Você está na página 1de 67

ÍNDICE

Capítulo 1
RELIGIÃO
1.1 – A respeito da religião
Como encarar a Religião.......................................................................11
Religião e mandamentos.......................................................................13
A lógica em religião..............................................................................14

1.2 – Missão da religião


Exclusão do temor.....................................................................................15
Paz e segurança.....................................................................................16
Religião progressista............................................................................18

1.3 – A religião e o universalismo


A verdadeira religião............................................................................20
Religião à luz da verdade (Religião “Daijo”)........................................20
A verdadeira religião “Daijo”..................................................................21
A religião precisa ser universal............................................................23

1.4 – Tipos de religião


Práticas ascéticas...................................................................................24
Religião antiga e religião moderna.......................................................25
O que é uma religião nova.....................................................................27
Religiões novas e religiões tradicionais...............................................30
Religião e seitas.....................................................................................31
Religião celestial e religião infernal..........................................................32
1.5 – Fé
Fé e religião...........................................................................................35
Insensibilidade em relação à fé................................................................36
Fé “Shojo”..............................................................................................37

1.6 –Religião e milagre


Benefícios materiais...............................................................................41
Milagre e religião..................................................................................44
Religião é milagre..................................................................................46
Religião é milagre..................................................................................47
Análise do milagre..................................................................................50
Capítulo 2
O MUNDO ESPIRITUAL
2.1 – Prefácio
Prefácio do livro “O Mundo Espiritual”..............................................55

2.2 – A natureza e o Mundo Espiritual


O poder da Natureza.................................................................................57
Os elementos fogo, água e solo...............................................................60

2.3 – Mundo Espiritual


O mundo desconhecido........................................................................63
A existência do Mundo Espiritual............................................................64
A situação do mundo contemporâneo
e o Mundo Espiritual..................................................................65
2.4 – Constituição do Mundo Espiritual
Mundo Espiritual e Mundo Material.....................................................68
Constituição do Mundo Espiritual........................................................71

2.5 – Atuação do Mal


Atuação dos demônios...........................................................................84
Derrota do demônio...............................................................................87
Religião e obstáculo...............................................................................88

2.6 – Manifestação espiritual


Incorporação..........................................................................................92
Incorporação e encosto de espírito encarnado....................................93

2.7 – Doença e espírito


As diversas expressões faciais após a morte.........................................97
Doença e espírito...................................................................................101
Os japoneses e as doenças psíquicas...................................................102

2.8 – Elo espiritual


Elo espiritual.......................................................................................107
A respeito dos sonhos..........................................................................114

2.9 – Origem das calamidades


As três grandes calamidades
e as três pequenas calamidades.................................................116
A tempestade é uma calamidade humana.........................................120
Considerações espirituais sobre os incêndios.......................................123
Incêndio e Johrei.................................................................................125

A RESPEITO DA RELIGIÃO

COMO ENCARAR A RELIGIÃO

Tenho observado que, quando as pessoas analisam a Religião, não


compreendem o ponto mais importante: sua posição.
A Religião está acima de qualquer outro valor. A Filosofia, a Moral e a
Ciência ocupam uma posição inferior. Entretanto, por ignorância dessa verdade,
usam-se expressões como “Religião Filosófica” e outras parecidas, baseadas na
interpretação filosófica da Religião, o que é absolutamente errado. Explicar a
Religião sob o ponto de vista da Filosofia, é tentar explicar algo que não possui
forma através de algo que a possui. A Religião foi criada por Deus, e a Filosofia,
pelos homens. A Moral também difere da Religião. Tal como a Filosofia, ela foi
criada pelo homem, mas há uma diferença entre ambas: a Filosofia é de caráter
ocidental e científico, ao passo que a Moral é de caráter oriental e psicológico.
Comparada com a Filosofia e a Moral, a Ciência é muito mais materialista,
sendo patente a distância que há entre ela e a Religião. Por todas essas razões,
podemos perceber como está errado o conceito que os intelectuais da atualidade
têm sobre esta última.
Todavia, se analisarmos mais profundamente, veremos que a Filosofia é o
conjunto das teorias criadas pelo homem até hoje, e por isso, quando a
comparamos com a Religião, a importância desta revela-se por si mesma. Se
tentamos descobrir, através da Filosofia, o ponto mais profundo de uma
questão, encontramos barreira e nada conseguimos. Uma prova disso é que,
quanto mais pesquisamos através dela, mais confusos ficamos. Uma dúvida
puxa outra, e na maioria das vezes não recebemos resposta para as nossas
perguntas. A conseqüência é nos cansarmos facilmente da vida, havendo
pessoas que chegam ao extremo de pensar que a única solução para tal angústia
é o suicídio. Esse é um fato que ninguém desconhece.
Quanto à Moral, não se pode negar que tem contribuído muito para o bem
da sociedade. Entretanto, embora ela tenha surgido com o objetivo de melhorar
a conduta do homem por meio de códigos, não conseguiu dominar-lhe
totalmente o espírito, pois também nasceu do cérebro dos intelectuais. No
antigo Japão, talvez fosse possível aceitá-la, mas hoje em dia, tendo a Moral
caráter oriental e estando tudo dominado pela cultura ocidental, ela já não
consegue convencer as pessoas e, obviamente, tende a desaparecer.
A respeito da ciência materialista, que nós sempre criticamos, não há
necessidade de maiores comentários. Atualmente, falar em cultura é o mesmo
que falar em Ciência; interpreta-se progresso cultural como progresso científico.
É duvidoso, porém, que o homem tenha se tornado mais feliz com o progresso
da Ciência. Ao contrário, somos levados a pensar que a infelicidade cresceu
proporcionalmente a ele. Ante a terrível ameaça de guerra nuclear que paira
sobre a humanidade, não é preciso dizer mais nada.
Evidentemente, o desejo dos homens, excetuando-se uma parte, é alcançar a
felicidade. A expansão e o progresso da Ciência também têm esse objetivo. Mas
é muito triste constatar que na realidade acontece justamente o oposto. Urge,
portanto, averiguar a causa disso.
Se a Filosofia, a Moral e a Ciência, como acabei de expor, não têm força
suficiente para resolver o problema, o que é que poderá resolvê-lo a não ser a
Religião? Certamente, os intelectuais têm consciência do fato, mas na verdade,
enquanto o consenso geral tomar como padrão as religiões tradicionais, acho
que o problema continuará sem solução. Dessa forma, não é possível prever
quando se concretizará a felicidade do ser humano. Vemos, pois, que são muito
sombrias as condições da sociedade atual.
Todavia, neste mundo resignado, apareceu a nossa Ultra-Religião, com
enorme poder salvador. Talvez seja difícil aceitá-la, pois ninguém poderia
imaginar uma religião semelhante, mas o fato é que não se pode negar aquilo
que é evidente. Uma vez conhecendo a sua verdadeira essência, como os cegos
que experimentam a alegria de ver a luz, todos despertarão. A prova do que
dizemos está nos relatos cheios de alegria que enchem as nossas publicações.
Por isso, aqueles que desejam a verdadeira felicidade, façam uma experiência,
entrem em contacto com a nossa Igreja! Por mais saborosa que seja uma comida,
é impossível avaliarmos seu sabor apenas ouvindo explicações sobre ela ou
olhando-a; antes de mais nada, é preciso prová-la. Tenho a certeza de que todos
ficarão satisfeitos com o sabor jamais experimentado até então.
29 de abril de 1950

RELIGIÃO E MANDAMENTOS

Assim como a Política, as religiões também podem ter características


liberais ou despóticas. A maioria das religiões tradicionais é do segundo tipo.
Os inúmeros mandamentos que possuem, preconizando o que deve ser feito,
comprovam-no. Elas são de caráter “Shojo”, ao contrário da Igreja Messiânica
Mundial, que é de caráter “Daijo”, liberal, e que quase não tem mandamentos.
Os mandamentos religiosos assemelham-se às leis da sociedade. É falso que
os homens só conseguem conter o mal pela força da Lei. Se um homem for
realmente íntegro, esteja ele onde estiver, mesmo num local onde não haja leis
moderadoras, jamais praticará o mal, porque é um homem verdadeiro. Os
mandamentos constituem as leis das religiões. Caso só se consiga um
comportamento bom e correto por meio deles, é porque a Fé professada não é
verdadeira. Apesar dessa observação, sabemos que no tempo dos homens
primitivos e selvagens, sendo bem precária a inteligência humana, não havia
condições de se compreender realmente a Religião. Por isso foi necessário
prevenir o mal através dos mandamentos.
Está claro, pois, que a religião de uma época altamente civilizada, na qual os
homens conseguirão evoluir a ponto de compreenderem profundamente a
Vontade Divina, prescindirá dos castigos estabelecidos pelos mandamentos. Ela
será de fato uma religião capaz de construir o Paraíso Terrestre, mundo de
autêntica e eterna paz.
17 de dezembro de 1949

A LÓGICA EM RELIGIÃO

O critério para distinguirmos se uma religião é ou não é boa e correta, o


método mais simples e que apresenta menos margem de erros, consiste em
averiguar se ela é de natureza lógica ou ilógica. Nesse ponto, as religiões
mediúnicas são perigosas; entretanto, não estou dizendo que todas elas devam
ser evitadas. Na verdade, entre os fundadores de religiões que hoje são
consideradas grandes, muitos eram médiuns. Mesmo se tratando de religiões
mediúnicas, cada uma é boa ou má de acordo com a sua própria natureza.
Sendo assim, para distinguir as religiões, o melhor é começar a analisá-las pelo
senso comum.
23 de julho de 1949

MISSÃO DA RELIGIÃO

EXCLUSÃO DO TEMOR

Conforme venho repetindo, o objetivo de nossa Igreja é a salvação da


humanidade. Em poucas palavras, significa eliminar toda espécie de temor da
sociedade humana.
Evidentemente, os maiores temores do homem vêm a ser o da doença, o da
pobreza e o dos conflitos. Dentre os três, o pior, indiscutivelmente, é o temor da
doença; nada tão ameaçador para o ser humano. Certamente, durante sua vida,
ninguém consegue livrar-se dessa ameaça. Com o progresso da civilização, ao
invés de diminuir, ela tende até a aumentar. O segundo temor é a pobreza,
geralmente motivada pela própria doença.
Atualmente, julga-se que quase todas as doenças são causadas por vírus. A
doença nunca foi tão temida como nos dias atuais, motivo pelo qual estão se
tomando as medidas consideradas adequadas, tais como atestados de saúde,
vacinação e radiografias, entre outras. Todas as organizações criadas para evitar
as doenças, ou seja, centros de saúde, hospitais públicos e particulares, etc.,
dispõem de muitos recursos, e é realmente grande o sacrifício do povo para
sustentar as incalculáveis despesas e o trabalho dispendido.
A vultosa quantia empregada no tratamento de uma doença e o prejuízo
sofrido com a impossibilidade de trabalhar, principalmente quando o enfermo é
o chefe da casa, acarretam as maiores dificuldades econômicas para os seus
familiares. Isso constitui uma das principais causas do surpreendente aumento
de crimes que vêm sendo cometidos após a guerra. Naturalmente esse fato não
deixa de ser conseqüência da guerra, cujos danos são passageiros; a doença, no
entanto, assume maior gravidade, por ser permanente.
A agitação por que a humanidade passa, atualmente, revela a intensidade do
seu temor à guerra. Isto porque as relações entre os países tendem a se agravar.
Até hoje, o homem viveu num mundo de sofrimentos ininterruptos. Entretanto,
como a existência de Deus é uma realidade, Seu incomensurável amor não
permitirá que a humanidade permaneça por longo tempo nessa condição.
Indubitavelmente, esta época de agonia terá um fim, para dar lugar ao
magnífico Paraíso Terrestre. Estamos absolutamente convictos disso e,
imbuídos de tal convicção, prosseguimos com fé inabalável. Que outro sentido
poderia ter a profecia de Jesus sobre o advento do Reino dos Céus a não ser a
predição desse acontecimento? Por essa razão, estou convencido de que a
verdadeira missão da Religião é eliminar os três grandes temores aqui citados.
7 de janeiro de 1950

PAZ E SEGURANÇA

As pessoas acham que as expressões “paz” e “segurança” limitam-se apenas


ao espírito, mas esse modo de pensar constitui um grande erro, uma vez que,
para obtermos a verdadeira paz e segurança, não podemos excluir a matéria.
Pensem bem: se houver uma que seja das três grandes desgraças – doença,
pobreza e conflito – onde estará a paz? Quando as pessoas estiverem certas de
que, durante toda a sua vida, não terão preocupações com doenças, não ficarão
pobres, nem haverá possibilidade de se envolverem em conflitos, aí sim, elas
terão a verdadeira paz e segurança. Entretanto, no mundo contemporâneo,
possuir essas três condições ao mesmo tempo não passa de utopia. Diríamos
que provavelmente não existe uma pessoa sequer, no mundo inteiro, que possa
afirmar possuí-las.
Observando este mundo, logo percebemos que nada ocorre conforme
desejamos; as coisas más acontecem incessantemente, e as boas, só de vez em
quando. O mundo em que vivemos é a própria imagem do inferno.
No que se refere à saúde, por exemplo, não sabemos quando vamos ficar
doentes. Um simples resfriado pode acabar logo, como também perdurar e gerar
uma doença terrível. Portanto, não podemos estar despreocupados, pensando
que um resfriado não é nada. Como diz a Medicina, os vírus estão em toda
parte, e por isso é impossível saber quando vamos contrair uma doença
contagiosa ou a que hora um bacilo vai nos atacar. Conseqüentemente, as
autoridades são muito exigentes em matéria de higiene, aconselhando-nos a
conservar a limpeza, não comer nem beber em demasia, fazer gargarejo ao
voltar da rua, lavar as mãos antes das refeições, tomar cuidado com os
alimentos e outras medidas semelhantes. São tantas as advertências, que até
ficamos saturados. Levar tudo isso em consideração é o mesmo que viver sob a
constante ameaça de todos os tipos de perigos.
Quanto à pobreza e aos conflitos, na maior parte dos casos provêm de
problemas financeiros, que se originam do desequilíbrio entre o espírito e a
matéria. Assim, é óbvio que, se não conservarmos o espírito e o corpo sadios,
jamais conseguiremos a tranqüilidade absoluta. Talvez as pessoas achem
impossível consegui-la; contudo, se pudermos realmente obtê-la, não será uma
maravilhosa Graça do Céu? Eu afirmo, sem qualquer sombra de dúvida, que é
possível alcançar essa Graça.
10 de dezembro de 1952

RELIGIÃO PROGRESSISTA
Observando atentamente a sociedade atual, constato que tudo progride
rapidamente; não há nada que não esteja acompanhando esse progresso.
Entretanto, por incrível que pareça, a Religião, entidade que tem a mais
profunda relação com a humanidade, continua da mesma forma, não
apresentando nenhum progresso. Pelo contrário. Como prova, as religiões
tradicionais nos ensinam a voltar ao início, ao ponto de partida dos seus
fundadores. Ora, se devemos voltar à origem, é porque saímos do caminho
certo; caso o fato se repita várias vezes, não progrediremos nada, ficando em
total desacordo com a cultura. Tais religiões nos mostram isso claramente na
medida em que perdem o poder de atrair pessoas e teimam em permanecer na
situação em que se encontram.
De fato, todas as religiões que existem, sofreram perseguições e pressões na
época de sua fundação. Podemos mesmo dizer que esse é o destino de toda
religião nova. Apesar disso, com fôlego renovado, expandiram-se
vigorosamente, passando por épocas maravilhosas. A verdade, porém, é que,
com o tempo, a maioria das religiões tende a estacionar. Vamos analisar por que
isso acontece.
Sem dúvida alguma, as religiões entram em decadência por não
acompanharem a marcha do tempo. Quando cumprem rigorosamente os
ensinamentos do seu fundador, considerando-os como as mais sublimes e
importantes determinações, mas não dão atenção a outros fatores, tornam-se
anacrônicas. Como a brecha vai ficando cada vez maior, passam a ser acusadas
de incapazes, conforme está ocorrendo atualmente.
Se todas as coisas estão sujeitas à Lei de Causa e Efeito, faz-se
absolutamente imprescindível que as religiões tradicionais reflitam muito sobre
o assunto, pois não há motivos para elas continuarem eternamente
transcendentais. Um dos princípios básicos de nossa religião é que tudo deve
progredir e acompanhar o tempo. Essa é a razão pela qual não damos atenção às
formalidades das religiões tradicionais, dispensando o tempo e os gastos que
elas requerem. Na realidade, as formalidades não trazem benefício algum.
Assim, não há motivo para as divindades ficarem contentes com elas.
Em face do que dissemos, a missão da verdadeira religião é dar orientações
no sentido de melhorar, cada vez mais, a vida do homem atual. Resumindo, só
uma religião progressista poderá realmente salvar a humanidade.
5 de novembro de 1950

A RELIGIÃO E O UNIVERSALISMO

A VERDADEIRA RELIGIÃO

A verdadeira religião deve fundamentar-se no universalismo. Não será


verdadeira se for limitada a um país, povo ou classe, porque tal limitação
provoca disputa de poderes, o que contraria a própria essência das religiões,
cuja missão é eliminar conflitos e promover a paz. Qualquer hostilidade
significa afastar-se do objetivo da Religião. Por isso, é estranho que a História
registre tantas lutas religiosas.
Chamamos “Shojo” a religião limitada, e “Daijo”, a de objetivos universais.
Logo se vê que só esta última pode ser considerada verdadeira.
5 de novembro de 1949

RELIGIÃO À LUZ DA VERDADE


(RELIGIÃO “DAIJO”)

Embora se saiba que existe a classificação “Daijo” e “Shojo” referente às


religiões – classificação usada principalmente no budismo – até nossos dias
ainda não foi divulgada uma explicação radical sobre o assunto. Procurarei
expor o meu ponto de vista.
Resumindo, “Daijo” significa Natureza e refere-se às atividades de criação e
desenvolvimento de todas as coisas existentes no Universo. Portanto, “Daijo”
abrange tudo, nada lhe escapa. De acordo com este sentido, falarei não sobre o
“Daijo” búdico, mas sobre o “Daijo” universal. Isto é, não somente Religião,
Filosofia, Ciência, Política, Educação, Economia e Arte, mas também a guerra e
a paz, o bem e o mal.
Podemos observar uma ordem natural nas atividades de todo o Universo.
Considera-se realmente homem o indivíduo que reconhece a obediência à
ordem como fator natural do progresso. Por essa razão, o desvio da ordem
acarreta, infalivelmente, obstáculos, estacionamento ou destruição. A
obediência ou a desobediência à ordem constrói ou destrói, e a realidade mostra
que no mundo sempre tem ocorrido construção e destruição. As religiões
podem servir como exemplo. Embora os homens as condenem, tachando-as de
supersticiosas ou heréticas, elas progredirão se forem necessárias à
humanidade; caso contrário, submeter-se-ão à seleção natural. Devemos confiar
até certo ponto na ação da Natureza. Se as religiões tiverem realmente vida e
valor, a perseguição humana contribuirá para o seu progresso. Temos um
exemplo vivo no cristianismo. Quem objetará contra a sua predominância
atualmente, apesar da crucificação do seu fundador?
O homem moderno possui uma visão demasiadamente estreita e curta, cujo
erro, creio eu, deve ser analisado seriamente.
25 de outubro de 1949

A VERDADEIRA RELIGIÃO “DAIJO”

É do conhecimento de todos que há religiões de caráter universal e outras


de caráter restrito. As opiniões dos religiosos e filósofos a esse respeito são
extremamente ambíguas e quase se acham desviadas da Verdade. Portanto,
exponho o assunto, aqui, de maneira mais clara.
Primeiramente, precisamos conhecer a natureza de todas as religiões
existentes no mundo. Elas diferem entre si, possuindo suas próprias formas e
meios doutrinários, baseados nos princípios dos respectivos fundadores. Basta
uma simples reflexão para sentirmos o absurdo da existência de seitas, com
características próprias, dentro de religiões consideradas universais, como o
budismo, o cristianismo e, no Japão, o xintoísmo.
Pensemos no que vem a ser a Religião. Se ela tem por princípio, como
sabemos, o amor fraternal e o espírito de conciliação e paz, todas as religiões
devem possuir um único objetivo. Não seria sensato, portanto, estabelecer
unidade nos sistemas doutrinários? A separação influi na ideologia da
humanidade, tornando-se uma das causas da confusão social. Como a força dos
que estão ao lado da Religião, ou seja, do bem, é dispersada, os homens perdem,
também, a resistência contra o poder do mal.
A realidade mostra freqüentemente a vitória do mal. No fim, Deus vencerá,
por ser onipotente, mas imaginemos a luta que terá de ser travada pelo bem.
Como o mal é prepotente e controla quase tudo, fica à espreita, aproveitando a
menor oportunidade para influenciar-nos. Parece que as conhecidas relações
entre Cristo e Satanás, e entre Buda e Daiba (Devadatta), não sofreram nenhuma
modificação até a presente data.
Vemos, portanto, que a Religião precisa ter maior poder que o mal; do
contrário, não conseguirá transformar este mundo num mundo feliz, onde
triunfe o bem. Somente assim haverá unidade religiosa, dando lugar a um
mundo de felicidade, isento de inquietações.
Será uma obra difícil, mas não impossível. Isso, porque está próximo o
advento do Paraíso Terrestre, que é o objetivo de Deus. A condição básica para a
sua concretização é substituir o espírito restrito pelo universal, ou melhor,
desenvolver uma superatividade cultural que abranja todos os setores: Religião,
Ciência, Política, Economia, Arte, etc. É também necessário que, para
desempenhar a função de liderança, apareça um gigante com poder e sabedoria
sobre-humanos.
6 de janeiro de 1954
A RELIGIÃO PRECISA SER UNIVERSAL

Não adianta uma religião ter todas as condições; se não tiver base universal,
não será uma religião verdadeira. Caso ela se restrinja a uma nação ou povo,
ocorrerá aquilo que vemos no mundo atual: surgirão motivos para conflitos.
Cada qual se orgulhará da superioridade da sua religião e rebaixará as outras,
acabando por haver atritos. Pode acontecer, também, que as religiões sejam
utilizadas na política governamental. A exploração exagerada do xintoísmo pelo
exército japonês, durante a Segunda Guerra Mundial, e as Cruzadas da Europa
exemplificam o que estamos dizendo.
Os exemplos não são poucos, e a causa está no fato de que as religiões se
restringiam a determinados povos. Mas não havia outro recurso, pois, naquela
época em que a civilização ainda estava engatinhando, não existiam os rápidos
meios de transporte que existem atualmente, e as relações internacionais
estavam limitadas a pequenas áreas. Hoje, tudo se tornou mundial e
internacional, e as religiões também deveriam seguir esse caminho. É por isso
que passamos a chamar nossa Igreja de Igreja Messiânica Mundial, e não mais
de Igreja Japonesa, como antes.
11 de fevereiro de 1950

TIPOS DE RELIGIÃO

PRÁTICAS ASCÉTICAS

Desde a antigüidade, a fé e as práticas ascéticas são vistas pelo povo como


se tivessem íntima relação entre si.
As práticas ascéticas tiveram origem no bramanismo, que predominava na
metade da antiga Índia, antes do nascimento de Sakyamuni (Buda). A pintura e
a escultura “Arhat” revelam a crueldade dessas práticas. Por exemplo: os
praticantes suspendiam algo só com um braço, sentavam-se entre a bifurcação
de dois galhos, ou chegavam ao cúmulo de praticar o “Zazen” (meditação
profunda, com as pernas cruzadas) sentados numa tábua cheia de pregos.
Houve religiosos que se mantiveram anos seguidos na mesma posição. Eles
acreditavam que, perseverando em tais sofrimentos, conseguiriam atingir a
Iluminação, ou melhor, sentir-se-iam iluminados.
É muito famoso o martírio de Dharma, o qual abraçou a Verdade no
momento em que se sentiu profundamente iluminado pelo luar, que ele estava
contemplando numa noite de prática ascética. Segundo a tradição, Dharma não
tem pernas porque elas ficaram atrofiadas, deixando de funcionar durante os
nove anos que ele passou sentado diante de uma parede, em estado de
meditação.
Dizem que ainda há muitos ascetas brâmanes na Índia, os quais chegam a
operar milagres. A meditação do falecido Rabindranath Tagore, nas profundezas
de uma floresta, e o jejum praticado diversas vezes por Mahatma Gandhi devem
ser práticas ascéticas brâmanes.
A ascese era amplamente praticada na época em que surgiu Sakyamuni.
Não contendo sua compaixão por aqueles que se entregavam ao martírio da
autotortura, ele pregou a possibilidade de qualquer pessoa tornar-se mais
iluminada através da leitura das escrituras búdicas. Emocionado com a
eminente virtude de Sakyamuni, o povo hindu fez dele objeto de adoração.
Assim, pela lógica, os budistas que praticam a ascese estão contrariando as
boas-novas de Sakyamuni.
Não posso concordar com os religiosos japoneses que ainda persistem nas
práticas ascéticas brâmanes. Isto porque os fiéis da nossa Igreja abraçam a
Verdade, seguem o Caminho e conseguem cumprir sua missão sem fazer prática
ascética de espécie alguma.
25 de janeiro de 1949

RELIGIÃO ANTIGA E RELIGIÃO MODERNA

Embora simples, os princípios religiosos utilizados por mim na obra


salvadora que venho empreendendo, diferem grandemente dos princípios
religiosos existentes até hoje.
Os antigos fundadores ou pregadores de religiões adotavam a frugalidade na
alimentação, vestiam-se sumariamente e levavam uma vida simples. Para se
aperfeiçoarem, faziam penitências, permanecendo isolados em montanhas
quase inacessíveis, debaixo de cascatas (ato considerado purificador), lendo os
livros sagrados dia após dia.
Dessa maneira, entre Verdade, Bem e Belo, este último era negligenciado.
Poucos religiosos se interessavam pelas artes. O milagre era vagamente
conhecido; entretanto, eles tinham especial consideração pelos princípios dos
livros búdicos, apreciavam as formalidades e as celebrações religiosas e
procuravam salvar a humanidade unicamente com a pregação.
Essa análise limita-se ao budismo. Tomei-o como exemplo porque o
xintoísmo e o cristianismo são religiões modernas. Deixo de fazer referência ao
antigo xintoísmo, anterior à introdução do budismo, porque quase não consta
da História nem da tradição.
O trabalho que estou realizando, é bem diferente do que era feito pelos
antigos. Em primeiro lugar porque, objetivando o mundo isento de doença,
pobreza e conflito, proclamei, audaciosamente, a construção do Paraíso
Terrestre, o que já é suficiente para evidenciar a grande diferença entre a Igreja
Messiânica Mundial e as demais religiões.
Como primeira meta para atingir o nosso objetivo, estamos libertando o
homem do seu maior inimigo – a doença – e os resultados são cada vez mais
evidentes e indiscutíveis. A condição fundamental para a concretização do
Paraíso Terrestre, é ser saudável de corpo e alma, o que, por sua vez, elimina a
pobreza e o conflito. Os fiéis da nossa Igreja estão trabalhando dia e noite,
unidos por esse princípio. Assim, a construção do Paraíso Terrestre, longe de
ser um mero ideal, é uma realidade que está apresentando surpreendentes
resultados.
Projetamos o protótipo do Paraíso Terrestre escolhendo locais maravilhosos,
em Atami e Hakone, onde estão sendo edificados magníficos edifícios e jardins.
Com a conclusão dessas obras, pretendo mostrar ao mundo a sublimidade e
formosura do Supremo Céu. O Paraíso Terrestre pode ser considerado,
essencialmente, o Mundo da Arte, razão por que a nossa Igreja confere às
manifestações artísticas uma atenção toda especial.
Paralelamente à marcha do Plano Divino, pretendo publicar projetos mais
recentes, elaborados sob a Orientação de Deus, os quais abrangem Política,
Economia, Educação, etc. Através deles, os leitores poderão reconhecer a
magnitude dos objetivos da Igreja Messiânica Mundial.
9 de julho de 1949

O QUE É UMA RELIGIÃO NOVA

Atualmente, em vários setores sociais, fala-se sobre o tema Religião Nova,


sendo ele também abordado, com muita seriedade, em jornais e revistas. Isso é
bastante animador. Observamos, entretanto, que esses órgãos de comunicação
consideram nova uma religião apenas porque ela surgiu recentemente, sem se
interessar pelo seu conteúdo. E é muito triste constatar que até mesmo as
pessoas que fazem parte de tais religiões pensem assim.
A propósito, devo dizer que não tem sentido uma religião apresentar-se com
o nome de nova e seu conteúdo não corresponder a essa designação. Se a
religião apenas mudar ou acrescentar, de acordo com o entendimento do seu
fundador, algumas interpretações ou sentidos às palavras que há muito tempo
vêm sendo ditas em livros ou ensinamentos muito conhecidos, revelados pelo
fundador de uma religião antiga, não se poderá dizer que ela é uma religião
nova. Aliás, conservando as mesmas formas e construções e chegando ao ponto
de aconselhar a volta aos ensinamentos desse fundador, ela se distancia cada
vez mais da época atual. É impressionante haver quem não ache estranho esse
procedimento. Se tivermos de lidar com pessoas inteligentes, de nível cultural
elevado, principalmente entre a camada jovem, certamente elas não aceitarão
uma doutrina cheirando a mofo. Assim, podemos dizer que, atualmente, a
maioria dos seguidores das religiões tradicionais são arrastados apenas pelas
tradições e costumes.
Quanto às religiões novas, seus adeptos ingressam nelas à procura de algo
novo; parece, todavia, que os crentes verdadeiramente firmes são muito poucos.
Por conseguinte, para fazermos com que o homem da atualidade creia
sinceramente, é preciso oferecer-lhe uma teoria baseada na razão e
acompanhada de insofismáveis Graças Divinas; caso contrário, de nada
adiantará tentar convencê-lo. Diante de tudo isso, é muito natural ser efêmera a
fé daqueles que seguem uma religião apenas como seguem a moda.
Não quero dizer que o homem contemporâneo seja destituído de
sentimentos religiosos, mas, observando a realidade que nos cerca, constatamos
que não existem muitas religiões nas quais possamos crer. Se houvesse alguma,
quase todos, indubitavelmente, a procurariam; não a encontrando, as pessoas
tornam-se descrentes, por não terem outra alternativa. Uma vez que a Ciência é
mais compreensível, pelo fato de ser concreta e satisfazer os desejos humanos,
essas pessoas apóiam-se nela naturalmente. Por isso eu acho que não podemos
censurar os descrentes.
Analisemos a questão:
Como, inúmeras vezes, nem a Ciência, na qual têm tanta confiança, nem a
própria Religião conseguem resolver-lhes os problemas, as criaturas ficam num
dilema. Entre os intelectuais, alguns, não podendo prever os acontecimentos
futuros, passam a duvidar; outros, sentindo-se fartos da vida, perdem o gosto de
viver ou vivem apenas para o momento presente; outros, ainda, em melhores
condições financeiras, procuram mais divertimentos. Além disso, a crença de
que não mais aparecerá um líder na história religiosa também contribui para o
desespero das pessoas. Algumas estão quase desistindo, quase desligadas da
realidade, pesquisando doutrinas ultrapassadas. Essa é a realidade da época em
que vivemos.
O pensamento do mundo atual está totalmente confuso, não se encontrando
uma saída. Contudo, em meio desta confusão, repentinamente surgiu a Igreja
Messiânica Mundial, que, com muita coragem, pretende alertar todos os setores
da cultura tradicional, apontar um por um de seus erros e mostrar como deve
ser a verdadeira civilização. Como essa grande força de atuação já está sendo
manifestada continuamente, podemos afirmar, sem nenhuma parcialidade, que
ela é o assombro do século XX. Tal afirmação fundamenta-se naquilo que
sempre digo: o mundo, até agora, estava na Era da Noite, iluminado unicamente
pela fraca luz da Lua, mas surgiu a luz do Sol, e todas as coisas desnecessárias e
prejudiciais que estavam encobertas começaram a aparecer abertamente. Eis o
significado da expressão “Luz do Oriente”, usada pelos antigos. Atualmente,
estamos atravessando a fase da aurora; com o passar do tempo, o Sol se
levantará até o centro do Céu e iluminará o mundo inteiro. Por esse motivo, as
teorias que venho divulgando, desconhecidas por todos até o momento, causam
espanto e até muitos mal-entendidos.
Como o mundo esteve durante longo tempo na Era da Noite, não é de se
admirar que os olhos tenham se acostumado à escuridão e fiquem ofuscados
ante a repentina revelação da Cultura do Dia. Existe, no entanto, um problema:
uma vez chegado o Mundo do Dia, Deus aproveitará da Cultura da Noite apenas
as coisas úteis, não havendo outro recurso senão eliminar as inúteis. Além do
mais, sendo a luz do Sol sessenta vezes mais clara do que o luar, até as doenças
não identificadas ou consideradas incuráveis serão facilmente solucionadas. Os
fatos reais evidenciados diariamente através do Johrei de nossa Igreja mostram
isso muito nitidamente. Falando com mais clareza, assim como a Lua perde seu
brilho ante o esplendor do Sol, também a civilização sofrerá uma grande
transformação.
Com o que acabo de dizer, creio que poderão entender a grandiosidade dos
empreendimentos da Igreja Messiânica Mundial.
8 de abril de 1953
RELIGIÕES NOVAS
E RELIGIÕES TRADICIONAIS
Quando analiso o comércio da atualidade, observo que existem dois tipos de
lojas – as novas e as tradicionais. As primeiras são dinâmicas, objetivando
expandir-se amplamente, mas ainda não ganharam plena confiança do povo,
pois este desconhece a qualidade das suas mercadorias, não sabendo se os
preços são razoáveis. Preocupadas, as pessoas compram nelas apenas a título de
experiência, ou para atender às suas próprias necessidades. Entretanto, se a loja
é tradicional, merece absoluta confiança dos fregueses. Para eles, sendo artigos
dessa loja, por certo são bons. Ao invés de comprar na incerteza, em outros
locais, preferem ir a um lugar de confiança, ainda que seja mais distante. No
caso de uma compra de certo vulto, é certo dirigirem-se às lojas tradicionais,
pelo nome que elas possuem, conseguido através de um longo tempo de vendas.
Em face disso, as lojas novas empenham-se arduamente para atrair pelo menos
algumas pessoas acostumadas a comprar nas casas tradicionais. Trata-se de uma
situação que todos conhecem, e por isso dispensa maiores comentários.
Interessante é que no campo religioso ocorre o mesmo. O aparecimento de
uma nova religião ainda é cercado de dificuldades maiores que o das pequenas
lojas comerciais. De imediato, ela é tachada de supersticiosa e maléfica, ou até
mesmo de trapaceira. É realmente cruel. Existem, sem dúvida, muitas religiões
novas às quais se possam atribuir esses adjetivos, mas, de vez em quando,
aparecem religiões verdadeiras. Também não podemos esquecer que todas as
religiões respeitadas atualmente já foram novas; com o passar do tempo é que
elas ganharam tradição. A loja nova, esforçando-se para oferecer preços e
mercadorias equivalentes aos das lojas tradicionais, acaba tornando-se uma
delas. Sendo assim, é errado tachar de trapaceiras e maléficas todas as religiões
que surgem.
Pelos motivos expostos, creio que o primeiro dever das pessoas que criticam
as religiões novas é analisá-las bastante, para poderem classificá-las de “boas”
ou “más”. Só depois é que devem escrever a seu respeito.
30 de março de 1949

RELIGIÃO E SEITAS

As religiões estão subdivididas em seitas. O cristianismo, por exemplo,


entre outras seitas, subdivide-se em catolicismo e protestantismo, que se
destacam sobre as demais. Quanto ao budismo, só no Japão existe o Shingon,
Jodo, Shinshu, Zen, Nitiren e outras, as quais, por sua vez, também estão
subdivididas; atualmente, há cinqüenta e oito subseitas. No xintoísmo,
excetuado o Shinto de Templo, há treze seitas principais: Taisha, Mitake, Fusso,
Missogui, Tenri, Konko, etc.
A subdivisão das religiões parece ilógica, mas vejo o caso da seguinte
maneira: será que a causa não está nos cânones? Isto porque tanto a Bíblia como
os preceitos búdicos contêm muitos pontos incompreensíveis, cuja
interpretação varia de pessoa para pessoa, contribuindo forçosamente para a
criação de várias seitas. Quanto ao xintoísmo, não possui um fundador como o
cristianismo e o budismo. Formou-se baseado nos livros clássicos, entre os
quais o “Kojiki” e o “Nihon Shoki”, ou através de ensinamentos transmitidos
por médiuns.
Embora as religiões citadas sejam religiões por natureza, sua subdivisão em
seitas tende a ocasionar conflitos, prejudiciais à obra educacional de
fraternidade, que é a missão principal da Religião. A causa da subdivisão, sem
dúvida alguma, está na dificuldade de interpretação dos ensinamentos.
Entretanto, se a finalidade das religiões é salvar toda a humanidade, creio que
tudo deveria ser claro para todos.
Para evitar tais dificuldades, pregarei a doutrina por um novo método, de
modo que ela possa ser facilmente assimilada pelas pessoas. Pretendo, ainda, do
ponto de vista da Religião, publicar, gradativamente, interpretações novas sobre
Política, Economia, Educação, Arte, etc.
25 de janeiro de 1949

RELIGIÃO CELESTIAL E RELIGIÃO INFERNAL

Como as principais religiões que existem sofreram perseguições na época da


sua fundação, tornou-se comum associar Religião e perseguição. Os exemplos
de que foram vítimas os adeptos, contam-se em grande quantidade na história
das religiões. Entre eles, figuram casos aterradores, como a perseguição dos
fariseus e a crucificação de Cristo, fundador do cristianismo, religião que
predomina no mundo inteiro. No Japão, embora diferisse o grau de sofrimento,
todos os religiosos também tiveram de atravessar um período espinhoso. As
únicas exceções foram Sakyamuni e Shotoku, que não sofreram perseguições
pelo fato de serem príncipes.
Os fundadores de religião superam os outros homens em honestidade,
sendo dotados de um extraordinário sentimento de amor e caridade. São
homens santos, modelados pela essência do bem, por arriscarem a própria vida
na salvação dos sofredores. Entretanto, ao invés de reconhecerem devidamente
o seu esforço e, agradecidos, acolherem-nos com honrarias, o governo e o povo
os têm odiado como se eles fossem enviados do demônio, perseguindo-os a
ponto de lhes tirarem a vida. A injustiça está mais do que evidente. Semelhante
fato, à luz do raciocínio, leva-nos a considerar como demoníacos os homens que
odeiam, torturam e tentam eliminar esses grandes benfeitores.
O homem, por natureza, pertence ao bem ou ao mal; não existe estado
intermediário. Em outras palavras, ele está associado a Deus ou a Satanás.
Assim, quem alimenta idéias ateístas e mostra-se contrário às boas ações,
abomina Deus, tornando-se, evidentemente, sem o saber, um servo do demônio.
Até os fundadores de religiões hoje consideradas importantes, inicialmente
foram tratados como demônios e tenazmente perseguidos. Mas, como a própria
História mostra, o mal foi derrotado pelo bem. As santas palavras de Cristo,
“Venci o Mundo”, encerram o mesmo sentido e são dignas de reflexão. Assim,
longos anos após a morte dos seus fundadores, a maioria das religiões foram
reconhecidas e tiveram suas divindades reverenciadas. Isso aconteceu devido à
alegria que eles proporcionaram ao povo, com seus ensinamentos, e à notável
contribuição que trouxeram ao aumento do bem-estar social.
Nenhuma religião foi devidamente reconhecida durante a existência do seu
fundador, e as perseguições tornaram-se fatos comuns. Os crentes até
adquiriram o hábito de se comprazer com uma vida atribulada. A leitura da
história trágica dos missionários cristãos que, seguindo o exemplo do ato
redentor de Cristo, enfrentaram a morte em territórios selvagens, é realmente
comovedora. Nenhuma outra religião encontra-se, hoje, tão solidamente
enraizada em todos os recantos do mundo como o cristianismo.
A perseguição religiosa ocorrida no Japão e conhecida como “Conflito de
Amakussa”, pode dar uma idéia da realidade mencionada acima. Foram
sofrimentos inevitáveis, causados por terceiros, mas existem religiões que até
procuram o martírio. O maometismo, o taoísmo, o lamaísmo e o bramanismo da
Índia caracterizam-se pela prática de penitências e do ascetismo, considerando-
os como essência da fé. Embora com alguma diferença, ocorrem fatos
semelhantes entre diversas religiões tradicionais do Japão, onde continuam a
existir algumas seitas que levam ao extremo o cumprimento dos mandamentos,
fazem penitências e vivem à procura de aperfeiçoamentos. Como vemos, essas
religiões são infernais, pois consideram o martírio um meio fundamental para
polir a alma. Assim, o homem torna-se uma espécie de ser anormal, que
transforma o sofrimento em prazer. Em verdade, isso acontece devido à
necessidade que ele tem de suprir, com as próprias forças, a insuficiência do
poder da Religião.
A Igreja Messiânica Mundial surgiu por uma necessidade imperativa, neste
momento em que o mundo está repleto de religiões de fé infernal. No que diz
respeito às pregações e às atividades, a nossa Igreja difere radicalmente das
outras, vindo a ser até mesmo o seu oposto. Ela repudia principalmente a
penitência, considerando a vida celestial como a verdadeira forma de professar
a Fé. Além disso, caracteriza-se pelo seu amplo conteúdo, abrangendo Religião,
Filosofia, Ciência, Arte e demais setores do conhecimento humano, sobretudo
os referentes à saúde e à agricultura, que são pontos fundamentais da salvação.
Tudo isso, pode-se dizer, constitui a condição fundamental para transformar o
Inferno em Paraíso. E o que seria senão o próprio Amor Divino? Por
conseguinte, as penitências constituem heresias, e a verdadeira salvação
implica numa situação de vida celestial, transbordante de alegria. Quando esta
situação abranger o mundo inteiro, surgirá o autêntico Paraíso Terrestre.
Nesses termos, o Paraíso Terrestre, que vem a ser a meta da nossa Igreja,
inicia-se no lar. O aumento gradativo de lares celestiais chegará a transformar o
mundo num paraíso. Se essa verdade fosse compreendida, ninguém deixaria de
louvar a Igreja Messiânica Mundial e nela ingressar. Como os homens têm a
mente afetada por conceitos materialistas e ateístas, ou por religiões de caráter
limitado, perdem a oportunidade de conhecer essa alegria, por desconfianças e
equívocos. Entretanto, a verdade sobre a nossa Igreja não deixará de vir à luz;
estou à espera desse dia, lutando incessantemente, sob Orientação Divina.
25 de março de 1953

FÉ E RELIGIÃO

É comum as pessoas pensarem que Religião e fé significam a mesma coisa,


mas, na verdade, há muitos aspectos em que uma e outra se diferenciam. O
provérbio popular “Não importa qual seja a crença, contanto que se creia”, é
próprio da fé, e não da Religião. O mesmo se pode dizer em relação ao ato de
adorar monstruosas esculturas de pedra ou de madeira feitas por selvagens. Por
esse motivo, não é de admirar que, atualmente, as pessoas civilizadas não dêem
atenção ao tipo de fé em que se adoram ídolos, considerando-o como de baixo
nível. Entretanto, não quero dizer que uma religião seja boa pelo simples fato de
ser religião. Isso porque há religiões de nível superior, médio e inferior. A que
pode realmente salvar a humanidade é a de nível superior.
Parecerá estranho ouvir-se afirmar que entre as religiões existem níveis; o
fato é que em todas as coisas há uma hierarquia, e as religiões não fogem à
regra. Logicamente, quem dirige a religião de nível mais alto é o Supremo Deus;
sendo assim, sua autoridade e virtude são muito elevadas e poderosas. É mais
do que óbvio, portanto, que essa religião possua força de salvação própria
daquele nível. A melhor prova disso consiste na evidência de inúmeros
milagres. Eis por que ocorrem tantos milagres em nossa Igreja. Verifica-se a cura
de doenças consideradas incuráveis pela Medicina, evita-se o perigo de
desastres, incêndios e outras ocorrências desagradáveis que poderiam ter
acontecido às pessoas, etc. Por conseguinte, quanto mais benefícios materiais se
manifestam, mais devemos nos conscientizar de que, no centro da Igreja
Messiânica Mundial, está presente o Supremo Deus.
20 de abril de 1950

INSENSIBILIDADE EM RELAÇÃO À FÉ

De acordo com o senso comum, não há dúvidas de que servir em prol do


bem-estar social e fazer feliz o próximo são boas ações. Por conseguinte, deveria
ser próprio da natureza humana apoiá-las e ter vontade de Servir; entretanto,
por incrível que pareça, freqüentemente vejo pessoas que agem friamente com
referência a essa questão. Parece que não se interessam por aquilo que não lhes
diz respeito, nem pelo bem da sociedade. Para elas, estas coisas só as fazem
perder tempo; em tudo, o que importa mesmo são elas próprias; se tiverem
lucros, está ótimo. Acham que agir assim é que é ser inteligente, pois, de outro
modo, é impossível ganhar dinheiro ou subir na vida. De fato, o mundo é
engraçado, porque pessoas desse tipo é que são tidas como espertas.
Criaturas assim pensam de forma calculada e materialista quando deparam
com qualquer sofrimento. No caso de ficarem doentes, por exemplo, basta-lhes
consultar um médico; em assuntos complicados, basta-lhes pedir ajuda à Lei; a
quem não lhes obedece, bastam carões ou castigos. Dessa forma, simplesmente
acomodam os problemas. Como acham que, se estiverem bem, não importa
como estejam os outros, procuram comodidade apenas para si. Ora, por não
pensarem também no próximo, não são merecedores de estima nem de
consideração. Os que se juntam à sua volta são interesseiros, e por isso, quando
a situação começa a piorar, todos se afastam. É natural que, justamente para tais
pessoas, problemas e sofrimentos sejam uma constante. Quando tudo principia
a correr mal e fracassar, elas se afobam, tentando recuperar-se com suas
próprias forças; forçam a situação que já estava forçada e, assim, acabam num
estado calamitoso, nunca mais voltando ao que eram antes.
Exemplos como esses são muito freqüentes na sociedade. Obviamente,
pessoas desse tipo não querem nem ouvir falar em Fé. Acham que Deus não
existe, que tudo não passa de superstição, ou que Deus existe dentro de cada
um. Além de se jactarem de também serem deuses, dizem que gastar tempo e
dinheiro com semelhantes coisas é a maior tolice que existe. Acham que a Fé
não passa de consolo mental para covardes ou passatempo de quem não tem
nada a fazer.
Consideramos tais pessoas insensíveis em relação à Fé.
8 de abril de 1950

FÉ “SHOJO”

Falando sobre Religião, ouço muitas críticas a respeito dos líderes religiosos.
Dizem que eles deveriam viver com mais sobriedade, comer, beber e morar
pobremente, assim como andar de trem, de ônibus ou até mesmo a pé.
É fato que, antigamente, para fazerem suas pregações, os fundadores de
religiões calçavam sandálias de palha e usavam panos enrolados nas pernas,
como se fossem polainas, a fim de facilitar-lhes as longas caminhadas. Às vezes,
retiravam-se para as montanhas, faziam jejuns, tomavam banhos de cascata,
experimentavam todos os tipos de sofrimentos e sacrifícios; outras vezes, eram
jogados na prisão, ou exilados em ilhas longínquas. Ainda hoje sentimos
tristeza ao pensar nos sofrimentos que eles tiveram que passar. Entretanto,
apesar de tantos sacrifícios, só conseguiram estender suas doutrinas a um
território restrito; para que elas se expandissem mais amplamente, foram
necessárias dezenas de gerações. Comparadas aos dias atuais, as condições
precárias a que esses pregadores tiveram de se sujeitar a vida inteira vão muito
além de nossa imaginação.
A lembrança das práticas religiosas a que nos referimos permanece gravada
na mente das pessoas, e por isso é natural que elas tenham uma visão errada
sobre as religiões novas. As religiões caracterizadas por tais práticas
particularizam-se pela fé “Shojo”, que é anterior ao nascimento de Sakyamuni e
tem sua origem no bramanismo da Índia. Seus ensinamentos valorizam,
principalmente, a Iluminação através da ascese. Segundo dizem, ainda hoje
existe, naquele país, um pequeno número de bramanistas que conseguem fazer
milagres graças a um enorme esforço espiritual. O jejum praticado pelo famoso
Mahatma Gandhi talvez fosse uma decorrência do fato de ele ter professado o
bramanismo quando jovem.
Há uma história interessante sobre a origem dos oitenta e quatro mil sutras
budistas divulgados por Sakyamuni.
Naquele tempo, o bramanismo estava em grande expansão na Índia, e
acreditava-se que a Iluminação só podia ser alcançada por meio da ascese,
considerada o verdadeiro caminho da Fé. Vendo a expressão das esculturas e
pinturas representativas de ascetas brâmanes existentes em diversos locais do
Japão, podemos imaginar a situação deles naquela época. Não suportando
semelhante estado de coisas, Sakyamuni, com sua grande misericórdia,
descobriu uma forma para as pessoas obterem a Iluminação sem precisar
recorrer às práticas ascéticas: os sutras budistas. Segundo ele, a simples leitura
desses textos seria bastante. Obviamente o povo se alegrou com isso e passou a
considerá-lo o mais respeitável e benéfico de todos os santos. Foi assim que o
budismo se espalhou por toda a Índia. Podemos mesmo dizer que essa foi a
maior realização de Sakyamuni entre as suas atividades de salvação.
Diante do exposto, é fácil entender quão erradas estão as práticas ascéticas
da fé “Shojo”, que contrariam a vontade e a grande misericórdia de Sakyamuni,
aproximando-se do bramanismo, o qual foi alvo de sua atividade salvadora.
Creio que, do Paraíso, ele estará lamentando essa situação. Assim, podemos
concluir que a fé “Shojo”, além de errada, é inadequada ao nosso tempo.
Por outro lado, no que se refere à difusão religiosa, observamos que aquilo
que antigamente se levava dez anos para conseguir, hoje pode ser feito apenas
em um dia, graças ao progresso tecnológico da imprensa e dos meios de
transporte. O correto, por conseguinte, é nos adequarmos à época em que
vivemos, utilizando-nos de todos os recursos que a civilização moderna nos
oferece. Se a religião se basear unicamente nos métodos antigos, obviamente
não conseguirá atingir seus verdadeiros objetivos. Isso se evidencia na
tendência que as religiões tradicionais têm de se afastar da época atual.
Quando as pessoas de fé “Shojo” vêem as atividades religiosas que estamos
realizando, limitam-se a ficar admiradas e não tentam sequer compreender
aquilo que verdadeiramente objetivamos. Se elas se restringissem a isso, não
haveria nada de mau; algumas, porém, começam a espalhar boatos contra nós,
dizendo que levamos vida de nababos. Entretanto, nós dependemos apenas das
contribuições dos fiéis; não temos necessidade de dinheiro. Se dermos atenção
aos comentários, deixaremos que essas contribuições em gêneros alimentícios,
feitas com tanto sacrifício, apodreçam, obrigando-nos a jogá-las fora. Por outro
lado, não podemos vendê-las nem devolvê-las. Da mesma forma, não
poderíamos deixar de utilizar as casas que nos são oferecidas de boa vontade
pelos fiéis. Ao invés de dar ouvidos a comentários, devemos atentar para o
grande trabalho que essas doações nos estão possibilitando realizar: a salvação
da humanidade. Diante disso, poder-se-á entender o quanto é errado o
pensamento “Shojo”.
Como o ideal de nossa Igreja é construir um mundo sem doença, pobreza e
conflito, as pessoas que nela ingressam adquirem uma vida alegre e saudável,
cheia de harmonia e prosperidade. Todavia, para os que vivem no lamentável
inferno da sociedade atual, isso é algo inconcebível. Além de negarem a
concretização desse ideal, eles pensam, naturalmente, que tudo não passa de
uma boa isca para iludir o povo. Pode ser também que, para essas pessoas, o
protótipo do Paraíso Terrestre que estamos construindo sejam meros palacetes
luxuosos. O nosso objetivo, no entanto, é cultivar os nobres sentimentos dos
homens, possibilitando-lhes oportunidade para se distanciarem, de vez em
quando, da sociedade infernal de hoje em dia e visitarem terras paradisíacas,
que os envolvam nos ares celestiais de Verdade, Bem e Belo, fazendo-os sentir-
se no estado de suprema alegria. Assim, evidencia-se a grande necessidade da
construção do protótipo do Paraíso Terrestre para o homem contemporâneo.
Se a sociedade continuar como está, crescerá cada vez mais o número de
pessoas de baixo nível, de jovens degradados, e não haverá um lugar sequer que
não seja um viveiro para a maldade social. Por isso podemos afirmar que o
único “oásis” do mundo hodierno é este protótipo do Paraíso Terrestre. Se as
pessoas compreenderem realmente a grandiosidade do nosso sublime projeto,
ao invés de nos censurarem, o que elas deverão fazer é manifestar-se seu inteiro
apoio.
Ainda tenho algo importante a dizer. Os japoneses, por causa das invasões
bélicas que empreenderam há algum tempo, foram tão mal interpretados que
perderam a confiança do mundo. Sentimos que é preciso recuperar, o mais
breve possível, essa confiança. Justamente por esse motivo é que o protótipo do
Paraíso Terrestre constitui um patrimônio importantíssimo, para mostrar não só
a beleza natural do nosso país, como também o indiscutível pendor artístico dos
japoneses. Doravante, surge uma grande oportunidade para que os turistas nos
visitem cada vez mais e compreendam o nosso alto nível cultural, ao mesmo
tempo que desfrutam o prazer da viagem. Fico na expectativa da grande
admiração que o protótipo do Paraíso Terrestre despertará, quando ficar
concluído.
Com o que foi dito acima, fica explicado o que é fé “Shojo” e fé “Daijo”.
11 de março de 1950

RELIGIÃO E MILAGRE

BENEFÍCIOS MATERIAIS

Modéstia à parte, em nossa Igreja ocorrem maravilhosas Graças Divinas.


Na antigüidade surgiram religiões magníficas, e até hoje isso vem
acontecendo. Entre elas, as três mais importantes – o cristianismo, o islamismo
e o budismo – e mais algumas já conquistaram suas respectivas posições. A
maioria, porém, desde o início, sempre se ocupou unicamente da salvação
espiritual.
A Igreja Messiânica Mundial ainda tem pouco tempo de vida, e, comparada
com outras, é uma religião pequena. Apesar disso, a rapidez de seu progresso
pode ser considerada inédita e está sendo alvo de muita atenção, o que, às
vezes, até se torna um problema. Mas isso é um fenômeno transitório, uma das
inevitáveis experiências pelas quais temos de passar. É uma questão de tempo;
naturalmente, virá o dia em que, por opinião imparcial, será reconhecido seu
verdadeiro valor.
Como todas as religiões, nossa Igreja tem seus ideais, seus princípios
religiosos, e vem se esforçando para progredir. Vou mostrar os pontos em que
ela difere das religiões tradicionais, pois, se não os conhecerem, não
conseguirão compreendê-la verdadeiramente.
A grande diferença é que nela ocorrem muitos benefícios materiais.
Entretanto, as pessoas que se dizem entendidas no assunto acham que esse tipo
de religião é de baixo nível e por isso não lhe dão atenção. Se pensarmos bem,
encontraremos uma explicação para essa atitude.
Atualmente, analisando as inúmeras religiões do Japão, constatamos que
existem dois tipos: as que são populares e as que não o são. No primeiro caso,
por exemplo, a fé está voltada para este ou aquele ídolo ou deus, e seus adeptos
– as pessoas de baixo nível cultural, que nada entendem de teorias religiosas ou
de Filosofia – têm um único objetivo: receber benefícios materiais. Ora, do
ponto de vista dos intelectuais, isso é tolice e não merece a mínima atenção.
Assim, eles concluem que a busca desses benefícios é própria da Fé de nível
inferior. Por outro lado, valorizam as religiões que, não se importando com os
benefícios materiais, colocam os princípios religiosos em termos didáticos,
dotando-os de inteligentes razões. Se tais religiões tiverem uma longa tradição e
durante esse tempo nela tiverem surgido grandes líderes ou sacerdotes de alta
virtude, eles as valorizam ainda mais, considerando-as de alto nível. Em síntese,
para os intelectuais o que vale é a força do nome e a tradição. A propósito disso,
desejo expor minha sincera crítica.
Dos dois tipos de Fé mencionados, o primeiro pode ser de baixo nível, mas a
verdade é que ele está atingindo a massa popular mais do que podemos supor.
Como as pessoas que o professam têm pouca cultura, não lhes interessam
princípios nem teorias; elas vão de vez em quando à Igreja, fazem pedidos de
graça, dão uma esmola e se satisfazem com isso. Trata-se de uma fé muito
simples, mas é indiscutível que impressiona bem e contribui para mudar o
sentimento de outras pessoas. Se essas religiões acreditam no invisível, é
porque têm uma visão espiritualista; portanto, elas contribuem de alguma forma
para o bem social, mais do que aquelas que estão baseadas num sólido
materialismo. Seus seguidores cultivam o bom sentimento de pedir ajuda a
Deus, por isso não haverá motivos para que cometam, inescrupulosamente, os
crimes horríveis a que ficam sujeitos os materialistas.
Quanto ao segundo tipo de fé, diferentemente do primeiro, é seguido por
pessoas que, acreditando somente no que vêem, desprezam aqueles que crêem
no invisível, considerando-os supersticiosos. Parece que, atualmente, a maioria
pertence à classe dos intelectuais. Naturalmente, uma vez que são materialistas,
eles acham que devem lidar com as religiões didaticamente; quando discutem
sobre o assunto, não ficam satisfeitos se não o colocarem em termos lógicos e
filosóficos. Por isso, a nosso ver, suas teses são superficiais, e as críticas que
fazem à nossa Igreja não passam de comentários malévolos.
Para fazer a verdadeira análise de uma religião, é preciso penetrar nela
profundamente, procurando averiguar seu conteúdo com os olhos bem abertos.
Deve-se analisá-la livre de conceitos pessoais. Originariamente, a natureza de
uma religião não está na sua forma, mas no seu conteúdo. Portanto, é necessário
que os intelectuais mudem bastante suas atitudes críticas.
De acordo com o exposto acima, criticar nossa Igreja vendo apenas as
aparências externas e classificá-la como religião vulgar por estar centralizada no
recebimento de benefícios materiais, é uma grande leviandade ou descortesia.
Enquanto se persistir nessa atitude, as críticas não terão nenhum sentido. Se
fizerem uma profunda análise da Igreja Messiânica Mundial, compreenderão
que ela não só é de caráter popular como teórico. Podemos dizer mesmo que é
uma Ultra-Religião, inédita para a humanidade. E não é só isso. O que
defendemos não se restringe apenas à Religião. Nosso objetivo é dar a mais alta
diretriz ao campo da Medicina, da Agricultura, da Arte, da Educação, da
Economia, da Política, enfim, a tudo quanto diz respeito ao homem. Em suma:
queremos colocar a teoria em prática, de maneira que a Fé seja vivida no nosso
dia-a-dia.
8 de novembro de 1950

MILAGRE E RELIGIÃO

Seria desnecessário dizer que milagre é o acontecimento de algo


considerado impossível, algo que, não coincidindo com a lógica e não se
podendo medir com o senso comum, só podemos afirmar que é um mistério.
Mas desde quando existe esse mistério chamado milagre? Temos registrados
os milagres de Cristo, os quais são muito conhecidos e dispensam comentários;
no Japão, evidenciaram-se, entre outros, o milagre acontecido a Nitiren e os
realizados pelos fundadores das Igrejas Tenrikyo, Oomotokyo, Konkokyo e Hito-
no-Miti (atualmente Igreja P.L.). Sabe-se que em vários outros lugares ocorreram
pequenos milagres, mas o interessante é que nas mais antigas e abalizadas
religiões eles quase não ocorrem. Enquanto seus fundadores estavam vivos, é
possível que muitos milagres tenham sido realizados, porém, com o passar do
tempo, eles se extinguiram por completo. Por esse motivo, em certas religiões
tradicionais, as pessoas de posição elevada precisaram encontrar algo de valor
que substituísse os milagres, pela necessidade de fazê-las sobreviver. Como
resultado, apareceram as religiões filosóficas, as ciências religiosas, a Teologia e
outras formas de estudos sistematizados. Obviamente, elas consideram que o
ponto mais importante da Religião é a salvação do espírito, razão pela qual
desprezam as graças materiais. Além disso, acrescentam as formalidades
tradicionais de cada uma. Assim, vieram mantendo sua existência como
organização religiosa. As pessoas conscientes e os povos civilizados não as
aceitam, e, não encontrando uma Fé cujo teor os satisfaça, muitos se tornam
incrédulos, como vemos atualmente. Torna-se claro, portanto, que a Fé
ardentemente desejada pelas pessoas é, antes de mais nada, uma nova Fé, que
se tenha despojado das velhas roupagens e cujos princípios sejam racionais e
comprovados por provas autênticas.
Existem, no momento, algumas religiões que estão se expandindo muito,
como a Narita-no-Fudosson, Toyokawa, Fushimi-Inari, Kompira Gonguem e
certas seitas da Religião Nitiren, as quais, indubitavelmente, de certa forma
estão sendo úteis à sociedade. Entretanto, elas visam apenas os benefícios
materiais, e seus níveis são tão baixos, que não exercem nenhuma atração sobre
as pessoas de cultura elevada nem sobre a camada jovem. Em verdade,
satisfazem apenas um número limitado de pessoas.
De acordo com o que acabo de expor, podemos dizer que, atualmente, só há
duas espécies de Fé no Japão: as religiões teóricas e as religiões práticas, ou seja,
as que visam unicamente as graças. Essa é a situação inexpressiva do campo
religioso japonês. Portanto, pensando naquilo que as circunstâncias atuais estão
exigindo, concluímos que é necessário o aparecimento de uma religião nova e
ideal.
A peculiaridade da nossa Igreja é que, através de princípios religiosos, ela
formula conceitos inéditos sobre a Teologia, a Ciência e a Filosofia, dando-lhes
novas interpretações. Além disso, aponta os defeitos da cultura contemporânea,
ensina como deve ser a nova cultura e indica o caminho para a criação da nova
civilização mundial. Por conseguinte, podemos dizer que ela está acima da
conceituação de uma simples religião.
Uma vez ingressando na Fé Messiânica e analisando-a minuciosamente, a
pessoa se surpreenderá com a veracidade do que acabamos de dizer. Tornando-
se fiel, compreenderá, também, que uma das grandes características da nossa
religião é a ocorrência de muitos milagres. Certamente a História das Religiões
não registra nenhuma outra em que eles sejam tão numerosos. Milagre, como já
dissemos, é benefício material, por isso não há dúvida de que conseguiremos
atingir o nosso objetivo: construir um mundo absolutamente isento de doença,
pobreza e conflito. Mas não basta lerem o que escrevi; antes de mais nada, é
necessário conhecerem a Igreja Messiânica Mundial.
5 de março de 1952

RELIGIÃO É MILAGRE

Várias heranças literárias provam que Religião e milagre são coisas


inseparáveis. Religião sem milagre deixa de ser Religião. Isto porque o homem é
totalmente incapaz de operar qualquer milagre, o qual é obra de Deus. Sendo
assim, uma religião que não apresente milagres é como uma existência nula.
Falta-lhe a essência, embora ostente aparência religiosa.
A magnitude de uma religião é proporcional à ocorrência de milagres.
Milagre, em outras palavras, significa o aparecimento de benefícios inesperados.
Isso estimula e dá origem a um profundo sentimento religioso, que conduz o
homem à Fé e salva-o da desgraça.
Que religião podemos chamar de verdadeira a não ser essa? É desnecessário
dizer que uma única prova vale por mil argumentos. Embora a situação que
vivemos atualmente seja uma conseqüência da Segunda Grande Guerra, o
aumento do mal social, principalmente os pensamentos insanos que infestam os
jovens – verdadeiros sustentáculos do futuro – e o estado confuso em que estes
se encontram, não deixam de representar uma realidade apavorante. A causa de
tudo isso é a educação recebida pelos jovens, a qual os levou a aceitar o
materialismo como norma de ouro. Enquanto os homens não despertarem desse
engano, não haverá solução para o problema.
Naturalmente, para combater os conceitos materialistas, é preciso despertar
o homem para a Religião, começando por convencê-lo da existência de Deus.
Nossa Igreja vem insistindo neste ponto, e o milagre é o único recurso para ela
atingir seu propósito.
Milagre é tornar possível aquilo que se considera impossível realizar pela
ação do homem. Como ele mostra, na realidade, o que não se pode interpretar
teoricamente, quaisquer dúvidas a respeito serão, logicamente, dissipadas de
imediato. Assim, mesmo na exclusão do mal social ou na criação de países
pacíficos, não se poderão obter resultados satisfatórios a não ser que se dê a
exata consciência de Deus através do milagre, cultivando, dessa forma, a
espiritualidade.
Na história da humanidade, não se conhece nenhuma religião que tenha
apresentado tantos milagres como a nossa. Neste sentido e nesta fase de grande
transição que estamos atravessando, o objetivo da Igreja Messiânica Mundial é
sacudir a alma do mundo, que está adormecida, despertando-a com o poderoso
sopro do milagre.
Deus, Todo-Poderoso, veio à Terra como Kanzeon-Bossatsu (encarnação da
Misericórdia), conhecido também como Komyo-Nyorai (encarnação da Luz) e,
após transformar-se em Oshim-Miroku (encarnação da Ação Livre e
Desimpedida), está manifestando, pelas Divinas Mãos do Messias, os mais
variados e incontáveis milagres, utilizando livremente a sagrada energia vital.
Dessa forma, através da Igreja Messiânica Mundial, Deus está realizando a
grandiosa obra da salvação do mundo.
11 de junho de 1949

RELIGIÃO É MILAGRE

Desde tempos remotos costuma-se dizer que os milagres são inerentes à


Religião, o que realmente é verdade. Modéstia à parte, nunca houve religião que
evidenciasse tantos milagres como a Igreja Messiânica Mundial. Em poucas
palavras, direi que isso ocorre porque ela é dirigida pelo Supremo Deus.
Pensando que todas as divindades são iguais, as pessoas geralmente tendem
a cultuá-las da mesma forma. Entretanto, precisamos saber que até entre as
divindades existe hierarquia: superior, média e inferior. Em ordem decrescente,
essa hierarquia, iniciando pelo Altíssimo, vai até Ubussunagami, Tengu, Ryujin,
Inari e outros.
Gostaria de falar detalhadamente sobre todas essas classes, mas assim eu
estaria desvelando divindades de outras religiões. Portanto, por uma questão de
respeito, não o farei. Desejo apenas mostrar, através de um fato, quão elevado é
o deus que dirige a Igreja Messiânica Mundial. Nem preciso falar sobre a
maravilha que é o Johrei, pois, com o passar do tempo, na medida que vai se
tornando conhecido, ele está constituindo o elemento mais eficiente para a
expansão da nossa Igreja. Aliás, sobre a solução de doenças através do Johrei,
devo esclarecer que, mesmo a pessoa duvidando e recebendo-o apenas a título
de experiência, ou achando impossível obter a cura por meio de “uma tolice
dessas”, a graça será alcançada da mesma forma, e rapidamente, o que muitos
acham um mistério. Até o presente acreditava-se imprescindível a pessoa ter fé
para ficar curada de uma doença. Era corrente este pensamento: “Acredite; você
não pode duvidar.” Assim, é natural que, condicionadas a essa idéia fixa, as
pessoas estranhem o que acabo de dizer. Vou explicar a razão.
Primeiramente, crer na validade de algo sem ter nada que a comprove é
enganar a si próprio, pois ninguém pode acreditar numa coisa antes de ter
provas. Assim, é óbvio que aquele pensamento está errado. Empregar todos os
esforços para crer porque nos foi dito para crer, produz algum efeito, pois isso é
melhor do que duvidar. Tal efeito, porém, não provém de Deus, como muitos
pensam, mas da própria força de cada um. Mas por que motivo um pensamento
tão errado vinha sendo aceito como a coisa mais natural? É que, até agora,
ignorando que a divindade à qual se dirigiam não tinha poder suficiente, as
pessoas tentavam suprir essa deficiência com a força humana. Nesse sentido,
em nossa Igreja, as pessoas melhoram mesmo que duvidem. Isso acontece por
conta da grande força de Deus não sendo necessário, portanto, acrescentar a
força humana. Logo, se uma divindade não tem poder para curar uma doença, é
porque seu nível é inferior.
Muitas vezes, quando as graças não ocorrem do modo desejado, o ministro
ou o orientador dão desculpa de que a pessoa tem pouca fé. Parece-me que eles
acham que a graça é conseguida com o esforço do homem, ao invés de ser
concedida por Deus. Na verdade, Deus é infinitamente piedoso; por isso,
mesmo que façamos apenas um pedido, infalivelmente Ele nos atenderá.
Quando o homem emprega demasiado esforço para alcançar uma graça e
ultrapassa os limites, Deus não fica satisfeito, se é que se trata do Verdadeiro
Deus. Principalmente fazer penitências, jejuns e abstenções são atitudes que
estão em desacordo com a Vontade de Deus, pois Seu grande amor vê com
tristeza o sofrimento humano. Pensemos bem. Nós, seres humanos, somos
filhos de Deus. Como nosso pai, não há razão para Ele se alegrar com o nosso
sofrimento. Ainda que a pessoa tenha conseguido receber uma graça através de
penitência, quem a concedeu não foi Deus, mas algum espírito pertencente à
falange dos demônios. Graças desse tipo são efêmeras, não duram muito tempo.
As graças concedidas por Deus são diferentes. À medida que nos dedicamos à
Fé, nossos infortúnios irão diminuindo gradativamente, atingiremos um estado
espiritual de paz e segurança e seremos felizes.
Em síntese: trata-se de religião de baixo nível aquela em que a pessoa,
embora não creia, esforça-se para crer, com o objetivo de alcançar graças; trata-
se de religião de nível superior aquela em que Deus concede a graça mesmo que
a pessoa duvide ou não acredite.

11 de abril de 1951

ANÁLISE DO MILAGRE

Em poucas palavras, chama-se milagre a realização daquilo que achamos


impossível, mas, na verdade, nada acontece por acaso. Quem pensa de forma
diferente, está redondamente enganado. Parece um tanto complicado, contudo
vou mostrar por que estou fazendo essa afirmativa.
A idéia preconcebida de que determinada coisa nunca poderá acontecer, já
constitui um erro, pois leva em consideração apenas aquilo que se manifesta
exteriormente, isto é, as aparências. Como até agora o pensamento da maioria
dos homens baseava-se em conceitos materialistas, se às vezes sucede algo
diferente, eles pensam que se trata de milagre. Por exemplo: uma criança cair de
um penhasco e não sofrer nada; um carro bater numa bicicleta e não haver
ferimentos nem prejuízos; uma pessoa se salvar por ter se atrasado e perdido
um trem que depois descarrilhou, virou ou colidiu com outro; um ladrão que
estava entrando numa casa fugir, pela ministração do Johrei; uma pessoa
recuperar o que lhe foi roubado; um incêndio que havia se alastrado até à casa
do vizinho ser desviado, devido à repentina mudança de direção do vento, por
efeito do Johrei.
Com os fiéis da nossa Igreja ocorrem constantemente grandes e pequenos
milagres, isto é, fatos fora do comum. E por que motivo eles ocorrem? Onde está
a causa? Creio que todos querem sabê-lo.
É claro que a verdadeira razão do milagre está no Mundo Espiritual.
Entretanto, há milagres decorrentes da força pessoal de cada um e outros
decorrentes da força de terceiros. Inicialmente falarei sobre o primeiro tipo.
O homem possui aquilo a que chamamos aura, que é como se fosse a
vestimenta do espírito. Ela tem o formato do corpo, que parece coberto por uma
espécie de névoa branca, e não é visível às pessoas de sensibilidade comum.
Sua largura é variável, e isso se deve ao grau de pureza do espírito; quanto mais
puro ele for, mais larga é a aura. Nas pessoas comuns, ela varia de três a seis
centímetros; a dos virtuosos tem de sessenta a noventa centímetros; nos
salvadores da humanidade, ela é infinita. Ao contrário, se o corpo e o espírito
são impuros, a aura é estreita e tênue. Em caso de desastre, por exemplo, na
hora exata em que um carro – que também possui espírito – vai bater numa
pessoa, não conseguirá atingi-la se for alguém de aura larga. Ela se salva, porque
é afastada para o lado. Pessoas assim, quando caem de um local alto, mesmo
indo de encontro ao espírito da terra ou de uma pedra, não se machucam,
apenas batem de leve.
As casas também possuem espírito, de modo que, se o dono for virtuoso, a
aura da casa será larga; no caso de incêndio, o espírito do fogo não a atinge, pois
é barrado pela aura. Por isso, na ocasião do grande incêndio de Atami, a sede
provisória da nossa Igreja foi milagrosamente poupada. Se ocorre o contrário – o
que é difícil – é porque há necessidade de queimar impurezas; por conseguinte,
o fato obedece ao Plano de Deus.
Vejamos, a seguir, os milagres decorrentes da força de terceiros.
O homem tem três espíritos: o Primordial, o Guardião e o Secundário. Vou
me abster de maiores explicações sobre a relação existente entre eles, pois já
falei sobre isso em outras oportunidades.
O Espírito Guardião é escolhido entre os ancestrais; ele salva seu protegido
no caso de um perigo, ou lhe faz avisos importantes através de sonhos. Quando
se trata de pessoa que tem missões especiais, há casos em que uma divindade
vem em seu socorro (em geral, o padroeiro do local onde a pessoa nasceu). Por
exemplo, se um trem está prestes a colidir com outro, como essa divindade tem
conhecimento do fato, pode fazer parar o espírito do trem instantaneamente.
Mesmo que o fato esteja ocorrendo a milhares de quilômetros, ela chega ao local
numa rapidez extraordinária.
Como vemos, o milagre não ocorre absolutamente por coincidência ou por
acaso; há sempre uma razão. Se compreenderem isso, verão que ele não tem
nada de sobrenatural. Para mim, o natural é haver milagres; se não houver é que
eu acho estranho.
Às vezes, quando me encontro diante de um problema difícil, cuja solução
está demorando, começo a esperar que repentinamente aconteça um milagre, e
geralmente ele acontece, solucionando o problema. Isso é muito freqüente.
Creio que aqueles que têm fé profunda e acumularam virtudes, já passaram por
muitas experiências nesse sentido. Portanto, se o homem pensar e praticar o
bem, acumular virtudes e fizer esforços para tornar mais larga sua aura, jamais
lhe acontecerão desgraças inesperadas.
Em nosso contacto com as pessoas, quanto mais espessa for sua aura, mais
calor sentiremos, surgindo, daí, grandes afeições. Tais pessoas sempre cativam
outras, que se reúnem à sua volta em grande número, e assim elas terão êxito e
progresso no trabalho.
5 de junho de 1951

PREFÁCIO

PREFÁCIO DO LIVRO
“O MUNDO ESPIRITUAL”

Neste volume estão coligidos os Ensinamentos que escrevi sobre os


fenômenos do Mundo Espiritual, como resultado de estudos e pesquisas
efetuados durante mais de vinte anos. Não há fantasia nem exagero em minhas
palavras.
Dizem que a cultura humana progrediu muito, mas o que houve foi apenas
progresso da parte material; a parte espiritual, lamentavelmente, progrediu
muito pouco. E o que é progresso da cultura? Em verdade, progresso da cultura
significa o desenvolvimento paralelo do concreto e do abstrato. Apesar do
propalado avanço cultural, o homem até hoje não conseguiu alcançar a
felicidade, e a razão principal é que o progresso se efetuou num único sentido.
Em outras palavras, porque a cultura material se desenvolveu muito, mas a
cultura espiritual não acompanhou esse desenvolvimento.
Diante disso, eu desejo despertar a humanidade imprimindo um
extraordinário progresso à cultura espiritual. Visto que os fenômenos
espirituais, em decorrência de sua própria natureza, não podem ser percebidos
pelos cinco sentidos do homem, torna-se muito difícil apreendê-los. Mesmo
assim, como não vou evidenciar o que não existe, e sim mostrar o que de fato
existe, tenho absoluta certeza de que esse objetivo será alcançado.
Crendo nos fenômenos espirituais, torna-se claro que poderemos apreender
a causa fundamental da verdadeira felicidade. Em outras palavras, para se obter
a perfeita paz de espírito, é necessário profundo conhecimento de tais
fenômenos, seja qual for a Fé que se professe.
O homem não pode evitar a morte, mas conhece muito pouco sobre a vida
após a morte. Meditemos. Embora possa viver muito tempo, geralmente o
homem não passa dos setenta ou oitenta anos. Se isso representa o fim de tudo,
a vida não é realmente vã? Caso ele pense assim, é porque desconhece
totalmente que, após a morte, existe a vida no Mundo Espiritual. Suponhamos,
entretanto, que o homem chegue a adquirir profundo conhecimento a esse
respeito: viveria uma vida feliz neste mundo e também depois de morrer.
Existe, portanto, a possibilidade de ele se tornar eternamente venturoso.
É pelos motivos acima expostos que escrevi o presente volume.
25 de agosto de 1949

A NATUREZA E O MUNDO ESPIRITUAL

O PODER DA NATUREZA

Segundo meus estudos, a Grande Natureza, isto é, o mundo em que


respiramos e vivemos, está constituída de três elementos – o Fogo, a Água e o
Solo – conforme já explanei em outra oportunidade. Atualmente, a Ciência e o
homem, pelos seus cincos sentidos, têm conhecimento do eletromagnetismo, do
ar, da matéria, dos elementos, etc., mas o meu propósito é falar sobre a energia
espiritual, que a Ciência e os cinco sentidos do homem ignoram.
A expressão “energia espiritual” ou “espírito” tem sido usada até hoje
circunscrita à Religião ou à Metafísica. Por isso, na maioria das vezes, é
associada à superstição. A tendência é considerar intelectual aquele que nega a
existência do espírito, mas como estão enganados os que pensam assim...
A essência daquilo a que dou o nome de espírito é a fonte do grandioso
poder que dirige tudo que existe neste Universo e do qual dependem o
nascimento, o crescimento, o movimento e a transformação de todas as coisas.
Chamo-o de Poder Invisível. Sendo assim, daqui por diante chamarei o mundo
conhecido simplesmente de Mundo Material, e o desconhecido, de Mundo
Espiritual.
Como lei fundamental de tudo que existe, todos os fenômenos ocorridos no
Mundo Material são projeções daquilo que já foi gerado e acionado no Mundo
Espiritual. Isso pode ser exemplificado pelos movimentos das mãos ou das
pernas, os quais são precedidos pela nossa vontade. Até agora, contudo, os
estudiosos têm procurado soluções analisando apenas os fenômenos do Mundo
Material, e é por essa razão que embora se diga que houve progresso na cultura,
ele não trouxe bem-estar à humanidade. Portanto, para resolver qualquer
problema, é necessário solucioná-lo primeiro no Mundo Espiritual; inclusive as
doenças, cujo verdadeiro método de tratamento consiste em tratar o espírito por
processos espirituais.
Mesmo nos seres vivos, o corpo espiritual está subordinado ao Mundo
Espiritual, e o corpo físico, logicamente, ao Mundo Material. A doença, como já
tenho explicado, é a eliminação de toxinas acumuladas, ou melhor, o processo
de dissolução das toxinas solidificadas. Relacionando matéria e espírito, a
acumulação de toxinas numa determinada região representa a existência de
máculas na correspondente região do corpo espiritual, e o processo de
dissolução significa a eliminação das máculas. Por conseguinte, todo e qualquer
tratamento que se proponha a curar apenas o corpo físico é método contrário,
não levando à verdadeira solução da doença.
Se o método fundamental para a erradicação das doenças é a eliminação das
máculas do corpo espiritual, qual é o poder que dissipará essas máculas? É a
Luz emanada de Deus e irradiada através do corpo humano. A profunda
compreensão desse princípio só se tornará possível através da prática do Johrei
por vários anos. No momento, creio que os leitores poderão obter apenas uma
noção geral; por isso, peço-lhes que leiam com esse espírito.
Antes de explicar o que é o corpo espiritual do homem, torna-se necessário
explicar o que é a morte. Quando o corpo material fica imprestável, por velhice,
doença, ferimento, perda de sangue, etc., o corpo espiritual e o corpo material
se separam. A esta separação é que chamamos morte. Ela ocorre quando o corpo
espiritual se liberta do corpo material. O primeiro regressa ao Mundo Espiritual
e, passado algum tempo, reencarna; o segundo, como todos sabem, apodrece e
retorna à terra. Pelo exposto, compreende-se que o corpo espiritual tem vida
infinita, e o corpo material, vida finita, existência secundária.
Conseqüentemente, quando se trata de questões relativas ao homem, o
verdadeiro alvo é o corpo espiritual.
Na ciência contemporânea, está se tornando conhecida a existência de uma
espécie de radioatividade em todos os seres, inclusive nos minerais e nos
vegetais. Meus estudos revelaram que a radioatividade do corpo humano é de
qualidade superior. É como se falava nos velhos tempos: “Espiritualmente, o
homem é superior a todos os outros seres.”
Quanto mais elevado o espírito, maior é o seu grau de rarefação (pureza), e,
quanto mais aumenta o grau de rarefação, mais difícil se torna detectá-lo através
de instrumentos. Portanto, opondo-se aos conceitos materialistas, é muito mais
fácil captar a presença de espíritos de níveis inferiores, assim como acontece
com o rádio, entre os minerais, e a fosforescência, em alguns vegetais. Todavia,
é importante compreendermos este princípio: quanto mais rarefeito (puro) é o
espírito, maior é o seu poder de atuação.
A irradiação do corpo humano é a mais poderosa, mas a grande diferença
que há de umas para outras pessoas, está além da imaginação. Quanto mais
poderosa for essa irradiação, maior será a atuação do Johrei. Assim, para irradiá-
la com maior potência, concentrei-a numa parte do corpo, alcançando, com
isso, pleno sucesso na eliminação das máculas. Consegui, também, aumentar
ainda mais a força da irradiação que cada um possui, através de um método
todo peculiar. Aplicando esses dois métodos, conhecendo o seu princípio e
somando experiências, consegue-se manifestar um poder extraordinário.

5 de fevereiro de 1947

OS ELEMENTOS FOGO, ÁGUA E SOLO

Tudo que existe, é composto de três elementos básicos. O nascimento e o


desenvolvimento de todas as coisas dependem da energia destes três elementos:
o Sol, a Lua e a Terra. O Sol é a origem do elemento Fogo; a Lua, a origem do
elemento Água; a Terra, a origem do elemento Solo.
As energias do Fogo, da Água e do Solo movem-se, cruzam-se e fundem-se
em sentido vertical e horizontal. Verticalmente, significa que do Céu à Terra há
três níveis: o Sol, a Lua e a Terra. Isso pode ser claramente observado por
ocasião de um eclipse solar. O Céu é o Mundo do Fogo, centralizado no Sol; o
espaço intermediário é o Mundo da Água, centralizado na Lua; a Terra é o
Mundo do Solo, centralizado no Globo Terrestre. Horizontalmente, significa a
própria realidade em que nós, seres humanos, estamos vivendo na face da
Terra, ou melhor, o Mundo Material, constituído do espaço e da matéria. A
existência da matéria é perceptível por meio dos cinco sentidos do homem, mas
por algum tempo o espaço foi considerado vazio. Com a evolução da cultura,
nele se descobriu a existência do meio-matéria (digo provisoriamente meio-
matéria) conhecido como ar. Entretanto, nesse espaço em que até há pouco se
pensava existir apenas o ar, identifiquei a existência de mais um elemento –
denominei-o de “espírito”.
Algumas religiões falam sobre o Mundo Espiritual, sobre espírito dos vivos,
sobre espírito dos mortos, sobre encostos, etc. Ascetas e médiuns também falam
a respeito dos espíritos. Com a evolução da Ciência Espiritual nos Estados
Unidos e na Europa, as pesquisas sobre o assunto estão em franco
desenvolvimento, e até certo ponto podemos crer nas explanações de obras
como “Raymond”, da autoria de Sir Oliver Joseph Lodge (1851-1940), e
“Exploration in the Spiritual World”, do Dr. Ward. Mas o objetivo do meu
estudo situa-se num campo completamente diverso.
Por princípio, o elemento da matéria é o Solo. Qualquer pessoa sabe que
toda matéria surge do Solo e retorna ao Solo. O elemento Água, que é meio-
matéria, procede da Lua e está contido no ar. O espírito, entretanto, não é
matéria nem meio-matéria; irradiado do Sol, é imaterial, e por esse motivo sua
existência até hoje não foi comprovada. Resumindo: o Solo é matéria; a Água é
meio-matéria; o Fogo é imaterial. Da união desses três elementos surge a
energia. Cientificamente, quer dizer que os três, como partículas atômicas
infinitesimais, tão pequeninas que estão além da imaginação, fundem-se e agem
conjuntamente. Eis a realidade do Universo. Portanto, a existência da umidade
e a temperatura adequada para a sobrevivência das criaturas no espaço em que
respiramos, são decorrentes da fusão e harmonização do elemento Fogo e do
elemento Água. Se o elemento Fogo se reduzir a zero, restando apenas o
elemento Água, o Universo ficará congelado instantaneamente. Ao contrário, se
restar apenas o elemento Fogo, e o elemento Água se reduzir a zero, haverá uma
explosão e tudo se anulará. Os elementos Fogo e Água unem-se com o elemento
Solo, e dessa união produz-se a energia que dá existência a todas as coisas. Por
essa razão, o fogo, pela sua natureza, arde em sentido vertical, e a água corre em
sentido horizontal; o fogo arde pela ação da água e a água se move pela ação do
fogo.
Desde a antigüidade o homem é considerado um pequeno universo, porque
o princípio acima se aplica ao corpo humano. Isto é, o Fogo, a Água e o Solo
correspondem, respectivamente, ao coração, ao pulmão e ao estômago. O
estômago digere o que é produzido pelo Solo; o pulmão absorve o elemento
Água; o coração, o elemento Fogo. Sendo assim, podemos compreender por que
esses órgãos desempenham papel tão importante na constituição do corpo
humano. Entretanto, até hoje o coração é visto apenas como órgão bombeador
do sangue, o qual, cheio de impurezas, é levado ao pulmão para ser purificado
pelo oxigênio. Assim, ele é tido unicamente como órgão do sistema circulatório,
pois se desconhece por completo a existência do elemento Fogo.
Como dissemos, o estômago digere o alimento, ou melhor, o elemento Solo
ingerido pela boca; o pulmão aspira o elemento Água pela respiração; e o
coração absorve o elemento Fogo pelas contrações cardíacas. Portanto, a febre
que sobrevém quando se adoece, tem por finalidade dissolver as toxinas
solidificadas na parte enferma, e o calor necessário ao corpo, isto é, o elemento
Fogo, é absorvido do Mundo Espiritual pelo coração. Isso quer dizer que as
contrações cardíacas são movimentos bombeadores por meio dos quais esse
elemento é retirado do Mundo Espiritual. O aumento das contrações cardíacas,
ou melhor, da pulsação, antes de surgir a febre, deve-se à aceleração da
aspiração do elemento Fogo. Os calafrios que se têm na ocasião são motivados
pelo desvio de calor necessário ao processo de purificação, e assim,
provisoriamente, diminui-se a quantidade de calor que mantinha a temperatura
do corpo. A diminuição da febre significa o fim do processo de dissolução das
toxinas. Sendo assim, a temperatura do corpo é resultante da aspiração
incessante do elemento Fogo do Mundo Espiritual, por meio do coração.
Também o pulmão absorve incessantemente, através da respiração, o
elemento Água do mundo atmosférico, e por essa razão, além do volume de
líquido ingerido pela boca, a água existente no corpo humano também é
absorvida, em grande parte, por intermédio dos pulmões. É graças a esse
processo que, tão logo a pessoa falece, imediatamente sua temperatura cai, o
corpo fica gelado e perde a umidade, o sangue coagula e o cadáver começa a
secar. Explicando melhor, com a morte o espírito separa-se do corpo carnal e
entra no Mundo Espiritual. Como desaparece o espírito, que é o elemento Fogo,
a parte líquida solidifica-se. Em outras palavras, o espírito retorna ao Mundo
Espiritual; a parte líquida, ao mundo atmosférico, e o corpo carnal, ao solo.
5 de outubro de 1943

MUNDO ESPIRITUAL

O MUNDO DESCONHECIDO

Vivemos e respiramos no Mundo Material, o Mundo Temporal, mas, com a


morte, tornamo-nos habitantes do Mundo Espiritual, o Mundo Desconhecido,
isto é, o Mundo Intemporal.
O Mundo Espiritual é invisível, impalpável. Não sendo perceptível pelos
sentidos, torna-se difícil crer na sua existência apenas por meio de palavras,
através de uma simples explicação. Entretanto, visto que se trata de uma
realidade e não de um vazio, seria impossível ele não se manifestar por algum
fenômeno, sob qualquer forma.
Com efeito, os fenômenos espirituais – grandes, médios ou pequenos –
apresentam-se em todos os aspectos da vida humana, nos seus mínimos
detalhes e em todos os locais do mundo. Só que o homem não os percebe. Essa
falta de percepção é causada pelo desinteresse da educação da cultura
tradicional em relação ao espírito, em decorrência da fase noturna que o mundo
atravessava. No escuro da noite, com a luz da Lua, só se consegue enxergar
escassamente, mas de dia, com a luz do Sol, é possível distinguir claramente
todas as coisas, de forma global e instantânea. Num futuro bem próximo, o
Mundo Conhecido, que era regido pela Lua, será o mundo regido pelo Sol, isto
é, o mundo sob a Grande Luz. Como resultado dessa mudança de regência,
serão revelados todos os segredos, falsidades e erros.

5 de fevereiro de 1947

A EXISTÊNCIA DO MUNDO ESPIRITUAL

Em primeiro lugar, é preciso entender a finalidade do nascimento do


homem.
Deus criou o homem para construir o Mundo Ideal, que é o objetivo do Seu
governo na Terra, concedendo-lhe missões específicas e utilizando-o conforme
Sua vontade. A evolução da era primitiva para a brilhante era cultural de hoje e
também o desenvolvimento da inteligência humana até chegar ao estágio atual,
foram dirigidos exclusivamente para esse fim.
Não só o homem – criatura de nível mais elevado – mas todas as outras
criaturas, inclusive os vegetais e minerais, enfim tudo aquilo que tem forma,
está constituído de dois elementos fundamentais: espírito e corpo. Havendo
separação desses elementos, o ser deixa de existir, seja ele qual for. Mas
pretendo falar apenas sobre o homem.
Quando o corpo carnal se torna inútil, por velhice, doença, perda de sangue,
etc., o espírito o abandona e dirige-se ao Mundo Espiritual, onde passa a viver.
Esse fenômeno é idêntico no mundo inteiro, seja qual for a raça. Há muitas
obras de autores famosos tratando do assunto, entre elas a que se intitula
“Raymond”, da autoria de Sir Oliver Lodge (1851-1940), editada na Inglaterra
logo após a Primeira Guerra Mundial. Ele registra as mensagens que lhe foram
enviadas do Mundo Espiritual por um filho seu que falecera na Bélgica, durante
uma batalha daquela guerra. Na época, o livro foi lido por muitas pessoas de
diversos países, surgindo daí inusitado movimento de pesquisa do Mundo
Espiritual e também grandes médiuns.
Também o famoso autor de “O Pássaro Azul”, o belga Maurice Maeterlinck
(1862-1949), tornou-se um estudioso dos fenômenos sobrenaturais após
reconhecer a existência do espírito. Com a publicação, logo a seguir, do livro
“Exploration in the Spiritual World”, do Dr. Ward, as pesquisas tomaram um
impulso ainda mais extraordinário. Nesta obra ele descreve minuciosamente o
Mundo Espiritual. Conta que, uma vez por semana, entra em estado de transe,
sentado numa cadeira, e se transporta para lá. Nessas ocasiões, o espírito de um
tio seu acompanha-o para mostrar-lhe todos os aspectos daquele mundo,
orientando-o sobre a sua verdadeira natureza. Também os espíritos de seus
amigos e conhecidos desempenham papel de instrutores, enriquecendo
sobremaneira os conhecimentos que lhe são ministrados. Trata-se de uma obra
muito interessante, que pode ser de grande validade para o conhecimento da
vida no Mundo Espiritual, razão pela qual espero que os leitores a leiam.
Inegavelmente há alguns aspectos diferentes entre o Mundo Espiritual do
Ocidente e o do Japão. Pretendo posteriormente, através de diversos exemplos,
explicar os fenômenos de um e de outro.
Notícias procedentes da Inglaterra há mais de dez anos, dizem que surgiram
naquele país centenas de sociedades de pesquisas psíquicas desenvolvendo
intensas atividades, e que até foi fundada uma universidade para esse fim, mas
eu gostaria de saber a situação presente, porque, com a eclosão da Segunda
Guerra Mundial, não tive mais notícias a respeito.
25 de agosto de 1949

A SITUAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO E O MUNDO


ESPIRITUAL

A situação do mundo contemporâneo apresenta-se realmente periclitante,


talvez como jamais se tenha visto na História. O temor pela Terceira Guerra
Mundial domina quase toda a humanidade. É um problema seriíssimo, pois o
conflito envolveria todos os países, e não apenas os litigantes; seria inédita,
portanto, a extensão da sua influência.
Essa é a imagem do mundo atual, que se projeta à vista de qualquer um;
todavia, se não conhecermos a verdade sobre o Mundo Espiritual, onde está a
origem de tudo que acontece neste mundo, não poderemos descobrir a causa do
problema. Só depois disso conseguiremos prever o futuro e ter tranqüilidade de
espírito. É sobre esse tema que vou escrever agora.
O Plano de Deus é construir o Paraíso Terrestre, e para isso era necessário
que a cultura material progredisse até certo ponto. Com esse objetivo, Ele criou
o bem e o mal, e foi pelo atrito entre ambos que alcançamos o extraordinário
progresso material da atualidade e estamos agora a um passo do advento do
Paraíso. Já expliquei isso muitas vezes, mas vou tornar a fazê-lo, caso contrário,
as pessoas que nunca ouviram falar sobre o assunto teriam dificuldade de
compreender aquilo que hoje pretendo expor.
A luta entre os homens iniciou-se no Mundo Espiritual a partir do momento
em que o ser humano foi criado. Os mais fortes queriam apoderar-se de todas as
regiões conhecidas àquela época, governando-as conforme sua vontade. Para
isso, recorriam à violência, sem distinguir o bem e o mal, tal como vemos
presentemente. Assim, pouco a pouco, a inteligência do homem foi se
desenvolvendo, e, paralelamente ao aumento da população, ampliou-se a escala
da luta, tendo-se chegado, enfim, à situação atual.
O plano de conquista da supremacia mundial foi elaborado há cerca de três
mil anos, e seu chefe era um dragão possuidor de grande poder no Mundo
Espiritual. Esse dragão incorporou numa divindade e, através dela, quis
apoderar-se do mundo, tendo utilizado os métodos mais atrozes. Durante algum
tempo a divindade se saiu bem, recorrendo a tudo para atingir seu objetivo,
mas, quando já estava prestes a atingi-lo, falhou e recebeu severa punição de
Deus. Arrependendo-se, voltou ao seu estado natural. A partir daí, o dragão
passou a incorporar nas grandes personalidades de cada época, procurando
despertar nelas a ambição de dominar o mundo. Fracassou sempre, mas não
aprendeu, e até hoje está lutando tenazmente, com toda a força. Muitos homens
considerados importantes estão nesse caso. A História nos mostra que, embora
eles tivessem grandes poderes na época, acabaram tendo um triste fim. César,
Napoleão, Guilherme II, Hitler e outros podem servir de exemplo.
Creio que agora já podem ter mais ou menos uma idéia da origem da
situação atual.
Referindo-me a personagens como os que mencionamos acima, eu sempre
digo que são chefes dos demolidores do mundo, pois até agora este não era
verdadeiramente civilizado, ainda restando ao homem cerca de cinqüenta por
cento de características selvagens. Espiritualmente falando, significa que o
homem pecou muito e acumulou máculas; portanto, surge de vez em quando a
necessidade de uma ação purificadora. Como para isso é preciso haver
demolidores e também limpadores, compreendemos que o aparecimento deles
sob forma de grandes personagens é apenas uma manifestação do Plano de
Deus. De nada adianta nos aborrecermos ou nos desesperarmos.
25 de fevereiro de 1951

CONSTITUIÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL

MUNDO ESPIRITUAL E MUNDO MATERIAL

Se alguém se interessa por Religião e deseja compreendê-la a fundo, é-lhe


indispensável, antes de mais nada, conhecer a relação entre o Mundo Espiritual
e o Mundo Material. Isso porque o alvo da Fé é Deus, e Deus é Espírito, invisível
aos olhos humanos; querer apreender a Sua essência apenas teoricamente é tão
inútil como procurar peixe numa árvore.
Deus existe; é impossível negá-lo. No entanto, assim como é difícil fazer
com que aborígines reconheçam a existência do ar, também é difícil fazer com
que a maioria dos homens da era contemporânea reconheça a existência do
espírito.
Em primeiro lugar, tentarei explicar a estrutura do Mundo Espiritual, a vida
de seus habitantes e outros aspectos desse mundo.
O homem é formado por dois elementos: o corpo carnal e o corpo espiritual.
Com a morte, os dois se separam e o espírito imediatamente entra no Mundo
Espiritual, onde começa a viver. No momento da separação, o espírito das
pessoas muito bondosas sai pela testa; o espírito dos perversos, pela ponta dos
dedos do pé, e o das pessoas de nível mediano, pela região umbilical.
Os budistas referem-se à morte com a expressão “vir para nascer”.
Analisando do Mundo Espiritual, é realmente “vir para nascer”. Eles também
dizem “antes de nascer”, ao invés de “antes de morrer”. Pelas mesmas razões os
xintoístas usam as expressões “voltar para o Mundo Espiritual” ou
“transmutação para voltar”.
Ao passar para o Mundo Espiritual, o espírito primeiramente atravessa um
rio e, a seguir, dirige-se para o Fórum. É um fato incontestável, pois coincide
com o que ouvi de muitos espíritos. Quando o espírito acaba de atravessar o rio,
a cor de suas vestes se altera. As vestes dos que têm menos máculas tornam-se
brancas; as dos outros tomam cores diferentes, de acordo com o peso das
máculas: amarelo, vermelho, azul ou preto. Entre as divindades, elas tomam a
cor violeta.
O Fórum do Mundo Espiritual é semelhante ao do Mundo Material. Nele, o
juiz e seus auxiliares procedem ao julgamento do espírito, decidindo o prêmio e
o castigo de cada um. Nessa ocasião, os muito bondosos são conduzidos ao
Plano Superior; os perversos caem no Plano Inferior; os que se situam entre uns
e outros, ficam no Plano Intermediário, que no xintoísmo chamam de
“encruzilhada de oito direções” e no budismo “esquina de seis caminhos”. A
grande maioria vai para este plano e aí faz um curso de aprimoramento, cuja
parte principal consta de ensinamentos transmitidos pelos sacerdotes da
respectiva religião. Esse aprimoramento dura mais ou menos trinta anos.
Decorrido esse tempo, é determinado o local a que o espírito será destinado.
Aqueles que conseguem arrepender-se vão para o Plano Superior; os demais,
para o Plano Inferior.
O Mundo Espiritual é constituído de três planos, cada um dos quais
também está subdividido em três níveis, formando, ao todo, nove níveis. O
Plano Superior é o Céu; o do meio é o Plano Intermediário; o Inferior é o
Inferno. Como o Plano Intermediário corresponde ao Mundo Material, no
budismo ele é designado com a expressão “esquina de seis caminhos”, pois se
liga aos três níveis do Plano Superior e também aos três níveis do Plano
Inferior. No xintoísmo, além desses, acrescentam, acima do Plano Superior, o
“Céu Superior”, e, abaixo do Plano Inferior, o “Fundo do Abismo”. Daí
designarem o Plano Intermediário como “encruzilhada de oito direções”.
A seguir descreverei sucintamente o Céu e o Inferno.
Quanto mais próximo do ponto mais alto do Céu, mais intensa é a luz e o
calor, e a maioria dos espíritos vivem quase nus. Por isso, na maior parte das
pinturas e esculturas budistas, as divindades são representadas sem vestes. Ao
contrário, quanto mais próximo do ponto mais baixo do Inferno, mais fraca é a
luz e o calor; o ponto extremo é completamente escuro e gélido. Portanto, ao
deparar com esses sofrimentos, mesmo os espíritos mais perversos são levados
ao arrependimento.
Talvez as pessoas da atualidade achem que essa descrição, feita em termos
genéricos, seja produto da minha imaginação, mas em verdade trata-se de
pontos coincidentes entre levantamentos e estudos que fiz durante mais de
vinte anos com inúmeros espíritos, através de médiuns e de todos os meios
possíveis. Por isso podem estar certos da veracidade do que lhes estou
transmitindo. O Céu e o Inferno pregados por Buda, e o Paraíso, Purgatório e
Inferno da “Divina Comédia” de Dante Alighieri (1265-1321), tenho certeza, não
são fantasias.
Pode-se mais ou menos deduzir para que plano vai o espírito observando-se
a face do morto. Os que não apresentam expressão de sofrimento e cuja pele
permanece corada e fresca, como se ainda estivessem vivos, vão para o Plano
Superior; aqueles cuja expressão é triste e sombria, e cuja pele se apresenta
pálida, sem sangue, ou azul-amarelada, como ocorre com a maioria, vão para o
Plano Intermediário; os que ficam com uma expressão de profunda agonia e
com a pele escura ou preto-azulada, vão, logicamente, para o Plano Inferior.
Estas explanações têm por objetivo dar-lhes conhecimentos básicos sobre o
Mundo Espiritual, mas em outras oportunidades voltarei a falar sobre diversos
fenômenos espirituais constatados através de minha própria experiência.
25 de agosto de 1949

CONSTITUIÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL

Como explanei em outras oportunidades, o Mundo Espiritual está


constituído dos planos Superior, Intermediário e Inferior, cada um formado de
três níveis, perfazendo um total de nove. A diferença entre eles é determinada
por dois fatores: a luz e o calor.
No nível mais alto do Plano Superior, a luz e o calor são extremamente
intensos; o nível mais baixo do Plano Inferior caracteriza-se pela ausência
desses elementos; o Plano Intermediário situa-se entre os dois, correspondendo
ao Mundo Material. Neste mundo existem pessoas felizes e pessoas infelizes;
isso equivale a estarem respectivamente nos Planos Superior e Inferior.
Como no nível mais alto do Plano Superior a luz e o calor são muito fortes,
seus habitantes vivem quase nus. Poderão ter uma idéia disso lembrando que,
nas estatuetas búdicas, Nyorai e Bossatsu são representados no estado de
seminudez. À medida que se desce para o Segundo Céu, Terceiro Céu, etc., a
luz e o calor diminuem. Se um espírito fosse repentinamente elevado do Plano
Inferior para o Superior, seria ofuscado pela luz intensa e não suportaria o
calor; preferiria, então, retornar ao Plano Inferior. Isso é idêntico ao que
acontece no Mundo Material: uma pessoa de baixa categoria elevada a uma
posição alta sem ter merecimento, tem mais sofrimentos do que satisfação.
No Plano Superior, a divindade mais alta e mais sagrada é Deus. Toda
organização religiosa tem uma divindade padroeira e também um fundador.
Exemplifiquemos com o xintoísmo: na seita “Taisha-Kyo”, o padroeiro é
Okuninushi no Mikoto; na seita “Ontake-Kyo”, é Kunitokotati no Mikoto; na
seita “Tenri-Kyo”, é Tohashira no Kami. O budismo também serve como
exemplo: na seita “Shinshu” é Amida Nyorai; na seita “Zen-Shu” é Daruma
Daishi; na seita “Tendai” é Kanzeon Bossatsu; etc. Os fundadores de seitas,
como Kobo, Shinram, Nitiren, Honen e outros, situam-se na classe de líderes de
cada comunidade. Assim, ao entrarem no Mundo Espiritual, os espíritos das
pessoas que tinham religião durante a vida terrena ligam-se à organização a que
elas pertenciam, e não se pode calcular o quanto são mais felizes que os
espíritos dos descrentes. Estes, não tendo uma organização à qual filiar-se,
ficam perdidos, extremamente confusos, vagando pelo Mundo Espiritual.
Desde épocas remotas fala-se sobre “espíritos errantes”, porque tais espíritos
ficam perambulando pelo Plano Intermediário. Uma vez passando para o
Mundo Espiritual, aqueles que não reconhecem a sua existência e não crêem na
vida após a morte, não podem se fixar em nenhum lugar, ficando privados de
inteligência e juízo durante certo tempo. Como exemplo, citarei um caso
ocorrido há alguns anos.
Numa reunião de pessoas que pesquisavam fenômenos espirituais, o
espírito de um homem muito famoso manifestou-se, através de um médium.
Chamaram, então, a esposa do falecido, a qual, pela maneira como o espírito
falava e agia, confirmou que realmente se tratava do marido. Fizeram-lhe muitas
perguntas, mas as respostas não eram corretas nem lúcidas, apesar do seu nível
de cultura no Mundo Material. Isso acontecia porque aqui neste mundo ele não
acreditava na existência do Mundo Espiritual. Vemos, pois, que é necessário o
homem crer na existência do Mundo Espiritual e, assim, preparar-se para a vida
após a morte.
Mas será que existe realmente aquilo que chamo Plano Superior, mais
conhecido como Céu ou Paraíso? A maioria das pessoas pensa que não passa de
fantasia dos homens de eras passadas, porém eu estou absolutamente convicto
de que ele é uma realidade.
Há uma estória nesse sentido. Faz muito tempo, um sacerdote budista de
alta categoria e um catedrático discutiam sobre a existência do Inferno e do
Paraíso após a morte. Ao final da discussão, o sacerdote concluiu que eles
existem, e o catedrático, que não existem. Enfim, alegando que para ter certeza
não havia outro meio senão morrer, o religioso sugeriu que ambos se matassem,
e em vista disso o catedrático se rendeu.
O assunto não é para brincadeira, mas, embora o sacerdote budista estivesse
com a verdade, se pudermos conhecer o Mundo Espiritual sem recorrer a esse
extremo, será muito melhor, não é mesmo?
Citarei alguns fenômenos que pude comprovar através das minhas próprias
experiências.
Uma senhora de trinta anos, esposa do diretor de uma empresa, solicitou a
minha ajuda por estar gravemente enferma. Como já tinha sido desenganada
pelo médico, seus familiares me suplicaram que a salvasse.
Ela residia a cerca de quarenta quilômetros de distância, razão pela qual não
me era possível visitá-la com a freqüência que o caso requeria. Por isso,
trouxemo-la imediatamente para a minha casa. Pensando na possibilidade de
acontecer o pior durante a viagem, o marido também veio com ela no carro. Eu,
ao mesmo tempo em que a segurava com uma das mãos, ministrava-lhe Johrei
com a outra.
Chegamos sem que houvesse acontecido nada daquilo que nos estava
preocupando, mas, pela madrugada, fui tirado da cama pelo acompanhante da
doente. Fui vê-la imediatamente. Segurando minha mão com força, ela me
disse: “Sinto que algo vai sair de mim e estou com muito medo. Deixe-me
segurar sua mão. Tenho o pressentimento de que vou morrer hoje. Chame meus
familiares com urgência”.
Telefonei-lhes incontinenti, e, quando eles chegaram, acompanhados do
médico da firma onde o marido da senhora trabalhava, já tinha decorrido uma
ou duas horas. A essa altura, ela estava em coma e com o pulso bastante fraco.
O médico examinou-a e disse que era questão de horas.
À noite, rodeada pelos familiares, a enferma continuava em estado de coma.
De repente, mais ou menos às vinte horas, abriu os olhos e começou a olhar à
sua volta, como se não estivesse entendendo nada. Por fim explicou: “Fui para
um local muito bonito, tão maravilhoso que nem sei como descrevê-lo. Era um
jardim todo florido, onde estavam muitas pessoas de rara beleza, e lá no fundo
divisei um senhor de ares nobres, semelhante à figura de Kanzeon Bossatsu que
se vê em pinturas sacras. Ele olhou na minha direção e sorriu. Fiquei tão grata,
que me prostrei no chão, mas logo recobrei os sentidos. Agora estou me
sentindo muito bem, como não acontecia desde que adoeci”.
No dia seguinte, ela não tinha mais nenhum sofrimento; estava salva,
embora continuasse fraca. Após um mês mais ou menos, recuperou
completamente a saúde. Esse exemplo nos mostra que o espírito daquela
senhora se separou do corpo por alguns instantes e foi para o Céu, sendo
purificado dos seus pecados por Kanzeon Bossatsu.
Outro exemplo.
Uma jovem de aproximadamente vinte anos foi curada de tuberculose
pulmonar em estado gravíssimo, mas, depois de aproximadamente um ano, teve
uma recaída e faleceu. Essa jovem tinha um irmão mais velho, vadio e viciado
em bebida. Um dia, dois ou três meses depois que ela morreu, estando sentado
no seu quarto, ele notou uma espécie de fumaça ou neblina roxa a uns dois
metros à sua frente, no alto. Essa nuvem começou a descer devagarinho, e
acima dela, de pé, ele viu sua falecida irmã. Olhando bem, notou que ela estava
muito mais bonita do que quando era viva; vestia-se elegantemente e irradiava
uma nobreza divinal. Ela, então, lhe disse carinhosamente: “Vim para
aconselhá-lo a abandonar a bebida. Pense no bem da nossa família e no seu
próprio e deixe o álcool”. Dizendo isso, subiu novamente na nuvem e começou
a elevar-se até desaparecer.
Decorridos alguns dias, aconteceu a mesma coisa, e o fato tornou a se
repetir pouco tempo depois. Na terceira vez, surgiu diante do rapaz uma bela
ponte curva, toda pintada de vermelho, e a irmã, descendo da nuvem,
atravessou essa ponte e lhe disse: “É a terceira vez que venho. A partir de hoje
não terei mais permissão para vir. Esta é a última vez”. Depois disso, o fato não
se repetiu. Através desse caso, vemos que é possível ter “visões”
temporariamente.
Mais um exemplo.
Um rapaz de vinte e poucos anos sofria de uma doença que poderíamos
classificar de psíquica. Nessa época, ele estava loucamente apaixonado por uma
mulher que trabalhava num bar noturno, e os dois iam suicidar-se juntos.
Entretanto, a um passo da tragédia, tive a grata felicidade de salvá-los, pois
encontrei, no bolso do rapaz, o veneno que ambos iam tomar.
Levando o casal para minha casa, examinei-os espiritualmente. Segundo
constatei pelas palavras do próprio rapaz, um espírito de raposa encostara nele
para levá-lo ao suicídio. Nuns vinte minutos terminei o exame, não sem antes
ter advertido aquele espírito. O jovem, no entanto, continuava na postura
anterior, de olhos cerrados e com as palmas das mãos unidas à altura do peito.
Virando-se para a esquerda, inclinou a cabeça como se não compreendesse algo.
Passados uns três ou quatro minutos, abriu os olhos, mas continuou de cabeça
inclinada. Disse então: “Vi uma coisa bastante estranha. Alguém ao meu lado
estava tocando “koto” (1), e o som desse instrumento era extraordinariamente
belo e nobre. Embevecido, eu olhava à minha volta e notei que estava num
lugar que me pareceu o interior de um santuário muito espaçoso. No fundo
havia uma escada que levava a uma sala toda acortinada. Aí, o senhor, vestido
com trajes litúrgicos, subiu a escada suavemente e entrou na sala”.
Ouvindo isso, eu comentei: “Se você viu a pessoa de costas, não podia ter
reconhecido quem era”. Mas ele confirmou: “Tenho a certeza de que era o
senhor”. E descreveu a indumentária que, segundo disse, era constituída de
chapéu, blusa azul e calça vermelha. Ele pôde “ver” isso porque,
momentaneamente, teve a faculdade de visão espiritual. Esse rapaz era
empregado de uma loja e não professava nenhuma Fé, não tinha nenhum
conhecimento sobre assuntos espirituais; portanto, creio que o seu relato
merece ainda mais confiança. Ressalta-se que à esquerda do lugar onde ele
estava sentado ficava o Altar.
Os três exemplos citados poderão servir de ilustração para o conhecimento
do interior e do exterior da morada celeste, e também para comprovação da
descida de seus habitantes.
Em seguida, escreverei sobre as condições do Paraíso Búdico.
Uma moça virgem, de dezoito anos, serviu de médium, incorporando o
espírito de um de seus ancestrais, um samurai que falecera numa batalha
travada há mais de duzentos anos. Fora ardoroso adepto do budismo e pouco
depois de falecido entrou na seita fundada por Kobo Daishi. Em resposta às
minhas perguntas, ele disse:
“Quando eu cheguei aqui, havia uns quinhentos ou seiscentos espíritos,
mas, ano após ano, reencarnavam mais espíritos do que entravam, de modo que
agora só existem mais ou menos cem.
Moramos numa casa grande, mas não há serviço propriamente dito, e
passamos as horas divertindo-nos: tocamos “koto”, “shamissen” (2), flauta,
tambor e outros instrumentos musicais; pintamos, esculpimos, lemos,
escrevemos, jogamos xadrez, cartas, etc., ou divertimo-nos de outras maneiras
que também existem no Mundo Material. De vez em quando há palestras feitas
pelo próprio Kobo Daishi e por outros espíritos, e isso constitui a maior das
alegrias para nós. Às vezes Kobo Daishi encontra-se com Buda, mas este,
segundo ele diz, está num nível acima do Paraíso, onde a luz é muito intensa;
quase não se pode olhar para cima, de tão ofuscante que ela é.
Fora da casa, há um grande lago em cuja superfície bóiam inúmeras folhas
de lótus, tão grandes que nelas cabem duas pessoas. A maioria é ocupada por
casais, que nem precisam remar para se dirigir ao local aonde desejam ir. Não
há noite; é sempre dia, e a claridade é um pouco inferior à do dia claro. O sol é
semelhante ao do Mundo Material, e seus raios luminosos, purpurinos e suaves,
provocam uma sensação agradável”.
Em muitas oportunidades ouvi os espíritos que habitam o Paraíso Búdico
dizer que se sentem entediados quando já se encontram ali há muito tempo.
Como estão sempre se divertindo, acabam perdendo o interesse e por isso
manifestam o desejo de serem transferidos do Mundo Búdico para o Mundo
Divino. Não foram poucos os espíritos que transferi para este último, atendendo
a seus pedidos. Tal desejo é motivado pelo fato de saberem que o Mundo Divino
entrou recentemente numa fase de grande atividade e que todas as divindades e
espíritos estão extremamente atarefados. Não preciso dizer que isso se deve à
aproximação da Era do Dia, que é regida por Deus, ao passo que a da Noite era
regida por Buda.
Passemos, agora, ao Plano Inferior.
O mais baixo dos três níveis que constituem o Plano Inferior é chamado
pelos xintoístas “Nezoko no Kuni” (Reino do Fundo da Raiz); os budistas o
chamam de “Gokukan Jigoku” (Inferno de Frio Extremo), e no Ocidente dão-lhe
o nome de Inferno. Mas, seja qual for a designação, é um local completamente
escuro e gelado. O espírito que cair aí, fica sem enxergar nada durante dezenas
ou centenas de anos; petrificado pelo frio intenso, não pode se mover nem um
centímetro. Sua situação é tão lastimável, que não encontro adjetivos para
descrevê-la. O que eu ouvi de um espírito salvo desse local fez-me arrepiar os
cabelos. O gélido Inferno retratado por Dante Alighieri na “Divina Comédia”
não é absolutamente nenhuma fantasia.
O nível médio do Plano Inferior é o local onde existe carnificina, desejo
carnal animalesco, fome, monte de agulhas, lagoa de sangue, poço de serpentes,
sala das abelhas e das formigas e outras coisas de que se costuma falar. Os
demônios encarregados da vigilância assemelham-se àqueles que vemos nos
desenhos, pintados de verde ou vermelho.
Um dos castigos do Inferno consiste em açoitar os espíritos com barras de
ferros cheias de espinhos. Segundo eles relatam, a dor é muito maior do que se
fosse no corpo carnal, porque, sem a proteção deste, a parte espiritual
correspondente aos nervos é atingida diretamente.
Darei mais alguns exemplos de sofrimentos infernais.
Monte de agulhas, a própria expressão já está dizendo o que é: os espíritos
são obrigados a andar descalços em cima de agulhas, e a dor que sentem é algo
indescritível.
A lagoa de sangue é o lugar para onde vão obrigatoriamente os espíritos das
pessoas cuja morte foi motivada por gravidez ou parto. Pelo que ouvi de muitos
espíritos, eles ficam submersos até o pescoço nessa lagoa, o ar está impregnado
do cheiro de sangue, e continuamente uma infinidade de insetos e vermes
sobem até o seu rosto, provocando uma sensação tão horrível que eles se vêem
incessantemente obrigados a tirá-los com a mão. Esse sofrimento geralmente
dura mais ou menos trinta anos.
Quanto à sala de abelhas, foi descrita pelo espírito de uma gueixa que
incorporou no empregado de um salão de beleza. Os espíritos são colocados
dentro de uma caixa onde mal cabe uma pessoa, e inúmeras abelhas picam todo
o seu corpo, causando-lhes um sofrimento espantoso.
O castigo do fogo é infligido àqueles que morreram queimados ou se
atiraram na cratera de um vulcão ativo. Vou relatar um caso sobre esse castigo.
Um homem de meia-idade sofria de epilepsia causada por fogo. Ele conta
que, à noite, deitava-se na cama e adormecia, mas à meia-noite despertava.
Então, a uns dez metros de distância, enxergava labaredas que cada vez se
tornavam mais próximas. Quando chegavam bem perto, ele tinha um espasmo e
ficava com uma febre altíssima. Sentia todo o corpo queimar e entrava em
transe. Isso havia começado no ano seguinte ao Grande Terremoto, razão pela
qual se pode concluir que, em outra vida, ele morrera carbonizado por ocasião
de um terremoto.
Relações carnais impuras entre homem e mulher fazem com que os espíritos
caiam no Inferno, mas a situação varia de acordo com a gravidade do caso. Por
exemplo: quando eles se suicidam por amor, os espíritos de ambos ficam
ligados e não podem se separar. Isso é causado pelo desejo que tiveram de
permanecer sempre juntos. Os que se suicidam abraçados ficam grudados,
sentindo uma vergonha tão grande, que se arrependem seriamente. Às vezes
lemos nos jornais a notícia do nascimento de gêmeos ligados por uma parte do
corpo; geralmente se trata da reencarnação de um casal que se suicidou por
amor. Em casos de amor abomináveis – por exemplo, entre pais e filhos, entre
irmãos, entre alunos e professores, etc. – os espíritos também ficam grudados,
mas, enquanto um permanece de pé, o outro fica de cabeça para baixo. O
incômodo e a vergonha a que os espíritos se expõem levam-nos a um profundo
arrependimento.
Diante de tudo isso, poderão entender o equívoco daqueles que, por causa
de um amor impossível, recorrem ao suicídio acreditando poderem alcançar a
felicidade no Céu. Pode-se, também, compreender claramente a justiça reinante
no Mundo Espiritual.
É preciso saber ainda o que acontece com os que são avarentos no Mundo
Material, apesar de possuírem muito dinheiro. Trata-se de pessoas
materialmente ricas, mas espiritualmente pobres. Passando para o Mundo
Espiritual, ficam numa situação de penúria e reconhecem seu erro. Outros,
porém, no Mundo Material, têm um nível de vida inferior ao da classe média,
mas se contentam com o que têm, vivendo a vida cotidiana cheios de gratidão e
empregando suas economias em obras que visam à salvação da humanidade. Ao
entrarem no Mundo Espiritual, tornam-se ricos e vivem muito felizes.
Mas existe outra causa para o empobrecimento dos milionários. Há pessoas
que não desembolsam o dinheiro que deveriam desembolsar ou não pagam o
que deveriam pagar, e isso constitui uma espécie de roubo; espiritualmente,
estão acumulando dinheiro furtado, a que se acrescentam juros. O resultado é
que os bens vão se esgotando, e, pela Lei do Espírito Precede a Matéria, um dia
essas pessoas acabam perdendo tudo o que têm. Muitas vezes vemos o herdeiro
de um novo-rico esbanjar toda a fortuna da família por incapacidade ou
imoralidade, mas, conhecendo o princípio acima referido, poderão
compreender por que isso acontece.
Falemos agora sobre o nível mais alto do Plano Inferior.
É o local para onde vão os espíritos que estão prestes a alcançar o Plano
Intermediário, após terem sofrido os castigos infernais. Por conseguinte, os
trabalhos a que estão submetidos são de natureza leve, como, por exemplo,
servir os alimentos oferecidos nas Moradas dos Ancestrais, consagrados nas
casas dos seus descendentes, levar mensagens, dar assistência a outros
espíritos, etc. A propósito, convém saber algo a respeito dos alimentos ofertados
aos espíritos.
Embora desencarnado, o espírito sente fome se não se alimentar. Mas em
que consiste esse alimento? O espírito serve-se do espírito dos alimentos;
entretanto, ao contrário do que acontece no Mundo Material, ele se satisfaz com
pouca quantidade de comida. Sua alimentação diária consta de uns três grãos
de arroz. Portanto, a comida comumente ofertada nos lares dá para um grande
número de espíritos e ainda sobra muito. As sobras são dadas àqueles que se
encontram na camada dos famintos. Graças a isso, os espíritos ligados a essa
família elevam-se mais rapidamente.
Sempre que possível devemos oferecer alimentos aos antepassados, pois,
levados pela fome, eles podem se ver forçados a roubar para comer, e,
conseqüentemente, cair no Inferno ou encostar em animais, como cão ou gato.
Quando o branco se mistura com o vermelho, fica vermelho, e o mesmo
acontece quando o espírito humano encosta em animais: vai se degradando
progressivamente até que se animaliza. Quando ocorre a reencarnação de um
espírito híbrido de homem e animal, o corpo toma a forma desse animal.
Existem cavalos, cães, gatos, raposas, texugos e serpentes que entendem o que
os homens dizem: trata-se da reencarnação de espíritos híbridos. Sob forma
animal, eles são obrigados a um certo grau de aprimoramento, terminado o qual,
voltam a nascer sob forma humana.
Há ocasiões em que, após matarem cobras, gatos, etc., as pessoas são
perseguidas por grandes sofrimentos. Muitos os atribuem àquele ato, e na
maioria das vezes têm razão. Tratando-se de espírito humano sob forma de
animal, ele se vinga; se não for o caso, isso não acontece. Na casa de famílias
tradicionais, às vezes existe uma cobra de cor verde chamada comumente de
“Aodaisho”. Nela está reencarnado o espírito híbrido de um ancestral e de uma
cobra, o qual está protegendo seus descendentes. Se estes a matarem, ela se
zangará e fará sérias advertências. Caso não se dê atenção a essas advertências,
poderá ocorrer a morte de um dos descendentes ou chegar-se ao extremo de ver
extinta a família, razão pela qual se deve tomar muito cuidado. O mesmo pode
acontecer quando se destrói o “Inari” (3) ou quando se deixa de realizar
cerimônias que nele vêm sendo realizadas há muito tempo.
Citei vários exemplos, e entre os leitores provavelmente há alguém que
conhece ou ouviu falar de casos que se enquadram dentro daquilo que acabo de
explicar.
Vou contar uma das experiências que tive.
Uma vez fui ministrar Johrei numa casa onde havia um cão de grande porte.
O dono da casa esclareceu: “Esse cão não é normal. Nunca sai para a rua, vive a
maior parte do tempo dentro de casa e só se senta em almofada de seda. Se uma
pessoa da família o chama, ele atende, mas o mesmo não acontece se for um
empregado. Em relação à comida também é cheio de luxo, e jamais come coisas
vulgares. Entende perfeitamente o que lhe falam e não gosta de ficar na cozinha
nem nas salas e cômodos inferiores; em tudo, enfim, é idêntico a um ser
humano”. Então eu dei a seguinte explicação: “Esse cão é um ancestral seu que
se degradou ao nível de vida dos irracionais, reencarnando em forma de cão.
Pela afinidade espiritual, foi parar na sua casa. Por isso ele faz questão de que
lhe dispensem o tratamento devido a um ancestral”. O dono da casa entendeu a
explicação e ficou satisfeito.
O caso seguinte, também verídico, foi vivido por um dos meus discípulos.
Eis o que ele contou:
“Há uns vinte e cinco anos, tendo tomado conhecimento de que uma
senhora de meia-idade, residente em Yokohama (principal porto do Japão),
estava sofrendo uma tortura incomum, fiquei muito curioso e fui visitá-la. Ela
usava um pano branco em volta do pescoço, e qual não foi a minha surpresa
quando ela o tirou: havia uma cobra enroscada em seu pescoço! Essa cobra
entendia o que lhe falávamos, e na hora das refeições a referida senhora pedia
permissão para se alimentar, dizendo que limitaria a comida a uma ou duas
tigelas. Nesse caso, a cobra afrouxava a pressão, mas, quando o limite
prometido era ultrapassado, pressionava novamente e não a deixava comer de
forma alguma. Foi a própria senhora que me contou por que aquilo acontecia.
Pouco depois do seu casamento, a sogra adoeceu, e ela não lhe dava comida,
para que morresse logo. De fato a sogra acabou falecendo, mais por falta de
alimento do que pela própria doença. Por esse motivo, seu espírito foi tomado
de grande ódio e, para vingar-se, reencarnara sob forma de cobra e torturava a
nora daquela maneira. Assim, esta queria alertar as pessoas o mais possível
sobre a temeridade daquele pecado, a fim de redimir-se um pouco que fosse”.
A respeito do trabalho dos animais, há um pensamento errado. O erro
consiste em colocá-los no mesmo nível do ser humano. Os trabalhos que deles
são exigidos, podem parecer muito cruéis do ponto de vista humano, mas não
tanto como se está pensando. Bois e cavalos, por exemplo, até desejam ser
maltratados, por isso caminham devagar, propositalmente, desejando ser
chicoteados. Não correm por causa da dor, mas para saborear o prazer do açoite.
Entre os homens, existe uma anomalia sexual conhecida como sadismo, em que
as pessoas atingem o orgasmo maltratando o corpo do outro. Isso é motivado
pelo encosto do espírito de animais como bois e cavalos. Sendo assim, é muito
bom defender os animais, mas antes deveríamos pensar em defender os homens
que são tratados desumanamente.
Para finalizar, acrescento uma explicação sobre a Moradia dos Ancestrais do
Lar, do tipo budista. Seu interior representa o Paraíso, e para ali são convidados
os ancestrais. No Paraíso, a comida e a bebida são fartas, há todos os tipos de
flor, cujo perfume impregna o ar, e soam as músicas mais belas e suaves, de
modo que se deve copiar tudo isso, oferecendo aos ancestrais alimentos, flores e
incenso. Mesmo nos templos, o bater do bloco de madeira ou de pratos de
metal, o toque de flautas, etc., têm efeito de música. O bater do sino na ocasião
em que se oferece a comida, serve de chamada para os espíritos.

5 de fevereiro de 1947

ATUAÇÃO DO MAL

ATUAÇÃO DOS DEMÔNIOS

O Universo inteiro movimenta-se pela Lei do Espírito Precede a Matéria.


Todos os fenômenos surgem primeiramente no Mundo Espiritual e depois são
projetados no Mundo Material em maior ou menor tempo, dependendo da
grandeza do fenômeno. A projeção pode ocorrer em alguns dias ou após alguns
anos. Entretanto, esse tempo será abreviado à medida que for se aproximando a
Era do Dia, o que de fato está acontecendo. Isso, contudo, não é nada em
comparação ao Mundo Espiritual, que, atualmente, acha-se numa situação
confusa como nunca esteve. A rapidez com que ocorrem as transformações, por
sua vez, também evidenciam claramente o Final dos Tempos.
Intensificação das atividades dos demônios
Hoje em dia, o que mais se pode observar é a atuação desesperada dos
demônios. Eles exerceram grande influência durante milhares de anos, e à
medida que se aproximam seus derradeiros momentos estão se debatendo
desesperadamente.
Entre os espíritos satânicos existem chefes; quem está atuando mais, agora,
é o dragão vermelho e o dragão preto, e sua família chega a somar quase um
bilhão de componentes. Entre eles também há classes – superior, média e
inferior – e as tarefas são determinadas de acordo com elas. Os demônios se
esforçam bastante para executar fielmente os trabalhos que lhes são ordenados,
pois se sentem estimulados ante a possibilidade de subir de classe e receber
prêmios, conforme seu mérito.
De sua sede, o chefe emite ordens que são transmitidas ao Espírito
Secundário do homem, através dos elos espirituais. Nesse caso, atuam os
demônios que correspondem à posição ou classe das pessoas aqui neste mundo,
e sua missão é encaminhar o homem cada vez mais para o mal, utilizando-se de
todos os meios.
É lamentável, mas isso se manifesta claramente na sociedade. Os métodos
são de fato extremamente hábeis e cruéis. Por exemplo: os demônios fazem os
homens de nível baixo cometer crimes perversos, como assassinatos, assaltos ou
violências; se a pessoa está num nível mais elevado, induzem-na à fraude, à
falsificação de dinheiro, de títulos, de obras de arte, etc. Fazem, também, com
que o homem se divirta ludibriando mulheres e mocinhas por meio de palavras
hábeis, praticando adultério e outras ações condenáveis. Quando a pessoa está
acima desse nível, vê-se induzida à prática de crimes astuciosos, embora
aparente ser pessoa de bem: usurpar a fortuna alheia, ganhar dinheiro
enganando o próximo, subornar, sonegar, esconder produtos, negociar no
mercado negro e outros atos escusos. Também é hábito desses demônios levar
os homens a embriagar mulheres a fim de abusar delas.
Todos esses casos representam infração da lei; se as pessoas forem
descobertas, serão consideradas criminosas. Contudo, há ocasiões em que elas
são induzidas a praticar ações que parecem boas, mas que em verdade não o
são. Isso ocorre mais freqüentemente entre as pessoas de nível médio para cima,
e, como nesses níveis existe um grande número de intelectuais, é preciso muito
cuidado. Para inspirar confiança, eles sempre defendem teses orais ou escritas
que à vista de qualquer um parecem corretas, mas secretamente fazem o
contrário do que pregam. Tratando-se de indivíduos demasiadamente hábeis,
todos confiam neles, e por essa razão torna-se difícil avaliar a justeza do que
dizem. Isso acontece muito entre os políticos, entre os homens renomados, que
gostam de polêmicas, e também entre aqueles que têm certa posição social, de
modo que é necessário estar sempre prevenido.
O bem, do ponto de vista de Deus
Não há nada pior do que alguém se dedicar devotadamente a uma causa que
acredita ser justa e os resultados mostrarem exatamente o contrário. As pessoas
envolvidas nos incidentes de 15-05-32 e 26-02-36 incluem-se nesse caso, assim
como aquelas que, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, cometeram atos
pelos quais foram julgadas criminosas de guerra e executadas há pouco tempo.
Eis um crime que geralmente passa despercebido: uma pessoa devotar-se à
prática de uma teoria, julgando-a maravilhosa, e, na realidade, estar causando
desgraça aos seus semelhantes. Tais criaturas são dignas de pena, porque, com
o cérebro bitolado pela Ciência, não têm possibilidade de compreender que são
manipuladas pelo demônio.
Entretanto, existem pessoas de nível superior, como fundadores de religiões,
grandes cientistas que descobriram novas teorias, pensadores renomados, etc.,
que estão acima da natureza humana e por isso, freqüentemente, tornam-se
ídolos, sendo venerados e respeitados durante muitos séculos após sua morte.
Evidentemente, não têm nenhuma parcela de maus pensamentos, nenhuma
partícula de egoísmo, e entregam sua vida a uma causa; são dignos de
admiração. Todavia, mesmo nessas realizações há pontos que beneficiaram a
humanidade e pontos que lhe causaram danos. Por isso mesmo não são poucos
os casos em que é impossível determinar méritos e deméritos. Torna-se
desnecessário dizer que tais pessoas não têm nenhuma relação com o demônio,
mas pode acontecer que suas obras sejam úteis até certa época e depois venham
a ser prejudiciais. Entre os cientistas e os religiosos isso ocorre com freqüência.
É comum chegar ao nosso conhecimento o caso de religiões que eram
magníficas na época de sua fundação, mas que, com o tempo, acabaram
relaxando, nelas surgindo conflitos e corrupção, de modo que se tornaram
nocivas. Idêntico é o que acontece com certas teorias e teses: algo que na
ocasião de sua descoberta era de grande importância para o mundo, muitas
vezes, com o passar dos anos, pode vir a ser prejudicial.
Em suma, tudo faz parte do Plano de Deus, e para o progresso da cultura
lutam o bem e o mal, intercalam-se o claro e o escuro, o belo e o feio. Assim,
aproximamo-nos passo a passo do Ideal, que é o profundo Propósito Divino,
insondável pela inteligência humana.
25 de dezembro de 1950

DERROTA DO DEMÔNIO

Assim como Cristo foi tentado por Satanás e Buda foi atormentado por seu
primo Daiba, no caso da nossa Igreja, Satanás e Daiba também nos espreitam
insistentemente. O interessante é que, com o passar do tempo, os demônios
estão cada vez mais desesperados; atualmente, eles agem com vigor e força
leonina. Todos poderão comprovar a veracidade das minhas palavras através
dos fatos que nos últimos tempos estão sendo freqüentemente publicados pelos
jornais. Por isso pode-se imaginar que a derrota do demônio está iminente, o
que significa que estamos atravessando a véspera do “Fim do Mundo”
profetizado por Cristo.
Falando-se em demônio, tem-se a impressão de que seja um só. Na verdade,
existem vários, de grande, médio e pequeno poder. Quanto mais máculas o ser
humano tiver, mais livremente será manipulado por eles, através de elos
espirituais maléficos. Dessa forma, inconscientemente, o homem tomará
atitudes que se opõem a Deus. Como os demônios vêm agindo à vontade há
milhares de anos, continuam com sua maldade e pensam que nada mudou,
porque desconhecem a transição do Mundo Espiritual. Entretanto, como essa
transição está se processando, é com razão que eles estão confusos e ainda não
despertaram.
À medida que o Mundo Espiritual vai clareando, a luz vai se tornando mais
intensa. Quer dizer que está chegando a época de terror para o demônio, pois
Luz é o que ele mais teme; diante dela, ele se encolhe e perde a força de ação. É
por isso que até nas experiências mediúnicas, se não apagarem a luz, esses
espíritos não podem atuar. Só ocorre o contrário quando se trata de um espírito
muito elevado. Por esse motivo, como os espíritos satânicos temem a Luz que
emana do Poder de Deus, fazem tudo para interromper-lhe o fluxo, procurando
criar obstáculos para nossa Igreja.
20 de novembro de 1949

RELIGIÃO E OBSTÁCULO

Desde a antigüidade, costuma-se dizer que os obstáculos são inerentes à


Religião. O maior deles, talvez, tenha sido aquele que foi imposto a Cristo. Os
obstáculos impostos a Buda por Daiba também são famosos. No Japão,
registram-se os de Honen, Shinran, Nitiren e outros, os quais são do
conhecimento de todos. Mais próximo de nossos dias, podemos citar as
pressões feitas às Igrejas Tenrikyo, Oomotokyo, Hito-no-Miti, etc. Nossa Igreja
também não constitui exceção; já foi pressionada inúmeras vezes, enchendo as
páginas dos jornais, onde ocupou o desagradável lugar de honra entre as
religiões novas. O interessante é que, quanto mais brilhante se anunciar o
futuro de uma religião e quanto mais alto for o seu valor, maiores serão os
obstáculos enfrentados por ela. Vou explicar por quê.
Pela Lei do Espírito Precede a Matéria, as divindades do Mundo Espiritual,
cumprindo as determinações de Deus, procedem à salvação da humanidade
através das religiões, de acordo com o tempo, o lugar e o povo. O cristianismo, o
budismo e o islamismo são os exemplos mais importantes. Naturalmente, toda
religião ensina o bem e tem como objetivo transformar o mundo em paraíso.
Isso é ótimo para os homens, mas, para os demônios, é justamente o contrário,
pois seu objetivo é criar homens maus, a fim de construir uma sociedade
infernal, repleta de angústias e sofrimentos. Para atingir esse propósito, eles
lutam incessantemente com as divindades. Essa é a realidade do Mundo
Espiritual, que se reflete no Mundo Material, e por isso este é um mundo
diabólico, como podemos constatar.
Para um pequeno bem, surge uma ação contrária praticada por um demônio
de pouca força; para um grande bem, surge a ação de um demônio muito
poderoso. Assim, a Igreja Messiânica Mundial vem enfrentando contínuos
obstáculos provocados pelos chefes do mundo satânico. Sendo ela a mais
elevada de todas as religiões que já existiram desde o começo da História,
aquele mundo está em pânico. Para mim, o fato não requer maiores explicações,
mas os messiânicos de todos os lugares podem comprová-lo, em parte, através
de encostos espirituais ou fenômenos semelhantes. Atualmente, os demônios
que atuam com mais força são o chefe dos dragões vermelhos e o chefe dos
dragões pretos; utilizando-se de seus seqüazes, eles estão criando obstáculos em
conjunto. Essa luta é travada de uma forma que vai além da imaginação.
Gostaria de escrever tudo a respeito, porém, como não tenho a permissão de
Deus, deixarei para uma próxima oportunidade, quando tiver chegado o tempo
certo. Entretanto, por mais que os chefes dos demônios tentem nos atrapalhar,
nós temos ao nosso lado o Supremo Deus, o qual manifesta um poder absoluto;
mesmo que estejamos perdendo a batalha por uns instantes, ao final sairemos
vencedores, não havendo, portanto, motivo para preocupação. O sofrimento até
lá será intenso, mas percebe-se claramente que estamos crescendo de forma
considerável, apesar dos contínuos obstáculos.
Convém conhecer a característica dos demônios. Eles possuem uma
persistência assustadora e, ainda que falhem inúmeras vezes, não se
arrependem nem desistem de seus objetivos de maneira nenhuma. Tentam
atingi-los por estes e aqueles meios, insistentemente, utilizando-se de artifícios
que nem podemos imaginar. Não há adjetivos para definir sua impiedade,
barbárie e crueldade. No entanto, sendo esta a própria natureza dos demônios, o
que fazer? Os mais poderosos escolhem e encostam nas pessoas que ocupam
posições de destaque na sociedade, nos intelectuais e nos jornalistas. Todo
mundo ficaria aterrorizado se conhecesse a extensão desta verdade.
Embora a luta entre Deus e esses terríveis demônios seja travada
incessantemente, não tomamos conhecimento dela, por se tratar de um fato
ocorrido no invisível Mundo Espiritual. É por esse motivo que o homem – o Rei
da Criação – é manejado como se fosse um boneco. Estando diretamente
relacionado com o assunto, entendo perfeitamente essa luta, mas creio que é
difícil alguém compreender o meu estado espiritual em relação a ela, pois à
vezes sinto medo, e às vezes acho graça e até me divirto.
A luta entre o bem e o mal, na Obra Divina, nunca foi tão intensa e variada
como atualmente. Ela constitui uma grande peça teatral formada de verdades e
falsidades, a qual só pode ser qualificada de misteriosa. Há, porém, um fato
muito importante a considerar: a grande transformação do mundo. Na luta
travada até hoje entre Deus e o demônio, quando Deus cedia algum terreno,
porque se estava na Era das Trevas, era necessário bastante tempo para Ele
reconquistar o que perdera; agora, como todos os fiéis sabem, esse tempo está se
encurtando consideravelmente. Encontramo-nos na transição para o Mundo do
Dia, e a força dos demônios está enfraquecendo cada vez mais. Por essa razão, a
rapidez com que vem se efetuando a reconquista, em algumas ocasiões até nos
traz vantagens, e a realidade nos mostra isso.
Em maio do ano retrasado, recebemos um golpe que, por um momento,
parecia fatal à nossa organização. Pensamos até que jamais conseguiríamos nos
recuperar. Hoje, porém, passados apenas dois anos, o progresso da construção
dos protótipos do Paraíso Terrestre, em Hakone e Atami, e a expansão da Fé são
tão grandes como ninguém poderia imaginar. Essa é uma prova de que o poder
de Deus está sendo manifestado com maior intensidade e de que estamos a um
passo do advento do Mundo do Dia. Logo virá o tempo em que a Igreja
Messiânica Mundial será procurada pelo mundo inteiro. Portanto, uma vez que
ela desenvolve uma obra tão grandiosa para a salvação da humanidade, acho até
natural que enfrente obstáculos de grandes dimensões.
3 de setembro de 1952
MANIFESTAÇÃO ESPIRITUAL

INCORPORAÇÃO

Desde épocas remotas são muito numerosos os casos de incorporação, cujos


tipos também variam bastante. Atualmente, as pessoas consideradas
intelectuais julgam que se trata de superstição; além de não darem atenção ao
fato, dão à palavra um sentido pejorativo. Entretanto, segundo meus estudos, a
incorporação não é absolutamente superstição, podendo ser de espírito do bem
ou de espírito do mal. O importante é distinguir exatamente quando se trata de
um caso ou de outro.
Há três tipos de incorporação: de divindades de nível elevado, médio ou
baixo; de espíritos de animais, que fingem ser divindades, e de espíritos de
seres humanos. No primeiro tipo, inclui-se, por exemplo, o espírito dos
fundadores de religiões, como a Sra. Miki Nakayama, da religião Tenri-Kyo, a
Sra. Naoko Deguti, da religião Omoto-Kyo, os fundadores das seitas Reimyo-
Kyo, Konko-Kyo, Kurozumi-Kyo e Hito no Miti, e, ainda, os iniciados Kobo,
Nitiren, Honen e En-no Gyodja, dos velhos tempos. No segundo tipo, situam-se
as incorporações observadas em muitas crenças vulgares, existentes em grande
número na sociedade, tais como “Inari Kudashi no Gyodja”, “Iizuna-Tsukai” e
outras. O terceiro tipo, isto é, a incorporação de espíritos de seres humanos,
refere-se principalmente aos espíritos dos ancestrais e de parentes mais
próximos e recém-falecidos.
Se desenvolvêssemos a capacidade de discernir os tipos de incorporação e
soubéssemos dispensar-lhe as devidas cautelas e orientações, a incorporação
seria muito útil à sociedade humana. Mas deixo claro que, além desse
discernimento ser quase impossível, se o conhecimento sobre o assunto for
apenas superficial, as conseqüências poderão ser desastrosas.
Na Europa e na América, estão realizando ativas pesquisas de
Parapsicologia. Na Inglaterra e em vários outros países, já existe até Faculdade
de Estudos Parapsicológicos, e também estão se desenvolvendo pessoas de alto
potencial mediúnico. Como transmissoras de mensagens emitidas do Mundo
Espiritual, são dignas de nota as obras do americano Woodrow Wilson (1856-
1924) e de Sir Northcliffe (1868-1940), ex-editor do “The London Times”.
Entretanto, em todos os lugares a situação é idêntica, e na verdade, mesmo na
Europa ou nos Estados Unidos, aqueles que se dedicam a esse tipo de pesquisas
estão sempre lutando contra o ceticismo das pessoas obstinadas, intituladas
intelectuais, e contra a descrença dos cientistas bitolados no materialismo. Mas
a vantagem é que, como naqueles países as leis não são medievais, a pesquisa é
livre. Se fizermos uma comparação, concluiremos que, pela opressão do
governo e pela descrença dos cientistas, até hoje, lamentavelmente, ainda não
foram realizadas pesquisas consideráveis no Japão.
5 de fevereiro de 1947
INCORPORAÇÃO E ENCOSTO
DE ESPÍRITO ENCARNADO

Falei a um universitário sobre espírito e fenômenos espirituais, mas ele não


se convencia. Como que me desafiando, disse: “Então veja se há algum espírito
incorporado em mim”. Imediatamente procedi ao exame espiritual e, não
demorou muito, o rapaz entrou em transe e começou a falar com jeito de
mulher jovem. Havia incorporado o espírito de uma pessoa viva: o da
empregada de um bar noturno que dele se enamorara e com quem de vez em
quando ia passear. O espírito fez este pedido: “Faz tempo que ele não vem me
ver. Gostaria que lhe dissesse para vir, pois estou com muita saudade”. Apesar
de o pedido ter sido feito por espírito de gente viva, fiquei constrangido ao ser
solicitado para transmitir o recado.
O universitário voltou a si sem compreender o que estava se passando, e eu
então lhe perguntei: “Como foi?” Ao que ele respondeu: “Não sei se entrei em
transe, não entendi nada”. Quando lhe contei o que acontecera, espantou-se e,
envergonhado, coçando a cabeça embaraçado, teve de admitir a existência do
espírito.
Também fiz exame espiritual numa jovem gueixa que incorporou o espírito
do amante. Depois de lhe fazer várias perguntas, compreendi que se tratava do
espírito do proprietário de uma casa que vendia açúcar por atacado. Ele disse o
seguinte: “Combinei encontrar-me com esta gueixa hoje à noite, mas, como
surgiu um compromisso, peço-lhe o favor de dizer-lhe que só posso encontrar-
me com ela amanhã”. Suas palavras e gestos eram de um homem de quarenta a
cinqüenta anos, não havia dúvida. Quando transmiti o recado à jovem, ela se
espantou. Disse que entrara em transe e não sabia absolutamente o que falara,
mas que realmente havia combinado aquele encontro.
Certa vez, fui procurado por uma moça de mais ou menos vinte anos, a qual
me disse que lhe parecia ter sido acometida de hipocondria, e que estava
achando o mundo muito sem graça. Então eu lhe fiz várias perguntas, dizendo,
entre outras coisas, que não havia razão para uma pessoa de aparência tão sadia
estar assim, além do mais sendo tão bonita. Acrescentei que devia haver um
motivo especial. Finalmente, compreendi que a causa de tudo era um rapaz da
vizinhança, o qual se apaixonara por ela. “Ele tenta me conquistar através de
cartas e vários outros meios – disse a moça – mas eu não gosto dele e já lhe
disse não várias vezes; entretanto, ele fica sempre postado perto da minha casa
e, de medo, eu quase não saio”. Então eu expliquei à jovem que o espírito
daquele rapaz estava encostado nela. Sabendo disso, ela ficou tranqüila, pois
compreendeu que não estava doente. A partir daí, foi melhorando pouco a
pouco e acabou por se recuperar completamente.
Se é difícil fazer uma pessoa compreender a existência de espírito
desencarnado, muito mais difícil ainda é fazê-la compreender encosto de
espírito encarnado. Todavia, trata-se de uma verdade indubitável, e eu gostaria
de que lessem conscientizados disso.
Ainda poderia citar vários exemplos, mas acho que esses três são
suficientes. Acrescento, porém, que o fato geralmente ocorre nas relações
amorosas entre homem e mulher. Quanto à hipocondria daquela moça, era
motivada pelo pessimismo do rapaz, gerado pelo amor não correspondido. Esse
estado refletia-se nela, através do elo espiritual. Como se pode concluir, encosto
de espírito encarnado significa o reflexo do pensamento de outra pessoa.
Quando, ao contrário do caso que citei, os dois se amam, os elos espirituais de
ambos se interrelacionam, produzindo uma sensação extremamente agradável.
Se a ligação se torna inseparável, é, em grande parte, devido a essa sensação.
Encosto de espírito desencarnado provoca uma sensação de frio; encosto de
espírito encarnado, sensação de calor.
Tratando-se de espíritos encarnados como os dos casos citados, não há
grande problema, mas existem os que são terríveis. É o que ocorre, por exemplo,
no triângulo amoroso. Quando duas mulheres disputam um homem, os ciúmes
de ambas se materializam e lutam entre si. Em geral a esposa sai vencedora,
porque é natural o justo vencer; sua obstinação fará com que a amante acabe se
afastando, acometida por doença, falecendo ou arranjando outro amante.
Se o espírito encarnado for de gente, a incorporação não é tão grave; pior é
quando se trata do espírito de “kudaguitsune”. Desde a antigüidade, quem
pratica esse tipo de incorporação são ascetas aos quais se dá o nome de “iizuna-
tsukai”. Eles aceitam todos os trabalhos que lhes pedem, como, por exemplo,
fazer vinganças. O “kudaguitsune” é um tipo de raposa pouco menor que um
melão e tem um pêlo branco e macio; seu espírito é muito obediente ao homem
e faz qualquer maldade que lhe ordenem. Desde tempos remotos há muitos
“iizuna-tsukai” na região sul, e aí se aconselha que ninguém se case com eles,
porque, se lhes desagradarem na menor coisa que seja, eles se vingarão. Há,
também, a incorporação do espírito encarnado de outros tipos de raposa. Seu
corpo permanece no “Inari” (4) ou nas matas, e só o seu espírito atua.

25 de agosto de 1949

DOENÇA E ESPÍRITO

AS DIVERSAS EXPRESSÕES
FACIAIS APÓS A MORTE

A morte pode ocorrer de muitas formas. Uns morrem de repente, por


hemorragia cerebral, apoplexia, ataque cardíaco, desastre, etc., e quem nada
conhece sobre o assunto diz que essas pessoas é que são felizes, porque não
passam pelas angústias nem pelas dores da doença. Entretanto, nada mais
errado; ninguém é mais infeliz do que elas. Como não estavam preparadas para
morrer, mesmo habitando o Mundo Espiritual não têm noção de que faleceram
e continuam pensando que estão vivas. Além do mais, como os elos espirituais
se mantêm após a morte, o espírito, através desses elos, tenta encostar num
parente consangüíneo. Geralmente encosta em criança ou em pessoas
fisicamente enfraquecidas, como senhoras anêmicas em conseqüência de parto,
visto que nelas o encosto se torna mais fácil.
Essa é a causa da paralisia infantil autêntica, e também pode ser a causa da
epilepsia. É por isso que a paralisia infantil freqüentemente apresenta sintomas
semelhantes aos da hemorragia cerebral. A epilepsia manifesta os sintomas dos
instantes da morte. Por exemplo: quando a pessoa espuma, é porque se trata da
incorporação do espírito de alguém que morreu afogado; se tem ataque ao ver
fogo, trata-se da incorporação do espírito de uma pessoa que morreu queimada.
Há diversos outros casos em que se manifestam condições relacionadas com
morte antinatural. O sonambulismo também tem a mesma causa, assim como
muitas doenças de origem espiritual.
Sobre mortes antinaturais, há um aspecto que convém conhecer.
Os espíritos daqueles que morreram assassinados, que se suicidaram, etc.,
durante algum tempo não podem sair do local em que ocorreu a morte, e são
chamados de “espíritos presos à terra”. Geralmente eles ficam circunscritos a
um espaço mais ou menos exíguo (de dez a cem metros) e, não suportando a
solidão, tentam atrair companheiros.
É também devido à solidão que se tornam freqüentes as mortes nos locais
onde aconteceram desastres, como estradas de rodagem e de ferro, nos locais
onde houve afogamentos, como lagos e rios, ou onde alguém se enforcou.
Os “espíritos presos à terra” não podem desligar-se desses locais durante
cerca de trinta anos, mas, de acordo com a atenção e o carinho que seus
familiares lhes dispensam, oferecendo-lhes cultos para sua elevação, esse tempo
pode ser muito abreviado. Por isso, devem dispensar uma atenção toda especial
aos espíritos daqueles que não tiveram morte natural.
Todos os mortos, especialmente os suicidas, continuam no Mundo
Espiritual com as dores e as angústias do momento em que morreram. Os
suicidas se arrependem seriamente, porque o Mundo Espiritual é a continuação
do Mundo Material. Por essa razão, se a morte ocorre em meio a sofrimentos, o
espírito vai para o Plano Intermediário ou para o Plano Inferior, mesmo que se
trate de uma pessoa bondosa. Quem era solitário antes de morrer, continua
solitário no Mundo Espiritual; os que não tinham sorte, continuam sem sorte.
Contudo, há casos particulares em que a situação no Mundo Espiritual
torna-se o oposto do que era no Mundo Material. É o que acontece, por
exemplo, com aqueles que enriqueceram à custa do sofrimento alheio. É,
também, o caso dos avarentos. Indo para o Mundo Espiritual, eles ficam
paupérrimos e se arrependem enormemente. Ao contrário, pessoas que no
Mundo Material gastaram grandes somas para o bem da humanidade,
acumulando méritos pelo altruísmo praticado, no Mundo Espiritual tornam-se
ricas e afortunadas. Criaturas que aparentavam uma dignidade que não tinham,
poucos meses ou um ano depois da passagem para o Mundo Espiritual tomam
uma aparência de acordo com seu verdadeiro caráter. Isso se justifica porque o
Mundo Espiritual é o mundo do pensamento, e aquilo que esconde o
pensamento, ou seja, o corpo carnal, já não existe. Os pensamentos malévolos e
indignos fazem com que o espírito tome um aspecto feio ou até horrível; já o
espírito daqueles que acumularam méritos pelo seu altruísmo, toma uma
aparência bondosa e agradável. Podem, pois, compreender a diferença entre o
Mundo Espiritual e o Mundo Material. Realmente, no Mundo Espiritual não há
parcialidade de forma alguma.
Anos atrás, havia entre meus subordinados um jovem chamado Yamada.
Um dia, ele me disse: “Peço licença para ir a Ossaka tratar de um assunto”. Sua
expressão e seu comportamento não eram normais. Perguntei-lhe que assunto
ele tinha a tratar naquela cidade, mas suas respostas foram evasivas e confusas.
Decidi, então, examiná-lo espiritualmente. Nessa ocasião, eu estava
pesquisando os fenômenos espirituais com grande interesse.
Fiz com que o rapaz se sentasse e cerrasse as pálpebras. Quando iniciei o
exame espiritual, ele começou a se contorcer de dor. Manifestou-se, então, um
espírito que se identificou como sendo o de um amigo seu.
“Quando eu era empregado de uma firma de Ossaka – disse ele – fui
despedido por um dos diretores, que acreditou nas calúnias de certo indivíduo.
Fiquei num tal estado de inconformismo e desespero, que me matei, tomando
veneno. Pensava que, suicidando-me, estaria pondo fim na minha existência,
que voltaria ao nada, mas, ao invés disso, os sofrimentos dos instantes da morte
continuavam indefinidamente. Fiquei deveras surpreso e me arrependi
seriamente do que havia feito. Ao mesmo tempo, pensei em vingar-me do
diretor da firma, que fora o causador de tudo, e por isso encostei em Yamada,
para levá-lo a Ossaka, e, por suas mãos, assassinar aquele homem”.
O espírito parecia estar padecendo intensamente e me suplicou que lhe
aliviasse o sofrimento. Então eu lhe fiz ver seus erros e lhe ministrei Johrei.
Imediatamente ele se sentiu aliviado e me agradeceu muitas e muitas vezes.
Prometendo desistir do seu intento, retirou-se.
Durante o tempo em que o espírito esteve incorporado em Yamada, este
ficou completamente inconsciente; depois, não se lembrava de nada do que
tinha falado. Quando retornou a si, contei-lhe o que se passara. Ele ficou
surpreso e, ao mesmo tempo, muito contente por se ver salvo de um grande
perigo.
Pelo exposto, devem compreender que, embora esteja enfrentando o maior
dos sofrimentos, o homem jamais deve cometer suicídio. Os casais que se
suicidam por amor estão completamente afastados da realidade. Muitos pensam
que, morrendo, vão para o Céu, onde deslizarão por um lago tranqüilo, sentados
numa folha de lótus, e viverão na maior felicidade. Isso é um grande engano.
Vou explicar com mais detalhes.
Quando um homem e uma mulher se suicidam abraçados, os espíritos de
ambos, ao entrarem no Mundo Espiritual, ficam grudados um ao outro sem
poder separar-se, sujeitos a grandes incômodos. Como essa situação vergonhosa
é vista pelos demais espíritos, não é pequeno o seu arrependimento. Casais que
se matam por amor, geralmente ficam colados costa com costa, ou barriga com
costa, etc., conforme o pensamento e a atitude do momento da morte, e perdem
toda a liberdade, o que torna tudo mais difícil. Os espíritos daqueles que
tiveram relações sexuais imorais e abomináveis, como por exemplo o incesto,
além de ficarem grudados, se um fica de pé, o outro fica com a cabeça para
baixo, de modo que a sua dor e desconforto estão além da imaginação. Quando
se trata de relações imorais de eclesiásticos, professores e outras pessoas que
devem dar exemplo às demais, evidentemente a pena é mais pesada.

25 de agosto de 1949
DOENÇA E ESPÍRITO

Conforme já expliquei pormenorizadamente, a doença é o aparecimento e o


transcurso do processo de purificação, mas convém saber que existem muitas
doenças de origem espiritual. Muito se tem falado sobre isso desde tempos
remotos, havendo mesmo certas religiões que afirmam que quase todas as
doenças têm origem espiritual. Através de pesquisas, entretanto, eu soube que a
doença pode ser decorrente de ação espiritual ou processo purificador. Também
descobri que entre os dois tipos há uma relação íntima e inseparável, pois o
encosto de espírito enfermo limita-se ao local maculado do corpo espiritual.
Portanto, se este, pela dissolução das máculas, ficar purificado até certo grau,
não só desaparecerá a doença do corpo material, mas também será impossível o
encosto do espírito enfermo, e a pessoa se tornará saudável, física e
espiritualmente.

5 de fevereiro de 1947

OS JAPONESES E AS DOENÇAS PSÍQUICAS

Atualmente, as pessoas vivem falando sobre degradação moral, aumento de


crimes, política deficiente, etc. Vou mostrar que tudo isso tem profunda relação
com a doença psíquica. Em primeiro lugar, explicarei a verdadeira causa desse
tipo de doença. Todos vão se surpreender, mas, como se trata da própria
Verdade, estou certo de que compreenderão, a menos que se trate de um doente
mental.
A verdadeira causa da doença psíquica é física e, ao mesmo tempo,
fenômeno de encosto. Para os homens da atualidade, que receberam uma
educação materialista, talvez seja um pouco difícil entender isso, o que é
plenamente justificável, pois lhes incutiram na mente que não se deve acreditar
naquilo que não se vê. Porém, a Verdade é a Verdade, mesmo que a neguem. Se
disserem que o espírito não existe, por ser invisível, terão de concluir que
também não existe o ar nem os sentimentos.
O espírito existe porque existe; o fenômeno de encosto também existe
porque existe. Se não partirmos desse princípio, não poderei explanar a minha
tese. Assim, é melhor que aqueles que negam firmemente a existência do
espírito não a leiam. Há pessoas que nos julgam supersticiosos, mas para nós
elas é que o são; portanto, consideramo-las dignas de pena.
Mostrarei, a seguir, por que eu afirmo que a doença psíquica é um
fenômeno de encosto.
Muita gente se queixa de ter o pescoço e os ombros enrijecidos. Creio
mesmo que quase todos os japoneses se queixam disso. Aliás, pela minha longa
experiência, posso afirmar que todas as pessoas apresentam esses sintomas. É
raro alguém dizer o contrário, mas, em tais casos, o que acontece é que o
pescoço e os ombros da pessoa se encontram tão rijos, que se tornam
insensíveis à dor. Esse enrijecimento constitui a verdadeira causa da doença
psíquica. Posso imaginar o espanto e a surpresa dos leitores, mas creio que, com
o desenrolar da explicação, vão acabar compreendendo.
Com o enrijecimento do pescoço e dos ombros, as veias que levam o sangue
ao cérebro ficam comprimidas, causando anemia na parte frontal da cabeça. Aí
está o problema, pois a anemia cerebral não se resume numa simples anemia.
Como o sangue é espírito materializado, ela não é senão a falta de células
espirituais que alimentam o cérebro, provocando o enfraquecimento espiritual,
causa imediata da doença psíquica. Os espíritos aguardam essa oportunidade
para encostar. A maioria é de animais como raposa, texugo e, mais raramente,
cães e gatos, e sempre é um espírito desencarnado. Pode haver, também,
encosto simultâneo de espírito humano e animal.
Analisando o pensamento humano, diremos que ele é constituído de razão,
sentimento e vontade, os quais levam o homem à ação. A função da parte
frontal do cérebro é comandar a razão, e a da parte posterior é comandar os
sentimentos. Como prova disso, o amplo desenvolvimento da parte frontal da
cabeça, nas pessoas de raça branca, indica a riqueza da razão; ao contrário, as
de raça amarela possuem a parte frontal estreita e a parte posterior
desenvolvida, indicando a riqueza dos sentimentos. Todos sabem que a raça
branca é a mais racional, e a raça amarela a mais emotiva. A razão e o
sentimento estão sempre em luta dentro do homem. Se a razão vencer, não há
falhas, mas a pessoa torna-se fria; se o vencedor for o sentimento, os instintos
ficam em liberdade, o que é perigoso. O ideal é os dois se harmonizarem e a
pessoa não pender para um só lado, mas geralmente isso não acontece. Para o
sentimento ou a razão se expressarem em ação, seja grande ou pequena,
necessita-se da vontade, a qual provém de uma função situada em determinado
ponto da zona umbilical. Essa é a origem de todas as ações, e a união dos três
elementos – razão, sentimento e vontade – constitui a trilogia do pensamento.
O enfraquecimento espiritual na parte frontal da cabeça provoca insônia.
Esta, na maioria das vezes, é causada por pontos solidificados na zona occipital
direita, que comprimem as veias. Como a insônia acelera o enfraquecimento
espiritual, os espíritos aproveitam a oportunidade para encostar. A parte frontal
da cabeça é a sede de comando do corpo, e o espírito, ocupando essa parte,
consegue dirigir livremente o indivíduo. Ele tem interesse em utilizá-lo à sua
vontade, pois com isso se torna influente entre os companheiros. O ser humano
nem pode imaginar como é grande esse interesse. Brevemente, baseando-me nas
minhas observações, pretendo escrever sobre os espíritos de raposa.
Conforme eu vinha explicando, a razão controla constantemente o
sentimento – que é o instinto do ser humano – cuidando para este não cometer
erros. Por isso o homem pode, mesmo precariamente, levar uma vida normal,
pois o instinto está sendo dominado pela razão que, funcionando como lei,
mantém a ordem na vida. Portanto, se o homem perde a força dessa lei, o
sentimento se desvia, livre e desenfreado. Eis o que é a doença psíquica.
Sabedor de que a lei está brilhando dentro da parte frontal da cabeça do
homem, o espírito desejoso de dominá-lo encosta num certo ponto, objetivando
aquela região. É claro que, se a pessoa estiver com a plenitude de sua energia
espiritual, não há possibilidade de encosto.
A força de atuação do espírito é variável. Se na parte frontal da cabeça a
energia espiritual da pessoa for de 100%, o encosto é impossível; se for 90%, o
espírito encostará 10%; no caso de se tornar 80, 70, 60, 50 ou 40%, o espírito
encostado conseguirá manifestar uma força de 20, 30, 40, 50 ou 60%. Quando a
força da razão é 40%, torna-se impossível controlar a força do sentimento, que é
60%; assim, o espírito encostado pode governar livremente o homem. Como
explanei no início, o enrijecimento do pescoço e dos ombros comprime as veias
e causa o enfraquecimento espiritual, propiciando ao espírito encostado atuar
na mesma proporção desse enfraquecimento.
Atualmente, todo mundo está nessas condições. Pode-se dizer, portanto,
que não há ninguém com energia espiritual total; até aqueles que são
respeitados na sociedade pela sua integridade moral, têm deficiência de mais ou
menos 20 a 30%. Às vezes acontecem coisas que nos levam a perguntar: Por que
uma pessoa tão maravilhosa cometeu tal erro? Será que não entendeu aquilo?
Por que será que falhou? E outras perguntas semelhantes. A razão de tais
atitudes está nos 20 ou 30% de deficiência da energia espiritual da pessoa.
Entretanto, essa porcentagem não é fixa; está constantemente oscilando. Mesmo
quando tomam atitudes louváveis, os homens têm cerca de 20% de deficiência;
quando têm maus pensamentos e por algum motivo cometem um crime, estão
com aproximadamente 40% de deficiência. Isso é o que vemos acontecer com
freqüência. Quando retorna aos 20%, em geral a pessoa se arrepende do que fez.
Segundo um dito popular, ela foi tentada pelo demônio.
O normal é ter-se de 30 a 40% de enfraquecimento da energia espiritual,
mas, conforme o motivo, a qualquer momento essa porcentagem pode
ultrapassar os 50%. Nesse caso, as pessoas cometem crimes inesperados. Um
exemplo disso é a histeria, cuja causa, quase sempre, é o encosto de um espírito
de raposa, o qual domina a razão e, levado pelo ciúme ou pela ira, atua com
uma força que excede o limite dos 50%. Assim, as pessoas fazem escândalos ou
falam coisas incoerentes, nas quais nem estavam pensando. Mas isso não
continua por muito tempo, porque aquele limite de 50% novamente se reduz.
Sendo assim, o homem deve fazer o possível para manter o limite de no
máximo 30% de enfraquecimento da sua energia espiritual; se chegar a 40%, já
é perigoso.
Creio que, tomando conhecimento do que acabamos de explicar, poderão
compreender perfeitamente por que há tantos criminosos hoje em dia. Como o
espírito encostado é de animal, se a sua força de atuação ultrapassar o limite
dos 50%, temporariamente o espírito da pessoa ficará nas mesmas condições
daquele, embora a aparência seja de ser humano. A diferença mais notável entre
o homem e o animal é que o primeiro tem capacidade de reflexão, mas o
segundo não tem. A vontade do animal é apenas matar a fome, mas, como a
ganância do homem é ilimitada, uma vez que ele manifesta características
animais, revela uma crueldade inimaginável.
Como eu falei, já que não existe ninguém cujo espírito seja 100% forte,
todas as pessoas – umas mais, outras menos – são influenciadas pelo encosto de
um espírito; assim, proporcionalmente à força de atuação desse espírito, todas
sofrem de doença psíquica. Falando sem reserva, não é exagero afirmar que
todos os japoneses, sem exceção, são doentes mentais, mesmo que em pequena
proporção.
Vou relatar minha experiência sobre isso.
Diariamente encontro dezenas de pessoas e converso com elas sobre vários
assuntos, mas posso dizer que todas cometem falhas, que todas fazem coisas
esquisitas; até mesmo as que merecem consideração social, embora nestas,
normalmente, as falhas não sejam percebidas. Sendo assim, creio que podemos
dizer que a doença psíquica em menor grau está generalizada.
E não é só o que as pessoas dizem, mas também o que fazem. Pelas atitudes
do dia-a-dia percebe-se claramente que quase ninguém tem bom senso. As
criaturas não mostram o mínimo interesse pela etiqueta e pelas boas maneiras.
Em geral, quando entram na sala e me cumprimentam, olham para lugares
como a parede, o jardim, etc. Há algumas que são cheias de mesuras, e outras,
ao contrário, secas demais, pelo que se pode concluir que todo mundo é doente
psíquico em pequeno grau.
25 de setembro de 1949

ELO ESPIRITUAL

ELO ESPIRITUAL

Até agora pouco se tem falado sobre elo espiritual, porque ainda se
desconhece a sua importância. Entretanto, embora os elos espirituais sejam
invisíveis e mais rarefeitos que a atmosfera, através deles todos os seres são
influenciados consideravelmente. No homem, eles tornam-se o veículo
transmissor da causa da felicidade e da infelicidade. Em sentido amplo,
exercem influência até sobre a História. Portanto, o homem deve conhecer o seu
significado.
Primeiramente desejo advertir que isso é Ciência, é Religião e também
preparação para o futuro. O princípio da relatividade, os raios cósmicos e os
problemas referentes à sociedade ou ao indivíduo, tudo se relaciona com os elos
espirituais. Vejamos a relação existente entre eles e o homem.
Tomemos como exemplo um homem qualquer: pode ser o próprio leitor. Ele
não sabe quantos elos espirituais estão ligados a ele; podem ser poucos,
dezenas, centenas ou milhares. Há elos espirituais grossos e finos, compridos e
curtos, bons e maus, e constantemente causam influência e transformação no
homem. Portanto, não é absurdo dizer que este se mantém vivo graças aos elos
espirituais. Entre estes, o mais forte é o que existe entre um casal; a seguir, o
que existe entre pais e filhos, entre irmãos, entre tios e sobrinhos, entre primos,
amigos, conhecidos, etc. Creio que as expressões “laços de afinidade” e “ter
afinidade com alguém”, usadas desde a antigüidade, referem-se aos elos
espirituais.
Os elos espirituais sempre se modificam, tornando-se grossos ou finos.
Quando há harmonia entre o casal, ele é grosso e brilhante; quando os cônjuges
estão em conflito, ele torna-se mais fino e perde o brilho. Entre pais e filhos,
entre irmãos, etc., dá-se a mesma coisa.
Também podem ser formados novos elos, quando uma pessoa trava
conhecimento com outra, quando inicia uma amizade e, principalmente, um
namoro. Chegando o namoro ao clímax, o elo torna-se infinitamente grosso e
transmite intensas vibrações de um para o outro. São trocadas não só sensações
agradáveis e sutis, mas também de tristeza e solidão. Por esse motivo, o elo
espiritual torna-se extremamente forte e é impossível a separação. Nesse caso,
mesmo que uma terceira pessoa tente interferir no romance, não só não obterá
nenhum resultado mas, ao contrário, fará aumentar ainda mais o grau da
paixão. Quando duas pessoas se amam, é como o pólo positivo e o pólo negativo
em eletricidade, que se tocam e geram a energia elétrica; nesse caso, o elo
espiritual trabalha como fio elétrico. Tempos atrás, extinguindo espiritualmente
o pólo positivo, salvei duas estudantes que, envolvidas num amor lésbico,
estavam a um passo de duplo suicídio. Consegui que a moça que representava o
pólo positivo voltasse à normalidade em cerca de uma semana. Esfriado o ardor
da paixão, foi rompido o elo espiritual, e a outra, automaticamente, também
voltou à normalidade.
O elo espiritual entre pessoas que não têm laços de consangüinidade pode
ser rompido, mas é impossível romper o que existe entre parentes
consangüíneos. No caso de pais e filhos, deve-se dar atenção a um ponto: como
eles sempre estão pensando uns nos outros, o caráter dos filhos sofre a
influência do caráter dos pais, através do elo espiritual. Portanto, se os pais
desejam melhorar os filhos, em primeiro lugar devem melhorar a si mesmos.
Freqüentemente eles fazem coisas erradas e vivem advertindo os filhos, porém
isso não dá muito resultado, e o motivo é o que acabamos de expor. Muitas
vezes, entretanto, admiramo-nos por ver pais maravilhosos com um filho
transviado. A verdade é que esses pais são boas pessoas por interesse e apenas
na aparência, mas seu espírito está maculado, e isso se reflete no filho. Pode
também acontecer que, entre dois irmãos, um seja bom e outro seja corrupto. A
causa está na vida anterior e nas máculas dos pais. Para que possam
compreendê-lo, falarei sobre o princípio da reencarnação.
Após a morte, o espírito vai para o Mundo Espiritual, isto é, nasce nesse
mundo. Referindo-se à morte, os budistas usam a expressão “Odyo”, que
significa “vir para nascer”. Analisando do ponto de vista do Mundo Espiritual, é
realmente o que acontece. Ali se efetua a purificação das máculas acumuladas
no Mundo Material, e os espíritos que atingiram certo grau de purificação
voltam a nascer neste mundo, ou melhor, reencarnam. Todavia, há pessoas
perversas que se arrependem ao morrer, seja por medo do castigo, seja por
outros motivos. Tendo compreendido que o homem nunca deve praticar o mal,
fazem o firme propósito de se tornarem virtuosas na próxima vida e, quando
reencarnam, praticam realmente o bem. Vemos, pois, que, embora alguém seja
muito bom nesta vida, na encarnação anterior pode ter sido um grande
perverso.
Muitos homens, enquanto estão vivos, não acreditam na vida após a morte
e, depois que morrem, não conseguem se integrar no Mundo Espiritual. Pelo
apego à vida, reencarnam antes de estarem suficientemente purificados e
sofrem várias purificações no Mundo Material, pelas máculas que ainda restam
em seu espírito. Como o sofrimento é uma ação purificadora, um homem pode
ser infeliz apesar de ter sido bom desde que nasceu. Os defeituosos de
nascença, como por exemplo cegos, mudos e aleijados, são pessoas que tiveram
morte violenta na encarnação anterior e reencarnaram antes de concluída a
purificação.
Um caso interessante e freqüente de reencarnação é o de crianças que
nascem com feições de velho. Isso acontece porque essas pessoas morreram
idosas na vida anterior, e reencarnaram precocemente; só dois ou três meses
após o nascimento é que tomam feições de bebê.
Ocorre, ainda, o caso do reflexo das más características dos pais sobre um
dos filhos, o qual se torna perverso, ao passo que num outro se reflete a
consciência, ou melhor, o lado bom dos pais, e por isso este filho se torna
bondoso. Acontece também com freqüência que, tendo os pais enriquecido
ilicitamente, um filho se torne esbanjador, gastando dinheiro como água, até
acabar com a fortuna da família. Como se trata de riqueza ilícita, os ancestrais
escolhem um descendente que, dilapidando essa riqueza, na verdade está
trabalhando para salvar a família. Desconhecendo essa verdade, as pessoas
acham que tal filho é desprezível; por isso, ele é digno de pena.
Estamos ligados por elos espirituais não só aos parentes e amigos vivos, mas
também àqueles que se encontram no Mundo Espiritual. Existe, ainda, o elo
espiritual que nos liga a Deus e também o que nos liga a Satanás. Deus nos
estimula para o bem, e Satanás para o mal. O homem é manejado
constantemente por uma força ou por outra. Assim, o espírito que foi purificado
até certo ponto no Mundo Espiritual, é escolhido como Espírito Guardião, o
qual protege a pessoa confiada à sua guarda, através do elo espiritual que os
une. Quando ela está sujeita a um perigo iminente, o Espírito Guardião
transmite-lhe um aviso e tenta salvá-la. Como exemplo disso, podemos citar o
caso de uma pessoa que vai pegar um trem mas que, por ter se atrasado ou por
algum outro problema, não o pega, tomando o trem seguinte. Aí, acontece um
desastre com o trem que ela não pegou, e muitos morrem ou ficam feridos. A
pessoa foi salva graças ao trabalho do Espírito Guardião, que conhece
antecipadamente o destino de quem lhe foi confiado no Mundo Material.
A quantidade de elos espirituais varia de acordo com a posição que o
homem ocupa. Numa família, quem os possui em maior número é o chefe,
ligando-o com os familiares, com os empregados, com os amigos, etc. Tratando-
se do presidente de uma firma, possui elos com todos os funcionários; se for
homem público, como prefeito de uma cidade, governador de estado, primeiro-
ministro, presidente, imperador, etc., tem elos espirituais com todos aqueles
que estão sob sua administração ou governo. Quanto mais elevada a posição do
homem, maior se torna o número de seus elos espirituais. Sendo assim, a
personalidade de um líder tem que ser nobre, porque, se no seu espírito houver
impurezas, isso se refletirá nocivamente sobre grande número de pessoas,
atuando sobre o pensamento delas. O primeiro-ministro de um país, por
exemplo, deve ser um homem de grande personalidade; além de muita
sabedoria, deve ter muita sinceridade. Caso contrário, o pensamento do povo se
deteriora, a moral relaxa, e o número de criminosos torna-se cada vez maior.
Principalmente os educadores, se soubessem que seu caráter se reflete sobre os
alunos através dos elos espirituais, deveriam tornar-se pessoas dignas de
exercerem essa profissão, procurando constantemente aperfeiçoar o próprio
espírito.
Os religiosos – especialmente os fundadores, presidentes ou ministros de
uma religião – sendo venerados por grande número de fiéis como deuses vivos,
devem ter muito cuidado, pois exercem uma influência notável. Se praticarem
atos condenáveis, aproveitando-se de sua posição, isso se refletirá no conjunto
dos fiéis, e essa religião acabará por se desmoronar, pois aqueles atos serão do
conhecimento de todos.
Mas não é só o homem que tem elos espirituais. Também Deus tem elos que
O ligam aos homens. A diferença é que os de Deus possuem uma luz intensa, e
os do homem, mesmo dos mais elevados, possuem luz tênue; em geral são como
linhas branco-acinzentadas. Quanto mais perversa for a pessoa, mais escuros
serão os seus elos espirituais. Comumente, ao escolhermos amigos, desejamos
que sejam pessoas boas, pois, misturando-se com o bem, o homem torna-se
bom, e misturando-se com o mal, torna-se mau, graças às influências
transmitidas pelos elos espirituais.
Mesmo entre as entidades há os justos e os satânicos. Se o homem sempre
venerar as divindades, seu espírito será purificado, porque elas têm elos
espirituais intensamente luminosos. Se venerar as entidades satânicas, ao invés
de luz, receberá fluidos maléficos que afetarão seu pensamento, e por isso se
tornará infeliz. Portanto, para seguir uma Fé, é essencial o homem discernir o
bem e o mal. A intensidade da luz varia conforme o nível da divindade. Quanto
mais elevada ela for, maior número de milagres promoverá, porque a luz dos
seus elos espirituais é muito mais forte.
Existe atividade dos elos espirituais não só no homem, mas em todas as
coisas. Por exemplo: a casa onde residimos, os objetos que sempre usamos,
entre os quais roupas e jóias, e principalmente as coisas de que mais gostamos,
possuem conosco um elo espiritual mais grosso. Numa antiga revista
espiritualista dos Estados Unidos, foi publicada uma reportagem sobre uma
senhora que tinha um poder misterioso: pelos objetos, ela identificava a
fisionomia, a idade e as atividades recentes do seu dono. Quando contemplava
atentamente um objeto, tinha a impressão de estar diante da fotografia da
pessoa. Isso ocorria por causa do elo espiritual existente entre a pessoa e o
objeto. Através desse exemplo podemos perceber como é sutil e profunda a
atuação dos elos espirituais.
Recentemente, começaram a fazer pesquisas científicas sobre os chamados
raios cósmicos, os quais, a meu ver, são os elos espirituais que unem a Terra aos
outros astros. Desde que foi criada, a Terra mantém o equilíbrio no espaço
graças aos elos espirituais dos astros ao seu redor, que a atraem. Esses elos, cujo
número é incalculável – milhões ou bilhões – penetram até o centro da Terra.
Aproveitando a oportunidade, vou explicar rapidamente a relação entre a Terra
e o Céu (espaço sideral).
Eles são como dois espelhos, um em frente ao outro. No espaço sideral há
dois tipos de astros: os luminosos e os opacos. Por não ter luz, o astro opaco não
se torna visível aos olhos humanos, mas, com o passar do tempo, vai se
transformando em astro luminoso, pelo endurecimento de matérias cósmicas;
ao atingir o máximo de endurecimento, começa a brilhar. É por esse motivo que
o mineral mais duro existente na Terra – o diamante – é o que mais brilha.
Na época da criação do nosso planeta, o número de astros visíveis era tão
pequeno como o das estrelas durante a madrugada. Esse número cresceu
proporcionalmente ao aumento da população; portanto, assim como é
impossível calcular o aumento da população humana no futuro, é impossível
calcular o aumento do número de astros. Freqüentemente os astrônomos
descobrem novos astros, mas o que realmente acontece é a transformação de um
astro opaco em astro luminoso, o qual passa a ser percebido pelos olhos
humanos. Quanto às estrelas cadentes, representam a ação de desintegração das
estrelas, e o meteoro é um fragmento delas.
Todos os astros exercem influência sobre a humanidade: não só os grandes
planetas, como Júpiter, Marte, Saturno, Vênus, Mercúrio e outros, mas também
as inumeráveis estrelas – grandes, médias e pequenas. Assim como se destacam
os cinco grandes planetas citados, em cada época existem cinco personalidades
mundiais. Também acho interessante compararem o homem às estrelas, e,
referindo-se a personalidades renomadas, falarem em “passagem de uma grande
estrela”, ou “queda de uma estrela”.
A História registra que inclusive no Ocidente houve uma época em que se
dava muita importância à Astrologia, e os mestres religiosos consultavam os
astros para ver a sorte ou o infortúnio, a felicidade ou a infelicidade do homem,
para analisar as doenças, etc. A Astrologia teve, pois, uma importância mundial.
Na China, a ciência da adivinhação também tomava por base os nove planetas.
Para mim, não é sem cabimento o interesse que os antigos tinham pelo estudo
dos astros.
25 de outubro de 1949

A RESPEITO DOS SONHOS

Constantemente me fazem perguntas a respeito dos sonhos, por isso vou


falar sobre esse tema.
Talvez não haja uma só pessoa que não sonhe, ao dormir. Os sonhos podem
ser de vários tipos: mensagens das divindades, avisos do Espírito Guardião,
sonhos com pessoas nas quais nem pensamos, sonhos que vêm a se concretizar
de forma idêntica ou contrária ao que se sonhou, etc.
A palavra “yume” (sonho) é resultante da condensação de “yumei”, palavra
com que se designa o nebuloso mundo após a morte. Isso quer dizer que o
espírito se liberta do corpo enquanto dormimos e vai para esse mundo
nebuloso. Nessa ocasião, aquilo que temos no nosso subconsciente e os nossos
desejos constantes aparecem nas formas mais variadas, sem sentido algum.
Quando o espírito se evade para o Mundo Espiritual, fica ligado ao corpo pelo
elo espiritual; quando a pessoa acorda, ele volta instantaneamente.
A mensagem das divindades através de sonhos restringe-se às pessoas que
têm fé. O espírito Divino que é alvo de sua fé dá-lhes avisos sempre que houver
alguma necessidade. Os avisos do Espírito Guardião aparecem geralmente sob
forma de alegoria, precisando ser interpretados. Como já disse muitas vezes, o
Mundo Material é um reflexo do Mundo Espiritual, onde tudo acontece
primeiro. Por isso, nosso Guardião, que está neste último, utiliza-se dos sonhos
para nos alertar. Os pressentimentos que temos comumente são avisos seus.
Há alguns pontos que devemos esclarecer. Dizem que não sonhamos
quando dormimos profundamente, mas é um engano. Naturalmente, quando
estamos muito cansados, não sonhamos; no caso de sono não muito profundo,
podemos sonhar. Contudo, não devemos nos preocupar com isso, pois, se
sonharmos mesmo nessa circunstância, é porque estamos realmente dormindo.
Às vezes eu até chego a sonhar durante um ou dois minutos quando converso
com as pessoas, e também quando estou dormindo em pé, no ônibus, porém
isso não quer dizer nada.
As pessoas que sonham ficam preocupadas, achando que não são
inteligentes, mas isso não é verdade. Eu, por exemplo, quando era jovem, quase
não sonhava, e acho que naquela época era menos inteligente do que hoje.
25 de janeiro de 1949

ORIGEM DAS CALAMIDADES

AS TRÊS GRANDES CALAMIDADES


E AS TRÊS PEQUENAS CALAMIDADES

Vou explicar o significado fundamental das Três Grandes Calamidades –


vento, chuva e fogo – e das Três Pequenas Calamidades – fome, doença e guerra
– comentadas desde eras remotas.
O vento e a chuva são ações purificadoras do espaço entre o Céu e a Terra,
causadas pelas máculas acumuladas no Mundo Espiritual, isto é, impurezas
invisíveis. Dispersá-las com a força do vento e lavá-las com a chuva, é a
finalidade da tempestade. Mas que máculas são essas e de que forma se
acumulam?
São máculas formadas pelos pensamentos e palavras do homem.
Pensamentos que pertencem ao mal, como ódio, insatisfação, inveja, cólera,
mentira, desejo de vingança, apego, etc., maculam o Mundo Espiritual. Palavras
de lamúria, inclusive em relação à Natureza, como, por exemplo, comentários
desairosos sobre o tempo, o clima e a safra, censuras e agressões às pessoas,
gritos, intrigas, cochichos, enganos, repreensões, críticas e outras coisas desse
gênero também partem do mal e maculam o Reino Espiritual das Palavras, que,
em relação ao Mundo Material, situa-se antes do Reino do Pensamento. Quando
a quantidade de máculas acumuladas ultrapassa certo limite, surge uma espécie
de toxinas que causarão distúrbios na vida humana, e então ocorre a purificação
natural. Essa é a Lei do Universo.
Como expliquei, as máculas do Mundo Espiritual, ao mesmo tempo que
influenciam a saúde do homem, afetam as ervas, as árvores e principalmente as
plantações, tornando-se a causa da má colheita e do alarmante aparecimento de
insetos nocivos. É esse o motivo pelo qual, atualmente, estão surgindo pragas
que secam pinheiros e cedros em todas as regiões do Japão. Portanto, se os
japoneses não se elevarem muito, será difícil evitar que isso aconteça. Em
outras palavras: os erros dos próprios japoneses estão secando os pinheiros e os
cedros do seu país, de modo que eles precisam moderar bastante o seu
pensamento e as suas palavras.
Tal como nas calamidades naturais, nas calamidades humanas também há
algo de aterrorizador, principalmente na guerra – aquela que maiores danos
causa ao homem. Sobre as causas da guerra, apresentarei uma tese nova, que
poderá surpreender, por ser algo fora de qualquer expectativa. Gostaria de que
os leitores lessem com toda a atenção.
A guerra é a luta de grupos, e até hoje a humanidade tem demonstrado mais
propensão a ela que à paz. E não é só internacionalmente. Observando cada
região de um país, veremos que quase não há lugares sem conflito. Nas
repartições, nas firmas, nas associações, enfim, em qualquer grupo, sempre há
lutas nos bastidores, ininterruptamente, e as pessoas vivem se criticando e se
rejeitando. Observamos, ainda, conflitos entre profissionais, conflitos no lar,
entre casais, entre irmãos, entre pais e filhos, conflitos entre amigos, etc. O
homem realmente aprecia muito os conflitos. Notamos que freqüentemente eles
ocorrem até no interior de transportes, ou na rua, com os transeuntes. Creio ser
desnecessário continuar enumerando todos os conflitos que existem entre os
homens. Vou explicar a causa dessa tendência humana.
Todas as pessoas possuem toxinas de diversas espécies, inatas ou
adquiridas após o nascimento. Essas toxinas se acumulam no local em que os
nervos são mais instados pelo homem, isto é, do pescoço para cima. Mesmo que
as mãos e os pés estejam descansando, órgãos como o cérebro, os olhos, o nariz,
a boca, os ouvidos e outros estão em constante ação enquanto o homem se
encontra acordado. É natural, portanto, que as toxinas se reúnam nas
proximidades desses órgãos. Essa é também a causa do enrijecimento da região
do pescoço e dos ombros, de que muitos se queixam. À medida que as toxinas
se acumulam, vão se solidificando, e, quando a solidificação atinge certo
estágio, surge a ação contrária, isto é, a dissolução e eliminação, a que nós
chamamos processo purificador. Ele é sempre acompanhado de febre, que surge
para dissolver as toxinas solidificadas e, assim, facilitar a sua eliminação. Essa
purificação natural é o resfriado; excreções como escarro, coriza, suor, etc.,
representam eliminação das toxinas.
A grande maioria das pessoas estão constantemente em processo de
purificação, com resfriado ameno, mas, sendo ele quase imperceptível, elas se
julgam sadias, o que não corresponde absolutamente à verdade. Caso se
submetam a um exame minucioso, será constatado, infalivelmente, que elas têm
um pouco de febre da cabeça aos ombros, apresentando, entre outros sintomas,
peso e dor de cabeça, secreção ocular, coriza, zumbido no ouvido, piorréia e
enrijecimento do pescoço e dos ombros. Por isso, sempre há uma certa
indisposição. Essa indisposição é a origem da ira, que se concretiza em forma de
conflito, cujo aumento, por sua vez, acaba em guerra. Assim, para extinguir o
espírito belicoso, só há um método: eliminar aquela indisposição. Eis por que,
quando a pessoa se sente bem, não se incomoda ao ouvir alguma coisa
desagradável, mas, se ela está indisposta, não consegue evitar a ira. Creio que
quase todos já tiveram essa experiência.
É muito comum vermos bebês que choram muito. Geralmente se diz que
eles são nervosos, mas, se forem examinados, sempre se constatará um pouco
de febre em sua cabeça e na região dos ombros. Embora se trate de bebês,
muitos têm os ombros endurecidos. Em tais casos, com a ministração de Johrei,
as toxinas diminuirão, cessará a febre e eles deixarão de chorar constantemente.
Com as crianças que facilmente se irritam acontece o mesmo, mas por meio do
Johrei o problema se resolve, e elas se tornam obedientes; além disso, seu nível
de aproveitamento escolar também melhorará. O conflito entre casais tem a
mesma origem; recebendo Johrei, eles conseguirão se harmonizar.
Como a causa fundamental do conflito é a febre decorrente da dissolução
das toxinas da cabeça e da região do pescoço e dos ombros, o único meio de
solucioná-lo é eliminar completamente a febre. Então não será exagero afirmar
que o Johrei da nossa Igreja, apesar de o mundo ser tão grande, é o único,
inigualável, absoluto e radical meio de eliminação do conflito. O mesmo
podemos dizer em relação a todos os problemas que hoje constituem motivo de
sofrimento.
Ideologias destrutivas ou que fomentam lutas de classes, também têm
origem na insatisfação e nas queixas provenientes da indisposição das pessoas.
Muitos, para fugirem dela, inconscientemente procuram sensações fortes, e isso,
evidentemente, resulta em crimes, alcoolismo, devassidão, ociosidade, brigas,
etc.
Fazendo mau uso da razão, os materialistas ambiciosos de cada época geram
o aumento da insatisfação e das queixas, instigam a guerra e provocam a
revolução social de caráter nocivo. Conseqüentemente, para se construir a paz
eterna sobre a Terra, em primeiro lugar se deve erradicar a indisposição de cada
homem e aumentar-lhe o bem-estar. Não há dúvida de que, assim, o ser
humano abominará o conflito e amará a paz.

13 de agosto de 1949

A TEMPESTADE
É UMA CALAMIDADE HUMANA
Desde tempos remotos os tufões e as inundações são considerados
calamidades naturais. Todo mundo os aceita como fenômenos inevitáveis. No
meu ponto de vista, entretanto, são calamidades humanas. Vou explicar por
quê.
Atualmente, os cientistas objetivam a diminuição de tais ocorrências através
da pesquisa e do progresso da meteorologia. No Japão, são aplicadas
anualmente enormes quantias em instalações adequadas a esse fim. Vem se
desenvolvendo um esforço constante, e de fato se têm obtido alguns resultados,
mas parece que dificilmente se atingirá o objetivo final. Somente no Japão, os
prejuízos anuais causados por tufões e inundações elevam-se a uma soma
realmente alta. No recente tufão perderam-se 6.500.000 sacos de arroz, 4.229
casas ficaram danificadas ou foram carregadas pela água, 144 pessoas
desapareceram ou morreram, e o número de feridos atingiu vários milhares.
Além disso, os prejuízos com plantações e com estragos nas rodovias,
construções e instalações, segundo declaração do órgão competente, atingiram
mais de duzentos e cinqüenta milhões de dólares. Vemos, pois, a enormidade
dos prejuízos. Somando-se, também, os danos materiais e morais causados por
grandes e pequenos tufões, várias vezes ao ano, creio que o resultado será
gigantesco, difícil de calcular.
Em face de tal situação, mesmo que não haja possibilidade de exterminar
essas calamidades, é necessário fazer todo esforço para que os danos sejam os
menores possíveis. O Governo e o povo estão empregando todos os métodos
praticáveis, mas há falta de verbas e a aparelhagem não chega nem de longe ao
montante previsto. Se as deficiências persistirem, é claro que não se encontrará
solução para o problema.
Nas condições atuais, em que se depende apenas da pesquisa meteorológica,
é impossível prestar auxílio em casos de urgência. Dizemos impossível porque
as pesquisas científicas estão baseadas no materialismo, isto é, pesquisa-se
somente a parte superficial das coisas, sem se procurar descobrir o seu interior.
Para solucionar o problema, só há um recurso: apreender a essência desse
interior e providenciar a prevenção das calamidades. Mas aí surge a pergunta: É
possível conhecer as causas fundamentais do problema? Eu gostaria de provar
que sim.
Inicialmente direi que a tempestade é a ação purificadora do espaço acima
da Terra, isto é, daquilo que chamamos de Mundo Espiritual, pois até nele há
uma constante acumulação de impurezas. Materialmente falando, é como
acumular poeira numa cidade ou numa casa. Só que, como o Mundo Espiritual
é invisível, o homem não percebe o acúmulo de impurezas. Se até hoje essa
percepção não foi possível, é porque a educação está voltada apenas para a
matéria, negligenciando os estudos espirituais. Sempre falamos que essa é a
maior falha da humanidade. Se ela não reconhecer a existência do Mundo
Espiritual e não fizer pesquisas baseadas nesse conhecimento, não lhe será fácil
compreender o princípio da tempestade. Sendo assim, a missão original da
Religião é fazer reconhecer a existência do Mundo Espiritual, ignorado e negado
por quase todos. Entretanto, parece-me que as antigas religiões sempre se
mostraram desinteressadas em relação ao assunto, o que eu acho muito
estranho. Mas deixemos isso de lado.
Como já expliquei em outras oportunidades, quando se acumulam
impurezas no Mundo Espiritual, surge naturalmente uma ação purificadora. O
vento dispersa as impurezas e a água as lava: eis o que é a tempestade.
Realmente, não há nenhuma diferença entre ela e a limpeza que se faz
diariamente no Mundo Material. Portanto, identificar a causa dessas impurezas
é a única chave para solucionar o problema.
A impureza é a mácula criada pelo pensamento, pela palavra e pela ação do
homem. Isto é, os maus pensamentos, más palavras e más ações do ser humano
influenciam o Mundo Espiritual, gerando máculas. Por essa razão, em face da
freqüente ocorrência de grandes tufões, podemos compreender como os
pensamentos se tornaram maus, quantas más palavras são pronunciadas e
quantas más ações são praticadas. Direi, entretanto, que há uma maneira
extremamente fácil de eliminar as máculas: basta que a situação se inverta, ou
melhor, que os pensamentos, as palavras e as ações do homem se tornem bons.
Em outros termos: através do bem, purificar o Mundo Espiritual maculado pelo
mal. Nesse caso, o bem transforma-se em luz para eliminar as máculas. Os
hinos cristãos, os sutras budistas e as orações xintoístas são preces de Amor e
Louvor e por isso contribuem para a limpeza do Mundo Espiritual. Se elas não
existissem, os tufões seriam ainda mais violentos.
Diante do exposto, podemos afirmar que quem gera o tufão é o homem, e ele
próprio sofre com isso. Realmente, a natureza é perfeita. A tempestade é um
fenômeno semelhante ao processo de purificação conhecido como doença, o
qual surge no corpo humano quando nele se acumulam impurezas. Portanto,
como método para prevenir a tempestade, basta que compreendam esse
princípio e deixem de praticar o mal, passando a praticar o bem. É preciso
reconhecer que, além deste, não há outro método que apresente soluções
radicais.
24 de setembro de 1949

CONSIDERAÇÕES ESPIRITUAIS
SOBRE OS INCÊNDIOS
Todos sabem como surgem os incêndios. Os jornais estão sempre
publicando notícias de incêndios causados por fósforo, cigarro, aquecedor
elétrico, etc. Geralmente eles acontecem por descuido do homem, não vamos
negar que isso seja verdade. Mas creio que, na posição de religiosos, devemos
procurar descobrir a causa espiritual dos incêndios.
A doença, como sempre explicamos, é a ação purificadora do corpo
humano. Quando as toxinas que nele se acumulam atingem certa quantidade,
causam distúrbios à saúde, surgindo, então, a ação para eliminá-las, isto é, a
ação de limpeza. Sem ela, não é possível o homem manter a saúde; é uma Lei
Universal e, realmente, uma grande dádiva de Deus. Como a Ciência ainda não
conseguiu descobrir esse princípio, interpreta a doença de forma
completamente errada. Apesar de todo o progresso, o fato é que a humanidade
continua sofrendo, pois a Ciência mostra-se impotente ante o elevado número
de pessoas enfermas.
Talvez achem incoerência falar de doença para explicar as causas do
incêndio, mas, na verdade, a causa de ambos é a mesma, visto que o incêndio
também é uma ação purificadora. O mesmo podemos dizer em relação à
tempestade. Nesse caso, há um acúmulo de impurezas no Mundo Espiritual,
isto é, máculas motivadas pelos maus pensamentos, más palavras e más ações
do homem, e a tempestade sobrevém como ação purificadora dessas máculas.
Quer dizer, as impurezas dispersas pelo vento, são lavadas e carregadas pela
água e secas pelos raios solares. Assim se processa a purificação.
Como esclareci, a doença é a ação purificadora do corpo humano, e a
tempestade é a purificação do espaço acima da terra. Mas as casas, os edifícios e
outros tipos de construções, quando as máculas neles acumuladas atingem
certo ponto, também sofrem uma ação purificadora: o incêndio. A origem de
tais máculas é o dinheiro impuro que se empregou nessas construções ou o
acúmulo de más ações praticadas por aqueles que as utilizam.
Sobre isso, outrora ouvi um caso interessante, relatado por uma senhora
vidente. Alguns anos antes do grande terremoto que atingiu a Região Leste,
andando pelas ruas da cidade de Tóquio, ela viu rústicos barracões enfileirados,
em lugar dos altos prédios. Achou esquisito, mas, quando ocorreu o terremoto,
entendeu o significado do que vira. Como sempre falamos, tudo acontece
primeiro no Mundo Espiritual, isto é, pela Lei do Espírito Precede a Matéria a
purificação ocorre primeiro no Mundo Espiritual e depois se reflete no Mundo
Material.
Por ocasião do último incêndio de Atami, o edifício onde funcionava a sede
provisória da nossa Igreja foi salvo, apesar de ter sido envolvido pelas chamas.
Isso aconteceu, naturalmente, porque nele não havia impurezas. Assim, se
materialmente fizermos construções à prova de fogo e nos esforçarmos
espiritualmente para não maculá-las, elas não se incendiarão, deixando de
oferecer qualquer perigo.
A esse respeito, talvez surja uma dúvida: que não há razão para cidades à
prova de fogo, como as do Ocidente, virem a incendiar-se, mesmo havendo
impurezas. Entretanto, não existe outra explicação para o fato de muitas cidades
terem sido destruídas por bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial, a
não ser o princípio que acabamos de expor. É preciso saber que realmente as
Leis do Universo são absolutamente invioláveis.
20 de maio de 1950

INCÊNDIO E JOHREI
São freqüentes as experiências de fé relatadas por pessoas que, por ocasião
de um incêndio, conseguiram fazer mudar a direção do vento ministrando
Johrei, quando as chamas já haviam atingido a casa do vizinho. Isso acontece
porque o incêndio é a ação purificadora através do fogo. Quando se acumulam
impurezas na matéria, o espírito também está impuro; conseqüentemente, o
fogo alastra-se com facilidade. Ao se ministrar Johrei, essas máculas
desaparecem; deixando de existir aquilo que deveria ser queimado, o fogo muda
de direção. Realmente a Natureza é perfeita. Portanto, para acabar com os
incêndios, é preciso, antes de tudo, evitar que o espírito da matéria se macule;
não há outro processo para exterminá-los radicalmente. Assim, em primeiro
lugar, devemos entronizar a Imagem da Luz Divina em nosso lar, para purificar
o mundo espiritual da família.
Nos últimos tempos tem havido incêndios em várias regiões. São muitas as
casas destruídas pelo fogo, numa época em que já há grande falta de
residências, de modo que, embora se esteja construindo muito, o problema
continua sem solução. E o incêndio não causa apenas danos materiais, mas
também grandes danos morais. Além disso, sabemos que não é pequena a mão-
de-obra necessária para reconstruir aquilo que foi destruído, nem são poucos os
prejuízos com a suspensão do trabalho, no caso de uma empresa. Diante de tal
situação, as autoridades competentes estão fazendo um esforço desesperado
para solucionar o problema, mas inutilmente, porque não compreendem as
bases espirituais acima explicadas.
Para terminar definitivamente com os incêndios no Japão, é preciso que a
grande maioria de seus habitantes se tornem fiéis da nossa Igreja. Todavia,
como creio que isso é impossível atualmente, não há outro recurso senão
utilizar métodos materiais contra os incêndios e esperar, dando tempo ao
tempo, pois acredito que, futuramente, Deus solucionará o problema.
20 de fevereiro de 1952

Você também pode gostar