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AO1/GESET3

SEGMENTO DE FIOS E CABOS TELEFÔNICOS:


O QUE MUDA A PARTIR DA FIBRA ÓPTICA ?

Paulo Roberto de Sousa Melo


Ana Paula Fontenelle Gorini
Sérgio Eduardo Silveira da Rosa
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íNDICE
Página

1. INTRODUÇÃO
3

2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS PRODUTOS


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2.1 - Fibras e Cabos Ópticos


2.2 - Cabos Metálicos

3. ANÁLISE DA VIABILIDADE DA SUBSTITUIÇÃO INTEGRAL


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DA REDE DE TRANSMISSÃO INSTALADA POR FIBRA ÓPTICA

4. SETOR DE FIBRAS E CABOS ÓPTICOS


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4.1 - Mercado Mundial e Principais Fabricantes


4.2 - Mercado Nacional

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5. APOIO DO SISTEMA BNDES


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6. PERSPECTIVAS
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1 - Introdução

O enorme avanço das telecomunicações verificado nos últimos anos teria sido
impossível na ausência de meios de transmissão adequados. A introdução das
fibras ópticas, em particular, contribuiu de forma decisiva para a extraordinária
redução do custo das comunicações.

A grande difusão das fibras ópticas, no entanto, não significa o desaparecimento


dos fios metálicos atualmente empregados nas telecomunicações. De fato, o alto
custo dos equipamentos terminais para conversão óptica-elétrica ainda impedirão,
por muitos anos, a viabilização das redes ópticas aonde o tráfego de informações é
reduzido, como na ligação entre o assinante de telefonia e a central de comutação.
Além disso, a própria extensão das redes telefônicas convencionais irá assegurar,
por muitos anos, a existência de considerável demanda de reposição de cabos
metálicos.

O presente trabalho, portanto, embora dedicado primordialmente às


telecomunicações por meios ópticos, inclui uma apreciação sumária de segmentos
de fios e cabos metálicos para telecomunicações.

2 - Caracterização Geral dos Produtos

2.1 - Fibras e Cabos Ópticos

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As fibras ópticas constituem-se, basicamente, em fios de vidro de altíssima pureza


e transparência, no interior dos quais trafegam ondas luminosas que permitem,
através de codificação apropriada, a transmissão de informação. Como, de
maneira geral, a capacidade de transmissão por meio de ondas eletromagnéticas é
proporcional à freqüência da onda, a fibra óptica possibilita taxas de transmissão
teóricas da ordem de 10 mil vezes superiores às das microondas. Além disso, por
transportarem luz, e não eletricidade, as fibras são isentas de interferência
eletromagnética com o ambiente.

A transmissão de informação no interior das fibras ocorre sob a forma de pulsos


de luz emitidos de forma intermitente, de tal modo que seja possível associar cada
emissão - ou ausência de emissão - a uma unidade de informação (bit). A luz é
transmitida através do núcleo da fibra, sendo impedida de “escapar” para o exterior
pela reflexão na interface entre o núcleo e a camada externa ou casca da fibra,
conforme a figura a seguir.

Fibra Multimodo

Fibra Monomodo

É importante observar que as fibras ópticas proporcionam apenas um meio para o


transporte de informação, fazendo parte de sistemas de comunicação que são
preponderantemente eletrônicos, e não ópticos. Os equipamentos de emissão e de
recepção, portanto, devem transformar a informação eletrônica em óptica, e vice-
versa. Esta característica das fibras ópticas tem conseqüências importantes no
que se refere aos custos de implantação.

Apesar das grandes vantagens mencionadas - às quais se acrescentam seu peso e


volume menores - em relação aos meios de transmissão metálicos e ao espectro
de rádio, as fibras ópticas só começaram a ser utilizadas na década de 1970. O
principal motivo para a demora no desenvolvimento desta tecnologia foi a
impossibilidade, até a introdução do laser em 1960, de se codificar a luz de forma
apropriada, visando o transporte de informação. Assim, as primeiras fibras para

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uso em telecomunicações foram produzidas em 1969 por pesquisadores da Nippon


Sheet Glass e da Nippon Electric, baseando-se em trabalhos de laboratórios
britânicos.

O desenvolvimento posterior das fibras ópticas concentrou-se na modificação de


determinadas propriedades ópticas das fibras, de modo a melhorar as condições
de transmissão. As propriedades mais importantes, assim como suas
modificações devidas ao desenvolvimento tecnológico, são relacionadas a seguir.

• Atenuação: constitui-se na propriedade mais importante dos meios de


transmissão em geral, sendo particularmente relevante quando se trata de meios
materiais, como no caso das fibras ópticas. A atenuação pode ser definida
como a perda de potência do sinal com a distância, ou seja, se a atenuação for
muito grande, o sinal chegará muito fraco ao receptor (ou repetidor), que não
conseguirá captar a informação transmitida.

As primeiras fibras produzidas industrialmente em 1970 - pela Corning Glass


Works (EUA) - apresentaram atenuação da ordem de 20 dB/km, que é o valor
máximo para viabilizar a transmissão. Para se ter uma idéia de como foram
notáveis os avanços tecnológicos na transmissão óptica, basta dizer que hoje
são comuns fibras com atenuação de 0,3 dB/km, o que significa uma perda de
potência cerca de 1.500 vezes menor que 20 dB/km1.

• Dispersão modal: perda das características originais do sinal, sendo associada


ao modo de propagação da luz nas fibras; é inexistente nas fibras monomodo.

• Dispersão cromática: deve-se ao fato de a luz ser composta por radiações de


diversos comprimentos de onda de forma que, ao longo da transmissão,
ocorrem diferenças na velocidade de propagação dos vários “feixes” de luz.

Ao contrário da atenuação, a dispersão não altera a potência do sinal, mas


prejudica a recepção do conteúdo de informação que se deseja transmitir.

No que diz respeito às propriedades ópticas e suas aplicações, as fibras podem


ser classificadas em dois grupos principais: multimodo e monomodo.

⇒ Fibras multimodo: são utilizadas em aplicações nas quais a densidade de


informações é baixa, e a distância a ser percorrida é pequena. De fato, tais
fibras, embora apresentem desempenho inferior ao das monomodo, permitem,
por sua própria natureza, o emprego de equipamentos terminais mais simples, o
que reduz o custo global da instalação.

1
É importante observar que o limite teórico da atenuação, que é uma característica intrínseca de
vidro, é da ordem de 0,18 dB/km, o que significa que sob este aspecto, a tecnologia de transmissão
óptica já alcançou a maturidade

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⇒ Fibras monomodo: transmitem grandes taxas de informação a distâncias


elevadas, mas exigem equipamentos mais complexos e mais caros. São
adequadas, portanto, para redes telefônicas públicas, comunicação de dados,
TV a cabo, etc., onde o custo dos equipamentos terminais é pouco expressivo
em face do total do investimento necessário.

O processo de fabricação das fibras ópticas compreende duas etapas principais,


quais sejam:

⇒ confecção de uma barra maciça de sílica2, denominada pré-forma; e

⇒ estiramento gradual da pré-forma, que vai constituir a fibra propriamente dita.

No que se refere à confecção da pré-forma, esta pode ser produzida através de


vários processos, que apresentam em comum a deposição de gases na superfície,
interna ou externa, de barras de vidro. Estes gases são, de maneira geral, cloretos
de silício e de elementos dopantes, tais como germânio, fósforo e boro, que ao se
depositarem irão resultar numa barra com a concentração desejada de impurezas
(dopantes). As propriedades ópticas da fibra serão determinadas nesta etapa,
sendo função basicamente da natureza e concentração dos dopantes.

O processo mais utilizado no mundo, para menores escalas de produção, é o


denominado MCVD (Modified Chemical Vapor Deposition). Neste processo, uma
mistura de oxigênio, tetracloreto de silício e cloretos de dopantes passa pelo
interior de um tubo de quartzo. Através do aquecimento, por meio de um maçarico
que se desloca longitudinalmente, verifica-se a oxidação dos cloretos, depositando-
se óxidos na parede interna do tubo. Uma vez terminada a deposição, o vazio
central do tubo se fecha por tensão superficial, completando a pré-forma.

O processo mais avançado é o VAD (Vapor Axial Deposition), que se baseia na


deposição externa a partir de dois aplicadores ortogonais entre si, sendo o que
mais se aproxima de um processo contínuo. Os gases provenientes de um dos
aplicadores vão formar a casca, e os provenientes do outro, o núcleo.

A etapa de estiramento é praticamente idêntica em todos os processos. Consiste


no tracionamento da pré-forma, por meio de rolos, após aquecimento a alta
temperatura para aumento da fluidez. Ao sair do forno de aquecimento, além disso,
a fibra é recoberta por uma resina (acrilato), para protegê-la da abrasão e da
umidade. As fibras são então enroladas em bobinas, podendo atingir comprimento
da ordem de 60 a 80 km.

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Pouquíssimas empresas detêm a tecnologia de confecção da barra maciça de sílica pura, entre as
quais destacam-se a americana GE e a alemã Heraeus.

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As fibras ópticas apresentam vulnerabilidade relativamente alta a solicitações


mecânicas, o que exige que sejam protegidas através de revestimentos
apropriados. Com este objetivo, as fibras são acondicinadas em tubos de plástico,
cujo volume interno é preenchido por um gel, para maior proteção. Os cabos
ópticos são formados pela reunião de vários destes tubos, contendo até 72 fibras,
sendo as mais comuns de até 36 fibras.

Os cabos ópticos eram utilizados, habitualmente, enterrados. Com o objetivo de


redução de custos das obras civis, no entanto, foi desenvolvida a tecnologia OPGW
(Optical Ground Wire), que consiste em utilizar um cabo óptico, revestido por
cabos de alumínio trançados, que funciona como pára-raios de linhas de alta
tensão. A única desvantagem deste sistema é a necessidade de se utilizar um
ativo (o cabo pára-raios nas torres) das concessionárias de transmissão de energia
elétrica.

2.2 - Cabos Metálicos

Até o advento das fibras ópticas, as comunicações à distância eram transmitidas


de duas maneiras bastante distintas: a radiodifusão e através de condutores
metálicos. O material utilizado, no último caso, é geralmente o cobre, por ser o
metal que apresenta propriedades elétricas mais favoráveis.

Os cabos metálicos podem ser classificados em duas categorias, que serão


sumariamente descritas em seguida: cabos de pares trançados e cabos coaxiais.

⇒ Cabo de pares trançados. O par trançado liga fisicamente o assinante


individual de telefonia à central de comutação, sendo constituído por um par de
fios metálicos. Cada fio encontra-se envolvido por material isolante, que pode
ser papel ou plástico, assumindo cores universalmente padronizadas. Os pares
procedentes de diversos assinantes de uma mesma área são, por sua vez,
trançados em conjunto, até formar cabos de até 100 pares (grupos), os quais,
depois de isolados, são acondicionados em tubulações de chumbo. Os cabos de
maior capacidade podem conter mais de 2.400 pares, e são normalmente
formados por grupos de até 100 pares, que são igualmente isolados e
acondicionados em chumbo.

⇒ Cabos coaxiais. A transmissão de grande número de canais de telefonia a


longas distâncias através de cabos de pares apresenta grande dificuldade de
ordem prática. Assim, foram introduzidos, nas comunicações entre centrais, os
cabos coaxiais. Tais cabos consistem em condutores de cobre, no interior dos
quais trafega a informação contida nos canais de voz, codificada por técnicas
apropriadas (multiplexação).

7
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No que se refere aos sistemas de telefonia, o uso dos cabos coaxiais vem se
tornando cada vez mais reduzido, em função das vantagens das fibras ópticas.
No Brasil, por exemplo, desde 1988, não há entroncamentos entre grandes
centrais de telecomunicações que não sejam ópticos. Não obstante, a principal
aplicação do cabo coaxial, no momento, encontra-se em sistemas de televisão
por assinatura, nos quais ainda não é economicamente viável efetuar ligações
por fibra óptica até a residência do assinante, onde somente o custo da interface
óptico-elétrica ficaria em torno de US$ 300 a 400 por assinante.

3 - Análise da viabilidade da substituição integral da rede de transmissão


instalada por fibra óptica

Antes de se avaliar o mercado para fibras e cabos ópticos, é conveniente examinar


os condicionamentos técnicos e econômicos da eventual substituição da rede
existente de cabos metálicos. Para evitar complicações desnecessárias, não será
considerada a substituição de outros meios - tais como microondas - por fibras
ópticas.

Um par de cobre destina-se, nas redes telefônicas, à transmissão de um canal de


voz, o que equivale, digitalmente, à taxa de transmissão de 64 kb/s. Assim, um
cabo de 3.400 pares (o de maior dimensão fabricado no Brasil) teria capacidade
para transmitir 217,6 Mb/s. O custo do par para a concessionária de telefonia é de
US$ 25/km, ou seja, aproximadamente US$ 85/m no caso do cabo de maior porte
(3.400 pares).

Para se efetuar a comparação com a fibra óptica, o procedimento correto é


considerar não a capacidade intrínseca do meio óptico - a qual, como foi dito na
Introdução, é praticamente ilimitada - e sim a do emissor do pulso luminoso. Este
último, nos equipamentos mais modernos, tem capacidade de 2,5 Gb/s, o
equivalente a 39 mil canais de voz. No que refere ao investimento, o custo da fibra
contida num cabo óptico é da ordem de US$ 25/m.

Um cabo que contenha uma única fibra, portanto, custa 10 vezes mais que um par
de cobre, mas transporta 39 mil vezes mais informação, ou seja, apresenta relação
custo benefício 3.900 vezes superior.

A transmissão óptica oferece ainda outras vantagens, relativamente aos meios


eletrônicos convencionais, quando se trata de longas distâncias:

⇒ as ondas luminosas não sofrem interferências de ondas do espectro


radioelétrico, o que resulta em maior confiabilidade de transmissão;

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⇒ o peso dos cabos ópticos é muito inferior ao dos metálicos, reduzindo assim o
custo das instalações e montagens de suporte;

⇒ a menor atenuação da transmissão óptica permite maior espaçamento entre


amplificadores ao longo da linha 3; e

⇒ há a possibilidade de grande ampliação da capacidade de transmissão com


baixos custos incrementais.

Pode-se concluir, portanto, que as comunicações ópticas são muito superiores às


eletrônicas, em termos de custo benefício, quando estão envolvidas quantidades
consideráveis de informação e distâncias expressivas. Na chamada rede de
acesso (ligação entre os assinantes de telefonia e a central de comutação), porém,
os pares de cobre ainda serão utilizados durante muito tempo, por dois motivos
principais:

⇒ o custo da interface entre o sistema óptico e o terminal telefônico - que continua


eletrônico - ainda é muito elevado; e

⇒ o custo de um canal de voz é 10 vezes maior na ligação óptica que através do


par de cobre (ver acima).

Na telefonia convencional, desta forma, a tendência predominante é, e deverá


permanecer, a de utilizar-se meios ópticos para a rede de transporte (ligação entre
centrais, interurbanas, etc.), e cabos e pares de cobre para a rede de acesso.
Mesmo na televisão a cabo, na qual a quantidade de informação transmitida é
muito maior que na telefonia, o usual é a existência de uma estrutura híbrida, ou
seja, a fibra nos troncos e o cobre - cabos coaxiais, no caso - para ligação com o
assinante.

4 - Setor de Fibras e Cabos Ópticos

4.1 - Mercado Mundial e Principais Fabricantes

O mercado mundial de fibras ópticas é da ordem de 20 milhões de km/ano, tendo


alcançado cerca de US$ 6 bilhões em 1994. Somente o mercado norte-americano
representa quase a metade desse total, conforme nos mostra a Tabela 1 abaixo,
que projeta crescimento médio do setor ao redor de 20% ao ano até 1999.

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No Brasil, os cabos ópticos terrestres da Embratel apresentam uma distância de 80 Km entre as
repetidoras.

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Tabela 1
MERCADO MUNDIAL DE FIBRAS ÓPTICAS
Em US$ bilhões
Regiões 1994 1999(*)
Mercado Norte-americano 2,2 39% 4,8 33%
Mercado Europeu (ocidental) 1,4 25% 3,8 26%
Outros 2,1 36% 5,8 40%
Mercado Global 5,7 100% 14,4 100%
Fontes: ElectroniCast, KMI (Newport, RI)
(*) Projeção

O setor se estrutura de forma muito concentrada. De fato, apenas duas empresas


detêm cerca de 80% do mercado norte-americano de fibras ópticas: a Corning
Glass (líder mundial do setor) e a AT&T, com produção de 4 milhões km/ano e 2,5
milhões km/ano naquele país, respectivamente. Da mesma forma, a indústria
japonesa, cuja produção atingiu 4 milhões km de fibras ópticas em 19954, é
dominada por três grandes produtores, que detêm 80% do mercado japonês, quais
sejam, a Sumitomo Electric Industries Ltd. (líder com 32% de participação) seguida
da Fujikura Ltd. e Furukawa Electric Co. Na Europa, com mercado da ordem de 3,5
milhões de km/ano de fibra, as empresas líderes são Pirelli e Alcatel.

Em geral as empresas que produzem a fibra óptica também atuam no seu


cabeamento final, muitas vezes através de associações, como é o caso da Siecor -
joint-venture entre a americana Corning Glass e a alemã Siemens. A Siecor,
conforme acordo dos dois principais acionistas, produz cabos ópticos nos EUA -
onde a Corning é líder na produção de fibras ópticas - e produz fibra óptica na
Europa - onde a Siemens atua na produção de cabos ópticos, de modo a não
competir diretamente nos principais mercados dos seus acionistas.

As parcerias tecnológicas são também usuais na indústria, uma vez que certos
processos de produção são mais sensíveis a ganhos de escala. Além disso,
algumas patentes ainda estão em vigor, como é o caso do processo japonês VAD
(Vapor-phase Axial Deposition), de propriedade da Sumitomo, e do OVD (Outside
Vapor Deposition), de propriedade da Corning. Ambos os processos se justificam a
partir de produção superior a 600.000 km/ano. O método MCVD (Modified
Chemical Vapor Deposition), cuja patente - já vencida - pertencia ao Bell Labs da
AT&T, representou em torno de 35% do volume produzido em 1994, enquanto os
métodos VAD/ OVD representaram mais de 60% do volume total de fibra óptica
produzido naquele ano5.

A Corning, cuja produção mundial de fibra óptica atinge cerca de 8 milhões de


km/ano - 50% nos EUA e o restante produzido majoritariamente na Europa - tem,

4
Fonte: Nikkei weekly
5
Fonte: Pinhão, Caio (1996), p.48.

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por exemplo, associações com a italiana Pirelli na Fos (Itália), com a Siemens
alemã via a já citada joint-venture, entre outras.

A Pirelli - líder mundial na produção de cabos ópticos e terceira maior produtora de


fibras ópticas, atrás das americanas Corning e da AT&T - concentra sua produção
mundial de fibra óptica na Itália (em parceria tecnológica com a Corning, a
produção da Fos é pelo método OVD); na Inglaterra (produção pelo método VAD,
em associação tecnológica com a Sumitomo do Japão); nos EUA e no Brasil, onde
está previsto expressivo incremento na produção local de fibra óptica, até então
adquirida principalmente da Xtal e da Fos. A produção mundial da Pirelli está em
torno de 4 milhões km/ ano de fibras ópticas.

Em relação à distribuição do mercado de cabos ópticos por setores demandantes,


o gráfico abaixo apresenta os dados referentes ao mercado americano, onde o
principal demandante é o setor de comunicações (voz e dados) tendo representado
76% do total do mercado em 1993, parcela equivalente a US$ 988 milhões naquele
ano.

Gráfico 1: Distribuição do Mercado


Americano de Cabos Ópticos - 1993
(Valor de Mercado: US$ 1,3 bilhões)

Militar e
Outros
Aeroespacial 10%
5%
TV a cabo
9%

Rede de
Dados Telecomunicações
19% 57%

Fonte: Fiber Optics and Communications (1994) em Pinhão C.(1996):


“Energia e Novas Matérias: O caso das Fibras Ópticas.”

4.2 - Mercado Nacional

O mercado brasileiro de cabos em geral - incluindo cabos padronizados, cabos de


energia, fios esmaltados, cabos em cobre e cabos ópticos para telecomunicações -
representou US$ 1,1 bilhão em 1995. Deste total, os cabos para telecomunicações
- em cobre e ópticos - representaram cerca de 30%.

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O mercado de cabos ópticos no Brasil, que se constitui praticamente em


monopsônio do Sistema Telebrás, totalizou US$ 120 milhões em 1995 e cerca de
US$ 150 milhões em 1996, situando-se as projeções para 1997 em torno de US$
200 milhões6.

Em termos físicos, a demanda doméstica representou 180 mil km de fibras ópticas


contidas7 em 1995 (sendo 13% em OPGW), gerando importações da ordem de 30
mil km de fibras e cabos com 20 mil km de fibras contidas (vide Tabela II). Para
1996, estimativas do Sistema Telebrás prevêem um crescimento físico do mercado
de 122%, ou seja, estima-se uma demanda da ordem de 400 mil km de fibras
ópticas encapsuladas.

A demanda projetada para 1997 é de cerca de 800 mil Km de filbras contidas, a


qual deverá ser atendida da seguinte forma:

- Ocupação de capacidade ociosa. ( A ABC Xtal deverá produzir a plena


capacidade, o que representa triplicar sua produção de 1995).

- Expansão de capacidade produtiva ( a capacidade da Pirelli Cabos estará na faixa


de 300 a 600 mil Km/ano ).

- Surgimento de novos fabricantes, como a Tectelcom8 e a japonesa Furukawa,


devendo a capacidade desta última atingir de 300 a 500 mil Km de fibra.

Apesar da expansão descrita acima, estima-se em 1997 um déficit de oferta da


ordem de 100 mil Km de fibra, atendido por importações, e que deverá ser
revertido em 1998 com a plena entrada em operação dos novos investimentos.

As Tabelas II e III registram a situação atual e futura do mercado de fibras ópticas


no Brasil.

TABELA II
DIVISÃO DO MERCADO DE FIBRAS ÓPTICAS NO BRASIL - 1995/1997
(milhares
de km)
Empresa 1995 1996 (est.) 1997 (est.)
Produção % Produção % Produção %
ABC-XTAL 85 53 170 53 300 41
PIRELLI CABOS 35 22 70 22 200 28

6
A aquisição dos cabos ópticos representa cerca de 1/3 do total dos investimentos na rede de fibras
ópticas.
7
A expressão “fibras ópticas contidas” refere-se à quantidade total de fibras já encapsuladas no
cabo óptico, o qual contém usualmente de 2 a 36 fibras. No Brasil, a Embratel vem implantando nas
suas principais rotas dois cabos ópticos com 24 fibras cada um.

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FURUKAWA - - - - 100 14
BRACEL 10 6 20 - 30 4
SUBTOTAL 130 81 260 6 630 87
IMPORTAÇÃO 30 19 60 19 100 13
TOTAL 160 100 320 100 730 100
Fonte: Empresas do Setor, Ministério das Comunicações, Telebrás.
(est.) estimativa

TABELA III
DIVISÃO DO MERCADO DE CABOS ÓPTICOS NO BRASIL 1996/1997
(milhares de km)
Empresa 1995 1996 (est.) 1997 (est.)
Produção % Produção % Produção %
PIRELLI CABOS 75 47 180 41 350 44
FURUKAWA 30 17 80 18 160 20
FICAP 30 17 65 15 130 16
OUTROS 25 14 60 14 90 11
SUBTOTAL 160 89 385 88 730 91
IMPORTAÇÃO 20 11 50 11 70 9
TOTAL 180 100 435 100 800 100
Fonte: Empresas do Setor, Ministério das Comunicações, Telebrás.
(*) Em km de fibras ópticas. Os cabos mais utilizados têm desde 2 até 36 fibras.
(est.) estimativa

Devido à política de exclusividade de compras do Sistema Telebrás, vigente entre


anos de 1984 e 1989, somente a ABC Xtal produzia fibra óptica no Brasil nesse
período e os demais fabricantes atuavam na produção do cabo óptico. A partir do
término da reserva de mercado, alguns fabricantes licenciaram a tecnologia do
CPqD e começaram a produzir parte da fibra que anteriormente adquiriam da ABC
Xtal, como é o caso da Pirelli Cabos e da Bracel. A Furukawa também detém a
tecnologia do CPqD, todavia, ainda não iniciou sua produção de fibra óptica no
país, prevista para iniciar em 1997. Todos os fabricantes mencionados com
exceção da ABC Xtal ainda pagam royalties ao CPqD.

Atualmente, os principais fabricantes de fibra óptica no Brasil - através do método


MCVD - são a ABC Xtal, a Pirelli Cabos e a Bracel (Alcatel), respectivamente, com
65%, 27% e 8% da produção doméstica, que totalizou 130 mil km em 1995. A
ABC Xtal somente produz a fibra óptica, enquanto as demais empresas também
atuam no cabeamento óptico. Todos os três fabricantes detêm a tecnologia de

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produção da pré-forma 8, tendo adquirido a tecnologia desenvolvida pelo CPqD da


Telebrás9.

No que se refere aos fabricantes de cabos ópticos no Brasil, destacam-se a Pirelli


Cabos, a Furukawa e a Ficap, que juntas responderam por 76% do mercado
nacional de cabos ópticos em 1995, conforme os dados da Tabela II acima.

Os preços médios10 - que hoje a nível internacional são da ordem de US$ 0,10 por
metro de fibra e aproximadamente US$ 6,00 por metro de um cabo óptico padrão
com 24 fibras - deverão manter-se estáveis no curto prazo, em virtude do grande
aquecimento da demanda. Posteriormente, entretanto, o aumento global da oferta,
aliado ao progresso técnico, provávelmente ocasionará consideráveis reduções dos
preços.

O comportamento do mercado de cabos ópticos no Brasil pode ser verificado pela


observação das Tabelas IV e V abaixo.

TABELA IV
DIVISÃO DO MERCADO DE CABOS ÓPTICOS NO BRASIL 1995/1997
(milhares de km)
Empresa 1995 1996 (est.) 1997 (est.)
Produção % Produção % Produção %
PIRELLI CABOS 75 47 180 41 350 44
FURUKAWA 30 17 80 18 160 20
FICAP 30 17 65 15 130 16
OUTROS 25 14 60 14 90 11
SUBTOTAL 160 89 385 88 730 91
IMPORTAÇÃO 20 11 50 11 70 9
8
Hoje a pré-forma tem alíquota zero de importação, o que vem estimulando alguns produtores a
importarem a pré-forma e passarem direto para a etapa de estiramento do processo de fabricação.
9
Entre os principais programas desenvolvidos pelo CPqD, além das comunicações óticas incluindo
fibras de vidro, equipamentos de transmissão e interfaces, destacam-se ainda (i) uma família de
centrais telefônicas digitais Trópico; (ii) rádio e multiplexadores digitais; (iii) comutação de pacotes
de dados e telex; (iv) estações terrestres de baixo custo para comunicação por satélite; (v) circuitos
híbridos e circuitos integrados, em associação com o Laboratório de Microeletrônica da Escola
Politécnica da USP; (vi) materiais para redes telefônicas externas, como cabos, resinas e
periféricos.

10
Inclui fibras monomodo e multimodo.

14
15

TOTAL 180 100 435 100 800 100


Fonte: Empresas do Setor, Ministério das Comunicações, Telebrás.
(*) Em km de fibras ópticas. Os cabos mais utilizados têm desde 2 até 36 fibras.
(est.) estimativa

TABELA V
PROJEÇÃO DO MERCADO BRASILEIRO DE
CABOS ÓPTICOS - 1996/2000
(em milhares de km de fibras contida)
ANO DIMENSÃO DO MERCADO
1996 435
1997 800
1998 960
1999 1.150
2000 1.380

5 - Apoio do Sistema BNDES

Os segmentos de fibras e cabos ópticos e de cabos metálicos não contaram, até o


momento, com praticamente nenhum apoio do Sistema BNDES. De fato, a
fabricação de fibras pela ABC-Xtal foi iniciada após a venda da participação da
BNDESPAR na empresa. Assim, o único envolvimento do Sistema com o setor
optoeletrônico consiste do apoio da BNDESPAR, no âmbito da CONTEC, à ASGA
Microeletrônica, cujo montante é de aproximadamente 1 milhão de reais.

6 - Perspectivas

Conforme observado no item 2, a tecnologia de produção de fibras ópticas já se


aproxima da maturidade, no que diz respeito ao material propriamente dito. A
situação dos sistemas de comunicação óptica, no entanto, é bastante diferente,
como será visto nos comentários que se seguem sobre a evolução tecnológica
futura destes sistemas.

- Amplificação Óptica

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16

A amplificação dos sinais ópticos, necessária devido à atenuação (ver item 2) é em


geral efetuada eletronicamente, ou seja, o sinal óptico é convertido em eletrônico,
amplificado e novamente convertido em óptico. Recentemente, entretanto, foi
desenvolvida a amplificação inteiramente óptica, que proporciona considerável
aumento na eficiência do sistema, e que já está sendo utilizado no campo.

- Multiplexação

A principal limitação à capacidade de transmissão de informação por meios ópticos


deve-se não ao meio em si (fibra), mas ao emissor, que nos sistemas em operação
não ultrapassa 2 GB/s, equivalentes a 30 mil canais de voz. Através de técnicas
muito avançadas de multiplexação, ainda não inteiramente operacionais, seria
possível transmitir a informação de até 100 emissores de 2 GB/s numa única fibra.

- Comutação Óptica

A culminância de um sistema de comunicação óptica seria a possibilidade de


comutar informação de diversas origens de forma inteiramente óptica. Um sistema
desta natureza plenamente desenvolvido teria capacidade muitíssimo superior à do
sistemas atuais, tornando realidade, por exemplo, a anunciada “auto-estrada da
informação”. É importante observar, porém, que embora já existam protótipos de
comutadores ópticos, a viabilidade de uma rede totalmente óptica é controversa,
sendo questionada por diversos especialistas.

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