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Universidade Federal de Sergipe

Programa de Pós-Graduação em Educação


Disciplina: Corpo e Educação
Docentes: Dinamara G. Feldens; Fabio Zoboli
Discente: Leonardo Leite de Andrade

Atividade de Corpo e Educação

Seria isso um programa ou dispositivo de Cuidado de Si? Seria uma dança ou um


rodopio parado em um mesmo lugar? A proposta desta atividade é deveras pertubadora,
“fazer algo que gostas com o corpo e escrever sobre isso”... me faz pensar que isso remonta à
uma ética, diz respeito ao pesquisador pensar a sua prática e o seu corpo de certaa maneira
que possa injetar em si mesmo, doses pequenas e enfáticas de prudência. Poderia citar aqui
uma imensidade de atividades, porém esta injeção de prudência me alerta para algo mais sutil.
De uma maneira narrativa tentarei (sub)escrever, como quem dedillha uma viola de oito
cordas; isto é, com uma precisão de rapina.

Ao acordar pouco mais de sete horas da manhã, começo a perceber as primeiras


passagens ou sensaçõs do que é estar acordado, essa linha fina e escorregadia que é entre o
sono e a acordar. Tento de alguma maneira, me apegar cada vez mais ao sono, enquanto ele
vai pouco a pouco me largando, como um amante dando o seu último beijo na despedida de
seu amado. Rápido, silencioso e como se fosse o último. Ao sentir cada vez mais distante de
mim, meu corpo reaje, com movimento cada vez mais dispersos e raivoso, são umas pequenas
tremulações que percorre sobre a minha pele, subindo inicialmente pela coluna e irradiando
de uma só vez cima a bairo, por até o topo da cabeça, seguindo pelo braços; como também
seguindo pelos órgãos do ventre, descendo as pernas e chegando até os pés.

Nesse primeiro momento do dia, consigo imaginar bem a metáfora nietzscheana de


“colocar os pés sobre a cabeça”, ainda que seja de uma maneira muito literal, pois é neste
momento, onde os pés começam a guiar necessariamente todos os meus movimentos. Se há
uma prática de beatitude em mim, em minha educação corporal, é esta. Tal como um monge
que acorda todos os dias antes do sol nascer para rezar, ao acordar procuro conversar com os
meus pés (ou eles me procuram?), de forma que ele guia todo o meu corpo e os meus
movimentos. Sacode para cima, para baixo, de um lado a outro, o movimento ganha força e
energia a cada movimento, agenciando sempre com outra parte, com outra articulação. Fluxo
e corte.. Pé e tornozelo; e panturrilha. Minha panturrilha dança! Os tornozelos sambam. Para
lá e para cá sempre, de um lado a outro. Roda, roda viva, roda pião, meu tornolezo vai sem
chão. Tanto “ão”, seria o som, se tivesse, apesar que há. Um som em duração.

Sentido indo e vindo, aqui e acolá, o corpo vai tomando cada vez mais, mais formas.
Neste momento os meus olhos já estão abertos, se perguntando se é possível aguardar mais
cinco minutos... dez, ou nenhum. A coluna me dá um “oi lindo”. Percebo bem a atenção que
ela requer de mim. Não sei se devo ou posso, ou quero, mas necessito. Rodo ela para lá, em
seguida para cá, torço ela de tal maneira, que seria possível fazer uma fita de moebius com
ela. Este tem um som em duração, porém audível. As articulações dando o seu primeiro “Bom
dia”. Tudo bem, já disse que não devo, não irei me colocar esta culpa, não hoje. Vou estralar
todas as minhas articulações sem ressentimento algum. Mas como me é sabido, também me é
necessário; o prazer provocado por esta é tal maneira gratificante que não há medicina chinesa
que me convença do contrário.

Buscando as polaridades dentro de meu próprio corpo, sigo o meu programa matinal,
com os braços ao lado do corpo, joelhos semi dobrados, vou forçando a força que vem de meu
próprio corpo, contra o colchão num movimento de contra-peso, se pudesse observar de fora
agora, conseguiria muito bem observar um vetor se moldando pelo corpo, matematicamente,
triangulos entre a escápula, mão e peito se formam e todo o corpo um grande equilátero.
Enfim me levanto, me emolduro dentro de forma ou “pose”, como é modernamente chamado,
do Àsana Adho Mukha Shvanasana, ou Cachorro Olhando para Baixo, como muitos o
chamam, ainda mesmo no colchão. Agora me sinto preparado para levantar-me da cama.

Fiquei me perguntando agora, ao escrever, o que isso significa para mim, essa educação
corporal. Acredito que ela seja proveniente das várias paisagens qu me formam e que me
cercam. Yôga, Teatro, Bioenergética. Há uma programa intenso, seguido de muitos mestres,
que ao mesmo tempo em que crio em cima deles, rejeito-os todos, porém, achei importante
aqui, neste momento citá-los e doar um pouco do meu agradecimento. Estas imagens-
paisagens me compõe e dão a vitalidade a este corpo de pulsar, em ritmos longos e pausados,
mas sempre constante em movimentos e caminhos diversos. Um corpo é senão esses
agenciamentos que é capaz de fazer, não? Um corpo é formado justamente, por estas
paisagens ou blocos de devir que lhe compõe, não? Não sei. Penso que sim.

Sento-me na cama. Sinto que meu pescoço está levemento tensionado. Enfim, sigo.

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