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As Duas Verdades

A proposta é considerar as Duas Verdades, um assunto que é muito mais do que apenas de caráter
filosófico, algo para desafiar nossas mentes; trata-se de algo incrivelmente relevante para nossa vida
diária. Para ver como há um descompasso, entre a realidade de como as coisas existem e como
percebemos que elas existem, e ver como esses dois níveis de realidade convencional e suprema se
entrelaçam em cada coisa que fazemos, pode trazer riqueza para nossas vidas e tem o potencial para
realmente nos ajudar a lidar com os nossos problemas.

Podemos nos surpreender com quantas maneiras diferentes essas duas verdades operam em nossas
vidas. Não é como se uma fosse um ponto de debate puramente teórico ou a outra fosse pura
fantasia; ambas funcionam em seu nível particular. No nível convencional, nossas vidas têm uma
parcela de alegria, satisfação, dor e desafios, tudo interligado por cadeias de causa e efeito em
constante evolução, que dominam o que fazemos e quem somos. Tudo isso é real. É real porque é
experimentando e porque vemos operando dentro da vida de todos que encontramos. No nível
relativo, precisamos trabalhar nas habilidades que temos, para aproveitar ao máximo as
circunstâncias que encontramos todos os dias para ter uma vida pacífica e calma.

Mas, para realmente sermos eficazes, precisamos entender o que está acontecendo num nível mais
profundo. Além das dependências causais convencionais que governam nossas vidas, existe um
modo fundamental de existência que todas as coisas e eventos compartilham; essa é a verdade
suprema. Nesse nível, todas as coisas se fundem no mesmo gosto além da adversidade. Achamos
absolutamente fascinante que, além da miríade de coisas que compõem o nosso universo, esteja este
nível mais profundo de realidade, onde não há diversidade, nem diferença. Chegar a uma
compreensão muito superficial disso é uma enorme ajuda para ver como e por que as coisas
acontecem da maneira como acontecem e, assim, começar a superar as dificuldades que
enfrentamos agora.

É por isso que as duas verdades são uma parte vital da jornada espiritual que todos devemos
empreender se quisermos superar a confusão e a dor do mundo. Com base nesses dois níveis de
realidade, toda a prática budista é desenvolvida. É extremamente claro, por exemplo, que
precisamos de uma compreensão das duas verdades se quisermos realmente compreender o
primeiro ensinamento do Buda, As Quatro Nobres Verdades, e se quisermos dar o primeiro passo
sério como budista, refugiando-nos. Como Sua Santidade o Dalai Lama disse:

Somente quando você tem uma compreensão da natureza e das relações dessas Duas Verdades,
você está em posição de entender completamente o significado das Quatro Nobres Verdades. E uma
vez que você entenda as Quatro Nobres Verdades, então você tem uma base sólida sobre a qual
desenvolver uma boa compreensão do que significa Refugiar-se nas Três Joias.

O Dalai Lama ecoa habilmente as palavras de tantos outros mestres do passado, como os grandes
mestres indianos Nagarjuna e Chandrakirti. Na verdade, as Duas Verdades não são apenas um
assunto vital dentro do Budismo, mas também nas tradições filosóficas não budistas. Muitos
filósofos tentam explicar a disparidade entre a forma como as coisas existem e como as pessoas
comuns as percebem, e enfatizam quão vital é esse entendimento na solução de nossos problemas.

Não há peça mais crucial do quebra-cabeça do que as Duas Verdades. Estamos tentando
desenvolver nosso lado emocional e compassivo e nosso lado inteligente e lógico: o "método" e a
"sabedoria", que o Budismo tantas vezes se refere, que são como as duas asas de um pássaro, ambas
necessárias para voar. Num nível, estamos aumentando nosso potencial positivo e eliminando
nossas qualidades negativas. Isto requer a mente convencional para lidar com verdades relativas.
Também estamos tentando obter a sabedoria que irá superar a raiz do nosso sofrimento, o que
requer que a mente explore a natureza última das coisas e eventos. Antes de chegar bem longe, é
lógico que devemos ter clareza sobre esses dois modos de existência - não apenas a disparidade
entre eles, mas também sua similaridade.

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