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USP/FEA/EAE

EAE 524 Uma análise da fase monopolista do capitalismo


Prof. Dr. Paulo de Tarso Soares
2º. Sem de 2015

Espírito da disciplina
Inspira-se em Bensäid, em “Marx intempestivo: grandezas e misérias de uma aventura
crítica”, quando ele diz que << Nem tudo tem valor, o texto e o contexto definem as
possibilidades e os limites das interpretações. >>.
Inspira-se em Lukács, em “O marxismo ortodoxo”, quando ele diz que: << A tarefa do
marxismo ortodoxo não é ser o guardião de tradições há muito confiscadas e sim de
promover um combate incessante às influências corruptoras do pensamento burguês,
relacionando o momento presente à tarefa histórica de desnudar o véu do fetichismo. >>.
Inspira-se em Bensäid, em “Marx intempestivo: grandezas e misérias de uma aventura
crítica”, quando ele diz que: << Zombar como um crítico, ao invés de excomungar como
um santo. >>.
Inspira-se em Nietzsche, em “O anticristo”, quando ele diz que: << Esta obra não é para
muitos, aliás é para bem poucos. É para os que são honestos até a dureza apenas para
suportar a minha seriedade, a minha paixão. Só esses são os meus verdadeiros alunos. O
que importa o resto? O resto é apenas o homem comum. É preciso ser superior à
vulgaridade pela força, pela altura da alma, pelo desprezo. >>.
É UMA DISCIPLINA OPTATIVA. Ela foi desenvolvida para um tipo específico de
aluno. Para aquele aluno que não tem pretensão a intelectual chique, a comportar-se de
modo politicamente correto, nem a fazer parte de alguma corrente burguesa, ou melhor,
pequeno-burguesa que erradamente se diz socialista-marxista.

Sumário da disciplina
A luta de classes mina as bases do capitalismo. Ela promove a substituição do
trabalho direto pelas máquinas, fomenta a aplicação da ciência à produção. Cria o
trabalhador coletivo, a inteligência social, que se torna a principal força produtiva.
Invalida, por conseguinte, a teoria do valor e torna desnecessária, obsoleta, a propriedade
privada dos meios de produção.
Na atual fase do desenvolvimento do capitalismo, a fase monopolista, a fase de
decomposição e parasitismo, sua última fase, esse modo de produção da vida não
consegue mais cumprir as promessas generosas e progressistas da sua etapa anterior, da
sua fase competitiva. A sobrevivência do capitalismo, da sociedade como ela é hoje,
depende cada vez mais da transformação dos homens em coisas, em sonâmbulos, em
meros personagens de um espetáculo em que o mercado aparece como um deus. Mantida
a produção da vida mediante a divisão social do trabalho na forma capitalista, o trabalho
estranhado, alienado, continuará a nos degradar. O fetichismo cada vez mais tomará conta
das diferentes dimensões da nossa vida. Coisas de carne e osso, então, continuarão
erroneamente sendo chamadas de humanos.
O plano ideológico tornou-se um palco privilegiado para a luta de classes. Sem
ele, como dar continuidade à depredação dos recursos naturais, à dizimação de
populações promovida pelas guerras imperialistas pelo controle de matérias-primas e de

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mercados, ao sufoco da vida mesmo a dos mais abastados nos países avançados? Como
manter esses elementos indispensáveis à manutenção da taxa de lucro em um sistema em
decomposição (senil)?
A contradição entre o caráter social da produção e o caráter privado da apropriação
agudiza-se. Características dos sucessores do capitalismo, do socialismo e da barbárie
estão cada vez mais evidentes. O homem comum, no entanto, ideologicamente impedido,
não as percebe ou, o que é a mesma coisa, não dá a elas a devida relevância. Ele tem a
mente formada por clichês, comporta-se como um sonâmbulo, é parte integrante do
espetáculo capitalista.
O que vai predominar depende da luta de classes. Na abordagem aqui realizada,
no entanto, não se faz o elogio do homem nem se atribui um caráter místico aos
explorados. O foco, ao contrário, está na crítica ao que é característico da fase monopólica
do capitalismo: a aliança da aristocracia operária com a oligarquia financeira. A única
coisa certa, garantida, é que sem a abolição da propriedade privada, do Estado e do
mercado, sem a superação do capitalismo não haverá a emancipação do ser humano.

Avaliação
Mediante um número indefinido de provas “surpresas” (sem aviso de quando será
aplicada) e um seminário. O processo é mais importante que a média aritmética das notas.
Um aluno que começou mal mas acabou bem pode ser aprovado, enquanto um aluno que
começou bem mas acabou mal pode ser reprovado.

1) ANÁLISE MARXISTA.
1.1) O trabalho do Marx:
a) Pergunta: “Como nos livramos de relações sociais fetichizadas?”.
b) Resposta: “A emancipação do ser humano exige a abolição da produção da vida nos
moldes capitalistas, exige a abolição do mercado, da propriedade privada e do
Estado.”.
COLLETTI, Lucio (1977). “Introduction to Early Writings of Karl Marx”, 2a. ed.,
Middlesex/London: Pelican / New Left Review, 1977 e reproduzida em La
cuestión de Stalin y otros escritos sobre política y filosofia, Barcelona:
Editorial Anagrama e disponível em
http://pt.scribd.com/doc/174570581/COLLETTI-L-1977-La-cuestion-de-
Stalin-y-otros-escritos
MARX, Karl (2007). A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo. (Feuerbach e
história - rascunhos e anotações - do fim de novembro de 1845 a meados de
abril de 1846). (1ª. Parte)

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NETTO, José Paulo & BRAZ Marcelo (2010). Economia Política: uma introdução
crítica. 6ª. Ed. São Paulo: Cortez (Biblioteca básica de serviço social; v. 1).
(Cap. 1, Trabalho, sociedade e valor)
MARX, Karl (2008). Manuscritos econômico-filosóficos. 2ª. Reimpressão. São
Paulo: Boitempo).
MARX, Karl (2009). Para a questão judaica. São Paulo: Expressão Popular.
MARX, Karl (1998). Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Cortez
1.2) Visão de marxista de longo prazo do capitalismo:
a) Capital caminha para sua dissolução.
b) Motor do processo: luta de classes (superioridade da grande produção e livre
concorrência capitalista).
c) Acentuação dos processos de socialização do trabalho e de alienação-
estranhamento-coisificação-fetichismo (da opressão).
d) Corrosão das bases do capitalismo: abolição do trabalho direto / intensificação da
aplicação da ciência à produção a ponto desta tornar-se a principal força produtiva,
minando as bases da exploração, invalidando a teoria do valor e corroendo a
propriedade privada dos meios de produção.
MARX, Karl (1998). Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Cortez
MARX, Karl (1977). Grundrisse: Foundations of the critique of political economy.
London/New York: New Left Review/Pelican Books, Notebook VI e
Notebook VII.
MORAES NETO, Benedito R. (2003). Século XX e trabalho industrial:
taylorismo/fordismo, ohnoísmo e automação em debate. São Paulo: Xamã.
MORAES NETO, Benedito R. (1991). Marx, Taylor, Ford: as forças produtivas
em discussão. 2ª. Ed. São Paulo: Brasiliense.
1.3) Visão leninista do capitalismo na atualidade
a) Última fase do desenvolvimento do capitalismo: antessala do socialismo ou da
barbárie.
b) Fase atual do desenvolvimento do capitalismo: monopólio.
c) Traço característico: decomposição e parasitismo do capitalismo.
d) Queda da taxa de lucro compensada pelas maquinações financeiras (exportação de
capital, política colonial, guerras imperialistas): desestímulo ao progresso técnico.
e) Capital financeiro: oligarquia financeira e aristocracia operária.
f) Acentuação da opressão.
LUKÁCS, György (1989). Tecnologia e relações sociais, in Bukharin: teórico
marxista. Belo Horizonte: Oficina de Livros.
LUKÁCS, György (2012). Lenin. São Paulo: Boitempo.
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LENIN, Wladimir I. (1979). O imperialismo, fase superior do capitalismo (ensaio


popular). in Obras Escolhidas, Tomo I. São Paulo: Alfa-Omega.

2) REAÇÃO BURGUESA.
2.1) Keynesianismo:
a) Reconhecimento do impacto da monopolização e da crise do capitalismo.
b) Tentativa burguesa para dar uma sobrevida ao capitalismo.
c) Incorporando a luta de classes à dinâmica do capitalismo.
d) Ascensão e queda.
NEGRI, Antonio (1994). Keynes and the capitalist Theory of the State, in Labor of
Dionysius: a critique of the State-form, Michael Hardt & Antonio Negri,
University of Minnesota Press.
HICKS, John R. (1974). The crisis in keynesian economics. Oxford: Basil
Blackwell.
HOLLOWAY, John (1995). The Abysm Opens: The Rise and Fall of
Keynesianism. In: Global Capital, National State and the Politics of Money.
Ed. Werner Bonefeld e John Holloway. Londres: St. Martin's Press.
Também disponível em português, traduzido pelo Prof. Dr. Eleutério Prado,
mimeo. FEA/USP, s.d.
CASTRO, Antonio Barros de (1979). O capitalismo ainda é aquele. Rio de Janeiro:
Forense Universitária.
2.2) Neoliberalismo triunfante:
a) Reconhecimento da derrota teórica e política do liberalismo e tentativa (frustrada)
de invalidar o marxismo.
b) Nega haver relação entre a natureza humana e a propriedade privada e o mercado:
mercado e propriedade privada - o mais inteligente arranjo institucional inventado
pelo homem.
c) Nega que a concorrência necessariamente se transforma em monopólio (fenômeno
exógeno ao sistema, mesmo assim não importante e passageiro.
d) Mera ideologia do monopólio, da culminação da transformação do homem em
coisa: uma farsa que faz a apologia do indivíduo para na realidade transformá-lo
em uma coisa (empresa). A empresa como paradigma da vida dos homens -
judicialização substituindo a interação direta entre os homens.
e) Crítica o keynesianismo por fomentar a indisciplina social e econômica.
FOUCAULT, Michel (2008). Nascimento da Biopolítica. São Paulo: Martins
Fontes.

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3) COMENTÁRIOS ADICIONAIS.
3.1) Assalto à razão:
a) Tentativa de impedir que, da inegável crise do capitalismo se extraia a consequência
socialista.
b) Artifício: capitalismo e socialismo como frutos da razão inumana.
c) A opressão fundamental não decorre da produção da vida sob a condição de
propriedade privada, mediante o mercado, garantidos pelo Estado. A luta de classes
está superada ou, pelo menos não tem mais tanta relevância. A opressão é fruto de
condições naturais e culturais (cor da pele, sexo, educação - “capital humano” etc.).
d) As críticas ao sistema guardam subserviente afastamento e respeitoso silêncio ao
mercado e à propriedade privada.
e) Ideal freudiano se realizando: repressão como civilização; ascetismo judaico-cristão
apresentado como evolução da razão.
LUKÁCS, György (1979). Existencialismo ou marxismo? São Paulo: Livraria de
Ciências Humanas.
LUKÁCS, György (1959). El assalto a la razón. Mexico-Buenos Aires: Fondo de
Cultura Económica.
ROUANET, Sérgio Paulo (2009). A verdade e a ilusão do pós-modernismo. In As
razões do Iluminismo. São Paulo: Companhia das Letras
3.2) Sociedade do espetáculo:
a) Relações sociais mediadas pelas aparências.
b) Incapacidade para distinguir o relevante do irrelevante, o que se segue do que é
contraditório, o que complementa do que nada tema ver.
c) Ápice do fetichismo - Âmago do irracionalismo do capitalismo.
DEBORD, Guy (1997). A sociedade do espetáculo. 2a. ed. Rio de janeiro:
Contraponto.
3.3) Endeusamento do mercado:
a) Mercado substitui o Deus místico.
b) Onipresença, onisciência e onipotência do mercado.
c) Todas as dimensões da vida são determinadas por critérios de custo e benefício.
COX, Harvey (1999). “O mercado como Deus: vivendo a nova dispensação”.
mimeo. Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense.
(original publicado na Revista The Atlantic, março de 1999).
3.4) Banalidade do mal:
a) Crítica à normalidade, ao senso comum.

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b) O mal, fruto da inadequação da consciência, praticado em escala gigantesca.


c) Incapacidade para distinguir o fato da ficção, o verdadeiro do falso (as normas do
pensamento).
d) Clichês formam/substituem a consciência das pessoas.
ARENDT, Hannah (1999). Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade
do mal. São Paul Companhia das Letras.
PEREIRA, Helena Claudia de Faria Guimarães de Sousa (2000). Do deserto:
pensar o mal com Hannah Arendt. Dissertação de Mestrado (Filosofia
moderna e contemporânea). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do
Porto (PT) disponível em http://www.ulisses.us/tese-hel-fp98.htm

4) SEMINÁRIOS: PARTE DA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO


1) MCCARTHY, John D. and MAYER, N. Zald. (1977). “Resource Mobilization and
Social Movements: A Partial Theory.” American Journal of Sociology 82:
1212-1241.
2) WU, Chin-Tao (2006). Privatização da Cultura: a intervenção corporativa nas artes
desde os anos 80. São Paulo: Boitempo.
3) LOSURDO, Domenico (2003). Para uma crítica da categoria de totalitarismo.
Revista Crítica Marxista, no. 17. Campinas: IFCH/Unicamp.
4) CASTRO, Antônio Barros de (1979). O capitalismo ainda é aquele. Rio de Janeiro:
Forense Universitária.
5) COLLETTI, Lucio (1977). La cuestión de Stalin, in La cuestión de Stalin y otros
escritos sobre política y filosofía. Barcelona: Editorial Anagrama disponível
em http://pt.scribd.com/doc/174570581/COLLETTI-L-1977-La-cuestion-
de-Stalin-y-otros-escritos.
6) LOSURDO, Domenico (2010a). Stalin: história crítica de uma lenda negra. Rio de
Janeiro: Revan.
7) MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto (2013). A segunda guerra-fria: geopolítica e
dimensão estratégica dos Estados Unidos – das rebeliões na Eurásia à África
do Norte e ao Oriente Médio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
8) LOSURDO, Domenico (2010b). A linguagem do império: léxico da ideologia
estadunidense. São Paulo: Boitempo Editorial.
9) LOSURDO, Domenico (2012). A Não Violência: história fora do mito. Rio de
Janeiro: Revan.

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