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Síntese da proposta
Ao dar início no trabalho, como novo bolsista, no projeto atual - Narrativas nos livros
didáticos de História: tradição e rupturas -, fora apresentado para mim uma organização de
um cronograma interno de trabalho. Seguindo este cronograma, em um primeiro momento,
fui inserido em um grupo de estudo, com leituras do projeto, do plano de trabalho e com
distribuições de leituras de aprofundamento, leituras estas que me forneceram o amparo
teórico-metodológico necessário para desempenhar as minhas funções no projeto. O projeto
atual - Narrativas nos livros didáticos de História: tradição e rupturas - trabalha com o
mapeamento já realizado e com as informações disponibilizadas pela fase inicial do projeto.
Por conta do potencial de combinações entre os temas, foi possível elaborar relatórios a partir
de comparações do tratamento dos conteúdos entre as diferentes coleções. Esses relatórios
foram objeto de discussão e análise no grupo de bolsistas com a coordenadora em encontros
periódicos. Considerando a existência de integração dos temas nacionais aos mundiais, foram
escolhidos temas que formam núcleos temporais com conexões produtivas para a pesquisa.
A partir da elaboração das sínteses e das análises comparativas, foram realizadas
reuniões com especialistas acerca dos temas explorados pelo projeto, como, por exemplo,
uma reunião com o professor da Universidade do Oeste do Paraná, Moisés Antiqueira, sobre
o seu artigo, Modelos causais e a escrita da história, publicado pela revista História da
Historiografia1. O tema desta conversa foi a questão da causalidade, pois, como ficará claro
futuramente, este é um tema caro ao projeto, tendo em vista que os fatores detonadores
presentes nas narrativas possuem uma grande potencialidade pedagógica e, em alguns temas,
podem ocupar o lugar chave para o desenvolvimento, ou não, das narrativas.
Os relatórios de síntese dos temas explorados pelo projeto têm oportunizado achados
de pesquisa específicos, produções de trabalhos e, além destes fatores, provocam debates e
levantam considerações em aspectos gerais do projeto. Trago abaixo os destaques em cinco
temas (Mercantilismo, Iluminismo, Absolutismo, Revolução Francesa e Conflitos no Oriente
Médio durante a segunda metade do século XX), que foram diretamente trabalhados por
mim, como primeiro resultado parcial obtido.
1ANTIQUEIRA, M.. Modelos causais e a escrita da história. História da Historiografia, v. 14, p. 11-26,
2014.
assim, o Mercantilismo é evocado em diferentes narrativas sobre diferentes temas presentes
nas coleções.
Ao tratar do tema do Iluminismo, os autores das coleções afirmam que foi durante o
Antigo Regime, que os governos absolutistas intervieram intensamente nas atividades
econômicas. Segundo os autores, a criação de companhias de comércio, a exploração colonial
e a definição dos monopólios faziam parte das preocupações dos reis e seus ministros, que
estabeleceram um conjunto de práticas e políticas econômicas conhecido como
mercantilismo. A partir deste ponto, alguns autores salientam que entre os séculos XVI e
XVIII, o comércio e as manufaturas se desenvolveram em alguns Estados da Europa
Ocidental. Neles, a economia rural também passou por transformações, ao mesmo tempo em
que eram explorados os recursos econômicos das colônias da América, da África e da Ásia.
Tudo isso se deu em ritmos diferentes e em sociedades diversas. De modo geral, esse
processo levou ao crescimento da influência da burguesia mercantil e financeira (grandes
comerciantes e banqueiros), principalmente na França e na Inglaterra. Muitos burgueses
tomaram consciência de sua importância social e econômica e passaram a defender seus
interesses. Seu principal objetivo era livrar-se da interferência do governo em seus negócios.
Passaram, então, a criticar as monarquias absolutistas. Por fim, as coleções acrescentam que a
forma como os intelectuais iluministas pensavam a política e a economia atendia
especialmente aos anseios da burguesia. Eles acreditavam que o Antigo Regime precisava ser
combatido em vários aspectos. O absolutismo monárquico era um deles, pois mantinha os
privilégios da nobreza, impedindo o predomínio dos ideais e das práticas dos burgueses.
Outro aspecto a ser combatido era o mercantilismo, fundamentado na intervenção do Estado
na economia, que dirigia a iniciativa privada.
No tema da Revolução Francesa foi possível perceber que os autores dos livros
didáticos mobilizam com frequência os mesmos conceitos, sujeitos e fatores detonadores para
a abordagem do tema e a apresentação do conteúdo para os alunos. Tais recorrências
demonstram que há uma narrativa consolidada referente à Revolução Francesa. Estas
constatações nos levam a crer que há uma manutenção de uma tradição no tema. Para dar
concretude a hipótese levantada, empreendi um trabalho que teve como objetivo compreender
a justificativa para a consolidação e a permanência da narrativa escolar existente sobre a
Revolução Francesa. Para isso, examinei de maneira aprofundada, dentro dos textos
referentes à Revolução Francesa, a presença da narrativa sobre a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão. As narrativas que se remetem à Declaração são apresentadas dentro de
treze das quinze coleções que tratam do tema da Revolução e é tida como um documento
considerado como a principal contribuição da Assembleia Constituinte ao processo
revolucionário; como um importante ícone contrário a lógica estamental da sociedade
absolutista do antigo regime; e, além disso, por conta das reivindicações por igualdade e
defesa da liberdade, é apresentada como uma inspiração para o ideal de república e como um
pilar para a democracia tal qual concebemos hoje. Percebe-se, a partir das informações
recolhidas, que há uma ampla associação do seu legado ao mundo contemporâneo.
Averiguou-se, portanto, que o valor da Declaração é um dos principais fatores que justifica a
permanência do tema da Revolução Francesa nos livros didáticos, pois, afinal de contas, a
ideia de "herança histórica" permanece como um dos principais motivos que determinam o
que deve ser ensinado nas narrativas escolares, ou seja, justifica a permanência do ensino de
história.
A partir desta breve síntese das narrativas presentes nas coleções, é possível
compreender que os temas presentes nas narrativas dos livros didáticos se desenvolvem em
texto de natureza diversas. Os capítulos do tema da Revolução Francesa, por exemplo,
possuem uma ênfase narrativa, enquanto os capítulos dos temas mercantilismo e absolutismo
são temas conceituais, que aparecem em capítulos, mas especialmente em tópicos, como
características da idade moderna. Cada coleção aplica o conceito a determinados povos
europeus, de determinada temporalidade. O tema do Iluminismo, por outro lado, possui uma
narrativa mais descritiva, caracterizando personagens ou “sujeitos” que tiveram influência no
processo. Além disso, há a clara relação entre os temas, podemos evidenciar, por exemplo, a
relação antagônica entre o conceito de absolutismo e a Revolução Francesa. Tal conceito, que
surge no volume anterior, como já afirmado, retorna aqui para ser alvo do combate de
iluministas e burgueses franceses. Nos livros, a narrativa enfatiza a insatisfação dos diferentes
segmentos sociais com a nobreza e o clero, bem como o repúdio ao absolutismo. Interessa ao
projeto analisar ainda se e como os livros relacionam o absolutismo com a situação colonial,
que vai, nesse período se desfazer, com as independências. É interessante observar como o
absolutismo, sendo um conceito estabelecido tão longe, na narrativa, será utilizado para a sua
recuperação, interessa ao projeto, portanto, perceber que estratégias serão usadas para a sua
recuperação. E interessa perceber se, e como, os livros os livros estabelecem conexões entre
as independências e a revolução francesa, considerando-se a discussão contemporânea de
originalidade dos processos coloniais e suas conexões com a Europa como referência de
metrópole. Um interesse derivado deste tema, por exemplo, foi o estudo, já destacado
anteriormente neste relatório, sobre como o tema dos direitos universais do homem, que é um
ícone do tema da Revolução Francesa, é trabalhado nos livros didáticos.
Por fim, ressalto como resultado parcial alcançado, a participação de eventos nos
quais tive a oportunidade de apresentar os achados sobre os temas mencionados acima. Tomo
como exemplo a apresentação do painel denominado O absolutismo como um conceito
explicativo na narrativa didática dos Estados modernos que foi exposto na 28ª edição da
Semana de Iniciação Científica (SEMIC), no campus UERJ-Maracanã. Além do painel ser
aceito da SEMIC, a exposição foi recompensada como um dos destaques, recebendo menção
honrosa e concorreu ao Prêmio de Iniciação à Ciência Elizabeth Macedo, na modalidade IC-
Humanidades.
Dificuldades Surgidas
Por conta das medidas de isolamento, em razão do combate à pandemia, estou, desde
março, afastado do laboratório de pesquisa, onde o projeto se desenvolve. O laboratório de
pesquisa é de grande importância para o projeto, pois, no laboratório, além do material
necessário para a pesquisa, existe tanto a troca de experiência com os outros bolsistas, quanto
o necessário auxílio da coordenadora. Estar afastado do laboratório impediu o
desenvolvimento normal do projeto. No entanto, apesar das circunstâncias, a coordenadora
está buscando recuperar formas de desenvolvimento para que o projeto possa prosseguir.