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CARTILHA DE ENTOMOLOGIA MÉDICA:

DOENÇAS TRANSMITIDAS
POR INSETOS NA AMAZÔNIA

ELOY GUILLERMO CASTELLÓN


Coordenador
FICHA CATALOGRÁFICA

C348 Cartilha de entomologia médica: doenças transmitidas por insetos na


Amazônia / Coordenador: Eloy Guillermo Castellón. --- Manaus : [s.n.],
2011.

40 f. : il. color.

Organizada pelos pesquisadores dos institutos de ensino e pesquisa: Inpa,


Fiocruz/Manaus, UEA e Fundação de Medicina Tropical de Manaus;
Projetos: Fronteira; apoio FINEP-Financiadora de Estudos e Projetos.

ISBN:

1. Entomologia médica. 2. Insetos – Amazônia. 3. Doenças endêmicas.


I. Título.
CDD 19. ed. 616.968
SUMÁRIO

BARBEIROS E DOENÇA DE CHAGAS ............................. 09


Walter Souza Santos

FLEBOTOMÍNEOS E LEISHMANIOSES ...................... 13


Eloy Guillermo Castellón e Felipe Arley Costa Pessoa

MOSCAS SINANTRÓPICAS .................................................... 19


Maria de Nazaré Tavares da Silva e Eloy G. Castellón

MIÍASES ........................................................................................... 21
Eloy Guillermo Castellón e Maria de Nazaré Tavares Da Silva

MARUINS E VIRUS OROPOUCHE ..................................... 25


Eloy Guillermo Castellón e Felipe Arley Costa Pessoa

MOSQUITOS E DENGUE ....................................................... 29


Wanderli Pedro Tadei e Iléa Brandão Rodrigues

MOSQUITOS E MALÁRIA ....................................................... 33


Wanderli Pedro Tadei e Iléa Brandão Rodrigues

PIOLHOS E FEBRE DE TIFO ............................................... 39


Eloy Guillermo Castellón

PIUNS E FILARIOSES ............................................................... 41


Jansen Fernandes Medeiros, Marilaine Martins

PULGAS OU BICHO DO PÉ ................................................... 47


Eloy Guillermo Castellón

REFERÊNCIAS CONSULTADAS .......................................... 51


Apresentação

A Cartilha de Entomologia: Doenças Transmitidas por Insetos na


Amazônia Brasileiras, escrita de forma simples e fácil, está dirigida aos
professores de ensino médio, aos estudantes do ensino fundamental e mé-
dio e à população, a fim de fornecer subsídios para o conhecimento das
principais doenças transmitidas por insetos, que nos afetam na Amazônia
e a forma de prevenir e aprender a reconhecer os sintomas em pacientes
acometidos pelas diferentes doenças, providenciando o atendimento mé-
dico o mais imediato possível; visto as grandes distancias a serem recorri-
das na Amazônia.
A cartilha foi organizada por um grupo de Pesquisadores colabo-
radores, todos Entomólogos especialistas, pertencentes aos quadros do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Instituto Lêonidas e Maria
Deanne da FIOCRUZ/Manaus, Universidade Federal do Estado do Ama-
zonas e Fundação de Medicina Tropical de Manaus.
A Cartilha está sendo editada pelo Projeto Fronteira, financiado
pela FINEP-MCT e executado por pesquisadores do INPA.
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

BARBEIROS E DOENÇA DE CHAGAS

Organizado por Walter Souza Santos

Instituto Leônidas e Maria Deane – ILMD / Fiocruz Amazônia


Rua Teresina 476, Adrianópolis, Manaus, Amazonas

Os barbeiros são insetos transmissores da doença de chagas, são


popularmente conhecidos como “barbeiros” porque geralmente picam a
face das pessoas, que fica descoberta enquanto dormem, medem entre 2
a 3 cm de comprimento; quando jovens são chamados de “ninfas”, que,
diferentemente dos adultos, não possuem asas. As ninfas e os adultos po-
dem viver tanto no ambiente silvestre como em casas.
Das 137 espécies de barbeiros
conhecidas na atualidade, apenas 25
ocorrem na Amazônia. Os barbei-
ros na Amazônia são essencialmente
silvestres, ou seja, vivem na floresta,
mas alguns deles são encontrados fa-
cilmente no interior das casas, donde
chegam atraídos pelas luzes elétricas;
os mais comuns são os que aparecem
na Figura 1.
No ambiente silvestre, os barbeiros Figura 1. Barbeiros quecomumente
que chegam às casas. Na amazônia.

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PROJETO FRONTEIRAS

podem ser encontrados


em árvores ocas, na copa
das árvores, em troncos
caídos, em tocas de ani-
mais (Figura 2) e, sobre-
tudo em palmeiras.
As palmeiras pre-
feridas pelos barbeiros
são as maiores e mais
cheias de palha e folhas
mortas (Figura 3); estas
palmeiras são encontra-
Figura 2. Ambientes silvestres em das tanto nas florestas
que os barbeiros habitam.
quanto nas cidades e
vilas. Os barbeiros que
moram nelas podem
chegar voando até as ca-
sas construídas perto de
áreas de floresta. Quan-
do isso acontece, eles po-
dem transmitir o parasito
ao picar as pessoas ou ao
contaminar os alimentos
que elas tomam.
Os barbeiros se
alimentam somente de
sangue; eles podem su-
gar sangue de pessoas e
de outros animais, como
ratos, morcegos, tatus e
mucuras, estes animais
Figura 3. Palmeira com barbeiros.
sáo chamados de reser-
vatórios naturais. Muitas
destas espécies de animais podem estar infectadas com o parasita chama-
do de Trypanosoma cruzi. Na Amazônia, alguns dos principais reservatórios
do parasito da doença de Chagas são as mucuras e os macacos (Figura 4).

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

Figura 4. Mucuras e macacos, reservatórios de Trypanosoma cruzi na Amazônia.

Ao sugar o sangue de um animal infectado, o barbeiro pode ad-


quirir o parasito, ficando infectado para toda a vida. Se, depois, o barbeiro
infectado sugar o sangue de uma pessoa, pode contaminá-la com os para-
sitos que estão nas fezes.
A doença de Chagas foi descoberta pelo médico sanitarista bra-
sileiro Carlos Chagas (Figura 5) no ano de 1909, em seus estudos na cidade
de Lassance no interior de Minas Gerais. Carlos Chagas descreveu os sin-
tomas da doença e percebeu que no sangue dos pacientes havia uma espé-
cie de parasito até então desconhecido. Nas casas que visitou, ele viu que
havia uma grande quantidade de insetos que se alimentavam do sangue das
pessoas e também dos animais domésticos; estes insetos são conhecidos
como “barbeiros”.
Assim, o Dr. Carlos Chagas percebeu que aquela doença era cau-
sada pelo parasito que ele havia visto, o qual chamou de Trypanosoma cruzi
(Figura 5), e que o parasito era transmitido pelos barbeiros que habitavam
as casas. Além de infectar
as pessoas, o parasito tam-
bém podia ser encontrado
em alguns animais, como
gatos, ratos, macacos e
mucuras.
A partir de sua
descoberta, a doença fi-
cou conhecida como do-
ença de Chagas em ho- Figura 5. Dr. Carlos Chagas e o
menagem ao pesquisador. Trypanosoma cruzi (visto ao microscópio).

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PROJETO FRONTEIRAS

Os parasitos são transmitidos pelas fezes dos barbeiros: eles fre-


qüentemente defecam sobre a pele ao picarem um indivíduo, e as fezes
contêm muitos parasitos. A picada pode ocasionar reação alérgica, levando
o indivíduo a coçar o local onde foi picado pelo inseto e facilitando a en-
trada dos parasitos até o sangue. Ás vezes, um barbeiro pode cair dentro
de um recipiente com alimento (como suco de frutas) e contaminá-lo;
as pessoas que tomarem este alimento podem também adoecer. Quando
chegam ao sangue, os parasitos se reproduzem e alcançam diversas partes
do corpo; eles acabam se concentrando no coração, baço, intestino e fíga-
do, onde causam diversos danos.
Nos primeiros momentos após a infecção, a doença causa febre,
mal estar, falta de apetite, inflamação no local da picada, inchaço dos gân-
glios e aumento do baço e do fígado; nos casos mais graves, a infecção
pode atingir o coração e o cérebro e causar a morte do paciente. O trata-
mento da doença de Chagas é muito efetivo nesta primeira fase da doença,
chamada de ”fase aguda”.
Se não forem tratados, os pacientes infectados podem desenvolver
lesões mais severas no coração e no intestino com o passar dos anos. Esta
forma, chamada “crônica”, pode causar problemas graves do coração,
como insuficiência e alterações dos batimentos, e do aparelho digestivo.
Além de incapacitar o doente para realizar trabalhos pesados, estas lesões
causam muito sofrimento e podem levar à morte. Apesar do perigo que
representa a doença de Chagas, algumas medidas simples podem ajudar a
evitar a chegada dos barbeiros até as casas, protegendo assim aos mora-
dores. Quando as moradias estão perto da floresta, é recomendável telar
as janelas e as portas. Manter o interior e o quintal da casa sempre limpos
ajuda a evitar a presença de ratos, mucuras e barbeiros. Se há palmeiras
perto da casa, elas devem ser limpas regularmente, retirando as folhas e as
palhas mortas para eliminar os esconderijos dos barbeiros. A higiene com
os alimentos (que devem ser mantidos cobertos, lavados e bem cozidos)
é também importante; os locais de preparo de alimentos (cozinhas, bate-
deiras de frutas e despensas) devem ser protegidos com telas. Com essas
práticas, os reservatórios, os barbeiros e a doença de Chagas ficarão longe
de sua casa.

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

FLEBOTOMÍNEOS E LEISHMANIOSES

Organizado por Eloy Guillermo Castellón¹ e Felipe Arley Costa Pessoa²

¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA


²Instituto Leônidas e Maria Deanne-ILMD/FIOCRUZ

Os flebotomíneos são pequenos dípteros corcundas e muito pi-


losos, com as asas em forma de ponta de lança, mantidas eretas sobre o
corpo, quando pousados.
Eles são popularmente conhecidos no Brasil como asa branca, asa
dura, birigui, cangalhinha, mosquito palha, tatuquira, frebóti etc.
O abdome das fêmeas tem a extremidade posterior romba e arre-
dondado, com cercos pouco desenvolvidas e no seu interior há um par de
espermatecas onde é armazenado o semem dos machos, que apresentam a
extremidade posterior do abdome ou terminália, constituída de apêndices
em forma de ganchos.

Figura 1: Aspecto geral de fêmea de flebótomo; Figura 2: Aspecto geral da genitália de


macho de flebótomo; Figura 3: Fêmea recém alimentada de sangue copulando

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PROJETO FRONTEIRAS

Os ovos colocados pelas fêmeas são elípticos, alongados e um


pouco encurvado. O seu exocório ou casca apresenta esculturas impor-
tantes para a identificação da espécie.
As larvas são claras e vermiformes, com uma cápsula cefálica es-
cura e bem esclerotizada, com mandíbulas robustas; as de primeiro instar
assim recém eclodidas apresentam duas cerdas longas na parte dorsal
posterior do corpo e as dos outros três instares, no gênero Lutzomyia,
apresentam quatro cerdas.
Os flebotomíneos se adaptam bem a abrigos úmidos e escuros
na floresta, saindo destes, em geral, em condições de alta umidade e de
temperaturas moderadas. A maioria das espécies é associada a florestas de
vários tipos ou vive em cavernas e cavidades em pedras, tocas de animais
silvestres, e exemplares de várias espécies podem invadir domicílios e ane-
xos.

Figura 4. Ciclo de vida de flebotomíneos: a- ovos, b- larva, c- pupa, d- macho, e- fêmea.


(Foto dos autores)

A localização dos insetos e a hematofagia, ou seja, o hábito de su-


gar sangue das diferentes espécies de animais silvestres, domésticos ou do
homem nos vários horários, tem grande importância epidemiológica.
As fêmeas, além de ingerirem substâncias açucaradas de excreções
de afídeos (pulgões), e de seiva de vegetais contendo açúcar; sugam tam-
bém sangue de vários animais para produção de ovos. Os machos somente
sugam substâncias açucaradas.
As fêmeas apresentam preferência de hospedeiros, mas costumam
ser oportunistas; em geral picam à noite ou nos crepúsculos; as fêmeas

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

de algumas espécies, em geral, podem picar com tempo nublado ou nas


florestas, picam tambem no período diurno.
A importância dos flebotomíneos para o homem e para os animais
deve-se, sobretudo, a seu papel como vetores de doenças.
Os flebotomíneos são os vetores de agentes naturais de algumas
doenças humanas e de animais, como os protozoários do gênero Leishma-
nia e outros tripanossomatídeos, bactérias do gênero Bartonella e numero-
sos arbovírus.
Os flebotomíneos, em geral, iniciam seu período de atividade du-
rante à tarde ou à noite, permanecendo a maior parte do dia em seus abri-
gos.
Tanto os machos quanto as fêmeas de flebotomíneos podem so-
breviver entre 20 a 30 dias. Estudos realizados na reserva florestal de Du-
cke, na Amazônia Central, por Cabanillas, Castellón & Alencar (1995),
mostraram que as raízes sapopemas constituem o principal abrigo para as
diversas espécies de flebotomíneos, seguido das bases de árvores e cupin-
zeiros.
Nas espécies de flebotomíneos que invadem os domicílios huma-
nos e seus anexos, os abrigos geralmente estão dentro desse limite am-
biental e as pocilgas e galinheiros parecem ser os locais mais utilizados.
Em todo o mundo foram descritas em torno de 900 espécies de fle-
botomíneos (Galati, inf.pess.), das quais 220 são encontradas no
Brasil(Galati,2003), e 161 (Castellón, 2009) na Amazônia Legal.
O flebotomíneo após picarem o humano ou animal e estando in-
fetados com os parasitas protozoários, causam as doenças chamadas de
leishmanioses que se manifestam de duas grandes formas, uma chamada
de leishmaniose visceral, pois causam danos principalmente äs vísceras
como o fígado e o baço; esta forma de doença existente, para a Amazônia
brasileira apenas em áreas de lavrados (campos abertos) em Roraima e no
Pará (Santarem,Ilha de Marajó,Mojui) às vezes chamada de calazar; e uma
outra forma é conhecida como leihsmania tegumentar ou cutânea e a mu-
cocutânea, que causa lesões na pele e em casos graves, lesões em cartila-
gens do nariz, boca e palato mole (céu da boca mais interno, na área mole)
que podem causar cicatrizes e mutilações. Aqui na região são conhecidas
como ferida brava, às vezes somente como “leish”.

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PROJETO FRONTEIRAS

Fig. 5: Leishmaniose. a- forma tegumentar; b- forma visceral,


desenho destacando o baço e fígado aumentados.
(Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lta_2ed.pdf)

No Brasil, no período de 1996 a 2007 a leishmaniose tegumentar


apresentou uma média anual de 28.233 casos novos. As maiores propor-
ções de casos são das regiões Norte e Nordeste, com 36,7% e 33,3%,
respectivamente; e tem apresentado, nos últimos 20 anos, um aumento do
número de casos, devido a expansão agrícola e urbana e o desmatamento
nos hábitats naturais dos insetos e de seus hospedeiros, aumentando o
contato do homem com os insetos infectados. Antes, os perfis das pessoas
infectadas eram de caçadores, lenhadores e extrativistas da floresta. Mili-
tares que fazem treinamento na selva também têm altos índices de infec-
tados. Existem várias espécies de leishmanias que causam a doença, mas
duas são predominantes, a Leishmania braziliensis e a Leishmania guyanensis.
Também várias espécies de flebótomos as transmitem, mas as mais desta-
cadas são a Lutzomyia umbratilis, L. wellcomei, L. complexa, L. flaviscutellata, L.
whitmani, dentre outras. A leishmaniose tegumentar é a forma mais comum
de leishmaniose e a forma mucocutânea, como já dissemos antes, é a mais
temida pois pode desfigurar a face.
A leishmaniose visceral: no Brasil, de 1990 até 2006, houve re-
gistro de 50.104 casos de leishmaniose visceral, sendo que 4.581 casos
na região Norte. Apesar de ser um pouco menos de 10% dos casos, a
leishmaniose visceral preocupa por estar em franco aumento de número
de casos ano após ano. É a forma mais grave da doença, sendo o segundo

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

maior assassino parasitário no mundo, depois da malária. O parasita migra


para as vísceras como o fígado, baço e medula óssea e se não tratar, quase
sempre irá resultar na morte da pessoa ou cão doente.Sinais e sintomas
em pessoas incluem febre, perda de peso, anemia e inchaço significati-
vo do fígado e do baço. No cão, quando doente, geralmente apresenta
emagrecimento, perda de pêlo, diminuição da atividade de deslocamento,
crescimento acentuado das unhas e lesões na pele. O vetor principal é o
flebótomo Lutzomyia longipalpis, que hoje em dia se adapta facilemte em
ambientes periurbanos. O parasito, no Brasil é da espécie Leishmania cha-
gasi. Antes essa doença era considerada de área rural, mas o número de
casos de pessoas e cães que vivem em áreas urbanas estão aumentando
vertiginosamente.

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

MOSCAS SINANTRÓPICAS
Organizado por Maria de Nazaré Tavares da Silva¹ e Eloy G. Castellón²

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

As moscas pertencem à Ordem Diptera e possuem apenas um


par de asas membranosas. Os dípteros pertencem a um dos quatro maio-
res grupos de organismos vivos, existindo mais moscas do que vertebra-
dos; apresentam metamorfose completa, isto é, apresentam as fases de
ovo, larvas, pupa e adulto.
Algumas moscas possuem o aparelho bucal com capacidade para
absorver líquidos enquanto que em outras o aparelho bucal é do tipo pi-
cador.
Algumas moscas são hematófagas, isto é, alimenta-se de sangue,

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PROJETO FRONTEIRAS

como por exemplo, as mutucas, os mosquitos, mosca-do-chifre, etc. En-


tretanto, algumas moscas, mesmo não sendo hematófagas, são muito im-
portantes na saúde pública, como a mosca doméstica e a mosca varejeira.
As moscas domésticas atuam como transportadores mecânicos de agentes
patogênicos (vírus, protozoários, bactérias, rickétsias e ovos de helmintos),
as últimas causam as míiases, também conhecidas por bicheiras ou berne.
Comentaremos sobre a mosca doméstica (Musca domestica), que é
a espécie mais presente em áreas urbanas. Alimenta-se de fezes, escarros,
pus, produtos animais e vegetais em decomposição, açúcar, entre outros.
A mosca lança uma substância sobre o alimento para poder ingerí-lo, pois
não consegue colocar nada sólido para dentro do organismo, somente ma-
téria na forma líquida ou pastosa. É ativa durante o dia e repousa à noite.
O tempo de vida varia, em geral de 25 a 30 dias. A fêmea coloca
seus ovos (cerca de 100 a 150) em carcaças de animais, fossas abertas, de-
pósitos de lixo, e outros locais ricos em substâncias orgânicas. Após apro-
ximadamente 24 horas, ocorre o nascimento das larvas.Estas geralmente
ficam agrupadas, são cilíndricas, esbranquiçadas, movimentam-se muito,
não gostam de luz e alimentam-se ativamente.
Após um período de cinco a oito dias, as larvas abandonam a ma-
téria orgânica onde estavam instaladas. A camada externa de pele das lar-
vas se endurece formando uma casca (casulo), dentro da qual começa a
haver transformação para mosca adulta, recebendo o nome de pupa.
As pupas têm coloração marrom clara, não se movimentam, e no final do
desenvolvimento se transformam em adultos.
As moscas domésticas são insetos que tem importância como
transportadores mecânicos, isto é, podem veicular os agentes em suas pa-
tas após pousarem em superfícies contaminadas com estes germes e pou-
sarem nos alimentos, disseminando-os amplamente, e dessa forma trans-
mitir várias doenças, tais como distúrbios gastrointestinais

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

MIÍASES
Organizando por Eloy Guillermo Castellón e Maria de Nazaré Tavares Da Silva

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

Se dá o nome de miíases às afecções causadas pela invasão de


tecidos ou órgãos do homem ou dos animais, pelas larvas de moscas.

CLASSIFICAÇÃO DAS MIÍASES

Patton (1921) divideu as miíases em três grupos.

• MIÍASES DO PRIMEIRO GRUPO

Miíases produzidas pelas larvas de moscas


de Dermatobia hominis ou berne

A larva da Dermatobia ou berne determina uma forma de miíase que


se caracteriza pela produção de um nódulo ou calombo do parasita cutâ-
neo.
O momento de penetração da larva na pele passa em geral des-
percebido; excepcionalmente é assinalado por uma sensação de picada,
e, mais tarde, se faz sentir uma coceira ou prurido, e posteriormente se
produz o nódulo. O nódulo se caracteriza pela presença de um pequeno

21
PROJETO FRONTEIRAS

orifício na pele no fundo do qual se pode perceber os estigmas por onde


respira o berne, situados na parte posterior da larva.
O enfermo sente dores vivas e tem a impressão do parasita mexer-
-se na cavidade. Acusa freqüentemente dor de tipo “ferroada” na região
do furúnculo. Chegada a larva ao
estado de maturidade sai esponta-
neamente do nódulo. Cicatriza-se a
ferida, se não aparecerem compli-
cações, tais como desenvolvimento
secundário de germes infecciosos
ou infecções, determinando fleg-
Figura 1. Larva de
mões, inflamações ou abscesso cir- Dermatobia hominis ou berne.
cunscritos ou difusos, linfangites ou
inflamações de vasos linfáticos, erisipela ou tétano. A ferida também pode
ser invadida secundariamente por outras larvas de dípteros.

Miíases produzidas pelas larvas


de Cochliomyia hominivorax.

Ao igual que a Dermatobia hominis, a Cochliomyia hominivorax é uma


mosca de larvas parasitárias e, por conseguinte, pode ser encontrada na
pele sã, determinando uma miíases furunculosa, muito semelhante à do
berne em sua sintomatologia geral. Larvas de C. hominovorax podem ser
localizadas produzindo miiase furunculosa do couro cabeludo.

• MIÍASES DO SEGUNDO E TERCEIRO GRUPOS

Determinam o que se dominada de miíases secundárias,causadas


por moscas necrobiontófagas, pois é necessária a existência de ferida de
pele ou músculo necrosado ou de cavidade para o seu desenvolvimento.
Muitas vezes verifica-se que a ingestão de grande número de larvas
de certas espécies de moscas, em geral com substância alimentar avariada,

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

pode acarretar o aparecimento de miíases intestinais. As miíases deste gru-


po são sempre cavitárias.
Vulgarmente denominadas bicheiras, têm como principais respon-
sáveis as moscas pertencentes especialmente às famílias moscas Callipho-
ridae, Muscidae, Sarcophagidae, Phoridae, Piophilidae.
Supõe-se que sejam em grande parte produzida pela Cochliomyia
macellaria (mosca varejeira) e por espécie do gênero Lucilia e da família
Sarcophagidae.
Nas ulcerações, os danos em geral carecem de importância, pois as
larvas se limitam a devorar os tecidos necrosados, não invadindo as partes
sãs e, por conseguinte, não ocasionam hemarragias.

Miíases cavitárias

Nas regiões onde prevalece a leishmaniose observam-se, com mui-


ta freqüência, as nasomiíases ou miiases nas vias nasais.
Os sintomas consistem em geral na tumefação ou inchaço do na-
riz, dores mais intensas, e tosse e o doente queixa-se de forte dor de cabe-
ça ou cefaléia, formigamento e dores da nasofaringe ou vias respiratórias.
Se a miíase é determinada pela C. hominivorax é muito grave, pois as
larvas destroem as cartilagens do arcabouço nasal, e a abóbada palatina ou
ceu da boca, podem penetrar nos seios nasais, e mesmo atingir a cavidade
craniana, podendo produzir a morte do doente. Os sintomas são menos
graves em se tratando de espécies ne-
crobiontófagas, que se limitam a nutrir-
-se do tecidos necrosados e respeitam as
partes sãs.
Na miíase do conduto auditivo o sinto-
ma principal é a dor no interior do ou-
vido, aparecendo bruscamente e alcan-
çando logo o máximo de intensidade;
Figura 2. Caso dramático de miíase por Cochliomyia hominivorax. A paciente perdeu o
globo ocular esquerdo, parte da pavilhão auricular e da hemiface esquerda, e amputou o
membro superior direito. (LEÃO, FRAIHA, CARRALAS e ARAÚJO, 1981).

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PROJETO FRONTEIRAS

escoa-se depois, pelo orifício, um líquido so-


ropurulento mais ou menos tinto de sangue.
A miíase ocular ou nos olhos é mais rara
que as mencionadas anteriormente e, em ge-
ral, as larvas passam da cavidade nasal pelas
fendas esfenoidais na órbita e atacam o olho,
que, via de regra, é perdido.
Cistomiíase ou miíase das vias urinárias
é rara, e na literatura médica é citada uma
vintena de casos. Segundo Neveu-Lemaire é
Figura 3. Miíase do palato mais freqüente no homem do que na mulher,
e das nasais por Cochliomyia e determinada por larvas de Fannia canicularis
hominivorax. Caso de FRAIHA e da Musca domestica.
& LEÃO, 1981.
Os ovos das moscas são postos na borda
do pepúcio ou da mucosa vulvar, e as larvas
novas penetram na uretra pelo meato e po-
dem alcançar a bexiga, onde segundo Che-
vrel (1908) conseguem viver durante algum
tempo causando dores no ventre, uretra, in-
clusive diminuindo o fluxo de urina até pro-
duzir retenção da urina
Figura 4. Lesão de calígulo
lacrimal causado pela larva.

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

MARUINS E VIRUS OROPOUCHE

Organizando por Eloy Guillermo Castellón¹ & Felipe Ariley Costa Pessoa²

¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA


²Instituto Leônidas e Maria Deanne-ILMD/FIOCRUZ

Os ceratopogonídeos são dípteros muito pequenos, com asas em


geral escuras e manchadas. É popularmente conhecido, Brasil, como ma-
ruins e mosquitos pólvora.
Além de poderem transmitir agentes patogênicos, são bem conhe-
cidos pela grande irritação cutânea que causam, especialmente por fre-
qüentemente atacarem o homem e animais domésticos em grande número
em áreas litorâneas e lugares lamacentos. “Um maruim é uma curiosidade
entomológica, mil podem ser um inferno.”
A família inclui espécies entomófagas, é dizer que comem outros
insetos; fitófagas ou seja, que se alimentam de seiva de plantas e também
hematófagas que sugam sangue de animais e do homem. Fêmeas de mui-
tas espécies de Culicoides são hematófagas, e insetos de ambos os sexos
sugam carboidratos de vegetais. A hematofagia ou ato de sugar sangue é
feita, em geral, em condições de alta temperatura e umidade e pouco ven-
to. Atacam, em geral, no período diurno, no pôr-do-sol ou após. Podem
picar em domicílios, mas são mais comuns e numerosas ao ar livre, prefe-
rencialmente em áreas sombreadas. Algumas espécies são antropofílicas e
outras são mais atraídas por bois e aves.

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PROJETO FRONTEIRAS

Após a sucção do sangue ou mesmo, em algumas espécies, sem su-


gar sangue, fêmeas produzem um primeiro lote de até 200 ovos, fenôme-
no chamado de autogenia, colocados em ambientes terrestres úmidos,ou
aquáticos e semi aquáticos. Os criadouros podem ser: areia úmida de praia,
no mangue em buracos de caranguejos, solo úmido com estrume, em
plantações de cacau e bananeiras em decomposição, ocos de árvores, etc.
As larvas sofrem três mudas e sobem nos criadouros para empupar. E o
ciclo de ovo até adulto tem dura;áo de dois meses. A atividade dos adultos
costuma ser muito influenciada pelo ciclo lunar, pela temperatura e, em
alguns casos, pelas marés.
Dos 102 gêneros que conformam a família Ceratopogonidae, ape-
nas as fêmeas de 4 gêneros apresentam hábitos hematógafos: Austroconops
(somente existe na Australia) Leptocops, Forcipomyia (Lasiohelea) e Culicoides
que são neotropicais (Brisola,2001).
É conhecido o prurido ou coceira e reações alérgicas que provo-
cam a picada dos maruins. As reações alérgicas podem ser pelo contato o
pela inoculação; pode se apresentar um quadro de asma típico, em pessoas
sem antecedentes alérgicos, após as picadas de numerosos exemplares de
Culicoides.
Estas pequenas moscas estão envolvidas na transmissão de nema-
todios (pequenas vermes microscópicas), protozoários e vírus.
São conhecidos por transmitir a Mansonelose, os Culicoides lahillei
e Culicoides paraensis.
O virus Oropouche é transmitido pelo C. paraensis. Se reconhecem
2 ciclos da doença: um silvestre (na floresta), no qual a infecção é assin-
tomática em preguiças, aves, macacos e roedores. Um segundo ciclo é co-
nhecido como urbano que se manifesta por surtos epidémicos que afetam
ao homem, também sendo transmitido pelo C. paraensis que atacam em
grandes quantidades nas cidades ou povoados.
Este vírus de Oropouche se isoló em 1955 no Caribe na ilha de
Trinidad, posteriormente se expandiu no Brasil, (Amazonas, Pará, Mara-
nhão, Amapá, Goiás e Tocantins) também foi encontrado no Perú e no
Panamá onde foram registrados ao menos 27 focos epidêmicos com mais
de 1 milhão de casos clínicos.

26
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

Os principais sintomas são: dor de cabeça, dor nas articulações,


dores musculares, calafrios e sensibilidade à luz além de ocasionalmente
provocar , náuseas, vômitos, diarréias e conjuntivites, podendo perdurar
estes sintomas por mais de 5 dias até uma semana e desaparecer.
O vírus da língua azul causa
problemas na medicina veterinária; são
conhecidos ao redor de 24 sorotipos,
todos transmitidos por Culicoides insignis
que ataca ao gado ovino, ruminantes
silvestres e domésticos, podendo-lhes
causar a morte.
A doença se contrai entre ani-
Figura 1. Culicoides news.bbv.co.uk
mais, por contato direto, podendo tam- Laboratório de insetos
bém ser transmitida pela placenta e pelo sinantrópicos (INPA)
semem.

27
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

MOSQUITOS E DENGUE

Organizando por Wanderli Pedro Tadei e Iléa Brandão Rodrigues

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA

A Dengue é uma doença causada por um micróbio (virus) que

29
PROJETO FRONTEIRAS

causa dor de cabeça, febre alta (38ºC a 40 ºC), náusea, vômito e dor abdo-
minal. É transmitida pelo carapanã chamado Aedes aegypti e atualmente
esse carapanã gosta de viver nas cidades, onde encontra ambientes para o
seu desenvolvimento.
Eles vivem cerca de trinta dias e, neste período, tem uma vida
harmoniosa passando por várias fases de desenvolvimento. A importância
dos reservatórios de água (rios, vasos de plantas, pneus, garrafas, lixo) na
transmissão dessa doença está relacionada as diferentes fases da vida do
vetor (vetor = carapanã que transmite o micróbio que causa doenças). A
começar pela fase de ovo, quando uma fêmea coloca seus ovos na água,
cerca de 100 ovos, e como boa mãe, coloca-os em locais com condições
adequadas para o seu desenvolvimento. Esses locais são reservatórios de
água chamados criadouros formados por águas limpas, com fitoplacton
(plantas pequenas) e zooplancton (animais pequenos) que são alimentos
necessários para as larvas nascidas do ovo (cerca de dois dias para o surgi-
mento da larva). Os ovos de Aedes aegypti são caracterizados por serem
resistente a falta de água, isto é, eles podem se desenvolver após passarem
um ano sem estar em contato com a água. A casca do ovo é protetora
permitindo sua viabilidade.

Vida do carapanã

Fotos: Imagens
do Google.com.br

30
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

Quando as fêmeas vão em busca de sangue, ao picar uma pessoa


com dengue, a mosquita ingere o microbio (virus) causador dessa doença,
o Flavivirus. Depois, quando novamente esta carapanã for se alimentar de
sangue, ela transmite a dengue.
Em Manaus o primeiro registro de Aedes aegypti foi em 1996 e a
primeira endemia ocorreu em 1998 com 13.865 casos de dengue. Em São
Gabriel da Cachoeira o primeiro registro do vetor foi em 2009 e atual-
mente os índices do dengue fizeram com que esta localidade fosse incluída
como área prioritária de controle pelo Ministério da Saúde.
Portanto para que possamos melhorara nossa qualidade de vida
precisamos nos prevenir eliminando os criadouros de nossas casas, lim-
pando nossos quintais, evitando jogar lixo nos terrenos baldios, tratar das
pessoas adoecidas por dengue, para evitar a propagação do vírus e conhe-
cer através de livros cartilhas (Educação da comunidade) sobre o mecanis-
mo de transmissão das doenças para evitar através de seus reservatórios
(criadouros) a proliferação desses mosquitos nas suas residências.

Diversidade de recipientes

Fotos:Laboratório de malária e dengue

31
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

MOSQUITOS E MALÁRIA

Organizando por Wanderli Pedro Tadei e Iléa Brandão Rodrigues

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA

A ocupação do ambiente Amazônico pelo homem encontra difi-


culdades com o surgimento de doenças como a malária. Existem relatos
descritos na história da região comprovando este fato, como por exemplo,
com a construção de ferrovias, rodovias, usinas hidrelétricas, garimpos,
exploração de petróleo ou simplesmente na formação de pólos de coloni-
zação, comunidades e vilas.
Índices alarmantes de malária são observados na África e Brasil,
acometendo nos últimos anos principalmente as crianças. No Brasil a maioria dos

33
PROJETO FRONTEIRAS

casos são registrados na Amazônia (90%) devido as condições ambientais


serem favoráveis ao desenvolvimento do vetor (carapanã) o Anopheles
darlingi (anofelino).
Esses mosquitos vivem cerca de trinta dias e, neste período, tem
uma vida harmoniosa passando por várias fases de desenvolvimento. A
importância dos reservatórios de água (rios, lagoas, represas, tanques de
piscicultura, hidrelétricas) na transmissão dessa doença está relacionada as
diferentes fases da vida do vetor (vetor = carapanã que transmite o micró-
bio que causa doenças).. A começar pela fase de ovo, quando uma fêmea
coloca seus ovos na água, cerca de 100 ovos, e como boa mãe, coloca-os
em locais com condições adequadas para o seus desenvolvimento. Es-
ses locais são reservatórios de água chamados criadouros formados por
águas limpas, com vegetação, pouca correnteza, com fitoplacton (plantas
pequenas) e zooplancton (animais pequenos) que são alimentos necessá-
rios para as larvas nascidas do ovo (cerca de dois dias para o surgimento
da larva).


Nesta fase as larvas crescem e mudam suas estruturas passando
por quatro estádios larvais que dura cerca de 3 a 4 dias.. Quando então no
quarto estádio ocorre a mudança para a fase pupal. Esse momento é de
grande transformação pois, o carapanã que então viveu todo tempo na
água, agora passará a fase aérea. Ë na fase pupal em que o mosquito fica
sem se alimentar e sofre metamorfose criando asa e estruturas da forma
adulta e incluindo a sua sexualidade (macho e fêmea). Daí para frente ele
sofre a maturação, se alimenta de néctar das plantas e após o acasalamento
as fêmeas saem em busca de sangue para amadurecimento de seus
ovos.
Quando as fêmeas vão em busca de sangue, ao picar uma pessoa

34
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

com malária, a mosquita ingere o microbio (protozoário) causador dessa


doença. Este é chamado de Plasmodium e se desenvolve naturalmente
dentro da fêmea do carapanã, sem lhe causar danos; o micróbio passa por
várias fases de desenvolvimento dentro da mosquita. Depois, quando no-
vamente esta carapanã for se alimentar de sangue, ela transmite a malária
através da sua saliva contendo o micróbio. Então após sete dias a pessoa
sente febre, dor de cabeça, enjoo, vomito que são sintomas da malária.
Devendo procurar um posto de saúde, onde será feito exame para com-
provação do diagnóstico da doença.
Esse processo se dá naturalmente na Floresta com outros animais
o macaco, os galináceos, os répteis dentre outros e quando o homem co-
loca sua moradia próximo da mata e do igarapé e não se protege ele
passa a ser alvo do Anopheles darlingi, conhecido como anofelino, suvela,
mosquito prego por causa do seu modo de pousar na parede das casas, ele
parece um prego com a parte posterior levantada (conforme desenho ane-
xo). Essa é uma maneira simples de reconhece-lo em nossas residências.
Diferentemente do Aedes aegypti que transmite a Dengue e do Culex que
ficam com o corpo paralelo a parede.

Foto:www.google.com.br

A malária segunda a lenda no interior se pega na água e esse con-


ceito deve ser mudado porque a população acaba pensando que está se
protegendo para não pegar malária, ao ferver ou coar ou filtrar a água, por
não conhecer o mecanismo de transmissão da doença.
É preciso uma mudança de atitude da população para se proteger
em relação a Malária. O uso de mosquiteiro e/ou repelente é um método
direto e individual de proteção. Queremos sempre que as autoridades to-
mem providências em relação as doenças mas, esquecendo que podemos
também auxiliar cuidando de nós mesmos.

35
PROJETO FRONTEIRAS

Mosquiteiro impregnado

Borrifação intradomiciliar

Aprender que morar em área de risco de malária como a Ama-


zônia significa saber que precisamos ficar atentos ao ciclo da doença.
Como por exemplo, no período de chuvas, quando os rios aumentam seu
volume de água e estas invadem as ruas e casas ficando próximas das mo-
radias. A sazonalidade da malária favorece o contato do vetor com o
homem doente, se tornando portanto infectado pelo parasita e assim esse
carapanã dissemina a malária.


Neste caso as condições tornam-se mais favoráveis para a forma-
ção do ciclo de transmissão da doença, que provavelmente se manifestará
no momento de transição da cheia para a seca quando todo processo de
infecção estará instalado na população. É a chamada “farra do carapanã”

36
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

que consiste no desenvolvimento do mosquito um a dois meses antes do


aumento de casos registrados pelos órgão de fiscalização e controle da
malária que são as Secretarias Estadual e Municipal da Saúde e a Fundação
de Vigilância em Saúde.
Ao contrário, no período de seca, os criadouros se desfazem, isto
é, diminuem em número pela evasão da água e permanecem somente
aqueles cujo controle do nível de água é feito, como é o caso dos tanques
de piscicultura. Estes criadouros artificiais são responsáveis por manter
populações de anofelinos se desenvolvendo neste período. A incidência
da malária neste período normalmente é baixa em face da diminuição dos
criadouros.
A atividade de picar do mosquito também é importante fator
para se proteger e não contrair malária. Ela está relacionada ao momento
em que as fêmeas saem em busca de sangue para se alimentarem. Esse
horário padrão se concentra normalmente das 18:00 as 20:00 horas, po-
dendo variar em conformidade com o local. Na Amazônia a população
local possui o hábito de nesse horário, ficar em frente de suas casas, para
uma conversa informal com amigos e vizinhos e apreciar o movimento
na rua. Momento propício para o contato do vetor com a população no
peridomocílio( próximo da casa), que é outro aspecto comportamental do
vetor nessa região.
A exofilia e a endofilia são relevantes aspectos que apontam quais
medidas de controle devem ser aplicadas. Quando se observa numa lo-
calidade o comportamento de endofilia, sugere que seja feita a borrifação
intradomiciliar, porque o mosquito neste caso, está mais presente dentro
da casa. No caso de exofilia o indicado seria o uso da termonebulização
em áreas ao redor da residência. Estes aspectos importantes nos indicam
que a malária não ocorre de maneira idêntica nas localidades endêmicas.
Variando de local e região daí ser considerada a malária uma doença fo-
cal.
Outro aspecto importante nas observações feitas por especialistas,
que estudam a dinâmica de transmissão da doença nas condições amazô-
nicas, é a urbanização desta doenças. Nos anos cinquenta a malária era
considerada uma doença rural pois, só ocorria em áreas com desmata-
mento recente. Atualmente observa-se novas condições ambientais que
favorecem o desenvolvimento do vetor em áreas urbanas, constatando-se
essa mudança de comportamento a partir dos anos oitenta e hoje é uma
realidade a urbanização da malária.

37
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

PIOLHOS E FEBRE DE TIFO

Organizando por Eloy Guillermo Castellón

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia- INPA

Piolhos são insetos achatados, ectoparasitas de humanos,aves, e


mamíferos. Anopluros são aqueles piolhos que
atacam o homem e malofagos são aqueles que
atacam aves e mamíferos. Para fins didáticos con-
sideraremos aqui os piolhos que atacam exclusi-
vamente o homem.
Anoplura são aqueles que praticam a he- Figura 1. Pediculus capitis
matofagia obrigatória,é dizer que sugam sangue (Linardi,2001)
do hospedeiro, no nosso caso, o homem, aquí
estão incluidos os Pediculus humanus, os Pediculus
capitis ou piolhos da cabeça; os Pediculus corporis ou
piolhos do corpo e os Pthirus pubis, popularmente
conhecidos como chatos ou piolhos da região ge-
nital do homem e da mulher.
A infestação entre humanos pode ocor- Figura 2. Pthirus púbis
rer por contato entre hospedeiros. Pediculus capitis (Linardi,2001)
pica crianças em idade escolar, já o Pediculus huma-
nus infesta pessoas de maior idade e o Pthirus pubis infesta pessoas com ati-
vidade sexual promiscua. A maior predominância no Brasil é do Pediculus
capitis.(Esquemas de Linardi,2001)

39
PROJETO FRONTEIRAS

O ciclo biológico inicia-se com a


postura do ovo por parte da fêmea até o de-
senvolvimento do adulto, e pode variar entre
20 a 25 dias. Cada fêmea poderá colocar em
torno de 300 ovos na sua vida como adulta.
Dos ovos eclodem as ninfas (chamadas de
ninfas I, ninfas II e ninfas III, veja o esque-
ma do ciclo biológico, abaixo) a ninfa III po-
derá se diferenciar num individuo macho ou
fêmea, que ao copularem os dois sexos inicia
Figura 3. Ovo ou lendea de
se novamente o ciclo. Pediculus capitis(A) e Pthirus
Pediculose é a infecção no homem pubis(B). Esquema de Linardi
por piolhos da cabeça, caracterizada por (2001).
prurido, irritação do couro cabeludo e com-
plicações secundarias, geradas por organis-
mos oportunistas (infecções estafilocóci-
cas) podendo, ainda, determinar inflamação
ganglionar. Populações de vida gregaria e
promiscuas são mais susceptíveis como nas
penitenciárias, nos asilos, em manicômios, e
instituições de caridade.
Figura 4. Esquema do ciclo de
Formas de transmissão: vida de piolhos. Esquema de
Linardi (2001)
• Habitual: Contato direto entre pessoas
infectadas, brincadeira infantil, transpor-
te escolar, escolas superlotadas e coalo-
tação de um mesmo leito.
• Indireta: Uso de pentes, escolas, gor-
ros, bonés, toucas, fronhas, etc...
• Em pediculose do corpo, através das
vestes. Figura 5. Pediculose do cou-
• Em algumas comunidades indígenas no ro cabeludo. Foto de Linardi
Brasil e África Central é costume tribal, (2001)
a ingestão de piolhos após a catação ma-
nual.
• Vetores de molestias: os piolhos são vetores ou veiculadores de do-
enças como a febre tifo do tipo endêmico, o tifo classico ou exentemá-
tico a febre recorrente dentre outras.

40
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

PIUNS E FILARIOSES

Organizando por Jansen Fernandes Medeiros¹, Marilaine Martins²

¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/


Universidade do Estado do Amazonas
² Fundação de Medicina Tropical do Amazonas/
Universidade do Estado do Amazonas

Piuns são pequenos insetos da ordem Diptera ou mosquinhas de


corpo corcunda que atacam avidamente o homem, são conhecidos
também como borrachudos; suas formas imaturas ou larvas são aquáticas
e os ovos são de formas triangulares que são colocados encima de pedras,
vegetação aquática, gravetos, folhas, etc.
Filarioses são parasitoses que acometem animais e humanos, cau-
sadas por nematódeos, comumente chamados de “filárias”. Os vermes
adultos são filiformes e longos, sendo as fêmeas maiores do que os ma-
chos.
Os vermes adultos são encontrados no sistema linfático, nos teci-
dos subconjuntivo, cutâneo, muscular e nas cavidades serosas do homem.
As fêmeas adultas são usualmente ovovivíparas e os embriões, chamados
de “microfilárias” são retiradas do hospedeiro definitivo por insetos he-
matófagos. No inseto, as microfilárias transformam-se em larva e passam
por três estádios (L1, L2 e L3 – forma infectante) antes de atingir o apa-
relho bucal. A larva infectante é liberada pelo aparelho bucal do inseto e

41
PROJETO FRONTEIRAS

penetra pela solução de continuidade da pele do homem quando inseto es-


tiver fazendo a hematofagia. A L3 penetra no novo hospedeiro (homem)
e desenvolve até chegar à forma adulta. No Brasil existem três filarioses
humanas: oncocercose, mansonelose e bancroftose.

Oncocercose

É uma enfermidade produzida por um nematódeo, Onchocerca vol-


vulus, que causa danos na pele e pode chegar a produzir lesões nos olhos
que muitas vezes levam a cegueira. Os vermes adultos de O. volvulus ma-
chos (3 a 5 cm de comprimento) e fêmeas (30 a 40 cm de comprimento)
vivem em geral, dentro de nódulos fibrosos e no tecido subcutâneo do
homem. Os vermes adultos normalmente são encontrados acasalados,
mas podem existir mais machos que fêmeas. Uma fêmea produz cerca de
um milhão de microfilárias (tamanho de 220 a 360 µm) anualmente. Os
vermes adultos vivem entre 9 e 14 anos e as microfilárias até 24meses.
No Brasil a área de ocorrência da oncocercose abrange Amazonas
e Roraima. A população afetada pertence às etnias indígenas (Yanoma-
mi e Ye’kuana). A transmissão da O. volvulus se dá pela picada de insetos
da família Simuliidae (Diptera), conhecidos no Brasil como “piuns” ou
“borrachudos”. A atividade hematofágica ocorre durante o dia pelas fê-
meas de algumas espécies, suas picadas são indolores no início, devido às
propriedades anestésicas da saliva, em seguida podem causar incômodas
reações alérgicas, edemas e febre. As fêmeas de simulídeos ingerem as
microfilárias do tecido celular subcutâneo dos indivíduos infectados. No
Brasil são vetores de oncocercose as seguintes espécies de insetos: Thyrso-
pelma guianense, Cerqueirellum oyapockense, Psaroniocompsa incrustata e Notolepria
exiguua.
Os simulídeos fazem postura em igarapés e outras coleções de
água movimentadas e bem oxigenadas. As larvas ficam aderidas a pedras,
galhos e outros substratos, e após várias mudas formam as pupas, que têm
brânquias filamentosas. Os adultos eclodem na água corrente e somente
as fêmeas se alimentam de sangue, e ambos os sexos sugam vegetais, para
obter carboidratos.

42
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

As microfilárias pode causar prurido e vermelhidão cutânea, com


perda de elasticidade da pele e surgimento de áreas despigmentadas. Se
as filárias migrarem para o olho podem causar inicialmente à conjuntivite
com fotofobia e eventualmente à perda de visão e finalmente cegueira.
As microfilárias são detectadas em biópsias da pele. O tratamento é feito
com ivermectina contra as microfilárias. As medidas preventivas contra as
fêmeas de simulídeos são o uso de roupas que cobrem a maior parte da
corpo e repelentes de insetos.

Mansonelose

Uma filariose causada pelo acúmulo de microfilárias de Mansonella


ozzardi e/ou M. perstans nos vasos sanguíneos periféricos do homem. As
formas adultas de M. ozzardi são encontradas no mesentério e nas mem-
branas serosas da cavidade abdominal e a M. perstans vive livre em cavida-
des do corpo, mesentério, pericárdio, assim como nos tecidos retroperito-
neal e perirenal. As microfilárias são encontradas no sangue periférico e,
em alguns casos, também nos capilares do tecido subcutâneo.
No Brasil a M. ozzardi já foi encontrada nos estados do Amazonas, entre
populações ribeirinhas e indígenas, Roraima e Mato Grosso, já a M. pers-
tans foi encontrada somente na região do Alto rio Negro, Amazonas.
Os principais sintomas observados nos indivíduos com M. ozzardi
são: febre moderada sem causa aparente, frieza nas pernas, dores nas ar-
ticulações e cefaléia. No interior do Amazonas, algumas vezes a sintoma-
tologia é confundida com a de outra doença comum na região, a malária,
pela ocorrência de febre e calafrios em determinados períodos do dia. O
tratamento é feito com ivermectina, medicamento capaz de eliminar as
microfilárias do sangue periférico.
Os vetores de M. ozzardi, são insetos das famílias Ceratopogonidae
e Simuliidae (Diptera), no Brasil somente os simulídeos ou piuns são os
transmissores, mais especificamente as espécies: Cerqueirellum amazonicum,
C. Argenticutum no Amazonas e C. oyapockense em Roraima.
A mansonelose causada pela M. perstans apresenta uma sintomato-

43
PROJETO FRONTEIRAS

logia discutida. No entanto, é atribuída e essa filaria uma série de sintomas,


entre os quais: febre, prurido, inchações cutâneas, artralgia e fadiga. A M.
perstans é uma das filárias mais difíceis de ser tratada. Parece não existir
consenso quanto ao tratamento mais adequado. A droga mais utilizada no
tratamento é o dietilcarbamazina.
A transmissão natural de M. perstans é realizada por Culicoides
(Ceratopogonidae), conhecido vulgarmente como maruins, mosquitos-
-polvora.
O método mais simples para o diagnóstico da mansonelose é a
“gota espessa (mesma técnica usada para diagnosticar a malária).

Bancroftose

Também conhecida como elefantíase é uma filariose causada pela


Wuchereria bancrofti, sendo o homem o único hospedeiro definitivo co-
nhecido. Os vermes adultos machos (3,5 a 4,0 cm de comprimento) e
fêmeas (7,0 a 10 cm de comprimento) vivem nos vasos e gânglios linfá-
ticos humanos, vivendo em média, quatro a oito anos. A fêmea grávida
faz a postura de microfilárias, que possuem uma membrana delicada que
funciona como bainha. Várias espécies de culicídeos dos gêneros Culex,
Anopheles, Aedes e Mansonia transmitem este parasito. No Brasil, o vetor é o
Culex quinquefasciatus, popularmente conhecido como muriçoca ou carapa-
nã.
A bancroftose apresenta sintomas clínicos que podem está relacio-
nado aos vermes adultos nos vasos linfáticos e as microfilárias que causam
manifestações extralinfáticas. Na fase aguda, os principais sintomas desta
doença são: inflamação no sistema linfático, febre, dores de cabeça, mal
estar. A longo prazo, a presença de vermes adultos nos vasos linfáticos
pode causar obstrução que pode levar a acumulações de linfa e dilatação
de vasos linfáticos e espessamento da pele. Dessa forma, ocorre um au-
mento de volume das regiões afetadas, principalmente pernas e escroto,
devido à retenção de linfa. Em sua forma mais grave pode ocorrer aumen-
to excessivo do tamanho dos membros, dando um aspecto semelhante a

44
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

patas de elefante, descrito como elefantíase. Na região Amazônica existia


um foco de filariose linfática em Belém, Pará, que atualmente é considera-
do eliminado.
Culex quinquefasciatus, o principal transmissor da elefantíase no Bra-
sil, é uma espécie de mosquito de hábito hematofágico dentro de casa
durante a noite. Esses insetos se criam em águas paradas, poluídas com
material orgânico nas proximidades das casas. Nas regiões onde existem
esgotos com dificuldade de escoamento o número desses insetos aumen-
ta.
A profilaxia da bancroftose é baseada principalmente no tratamento
de todas as pessoas parasitadas com dietilcarbamazina, combate ao inseto
vetor e melhoria sanitária. O controle de vetores está ligado aos hábitos
e biologia desses insetos, dependendo da região, pode-se tentar eliminar
as larvas e os adultos. Existem diferentes métodos de controle: biológico,
através de bactérias entomopatogênicas (Baccillus thuringiensis israelensis
e Bacillus sphaericus); químico, através de inseticidas (organoclorados,
organofosforados e piretroides) e físico (manejo ambiental, saneamento
básico e barreiras mecânicas). É importante mencionar que a educação e
o saneamento ambiental são elementos importantes para redução desses
insetos vetores.

45
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

PULGAS OU BICHO DO PÉ

Organizando por Eloy Guillermo Castellón

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

As pulgas são insetos ápteros, achatados lateralmente. Na fase


adulta, infestam mamíferos e aves, com hematofagia obrigatória para os
dois sexos. Algumas espécies são semipenetrantes ou penetrantes, entre
estas, aquela vulgarmente conhecida como bicho-de-pé, bicho-do-pé, ja-
tecuba, bicho-do-porco, tom etc.
Os ovos são ovóides ou elipsoidais, esbranquiçados, medindo en-
tre 300 e 700mm e, geralmente, depositados nos ninhos dos hospedeiros.
As larvas são eucéfalas, vermiformes, ápodas e esbranquiçadas, com apa-
relho bucal do tipo mastigador. Em cada estádio larvário, comprimento é
aumentado, atingido mais que o dobro ao final do terceiro estádio (3,3 a
4,5mm, conforme a espécie). As pupas podem ser nuas ou encasuladas,
revestidas por material orgânico comentado pelas glânduras salivares de
forma achadata e ovalar.
Os hospedeiros das pulgas são animais endotérmicos; destes,
aproximadamente 94% são mamíferos. São apresentados, para cada or-
dem de mamífero, os seguintes percentuais de infestação: Rodentia (74%),
Insectivora (8%), Marsupialia (5%),Chiroptera (5%), Lagomorpha (3%),
Carnivora (3%). Menos de 1% dos registros são encontrados em Mono-

47
PROJETO FRONTEIRAS

tremata, Endentata, Pholidota, Hyracoidea e Artiodactyla. Em Primates,


apenas o homem é tido como hospedeiros habitual. Entre as Aves, a infes-
tação ocorre essecialmente em aves marinhas e Passeriformes.
O fato que faz dos roedores hospedeiros mais importantes é que,
epidemiologicamente, várias espécies atuam como reservatórios de infec-
ções transmitidas por sifonápteros, ou pulgas, entre elas, a peste, o tifo
murino e tularemia.
A hematofagia é exclusiva da fase adulta e obrigatória para os
dois sexos, podendo ser realizada tanto durante o dia quanto à noite. Cada
repasto dura cerca de 10 minutos, com duas a três refeições ao dia.
O ciclo de ovo é completado em aproximadamente 25-30dias, de-
pendendo das condições de temperatura, umidade e alimentação obtida
pelas larvas. A eclosão ocorre dentro de um a dois dias, 24-36 horas após
o primeiro repasto sanguíneo.
Independentemente de transmissão de moléstias aos respectivos
hospedeiros, as pulgas exercem sobre eles diversas ações, como ectopara-
sitos.
Ação irritativa: pelo efeito da picada e conseqüente inoculação
de saliva, elas podem provocar reações alérgicas de intensidade variada aos
respectivos hospedeiros. Uma dessas manifestações é prurigo de Hebra,
em que certos indivíduos apresentam-se com reações generalizadas pelo
corpo, iniciadas a partir de uma única picada. Em animais domésticos,
como cães e gatos, estima-se que mais de 50% dos casos dermatológi-
cos atendidos em clínicas veterinárias estejam relacionados com irritação
causada por picada de pulgas e conhecida como dermatite alérgica. Os
animais parasitados tornam-se irrequietos e, na tentativa de se livrarem
das pulgas, mordem e arranham a pele, arrancando pêlos e escarificando
os tecidos cutâneos.
Ação espoliadora: tendo em vista que várias espécies de pulgas
continuam a exercer a hematofagia, mesmo após repletas, altas infestações
em animais de pequeno porte podem conduzir à anemia. Ressalte-se que
as pulgas picam várias vezes ao dia, ingerindo em cada repasto 0,38mg de
sangue, correspondendo a quase 14µl de sangue por dia, como observado
para C. felis felis. Considerando que certas espécies de roedores albergam

48
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

grande número de pulgas por superfície corpórea relativamente pequena e


que outras espécies de hospedeiros nem sempre evidenciam a real popu-
lação de pulgas, encontradas nos ninhos daqueles, o papel desses insetos
como agentes espoliadores não deve ser descartado.
Ação inflamatória: principalmente evidenciada por aquelas espé-
cies de pulgas que são penetrantes ou semipenetrantes. Os orifícios provo-
cados pela introdução do parasito no corpo do hospedeiro tornam-se via
de acesso para agentes oportunistas, determinando infecções secundárias.
Tunga penetrans pode servir de fonte para infecções por Clostridium perfri-
gens (gangrena gacosa), Clostridium tetani (tétano) e Paracoccidiodes brasiliensis
(blastomicoses).
Tungíase: é a infecção por T. penetrans, seguida ou não por infec-
ções secundárias. Apesar de ambos os sexos serem hematófagos, apenas a
fêmea penetra nos tecidos dos hospedeiros, nos quais introduz a cabeça,
tórax e parte do abdome, lá se alimentando de líquido tissular e sangue, ge-
rando uma estrutura morfológica significativamente hipertrofiada, deno-
minada neosoma. Esta espécie demonstra promiscuidade na escolha dos
hospedeiros, sendo freqüente no homem e mamíferos domésticos (suínos,
cães, gatos, bovinos).
A fêmeas fertilizada procura ficar sobre a superfície do solo em
busca de um dado hospedeiro. No homem, penetra rapidamente na epi-
derme, principalmente na sola plantar, calcanhar, cantos dos dedos (dos
pés e das mãos), bordas das unhas e espaços interdigitais. Eventualmen-
te, pode penetrar em qualquer outro local do corpo, como escroto, ânus,
pálpebras etc. Quando as lesões cutâneas são numerosas e próximas entre
si, localizadas ao longo da borda do calcanhar, recebem o denominação
de “favo de mel”. A tungíase pode provocar dificuldades de postura e de
locomoção dos hospedeiros, necrose óssea e tendinosa e até perda dos
dedos dos pés. Casos severos, com infestações maciças por todo o corpo,
também têm sido observado.
À penetração, segue-se um persistente prurido e uma tumefação
que se torna dolorosa à medida em aumenta o volume do corpo do ecto-
parasito, em razão da produção de ovos e, especialmente, quando a pulga
se localiza sob as unhas do paciente.

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PROJETO FRONTEIRAS

O ciclo completo, de ovo a adulto, realiza-se em 17-25 dias. Fora


dos hospedeiros, T. penetrans ocorre principalmente em solos secos e are-
nosos, dentro ou fora de habitações humanas, em pocilgas e áreas de abri-
go de cães. Se bem que a disseminação seja feita por ovos, larvas, pupas e
adultos transportados junto com o esterco para finalidade de adubação de
hortas e jardins, animais vadios, entre eles cães e gatos portadores de fê-
meas grávidas, atuam como veiculadores de ovos em ambientes propícios
para a complementação do ciclo biológico.(Linardi, 2001).

Pápulas ceratósicas, com pontos enegrecidos, nos pododáctilos.


(Fonte: Gatti et al. 2008)

Pápulas ceratósicas, com pontos enegrecidos, na região plantar.


(Fonte: Gatti et al. 2008)

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DOENÇAS TRANSMITIDAS POR
INSETOS NA AMAZÔNIA

Referências Consultadas

Cabanillas,M.R.S.;Castellón,E.G.;Alencar,M.1995. Estudo sobre os abrigos


naturais de flebotomíneos (Diptera:Psychodidae) na reserva florestal Du-
cke, Manaus, AM., Brasil. Bol. Dir. Malariol. San. Amb.,35(supl.1):63-76.

Castellón, E.G. 2009. Lutzomyia sand flies in the Brasilian Amazon basin
(Diptera: Psychodidae). Manaus: INPA, 202p.

Gatti et al. 2008. Tugiase. An. Bras. Dermatol. 83(4).

Marcondes, C. B. 2001. Entomologia médica e veterinária. São Paulo: Edi-


tora Atheneu, 432p.

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