exatamente aquela
Uma das fases da Vida Real, pareçam, e não violentar a cons- contida no verso terceiro de seu
E que o Homem conduz sua ciência de ninguém. primeiro capítulo –, deixamos
[história, Ver, enfim, nas descobertas da registrada aqui, com a devida e
Livre na escolha entre o bem e o Ciência, a revelação das leis da Na- respeitosa adaptação, esta fraterna
[mal. tureza, que são as leis de Deus. advertência a todos os nossos
irmãos em Humanidade:
VII – Crer na continuidade das Eu sei que toda crença é respeitável, – Bem-aventurados aqueles
relações entre o mundo visível e o Quando sincera, livre, racional, que estudam e vivenciam as pala-
mundo invisível. E que a Ciência, de forma louvável, vras da Terceira Revelação e guar-
Aceitar corajosamente as prova- Revela o mundo da Lei Natural. dam as coisas nela escritas, por-
ções, em vista de um futuro mais que o tempo da Regeneração está
invejável que o presente. X – Eis o Credo, a religião do Es- próximo.
piritismo, religião que pode con-
Eu sei que o mundo humano é ciliar-se com todos os cultos, isto
[interagente, é, com todas as maneiras de ado- Referência:
Unido ao mundo espiritual, rar a Deus. É o laço que deve unir KARDEC, Allan. O Espiritismo é uma re-
E de um futuro gentil, florescente, todos os espíritas numa santa ligião? In: Revista espírita: jornal de estu-
Mais invejável que o tempo atual. comunhão de pensamentos, espe- dos psicológicos, ano 11, n. 12, p. 494-
rando que ligue todos os homens -495, dez. 1868. Trad. Evandro Noleto
VIII – Crer na solidariedade que sob a bandeira da fraternidade Bezerra. 2. ed. 2. reimp. (atualizada). Rio
religa todos os seres passados, universal. de Janeiro: FEB, 2010.
A
escravidão ou escravismo é Criado simples e ignorante, o A partir de 1869, a campanha
um costume bárbaro, cuja Espírito encontra-se apto a desen- abolicionista se intensificou no
origem se encontra nos pri- volver suas potencialidades, ne- Brasil, tendo à frente grandes vul-
mórdios da Humanidade. A es- cessitando, para tanto, de passar tos, dentre os quais se destacou o
cravidão sempre esteve associada por inúmeras experiências reen- então médico e político, Dr. Be-
à exploração do homem pelo ho- carnatórias. Muitos Espíritos re- zerra de Menezes, que mais tarde
mem, que não raro se ilude com nascem como servos, uns para au- se tornaria um dos baluartes do
as posições transitórias da vida, xiliar em tarefas missionárias, ou- Espiritismo:
paralisando os voos da alma. Sem tros em tarefas redentoras e expia-
dúvida que tal prática conspira tórias, produto da lei de causa e [...] Bezerra, espírito prudente
contra as leis divinas: efeito. e cheio de ponderação, lembran-
Felizmente, o vaticínio dos do-se da sanguinolenta “Guerra
Toda sujeição absoluta de um Espíritos superiores se con- de Secessão”, publica nesse mes-
homem a outro homem é con- cretizou. A escravidão legal foi mo ano [1869] um estudo inti-
trária à Lei de Deus. A escravidão extinta, não sem conflitos, dores tulado – “A Escravidão no Brasil
é um abuso da força e desapare- e lágrimas: e as medidas que convém tomar
cerá com o progresso, como de- para extingui-la sem dano para
saparecerão pouco a pouco to- A Declaração dos Direitos do a Nação”.3
dos os abusos.1 Homem das Nações Unidas
(1948) coloca a escravidão na Todavia, não nos deixemos enga-
Na escravidão, está implícita a lista das violações fundamen- nar: a extinção da escravatura não
ideia de inferioridade e desigualdade tais. Hoje, em todos os Esta- constituiu episódio fortuito, ao sa-
de um ser humano em relação ao dos membros soberanos, está bor exclusivo da vontade humana:
outro, seja pela condição social, pela abolida legalmente a escravidão
cor, pela nacionalidade ou mesmo enquanto propriedade. O anties- O século XIX caracteriza-se por
pela capacidade intelectual ou qual- cravagismo permanece o mo- suas numerosas conquistas. [...]
quer outro motivo, até mesmo reli- delo de cruzada moral mais Um desses grandes aconteci-
gioso e cultural, ideologia que bem-sucedido da história da mentos é a extinção do cativeiro.
afronta diretamente a lei moral de humanidade.2 Cumprindo as determinações
igualdade entre os homens. do Divino Mestre, seus mensa-
2
CANTO-SPERBER, Monique (Org.).
1 3
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Dicionário de ética e filosofia moral. São WANTUIL, Zêus. Grandes espíritas do
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. Leopoldo, RS: Unisinos, 2007. V. 1, verbete Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 829. “Escravidão”, p. 559. Bezerra de Menezes, p. 229.
Cada qual
“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.”
– PAULO. (I CORÍNTIOS, 12:4.)
E
m todos os lugares e posições, cada qual pode revelar qualidades divinas
para a edificação de quantos com ele convivem.
Aprender e ensinar constituem tarefas de cada hora, para que colabore-
mos no engrandecimento do tesouro comum de sabedoria e de amor.
Quem administra, mais frequentemente pode expressar a justiça e a magna-
nimidade.
Quem obedece, dispõe de recursos mais amplos para demonstrar o dever bem
cumprido.
O rico, mais que os outros, pode multiplicar o trabalho e dividir as bênçãos.
O pobre, com mais largueza, pode amealhar a fortuna da esperança e da
dignidade.
O forte, mais facilmente, pode ser generoso, a todo instante.
O fraco, sem maiores embaraços, pode mostrar-se humilde, em quaisquer
ocasiões.
O sábio, com dilatados cabedais, pode ajudar a todos, renovando o pensamento
geral para o bem.
O aprendiz, com oportunidades multiplicadas, pode distribuir sempre a riqueza
da boa vontade.
O são, comumente, pode projetar a caridade em todas as direções.
O doente, com mais segurança, pode plasmar as lições da paciência no ânimo
geral.
Os dons diferem, a inteligência se caracteriza por diversos graus, o merecimento
apresenta valores múltiplos, a capacidade é fruto do esforço de cada um, mas o
Espírito Divino que sustenta as criaturas é substancialmente o mesmo.
Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho em que nos
encontramos.
Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos do Infinito Bem.
Coloca a Vontade Divina acima de teus desejos, e a Vontade Divina te aproveitará.
Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 4.
Os efeitos morais
do perdão
“Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto
estais com ele a caminho.” (Mateus, 5:25.)
J
esus, na passagem registrada na-se difícil esquecer o mal come- A caridade não consiste apenas
pelo evangelista Mateus, acon- tido contra elas ao exigirem retra- em ajudarmos os que carecem de
selha-nos a desvencilhar-nos tação das afrontas recebidas, sem necessidades materiais ou que pre-
dos dolorosos grilhões do passado saberem perdoar com verdadeira cisam de consolo para suas difi-
obscuro, por meio da exemplifica- simplicidade de coração. “O per- culdades morais, mas, principal-
ção do ato sublime de perdoar os dão sincero é filho espontâneo do mente, em olvidarmos e perdoar-
que nos feriram, e solicitar per- amor e, como tal, não exige reco- mos os insultos recebidos. Entre-
dão a algum de nossos irmãos que, nhecimento de qualquer nature- tanto, como desculpar com verda-
pelos agravos que lhes tenhamos za”.1 Esquecem que as ofensas são deira espontaneidade de coração,
feito, se transformam em desafe- perdoadas por Deus, na mesma se na trajetória da existência sur-
tos, muitas vezes, por razões de proporção em que houverem per- gem adversários que se tornam
contraditas estéreis e pueris. doado os que as ofenderam. frios e indiferentes, influindo-nos
Na prática do perdão, o tema Ao enunciar o Pai Nosso, o para que sejamos também assim?
sugere ampla abordagem, mas Mestre nos ensina a pronunciar: Dentro dessa realidade, devemos
gostaríamos de centrar essa aná- “Perdoa-nos nossas dívidas, como aceitar as investidas daqueles que
lise nas dificuldades que surgem também perdoamos nossos deve- amamos, em forma de ingratidão
dos relacionamentos existentes en- dores” (Mateus, 6:12).2 Allan Kar- e indiferença, após demonstrações
tre os Espíritos que permanecem dec indaga: “Esse perdão é, po- de puro afeto que lhes outorga-
encarnados. rém, incondicional? É uma remis- mos? Infelizmente, pelas imperfei-
Determinadas pessoas, ao se- são pura e simples da pena em ções morais que ainda nos carac-
rem injuriadas, expressam indig- que se incorre?”. Ele conclui que terizam a personalidade, cultiva-
nação e revolta promovendo ma- não, pois: mos sentimentos de mágoa e ran-
nifestações pessoais de cólera e cor ao recordarmo-nos dos agravos
superioridade na ânsia de agredir [...] a medida desse perdão que sofremos. Kardec, na análi-
o ofensor e colocam-se na mesma subordina-se ao modo pelo se que faz sobre a caridade, na sua
posição do oponente ao quererem qual se haja perdoado, o que mais ampla acepção, alerta-nos:
revidar as agressões recebidas. equivale dizer que não sere-
Nem sempre privilegiam a gene- mos perdoados desde que não Com efeito, se se observam os
rosidade e a complacência e tor- perdoemos.3 resultados de todos os vícios e,
22 420 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
Capa
mesmo, dos simples defeitos digo que perdoeis até sete vezes, Reclama perseverança.
[...] todos têm seu princípio no mas até setenta vezes sete vezes” Pede tenacidade.
egoísmo e no orgulho [...] e is- (Mateus, 18:22). O perdão verda- É bem diferente do perdão teo-
so porque tudo o que sobreex- deiro esquece, em definitivo, o lógico, que deve ter tido, em
cita o sentimento da personali- mal recebido; não se gaba da con- algum tempo, sua utilidade.
dade destrói, ou, pelo menos, cessão a fazer, sem vangloriar-se Não se veste de roupagem fanta-
enfraquece os elementos da ver- da absolvição concedida aos ini- siosa, não se emoldura de expres-
dadeira caridade, que são: a be- migos. Os que agem assim não se sões simplesmente verbais.5
nevolência, a indulgência, a ab- perturbam por “nenhuma raiz de
negação e o devotamento. Não amargura” (Paulo aos Hebreus, Aquele, pois, que se sinta ofen-
podendo o amor do próximo, 12:15) e exemplificam atitudes de dido deve esforçar-se para domar
levado até ao amor dos inimi- desprendimento e compreensão as energias afetivas que, converti-
gos, aliar-se a nenhum defeito legítima, ao acolher com brandu- das em paixões desequilibradas,
contrário à caridade, aquele ra o ofensor. Por esse motivo, lavram ódios intempestivos, de-
amor é sempre, portanto, indí- Martins Peralva (1918-2007), es- monstrando que estamos longe
cio de maior ou menor superio- critor espírita, em uma de suas de alcançar a sublimidade dos sen-
ridade moral, donde decorre que obras sobre os valiosos estudos timentos, especialmente nos mo-
o grau da perfeição está na ra- do Espírito Emmanuel, observa: mentos de crises morais da vida.
zão direta da sua extensão. [...]4 Deveríamos compreender de ma-
O perdão que o Espiritismo e neira decisiva as leis que regem as
O indivíduo que deseja perdoar os amigos espirituais preconi- causas e os efeitos dos pensamen-
sinceramente, consciente das con- zam em verdade não é de fácil tos e atos que conservamos, reco-
sequências sublimes que esse ato execução. nhecendo que ainda nos deleitam
acarreta, assume a atitude inspi- Requer muita boa vontade. as situações de represália para
rada no Evangelho, valendo-se do Demanda esforço – esforço com as pessoas que nos comba-
admirável ensinamento: “Não vos continuado, persistente. tem. A paz é patrimônio divino
que se torna imprescindível de- rogar mais assiduamente a cons- termos em querela grave o que
fender! O Espírito Angel Aguarod, ciência e verificar quantas vezes poderia, facilmente, ter sido des-
em análise sobre a questão, afirma fracassamos no trato com as pes- lembrado. O perdão não exclui a
categórico: soas que nos cercam na esfera fa- necessidade da vigilância, e o amor
miliar, no ambiente profissional, ao próximo deve pautar as deci-
O desejo de paz, nos que ainda no grupo espírita e em outros cír- sões que tomarmos para não ter-
não chegaram ao ponto médio culos que vivenciamos em prol da mos dúvidas quanto a reconci-
da evolução, permanece em evolução particular. Luminosos liar-nos com os nossos oposito-
estado de aspiração, por não conselhos são oferecidos por San- res, conforme recomendação de
terem sabido tirar dos descala- to Agostinho, em benefício do Jesus.
bros sofridos as consequências conhecimento de nós mesmos:
naturais que deles brotam e me-
diante as quais aprende o ser [...] Quando estiverdes indeci- Referências:
1
racional a cimentar a paz na sos sobre o valor de uma de XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo
própria paz, isto é, na paz da vossas ações, inquiri como a qua- Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio
alma, que exige, para tornar-se lificaríeis, se praticada por ou- de Janeiro: FEB, 2010. Q. 335.
2
efetiva, a eliminação de todo tra pessoa. Se a censurais nou- DIAS, Haroldo Dutra. (Trad.) O novo tes-
sentimento antifraternal [...].6 trem, não na podereis ter por tamento. Brasília: EDICEI, 2010. p. 55.
3
legítima quando fordes o seu KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Trad.
Nesse contexto, proliferam sen- autor, pois que Deus não usa de Manuel Quintão. 2. ed. bolso. 2. reimp. Rio
timentos contrários à caridade e duas medidas na aplicação de de Janeiro: FEB, 2011. P. 1, cap. 6, it. 6.
4
que influenciam nocivamente sua justiça. Procurai também ______. O evangelho segundo o espiri-
a sociedade e os indivíduos que a saber o que dela pensam os vos- tismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. bol-
compõem. Ora, se “o progresso ma- sos semelhantes e não despre- so. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
terial de um planeta acompanha o zeis a opinião dos vossos inimi- Cap. 17, it. 2.
5
progresso moral de seus habi- gos, porquanto esses nenhum PERALVA, Martins. O pensamento de
tantes”,7 inferimos que, ao atuar interesse têm em mascarar a Emmanuel. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro:
desse modo, não conseguimos verdade e Deus muitas vezes os FEB, 2011. Cap. 24, p. 175.
6
aplicar o livre-arbítrio para disse- coloca ao vosso lado como um AGUAROD, Angel. Grandes e pequenos
minar a Doutrina Espírita na Ter- espelho, a fim de que sejais problemas. 7. ed. 1. reimp. Rio de Janei-
ra, à luz do Evangelho. Querer lu- advertidos com mais franqueza ro: FEB, 2010. Cap. 6, it. 3, p. 216-217.
tar em objeção aos adversários, do que o faria um amigo. [...]9 7
KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon
magoando-os, muitas vezes, em Ribeiro. 2. ed. bolso. 1. reimp. Rio de Ja-
condição humilhante, com o pro- Paulo, o apóstolo, em mensa- neiro: FEB, 2010. Cap. 11, it. 27.
8
pósito de desforra, afasta-nos da gem inserida em O Evangelho se- PERALVA, Martins. O pensamento de Em-
bondade e da indulgência sin- gundo o Espiritismo,10 convida-nos manuel. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro:
ceras, mormente ao desdenhar os a avaliar as próprias característi- FEB, 2011. Cap. 24, p. 177.
9
esforços daqueles que porventura cas comportamentais e mostra- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.
pretendem reconciliar-se conosco. -nos que somos Espíritos exigen- Guillon Ribeiro. 14. ed. bolso. 3. reimp.
“Quem perdoa liberta o cora- tes, inflexíveis, duros e rigorosos, Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 919a, p. 451.
10
ção para as mais sublimes mani- nem sempre atentos à possibili- ______. O evangelho segundo o espiri-
festações do amor que eleva e san- dade de reconhecer que os rom- tismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. 3.
tifica”.8 Para tanto, é urgente bus- pimentos podem ter sido inicia- reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 10,
car o progresso individual; inter- dos por nossa culpa ao conver- it. 15.
24 422 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
Em dia com o Espiritismo
Bullying
Diferentes faces de um mesmo problema
M A RTA A N T U N E S M O U R A
E
studiosos destacam a im- O bullying faz parte das ações de duas pesquisas relacionadas ao
portância de aprender a di- exacerbadas do outro grupo, bullying escolar. Em estudo reali-
ferenciar as manifestações pois “o poder almejado e esta- zado pela Universidade Federal
do bullying dos comportamentos belecido pelos bullies [agressores] do Paraná, há indicações de que
desrespeitosos e das disputas por nunca tem propósitos altruís- no ambiente escolar “33% das 245
liderança e poder, usuais nas rela- tas. Eles visam ao poder sempre crianças entrevistadas declara-
ções interpessoais. O desrespeito em benefício próprio, seja para ram sentir-se inseguras”.3 A pesqui-
sistemático, contudo, tem raízes divertir ou simplesmente pa- sa conduzida pela organização
culturais (forma de agir de um ra maltratar outras pessoas que, não governamental PLAN (ONG-
povo) e familiares (tipo educação de maneira covarde, são trans- -PLAN), em 2010 (disponível no
doméstica). Já as disputas, enten- formadas em ‘presas’”,2 analisa a site www.plan.org.br), aponta que
didas como confrontos entre duas conhecida psiquiatra e escritora “70% da amostra de estudantes
partes, podem apresentar resulta- brasileira Ana Beatriz Barbosa respondem ter presenciado ce-
dos positivos ou negativos. O pri- Silva. nas de agressões entre colegas, en-
meiro evidencia o comportamen- Em termos topográficos, o bul- quanto 30% deles declararam ter
to das pessoas de bem, assinalado lying pode ocorrer em qualquer vivenciado ao menos uma situação
por autoridade moral e/ou inte- ambiente social: escola, trabalho, violenta no mesmo período”.3 E
lectual. Integra as lideranças be- internet (cyberbullying), meio mi- tem mais:
néficas impulsionadoras do pro- litar, penitenciárias etc. São espa-
gresso que ao ampliarem o seu ços que servem de palco para a [...] o bullying é mais comum
raio de ação se revelam aptas para demonstração, entre outros, do nas regiões Sudeste e Centro-
conquistar o “poder soberano”, violento preconceito homofóbico, -Oeste do País e que a incidên-
que é uma atribuição concedida religioso, racial e socioeconômico cia maior está entre os adoles-
pelo Criador aos que “conseguirão dos bullies. No âmbito deste arti- centes na faixa de 11 a 15 anos
governar o reino dos corações, o go, destacamos o bullying escolar de idade, alocados na sexta
território vivo do espírito, onde se e o cyberbullying. série do ensino fundamental.
exerce o poder verdadeiro”,1 relata O jurista mineiro Lélio Braga [...] Já as vítimas são sempre
Irmão X em singular história de- Calhau apresenta, em livro de sua descritas pelos respondentes
nominada A Lenda do Poder. autoria, significativos resultados como pessoas que apresentam
26 424 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
que, em se consagrando ao bem para ferir o próximo, são men- Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 9,
por si própria, sem constrangi- tes muito desorientadas, incluí- p. 54.
2
mento de qualquer natureza, po- das na categoria dos Espíritos im- SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying:
de libertar e polir o coração [...].7 puros, de acordo com a Escala mentes perigosas nas escolas. Rio de
Espírita: “inclinados ao mal, de Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 8, p. 145.
3
Cyberbullying ou Ciberbul- que fazem o objeto de suas CALHAU, Lélio Braga. Bullying, o que vo-
lying é “uma prática que envolve preocupações”.10 cê precisa saber: identificação, prevenção
o uso de tecnologias de informa- e repressão. 2. ed. Niterói, RJ: Impetus,
ção e comunicação para dar apoio [...] são perfeitamente classi- 2010. Cap. 2, it. 2.1, p. 23.
4
a comportamentos deliberados, ficáveis entre os psicopatas amo- FRANCO, Divaldo P. A mensagem de
repetidos e hostis praticados por rais, segundo o conceito de “mo- amor imortal. Pelo Espírito Amélia Rodri-
um indivíduo ou grupo com a ral insanity” [insanidade mo- gues. Salvador: LEAL, 2008. Cap. 3, p. 24.
intenção de prejudicar outrem”.8 ral], vulgarizado pelos ingleses, 5
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying:
Os bullies virtuais possuem eleva- demonstrando manifesta per- mentes perigosas nas escolas. Rio de
do grau de domínio tecnológico. versidade, na qual se revelam Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 8, p. 147-
Enviam textos/imagens pela Inter- constantemente brutalizados e -154.
6
net e telefones celulares, via e-mail agressivos, petulantes e pérfidos, MIRANDA, Simão; DUSI, Miriam. Previna
ou redes sociais de comunicação indiferentes a qualquer noção da o bullying: jogos para uma cultura de
eletrônica, atingindo numerosos dignidade e da honra, continua- paz. Campinas, SP: Papirus, 2011. Intro-
indivíduos com o intuito de ri- mente dispostos a mergulhar na dução, p. 15.
dicularizar, difamar, humilhar ou criminalidade e no vício.11 7
XAVIER, Francisco C. Pensamento e vi-
assediar, sempre que postam boa- da. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 2.
tos, mentiras e rumores: Contudo, cedo ou tarde, esses reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 5,
enfermos do espírito serão reedu- p. 27.
8
Essa nova modalidade de bul- cados na forma da lei humana e CYBERBULLYING. Disponível em: <http://
lying vem preocupando espe- dos dolorosos processos reencar- pt.wikipedia.org/wiki/Cyberbullying> ou
cialistas em comportamento natórios. Assim, o Espírito deve- em <www.cyberbullying.org> – concebido
humano, pais e professores em dor de hoje será o venturoso de e criado por Bill Belsey, criador e mode-
todo o mundo. Isso se deve ao amanhã, por determinação da le- rador do site <www.bullying.org>.
9
fato de ser imensurável o efei- gislação divina: SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying:
to multiplicador do sofrimento mentes perigosas nas escolas. Rio
das vítimas. Os ataques per- Todos os Espíritos tendem de Janeiro: Objetiva, 2010. Cap. 7, p. 126.
10
versos do ciberbullying extra- para a perfeição e Deus lhes KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
polam, em muito, os muros faculta os meios de alcançá-la Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
das escolas e de alguns pontos pelas provações da vida cor- reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 102.
11
de encontros reais, onde os pórea. Mas, em sua justiça, Ele XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
estudantes se reúnem em ter- lhes concede realizar, em no- Mecanismos da mediunidade. Pelo Espí-
ritório extraclasse (festas, ba- vas existências, o que não pu- rito André Luiz. 26. ed. 4. reimp. Rio de
ladas, praças de alimentação em deram fazer ou concluir numa Janeiro: FEB, 2010. Cap. 24, it. Reencarna-
shoppings, cinemas, lanchone- primeira prova.12 ção de enfermos, p. 189.
tes etc.).9 12
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Referências: Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
1
Os bullies, independentemente XAVIER, Francisco C. Estante da vida. reimp. Rio de Janeiro: FEB. 2011. Comen-
das formas por eles utilizadas Pelo Espírito Irmão X. 10. ed. 1. reimp. tário de Kardec à q. 171.
U
ma das mais belas parábo- sementes logo brotaram, por- tira ele daí motivo de escândalo
las de Jesus é a que se refe- que carecia de profundidade a e de queda. – Aquele que recebe
re ao “semeador”. terra onde haviam caído. – Mas, a semente entre espinheiros é o
Lendo essa parábola, é possível levantanto-se, o Sol as queimou que ouve a palavra; mas, em
fazer uma singela analogia entre o e, como não tinham raízes, se- quem, logo, os cuidados deste
personagem que semeia, na nar- caram. – Outra parte caiu entre século e a ilusão das riquezas
rativa do Cristo, e o dedicado evan- espinheiros e estes, crescendo, abafam aquela palavra e a tor-
gelizador, semeador dos postula- as abafaram. – Outra, final- nam infrutífera. – Aquele, po-
dos espíritas para as nossas crian- mente, caiu em terra boa e pro- rém, que recebe a semente em
ças e jovens. duziu frutos, dando algumas boa terra é o que escuta a pala-
Reflitamos... sementes cem por um outras vra, que lhe presta atenção e em
sessenta e outras trinta. – Ouça quem ela produz frutos, dando
Parábola do Semeador quem tem ouvidos de ouvir. cem ou sessenta, ou trinta por
(S. Mateus, 13:1 a 9.) um. (S. Mateus, 13:18 a 23.)
Naquele mesmo dia, tendo saí-
do de casa, Jesus sentou-se à Escutai, pois, vós outros a pará- O caráter eminentemente edu-
borda do mar; – em torno dele bola do semeador. cativo do Espiritismo é, sem con-
logo reuniu-se grande multi- – Quem quer que escuta a pala- tradita, o maior legado do Conso-
dão de gente; pelo que entrou vra do reino e não lhe dá aten- lador prometido à Humanidade.
numa barca, onde sentou-se, ção, vem o espírito maligno e ti- Sendo uma Doutrina proposi-
permanecendo na margem to- ra o que lhe fora semeado no tiva, o Espiritismo oferece ao ho-
do o povo. – Disse então mui- coração. Esse é o que recebeu a mem a possibilidade da própria
tas coisas por parábolas, falan- semente ao longo do caminho. alfabetização espiritual, ante ad-
do-lhes assim: – Aquele que recebe a semente versidades que caracterizam um
– Aquele que semeia saiu a se- em meio das pedras é o que es- orbe como o nosso.
mear; – e, semeando, uma parte cuta a palavra e que a recebe Incipiente nas descobertas es-
da semente caiu ao longo do ca- com alegria no primeiro mo- pirituais, o homem segue contabi-
minho e os pássaros do céu vie- mento. – Mas, não tendo nele lizando vultosos ônus advindos
ram e a comeram. – Outra par- raízes, dura apenas algum tem- de suas escolhas equivocadas.
te caiu em lugares pedregosos po. Em sobrevindo reveses e per- A grande maioria das criaturas
onde não havia muita terra; as seguições por causa da palavra, humanas ainda permanece atrela-
28 426 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
da a conceitos teológicos escravi- sentir nas escolhas realizadas por crianças e jovens os postulados li-
zantes. aqueles que nasceram em lares bertadores da Doutrina Espírita
Há pouco mais de 150 anos en- espíritas. de maneira pedagogicamente ade-
tre os homens, o Espiritismo ain- A criança que recebe as semen- quada, é imprescindível a figura
da não foi compreendido em toda tes da educação espírita não esta- do evangelizador espírita em nos-
sua propositura. rá isenta dos sofrimentos deste sas instituições.
Estamos ensaiando os primei- mundo, todavia, fará suas escolhas, O evangelizador é o semeador
ros passos no seu entendimento. certas ou erradas, com uma visão da mensagem espírita cristã.
De qualquer forma, o que res- mais abrangente sobre a vida. Cabe a ele o semear da esperança
salta aos olhos de qualquer obser- Não carregará em seu psiquis- nos corações que viajam pelas di-
vador mais atento, é a revolução mo a pecha da culpabilidade, es- mensões da vida, esfaimados de luz.
educativa que a Doutrina Espírita parzida há séculos sobre as mentes Fora da evangelização infanto-
oferta à Humanidade. infantis, pelo contrário, será infor- juvenil, torna-se mais difícil a re-
Observar a vida pela ótica reen- mada de maneira pedagogica- generação do mundo.
carnacionista, conforme ensina mente eficaz, que ela é responsável As crianças e jovens, que apor-
o Espiritismo, é dilatar a visão e a por todas as escolhas que faça. tam em nossos núcleos espíritas,
compreensão sobre velhos pro- Seja no seio familiar, ou nas re- recebem uma informação liberta-
blemas humanos. lações interpessoais, a criança dora, que será confrontada, em
Há quantos séculos viajamos orientada pelos postulados espíri- seu psiquismo, com as velhas in-
entre as duas dimensões sob o tas logrará um caminhar mais formações punitivas e atávicas de
guante da culpa? amadurecido durante a sua exis- séculos atrás.
Encarnamos e desencarnamos tência. Nesse sentido, de modo É fundamental que o dedicado
recebendo uma educação pauta- complementar à ação evan- evangelizador espírita se mante-
da na culpabilidade. gelizadora dos pais e res- nha firme no roteiro traçado pe-
Os efeitos da proposta ponsáveis, e com o in- los bons Espíritos.
educativa do Espiri- tuito de levar às nossas O evangelizador irá se defron-
tismo podem se fazer tar com corações e mentes de va-
riados matizes evolutivos.
30 428 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
Centenário de Inauguração
da Sede Histórica da FEB
Os próximos dias 10 e 11 de Programa comemorativo trabalho Federativo desde
dezembro serão dedicados, na Se- do Centenário da Sede a sua Fundação”.
de Seccional do Rio de Janeiro, na Histórica da FEB
Av. Passos, 30, das 9h às 13h, à Dia 11 – das 9 às 13h
comemoração do Centenário de Dia 10 – das 9h às 13h • Palestras
Inauguração da Sede Histórica da • Palestras Geraldo Campetti Sobrinho
Federação Espírita Brasileira, ocor- Affonso Soares – “Regis- – “A FEB e a difusão do Li-
rida em 11 de dezembro de 1911. tros Históricos da FEB e vro Espírita”.
No programa constarão, além da sua Primeira Sede Pró- Nestor João Masotti – “A
da Exposição de material alusivo ao pria”. FEB e os atuais desafios
evento, palestras a cargo de Affon- Antonio Cesar Perri de para a difusão da Doutrina
so Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho – “A FEB e o seu Espírita”.
Carvalho, Geraldo Campetti So-
brinho e Nestor João Masotti.
Em decorrência da limitação
do espaço, o ingresso só será pos-
sível com a apresentação de con-
vites que estarão à disposição do
público, a partir do dia 7 de no-
vembro de 2011, no horário co-
mercial, nos seguintes locais:
Espiritismo
e Esperanto
A propósito de um cinquentenário
Z Ê U S WA N T U I L
H
á meio século, em abril de 1911, foi editado, sob
os auspícios de Federação Espírita Belga e
graças aos cuidados do esperantista Augus-
to Stas, o opúsculo: Esperanta Psikistaro, a primeira
publicação espiritista na língua internacional.1
Esta brochura, conforme registou J. Camille
Chaigneau na Revue Scientifique et Morale du Spi-
ritisme, contém inúmeros trabalhos de espíritas e
metapsiquistas ilustres, todos apoiando ou salien-
tando o real valor do Esperanto, cuja utilidade para
o Espiritismo alguns deles frisaram em particular.
Veem-se, assim, os nomes de Gabriel Delanne,
Camilo Flammarion, William Stead, o célebre pu-
blicista, Émile Boirac, Quintin Lopez, Le Clément de de Estudos
St.-Marcq, Le Cornec, Dr. Th. Chazarain, Comandante Metapsí-
Darget Pierrard, presidente da Sociedade de Estudos quicos da
Metapsíquicos de Bruxelas, Rud. Feilgenhauer, presi- Dinamarca,
dente da União Central dos Espíritas Alemães, Juan além de ou-
Figueredo, Cristian Lyngs, presidente da Sociedade tros espíri-
tas de várias
1
nacionalidades.
Não confundir esse opúsculo com a Revuo de Esperanta Psikistaro,
Uma carta muito simpática e aprobativa do Dr.
revista esperantista trimestral para a propaganda do Espiritismo
e o estudo de fenômenos correlatos, cujo primeiro número apare- Zamenhof, o criador do Esperanto, precede caloroso
ceu na cidade de Antuérpia (Bélgica), em janeiro de 1913. Publi- artigo do eminente psiquista Émile Boirac, reitor da
cada pela “União Internacional Esperanta Psikistaro”, essa revista Universidade de Dijon, membro honorário da “So-
recebeu a colaboração de escritores espíritas de vários países, in-
ciedade Universal de Estudos Psíquicos” e presidente,
clusive do Brasil, onde encontrou em José Machado Tosta um dos
seus mais fervorosos entusiastas, além de Alcindo Terra, Ismael naquela época, da Academia Esperantista, artigo que
Gomes Braga, Machado de Abreu, etc. termina com estas palavras:
32 430 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
À ciência dos tempos futuros, isto é, ao psiquismo, satisfaz igualmente à razão e ao sentimento. – Que
é, pois, inteiramente útil a língua da Humanidade se unam entre si e na Terra se levantará o reino da
futura: o Esperanto. verdadeira fraternidade.
Trovas Troboj
Rimas Rimoj
Cabeça que não se nutre, Kapo, kiu sin ne nutras
Nas águas do coração, El la sukoj de la koro,
Mais cedo encontra o deserto Iros balda9 en dezerton
Da secura e da aflição. De sekeco kaj angoro.
Confraternização Interfrati1o
Quem luta e confraterniza, Kiu luktas frati1eme,
Entrega-se, com fervor, Sin dedi/as plej fervore
Cada dia, cada hora, Al la semado de amo,
À sementeira do amor. Sen/ese, en /iuhore.
Fonte: Do livro Gotas de luz, ditado pelo Espírito Casimiro Cunha a Chico Xavier.3 (El la libro Lumgutoj, diktita de
la Spirito Casimiro Cunha al Chico Xavier.)
3
Legu: Kazimiro Kunja kaj 8iko 8avjer’.
M AU R O N A S C I M E N TO DE OLIVEIRA JUNIOR
O
Auto-de-fé em Barcelona sintetizar toda a gama de conhe- sitado no passado – ainda hoje cons-
instituiu um duro golpe ao cimento existente na época, e foi titui um dos maiores desafios para
preceito básico da liberdade além, tanto do pensamento cien- o progresso moral da Humanidade.
de expressão de ideias. Utilizando- tífico e filosófico vigente, como tam- Por que razão o radicalismo da
-se de um método incompatível com bém, e talvez principalmente, dos fé é tão presente em nossos dias?
os novos rumos que o século XIX dogmas religiosos predominantes. O progresso tecnológico cami-
já demonstrava seguir, a Doutrina Considero que todo esse con- nha a passos largos dando-nos a
Espírita, em seus primórdios, via a texto, ainda pouco explorado pelos oportunidade de vislumbrar reali-
dura face da intolerância religiosa. estudiosos, criou uma atmosfera de dades antes tidas como verdadeira
O mundo do conhecimento incerteza dentre aqueles que se acha- ficção. Atualmente, com enorme
nesta época já não encontrava vam estar a par das verdades abso- facilidade, podemos estar em con-
obstáculos intransponíveis para a lutas, razão pela qual a Doutrina tato com pessoas do mundo inteiro
sua evolução conceitual. A Dou- sofreu anátema dos dois polos di- sem sair de nossas casas. Além disso,
trina Espírita, filha de seu tempo vergentes: do conhecimento cien- a informação não é mais um direito
histórico, não esteve alheia a todo tífico da época, pondo em descrédi- de poucos – temos a oportunidade,
esse contexto, o que a faz ter um to as manifestações mediúnicas, e da se assim o quisermos, de conhecer
caráter ainda mais renovador. Em religião oficial, combatendo todos mais sobre a nossa saúde, os pro-
outras palavras, Allan Kardec, um os princípios novos e/ou reinter- blemas da nossa cidade e a atuação
observador lógico, de uma sensibili- pretados pela Doutrina Espírita.2 dos representantes políticos.
dade filosófica incomum, conseguiu Esta inicial abordagem histórica Com este cenário, teoricamente
pretende demonstrar que a into- tão animador, vemos ainda guer-
1
lerância religiosa não é algo a ser revi- ras sangrentas em nome da Reli-
KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.
gião. Ouso dizer que a maioria
Guillon Ribeiro. 40. ed. 3. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2010. P. 2, Auto-de-fé em 2
Ver em O livro dos médiuns, trad. Guillon dos conflitos atuais tem, como
Barcelona, 9 de outubro de 1861, p. 334. Ribeiro, Ed. FEB, capítulo 4, Dos Sistemas. origem, as diferenças religiosas.
34 432 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
O filósofo Karl Marx, criador do violar o primeiro mandamento Portanto, o verdadeiro espírita,
Manifesto Comunista (1848) e de Jesus: a caridade e o amor do antes de tudo, deve ter a consciên-
autor da obra O Capital (1867), próximo. Perseguir os outros, cia de que as suas convicções não
asseverou que a Religião era o por motivo de suas crenças, é levarão necessariamente o seu
ópio do povo. atentar contra o mais sagrado próximo à adesão. Conhecedor da
Essa ideia perde fundamento direito que tem todo homem, o realidade essencial, nunca agirá
uma vez que a Religião, em todas de crer no que lhe convém e ado- com intolerância ante as con-
as épocas da Humanidade, consoli- rar a Deus como o entenda. [...]3 vicções religiosas do seu próximo.
dou-se apenas em virtude da ação E diante da intolerância, não
humana, isto é, não é um fenômeno A Doutrina Espírita vem nos reagir, agir, principalmente con-
que pudesse existir por si só. esclarecer que as criaturas estão solidando os nossos conhecimen-
A Doutrina Espírita vai além, em níveis de consciência diferentes, tos, pois apenas valorizamos de
ensejando-nos a percepção da de acordo com o grau de evolução fato aquilo que compreendemos
causa e não apenas de seus efeitos, alcançado nas sucessivas existên- profundamente. Lembremos: o
demonstrando que os maiores obs- cias. Desse modo, a diversidade verdadeiro espírita é aquele que
táculos à evolução intelecto-mo- religiosa é apenas uma decorrência tenta ser hoje melhor do que on-
ral da Humanidade provêm do natural das distintas categorias de tem e amanhã melhor do que ho-
orgulho e do egoísmo. compreensão da realidade. je, sempre em busca da caridade,
Se analisarmos conflitos reli- que tem na tolerância, uma de
giosos entre Estados ou verificar- 3
suas bases essenciais.4
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
mos a origem de uma atitude in-
espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed.
tolerante de uma pessoa perante a 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap.
4
outra, chegaremos à inequívoca 28, it. 51. Idem, ibidem. Cap. 17, it. 4.
constatação de que o orgulho e o
egoísmo preponderam.
Em O Evangelho segundo
o Espiritismo, Allan Kar-
dec assevera:
De todas as liber-
dades, a mais inviolá-
vel é a de pensar, que
abrange a de cons-
ciência. Lançar
alguém anáte-
ma sobre os
que não pen-
sam como ele
é reclamar pa-
ra si essa li-
berdade e
negá-la
aos ou-
tros, é
a madrugada de 1o de se-
N
Seriam bastante escassos os da- evocarmos a figura ímpar de nosso
tembro, desencarnou, aos dos biográficos do saudoso com- homenageado.
86 anos, no Rio de Janeiro, panheiro, sempre sinceramente Zêus Wantuil nasceu no Rio
após longa e tenaz enfermidade, modesto, avesso a qualquer tipo de Janeiro, às 14 horas do dia 6 de
estoica e cristãmente suportada, o de projeção, se não fosse o afetuoso outubro de 1924, na rua Marques
nosso confrade Zêus Wantuil, ex- cuidado de sua mãe, D. Zilfa, e de de Leão, 44, no bairro do Engenho
-diretor da Federação Espírita Bra- sua sobrinha, Zilvete Wantuil, bem Novo. Era filho do ex-presidente da
sileira (FEB). como a igualmente afetuosa me- FEB, Antônio Wantuil de Freitas,
mória de Rúbia da Costa Guima- e da professora Zilfa Fernandes
rães, a mais antiga funcio- de Freitas. Fez o curso primário
nária da FEB, ainda em na Escola Brasileira, no bairro de
atividade em seu Depar- São Cristóvão, e aos 11 anos in-
tamento Editorial. gressou no curso ginasial (hoje
D. Zilfa anotava lan- denominado curso fundamental),
ces significativos da concluindo-o em 1940.
vida do filho, as par- Seus primeiros contatos com a
ticularidades do seu Doutrina Espírita se deram através
caráter adamantino, já de reuniões espíritas semanais, diri-
manifestado em sua gidas por seu pai na casa em que
infância, e é desse viviam, no mesmo bairro de São
material valioso, ca- Cristóvão. E é nesse ano de 1940
rinhosamente conser- que passa a frequentar a FEB em
vado por Zilvete, que sua Sede na Av. Passos, 30.
nos valemos para a reda- Sempre muito aplicado aos estu-
ção desta biografia. Rúbia, dos, metódico, cuidadoso, obtinha
que o conheceu em março invariavelmente os primeiros luga-
de 1956, ano em que ela come- res. Por sincera modéstia, não se
çou a trabalhar na FEB, reti- sentia bem quando alguém via, em
rou de sua memória as seus cadernos escolares, os elogios
mais gratas lembranças quase diários dos mestres.
e impressões desse con- Seu interesse por pesquisas sobre
vívio diário que muito a história do Espiritismo surge em
a edificou, grafando-as 1942, aos 18 anos, sendo muito
em sentido texto, igual- incentivado pelo pai e por confra-
mente precioso, para bem des estudiosos do assunto.
36 434 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
Em 1945, conquista graduação de Ismael. Zêus não se limitava ape- sempre se recusou a ocupar car-
na Faculdade de Farmácia da Uni- nas a assessorar o Dr. Wantuil, já gos na Diretoria, abrindo, entre-
versidade do Brasil e é escolhido, que não se negava ao desempenho tanto, uma exceção, quando, enfa-
por seu brilhante desempenho, para de tarefas simples, bem materiais, ticamente convocado pelo ex-pre-
fazer parte de uma embaixada que como, por exemplo, consertos e sidente Francisco Thiesen, desem-
visitaria, em janeiro de 1946, as reparos de toda natureza. Também penhou as funções de 3o Secretário,
cidades de Buenos Aires e Monte- transportava livros destinados aos de 1975 a 1979, e de Assessor da Pre-
vidéu. Na capital argentina, visita Correios, e o fazia com tal humil- sidência, de 1980 a 1990, na ges-
pequena livraria e lá encontra um dade que foi tomado, durante longo tão deste último, continuando no
exemplar da 1a edição francesa da tempo, pelo gerente da agência, cargo, até 2005, já na gestão do
obra Imitação do Evangelho, segundo por um simples empregado da Fe- atual presidente.
o Espiritismo, de Allan Kardec, obra deração. Àquela agência iam fun- Seus artigos em Reformador,
de que a FEB se serviu para rever cionários das gráficas da Igreja impecáveis sob todos os aspectos,
suas edições, a partir da 33a, de O Católica e da Assembleia de Deus. versavam em sua quase totalidade
Evangelho segundo o Espiritismo. Zêus, vez por outra, os convidava sobre temas históricos do Espiri-
Em 31 de março de 1946, faz-se para o almoço, praticando a pura tismo, e foi nesse campo que nosso
sócio da FEB e, em 20 de agosto fraternidade e ganhando de todos homenageado mais se destacou,
de 1947, apesar de sua pouca ida- a mais sincera amizade. atuando como emérito pesquisa-
de, é admitido no “Grupo Ismael” Seguindo o exemplo do pai, que dor. Três obras notáveis, editadas
por aprovação unânime dos seus se preocupava com os estudos dos pela FEB, resultaram do seu talento
membros e dos Espíritos Antônio funcionários jovens, fornecendo- inato: As Mesas Girantes e o Espiri-
Luís Saião e Luís Olímpio Guillon -lhes material escolar e facilitan- tismo (1958), Grandes Espíritas do
Ribeiro. Ainda em 1947, o Espírito do-lhes o horário de trabalho, ele Brasil (1969) e Allan Kardec – Pes-
André Luiz lhe dedica o capítulo lhes dava aulas de reforço, prati- quisa Biobibliográfica e Ensaios
VIII da obra No Mundo Maior, in- cando um seu frisante atributo: a de Interpretação, em parceria com
titulado “No santuário da alma”.1 paciência. Francisco Thiesen (3 volumes,
Zêus acompanhou toda a obra Muito disciplinado, rigoroso no 1973), tendo sido, esta última, em
de construção do Departamento cumprimento dos deveres, exigia 2004, compactada em 2 volumes
Editorial, chegando ao sacrifício dos empregados produtividade e sob o título Allan Kardec: o Educa-
de dormir no prédio para melhor dedicação, mas também procedia dor e o Codificador.
conduzir o empreendimento, o para com eles qual um verdadeiro Seus talentos de escritor e pes-
que considerava um mero dever. pai ou irmão, principalmente quisador se revelavam de tal for-
Segundo informações dadas por quando adoeciam, tranportando- ma brilhantes que lhe granjearam
ele próprio a Rúbia Guimarães, -os por sua conta e até fornecendo- a simpatia, a admiração e o res-
começou a frequentar esporadica- -lhes medicamentos. peito de Canuto Abreu, um dos
mente aquele Departamento por Embora houvesse renunciado mais renomados historiadores do
volta de 1949/1950, com a finali- ao casamento, para se dedicar in- Espiritismo no Brasil, como o atesta
dade de ajudar o pai, então a bra- teiramente à grande obra que em- este trecho de uma sua carta datada
ços com problemas de saúde, nas preendeu, Zêus compreendia pro- de 25 de abril de1952.
suas funções de presidente da Casa fundamente o valor da formação
de uma família, possuindo todos Venho acompanhando com cres-
1 os predicados para tanto. cente interesse os seus trabalhos de
Ver a obra Testemunhos de Chico Xavier,
cap. “Caso Marcelo-Zêus – 7-4-47”, de Suely Nos seus fecundos serviços ao cronista e biografista espírita, ramo
Caldas Schubert, 4a edição, FEB, p. 122. programa da Casa de Ismael, Zêus literário que tentei sem êxito nem
38 436 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
O Livro dos Médiuns
E o “Plano de Trabalho do Movimento Espírita Brasileiro”
“Todos os médiuns são, incontestavelmente, chamados a servir à causa do
Espiritismo.”(O Livro dos Médiuns, cap. XXXI, it. XV.)
O
Livro dos Médiuns completa pelo Codificador, constatamos a a uma análise comparativa com o
150 anos de publicação e, sua admirável eficiência, ratificada presente, quando contamos com
indubitavelmente, somos por ele mesmo na “Introdução” de excelentes recursos técnicos e tec-
avocados a acuradas reflexões a res- O Livro dos Médiuns: nológicos: Estamos alcançando
peito do impacto da obra ao longo hoje, com todas estas vantagens, a
deste período. O pioneirismo cien- [...] felizes nos sentimos por haver eficiência de Allan Kardec na difu-
tífico da obra esboça uma baliza podido comprovar que o nosso são da Ciência Espírita? Contudo,
temporal: revela o mecanismo da trabalho, feito com o objetivo convém advertir: aferir que apenas
comunicabilidade dos Espíritos e de prevenir os adeptos contra alcançamos o resultado do Codifi-
suas leis, convoca todos, indistin- os perigos do aprendizado, pro- cador aludiria a um trabalho ho-
tamente, a um inadiável processo duziu frutos e muitos consegui- dierno no mínimo, mediano.
autoeducativo, alavancando o pro- ram evitar os escolhos, graças à Sugerimos ainda considerar,
gresso moral do homem. Inaugura leitura atenta desta obra.1 além da eficiência do Codificador,
assim, a Era do Espírito. outra característica que se destaca
Hoje nos encontramos em con- Importa destacar que Allan Kar- do seu perfil: a objetividade. Obje-
dição privilegiada: com base nos dec comprovara a eficiência alcan- tividade na concretização da sua
prodigiosos conhecimentos conti- çada, no breve lapso de tempo entre missão: a difusão da ciência espíri-
dos em O Livro dos Médiuns e nas as publicações da primeira e da se- ta para esclarecer e precaver os ho-
suas inegáveis implicações na Hu- gunda edições da obra.Considerando mens quanto aos escolhos da inte-
manidade, abarcamos, numa vasta as limitações inerentes ao século ração com os Espíritos. A esta fina-
visão, o passado no seu contexto, o XIX, os resultados por ele obtidos lidade consagrou o seu tempo, em-
presente e as suas particularidades, na difusão do Espiritismo Prático pregou todos os recursos, sem tergi-
assim como vislumbramos as pro- foram assombrosos. Certamente, é versar com detratores e contradito-
babilidades do futuro. possível contrapor a este destaque res em discussões estéreis. Repetiu
Com base nesta ampla percep- a qualidade do conteúdo de O Livro incansavelmente os princípios lógi-
ção propomos uma reflexão: anali- dos Médiuns que, em tese, garan- cos advindos da sua investigação
sar o passado para avaliar o presente tia a sua propagação, porém, sem científica, visando alcançar a razão,
e idealizar o futuro, tendo O Livro dúvida, é a eficiência do método que leva à convicção.
dos Médiuns como bússola. Nossa do Codificador que se evidencia, Avaliando o panorama atual, po-
reflexão parte da fase inicial, logo num contexto de restrições e difi- deríamos afirmar que temos primado
após a publicação dessa obra. culdades de toda ordem. Esta cons- pela objetividade na propagação dos
Analisando o trabalho realizado tatação nos remete oportunamente, princípios revelados na obra home-
40 438 R e f o r m a d o r • N o v e m b r o 2 0 1 1
Dissemos que o Espiritismo é No Plano de Trabalho igualmente bramos o Sesquicentenário de publi-
toda uma ciência, toda uma filo- consta na Diretriz 1: cação de O Livro dos Médiuns, reco-
sofia. Portanto, quem quiser co- nhecendo os relevantes benefícios
nhecê-lo seriamente deve, como [O Espiritismo] é o antídoto na- deste advento para a Humanidade,
primeira condição, dispor-se a tural para os problemas do ho- igualmente meditemos em torno da
um estudo sério [...].5 mem, esclarecendo-o e conso- nossa grave responsabilidade: possi-
lando-o em suas necessidades.2 bilitar-lhe o prosseguimento ilumi-
A Diretriz 2 do Plano de Trabalho, nativo. Neste cometimento, busque-
ao seu turno enuncia: “Promoção E na Diretriz 6: mos sempre inspiração no traba-
e realização do estudo metódico, lho primoroso do Codificador, a fim
constante e sistematizado da Dou- Assegurar permanente capacita- de que os nossos planos de trabalho,
trina Espírita”.2 ção dos trabalhadores espíritas imitando-lhe os predicados, alcan-
Nossas meditações em relação para recepcionar, acolher e inte- cem hoje os resultados exitosos de
ao Estudo nos levam aos seguintes grar as pessoas que chegam ao ontem. Que acima de tudo, nos dei-
questionamentos: o estudo siste- Centro Espírita, atendendo-as xemos impregnar pelos nobres senti-
matizado tem contemplado favora- em suas necessidades espirituais, mentos que animaram Allan Kardec
velmente o conhecimento da me- morais e materiais.2 na execução do extraordinário labor.
diunidade, do fenômeno mediúnico Inspiramo-nos no apelo de Allan
e da obsessão? A evangelização in- Nossas reflexões neste quesito es- Kardec e com ele “convidamos todas
fantojuvenil tem abordado estes tão pautadas nos seguintes ques- as Sociedades Espíritas a colabo-
princípios com a intensidade devi- tionamentos: Estamos difundindo rarem nessa grande obra. Que de
da? Ou as crianças e jovens espíritas devidamente os princípios das in- um extremo ao outro do mundo
ainda desconhecem as questões fluências espirituais, objetivando elas se estendam fraternalmente as
relativas à mediunidade? Os tare- a prevenção das obsessões? Temos mãos, aprisionando o mal em ma-
feiros espíritas, que devem reali- fomentado o aspecto profilático do lhas inextrincáveis”.7 Unamo-nos na
zar as suas atividades em sintonia conteúdo de O Livro dos Médiuns consecução deste Projeto Superior,
com os dirigentes espirituais, estão com a mesma ênfase que preconi- tarefa que cumpre realizemos com
devidamente esclarecidos a respei- zamos os recursos espíritas no aten- zelo e alegria sob a égide de Jesus.
to deste mecanismo de interação? dimento às necessidades espirituais?
Temos priorizado, na formação e Temos sido considerados eficientes Referências:
1
qualificação de todos os tarefeiros no atendimento às pessoas que KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad.
espíritas, o estudo da mediunidade chegam com distúrbios de ordem Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de
e do fenômeno mediúnico? espiritual? Temos empreendido os Janeiro: FEB, 2009. Introdução, p. 13.
2
Finalmente, no que diz respeito mesmos esforços para qualificar PLANO DE TRABALHO PARA O MOVIMENTO
à Prática Espírita, destacamos de os tarefeiros nas atividades de Difu- ESPÍRITA BRASILEIRO (2007-2012). Apro-
O Livro dos Médiuns: são do Espiritismo como para as vado pelo CFN em 12/4/2007. In: Refor-
que visam oferecer recursos palia- mador, ano 125, n. 2.140-A, jul. 2007.
3
[...] Não sendo os Espíritos senão tivos para as distonias espirituais? KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad.
as almas dos homens, é claro que Importa elucidar que, quando Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de
há Espíritos desde quando há nos referimos à prática espírita, Janeiro: FEB, 2009. P. 1, cap. 3, it. 19.
4
homens; por conseguinte, des- pretendemos aludir, em verdade, ______. ______. Introdução. p. 14.
5
de todos os tempos eles exerce- à vivência dos postulados espíritas, ______. ______. P. 1, cap. 3, it. 18.
6
ram influência salutar ou perni- sobretudo, permeando todas as tare- ______. ______. P. 2, cap. 23, it. 244.
ciosa sobre a Humanidade.[...]6 fas espíritas. Nestes dias em que lem- 7
______. ______. Cap. 29, it. 350.
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