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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE

UNIDADE ACÂDEMICA DE GARANHUNS-UAG


MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS - PROFLETRAS

Rafaelly Monteiro de Macedo Leite1

"BISA BIA, BISA BEL" DE ANA MARIA MACHADO: UMA ABORDAGEM DE


UMA SEQUÊNCIA BÁSICA ELABORADO POR COSSON (2011)

1 INTRODUÇÃO

As discussões pautadas na disciplina de Literatura e Ensino nas aulas do Mestrado


Profissional em Língua Portuguesa (PROFLETRAS) da UFRPE/UAG2 da turma 2019.1 trouxe a
reflexão sobre a questão do letramento literário na prática de ensino. Sendo assim, lançou-se a
construção de uma atividade de sequência didática básica ou expandida proposta por Cosson (2011),
pois deveríamos escolher uma das obras de literatura infantil que foram analisadas pela turma do
PROFLETRAS e, através disso, construíssemos uma sequência para discussão, reflexão e
compartilhamento das ideias para as aulas de mestrado. A obra escolhida para essa discussão foi o
livro de Bisa Bia, Bisa Bel de Ana Maria Machado, pois sua leitura rememora o passado, presente e
futuro das gerações da protagonista. Logo, a escolha deste livros levará o leitor a entender o seu
próprio passado, sua identidade e sua própria história.
O presente trabalho tem o principal objetivo de despertar a motivação para a leitura através de
situações-problema, tendo como finalidade de estimular a curiosidade dos alunos para que
desenvolvam o senso crítico. Desse modo, fortalecendo sua criatividade para que possam se aproximar
de sua realidade, bem como, possibilitar ao leitor assimilar e compreender os sentidos implicados na
leitura guiada das atividades dos capítulos do livro de Bisa Bia, Bisa Bel.
Em seguida, o trabalho se fundamentará em Cosson (2011), Jouve (2012), Zilberman (2003) e
BNCC (2018). Por conseguinte, apresentarei o detalhamento da proposta baseado na sequência básica
elaborada por Cosson (2011), pois a proposta visa sistematizar uma nova prática em sala de aula para
o letramento literário.

1
Discente do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS), na Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE) –Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG). Graduada em Letras – Português e suas Literaturas pela
UPE (Universidade de Pernambuco) em 2008 e Graduada em Letras – Espanhol/ EAD pela UFPE (Universidade
Federal de Pernambuco) em 2019. Este artigo é um trabalho de conclusão da disciplina Literatura e ensino,
ministrada pela Prof. Dr. Nilson Pereira de Carvalho (UFRPE/UAG). E-mail: rafamonteiroml@hotmail.com
2
Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Unidade Acadêmica de Garanhuns
2 LETRAMENTO LITERÁRIO UMA PROPOSTA DE LEITURA DE LITERATURA
INFANTIL NA ESCOLA PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES

Quando falamos em proposta de leitura literária dentro escola como professor de


língua portuguesa nos deparamos com muitas dificuldades em relação aos alunos, a escola e
até mesmo a falta de preparo com os desafios da leitura numa sociedade moderna. Porém,
alguns questionamentos são necessários para refletir qual o lugar da literatura na sociedade e
qual sua função social? O lugar da literatura em sociedade permite elevar o nível cultural de
leitura e escrita e, como professor, leva-nos a uma reflexão de se trabalhar diferente em um
mundo que resiste a diferença. Desse modo, o termo "letramento" permite-nos também a
perceber que essa concepção de ler e escrever deve ser aplicada para o letramento literário na
escola.
Sendo assim, o letramento literário é visto como um "processo de letramento que se
faz via textos literários compreende não apenas uma dimensão diferenciada de uso social da
escrita, mas também, e sobretudo, uma forma de assegurar seu efetivo domínio" ( COSSON,
2011, p. 12). Assim, novas abordagens sobre a prática de leitura literária na escola pode ser
didatizadas ganhando um novo significado com o letramento literário, pois em uma sociedade
letrada em que existe a diversidade de linguagens na qual são utilizadas em todos os setores
com o uso de inúmeras palavras.
Então, a literatura precisa cumprir seu papel humanizador, pois ela é capaz de mudar a
questão da escolarização, isto é, ela tem a função de construir e reconstruir a palavra. Todavia,
por muito tempo a leitura voltou-se para o mundo adulto e que as crianças deveriam ser esse
adulto em miniatura desconsiderando a leitura voltada para o público infantil. Dessa maneira,
a literatura infantil segundo Ziberman (2003)

pode reproduzir o mundo adulto: seja pela atuação de um narrador que bloqueia ou
censura a ação de suas personagens infantis; seja pela veiculação de conceitos e
padrões comportamentais que estejam em consonância com os valores sociais
prediletos; seja pela utilização de uma norma linguística ainda não atingida por seu
leitor, devido à falta de experiência mais complexa na manipulação com a
linguagem. Assim, os fatores estruturais de um texto de ficcção - narrador, visão de
mundo, linguagem - podem-se converter no meio por intermédio do qual o adulto
intervém na realidade imaginária, usando-a para incutir sua ideologia. (p.23)

Por muito tempo, considerou-se no ensino de literatura infantil os padrões de uma


sociedade de conceitos já pré-estabelecidos no qual era impostas pela escola e por uma
sociedade burguesa. Porém, como a relação entre a escola e literatura podem ser úteis para
lidar com os desafios de fazer a criança a refletir sobre sua condição social, convivência e etc.
Na atualidade, reflete-se também a questão da literatura infanto-juvenil e a literatura adulta
em que leitores daquela podem também se interessar por estas. Todavia, como se constitui a
relação da escolarização da literatura na escola, de que maneira podemos romper com as
barreiras de que leitura seja realizada com prazer e compromisso, pois sabemos que as
oportunidade de leituras de um texto integral é muitas vezes sintetizado em um resumo.
É importante considerar e compreender que o letramento literário é um
responsabilidade da escola como uma prática social, pois a identidade de um povo é também
caracterizado pelo conjunto de obras valorizadas culturalmente. Sendo uma prática social
devemos conhecer nosso legado cultural tendo em vista como herança do nosso país. Por isso,
devemos considerar o ato de ler uma atividade cognitivo e social e levar em consideração as
teorias sobre os procedimentos de leitura para que possamos praticar o letramento literário.
No entanto, o papel do professor tem uma importância fundamental para que essa prática seja
apresentada aos alunos e que possam descobrir esse mundo das palavras.
Em relação ao papel do professor no livro de Cosson (2011) Letramento Literário,
afirma que

é seu dever explorar ao máximo, com seus alunos, as potencialidades desse tipo de
texto. Ao professor cabe criar as condições para que o encontro do aluno com a
literatura seja uma busca plena de sentido para o texto literário, para próprio aluno e
para a sociedade em que todos estão inseridos. ( COSSON, 2011, p.29)

Portanto, a forma como é apresentada a literatura e a maneira de ensinar traz em


grande parte influencia na formação de leitores, pois a leitura literária feita de forma prazerosa
é capaz de potencializar alunos proficientes nesse mundo da linguagem. Assim, dessa maneira
conseguimos alcançar o que a BNCC (2018) regulariza no eixo de leitura do Ensino
fundamental II, mas nas observações feitas no documento, ele não consegue dizer o caminho
para se chegar nos objetivos estabelecidos e o letramento literário parece ser uma luz para as
práticas leitoras. Com tudo, " se o texto é apreendido como o resultado de um intenção,
conhecer o contexto de escrita se torna indispensável para a compreensão"( Jouve,2012,p.58).
Por isso, acreditamos que podemos alcançar as habilidades de leitura, oralidade e escrita para
se alcançar os objetivos pretendidos.
Em razão disso, a condução das atividades referentes às práticas de leitura , Rildo
Cosson (2011) comenta que
A leitura escolar precisa de acompanhamento porque tem uma direção, um objetivo
a cumprir, e esse objetivo não deve ser perdido de vista. Não pode confundir,
contudo, acompanhamento com policiamento. O professor não deve vigiar o aluno
para saber se ele está lendo o livro, mas sim acompanhar o processo de leitura para
auxiliá-lo em suas dificuldades, inclusive aquelas relativas ao ritmo de leitura. (p.62)

Desta maneira, as atividades de acompanhamento sirva de apoio para a leitura do


aluno e que não seja uma imposição para que se alcance os objetivos pretendidos pela leitura.
Com isso, a sistematização da leitura abordada por Cosson (2011) está voltada para um
metodologia que se baseia na interação da obra com o leitor e que essa leitura atinja as
necessidades e expectativas, pois faz a sistematiza de duas sequências didáticas uma básica e
uma expandida. Sendo assim, escolhemos a sequência básica para a proposta do letramento
literário e é motivada por quatro passos: motivação, introdução, leitura e interpretação, pois
abaixo explicitaremos o detalhamento da sequência para sistematização em una prática de sala
de aula.

3 DETALHAMENTO DA PROPOSTA

A sequência didática aqui apresentada terá um público-alvo do 7º ano de uma Escola


Municipal de Brejão em que leciono. Logo, descreverei abaixo um sequência básica da obra
Bisa Bia, Bisa Bel baseada no livro Letramento Literário (2018) de Cosson em que apresenta
um olhar diferenciado para o desenvolvimento de práticas de leitura em sala de aula.

MOTIVAÇÃO " Nossas memórias guardadas"


OBJETIVOS ESTRATÉGIAS DIDÁTICA RECURSOS TEMPO
DIDÁTICOS
• Preparar o aluno para a • Para dar início a sequência pedirei que cada um • Fotografias 1 AULA
leitura, criando laços entre o trouxesse de sua casa uma foto antiga de seus antigas; DE 45
texto que se vai ler na turma. familiares. No dia e aula marcada para • Textos impressos. MINUT
• Sintetizar em poucas palavras compartilhar as fotos de seus familiares, os OS
em um papel o que o grupo dividirei em grupos e os incentivarei que pensem
achava que iremos ler; como era os tempos passados, como eram as
• Expor oralmente qual foi a cidades, as tradições, os costumes; se mudou, o
conclusão do grupo. que mudou, porém levarei alguns recortes de
fotos antigas em uma caixinha para compartilhar
e acrescentar nas discussões dos grupos.
• No momento de partilha das fotos poderemos
levar a uma discussão sobre o tema das
"memórias" guardadas por nossos familiares e
reconhecer que nossos familiares tem uma
histórias e que eles fazem parte desse momento.
• Em seguida, a leitura do texto " Minha vida de
menina" de Helena Morley em que recorda de
um momento em sua vida com sua avó para
façamos as inferências da obra a ser lida.
• Solicitarei aos alunos, como atividade de casa,
que façam uma pesquisa com os pais, vizinhos
ou familiares idosos algumas perguntas: Nome,
idade e profissão; Como foi a sua infância?;
Onde viveu? (cidade, estado); Como era o local?(
Descrever); O
que mudou?; Quais as brincadeiras que mais
gostavam?, pois a utilizaremos no próximo
encontro.
INTRODUÇÃO " Quem é Bisa Bia ?"
OBJETIVOS ESTRATÉGIAS DIDÁTICA RECURSOS TEMPO
DIDÁTICOS
• Apresentar aos
• Apresentação das curiosidades das entrevistas e quem a realizou • Textos 1 AULA
alunos a autora,
será guardada em uma caixinha; xerocados da DE 45
Ana • Em grupos será realizada uma roda de diálogo sobre a autora,
Maria biografia da MINUT
Machado e, a em seguida, a apresentação do livro será com a leitura da capa, autora; OS
obra Bisa Bia, da orelha, das imagens e de outros elementos paratextuais que • Livro Bisa Bia,
Bisa Bel. introduzem a obra, pois previamente poderão perceber antes da Bisa Bel
leitura do que se trataria do assunto da obra;
• Levantamento de hipóteses sobre as primeiras impressões do
livro apresentado ao aluno para que possam fazer as inferências
sobre a leitura;
• Justificativa da escolha da obra e sua importância para as aulas
de Língua Portuguesa e para a literatura Infato-Juvenil ;
LEITURA " Círculo de leituras - Descobrindo o que há dentro de mim"
OBJETIVOS ESTRATÉGIAS DIDÁTICA RECURSOS TEMPO
DIDÁTICOS
• Compreender • Combinados para a leitura da obras em sala de aula, em casa e • Livro Bisa Bia, 15
quais os em outros locais. Após o término de cada leitura cada aluno Bisa Bel ou a AULA
elementos que fazer o fichamento do capítulo lido com questionamentos e xerox do DE 45
MINUT
constroem a debates sobre a história do capítulo; capítulo;
OS
história de Bisa • Acompanhamento das leituras : • Caderno de
bia, Bisa Bel; 1º Intervalo: " No fundo de uma caixinha" fichamentos
• Reconhecer, 2º Intervalo: "Pastel bochechuda"
valorizar e 3º Intervalo: " Tatuagem transparente"
compreender a 4º Intervalo: " Conversas de antiguamente"
sua própria 5º Intervalo: " Meninas que assoviam "
história e da sua 6º Intervalo: "Um espirro e uma tragédia"
família; 7º Intervalo: " A dona da voz misteriosa"
• Fazer 8º Intervalo: " Trança de gente"
fichamentos de • Observação das dificuldades de cada aluno;
após a leitura de • Socialização das leituras ou curiosidades encontradas na leitura
cada capítulo; ao final de cada intervalo;
• Reconhecer • Finalizando cada capítulo será proposto uma atividade lúdica de
como autores de acordo com o tema do intervalo.
sua própria
história e que
somos
construtores de
nossas
identidades e suas
próprias
memórias;
INTERPRETAÇÃO " Memórias antigas e atuais "
OBJETIVOS ESTRATÉGIAS DIDÁTICA RECURSOS TEMPO
DIDÁTICOS
• Promover • Elaboração de uma caixa em que o aluno possa colocar uma • Caixa de 6 AULA
reflexões sobre carta ao futuro em que possa colocar nela fotos antigas, atuais e sapatos; DE 45
cada capítulo lido objetos que tenham algum significado espacial para cada aluno. • Papéis MINUT
OS
com a intenção • Estudo dos aspectos textuais de uma carta pessoal; diversos;
do encontro com • Elaboração uma carta pessoal direcionada a alguém que • Cordão;
o momento receberá em um futuro bem distante destinado ao seu • Pregadores;
interior levando o bisneto(a); • Cola;
aluno a • Reescrita da carta pessoal para a exposição;
materializar com • Exposição da caixas de memórias, murais com fotos antigas e
o seu cotidiano e, atuais e objetos para que os alunos da escola visitem;
em seguida o • Mostragem de brincadeiras antigas e atuais de seus familiares;
momento externo • Apresentação de um trecho do livro que mais chamou atenção
no letramento da turma para que seja representado na mostragem e instiguem
literário. a curiosidade de outros alunos a lerem a obra.
• Instigar aos
alunos que cada
um produza sua
caixinha de
memória e que o
material
produzido fosse
guardado dentro
dessa caixa, pois
seria a caixa de
suas memórias.
• Produzir uma
carta pessoal
contando uma
memória para a
montagem um
livro sobre suas
memórias .

4 CONCLUSÕES

Acreditamos que a proposta de letramento literário com a sequência básica possibilita


um olhar diferenciado a prática de leitura em sala de aula, levando ao envolvimento mais
significativo com os textos literários. Assim, acreditamos que haja um maior envolvimento
entre professores e alunos nas atividades propostas da sequência didática básica, por isso
devemos levar em conta que a aprendizagem através da literatura seja sistematizada. A
proposta sugere sua aplicação em uma turma do 7º ano, porém poder ser aplicada em outros
níveis, pois dependerá do nível dos alunos e da turma.
Desse modo, a reflexão do lugar na literatura na escola nos faz pensar o quanto a falta
de incentivo e motivação à leitura predominam nas escolas públicas do ensino fundamental
II. É também necessário que as práticas de leitura na escola ultrapasse a questão da
decodificação dos textos para se tornar um leitor literário crítico que se posicione em relação
as obras e sua própria evolução no processo de leitura, oralidade e escrita. Assim, sabemos
que através da leitura de literatura possibilita ao leitor o reconhecimento do seu lugar do
mundo, leva- o ao enfrentamento da sua própria realidade para a construção da sua identidade.
Levando em conta essas considerações, o letramento literário é uma ferramenta para
que tenhamos uma comunidade de leitores mais ativa na escola e o quão é importante o papel
do professor na motivação das propostas que devem ter uma significação antecipada para a
aplicação de cada intervalo da sequência básica.

5 REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da educação. Base Curricular Comum Curricular do ensino


fundamental.Brasília, 2018. Disponível em:˂ http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf˃. Acesso em 20 de julho de 2019.

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática.2.ed.8ªreimpressão.São


Paulo:Contexto,2018.

JOUVE, Vincent. Por que estudar literatura?. Marcos Bagno e Marcos Marcionilo (Trad.).
São Paulo: Parábola, 2012.

MACHADO, Ana Maria.Bisa Bia, Bisa Bel. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2007.

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