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O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO

O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO. Direção: Chiwetel Ejiofor. Roteiro: Chiwetel


Ejiofor. Intérpretes: Maxwell Simba, Chiwetel Ejiofor, Aissa Maiga. Produção: Netflix.
EUA, Malawi, França, Reino Unido, 2019. 1 DVD. (113 min.). Baseado no livro: The Boy
Who Harnessed The Wind, de Willian Kamkwamba.

Chiwetel Umeadi Ejiofor, nascido em Londres, filhos de pais nigerianos, ator,


iniciou sua carreira aos 13 anos, recebeu em 2006 duas indicações ao prêmio Golden
Globe (Globo de Ouro), por melhor performance. Em 2013 interpretou Solomon Northup
em 12 anos de escravidão, pelo qual recebeu indicações ao Óscar, Globo de Ouro,
Screen Actors Guild, junto com BAFTA de melhor ator. Também estreou como diretor
na produção do filme The Boy Who Harnessed The Wind em 2019.
O livro The Boy Who Harnessed The Wind é uma autobiografa de Maxwell
Simba, e com base em sua história, originou-se o filme O menino que descobriu o
vento, que tem por objetivo narrar uma emocionante historia baseada em fatos reais de
Willian Kamkwanba, um garoto de 13 anos morador de uma comunidade camponesa
muito carente na vila de Kasungu no Malaui, que encontra no lixo uma forma de ajudar
a família e sua comunidade.
Na primeira parte, que se passa no ano 2000, o objetivo é mostrar as
características da comunidade, sendo essas: modo de vida, relações interpessoais,
renda e cultura local.
Em um segundo momento que se passa no ano de 2001, são expostas as
dificuldades causadas pela falta de recursos e investimentos com o meio ambiente e a
comunidade, levando o público a refletir sobre o que pode ser feito para se transformar
positivamente mais que a si próprios.
Na terceira e última parte do filme em questão, são apresentados os resultados,
onde as adversidades foram os canais de transformação da comunidade e da vida de
Willian por algo simplesmente retirado do lixo.
Como refere Severino (2013, p. 24) “[...] as forças de dominação, de degradação,
de opressão e de alienação consolidam nas estruturas sociais, econômicas e culturais
[...]” por essa perspectiva vemos que as famílias da comunidade de Kasungu no ano
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2000 tiveram uma boa colheita que até aquele momento era possível somente uma vez
ao ano, pois eles não possuíam meios de irrigar a terra no período da seca.
No ano seguinte, as famílias da comunidade receberam uma oferta da empresa
de tabaco, onde a mesma queria comprar as árvores que eram a única garantia caso as
chuvas fossem irregulares, pois suas terras para plantio não seriam alagadas. Muitos
cederam e venderam, as chuvas vieram e as árvores que sobraram não foram
suficientes para suportar o peso da correnteza, inundando assim as terras que já
estavam com suas sementes no solo. Com isso, eles não conseguiram produzir o
mínimo para a própria sobrevivência e o governo não se dispôs a ajudar a comunidade.

O crescimento do conhecimento científico verificado ao longo do século XX, em


particular nas últimas décadas, acentuou a capacidade da Ciência na proposta
de Soluções para problemas graves da humanidade. No entanto, apesar da
consciência dos países desenvolvidos sobre a necessidade de conjugar
esforços nesse sentido, permanecem desigualdades a escala planetária, difíceis
de justificar e suportar (MARTINS, 2006, p. 9).

Seguindo essa perspectiva, vislumbra-se no Século XXI, quando se possui


estudos e equipamentos para geração e distribuição de energia, que sem investimentos
e recursos básicos para a sustentação, a causa e efeito são o falecimento de habitantes
pela falta de alimento. Nesse período a família de Willian, que era composta por 5
pessoas (pai, mãe dois irmãos e Willian), passaram a se alimentar somente uma vez
por dia, e seu pai (Triwell) para não deixar faltar para os demais, passou a ficar em
jejum.

O conceito do que é básico estende-se hoje a outras dimensões do ser humano


como a cultura e, consequentemente, o acesso à educação. Ora, em plena
primeira década do século XXI existe ainda um défice assustador sobre o
acesso generalizado à escola, não sendo aceitável que, numa economia global
baseada no conhecimento, cerca de 115 milhões de crianças não acedam ao
ensino básico, localizadas sobretudo na África Subsariana e na Ásia do Sul
(MARTINS, 2006, p. 2).

Por meio do referido, é possível observar claramente as desigualdades quando o


filme expõe que na cidade, para ter acesso aos estudos, era necessário que as famílias
pagassem um valor mensal excessivo (correspondente à metade da renda anual da
família). Mas, devido à crise, não foi possível honrar com os custos do estudo, o que
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não significa que Willian desistiria de seus propósitos. Portanto, sem que o diretor da
escola soubesse e com a ajuda de seu professor de ciências, ele continuou
frequentando a biblioteca da escola, onde encontrou um livro que ensinava sobre a
energia eólica.
Conforme Santos (2008, p. 12) “[...] as potencialidades da tradução tecnológica
dos conhecimentos acumulados fazem-nos crer no limiar de uma sociedade de
comunicação interativa libertada das carências que ainda hoje compõem os dias de
muitos de nós [...]”. Willian mostrou que é possível mudar sim a sociedade com auxílio
da ciência pois com algumas sucatas e a ajuda de alguns amigos ele produziu um
pequeno gerador de energia eólica capaz de fazer um rádio funcionar, mas seu objetivo
principal era fazer um gerador suficiente para produzir energia e bombear água para
irrigação que permitiria que os moradores realizassem duas colheitas anuais, para
produzir o mesmo seria necessário um Dínamo e algumas matérias primas que
permitiriam ampliar a produção.
O que ele não esperava é que o preço pelo Dínamo seria tão alto, sua irmã
(Annie), que sonhava em se formar na faculdade fugiu com seu professor de ciências
(Willian), e deixou para ele o dínamo. A situação que já não estava boa, ficou ainda
mais difícil pela ausência de Annie.
Santos (2008, p. 92) nos descreve “[...] Duvidamos suficientemente do passado,
para imaginarmos o futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para podermos
realizar nele o futuro[...]”. Willian duvidou do passado de sofrimento, vislumbrando um
futuro dentro do presente incerto que vivia, transformando a trajetória de vida própria e
de sua comunidade, por meio dos equipamentos que encontrou no lixo.
Para que conseguisse funcionar o gerador, ele precisava da bicicleta de seu pai,
que não autorizou, mas posteriormente, sua mãe conversou com seu pai e o convenceu
a dar a bicicleta, pois ela temia que Willian tomasse a mesma decisão de Annie em
abandonar sua família.

Tal como noutros períodos de transição, difíceis de entender e de percorrer, é


necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas
simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, perguntas que só uma
criança pode fazer mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz a
nossa perplexidade (SANTOS, 2008, p. 15).

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Conforme Santos descreve, vê-se que pergunta similar surgiu, de um garoto com
13 anos, que com a ajuda de seu pai e as pessoas que ainda moravam na comunidade,
construíram a estrutura de sustentação e o catalizador de vento, que funcionou
conforme o protótipo que ele havia feito. Assim, conseguindo por meio do mesmo
carregar a bateria, que com ajuda da bomba puxou água do poço, irrigando a plantação
durante todo o ano, permitindo assim que eles realizassem duas colheitas anuais e não
se preocupassem mais com as mudanças climáticas.
Sua invenção ficou famosa, e em 2006 Willian foi convidado a palestrar em uma
conferência onde haviam diversos empresários, que presentearam Willian com uma
bolsa de estudos, a qual permitiu que ele terminasse o ensino médio. Após a conclusão
do Ensino Médio, Willian iniciou uma faculdade de estudos ambientais na África e
concluiu em Dartmouth nos EUA.
O Menino que descobriu o vento, é apresentado de uma forma clara ao
telespectador, onde se refletem as necessidades econômicas, políticas, sociais e
culturais que existem, e que as mesmas podem ser transformadoras de muitas vidas
em comunidade, se as pessoas praticarem mais a empatia e transformarem as
adversidades em superações.
As citações permitem compreender melhor os avanços tecnológicos, sua
importância no meio social, bem como o quanto as Universidades podem contribuir
para este desenvolvimento.
A obra pode ser destinada a estudantes e docentes, pois impulsiona a reflexão
crítica dos aspectos econômicos e sociais que cercam a sociedade atual.
REFERÊNCIAS

MARTINS, I. P. Educação em ciência, cultura e desenvolvimento. s/d. Disponível


em: https://blogs.ua.pt/isabelpmartins/bibliografia/CapL_8_EducacaoCienciaCultura
Desenvolvimento_2006.pdf. Acesso em: 29 de jun. 2020.

O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO. Direção: Chiwetel Ejiofor. Roteiro: Chiwetel


Ejiofor. Intérpretes: Maxwell Simba, Chiwetel Ejiofor, Aissa Maiga. Produção: Netflix.
EUA, Malawi, França, Reino Unido, 2019. 1 DVD. (113 min.). Baseado no livro: The Boy
Who Harnessed The Wind, de Willian Kamkwamba.

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SANTOS, B. S.; Um discurso sobre as ciências. 6.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

SEVERINO, A. J. Universidade, ciência e formação acadêmica. Capítulo I. In:


SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 1.ed. São Paulo: Cortez, 2013.

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