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CAPA ATIVAMENTE

Titulo:

Chegada do Idoso, você sabe o que fazer?


Anamnese e Teste de Rastreio Cognitivo

Ou
Como Elaborar a Linha Base de Perfil Cognitivo do Idoso

Rachel Dias e Shayenne Torres


*Este material foi desenvolvido pelas psicólogas Rachel Dias (CRP
05/40363) e Shayenne N. Torres (CRP 05/37482), que são sócias e
cofundadoras da empresa AtivaMente Cursos e Treinamento LTDA (CNPJ
34.501.587/0001-34), para distribuição gratuita.

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Sobre as autoras

Eu sou a Rachel Dias, psicóloga, minha trajetória clínica e com idosos se


iniciou dentro dos estágios que fiz na faculdade e após me formar fui buscar mais
conhecimento para trabalhar com os idosos. Escolhi realizar o curso de
especialização em Psicogeriatria no IPUB da UFRJ. E já na sequência, iniciei o
processo para entrar no Mestrado em Saúde Mental, também no IPUB, UFRJ.
Ainda cursando o Mestrado, iniciei a especialização em Neuropsicologia na USP,
sempre focando na minha paixão que é o trabalho com os idosos.
Eu sou a Shayenne Torres, me formei em psicologia em 2008 e o início da
minha trajetória profissional se deu atuando com crianças por isso minha
primeira especialização foi em Psicanálise Infantil pela Santa Casa. Quando
estava trabalhando na Pestalozzi fui convidada a atuar, também com a terceira
idade, a partir desse momento fui direcionando meu olhar para esse público
descobri uma nova paixão. Na sequência me especializei em Psicopatologia pelo
IFSM e em Gerontologia pela UFF.

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Como tudo começou

Nós somos as cofundadoras e coordenadoras do AtivaMente. Que nasceu


em 2017, mas antes disso trabalhamos juntas em 2011 em uma outra instituição,
aqui em Niterói mesmo, que oferecia o serviço de Centro de Convivência de
Idosos.
E foi nesse espaço que começou a surgir uma amizade e uma admiração
pelo trabalho uma da outra. Lá também foi uma grande escola em vários
sentidos. Desde a atuação com a equipe multidisciplinar, manejo com os
diferentes perfis cognitivos assim como desenvolver um trabalho junto aos
familiares.
A partir de todas essas experiências somadas as vivências da parte prática
dos nossos cursos de especialização tivemos a oportunidade de articular teoria
e prática, afinando o nosso raciocínio clínico.
Após esse período que trabalhamos juntas, atuamos em outros espaços,
mas sempre mantendo o contato uma com a outra e também com os idosos que
faziam parte do grupo.
E foi assim, com o incentivo desses que em 2017, iniciamos o nosso
primeiro grupo de estimulação cognitiva do AtivaMente. Nosso desejo era
oferecer um espaço de cuidado e prevenção, promovendo a vitalidade cerebral
e qualidade de vida no processo de envelhecer.
Com um diferencial de escuta e de valorização do grupo como um elemento
que promove saúde mental ao enriquecer as relações pessoais e a criação de
vínculos.

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Compartilhar conhecimento

Uma outra frente de trabalho que nos move, é compartilhar o conhecimento


adquirido e nossa experiência clínica com outros profissionais da área da saúde
e educação com a mesma paixão que nós, os idosos.
E por isso, começamos a investir nas mídias sociais e a realizar os
Workshops presenciais, o que aumentou muito nossa troca com pares, que
começaram a solicitar outros tipos de demanda, como supervisão e material de
atividade.
Por isso criamos os E-books de Estimulação Cognitiva com Atividades que
abrangem todos os domínios cognitivos prontas para impressão e aplicação, e
fizemos nosso curso online, MasterCog.
Quando realizamos a supervisão online ou presencial, percebemos que
muitos profissionais apresentam dúvidas de como acolher o idoso e sua família,
assim como realizar a avaliação inicial e estabelecer uma linha base do perfil
cognitivo do idoso. E por isso elaboramos esse E-book Gratuito com orientações
sobre como elaborar um protocolo de chegada do idoso e seu familiar.
Ficamos felizes de poder colaborar com os colegas de trabalho e assim
multiplicar o conhecimento e saber que mais idosos poderão se beneficiar e
cuidar da sua saúde cognitiva.
Desenvolvemos todo o conteúdo com muito carinho e esperamos poder
contribuir na sua prática dividindo sobre nosso formato de anamnese e os testes
de rastreio. Esperamos que este material que preparamos contribua para que
você realize um trabalho de excelência e até se inspire para montar o seu próprio
projeto.

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Introdução

Entendemos a estimulação cognitiva a partir de uma perspectiva


interdisciplinar e como um modelo holístico. Esse modelo tem uma visão
integradora no atendimento das doenças, já que considera mente, corpo,
ambiente e outros aspectos, no diagnóstico e tratamento do paciente.
A abordagem holística é necessária quando se atua com terceira idade.
Desta forma o conceito da visão holística traz a ideia de que a cognição não
trabalhada sozinha, sendo necessário um olhar global sobre o sujeito. É esse
olhar global e holístico que irá nos direcionar quando recebemos um idoso,
possibilitando a construção do raciocínio clínico e direcionando as intervenções
propostas.
A anamnese e os testes de rastreio cognitivo são recursos úteis para
hipótese diagnóstica, para estabelecer uma linha base do funcionamento
cognitivo e assim acompanharmos a evolução do quadro, como também
direcionar o planejamento da intervenção e quando o desempenho nos testes é
abaixo da linha de corte realizar os encaminhamentos para investigação mais
precisa.
O rastreio inicial das funções cognitivas, possibilita a identificação de uma
possível doença neurodegenerativa de forma precoce e seus devidos
encaminhamentos e tratamento, separando transtornos cognitivos maiores, as
demências, dos menores, que é o comprometimento cognitivo leve e até mesmo
a identificação de um quadro de humor.

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Chegada do Idoso e seu familiar

Já é no primeiro contato que começamos a estabelecer o que há mais de


importante na relação com o idoso e seu familiar: o vínculo terapêutico. Já é
nesse momento que começamos a colher algumas informações sobre o
funcionamento do idoso atual e prévio, personalidade do idosos, qual o grau de
consciência da doença ele tem, como está enfrentando a perda de memória, qual
lugar ele ocupa ou ocupava nessa família, como essa família está reagindo ou
se reorganizando perante o adoecimento desse idoso, quanto ela está ou não
implicada em entender o tratamento, qual é a expectativa do idoso ou do familiar
no tratamento que será oferecido, entre diversas outras informações.
É imprescindível que tenhamos o contato telefônico de um familiar em
todos os casos. No caso dos idosos com declínio cognitivo, nosso contato com
a família ou cuidador principal, geralmente começa quando recebemos o
primeiro telefonema, quando estão querendo conhecer melhor nossos serviços.
Já os idosos que chegam para nós, por iniciativa própria, nós com
delicadeza, dizemos que é um protocolo que temos que seguir, pedindo o
contato dos familiares mais próximos e assim que possível marcamos uma
reunião. Deixando sempre claro para o idoso o dia que essa reunião irá
acontecer e depois damos um retorno de como foi. Pois ele que é nosso cliente
principal.
Em alguns casos será necessário fazer mais de um encontro, seja para
fortalecer o vínculo com o familiar, pois já tivemos casos de os familiares
boicotarem o tratamento do idoso por não entenderem os objetivos da
estimulação, sendo necessárias intervenções psicoeducacionais.
É através das informações colhidas nesses momentos que conseguimos
colher informações sobre o idoso, sobre seu funcionamento atual, sobre sua
história, personalidade e preferência. Mesmo o idoso já frequentando nosso
serviço, os encontros com os familiares sempre rendem novas informações.

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Conceito de Funcionalidade

Quando atuamos com idosos é necessário um olhar multidimensional, e se


formos atuar com estimulação cognitiva esse olhar global é indispensável pois
todo nosso funcionamento no mundo se deve as nossas habilidades cognitivas.
Conhecer o conceito de funcionalidade nos permite uma atuação mais
assertiva e nos orienta na elaboração da nossa anamnese, assim como futuras
intervenções.
Existe uma estreita relação entre cognição e funcionalidade. A cognição é
um sistema dinâmico, que nos permite organizar e usar nossos conhecimentos
a fim de executar as atividades que compõem o nosso cotidiano.
Por exemplo, para executar uma atividade simples que faz parte de seu
cotidiano, como trocar de roupa, necessitamos de diversas funções cognitivas e
motoras preservadas, como atenção, memória, planejamento abstrato e motor,
entre outras, para que a atividade aconteça de forma satisfatória. Assim a
capacidade funcional envolve a manutenção das habilidades físicas e mentais
desenvolvidas ao longo da vida, necessárias para a manutenção de uma vida
independente e autônoma.
Os conceitos de autonomia e independência são informações geradas a
partir da análise da funcionalidade do sujeito. Esses conceitos estão
relacionados a qualidade de vida.
Um dos critérios de diagnóstico que irá diferenciar o envelhecimento normal
para envelhecimento patológico é a perda da autonomia e independência que
como vimos estão relacionadas diretamente com a funcionalidade. Assim o
comprometimento da capacidade para realizar as atividades da vida diária é um
ponto imprescindível da avaliação cognitiva uma vez que para se realizar o
diagnóstico de demência precisa ter um comprometimento funcional.
A avaliação funcional do idoso, é, portanto, essencial para estabelecer um
diagnóstico e prognóstico, que servirão de base para as decisões sobre os
tratamentos, intervenções, orientações e cuidados necessários.
A avaliação da funcionalidade se baseia na capacidade de execução das
atividades da vida diária as AVDs, que por sua vez dividem-se em três:

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- Atividade Básica de Vida Diária, que são aquelas que se referem ao
autocuidado, como por exemplo, tomar banho, vestir-se, realizar higiene, ter
continência, capacidade de alimentar-se e deambular
- Atividades Instrumentais da Vida Diária, que são relacionadas com a
realização de tarefas mais complexas como realizar as atividades domésticas,
manusear dinheiro, telefonar, viajar, fazer compras, preparar os alimentos,
controlar e tomar os remédios. E é de acordo com a capacidade de realizar essas
atividades, que podemos determinar se o indivíduo pode ou não viver sozinho
sem supervisão.
- Atividades avançadas da vida diária, que são mais complexas que as
atividades básicas e as instrumentais, e não estão incluídas na avaliação
funcional do idoso. Elas são as atividades cotidianas, voluntárias específicas
para cada indivíduo e influenciadas por fatores socioculturais, educacionais e
motivacionais. Os exemplos são dirigir automóvel, praticar esportes, pintar, tocar
instrumento musical, participar de serviços voluntários ou atividades políticas,
trabalho, entre outras.

Essas atividades avançadas da vida diária não são fundamentais para uma
vida independente por isso não estão na avaliação de funcionalidade, porém,
demonstram maior capacidade cognitiva e podem contribuir para uma melhor
saúde física e mental e assim uma melhor qualidade de vida. Ressaltamos que

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a avaliação de funcionalidade pode e deve ser aplicada por todos os profissionais
da saúde, pois é um norteador do diagnóstico, tratamento e intervenções.
Estamos abordando brevemente esse conceito da funcionalidade pois ela
deverá estar incluída na avaliação. Após esse momento inicial da entrevista você
pode aplicar um questionário ou escala de avaliação funcional. Também deve
ser aplicada nos idosos ativos, pois assim estabelecemos uma linha base da sua
funcionalidade para acompanhamento futuro e detecção precoce de um futuro
declínio funcional.
E nos casos de idosos em que estamos investigando um declínio,
aplicamos a entrevista a um familiar ou cuidador que tenha suficiente contato
com o idoso e sua rotina. Se o familiar entrevistado for o filho que mora em outro
município e visita o pai uma vez no mês ele não é um informante qualificado.
Identificar um declínio funcional, significa que pode estar associado a um
declínio cognitivo. Com o trabalho de estimulação, podemos trazer uma
manutenção da cognição estabilizando a perda da funcionalidade, assim como
uma melhora cognitiva irá acarretar uma melhora funcional.
E mesmo quando a perda de funcionalidade não estiver associada a uma
perda cognitiva, podemos fazer intervenções psicoeducacionais e
encaminhamentos adequados.
Antes de abordamos a anamnese precisamos também recordar o conceito
de cognição.
A cognição é o processo de aquisição de conhecimento que se dá através
de alguns processos que envolvem a percepção, atenção, o raciocínio, o
pensamento, a memória, o juízo, a abstração, a linguagem, entre outros. De uma
maneira mais simples, podemos dizer que cognição é a forma como
o cérebro percebe, aprende, armazena, recorda e pensa sobre toda informação
captada através dos cinco sentidos bem como as informações que são
disponibilizadas pelo armazenamento da memória.
A cognição processa as informações sensoriais que vem dos estímulos do
ambiente que estamos. E ao mesmo tempo processa o conteúdo que retemos
em relação às nossas experiências passadas. E é essa interação de informações
que utilizamos para a adaptação no meio em que vivemos. E é através desse

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processo, que nos permite interagir com outras pessoas e com o meio em que
vivemos. A cognição não é estática ela se desenvolve durante toda a vida, mas
podem ocorrer alterações cognitivas que levem a um declínio cognitivo.
Algumas das principais habilidades cognitivas são: a memória, atenção,
funções executivas, linguagem, visuopercepção e a função visuoespacial.
visuopercepção e a função visuoespacial.
Um dado importante é que em idosos com doença neurodegenerativa que
possuem uma alta reserva cognitiva, os processos compensatórios que
desaceleram o início dos sintomas clínicos, após muitos anos de doença podem
chegar no seu limite. Isso significa, que o idoso utilizou toda reserva cognitiva e
assim, os sintomas irão desenvolver rapidamente, por não ter mais reserva
cognitiva para ser utilizada.
Em idosos com alta reserva cognitiva podemos ter dificuldade em fazer o
diagnóstico por demorarem a apresentar os sintomas clínicos de uma doença
neurodegenerativa, muitas das vezes perdem a oportunidade de receber um
diagnóstico mais precoce da doença. O diagnóstico precoce oferece maior
possibilidade de iniciar logo uma estimulação cognitiva enquanto ainda conserva
sua reserva cognitiva e proporciona tomada de decisão sobre seu futuro junto
com sua família.
Em idosos com pouco ou nenhuma escolaridade, há pouca reserva
cognitiva, logo podem aparentar ter um declínio cognitivo maior do que realmente
tem. Por isso, é muito importante sempre avaliar o funcionamento atual ou o
prévio do mesmo idoso, ou seja, comprar o idosos ele com ele mesmo. Só assim
podemos ter uma ideia melhor se há ou não comprometimento.

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Avaliação do idoso: anamnese e testes de rastreio

Todas as informações contidas até aqui nos ajudam a fazer uma avaliação
do idoso e o raciocínio clínico sobre seu caso. Para fazermos um diagnóstico
diferencial e o raciocínio clínico, temos que levar em consideração toda a vida
prévia do idoso, os sintomas clínicos atuais, os exames laboratoriais e de
imagem. Sendo esse conjunto de informações essencial. Como também é
importante saber o que é esperado para um envelhecimento normal e os critérios
diagnósticos do comprometimento cognitivo leve e das demências.
Isso tudo porque o raciocínio clínico, que tanto falamos, não serve apenas
para fazer um diagnóstico diferencial, mas também para entender o perfil
neuropsicológico do idoso e como traçar o planejamento da estimulação. Esse
raciocínio clínico se dá através do seguinte conjunto de informações que
devemos coletar:
- primeiro a história de vida do idoso, e qual é sua reserva cognitiva;
- segundo, quais são as habilidades cognitivas que estão prejudicas e quais
estão preservadas, e se são sugestivos de um quadro neurodegenerativo;
- terceiro, devemos solicitar os resultados dos exames clínicos e de
imagem, e caso não tenham, orientar que solicite ao médico de referência;
- quarto, se há algum transtorno psiquiátrico ou de humor e como está sua
funcionalidade.
Somente com esses dados é que você irá conseguir traçar uma linha de
raciocínio sobre o caso. Pois sabemos que dois idosos podem ter o mesmo
diagnóstico da Doença de Alzheimer, mas eles podem apresentar sintomas, bem
diferentes um do outro.
É na anamnese que começamos a investigar o funcionamento prévio do
idoso e o atual, comparando, ele com ele mesmo para reconhecimento de um
quadro de declínio funcional e cognitivo. Por exemplo, se o idoso hoje não
cozinha, mas ao longo da sua vida nunca cozinhou, então comparando ele com
ele mesmo, não houve perda de funcionalidade no aspecto de cozinhar. E só
podemos ter essas informações na entrevista.

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Em alguns casos, o próprio idoso não irá conseguir informar sobre suas
atividades passadas ou atuais, então é importante que tenhamos algum
informante de qualidade, que possa nos passar dados verdadeiros sobre o
funcionamento do idoso.
Nesse processo de levantamento de informações, iremos fazer uso de
questionários, escalas e testes de rastreio, mas lembramos que eles não são
critérios de diagnóstico e sim indicadores para uma investigação clínica mais
completa.
Quanto ao diagnóstico só quem fecha é o médico, nós outros profissionais
da área da saúde e educação podemos sugerir ao familiar que o idoso está
apresentando determinados sintomas compatíveis com os critérios diagnostico
de determinada demência. Mas não podemos concluir um diagnóstico. Pois é o
médico que avaliar melhor todas as variáveis, como interações medicamentosas,
exames clínicos, falta de vitaminas, exames de imagens, avaliação
neuropsicológica e/ou nosso relatório de tratamento do idoso.

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- Anamnese

Iremos apresentar o nosso modelo de anamnese e citaremos os testes de


rastreio que escolhemos utilizar. Eles NÃO são um padrão absoluto. Você como
profissional deverá avaliar e pesquisar, para fazer a sua anamnese e escolher
os seus testes para a avaliação do idoso.
Para fazer a anamnese pode ser o familiar junto com o idoso, pode ser
apenas o familiar, ou apenas o idoso. Não há uma regra única, é importante
observar o que fica mais confortável para ambas as partes, idoso e familiar.
Nós optamos por utilizar um questionário semiestruturado que incluí
perguntas abertas e fechadas. Segue em anexo o nosso modelo.
Na entrevista tanto com o familiar como com o idoso, pedimos exemplos
práticos do dia a dia de como a queixa principal está afetado o idoso. Também
temos como objetivo saber se de fato a queixa está relacionada a memória ou a
outra habilidade cognitiva. Solicitar exemplos práticos, também nos possibilita
observar como está a consciência do idosos sobre seus possíveis déficits.
Uma característica nossa ao realizar a anamnese é deixar o idoso contar
sobre sua história de forma livre e nessa conversa vamos inserindo as perguntas
importantes. Assim nessa conversa ao relatar sua história ele nos conta sobre
sua vida prévia, onde nasceu, quais foram seus trabalhos, hábitos alimentares,
se fazia exercício físico, se utilizou algum tipo de droga lícita ou ilícita e se
frequentava algum círculo social.
Outro dado importante são as doenças e cirurgias que já passou, se tem
hipertensão e diabetes por exemplo e se tem histórico de algum transtorno
psiquiátrico. Os quadros psiquiátricos principais que ficamos mais atentas por
influenciarem na cognição são, a depressão, os transtornos de ansiedade, o
transtorno bipolar, os transtornos psicóticos e secundariamente o delirium.
O delirium é um estado de confusão mental causado pelo
comprometimento transitório da atividade cerebral, uma desorganização neural
que causa um comprometimento nas habilidades cognitivas. Esse
comprometimento é reversível. Seu início geralmente é agudo, podendo durar

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horas ou poucos dias. Ocorre em decorrência de distúrbios sistêmicos e perda
de orientação temporal em casos de internação hospitalar.
Também é importante perguntar sobre os antecedentes familiares, se
apresentaram quadros de esquecimentos, mesmo que não diagnosticados, ou
quadros psiquiátricos.
Por último e não menos importante, perguntamos sobre a personalidade e
estado de humor. Como o idoso era na vida adulta e como ele está hoje, se tem
alguma mudança significativa. Por exemplo, uma senhora que sempre foi muito
tímida atualmente apresenta maior desinibição, contanto piadas que nunca
contou antes ou indo ao banheiro de porta aberta.
Ficamos atenta a mudanças bruscas de hábitos, como alguém que sempre
caminhou ou leu, e agora não realiza mais as atividades que gostava. Isso
porque, essas mudanças podem ser indicativos de declínio cognitivo ou de um
quadro depressivo.
Perguntamos também, sobre a dinâmica familiar, com quem reside, se
reside há muito tempo na mesma casa ou bairro, qual é a religião e se frequenta
alguma instituição e em que o idoso contribui na rotina da casa. Se ele mantém
alguma responsabilidade. E é na entrevista começamos a observar
comportamento do idoso como o idoso responde, se seu discurso está
organizado, coerente ou não, ou se está com dificuldade de encontrar as
palavras e de se expressar. Também vamos observar como o idoso se comporta
quando está só conosco e quando o familiar estiver junto.
Complementando a anamnese, é preciso avaliar a lista de medicamentos
em uso atual e estar atento aqueles que podem interferir no estado cognitivo. E
os resultados dos exames de imagem do crânio.
Após conduzir a anamnese de forma leve, nós começamos introduzir os
testes de rastreio cognitivo, humor e funcionalidade. De forma leve e cuidadosa,
pois não pode gerar angústia ou ansiedade no idoso, pois pode interferir nos
resultados.

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- Testes de Rastreio Cognitivo

Nós montamos um protocolo de chegada, baseado em nossa experiência


e necessidade. Ele é importante para criar uma linha de base de funcionamento
cognitivo do idoso, orientando em qual grupo iremos inseri-lo, na elaboração do
cronograma de atividades e para futuras comparações, possibilitando
verificarmos se seu estado cognitivo melhorou, estabilizou ou declinou.
Você pode montar o seu protocolo de chegada, mas é importante que você
escolha um conjunto de testes e escalas que avaliam as diferentes funções
cognitivas, comportamentais e funcionais. E sempre devemos levar em
consideração que os testes apresentam limitações e devem ser interpretados em
conjunto com outras informações clínicas, de neuroimagem e de laboratório.
É importante ressaltar também que os instrumentos utilizados para o
rastreio do declínio cognitivo, terão diferentes notas de corte de acordo com o
nível de escolaridade, vida sociocultural e podem sofrer influência dos déficits
visuais e auditivos.
Em relação a prática clínica, é importante que o procedimento seja
realizado em um ambiente sem distrações, calmo e que o idoso esteja com os
óculos e aparelho auditivo, caso utilize. Outro ponto, é a quantidade de teste que
não deverá ser muito extenso, já que pode causar fadiga ou ansiedade e perda
de desempenho do idoso.
Para evitar ou minimizar os medos e ansiedades, não vamos dizer ao
idoso que estamos fazendo uma avalição ou aplicando um teste, se possível
nunca utilize esses termos. Nós optamos por dizer que iremos fazer algumas
perguntas, umas mais fáceis e outras mais difíceis e que ninguém nunca acerta
todas.
Uma pergunta que recebemos com frequência, é se quando o idoso que
chega com laudo ou está na fase moderada da doença, se aplicamos o protocolo
mesmo assim. Nesse caso, quando o laudo é muito recente e foi aplicado os
mesmos testes que utilizamos, podemos aproveitar. Não vale a pena aplicar de
novo, até por causa do efeito de aprendizagem que a repetição pode causar. É

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indicado que os testes de rastreio sejam aplicados com o intervalo de no mínio
8 a 12 meses.
No caso do idoso já com declínio moderado, mas sem laudo, nós
aplicamos nosso protocolo mesmo sabendo que o idoso irá ter um desempenho
ruim. O importante é você ter registrado o desempenho dele naquele momento
para criar sua linha de base.
Ao final você poderá juntar os dados quantitativos que os testes dão e os
dados qualitativos da sua observação clínica, isso lhe proporcionará informações
para orientar os familiares e trocar com outros profissionais que acompanham o
idoso.
Em relação aos idosos ativos, aí mesmo que é mais importante fazer os
testes de rastreio cognitivo. Pois são uma ferramenta imprescindível, para a
identificação precoce de uma doença neurodegenerativa e possibilita o rápido
acesso ao tratamento adequado.

Nosso protocolo:

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Os testes que compõe nosso protocolo são:
- Mini Exame do Estado Mental (MEEM)
- Fluência Verbal Fonêmica e Categórica (FAS + CAT)
- Teste do Desenho do Relógio
- Escala de Depressão Geriátrica (GDS)
- Inventário de Ansiedade (GAI)
- Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer
- Escala de Katz

O teste de rastreio cognitivo geral (MEEM) avalia os seguintes domínios:


orientação temporal e espacial, memória imediata, atenção e cálculo, memória
de evocação, linguagem, habilidades visuoespaciais e praxia. A pontuação do
MEEM pode variar entre 0 e 30 pontos, sendo a pontuação mais alta está
diretamente proporcional ao melhor rendimento cognitivo. A escolaridade do
idoso irá influenciar de forma direta na sua pontuação, desta forma o teste tem
um ponto de corte mínimo para cada tipo de escolaridade.
Destacamos que o MEEM avalia pouco as funções executivas. Para
complementar escolhemos utilizar as tarefas de fluência verbal fonêmica e
semântica ou categórica, mais conhecidos como FAS e categoria de animais e
o teste do desenho do relógio.
O FAS avalia a linguagem, a memória semântica e as funções executivas,
como estratégia na busca da informação, controle inibitório e
automonitoramento. Também é de rápida aplicação e sua nota de corte também
é influenciada pela escolaridade. Uma dica importante é que nós anotamos todas
as palavras e os animais que o idoso fala dentro do tempo estipulado.
No teste do desenho do relógio, avaliamos as funções executivas, como
planejamento e execução, memória, habilidades visuoconstrutivas, abstração e
compreensão verbal. Na sua aplicação entregamos um papel em branco e um
lápis e solicitamos ao idoso que desenho um relógio redondo, que coloque todos
os números dentro e marque um horário específico. Caso o idoso esteja com um
quadro moderado, você poderá fornecer uma folha já com o círculo para que ele
apenas monte os números e o horário.

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Quanto a avaliação do humor, aplicamos a Escala de Depressão
Geriátrica (GDS) que serve para rastreio dos casos de sintomas de depressão.
Utilizamos a versão reduzia com 15 perguntas que o idoso terá que responder
apenas sim ou não. Ao final somamos a pontuação e verificamos se sua nota
está acima da nota de corte que indica sintomas depressivos. Quanto maior a
nota, maior indicativo de depressão.
Ainda dentro da avaliação do humor, aplicamos o inventário de ansiedade
(GAI). Que consiste em 20 afirmações, onde o idoso irá responder se concorda
ou discorda. Da mesma forma que o GDS, ao final você irá conferir se a
pontuação do idoso está de acordo com o ponto de corte.
Concluindo nosso protocolo, fazemos a avalição da funcionalidade com o
Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer que possui dez questões
voltadas principalmente para atividades instrumentais. Pedimos para que o
familiar responda, mesmo quando é um idoso ativo. As pontuações variam de
zero a trinta, notas maiores indicam pior desempenho.
Para avaliar as atividades básicas da vida diária utilizamos a Escala de
Katz, ela é multidimensional. Contém 6 perguntas, que o familiar deverá
responder se o idoso realiza as atividades com independência, com uma
assistência parcial ou se está totalmente dependente.
Você poderá encontrar os testes na internet, basta utilizar as referências
para buscá-los. Eles são multidisciplinares, ou seja, não são restritivos a
psicólogos ou qualquer outro profissional específico.
Apesar de termos esse protocolo nós somos flexíveis e dificilmente
conseguimos fazer esse protocolo completo no primeiro encontro, ou em um
único encontro. O importante é que você consiga ter todo o protocolo aplicado
mesmo que em mais de um encontro e assim você irá elaborar sua conclusão e
dar uma devolutiva para o familiar ou para o próprio idoso ativo.
Desejamos que compartilhar sobre nossa forma de trabalhar tenha
contribuído para você poder elaborar o seu protocolo de chegada.
Abraços
Rachel e Shayenne

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Referências dos Testes de Rastreio

MEEM
Brucki, SMD: Nitrini R; Caramelli P; Betolucci PHF; Okamoto IH. Sugestões para
o uso do Mini-Exame do Estado Mental no Brasil. Arq. Neuropsiquiatr. 2003;
61(3-B): 777-781

Teste do Desenho do Relógio


Okamoto IH. Sugestões para a avaliação breve no rastreio de demência no
atendimento primário e secundário. Alzheimer Hoje. 2:8-12, 2005.

Teste de Fluência Fonética e Semântica/Categórica


Machado TH, Fichman HC, Santos EL, Carvalho VA, Fialho PP, Koenig AM, et
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Dement Neuropsychol 2009;3:55-60.

Senhorini MC, Amaro Júnior E, de Melo Ayres A, de Simone A, Busatto GF.


Phonemic fluency in Portuguese-speaking subjects in Brazil: ranking of letters. J
Clin Exp Neuropsychol. 2006;28(7):1191-200

GDS
Juliane F. Ferrari, Roberta R. Dalacorte. Uso de Escala de Depressão Geri’trica
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Scientia Médica, Porto Alegre, v. 17, n.1, p. 3-8. Jan/mar. 2007.

GAI
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Version of Geriatric Anxiety Inventory–GAI-BR. International
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Pfefer
Pfeffer RI, et al., Measurement of functional activities in older adults in the
community. The Journals of Gerontology, 1982.

Escala Katz
Lino, VTS et al., Adaptação transcultural da Escala de Independência em
Atividades de Vida Diária (escala de Katz). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
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CDR
Maia ALG, Godinho C, Ferreira ED, Almeida A, Schuh A, Kaye J, et al. Aplicação
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Referência Bibliográfica

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Editora, 2009.

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Anamnese - Idosos

Nome: ______________________________________________________________
Endereço:____________________________________________________________
Data de Nascimento: _________________________________
Idade:_________________
Naturalidade: _________________________________________________________
Telefones:____________________________________________________________
Estado Civil:___________________________________________________________
Escolaridade: _________________________________________________________
Ocupação prévia: ______________________________________________________
Profissão: ____________________________________________________________
Ocupação atual: _______________________________________________________
Religião: _____________________________________________________________

Familiar de referência: __________________________________________________


Telefones do familiar:___________________________________________________

Encaminhamento feito por: _______________________________________________


Motivo do encaminhamento: _____________________________________________

Queixa principal (exemplos do dia a dia):


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

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Início da queixa principal:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Condições médicas (doenças atuais, déficits auditivos e visuais, cirurgias prévias):


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Medicações atuais:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Personalidade prévia:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

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Alterações comportamentais:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Dinâmica familiar (dinâmica e familiares com quem reside):


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Rotina prévia e rotina atual (hábitos, responsabilidades, funcionalidade e se frequenta


algum tipo de grupo):
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_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Alteração alimentar ou do sono e exercício físico (já fez ou faz atualmente):


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

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Uso de cigarro, álcool e outras drogas:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Antecedentes familiares (pais e irmãos tiveram alguma doença relacionada as


queixas do paciente?)
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Consciência da doença (conduta do idoso e/ou familiar frente as dificuldades ou


doença do idoso):
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Exames complementares:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

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Outras observações:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Anamnese feita por: ____________________________________________________


Data:____________________________

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