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Módulo IV - Libido, pulsões e

sexualidade

Índice

Sexualidade humana 4

Sexualidade infantil 5

Primeiras pesquisas 5

Metodologia corrente de estudo 6

Comportamento normal e anormal 7

Sintomas comportamentais 7

Princípio da infância 8

Masturbação e orgasmo 8

Início da idade escolar 9

Média infância 9

Atividade sexual 10

Jogos sexuais entre irmãos 10

Aspectos jurídicos 10

Puberdade 11

Tipos de puberdade 12

Puberdade precoce 12

Puberdade atrasada 13

Puberdade masculina 13

Ereções indesejadas 14

Características da puberdade masculina 14

Puberdade feminina 14

Menstruação 15
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Características da puberdade feminina 16

Adolescência 16

A sexualidade do adolescente 17

Comportamento sexual 17

Libido 21

Disfunção libidinal 22

Pulsão de vida e de morte 23

Conceito de pulsão 23

Pulsão de vida 25

Pulsão de morte 25

Princípio de Nirvana 26

Princípio de Prazer 27

Princípio de Realidade 28

Complexo de Édipo 29

A personalidade e seu desenvolvimento 31

O Estágio Pré-Edipiano 32

Fases da Libido 32

Fase oral (0 até 1-2 anos) 33

Fase anal (1 até 3 anos). 34

Fase fálica (3 até 5 anos). 37

O estágio edipiano 37

A história de Édipo 38

A formação do superego 39

O conflito edipiano: a resolução 39

Causas de uma solução não satisfatória do Estágio Edipiano 41

O período de latência 42

Puberdade e início da adolescência 43

Adolescência final e adulto jovem 44

Fase Genital 44

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Fixação e Regressão 45

Mecanismos de Defesa 47

Sublimação 48

Negação 49

Regressão 50

Projeção 50

Introjeção 51

Repressão 51

Defesas patológicas 52

Formação recreativa 53

Anulação ou reparação 54

Isolamento 55

Racionalização 56

O que querem as mulheres? 56

O amor para a psicanálise 58

Antropologia e Psicanálise 68

Antropologia e psicologia 70

Contribuições da psicanálise 73

Perspectivas antropológicas 76

Este material é parte das aulas do Curso de Formação em Psicanálise.


Proibida a distribuição onerosa ou gratuita por qualquer meio, para não alunos
do Curso. Os créditos às obras usadas como referências ou citação constam
nas Referências Bibliográficas.

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Sexualidade humana

A Sexualidade humana representa o conjunto de comportamentos que


concernem à satisfação da necessidade e do desejo sexual. Igualmente a
outros primatas, os seres humanos utilizam a excitação sexual para fins
reprodutivos e para a manutenção de vínculos sociais, mas agregam o gozo e
o prazer próprio e do outro. O sexo também desenvolve facetas profundas da
afetividade e da consciência da personalidade. Em relação a isto, muitas
culturas dão um sentido religioso ou espiritual ao ato sexual, assim como veem
nele um método para melhorar (ou perder) a saúde.

A OMS define que a "sexualidade faz parte da personalidade de cada um,


sendo uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser
separado de outros aspectos da vida. A sexualidade influencia pensamentos,
sentimentos, ações e interações e, portanto a saúde física e mental".

Atualmente, ocorre por parte de alguns estudiosos, a tentativa de afastamento


do conceito de sexualidade da noção de reprodução animal associada ao sexo.
Enquanto que esta noção se prende com o nível físico do homem enquanto
animal, a sexualidade tende a se referir ao plano psicológico do indivíduo. Além
dos fatores biológicos (anatômicos, fisiológicos, etc.), a sexualidade de um
indivíduo pode ser fortemente afetada pelo ambiente sócio-cultural e religioso
em que este se insere. Um exemplo disto é que em algumas sociedades, na
sua maioria orientais, promove-se a poligamia ou bigamia, ou seja, a
possibilidade ou dever de ter múltiplos parceiros.

Em algumas partes do mundo a sexualidade explícita ainda é considerada


como uma ameaça aos valores político-sociais ou religiosos.

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Sexualidade infantil

Sexualidade infantil refere-se ao sentimento, comportamento e


desenvolvimento sexual das crianças.

Teorias sobre o desenvolvimento sexual podem ser largamente divididas em


duas correntes: aquelas que tendem a dar ênfase à biologia inata (que pode
ser incentivada ou inibida durante a infância) e aquelas que tendem a enfatizar
a sexualidade como uma construção social (onde a sexualidade da criança
será fortemente influenciada pela sociedade como um todo).

Primeiras pesquisas

As duas personalidades mais famosas na investigação da sexualidade infantil


provavelmente são Sigmund Freud (1856-1939) e Alfred Kinsey (1894-1956).

O trabalho de Freud, em 1905, Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade


delineou uma teoria da desenvolvimento psicossexual com cinco fases
distintas: o estágio oral (0 - 1,5 anos) onde sua principal região de prazer é a
boca; o estágio anal (1,5 - 3,5 anos) quando região de prazer se desloca para o
ânus; o estágio fálico (3,5 - 6 anos) quando dá-se então conta da diferença de
sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto e
culminou com a resolução do Complexo de Édipo nos meninos, já as meninas
o complexo de Édipo nunca se desfaz, seguida de um período de latência da
sexualidade (6 anos a puberdade) e o estágio da genitália ou adulto.

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A tese básica de Freud era de que as crianças da sexualidade precoce é
polimorfa e fortemente iniciativa a ter um desenvolvimento acentuado, e que as
crianças precisa ajuizar ou sublimar estes para desenvolver um adulto
saudável na sexualidade.

Alfred Kinsey, cujas duas principais obras são os seus estudos (1948 e 1953),
utilizou recursos para fazer os primeiros inquéritos em larga escala de
comportamento sexual. O trabalho deKinsey centrava-se em adultos, mas ele
também estudou crianças e desenvolveu os primeiros relatórios estatísticos
sobre a masturbação na infância. Tem sido acusado que parte dos dados que
ele coletou não se poderiam obter sem observação ou participação em abuso
sexual de crianças ou colaborações com pedófilos.

O pesquisador sueco IngBeth Larsson, assinala que «É bastante comum as


referências continuarem a citar Alfred Kinsey», devido à escassez de estudos
posteriores do comportamento sexual de crianças.

Metodologia corrente de estudo

O conhecimento empírico sobre o comportamento sexual infantil geralmente


não é recolhido por entrevistas diretas a criança, (em parte devido a
considerações éticas), mas sim por:

observação de crianças que estejam sendo tratadas por terem problemas de


comportamento, como o uso da força nas brincadeira de cunho sexual, muitas
vezes utilizando bonecos tenham representação da genitália.

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Comportamento normal e anormal

Embora haja variação entre os indivíduos, as crianças geralmente são curiosas


sobre os seu próprio corpo e os dos outros e se engajam em jogar onde
exploram a sexualidade. No entanto, o conceito de sexualidade infantil é
fundamentalmente diferente do objetivo-direcionador do comportamento sexual
adulto, sendo a imitação do comportamento dos adultos, como penetração
corporal e contato oral-genital são muito incomuns, sendo mais comum entre
as crianças que foram abusadas sexualmente, mas crianças com outros tipos
de desordem de comportamento também podem apresentar outros
comportamentos de natureza sexuais das outras crianças.

Sintomas comportamentais
As crianças que foram vítimas de abuso sexual por vezes podem demonstrar
comportamento sexual impróprio para a idade, o que pode ser definido como
uma expressão comportamental que não é normal para a respectiva cultura. O
comportamento sexual pode constituir a melhor indicação de que uma criança
tenha sido abusada sexualmente, embora algumas vítimas não apresentem
comportamento anormal. Mas também há crianças que apresentam
comportamento sexual impróprio, porém, causados por outros fatores além de
abuso sexual. Outros sintomas de abuso sexual podem incluir manifestações
de stress pós-traumático em crianças mais novas; medo, agressividade, e
pesadelos em crianças em idade escolar; e depressão em crianças mais
velhas.

As seções seguintes descrevem o típicos comportamento cultural normal que


se desenvolve na maioria das atuais sociedades ocidentais.

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Princípio da infância
O termo infância pode abranger até idades quatro, cinco, ou seis anos,
dependendo do foco principal da pesquisada ou comentário. Durante este
período:

As crianças frequentemente são curiosas sobre onde provêm os bebês.

As crianças podem explorar o corpo de outras crianças e de adultos por


curiosidade.

Por quatro anos, as crianças podem mostrar um apego significativo ao


progenitor do sexo oposto.

As crianças começam a ter um sentimento de modéstia e da diferença entre


comportamento público e privado.

Em muitas crianças, tocar genitais, especialmente quando elas estão cansadas


ou perturbadas.

Masturbação e orgasmo
De acordo com Alfred Kinsey em seus estudos na década de 1950, as crianças
são capazes de terem orgasmos a partir dos cinco meses de idade. Kinsey
observou que por volta dos três anos de idade, as meninas masturbam-se com
mais freqüência do que os meninos, mas estudos mais recentes feitos na
Suécia indicam que a masturbação em crianças desta idade é incomum, e mais
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comum entre os meninos do que com as meninas. Kinsey também observou
que a lubrificação da vagina na estimulação sexual de meninas é semelhante
ao de uma mulher adulta. Até que os rapazes comecem a produzir sémen
(inicio da puberdade), só podem experimentar orgasmos seco (anejaculação).
A capacidade de ejacular se desenvolve gradualmente com o tempo e tem sido
relativamente constante entre as culturas e durante o último século.

Alguns pesquisadores sugerem que a masturbação infantil pode ser


considerada não sexual, se a criança ainda não aprendeu a associá-la com o
sexo.

Início da idade escolar


As crianças tornam-se mais conscientes das diferenças entre os sexos, e
tendem a escolher amigos ou companheiros de jogo do mesmo sexo, ainda há
menosprezo pelo sexo oposto. As crianças podem soltar sua estreita ligação ao
seu progenitor do sexo oposto e tornar-se mais ligadas ao seu progenitor do
mesmo sexo.

Durante esse período, as crianças, especialmente as meninas, demonstram


aumento da consciência dos costumes sociais quanto sexo, nudez e
privacidade. As crianças podem usar termos de cunho sexual para testar a
reação dos adultos. As "piadas de banheiro" (piadas e conversa a respeito das
funções excretoras), presentes em fases anteriores, continuam.

Média infância

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A 'média infância' abrange as idades a aproximada de seis a nove anos.
Quando o desenvolvimento individual varia consideravelmente.

Com o avanço desta fase, a escolha de amigos do mesmo sexo torna-se mais
acentuada, e aumenta o desprezo pelo sexo oposto.

Atividade sexual

Num estudo de 1943 de principalmente rapazes brancos, de classe média e


alta-média do meio-oeste urbana dos Estados Unidos descobriram que 16%
afirmavam ter tido experiência coito por volta dos 8 anos de idade.

Jogos sexuais entre irmãos

Num estudo com 796 estudantes, 15% das mulheres e 10% dos homens
relataram algum tipo de experiência sexual que tenha envolvido um irmão; a
maioria destes não chega a ser uma real experiência sexual conforme
considerada pelos adultos. Cerca de uma em cada quatro dessas experiências
foram descritas como abusivas ou exploratórias. O efeito não exploratório dos
jogos sexuais entre irmãos é incerto, alguns estudos sugerem efeitos a longo
prazo, tanto positivos como negativos, ou não encontram efeitos significativos.

Aspectos jurídicos

Na maioria dos países e localidades, as relações sexuais que envolvem


crianças, mesmo consensuais, são proibidos por leis de estupro presumido e

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leis sobre o abuso sexual infantil. Alguns, mas não todos os países, permitem a
jovens que tenham idades próximas terem relações sexuais, mas geralmente
há uma idade mínima abaixo da qual tais relações são legalmente
consideradas estupro, independentemente da proximidade de idade.

A idade a partir da qual um menor tem consentimento legal para manter


relações sexuais com uma pessoa de qualquer idade é referida como a Idade
de consentimento e varia de país para país. No Brasil é fixada em 14 anos,
abaixo da qual qualquer ato de natureza sexual é considerado estupro,
independentemente do consentimento ou da violência. Mesmo assim, a relação
consensual entre maiores de idade e menores entre 14 e 18 anos, dependendo
do caso, pode constituir crimes mais leves que o estupro.

Puberdade

A puberdade é um período em que ocorrem mudanças biológicas e fisiológicas.


É neste período que o corpo desenvolve-se física e mentalmente tornando-se
maduro e o adolescente fica capacitado para gerar filhos. Ela não deve ser
confundida como sinônimo da adolescência, visto que a puberdade faz parte da
adolescência.

Nesta fase, são observadas mudanças tais como: crescimento de pelos,


crescimento dos testículos e aparecimento dos seios, aumento do quadril nas
meninas e tórax nos rapazes.

O marco principal da puberdade para os homens é a primeira ejaculação, que


ocorre em média aos 13 anos. Para as mulheres, é o início da menstruação,
que ocorre em média entre 12 e 13 anos. No século XXI, a idade média em que
as crianças atingem a puberdade é menor em comparação com o século XIX,
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quando tinha 15 anos para meninas e 16 para meninos. Este é, possivelmente,
devido aos produtos químicos em alimentos ou uma melhor nutrição.

Os hormônios sexuais se diferem para os homens e as mulheres, mas não são


totalmente exclusivos de cada sexo. Nos homens, os testículos secretam entre
outros hormônios a testosterona e nas mulheres o ovário fabrica o estrógeno.

As gônadas e as suprarrenais de ambos os sexos produzem o estrógeno e


testosterona, mas é variável a quantidade. As características biológicas são
universais e ocorrem de forma semelhante em todos os seres humanos.

A puberdade também mexe com o emocional dos adolescentes e também em


seu comportamento, principalmente em seu desejo sexual. Tanto no menino
quanto na menina, não proporciona apenas mudanças físicas mas, sobretudo,
psicológicas. As alterações hormonais despertam a sensibilidade sexual e,
consequentemente, é neste período que muitos adolescentes começam
esporadicamente a ter relações sexuais.

Tipos de puberdade

Puberdade precoce

A puberdade precoce ocorre quando as características pertencentes às


meninas ocorrem antes dos 9 anos de idade e nos meninos antes dos 10 anos.
Todavia, este período está chegando cada vez mais cedo para meninas. Um
estudo dinamarquês aponta que as garotas estão entrando nesta fase antes
dos dez anos. No século XIX a idade era de 15 anos para as meninas e 17
anos para os meninos.

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Puberdade atrasada

Em algumas meninas a partir dos 13 anos de idade e em meninos a partir dos


14 anos de idade, ocorrem à ausência de qualquer característica de
desenvolvimento físico ou sexual, neste caso é considerada a puberdade
atrasada. Alguns especialistas aconselham a procura de um profissional
adequado para acompanhar os casos de puberdade.

Em algumas meninas o surgimento das mamas pode demorar a vir, o normal é


que venha dos 10 ao 14 anos de idade. A partir dos 15 anos, é aconselhável a
procura de um especialista.

Já nos meninos, a puberdade pode demorar a vir até aos 15 anos de idade. Os
meninos ficam relativamente menores que as meninas, mas depois de um
tempo, é comum a ultrapassagem de altura.

Puberdade masculina

No menino, as transformações começam um pouco mais cedo, por volta dos 10


aos 13 anos mas são muito mais demoradas que nas meninas. Os primeiros
sinais dessa transformação são, basicamente, o aumento no tamanho dos
órgãos genitais, o nascimento da barba e o aparecimento de pelos na região
pubiana, nas pernas, nos braços e no peito.

O pomo-de-adão ou maçã-de-adão, conhecido vulgarmente por gogó.

Esse crescimento dos pelos depende da genética e varia muito de pessoa para
pessoa. Além disso, essas mudanças são acompanhadas de modificação da
voz, a qual fica mais grave. O esqueleto se alonga, os músculos se enrijecem,
o tronco e os ombros alargam e a pele se torna muito mais gordurosa, o que

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favorece o aparecimento da acne. É nessa época que os meninos já podem ter
sua primeira ejaculação.

Ereções indesejadas
Ejaculações durante o sono são conhecidas popularmente como polução
noturna. O pênis pode ficar ereto regularmente durante o sono e os homens
podem acordar com uma ereção. Uma vez que um menino atinge certa idade,
ereções ocorrem com muito mais frequência devido à puberdade. As ereções
podem ocorrer espontaneamente a qualquer hora do dia, e ela pode ocorrer até
mesmo ao se vestir. Ereções são comuns para crianças e bebês, e pode
mesmo ocorrer antes do nascimento. As espontâneas são normais, mas
podem ser embaraçosas se acontecerem em público, como em uma sala de
aula ou sala de estar.

Características da puberdade masculina


● surgimento de pelos nos púbis, nas axilas e no peito;
● aumento dos testículos e do pênis;
● crescimento da barba;
● voz grossa;
● ombros mais largos;
● aumento da massa muscular;
● início da produção de espermatozoides;
● aumento do peso e da estatura;
● surgimento de pelo no dedão do pé.
● Puberdade feminina

Puberdade feminina

A puberdade feminina se inicia, em geral, entre 11 e 14 anos, variando esse


período de pessoa para pessoa. Em geral, a puberdade tem inicio com a
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primeira menstruação (menarca), que coincide com o surgimento de uma série
de transformações do corpo que já se vinham manifestando na fase conhecida
como pré-puberal.

Geralmente a partir dos dez anos a menina cresce vários centímetros em


pouco tempo, sua cintura se afina, os quadris se alargam, os seios começam a
avolumar-se e surge uma leve pilosidade no púbis e nas axilas.

Paralelamente, as glândulas sudoríparas se desenvolvem, tornando o odor do


corpo mais intenso e provocando maior sudorese nas axilas. Essas mudanças,
causam uma certa sensação de insegurança e inquietação na menina,
culminam com a primeira menstruação. Durante os dois anos seguintes à
primeira menstruação os ciclos podem ser ainda irregulares, mais longos ou
mais breves.

As transformações que se verificam no período pré-púbere são resultados da


atividade dos ovários, sobre a qual atua a hipófise. Ao nascer, a menina tem no
ovário entre duzentos mil e quatrocentos mil óvulos, dos quais apenas cerca de
quatrocentos serão utilizados ao longo de todo período fértil (até os 50-55
anos).

Menstruação

O primeiro sangramento menstrual é conhecido como menarca. No Canadá, a


idade média da menarca é 12,72 e no Reino Unido é 12,9. O tempo entre
períodos menstrual não é sempre regular nos dois primeiros anos após a
menarca. Ovulação é necessária para a fertilidade, mas pode ou não
acompanhar as primeiras menstruações. A iniciação da ovulação após a
menarca não é inevitável. A alta proporção de meninas com irregularidade

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continuou nos anos de ciclo menstrual de várias menarca continuarão a ter
irregularidade prolongada e anovulação, e estão em maior risco para a
fertilidade reduzida. Nubilidade é usado para designar realização de fertilidade.

Características da puberdade feminina

● alargamento dos ossos da bacia;


● início do ciclo menstrual;
● surgimento de pelos nos púbis e nas axilas;
● depósito de gordura nas nádegas, nos quadris e nas coxas;
● desenvolvimento dos seios.
● Maturação sexual

A maturação sexual abrange o desenvolvimento das gônadas, órgãos de


reprodução e caracteres sexuais secundários. Existe uma ampla variação
normal da idade de início e da velocidade de progressão da maturação sexual
dentro de uma população. Na maioria das vezes os estágios de maturação
sexual ocorrem numa sequência constante.

No sexo masculino os sinais de maturação sexual costumam ocorrer na


seguinte sequência: aumento dos testículos e da bolsa escrotal (média aos
nove e dez anos de idade), crescimento de pelos pubianos (em torno de 11, 12
anos de idade), pelos axilares, pelos sobre o lábio superior, na face e em
outras partes do corpo, mudanças da laringe e da voz e crescimento do pênis.
A mudança na voz ocorre em média entre 11 a 15 anos de idade.

Adolescência

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A sexualidade do adolescente
Paralelamente ao início da maturidade sexual também o comportamento sexual
começa a se desenvolver. Esse desenvolvimento é um processo muito
complexo e é fruto da interação de vários fatores - desenvolvimento físico,
psicosocial, a exposição a estímulos sexuais (que é definida pela cultura), os
grupos de contatos sociais (amigos, grupos de esporte, etc.), e as situações
específicas que permitem o acesso à experiência erótica.

O início do desenvolvimento sexual se encontra já na infância. Não apenas os


casos de abuso sexual, mas também as experiências quotidianas de troca de
carinho e afeto, de relacionamentos interpessoais e de comunicação sobre a
sexualidade desempenham um papel importantíssimo para o desenvolvimento
do comportamento sexual e afetivo do adolescente e, posteriormente, do
adulto. Importantes aqui são sobretudo processos de aprendizado através do
modelo dos pais: em famílias em que carinho e afeto são trocados abertamente
e em que a sexualidade não é um tabu os adolescentes desenvolvem outras
formas de comportamento do que em famílias em que esses temas são
evitados e considerados inconvenientes.

Comportamento sexual
Baseados em seus estudos com adolescentes alemães Schmid-Tannwald e
Kluge (1998) defendem três teses que resumem o resultado desse trabalho:

O desenvolvimento do comportamento social está cada vez mais acelerado,


acompanhando a aceleração secular da maturidade sexual (ver "aceleração e
retardo no desenvolvimento"). O início da vida sexual está ligado ao início da
maturidade sexual (menarca nas moças e primeira ejaculação nos rapazes)
mais do que a qualquer outro fator: a maior parte dos adolescentes tendem a
ter sua primeira relação sexual nos primeiros anos após atingirem a maturidade
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sexual. Dessa forma, em um estudo de 1983 44% das moças e 33% dos
rapazes com dezessete anos afirmavam já ter tido uma relação sexual,
enquanto em 1994 92% das moças e 79% dos rapazes com dezessete anos
diziam já ter tido uma experiência sexual. Apesar da pouca idade, a maioria
dos adolescentes tende a trocar carícias e a fazer experiências de toques
íntimos sem penetração ("petting") como preparação para o ato sexual. Já nos
primeiros anos de atividade sexual ambos os sexos tendem a ver o sexo como
algo belo, se bem que essa tendência seja maior entre os rapazes.

O comportamento sexual de ambos os sexos está se aproximando cada vez


mais: em 1983 a diferença entre a idade média da menarca e da primeira
ejaculação era de 0,7 anos (ou seja, em média as moças tinham a primeira
menstruação 9 meses antes dos rapazes); já em 1994 a diferença era de
apenas 0,3 anos (3-4 meses). Em 1983 as moças tendiam a ter a primeira
relação sexual 0,7 anos mais cedo do que os rapazes, já em 1994 a idade era
a mesma: 14,9 anos.

O comportamento sexual é influenciado pela cultura familiar. Mas mesmo em


famílias que tendem a conversar menos abertamente sobre sexualidade e
relacionamentos e a não preparar os adolescentes para a menarca e a
maturidade sexual os adolescentes têm uma vida sexual ativa - mesmo a
revelia dos pais.

Um outro ponto importante é a preferência dos adolescentes por


relacionamentos estáveis ao invés de liberalidade sexual. Sobretudo para as
moças uma vida sexual satisfatória está fortemente relacionada a um
relacionamento estável .

O termo "identidade" corresponde à resposta à pergunta "quem sou eu?". A


resposta a essa pergunta se desenvolve num longo e complexo processo que
começa nas primeiras horas de vida e se estende até a mais alta idade. Nesse
longo processo a adolescência representa um momento chave, de grande
significado. No processo de desenvolvimento da identidade agem duas forças
motrizes: o desejo do indivíduo de conhecer a si mesmo (autoconhecimento) e

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a busca de dar forma a si, de construir sua personalidade, se aprimorar e se
desenvolver (autodesenvolvimento).

Durante muito tempo a adolescência foi vista como uma fase de "tempestades
e tormentas" (Sturm umd Drang, por exemplo por Granvillle S. Hall). Com o
auxílio da pesquisa mais atual, no entanto, essa visão tem se tornado mais
diferenciada. Por exemplo, quando medidas através de questionários, a
autoimagem e a autoestima mantém-se relativamente estáveis durante toda a
adolescência - se bem que em uma importante minoria, sobretudo entre as
moças, há uma tendência de diminuição da autoestima.

Enquanto a autoimagem e a autoestima parecem permanecer constantes, a


complexidade da estrutura da identidade aumenta constantemente durante a
adolescência. Esse aumento de complexidade se mostra nos seguintes pontos:

A descrição de si se torna cada vez mais contexto-específica: por exemplo, a


pessoa se vê como tímida diante de pessoas do outro sexo, mas autoconfiante
diante de amigos e colegas;

A autoimagem real (como eu sou) e a autoimagem ideal (como eu gostaria de


ser) são vistas cada vez mais como diferentes;

O "eu verdadeiro" é visto cada vez mais como diferente de um "eu falso" ou
"fingido": enquanto adolescentes com doze ou 13 anos não fazem essa
diferença, rapazes e moças mais velhos a consideram importante;

Os adolescentes aprendem cada vez mais a verem-se pelos olhos dos outros;

A dimensão do tempo desempenha um papel cada vez mais importante na


descrição de si: enquanto crianças se descrevem sempre no presente, os
adolescentes começam a levar em conta o passado (como eu era) e o futuro
(como eu gostaria de ser) em consideração.

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Higgins (1987) descreveu três tipos de "si mesmo" - o si mesmo real, o si
mesmo ideal (como a pessoa gostaria de ser) e o si mesmo como deveria ser
(que representa a identificação da pessoa com determinadas obrigações e
tarefas apresentadas pelo ambiente social). O ambiente social tem, ele mesmo
(ou melhor, a pessoas que dele fazem parte), uma imagem de como o
indivíduo é e de como ele deveria ser (expectativas). O aumento da
complexidade na compreensão de si mesmo expõem o adolescente assim a
diferentes tipos de discrepância:

Entre o si mesmo real e o ideal - ou seja, a imagem que o indivíduo faz de si


não corresponde com a pessoa que ele gostaria de ser; a pessoa tende se
sentir decepcionada e insatisfeita;

Entre o si mesmo real e a imagem que os outros têm do indivíduo - a imagem


que a pessoa faz de si não corresponde àquela que outras pessoas - família,
amigos - fazem; a pessoa tende a se sentir envergonhada e humilhada;

Entre o si mesmo real e o como deveria ser - a imagem que a pessoa faz de si
não corresponde à ideia que ela faz a respeito das obrigações e tarefas que ele
deveria cumprir; a pessoa tende a ter sentimentos de culpa e a fazer
acusações, condenando-se a si mesma;

Entre o si mesmo real e as expectativas dos outros - a imagem que a pessoa


faz de si não corresponde às expectativas e desejos da família, amigos ou
outroas pessoas ou grupos importantes para o indivíduo; a pessoa tende a se
sentir ameaçada, com medo, esposta a perigos e dor.

A tomada de consciência desses conflitos de interesses expõe o adolescente


ao estresse e, dependendo da carga genética e do ambiente em que se
desenvolve, ao risco de diversos tipos de problemas sociais e psicológicos -
desde transtornos alimentares (anorexia, bulimia) até o suicídio, passando por
problemas de desempenho escolar, abuso e dependência de substâncias
químicas, fobias e depressão. Segundo estudos epidemiológicos europeus
entre 15% e 22% da população infanto-juvenil apresenta alguma forma de
distúrbio mental nessa faixa etária.
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Libido

Libido (do latim, significando "anseio ou desejo") é caracterizada como a


energia aproveitável para os instintos de vida. De acordo com Freud, o ser
humano apresenta uma fonte de energia separada para cada um dos instintos
gerais.

"Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem


propiciar-nos possibilidades de explicar os fenômenos psicossexuais
observados" (1905a, livro 2, p. 113 na ed. bras.)

A libido apresenta uma característica importante que é a sua mobilidade, ou a


facilidade de alternar entre uma área de atenção para outra.

No campo do desejo sexual está vinculada a aspectos emocionais e


psicológicos.

Santo Agostinho foi o primeiro a distinguir três tipos de desejos: a libido sciendi,
desejo de conhecimento, a libido sentiendi, desejo sensual em sentido mais
amplo, e a libido dominendi, desejo de dominar.

A obra de Sigmund Freud retoma o conceito de libido e lhe confere um papel


central. Em seus primeiros trabalhos, a libido é o impulso vital para a auto-
preservação da espécie humana, e compreende a libido como a energia sexual
no sentido estrito, como o fenômeno do "impulso" do desejo e do prazer. Mais

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tarde, ele volta a enfatizar essa visão mais geralista de que o impulso de auto-
preservação tem origem libidinosa, e confronta a libido com o instinto de morte.
Em seus escritos posteriores, especialmente em “Além do Princípio do Prazer”
(1920), ele usa, em vez da palavra libido um sinônimo Eros, que descreve
como sendo a energia que impulsiona a vida. Na obra “Psicologia das Massas
e Análise do Eu” (1921), ele definiu a libido como sendo a "energia de tais
instintos, que tem a ver com tudo o que pode ser resumido como o amor."

A libido segundo Freud, não está relacionada somente com a sexualidade, mas
também está presente em outras áreas da vida, como nas atividades culturais,
caracterizadas pela sublimação da energia libidinosa de Freud.

Segundo a teoria da libido em Freud, na infância a libido se desenvolve por


fases e por várias etapas características do desenvolvimento: oral, anal, fálica,
latente, e finalmente, uma fase genital. Distúrbio do desenvolvimento da libido
pode levar a transtornos mentais, de acordo com Freud.

Carl Gustav Jung quis dizer com a libido, em geral, toda a energia mental de
um homem. Ao contrário de Freud, Jung considera que esse poder como
semelhante ao conceito do Extremo Oriente do chi ou prana, ou seja, como um
esforço geral para alguma coisa.

Lacan disse que a libido marca a relação na qual o sujeito toma parte da
sexualidade, com sua morte.

Disfunção libidinal
A falta de libido é referida como frigidez.

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Muitas doenças, incluindo doenças mentais e doenças psicossomáticas, estão
relacionadas com falta de libido ou a perda de libido, por exemplo:

● Depressão
● Anorexia
● Cirrose
● Hemocromatose
● Hipogonadismo, eunuco e ism
● Falta de Testosterona no homem e a Efeminização

Algumas doenças resultam em um aumento excessivo da libido, por exemplo:

● Obsessão
● hipertireoidismo leve
● Sífilis

Alguns medicamentos, e muitas drogas provocam alterações na libido. Um


aumento patológico da libido é também conhecido como vício do sexo ou
ninfomania / Satiríase.

Pulsão de vida e de morte

Conceito de pulsão

• Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética,


fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo
Freud, uma pulsão tem sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão);

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o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte
pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir a sua meta.

Na língua alemã existem dois termos, Instinkt (instinto) e Trieb (pulsão). O


termo Trieb, de uso muito antigo, conserva sempre a nuança de impulsão, ou
seja, há menos ênfase numa finalidade definida do que numa orientação geral,
sublinhando o caráter irreprimível da pressão mais do que a fixidez da meta e
do objeto.

Já o termo Instinkt faz referência ao biológico, ou seja, àquilo que é expresso


quase da mesma forma em todos os indivíduos da mesma espécie. Freud
utiliza este termo para se referir a um comportamento animal fixado por
hereditariedade.

A pulsão é uma representante do somático e do psíquico, pois ao lado das


excitações externas a que o indivíduo pode fugir ou de que pode proteger-se,
existem forças internas (pulsões) portadoras constantes de um afluxo de
excitação a que o organismo não pode escapar e que é o fator propulsor do
funcionamento do aparelho psíquico. A pulsão não tem meta e nem objeto fixo,
ela é variável e parcial

Freud propõe duas teorias das pulsões e ambas são dualistas. Na primeira
teoria das pulsões, o dualismo se dá entre pulsões sexuais vs pulsões do ego
ou de autoconservação. O id representa um reservatório de pulsões e a
contraposição se dá entre pulsões de vida vs pulsões de morte.

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Pulsão de vida

• Grande categoria das pulsões que Freud contrapõe, na sua última teoria, às
pulsões de morte. Tendem a constituir unidades cada vez maiores, e a mantê-
las. As pulsões de vida, também designadas pelo termo “Eros”, abrangem não
apenas as pulsões sexuais propriamente ditas, mas ainda as pulsões de
autoconservação.

Na segunda teoria das pulsões proposta por Freud, as pulsões de vida se


opõem as pulsões de morte. As primeiras tendem não apenas a conservar as
unidades vitais existentes, como a constituir, a partir destas, unidades mais
globalizantes. As segundas tendem para a destruição das unidades vitais, para
a igualização radical das tensões e para o retorno ao estado anorgânico que se
supõe ser o estado de repouso absoluto.

As pulsões de vida não têm o caráter regressivo característico das pulsões,


mas sim um caráter construtivo, uma vez que um princípio fundamental de tal
pulsão é o princípio de ligação, que consiste em instituir unidades cada vez
maiores e conservá-las, princípio este que está associado a nova concepção
de Freud sobre a sexualidade.

Pulsão de morte

• No quadro da última teoria freudiana das pulsões, designa uma categoria


fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsões de vida e que tendem
para a redução completa das tensões, isto é, tendem a reconduzir o ser vivo ao
estado anorgânico.
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Voltadas inicialmente para o interior e tendendo à autodestruição, as pulsões
de morte seriam secundariamente dirigidas para o exterior, manifestando-se
então sob a forma da pulsão de agressão ou de destruição.

As pulsões de morte representam a tendência fundamental de todo ser vivo a


retornar a um estado anorgânico. Freud elaborou o conceito de pulsões de
morte ao observar os fenômenos de repetição, que o levou a idéia do caráter
regressivo da pulsão. Em tais fenômenos de repetição, o aparelho psíquico não
apenas descarregava a libido, mas a libido estava relacionada a situações
desagradáveis.

A exigência dualística é particularmente importante quando se trata das


pulsões, já que estas fornecem as forças que se enfrentam no conflito psíquico.
Freud sublinhou que a tendência a destruição de outrem ou de si mesmo pode
denotar uma satisfação libidinal. Observou também que as manifestações do
masoquismo, a reação terapêutica negativa e o sentimento de culpa dos
neuróticos indicam a presença na vida psíquica de um poder que chamou de
pulsões de agressão ou destruição, derivadas da pulsão de morte originária.

As pulsões de morte representam um retorno a um estado anterior, ou, em


última análise, o retorno ao repouso absoluto do anorgânico. O princípio de
prazer parece estar a serviço da pulsão de morte.

Princípio de Nirvana

• Denominação proposta por Barbara Low e retomada por Freud para designar
a tendência do aparelho psíquico para levar a zero ou pelo menos para reduzir

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o mais possível nele qualquer quantidade de excitação de origem externa ou
interna.

A idéia de Nirvana representa o aniquilamento ou extinção do desejo humano,


levando o aparelho psíquico a um estado de quietude e felicidade perfeita. O
Princípio de Nirvana corresponde a uma tendência do ser humano de retornar
a um estado anterior, um estado de homeostase, no qual ocorreria a supressão
de uma excitação interna ou externa, ou seja, os seres humanos tenderiam a
chegar em um estado anorgânico.

O Princípio de Nirvana exprime a tendência da pulsão de morte, ou seja, a


tendência radical para levar a excitação ao nível zero.

Princípio de Prazer

• Um dos dois princípios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental: a


atividade psíquica no seu conjunto tem por objetivo evitar o desprazer e
proporcionar o prazer. É um princípio econômico na medida em que o
desprazer está ligado ao aumento das quantidades de excitação e o prazer à
sua redução.

O aparelho psíquico é regido pela evitação ou evacuação da tensão


desagradável. A escala de prazer-desprazer é um regulador da economia
libidinal. Freud considera a descarga de tensão como prazer e o aumento desta
como desprazer. Contudo, Freud ressalva que sentimento de tensão não é o
mesmo que desprazer, pois existem tensões agradáveis.

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O princípio de prazer se opõe ao princípio de realidade. Um exemplo de tal
oposição é realizar um desejo, pois a realização de um desejo inconsciente,
regido pelo princípio de prazer, se depara com o princípio de realidade, que
representa as exigências do mundo externo.

Princípio de Realidade

• Um dos princípios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental.


Forma par com o princípio de prazer, e modifica-o; na medida em que
consegue impor-se como princípio regulador, a procura de satisfação já não se
efetua pelos caminhos mais curtos, mas faz desvios e adia o seu resultado em
função das condições impostas pelo mundo exterior.

Encarado do ponto de vista econômico, o princípio de realidade corresponde a


uma transformação da energia livre em energia ligada; do ponto de vista tópico,
caracteriza essencialmente o sistema pré-consciente-consciente; do ponto de
vista dinâmico, a psicanálise procura basear a intervenção do princípio de
realidade num certo tipo de energia pulsional que estaria mais especialmente a
serviço do ego.

O princípio de realidade surge como uma necessidade do psiquismo de


descarregar a tensão pulsional não de uma maneira alucinatória, mas a partir
das condições que o mundo oferece. Assim, já não se representa o que é
agradável, mas sim o que é real, mesmo que seja desagradável. O princípio de
realidade sucede o princípio de prazer, contudo, o princípio de prazer não
desaparece, só se torna o oposto do princípio de realidade.

O princípio de prazer é o campo das atividades psíquicas, entregue as


fantasias inconscientes. Já o princípio de realidade corresponde a obtenção de
satisfação no plano da realidade. Cabe ao ego mediar e garantir a supremacia

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do princípio de realidade sobre o princípio de prazer. Nas palavras de Freud:
“[o ego] consegue discernir se a tentativa de obter satisfação deve ser efetuada
ou adiada, ou se a reivindicação da pulsão não deverá ser pura e
simplesmente reprimida como perigosa.”

Complexo de Édipo

O termo Complexo de Édipo criado por Freud e inspirado na tragédia grega


Édipo Rei designa o conjunto de desejos amorosos e hostis que o menino
enquanto ainda criança experimenta com relação a sua mãe. O fenômeno
psíquico também ocorre nas meninas com relação ao pai, mas a este se dá o
nome de Complexo de Electra.

Freud baseou-se na tragédia de Sófocles (496–406 a.C.), Édipo Rei, uma


trilogia que trata, em partes, da vida de Édipo.

Produções modernas da peça de Sófocles estavam sendo encenadas em Paris


e Viena, no século 19 e tiveram um sucesso fenomenal na década de 1880 e
1890. O psiquiatra austríaco Sigmund Freud em seu livro A Interpretação dos
Sonhos publicado pela primeira vez em 1899, propôs que um desejo edipiano é
um fenômeno universal psicológico inato (filogenético) dos seres humanos e a
causa de grande culpa inconsciente.:89 Ele baseou isso em sua análise de
seus sentimentos ao assistir à peça, suas observações casuais de crianças
neuróticas ou normais e no fato de que a peça Édipo Rei teve sucesso em
ambos os públicos, antigo e moderno; ele também afirmou que a peça Hamlet
fora eficaz pelo mesmo motivo.

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Freud descreveu Édipo como segue:

Seu destino nos move apenas porque poderia ter sido o nosso - porque o
oráculo lançou a mesma maldição sobre nós antes do nosso nascimento, como
sobre ele. É o destino de todos nós, talvez, dirigir nosso primeiro impulso
sexual para nossa mãe e nosso primeiro ódio e nosso primeiro desejo
assassino contra nosso pai. Nossos sonhos nos convencem de que isso é
assim.

Na teoria clássica da psicanálise, o complexo de Édipo ocorre durante o


estágio fálico do desenvolvimento psicossexual (a idade de 3 até 6 anos),
quando ocorre também a formação da libido e do ego; no entanto, pode se
manifestar em idade mais precoce.

O infantilismo psicossexual - Apesar da mãe ser o parente que gratifica


principalmente os desejos da criança, a criança começa a formar uma
identidade discreta sexual - "menino", "menina" - que altera a dinâmica do
relacionamento entre pais e filhos; os pais tornam-se objetos de energia
libidinal infantil. O menino dirige sua libido (desejo sexual) para a sua mãe, e
direciona o ciúme e a rivalidade emocional contra seu pai - porque é o que
dorme com a mãe. Além disso, para facilitar a união com a mãe, o Id do
menino quer matar o pai (como fez Édipo), mas o ego pragmático, baseado no
princípio da realidade, sabe que o pai é o mais forte entre os dois homens que
competem a posse da mulher. No entanto, o menino permanece ambivalente
sobre o lugar do pai na família, o que se manifesta como o medo da castração
pelo pai fisicamente maior; o medo é uma manifestação irracional e
inconsciente do ID infantil.

A defesa psicológica - em ambos os sexos, o mecanismo de defesa fornece


resoluções transitórias do conflito entre as motivações do ID e as motivações
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do ego. O primeiro mecanismo de defesa é a repressão, o bloqueio de
memórias, os impulsos emocionais e as ideias da mente consciente; mas a sua
ação não resolver o conflito ID-Ego. O segundo mecanismo de defesa é a
identificação, pelo qual a criança incorpora, ao seu (super)ego, as
características de personalidade do pai do mesmo sexo; no que se adaptar, o
menino diminui sua ansiedade de castração, porque a sua semelhança com o
pai o protege da ira do pai na sua rivalidade materna; ao se adaptar, a menina
facilita a identificação com a mãe, que entende que, sendo do sexo feminino,
nenhuma delas possui um pênis, e, portanto, não são antagonistas.

A personalidade e seu desenvolvimento

Para Freud, os estágios do desenvolvimento da personalidade têm a ver com


os estágios da libido, ou da pulsão de vida, ou pelo menos com a forma com
que a psique lida com a sexualidade.

Falando-se de forma bem sintética, podemos dizer que a personalidade se


desenvolve em resposta a três principais fontes de tensão:

1. Processos fisiológicos do crescimento;

2. Frustrações externas aos impulsos; e

3. Conflitos internos entre forças dinâmicas.

Tais fontes constituem as ameaças do Ego infantil, contra o qual a criança tem
de desenvolver os meios necessários para alcançar a redução destas tensões
que se caracterizam por serem recorrentes, o que, ao final, resultam no
processo, de desenvolvimento da personalidade.

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O desenvolvimento da personalidade dá-se em estágios, que para fins
didáticos, dividiremos em pré-edipiano, edipiano, de latência, da puberdade e
início da Adolescência, Adolescência final.

O Estágio Pré-Edipiano

É o estágio que vai do zero até quatro anos. Dentro dele se encontram as fases
oral, anal e fálica.

Fases da Libido

A libido é a energia afetiva original que sofrerá progressivas organizações


durante o desenvolvimento cada uma das quais suportada por uma
organização biológica emergente no período. Cada nova organização da libido,
apoiada numa zona erógena corporal, caracteriza uma fase de
desenvolvimento. Podemos definir uma fase de desenvolvimento como “a
organização da libido, em torno de uma zona erógena, dando uma fantasia
básica e uma modalidade de relação de objeto”.

A libido é, portanto, uma energia voltada para obtenção de prazer. Nesse


sentido que a definimos como uma energia sexual, num sentido amplo, e que
caracterizaremos cada fase de desenvolvimento infantil como uma etapa
psicossexual de desenvolvimento. Estamos especificando que a sexualidade
não é vista pela Psicanálise em seu sentido restrito usual, mas abarca a
evolução de todas as ligações afetivas estabelecidas desde o nascimento até a
sexualidade genital adulta. Por definição todo vínculo de prazer é erótico ou
sexual. Ao organizar-se progressivamente em torno de zonas erógenas
definidas, libido caracterizará três fases de desenvolvimento infantil: a fase oral,
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a fase anal e fase fálica, um período intermediário sem novas organizações, o
período de latência, e uma fase final de organização adulta, a fase genital. Para
a compreensão do processo apresentaremos um relato descritivo das fases de
desenvolvimento propostas por Freud. Isto nos ajudará a caracterizar os
momentos evolutivos de um desenvolvimento normal.

Fase oral (0 até 1-2 anos)

Nesta fase, o interesse primário do infante está concentrado em sua boca e o


que ele pode realizar, assim, o levar tudo à boca e o sugar, adquirem a maior
importância. Um pouco mais, quando já dispõe de dentes, o morder também
passa a ter uma grande expressão.

Os sons e os movimentos da boca passam a ser altamente gratificantes, como


cuspir, balbuciar, babar. Há também, um desejo de colocar tudo na boca.

Nesta fase os objetos (as pessoas), não são, inicialmente reconhecidos e o


seio é o objeto desejado (que dizemos ser um objeto parcial, vez que a mãe
não é como pessoa).

O infante é narcisista e os prazeres são auto-eróticos. Ele se considera o


centro do mundo, para aprender, mais tarde, que não é tudo, que o seio é
separado dele e que está na mãe e que pode ser removido, mesmo que ele
não queira que isso aconteça. Mais tarde ainda, descobre a custa de muitas
frustrações, que o mundo não está sob seu controle.

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Das experiências citadas, o indivíduo aprende que as limitações do seu próprio
corpo e que é uma entidade completamente separada, surgindo, então, com o
conceito de entidade separada, o ego original, que é, diz-se, um ego-corpo.

São da fase oral os elementos básicos de muitos impulsos parciais, que


poderão se manifestar em uma fase qualquer, inclusive na adulta, como o
beber, o falar, o comer em excesso; o agredir com palavras, (correspondendo
ao morder), como xingar, humilhar com palavras, fazer gozações, ser
sarcástico; ser passivamente protegido (o mesmo que ser alimentado como
uma criança); engolir uma pessoa, que é o mesmo que devorar alguma coisa.
O oposto também presume um caráter oral: a frugalidade no comer,
correspondendo à relutância em falar.

Fase anal (1 até 3 anos).

Nesta fase, as energias libidinais centralizam-se na retenção a expulsão das


fezes e muita atenção é direcionada ao controle do esfíncter anal (treinamento
higiênico) e neste ato, estão envolvidos um grande prazer e um marcante
sentimento de realização.

Constituem, também, experiências gratificantes, controlar seu próprio corpo e


os pais, agradando-os, aborrecendo-os ou preocupando-os, por meio do
controle do esfíncter. Aliás, as raízes da ulterior conduta obsessiva-compulsiva,
em que há muito de refrear, controlar, liberar, relacionam-se, diretamente, com
as ações que caracterizam, a fase anal. Do mesmo modo a capacidade de
sujar alguém e de, com isso, sentir um grande prazer.

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Nesta fase manifesta-se, também, o fenômeno que poderá vir à caracterizar
alguém: a ambivalência, que é a simultaneidade de sentimentos antagônicos
(amor e ódio), correspondendo ao forte desejo de reter e expelir fezes.

É uma fase de desenvolvimento, também, narcisista e auto-erótica.

O VALOR SIMBÓLICO DOS ANAIS

Dentre os produtos que a criança elabora, as fezes assumem um lugar central


na fantasia infantil. São objetos que vêm de dentro do próprio corpo, que são
de certa forma, partes da própria criança. São objeto que geram prazer ao
serem produzidos. Durante o treino de esfíncteres, as fezes são dadas aos pais
como prendas ou recompensas. Se o ambiente é hostil, são recusadas. A nós
adultos, pode parecer ingênuo enfatizar tanto o valor psicológico das fezes.
Pois bem, observaremos uma mãe ensinando a criança a utilizar o “troninho”
ela elogia o esforço da criança, incentiva, torce para que ela consiga e, quando
o produto finalmente vem, é recebido com honrarias; canta-se “parabéns” e
“pique-pique” para cocô. Todo este processo é vivido por nós como
absolutamente normal.

Quando o desenvolvimento é normal, ou seja, quando a criança ama, sente


que é amada pelos pais, cada elemento que a criança produz é sentido como
bem valorizado. O sentimento básico que fica estabelecido a levará em todas
as etapas posteriores da vida, sentir que ela é adequada e que seus produtos
são bons; portanto estará sempre livre e estimulada a produzir. Temos visto
vários livros correlacionando fase anal com capacidade artística. Isto é só uma
parte do processo. Sentimento de que o que produzimos é bom é necessário
para todas as relações produtivas que estabelecemos com o mundo.
Produzimos no trabalho, e temos de sentir que nosso produto é bom,

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produzimos filho e temos de sentir que nosso produto é bom. Só poderemos
criar se houver um sentimento interior de que nossos produtos são bons.

É um processo anormal a criança por coisas no mundo, como também é


normal discriminar quando e para quem dá seus produtos, mas pode ocorrer
que as relações de angústia predominem sobre as relações de amor os
primeiros produtos infantis não são mais objetos de valor, mas se constituem
em armas destrutivas que agridem o mundo toda vez em que são produzidos.
Por exemplo, em uma mãe neurótica que entra em pânico toda vez que a
criança suja fraldas ou que por não suportar barulho, obriga a criança ao
silêncio. Isto concretiza para a criança a fantasia de que seus produtos são
maus e destrutivos. É uma defesa usual expelir tudo que há em nós e que
sentimos que é mau. Atiramos então nossos produtos destrutivos no mundo e,
como depositário de agressões, o mundo se tornará mal e destruidor. A
projeção dos maus produtos sempre cria um mundo perseguidor.

A paranóia é a primeira filha do fracasso em estabelecer a colocação dos


produtos infantis do mundo.

A neurose obsessiva é a segunda conseqüência no fracasso do


desenvolvimento da fase anal. Se os produtos foram projetados numa estrutura
paranóica, na estrutura obsessiva são retidos e controlados. Se os produtos
geram angústias “necessito exercer um grande controle sobre o que posso
liberar e sobre as pessoas para quem liberarei minha produção”. O amor e o
feto vão progressivamente cedendo terreno à temática do controle e da
organização, até que um mundo, que deveria ser estruturado sobre o afeto,
seja substituído por um mundo frio e formal. O obsessivo torna-se afetivamente
desativado, roboriza-se nas ritualizações frias e formais e torna-se incapaz de
criar.

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Fase fálica (3 até 5 anos).

Nesta fase o pênis ou o clitóris entram no foco das energias libidinais. Os


meninos se divertem com a capacidade de direcionar o jato de urina, sentem
prazer no toque no membro e se interessam pelo fato de as meninas não o
possuírem. Ai se encontra a raiz da preocupação com a força, com a
competição, com o poder, com o desejo de ser maior, mais poderoso, mais
importante.

A fase fálica é, inicialmente, auto-erótica, mas, gradualmente, o interesse se


desvia para o genitor do sexo oposto.

O estágio edipiano

É o estágio que vai dos 03 – 04 anos até 06 – 07 anos. É, também, o mais


importante do desenvolvimento da personalidade. É, nele que a criança
desenvolve um grande interesse pelo genitor do sexo oposto e
consequentemente, um forte sentimento de rivalidade em relação ao genitor do
mesmo sexo, com o desejo de deslocar este.

Durante este tempo, a criança aprende que seus desejos sexuais são
proibidos, apresentando sentimentos de amor e ódio em relação ao genitor do
mesmo sexo. Isso leva a sentimentos de ansiedade e culpa, bem como de
medo de punição pelo crime.

Nos meninos, essa fantasia (grandemente inconsciente), toma a forma de


medo de castração. Nas meninas, há o medo de uma mutilação genital, o que
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seria um agravamento, num ser que já se sente inferiorizada a vista do fato de
não possuir pênis.

Posteriormente a mulher desenvolve o que Freud chamou de inveja do pênis,


que se manifesta como um desgosto pelos privilégios masculinos, podendo,
parcialmente, explicar a tendência evidenciada por algumas mulheres em
competirem com os homens, quanto ao posicionamento social e quanto as
oportunidades de dirigir instituições, de exercer liderança.

A história de Édipo

Um oráculo anunciou a Laio, rei de Tebas e a rainha Jocasta, que seu próprio
filho o mataria e se casaria com a mãe.

O rei, assustado, ordenou que levassem o filho, Édipo, para longe da cidade. O
menino foi criado por outro rei, cresceu forte e sábio, até que um dia encontrou
um homem em uma estrada, teve com ele uma briga e o matou. Era seu pai.

Édipo chega a Tebas, a cidade se encontra ameaçada por um monstro, a


esfinge, que devora todo aquele que não consegue resolver seus enigmas.
Qual é o animal que tem 4 (quatro) pés ao amanhecer, 2 (dois) ao meio-dia e 3
(três) ao anoitecer?. Édipo responde – O homem, em cuja infância engatinha,
anda ereto, sobre dois pés, na maturidade e ao envelhecer toma a ajuda de
uma bengala.

A esfinge é derrotada e se joga no mar. Édipo torna-se rei de Tebas e se casa


com a rainha Jocasta, sem saber que se tratava de sua própria mãe. Tiveram
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filhos e foram felizes, até que descobriram a verdade e a tragédia se
consumou. Édipo fura seus olhos e Jocasta se enforca.

A formação do superego

A intensidade do medo de castração torna-se tão intensa e intolerável, que a


criança é obrigada a render-se ante um ritual muito poderoso e a desistir dos
seus desejos em relação ao genitor do mesmo sexo e sexual em relação ao do
sexo oposto, a criança identifica-se com partes de cada genitor, tornando-as
parte de si mesma, parte essa, que vai formar o Superego da criança.

Como Superego, tem-se que é o que a criança internaliza, tomando de cada


genitor, desde que seja classificado como valor moral e como ideal. Uma
porção do Superego será a parte que estabelece o que seja certo ou errado. A
outra parte, que é o chamado Ego-Ideal, é composto pelas características
elevadas que todos devem portar, para se tornar digno dos elogios e da
aprovação geral. O Superego é, principalmente, uma parte inconsciente da
psiquê.

O conflito edipiano: a resolução

Tanto na resolução do conflito edipiano, quanto na formação do Superego, no


menino, dá-se algo fomo se fora o seguinte quadro: não há como eu ter minha
mãe só para mim, mas eu posso fazer com que uma parte dela (no caso os
ideais, as inclinações, os critérios de julgamento) se torne parte de mim, assim
sendo, eu a possuirei de um modo seguro.

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Do meu pai, a quem amo e odeio (e por isso mesmo temo), não posso me
livrar, mas para que ele não mais me venha a castrar, eu vou me tornar como
ele (adotando partes dos seus princípios morais e valores) e aí então ele
gostará de mim e não será mais perigoso para mim.

Vejamos, agora, como a coisa se dá em relação às meninas. A atração da


menina pelo pai é, também, denominada de edipiana (os Junguianos dizem
Complexo de Electra, nós nunca).

A resolução da situação é muito mais complexa para a menina do que para o


menino, pois este, a despeito de ter de desistir de sua ligação com a mãe,
normalmente, quando maduro, vem a contrair uma ligação com uma mãe,
substituta, a esposa. Já a menina, que começa ligada à mãe, sente-se atraída
pelo pai na fase edipiana, odeia a mãe, quer ter o pai só para si, mas acaba por
desistir, compensando-se com o propósito de vir a ter um homem seu. Mas
acontece que uma mulher sadia, não é capaz, como o homem, de encontrar
substituição para a ligação infantil, pelo que, é levada a compensar-se
propondo-se ela mesma a vir ter um filho, tornar-se mãe e assim realizar uma
satisfatória relação mãe-filho.

Não sendo o período edipiano satisfatoriamente resolvido, podem ocorrer


algumas variações de alterações afetivas:

1. A excessiva identificação com o genitor do sexo oposto, pode estar


associada ao desenvolvimento de características femininas (homossexuais)
no menino, ou mesmo nas meninas.

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2. O medo do genitor do sexo oposto, pode prejudicar a capacidade
individual em lidar com pessoas deste sexo em fase ulterior da vida.

3. Um estágio edipiano parcialmente solucionado, pode resultar num


superego mal formado ou mesmo deficiente, o qual pode vir a ser
determinante de alterações sociopáticas do caráter e das neuroses.

• Até onde se sabe, parece que mesmo as psicoses, podem provir de


problemas edipianos precoces.

Causas de uma solução não satisfatória do Estágio


Edipiano

1. Acesso ao período edipiano com conflitos na fase oral, anal ou fálica, que
são do período pré-edipiano, trazendo para o período novo, alguém sem
energia suficiente para enfrentar as novas circunstâncias;

2. A ausência de um dos genitores (sem, também, haver um substituto à


altura), devido a divórcio ou qualquer outro tipo de separação.

3. Severa psicopatologia da parte de um dos genitores, dos tipos, por


exemplo, ser um deles excessivamente sedutor, ou cruel, ou ameaçador, ou
daquele que vive a rejeitar, ou inconsciente, ou inseguro, ou em constantes
transformações, ou frio, etc.

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4. Severos defeitos do Superego, como um pai efeminado, poderá vir a ser
determinante de uma confusa identificação com tal genitor, que pode resultar
numa formação superegoica instável, inconsciente e não-razoável.

• Ao fim do Estágio Edipiano, instala-se o princípio do que Freud chamou de


fase genital, em que o interesse primário passa a ser a experiência genital,
isto é, a tendência em vir a unir os órgãos genitais com o sexo oposto: é a
atração direcionada à outra pessoa, um redirecionamento objetal, que
significa a ultrapassagem da fase auto-erótica, como até então, o era, na
última fase, fálica.

O período de latência

Este é o período que vai dos 7 – 12 até aos 14 anos. A característica desta
fase é a repressão das fantasias e das atividades sexuais.

As mães costumam relatar uma às outras, que a partir dos 7, as crianças,


especialmente os meninos ficam mais mansinhos. Na verdade o que ocorre é
que elas, as crianças, acessam a um período de aquiescência sexual.

Com a representação do Édipo, a energia da libido fica temporariamente


deslocada dos seus objetivos sexuais. Dizemos que houve de início a
repressão da energia sexual. Como esta energia é permanentemente gerada,
ela não pode ser simplesmente eliminada ou reprimida. É preciso que ela seja
canalizada para outras finalidades, estando os fins eróticos vedados, ela é
canalizada para o desenvolvimento intelectual e social da criança. A este
processo, canalizar uma energia inicialmente sexual em uma energia
mobilizadora chamamos de realizações socialmente produtivas de sublimação.
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Ao período que sucede a fase fálica, chamamos de período de latência. O
período de latência caracteriza-se pela canalização das energias sexuais para
o desenvolvimento social, através das sublimações. O período de latência não
é portanto, uma fase: não há nova organização de zona erógena, não há nova
organização de fantasias básicas e nem novas modalidades de relações
objetais.

É um período intermediário entre genitalidade infantil (fase fálica) e a adulta


(fase genital). A sexualidade, permanece reprimida durante este período,
aguarda a eclosão da puberdade para ressurgir. Enquanto a sexualidade
permanece dormente, as grandes conquistas da etapa situar-se-ão nas
realizações intelectuais e na socialização.

Puberdade e início da adolescência

(período que vai dos 12 – 15 até os 18 anos).

Começa, de forma súdita uma atividade endocrinológica intensa no organismo,


que vai resultar numa exacerbação da libido. É a partir daí, que o indivíduo
retoma, de forma muito acelerada, as fases do desenvolvimento sexual, já que
vem de sair da aquiescência que caracteriza o Período de Latência, que, na
realidade, foi uma interrupção do desenvolvimento sexual intenso
experimentado durante os estágios pré-edipiano e edipiano.

Observa-se nesta fase uma tendência para uma reedição dos impulsos orais,
anais e fálicos e um misto de interesse sexual e de conflitos com os pais, como
na fase edipiana.

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Adolescência final e adulto jovem

Neste período, a partir dos 16 – 18 anos e pelo resto da vida, podem ser
observados os chamados pontos de fixação, que são correspondentes às fases
não solucionadas, ou pelo menos não satisfatoriamente solucionadas, que
determinam a existência de um indivíduo adulto, que passa um quadro de
imaturidade em algumas áreas do seu caráter, de sua identificação sexual, de
seu equilíbrio afetivo, suas tendências a regredir ante o stress, sua
incapacidade de formar um relacionamento estável, suas eleições sexuais (não
somente as homossexuais em qualquer grau) e pelas evidentes indicações de
eclosão de um comportamento neurótico.

Fase Genital

Ao perguntarem a Freud, em sua velhice – quando já tinha realizado


praticamente toda sua obra pessoal – como definiria um homem adulto normal,
ele respondeu apenas que o homem era aquele que é capaz de “amar e
trabalhar”.

Alcançar a fase genital constitui, para Psicanálise, atingir o pleno


desenvolvimento do adulto normal. É ser o homem que começou a surgir
quando a criança vai progressivamente introjetando e elaborando o mundo. As
adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas. Aprendeu a amar e a
competir. Discriminou seu papel sexual. Desenvolveu-se intelectual e
socialmente. Agora é a hora das realizações. É capaz de amar num sentido
genital amplo. É capaz de definir um vínculo heterossexual significativo e
duradouro. Sua capacidade orgástica é plena, e o prazer dela oriundo será

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componente fundamental de sua capacidade de amar. A perturbação na
capacidade orgástica é uma tônica dos neuróticos. O indivíduo normal não só
se realizará na genitalidade específica, como o fará num sentido amplo. A
perpetuação da vida é a finalidade última da pessoa. Procriará e os filhos serão
fontes de prazer, sublimará e como frutos paralelos, serão capazes de
trabalhar e produzir.

Produzir é, num sentido amplo, sublimação do gerar. A obra social é devida da


genitalidade, estabelecer filiações significativas com profissões, partidos
políticos, ideologias religiosas, correntes estéticas, são sublimações da sua
capacidade de amar, de estabelecer um vínculo maduro nas relações naturais
homem mulher.

Fixação e Regressão

No tópico há referências a estes pontos, que, por serem importantes, merecem


comentários.

As dificuldades que podem conduzir ao quadro de fixação são, geralmente,


desencadeadas por:

1. Uma severa frustração ocorrida numa fase anterior: um desmame


precoce, por exemplo;

2. Uma super gratificação: o uso excessivo e prolongado de amamentação,


de uso de mamadeiras, chupetas, de chupar dedos, de tolerância ao não
comprimento de hábitos higiênicos, etc;
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3. De acentuadas diferenças comportamentais entre os pais, durante o
período de treinamento da evacuação, muito particularmente quando tudo é
feito de forma que haja urgentes esforços para se alcançar resultados,
seguidos de total relaxamento, ou então o do tipo agora a coisa é com você,
em não me meto mais nisso...

Quanto à regressão, define-se como um retorno à conduta característica de


uma fase anterior (mas não, necessariamente, a imediatamente anterior), ante
um eventual enfrentamento de uma situação estressante. Seria o caso de um
menino, já pelos seus 6, 7 anos, treinado com sucesso nos hábitos higiênicos,
voltar a urinar na cama, ou nas calças, o que marcaria uma regressão à fase
anal.

O interessante, porém, é que o simples fato de haver uma regressão, significa


que há um ponto de fixação, no mínimo parcial, que levou o menino a regredir
ao anal, especificamente e não ao oral, por exemplo.

Para explicar o quadro de regressão, Freud apresentou uma analogia bastante


didática:

Suponhamos que um exército avance, dispondo de uma tropa composta por


um bom número de soldados. À medida que avance, vai conquistando cidades
e para dominá-las, o comandante vai deixando parcelas da tropa em cada
ponto que capturou.

O número de soldados ocupantes da posição variará em função da maior ou


menor dificuldade encontrada na conquista da cidade. Assim, quanto maior a
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oposição, maior será o número de soldados que deixará para trás (em termos
psicanalíticos, estão aí os pontos de fixação).

O fato porém, é que mesmo sendo um sucesso o avanço, por ser coroado de
êxitos, ao chegar ao fim da campanha, a tropa inicial já estará bastante
desfalcada, pelo que, ante uma eventual batalha em que tenha
inesperadamente de se empenhar, quando já parecia que todos os seus
problemas haviam terminado, o comandante não terá alternativa, senão recuar
(em termos psicanalíticos, está aí a regressão) e recuar para onde deixou um
maior número de soldados, que, por sua vez, será sempre o lugar que
conquistou em função de grandes dificuldades com que se deparou.

Em termos psicanalíticos, a tropa corresponde à energia psíquica que se


despende no enfrentamento das situações que possam significar dificuldades.

Mecanismos de Defesa

Chamamos de mecanismo de defesa os diversos tipos de processos psíquicos.


Cuja finalidade consiste em afastar um evento gerador de angústia da
percepção consciente. Os mecanismos de defesa são funções do Ego e, por
definição, inconsciente. Como sede da angústia, ele é mobilizado diante de um
sinal de perigo e desencadeia uma série de mecanismos repressores que
impedirão a vivência de fatos dolorosos, os quis o organismo não está pronto
para suportar. Por situar-se em parte no inconsciente, poderá mobilizar
mecanismos inconscientes, que não serão percebidos pelo sujeito. Nem será
percebido o evento doloroso, tampouco o mecanismo que o reprimiu. O
conceito de mecanismo de defesa surge nos trabalhos de Freud e é
desenvolvido principalmente por sua filha, Ana Freud em O Ego e os

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Mecanismos de Defesa. Daremos agora uma relação dos principais
mecanismos de defesa.

Faremos agora uma relação dos principais mecanismos de defesa

Sublimação

“As defesas bem sucedidas podem colocar-se sob o título de sublimação


expressão que não designa mecanismo específico; vários mecanismos podem
usar-se nas defesas bem sucedidas” (Fenichel, p. 131). Uyratan de Carvalho
considera a sublimação como meio de mecanismo de defesa, define: “é a
transformação de energias psíquicas infantis em atividades social e
culturalmente aprovados”. Para exemplificar, tomemos a vida celibatária do
padre que por se privar do ato sexual goza de elevados respeito e estima.

Considerado como mecanismo mais eficaz e é característico do indivíduo


normal. Os desejos afetivos, que consideramos sexuais em sentido amplo,
quando não podem ser literalmente realizados, são canalizados pelo ego para
serem satisfeitos em atividades simbolicamente similares e socialmente
produtivas.

Caracteriza-se a sublimação:

A) Inibição do objetivo;

B) Desexualização;

C) Absorção completa de um instinto nas respectivas seqüelas;


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D) Alteração dentro do ego.

Todas estas qualidades também são vistas nos resultados de umas tantas
identificações; qual seja, no processo de formação do superego.

Negação

Processo pelo qual o sujeito embora formulando um dos seus desejos,


pensamentos ou sentimentos até então recalcado, continua a defender-se dele
negando que lhe pertença.

Importante mecanismo de defesa da que tem a capacidade de negar partes da


realidade desagradável ou indesejável; quer por meio de uma fantasia de
satisfação de desejos, ou pelo comportamento. Anna Freud em 1836
denominou este comportamento com “pré-estágios da defesa”. Ela empregou
esta palavra para se referir à negação de uma parte da realidade externa
desagradável ou indesejável, que por meio de uma fantasia de satisfação de
desejos quer pelo comportamento. Deve-se lembrar que toda tentativa de
negação que ocorre após o desenvolvimento tem adversárias nas funções do
ego de percepção e memória, pois o organismo naturalmente abandona as
reproduções das experiências dolorosas e suas respectivas recordações bem
como, simples negação.

A tendência à negação é maior quando o ego é fraco. Na fase da infância é de


importância maior e consiste em negar eficazmente a verdade através do jogo
e da fantasia. Na fase adulta é de menor importância e consiste em aliviar por
algum tempo os encargos da realidade. Porém, se estiver diante de psicoses,

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(função do juízo transtornada) este mecanismo de defesa torna-se superior e
importante.

Regressão

É o processo psíquico em que o ego recua fugindo de situações conflitivas


atuais, para o estágio anterior. É o caso em que o indivíduo depois de várias
frustrações na área sexual, afim de obter satisfações, regride à fase oral,
passando a ser um comedor compulsivo. Portanto, regressão é voltar a níveis
anteriores de desenvolvimento, em geral se caracterizam por respostas menos
maduras, diante de uma frustração evolutiva. Por exemplo, com o nascimento
de um irmão menor, a criança mais velha não suporta a frustração de ser
passada para segundo plano. Como defesa, enfatiza-se volta à chupeta, à
linguagem infantil, urina na cama, etc. No adulto, volta a um modelo infantil
onde se sentia mais feliz.

Projeção

Tipo de defesa primitiva e quando surge pela primeira vez é difícil de


estabelecer. Provavelmente é uma das funções psíquicas mais primitivas. Em
Psicanálise é a operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro –
pessoa ou coisa – qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos” que ele
desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma defesa de origem muito
arcaica que vamos encontrar em ação particularmente na paranóia, mas
também em modos de pensar “normais” como superstição. Uyratan de
Carvalho (apostila), a projeção manifesta-se quando o ego não aceita
reconhecer o impulso não aceitável do id e o atribui à outra pessoa. É o caso
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do menino que gostaria de roubar frutas do vizinho, sem entretanto, ter
coragem para tanto, e diz que soube um menino, na mesma rua esteve
tentando pular o muro do vizinho.

Introjeção

Processo evidenciado pela investigação analítica. O sujeito faz passar, de um


modo fantástico, de fora para dentro, objetos e qualidade inerentes a esses
objetos. A introjeção aproxima-se da incorporação que constitui o seu protótipo
corporal, mas não implica necessariamente uma referência ao limite corporal.
Está estreitamente relacionada com a identificação.

A incorporação é o objetivo mais arcaico dentre os que se dirigirem para o


objeto. A identificação, realizada através da introjeção, é o mais primitivo da
relação com os objetos. Por isso todo o tipo de relação objetal que depare com
dificuldades é capaz de regredir à identificação; e todo o objetivo instintivo
ulterior é capaz de regredir à introjeção.

Repressão

Este mecanismo foi o primeiro a ser reconhecido e tem sido mais comentado
pela literatura psicanalítica. É a operação psíquica que impede que os impulsos
ameaçadores, sentimentos, desejos, pensamentos dolorosos ou perigosos, em
suma, conteúdos desagradáveis ou inoportunos cheguem à consciência.

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Numberg define como “o processo em virtude do qual a libido do sistema pré-
consciente é subtraída, de modo que um ato psíquico não possa encontrar o
caminho que conduz ao sistema consciente e, portanto tornando-se ou
permanecendo inconsciente”. Freud define “impede o acesso do impulso
instintivo, à motricidade mas, ao mesmo tempo, mantém intacta a sua carga de
energia”. Através da repressão, o estérico provoca o afundamento no
inconsciente da causa de seus distúrbios.

Defesas patológicas

É o mecanismo de defesa não eficaz e o que determina se os conflitos serão


patológicos ou não, é a forma de manipulação dos mesmos.

Os instintos rejeitados não são transformados pela contracatexias. São


contidos, bloqueando a descarga de energia, desconectando o resto da
personalidade e continuando imutáveis no inconsciente.

Assim explicam os dois fatos importantes:

a) Os instintivos rejeitados pressionam constantemente no sentido


da motilidade. Impedindo da possibilidade da descarga direta, deslocando
a energia utilizando-se de toda oportunidade de descargas indiretas;
ligando-se associativamente a outro impulso (substitutivo) aumentando a
intensidade, modificando assim qualidade do afeto conexo (conhecido
como derivado impulso substitutivo).

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b) Derivam-se da infância todas as defesas patogênicas. Quando
canceladas as defesas infantis, o isolamento quebra-se e os desejos
rejeitados são religados à personalidade, participando da maturidade da
mesma; esses impulsos transformam-se em adultos e os desejos podem
ser descarregados.

A percepção e outras funções do ego podem ser bloqueadas ou diminuídas por


contracatexias forçadas. Isso quando o indivíduo está sob efeito da neurose
traumática.

Essas formas de “defesas” podem ser consideradas como padrão na qual


formam-se as demais defesas patogênicas.

Portanto a condição da defesa patológica é o desencadeamento de uma


excitação de origem interna, provocando desprazer e contra qual não foi
estabelecida qualquer aprendizagem defensiva. As condições só se encontram
realizadas, para Freud, no domínio da sexualidade, pois não é a intensidade de
afeto em si que motiva a entrada em jogo da defesa patológica.

Formação recreativa

É o processo psíquico que se caracteriza por uma atitude ou hábito com


sentido ao desejo recalcado, formando assim, uma reação contra ele, ou o
processo psíquico por meio do qual um impulso indesejável é mantido
inconsciente, por conta de uma forte adesão ao seu contrário, na tentativa
evidente de negar ou reprimir certos impulsos. Por exemplo, desejos sexuais
intensos podem ser transformados em comportamentos extremamente
pudorosos ou puritanos.
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Muitas atitudes neuróticas são tentativas evidentes de negar ou de reprimir
alguns impulsos ou defender a pessoa de um perigo instintivo. São
comportamentos tolhidos e rígidos ainda que resultam em impulsos contrários,
que explodem por diversos modos. A ação desmascaradora da Psicologia, da
Psicanálise consegue provar que a atitude oposta original ainda está presente
no inconsciente. Portanto, para Fenichel, reações reativas são estas atitudes
opostas secundárias, por exemplo: se a pessoa luta contra tendências anais,
desenvolverá hábitos de limpeza, de ordem e economia obsessiva; se ela luta
contra tendências agressivas, cairá numa bondade indiscriminada e rígida.

Anulação ou reparação

Mecanismo psicológico pelo qual o sujeito se vale do pensamento ou


comportamento com significação contrária a fim de que seus pensamentos,
palavras, gestos e atos passados não tenham acontecido. Utiliza para isso um
pensamento ou comportamento com significação oposta. Trata-se aqui de uma
compulsão tipo “mágico” característica da neurose obsessiva. Com exemplo,
um paciente via-se impelido a rezar de forma obsessiva durante a doença de
sua mãe; mas ao terminar a reza aplicava um tapa na boca, ato que pretendia
anular o efeito positivo da reza.

Era anulação do sintoma rejeitador, regresso do desejo rejeitado de que a mãe


morresse.

Assim como a formação reativa, o mecanismo de defesa da anulação pode


formar-se pelo aumento reativo da força de um impulso que se opõe ao
impulso original, deste modo condensado a atitude defensiva como a atitude

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instintiva que luta pela obtenção de prazer erógeno. Uma criança experimenta
a defecação como perda de sua integridade narcísica e desenvolve tendência a
coprofragia compensadora e, quando adulto compraz-se em ler no banheiro,
coprofragia representa tanto anulação da defecação quanto o prazer.

Isolamento

O texto mais explícito de Freud sobre o isolamento acha-se em inibição,


sintomas e angústia, onde é descrito como uma técnica especial da neurose
obsessiva. O significado mais comum da palavra isolamento é o mecanismo
que Freud chamou de isolamento do sentimento. É um processo psíquico,
típico da neurose obsessiva, que consiste em isolar um comportamento ou um
pensamento, de tal maneira que suas ligações com outros pensamentos, ou
com alto conhecimento, ficam absolutamente interrompidas já que foram (os
pensamentos e os comportamentos) completamente excluídos do consciente.

Fenichel define o isolamento como mecanismo de defesa das neuroses


obsessivas e que tenham um significado geral da psicopatologia; assim o
paciente não esqueceu os seus traumas patogênicos mas perdeu o rastro das
respectivas conexões e significado emocional. Existe aqui uma contracatexia
operando no sentido de isolar aquilo que se relaciona. Este mecanismo de
defesa, sobre tudo típico da neurose obsessiva, consiste em isolar um
pensamento ou um comportamento, de tal modo que suas conexões com
outros pensamentos ou com o resto da existência do sujeito ficam rompidas.
Entre os processos de isolamento, citemos as pausas no decurso do
pensamento, fórmulas, rituais e, de um modo geral todas as medidas que
permitem estabelecer um hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos
atos. Certos doentes defendem-se contra uma idéia, uma impressão, uma
ação, isolando-as do contexto por uma pausa.

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Racionalização

É uma forma de substituir por boas razões uma determinada conduta que exija
explicações, de um modo geral da parte de quem a adota. Ou é o processo
pelo qual o sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de
vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação,
uma idéia, um sentimento, etc, cujos motivos verdadeiros não percebem; fala-
se mais especialmente da racionalização de um sintoma. De uma compulsão
defensiva, de uma formação reativa. A racionalização intervém também no
delírio, resultando numa sistematização mais ou menos acentuada. Mediante
as definições citadas, a racionalização é a forma de abstrair-se das vivências
afetivas e, em cima de premissas lógicas, tentar justificar as atitudes e assim
provar que é merecedor do reconhecimento dos outros. Jocosamente, os
psicanalistas consideram a racionalização como uma mentira inconsciente que
se põe no lugar de algo que se reprimiu.

A racionalização é muito comum e abrange um extenso campo que vai desde o


delírio ao pensamento normal. Às vezes é difícil definir se é falha ou não, pois
qualquer comportamento tem direito à explicação racional.

O que querem as mulheres?

É natural que Freud, que tudo explica, não tenha explicado o que as mulheres
querem. É natural pois as mulheres mesmo não sabem o que querem…

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No consultório, onde observamos o desenrolar de milhares de histórias,
percebemos que as mulheres apresentam-se sempre insatisfeitas. Com o
próprio corpo, com os homens com quem lidam, com as mulheres com quem
competem… (isto independe de serem heterosexuais ou lésbicas)…

Podemos então perceber que esta insatisfação é crônica. Porque mais que
tentem sempre parece que falta algo. Como diz Fernando Pessoa:

“E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,

E a vida dói quanto se goza e quanto mais se inventa”. (Álvaro de Campos –


Passagem das horas)

Existe uma música da Alanis Morisset que resume bem este sentimento de
insatisfação feminina:

Bem, poderíamos dizer que as mulheres querem o que não possuem… (afinal,
nunca queremos mais o que possuímos…)

Nesse sentido, exitem dois grandes grupos de desejo feminino: o poder e o


amor.

O poder significa conseguir fama, status, reconhecimento pelo sucesso na


carreira…

Amor significa ter alguém para amar – e alguém que a ame – mas também
signifca ter alguém que seja compatível com um eu ideal: os outros também
tem que de certa forma aprovar quem recebe o amor… ou mesmo invejar…

Não é interessante notar como a inveja está sempre ao redor de todas as


mulheres? O invejar e o ser invejada… o gozar de outra pessoa, o gozar com
outra pessoa, o ser gozada…

A palavra gozo, na teoria lacaniana, tem um outro sentido do que normalmente


pensamos quando pensamos em gozar (por exemplo, no ato sexual). A grosso
modo, signifca o fato de se insitir em uma insatisfação, insistir em um sintoma,
em um problema, em uma dor… [Em francês, a palavra é juissance]

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Mesmo sendo ruim o que se vive, mesmo sendo um desprazer, há algo que
impele a continuar seguindo neste caminho… este é o gozo (um desprazer),
uma insatisfação, algo que está para além (do princípio) do prazer…

Ora, porque então, se não há prazer, a pessoa continua aonde está? Porque
mesmo sofrendo, chorando, sentindo mágoa, culpa ou remorso não há reação?

Estes são os mistérios da mulher – também dos homens, talvez – o desejo de


ser alguém, o desejo de ter alguém, o desejo de não sofrer e assim sofrer mais.

O amor para a psicanálise

Jacques-Alain Miller é um importante psicanalista francês. Ele trabalhou muitos


anos ao lado do psicanalista Jacques Lacan – um dos mais influentes
psicanalistas de todos os tempos.

Além das relações profissionais, Alain Miller casou-se com a filha de Lacan.
Abaixo, reproduzo uma importante entrevista de Jacques-Alain Miller sobre o
amor. Achei interessantíssima a definição que ele dá de amor: “Amar
verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma
verdade sobre si”.

Em outras palavras, amamos alguém porque (no fundo, inconscientemente)


esperamos encontrar alguma resposta sobre nós mesmos, sobre quem nós
somos.

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A entrevista foi publicada na Psychologies Magazine em outubro 2008. A
entrevistadora é Hanna Waar.

Revista Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?

Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-
se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando
dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do
mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se
dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira.
Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável,
enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.

P.: Então, o que é amar verdadeiramente?

J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se


alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a
resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.

P.: Por que alguns sabem amar e outros não?

J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso
dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer
amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com
suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se
tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos
sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam
dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem
nem o risco, nem as delícias.

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P.: “Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso…

J-A Miller: Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem”. O que quer
dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é
dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que
vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua
“castração”, como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama
verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso
que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa
intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.

P.: Amar seria mais difícil para os homens?

J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho,
assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o
coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode
desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que
coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a
“degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.

P.: E nas mulheres?

J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do


parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas
desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente
castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que
adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em
casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem…

P.: Por que “cada vez mais”?

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J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão
em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a
amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo
“empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir
“eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os
símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande
instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que
contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o
sociólogo Zygmunt Bauman (1). Cada um é levado a inventar seu próprio
“estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários
tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar
não desapareceu, mas está em baixa.

P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no


contexto atual? O que significa?

J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal.


Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso
seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo,
mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz
te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é
efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás
aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor
diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura,
de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso,
quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por
antecipação.

P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que
ele? Por que ela?

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J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do
amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços –
que tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa
totalmente às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua
história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por
exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho
de luz no nariz de uma mulher!

P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor,


nessas baboseiras!

J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem


idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor,
em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que,
sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como
fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso.
As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal
personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das
mulheres. Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana
que fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes
manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non
para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno
é a base da corte masculina.

P.: O senhor atribui algum papel às fantasias?

J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais
determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o
inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir
obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante
o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de
estar ausente, em outro lugar.
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P.: E a fantasia masculina?

J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico,
comentado por Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do jovem
Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando
ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal
da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática,
é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária.
Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu
fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o
desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele
próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro
emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo.
Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por
Freud: ama-se ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem
narcísica de si mesmo.

P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes!

J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por
antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro
não é programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também
com os genes. Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de
discurso, e isso é determinante. As modalidades do amor são ultra-sensíveis à
cultura ambiente. Cada civilização se distingue pela maneira como estrutura a
relação entre os sexos. Ora, acontece que no Ocidente, em nossas sociedades
ao mesmo tempo liberais, mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está
passando a destronar o “um”. O modelo ideal do “grande amor de toda a vida”
cede, pouco a pouco, terreno para o speed dating, o speed loving e toda
floração de cenários amorosos alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos.

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P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?

J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante”
(3). Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão?
Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter
para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais
amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à
mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia
rapazes! E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra.
Portanto, o caminho é estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a
amizade, dizia, de fato, Aristóteles.

P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem


as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas…

J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um
sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato,
condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando
as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde
a saída não existe.

***

***

O inicio de uma análise, segundo Jacques Allain Miller, não pode ser pensado
sem sua inter-relação intrínseca ao fim. Isso porque, para o próprio paciente
entrar em analise já implica projetar um fim para a mesma, e para o analista, o
inicio assinala o abalo do fantasma (ou fantasia), e o fim, a travessia deste.

A questão do desejo, no plano teórico da psicanálise, pode ser traçado desde o


Projeto para uma Psicologia Científica (que enquanto projeto só foi publicado
postumamente) no qual Freud o elabora. Sendo que o que marca propriamente
esta elaboração – no campo teórico da psicanálise propriamente dita, embora
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este conceito perpasse toda a obra do autor – pode ser melhor traçado no
Interpretação dos sonhos.

Neste livro, Freud define o desejo como sendo a força que traz o elemento
mnêmico de uma experiência de satisfação. Neste sentido, o elemento
primordial da satisfação do sujeito, o protótipo de satisfação, é o seio materno.
Por essa via, é que lemos Freud ao escrever que o “sentido de todos os
sonhos é a realização de um desejo”. (Freud, 1992 :153). Para Miller, “o desejo
é um conceito complexo, que segundo Freud, pode ser recalcado e aí realizado
nos sonhos, e, sobretudo, pode ser modificado na experiência analítica”.
(Miller, 1997: 35).

“o desejo é sempre um lamentar-se, um deplorar, uma nostalgia ou um anelo,


de tal maneira que, se buscarmos a palavra desejo em Freud, vamos encontrá-
la predominantemente na palavra Wunsch – o anelo que segundo ele, está em
cada sonho e aí se satisfaz” (Miller, 1997:447).

O desejo “é uma pergunta, uma interpretação, conflui com o discurso” (Miller,


1997: 339); a relação entre demanda e pulsão: “a pulsão designa um nível
onde o sujeito parece estar sob uma demanda, da qual não pode se defender”.
(Idem).

Em outras palavras, “Em Freud, a pulsão é uma demanda muito particular: não
pede nada a ninguém” (Miller, 1997:445). Ainda segundo Miller, “o que
chamamos desejo é algo que pomos não ao nível de significante, mas debaixo
dessa articulação, (S1 S2/d), como algo que circula entre os elementos da
articulação mecânica e que não responde ao mecanismo” (Miller, 1997: 340)

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Foi Lacan, quem introduziu esta distinção entre demanda e desejo (D/d) da
qual, segundo Miller, “a matriz de todas essas distinções é a distinção primária
entre significante e significado (S/s; S1 S2/d; E/ e; D/d)” (Idem). De modo que o
desejo não pode ser dito, ao menos de forma direta; é o que não se consegue
dizer dentro do que se diz: “o desejo aponta para uma impotência da palavra e,
mais além, para uma impossibilidade”. (Miller, 1997: 449).

Há a formulação lacaniana, desenvolvida, segundo Miller, a partir do Relatório


de Roma, de que “O desejo é o desejo do outro” (Lacan apud Miller, 1997: 50).
Definição ambígua, ou melhor, que pode ser desenvolvida na abertura que
permite nas próprias palavras da formulação, em sua oscilação de desejo
imaginário ou de desejo simbólico.

Miller (1997: 353), em seu seminário A patologia da ética, diz que na analise:
“há momentos de ‘quero saber’ e outros onde, ao contrario, dentro do ‘quero
saber’ há o ‘não quero saber (…) Para utilizar a barra (…) há um ‘quero saber’,
que se pode apresentar enunciado como uma demanda, quando o desejo
secreto dentro é ‘não quero saber’ de nada.

Na relação da entrada em analise, seguindo o percurso de Miller, em seu texto


Demanda e Desejo, a demanda deve no inicio de uma analise ser abandonada,
já que “toda demanda é fundamentalmente sem saída e porque é preciso
desistir da própria demanda” (Miller, 1997:440), e paralelamente o fim de
analise poderia ser definido como a desistência radical de toda demanda
endereçada ao Outro, sem que esta demanda seja deslocada para outros.

A demanda, de acordo com o mesmo texto, tenta, em seu pedido ao Outro,


preencher uma falta impossível de ser preenchida na falta-a-ser que é o sujeito.
A desistência de tal pedido, de tal demanda, pode ser relacionada com a

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destituição subjetiva, na qual “se perde para o sujeito toda a possibilidade de
obter um lugar no Outro” (Miller, 1997: 441).

E, o desejo do mesmo pode, pode ser descrito de acordo com a falta, na


medida em que “seu motor e sua causa são sempre uma falta (…) Falta um
objeto – que dizemos perdido – e o essencial é que o objeto reencontrado
nunca é o adequado”. (Miller, 1997: 447).

Miller, neste trecho abaixo citado, correlacionada os dois termos lacanianos, de


demanda e desejo, com a entrada em analise:

A entrada em analise precisa ser solicitada, mas o sujeito que faz uma
demanda de analise não sabe o que está pedindo. Deve-se somente aceitar
uma demanda de analise se, mais além da analise que é pedida, o analista
consegue entender o que o sujeito deseja.

É por isso que se necessita não de uma demanda determinada, para que se
aceite um sujeito em analise, mas de um desejo decidido que não tem nada a
ver com o imperativo, com a urgência, a pressão, e que é escutado entre as
palavras. (Miller, 1997:451).

A importância teórica do conceito de desejo é evidente, e por diversas vezes, e


através de diversos autores, foi colocado enquanto o ponto central da
elaboração teórica da psicanálise.

Por outro lado, o conceito de demanda, não foi utilizado por Freud, mas sim
elaborado por Lacan, sendo que ambos representam uma oposição

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fundamental na clinica e em sua elaboração teórica, que pode ser remetida a
sua distinção primordial de significante e significado, à medida em que ele
elabora a ideia do inconsciente estruturado como uma linguagem.

A relação destes dois conceitos, tão fundamentais quanto complexos, em sua


relação com a clinica, tanto em seu inicio como em sua conclusão, deve ser
antes de tudo pensando em função das três estruturas clinicas desenvolvidas
por Lacan: neurose, perversão e psicose.

No entanto, alguns princípios podem ser colocados, de forma preliminar, ou


seja, a necessidade de não se atender a demanda do analisando, ou do sujeito
que inicia uma analise, para que então, a questão do desejo emerja. Em outras
palavras, a demanda deve ser abandonada pelo sujeito.

Além disso, como ficou exemplificado, na fala supracitada de Miller que


correlaciona demanda, desejo e inicio de analise, de que para o analista, sob o
seu ponto de vista, não é necessário uma demanda determinada, mas sim que
este perceba para além da demanda solicitada o desejo do sujeito enquanto
tal, ainda que este desejo, sempre escape às palavras.

Antropologia e Psicanálise

Antropologia (do grego άνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos,


"razão"/"pensamento") é a ciência que se ocupa em estudar o homem

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enquanto espécie primata e a humanidade ou seja seus símbolos e produtos
culturais. Uma ciência que conquistou seu lugar evoluindo de relatos de
vivências e descrições de costumes feitas por viajantes, afirmando a
necessidade da pesquisa de campo e aprofundamento do conjunto de
descrições etnográficas (corpus etnograficos) de todos os povos do mundo que
vinham se acumulando (Laplatine) . Distinguindo-se da sociologia e da
economia política as denominadas ciências humanas e mesmo da psicologia
social enquanto ciência dos costumes e estilos de vida, a antropologia dialoga
com essas ciências afirmando seus próprios métodos e referencial teórico de
diversas procedências. A psicanálise se inclui entre as psicoterapias, e em
relação à antropologia deve-se considerar a "via de mão dupla", tanto desta
para a antropologia como da antropologia para a psicanálise.

A psicanálise, também, pode ser descrita como um procedimento especializado


de psicoterapia, uma teoria da personalidade além de uma teoria da cultura ou
filosofia sobre a natureza humana, onde residem suas maiores contribuições à
antropologia. Segundo Freud, a psicanálise cresceu num campo muitíssimo
restrito. No início, tinha apenas um único objetivo — o de compreender algo da
natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas ‘funcionais’, com
vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento
médico e possuía desde o início a expectativa de participar do desenvolvimento
cultural como um fermento significativo auxiliar ao aprofundamento de nosso
conhecimento do mundo.

Apesar das severas críticas sofridas por alguns setores influentes da


antropologia a exemplo de Alfred Louis Kroeber (1876-1960) o livro "Totem e
tabu, algumas concordâncias entre a vida dos homens primitivos e dos
neuróticos", (1913) o primeiro trabalho de Freud, fora do âmbito da neurologia e
clínica, teve um significativo impacto nas "ciências do homem" instituindo-se
como um marco da relação entre essas disciplinas.

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Saxman Totem Park, Alaska

Géza Róheim (1891-1953) um geógrafo e antropólogo húngaro, posteriormente


psicanalista, considerava o referido livro um grande marco na história da
antropologia, equivalente segundo ele equivalente às obras de Edward Burnett
Tylor (1832-1917), "Primitive Culture" e Sir James George Frazer (1854-1941)
"The Golden Bough". aliás, consta que o próprio S. Freud considerava esses
textos publicados inicialmente na revista Imago (editada por ele) e
posteriormente reunidos no livro "Totem e tabu", juntamente com seu outro
livro, "A interpretação dos sonhos" (1900), as produções básicas de sua obra.
Paulo Cesar Souza, historiador e atual tradutor das obras completas de Freud,
em nota de pé de página de sua tradução de Totem e Tabu recomenda os
textos de Marvin Harris. "The rise of anthropological theory", 1968 (cap. 16) e
Edwin R. Wallace IV, "Freud and anthrological theory", 1983 para uma
avaliação crítica dos ensaios antropológicos de Freud.

Índice [esconder]

1 Antropologia e psicologia

2 Contribuições da psicanálise

3 Perspectivas antropológicas

4 Referências

5 Ver também

Antropologia e psicologia
Tal como referido no início, tradicionalmente na antropologia divide-se em
antropologia cultural e antropologia física, cada uma destas com suas
contribuições específicas para o estudo da mente e comportamento humano.
Em seu processo de construção abrigou diversas correntes de pensamento
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onde, como dito, as contribuições da psicanálise são relevantes. Na
antropologia cultural há de se considerar as aplicações da antropologia às
emoções, saúde e à psicologia enquanto ciência, onde teoricamente, mas não
sem conflitos, a psicanálise se insere. Nessa última um ramo
inquestionavelmente associado à psicanálise possui uma interface
interdisciplinar com o segmento da antropologia que estuda a interação de
processos simbólico-culturais e mentais ou cognitivos e uma área também
comum à psicologia do desenvolvimento, que também analisa a forma como se
realiza a socialização da criança dentro de um determinado grupo cultural.
Essa interdiscplinariedade nos permite compreender melhor como a cultura
modela a cognição humana, a percepção, ou a emoção, sexualidade,
motivação e saúde mental.

Nesse contexto, às contribuições de Bronislaw Malinowski (1884 — 1942)


foram de grande importância. Ao pesquisar os nativos da Ilha de Trobriand,
mais precisamente, como se desenvolvia a sexualidade entre os povos
Trobriandeses, Malinowski concluiu que as crianças desenvolviam sua
sexualidade de maneira mais livre, menos repressora. Dessa forma, ele propôs
estudar em pesquisa de campo, o que Freud afirmava com relação ao
surgimento da cultura. Segundo Malinowski, Freud concebia que o
aparecimento da cultura surge a partir do momento em que ocorre a repressão
à sexualidade e a criança se depara com os simbolismos culturais que
representam a família, mas segundo ele, não necessariamente na forma
universal do "Complexo de Édipo" pois, como elaborou posteriormente, sofre
influências dos padrões de parentesco, da religião entre outros fatores.
Malinowski contribuiu também de maneira significativa à antropologia com um
método pioneiro de investigação: a etnografia.

Outras escolas da psicologia também possuem uma interface com a


antropologia e disputam o domínio da ciência dos costumes da moral e da
conduta humana, tal como compreendida antes do séc. XX, a saber por obras

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de Immanuel Kant, (1724 — 1804) e a persistência de algumas dessas
concepções na esfera jurídica. Um bom exemplo, sem dúvida originado a partir
das contribuições de Burrhus Frederic Skinner (1904 — 1990) é o esboço de
uma antropologia comportamental proposta por Richard Malott no seu artigo
"Comportamento governado por regras e antropologia comportamental" (1988)
a partir das contribuições de Marvin Harris (1907-2002) sobre o materialismo
cultural analisando os costumes indianos, o culto à vaca sagrada e as regras
de controle do comportamento, bem como os diversos tipos de contingências
que as mantém.

Para Marcel Mauss, (1872-1950), praticamente o fundador da etnologia


francesa, tanto a questão da independência relativa entre fatos de diversas
ordens biológicas e psicológicas e fatos sociais como a relação entre os fatos
psíquicos e fatos materiais da sociedade devem ser investigados. Para esse
autor os fenômenos psicológicos atuam como engrenagens (ainda não
dimensionadas) entre o aparelho biológico / fisiológico e a ordem social. Entre
as contribuições da sociologia que se distingue da psicologia coletiva por
delimitar a morfologia (demográfica, estatística e histórica) do social em vez de
lidar com abstração da coletividade, ou seja, da consciência (inspiração
inconsciente) do grupo sem o seu substrato material e concreto.

Entre as principais contribuições das ciências sociais à psicologia segundo


esse autor está a contextualização dos símbolos míticos e morais, um caminho
já trilhado por Wilhelm Wundt (1832-1920) em sua Volkerpsychologie
(Psicologia dos povos) e pelo próprio Sigmund Freud (1856 – 1939) em seu
livro ‘Totem e tabu, alguns pontos de concordância entre a vida mental dos
selvagens e dos neuróticos’ como vimos, apesar das ressalvas especialmente
contra a aproximação dos ritos e crenças religiosas à neurose. Por outro lado,
a noção de psicose, segundo Mauss, é uma importante contribuição da
psicologia às ciências sociais, esclarece alguns fenômenos coletivos como
alucinações e sonhos coletivos associados ao fanatismo, vendeta em grupo,

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mitomania, loucura judiciária, alucinações do culto funerário etc. Destaca ainda
como contribuições da psicologia às ciências sociais as noções de astenia e
vigor mental, atividade simbólica e a noção de instinto

Contribuições da psicanálise
Apesar de alguns autores como Alexander e Selesnick situarem a psicanálise
na perspectiva de desenvolvimento da história da psiquiatria a maioria dos
historiadores da psicologia situam esta no início da evolução da psicologia
clínica. Goodwin , Hothersall

Esta escola é baseada na idéias de Sigmund Freud e outros psicanalistas


acerca dos fenômenos sociais e culturais. Os adeptos dessa abordagem
freqüentemente utilizam técnicas que exploram a relação entre a infância e a
personalidade adulta – é clássica a comparação entre os ditos selvagens e
primitivos, os neuróticos, psicóticos e as crianças utilizando (no caso de Freud)
os relatos etnográficos da época especialmente os citados James Frazer,
Edward B, Tylor e William R. Smith (1846 – 1894) entre outros. A partir dos
trabalhos propostos por Freud os psicanalistas estudam a influência e origem
dos símbolos culturais (incluindo mitos, sonhos e rituais) comparando-os com
os resultados da aplicação da técnica psicanalítica.

Entre os trabalhos de Freud selecionados pelo editor das edições standard de


suas obras completas, James Strachey, cerca de 27 ensaios e/ou livros
escritos entre 1907 e 1940, pode-se destacar:

Totem Park pole 1.jpg

1907 – Atos obsessivos e práticas religiosas.

1908 – Ética sexual civilizada e as modernas doenças nervosas.

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1912 – Totem e tabu, alguns pontos de concordância entre a vida mental dos
selvagens e dos neuróticos

1913 – A ocorrência nos sonhos de material proveniente dos contos de fadas.

1916 – Um paralelo mitológico a uma obsessão visual.

1918 – O tabu da virgindade

1921 – Psicologia de Grupo e a Análise do Ego.

1927 – O futuro de uma ilusão

1930 – O mal estar da civilização.

1932 – A aquisição e o controle do fogo

1938 – Uma nota sobre o anti-semitismo

1939 – Moisés e o monoteísmo

Entre outros psicanalistas que podem ser considerados parte desta escola
estão:

Géza Roheim (1891 –1953), primeiro psicanalista com específicos trabalhos


sobre psicanálise e antropologia (A origem e função da cultura (1945) e
Psicanálise e antropologia (1953)) De acordo com Souza é na sua obra
«Psychoanalysis and Anthropology» (1953) que Róheim desenvolve a sua
noção de cultura, trabalhada na sua diferença quer contra a noção filogenética
de cultura proposta por Freud em «Totem e Tabu», quer contra a noção de
cultura proposta pela antropologia culturalista. Em termos simples, podemos
dizer que, para Róheim, a cultura humana é a conseqüência da infância
prolongada da espécie humana, e que as áreas culturais decorrem da situação
infantil típica que reina em cada uma das culturas humanas.

Erich Fromm (1900 —1980) que destacou-se na área pela proposição dos
estudos de personalidade como resultado de fatores culturais e biológicos e
aproximação com Marxismo possuindo diversos trabalhos sobre o cristianismo,
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religiões orientais (onde se inclui o célebre Zen Budismo e psicanálise em
parceria com D.T. Suzuki and Richard de Martino) posteriormente integrante da
Escola de Frankfurt com importantes trabalhos na área de psicologia social
onde se situam os de Herbert Marcuse, (1898 —1979), Erik Erikson (1902 —
1994), assim como Róheim psicanalista do círculo de influência de Melanie
Klein (1882 — 1960). Pode ser considerado integrante da tendência culturalista
da psicanálise americana. Possui alguns trabalhos sobre a influência da cultura
especialmente à identidade e relações entre a infância e sociedade, tema título
de seu livro publicado em 1950, após o período em que conviveu na reserva
dos índios Sioux na década de 1930. Tal como Fromm, relaciona a psicanálise
com a história, política, filosofia e teologia publicando livros sobre Martinho
Lutero, Gandhi e Hitler, contextualizando culturalmente suas biografias.

Dissidentes da psicanálise, Carl Gustav Jung (1875 - 1961), apesar de


formalmente reconhecidos como tal, não podem deixar de ser considerados. O
próprio Freud reconhece que seu primeiro estímulo para escrever os ensaios
reunidos como Totem e tabu (1912), talvez sua principal contribuição à
antropologia, vieram de Wundt e Jung. Entre os trabalhos relevantes de Jung
para a antropologia encontram-se seus estudos sobre a religião ocidental -
oriental, a parceria com o sinólogo Richard Wilhelm (1873-1930) e teoria dos
símbolos e inconsciente coletivo, criticado mas tomados com referência no
trabalho de Claude Lévi-Strauss (1908) sobre o significado dos mitos

Pelo fato de muitos cientistas sociais americanos e europeus, durante os dois


primeiros terços do século 20 possuirem certa familiaridade com a teoria
psicanalítica, fica difícil determinar com precisão quais devem ser considerados
exemplos de antropólogos psicanalistas - entre estes os integrantes dos
estudos sobre as teorias da personalidade e cultura - a exemplo de Clyde
Kluckhohn (1905, - 1960) e Geoffrey Gorer (1905-1985). Este último inclusive
utilizou técnicas de entrevista baseada em entrevista clínica e testes projetivos,

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como o Thematic Apperception Test (TAT) e o Rorschach em seus estudos
etnográficos.

Destaque especial deve ser dado aos praticantes que se voltaram à pesquisa
entre doença mental e cultura (cross-cultural) como Georges Devereux (1908 -
1985) considerado pioneiro da etnopsiquiatria e etnopsicanálise juntamente
com Geza Róheim e Gananath Obeyesekere, professor da Universidade de
Princeton e do Sri Lanka (sua terra natal), conhecido por seus trabalhos sobre
Depressão, Budismo e Psicanálise, onde considera a "via de mão dupla" dos
povos estudados e teorias científicas.

Perspectivas antropológicas
Ainda sobre a relação entre a vida mental dos selvagens e dos neuróticos é o
referido antropólogo Levi-Strauss que nos apresenta a seguinte proposição: a
comparação entre a psicanálise e a cura xamânica facilita o entendimento
dessa última. Considera também a possibilidade do estudo do xamanismo,
inversamente, vir a ser utilizado para elucidar pontos obscuros da teoria de
Freud, em especial as noções de mito e inconsciente.

A teoria da cultura como um conjunto de sistemas simbólicos, à frente dos


quais situa-se a linguagem e as regras matrimoniais decerto permite uma
aproximação desta com a teoria psicanalítica. Contudo ainda segundo esse
autor a psicanálise e a análise estrutural divergem em um ponto essencial. Ao
longo de toda sua obra, Freud oscila sem chegar a escolher – entre uma
concepção realista e uma concepção relativista do símbolo. Para a primeira,
cada símbolo teria uma significação única. Poderiam listar-se todas as
significações num dicionário, que como Freud sugere, não seria muito diferente
de uma “chave dos sonhos”, menos no tamanho. A outra concepção admite
que a significação de um símbolo varia em cada caso particular e recorre às
associações livres para a fixar. De forma ainda ingênua e rudimentar, ele
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reconhece, portanto, que o símbolo tira sua significação do contexto, da sua
relação com outros símbolos, que por sua vez só adquirem sentido
relativamente a ele. Esta segunda via pode ser fecunda, desde que a técnica
simplista das associações livres ocupe o lugar que lhe compete num esforço
global que visa reconstituir a história pessoal de cada sujeito, a do seu meio
familiar e social, a sua cultura... Procuraria assim compreender-se um indivíduo
do modo como o etnógrafo procura compreender uma sociedade.

E o grande enigma permanece sendo o símbolo. Jung nos chama atenção


para o seguinte: Que o uso consciente que fazemos do símbolo é apenas um
aspecto de um fato psicológico de grande importância, que é: o homem
também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de
sonhos, e que há um limite de evidências e de convicções que o conhecimento
consciente não pode transpor. Essa é a característica universal onde a
psicanálise tenta se situar como um mito moderno, a unidade comum a todas
as culturas que Jung designa como inconsciente coletivo e que tenta atingir
segundo Lévi-Strauss depressa demais ignorando os aspectos morfológicos,
estatísticos e históricos dos grupos que elaboram os sistemas culturais no dizer
de Mauss (o.c.)

Ainda na perspectiva das contribuições que a antropologia pode trazer à


psicanálise situam-se as questões de caracterizar o próprio saber e fazer da
psicanálise, a relação de Freud com a cultura e sabedoria alemã, em especial
com a Viena de sua época, além do que já foi mais amplamente discutido, sua
relação com a cultura judaica. Sobre essa última questão vale citar a
observação feita pelo próprio Freud no prefácio de Totem e tabu para língua
hebraica, um livro que trata da origem da religião e da moralidade, embora não
adote um ponto de vista judaico e não faça exceções em favor do povo judeu.
O autor espera, contudo, estar de acordo com seus leitores na convicção de
que a ciência sem preconceitos não pode permanecer estranha ao espírito do

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novo judaísmo, que algum dia, sem dúvida, se tornará acessível ao espírito
científico.

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Este material é parte das aulas do Curso de Formação em Psicanálise.
Proibida a distribuição onerosa ou gratuita por qualquer meio, para não alunos
do Curso. Os créditos às obras usadas como referências ou citação constam
nas Referências Bibliográficas.

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