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A Queda da Taverna

O dia começou normal na taverna, bastante barulho fora e dentro dela, do que agora
considerávamos basicamente como nossa casa, e com bastante entra e sai, assim como era
sempre ali na Taverna do Porco a sede do PorcoOdin. Acredito que a grande maioria dos novos
membros haviam retornado na noite anterior e estavam ali reunidos, o que não acontecia fazia
messes. No lado de fora Prr estava meio q cozinhando um homem do clero em um barril, o
homem gritava por sua vida, enquanto estava amarrado dentro do barril com óleo até seu
peito e Prr brincava com suas magias de fogo ao seu redor, fazendo as chamas passarem
perigosamente próximas ao líquido inflamável, acho que a qualquer momento o homem
viraria churrasco, acho também que se esse “homem santo” estava ali naquela situação fez por
merecer, pelo menos assim esperava!

Por mais que faça pouco tempo que havia conhecido os outros membros do clã, confio
nos meus companheiros, mesmo que alguns tenham atitudes as vezes um pouco estranhas ou
duvidosas, acredito que todos nós buscamos uma causa justa, bem e mal neste mundo de
tantas incertezas e perigos as vezes se torna difícil de distinguir, por isso não julguei o Prr logo
de cara. No final das contas fiquei feliz que Prr não estava na entrada junto a rua mais
movimentada com seu passatempo, assim não chamava tanta atenção, por mais que já tinha
uns 10 transeuntes na volta, pensei “Bom, podia ser pior!”.

-- Esse é um homem do clero, não!? Será que seria sensato “brincar” com ele assim
aqui fora, com toda essa atenção!?

Eu estava realmente preocupado, mas Prr não me deu atenção, parecia meio que
absorvido por tudo aquilo, isso me preocupou mais que a cena toda em si. Entretanto não tive
tempo para refletir ou intervir nisso, escutamos naquelas primeiras horas da manhã o soar da
trombeta do Grande Exército Defensor como os pequenos ali daquela região se autointitulam
e não estava nada longe de nós. Era a marcha dos soldados do governo, principalmente
artífices com seus trabucos movidos a pólvora, armas terríveis de se enfrentar a média
distância, bem equipados eles mantinham a ordem daquela nação e tinham um bom
contingente naquela cidade portuária, até contando com muitos mercenários de outras raças
para dar uma presença melhor ali, e resguardar seus melhores combatentes para a parte mais
central da Grande Nação.

Slash um dos membros do clã chegou cavalgando seu corcel negro segundos após a
trombeta e saltou adentrando a porta da taverna, aquilo só podia significar sérios problemas
para nós. Adentrei a porta logo em seguida abandonando o “santo” a sorte com o Prr e com o
som de marcha pesada já a minhas costas. Slash estava junto a Makarov e o velho parecia bem
preocupado, de fora uma voz de comando soou alto na direção da taverna:

-- SAIAM AGORA SEM PORTAR ARMAS E DE FORMA ORDEIRA! Eu sou o Comandante


Eldon Garra Verde, e estou aqui com ordens de levar a força se necessário, os membros do clã
PorcoOdin, por suspeita de assassinato do nosso amado Presidente Dilmopobkip! Não ousem
tentar fugir ou lutar, somos mais de 100 soldados a sua porta!

O som foi amplificado por magia e entrou em cada cômodo da taverna alto como um
trovão. E ali estava eu sem saber o que era mais inusitado naquelas ordens, se era esperar que
todos ali abandonassem suas armas, ou se saíssem de forma ordeira.
Makarov passou por mim, o semblante do velho era claro, não estava para brincadeira,
sua voz forte e carregada de poder rompeu o silencia momentâneo que havia baixado no salão
e foram bem curtas, mas cheias de significado.

-- Saiam daqui! Eu seguro eles!

Uma Halfiling com aparência mais anciã estava ali, não havia reparado ainda nela, mas
parecia que antes de passar por mim Makarov havia sussurrado algumas palavra para ela. A
mulher parecia meio congelada por uma forte emoção, mas logo se colocou em movimento,
pegando a menina que nos atendia no bar pela mão, falou com um tom de autoridade
também, mas não sem vacilar em uma ou outra palavra, estava tão perturbada quanto nós
talvez.

-- Tenho um barco no porto e posso tirar vocês daqui, me encontre no cais rápido!
Partiremos em poucos minutos, venham por favor! Seus olhos refletiam sinceridade e
preocupação genuína, e uma dor que não dava para conter, então desapareceu da nossa
frente, alguma magia ou encanto a levara dali com certeza junto com a menina do bar. Bom
não teria que me preocupar com a menina pelo menos, pude pensar nisso quando uma bola
de ferro atravessou uma das janelas se chocando com a prateleira de bebidas do bar
estilhaçando com tudo ali, enquanto outras esferas menor se chocavam contra tudo ali,
estávamos sobre ataque!

La fora foi possível escutar, Makarov gritando, a voz carregada de magia.

-- Deixem meus filhos em paz! E o som do escudo dele batendo com força contra o
chão, fizeram cessar as balas e tiro de canhão que começavam açoitar a Taverna de repente.
Era nossa chance, nossa única chance.

Todos se moviam para a porta ou para as janelas, Sagit rompeu a galope pela porta
não sem antes carregar outros dois civis que estavam ali dentro nos seus poderoso braços de
centauro, vi apenas uma sombra rápida que devia ser BonVoyage saltando para os telhados do
segundo andar, Rudinik, Petrefax e eu partimos para a porta da frente assim como tantos
outros, escutei Obvilus ao fundo chamando por Ruina, esperava que ele pudesse carregar
alguém em segurança protegido pelo seu grande corpo de aço. Então meus olhos cruzaram
com os de Tanith e por um instante, vi o mesmo olhar preocupado que o meu, havia medo em
todos nós. Gritei para ela sem emitir som algum apenas dizendo as palavras com os lábios
“CORRE, SAI DAQUI!”, ela estava próxima a uma janela e saltou por ela assentindo com um
gesto rápido. Fiz o mesmo que falei, era tudo que podíamos fazer, me senti tão impotente e
tão fraco naquele momento. Ao sair em disparada escutei um homem a gritar e chamas
subirem, acho que Prr também estava começando a correr.

Partimos para as ruas, podia ver alguns companheiros ao meu redor, alguns se
afastando e outros se aproximando. Logo na primeira esquina após sairmos, uma bola de fogo
irrompeu a nossa frente destruindo e queimando nosso caminho, uma magia poderosa e de
grande destruição, nos forçando a mudar nossa rota, mas Prr que surgira um pouco a minha
frente foi engolido pelas chamas, felizmente o vi emergindo no outro lado com apenas suas
vestes levemente queimadas.

Sagit que estava descendo uma rua lateral a minha chamou a atenção de alguns
guardas que estavam prontos para atirar, mas foi muito hábil com alguns gestos que vi de
longe, pois os guardas perderam totalmente o interesse nele. Olhando para traz pude ver
PassoCurto tendo dificuldade com um labirinto de barris que surgiu na sua frente de um
carregamento que se espalhou de súbito na rua, o que prendeu minha atenção quase por
tempo demais, pois na minha frente surgiu uma carroça praticamente do nada, no caos que
estava a cidade àquela hora, o carroceiro parou com sua carroça no meio da rua, Petrefax
corria ao meu lado.

-- Vamos coveiro, me siga!

E investi com tudo contra a carroça, não dava mais tempo para pular então resolvi
atravessar ela a força mesmo, enquanto me arremessava de ombro contra a carroça, Petrefax
batia como um baque seco contra a madeira e voltava para trás, e sobre nós Tanith passava
com uma acrobacia bastante elaborada e graciosa. Talvez Petrefax não entendeu bem meu
plano, ou entendeu bem demais, não sei, mas escutei o baque seco, e escutei na minha mente
“Não deu!”, mas observei o sujeito estranho logo passando pelo buraco que fiz, então ele
ainda estava conosco felizmente.

-- Cada um com seu jeitinho, não é Druida! Tanith brincou falando do alto da casa por
onde ela corria sorri para ela, mas ainda estamos longe da segurança.

Mais a minha esquerda vi BonVoyage escorregando por alguns limos que se acumulam
sobre os telhados de algumas casas, mas sem perder o equilíbrio saltou com bastante maestria
para a rua a sua frente. Em outra rua Ruina corria em franco galope com Oblivius sobre ela,
sempre uma visão imponente, mas nesta situação chamando mais atenção que devia, um
soldado mais graduado aparentemente lançou uma magia no nosso cavaleiro, pois eles deram
uma guinada abrupta para o chão batendo contra uma parede, aquilo deve ter doido tanto
para nosso guerreiro como para a casa, pois arrancou um pedaço da coluna onde o ombro de
aço puro se chocou, em rápido retorno Obi sem perder o equilíbrio da sua montaria buscou
um caixote do chão e arremessou contra o soldado, retomando seu galope.

Percebi q Fonefax estava enfrentando dificuldade diferente das nossas naquele


momento, em combate ele demonstrava força e grande maestria, mas ali estava ele frente a
uma bifurcação tendo que recorrer a sua lábia para conseguir informações do melhor
caminho, parecia um peixe fora da água. Passamos por ele o puxando para nos seguir, e a voz
de Prr ecoou de um beco, não era exatamente ele ali, mas sim uma de suas magias percebi
apenas mais tarde, mas foram muito uteis para nos dar um caminho para seguir. Rudinik fora
mais hábil de todos e já se encontrava no barco que pude observar ao longe, muito antes de
todos, o vi retardando muitos guardas que estavam no nosso encalço com seus raios de gelo,
já Passo Curto, estava ficando mais para traz, mantive um olho e parece que outros também o
observava de longe, ele estava ficando perigosamente perto dos guardas.

Do alto dos telhados ainda Thanith nos avisou que já conseguia ver o porto, e nos deu
uma dica de atalho, um muro alto nos separaria dos nossos perseguidores um pouco e do
outro lado ganharíamos uma vantagem sobre os guardas, assumi a forma de urso para auxiliar
quem pudesse subir, Fonefax foi o primeiro a passar sem necessitar de ajuda nenhuma, seu
longos braços o permitiram saltar sem dificuldade, os demais foram passando um a um até
que o último que pude ajudar foi Petrefax, mas os guardas se aproximavam rápido demais e
tivemos que nos separar ali, não sem antes Petrefax falar no seus tons estranhos nos
concedendo sua “benção”, PassoCurto e eu ficamos para traz e tivemos que adotar outro
caminho para o porto.
Já nos aproximando do porto voltei a ver Prr ao longe, e pelo jeito não estava em uma
situação muito melhor, Prr e BonVoyage haviam acabado de cair no meio de uma briga
generalizada que ocorria no meio da praça próximo ao porto, eu estava preste a mudar de
direção e tentar intervir para os ajudar, mas Sargit surgiu caindo no meio da confusão, e um
centauro a todo o galope de armadura pesada, escudo e martelo de guerra surgindo no meio
da turba chama um pouco a atenção e abria um certo espaço, o nosso centauro cavalgou para
um canto da praça na direção oposta a nossa e logo se deu conta e retornou para a direção do
certa abrindo uma grande passagem com seus cascos e força e quase acabando de uma vez
com a confusão, Prr e BonVoyage se aproveitam disso se misturaram a multidão e escaparam
da briga.

Para ganhar mais terreno e me tirar logo dali assumi minha forma de lobo que se
deslocava melhor pelas ruas que o grande urso que havia usado antes, e emparelhei com o
monge, tanto eu como ele corríamos tudo que podíamos já chegando no nosso limite, mas
mais uma vez PassoCurto voltava a ficar um pouco pra traz, não era o dia dele mesmo,
avançamos por um ladeira abaixo com os guardas a menos de 3 passos a nossas costas e com
uma curva abrupta a nossa frente, escapei dela, mas achei que o monge iria se bater contra a
parede e certamente ser capturado, quando de repente uma mão magica o auxiliou, foi
apenas um toque rápido, dando um novo apoio aos seus passos, mas foi o suficiente para o
nosso monge ter o apoio que precisava para correr pela parede em uma acrobacia digna de
um artista marcial, e ao longe pude ver com o canto do olho próximo a uma igreja BonVoyage
nos observando, pelo jeito ele parou para ajudar um companheiro com seu novo truque
arriscando sua própria segurança, achei que não veria ele fazendo algo assim jamais, acho que
no fim todos nós somos cheios de surpresas.

Finalmente chegamos ao barco, me arremessei como lobo mesmo por cima da murada
e fui retornando a minha forma humana, estávamos todos a salvo! Tanith parecia brilhar com
seu sorriso, mas acho que era apenas os cacos de vidro no seu cabelo na verdade, a fulga não
tinha sido fácil para ninguém, mas então percebi que BonVoyage não estava ali. Virei meus
olhos para a igreja onde o havia visto entrar por último e percebi que ele ainda podia estar lá,
o barco avançava o canal neste momento e logo estaríamos cruzando ao lado da igreja que
margeava a saída do porto, da proa observávamos preocupados guardas entravam pela porta
da igreja em grande quantidade e por puro instinto olhei para o vitral mais alto da igreja e
pude observar o nosso ladino e entendi seu plano, arremessei uma das minhas pedra magicas
na grande janela, não duvidando da maestria acrobática do Bon, mas sim de sua força contra o
espeço vidro, o vitral trincou no segundo antes do ladino se encontra contra a ela, a
estilhaçando por completo e aterrissando de forma meio desajeitada no meio do barco, uma
entrada e tanto diga-se de passagem, pois não é todo mundo que se joga de uma altura de 6m
assim, mas a outra opção certamente seria bem pior, não sei se ele chegou a notar o auxílio
que dei, mas isso realmente não era importante. Agora sim estávamos todos ali, todos os que
me eram mais queridos, meus amigos!

Não tivemos nenhuma noticia de Makarov e dos demais que ficaram para traz para
assegurar nossa fulga, aquilo deu um gosto amargo para o nosso sucesso, mas o clã estava ali a
salvo e rumando para novas aventuras, buscaríamos uma nova casa e sim um dia voltaríamos e
pobre daqueles que cruzarem nosso caminho quando este dia chegar, disso eu não tinha a
menor dúvida.

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