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NOTÍCIAS | ANO XIV | RIO DE JANEIRO | JULHO 2014

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www.febrapsi.org.br

1914-2014: cem anos dE


“introdução ao narcisismo”
Entrevista

O centenário de “Introdução
do narcisismo” na óptica
da atualidade
com Luis Carlos Menezes
PÁGINA 6

Artigo

Narcisismo: corte e
abertura para uma
metapsicologia
das origens
de Inácio Paim
Foto: Zago

PÁGINA 7
“ESTRELA, ESTRELA”

Eleição

Conheça a nova
Diretoria da
FEBRAPSI
PÁGINA 3

arte e psicanálise
EVENTOS
NO TESTEMUNHO XXV Congresso
DA ARTISTA MARILIA FAYH Brasileiro de
Psicanálise
páginas 10 e 11
PÁGINA 5
Palavras do Presidente

Queridos Colegas!
Ao assumirmos a direção da FEBRAPSI, vejo que ini- EDITORIAL
ciamos num momento de maturidade de nossa insti-
tuição, alcançada pelo trabalho e dedicação das várias Este editorial marca o início do exercício das
gestões anteriores, trabalho que queremos dar conti- Aloysio Augusto D’Abreu funções de Diretor do Departamento de Pu-
nuidade e aprofundar. Buscamos novas iniciativas, para blicações e Divulgação e de Editor do jornal
PRESIDENTE
alcançarmos um pleno fortalecimento de nossa Fede- FEBRAPSI Notícias.
ração e revigorar o sentimento de pertencimento dos membros de nossas Federadas.
A consolidação de uma Federação cientificamente ativa vem sendo o caminho tri- E considerando-se toda a amplitude abar-
lhado pelas gestões anteriores, com uma presença nacional junto às filiadas, por meio cada pela Federação, esta tarefa torna-se um
da Revista Brasileira de Psicanálise, seu jornal informativo e seu site, além de outros desafio! O desafio da comunicação entre todas
empreendimentos. Todos estes projetos somente tornam-se viáveis através de uma as Sociedades, Grupos e Núcleos presentes em
sólida situação financeira, fruto do esforço contínuo das Diretorias. vários estados do Brasil; o desafio de manter o
Além de organizar os congressos, a FEBRAPSI possui várias outras atividades cien- alcance de nosso jornal como o veículo de in-
tíficas em conjunto com as filiadas, configurando uma importante função integradora tegração da FEBRAPSI com suas Federadas e
das Federadas brasileiras, procurando representá-las em diversos foros, mantendo com os membros que as integram.
nossa identidade e nossas diferenças. Para evitar o risco de uma homogeneização, E justamente pela consciência do papel que
com perda de identidades regionais, a FEBRAPSI mostra-se de fundamental impor- o FEBRAPSI Notícias ocupa dentro de nossa
Federação é que gostaria de manifestar minha
tância, constituindo-se numa entidade forte a defender os interesses das Sociedades,
satisfação pela confiança depositada em mim
Grupos de Estudos e Núcleos, representando a união de forças das filiadas, com um
pelo colega Aloysio D’Abreu, atual presidente
peso decisivo internacionalmente. Como exemplo da relevância desta corporação na
da FEBRAPSI, ao me convidar para exercer as
defesa de nossos interesses, temos a brilhante atuação da FEBRAPSI (na época ABP)
funções acima referidas.
junto à IPA para a aprovação da análise condensada, tão importante para a difusão
Cabe ressaltar que nossa meta é dar con-
da psicanálise no Brasil. Mais recentemente, temos a participação da FEBRAPSI no
tinuidade ao trabalho exercido pelos colegas
processo de filiação à FEPAL do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Campinas. que me antecederam nesta função, com obje-
Vemos como de grande importância uma maior integração com as Sociedades não tivo de compartilhar informações que nos per-
participantes da IPA, estimulando trocas de experiências, atividades científicas co- mitam manter o diálogo estabelecido entre os
muns e convites para participação em eventos com estas instituições. Será dada con- integrantes da FEBRAPSI.
tinuidade a nossa presença no movimento “Articulação”: um espaço político, onde Assim como a psicanálise é uma disciplina
são discutidas questões ligadas ao exercício da psicanálise. que se transforma, que se desenvolve, as enti-
Para este ano, temos programados vários eventos científicos em associação com dades psicanalíticas buscam acompanhar essas
Grupos de Estudos e Núcleos, instituições em desenvolvimento que, junto com seus transformações através de um exercício conti-
alunos em formação, mais necessitam, sem serem os únicos, de um apoio maior da nuado de interação mútua e de integração com
FEBRAPSI. Por ter uma Diretoria composta de membros de várias Sociedades e com a comunidade em geral. E para atingirmos os
diferentes vértices da psicanálise, a FEBRAPSI propicia que estes eventos sejam enri- objetivos de manutenção do diálogo dentro da
quecidos por pontos de vista diversos. FEBRAPSI, em nossa linha editorial será impor-
tante contar com a participação das Federadas
Em julho, teremos um encontro em Porto Alegre intitulado: “A Reponsabilidade
para que os membros que
Social das Instituições Psicanalíticas”, no qual estudaremos possiblidades de um tra-
fazem parte das entidades
balho conjunto, voltando nossos olhos para os problemas sociais que nos cercam.
componentes da Federa-
Várias Sociedades já têm promovido atividades em hospitais, colégios, creches, em
ção possam participar e
comunidades carentes, programas de rádio etc. e a FEBRAPSI busca fomentar este
ter conhecimento do que
espírito entre as Federadas.
acontece com o movimen-
Concluindo, adianto que nosso Congresso Brasileiro de Psicanálise, que se realiza- to psicanalítico nas diver-
rá em São Paulo, em outubro de 2015, está em fase de organização. Na perspectiva sas regiões do país. Zelig Libermann
de um proveitoso encontro para todos, precisamos que, ao serem consultadas, as Gostaria de destacar Editor
diversas Federadas manifestem seu interesse em termos de assuntos e mesas que ainda que as preocupações com essa respon-
poderão compor o Congresso. sabilidade certamente se atenuarão pela possi-
bilidade de contar com a colaboração dos co-
Depto de Publicações e Divulgação Expediente
Editor: Zelig Libermann Federação Brasileira de Psicanálise legas Katia Wagner Radke, Editora Associada,
Editora Associada: Katia Wagner Radke Av. Nossa Sra. de Copacabana, 540 / Sala 704 Carlos Augusto Ferrari Filho, Elisabeth Meyer
Comissão Editorial: Carlos Augusto Ferrari Filho, RJ - CEP 22020-001
Elisabeth Meyer Wolf e Sandra Regina Wolffenbüttel. Wolf e Sandra Regina Wolffenbüttel, membros
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Jornalistas Responsáveis: Ana Klein DRT/RS 8741
Vera Nunes DRT/RS 6198 email: febrapsi@febrapsi.org.br da Comissão Editorial.
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Sugestões, dúvidas ou críticas podem ser
Desejo a todos uma boa leitura!
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Impressão: Gráfica Odisséia enviadas para jornal@febrapsi.org.br

2 FEBRAPSI NOTÍCIAS [48]


FEBRAPSI

Conselho Diretor toma posse

No dia 30 de novembro de 2013, em Campinas, ao final de uma


Assembleia de Delegados, como tradicionalmente acontece, tomou
posse o novo Conselho Diretor da FEBRAPSI, para o próximo biênio.
A gestão para o biênio 2013/2015 está assim constituída:
Presidente:
Aloysio Augusto D’Abreu (SBPRJ)
Secretário Geral:
Paulo Cesar C. Lessa (SPRJ)
Tesoureira:
Rosangela de Oliveira Faria (SBPRP)
Diretor do Conselho de Coordenação Científica:
Daniel Delouya (SBPSP)
Diretora do Conselho Profissional:
Ana Paula Terra Machado (SBPdePA)
Diretor do Departamento de Publicações e Divulgação:
Zelig Libermann (SPPA)
Diretor de Relações Exteriores:
José Fernando de Santana Barros (SPR)
Diretora Superintendente: CONSELHO DIRETOR
DA FEBRAPSI
Vera Lucia de Faria Benchimol (SPRJ)
Gestão para o biênio 2013/2015

No clima cordial que caracterizou a transmissão dos cargos à nova Diretoria, a pre-
sidente Gleda Brandão Araújo e a sua Diretoria despediram-se desejando sucesso
aos colegas na nova gestão. A Assembleia foi encerrada com a saudação do novo
presidente, Aloysio D’Abreu, que renovou o compromisso da Diretoria de seguir pro-
movendo o intercâmbio entre as Federadas e incentivando a difusão da psicanálise
no Brasil. Já no dia seguinte foi realizada a primeira reunião do Conselho, marcada por
uma extensa pauta proposta pelo Presidente.

FEBRAPSI realiza Assembleia de Delegados


A Assembleia de Delegados da tas de todo o mundo. O vice-presidente da jovens, indicados pelas sociedades, que não
FEBRAPSI, realizada em São Paulo, no dia 24 SBPRJ, Sergio Nick, destacou sua experiên- tenham condições para arcar com as despe-
de maio, reuniu representantes das Federa- cia num interessante modelo, no qual, após sas do Congresso. A iniciativa demonstra o
das e os membros do Board da IPA Ruggero uma conferência, realizou-se a divisão da empenho da FEPAL em viabilizar a participa-
Levy e Altamirando M. de Andrade Jr. . plateia em nove grupos de discussão para ção de todos, membros e candidatos.
A FEBRAPSI tem planos de interiorização trabalharem um material clínico à luz da teo- O novo código de ética da IPA foi consi-
da psicanálise, fomento à formação de no- ria apresentada na conferência introdutória. derado muito oportuno, diante das velozes
vos grupos e possibilidade de levar a insti- Em uma terceira etapa, os grupos se junta- mudanças sociais, tecnológicas e culturais
tuição a novas regiões, além de projetos de ram e trocaram suas conclusões. da atualidade. Não se pode ignorar a ques-
responsabilidade social. Ruggero Levy infor- O diretor da comissão científica da tão da psicanálise à distância e análise via
mou que a preocupação da IPA é apoiar as FEBRAPSI, Daniel Delouya, discorreu sobre ferramentas como o Skype. Os profissionais
Sociedades, dedicando maior parte do seu o tema do Congresso Brasileiro - “Sonho/ são convidados a estudar a eficácia dessa
orçamento para essa finalidade. ato, os limites da representação”- ressaltan- modalidade já utilizada na formação de ana-
Os organizadores dos três Congressos do a pluralidade de enfoques e aproxima- listas do leste europeu com análises didáti-
– FEPAL (2014), IPA (2015) e Congresso Bra- ções, que vão da clinica à teoria, passando cas, supervisões e seminários.
sileiro (2015) – deixaram clara a tendência a pelas abordagens interdisciplinares. Desta- Também foi aprovado o registro da mar-
privilegiar o inter-regionalismo nos progra- cou a importância das sociedades planeja- ca IPA, pela FEBRAPSI, para impedir o uso
mas científicos, dando mais espaço às ativi- rem atividades científicas em torno do tema, inapropriado da sigla. Assim, a FEBRAPSI vai
dades clínicas como os “Working Parties” e para motivar membros e candidatos a escre- definindo o seu papel de articuladora, entre
exercícios clínicos. No Congresso da IPA se- verem e participarem do Congresso. a pluralidade das suas Federadas pelas di-
rão 50 salas com atividades simultâneas para Há uma proposta da FEPAL de ajuda versas regiões do Brasil. A próxima assem-
“small group discussions” com psicanalis- em dinheiro para candidatos ou membros bleia está agendada para novembro.

JULHO | 2014 3
ACONTECEU

BRITTON PALESTRA EM São Paulo


Ronald Britton, um dos representantes mais tâncias, o que significa abdicar de qualquer
profícuos da escola kleiniana britânica, autor resolução que tenha sido alcançada.”
de inúmeros artigos, muitos deles centrados Nos debates após a conferência, foi dis-
em torno da temática edípica e do conceito cutido o quanto tornar-se o casal da cena
de crença inconsciente, esteve na Sociedade primária ou deixar de sê-lo para passar o
Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) bastão às novas gerações, é um desafio na
de 23 a 25 de abril. Em 2013, ele recebeu da sociedade contemporânea, na qual se vê um
IPA o International Award For Scientific Achie- excessivo prolongamento da adolescência.
vement, tendo sido também agraciado com o Também trouxe à discussão uma de suas Ronald Britton
prestigioso Sigourney Award. contribuições mais originais, o conceito de
Em sua conferência “A situação edipiana: “outro quarto”, espaço virtual no qual se dá a configuração mental do paciente frente à
desenvolvimento natural ou ruptura de rela- cena primária e ao qual não teríamos acesso, cena primária, da situação entre os irmãos
ções?”, ele explicitou como a configuração sendo por isto estímulo à função imaginativa. e fantasias a eles relacionadas. Estão incluí-
edípica volta a se apresentar em momen- Segundo a Diretora Científica da SBPSP, das em seu foco a sexualidade infantil e suas
tos críticos da vida e/ou em cada fase do psicanalista Vera Regina Fonseca, “nos se- manifestações, reafirmando a tese de Klein
desenvolvimento. Para Britton, não haveria minários oferecidos por Britton, ficou claro de que a forma pela qual um indivíduo su-
uma solução do complexo de Édipo, mas como ele acompanha de perto a sessão sem porta a situação edípica e suas inevitáveis
sim uma constante reconfiguração dele: a se ater a fórmulas pré-programadas ou a um privações revelará sua possibilidade de se
posição depressiva não pode ser elaborada processador saturado. Não prioriza a inveja relacionar com a realidade externa.
sem a elaboração do complexo de Édipo e nem a destrutividade, mas enfatiza a expe- A diretora conclui que “foi estimulante para
vice-versa. Segundo ele, “a recorrência da riência de amar e ser amado como essencial todos que acompanharam Britton testemu-
situação edipiana na vida requer a modifica- para a saúde psíquica”. Sem transformar tal nhar seu vigor intelectual e a capacidade de
ção de versões anteriores em novas circuns- fato em dogma, aponta a importância da renovar e enriquecer a tradição kleiniana”.

Os novos dilemas de psicanálise da Ribeirão Preto realiza Bienal


infância e adolescência foram “Humor, Verdade e Psicanálise”
discutidos em Porto Alegre Ribeirão Preto sediou a
III Bienal de Psicanálise e
Cultura promovida pela So-
ciedade Brasileira de Psica-
nálise da cidade, a SBPRP,
de 15 a 17 de maio, intitula-
da “Humor, Verdade e Psi-
canálise”. Com mais de 400
inscritos, nesta edição, o evento despertou interesse em um amplo
público, de universitários de diversas áreas a profissionais de outras
Federadas.
Para a Diretora Científica da SBPRP e Coordenadora Geral da
Bienal, Lia Falsarella, “o tema se mostrou farto em possibilidades
de dialogar com a literatura de Shakespeare, o cinema de Chaplin,
a filosofia de Nietzsche, com Bion de Memórias do Futuro, com a
crítica da mídia contemporânea, com o tradicional humor judaico,
com a própria clínica psicanalítica no tema – Humor e dor men-
Convidada Letícia Fiorini tal.” Segundo ela, “num primeiro momento, o Humor – tema caro
a Freud, colocado junto à Psicanálise - pareceu despertar certa
O Núcleo de Psicanálise da Infância e Adolescência da Socieda- perplexidade, como se fizesse aí um par de opostos. Entretanto, a
de Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) realizou seu XVI Simpósio inquietação mostrou-se fértil, especialmente, quando a proposta
de Psicanálise, de 22 a 24 de maio de 2014, com o tema “Novos se fez coser pelo que estava colocado como elemento central e
Dilemas de Psicanálise da Infância e Adolescência”. vincular - a Verdade - o que parece ter alimentado uma animada
A psicanalista Leticia Glocer Fiorini, atual presidente da Asso- participação, tanto dos analistas como dos estudantes”.
ciação Psicanalítica Argentina, participou como convidada e, além O evento trouxe nomes como a semioticista Marisa Giannec-
de realizar uma supervisão coletiva, abordou os seguintes temas: chini que proferiu a Conferência de Abertura, o filósofo Oswal-
· Construção da identidade sexual na infância e adolescência: do Giacóia, o jornalista Eugênio Bucci, a professora Marlene dos
Santos, o cartunista Oswaldo Rodrigues e a historiadora Verena
dilemas atuais
Alberti. Entre os psicanalistas estiveram Raul Hartke, Carlos Eva,
· A psicanálise e as novas configurações familiares:
Ignácio Gerber, Arnaldo Chuster, Antônio Sapienza, Tenório Lima
abordagens terapêuticas e Cláudio Eizirik que proferiu a Conferência de Encerramento.
· Subjetivação nos filhos de casais não convencionais A Exposição Permanente de Cartoons, cedida pelo Salão Inter-
O evento, destinado a estudantes e profissionais em formação, nacional do Humor de Piracicaba, e a belíssima apresentação do
suscitou intenso debate. jovem Coral Cênico da USP também animaram o evento.

4 FEBRAPSI NOTÍCIAS [48]


eventos

XXV Congresso Brasileiro de Psicanálise discutirá


“Sonho/ato: a representação e seus limites”
A Diretoria da FEBRAPSI acompanha, sentação e seus limites” foi o tema definido Segundo ele, as questões relativas aos
promove e apoia as atividades científicas de para o XXV Congresso, que se realizará na limites da representação têm sido debati-
suas Federadas. Elas refletem a interlocução cidade de São Paulo, de 28 a 31 de outubro das amplamente refletindo-se nas psicopa-
em torno do trabalho clínico exprimindo a de 2015, no Hotel Maksoud Plaza. tologias, no manejo clínico, na técnica e na
transmissão da psicanálise nos institutos de O Diretor Científico do Congresso, Da- ampliação da intervenção da psicanálise em
formação das Federadas. O Congresso Bra- niel Delouya, afirma que “o tema comemo- outros meios. “Esperamos que as federadas
sileiro de Psicanálise reúne essa expressão ra o centenário da redação dos textos da organizem parte das atividades científicas
científica e permite a troca entre as Fede- metapsicologia, pois reflete, curiosamente, em torno desse tema, estimulando a con-
radas e seus membros, assim como torna a tensão e o movimento expresso no inte- tribuição de seus membros e candidatos”,
público e proveitoso para os demais parti- rior da metapsicologia freudiana”. A me- destaca Delouya. Além dos tradicionais
cipantes o esforço no aprofundamento da tapsicologia, longe de ser abstração do quadros, de cursos, mesas redondas, temas
psicanálise no Brasil. processo analítico, é o substrato e o com- livres, apresentações e exercícios clínicos,
Em março, a Diretoria da FEBRAPSI re- bustível do próprio exercício do pensamen- outros painéis e espaços de reflexão tam-
uniu os diretores científicos das Federadas to clínico. São as exigências culturais e suas bém estão previstos. As atividades sociais,
para debater as propostas dos membros de evoluções que vêm colocando à prova, da culturais e artísticas são organizadas pela
suas instituições para a elaboração do tema observação clínica e das manifestações so- FEBRAPSI em conjunto com comitê local da
do próximo congresso. “Sonho/Ato: a repre- ciais, o teor deste tema. sociedade hospedeira, a SBPSP.

“Realidades e Ficções” SERÁ tema de congresso


“Realidades e Ficções” será o tema central do XXX Con-
gresso Latino-americano de Psicanálise, organizado pela Fe-
deração Psicanalítica da América Latina (FEPAL), a ser realiza-
do em Buenos Aires de 3 a 6 de setembro de 2014.
Sobre esse eixo se centralizarão as discussões das cerca de
700 propostas de trabalhos científicos que foram recebidas.
Discussão essa que já se iniciou nas Sociedades Psicanalíti-
cas Latino-americanas, quando algumas escolheram estudar
“Realidades” e outras optaram por debater “Ficções”.
O Coordenador Científico da FEPAL, psicanalista Sergio
Lewkowicz, destaca que “pela primeira vez teremos uma série
de atividades interdisciplinares, prévias e concomitantes ao
Congresso: jornadas de arte, de cinema, de pesquisa, de edu-
cação, de crianças e adolescentes e de psicanálise e universi-
dade”. Está previsto também o Primeiro Diálogo Latino-ame-
ricano de Psiquiatria e Psicanálise, apoiado pela FEPAL, IPA,
Sociedades Psicanalíticas Argentinas, Associação Psiquiátrica
Argentina e Associação Psiquiátrica da América Latina.

As inscrições para o Congresso estão


abertas. Maiores informações podem ser
obtidas na página da FEPAL na internet:
www.fepal.org

JULHO | 2014 5
ENTREVISTA

O centenário de “Introdução Ao narcisismo”


na óptica da atualidade
O psicanalista Luís Carlos Menezes, a constituição do Eu desde a pulsionalidade
membro efetivo da Sociedade Brasileira auto-erótica e que interroga sobre a natureza
do Eu, ponto de grande alcance para a clínica.
de Psicanálise de São Paulo, entidade Seja a tensão problemática e permanente entre
que chegou a presidir, é o entrevistado um Eu constituído como miragem de plenitude
do FEBRAPSI NOTÍCIAS. e de onipotência no narcisismo originário, e a
formação do Ideal do Eu, ao qual o Eu é con-
Na França, ele mergulhou nos frontado em suas buscas por uma instância que
estudos com J.-B. Pontalis, P. Fédida, o vigia e julga. Sejam, ainda, os desenvolvimen-
M.Lagache, J. Laplanche e R. Diatkine tos sobre a vida amorosa, suas escolhas e as di- Luís Carlos Menezes
ficuldades em sustentá-la. A segunda teoria da
e compartilha aqui com os leitores
libido (que, como sempre, em Freud, contém
sua percepção sobre o texto de Freud intacta a primeira), postulando um equilíbrio balho clínico com crianças e o tratamento de
“Introdução ao narcisismo”, que movediço entre libido do Eu e libido de objeto, pessoas em condições psicóticas mais graves
completa 100 anos em 2014. será a condição para o avanço dos anos 20 da foram ganhos importantes. E há a retomada
nova teoria das pulsões, formulada em torno de Lacan, que desde os anos 30, propõe um
FEBRAPSI notícias: Qual a importância de “Introdu- do traumatismo - sempre traumatismo do Eu estádio do espelho em que a constituição do
ção ao Narcisismo” no contexto das obras anteriores e narcisicamente investido, e do automatismo Eu como totalidade (ilusória, imaginária), so-
posteriores de Freud? da repetição, assim como para a postulação de bre fundo do auto-erotismo (que fica excluído
Menezes: Com “A interpretação dos so- um novo modelo de aparelho psíquico, que dá desse todo) se faria com base na imagem do
nhos” (1900) e os “Três ensaios sobre a teoria peso à culpabilidade inconsciente (o desamor corpo. Isto lhe dá elementos para uma reflexão,
sexual” (1905), temos concepções capazes de de si e o sadismo do supereu) e às pulsões “li- que me parece essencial, sobre o lugar do Eu
garantir a prática e instaurar o novo campo do gadas” e “não ligadas”. na análise. O Eu como função de desconhe-
saber que é a Psicanálise: uma teoria do sinto- FN: A psicanálise passou por acréscimos teóricos e trans- cimento do que importa na análise e que é o
ma de que sofre o paciente, entendida como formações na técnica que permitiram um acesso mais que escapa o tempo todo, ou seja, o incons-
formação psíquica animada, paradoxalmente, amplo às várias áreas do psiquismo. Que ideias de “Intro- ciente, nos fornece condições de diferenciar a
pelo desejo inconsciente em impasse, e um dução ao narcisismo” se mantêm importantes na clínica condição da escuta analítica do relacional em
método de tratamento baseado na escuta da psicanalítica? O que se acrescenta às formulações freu- seu sentido comum. Este, na vida corrente, é
fala associativa do paciente, em uma condição dianas na atualidade? centrado – ilusoriamente - neste “imaginário”
favorecedora da atualização transferencial, Menezes: Todas, pelas transformações e interpessoal em que o que é para valer, o de-
na qual o desejo – sexual e infantil – encontra novas formulações que foram encontrando, a sejo inconsciente em suas vicissitudes, tende
condições de ganhar terreno, pelo trabalho da começar pelos seus desdobramentos no inte- a se manter intrinsicamente ignorado. Toda a
significação, respeitadas as estratégias defen- rior da própria obra de Freud e dos analistas clínica dos pacientes borderline e os autores
sivas inconscientes do Eu. Na década seguinte, em diálogo com ele, pois isto ocorreu ainda que a pensam recorrem a noções que vão se
assistimos a um novo e fecundo avanço, que por mais vinte e cinco anos, desde 1914. Nos formulando e se especificando de diferentes
gravita em torno da ideia de que o Eu não está anos vinte, a clínica dos traumatismos do Eu e maneiras para dar conta de suas experiências,
somente implicado no sintoma como negocia- a ênfase na repetição, no aqui e agora da ses- num campo conceitual que não creio que seja
dor do compromisso com as pulsões (sexuais), são, como possibilidade de serem resignifica- incompatível, pelo contrário, com o terreno
mas que ele próprio está em jogo como obje- dos nos trabalhos de S. Ferenczi e de O. Rank. aberto de forma inaugural pelo texto de 1914
to das aspirações pulsionais, como objeto de Esta teve o seu prolongamento em M. Balint e, sobre o narcisismo.
desejo. Nesta condição, pode sofrer modifica- também, um pouco adiante, em D. Winnicott, FN:  O senhor considera que os conceitos elaborados
ções decisivas, por identificações maciças, no cuja concepção de um espaço potencial (cheio neste texto centenário estão presentes em sua prática
Leonardo (1910), e perturbações graves, como de possibilidades) e do objeto transicional que psicanalítica?
no colapso psicótico, na esquizofrenia e na atenua e possibilita elaborações mediadoras, Menezes: As temáticas da vulnerabilidade
paranoia, como no Caso Schereber (1911), as- simbolizantes, na tensão paranóide inerente narcísica nas relações, da vida amorosa e do
sim como na melancolia, em Luto e melancolia ao Eu diante do outro semelhante (O que sou desejo, dos ferimentos dolorosos, dos lutos,
(1917. O amor, mas também o ódio, voltados para ele? O que pretende?). Na mesma época dos traumatismos, dos estados de alma con-
contra o Eu em seu investimento reticente dos já começam a tomar corpo, por outro lado, as correnciais (ciúmes, inveja, agressividade), das
objetos, abre a clínica para novas possibilida- teorias de M. Klein que se centram e possibi- insuficiências e fracassos, das tensões entre as
des, desde as questões postas pelas psicoses. litam um riquíssimo desdobramento em torno aspirações do narcisismo originário (ser tudo
O texto de 1914, em que é formulada a concep- de uma clínica das angústias e defesas da con- para o outro, ser único) e as do Ideal do Eu
ção de um Eu objeto da libido – o narcisismo, dição arcaica do Eu narcísico originário entre o (ser apenas um entre outros), embora sejam de
assim como as exigências da clínica às quais amor, sempre incerto, do objeto, e a descon- grande alcance conceitual são, ao mesmo tem-
responde esta virada na teoria da libido, é rico fiança nutrindo o temor persecutório e o ódio. po, imediatamente perceptíveis por qualquer
em questões novas e de grande alcance. Seja O par amor/ódio do outro/de si encontra-se em um de nós em nossa vida pessoal, no convívio
uma teoria das psicoses em que a retirada dos primeiro plano na teoria do narcisismo, sendo com os outros e, obviamente, muito presente
investimentos libidinais dos objetos para o Eu, objeto de uma descrição metapsicológica va- na experiência clínica. Em minha experiência
sem investimento em novos objetos, é con- liosa em Pulsões e suas vicissitudes (1915). Era clínica, não vejo como não ter presente que
gruente com o colapso psíquico, com o delírio uma clínica que tinha por norte a integração do as aspirações narcísicas são o terreno em que
de grandeza e com a retração do interesse do Eu e sua discriminação dos objetos tornados se põem em jogo as questões edípicas e seus
psicótico pelo mundo. Seja a questão sobre mais confiáveis. O desenvolvimento de um tra- desdobramentos.

6 FEBRAPSI NOTÍCIAS [48]


ARTIGO

narcisismo:
corte e abertura para uma
metapsicologia das origens

E
m setembro de 1913, após o der- Freud faz um avanço através de uma regres-
radeiro congresso da IPA em Mu- são, ou seja, em Totem e Tabu (1913) tece
nique, marco da ruptura definitiva uma possível antropologia psicanalítica para
com Jung, Freud revisitara Roma. as origens do sujeito e da cultura, centrado
Ignácio A. Paim Filho1
Revitalizado por esse reencontro, e bus- no desejo parricida e incestuoso do filho em
cando elaborar os efeitos dessa cisão para relação aos pais, tomando por paradigma a
o movimento psicanalítico, vai começar a tragédia edípica, encenada em Édipo Rei de do à possibilidade da ruptura deste pacto
rascunhar um de seus trabalhos mais signifi- Sófocles. Por outro lado, no Narcisismo, nos narcísico com os pais, com sua promessa de
cativos: Para Introduzir o Narcisismo. Produ- propõe uma mudança de perspectiva – “[...] imortalidade. O romance familiar edipiano
to de divergências teórico/clínicas que tem dedução retroativa a partir de outro ponto torna-se mais complexo, sendo ressignifica-
como ponto de ebulição a necessidade de de observação.” (Freud, 1914) – com a postu- do, nesse a posteriori, diante dessa virada
repensar a teoria pulsional – a libido – ener- lação do narcisismo primário, traz para o pri- de quatorze.
gia da pulsão sexual e suas repercussões meiro plano a anterioridade do desejo das Já me encaminhando para o fechamen-
na psicose. O caso do presidente Schreber figuras parentais, com todo o seu implexo to dessas pontuais considerações sobre o
(1911) demanda novos aportes. Instalação para com seus rebentos – ser objeto de de- texto, que se mantém com uma vitalidade
de um novo modelo para especulações so- sejo – ápice da vivência incestuosa: ser três perene, que segue nos solicitando para no-
bre a constituição da psique: a relação neu- em um: “O ponto mais sensível do sistema vas/velhas interrogações, deixo registrado,
rose/psicose. Advento de uma nova dualida- narcísico, a imortalidade do Eu, tão dura- à guisa de introdução a interlocuções, a
de pulsional: libido do Eu versus libido do mente encurralada pela realidade, ganha, as- importância de tecermos releituras des-
objeto, com seu movimento de gangorra. As sim refúgio seguro abrigando-se na criança” se escrito à luz da pulsão de morte. Como
pulsões de autoconservação passam a ser li- (Freud, 1914). Com o esboçado nessa cena apontei anteriormente, o retorno do não
bidinizadas, o não sexual sai de cena, o que – refugiar-se, abrigar-se com segurança em... sexual da pulsão de morte – propicia des-
implicará nos desdobramentos da virada de – amparar o desamparo dos seus ascenden- dobramentos do narcisismo, da patologia
vinte – quando esse retorna com a pulsão tes: eis aí lançadas as bases para uma pos- à criatividade. Pelo viés psicopatológico te-
de morte. Nesse sentido, assinalo que esse sível neurose do destino (Freud, 1937), com mos, por exemplo, a destrutividade da força
texto sobre o narcisismo, poderia ter como seus mandatos endogâmicos. do desligado que impera na psicose, de um
codinome a virada de quatorze. Podemos explorar, para além desse texto narcisismo em que a libido é deficitária em
Nesse trabalho Freud se valerá da regres- centenário, que o tema do duplo abordado sua função de domesticar a pulsão de mor-
são psicótica como um estímulo para aden- por Freud em 1919, no Estranho, vem ao en- te; por outro lado, a sublimação, enquanto
trar ao universo arcaico e, com isso, coloca contro dessa ideia: o filho em suas origens criação, ganha novo status metapsicológico:
em movimento a criação de uma metapsi- como um duplo do investimento parental, implicando desconstrução e construção. A
cologia sobre a constituição do Eu. Utiliza protetor e necessário, porém mortal se per- pulsão de morte produz rupturas, que pro-
como referência o acontecer do narcisismo. petuado. Portanto, em Totem e Tabu, temos
piciam liberação da libido, que por sua vez
Seguindo por essa trilha propõe como se dá uma narrativa estruturada nos destinos de
pode fazer novas ligações.
esse desenvolvimento do autoerotismo ao Édipo, enquanto nesse texto de 1914, temos
Com a introdução da pulsão de morte,
amor objetal. Para atingir tal meta, enuncia uma introdução que permite especular so-
no seio do narcisismo, se produz um avanço
a necessidade de uma nova ação psíquica2 bre as origens de Édipo. Retorno da velha
metapsicológico, com repercussões teóri-
para viabilizar a saída do autoerotismo. Ação pergunta ao oráculo, feita pelo jovem Édipo,
cas e clínicas, que ressoa de forma consis-
integradora, porém não nomeada por Freud. suscitando outra resposta, talvez não exclu-
Sendo justamente o narcisismo primário que tente na dinâmica estrutural da psique, no
dente, mas sim complementar: qual a minha
surge dando uma estruturação, criando uma ascendência? Estranhamento. O oráculo interjogo da libido da pulsão sexual (ligar)
unidade, regida por um padrão organizador cala, como se dissesse nada saber sobre versus a destrutividade da pulsão de morte
– o princípio do prazer purificado. Diante suas origens. Entretanto, fala do seu destino. (desligar)3. Ressoar que nos convoca e pro-
desse cenário temos as bases para inferir sua Compreendo que ao olhar o destino de Édi- voca a adentrarmos no universo que jaz no
ligação e fundamentação para o Eu-Ideal. po (1913) e ao mesmo tempo calando sobre leito de rocha: sepultado sim, destruído não
Contudo, através de um processo de aqui- a sua origem especificamente (1914), Freud – a hegemonia da virilidade narcísica.
sição, gradual de uma diferenciação, vai se abre a possibilidade e convida para inter- A pretensão, com certa dose de ou-
fazendo acontecer o narcisismo secundário – virmos na problemática do narcisismo dos sadia, com essa narrativa é que possa
retorno ao Eu da libido que foi investida nos pais – o renascer da renúncia da castração – ser um incitamento para releituras desse
objetos. Esse retorno da libido traz as mar- e seu comprometimento na constituição da texto centenário. Escritura que tem uma
cas que revelam a não completude, fissuras psique dos seus descendentes, proporcio- potencialidade vibrante para dar funda-
que põem a trabalhar a construção de um nando os indícios para a sua postulação, em mentação para as ideias que estão por vir,
Eu comprometido com os ideais narcísicos, Análise Terminável e Interminável (1937), do bem como constituir-se no elo com o ante-
porém esse já submetido à logica do princí- leito de rocha, com seu repúdio ao feminino. riormente elaborado. Assim sendo, reen-
pio do prazer/desprazer: o Ideal-de-Eu. Ideal Seguindo por esse caminho, o lugar do contrá-lo e contextualizá-lo, de Freud ao
esse que estará subjacente aos destinos do objeto, a partir dessa abertura metapsicoló- nosso tempo, acompanhado de um espíri-
recalque e da sublimação. gica, amplia sua significação. Torna cada in- to investigativo, pode ser uma bela opor-
Uma das grandes questões, entre muitas, divíduo, num tempo inaugural, coadjuvante tunidade de experimentarmos reflexões a
que está posta nessa introdução do e no nar- do protagonismo dos objetos primordiais. respeito do ser contemporâneo: sobre a
cisismo é a vinculação do narcisismo primá- O processo de desenvolvimento da psique psicanálise, sobre nosso ofício e sobre as
rio com as figuras parentais. Parece-me que – o vir a ser protagonista – está subordina- interações com a ordem social.
1
Psicanalista, membro titular da SBP de PA.
2
Essa “ação” será palco de muitas discussões pelos pós-freudianos. Fico inclinado a referendar a ideia de que a identificação primária – o ser identificado – seja o elemento que
cumpra essa ação de ligação
3
Essa temática é desenvolvida por autores como: S. Leclaire, A. Green e N. Marucco.

JULHO | 2014 7
NOTÍCIAS

Posse da nova gestão da GEPCampinas agora na FEPAL


Associação Brasileira de Candidatos Logo após o Congresso Internacional no México
em 2011, quando o GEP Campinas foi oficialmente
A nova Diretoria da Associação Brasileira de Candidatos
aprovado pela IPA, antes mesmo da comunicação ofi-
(ABC) tomou posse em 22 de março, na sede da Sociedade cial, o Grupo já recebeu as boas-vindas da FEBRAPSI
Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). como um de seus Grupos de Estudos Federados.
Entretanto, o presidente do Grupo, Nelson José
No encerramento de sua gestão, a presidente Joselane Nazaré Rocha, lamenta que “desde então tenta-
Campagna (SPMS) em um discurso emocionante agrade- mos nos filiar à Federação Psicanalítica da América
ceu a sua equipe, aos conselheiros e aos representantes Latina (FEPAL), encontrando uma série de barreiras Presidentes:
burocráticas. Pela legislação uruguaia teríamos de Abel Fainstein(FEPAL)
que a ajudaram nesta tarefa. Fizeram parte daquela Di- e Nelson Rocha(GEP)
retoria como Vice-presidente Deise Comparin, como Se- obter uma declaração de cartório, atendendo exi-
cretária, Thalita Gabinio (SPMS) e como Tesoureira, Odete gências estatutárias da FEPAL, porém, os cartórios bra-
Koltermann (SPMS). Em seguida, Miriam Altman assumiu o sileiros não emitem essa declaração. Estávamos num impasse gerado pela
cargo de Presidente, apresentando a nova Diretoria: Janice incongruência entre a burocracia oficial de dois países latino-americanos”. Na
Isabel Rodrigues Bicudo de Faria, como Vice Presidente, busca da solução para a questão, ele lembra: “redigimos, então, nós mesmos
Evelyn Pryzant, como Secretária e Monica Povedano, como a tal declaração, aprovada em uma Assembleia Geral, que teve sua ata regis-
Tesoureira. Também tomaram posse os novos conselhei- trada em cartório. Contudo, permaneceu o impasse”.
ros eleitos em Campo Grande durante o Congresso: Dei- Na Assembleia de Delegados da FEBRAPSI realizada em Campinas, em no-
se Comparin (SPMS), Lucas Silva Santos (Gepmg), Marina vembro de 2013, quando houve a eleição e posse da nova Diretoria, capitanea-
Magalhães Leitão Miranda (SBPRJ), Nyvia Oliveira Souza dos pela então presidente, Gleda Araújo, os delegados conjuntamente com
(SPPA) e Eliane Souto Abreu (GEPFOR). as duas Diretorias (a que se encerrava e a que assumiu, presidida por Aloysio
No mesmo dia, várias atividades marcaram o início da nova de Abreu) assinaram uma carta solicitando providências à FEPAL. A partir des-
gestão, tendo como convidados os conselheiros e repre- se impulso, o Grupo passou a contar com a colaboração ativa da Diretoria da
sentantes dos diversos estados brasileiros, das regiões Su- FEPAL na pessoa de seu Presidente, Abel Fainstein, e, com a intermediação de
deste, Centro Oeste e Sul. Pela manhã foi realizada uma Sergio Nick, obteve a aprovação dos papeis, vencendo a burocracia. Em março
reunião sobre as principais demandas de cada região saiu a notícia oficial da federação do GEPCampinas à FEPAL. “Tudo isso graças
e algumas datas possíveis para os encontros regionais. ao inestimável estímulo da FEBRAPSI e aos também inestimáveis esforços de
Também se discutiu a possibilidade do encontro nacional Susana García, Diretora de Sede da FEPAL e de Silvia Bechler, Secretária Execu-
ser realizado em Fortaleza. À tarde realizou-se a mesa re- tiva, somados aos nossos”, destaca Rocha. Imediatamente, o Grupo comparti-
donda em torno do tema “A participação institucional: a lhou os procedimentos com os outros quatro Grupos de Estudo da FEBRAPSI,
importância do quarto eixo na formação”. Um happy hour que já tomam providências para sua Federação.
especial no Joquey Clube promoveu uma confraternização Em maio, Rocha esteve presente ao Conselho de Presidentes da FEPAL em
entre os membros da FEBRAPSI de todos os estados. Um Buenos Aires, onde, formalmente assinou a ata de Federação do GEPCampinas
marco importante como início para um trabalho produtivo! à Federação Psicanalítica da América Latina.

REVISTA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE: mutações e perplexidades


Inaugura-se a edição da Revista a nossa técnica e nossos consultórios?”. sem perder o legado e os fundamentos
Brasileira de Psicanálise de olho nas Para ele, este tema também convida à ético-clínicos que herdamos das primei-
mutações e perplexidades no mundo e reflexão metapsicológica proposta por ras gerações de analistas?
interessantes trabalhos em torno da ques- Movido por estas inquietações, o con-
no campo psicanalítico. tão do Atual na psicanálise, assunto do selho editorial escolheu os seguintes te-
A Revista não tem se furtado a 74º Congresso de Psicanalistas de Língua mas para próximos números da RBP : mu-
promover um debate plural, clínico Francesa (Canadá, maio/2014). tações e perplexidades, as intervenções
e teórico desses importantes temas, Tanis lembra que “o tema mutações do analista e os 100 anos da Publicação
mediante a publicação de artigos de evoca tensões e conflitos inerentes à de “Introdução ao narcisismo”, comemo-
história. Na América Latina, ao lado das rados a partir de seus desdobramentos
autores brasileiros e estrangeiros, na clínica atual. “Posteriormente pensa-
transformações globais das últimas dé-
assim como de entrevistas e cadas, estamos também engajados, mos abordar assuntos vinculados ao XXV
diálogos de interface com diferentes como parte de nossa identidade cidadã Congresso FEBRAPSI, em São Paulo cujo
pensadores da cultura. e psicanalítica, no debate sobre a co- tema será: Sonho/ato, os limites da repre-
lonização e seus efeitos econômicos e sentação”, explica o editor, que destaca
Segundo o editor da Revista, Bernar- culturais”. Realidades e ficções, tema do ainda a importância da contribuição de
do Tanis, o grupo acompanhou a escolha 30º Congresso da FEPAL (Buenos Aires, todos os associados. Todos são convi-
da temática para o 49° Congresso da IPA setembro/2014), convoca a refletir sobre dados também para os debates em tor-
(Boston, agosto/2015) – Um mundo em estas realidades e as expectativas futu- no da escrita da clínica e sua publicação
mutação: formas e uso das ferramentas ras da psicanálise; os mitos de origem; os – encontros promovidos pela equipe da
psicanalíticas na atualidade: “Vivemos desafios dos institutos e da formação de RBP em Congressos, assim como em So-
em um mundo em rápida transformação. analistas na atualidade – como adequar a ciedades, Grupos de Estudos e Núcleos
Como essas mudanças afetam a mente, clínica aos novos formatos das demandas pertencentes à FEBRAPSI.

8 FEBRAPSI NOTÍCIAS [48]


Infância e adolescência

A infância como
potência criativa
G
iorgio Agamben é um filósofo Walter Benjamin, filósofo e historiador da
italiano que nos últimos anos primeira metade do século passado, ao fa-
tem se destacado por uma pro- lar da transformação histórica do brinquedo Roberto Calil Jabur
dução profícua e foi definido e do brincar, afirma que a brincadeira viva
pelos jornais Times e Le Monde como uma passa necessariamente por um processo de
Membro Efetivo
das dez mais importantes cabeças pensan- criação. Benjamin analisa a repetição intrín- da Sociedade de
tes do mundo. seca ao brincar e que nada torna mais feliz a Psicanálise de Brasília.
Como não poderia deixar de ser, sua obra criança do que o “mais uma vez”. Mas não o Analista Didata do Instituto de
influencia os mais variados campos científi- “mais uma vez” de uma compulsão à repe- Psicanálise Virginia Bicudo
cos. Nos últimos anos, temos percebido inú- tição, não o “fazer como se”, mas um “fazer
meros trabalhos psicanalíticos que direta ou sempre de novo”, para criar sempre o novo,
indiretamente citam o filósofo. em uma variação criativa e criadora. Um ção e o estado de infância são justamente a
Seu segundo livro publicado chama modo de experimentar o mundo criticamen- fonte primordial para a mediação da busca
atenção justamente pelo título: Infância e te, porque inclui no próprio brincar e na pró- do conhecimento, a desordem produtora.
História. Ensaio sobre a destruição da ex- pria infância, as dificuldades, os tropeços, as Na Antiguidade, a fantasia é vista positiva-
periência (1978). Durante toda a obra o au- liberdades de não-ser e de ser, de expansão mente como formadora de imagens de so-
tor tenta fazer uma relação entre infância, e retração, de movimento rumo ao desco- nhos nos quais se recolhiam adivinhações.
experiência e fantasia. nhecido, nele escavando brechas e fazendo Já Descartes, trata a fantasia como fato da
Para Agambem, a infância é um fato da vida das incertezas parte do próprio jogo. Um es- subjetividade, um fantasma, combinação de
humana que indica o não instituído, potências tado de infinitas bricolagens e citações emo- alucinação com alienação mental.
que resistem a determinações. Bastante con- cionais (bem ao estilo do filósofo alemão), A ciência moderna desvincula a imagina-
centrado em estudos linguísticos, Agamben onde um objeto que aparece pode conter ção do real, lega-a (pensando no sentido da
buscará neste “estado de infância” sua situa- referências e estados emocionais múltiplos, frase, não se poderia pensar no verbo “rele-
ção de passagem, de morada provisória, de como ele próprio descreve no ensaio Rua de gar” no lugar de legar?) para um plano de ir-
aprendizado e espanto da linguagem. Mão Única (1984, p.39): realidade (o que estaria aquém/além do real,
Esta infância vive, como em um jogo, ar- CRIANÇA DESORDEIRA. Cada pedra que a forma do impossível) e por isso impedida
ticulada e esquecida ao mesmo tempo. No ela encontra, cada flor colhida e cada borbo- de ser uma forma de conhecimento. É deste
limiar da presença/ausência, entre tradição e leta capturada já é para ela princípio de uma espaço abandonado que emerge o fantasma.
o gérmen. A primeira busca ser perpetuada coleção, e tudo que ela possui em geral, Neste sentido, Agamben demonstra
como forma de propriedade e de memória; constitui para ela uma coleção única. Nela como a noção moderna e científica da ima-
já o segundo é construído como agente de essa paixão mostra sua verdadeira face, o ginação ligada a um fantasma alucinatório
invenção e de recomeço. rigoroso olhar índio, que, nos antiquários, retira a capacidade inventiva da imaginação,
Por isso mesmo, a infância não é um es- pesquisadores, bibliômanos, só continua como estado de infância. Os fantasmas são
tado primeiro e cronológico de nossa traje- ainda a arder turvado e maníaco. Mal en- os índices para uma cultura que não “joga”,
tória biográfica, mas sim uma ontogênese, tra na vida, ela é caçador. Caça os espíritos não permite a aparição do residual e, por-
um processo de potencialidades narrativas cujo rastro fareja nas coisas; entre espíritos e tanto, da própria vida da história humana,
de experimentações. Ela é o estado onde coisas ela gasta anos, nos quais seu campo na qual a criança é entregue aos fantasmas.
se pode recuperar a vida como narrativa e de visão permanece livre de seres humanos. O impedimento faz da criança o movimento
como jogo. Como a própria experiência, Para ela tudo se passa como em sonhos: ela estacionário de um tempo que não devolve
constituída do não-saber, do silêncio, do não conhece nada de permanente; tudo lhe o passado e não comunica o futuro, mas, em
que não se diz. acontece, pensa ela, vai-lhe de encontro, sua própria imobilidade, será o espelho que
A figura da criança emerge como o outro atropela-a. Seus anos de nômade são horas ilude como preservação.
do sentido, a linguagem como o brinquedo: na floresta do sonho. De lá ela arrasta a presa O que Agamben pretende demonstrar é
jogo, renovação, nascimento. A criança des- para casa, para limpá-la, fixá-la, desenfeitiçá justamente como a infância é justamente a
monta os objetos da realidade para torná-los -la. Suas gavetas têm de tornar-se casa de potência da imaginação e da experiência.
reais, ou seja, mostra as variantes potenciais armas e zoológico, museu criminal e cripta. Para ele, leitor cuidadoso de outro filósofo,
de sua existência para não ocultá-los de seu “Arrumar” significaria aniquilar uma constru- Walter Benjamin, o brinquedo não preser-
lugar, que é o real. O jogo é a própria ma- ção cheia de castanhas espinhosas que são va o tempo como um antiquário ou como
neira de experimentar a liberdade, defende maças medievais, papéis de estanho que um monumento, mas como material icônico
Agamben, pois liberdade é acima de tudo são um tesouro de prata, cubos de madei- da temporalidade, desconstruindo e distor-
poder-não-ser. Não é apenas uma afirmação ra que são ataúdes, cactos que são tótens e cendo o passado ou miniaturizando o pre-
categórica, mas também uma renúncia: re- tostões de cobre que são escudos. No armá- sente – jogando.
nunciar ao que não somos e nos tornarmos, rio de roupas de casa da mãe, na biblioteca A miniatura, o brinquedo e a própria in-
potencialmente, algo que nem sequer nos do pai, ali a criança já ajuda há muito tempo, fância tornam presença o que é fragmento:
imagináramos capazes. O jogo da infância é quando no próprio distrito ainda é sempre o pedaços, passagens, intenções pertencen-
o jogo da própria liberdade. O brincar é o anfitrião inconstante, aguerrido. tes a outras estruturas que se reúnem para a
ato de desarmar o pensamento. Voltando a Agamben o uso da imagina- indistinção temporal que repercute no jogo.

JULHO | 2014 9
Arte e psicanálise

Esculpindo
a vida
O Museu do Louvre, em Paris, assim como Espanha,
Portugal, Grécia e EUA já foram palcos para as obras
da artista plástica Marilia Fayh que se dedica à
escultura, pintura e litografia e, mais recentemente
também demonstrou seu talento com as palavras, ao
lançar o livro “Diário de Alecrim”.
Na entrevista ao FEBRAPSI NOTÍCIAS, ela abre seu
coração, mergulha em suas memórias e compartilha
suas percepções sobre a arte, a vida e o mundo.
Numa autoanálise afirma: “Não sei se o que faço
“Heleno”
é obra de arte, isto só o tempo vai dizer. Prefiro Foto: Zago
chamar meu trabalho de obra de vida. A vida me faz
trabalhar. A vida me emociona, provoca, maltrata ou
me enche de prazer e eu transbordo trabalho”.

FEBRAPSI: Conte um pouco da sua história ganda, pela facilidade de desenhar e a ra- tórico e eu, via de regra, arrancava do pa-
como escultora.
pidez de criar soluções visuais. Casei, tive pel a figura. Me aconselhou a entrar para
Marilia: Sempre desenhei. Desde meni- três filhos bem cedo, com uma diferença a escultura. Eu fui e a escultura me pegou.
na. Era meu brinquedo predileto: lápis de de idade entre eles tão pequena, que me Acho que foram os anos anteriores dese-
cor, papel, tesoura, tintas, enfim, desenha- impediu de trabalhar fora de casa. Mais nhando muito, que me proporcionaram a
va todo o tempo; recortava, montava, sem uma vez o desenho veio em meu encontro. facilidade muito prazerosa para modelar
nunca imaginar que esta brincadeira pu- Desenhava entre as mamadas e tarefas de minhas primeiras peças. Eu simplesmente
desse se transformar em profissão. Dese- menina mãe. Estava sempre com um blo- sabia fazer, melhor: minhas mãos sabiam!
nhar era, e continua sendo, o meu refúgio. co de desenho e lápis por perto. Esta é a E encantada iniciei a trilha da escultura
Uso a expressão desenhar porque não grande facilidade do desenho: com muito também. Um mundo muito saboroso, po-
tinha a menor ideia que às vezes fazia de- pouco se pode trabalhar. Só com meus rém, muito mais trabalhoso e dispendioso,
senhos tridimensionais, recortados e que filhos na escola, pude buscar conhecer contudo me abduzia num prazer e numa
saiam do bidimensional. Brincava intuiti- atelier de artistas e observar na fonte, o entrega quase total. Impossível modelar,
vamente com cores e formas, sem jamais fazer artístico. Ingressei no Atelier Livre de fazer uma escultura ficar de pé, atravessar
me preocupar com a possível utilidade Porto Alegre, para aprender alguma téc- todo o processo, a técnica de fundir, ter o
deste prazer. Mais tarde, na escola, des- nica, conhecer pessoas da área e comecei olho treinado, ver além, sentir os pesos, o
cobri que desenhava com mais facilidade devagar a participar de algumas exposi- equilíbrio, sem uma entrega profunda. Aos
do que minhas colegas e me inclinei natu- ções coletivas de alunos. poucos, começaram convites para partici-
ralmente para esta área. Desenhava mo- Ainda a escultura estava adormecida. pações em salões de arte, exposições co-
delos de anatomia para aulas de biologia, Certo dia, uma professora, hoje já falecida, letivas, mais tarde individuais, que foram se
sobressaindo meus trabalhos nas feiras de chamada Carmem Moralles, me disse: “Tu estendendo a grandes capitais culturais da
ciência, por conta do gosto pelo desenho. és uma escultora!” Fiquei constrangida, América e Europa, onde hoje exponho sis-
Por outro lado, era aluna desligada nas ou- nunca tinha pensado nisso. Ela me expli- tematicamente. Ganhei inclusive duas pre-
tras disciplinas. Nunca me preocupei com cou, que eu recortava, tirava para fora os miações em Paris, em épocas e exposições
nada disso. Cursei Publicidade e Propa- desenhos, meu trabalho era muito escul- diferentes.

10 FEBRAPSI NOTÍCIAS [48]


...me fecho no Atelier, me
fecho dentro de mim e vou
filtrando todas as impressões
vividas, e discorro inconsci-
entemente sobre elas.
Marilia Fayh

FEBRAPSI: Existem períodos (temas-eixos)


que marcam a sua criação ou seu processo
criativo?

Marilia: Certamente, todo meu tra-


balho é marcado por períodos já vividos
e, ainda períodos que não vivi, mas por
intuição pressinto que vão chegar. Isto é
identificado depois que passa a situação.
“O astronauta da minha alma”
Aí consigo observar bem as distintas fases. Foto: Zago
Enquanto trabalho, estou muito próxima
da vivência, é difícil alguma identificação.
Meu trabalho, não nasce; tenho a impres-
são que está sempre em mim, sou eu. O
que acontece é que, às vezes, a vida vaza Costumo adiar tudo que posso ante a modos? Estradas, saídas, caminhos, fuga!
pelas mãos arteiras e me exponho em for- um novo começo, de puro medo. Medo de Música, teclas, degraus, subidas, acordes...
ma material. Tenho um museu imaterial me mostrar, medo de descobrir mais uma acorde! Acordar... A cor que quero dar!
incomensurável dentro de mim, pulsando alma habitando em mim. Mas sempre che- As figuras, sempre em algum movimento,
vivo. É uma questão de oportunidade: pa- ga a hora do confronto e descortino o meu como se o bronze suspirasse uma leveza
rar, entrar no silêncio do confronto interior, desconhecido em busca de alguma desco- que não tem. Pode-se chamar de fase...
e deixar o trabalho sair. Não sei sobre os berta, de alguma paz. Existe também a par- Ou característica. Caráter! O trabalho
outros artistas, mas, pessoalmente, são te prática, econômica e que torna viável o para ser autêntico deve ter caráter. Deve
muitas as conexões que me levam a reali- trabalho da arte. Não tenho nenhuma ajuda dar medo... Deve surpreender! Nem tanto
zar séries ou fases repetidas. Como se eu de custo, bolsa, ou qualquer garantia eco- ao observador, mas penso que o trabalho
precisasse me convencer, como se eu pre- nômica. Isto faz com que muitas vezes uma deve me surpreender! Me assustar, ir além
cisasse acreditar, como se eu precisasse fase seja capitaneada pelo artigo que esti- de mim...
me degustar algo que estou vivendo, ou ver em oferta, pelo que se apresentar mais FEBRAPSI: Levando-se em conta a relação en-
de alguma coisa que escapou ao meu con- viável. Por exemplo, já comprei muitos po- tre o “criador” (artista) e o público, como
tes grandes de tinta azul de diferentes tons você sente que se dá esta interação mediada
trole, ou ainda de algo que terei que en-
pela sua criação (obra de arte)?
frentar... Então eu me fecho no Atelier, me porque estavam numa oferta imperdível na
Marilia: Não me sinto criadora. Sou criati-
fecho dentro de mim e vou filtrando todas casa de material artístico. Então por muito
tempo o fundo de minhas telas eram azuis. va. Copio, remendo, reformo, reinvento, re-
as impressões vividas, e discorro incons-
Apesar de ser do meu gosto esta cor que leio, refaço, respeito. O mundo está criado.
cientemente sobre elas. Acho que estes
representa o infinito, o distante, o espa- A vida cria. Eu apenas trabalho. Traduzo do
trechos de vida e trabalho são as tais fases.
ço. Naquele tempo, o azul reinou em meu meu jeito o que já esta aí. Tudo com muita
FEBRAPSI: Como você analisa as fases do seu verdade, muito sentir, muita nudez de alma.
trabalho? Atelier e em meus trabalhos. O que me
dava muito prazer, porque para mim, azul Esta autenticidade, de fazer sem nenhum
Marilia: As fases... Sei pouco sobre elas pudor, o que meu interior grita é que se co-
é uma cor que vai embora! Isto me como-
de maneira consciente. São as fases da mi- munica com cada pessoa. Procuro sintonizar
ve. As tais fases devem comover, compro-
nha vida: meus medos, minhas brincadei- meu eu com o eu do outro. Cada outro é um
meter, desconfortar, desartistar, desprover
ras, meus nascimentos, minhas mortes. Sin- só! Cada pessoa é um filho único. Não lido
o conhecido pelo jamais experimentado.
to isto sinto bem nitidamente e reconheço: com o público propriamente, porque faço
Acredito nisso, se não, não vale o esforço.
um hiato torturador entre as fases. meu trabalho com muita intimidade. Ao fazer,
FEBRAPSI: É possível perceber caracterís-
Sinto o silêncio e o vácuo me pesar como ticas comuns nas diferentes fases do seu imagino cada trabalho se comunicando com
chumbo. Sinto a expectativa me fazer faltar trabalho? cada uma pessoa, única, dentro da sua menor
o ar. Sinto o gelado, o medo, o não saber Marilia: Por muito tempo, às vezes ain- partícula. É um elo quase sagrado, é íntimo
de nada... Sinto isto e muito mais, antes de da hoje, equilibro bicicletas em cima de como fazer amor. Olho no olho. Essa minha
iniciar uma empreitada pessoal, que certa- esculturas ou desenhadas em alguma gra- intenção, apesar de pretenciosa, é muito sim-
mente abrirá o cenário de uma nova fase. vura, pinceladas numa tela. Sempre meio ples e direta. Por isso funciona. Quando re-
Resultado de vivências ou aspirações de pequena, frajola, mas a bicicleta está ali, cebo o retorno de alguma pessoa, é sempre
vida, este iniciar é quase cruel. É sair de lembrando a peraltice que existe em cada muito intenso e particular: a pessoa capta o
dentro das profundezas da terra fértil onde acontecimento, em cada viver, em cada quanto me entrego, e se entrega também.
me escondo nas entre safras para me pro- morrer... Aquela fragilidade, tão exposta,
teger, me refazer, e começo a brotar como carente por movimento, mudanças, para Para saber mais sobre o
uma videira, tímida, cheia de brotos, que de não cair. Muitas e muitas telas estendi um trabalho da artista acesse
repente explodem em folhas verdes, e co- teclado, seria outra fase? Ou estaria cla- www.mariliafayh.com.br.
brem todo um parreiral. mando pela mesma coisa de diferentes

JULHO | 2014 11
AGENDA

calendário nacional
JULHO 30 NOVEMBRO
28 e 29 Sociedade Brasileira de Psicanálise 07 e 08
Sociedade de Psicanálise de Ribeirão Preto - SBPRP Grupo de Estudos Psicanalíticos
de Brasília – SPBsb de Goiânia - GEPG
EXPANSÕES E RUPTURAS III:
Atividades científicas e clínicas com “Rumo a uma terceira tópica?” IX Jornada de Psicanálise de Goiânia:
Bernard Chervet Psicanálise e Diversidade Sexual
OUTUBRO 07 e 08
AGOSTO Sociedade Brasileira de Psicanálise
24 e 25
5a7 de Porto Alegre - SBP de PA
Grupo de Estudos Psicanalíticos de
Sociedade Psicanalítica de II Encontro de Estudos da Obra de
Porto Alegre – SPPA Minas Gerais - GEPMG Sigmund Freud e lançamento do livro
Bernard e Emanuelle Chervet na Sppa Jornada Anual: 100 Anos de Narcisismo “Diálogos com Freud”, de Ricardo
Avenburg (APdeBA)
15 e 16 25
27 a 29
Sociedade Psicanalítica de Mato Grupo Psicanalítico de Curitiba - GPC Sociedade Brasileira de Psicanálise
Grosso do Sul - SPMS
Jornada Desafios do Contemporâneo II de São Paulo - SBPSP
9º Simpósio de Psicanálise da SPMS:
Transtornos do Espectro Autístico
O mundo em mutação: Realidades 31 e 1o/11
e II Fórum Interdisciplinar sobre o
e Ficções Sociedade Psicanalítica de Recife – SPR Desenvolvimento Humano
23 XIX Jornada de Psicanálise e XV 27 a 29
Sociedade Psicanalítica do Encontro de Psicanálise da Criança FEPAL e Sociedade Brasileira de
Rio de Janeiro - SPRJ e do Adolescente: Do Ato ao Sonho: Psicanálise do Rio de Janeiro - SBPRJ
Psicanálise em Diálogo “Repensando Desdobramentos da Psicanálise na Simpósio Especial de Lançamento
responsabilidade: limites necessários” Clínica Atual da Revista Calibán

CONSELHOS, FEDERADAS E PRESIDENTES

Conselho Diretor APERJ-Rio4: Eliana Lobo Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ):
Presidente: Aloysio Augusto D’Abreu SPMS: Joelma Dibo Victoriano José de Matos
Secretario Geral: Paulo Cesar Chagas Lessa GEPMG: Rosália Lage Martins Bicalho Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de
Tesoureiro: Rosângela de Oliveira Faria GEPG: Marísia Abrão Janeiro (SBPRJ): Celmy de A. A. Quilelli Correa
Diretor Científico: Daniel Delouya GEPFor: Galba Lobo Junior Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA):
Diretor do Conselho Profissional: Ana Paula Terra Machado GEPCampinas: Martha Prada e Silva Anette Blaya Luz
Diretor Publicações e Divulgação: Zelig Libermann
GPC: Sérgio Kaio
Diretor de Relações Exteriores: José Fernando de Santana Sociedade Psicanlítica de Recife (SPR):
Diretor Superintendente: Vera Lucia de Faria Benchimol Delegados José Fernando de Santana Barros
Secretaria Ana Cláudia de Almeida Sociedade de Psicanálise de Brasília (SPBsb):
Gerente Administrativo Financeiro Álvaro Velloso Carlos de Almeida Vieira
Renata Lang Marcel Ana Paula Terra Machado
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre
Karel De Ublo Andreas Zschoerper Linhares
(SBPdePA): Helena Ardaiz Surreaux
Conselho Profissional Anette Blaya Luz
Sociedade Psicanalítica de Pelotas (SPPel):
Diretora: Ana Paula Terra Machado Carlos de Almeida Vieira
Hemerson Ari Mendes
SBPSP: Alicia B. Dorado de Lisondo Celmy de A. A. Quilelli Correa
SPRJ: Paulo Cesar Chagas Lessa Christine Marques Castro Vinhas Sociedade Brasileira e Psicanálise de Ribeirão
SBPRJ: Wania Maria Coelho Ferreira Cidade Edival Antonio Lessnau Perrini Preto (SBPRP):
SPPA: Jair Rodrigues Escobar Gisèle de Mattos Brito Rachel Barbosa Lomônaco Beltrame
SPR: Eduardo Afonso Jr. Hang Ly Homem de Ikegami Rochel Associação Psicanalítica do Estado do Rio de
SPB: Sylvaim Nahum Levi Helena Ardaiz Surreaux Janeiro (APERJ-Rio4):
SBPdePA: Beatriz Saldini Behz Maria Adelaide da Cunha Neves Leonardo
Hemerson Ari Mendes
SPPel: José Francisco Rotta Pereira
Jose de Matos Sociedade Psicanalítica do Mato Grosso do Sul
SBPRP: Maria Auxiliadora Campos
José Fernando de Santana Barros (SPMS): Lenita Osório Nogueira Araújo
APERJ-Rio4: Sergio Antônio Cyrino da Costa
SPMS: Ana Deise Leonardo Cardoso Judit Letsche Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Ge-
GEPMG: Elieane de Andrade Lenita Osório Araújo rais (GEPMG): Sérgio Kehdy
GEPG: Daniel Emídio de Souza Luiz Tenório Oliveira Lima Grupo de Estudos Psicanalíticos de Goiânia
GEPFor: Roberto Nóbrega Teixeira Magda Sousa Passos (GEPG): Álvaro Alves Velloso
GEPCampinas: Hang Ly Homem de Ikegami Rochel Maria Adelaide da Cunha Neves Leonardo Grupo de Estudos Psicanbalíticos de Fortaleza
Revista Brasileira de Psicanálise Maria de Fátima Chavarelli (GEPFor): Paulo Marchon
Editor: Bernanrdo Tanis Marísia Abrão
Grupo de Estudos Psicanalíticos de Campinas
Editora Associada: Alice Paes de Barros Arruda Nelson José Nazaré Rocha
(GEPCampinas): Nelson José Nazaré Rocha
Conselho Científico Nilde Jacob Parada Franch
Paulo Marchon Grupo Psicanalítico de Curitiba (GPC):
Diretor: Daniel Delouya
Rachel Barbosa Lomônaco Beltrame Edival Antonio Lessnau Perrini
Secretária: Beatriz Troncon Busatto
SBPSP: Vera Regina Jardim Ribeiro Marcondes Fonseca Regina Pereira Klarmann Núcleos
SPRJ: Marisa Helena Leite Monteiro Roberto Calil Jabur Núcleo de Psicanálise de Marília e Região
SBPRJ: Liana Albernaz de M. Bastos Sergio Cyrino Núcleo Psicanalítico de Natal
SPPA: Maria Elisabeth Cimenti Sergio Eduardo Nick Núcleo Psicanalítico de Maceió
SPR: Carolina Cavalcanti Henriques Núcleo Psicanalítico de Florianópolis
Sérgio Kehdy
SPB: Mirian Elisabeth Bender Ritter de Gregorio Núcleo Psicanalítico de Aracaju
Valton de Miranda Leitão
SBPdePA: Silvia Skowronsky Núcleo Psicanalítico do Espírito Santo
SPPel: Christine Marques Castro Vinhas Sociedade Brasileira de Psicanálise de Núcleo Psicanalítico de Salvador
SBPRP: Lia Fátima Christóvão Falsarella São Paulo (SBPSP): Nilde J. Parada Franch Núcleo Psicanalítico de Santa Catarina

12 FEBRAPSI NOTÍCIAS [48]

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