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OescubrA

SeuS Bons
Espirituais
Você será uma nova pessoa, quando
descobrir seus dons espirituais e
como usá-fos plenamente na expansão
do Reino de Deus.

PREFACIO DA OBRA NO BRASIL


PR. EUDE MARTINS DA SILVA
"A leitura deste livro reascendeu em meu coração o
interesse pelos Dons Espirituais, na medida em que
Peter Wagner conduziu-me por reflexões nunca antes
imaginadas".
Pr. Eude M artins da Silva
Diretor da Editora Vida e
Vice-Presidente da ABEC - Associação Brasileira de Editores Cristãos.

C. Peter Wagner, é pro­


fessor de Crescimento de Igreja no Seminário Teo­
lógico Fuller, Escola de Missões Mundiais, em
Pasadena, Califórnia / EUA. Sua carreira acadê­
mica inclui bacharelado na Rutgers, Mestrado em
Teologia em Princeton, Mestrado em Divindade e
Mestre de Artes da Universidade Fuller e PFI.D.
na U.S.C. É autor de mais de 30 livros, inclusive
os best-sellers Sua Igreja Pode Crescer, Plantar
Igrejas Para a Grande Colheita e Descubra Seus
Dons Espirituais. W agner é mundialmente reco­
nhecido como uma das maiores autoridades atu­
ais em crescimento de igreja.

Mais de 30 anos de experiência, estudos e pesíjuisas sobre o Espírito


Santo, permitiram ao Dr. C.Peter Wagner produzir um*livro singular sobre o
controvertido assunto dos Dons Espirituais.
Fruto de seus concorridos seminários. Descubra Seus Dons Espiri­
tuais, equivale a um curso completo sobre significado, percepção e uso ple­
no dos Dons Espirituais, concedidos por Deus a todos aqueles que desejam
viver como discípulos de Cristo.
Você será uma nova pessoa ao descobrir, com clareza, quais são os
seus dons espirituais e como usá-los em plenitude, na expansão do Reino
de Deus na Terra.
"ir Compreendendo o significado e a ação de 27 Dons Espirituais.
Como descobrir quais são seus Dons Espirituais.
Como usar seus dons com poder e eficácia.
Como evitar o abuso no uso dos dons.
As diferençyâs entre Dons, Talentos e Funções.
O Pastor^ seu "mix de dons" (conjunto de dons).
O perigo da "projeção de dons". A
r -rr Pre** Q
Boa Leitura!
Oswaldo Paião Jr.
Rua do Mar, 20 - CEP 04654-060 - São Paulo - SP - Tel (011) 24B-5058 Tel/Fax (011) 246-7046
Descu brA
Seus Bons
Espirituais
Nova Edição Atualizada
e Ampliada Pelo Autor

(!. Peter Waflier


QA "1 1 Press
Abba
Rua do Mar, 20 - CEP 04654-060 - São Paulo - SP Tel (011) 246-5058 Tel / Fax (011) 246-7046
Descubra Seus Dons Espirituais
C. Peter Wagner
© Abba Press Editora e
Divulgadora Cultural Ltda.

Categoria: Vida Cristã


Cód. 01.02.103.0995.2

Edição no Brasil
Abril de 1994

2^ Edição no Brasii
Setembro de 1995

Originalmente publicado em
inglês por Regai Books
sob 0 título: Your Spiritual Gifts
Can Help Your Churoh Grow
© 1979 C. Peter Wagner

Traduzido para o português por


Pr. João Bentes
Tradutor e Enciclopedista

Revisão e Estilo de texto por


Tavares de Castro
Elaine Lima

Computação Gráfica
Cida Paião
Beth Fernandes

Coordenação Editoriai
Oswaldo Paião Jr.

Marketing e Vendas
Nerê Cavalcante
Maria Meleschoo

Fotoiito
Refran Studio Gráfico
M.J. Serv. de Composição

Impressão
Imprensada Fé

É permitida a reprodução de partes


desse livro, desde que citada a fonte
e com a autorização escrita dos editores

Q
AbKa
Rua do Mar, 20
CEP 04654-060 - São Paulo-SP
Tel (011) 246-5058 - Tel / Fax (011) 246-7046
Dedico este livro a

Donald e Mary McGavran,

que têm sido preciosos dons divinos

para a família Wagner


CONTEÚDO
Relação dos Dons Espirituais.......................................... 07

Prefácio da Obra no Brasil; Pr. Eude Martins da S ilv a .... 09

Prefácio do Autor: Por Que Outro Livro


Sobre os Dons Espirituais?.............................................. 11

Introdução: A Redescoberta dos Dons Espirituais ......... 19

1. Ignorância Não É Felicidade..................................... 31

2. Que São o i Dons? Uma Abordagem Ilimitada....... 57

3. Quatro Coisas Que os Dons Não S ã o ........................85

4. Como Achei Meus Dons, e Como


Você Pode Achar os S eu s....................................... 111

5. O Pastor e Seu Conjunto de Dons............................ 137

6. O Evangelista: Órgão Primário do Crescimento...... 171

7. Compreendendo o Dom de Missionário.................. 195

8. O Resto do C orp o..................................................... 219

9. Cinco Passos Para Crescer Através dos D o n s.......... 245

Apêndice 1: Que São os Dons? — Um Sumário........... 261

Apêndice 2: Aprofundamento T e o ló g ic o ....................... 299


R elação dos D ons E spirituais

Neste livro foram definidos vinte e sete dons espirituais,


sendo discutidos com algum detalhe, quando cada um deles
normalmente aparece, no curso geral do livro. Para sua verifica­
ção, apresentamos os dons na ordem original em que estão
dispostos no segundo capítulo, antecedidos dos números indi­
cadores das páginas referentes à exposição do assunto. Quanto
a referências adicionais, em que cada dom é mencionado de
m odo mais sintético, consulte o índice.

/. Profecia 2 3 0 15. Intepretação de


2. Seiviço 2 2 8 Línguas 2 3 7
3. Ensino § 2 8 16. A p ó stolo 2 0 8
4. Exortação 154 17. Socorro 2 2 6
5. Contribuição 93 18. Adm inistração 156
6. Liderança Í6 2 19. Evangelista 172
7. M isericórdia 2 2 5 20. Pastor 143
8. Sabedoria 2 22 21. Celibato 63
9. Conhecim ento 2 2 0 22. Pobreza
10. Fé 159 voluntária 9 7
11. Cura 2 4 0 23. M artírio 6 7
12. M ilagre 2 3 9 24. Hospitalidade 6 9
13. Discernim ento de 25. M issionário 2 0 5
Espíritos 103 26. Intercessão 74
14. Línguas 2 3 5 27. Exorcism o ou
Libertação 104
P refácio da O bra no B rasil

uso desordenado dos Dons Espirituais em muitas


comunidades evangélicas tem contribuido para
levantar multas dúvidas a respeito da sua atuali­
dade.

Aprendi com Donald Gee, citado por Peter Wagner na


obra em apreço, que para compreendermos adequada e bi-
bücamente a respeito dos dons espirituais, precisamos olhar
em três diferentes direções - para dentro, para cima e em
redor. M
Procuraremos olhar para dentro das Escrituras e fa­
zer uma análise reverente das operações do Espírito de
Deus. Deste modo, compreenderemos mais facilmente o
que as Escrituras ensinam a respeito dos dons se reconhe­
cermos as duas personalidades envolvidas na operação
inspirada dos dons, a do indivíduo e a do Espírito Santo.
Olhemos para cima, com admiração, amor e louvor,
porque a finalidade do dom é sempre levar-nos ao Doador.
Os dons espirituais não podem ser tratados com a levian­
dade de muitos crentes, empregando-os unicamente em
benefício próprio.
Evidentemente, o uso dos dons espirituais deve estar
relacionado com as realidades do mundo, pois a Igreja tem
sido edificada para testificar do amor de Deus ao mundo.
Ao olhar em redor contemplaremos os campos que Jã estão
brancos para a ceifa.
Em Descubra Seus Dons Espirituais, Peter Wagner
presta um serviço ao Corpo de Cristo de incalculável al­
cance. Ele desnuda-se dos ensinos tradicionais e consa­
/ 0 Descubra Seus Dons Espirituais

grados de inúmeros teólogos, e faz uma abordagem ilimita­


da dos dons espirituais. Ele não se identifica nem com os
pentecostais, nem com os carismáticos, nem com os movi­
mentos neo-pentecostais, nem com a teologia tradicional.
A leitura deste livro reascendeu em meu coração o
interesse pelos Dons Espirituais, na medida em que Peter
Wagner conduziu-me por reflexões nunca antes imagina­
das. Afinal, o que é um Dom Espiritual? Para que serve?
São nove, quinze ou vLnte e sete? Como podem ser classifi­
cados?
Peter Wagner abre um novo horizonte para o leitor
quando mostra a diferença entre Dons Epirituais e Talen­
tos Naturais, entre Dons Espirituais e Fruto do Espírito,
entre Dons Espirituais e Deveres dos Crentes, entre Dons
Espirituais e Dons Simulados.
No capítulo "Como Achei Meus Dons e Como Você
Pode Achar os Seus", Wagner nos conduz ãs quatro pré-
condições fundamentais para descobrirmos os nossos dons.
E a seguir mostra os cinco passos necess^ dos para desco­
brirmos o nosso dom espiritual.
Trinta anos atrás a atualidade dos Dons Espirituais
em sua plenitude, era uma crença exclusiva das igrejas
pentecostais e considerada pelos demais grupos evangéli­
cos como resultado de um conhecimento superficial da teo­
logia bíblica.
Desde então, a convicção bíblica de que os Dons Es­
pirituais são também para o nossos dias alicerçou-se de
tal forma entre os crentes, que hoje é quase impossível
encontrar uma comunidade evangélica onde os Dons Espi­
rituais estejam completamente banidos da fé de todos os
seus membros.
Ao brindar a comunidade evangélica de língua portu­
guesa com esta profunda e ao mesmo tempo compreensí­
vel obra sobre os Dons Espirituais, a Editora ABBA presta
um serviço ao Corpo de Cristo que só a eternidade poderá
revelar seu alcance. Parabéns!
Pr. Eude Martins da Silva
Diretor da Editora Vida e Vice-Presidente da ABEC
(Associação Brasileira de Editores Cristãos)
P refácio do A utor:
P or Q ue O utro L ivro
S obre os D ons E spirituais?

em dúvida, preciso ter alguma boa razão para adi­


cionar outro livro à lista, já bastante longa, de es­
tudos sobre os dons espirituais.
Nenhum dos muitos livros que tenho estudado
vincula, direta e especificamente, os dons espirituais ao
crescimento da4%reja local. A maior parte daqueles livros
explica como os dons ajudam os crentes individualmente,
como produzem a maturidade na Igreja em geral, e como
fomentam a unidade e a fraternidade cristãs. São boas ên­
fases, e eu mesmo haverei de destacar esses pontos; mas,
esse não é o enfoque básico deste livro. Este livro ocupa-se
das tarefas a serem cumpridas. Vejo os dons espirituais
não como finalidades em si mesmos, mas, como meios que
visam a um fim. Minha intenção, é mostrar como os dons
espirituais podem capacitar os crentes a participarem com
maior eficácia no cumprimento da comissão dada por Je­
sus aos Seus discípulos: “. . .fazei discípulos de todas as
nações. . .” (Mt 28.19,20).
Por este motivo, alguns dos dons serão enfatizados
mais do que outros. Apesar de que todos os dons são im­
portantes para o funcionamento do Cojrpo místico de Cris­
to em geral, alguns desses dons eAddentemente são mais
importantes do que outros para o crescimento da igreja. No
plano total de Deus, os milagres, os socorros, as línguas, a
hospitalidade e a exortação revestem-se de extrema impor­
12 Descubra Seus Dons Espirituais

tância. No tocante ao crescimento da Igreja, porém, esses


dons não são tão importantes, por exemplo, como os dons
ministeriais de evangelistas, pastores, missionários e após­
tolos. Ao longo do livro, irei mencionando e definindo vinte
e sete dons espirituais. E mesmo quando tiver de discutir
os dons secundários para o crescimento da igreja, procu­
rarei mostrar a maneira de cada um deles funcionar como
auxílio para buscar, encontrar, envolver e alimentar os
perdidos.
Preciso salientar que este livro é, essencialmente, uma
obra que versa sobre a saúde da igreja local. Nós, que atu­
amos no campo do desenvolvimento da igreja, com grande
freqüência ouvimos a crítica que diz estarmos “jogando o
jogo dos números”. Ou então que a quantidade em detri­
mento da qualidade. Isso é injusto, porque os líderes do
movimento de crescimento da igreja declaram consistente­
mente que a intenção deles é edificar o Corpo de Cristo, em
seu mais pleno sentido bíblico. Não estamos interessados
em usar nossa energia para fazer cresceii _.s clubes religio­
sos ou os templos budistas ou santuários da religião civil
ou Salões do Reino. Mas visto que estamos interessados
em edificar e multiplicar grupos de homens e mulheres to­
talmente dedicados a Jesus Cristo como Senhor de suas
vidas, e que se dediquem plenamente uns aos outros na
comunhão e nos cuidados cristãos, sabemos que a saúde
da igreja é algo de importância vital para o seu crescimen­
to. As igrejas crescem, quando são saudáveis. Por conse­
guinte, desenvolver a dinâmica dos dons espirituais em uma
igreja — porque é algo bíblico, porque aproxima os crentes
da aparência de Cristo e porque fomenta a saúde do Corpo
místico de Cristo — também deveria ajudar as igrejas a
crescer numericamente.
Toma-se necessário, portanto, um livro que apanhe
os pontos principais daquilo que já foi escrito sobre os dons
espirituais, combine esses pontos com os discernimentos
desenvolvidos no movimento de crescimento da igreja, e
elabore um tratado coerente, que mostre a relação entre o
crescimento da igreja e as operações dos dons espirituais.
Prefácio do A u to r 13

com sugestões claras, sobre como isso pode tomar-se real,


desde agora, em sua igreja.

Esforços Anteriores
Comecei a ensinar a respeito dos dons espirituais há
mais de trinta anos. Uma boa parte daquilo que tenho en­
sinado já foi escrito e publicado. A primeira tentativa veio
como parte de uma série de artigos sobre 1 Coríntios,
publicada pela revista Etemity, em 1967 e 1968. Mais tar­
de, o material foi revisado e publicado em livro - Our
Corínthian Contemporaries. Isso permitiu-me criar um ali­
cerce bíblico para meus pensamentos, naqueles dias, quan­
do não havia ainda muito material disponível sobre o as­
sunto.
Abordei o assunto da educação teológica em um li­
vro, cujo título em inglês é An Extension Seminary Primer
(William Carey Library), escrito juntamente com meu bom
amigo, Ralph Covell. Escrevi ali um capítulo, chamado
“Como Deus FaaUfinistros”, onde argumento que os semi­
nários deveríam ocupar-se na tarefa de treinar pessoas que
já estivessem demonstrando dons de ministério pastoral,
em lugar de treinar, quase exclusivamente, pessoas que
ainda não descobriram os seus dons espirituais.
No livro Frontier in Missionaqj Strategy (Moody Press),
incluí um capítulo, “O Ingrediente Humano: Dons e Cha­
mada”. E no livro Stop the World, I Want to Get On (Regai
Books), há um capítulo chamado “Nem Todo Crente é um
Missionário”. Esses dois capítulos sugerem que existe tal
coisa como um dom especial de missionário, mostrando
como esse dom, juntamente com outros, estão vinculados
às missões.
Quando estudei o movimento pentecostal na América
Latina, descobrí que a dinâmica dos dons espirituais, que
operam naquelas igrejas, é uma das chaves de seu cresci­
mento fenomenal. Meu primeiro livro sobre o assunto cha­
mou-se Por que crescem os Pentecostais? (Ed. Vida). E o
capítulo sobre os dons espirituais intitula-se “A Vida do
Corpo Edifica Igrejas Fortes”.
14 Descubra Seus Dons Espirituais

Finalmente, em meu primeiro Uvro sobre o crescimento


da igreja norte-americana, Your Church Can Grow (Regai
Books), alistei o uso dos dons espirituais como um dos
sete sinais vitais de uma igreja sadia. Descrevi, em um ca­
pítulo, como esse fenômeno ocorre. Esse texto recebeu o
título de “Vamos Juntar-nos ao Movimento de Liberdade
dos Leigos!”
Embora, neste livro, intitulado em português. Descu­
bra Seus Dons Espirituais, eu esteja edificando sobre aqui­
lo que havia escrito antes, o trabalho consiste em mais do
que selecionar peças e pedaços, para então alinhavá-los
todos em um volume. Há muita coisa que quero dizer acer­
ca dos dons espirituais, que antes eu não havia dito ainda.
Outrossim, mediante longas horas de estudo e de numero­
sos contatos com igrejas que atuam sob os dons espiritu­
ais, tenho aprendido muita coisa que não sabia emtes. Es­
tou percebendo que aprenderei muito mais, ainda, depois
que este livro tiver sido lido e relido. Sinto que é chegado o
tempo certo para pubUcá-lo. Agora que 1 5 crentes sabem
bastante sobre os dons espirituais, em geral, muitos ane­
lam por descobrir de que maneira eles relacionam-se a di­
mensões específicas da obra de Deus no mundo. Eu gosta­
ria de ver publicados, em números crescentes, livros sobre
tópicos como os Dons Espirituais e a Adoração; os Dons
Espirituais e a Escola Dominical; os Dons Espirituais e o
Serviço Social; os Dons Espirituais e os Pequenos Grupos
(koinonias); entre outros itens.

De Onde Venho?
Sempre que leio algum livro que trata dos dons espi­
rituais, procuro saber qual a origem de seu autor. Quando
ele diz que procede da tradição reformada, que é um Aves-
leyano, um dispensacionalista, um pentecostal clássico, um
carismático episcopal ou de qualquer outra origem, sinto-
me mcds ã vontade. Apesar de saber que muitos fazem ob­
jeção a essa classificação minuciosa, eu mesmo não penso
dessa maneira, porque, para mim, é difícil compreender o
que um homem escreve ã parte de sua própria história.
Prefácio do A u to r 15

Minha orientação vocacional e funcional é a do de­


senvolvimento da igreja. Converti-me para a posição do
crescimento da igreja, quando, como missionário em féri­
as, vindo da Bolívia para casa, estudei sob a direção do Dr.
Donald McGavran, no Fuller Seminary School of World
Mission, durante o fim da década de 1960. Desde então, a
causa do crescimento da igreja tem-se tomado a minha
própria vida. Atualmente estou ensinando sobre o assunto
no Seminário Fuller, além de supervisionar a operação do
Departamento de Crescimento Eclesiástico da Fuller
Evangelistic Association, que me põe em contato com um
grande número de líderes eclesiásticos. Atualmente estou
desfmtando o privilégio de falar, a cada ano, para cerca de
trés mil pastores e executivos provenientes, virtualmente,
de cada denominação norte-americana, sobre o tema do
desenvolvimento da igreja.
Eclesiasticamente falando, sou um híbrido. Meus pais
não me fizeram herdeiro de qualquer tradição eclesiástica,
exceto que me 4%eram crismar em uma igreja episcopal,
quando eu ainda era um garoto. Assim, quando me con-
verti, aos dezenove anos, tive que avançar totalmente sozi­
nho. Desde então, já fui membro de igrejas metodistas,
bíblicas, batistas, quakers e, atualmente, sou membro de
uma igreja congregacional. Casei-me com uma jovem
luterana, na Igreja dela. Formei-me em um seminário
presbiteriano. Nos últimos vinte anos, tenho sido membro
da Lake Avenue Congregational Church, em Pasadena, na
Califórnia, e minhas credenciais de ordenação pertencem
ã Conferência Cristã Congregacional Conservadora.
Até onde vão os dons espirituais, não me identifico
nem com os pentecostais nem com os m ovim entos
carismáticos e nem com os movimentos neo-pentecostais,
embora eu tenha desfrutado de amplos ministérios entre
esses grupos. Meus trés dons espirituais são o ensino, o
conhecimento e as missões. Antes, cheguei a pensar que
possuía o dom de administração. Mais recentemente, con­
tudo, concluí que realmente não me foi dado esse dom.
Neste livro, pois, descreverei como cheguei a entender que
16 Descubra Seus Dons Espirituais

dons possuo, e quais não possuo. Tenho tido alguma expe­


riência quanto ao uso das línguas, como uma linguagem
de oração, mas esse não é um aspecto dos mais destaca­
dos do meu estilo de vida espiritual, e não mais menciona­
rei essa aptidão espiritual.
O que estou dizendo, pois, é que não tenciono que es­
te livro seja batista, ou pentecostal, ou luterano, ou wes-
leyano, ou reformado, ou episcopal, ou carismãtico, ou não-
carismático. Não estou interessado em polêmicas. Estou
interessado no desenvolvimento da igreja. Estou interes­
sado em descobrir como os dons espirituais podem ser
mobilizados em todas as tradições acima mencionadas, e
outras a elas semelhantes, a fim de que um número cada
vez maior de homens e mulheres perdidos reconciliem-se
com Deus, entrando em uma amorosa comunhão com con­
gregações cristãs, sem importar quais sejam os seus rótu­
los denominacionais. Minha intenção é ajudar você, leitor,
a perceber como os dons espirituais podem ajustar-se ao
seu sistema, fazendo sentido para o tipo crente que você
ê.
De antemão, jã sei que não atingirei plenamente esse
objetivo. Sim, tenho os meus próprios pressupostos, o mais
limitadamente possível, mas hã ocasiões em que terei de
dizer o que penso sobre uma ou outra posição, mostrando
em quais razões me escudo. Alguns leitores, percebo bem,
acharão que minha abordagem é intragável, fazendo-me
saber isso por meio de cartas e revisões. Não obstante, de
modo algum a minha intenção é entrar em controvérsias, o
que admito que tem acontecido com alguns outros escritos
meus.
Ademais, espero poder edtficar afirmações sobre aquilo
que já foi dito antes. Curiosamente, alguns poucos dos li­
vros que tenho estudado sobre os dons espirituais usam
continuamente as idéias de outros autores. Muitos dão a
impressão que foram escritos no vácuo. Eu particularmen­
te, espero interagir com outros autores e apoiar-me neles.
Quando eu assim fizer, darei crédito a eles, ou no próprio
texto ou em notas de rodapé. Estou muito bem impressio-
Prefácio do A u to r / /

nado com os discernimentos que Deus concedeu a homens


como Ray Stedman, Flynn, Gee, McRae, Yohn, Purkiser e
outros. Eu preciso deles, tal como preciso de tantos outros
membros do Corpo de Cristo.
Quero que este livro seja autêntico. Assim sendo, vez
por outra, mencionarei pessoas reais, lugares reais e igre­
jas reais. Algumas referências refletirão fatos, outras, opi­
niões. Onde senti que poderia haver alguma objeção, mos­
trei o manuscrito aos envolvidos, e recebi consentimento
deles para que publicasse o que eu queria; todavia, sem
qualquer indicação, mediante tal consentimento, de que
eles necessariamente concordam com as conclusões a que
cheguei, ao tirar proveito de suas obras. Também usarei,
livremente, a primeira pessoa do singular, visto que quero
que o leitor entenda, tanto quanto possivel, como eu mes­
mo passei por conflitos de descobrimento, de desenvolvi­
mento e de uso dos dons espirituais.
Minha esposa, Dóris, tem sido para mim de prestimosa
ajuda no prepaM e publicação deste trabalho. Operando
slmultaneamenteVomo esposa e secretária, ela me tem
encorajado em casa, protegendo-me de intrusões desne­
cessárias, criticando o texto ou datilografando o manuscri­
to. Os esforços de Roger Bosch, meu ajudante no ensino,
nas pesquisas e nas consultas, me têm sido extremamente
úteis. E, finalmente, preciso expressar a minha apreciação
ao deão Arthur Glasser e a meus colegas da faculdade Fuller
School of World Mission, pela ajuda que me têm dado na
redação deste livro, além de terem apoiado de muitas ou­
tras maneiras.

Pasadena, Califórnia
Introdução:
A R edescoberta dos
D ons E spirituais

Igo relativamente novo teve início na Igreja de Je­


sus Cristo, na América do Norte, durante a déca­
da de 1970. A Terceira Pessoa da Trindade ganhou
real importância, por assim dizer, devido aos Seus
próprios méritos. Sim, o Espírito Santo sempre esteve pre­
sente. Credos,^inos e liturgias têm confirmado a posição
central do Espíntç Santo na fé cristã ortodoxa. Teologias
sistemáticas, através dos séculos, têm incluído alguma se­
ção de “pneumatologia”, afirmando, assim, o papel do Es­
pírito Santo no pensamento cristão.
Mas raramente, a História da Igreja tem visto tão ge­
neralizado interesse em passar para alêm dos credos e teo­
logias. As experiências pessoais com o Espírito Santo, na
vida diária tem varrido o povo de Deus, da maneira mais
intensa. A face mais proeminente dessa nova experiência
com o Espírito Santo ê a questão dos dons espirituais.
É relativamente fácil fixar a data quando começou esse
novo interesse sobre o Espírito Santo. A própria produção
literária serve de indicador razoavelmente seguro. Enquanto
escrevo, estou com trinta e dois livros sobre os dons espiri­
tuais, em cima de minha escrivaninha, sem contar obras
sobre aspectos mais amplos a respeito da atuação do Espí­
rito Santo, que contêm seções sobre os dons espirituais.
Desses trinta e dois livros, vinte e seis, ou seja, cerca de
oitenta por cento, foram escritos após 1970. Antes de 1970,
2 0 Descubra Seus Dons Espirituais

OS que se formavam nos seminários, deixavam as suas ins­


tituições de ensino pouco ou nada sabendo a respeito dos
dons espirituais. Agora, tão poucos anos mais tarde, tal
estado de coisas é geralmente considerado como uma defi­
ciência no treinamento ministerial.
As raizes dessa nova ênfase tiveram início em 1900, a
data mais largamente aceita para aquilo que se conhece
atualmente como o movimento pentecostal clássico. Du­
rante um culto de vigília, que começara em 31 de dezem­
bro de 1900, e terminava no primeiro dia do século XX,
Charles Parham, de Topeka, estado de Kansas, impôs as
mãos sobre Agnes Ozman, e ela começou a falar em lín­
guas. Foi assim que começou esse movimento. Uma fasci­
nante cadeia de eventos levou ao famoso reavlvamento da
rua Azusa, que começou em 1906 sob o ministério de
William Seymour, um pastor negro. E foi assim que o mo­
vimento pentecostal obteve grande expressividade e um
impulso que não esfriou até hoje.
O intuito original dos líderes pentetíf,^stals era influ­
enciar as principais denominações crist^p elo lado de den­
tro, o que fazia lembrar as primeiras intenções de líderes
como Martinho Lutero e João Wesley. Porém, assim como
o luteranismo foi considerado incompatível com a Igreja
Católica Romana, no século XVI, e assim como o metodismo
foi considerado incompatível com a Igreja Anglicana, no
século XVIII, também o movimento pentecostal foi consi­
derado incompatível com a linha cêntrica das igrejas nor­
te-americanas no século XX. Dessa forma, tal como outros
tinham feito antes deles, os líderes pentecostais descobri­
ram ser necessário estabelecer novas denominações, onde
pudessem desenvolver um estilo de vida diretamente sob a
influência do Espírito, em uma atmosfera de liberdade e de
apoio mútuo. Essas denominações são atualmente conhe­
cidas como Assembléias de Deus, Holiness Pentecostal,
Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja de Deus
(Cleveland e Tennessee), e muitas outras; formadas, exata­
mente, com essa finalidade.
A segunda fase do movimento começou após a Se­
Introdução: / \ Redescoberta dos Dons Espirituais 2 i

gunda Guerra Mundial, quando líderes pentecostais viram


as igrejas tradicionalistas afetadas pelo m ovimento
pentecostal. Os primórdios foram lentos. Algumas das de­
nominações pentecostais começaram a obter “respeitabili­
dade,” ao unirem-se a organizações como a Associação
Nacional de Evangélicos. Dessa forma, eles neutralizaram,
pelo menos em parte, a opinião de que o movimento
pentecostal é uma seita falsa, mais ou menos parecida com
as Testemunhas de Jeová, os Mõrmons e os Espíritas. Em
1960, um ministro episcospal de Van Nuys, Califórnia,
chamado Dennis Bennett, informou a sua congregação de
que havia experimentado o Espírito Santo, aos moldes
pentecostais. E foi assim que o chamado movimento neo-
pentecostal teve começo. Hã um terceiro importante movi­
mento: “Fim de Semana de Duquesne”, assim chamado por
causa da Universidade de Duquesne, onde, em 1967, sur­
giram os “carismáticos católicos”.
O impacto de todos esses acontecimentos começaram
a fazer-se seqÉir entre os evangélicos que nem eram
pentecostais cl^^icos, nem neo-pentecostals e nem católi­
cos carismáticos, na década de 1970. Apesar de que a mai­
or parte desses cristãos continua a mostrar pouco interes­
se em passar pelo “batismo no Espírito Santo”, a principal
ca ra cterística d istin gu id o ra dos trés m ovim entos
carismáticos é que se estão apropriando da dinâmica dos
dons espirituais, de uma maneira nova e excitante. Medi­
ante as descobertas que têm feito sobre como os dons do
Espírito tencionavam operar no seio do Corpo de Cristo, o
Espírito Scinto está deixando de ser mera doutrina, para
ser uma experiência. O impacto pleno desse novo desen­
volvimento, ainda não foi sentido plenamente nas igrejas
da América do Norte, embora não restem dúvidas de que
começou e está obtendo notável credibilidade. Talvez so­
mente durante a década de 1990 (se o Senhor não retomar
antes disso) venhamos a perceber a maior parte das impli­
cações dessa total renovação carismática nas igrejas nor­
te-americanas. Por esse tempo, nossas igrejas bem podem
já ter desenvolvido um poder de ministério e de crescimen-
22 D escubra Seus D o n s tspm tuais

to sem iguais, desde que houve o Grande Despertamento,


e provavelmente até o ultrapassará.

Como o “Novo” Pode Ser a “Coisa Nova”?


Se as minhas pesquisas sobre o papel que os dons
espirituais têm desempenhado, através dos séculos de His­
tória da Igreja, servem de indicação (e fique salientado que
não foi, necessariamente, uma pesquisa de qualidade exaus­
tiva, visto que o ponto é de importância secundária para
mim), então o quadro geral é confuso. Aqueles que estão
tentando provar um ponto, apelando para referências his­
tóricas, usualmente são capazes de fazê-lo. Alguns que se
mostram frios no tocante aos dons espirituais; por exem­
plo, afirmam que muitos desses dons deixaram de ser usa­
dos nas igrejas, após a época dos apóstolos. O centro inte­
lectual desse esforço fica no Dallas Theological Seminary,
uma escola interdenominacional, mas que olha com desfa­
vor o movimento pentecostal/carismãtico de décadas re­
centes.
John Walvoord, presidente do D a ll^ Seminaiy, sen­
te que os milagres foram declinando na Igreja desde a épo­
ca dos apóstolos.2 Seu colega, Merrill Unger, escreveu que
o fato de que "os charísmata!' miraculosos desapareceram
após o período apostólico é bem confirmado pela História
Eclesiástica”. Unger argumenta que os dons miraculosos
foram dados, basicamente, como credenciais dos apósto­
los, para confirmarem o Evangelho, e, assim sendo, desapa­
receram “quando não mais havia apóstolos, e a fé cristã
não mais precisava de tais sinais externos para confirmã-
l a ” .3
Merrill Unger referiu-se a Benjamin B. Warfield, do
Princeton Seminary, o qual, no jã distante ano de 1918,
escreveu um livro intitulado Miracles Yesterday and Today.
Depois da Bíblia Anotada de Scofield, esse tem sido o mais
influente livro, escrito na América do Norte, contra a vali­
dade dos dons carismáticos em nossos dias. Warfield ar­
gumentou que “esses dons espirituais eram... distintamente
a autenticação dos apóstolos... O funcionamento dos mes-
Introdução: A Redescoberta dos Dons Espirituais 23

mos confinou-se distintamente à Igreja apostólica, e, ne­


cessariamente, passaram juntamente com ela”.^ Conforme
discutiremos com maiores pormenores mais adiante, esse
ponto de vista é fortem ente defendido, sobre bases
dogmáticas, por um influente círculo de igrejas evangéli­
cas hoje em dia.
Uma das razões por que essa teoria da desconti-
nuidade de alguns dos dons tem obtido um certo grau de
apoio é que não se tem podido colher das páginas da histó­
ria muitas provas em contrário. Warfield não foi ainda de­
vidamente desafiado, em seu próprio nível intelectual, por
eruditos mais favoráveis aos dons espirituais em nossos
dias. Esse dia, porém, sem dúvida está chegando. Um gran­
de grupo de eruditos pentecostais está surgindo em cena.
Sem dúvida, começarão a desvendar evidências que ajuda­
rão imensamente a esclarecer uma situação que está longe
de ser clara nos nossos dias.
A posição anti-intelectual dos primeiros líderes
pentecostais é Tjjna das razões do retardamento da contri­
buição da part^Jos eruditos pentecostais. Os ministros
que se mostraram contrários ao pentecostalismo, conside­
rando-o como apenas mais um culto falso, talvez, mesmo
uma heresia, geralmente eram homens treinados em semi­
nários. Os pentecostais recrutavam a maior parte de seus
ministros dentre as fileiras das classes trabalhadoras, à
base do exercício comprovado dos dons espirituais, e não
por terem graus acadêmicos. Os seminários eram olhados
com ar de suspeita. Durante anos, houve uma espécie de
guerra fria entre os pentecostais e os seminários. Mas ago­
ra isso, para melhor ou para pior, já foi quase totalmente
resolvido. Nos Estados Unidos da América, tanto as As­
sembléias de Deus quanto a Igreja de Deus (Cleveland),
por exemplo, possuem escolas graduadas e seminários ple­
namente acreditados. E digo para melhor ou para pior,
porque os seminários reconhecidos de modo algum servem
de bênçãos indiscutíveis. Pois se, por um lado, eles sem
dúvida ajudam a prover erudição para os seus respectivos
movimentos, também podem acelerar o processo de
24 Descubra Seus Dons Espirituais

“elitização” que pode separar as igrejas da classe trabalha­


dora que lhes deu origem. A história do movimento meto­
dista serve de bom exemplo de como isso pode acontecer.
Não obstante, os estudiosos pentecostais já estão ca­
vando mais fundo os registros históricos, ã procura de pre­
cedentes para a ênfase que eles buscam. Espero que até o
final da década de 1990, haja publicação de alguns livros
eruditos e completos, sobre a história dos dons espirituais.
Nesse caso, todos teremos sido muito mais iluminados do
que atualmente, devido aos relativamente superficiais de
que dispomos em nossos dias.

O Que a História nos Diz


No século II D.C., tanto Justino Mártir quanto Irineu
reconheceram que os dons miraculosos continuavam ope­
rando na Igreja. No século III D.C., Hipólito aludiu a um de
seus escritos, intitulado “Sobre os Dons Carismáticos”,
embora tal ensaio nunca tenha sido localizado. Naquele
mesmo século, Tertuliano observou com aprovação o exer­
cício dos dons espirituais. E ele m esrt^ converteu-se ao
montanismo, uma espécie de movimento carismático do
século III D.C., embora tenha sido declarado um movimen­
to herético por muitos cristãos da faixa central. O bispo
Hilário, do século IV D.C., falou sobre o exercício dos dons,
em tom de aprovação, tal como também o fez João
Crisóstomo. O grande teólogo do século V D.C., Agostinho,
tem sido interpretado como quem tanto apoiava a noção de
que os dons estavam-se apagando, quanto como quem con­
firmava a vigência dos mesmos em seus dias. Entretanto,
James King descobriu que Agostinho “reverteu completa­
mente a sua opinião sobre os milagres. Originalmente, ele
contestava a continuidade dos mesmos em seus próprios
dias. Mas posteriormente ensinou a validade dos dons es­
pirituais, afirmando-se testemunha oeular de alguns mila­
gres”.®
Tomás de Aquino, já no século XIII D.C., considerava
os dons carismáticos como um fator essencial ã Igreja,
embora não se tenha manifestado se, realmente, esses dons
Introdução: A Redescoberta dos Dons Espirituais 2 5

continuaram, terminada a era apostólica.® Outras referên­


cias aos dons espirituais, entre Agostinho e o tempo da
Reforma Protestante, um período de mais de mil anos, são
escassas, mas não há dúvidas de que muito ouro ainda
será escavado pelos eruditos que estão pesquisando esse
campo de estudos. É razoavelmente certo que continuarão
surgindo evidências, mostrando que os dons carismáticos
operavam em certos segmentos da Igreja e em muitas eras
diferentes da História Eclesiástica.
Os dois mais proeminentes porta-vozes da Reforma
Protestante, Martinho Lutero e João Calvino, pouco disse­
ram acerca dos dons espirituais. Se Lutero não limitou a
possibilidade do uso de dons miraculosos ã era apostólica,
também não esperava que esses dons se manifestassem
nas igrejas que ele encabeçava. Calvino, geralmente, é in­
terpretado pelos estudiosos como quem defendia que os
dons espirituais foram dados principalmente para uso du­
rante a era apostólica, embora pareça ter deixado em aber­
to a idéia de q ^ podem ter vindo ã superfície mais tarde.
De fato, certa i^Ja ele incluiu Lutero entre os modernos
“apóstolos”.^
O mais completo estudo sobre a obra do Espírito San­
to, entre a Reforma Protestante e o século XX, chega-nos
da pena de John Ovren, um inglês que viveu no século XVII.
Seus escritos mostraram-se muito influentes no pensamen­
to dos teólogos reformados ou calvinistas posteriores. Se
Owen reconheceu que os dons espirituais são válidos na
Igreja, ele pode ter sido o primeiro a distinguir entre os
dons extraordinários e os dons ordinários, uma distinção
que se tornou comum na Teologia Reformada posterior. Os
dons espirituais extraordinários, restritos aos dias apostó­
licos, incluiríam línguas, milagres, curas e os ofícios de
apóstolos, profetas e evangelistas. Um pensamento similar
aparece em eruditos como Abraham Kujqjer, do século XIX,
e Benjamin Warfield, do século XX.
João Wesley, pai do metodismo e dos subseqüentes
movimentos “holiness,” de certo modo é o padrasto do
movimento pentecostal. Sua abertura diante das Escritu­
26 Descubra Seus Dons Espirituais

ras e do padrão neotestamentário, bem como sua ênfase


sobre a responsabilidade do crente ajudaram a armar o
palco para o pentecostismo. Todavia, embora ele tivesse
mencionado ocasionalmente os dons espirituais, mostrou-
se “pouco sistemático e incompleto em seus estudos sobre
os dons”.®Ele se mostrou tão incoerente que a sua contri­
buição direta para a compreensão subseqüente dos dons
espirituais deve ser considerada mínima.
Ao longo da História Eclesiástica, grupos marginais
vieram ã existência, caracterizando-se, entre outras coi­
sas, pelo uso dos dons espirituais. Muitos desses grupos
foram tidos como fanáticos ou mesmo heréticos, pelos cris­
tãos tradicionalistas da época. Chegamos a indagar se essa
critica não teria sido semelhante ao ridículo e ã persegui­
ção com que foram tratados os pentecostais, na primeira
parte do século XX. Grupos como os waldenses, os
albigenses, os camisardos, os jansenistas, os primeiros
quakers, os shakers e os irvingitas, têm sido mencionados
como grupos que usaram os dons carisnpticos, e muitos
deles foram perseguidos pelas mãos de/Ciristãos que não
aceitavam a operação dos dons espirituais.
Por conseguinte, quando afirmo que algo novo come­
çou ocorrer na década de 1970, quero dizer precisamente
isso. Se os dons carismáticos podem ter-se manifestado
em alguns segmentos do Corpo de Cristo, durante todos os
séculos da História da Igreja, na América do Norte e em
outras regiões do mundo atual, o uso desses dons se vai
tomando paulatinamente mais generalizado. O movimen­
to atravessa fronteiras e tradições eclesiásticas, e está sen­
do mais cordialmente aceito do que em qualquer outra épo­
ca, após o século 1 D.C., como mamifestações legítimas do
cristianismo bíblico, por um número crescente de crentes;
embora, eles mesmos tenham resolvido não participar do
movimento.

O Melhor de Hoje no Campo dos Dons Espirituais


Provavelmente não exageramos ao afirmar que mais
literatura tem sido produzida sobre o assunto dos dons
Introdução: A Redescoberta dos Dons Espirituais 2 7

espirituais, desde a Segunda Guerra Mundial, do que em


todos os mil novecentos e quarenta e cinco anos anteriores
de história cristã juntamente. E a maior parte dessa pro­
dução tem surgido desde 1971. Além de Benjamin Warfield,
que escrevia polêmicas contra os dons miraculosos, em
1918, a maior parte dos escritores, antes de 1971, eram
estudiosos pentecostais clãssicos, como Donald Gee e
Harold Horton, ambos da Inglaterra, e Myer Pearlman e B.
E. Underwood, dos Estados Unidos da América.® O único
erudito não-pentecostal de que tenho conhecimento (sem
dúvida existem outros, a respeito de quem ainda não ouvi
falar), e que tem tratado favoravelmente o assunto dos dons
espirituais foi Alexander Hay, cujo livro, lançado em 1947,
intitulado The New Testament Order f o r Church and
Missionary, nunca teve larga circulação na América do
Norte.
Mas, atualmente, conforme se verá em uma visita a
qualquer livraria evangélica progressista, é extensa a lite­
ratura sobre os d|ms espirituais. Há tanto para ser escolhi­
do, que, se eu p ic a s s e nesse livro, como apenas, mais
uma obra geral sobre o assunto, eu nem me inclinaria a
escrevê-lo. Ao preparar-me para escrever este volume, li
quarenta e oito livros sobre os dons espirituais, e a minha
impressão é de que já possuímos número suficiente de li­
vros para os nossos dias. Quando eu jã tinha examinado
mais de vinte obras sobre o assunto, comecei a suspeitar
que hã muita repetição na literatura atual. E depois de ter
lido todos aqueles quarenta e oito livros, estava convicto
disso.
Das obras que facilmente se encontram nas livrarias,
algumas são excelentes, outras são boas, mas hã algumas
que são bastante medíocres. A fim de prover ao leitor uma
certa medida de orientação, selecionei aqueles que consi­
dero os dez principais livros sobre o assunto dos dons es­
pirituais. Quaisquer dois ou três, selecionados ao acaso,
darão ao leitor uma boa introdução a esse campo. Indiquei
dois livros que sinto revestirem-se de valor especial, como
ponto de partida. Se o leitor conseguir os dez, tomar-se-á
28 Descubra Seus Dons Espirituais

possuidor de uma sólida biblioteca sobre o assunto. E, se


ler todos, estará informado sobre tudo quanto se sabe, até
o momento, a respeito dos dons espirituais.

1. Bridge, Donald e Phyphers, David. Spiritual Gijts and


the Church. Downers Grove: Inter-Varsity Press,
1973. Um livro bem pensado, escrito da perspectiva
britânica, para leitores de nível universitário.
2. Flynn, Leslie B. Nineteen Gifts o f the Spirit Wheaton:
Victor Books, 1974. Gosto multo deste livro como
introdução ao assunto. Minha abordagem é muito
parecida com a de Flynn.
3. Gee, Donald. Concerning Spiritual Gifts. Springfield,
MO: Gospel Publishing House, 1972. É um dos au­
tores pentecostais clássicos, tendo escrito o livro
originalmente em 1928. Os não-pentecostais não
precisam sentir-se ameaçados por este livro, que é
útil para todos.
4. Kinghom, Kenneth Cain. Gifts o f th^Spirit. Nashville:
Abingdon Press, 1976. Tendo escrí^ como metodista,
Kinghom demonstrou como a* teologia wesleyana
pode absorver os dons espirituais, embora o próprio
Wesley tenha achado difícil manuseá-los.
5. MacGorman, Jack W. The Gifts o f the Spirit. Nashville:
Broadmn Press, 1974. Embora os batistas do sul
estejam longe de concordar entre eles mesmos so­
bre a atitude que devem tomar quanto a alguns dos
dons espirituais, um de seus melhores emditos e
professores de seminário expõe aqui uma posição
bem equilibrada.
6. McRae, William J. The Dynamics o f Spiritual Gifts.
Grand Rapids: ZondervanPublishing Co., 1976. Este
é o livro que mais recomendo, expressando o que
poderia ser chamado de posiçáo dispensacional/
Dallas Seminary sobre os dons. McRae escreveu do
fundo do coração de um pastor.
7. Murphy, Edward F. Spiritual Gifts and the Great
Commission. South Pasadena: Mandate Press, 1975.
Introdução: A Redescoberta dos Dons Espirituais 29

Nenhum outro livro aproxima-se deste em seu es­


forço por fazer uma aplicação direta dos dons à ta­
refa missionária da Igreja.
8. Purkiser, W. T. The Gifts q f the Spirít. Kansas City:
Beacon Hill Press, 1975. O pequeno livro de Purkiser
foi incluído, porque articula tão bem a posição da
Igreja do Nazareno e atitudes paralelas, em outras
denominações “holiness”.
9. Stedman, Ray C. BodyLife. Glendale, Ca: Regai Books,
1972. Pode ser considerado um clássico no campo
dos dons espirituais. Nenhum outro livro contribuiu
tanto para abrir o caminho que visa a conscientizar
sobre o valor dos dons espirituais, nas denomina­
ções não-pentecostais, do que esse esforço pioneiro
do pastor Stedman.
10. Yohn, Rick. Discouer Your SpirituáL Gift and Use I t
Wheaton: Tyndale House Publishers, 1974. Último
(por causa da ordem alfabética) mas por certo não
quanto a mu valor. Recomendo este Uvro, juntamente
com o del^ton, como um bom ponto de partida para
quem quiser entender os dons espirituais.

Notas

1. Quanto a um conciso sumário dos principais detalhes do desenvolvimento histórico desses "três ramos,”
ver Charles E. Hummel, Fire in the I^eplczce: Contemporary CJiarismatic Renewal (Downers Grove: Inter-
Varsity Press, 1978).
2. John F. Walvoord, 77ie Holy Spirit (Grand Rapids; Zondervan Publishing House, 1954), págs. 173-187.
3. Merrill F. Unger, The Baptism and Gifts qfÜie Holy Spirit (Chicago: Mood Press, 1974), pág. 139.
4. Benjamin B. Warfield, MiraclesYesterdayandToday Real and Coiinterfeit [Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans
Publishing Co., 1965, orig. 1918), pág. 6.
5. James Gordon Klng, Jr., “A Brief OverView of Historie Beliefsin Gifts of the Spirit” . Estudo não publicado,
1977. Esse estudo é uma compilação de notas preliminares, em preparação para dissertação de Doutorado
em Filosofia, na Universidade de Nova Iorque. Uma boa parte das informações dessa seção foi extraída do
estudo de King. O livro de Hummel, Fire in tíie P^eplace, também contém uma útil discussão sobre as
evidências históricas acerca dos dons (págs. 164-168).
6. Ver Theodore Jungkuntz, “Secularization Theology, Charismatic Renewal, and Luther's Theology o f the
Cross", CoficordiaTIieoíogicaí Aíoní/ily (Janeiro de 1971), pá. 72.
7. Ver King, “A Brief OverView. . pág. 8.
8. King. “A Brief OverView. . pág. 14.
9. Donald Gee, Concemuig Spirilual Gifts (Springfield, Mo: Gospel Publishing House, 1972, orig. 128; Harold
Horton, The Gills ojtf\e Spirit (Springfield, Mo: Gospel Publishing House, 1975, orig. 1934); Myer Pearlman,
Kjiowking Ow Doctrines oJ the Bible (Springfield, Mo: Gospel Publishing House, 1937); B. E. Underwood, T7ie
Gifts o f the Spirit (Franklin Springs, Ga: Advocate Press, 1967).
1
Ignorância N ão £ F elicidade

uem precisa tomar conhecimento dos dons espiri­


tuais? Você precisa saber acerca dos dons espiri­
tuais se:

1. Você é^fc^^rente.
2. Você confia que Jesus é o seu Senhor, e você
quer amá-Lx) e segui-Lo da melhor maneira
possível.
3. Você quer que a sua igreja seja um grupo sau­
dável, atrativo e crescente em número de pes­
soas, que demonstrem o amor de Deus em
sua comunidade.

“. . .não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (sobre


os dons espirituais), foram as palavras Inspiradas do após­
tolo Paulo, em 1 Coríntios 12.1. A igreja em Corinto, para a
qual Paulo estava escrevendo, carecia demasiadamente de
instruções sobre os dons espirituais. Mas, hoje em dia,
existem incontáveis outras igrejas, em todas as cidades do
mundo, que precisam dessas instruções. Apesar de uma
renovação generalizada quanto ao interesse pelo Espírito
Santo e Seu ministério em nossa época, em quase todas as
igrejas. Tanto na América do Norte como em outras regiões
3 2 Descubra Seus Dons Espirituais

do mundo, muitas igrejas permanecem ignorantes dessa


tremenda força dinâmica, dada por Deus, para lhes confe­
rir vitalidade e crescimento. Uma força que está esperando
ser liberada.
Tal ignorância de algum modo é felicidade!
A ignorância acerca dos dons espirituais pode ser uma
das principais causas do retardo no crescimento da Igreja,
hoje em dia. Nisso também pode achar-se a raiz de grande
parte do desencorajamento, insegurança, frustração e senso
de culpa que infelicita a muitos crentes e que obstrui sua
eficiência plena no serviço de Deus.
Você é, realmente, o crente que Deus quer que seja?
Em caso contrário, talvez este livro o ajude a nortear-se de
maneira diferente e mais produtiva. Fique certo de que dis­
sipar as brumas da ignorância a respeito dos dons espiri­
tuais não é algum a fórm ula m ágica, com vistas à
espiritualidade instantânea. O relacionamento de cada um
dos crentes com Deus é uma combinação delicada e com­
plexa de fatores, que precisam ser contin mmente avalia­
dos uns em relação aos outros. T o d a via ^ j todos os fatores
envolvidos receberem iguál peso, em breve você poderá vir
a experimentar um encontro liberador, revigorador e
edificador com o Santo Espírito de Deus, ao descobrir o
passo mais básico de que precisa um crente, a fim de po­
der definir a vontade de Deus quanto à sua vida — reco­
nhecendo os seus próprios dons espirituais.
Para muitos crentes, isso parece tão atrativo, que eles
começarão a duvidar de minha credibilidade. E ficarão in­
dagando se, afinal, não exagerei em minhas declarações.
Penso que não exagerei. Pessoalmente sinto que aquilo
que asseverei é perfeitamente válido. Duas fontes têm-me
impressionado sobre a vitalidade derivada do conhecimen­
to dos dons espirituais, o que afeta para melhor a vida cris­
tã. A primeira dessas fontes é a Palavra de Deus. A Escri­
tura inteira foi soprada por Deus, a fim de que “o homem
de Deus seja. . . perfeitamente habilitado para toda boa
obra” (2 Tm 3.16,17). A primeira dessas fontes, que nos
confere um senso de direção, quando se trata de nos tor­
/ Ignorância Não É Felicidade 33

narmos mais profundamente espirituais, por conseguinte,


deve ser a Bíblia. E não há como substituí-la.
Mas a outra fonte, apesar de secundária, tem-se mos­
trado Igualmente essencial para a minha conclusão. Trata-
se de minha própria experiência. Em recente entrevista,
pelo rádio, perguntaram-me qual a minha mais importan­
te experiência espiritual depois da conversão. Não hesitei
em responder que foi a descoberta de meus dons espiritu­
ais. À medida que este livro for progredindo, pois, descre­
verei com maiores detalhes como isso teve lugar em minha
vida..
Portanto, passemos a examinar diretamente a primeira
fonte: a Palavra de Deus.

Modo Divino de Descobrir a Vontade de Deus


Uma das passagens bíblicas mais freqüentemente re­
comendadas para os novos convertidos memorizarem ê a
de Romanos 12.1,2. Esse foi um dos trechos que memori­
zei em primeirc^i^gar, quando me convertí, há mais de 40
anos. E nunca rn^esqueceram tais palavras. Eis aqui o
trecho:

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias


de Deus que apresenteis os vossos corpos por
sacrijicio vivo, santo e agradável a Deus, que é o
vosso culto racional. E não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação
da vossa mente, para que experimenteis qual seja
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Penso que a última frase desse trecho bíblico ê a que


o tom a tão apelativo para os crentes recém-convertidos.
Fazer a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” é um
desejo sincero, que parte do fundo do coração, de toda pes­
soa que realmente nasceu de novo. Quando uma pessoa
percebe que Jesus pagou o preço inteiro — Seu sangue
vertido no madeiro — a fim de salvã-la, a primeira coisa
que tal pessoa diz ê: “Agradecido, Senhor. Eu Te amo por
34 Descubra Seus Dons Espirituais

aquilo que fizeste. Quero servlr-Te. Agora, diz-me o que


queres que eu faça”.
Esses dois versículos, porém, impõem um problema,
até mesmo para crentes veteranos. Para sermos honestos,
esses versículos não são muito práticos. Por pura coinci­
dência, num domingo, meu antigo pastor, Raymond
Ortlund, pregou um sermão sobre essa passagem. Visto
que eu escrevería, a seguir, a esse respeito, ouvi com pro­
funda atenção. Fiquei impressionado diante da combina­
ção de energia exegética e homilética que ele precisou exer­
cer, a fim de deixar claro o sentido da passagem para a
congregação! Está longe de ser auto-evldente o significado
de tais conceitos, como “apresenteis os vossos corpos por
sacrifício vivo” e “não vos conformeis com este século” e
“transformai-vos pela renovação da vossa mente”. São dois
versículos admiráveis, mas bastante abstratos, para dizer­
mos o mínimo.
Perpassando pela mente a minha própria peregrina­
ção espiritual, posso relembrar que e s s ^ Irsículos contri­
buiram para minha edificação espirit^faí; mas, não deram
uma idéia geral acerca do tipo de vida que agrada a Deus:
é o crente consagrar-se ao Senhor. No entanto, esses
versículos me deixaram sem rumo, quanto à área prática
de descobrir a vontade de Deus. Eu queria fazer “a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus”. E tudo quanto eu
pude deduzir de Romanos 12.1,2 foi: que quanto mais eu
me consagrasse ao Senhor, mais definidamente seria ca­
paz de conhecer a Sua vontade.
Essa idéia, a que chamo “teologia da consagração”,
tomou-se bem generalizada entre o círculo de amigos cren­
tes que eu freqüentava. Um dos principais símbolos de con­
sagração aprimorada foi o acampamento de Keswick, no
estado de Nova Jersey. Quando surgiam problemas de re­
lacionam ento pessoal e de decisões vitais, éram os
freqüentemente aconselhados a passar alguns dias em
Keswick. Ali, segundo nos era assegurado, entraríamos na
“vida mais profunda”, por meio da qual a vontade de Deus
tomar-se-ia mais clara. Quando me lembro do que ali acon­
/ Ignorância Não É Felicidade 3 5

teceu, vejo que Deus, por Sua graça, deu-me orientação


por meio da teologia de consagração. Mas embora alguém
possa ir de São Paulo a Belém do Pará de bicicleta, ou ca­
var o alicerce de uma casa com uma colher de chá, hã
maneiras melhores de se fazerem essas coisas.
Uma vida cristã consagrada é necessária para se cum­
prir a vontade de Deus. Não hã dúvidas sobre isso. Mas, a
fim de compreender a metodologia realmente prática para
encontrar “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”,
você precisa ler aquele trecho de Romanos até 12.6, e não
ficar somente em Romanos 12.1,2. Essa é a melhor manei­
ra! Ler o trecho todo é escavar um alicerce com trator, e
não com colher de chã!

Teologia dos Dons


A chave para chegarmos a termos práticos quanto ã
vontade de Deus, em relação ãs nossas vidas, consiste em
“pensar com m ^eração” a nosso respeito, de acordo com o
vs. 3. Isso s ig ^ B ^ que cada um de nós precisa de uma
auto-avaliação reS^ta, como ponto de partida. A tradução
de Phillips diz: “Tentai formar uma estimativa sã de vossas
capacidades”.
Dois passos precisam ser dados para que cheguemos
a essa auto-avaliação realista, o negativo e o positivo.
Negativamente, não nos é permitido pensar mais exal-
tadamente a nosso respeito do que deveriamos pensar.
Quando nos auto-avaliamos, não devemos dar espaço ao
orgulho. O julgamento sóbrio sempre envolve algum senso
de humildade. Se algum de nós tiver que errar, será me­
lhor errar por ser humilde demais do que por ser orgulho­
so. Mas, ã luz da maneira como Deus tem arranjado as
coisas para os Seus filhos, não precisamos apelar para
nenhum desses dois extremos.
Positivamente, devemos reconhecer que parte de nossa
constituição espiritual é a “medida de fé” que Deus distri­
buiu a cada crente. Fica implícito que cada crente pode
receber uma medida diferente de fé, o que significa ser cada
crente ímpar. Porém, ímpar em qual sentido? Antes de Paulo
36 Descubra Seus Dons Espirituais

responder a essa pergunta, ele nos forneceu a analogia que


estava preparando, para explicar o uso dos dons espiritu­
ais: a analogia do corpo humano.
Com base em Romanos 12.4, aprendemos que uma
visão global bem simples de nosso próprio corpo, confere-
nos aquilo que poderiamos chamar de “chave herme-nêu-
tica”, capaz de destrancar o ensino bíblico sobre os dons
espirituais. Hermenêutica é, em Teologia, a prática de inter­
pretação da Bíblia. Assim, a fim de compreender o ensino
bíblico sobre os dons espirituais, precisamos ter diante de
nós, o tempo todo, uma percepção de nosso próprio corpo.
Essa chave hermenêutica é surpreendentemente des­
tituída de complicações. Não envolve qualquer conhecimen­
to de uma anatomia avançada, de Fisiologia ou da Genéti­
ca. Simplesmente requer a compreensão que o nosso cor­
po se compõe de muitos membros, e de que cada membro
tem uma função diferente. Em outras palavras, se compre­
endermos que não se pode segurar coisa alguma com nos­
sa orelha, ou ouvir com a mão, jã terem^ .'am indício da­
quilo de que precisamos. Os membro/^o corpo têm, por
desígnio exercer, cada qual, a sua função específica, e nada
mais. Erramos ao esperar que eles façam aquilo para que
não foram designados.
Tendo dito isso, Paulo prosseguiu a fim de asseverar,
em Romanos 12.5, que o Corpo místico de Cristo opera,
exatamente, como o corpo humano. Cada crente ê membro
do Corpo de Cristo, e, como tal, exerce uma função parti­
cular, tal como o fazem a orelha e a mão. Outrossim, todos
os crentes são membros de um mesmo Corpo, o que signi­
fica que todos os crentes precisam uns dos outros.
Isso nos leva a outras indagações. Se eu sou membro
do Corpo de Cristo, como posso saber se sou uma orelha,
uma mão ou outro membro qualquer do corpo? E como
posso saber de que modo devo funcionar?
Respondendo. O propósito do crente, no Corpo de
Cristo, é determinado pelo seu dom espiritual ou por seu
complexo de dons. Depois de haver dito que somos mem­
bros uns dos outros, Paulo acrescenta: “tendo, porém, di­
/ Ignorância Não É Felicidade 37

ferentes dons segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12.6)^.
Em seguida, ele iniciou uma lista de dons específicos.
Minha conclusão, com base nesse trecho das Escritu­
ras: portanto, é que a “teologia dos dons” parece mais útil
para se saber qual a vontade de Deus, de maneira prática,
do que a “teologia da consagração”. Para você cumprir “a
boa, agradável e perféita vontade de Deus”, deve pensar
moderamente acerca de si mesmo. Para pensar moderada­
mente, você precisa ser realista, quanto à medida de sua
fé. Sua fé consiste no dom espiritual que lhe foi determina­
do, como membro do Corpo místico de Cristo, bem como
pela tarefa especial que Deus lhe deu para cumprir.

Como É Organizado o Corpo de Cristo


Em que consiste, precisamente, o Corpo de Cristo?
Visto que a Bíblia diz que nós, os crentes, fazemos parte do
Corpo místico do Senhor, compreendemos que esse corpo
consiste em qualquer agrupamento de crentes. Em outras
passagens b íb i® ^ , a Igreja é explicitamente chamada de
Corpo. No prim ei^capítulo de Efésios, para exemplificar,
lemos que Deus estabeleceu Cristo acima de todos os prin­
cipados e potestades, e colocou todas as coisas debaixo
dos Seus pés, conferindo-Lhe a posição de “cabeça sobre
todas as coisas”, em relação ã Igreja (Ef 1.21-23). E no pri­
meiro capítulo de Colossenses lemos praticamente a mes­
ma coisa, a saber, que Jesus é “a cabeça do corpo, da igre­
ja ” (Cl 1.18). Assim sendo, quando uso a expressão Corpo
de Cristo, neste livro, faço-o como um sinônimo da Igreja
de Cristo, conforme a Bíblia nos ensina.
Naturalmente, a Igreja existe em muitos níveis: pode
ser a comunhão local dos crentes; pode existir como uma
congregação local de crentes, como uma denominação ecle­
siástica nacional, como uma agência missionária, ou como
o conjunto universal de pessoas, de todos os países do
mundo, que reconhecem a Cristo como seu Senhor, e que
se esforçam por servi-Lo. O Corpo de Cristo envolve todas
essas estruturas. E, apesar de que haverei de usar a ex­
pressão para envolver todos esses conceitos, serei específi-
38 Descubra Seus Dons Espirituais

CO o bastante, em cada contexto, para indicar a qual nível


estarei referindo-me. Em um ou dois pontos, a percepção
de que, em certo sentido, o Corpo de Cristo refere-se à Igre­
ja Universal, será vital para a nossa compreensão quanto a
determinados aspectos dos dons espirituais.
O próprio Deus, naturalmente, é Aquele que desig­
nou o Corpo de Cristo. Portanto, antes que façamos a per­
gunta sobre como deveriamos reconhecer isso, precisamos
perguntar como Ele o organizou.
Por uma parte. Deus não planejou que o Corpo de
Cristo fosse organizado em tomo do modelo ditatoricd, em
que um único indivíduo governa, por mais benévolo que
seja o governo de tal homem. Por outra parte, Ele também
não tencionou que o Seu Corpo místico fosse uma estmtu-
ra em que todos os membros governam. Este último ponto
precisa ser destacado aqui na América do Norte, onde a
cultura civil ufema-se tanto de sua democracia, e onde, com
freqüência, isso extrapola até ã maneira de as igrejas evan­
gélicas se governarem. ) '”
Por ser congregacionalista, odeio /«miti-lo; mas, para
as igrejas crescentes, a forma congregacionalista de gover­
no é como uma pedra de moinho, atada em tomo do pesco­
ço de um nadador. Ê razoavelmente funcional, enquanto
as igrejas tém de cem a duzentos membros, mas quando
elas passam a ter entre quinhentos e mil membros, ou mais,
vêem o seu crescimento retardado, a menos que o sistema
administrativo seja enxugado. Minha própria igreja, a Lake
Avenue Congregational, passou agora dos três mil mem­
bros, e o seu crescimento através dos anos tem sido lento;
um tanto devido ao seu apego ao governo de modelo
congregacional. Tomar uma decisão, em uma grande igreja
congregacional, é como tentar levar o transatlântico Queen
Mary a fazer uma curva, por meio de um remo. Trata-se de
algo incrivelmente difícil e altamente frustrante, algumas
vezes.
Ao invés de uma ditadura radical ou de uma demo­
cracia ampla. Deus preferiu criar o Corpo de Cristo como
nm organismo que tem a Cristo como cabeça, e cada mem­
/ Ignorância Não É Felicidade 39

bro funcionando com algum dom espiritual. Compreender


os dons espirituais, portanto, é a ehave que nos permite
entender a organização espiritual da Igreja.
A Grace Community Church of the Valley, na cidade
de Panorama, no estado da Califórnia, é igreja com uma
incrível taxa de crescimento: mais de quinhentos por cento
a cada década, com uma freqüência matutina atual de mais
de eineo mil pessoas. Ela foi intencionalmente estruturada
em tomo do conceito dos dons espirituais. Disse o pastor
John MacArthur: “Nenhuma congregação local será o que
deveria ser, aquilo que Jesus orou que fosse, ou aquela
que o Espírito Santo dotou e a preparou, enquanto ela não
compreender os dons espirituais”.^ John MacArthur esta­
va com a razão, não somente porque ele tem provado que
esse método funciona, mas também porque ele compreen­
deu o coneeito bíblico da organização do Corpo de Cristo.
As principais passagens bíblicas sobre os dons espi­
rituais reforçam a conclusão acima. Não é por mera coinci­
dência que e n líB ^ s as três mais explícitas passagens so­
bre os dons espiS^ais — Romanos 12, 1 Corintios 12 e
Efésios 4 — os dons são explicados no contexto do Corpo.
“Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles
no corpo, como lhe aprouve” (1 Co 12.18). Isso significa
que não somente Deus organizou o Corpo, tomando por
modelo um organismo humano, mas também chegou ao
ponto de determinar qual seria a função de cada um dos
membros. Por conseguinte, se você resolver organizar a sua
igreja em tomo dos dons espirituais, você estará simples­
mente desvendando o que Deus já determinou para o seu
segmento particular do Corpo de Cristo.

Quem Possui Dons Espirituais?


Nem todos possuem dons espirituais. Os incrédulos
não os possuem. Mas todo crente dedicado a Jesus, e mem­
bro real de Seu Corpo, tem pelo menos um dom, ou, possi­
velmente, mais. A Bíblia assegura que todo crente recebeu
algum dom (ver 1 Pd 4.10), e que “a manifestação do Espí­
rito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso”
40 Descubra Seus Dons Espirituais

(1 Co 12.7). O próprio versículo que examinamos no pará­


grafo anterior salienta que cada um dos membros é posto
no Corpo de acordo com o desígnio divino (ver 1 Co 12.18).
Nenhum crente sequer precisa sentir-se negligenciado,
quando se trata da posse de algum dom espiritual.
Muitos crentes são dotados de vários dons. Mas
quantos dons eles possuem, não sabemos dizê-lo. Esse é
um assunto fascinante, que requer maiores pesquisas. Mas
suspeito que é provável que a maioria, ou mesmo que to­
dos os crentes, têm aquilo que poderiamos chamar de “con­
junto de dons”, e não um único dom espiritual. Dada a
variedade e, o grau em que esses dons se manifestam em
cada caso, e os múltiplos ministérios mediante os quais
cada dom pode ser exercido, a combinação das qualidades
que me foram conferidas e a combinação das qualidades
que foram conferidas a outros crentes, podemos ter, aí, o
mais importante fator na determinação de nossas perso­
nalidades espirituais. Estamos acostumados com a idéia
de que cada indivíduo tem a sua própj/ personalidade.
Minha esposa e eu temos três filhas ,/íjdas nascidas dos
mesmos pais e criadas no mesmo lar; mas cada uma delas
é ímpar. Os filhos de Deus provavelmente se parecem com
isso. Cada crente é um membro, sem par, do Corpo místico
de Cristo, e a identidade de cada um deles é determinada,
em um grau significativo, pelo conjunto de dons que lhe foi
outorgado pelo Espírito.
A saúde da igreja local e seu crescimento espiritual
dependem desse fato. O erudito nazareno, W. T. Purkiser,
afirmou que “toda verdadeira função do Corpo de Cristo
tem um ‘membro’ capaz de executã-la, e cada membro tem
uma função a executar.”®Percebo que essa noção surpre­
ende a alguns crentes, os quais se têm mostrado inativos
na vida de suas igrejas, durante anos, e, depois descobrem
que são necessários, e que foram espiritualmente dotados
para desempenharem o seu papel no Corpo. Isso exprime
uma verdade. A menos que se possa achar um substituto
para agradar a Deus, não hã como substituir a imperiosa
necessidade de você descobrir o seu conjunto de dons e de
/ Ignorância Não É FeUdcãade 4 /

saber, com certeza, que está fazendo aquilo que Deus lhe
designou.
Gostaria de não ter de salientar o que passo a dizer,
mas infelizmente assim acontece. Quando Paulo diz que o
Espírito distribuiu os dons a cada um, “visando a um fim
proveitoso” (1 Co 12.7), ele obviamente quis dizer a cada
crente. As mulheres crentes, tanto quanto os homens cren­
tes, são membros do Corpo e recebem dons espirituais.
Senti-me um tanto transtornado, hã algum tempo,
quando li um artigo, escrito por Nancy Hardesty, no qual
ela argumenta, com uma boa dose de vigor feminino, que
as mulheres também possuem dons espirituais. Senti-me
mal, não por causa do artigo, propriamente dito, que é ex­
celente; mas, porque tal artigo precisou ser escrito. Em seu
artigo, aquela irmã lamenta que ãs mulheres tem sido dado
pouco destaque, por parte das igrejas em geral; e eu creio
que essa observação é exata.
Se ao menos as mulheres, que constituem mais de
cinquenta p o l^ m to dos membros de Igreja, nos Estados
Unidos da A m é r í^ pudessem ser encorajadas e se lhes
fosse permitido usar seus dons espirituais, uma tremenda
força dinâmica seria liberada em prol do crescimento das
igrejas, força essa que atualmente vive contida. E não so­
mente isso, mas Nancy Hardesty salientou uma outra coi­
sa que talvez seja até mais importante. “Em última análise,
a recusa de permitir que as mulheres usem seus dons na
igreja e no mundo é uma forma de blasfêmia contra o Espí­
rito Santo”.E s s a s são palavras vigorosas, mas, quando
meditamos acerca delas do ponto-de-vista teológico, pro­
vavelmente elas ferem um ponto decisivo e vital.

Os Dons de Deus e a Chamada de Deus


É comum os crentes falarem em sua “chamada”. Par­
te do nosso vocabulário religioso é que: “Deus me chamou
para fazer isto ou aquilo”. É útil reconhecermos que a “cha­
mada” de um crente e seus dons espirituais estão intima­
mente associados, uma coisa ã outra.
Quando relacionada ao objetivo de cumprir a vontade
42 Descubra Seus Dons Espirituais

de Deus ou de funcionar dentro do Corpo de Cristo, a cha­


mada geral de um crente equivale aos seus dons espiritu­
ais. Não existe melhor arcabouço, dentro do qual devamos
interpretar a chamada de um crente, do que o seu conjun­
to de dons. Pois Deus não dá dons a um crente para os
quais Ele não tenha uma chamada. E nem Ele chama al­
guém para fazer algo, sem primeiro equipá-lo com o dom
ou os dons necessários para tanto.
Entretanto, além da chamada geral, há também uma
chamada especifica. Alguns gostam de refeiir-se a essa
chamada específica como o “ministério” de alguém. Assim,
o ministério, ou chamada específica, determina a maneira
particular ou a combinação particular em que Deus deseja
que o crente exerça o dom ou os dons que Ele concedeu.
Para exemplificar, um crente pode ter recebido o dom de
ensinar, e pode ter sido chamado especificamente para usar
esse dom entre as crianças, ou a fim de falar pelo rádio, ou
a fim de escrever livros. Uma pessoa pode ter recebido um
dom missionário e, então, ser chamada pajl usar esse dom
na Zâmbia. Dentro da chamada geral/pfovida para cada
dom, pois, há muitas maneiras específicas, mediante as
quais tal dom poderá vir a ser ministrado.

Que é um Dom Espiritual?


Por esta altura, precisamos fazer uma pausa e definir
exatamente o que significa um dom espiritual. A definição
funcional, que prefiro usar, é a seguinte:
Dom espiritual é um atributo especial, dado pelo Espí­
rito Santo, a cada membro do Corpo de Cristo, de acordo
com a graça divina, para ser usado dentro do contexto do
Corpo.
Essa é uma definição compacta que pude formular,
retendo ainda aquilo que considero como seus elementos
essenciais. Vários desses elementos, a saber, “atributo es­
pecial”, “dado pelo Espírito Santo” e “a cada membro do
Corpo de Cristo”, já foram discutidos de modo suficiente.
Duas frases precisam ainda ser examinadas, entretanto.
“De acordo com a graça divina” é uma frase adequada
/ Ignorância Não E Felicidade 43

ao próprio vocabulário e às expressões da Bíblia. O termo


grego comum para indicar os “dons esp iritu a is” é
"charísmata", no singular, charísma. É absolutamente ób­
vio que os nossos termos contemporâneos, “movimento
carismático” e “carismáticos” derivam desse vocábulo gre­
go. Porém, há algo mais envolvido, visto que o termo
charísma vem da palavra charis, que, no grego, significa
graça. Por conseguinte, há uma bem próxima relação entre
os dons espirituais e a graça de Deus.
Apesar de que não se requer aqui um estudo de termo
bíblico completo, pode ser útil observar, de passagem, duas
coisas concernentes às palavras gregas em pauta.
Em primeiro lugar, charísmata não é um sinônimo
exclusivo para os dons espirituais. Esse vocábulo também
é empregado com outros sentidos na Bíblia, como se vê em
Romanos 6.23: “. . .porque o salário do pecado é a morte,
mas o dom [charísma] gratuito de Deus é a vida eterna em
Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Em segu li^lu gar, charísmata não é a única palavra
usada no Novo ”ra ^ m en to para indicar os dons espiritu­
ais, embora seja a mais comum. Por exemplo, em 1 Coríntios
12.1, lemos: “A respeito dos dons espirituais. . .,” onde a
palavra grega pneumatikós significa, mais Literalmente, “coi­
sas espirituais,” ou simplesmente, “espirituais.” Porém, no
resto desse mesmo capítulo, quando o assunto é elaborado
por Paulo, a palavra charísmataé usada cinco vezes. Ainda
uma outra palavra grega é usada, em Efésios 4.8, para in­
dicar os dons espirituais, domata[no singular, doma), uma
palavra de sentido mais geral, para indicar os dons. Mas,
mesmo neste último contexto, ela está intimamente relaci­
onada à graça referida no versículo anterior: “E a graça foi
concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom
de Deus” (Ef 4.7). Essa frase nos faz relembrar a “medida
da fé”, referida em Romanos 12.3, que também está ligada
aos charísmata de Romanos 12.6.
Assim preceitua o grego. O principal propósito desse
destaque é indicar a ligação íntima que existe entre os dons
espirituais e a graça de Deus. Eis o motivo pelo qual inclu­
4 4 Descubra Seus Dons Espirituais

ímos a frase “de acordo com a graça de Deus”, na nossa


definição funcional.
A frase final da definição é: “para ser usado dentro do
contexto do Corpo”. Os crentes, individuais, desconexos
do Corpo, não se mostram muito úteis. Os dons espirituais
não se destinam a Cavaleiros Solitários, mas a membros
do Corpo de Cristo. O professor Jack MacGorman, do
Southwestern Baptist Seminary, coloca bem a questão
quando assevera: “Os dons não somente são funcionais,
mas também são congregacionais.”^ Quase tudo quanto
Deus está fcizendo no mundo é feito através de crentes que
estão trabalhando ju n to s, em uma com unidade,
complementando-se uns aos outros, com os seus dons es­
pirituais, em suas respectivas congregações locais.
O contexto do Corpo, conforme uso o termo, não sig­
nifica que os dons sempre olham para dentro, para uso
somente no seio da igreja local e para benefício mútuo dos
crentes. Muitos desses dons, como o de evangelista, o de
missionário e o de serviço, tém em v i s t ^ 'iseficiar ãqueles
que ainda não se tomaram membros ^ C o rp o . Mas o pon­
to é que esses dons, mesmo quando olham para fora do
Corpo, ainda assim, não se destinam a crentes isolados,
mas a crentes que trabalham em equipe, para que o traba­
lho seja feito da melhor maneira possível.

Descubra, Desenvolva e Use os Seus Dons Espirituais


Se os dons espirituais em operação são tão importan­
tes para Deus, para a Igreja e para os crentes individuais
como venho tentando descrever, então algo deveria ser fei­
to acerca deles, em um sentido prático e pessoal. À luz do
claro ensino da Palavra de Deus, penso que não erro ao
afirmar que um dos exercícios espirituais básicos, no caso
de qualquer crente, é descobrir, desenvolver e usar os seus
dons espirituais. Outros exercícios espirituais podem ser
igualmente importantes: a adoração, a oração, a leitura da
Palavra de Deus, alimentar os pobres, ou qualquer outra
atividade. Mas desconheço qualquer coisa mais importan­
te do que descobrir, desenvolver e usar os dons espirituais.
/ Ignorância Não É Felicidade 45

(N.E.: Recomendamos a leitura de O Supremo Cha­


mado de Larry Lea).
O crente que deseje realizar a vontade de Deus, mas
que não saiba como fazê-lo, ou como funcionar no Corpo
de Cristo, precisa dar toda a prioridade à descoberta de
seus dons espirituais. Elizabeth 0 ’Connor, da Igreja do
Salvador, em Washington, D.C., uma igreja nacionalmente
conhecida devido ao uso que faz dos dons espirituais, colo­
ca a questão como segue: “Pedimos para saber a vontade
de Deus, sem ao menos pensarmos que a Sua vontade está
inscrita em nossos próprios seres. Mas percebemos isso
quando discernimos os nossos dons.”®
“Descobrir” vem antes de “desenvolver”, porque os
dons espirituais são recebidos, e não conquistados. Deus
distribui os Seus dons, de acordo com Sua própria discri­
minação. O trecho de 1 Co 12.11 ensina como o Espírito
distribui os dons “como lhe apraz, a cada um, individual­
mente”. Mais amante, no vs.l8, diz que Deus colocou os
membros no dÍB |^“como lhe aprouve”. Deus não confiou
a pessoa alguma^íyistribuição dos dons espirituais. Ne­
nhum pastor, nenhum superintendente de presbitério,
nenhum presidente de seminário, e, menos, o próprio papa
está qualificado para dispensar os dons espirituais.
Outrossim, ninguém se esforça arduamente para en­
tão ser recompensado, com algum dom espiritual. Estes
são dádivas graciosas, e, como tal, emergem de Deus, sem
qualquer alusão a grau de mérito ou santificação que qual­
quer crente tenha atingido. O fato que os dons espirituais
podem ser dados até mesmo para crentes recém-converti-
dos, antes mesmo que tenham tido tempo para amadure­
cer no Corpo de Cristo, confirma isso.

“Descobrir os Dons” ê Contraprodutivo?


Gene Getz, professor do Dallas Seminaiy e pastor fun­
dador da dinâmica Fellowship Bible Church, em Dallas, é
um dos mais notáveis mestres da Bíblia em assuntos ecle­
siásticos. Getz discorda da idéia de que é importante para
os crentes descobrirem os seus dons espirituais. Durante
46 Descubra Seus Dons Espirituais

muitos anos, ele ensinou que os crentes devem esforçar-se


para descobrir os seus dons; mais recentemente, porém,
ele reverteu a sua posição/
A posição de Getz merece uma consideração bem pen­
sada. Antes de tudo, ele é um profundo estudioso da Bí­
blia, e não se inclinaria por chegar a conclusões apressa­
das. Em seguida, e bem a propósito no que concerne a este
livro, a igreja que ele implantou em 1972, a FeUowship Bible
Church, tem desfrutado de um notãvel crescimento. Ao
articular a filosofia de ministério de sua igreja, Getz frisou
o conceito da “maturidade do corpo”. Ele destaca a fé, a
esperança e o amor, juntamente com as qualidades de li­
derança alistadas em 1 Timóteo 3 e em Tito 1, ao invés de
enfatizar os dons espirituais.
Em seu livro, Building Up One Another, Getz alistou
os motivos pelos quais rejeita a idéia de tentar descobrir os
próprios dons espirituais. Essas razões servem para cata­
logar alguns dos precipícios reais que precisamos evitar,
sem importar a posição que queiram os^ tmr. É conveni­
ente mencioná-los aqui, a fim de que/^ssamos conservá-
los em mente, enquanto avançamos em nossa discussão.
Deixe-me sumariar esses precipícios:

1. Confusão. Ensinar os crentes a descobrirem os dons


espirituais que receberam ao se converterem, na
verdade tem levado muitas pessoas, (até mesmo cren­
tes maduros), a ficarem confusas.
2. Racionalização. Alguns tendem a fixar a sua atenção
em um suposto dom, usando isso como racionaliza­
ção, para não cumprirem outras responsabilidades
bíblicas. Exemplificando, uma pessoa poderia dizer
que tem o dom de ensinar mas não de pastorear. Ou
alguém poderia dizer que não tem o dom do
evangelismo, porque não gosta de compartilhar de
Cristo com os perdidos.
3. Auto-üusão. Algumas pessoas pensam que possuem
um certo dom espiritual quando, na verdade, não o
possuem.
/ Ignorância Não É Felicidade 47

Getz mostrou-se insistente e poderoso nesse ensino


porque, conforme ele disse: “Subitamente raiou-me na
mente, um dia” que em parte alguma, em I Coríntios 12,
Romanos 12 ou Efésios 4, podemos achar qualquer exorta­
ção, dirigida aos crentes, para que tentem descobrir seu
dom ou dons espirituais”."*
Já pensei muito sobre a contestação de Getz. Pergun­
tas dessa natureza, por muitas vezes, são suscitadas nos
seminários que dirijo. Hesito em contradizê-lo porque, afi­
nal, ele é um bem sucedido plantador de igrejas e pastor.
Admiro muito a colegas professores de seminário que são
capazes (ou deveria eu dizer, “que possuem o devido com­
plexo de dons”) de combinar o prático com o teórico, como
fciz Gene Getz.
Não obstante, quero dizer que não penso que Getz
tenha dado a devida consideração ao trecho de Romanos
12.1-6. Não preciso entrar em detalhes, visto que tudo isso
já foi discutido. Basta-me salientar, uma vez mais, que me
parece haver:(|fta clara e lógica relação entre ter “diferen­
tes dons” (ver RmH|2.6) e pensar “com moderação” sobre si
mesmo (ver Rm 2.3), e então em fazer “a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Ora, quero ser logo o primeiro a admitir que existem
muitos crentes maduros, fiéis e úteis que estão cumprindo
a vontade de Deus, sem serem capazes de descrever, em
termos claros, quais sejam os seus dons espirituais espe­
cíficos. Por certo, muitos crentes, no decorrer dos séculos,
e mormente aqui, na América do Norte, antes da “coisa
nova” sobre a qual falei na Introdução a este livro que têm
cumprido a vontade de Deus de maneira notável. Muitos,
na realidade, estão usando seus dons espirituais, posto
que não possam articular o que estão fazendo. Sem dúvi­
da, creio sinceramente que alguns irmãos estão atuando
de acordo com o “Plcmo B” de Deus para as suas vidas.
Penso que Romanos 12.1-6 é trecho claro o bastante para
ensinar-nos que existe um “Plamo A ” de Deus, para os mem­
bros do Corpo de Cristo, ou seja, que o Senhor quer que
eles tenham plena consciência do papel que cada qual de­
48 Descubra Seus Dons Espirituais

sempenha dentro do corpo “bem ajustado e consolidado,


pelo auxílio de toda Junta, segundo a justa cooperação de
cada parte” (Ef 4.16). O “Plano B” é funcional. Mas o “Plano
A ” de Deus, sem a menor dúvida é o melhor.
O fato de que muitas igrejas, cuja filosofia de ministé­
rio segue o “Plano B,” estão crescendo apenas reafirma o
que os líderes de igrejas crescentes a miúde afirmam: o
crescimento da igreja é um fenômeno complexo. É possível
a uma igreja sair-se mal, quanto a um princípio de cresci­
mento, e ainda assim continuar crescendo, se outros prin­
cípios de crescimento estiverem funcionando eficazmente.
Uma visão particular sobre os dons espirituais não serve
de fórmula —à prova de fogo — do crescimento eclesiásti­
co. Em muitos casos, contudo, embora nem sempre, um
despertamento dos dons espirituais, que mobilize os mem­
bros em tomo dos dons, biblicamente identificados e defi­
nidos, que encoraje o Corpo a funcionar com seus mem­
bros a trabalharem juntos, mediante o poder do Espírito
Santo, ajudará uma igreja a sair de sua 1^ ’ ^ia, tão certa­
mente como a vacinação impede uma ^ M e m ia de varíola.
As objeções levantadas por Gene Getz contra o desco­
brimento prático e o uso dos dons espirituais são reais.
Confusão, racionalização e auto-ilusão podem provocar
problemas sérios. Porém, não são obstáculos insuperáveis.
A confusão pode ser eliminada, quando um vigoroso ensi­
no bíblico sobre os dons é provido em um contexto de cui­
dados pastorais sensíveis. A racionalização toma-se me­
nos útil como opção, quando o relacionamento devido en­
tre os dons e os papéis é esclarecido. A auto-ilusão evapo-
ra-se, quando o Corpo está funcionando bem o bastante
para que os membros compartilhem de suas percepções
acerca dos dons dos irmãos, em um ambiente de franque­
za e amor.
Antes de encerrarmos o assunto do descobrimento
dos dons espirituais, teremos apenas que contemplar dois
gmpos de textos que têm causado problemas para alguns
estudiosos da Bíblia.
O primeiro é formado por um par de versículos inter­
I Ignorância Não É Felicidade 4 9

ligados: 1 Corintios 12.31 e 1 Coríntios 14.1. Ambos usam


o verbo “procurar” os dons espirituais. Mas nenhum des­
ses versículos é dirigido a crentes individuais. Ambos refe­
rem-se à igreja em Corinto, como um todo, uma igreja que
havia caído no erro particular de elevar o dom de línguas
acima de todos os demais dons. Esses versículos não de­
vem ser considerados uma norma a ser seguida por cren­
tes individualmente.
O segundo grupo é, novamente, um par: 1 Timóteo
4.14 e 2 Timóteo 1.6. Nesses versículos Paulo assevera que
Timóteo recebera um dom mediante a imposição de suas
mãos e das mãos do presbitério. A comum interpretação
disso, ã luz das muitas outras passagens bíblicas sobre o
assunto, é que a função de um colégio de anciãos ou pres­
bitério é impor as mãos, quando o dom que Deus deu a
alguém é reconhecido pelo Corpo, um ato que autoriza o
ministério daquele dom, de forma oficial. Sem importar
outras funçõesgue os crentes possam ter, no campo da
confirmação ^ ll^^on s, devemos lembrar que o Espírito
Santo distribui ó i » n s espirituais conforme “lhe apraz” (1
Co 12.11).

Os Benefícios dos Dons Espirituais


O que acontece quando um crente resolve descobrir,
desenvolver e usar seu dom ou dons espirituais?
Antes de tudo, tomar-se-á um crente melhor e mais
capaz de permitir que Deus faça sua vida ser útil em Suas
mãos. Os crentes que reconhecem os seus dons, por assim
dizer, conservam as mãos sobre a sua atuação espiritual,
capazes de controlá-la melhor. Encontram o seu lugar na
igreja local, com menos tensões. Com freqüência tenho dito,
um tanto jocosamente, que um benefício imediato dos mem­
bros das igrejas, ao descobrirem quais são os seus dons
espirituais, é que a comissão nomeadora pode ser convocada
e uma comissão de selecionamento pode ser chamada para
atuar. Atualmente, já não fico fazendo piadas. Faz agora
alguns meses que recebi uma carta do pastor Paul Erickson,
da First Covenant Church, de Portland, no estado do
50 Descubra Seus Dons Espirituais

Oregon, que vinha estudando crescimento eclesiástieo no


programa Fuller Doctor of Ministry. Sua missiva diz: “Nos­
sa gente aliou-se à excitante busca da descoberta e do uso
de seus dons espirituais. Seis de nossos membros entra­
ram em contato com a comissão nomeadora para servir
nas juntas no ano que vem!”
Os crentes que reconhecem os seus dons espirituais
tendem a desenvolver uma saudável auto-estima. Isso não
significa que se tenham em mais alta conta do que deverí­
am fazê-lo. Antes, aprendem que, sem importar quais se­
jam os seus dons, eles são importantes para Deus e para o
Corpo de Cristo. O olho aprende a não dizer: “Porque não
sou olho, não sou do corpo” (1 Co 12.16). O aleijante com­
plexo de inferioridade cai por terra, quando as pessoas co­
meçam a pensar sobre si mesmas “com moderação”.
A humildade é uma virtude cristã. Mas, como quase
tudo que é bom, pode haver aí um exagero. Alguns crentes
mostram-se tão humildes que virtualmente não têm utili­
dade no Corpo. Essa é uma falsa h u m il^ ra^e por muitas
vezes ê estimulada pela ignorãneia acç^a dos dons espiri­
tuais.
As pessoas que se recusam a dizer qual ê o seu dom
espiritual, com base de que seria uma arrogância e uma
presunção, apenas exibem sua ignorância quanto ao ensi­
no bíblico a respeito dos dons. Alguns, talvez, até tenham
algum motivo mais profundo para não se verem envolvidos
com algum dom — pois não querem ser considerados res­
ponsáveis por seu uso. Nesse caso, a humildade estará
sendo usada eomo capa para disfarçar a desobediência.
A maioria dos crentes que reconheeem os seus dons
espirituais, não se deixa atolar em atitudes tão negativas.
Esses crentes amam a Deus e a seus irmãos e irmãs na fé,
e também amam a si mesmos, naquilo que Deus os fez ser.
Não se orgulham de seus dons espirituais, mas mostram-
se agradecidos pelos mesmos. Trabalham juntos com ou­
tros membros do Corpo, com harmonia e eficiência.
Em segundo lugar, reconhecer os dons espirituais não
só ajuda os crentes individuais, mas também a igreja local
/ Ignorância Não E Felicidade S i

como um todo. O quarto capítulo de Efésios ensina-nos que,


quando os dons espirituais estão atuando, o Corpo inteiro
amadurece. Isso ajuda o Corpo a tomar-se “homem perfei­
to” e a abandonar o estado de infantilidade espiritual (ver
Ef 4.13,14).
Quando uma igreja local amadurece, geralmente eres-
ce. Quando o Corpo de Cristo está funcionando bem, e há
uma “justa cooperação de cada parte”, verifica-se “o seu
próprio aumento” (Ef 4.16). Há uma ligação claramente
bíblica entre os dons espirituais e o crescimento da Igreja
local. Este livro inteiro é a elaboração de como essa ligação
funciona na prática.
O terceiro e mais importante fator, gerado pelo reco­
nhecimento dos próprios dons espirituais é que isso glorifi­
ca a Deus. O trecho de 1 Pedro 4.10,11 aconselha os cren­
tes a usarem seus dons espirituais, para então explicar o
motivo para tanto: “. . .para que em todas as coisas seja
Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem perten­
ce a glória e G^jMmnio pelos séculos dos séculos. Amém”.
Que poderia h a ^ fc ^ melhor do que glorificar a Deus? De
acordo com o Catecismo de Westminster, essa é “a princi­
pal finalidade do homem”.

Mordomia dos Dons: Perigos e Deleites


A Bíblia diz-nos, clara e diretamente, que os crentes
são mordomos dos dons espirituais. (Ver 1 Pedro 4.10).
A mordomia, no sentido neotestamentário, envolve
uma estonteante responsabilidade. Estonteante, porque a
própria noção de mordomia envolve a indiscutível dimen­
são da idéia de prestar conta.
De acordo com 1 Coríntios 4.2; “. . .o que se requer
dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel”.
Esse versículo por muita vezes tem sido erroneamente in­
terpretado. Já ouvi pessoas citarem esse versículo e então
ajuntarem a isso a declaração; “Deus não requer sucesso;
Ele só requer fidelidade”. Esse tipo de conclusão pode tor-
nar-se uma piedosa desculpa para a preguiça, a irreflexão,
a incompetência ou a falta de coragem de certos crentes.
5 2 Descubra Seus Dons Espirituais

De modo algum a mordomia cristã significa isso, nas pági­


nas do Novo Testamento.
A chave para a mordomia cristã acha-se na parábola
dos talentos, em Mt 25.14-30. Três mordomos quanto ao
mundo dos negócios desta vida receberam diferentes capi­
tais. A respKjnsabilidade deles era usar esses recursos para
o seu devido propósito no mundo dos negócios — fazer mais
dinheiro. Dois dos três conseguiram duplicar o dinheiro
que receberam; quando chegou o dia da prestação de con­
ta, eles foram chamados de “servo bom efiel". A fidelidade
deles estava diretamente ligada ao seu sucesso. Mas o ter­
ceiro mordomo mostrou-se um homem tímido e um
negativista. Por isso, não foi capaz de reconhecer o poten­
cial dos recursos que havia recebido. Nada fez com o seu
capital, e foi julgado como um “servo mau e negligente”.
Cada dom espiritual que nos foi dado ê um recurso
que precisamos usar, e acerca do qual seremos considera­
dos responsáveis, por ocasião do julgamento do Tribunal
de Cristo. Alguns recebem um dom, o i ^ Tçdois e outros
cinco. Não importa com quantos donai^n crente comece.
Os mordomos são responsáveis somente por aquilo que o
Senhor tiver preferido conferir-lhes. Mas os recursos que
temos devem ser usados para cumprir o propósito do Se­
nhor. Não há tempo que se compare com o presente para
começarmos a nos preparar para responder ãquela per­
gunta que cada um de nós haverá de ouvir, afinal, dos lábi­
os de nosso Senhor: “Que fizeste com o dom espiritual que
te dei?”
Tragicamente, muitos crentes não serão capazes de
responder a essa pergunta. E também não serão chama­
dos de “servo bom e fiel”, pelo menos quanto a essa área de
suas vidas, porquanto ignoraram os dons espirituais. Ig­
norância não é felicidade!

Podemos Abusar dos Dons


Há muitas maneiras pelas quais podemos abusar dos
dons espirituais. O erudito metodista unido, Kenneth
Pünghom, descreveu os extremos, por meio das coloridas
/ Ignorância Não É Felicidade 53

palavras gregas charisphobia e charismania.^ Alguns da­


queles que têm plena consciência do potencial dos dons
espirituais usam-nos para adquirir poder, obter riqueza,
tirar vingança ou explorar a seus irmãos na fê. Não tenta­
rei expandir esse erros e nem catalogar todos os abusos
contra os dons espirituais, hoje, tão comuns entre os cren­
tes. Mas quero nomear dois desses erros e comentá-los, já
que os considero especialmente generalizados e contra-pro-
dutivos, quanto ao crescimento da igreja.
O primeiro é a exaltação de um dom espiritual. Em
alguns círculos, tomou-se popular exaltar um dom acima
de outros. Possuir um certo dom ê sinal de alta posição
espiritual em alguns gmpos cristãos. Assim, cidadãos de
primeira classe são separados de cidadãos de segunda clas­
se, com base no exercício de dons.
Quando isso sucede, os dons tendem a tomar-se fi­
nalidades em si mesmos. Pois glorificam o usuário, ao in­
vés de glorifica^n o Doador. Beneficiam o indivíduo, e não
o Corpo. P rod fl^ B ^ orgulho e a auto-indulgência. Os cren­
tes de Corinto ha«^|n caído nessa armadilha, e Paulo es­
creveu os capítulos doze a catorze de 1 Corintlos na tenta­
tiva de corrigir essa situação. Todos nós precisamos dei­
xar-nos advertir, evitando a exaltação própria, em face de
algum dom recebido.
Enquanto eu revisava a literatura acerca dos dons
espirituais, descobri que essa exaltação mtidra em lugares
inesperados. Certo autor, por exemplo, chamou a profecia
de o maior dos dons. Um outro destacava o dom da sabe­
doria. Ainda um outro sugeria que, talvez, seja o apostolado.
Eu mesmo, porém, não acredito que um dom seja mais
importante do que outro. Parece que certos dons são mais
apropriados do que outros, em determinadas situações,
certos grupos e certas tarefas. Na situação de Corinto, a
profecia era mais necessária do que as línguas, por exem­
plo. Conforme disse Charles Hummel: “Paulo selecionava e
organizava conslstentemente os dons, a fim de ilustrar a
diversidade, e não indicar seqüêncla de importância. E onde
pareça haver alguma ordem lógica, isso deve ser entendido
54 Descubra Seus Dons Espirituais

dentro do contexto da passagem, não se tomando isso uma


avaliação absoluta para todas as ocasiões”.^®
O segundo desses abusos é a projeção de dons. A maior
parte dos crentes sobre cujas vidas foram escritas biografi­
as realizaram coisas extraordinárias. O que habilitou suas
vidas, para se tomarem motivo de uma biografia? Só pode
ter sido que Deus lhes deu algum dom ou dons espirituais
de uma maneira incomum, e que eles desenvolveram esses
dons de forma diligente, e também que usaram esses dons
para a glória de Deus e para o benefício do Corpo de Cristo.
Poucos biógrafos, entretanto, e poucos heróis dessas
biografias, têm sido pessoas sensíveis para com o ensino
bíblico, acerca dos dons espirituais. Isso tem feito tais pes­
soas enveredarem por outra abordagem, na tentativa de
explicarem a causa de seus feitos incomuns. Ordinaria­
mente, essa outra abordagem inclina-se para a “teologia
da consagração,” e não para a “teologia dos dons”. Em ou­
tras palavras, é destacada a idéia de que t ^ ou qual pessoa
destacou-se por ter amado tanto a Deu#^ você amasse
tanto a Deus, seria agora capaz de re^1?ár a mesma coisa.
E se você não estã sendo capaz de grandes realizações em
sua vida, então já sabe qual é o motivo. Há algo de defici­
ente em seu relacionamento com Deus.
Muitas pessoas que costumam ler essas biografias,
na verdade, são crentes consagrados a Deus. Por esse mo­
tivo, geralmente, são os que se sentem mais frustrados,
culpados e derrotados, ao tomarem conhecimento desses
gigantes da fé. E para piorar mais ainda o quadro, quando
os heróis daquelas biografias ignoram os dons espirituais,
eles ocupam-se naquilo que chamo de “projeção do dons”.
Tendem a dizer, em honesta humildade: “Ora, sou um crente
ordinário, em nada diferente de qualquer outro. Isso é o
que eu faço, e Deus abençoa o que faço. Se você agir como
eu ajo. Deus haverá de abençoá-lo da mesma maneira que
me tem abençoado”. O que não dizem, desafortunadamen-
te, é: “Posso fazer o que faço porque Deus me deu certo
dom ou combinação de dons. Se você vier a descobrir que
Deus lhe deu a mesma coisa, junte-se a mim, quanto a
/ Ignorância Não É Felicidade 5 5

isso. Em caso contrário, nós nos amaremos e nos ajudare­


mos mutuamente, como membros diferentes do Corpo”.
As pessoas atacadas pela síndrome da projeção de
dons querem que o Corpo inteiro de Cristo seja um olho. E
assim, embora sem querer fazê-lo, impõem a seus irmãos
na fé um senso de culpa e vergonha. Eles fazem os pés
dizerem: “Porque não sou mão, não sou do corpo” (1 Co
12.15). Usualmente não fazem a mínima idéia de quão de­
vastadora, para os membros menos espiritualmente dota­
dos do Corpo, é a projeção dos dons. Eles se assemelham
ao mordomo, na parábola, que voltou com dez talentos, e
disse ãquele que voltara com quatro: “Se você amasse mais
ao Senhor, também teria voltado com dez,” sem mencionar
que o Senhor lhe dera cinco talentos, para começar, ao
passo que o outro recebera somente dois talentos.
Os crentes que empregam a projeção de dons, não
somente impõem um grande senso de culpa sobre outros,
mas também, ^ que é mais sério, deixam de reconhecer
que a razão ^^Bm tros crentes são diferentes é não possu­
írem cinco talen l^ , mas talvez apenas dois, porquanto
assim resolveu fazer o Espírito Santo, o qual distribui Seus
dons “como lhe apraz, a cada um, individualmente” (1 Co
12.11). De certo modo, estão pondo em dúvida a sabedoria
e a soberania de Deus, nesse particular. Estão se permitin­
do desenvolver uma espécie de complexo de criador — a
tentativa de fazer outros crentes serem réplicas da imagem
deles.
George Muller de Bristol, na Inglaterra, por exemplo,
tem sido chamado de “o apóstolo da fé”. Um certo número
de biógrafos tem escrito acerca dele, descrevendo a manei­
ra como Deus operou por meio dele, para cuidar de órfãos,
hã, mais ou menos, cem anos atrás. Tenho lido alguns des­
ses biógrafos dizerem que George Muller teria sido alistado
no Livro Guiness de Recordes Espirituais do Mundo, se tal
livro tivesse existido nos dias dele. Ele tinha outros dons
também, mas um de seus maiores dons era o da fé. Muller,
todavia, até onde sei das coisas, nunca reconheceu isso
como um dom espiritual. Em um ponto alto de sua biogra-
56 Descubra Seus Dons Espirituais

íia, quando os leitores ficam simplesmente deslumbrados,


diante dos feitos espirituais dele, diz o Sr. Muller: “Não
deixem que Satanás os engane, levando-os a pensar que
não poderíam ter a mesma fé, e que essa fé é apanágio
exclusivo de pessoas como eu. . . oro ao Senhor e espero
resposta ás minhas petições; e você não podería fazer a
mesma coisa, caro leitor crente?” “
A certa altura, ainda no começo de minha vida cristã,
eu costumava ler um bom número de biografias. Então parei
quase completamente; e a principio não sabia dizer por qual
razão. O que agora sei dizer é que, embora proporcionas­
sem uma leitura agradável, quando eu terminava, me sen­
tia um trapo. Eu sempre sentia que, “se ele pôde fazer isso,
então eu também posso”. Agora, pois, penso que sei por­
que parei de ler aquelas biografias — eu não gostava de me
sentir um trapo! O que mais me incomodava eram aquelas
palavras, “caro leitor crente”. Eu estava sendo vítima, sem
sabê-lo, da “projeção de dons”. E então, visto que eu estava
ainda operando com base nos pressuposj/ teologia da
consagração, e não com base na teoloâ^?iíos dons, eu não
sabia direito o que podería fazer a respeito.
Nos capítulos que seguem, quando estivermos estu­
dando os dons espirituais específicos, vez por outra have­
rei de relembrar o leitor da síndrome da projeção de dons.
Não somente tenho sentimentos pessoais acerca dessa
questão, conforme já descreví, como também acredito que,
em muitos casos, tal síndrome está entravando o cresci­
mento das igrejas locais.

Notas

1. Doravante, os trechos bíblicos citados em itálicos seráo adicionados pelo autor para efeito de ênfase.
2. John MacArthür, Jr., The Om rch — the Body o f Christ (Grand Rapids: Zondervan Publishlng House,
1973), pág. 136.
3. W. T. Purkiser, The Gí/ls o f tiie Spirit (Kansas City: Beacon HÜl Press, 1975), pág. 21.
4. Nancy Hardesty, “Gifts,” 77ie OtíierSide (julho-agosto de 1977), pág. 40.
5. JackW . MacGorman, The GiftsqftJie Spírií (Nashville, Broadman Press, 1974), pág. 31.
6. Elizabeth 0 ’Connor, EighÜi Day o f Criation: Gifts and CreativiLy (Waco, Word Books, 1371), pág. 15.
7. Gene A. Getz desenvolveu esse ponto em suas obras. A primeira delas é SJv^rpening tlie Focus on the
C/iurch. {Chicago: Moody Press, 1974), págs. 112-117; e, mais recentemente, em BuÜding Up One AnoOwr
(Wheaton: Vlctor Books, 1976), págs. 9-16.
8. Getz, Buildii^ Up OnAnother, pág. 9.
9. Kenneth Cain Kinghom, Gifts o f the Spirit (Nashville: Abingdon F*ress, 1976), pág. 95.
10. Charles E. Hummel, Fire in the Fireplace (Downers Grove, Inter-Varsity Press, 1978), pág. 246.
11. Basii Miller, George Muller: The Man o f Faith (Grand Rapids, Zondervan Publíshing House. 1941), pág.
58).
2
Q ue São os D ons?
U ma A bordagem I limitada

ntes que possamos discutir mais sobre as impli­


cações dos dons espirituais, no tocante ao cresci-
merH|B^greja local, precisamos ser tão especifi-
cos qii£^%^possível, a respeito de que são, real­
mente, os dons espirituais, e quais, dentre eles,
estão disponíveis para as igrejas de hoje.
A abordagem a esse respeito será tão ilimitada quan­
to possível. Conforme já verificamos com alguns detalhes,
visto que a Bíblia não nos aprisiona em restrições aperta­
das, quanto ao número dos dons espirituais, parece que
temos nisso um modo de proceder legítimo. Minha inten­
ção é fazer isso de tal maneira, que qualquer igreja que
deseje usar os dons espirituais, para que possa crescer
melhor, seja capaz de ajustar-se ao método.
Penso que isso pode ser feito, porque acredito forte­
mente na universalidade dos dons espirituais. Todo crente
possui dons espirituais, como também toda igreja local.
Muitos desses talentos, porém, continuam enterrados, como
aquele talento não usado, do capítulo vinte e cinco de
Mateus; mas esses dons podem ser desenterrados e usa­
dos para a glória de Deus, visando ao desenvolvimento das
igrejas locais. Os dons espirituais destinam-se às Igrejas
58 Descubra Seus Dons Espirituais

metodistas e às igrejas batistas conservadoras. Pertencem


às igrejas “holiness” e às igrejas pentecostais. São para as
igrejas arminianistas e para as igrejas calvinistas. Cabem
às igrejas pequenas e às igrejas grandes; às igrejas subur­
banas e às igrejas do centro das cidades; para as igrejas
nacionais e para as igrejas estrangeiras. Também perten­
cem às igrejas que usam a Bíblia Anotada de Scojield e que
usam a Bíblia em Linguagem Popular. São para toda a Igre­
ja, da qual Cristo é o Cabeça, cujos membros fazem parte
de Seu Corpo.
E os dons espirituais funcionam. Quando os dons não
estão funcionando, está havendo algo de errado com a saúde
do Corpo. Se a Bíblia é clara, então ela deixa explícito que
Deus (1) quer que todo crente tenha e use um ou mais dons
espirituais; (2) Ele quer que todas as Suas ovelhas perdidas
sejam achadas e que a Sua Igreja cresça. Os dons espiritu­
ais são útéis. São funcionais. Têm um papel a cumprir e,
se estiverem funcionando devidamente, a tarefa será reali­
zada. Quando os dons operam juntos, e f : &í.na igreja que
quer crescer e esteja disposta a p a ga ^ j preço do cresci­
mento, então verá a bênção divina e passará a crescer.
À medida que formos avançando neste livro, irei des­
crevendo vinte e sete diferentes dons espirituais. Esse não
é nenhum número mágico. Provavelmente hã um maior
número de dons, mas talvez possam ser agrupados em uma
lista menor. Essa variação será explicada no momento apro­
priado.
A ordem em que os dons espirituais são descritos tam­
bém precisa ser salientada. Alguns livros escritos sobre o
assunto consideram esses dons na ordem em que apare­
cem na Bíblia. Outros descrevem-nos como subpontos, sob
várias classificações maiores. Pelo menos um desses livros
trata dos mesmos em sua ordem alfabética. Resolví avan­
çar de uma maneira um tanto diferente do que outros au­
tores têm feito, por haver adotado uma ordem mais funcio­
nal. Os dons serão discutidos, conforme forem aparecendo
normalmente e precisem ser enfatizados, quanto ãs suas
funções particulares para o crescimento da igreja. Neste
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 59

capítulo, para exemplificar, mencionarei todos os vinte e


sete dons, mas discutirei apenas a respeito de quatro de­
les. No próximo capítulo, discutirei sobre mais quatro dons,
e assim por diante. Uma tabela especial (página 7 deste
livro) indica onde cada dom aparece, para ali receber sua
principal explicação.

As Três Listas-Chaves
A grande maioria dos dons espirituais mencionados
na Bíblia encontra-se em três capítulos principais: Roma­
nos 12; 1 Coríntios 12 e Efésios 4. Faríamos bem em me­
morizar esses trechos para referências futuras, porquanto
são básicos. Também há diversos capítulos secundários,
pois suas informações preenchem outros importantes de­
talhes. Esses capítulos secundários são 1 Coríntios 13 -
14; 1 Pedro 4; 1 Coríntios 7 e Efésios 3.
Começaremos a reunir a lista fundamental, usando
os três capítulo^ básicos. As palavras entre parênteses são
traduções vál^^^^s de uma mesma palavra grega.

Romanos 12 menciona os seguintes dons espirituais:


1. Profecia (pregação, declaração inspirada).
2 . Serviço (ministério).
3. Ensino (comunicação de princípios bíblicos).
4. Exortação (estímulo á fé, encorajamento).
5. Contribuição (doação, generosidade).
6 . Lideramça (autoridade, governo, administração).
7. Misericórdia (simpatia, consolo, bondade).

1 Coríntios 12 adiciona (sem repetir os dons Já


alistados em Romanos):
8. Sabedoria (conselho sábio, palavra sábia).
9. Conhecimento (falar com propriedade).
10. Fé (crer na intervenção divina).
11. Cura (sarar mágoas e doenças físicas).
12 Milagres (realização de grandes feitos).
13. Discernimento de espíritos (percepção espi­
ritual).
60 Descubra Seus Dons Espirituais

14. Línguas (falar em línguas nunca aprendidas,


afirmações estáticas).
15. Interpretação de línguas (tradução compre­
ensiva).
16. Apóstolo.
17. Socorro.
18. Administração (governo, presidência, liderança).

Efésios 4 adiciona (novamente, sem repetir qualquer


dos dons mencionados acima):
19. Evangelistas (missionário, pregador da sal­
vação em Cristo).
20. Pastores (ministrar ao povo de Deus).

Os Ofícios Eclesiásticos e o Principio Petrino


Alguns talvez queiram frisar que a lista do quarto ca­
pítulo de Efésios é ligeiramente diferente das duas outras
relações, porquanto menciona ministérios, e não tanto dons.
E é verdade. Quando esse trecho alude^ vç ^tolos, profe­
tas, evangelistas e pastores/mestres, são dados à igre­
ja (ver Ef 4.11), o enfoque recai sobre indivíduos que foram
reconhecidos na Igreja, nessas posições de ministério ofi­
cial. Usualmente, tais ministros eram ordenados mediante
a imposição de mãos. No linguajar moderno, provavelmen­
te seriam considerados “clérigos,” ou seja, parte do efetivo
ministerial da igreja ou da denominação.
Entre as igrejas evangélicas atuais, hã uma variação
considerável acerca dos ofícios eclesiásticos, no tocante a
quais ofícios são reconhecidos. Alguns sentem que o tre­
cho de Efésios 4.11 limita esses ofícios a um determinado
número: outros aceitam, como indício, as epístolas pasto­
rais, que mencionam anciãos (ou bispos) e diãconos; ain­
da outros vão além disso. As igrejas africanas independen­
tes, por exemplo, têm muitos apóstolos e profetas, devida­
mente reconhecidos. Mas os nazarenos não contam com
estes últimos, embora tenham evangelistas, superintenden­
tes gerais e superintendentes distritais. Os batistas do sul
chamam seus superintendentes distritais de secretários
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 6 !

executivos das convenções estaduais. A Igreja de Deus


(Cleveland) chama os mesmos de supervisores estaduais.
E os Adventistas do Sétimo Dia chamam-nos de presiden­
tes de conferências. Aqueles que cuidam das igrejas locais
são, de modo geral, chamados de pastores, ministros ou
padres. O Exército de Salvação tem como oficiais os tenen­
tes, os capitães e os generais. E, assim, poderiamos conti­
nuar.
Para alguns, isso parece deveras confuso. Para ou­
tros, isso só indica flexibilidade quanto ao assunto, bem
como da criatividade e da rica variedade da própria fibra
da fé cristã.
Porém, o propósito principal, para destacarmos essa
questão, aqui, é salientar que, sem importar como um ofi­
cial seja chamado, a pessoa assim chamada ou ordenada,
para preencher um oficio deveria qualificar-se para o mes­
mo, com base no conjunto de dons espirituais que Deus
lhe tenha conferido. Um apóstolo deve ter o dom ministeri­
al de apóstoJHI^m profeta deve ter o dom ministerial de
profeta, e assim^^KÜante.
É nesse ponto que se registra um freqüente problema
de crescimento das igrejas. Muitos chegam a ocupar ofíci­
os eclesiásticos, sem que se avalie se possuem ou não os
dons espirituais apropriados. Os ofícios são muitas vezes,
outorgados ã base de critérios como idade, influência, per­
sonalidade, manipulação política, prestígio, rotação, ou
qualquer outra combinação desses fatores. Temo que o
“princípio petrino” seja mais generalizado em nossas igre­
jas do que deveria ser. Para os não-iniciados, o princípio
petrino foi articulado, pela primeira vez, pelo autor de uma
obra que foi sucesso de livraria, Lawrence Peter. O princí­
pio por ele expresso é que “em uma hierarquia, todo ocu­
pante tende a elevar-se ao seu nível de incompetência”.^ A
promoção final de qualquer indivíduo é previsível com base
em um nível de competência para um nível de incompetên­
cia, onde ele estaca. Quase todas as ilustrações utilizadas
por Peter alicerçaram-se no mundo dos negócios e do go­
verno. Mas, com igual facilidade, poderia ter ilustrado o
62 Descubra Seus Dons Espirituais

seu princípio, com base nas igrejas.


Lawrence Peter lamentou o fato de que, no governo e
na indústria, esse princípio é quase inexorável, e, infeliz­
mente, a nossa sociedade está condenada à incompetência
e à mediocridade. Contudo, não é mister que esse seja o
estado de coisas no seio da Igreja. Deus não planejou a
Igreja para a mediocridade. Deus sabia do princípio petrino
muito antes de Lawrence Peter ter nascido. E assim, tra­
çou um sistema para evitar tal princípio. Ele encheu as
nossas igrejas com base em dons espirituais reconhecidos,
para que os crentes não tivessem que ser vitimados pelo
princípio petrino. E assim também estaremos liberando um
tremendo potencial para o crescimento das igrejas, um po­
tencial atualmente adormecido e que se vai definhando.

Completando a Lista Principal


As três listas básicas fomecem-nos vinte dons espiri­
tuais distintos. Contando as palavras usadas para indicar
os mesmos, em outras versões, esse n i ^ ç^mais do que
dobraria. Mas, vamos ficar com esse&j^ite dons.
Uma coisa toma-se evidente de* imediato, com base
nessas três listas básicas — nenhuma dessas listas é com­
pleta. Há dons mencionados em Efésios que também são
mencionados em Romanos; e alguns dos dons menciona­
dos em Romanos são mencionados em 1 Coríntios; e al­
guns dos dons mencionados em 1 Coríntios são menciona­
dos em Efésios. Ao que tudo indica, esses catálogos não
tencionam ser listas completas dos dons que Deus confe­
re. E poderiamos concluir que, não sendo completas ne­
nhuma dessas três listas em si mesmas, provavelmente
todas elas juntas também não o são.
A própria Bíblia confirma ser essa uma conclusão
correta. Há pelo menos cinco outros dons mencionados no
Novo Testamento como tais. Incluem:
21. Celibato (continência, abstinência sexual).
22. Pobreza voluntária (desprendimento material).
23. Martírio (submissão ao sofrimento).
24. Hospitalidade (alegria em receber pessoas).
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 63

25. Missões (amor dedicado a outras culturas).


Vou adiar a discussão a respeito da pobreza voluntá­
ria e das missões, porque podem ser ventiladas mais natu­
ralmente dentro de outros contextos. Nesta altura, entre­
tanto, quero examinar mais de perto os outros três dons
(celibato, martírio e hospitalidade), pois nos ensinarão al­
gumas lições valiosas, que se fazem necessárias, precisa­
mente neste ponto.

Dom 21: Celibato


Alguns crentes são casados, outros não o são. Obvia­
mente há, um maior número de casados do que de soltei­
ros. Foi assim que Deus tencionou que sucedesse. Muitos
crentes, adultos, solteiros (não todos) vivem assim, porque
Deus lhes conferiu o dom especial do celibato. Deus os
constituiu de tal maneira que, permanecendo solteiros,
podem cumprir melhor Sua vontade quanto ãs suas vidas.
O dom do celibato é a capacidade especial que Deus
dá a alguns ^ l/ Ê j^ s do Corpo de Cristo, para permanece­
rem solteiros e a p ^ ^ r e m o seu estado; poderem permane­
cer solteiros e não sofrerem tentações sexuais insuportá­
veis.
Se você ê solteiro, mas sabe, lá no fundo do seu cora­
ção que se casaria em um instante, isso se apresentasse
uma oportunidade razoável para isso, então o mais prová­
vel é que você não tenha esse dom. Se você é solteiro e se
sente terrivelmente frustrado por impulsos sexuais não-
satisfeitos, o mais certo ê que você não tenha esse dom.
Mas se nem uma nem outra dessas coisas parece deixá-lo
perturbado, então regozije-se — você pode ter descoberto
um de seus dons espirituais.
O texto bíblico referente a esse dom acha-se em 1
Coríntios 7.7. Ali, Paulo discutiu o seu próprio estado de
celibato, chamando-o de um charisma, um dom espiritual.
Homens e mulheres celibatários fazem parte do plano de
Deus para o Seu povo, e deveríam ser aceitos e honrados.
Notemos que nenhum dom se faz necessário para que
um crente contraia matrimônio, mantenha relações sexu­
64 Descubra Seus Dons Espirituais

ais e crie uma família. Deus criou os seres humanos com


órgãos e glândulas e paixões, de modo que a maioria das
pessoas, Incluindo os crentes, precisa casar-se. E é preci­
samente isso que tais pessoas fazem.
Isso levanta um importante princípio geral, relativo
aos dons espirituais: Há mais membros do Corpo de Cristo
com diversidade de dons espirituais do que com unidade
desses mesmos dons. A maioria dos crentes não recebe­
ram o dom do celibato. Por semelhante modo, mais crentes
não têm o dom ministerial de pastor. O mesmo se aplica
aos profetas, aos evangelistas e aos mestres e líderes, como
também a outros dons daquela lista.
A analogia do corpo físico que Paulo estabeleceu com
firmeza, em Romanos 12.4, como modelo, por meio do qual
devemos compreender os dons espirituais, esclarece isso.
Sabemos que, em nossos próprios corpos, só temos duas
mãos, e muitos outros membros. Outro tanto se deve dizer
a respeito dos olhos, dos rins, dos artelhos, dos dentes e
dos cotovelos. Deus determinou que t e :^ f ms dois olhos,
e isso é o bastante para que sejamos í^ied os de visão, em
favor das centenas de outras partes que temos em nossos
corpos. A Bíblia declara especifícamente que o corpo intei­
ro não deve ser um grande olho; porque, se assim fosse,
não poderiamos exercer a audição ou o olfato. (Ver 1
Corintios 12.17).
A mesma coisa diz respeito ao Corpo de Cristo. Os
“shakers” caíram no equívoco de universalizar o dom do
celibato, e agora todos praticamente morreram de morte
natural, como denominação cristã. Não somente impedi­
ram o seu crescimento biológico, mas também tomou-se
extremamente remoto o crescimento numérico, sob a for­
ma de transferências e conversões. O estilo de vida deles
não podia parecer atrativo para a maioria das pessoas, prin­
cipalmente porque Deus não criou as pessoas para vive­
rem no celibato. A Igreja Católica Romana também tem
perpetuado uma aplicação anti bíblica de dons, ao reque­
rer que todo o seu clero permaneça na vida celibatária,
sem avaliar se padres e freiras tenham recebido ou não o
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 65

dom do celibato.
É razoável concluirmos talvez que algo menos de cin-
qüenta por cento do Corpo deve esperar receber qualquer
dom particular. Minha opinião é de que qualquer dos dons
espirituais é dado a muito menos do que a cinqüenta por
cento dos crentes. Tenho feito alguma pesquisa no que
concerne ao dom ministerial do evangelismo, e tenho des­
coberto que a proporção gira em tomo de dez por cento dos
crentes. Muito maiores pesquisas precisam ser realizadas
para tentar descobrir qual segmento do Corpo de Cristo
possui os outros dons, a fim de podermos compreender
melhor o perfil de uma congregação evangélica saudável e
espiritual.
Homens e mulheres crentes que tenham recebido o
dom do celibato desfmtam de tremendas vantagens. Paulo
ressaltou as mesmas no sétimo capítulo de 1 Corintlos. Ali
ele mencionou, por exemplo, que os crentes dotados do
dom do celibato podem servir ao Senhor melhor que aque­
les que não oj^ eb era m , visto que não precisam preocu-
par-se em a^!Süi|||a sua mulher, ao seu marido ou à famí­
lia. (Ver 1 Corintib^J.32-34). Jã descobri isso em minha
própria experiência. E tomou-se uma experiência mais vi­
vida ainda, desde que fiz^^mizade com John Stott, um dos
mais respeitados mestres, autores e estadistas evangéli­
cos. Somos ambos membros da comissão executiva da Co­
missão de Lausanne para Evangellzação Mundial, pelo que
nos reunimos com freqüência em várias partes do mundo,
desfmtando de comunhão um com o outro e compartilhan­
do de muitas áreas de interesse mútuo.
John Stott tem o dom do celibato e, por causa disso,
ele se reveste de interesse especial para mim. Tenho nota­
do as vantagens que ele tem sobre aqueles que não possu­
em essa habilidade, como eu mesmo. Antes de tudo, tenho
por hábito telefonar com freqüência para casa, quando es­
tou em viagem. Quando assim faço, usualmente converso
com minhas duas filhas, que ainda moravam em casa, e,
então, com minha esposa, Dóris. Se eu passar tempo de­
mais viajando, ouvirei sobre isso da parte delas, de forma
66 Descubra Seus Dons Espirituais

gentil, mas firme. Quando estou em casa, dou prioridade a


passar algum tempo reservado com os meus familiares.
Planejo um jantar em casa; aos sábados fico trabalhando
em redor da casa e do gramado, junto com elas, passo dias
fora em eventos esportivos e outros entretenimentos; sem
falar em longas férias de verão em algum acampamento. E
enquanto fico ocupado, fazendo assim, John Stott vai es­
crevendo outro livro ou planejando outra conferência ou
preparando outra preleção, ou viajando a algum outro país.
Não admira que eu não consiga nem chegar perto de sua
produção. Ele jã escreveu tantos livros que algumas livra­
rias evangélicas jã estão exibindo uma vitrine especial de
John Stott!
Invejo John Stott? Nem um pouco sequer. Se eu o
invejasse, eu seria infiel ãquilo que a Bíblia ensina acerca
dos dons espirituais: não seria capaz de agradecer a Deus
o bastante pela contribuição que John Stott estã fazendo
para edificar os crentes e para a tarefa da evangelização do
mundo. E quanto a mim mesmo? Eu nã-' +mcaria minha
esposa e minha família por cem vitrin jg ^ .^cciais de Peter
Wagner nas livrarias evangélicas! D e ^ o , porque não pos­
suo o dom do celibato, sem a minha esposa e aquilo com
que ela contribui para todas as ^/eas do meu ser, o traba­
lho que tenho tentado fazer para o Senhor seria um total
desastre.
A tentação da projeção dos dons, descrita no primeiro
capítulo deste livro, não é freqüente entre aqueles dotados
do dom do celibato. De fato, o celibatário que mais me cha­
ma a atenção é o próprio apóstolo Paulo. No sétimo capítu­
lo de 1 Corintios, Paulo ficou tão entusiasmado sobre as
vantagens do estado de solteiro (ou, conforme alguns eru­
ditos pensam, o seu estado de viúvo) que chegou a dizer:
“Quero que todos os homens sejam tais como também eu
sou” (1 Co 7.7). Porém, sob a mesma inspiração do Espíri­
to, ele declarou que essa capacidade é um dom espiritual.
Um outro aspecto do dom do celibato precisa ser ob­
servado. O celibato é um dos dois dons que não podem ser
recebidos sozinhos. (O outro é o dom ministerial de missi­
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 67

onário, que será explicado mais adiante.) Em outras pala­


vras, não há qualquer mérito, se o celibato for mantido
sem qualquer finalidade ministerial. A vida de solteiro deve
permitir a um homem ou a uma mulher mostrar-se mais
eficaz no uso de qualquer dom ou conjunto de dons que
Deus lhes tenha dado. Sempre deve ser compreendido e
usado à luz de qualquer outra perspectiva que, o ajude a
atuar dentro do Corpo de Cristo.

Dom 23: O Martírio


O capítulo treze de 1 Coríntios é conhecido principal­
mente como o capítulo sobre o amor, e, também, contém
duas listas de dons espirituais (ver 1 Coríntios 13.1-3,8). A
maioria desses dons já havia sido nomeada no capítulo
doze, excetuando dois — a pobreza voluntária e o martírio
— que são adições á lista. O martírio é expresso mediante
estas palavras: “. . .e ainda que eu entregue o meu próprio
corpo para ser queimado. . .” (1 Co 13.3).
No qu&i^^siste o dom do martírio? Vez por outra,
brincando, fflH^|^||que é aquele dom que o crente só pode
usar uma vez! ,ia realidade é mais amplo do que sim­
plesmente morrer pela Fé. Trata-se de uma atitude na di­
reção do sofrimento e morte, algo bastante raro. A lei
inata da autopreservação humana é característica da mai­
oria das pessoas, crentes ou não. O crente comum não
acolhe bem pensamentos de perseguição, sofrimento, tor­
tura ou de ser assassinado. A maioria dos crentes aceita
tais coisas, quando elas surgem, embora, por certo, não as
abrace, pois fará todo esforço para evitar tais ocorrências.
O dom do martírio é uma capacidade que Deus tem
dado a certos membros do Corpo de Cristo, para sofrer, pela
fé, até mesmo a morte, ao mesmo tempo em que exibe uma
atitude Júbilos a e vitoriosa, que redunda na glória de Deus.
Quando a morte toma-se iminente, mesmo havendo
possibilidades de escape, o crente dotado do dom de martí­
rio bem pode preferir sofrer e morrer. Os crentes que pos­
suem outros dons e sentem que Deus quer que eles conti­
nuem a usá-los, mas não têm o dom do martírio, usual-
68 D escubra Seus D o n s Espirituais

mente preferem fugir.


Foi exatamente essa a situação com a qual, ainda re­
centem ente, se deparou meu querido amigo. Festo
Kivengere, um colega da Comissão de Lausanne para a
Evangelização Mundial. Durante o reinado de terror de Idi
Amin, na Uganda, Festo Kivengere era um proeminente e
influente bispo de uma diocese anglicana. Em 1977, ele
levantou sua voz em protesto, quando Amin assassinou
seu querido amigo, o arcebispo Janani Luwum. Resultado,
Kivengere terminou na lista dos procurados por Amin. Ele
e sua esposa perceberam que não possuíam o dom do mar­
tírio e fugiram para não perder a vida. A história do escape
deles, que deixa comovidos os leitores, foi relatada no ex­
celente livro do bispo Kivengere, I Love Idi Amin? Agora, o
casal está vivendo na América do Norte, e os incomuns
dons de exortação e evangelismo, que Deus deu a Festo,
foram preservados, para abençoar o Corpo de Cristo e a
causa da evangelização mundial.
Apenas recentemente cheguei a apreciar plenamente
o dom do martírio. Quando minha e s p o ^ ' '■ Íris, e eu, fo­
mos à Bolívia, como missionários, p ^ ^ 'primeira vez, em
1956, ficamos instalados na minúscula aldeia indígena de
Chiquitano, em Santiago de Chjí^aitos. Foi ali que, treze
anos antes, cinco missionários da Missão Novas Tribos,
entraram nas selvas para fazer contato com os índios
"ayore", para nunca mais serem vistos.
George Haight, nosso missionário decano, conhecia
aquela área e a sua população, como poucos outros. Ele
dissera aos missionários da Missão Novas Tribos: “Se vocês
não levarem armas, não voltarão vivos”. Mas os missioná­
rios replicaram que prefeririam morrer para glória de Deus
a carregar consigo armas de fogo. E aquilo pão foi uma
decisáo ditada np ardor do momento. Comecei a estudar
as suas vidas, as suas cartas e os seus artigos em revistas
evangélicas, porquanto eu estava escrevendo um livro so­
bre os índios "ayores", alguns anos depois que os civiliza­
dos entraram em contato com eles, quando estavam sendo
evangelizados. No começo, cheguei à conclusão apressada
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 6 9

e imatura que os cinco sofriam de um “complexo de martí­


rio”. Mas agora percebo que eles e suas esposas estavam
exercendo lindamente um dom espiritual. O livro que nar­
ra a história deles, escrito por uma das viúvas, expressa
bem a atitude de pessoas que possuem o dom do martírio:
God Planted Five Seeds (em português: “Deus Plantou Cin­
co Sementes”).^
Em contraste, George Haight não possuía o dom do
martírio. A sua norma era levar armas de fogo o tempo
todo, usando-as, se necessário. Em uma das expedições,
sem sucesso, em busca dos cinco mártires, os índios
"ayores" forçaram Haight e seu grupo a entrarem em uma
batalha na selva, e Haight teve que alvejcir e matar um bra­
vo índio, em defesa própria.'* E disse-me ele, mais tarde,
que a vida dele valia mais, nos vinte anos seguintes, do
que a vida do índio "ayore". Todavia, Deus abençoou a ele e
á sua esposa, Helen, e eles foram muito amados pela gente
daquele lugar, devido ao exercício despido de egoísmo que
eles p restaiju ^ om o missionários, ajudando e adminis­
trando. E e l ^ w ^ ^ morrer de causas naturais, em 1978.
Estêvão, da pxvimitiva igreja de Jerusalém, morreu
como mártir. Não posismímos evidências suficientes para
saber se ele possuía ouÍNnão o dom de martírio, embora
suas palavras finais, “Senhor, não lhes imputes este peca­
do” (At 7.60), possam indicar precisamente isso. Mas sabe­
mos que a morte dele rèsultou um crescimento tremenda­
mente acelerado da Igreja, por toda a Judéia, Samaria, e
até mesmo entre os gentios, em Antioquia da Síria.
Um dos assassinos dos cinco missionários da Novas
Tribos mais tarde teve um encontro com Cristo e tomou-se
um dos anciãos da igreja dos índios "ayore". O bem conhe­
cido lema: “O sangue dos mártires é a semente da igreja”,
expressa o relacionamento que esse dom espiritual pode
ter no que concerne ao crescimento da igreja.

Dom 24: Hospitalidade


O texto bíblico onde aparece o dom da hospitalidade
é um tanto impreciso. Diz 1 Pedro 4.9: “Sede mutuamente
70 Descubra Seus Dons Espirituais

hospitaleiros. . E então o versículo seguinte refere-se ao


uso dos dons espirituais. Uma maneira legítima de inter­
pretar a justaposição dos dois versículos consiste em en­
tender que o uso da hospitalidade é mencionado no v 9, e
então vem o v 10, em uma ligação que poderiamos parafra­
sear: “Sede mutuamente hospitaleiros, tal como todos os
crentes que têm recebido qualquer outro dom espiritual”.
Se isso parece forçar um pouco o sentido do trecho, o
fato é que, mais adiante, sugiro que a hospitalidade deva
ser alistada como um dom espiritual, sem importar se é ou
não um dos dons mencionados na Bíblia. E logo adiante
apresento outras ilustrações desse princípio. Mas hospita­
lidade poderia ser traduzida, mais literalmente, por “amor
aos estrangeiros,” e algumas pessoas, sem dúvida, têm uma
capacidade especial de fazer isso, com vistas ã glória de
Deus e o desenvolvimento da Igreja. Gosto de parafrasear a
definição de Leslie Flynn:
O dom da hospitalidade é aquela capacidade especial
^ que Deus dá a um certo número de menú, - ^ do Corpo de
Cristo para proverem abrigo e uma ccúaf^^ò. recepção para
aqueles que estão necessitados de al^cento e abrigo.^
Os que recebem esse dom n ^ s o m en te têm essa ca­
pacidade, mas também amam a^ir desse modo. Embora
possa parecer incrível para os que não têm esse dom, as
pessoas dotadas do dom da hospitalidade sentem-se mais
felizes com hóspedes em casa do que quando estão sem
eles. Essa é uma capacidade sobrenatural, dada a somente
alguns poucos crentes. A maioria daqueles que não possu­
em esse dom pensa que é uma sobrecarga e um estorvo ter
pessoas de fora em casa, a menos que sejam visitas breves
e bem monitoradas.
Uma pessoa que descobriu que era dotada do^om da
hospitalidade foi Karen Mains, cujo marido, David Mains,
ê figura bem conhecida pelos seus seminários sobre a re­
novação da Igreja e por seu livro, intitulado Fãll Circle.^
Karen Mains escreveu um livro inteiro sobre o assunto da
hospitalidade, Open Heart, Open HomeJ Em um artigo so­
bre o assunto, publicado pela revista Moody Monthly, ela
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 7 i

disse: “A verdadeira hospitalidade é um dom do Espírito,” e


explica que ela recebeu ajuda sobrenatural para poder “criar
laços humanos de coração com coração”.® O lema de uma
pessoa dotada desse dom é: “Hospitalidade e não orgulho”.
E é fácil reconhecermos quando entra em ação um crente
dotado desse dom.
Quando hóspedes são convidados, as pessoas que não
são dotadas desse dom querem que tudo esteja em ordem,
os tapetes esticadinhos no seu lugar, os móveis desem­
poeirados, os brinquedos e os jornais recolhidos, flores re-
cém-colhidas sobre a mesa, velas acesas, um alimento es­
pecial, preparado e servido com toda a elegância. Invaria­
velmente é assim que acontece quando Dóris e eu recebe­
mos alguém em nossa casa, por exemplo. Para ser hones­
to, gostamos de uma casa sempre bem arrumada e em or­
dem, e queremos que os nossos convidados vejam a nossa
concepção de um lar. Talvez se trate de uma espécie de
“orgulho anterior ã hospitalidade”.
Mas osflumites dotados do dom da hospitalidade não
vêem as coiáa^^%^nosso prisma. Karen Mains conta como
ela é capaz de rec^c. ;;r outra mulher em seus “quartos de­
sarrumados”, e com ova se recusa a embaraçar as pessoas
convidadas com as sua^desculpas. Ela acha que isso é
edificante, e descreve essa condição em livros e artigos.
Aqueles que estão no Corpo, mas não têm o dom da
hospitalidade, certamente são agradecidos por aqueles que
o possuem. Como missionários em férias, minha família e
eu, com freqüência, íamos a lares de crentes dotados do
dom da hospitalidade. Mesmo com nossa pouca experiên­
cia, podíamos dizer imediatamente se nossos hospedeiros
tinham o dom. Um dos mais notáveis casais que sempre
cuidava de nós eram Glen e Irene Main, de Bell, na
Califórnia. Sempre que nos hospedávamos na casa deles,
nos sentíamos em casa. Visto que eles têm o dom da hospi­
talidade, e visto que o dom desses crentes sempre dá gran­
de prioridade a cuidar de seus hóspedes. O casal, certa
ocasião, comprou um automóvel, por saber que eu iria ã
casa deles, passar um tempo. Eles me entregaram as cha­
72 Descubra Seus Dons Espirituais

ves do carro, assim que desembarcamos do avião. E come­


çaram a usar o automóvel somente depois que parti nova­
mente para a Bolívia. Temos outros amigos, muito chega­
dos a nós e a outros crentes consagrados, e que gostam de
dar apoio aos missionários, mas que nunca pensariam em
fazer tal coisa, e nem esperaríamos deles que agissem des­
sa maneira. Eles têm outros dons que Glen e Irene Maln
não têm. O Corpo de Cristo precisa de todos esses crentes.
Visto que a hospitalidade ê um dom tão bonito, tão
sinceramente admirado, aqueles que o possuem precisam
ter cuidado para evitar a projeção de dons. Certa ocasião
visitei L’Abri, na Suíça, onde Francis e Edith Schaeffer ti­
nham um maravilhoso centro de renovação espiritual para
jovens perturbados. Uma atmosfera de hospitalidade ema­
nava de todo cantinho e rachadura. Assim que cheguei,
imediatamente senti que um dos dois talvez, mesmo os dois
- devia ter o dom da hospitalidade.
Tempos depois, li um artigo de autoria de Edith
Schaeffer, na revista Chrístianity T o d a y u a i ela des­
crevia a sua atitude para com a hospi^j^^%de.“ Infelizmen-
te, o artigo não indicava que ela recp^iecesse que Deus a
ajudara para que ela fizesse aquelc^bra. O título do artigo,
“Hospitalidade: Opcional ou OrcVíiiada?” estabelecia o seu
tom. Enquanto eu lia, senti que talvez eu me tivesse envol­
vido com a projeção do dom, sugerindo que outros crentes
que não exercem esse tipo de hospitalidade não são “ver­
dadeiros praticantes da Palavra, mas somente ouvintes”,
conforme ela disse. Se eu não tivesse conhecimento acerca
de dons espirituais, podería sentir-me culpado a esse res­
peito.
O crescimento da Igreja durante o império romano,
nos dias do Novo Testamento, dependia muito da hospita^^^
lidade.^° O exercício da hospitalidade era uma instituição
cultural, essencial para aqueles que viajavam como faziam
os missionários cristãos. Imperavam condições de viagem
muito diferentes das de hoje, quando contamos com ho­
téis, hospedarias, cartões de crédito e agências bancárias
por toda a parte. De fato, quando viajo para alguma confe­
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 73

rência, tudo quanto peço é um quarto, em um hotel. Tudo


quanto está envolvido na permanência em casa de alguém
é muito cansativo e me extrai muitas energias, tudo o que
é desnecessário em nossa cultura norte-americana. Mas
quando viajo para outros países, a história já é bem dife­
rente. Muitas culturas do chamado Terceiro Mundo asse-
melham-se muito mais á cultura do império romano, no
primeiro século cristão, do que com a cultura norte-ameri­
cana. E ali a hospitalidade é essencial para o crescimento
da Igreja. Se estudássemos a situação, penso que encon­
traríamos a mais alta porcentagem de crentes, nessas cir­
cunstâncias, dotados do dom da hospitalidade. E até mes­
mo aqueles que não são possuidores do dom, deles espera-
se um alto índice de hospitalidade do que o comum, em
nossa cultura mais automatizada e individualizada. No pri­
meiro século da era cristã, os pastores e as viúvas em par­
ticular tinham que ser pessoas hospitaleiras (ver 1 Timó­
teo 3.2 e 5.10).
A hospii^Made é muito útil no crescimento das igre­
jas, de h o j^ 4^ í ^ o o esforço evangelístico gira em tomo
de estudos bíblicbvi. reuniões nos lares e a filosofia mi­
nisterial da igreja inâ^h a multiplicação de igrejas domés­
ticas, conforme estão demonstrando várias bem sucedidas
igrejas crescentes. Mais adiante falaremos com maiores
detalhes sobre esse assunto.

Todos os Dons Espirituais São Mencionados na Bíblia?


Nenhuma dessas três listas básicas é completa, e nem
mesmo as três listas juntas mostram uma listagem com­
pleta. Assim sendo, é razoável concluirmos que a lista de
todos os dons mencionados na Bíblia (e já contamos vinte
e cinco desses dons) também não é completa. Se me for
dada a liberdade de fazê-lo, então vou adicionar dois ou­
tros dons espirituais:
26. Intercessão (oração, súplicas e louvor).
27. Exorcismo (batalha espiritual).
É isso que entendo por uma abordagem ilimitada
quanto aos dons espirituais. E não duvido que ainda haja
74 Descubra Seus Dons Espirituais

mais de vinte e sete dons! Alguns poderiam querer acres­


centar aqui o dom da música, completando vinte e oito, e o
dom da perícia, completando vinte e nove. Encontrei, ain­
da, outro dom, recentemente, que podería ser chamado de
“dom de nomes.” Jerry FalAvell, pastor da famosa Thomas
Road Baptist Church, em Lynchburgo, Virgínia, é extraor­
dinário em muitos sentidos. Mas uma das coisas notáveis
é que ele conhece os nomes da maioria dos dezesseis mil
membros de sua igreja! De fato, ele pode ir pregar em outra
cidade, conhecer pessoas após a reunião, voltar um ano
mais tarde e lembrar-se do nome da maioria das pessoas
que conhecera ali. Ele mesmo diz: “Preciso dar crédito a
Deus por isso... É um dom de Deus”.“ Isso me alegra muito.
Durante dez semanas, esforcei-me por ligar os nomes aos
rostos das pessoas de uma classe minha; três meses de­
pois passei pelo mesmo local e comecei a perguntar de mim
mesmo: “Qual será o nome dele?” Se eu pensasse que Deus
me julgaria responsável por isso, no juízo do tribunal de
Cristo, eu teria um ataque de coração, dcAj'*'^-ó tensão que
sofro por não me lembrar dos nomes d a ^ Josóas.
E visto que o exorcismo está in f^ám en te ligado ao
dom do discernimento de espíritos^iscutirei sobre esses
dois dons juntamente, em outro q^texto. Mas precisamos
examinar agora, de modo abreviado, o dom da intercessão.

Dom 26: Intercessão


Tenho postulado a existência desse dom, porque acre­
dito que já o vi em operação.
Certos crentes, ao que me parece, têm a capacidade
J de orar por extensos períodos de tempo sobre bases regula­
res, recebendo respostas frequentes e específicas para as
suas orações, em um grau muito maior do que aquilo que se
espera do crente comum. Esse é o dom da intercessão.
Visto que não muitos autores referem-se a esse dorh~
espiritual, fiquei muito satisfeito quando li a descrição de
Elizabeth 0 ’Connor acerca do trabalho efetuado na Igreja
do Salvador, em Washington, D. C. Ela referiu-se a uma
certa dama que faz parte de um dos grupos daquela igreja
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 75

e a quem “o grupo não tinha dificuldade de confirmar como


intercessora. A confirmação do dom dela não significa que
nós outros deveriamos desistir de orar e interceder uns
pelos outros, mas significa que agora contávamos com uma
pessoa que passaria mais tempo trabalhando no campo da
intercessão”.^^
Visto que a intercessão não é largamente aceita como
um dom espiritual, muitos crentes tendem por não
reconhecê-la como tal, quando ela ocorre. Se a oração é tão
importante como todos pensamos que é, tenho descoberto
que é curioso que as igrejas não contratam membros para
quase todas as outras atividades. Os seminários também
deveriam oferecer cursos sobre a oração. Fiquei agradavel­
mente surpreso recentemente, quando meu amigo, Robert
Coleman, disse-me que o Asbuiy Seminaiy tinha contrata­
do um professor de oração, e que contava com estudantes
que se estavam formando em oração. A Cruzada Estudan­
til e Profissional Para Cristo crê fortemente na oração, o
bastante pcrwj^rixar a direção dessa atividade ao encargo
da espos^i«Gr^^^^dente, Vonette Bright. Eles dispõem de
oito membros do'^.^^oal, que trabalham tempo integral,
em seu ministério, qu;e operam na capela de orações em
Arrowhead Springs, CaK^mia, oito horas por dia, conside­
rando isso um dia de trabalho normal.'^
Quanto tempo por dia, uma pessoa com o dom de
intercessão, gasta em oração? Talvez oito horas. Talvez so­
mente quatro. É o que faz a Sra. Bemice Watne, de Eagle
Grove, lowa. Atualmente ela vive confinada a uma cadeira
de rodas, mas descobriu o seu dom de intercessão, faz anos.
E agora ela agradece a Deus que a sua presente condição
lhe confere mais tempo para orar. Passar tanto tempo em
oração, sobre bases regulares, está acima da possibilidade
da maioria dos crentes que não possuem esse dom. Se a
verdade toda fosse conhecida, penso que todos ficaríamos
surpresos diante do pouco tempo que os crentes norte-
americanos passam em oração. Mas para aqueles que re­
ceberam esse dom, passar tantas horas em oração é a coi­
sa mais agradável que há. Diz Don Carlson, um dos diri­
76 Descubra Seus Dons Espirituais

gentes do pessoal de oração da Cruzada Estudantil: “Ê um


trabalho. Experimente sentar-se e orar durante uma hora.
Você descobrirá que é algo que exige muito, mental e fisi­
camente. Mas como eu gosto de fazer isso!”
A vida de Rees Ho-wells, um mineiro de carvão do País
de Gales, que recebeu o dom da intercessão, serve de leitu­
ra instrutiva para aqueles que queiram saber mais sobre a
intercessão. O livro a respeito dele foi escrito por Norman
Grubb, intitulado Rees Howells: Intercessor. Nesse livro,
Grubb salienta que um intercessor é mais do que um cren­
te comum, que intensificou a sua vida de oração. A inter­
cessão envolve uma combinação de identificação, agonia e
autoridade, como aqueles que não possuem esse dom ra­
ramente podem experimentar, ou mesmo identificar-se com
tal atividade.^®
Maneiras criativas de tirar proveito do dom da inter­
cessão, com vistas ao crescimento eclesiástico, ainda pre­
cisam ser encontradas. Talvez um começo tenha sido inici­
ado por Archie Parrish, diretor da Evangs^^^^^^o Explosivo
Internacional. Na Igreja Presbiteriana ^.Ridge, em
Fort Lauderdale, Estado da Florida, grande e crescen­
te igreja, o programa da Evangefisn^^íExplosivo sempre ser­
viu de força poderosa a serviço d^vangelism o e do cresci­
mento eclesiástico. Mas em 1976 foi introduzido um apri­
moramento que funcionou tão bem que atualmente está
sendo recomendado a todas as igrejas que se utilizam dos
serviços do Evangelismo Explosivo. Duas das igrejas que
não fazem parte da equipe do Evangelismo Explosivo fo­
ram solicitadas a trabalhar sobre bases regulares, mas so­
bretudo na terça-feira ã noite, quando os obreiros estavam
fora, testemunhando. O evangelista passou a ter a respon­
sabilidade de entrar em contato com dois intercessores a
cada semana, a fim de anunciar os resultados e apresentar
os pedidos de oração. Quando esse método foi iniciado, o
número de profissões de fé logo duplicou! ,__ _
Na oração hã um grande poder tendente ao cresci­
mento da igreja. Milhares de crentes que têm um dom es­
piritual especial, mas não sabem, precisam descobrir, de­
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 77

senvolver e usar os seus dons. Quando assim fizerem, ou­


tros crentes dotados verificarão que se tomarão muito mais
eficazes, e assim o Corpo de Cristo haverá de crescer.

Dons Hifenados
Alguns livros escritos sobre os dons espirituais insis­
tem que, em Efésios 4.11, os dons alistados como “pasto­
res” e “mestres” deveríam ser grafados como “pastores-
mestres.” William McRae, por exemplo, diz: “Esse dom é o
nico dom dual em todo o Novo Testamento. Não temos
aqui dois dons, mas um só. Trata-se de um nico dom com
duas dimensões distintas”. E provavelmente ele está corre­
to, pelo menos numa tradução que queira refletir melhor o
sentido do texto grego.
Em uma abordagem ilimitada dos dons espirituais,
entretanto, é melhor não pensarmos que esse é o nico
dom hifenado que opera no Corpo de Cristo. Visto que pas-
tor-mestre é, na verdade, uma bem (^mum combinação de
dons, ela a p re c e como nosso protó^tipo. A maioria dos eru­
ditos admití/^Kl^^^o dom ministerial de mestre destaca-se
sozinho em algui^., outros catalogados. Mas temos em
Efésios a nica lista menciona pastor e é combinado
com o dom de mestre, i^^emais, em um certo sentido, um
pastor precisa ser “apto para ensinar” (1 Tm 3.2). Mas, se
tudo isso significa que todo pastor precisa do dom de ensi­
no, operante juntamente com seu dom pastoral, é algo
questionável.
Enquanto discutimos os dons no contexto, mencio­
narei outros dons hifenados, como intercessão-curas, lín-
guas-interpretação, e assim por diante. Por enquanto, pre­
cisamos somente nos familiarizar com esse conceito.

Variações e Graus dos Dons


Dentro de quase cada um dos vinte e sete dons espi­
rituais há uma grande gama de variações e intensidades.
O indício bíblico para isso acha-se em 1 Coríntios 12.4-6,
onde lem os sobre dons (charism aton), m inistérios
(diakonion), e realizações (energematon). Ray Stedman de­
78 Descubra Seus Dons Espirituais

finiu um ministério como “a esfera em que um dom é reali­


zado,” ao passo que uma realização é “o grau de poder
mediante o qual um dom é manifestado ou ministrado em
alguma ocasião específica”.*’’
Uma pessoa dotada do dom de evangelista, por exem­
plo, pode ser um evangelista pessoal ou um evangelista
público — apenas variações do mesmo dom. Um evangelista
público pode ser uma celebridade internacional que enche
estádios de cinquenta mil espectadores e vê três mil con­
versões por semana. Um outro evangelista público, cujo
dom manifesta-se com menor intensidade, talvez ministre
principalmente em igrejas em que caibam quinhentas pes­
soas e vê trinta conversões por semana. Em última análi­
se, ambos poderão ser considerados igualmente fiéis no
exercício de seu dom.
Variações e graus, tal como os dons propriamente di­
tos, são distribuídos segundo a escolha divina. Tal como o
senhor, na parábola dos talentos, entregou cinco talentos
a um e dois talentos a outro, assim também-fjeus, em Sua
sabedoria, dá a cada um “segundo a , ' ^ * ^ . ^ da fé” (Rm
12.3). Eis a razão pela qual, quando (j^ãons esfao devida­
mente em operação, não hã nenhuma causa de ciúme ou
inveja, mesmo entre crentes que^nham recebido diferen­
tes graus do mesmo dom. Minha mão esquerda não inveja
a minha mão direita, somente porque não é capaz de de­
senvolver iguais habilidades que a outra. Antes, as duas
mãos trabalham em harmonia, visando ao benefício do cor­
po inteiro. Deus me deu um dom para escrever, por exem­
plo, mas também sou realista o bastante para saber que
vintenas de outros crentes, como David Hubbard e Martin
Marty e Betty Elliot e John Stott, para nomear apenas al­
guns poucos, possuem tão grande habilidade quanto a esse
dom, que não sou digno de trocar as fitas de suas máqui­
nas de escrever. Agradeço a Deus por todos eles e pela tre­
menda contribuição que estão fazendo para o corpo de Cris­
to. E também tento adicionar a minha bem menor contri­
buição.
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 7 9

Classificando os Dons
Há diferentes maneiras de classificar os dons. Alguns
mestres pentecostals clássicos falam sobre os nove dons
do Espírito Santo, e usam a lista em 1 Coríntlos 12.8-10.
Blll Gothard dividiu os dons em motivos, ministérios e
manifestações. David Hocking usa a classificação de dons
falados, dons de serviço e dons sobrenaturais.^® (N.E.: Re­
comendamos a leitura de As Sete Leis da Liderança Cris­
tã de David Hocking). Alguns dos teólogos reformados do
passado separavam dons ordinários de dons extraordiná­
rios. Kenneth Kinghom reconhece dons capacitadores, dons
de prestação de serviços e línguas/interpretação.^® William
Balrd gosta de falar em dons pedagógicos, dons sobrena­
turais e dons de comunicação especial.^® Jack MacGorman
prefere uma divisão em declarações inteligíveis, poder,
discernimento espiritual e declarações estáticas.^* Várias
outras classificações poderíam ser aqui mencionadas.
Alguns dos crentes acima mencionados têm obtido
notável s u c ^ ^ ^ ao ensinarem os crentes a descobrir, de-
senvolver^íítl^^^s seus dons espirituais. Aplaudo qual­
quer classiíicaçãò'\...e funcione. Ê perfeitamente óbvio que
não existe nenhuma ®i^são de dons que seja divinamente
inspirada. Portanto, afíís^o, se uma classificação funciona
para você e sua gente, use-a. Em meu próprio ensino, que
se reflete neste livro, prefiro uma abordagem ilimitada,
quando se trata de classificar os dons espirituais. A razão
pela qual tenho escolhido essa classificação não é porque
eu sinto que ela é mais bíblica do que outras, mas porque
tenho descoberto que ela é a abordagem mais til para o
meu próprio estilo particular de ensino. Para mim, essa
classificação funciona, também pode funcionar para ou­
tros crentes.

As Igrejas Também Contam Com “Conjuntos de Dons”


A filosofia do ministério, em muitas igrejas locais, bem
como em certas denominações inteiras, inclui alguma po­
sição particular acerca dos dons espirituais. Uma das mais
freq entes posições é aquela que diz que os “dons espeta­
80 Descubra Seus Dons Espirituais

culares” cessaram juntamente com a era dos apóstolos.


Acompanhei parte da história desse ponto-de-vista na in­
trodução: mas preciso aqui realçar um ponto delicado, que
atualmente está sendo debatido. De fato, é provável que
nenhum outro aspecto da doutrina dos dons espirituais
tem causado tantas dissensões, divisões eclesiásticas e
debates, como essa questão.
Fico impressionado diante do fato de que há tantos
líderes evangélicos admiráveis de ambos os lados. Merrill
Unger argumenta que os “dons espetaculares”, como cu­
ras, operação de milagres, línguas, interpretação, conheci­
mento, profecia e apostolado não são mais necessários em
nossas ig re ja s .J o h n Walvoord alistou os dons que, se­
gundo ele, já cessaram, ou seja, apostolado, profecia, mila­
gres, curas, línguas, interpretação e discernimento de es­
píritos.^^ John Stott excluiría os apóstolos e os profetas, e
talvez os operadores de m ilagres.Joh n MacArthur sente
que os dons temporários são: milagres, curas, línguas e
interpretação.^® David Hocking ensina que^g/lpns que não
estão mais funcionando são: profecia, fé, curas,
línguas, interpretação, palavra de coj^icim ento, palavra
de sabedoria e discernimento de esR^tos.^®
E os lideres que tomam a posí!ção oposta, ou seja, que
todos os dons mencionados acima continuam em operação
até hoje, incluem mestres com nomes igualmente impres­
sionantes, de vários grupos evangélicos. Entre eles pode­
mos mencionar Leslie Flynn, B. E. Underwood, Donald Gee,
Rick Yohn, Kenneth Kinghom, Charles Hummel e outros.
Michael Gríffths argumentou fortemente em favor desse
ponto de vista, dando a entender que a posição dispensacio-
nalista anda muito perto de ser uma forma de liberalis­
mo.
Alguns desses estudiosos têm estado em ambos os
lados da questão. O Dr. Earl Radmacher, presidente do
Western Conservative Baptist Seminary, foi criado dentro
da tradição pentecostal, mas deixou a mesma e agora ó p ^ -
se firmemente ao uso das línguas durante os cultos nas
igrejas. O Dr. Rodman Williams, um erudito presbiteriano
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 8 i

que antes assumira a posição de Warfleld, de que os dons


miraculosos já haviam cessado, atualmente é o presidente
da Melodyland School of Theology. Sendo um carismático
convicto, diz Williams: “Agora estou me perguntando como
poderia ter lido erroneamente o Novo Testamento por tão
longo tempo”.2®
Duas das minhas igrejas favoritas estão localizadas
nas proximidades do vale de São Fernando. Assisti ao cul­
to em uma delas, a Grace Community Church of The Valley,
em um domingo pela manhã, quando o pastor John
MacArthur pregava a primeira mensagem de uma série
intitulada “O Que Está Errado Com o Movimento Caris­
mático.” Em um outro domingo fui ã Igreja no Caminho, e
ouvi o pastor Jack Hayfod apresentar uma mensagem em
línguas e interpretã-la bem no meio do culto de adoração.
Ambas as igrejas estão crescendo a uma taxa excepcional.
Uma delas conta com uma freqüência de cinco mil pessoas
aos domingos: e a outra, três mil pessoas. Ambas contam
com membroscme amam temamente a Jesus Cristo, que
querem setí©^^^^ que estão crescendo em sua fé. Ambas
crêem nos d o n s ' r i t u a i s e os põem em prática. No en­
tanto, discordam qulboto aos dons que deveríam ser usa­
dos nas igrejas, hoje em,dia.
Meus estudos sobre*as igrejas crescentes não me têm
levado a acreditar que a questão de quais dons espirituais
estão ou não em vigor em nossos dias é um fator dos mais
importantes. Parece que um fator muito mais importante é
que o Espírito Santo está operando através dos dons e que
os crentes precisam descobri-los, desenvolvê-los e usá-los.
Como tudo isso pode ser explicado, portanto? Minha
própria conclusão é que assim como Deus concede con­
juntos de dons específicos para diferentes pessoas, assim
também Ele outorga diferentes conjuntos de dons para di­
ferentes igrejas e denominações. O conjunto de dons que
uma igreja ou denominação tem deveria ser um dos fatores
determinantes da sua filosofia ministerial. Igrejas com di­
ferentes filosofias de ministério fazem parte de uma bela
variedade que Deus tem embutido no Corpo Universal de
82 Descubra Seus Dons Espirituais

Cristo. Visto que as pessoas-são-tão-jdíferentes. as igrejas


também preciaam ser diferentes, se vão conquistar os in­
crédulos para Cristo, tomando-os membros responsáveis.
De maneira alguma eu sugeriría a alteração nas filosofias
de ministério das igrejas Grace Community ou do Cami­
nho. Em minha opinião. Deus as ama igualmente, e a ,Sua
bênção sobre ambas é evidente.
Até onde estã envolvida a questão do crescimento das
igrejas locais? Estabelecer uma firme filosofia de ministé­
rio deveria ter elevada prioridade. Cada igreja precisa ser
capaz de articular exatamente o que ela defende, e o que a
tom a diferente de outras igrejas locais da área. Isso é um
sinal de força. Quanto menos freqüentemente é revisada
uma filosofia de ministério, mais potencial de crescimento
terá uma igreja.
Que devo dizer, por conseguinte, acerca de uma igre­
ja cuja filosofia de ministério exclui os dons espetacula­
res? Como é óbvio, minha própria preferência pessoal é
mais ampla do que isso. E é por essa r a z ^ aue pertenço a
uma igreja que tem uma filosofia de mimjr^. it'piais ampla
do que isso. Para mim, todavia, os^^xícíplos de cresci­
mento eclesiástico estão acima de/preferências pessoais,
pelo que não tento impor a outr^^ívpessoas as minhas opi­
niões particulares.
Ilustrando, alguns meses atrás, tive o privilégio de
falar sobre os dons espirituais e o desenvolvimento da igre­
ja a virtualmente todos os superintendentes distritais da
Igreja do Nazareno, em uma excelente concentração de lí­
deres evangélicos. Mas acontece que a Igreja do Nazareno
está convencida, como denominação, de que as línguas não
devem ser postas em prática nas igrejas, hoje em dia. Meu
conselho a eles foi que interpretassem a sua posição acer­
ca dos dons espirituais como algo que vem de Deus, não se
afastando dessa posição.
É possível que não haja duas igrejas ou denomina­
ções que precisem do mesmo conjunto de dons. Deus tem
dado à Igreja do Nazareno um conjunto de dons diferente
do que tem feito no caso das Assembléias de Deus e dos
2 Que São os Dons? Uma Abordagem Ilim itada 83

Adventistas do Sétimo Dia ou da Aliança Cristã Missionária.


Se essa diversidade, quanto aos conjuntos de dons, foi
conferida por Deus, então o Senhor poderá continuar a
abençoá-los e assim continuará a fazer, enquanto eles de­
cidirem descobrir, desenvolver e usar os dons, que sentem
ter recebido de Deus. Nada mais se faz necessário. Não
seria sábio se passassem o seu tempo e energia tentando
modificar a sua filosofia de ministério.
No tocante á igreja local, sugiro que se, por razões
consideradas válidas e bibücas pelos líderes da igreja, as
línguas e/ou outros dons espirituais não forem considera­
dos legítimos, tal igreja faria bem em procurar imitar uma
certa igreja batista conservadora do Estado do Arizona, a
respeito da qual tenho ouvido. O pastor daquela igreja “as­
severou, de forma positiva e firme, que, quando as pessoas
chegavam á sua igreja, notavam o nome ‘batista’ por sobre
a porta da entrada. E completou que os batistas não acre­
ditam e nem põem em prática o falar em línguas, e que ele
não queria chsçutir com os tais sobre esse particular. En­
tretanto, se,^5iíB^ssim com os visitantes, ele sentia que os
tais seriam m a is ^ '’zes em uma igreja onde essa prática
fosse aceita, e respeKosamente sugeria que esses procu-
rassem tal igreja”.^® ^
\
Quero acrescentar, "como em parênteses, que apesar
dessa ser a posição advogada pela maioria dos batistas
conservadores, há outros batistas dotados de diferentes
conjuntos de dons espirituais, e que muitos deles estão de
braços abertos para manifestações carismáticas, como as
línguas.
Mas permanece de pé o princípio básico. Se é Deus
que distribui os dons, tanto a igrejas quanto a indivíduos,
então as igrejas e as denominações fariam bem em aceitar
aquilo que Deus lhes tem conferido, sem qualquer orgu­
lho, inveja, senso de culpa, auto-consciência ou sentimen­
to de inferioridade. Qualquer que seja o conjunto de dons
que Deus escolheu para você e sua igreja, trata-se de um
complexo adequado para o crescimento, se sua força dinâ­
mica for liberada pelo poder do Espírito Santo, e em obedi-
84 D escu b ra Seus D o n s Espirituais

ência ao Senhor da colheita.

Notas

1. Lawrence J. Peter e Ra3miond Hull, The Peter Principie (Nova York: Bantam Books, 1969), pág. 7.
2. Festo Kivengere, IL o v cId iA m in (Old Tappan, Nova Jersey: Fleming H. Revell Co.. 1977).
3. Jean Dye Johnson. God Planted Five Seeds (Nova York: Harper and Row, Publishers, Inc., 1966).
4. Contei essa história, de modo breve, no prefácio da primeira edição do DefeaL q/l/ie Bird God (Grand
Rapids: Zondervan Publishing House, 1967), mas o prefácio não foi reimpresso quando a edição da William
Carey Library foi impressa mais tarde.
5. Leslie B. Flynn, Ninetcen Gi/ls o f t/ie Spirit (Wheaton: Victor Books, 1974), pág. 10.
6. David Mains, FuU Circle (Waco; Word Books, 1971).
7. Karen Mains. Opcn Heart. Open Home (Elgin: David C. Cook, Publishing Co., 1976).
8. Karen Mains, "Hospitality Means More Thain a Party," Moody Monthly (dezembro de 1976), pág. 38. Um
outro artigo de Karen Mains foi escrito por Ron Wilson, “Open Hearted Living,” Clvistian Life (julho de 1976),
págs. 26 ss.
9. Edilh Schaeffer, “Hospitality: Optlonal of Commanded?" ClvisUanity Today (17 de dezembro de 1976),
págs. 28 e 29.
10. Um estudo cuidadoso do uso da hospitalidade pelos cristãos primitivos foi feito por Donald Wayne
Riddie, “Early ChrisLian Hospitality: A Factor in the Gospel Transmission,” Journal ofBiblical Liierature (vol.
57, 1938), págs. 141-154.
11. “A Man With a Vision,” C/uIsíían Life (março de 1978), págs. 21.
12. Elizabeth 0 ’Connor, E^hth Day qfCrealion (Waco, Word Books, 1971), pág. 32.
13. Bryan Pollock, "Have You Ever Tried to Pray (For Eight Hours a Day?” Worldwide Challenge (janeiro de
1978), págs. 12-14.
14. Wanda Dugan, “She May Have Prayed for You,” Worldwide Challenge (outubro de 1977), págs. 26-29.
15. Norman Grubb, Rces Howclls: Intercessor (Fort Washington, PA: Christian Literature Crusade, 1973),
pág. 86.
16. William J. McRae, The Dynamics q f Spiritual Cifls (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1976),
pág. 59.
17. Ray C. Sledman, Body Life (Glandale: Regai Books. 1972), págs. 40,41.
18. David L. Hocklng, Spiritual Gifls: Their Necesslty and Use in the Local Church (Long Beach, CA: Sounds of
Grace, n.d.), págs. 52,53. * __ ^
19. Kenneth Cain Klnghom, Cí/ls 0/"í/ie Spirit (Nashville: Abingdon Press, ^41.
20. JackW . MacGorman, The Gifls q f lhe Spirit (Nashvllle: Broadman P r e | | ^ ^ 34,35.
21. Idem.
22. Merrill F. Unger. The Baplism and Gifls q f the Holy Spirit (Chicafi^.tióody Press, 1974), pág. 139.
23. John F. Walvood, The Holy Spirit (Grand Rapids: Zondervan Puí^shlng House, 1954), págs. 173-188.
24. John R. W. Stott, OnePeople (Downers Grove: Inter-Varsity Bi^ss, 1968), págs. 2. Ver também a obra de
Stott, fíapíLsm a;id Rtllness; The Work q f lhe Holy Spirit Todaj^^owners Grove: Inter-Varsity Press, 1976),
págs. 94-102.
25. John MacArtliur, Jr., The Church — T7ie Body o f Christ (Grand Rapids: Zondervan Publishing House,
1973), pág. 150.
26. David Hocking, Spiritual Gifls, pág. 51.
27. Michael GriíTiths, Cííiderdia's fíeíJiroí/ial Gi/Ls (Robesonla, PA: OMF Books, 1978), pág. 8.
28. J. Rodman Williams, T7ie Era q f the Spirit (Plalnfield, JJ: Logos International, 1971), pág. 28.
29. Arixona Baplist, “Charismatics in a Baptist Church”, março de 1978, pág. 4.
3
Q uatro C oisas Q ue
os D ons N ão São
enhuma confusão existe em certas áreas que pa­
recem induzir algumas pessoas a desviarem-se da
trüÇ^jjill^rta. Em minha própria experiência, tenho
g^onu-í^o quatro dessas áreas que requerem nos­
sa atençáò"i:;special. Os dons espirituais por mui­
tas vezes são confunoK^os com talentos naturais e até cer­
to ponto, com simulaçãb* de dons.
Vamos examinar cada uma dessas áreas por sua vez.

Não Confundamos Dons Espirituais


^Com Talentos Naturais
Todo ser humano, em virtude de haver sido criado ã
imagem de Deus, possui certos talentos naturais. Tal como
no caso dos dons espirituais, existem, variações e graus
entre os talentos naturais. Os talentos são aquelas carac­
terísticas que dão a cada ser humano uma personalidade
sem igual. Parte de nossa auto-identidade tem a ver com o
conjunto particular dos talentos que exibimos.
De onde nos vêm esses talentos naturais? Em última
análise, eles nos são outorgados por Deus, e, como tais,
em certo sentido, deveríam ser considerados dons. Eis a
razão pela qual, com freqüência, dizemos que a pessoa que
86 Descubra Seus Dons Espirituais

Ccinta bem ou tem um extraordinário quo ciente de inteli­


gência (Q.I), ou ao que pode chutar uma bola bem no ân­
gulo da meta, de longa distância: “Puxa, esse homem real­
mente tem um dom!”
Va Mas, possuir talentos naturais nada tem a ver direta­
mente com ser crente ou ser membro do Corpo de Cristo.
Muitos ateus, por exemplo, possuem um talento soberbo,
para uma coisa ou para outra. Mas, o fato de que são pos­
suidores de talentos naturais não significa que tenham dons
espirituais.
Os crentes, como qualquer outra pessoa, também têm
talentos naturais. Mas esses talentos não devem ser con­
fundidos com os dons espirituais. Usualmente é incorreto
para um crente dizer que seu dom é consertar automóveis,
cozinhar bem, contar piadas, pintar quadros, jogar volei­
bol ou xadrez.
Para piorar ainda mais as coisas, a palavra grega usada
na Bíblia, charísma, tem sido secularizada. Os estudiosos
do grego afirmam que o apóstolo Paulo fo^y, ,T^je que usou,
quase exclusivamente, esse vocãbu lí^j^itérãlnra grega.
As únicas outras vezes em que ela m ^ ê c e são duas vezes
em 1 Pedro 4.10, e uma vez nos e s ^ to s de Filo. Um século
antes de nós, entretanto, o famc/To sociólogo alemão, Max
Weber, começou a usar a palavra em termos de certa espé­
cie de líder, que ele chamou de “líder carismático.” Nesse
sentido, a palavra poderia ser atualmente usada para indi­
car Anwar Sadat, Heniy Klssinger ou Fidel Castro, paira
falar em algumas poucas figuras internacionais, que obvi­
amente são “carismáticas” em um sentido amplo da pala­
vra. Mas nenhum dos três, até onde sei, é membro do Cor­
po de Cristo: pelo que, nenhum deles recebeu algum dom
espiritual.
Os dons espirituais estão reservados exclusivamente
para os crentes. Nenhum incrédulo possui dons espiritu­
ais; e todo verdadeiro crente em Jesus tem algum dom. Os
dons espirituais não devem ser considerados como talen­
tos naturais consagrados a Deus. Pode haver uma certa
ligação discemível entre as duas coisas, contudo. Pois, em
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 87

alguns casos (não em todos, é claro) Deus toma um talento


natural em um incrédulo, e transforma isso em um dom
espiritual, quando tal pessoa passa a fazer parte do Corpo
de Cristo. Mesmo em casos assim, o dom espiritual é mais
do que .algum tcilento natural aprimorado. Por ser dado por
Deus, um dom espiritual jamais pode ser reproduzido.
Um dos casos mais vividos que conheço envolve meu
bom amigo e colega, John Wimber, fundador do Departa­
mento de Crescimento do Fuller Evangelistic Association.
Antes de John tomar-se crente, cerca de quinze anos atrás,
ele possuía dois notáveis talentos naturais. Antes de tudo,
era um músico consumado. Ele tocava todos os instru­
mentos, escrevia música, preparava arranjos musicais, di­
rigia gmpos musicais e já havia estudado teoria musical,
tomando-se mestre no assunto. Em segundo lugar, ele era
um bom vendedor. Mostrava-se muito bem sucedido na
propaganda de peças musicais era proprietário de lojas de
artigos do ramo, dirigia gmpos em torneios musicais, pro­
duzia disco|^uja|eus rendimentos pessoais eram tão eleva­
dos que liCi^í^. embaraçado, se eu mencionasse, aqui,
quanto ele costuina^a ganhar.
Quando John Wi;nber tomou-se crente, em uma dra­
mática experiência de conversão que nos lembra aquela
pela qual passou o apóstolo Paulo. Deus fez algo de muito
interessante com os talentos naturais dele. O talento mu­
sical de John, ao que parece, nunca foi transformado em
um dom espiritual. O talento permaneceu, e ele o dedicou
a Deus; e ele compôs alguns hinos, passando a entoá-los,
ocasionalmente, para a glória de Deus. Mas, não muito
mais. Deus tinha em mente algo diferente para ele.
Quando John Wimber tomou-se membro do Corpo
de Cristo, Deus tomou o seu talento natural de vendedor e
o transformou no dom de evangelista. Resultado, mais de
duas mil pessoas estão atualmente residindo no condado
de Orange, e afirmam ser John Wimber o pai espiritual
delas. Não somente Deus lhe deu o dom de evangelista,
mas também lhe deu esse dom no mais elevado grau. Por
meio de seu dom, John tem um senso intuitivo que lhe diz
88 Descubra Seus Dons Espirituais

quando uma pessoa incrédula está pronta para nascer de


novo. E ele costuma dizer que se sente como se fosse um
médico parteiro espiritual. Ele sabe quando é chegado o
momento certo, e também sabe como fazer o parto. Quan­
do John Wimber não conduz várias pessoas aos pés de
Cristo em uma semana, ele fica desassossegado, e sente
como se algo estivesse errado. (N.E.: Recomendamos a lei­
tura de Vencendo a Guerra Real de James Robison)

Não Confunda os Dons Espirituais


'V) Com o Fruto do Espirito
O fruto do Espírito, em seus vários aspectos, é descri­
to em Gálatas 5.22,23. O amor, alegria, paz, longanimidade,
bondade, benignidade, fé, mansidão e o auto-controle (tem­
perança) são ali alistados. Alguns expositores da Bíblia res­
saltam o fato que “fruto” está no singular, e que a constru­
ção gramatical original, no grego, permite um ponto e vír­
gula após a palavra amor. E assim, se todas essas outras
virtudes fazem parte do fruto do Espírito, lor é, prova­
velmente, a virtude primária. ^
Não é apropriado falar em “d o rr y ^ amor”, se quiser­
mos dizer que o amor deveria tomm?^e o dom espiritual de
número vinte e oito em nossa listo! No sentido amplo, na­
turalmente, o amor é um dom de Deus, e assim deve ser
considerado. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”
(1 João 4.19). Mas o amor não é um dos charismata, no
sentido que Deus o dá a alguns dos membros do Corpo de
Cristo, mas não a outros.
O fruto do Espírito é a conseqüência normal e espera­
da do crescimento, da maturidade, da semelhança com
Cristo e da plenitude do Espírito Santo na vida de todos os
crentes. Visto que todos os crentes têm a responsabilidade
de crescer em sua fé, todos eles também são responsáveis
para desenvolver o fruto do Espírito. O fruto não é desco­
berto como acontece no caso dos dons; mas desenvolve-se,
mediante o andar do crente com Deus, visto que ele entre­
ga a sua vida à direção do Espírito Santo. Se os dons espi­
rituais ajudam a definir o que um crente Jaz, o fruto do ^
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 89

Espírito ajuda a definir o que um crente é.


O fruto do Espírito é um pré-requisito, para o exercí­
cio eficaz dos dons espirituais. Os dons, sem o fruto do^
Espirito, são inúteis. Os crentes de Corinto tiveram de des­
cobrir isso pelo lado mais difícil. Eles possuíam um ideal
conjunto de dons espirituais, de conformidade com o tre­
cho de 1 Corintios 1.7. Eles estavam atarefados na desco­
berta, no desenvolvimento e no uso de seus dons espiritu­
ais. Eram tão carismãticos, quanto é possível a uma igreja
local ser. No entanto, eles formavam uma área desastrosa,
uma das Igrejas mais confusas e derrotadas sobre as quais
podemos ler no Novo Testamento.
O problema básico deles não era os dons espirituais,
mas o fruto do Espirito. Eis a razão pela qual Paulo escre­
veu o décimo terceiro capítulo de 1 Corintios, para eles.
Ali, pois, Paulo falou profundamente sobre o amor, o pri­
meiro dos aspectos do fruto do Espírito. Ele lhes disse que
podiam possuir o dom de línguas, o dom da profecia, o
dom do conK|jj||nento, o dom da fé, o dom da pobreza vo­
luntária, ,^:^om^^martírio e qualquer outro dom espiritu­
al; mas sem o amor,^udo isso se reduzia a absolutamente
nada (ver 1 CorintiosV 3.1-3). Os dons espirituais sem o
fruto do Espírito, são cor/io um pneu de automóvel, sem ar
— todos os ingredientes estão presentes, mas não têm qual­
quer utilidade.
^ Ademais, os dons espirituais são temporais, mas o
fruto é eterno. Naquele mesmo capítulo de 1 Corintios, o
apóstolo nos instruiu que dons como a profecia, as línguas
e o conhecimento haverão de chegcir ao fim. Mas a fé, a
esperança e o amor permanecerão para sempre. Se os dons
volvem-se para as tarefas que temos de realizar, o fruto
volve-se para Deus.
É digno de nota que uma passagem sobre o fruto do
Espírito acompanhe cada uma das passagens básicas so­
bre os dons espirituais. O capítulo treze de 1 Corintios é o
trecho mais explícito e mais largamente reconhecido quan­
to a isso. Mas, Romanos 12.8, por igual modo, é seguido de
imediato pela declaração: “O amor seja sem hipocrisia.
90 Descubra Seus Dons Espirituais

Detestai o mal, apegando-vos ao bem. Amal-vos cordial­


mente uns aos outros com amor fraternal. . .” (Rm 12.9,10).
E esse passo bíblico prossegue por mais onze versículos,
nesse tom. Ademais, no quarto capítulo de Efésios, essa
passagem sobre os dons ministeriais, que termina no
versículo dezesseis, tem prosseguimento, logo no versículo
seguinte, com uma menção ao fruto do Espírito. Entre ou­
tras coisas, lemos ali; “. . .e cindai em amor, como também
Cristo vos amou. . .” (Ef 5.2). E a passagem sobre os dons
espirituais, que tem início em 1 Pedro 4.9, é precedida de
Imediato por esta recomendação: “Acima de tudo, porém,
tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor
cobre multidão de pecados” (1 Pe 4.8).

Não Confunda o Dons Espirituais


^ Com Os Papéis dos Crentes
Quando examinamos a lista dos vinte e sete dons es­
pirituais, toma-se patente que muitos deles descrevem ati­
vidades que são esperadas da parte de ca|»,;^ rente. Nesta
altura ajuda muito distinguir entre os é:^>;^tuais e o
dever dos crentes. Os deveres difere^aum pouco do fruto
do Espírito, porque envolvem m a ^ o fazer do que o ser.
Mas são similares ao fmto do Eí^írito, no sentido que se
espera isso da parte de todos os crentes.
Talvez o mais óbvio de todos os dons espirituais seja
também um dever do crente — a Fé. Para que alguém se
tome crente e participe do Corpo de Cristo, é mister Fé. E
essa Fé, de acordo com a Bíblia, é um dom de Deus (ver
Efésios 2.8,9). Então somos informados que a fé faz parte
do fmto do Espírito. (Ver Gálatas 5.22). E que “sem fé é
impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). Em outras palavras,
o estilo de vida de todo crente, sem qualquer exceção, deve
ser caracterizado, dia após dia, pela fé. Acima de tudo isso,
entretanto, é o dom especial da fé, que é dado por Deus a
apenas alguns poucos membros do Corpo. Mais adiante
descreveremos esse dom, com maiores detalhes. Mas o dom
da fé consiste em muito mais do que o fmto da fé e o papel
da fé, que vemos em todo crente verdadeiro. (N.E.: Reco-
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 91

mendamos a leitura de Supremo Chamado do Dr. Lany


Lea).
Quando discutimos sobre o dom da hospitalidade, no
capítulo anterior, mencionei que nem Dóris e nem eu pos­
suímos esse dom. Não obstante, desempenhamos o papel
de entreter hóspedes, o que fazemos com regularidade. É o
fato de que, ocasionalmente, temos pessoas para jantar,
ou pcira recebê-las durante uma noite, servirmos de hos­
pedeiros de festinhas da igreja, emprestamos nosso auto­
móvel e certificarmo-nos de que novas pessoas estão sen­
do orientadas para a comunidade. Todas essas coisas es­
tão incluídas em nosso papel cristão. Nenhuma dessas coi­
sas acontece facilmente, e também nunca sentimos que
estamos agindo conforme deveriamos. No entanto, conti­
nuamos a empenharmos esforços nesse sentido.
A oração é, ao mesmo tempo, um privilégio e uma
responsabilidade para todo crente. Esse é outro exemplo
de papel cristão. Ninguém precisa do dom de intercessão
para falar cji^ytííl^eus. Por igual modo, alguns têm o dom do
ministérigs^u dc^'|’ rviço, mas todos os crentes devem ser­
vir uns aos outros (Ver Gálatas 5.13). Alguns crentes rece­
beram o dom da exorl.ição, mas todos têm o papel de se
exortarem mutuamente (ver Hebreus 10.25). Alguns pou­
cos receberam o dom ministerial de evangelista, mas, de
todos os crentes espera-se que exerçam seu papel de teste­
munho cristão (ver Atos 1.8).
O papel de celibatário é importante, devendo ser fri­
sado em nossa sociedade permissiva contemporânea, quan­
do muitos estão tentando estabelecer uma “nova morali­
dade.” Na discussão sobre o dom do celibato, indiquei que
não recebi esse dom, e que tal dificuldade foi solucionada,
quando me casei. Mas exerço um papel de celibato, que
preciso pór em prática, particularmente quando estou via­
jando, longe de casa. Usualmente não faltam oportunida­
des de mostrar-me infiel para com minha esposa, se eu
estivesse atrás de tais oportunidades. Lembro-me de certa ^
ocasião, quando, em um hotel rural de Taiwan, sem o meu
conhecimento, o gerente do mesmo provideneiou uma eom-
92 Descubra Seus Dons Espirituais

panhia feminina, para dormir comigo. Devo admitir que,


quando olhei para ela, não senti nenhuma tentação para
aceitá-la; embora, também, precise admitir que podería ter
acontecido tal coisa. Fosse como fosse, eu era responsável
diante de Deus para exercer o meu papel de celibatário; e
foi o que eu fiz.
Por semelhante modo, o papel de celibatário é muito
apropriado para os crentes que ainda não se casaram, ou
para homens e mulheres crentes que perderam o seu côn­
juge mediante a morte ou o divórcio. A maioria desses cren­
tes já descobriu que não possuem o dom do celibato; no
entanto, há um momento em que um crente, viúvo ou di­
vorciado, precisa manter-se continente até que Deus lhe
proveja outro cônjuge. Não possuir um dom espiritual não
serve de desculpa para cair em pecado.
Os crentes precisam estar preparados para exercer
qualquer papel no caso de emergência ou necessidade.
Quando ocorre um acidente, sem dúvida você faz o que for
possível para ajudar a vítima, até que o médico.
Quando ocorre um incêndio, você ten^í^dpagk: o mesmo
até chegarem os bombeiros. Muitos/rentes são poupados
de terem de intervir em situações giímilares, que aparecem
com freqüência em suas vidas espirituais. Mas alguns pas­
tores e igrejas, para exemplificar, são forçados a desempe­
nhar certos papéis, simplesmente porque é mister que al­
guém faça isto ou aquilo, quer tenham eles dons espiritu­
ais, ou não.
De certa feita falei sobre os dons espirituais em uma
Igreja; e, durante a apresentação, mencionei que os dons
espirituais são distribuídos no Corpo de Cristo mais ou
menos como vários papéis são distribuídos entre os joga­
dores de uma equipe de futebol. Os jogadores do meio do
campo servem de elo de ligação entre os jogadores de defe­
sa e os jogadores de ataque. O papel desses jogadores de
meio de campo é importante, pois, sem eles, dificilmente o
jogo íluiria bem, e o mais certo é que, se não houver um
bom meio de campo, o time perca o jogo. Terminada aquela
reunião, um homem forte veio falar comigo, e disse que
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 93

quando jovem jogara em uma equipe de futebol, precisa­


mente como homem de meio campo. Então perguntei se
ele já havia feito algum gol. E então, sorrindo, ele respon­
deu: “Sim, certa feita, já quase no fim de uma partida, que
estava zero a zero, abandonei momentaneamente minha
posição de meio de campo, e, ao ver que havia um corredor
na minha frente, praticamente sem defesa, corri, com a
bola controlada nos pés, e, chegando perto do gol adversá­
rio, fulminei. E o goleiro adversário engoliu um ‘frango’,
pois meu chute na bola não foi especialmente violento e
certeiro!”
De acordo com a nossa analogia, o papel daquele jo ­
gador era de “ligação” entre a defesa e o ataque; mas, em
uma emergência, ele desempenhou um papel com o qual
não estava muito acostumado, e acabou obtendo sucesso,
tal como devem fazer os crentes quando surge uma opor­
tunidade.

Dom 5: Con
A que os papéis cristãos operam, parale­
lamente aos don^fe,_pirituais, é vividamente ilustrada me­
diante o dom da contribuição.
Não há dúvida de que todo crente deve entregar uma
décima parte de seus rendimentos ao Senhor. De acordo
com a Bíblia, cada crente deve estabelecer alvos definidos
em suas dádivas, contribuindo com bom ânimo (ver 2
Corintios 9.7). Esse é um papel cristão, e não há exceções.
Devem contribuir tanto os crentes ricos quanto os crentes
pobres. Os jovens casados, que ganham pouco mas gas­
tam muito, deveriam dar a mesma proporção que os cren­
tes mais maduros e financeiramente seguros: dez por cen­
to. Aos crentes recém-convertidos deveriamos ensinar a
contribuírem, assim que começam a crescer em sua fé.
E com quanto um crente deveria contribuir?
Ao estudar a Bíblia, tive que concluir que uma déci­
ma parte, ou seja, dez por cento dos rendimentos, é o míni­
mo por melo do qual podemos começar o nosso papel de
doar. Não sou ordinariamente legalista em minhas Idéias
94 Descubra Seus Dons Espirituais

sobre a conduta cristã; mas preciso dizer que creio que


qualquer crente que contribua com menos de dez por cen­
to de sua renda, em certo sentido está praticando uma de­
terminada forma de desonestidade. Algumas pessoas en­
ganam regularmente o imposto de renda. Mas ninguém
engana a Deus. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba;
pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (G1
6.7).
É fato bem conhecido que um grande número de cren­
tes não está exercendo o seu papel de contribuição. Na
América do Norte, onde o salário médio é de mil quatrocen­
tos e cinqüenta dólares por mês, os crentes doam uma média
de cento e quarenta e cinco dólares por ano. Ou seja, eles
doam, em média, um dólar de cada cento e vinte dólares
que ganham. Comparativamente, com quanto você costu­
ma contribuir? Com uma URV (Unidade Real de Valor), para
cada cento e vinte cruzeiros que ganha? Minha igreja, a
Lake Avenue Congregational Church, é uma igreja cujos
membros são bastante abastados, pois pajtepcem basica­
mente ã classe média alta. Porém, calcuh^Th.íta feita, que
se todos os nossos membros recebe#í^n o salário dado
aos desempregados e dizimassem, o nosso rendimento au­
mentaria em cerca de quarenta por cento! Fiquei desapon­
tado ao ler em um jornal que a pessoa que foi considerada
como o crente evangélico número um da América, o ex-
presidente Jimmy Carter, aparentemente não entregava
regularmente seus dízimos ã Igreja. Sua renda da qual se
pôde deduzir imposto de renda, foi de cento e vinte e dois
mil cento e oitenta e nove dólares, mas ele contribuiu para
a sua igreja somente com seis mil dólares, ou seja, 4,9 por
cento. Mesmo assim, foi uma proporção bem melhor que a
do ex-presidente Nixon, o qual, em 1969, deu duzentos e
cinqúenta dólares ã sua igreja, o que é menos de cinco
dólares por semana.
Comecei a levar mais a sério essa questão de nossas
doações quando, há muitos anos atrás, nosso pastor,
Raymond Ortlund, pregou um sermão excepcionalmente
bom sobre a mordomia cristã, durante nosso esforço de
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 95

novembro, para recolhimento de fundos. Entre outras coi­


sas, disse que ele e sua esposa tinham doado cerca de vin­
te e cinco por cento de seus rendimentos. Minha esposa e
eu fizemos alguns cálculos e descobrimos que mal chegá-
vamos aos dez por cento de nosso rendimento. Assim sen­
do, dedicamo-nos à oração, procurando aumentar a taxa
de nossas doações, e um ano depois havíamos chegado
aos quinze por cento. Então começamos a orar de novo.
Durante esse processo, descobrimos que aquele trecho bí­
blico que diz: “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada,
sacudida, transbordante, generosamente vos darão” (Lc
6.38), é literalmente verdadeira. Agora estamos doando um
pouco mais de quinze por cento de nosso rendimento, e
sentimos que, financeiramente, não podemos voltar à pro­
porção antiga. Isso funciona tão bem que ainda estou por
descobrir um crente que começou a dizimar e depois vol­
tou ã estaca zero. A infidelidade a Deus, quanto a essa
questão do dízimo e das doações, simplesmente não é um
/bom negócio,y^^^
Esto^^ ^t^do tudo isso, para afirmar que minha
esposa e eu não po&,^uímos o dom da contribuição. Acredi­
to que não estou caindo na armadilha da projeção dos dons,
ao assim dizer; mas, apenas descrevendo um papel cris­
tão. De fato, estou ficando crescentemente convicto de que
o único caminho que temos pelo qual avançar, em uma
sociedade abastada, como aquela que temos aqui na Amé­
rica do Norte, é concordar, como crentes que somos, que
usaremos de dízimos escalonados — quanto mais ganhar­
mos, maior porcentagem doaremos. Ronald Sider advogou
isso em um livro; e, por certo, concordo com ele.^
A razão pela qual estou convencido de que minha es­
posa e eu não recebemos o dom da contribuição é que con­
tinuamos a fazer a nós mesmos a pergunta: quanto mais
podemos doar ao Senhor? Os crentes que receberam o dom
da contribuição não fazem esse tipo de pergunta. A per­
gunta que eles costumam fazer é bastante diferente dessa.
Aprendi isso da parte do falecido R. G. LeToumeau.
R. G. LeToumeau, o grande industrial texano, era
96 Descubra Seus Dons Espirituais

possuidor do dom da contribuição. A pergunta-chave foi


descrita em sua autobiografia. Ali, ele disse: “A pergunta
não é tanto quanto do meu dinheiro eu dôo a Deus, mas
antes, quanto do dinheiro de Deus eu retenho”.^ Ele res­
pondeu a essa pergunta, dedicando noventa por cento dos
bens de sua companhia à sua fundação evangélica; e então
ele e sua esposa doaram noventa por cento das rendas que
tinham ganho de sua parte nos negócios que dirigiam. Mas
nunca faltou coisa alguma a ele e ã sua esposa.
Um irmão na fé mais contemporâneo, dotado desse
dom da contribuição é Stanley Tam, que está envolvido em
negócios com prata, em Lima, estado de Ohio. Ele fez de
Deus seu sócio principal, doando legalmente cinqüenta e
um por cento à sua fundação cristã, para, então, ir aumen­
tando essa proporção até chegar aos cem por cento. Essa
fundação recebe os lucros dos negócios. E nem é preciso
dizer que ele e sua esposa também dão os dízimos das ren­
das da família. Sem usar essas palavras exatas, Stanley
Tam reconhece a sua incomum capacidadejde fazer doa­
ções ao Senhor, como um dom espirituMPrí 4|az questão
de evitar a tentação da projeção de algEm dom espiritual.
Asseverou ele, em sua autobiografia: “Francamente, não
acredito que sou tão bom negociante conforme indicam
nossas declarações financeiras. Acredito que opero muito
acima de minha capacidade natural”.^ Em um outro tre­
cho, ele teve o cuidado de dizer: “Quero exortar que não se
utilizem de mim como se eu fosse um exemplo. . . Deus fez
o que poderiamos chamar de demandas singulares sobre a
minha vida. Ele pode fazer outro tanto a seu respeito, re­
solvendo orientá-lo e motivá-lo de maneiras totalmente di­
ferentes disso”.'*
Embora pessoas altamente bem sucedidas, como
LeToumeau e Tam usualmente sejam as pessoas reconhe­
cidas e dadas como exemplos, em livros que falam sobre o
dom da contribuição, a verdade é que esse dom espiritual
também é conferido a pessoas que ganham pouco. O após­
tolo Paulo mencionou os crentes da Macedónia, o quais
doaram com base em sua pobreza. (Ver 2 Corintios 8.1,2).
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 97

O comentário de Jesus sobre as moedinhas da viúva, que,


assim, contribuiu mais do que o fizeram certos homens
ricos (ver Marcos 12.41-44), é um passo bem conhecido.
James McCormick, que estava envolvido na indústria de
construções, em Birmingham, Alabama, atualmente é um
homem milionário. Mas ele descobriu seu dom de contri­
buição quando ainda estava trabalhando em uma loja de
tecidos, e ganhava trinta e cinco dólares semanais. Naque­
la época, ele fez a promessa de dar cinqüenta por cento de
seus rendimentos ao Senhor; e assim vem fazendo desde
então. Não hã que duvidar que os dezessete dólcires e cin­
qüenta centavos que ele passou a dar por semana, para
Deus valia tanto quanto as enormes quantias com que
James McCormick atualmente contribui.s
O dom da contribuição é a capacidade especial que
Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo, para contri- ^
buírem com seus recursos materiais para a obra do Senhor,
e isso com liberalidade e satisfação.

Dom 22: )P!'Jorck3^^^oluntâriã


Sinto-me muito endividado a Donald Bridge e David
Phypers, por terem chamado a minha atenção para o dom
da pobreza voluntária.® A referência bíblica por eles usada
é a de 1 Corintios 13.3, onde lemos: “E ainda que eu distri­
bua todos os meus bens entre os pobres. . .” Durante anos
simplesmente supus que essa seria outra maneira de des­
crever o dom da contribuição; mas agora tenho compreen­
dido que se trata de um dom diferente, posto que relacio­
nado. É provável que aqueles que possuem o dom da po­
breza voluntária também tenham o dom da contribuição.
No entanto, nem todos quantos têm o dom da contribuição
possuem o dom correspondente da pobreza voluntária.
O dom da pobreza voluntária é aquela capacidade es­
pecial que Deus confere a certos membros do Corpo de Cris­
to, para que renunciem aos confortos e luxos materiais, e
adotem um estilo de vida equivalente ao daqueles que vi­
vem em nível de pobreza, dentro de uma dada sociedade, a
fim de servirem a Deus com maior eficiência.
98 Descubra Seus Dons Espirituais

O uso que aqui se faz do adjetivo “voluntário” é im­


portante, para separar aqueles que foram dotados desse
dom daqueles que se acham em estado de pobreza, por
causa de circunstâncias sociais, sobre as quais não exer­
cem controle. Outrossim, devemos reconhecer que a rique­
za e a pobreza materiais são apenas termos relativos. Po­
bre, sim, mas em comparação com quem? Quando, a prin­
cípio, começamos a pensar sobre o que estã implícito nes­
se dom, Dóris e eu perguntamos se porventura possuiria­
mos esse dom, quando éramos missionários. Afinal, em
1971, o último ano em que estivemos no campo missioná­
rio, a renda total no ano, de nossa família, com cinco mem­
bros, foi de três mil e novecentos dólares. Se estivéssemos
vivendo na América do Norte, naquele ano, teriamos que
nos considerar muito pobres. Mas estando nós na Bolívia,
fomos capazes de viver em um nível consideravelmente
acima do nível de pobreza do povo boliviano. E, assim sen­
do, tivemos que admitir que não tínhamos o dom da pobre­
za voluntária. JW T
João Wesley, entretanto, foi dotad^To dtbrq hifenado
da contribuição-pobreza voluntária. Quando morreu, ele
deixou uma bem conhecida capa, bem desgastada, e duas
colheres de chã de prata, como suas propriedades. Duran­
te sua vida, entretanto, ele tinha doado ao Senhor cerca de
cento e cinqüenta mil dólares.^
George Muller, de Bristol, Inglaterra, foi outro crente
dessa categoria. Ele morreu deixando propriedades pesso­
ais no valor de oitocentos e cinqüenta dólares. Foi um ho­
mem pobre durante sua vida inteira. No entanto, quando
seus livros contábeis foram examinados, após a sua morte,
foi descoberto, para surpresa de todos, que, através dos
anos, um totaJ de cento e oitenta mil dólares foram doados
por um doador identificado somente como “um servo do
Senhor Jesus, o qual, constrangido pelo amor de Cristo,
busca ter um tesouro no céu.” O doador, naturalmente, foi
o próprio Muller.®
John Wesley e George Muller fazem contraste com R.
G. LeToumeau e Stanley Tam, os quais exerceram o dom
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 99

da contribuição desligado do dom da pobreza voluntária.


Aprecio muito a declaração franca de Stanley Tam: “Gosto
de boa comida, de uma casa confortável, de roupas decen­
tes e de um bom automóvel”.®De fato, é provável que Deus
tenha chamado Tam para que fosse rico, e não pobre, e a
fim de que pudesse exercer melhor o dom da contribuição.
Tam admitiu francamente: “Tenho uma sede insaciável de
ganhar dinheiro. Gosto disso. Gosto de promover, de ver
minha companhia crescer. Estudo nossos relatórios anu­
ais e regulares como se fosse um falcão faminto, avaliando,
descobrindo, verificando e reaveriguando”.^®
Tal atitude de forma alguma concorda com o tipo de
coisa que um outro grupo de crentes norte-americanos está
fazendo, que se chama de Coligação Cristã do Povo. Esses
exercem seu dom de pobreza voluntária preferindo viver
um estilo de vida simples em uma seção pobre de Washing­
ton D. C. Estão fazendo algo de maravilhoso, por usarem
seus dons para contribuírem para o bem estar dos pobres
e oprimido^/áWIÉliele bairro pobre de Washington. As decla­
rações publlcadài? na revista deles, Sqjoumers, entretanto,
chega bem perto da síndrome de uma projeção de dom es­
piritual. Eles passam muito tempo tentando produzir ra­
zões bíblicas sobre por que o estilo de vida radical que têm
desenvolvido poderia ser mais agradável a Deus do que o
estilo de outros crentes em nossa sociedade; os quais têm
esse e outros dons espirituais e os estão exercendo. Vivem,
porém, um nível econômico mais confortável. Eles associ­
am tciis pessoas ao “establishment” (o sistema), sobre o
qual lançam a culpa por uma grande variedade de males
sociais e econômicos.
Talvez essa atitude tão crítica se deva ã presença de
um outro dom, a saber, o da profecia. Os artigos publica­
dos no Sqjoumers têm um certo tom de pessimismo que
nos faz lembrar Jeremias e outros profetas do Antigo Tes­
tamento. Por causa de seu conjunto de dons em particu­
lar, aqueles evangélicos radicais provavelmente sentir-se-
iam tão mal se vivessem na propriedade reclusa de Billy
Graham, nas montanhas Negras, no Estado de Carolina do
100 Descubra Seus Dons Espirituais

Norte, ou na cômoda mansão de Robert Schuller, em


Orange, na Califórnia, como sentir-se-iam Billy Graham
ou Robert Schuller, em uma comunidade em um bairro
pobre de Washington.
Mas “não podem os olhos dizer ã mão: Não precisa­
mos de ti” (1 Co 12.21). E nem pode ou deve um membro
do Corpo, com um conjunto de dons, pôr-se a julgar dura­
mente a outros membros do Corpo, dotados de outro con­
junto de dons. Entretanto, talvez aqueles que tenham uma
certa variedade do dom de profecia não sejam capazes de
mudar de atitude, precisando ser entendidos sob essa luz
por aqueles que pertencem ao chamado “sistema”.
O dinheiro gasto corretamente pode servir de tremen­
do estímulo ao crescimento eclesiãstico. Muito desse cres­
cimento, tanto aqui na América do Norte, quanto entre povos
ainda não atingidos pelo evangelho, pelo mundo todo, está
sendo atualmente retardado por causa de fundos. Calcula-
se que hã cerca de setenta e quatro milhões de evangélicos
na América do Norte. N.E.: (30,4 % da po america­
na). É de presumir que os evcmgéÜcos^KejamSnteressa-
dos na propagação da fé ao redor do mundo. Mas as doa­
ções nacionais para as missões, não superam 1 bilhão de
dólares, ou seja, uma média de setenta centavos de dólar
por evangélico.
Devido a todo o corrente interesse pelos dons espiri­
tuais, milhares de crentes haverão de descobrir que Deus
lhes tem dado o dom da contribuição, e que milhões de
crentes que não estão exercendo o seu papel cristão de
doar, começarão a contribuir de uma maneira responsá­
vel. Os recursos assim liberados para a propagação do evan­
gelho e o cuidado com os sofredores e oprimidos multipli-
car-se-iam de modo extraordinário. E Deus, conforme creio,
ficaria deveras satisfeito.

Não Confunda os Dons Espiritueds


Com Dons Simulados
Como eu gostaria de não ter de escrever esta seção
sobre os dons espirituais simulados. Como eu gostaria que
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 101

não fosse verdade que Satanás, os demônios e os espíritos


malignos não fossem reais e nem estivessem fazendo opo­
sição ativa à obra do Senhor. O próprio Jesus disse; “...por­
que surgirão falsos cristos e falsos profetas operando
grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os
próprios eleitos” (Mt 24.24). Jesus também falou sobre
aqueles que profetizariam e expeliríam demônios em Seu
nome mas que, na realidade, seriam praticantes de iniqüi-
dades (ver Mateus 7.22,23).
Minha esposa e eu consideramo-nos afortunados pelo
fato de que, em vinte e dois anos de serviço cristão de tem­
po integral, dezesseis anos dos quais foram passados no
campo missionário, o Senhor nunca nos permitiu ter con­
tato em primeira mão com demônios ou espíritos, ou feiti­
ceiros ou cultores de artes ocultas. Mas temos muitos ami­
gos que têm tido tais contatos, e que sabem o que significa
estar na linha de frente, na batalha contra os principados e
as potestades. O que me fez dedicar esses últimos anos ã
pesquisa sa^j^batalha espiritual.
Não tmviw-ivque Satanás pode imitar cada dom da lis­
ta de dons espirituais. Ele é um ser sobrenatural e é dota­
do de poderes sobrenaturais. Seu poder foi demonstrado
de maneira espetacular, no Egito, quando os mágicos de
Faraó puderam imitar um bom número das obras prodigi­
osas que Deus realizou por intermédio de Moisés (ver Êxodo
7 - 8). Naturalmente, o poder de Satanás é limitado e con­
trolado por Deus. Gosto da maneira como Robert Tuttle
coloca a questão: “Satanás está preso por uma corrente.
Se, porém, escorregarmos até ao alcance dele, por ceder­
mos diante de alguma tentação particular, ele acabará ten­
do-nos para jantar”.“
Um livro bastante aterrador sobre esse assunto,
intitulado The Chálenging Counterfeit, escrito por Raphael
Gasson, que agora é crente, mas que já foi um médium
espírita. Ele conta como a coisa funciona. Caí no erro de
trazer ã baila o assunto, em um jantar, e arruinei o apetite
de minha filha, Becky. A experiência dele mostrou-lhe que
“é perfeitamente óbvio que Satanás está usando uma imi­
/ 02 Descubra Seus Dons Espirituais

tação extremamente sutil dos preciosos dons do Espírito”.


Em seu livro, pois, ele descreveu diversas dessas imita­
ções.
Para exemplificar, ele mostrou como os dons da fé,
dos milagres, das curas, das línguas e da interpretação de
línguas são produzidos por Satanás. A imitação do dom do
discernimento de espíritos, conforme ele sente, é a clarivi­
dência e a clariaudiência. Até mesmo o dom do exorcismo
é astutamente reproduzido por Satanás.
Gasson relembra como Satanás lhe deu a capacidade
de profetizar, e salientou que a maior parte dessas profeci­
as fingidas termina por cumprir-se. Essa é uma das ma­
neiras pelas quais o diabo faz os seus apelos pcirecerem
mais atrativos. ExempUficando, certa ocasião, durante os
anos da Segunda Guerra Mundial, um homem trouxe a
Gasson um objeto pertencente a seu filho, que estava ser­
vindo ás Forças Armadas, a fim de que descobrisse onde
ele estava. Por meio de seu “espírito guia” (que seria o espí­
rito de um feiticeiro africano), Gasson descoiw|úi que o dono
daquele artigo estava bem, embora fosse pDj(^»néh'o de guer­
ra. O pai então mostrou a Gasson um telegrama do Depar­
tamento de Guerra, mostrando que seu filho havia sido
morto em ação, duas semanas antes. Gasson voltou a con­
sultar seu guia e verificou que o soldado realmente não
tinha morrido e que isso seria confirmado ao pai três dias
mais tarde. De fato, três dias mais tarde, o pai recebeu
outro telegrama do Departamento de Guerra, pedindo des­
culpas pelo erro e dizendo que o rapaz estava bem, mas era
prisioneiro de guerra.^®
Alguns, equivocadamente, interpretam esse tipo de
coisa como obra de Deus. Mas na realidade era uma obra
do diabo. Mas, nem por isso, é algo menos real.
De pronto, precisamos lembrar-nos de que Deus sabe
tudo sobre essa questão e confere um poder adequado para
que Seus filhos se acautelem. Um outro de meus colegas
da Comissão de Lausanne para Evangelização Mundial é
Petrus Octavianus, da Indonésia. Certa ocasião, ele dirigia
a palavra a uma grande audiência de três mil pessoas, em
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 103

Stuttgart, na Alemanha. No fim da exposição, ele pediu um


momento de oração silenciosa. Quando tudo estava quie­
to, um homem da plataforma levantou-se e começou a fa­
lar em línguas. Petrus Octavianus voltou-se para ele e, no
nome de Jesus, ordenou que ele fizesse silêncio. E
Octavianus explicou mais tarde; “Depois que orei, pedindo
esclarecimento, ficou claro para mim que aquela fala em
línguas não era produzida pelo Espírito Santo, mas pelo
inimigo.”^'*
Não sei dizer se Deus dera a Petrus Octavianus o dom
do discernimento de espíritos, mas se ele não possui tal
dom. Naquele momento ele estava exercendo um dos pa­
péis cristãos de emergência. Faríamos bem, nesta altura,
em examinar de modo breve dois dos dons espirituais que
m elhor se vincu lam a esse mundo da m aldade: o
discernimento de espíritos e o exorcismo.

Dom 13: Discernimento de Espíritos


/ O Novo^^^jg^amento ensina claramente que todo cren­
te precisa ser ca^jAfiz de distinguir entre o bem e o mal, o
certo do errado. O trecho de Hebreus 5.14 alude ãqueles
que “têm as suas faculdades exercitadas para discernir não
somente o bem, mas também o mal”. Os crentes de Beréia
foram elogiados por não serem ingênuos. Eles compara­
vam com as Escrituras o que os apóstolos diziam, confor­
me todos nós devemos fazer (ver Atos 17.11). A passagem
de 1 João 4.1 é explícita ao dizer: “Amados, não deis crédi­
to a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se proce­
dem de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo
mundo fora”.
Essas passagens descrevem o papel cristão do
discernimento. Entretanto, acima e além daquilo que se
espera de todos os crentes, há um dom de discernimento
de espíritos, conferido a apenas alguns poucos crentes.
Trata-se de um dom que talvez não seja exercido com fre-
qüência. Aqueles que o possuem talvez até se mostrem re­
lutantes em usá-lo, porquanto, o mesmo requer muita co­
ragem espiritual. Mas é reconfortante para o Corpo inteiro
W4 Descubra Seus Dons Espirituais

de Cristo saber que Deus não deixou os crentes indefesos


contra as táticas de Satanás e suas forças malignas.
O dom do discernimento de espíritos é a capacidade
especial que Deus dá a alguns membros do Corpo de Cristo
^ que os capacita a saber, com segurança, se determinado
comportamento, que se apresenta como oriundo de Deus é,
na realidade, divino, ou então humano ou satânico.
Ao que tudo indica, o apóstolo Pedro possuía esse
dom. Ele usou dramaticamente esse dom, ao discernir que
Satanás havia inspirado Ananias a mentir sobre uma sua
propriedade; e Ananias foi atingido pela morte, ali mesmo.
E Pedro repetiu o dom com a esposa de Ananias, a qual
também morreu (ver Atos 5.1-10). Mais tarde, em Samaria,
Pedro usou o dom para ler os motivos do coração do Si-
mão, o mágico. E recebeu de Deus toda a segurança de que
precisava para dizer a Simão: “. . .estás em fel de amargura
e laço de iniqüidade” (At 8.23).
O dom de discernimento de espíritos pode funcionar
em vários níveis. O nível mais óbvio é a ^fcpf údade de sa­
ber que, uma conduta aparentemente^íroa, na verdade, é
uma obra de Satanás. Foi nesse nível que Petrus Octavianus
ministrou em Stuttgart. Um outro nível desse dom consis­
te em discernir se aquilo que um irmão na fé está fazendo,
emerge de motivos piedosos ou de motivos carnais. Um
terceiro nível envolve a capacidade sobrenatural de distin­
guir a verdade do erro, mesmo quando os motivos são apro­
priados. Nem é preciso dizer que os dois últimos níveis re­
feridos envolvem uma espécie de juízo extremamente sen­
sível, devendo ser acompanhado por uma medida extra do
fruto do Espírito, se o Corpo de Cristo tiver de tirar provei­
to daí. Membros do Corpo com o dom de discernimento são
uma coisa. Os chamados caçadores de heresias são algo
bem diferente: e há ocasiões em que penso que as igrejas
norte-americanas vivem superpovoadas pelos tais.

Dom 27: Exorcismo


Se o dom do exorcismo*® é um daqueles dons que não
é especificamente mencionado na Bíbha como um charísma.
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São / 05

existem abundantes evidências de que o mesmo operava


nos dias do Novo Testamento, e que contínua a manifes-
tar-se em nosso mundo contemporâneo.
O dom do exorcismo é a capacidade especial que Deus
dá a certos membros do Corpo de Cristo, para que expulsem
demônios e espiritos malignos.
É razoável crermos que o conjunto discernimento de
espíritos-exorcismo é outro daqueles dons hifenados, como
o de pastor-mestre. Parece que aquele conjunto estava em
operação quando o apóstolo Paulo, por exemplo, mostrou-
se indignado diante da jovem escrava, em Filipos, que não
cessava de dizer: “Estes homens são servos do Deus
Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação”. Essas
palavras não parecem conter qualquer coisa de errado. Mas
Paulo foi capaz de discernir que um espírito maligno esta­
va falando por intermédio dela, e assim exorcizou o espíri­
to (ver Atos 16.16-18).
/ O exorcismo não deve ser praticado sem o dom para-
lel^do disc^iíflilinento de espíritos. Infelizmente, em certos
círculos evangèlí.^^os de hoje hã uma excessiva preocupa­
ção com demônios e espíritos malignos. Ralph Neighbour
conta acerca de um querido homem de Deus que estava
em um corredor de hotel a expulsar demônios da maçane­
ta do seu quarto, porque a maçaneta estava pegajosa.^®
Não precisamos de grande número de exorcistas populares
que ajam sem qualquer relação com o discernimento de
espíritos. Conforme disse Robert Tuttle: “Aqueles que pre­
tendem expulsar demônios de tudo quanto se agita aca­
bam por colocar em perigo os membros mais débeis do cor­
po de Cristo. Aqueles que são capazes de expulsar espíri­
tos malignos não somente devem aproximar-se desse mi­
nistério com extrema cautela, mas também após muita ora­
ção e jejum, e mediante o poder do Espírito S a n t o . ( N . E . :
Recomendamos a leitura de Batalha Espiritual de Ray
Stedman). Uma das mais dramáticas relações de causa e
efeito entre o exorcismo e o crescimento eclesiástico de que
já tomei conhecimento começou aqui mesmo, em Pasadena.
Um jovem vindo da Bolívia, de nome Julio Cesar Ruibal,
106 Descubra Seus Dons Espirituais

estava estudando para ser médico, no Pasadena City


College. Por um lado, ele parecia ser o mais jovem e um dos
dois mais poderosos gurus do ocultismo no hemisfério oci­
dental. Mas Deus estava com a mão sobre ele. Primeira­
mente ele ouviu o evangelho em uma reunião dirigida por
Kathiyn Kuhlman, e ficou muito confuso. No dia seguinte,
esteve em uma reunião de oração, no lar de um casal
carismático de minha igreja, a Lake Avenue Congregational
Church. Duas damas, dotadas do dom do exorcismo, acha­
vam-se presentes. Em um testemunho que lança surtos de
arrepio espinha abaixo, Ruibal conta como ele foi libertado
dos demônios da ioga, da clarividência, da astrologia, do
vudu, da reencamação, da cabala, da levitação, da cura
metafísica, da psicografia, do uso do pêndulo, da percep­
ção extrasensorial e de coisas similares. Quando os demô­
nios o deixaram, lançaram-no por terra, e, conforme teste­
munhou, ele sentiu como uma corrente elétrica que aban­
donava o seu corpo.
Quando Júlio Cesar Ruibal cresceu no Senhor,
ele se sentiu chamado para voltar ã Bolí^j^í^^nn de pregar
o evangelho. Por essa altura, ele descobrira que tinha rece­
bido o dom de curas. As reuniões que ele efetuou na Bolí­
via, em 1973, mostraram ser as reuniões evangelísticas mais
espetaculares que já tinham havido naquele país, antes ou
depois.^® Milhares de pessoas que vieram a conhecer ao
Senhor, através de seu ministério na Bolívia (incluindo a
esposa do presidente Banzer), podem agradecer ao Senhor,
igualmente, pelas duas irmãs de Pasadena, que possuem o
dom do exorcismo e sabem como usar o mesmo.

Por Quanto Tempo Você Vem Ocultando o Seu Dom?


Há uma teoria comum, que prevalece em alguns cír­
culos, de que todo crente é capaz de usar qualquer dom,
em qualquer momento, quando isso se faz necessário. Essg^
noçáo, que poderia ser chamada de “teoria do canal”, siige^
re que os dons espirituais são apenas possessões temporá­
rias, que o Senhor proporciona por algum tempo, e depois
descontínua.
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 107

Há um certo senso de validade nessa teoria do canal,


que precisamos reconhecer. Ê verdade que todo crente deve
estar preparado, em qualquer momento, a ser um canal,
para o que quer que Deus queira fazer por meio dele. Não
possuo o dom de curas, por exemplo; mas algumas vezes
Deus me tem escolhido para impor as mãos sobre uma
pessoa enferma, curando-a miraculosamente. E como apre­
cio ser usado dessa maneira. Tenho orado por muitas pes­
soas enfermas, e até hoje não vi qualquer milagre instantâ­
neo. (N.E.: Atualmente Dr. Wagner tem sido usado por Deus,
também na cura instantânea de pessoas. Muitos de seus
alunos no Fuller tém compartilhado dessas experiências).
Parte do meu papel cristão é manter-me aberto para essas
operações espontâneas e imprevisíveis do Espírito Santo.
Porém, aquilo que o Espírito Santo faz em ocasiões assim
não deve ser confundido com algum dom espiritual.
(Creio firmemente que, uma vez que uma pessoa rece­
ba um dom espiritual, isso se toma posse pelo resto de sua
vida. Essa o n in jy bastante dogmática está alicerçada so­
bre o trecho ac x^;ynanos 12.4, onde Paulo estabeleceu a
analogia do corpo físico como a chave hermenêutica para
compreendermos os dons espirituais. Se os dons espiritu­
ais são, para o Corpo de Cristo, como mãos, línguas e ou­
tros membros são para o corpo humano, não restam dúvi­
das, em minha mente, de que uma vez que saibamos no
que consiste o nosso dom espiritual, podemos ter a certeza
de que continuaremos a possuí-lo. Jamais me deito à noite
com a idéia de que, no dia seguinte, poderei acordar com
um pé transformado em rim. Tanto o desenvolvimento dos
dons espirituais na vida de um crente individual, como a
suave operação do Corpo de Cristo como um todo, depen­
de desse mesmo tipo de confiança.
Sabermos de que haveremos de conservar o nosso dom
espiritual e de que seremos responsabilizados pelo que ti­
vermos feito com o mesmo, diante do tribunal de Cristo,
ajuda-nos a dar uma explicação para as nossas vidas. An­
tes de tudo, isso pode impedir-nos de gastar muita energia
no uso de funções cristãs interessantes, às expensas da
108 Descubra Seus Dons Espirituais

energia que poderiamos estar usando no exercício dos dons


espirituais. O crescimento da igreja depende de uma
mobilização eficiente de todos os membros de uma congre­
gação, na obra do Senhor. As pesquisas mostram que o
crente leigo médio ativo dedica algo entre três a dez horas
por semana ã igreja e ã obra cristã. Um membro de igreja
que dedica dez horas por semana ã sua igreja é uma jóia —
pois a maioria dos crentes dedica muito menos do que isso
de seu tempo, e não é realista planejar algo diferente disso.
Em muitas igrejas, a maioria das horas disponíveis
envolve cultos de adoração matinais ou noturnos. Escola
Dominical, reuniões de oração e reuniões de pequenos gru­
pos. Para a maioria das pessoas, esse é um tempo de apri­
moramento pessoal no campo espiritual e não para o exer­
cício de dons espirituais. O breve tempo que restava para o
uso dos dons espirituais deveria ser cuidadosamente pla­
nejado e estruturado. Atividades que desviem energia de­
veríam ser mantidas em um mínimo.
Minha regra prática é a seguinte: O jy^ n s espirituais
devem ser usados em momentos devidag^BShstmturados,
ao passo que os papéis cristãos deveríam ser exercidos de
forma casual. Exemplificando: penso que Stanley Tam, que
recebeu o dom da contribuição, deveria passar uma boa
parte de seu tempo ocupado em questões fincmceiras, cal­
culando como pudesse ganhar mais dinheiro para o Se­
nhor. Eu mesmo, que tenho apenas a função de contri­
buir, deveria selecionar ou permitir que as questões finan­
ceiras sigam o seu próprio curso, gastando o meu tempo
no exercício dos dons que recebi. Se eu gastar muita ener­
gia, preocupando-me com o fluxo de dinheiro, com investi-
nientos e com as tendências do mercado, conforme faz
Stanley Tam, para mim isso constituiría um pecado.
As pessoas dotadas de vários dons espirituais podem
descobrir que, em certos momentos de seu ministério, al­
guns de seus dons mostram-se dominantes, e, em outras
ocasiões, mostram-se subordinados. A ordem de importân­
cia de seus dons pode variar conforme as circunstâncias.
Isso não significa que você tenha perdido algum dom, ao
3 Quatro Coisas Que os Dons Não São 109

longo do caminho.
Ao mesmo tempo, alguns dons podem jazer dormen-
tes, contra a vontade de Deus. Talvez você tenha um dom
espiritual que deveria estar usando, mas que, na verdade,
não o está fazendo. Parece que era isso que Paulo tinha em
mente, quando exortou reiteradamente a Timóteo; “Não te
faças negligente para com o dom que há em ti” (1 Tm 4.14),
“te admoesto que reavives o dom Deus” (2 Tm 1.6), “faze o
trabalho de evangelista” (2 Tm 4.5). Neste caso, supondo-
se que Timóteo recebera o dom ministerial de evangelista.
Permitir que nossos dons jazam dormentes, quando deve-
riam ser mantidos ativos, é uma das maneiras pelas quais
podemos “abafar o Espirito”, e isso deve ser evitado a todo
custo. (N.E.: Recomendamos a leitura de Plantar Igrejas
Para a Grande Colheita do Dr. Peter Wagner).
Como ilustração, quero usar uma fábula atribuída ao
paston Charles Swindoll, da dinâmica Evangelical Free
Church, de Fullerton, na Califórnia:

Um grúpo de animais resolveu melhorar o


seu bem-estar, dando início a uma escola. O cur­
rículo incluía nadar, correr, subir e voar. O pato,
que era excelente nadador, era deficiente em ou­
tras áreas, pelo que procurou melhorar na subi­
da, na corrida e no vôo, mas com prejuízo de sua
natação. O coelho, ótimo corredor, fo i forçado a
passar tanto tempo exercitando-se em outras
modalidades, que logo perdeu muito de sua fa ­
mosa velocidade. O esquilo, que era considerado
de classe “A ” na subida, desceu para a classe
“C, ” porque os seus instrutores passavam horas
tentando ensiná-lo a nadar e a voar. E a águia
fo i treinada a ir trepando pelas árvores, até o topo,
embora voar fosse para ela a coisa mais natu-
raU°

Que mais precisamos dizer? As igrejas em crescimen­


to, como a Evangelical Free, de Fullerton, compreendem
no Descubra Seus Dons Espirituais

bem a dinâmica dos dons espirituais, e assim planejam os


seus respectivos programas, para maximizar a sua eficiên­
cia. Essas igrejas já aprenderam que é contraprodutivo vin­
cular as energias das pessoas a atividades para as quais o
Espírito Santo não as dotou. Antes, concentram suas ener­
gias, dando assim, liberdade ao Espírito Santo. Elas sa­
bem como determinar prioridades. E, dessa maneira, as
igrejas crescem.

Notas

1. Ronald J. Síder, Rich CivisLian inan Age ofHw igcr [Downers Grove: Inter-Varsity Press. 1977), págs. 175-
178.
2. R. G. LeTourneau, Mover o f Men and Mounlains ^Chicago: Moody Press, 1972), pág. 280.
3. Stanley Tam, God Ou)us My Business (Waco: Word Books, 1969), pág. 62.
4. Idem, pág. 3.
5. Publicado em Straighljrom íhc Slwulder. News BulleUn of Haggal InsUtute (abril-maio de 1976). pág. 4.
6. Donald Bridge e David Phypers, SpiriLual Gifis and í/ic Church (Downers Grove: Inter-Varsity Press,
1973) , págs. 78-81.
7. Basil Miller, George Muller: The Man ofFaith (Grand Rapids: Zondervan Publishlng House, 1941), págs.
126,127.
8. Idem.
9. Tam, God Owns My Busitiess, pág. 50.
10. Idem, pág. 47.
11. Robert G. TutUe, The Partakcrs: Holy Spirit Powerfo r Pcrsevering Chrislíans (NashviWe. Ahindgoit Press,
1974) , pág. 61. ^
12. Raphael Gasson, The Challengmg Counlerfeil (Plalnfleld, NJ; Logos Boo^^k|ri, pág. 90.
13. Idem, págs. 105 e 106. ^
14. Kurt E. Koch, Charismatic Gi/is (Quebec: Association for Christian Bl^ngelism, 1975), págs. 42,43.
15. Estou usando a palavra “exorcismo" não em sentido técnico. Alguns, cujo ministério envolve esse dom,
gostam de frisar a disUnçáo técnica entre as palavras gregas exorkixo, “exorcizar," e ekballo, expelir." Ver,
por exemplo, Kent Philpott e R. L. Hymers, The Deliveranca Book fVan Nuys, CA: Bible Voice, Inc.), págs. 19
e 20.
16. Ralph W. Neighbour, Jr. This Gifl Is Mine (Nashville: Broadman Press, 1974), pág. 55.
17. Tuttle, The Partakers, pág. 61.
18. O detalhado testemunho de Ruibal pode ser encontrado na liwo de Nicky Cruz, Saíaa on lhe Ijx>se (Old
Tappan: Fleming H. Revell Co., 1973), págs. 134-143.
19. O ministério de Ruiball na Bolívia foi noticiado na revista ChrisUanily Today (16 de março de 1973), pág.
40.
20. Daííiy Bread (1“ de setembro de 1976).
4
C omo A chei M eus D ons,
E C omo V ocê P ode A char os S eus

ão há qualquer capítulo das Escrituras que abor­


de a questão da descoberta dos dons espirituais.
Em parte alguma diz Pedro, ou Paulo ou Tiago: “E
3^ê9?^^rmãos, quero que sigais estes passos para
poderdes descoOi^r os vossos dons espirituais”. A ausência
de qualquer passagem dessa natureza tem convencido al­
guns crentes de que a tentativa de descobrir os dons é uma
busca imprópria para os crentes. Os argumentos favorá­
veis e contrários já foram discutidos no primeiro capítulo
deste livro.
Conforme penso, a falta de instruções específicas des­
sa ordem, na Bíblia, não deve servir de empecilho para um
procedimento prático, moderno, para descobrirmos e por­
mos em prática a vontade de Deus. Não há nenhum capí­
tulo na Bíblia que nos diga como traçar a constituição e o
regimento interno, e até mesmo as condições para alguém
ser membro de uma igreja local. Coisa alguma, ali existen­
te, nos ensina como orgemizar uma sociedade missionária
ou como dar apoio financeiro aos missionários. Durante
séculos, os teólogos e os estudiosos da Bíblia têm procura­
do interpretar corretamente quando e como os crentes de­
vem ser batizados e a maioria dos crentes não pensa que
isso é uma novidade Incomum.
/1 2 Descubra Seus Dons Espirituais

Não me deixo intimidar. E nem se deixam intimidar


os autores de outros estudos sobre os dons espirituais.
Muitos dos livros mencionados na introdução a este volu­
me incluem capítulos parecidos com este, sobre como o
crente pode descobrir os seus dons.
Quando eu lia esses capítulos, recentemente, desco­
bri o que jã era previsível: Todos esses estudos são diferen­
tes, mas acabam desembocando no mesmo lugair. Nenhum
autor gosta de aproveitar o esboço de outrem e usã-lo, e,
por essa razão, cada autor pensa em seu próprio arcabouço.
Porém, há um modo de proceder para descobrir os própri­
os dons espirituais que é surpreendentemente similar de
autor para autor. E isso é reconfortador, porque dá a en­
tender que já se chegou a um consenso que, com o tempo,
haverá de reduzir a confusão e aumentar a eficiência. Seja
como for, nós, que estamos no campo do ensino sobre os
dons espirituais, estamos muito mais perto de concordar
uns com os outros, acerca de como fazer essa descoberta
do que no caso daqueles, por exemplo, qi^y,nvestigam a
questão do batismo cristão.
Venho usando os cinco passos que passarei a descre­
ver aqui. Tal método usei por tantos anos que nem sei mais
onde colhi as informaçóes a respeito. Gostaria de pensar
que são idéias minhas, originais; mas agora sou idoso o
bastante para compreender o que Salomão quis dizer quan­
do afirmou: “Nada há, pois, novo debaixo do sol” (Ec 1.9).
Venho usando esses cinco passos em seminários, a cerca
de trinta anos. Esses passos realmente funcionam. Tem
sido gratificante vê-los emergindo em outros livros, confir­
mando para mim que eles se têm mostrado úteis, ao me­
nos para alguns crentes.
Esses passos, contudo, só funcionam em certos ca­
sos. Talvez o seu caso seja um desses. Mas também é pos­
sível que as sugestões de outrem adaptem-se melhor à sua
própria situação. Algumas vezes, uma sentença ou uma
frase, que ninguém havia dito de certa maneira, resolve a
questão. Considere o que estou dizendo aqui. Se minhas
sugestões não fizerem sentido para você; não desista. O
4 Como A chei Meus Dons, e Como Você Pode Achar os Seus 113

capítulo vinte e um do livro de Leslie Flynn, é intitulado


“Como Descobrir Seu Dom”; o capítulo sétimo do livro de
Kenneth Kinghom é “Descobrindo Seus Dons”; o quinto
capítulo do livro de William McRae é “A Descoberta de Seu
Dom”; e o capítulo décimo primeiro do livro de Rlck Yohn é
“Quais São os Seus Dons?” Talvez, qualquer desses estu-
dois pareça melhor para você do que o meu.
y O mais profundo desejo de todos quantos ensinam
sobre os dons espirituais não é que seu método, ou qual­
quer outro método específico, seja seguido. O que eles re­
almente desejam é ver o Corpo de Cristo adquirir vida com
uma nova dinâmica, uma nova liberdade, um novo poder.
Quando isso acontece, de súbito a igreja local adquire uma
nova relevâneia para a comunidade como um todo, e novas
pessoas começam a encontrar a Jesus Cristo. E tudo isso,
em última análise, redunda no crescimento da igreja.

Quatro Condições Prévias Fundamentais


Antes d ^ ^ c ê começar a dar os passos que visam a
descobrir o seu aom, há quatro condições prévias funda­
mentais que precisam caracterizar a sua vida. Se você dei­
xar de fora qualquer uma dessas condições prévias, você
verá que é muito difícil, se não mesmo impossível, desco­
brir o seu dom.
Em primeiro lugar, você deve ser um crente. Os dons
espirituais são conferidos exclusivamente aos membros do
Corpo de Cristo. Infelizmente, nem todos os membros de
igreja, na América do Norte, são membros autênticos do
Corpo de Cristo. Quase todas as igrejas, algumas mais do
que outras, contam com membros que não são dedicados
a Jesus Cristo. Talvez freqüentem os cultos com certa re­
gularidade, contribuam com dinheiro em suas ofertas, e
até pertençam a alguma junta ou comissão ou ensinem na
Escola Dominical. Mas jamais entraram em um relaciona­
mento pessoal com o Salvador, que poderiamos chamar de
nascer de novo ou aceitar a Cristo, ou, então, ter sido salvo
e ter-se convertido. O nome que damos a isso é muito me­
nos importante do que realmente entrar em um relaciona­
/1 4 Descubra Seus Dons Espirituais

mento salvatício com Jesus Cristo.


Quando chego a uma igreja, não penso que todos os
presentes estejam preparados para serem ensinados acer­
ca dos dons espirituais. Alguns talvez precisem primeiro
ser ensinados sobre a salvação eterna. Se houver alguma
dúvida quanto a isso, em sua mente, pergunte honesta­
mente se você já se tomou uma nova criação em Cristo;
que as coisas antigas passaram, e que tudo se fez novo,
parafraseando as palavras de 2 Corintios 5.17. Se a res­
posta for negativa, então adie para mais tarde a tentativa
de descobrir qual o seu dom espiritual. Antes, procure aju­
da, para que Cristo se tome seu Salvador e Senhor pesso­
al. Ore sinceramente a Deus, e espere que se cumpram as
Escrituras que garantem: “Buscai, e achareis” (Mt 7.7).
Encontre uma pessoa que seja um crente regenerado, e
peça-lhe conselho. Assevera a BíbUa: “Se com a tua boca
confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm
10.9). Faça isso, antes de buscar dons espú^iais, porquan­
to, se você ainda não faz parte do Corpo d^Cristo, você não
poderá receber qualquer dom espiritual. (N.E.: Recomen­
damos a leitura de Entre a Vida e a Morte de Lúcia O.
Efferding).
Em segundo lugar, você deve crer nos dons espiritu­
ais. A maior parte dos crentes que não crêem nos dons
espirituais, estão nessas condições, porque nunca recebe­
ram instmções a respeito. Em minha longa experiência,
não me lembro de um crente que tenha sido ensinado acerca
dos dons espirituais e que não tenha acabado crendo nos
mesmos. Mas a realidade é que, apesar dos livros, seminá­
rios, sermões e cursos atualmente postos à disposição dos
crentes, é provável que a maioria dos crentes norte-ameri­
canos ainda seja possuidora de um conhecimento defici­
ente a respeito dos dons espirituais. Na maior parte dos
casos, isso não se dá por falta deles. Sinto um estremeci­
mento espinha abaixo, quando leio, em Tiago 3.1: “Meus
irmãos, não vos tomeis, muitos de vós, mestres, sabendo
que havemos de receber maior juízo”. Isso me abala porque
4 Como A chei Meus Dons, e Como Você Pode A char os Seus 115

transfere a culpa pela ignorância, quanto aos dons espiri­


tuais, para aqueles dentre nós que têm a responsabilidade
de ensinar a outros a Palavra de Deus. Não ê que a doutri­
na sobre os dons espirituais seja um ensino vago ou obs­
curo nas páginas do Novo Testamento, como se dá com as
doutrinas do batismo, dos mortos ou do momento do arre-
batamento da Igreja.
V Trata-se antes de uma questão de fé. Você precisa
crer que Deus lhe outorgou um dom espiritual antes que
dê início ao processo de descobrimento. Escreví o primeiro
capítulo deste livro para tentar convencer todos os crentes
a lerem este livro, para que assim venham a receber dons
espirituais. Se eu tiver falhado em seu caso, então os cinco
passos mencionados neste capítulo não são para você. Para
que esses cinco passos funcionam, será mister que você
tenha um senso de agradecimento a Deus, por Ele ter-lhe
dado algum dom espiritual, bem como um senso de jubüosa
antecipação no descobrimento de qual dom seria esse.
Em terçf4^' lugar, você deve estar disposto a esforçar-
se. Os cinco passos que estou prestes a sugerir constituem
um exercício espiritual. Trata-se de algo que requer a aju­
da divina para que se realize. Deus lhe deu um ou mais
dons espirituais, e isso por alguma razão. Há um trabalho
que Ele quer que você cumpra no Corpo de Cristo, uma
tarefa específica para a qual Ele lhe tem equipado. Deus
sabe se você é sério quanto a trabalhar para Ele. Se Ele
notar que você quer descobrir o seu dom por mero
diletantismo, ou porque está na “moda” fazer assim, você
nada poderá esperar da parte Dele.
Se, entretanto, você prometer usar seu dom espiritu­
al com ristas à glória de Deus, bem como ao bem-estar do
Corpo de Cristo, Ele haverá de ajudá-lo. Reconheça o fato
de que seu dom espiritual é o que Deus tem de melhor para
você. Franqueie-se para aquilo que Ele quiser fazer por seu
intermédio. Descobrir os dons não é nenhuma viagem
egocêntrica, embora possa ajudar tremendamente a sua
auto-estima. Se você está preparado para uma vida no fu­
turo, como um crente ativo e produtivo, então, sim, você
116 Descubra Seus Dons Espirituais

estará preparado para os cinco passos.


Nd Em quarto lugar, você deve orar. Antes, durante e de­
pois desse processo, você precisará orar. Recomendou Tiago:
“Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a
Deus, que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera;
e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5). Busque a Deus sincera e
tntensamente, pedindo-Lhe orientação, por todos esses cin­
co passos. Visto que Deus quer que você descubra qual o
seu dom espiritual, certamente Ele lhe dará toda a ajuda
de que você vier a precisar. Simplesmente peça, e confie
que Ele o fará. E Ele lhe apresentará as belas possibilida­
des de um frutífero ministério espiritual, que Ele já embu­
tiu em você. (N.E.: Recomendamos a leitura de Disciplinas
Para Um Coração Faminto do Dr. Paul Stevens).
Armado com essas quatro condições prévias, estare­
mos prontos para examinar os cinco passos necessários
para você descobrir o seu dom espiritual.

^ Passo 1: Explore as Possibilj||^es


O primeiro passo, no planejamento <3é muitas das re­
alizações humanas, consiste em arranjar todas as opções
possíveis. Se você quiser viajar do Rio a São Paulo, por
exemplo, você precisa saber se poderá fazê-lo de avião, de
automóvel, ônibus, caminhão,motocicleta, trem, a cavalo,
de bicicleta, a pé, etc. Se você preferir guiar seu próprio
veículo, fará bem em conseguir um mapa e explorar as di­
ferentes rotas possíveis. Isso é apenas normal e lógico.
Será difícil você descobrir um dom espiritual e não
saber, de antemão, o que lhe convirá procurar. O propósito
deste primeiro passo é explorar as possibilidades, é famili-
arizar-se o bastante com os dons que Deus deu ao Corpo
de Cristo, a fim de que, quando você descobrir o seu dom,
seja capaz de reconhecer em que consiste tal dom.
Conforme vejo as coisas, há cinco maneiras de abor­
darmos esse excitante primeiro passo:
-~t> Primeira, estude a Bíblia. Naturalmente, a fonte bási­
ca de informações sobre os possíveis dons espiritual é a
Bíblia. Leia as passagens principais sobre os dons espiri-
4 Como A chei Meus Dons, e Como Você Pode A char os Seus 117

tuals de vez em quando. Leia essas passagens em diferen­


tes versões. Encontre exemplos nas vidas de pessoas pie­
dosas referidas nas Escrituras, sobre como esses dons fun­
cionavam na prática. Usando quaisquer auxílios disponí­
veis, estude as referências bíblicas cruzadas até que você
se sinta familiarizado como que a Bíblia diz a esse respeito.
—1> Segunda, descubra a posição de sua igreja sobre os
dons. Conforme já mencionei mais de uma vez, de forma
alguma há um acordo universal, entre as Igrejas e as deno­
minações, sobre como os dons atuam hoje em dia. E nem
podemos esperar que todas essas diferenças sejam resolvi­
das em nossa geração.
Porém, há toda uma geração de homens e mulheres
perdidos, que precisam de ser conquistados para Jesus
Cristo. Seria uma estupidez afirmar que devemos esperar
que todos os crentes concordem no que concerne aos dons
espirituais, para então começarmos a evangelizar o mun­
do. Do ponto-de-vista do crescimento da igreja, deveria­
mos antes “Vamos sair para evangelizar o mundo
com o equipamento que Deus já nos deu. E se a próxima
geração for dotada de outro equipamento e de maior con­
senso sobre alguma coisa, ótimo; por enquanto, isso não é
o que mais nos importa”.
Há um elevado grau de probabilidade que Deus se
satisfaça com diferentes combinações de dons espirituais,
entre as igrejas e as denominações. Somos o que somos,
em grande parte, porque Deus nos fez desta ou daquela
maneira. A alguns de Seus servos, Ele dá dois talentos; e a
outros dá cinco. Mas Ele espera que usemos os mesmos a
fim de cumprir o propósito do Senhor.
Visto que acredito, deveras, que nos devemos consa­
grar ao Corpo de Cristo, também creio que, se um crente
pertence voluntariamente a uma igreja local, ele deve põr-
se sob a disciplina e a autoridade daquela igreja. No que
tange aos dons espirituais, a principal diferença em nos­
sos dias usualmente vem á tona em tomo daquüo que te­
mos chamado de “dons espetaculares”, ou seja, principal­
mente, o falar em línguas, sobretudo no tocante a seu uso
/1 8 Descubra Seus Dons Espirituais

nos cultos de adoração. Em algumas reuniões especiais,


às quintas-feiras aos sábados, são permitidas línguas, mas
nunca aos domingos pela manhã. Algumas igrejas nunca
têm, nos cultos, permissão de línguas, embora não façam
objeção a seu uso em reuniões domésticas ou em outras
ocasiões, como nos cultos de oração. Ainda outras igrejas
estão convencidas de que as línguas não deveríam ser usa­
das de modo algum em nossa própria época ou era.
Quando você descobrir a posição de sua igreja sobre
esse e outros dons espirituais, então são sugeridos um ou
dois cursos de ação. Ou resolva ser leal ã sua igreja local,
em sua crença e sua prática, ou então deixe respeitosa­
mente aquela igreja, pedindo que Deus lhe ajude a passar
para outra igreja, onde você se sinta mais ã vontade.
Note que aquilo que não recomendo é que você resol­
va ficar onde está, e então tentar convencer a igreja ou
certos membros da mesma a que mudem a sua posição. A
energia que isso extrai de uma igreja local é enorme. Mui­
tas igrejas têm experimentado amargas d i^ õ e s por causa
dessa questão, visto que ela ficou a b orb u m ff sob a super­
fície, até não mais poder ser controlada. Deus não nos deu
dons espirituais para os mesmos causarem dissensões e
sentimentos contrariados. Antes, Ele continua distribuin­
do dons espirituais, a fim de fomentar a sa de, a vitalidade
e o crescimento do Corpo. Cada unidade de energia espiri­
tual usada para lutar batalhas em tomo dos dons espiritu­
ais é uma unidade a menos, que não pode ser utilizada
para alcançarmos para Cristo a muitas pessoas. Acredito
que Deus prefere que as nossas energias sejam canaliza­
das para que os perdidos sejam achados e para que a Igre­
ja cresça.
Na qualidade de membro de uma igreja, você tem o
direito de saber qual é a posição particular dela, quanto
aos dons espirituais. Quando você aprender qual é a essa
posição, então estará armado com parâmetros que mostra­
rão até onde poderá explorar as possibilidades.
—i> Terceira, leia extensamente. Nunca antes, na História
da Igreja, houve uma literatura tão farta sobre os dons es­
4 Como A chei Meus Dons. e Como Você Pode A char os Seus 119

pirituais como em nossos dias. Neste livro você encontrará


a minha opinião sobre vinte e sete dos dons, mas não pen­
so que eu tenha dado a última palavra. Leia também, se
possível, os dez Uvros que recomendei na introdução a este
volume. Aliste os pontos onde eles concordam quanto à
definição de cada dom, e onde eles discordam. Junte isso a
tudo quanto você estã aprendendo diretamente da Bíblia, e
então chegue à sua própria posição. Que diferença real­
mente faz se aquilo que eu penso ser o dom da profecia,
outra pessoa qualquer pensa que é a palavra do conheci­
mento? Deus estã supervisionando tudo, e é certo que Ele
tem a mente mais larga e maior entendimento do que a
maioria dos crentes pensa. Na maioria dos casos, Ele pode
usar-nos para a Sua glória, da maneira como somos.
—Ç? Quarta, procure conhecer pessoas que possuam dons
espirituais. Procure e converse com crentes que jã tenham
descoberto, desenvolvido e estejam usando seu dom ou dons
espirituais. Descubra como esses crentes articulam os seus
dons espiritu^.i^e como interpretam o ministério deles por
meio desses dons.
Quinta, faça dos dons um tema de seus diálogos. Os
crentes contemporâneos muito têm avançado quanto à
maneira como se deve entender os dons espirituais: mas
apesar disso, muitos crentes ainda relutam em conversar
uns com os outros, sem embaraço, acerca dos mesmos.
Nota-se uma certa atitude de quem diz: “Se eu falar sobre
meus dons espirituais, as pessoas pensarão que me estou
jactando”. Ou então: “Posso preferir não revelar que tenho
um dom espiritual”. Espero que em breve sejamos capazes
de nos desfazer de nossas inibições, tomando-nos capazes
de compartilhar abertamente, uns com os outros, de nos­
sos dons, sobre o que eles são e o que eles não são. Isso
nos ajudará, bem como a nossos amigos e a nossos filhos,
para que saibam quais são as possibilidades acerca dos
dons.
120 Descubra Seus Dons Espirituais

^ Passo 2: Experimente o Maior


Número Possível de Dons
Afirmou Ray Stedman: “Descobrimos os nossos dons
espirituais da mesma maneira que descobrimos os nossos
talentos naturais!”^
Você jamais descobrirá se tem um talento para jogar
boliche, enquanto não experimentar. Você jamais saberá
se tem jeito para compor poesias, se nunca tentar. Às ve­
zes indago a mim mesmo se tenho talento para voar em asa
delta; mas jamais poderei sabê-lo, enquanto não experi­
mentar.
É óbvio que existem alguns dons espirituais que não
se prestam facilmente para serem experimentados. Não sei
como sugerir uma experiência com os dons de milagres e
martírio, por exemplo. Eu mesmo esperava nunca ter de
experimentar o dom do exorcismo até que chegou o mo­
mento. Todavia, se hã dons assim dtficeis de experimentar,
a maioria deles não apresenta tal dificuldade. Você pode
fazer experiências com os dons, e nünh^i^.omendação é
que você experimente o maior número possível deles.
^ Um ponto permanente consiste em olhar ã sua volta
para ver que necessidades você seria capaz de Identificar.
Em seguida, tente fazer alguma coisa para satisfazer essa
necessidade. Procure saber quais as necessidades de ou­
tras pessoas. Procure saber quais as necessidades da igre­
ja local. Descubra onde você pode mostrar-se útil, em al­
gum sentido; e, então, entre em ação.
Mostre-se disponível para qualquer ocupação na igre­
ja. Quando você receber alguma tarefa para realizar, faça-
a sob oração. Peça que o Senhor lhe mostre, através da­
quela experiência, se você tem ou não um dom espiritual
compatível com a experiência. Apegue-se ã questão, e tra­
balhe arduamente. Descobrir os dons espirituais não é algo
fácil. Cumpra cada tarefa com todas as suas forças, e não
desista com facilidade.
Enquanto você estiver fazendo experiências acerca dos
dons espirituais, será muito importante responder a estas
duas pergimtas, uma negativa e outra positiva: “Quais dons
4 Como A chei Meus Dons. e Como Você Pode A char os Seus 121

eu não possuo?” “Quais dons eu possuo?” Cada dom que


você descobrir que não possui diminuirá o número de op­
ções que você precisará explorar, até obter uma resposta
positiva.
Quando me formei pelo FuUer Seminaiy, em meados
da década de 1950, eu praticamente nada sabia sobre os
dons espirituais. Penso que os líderes evangélicos da épo­
ca, em sua esmagadora maioria, ainda estavam atônitos
diante do movimento pentecostal, e ainda não haviam arti­
culado sua posição sobre os dons. E por certo não éramos
ensinados que temos dons, que precisamos descobrir, de­
senvolver e usar, segundo vemos em nossos próprios dias.
Terminado o seminário, fui ordenado por uma igreja evan­
gélica que cria na Bíblia; mas nenhum dos sete ministros
presentes ao meu concilio de ordenação perguntou-me se
eu possuía dons espirituais e sabia quais eram os mes­
mos. Fui aceito e servi sob duas agências missionárias evan­
gélicas. Mas nenhuma delas me fez qualquer pergunta so­
bre os donf;espirituais em suas matrículas. E assim, fui
para a Bolívia, em 1956, totalmente ignorante quanto aos
dons espirituais.
Todavia, embora eu praticamente nada soubesse so­
bre os dons espirituais, sabia o que havería de ser. Aqueles
eram os dias em que Billy Graham chegara a entrar em
órbita. E ele se tomou o herói de muitos estudantes de
seminário, incluindo a mim mesmo. Eu me maravilhava
diante da maneira como ele pregava em um estádio repleto
de pesspas, entregava uma mensagem bíblica simples, fa­
zia um convite, e via pessoas descerem de todos os luga­
res, enchendo o corredor ã frente dele, dispostas a seguir a
Cristo. Aquilo era maravilhoso para mim! Meus amigos e
eu imitávamos os gestos de Billy Graham, em nossas aulas
de homilética. Tentávamos pregar com um sotaque da Ca-
roUna do Norte. E aprendemos a dizer “A BíbMa diz. . .” com
um brilho apropriado e afogueado nos olhos.
Pelo tempo em que eu estava preparado para ir ao
campo missionário, já havia calculado como tudo seria. Que
Billy Graham ficasse com a América do Norte — eu ficaria
122 Descubra Seus Dons Espirituais

com a Bolívia! Em minha mente, eu podia imagincir milha­


res e milhares de bolivianos que teriam um encontro com
Cristo por meio de minhas mensagens pregadas.
Precisei passar algum tempo aprendendo espanhol;
quando aprendi, estava pronto para entrar em ação. Pre­
parei um belo sermão em espanhol e usei todas as habili­
dades homiléticas que havia aprendido no semlnãrio. Che-
guei a pensar que o sermão teria uma ou duas coisas de
que o próprio Billy Graham não se teria lembrado. Então
preguei o sermão de todo o coração, e fíz o convite. Mas
ninguém veio à frente!
Desapontado, e um tanto desanimado, tentei calcu­
lar o que teria acontecido. Talvez tivesse algo a ver com a
oração. Mesmo em meus melhores momentos, eu nunca
tinha sido um grande guerreiro de oração; mas devido a
todo o esforço que fora preciso fazer para preparar aquele
sermão, tive que admitir que dificilmente eu teria orado.
Assim, preparei outro sermão com um esboço simétrico e
com sã doutrina. Mas dessa vez orei in ten ^ ^ en te antes
de subir ao púlpito. Mas os resultados foranndênticos aos
da primeira vez. As pessoas agiram com se tivessem sido
coladas permanentemente em seus assentos.
Então pensei que alguma coisa, em minha vida, devia
estar entravando a minha comunhão com o Senhor. A teo­
logia de consagração que me fora ensinada me havia pro­
gramado para sentir que eu deveria estar apresentando
“meu corpo como um sacrifício vivo”, pois, se eu assim fi­
zesse, por certo Deus abençoaria o meu m inistério
evangelístico.
Meus pensamentos voltaram-se de novo para o semi­
nário. Lembrei-me de um professor de evangeUsmo pesso­
al que costumava deixar a classe de boca aberta com histó­
rias sobre como Deus o tinha usado para ganhar outras
pessoas para Cristo. Ele falava sobre como entrava em um
ônibus, sentava-se ao lado de um estranho, e então, pelo
tempo em que saltavam do ônibus, o estranho já havia
aceitado a Cristo. E aquilo me deixava impressionado!
E assim sendo, tomei um ônibus e me sentei ao lado
4 Como A chei Meus Dons, e Como t/océ Pode A char os Seus 123

de um estranho. E, pelo tempo em que ambos saltamos do


ônibus, ele estava com muita raiva de mim! Senti-me de­
vastado. (N.E.: Recomendamos a leitura de Vencendo a
Guerra Real de James Robison).
Durante meses ou mesmo anos, em meu primeiro
período no serviço missionário, passei por experiência após
experiência como essas. Eu queria ser o Büly Graham da
Bolívia, mas alguma coisa me estava impedindo disso.
E então, pouco a pouco, comecei a aprender algo so­
bre os dons espirituais. Um amigo chegado, Kenneth
Decker, da New Testament Missionary Union, apanhou-
me lendo o livro de Alex Hay, The Nevo Testament Orderfor
ChuTch and Missionary. Enquanto eu estudava o Uvro e as
referências bíblicas sugeridas no mesmo, e conversava com
Kenneth Decker, minha mente enfocou o ensino bíbUco
sobre os dons espirituais. E então, certo dia, fiz aquilo que
considero a mais importante descoberta espiritual de mi­
nha vida cristã — Deus não me havia dado o dom de
evangelista! ^^
Daquele dia atê hoje, tenho sido um crente melhor,
uma pessoa mais alegre, um mcirido e um pai melhor, e
também um servo de Deus mais competente. Voltando à
fábula de SwindoU, eu não era mais uma águia que esti­
vesse aprendendo a escalar uma árvore. E quando percebi
o fato que, no dia do tribunal de Cristo, Deus não me con­
siderará responsável pelo que fiz como evangelista, senti-
me inteiramente Uberado. A carga da culpa rolou de meus
ombros como rolara das costas de Cristão, do Uvro O Pere­
grino. O próprio Deus não queria que eu fosse o Billy
Graham da BoUvia. Que alívio!
Eu havia experimentado um certo dom espiritual. Ti­
nha tentado muito usá-lo. E cheguei à importantíssima
descoberta que eu não possuía tal dom.
Apresso-me a dizer que, se não possuo o dom de
evangeUsta, à semelhança de outros crentes tenho uma
função cristã a desempenhar, testemunhar. Por onde quer
que vou, e a todo o tempo, procuro ser um bom represen­
tante de Deus. Sei como compartilhar de Cristo, e, ocasio­
124 Descubra Seus Dons Espirituais

nalmente, guio alguma pessoa aos pés do Senhor. Não pos­


suir o dom de evangelismo não significa que eu me sinta
impedido de prestar um consistente testemunho cristão.

^ Passo 3: Examine Seus Sentimentos


Em algum ponto ao longo do caminho, os sentimen­
tos pessoais têm caído no descrédito diante de muitos evan­
gélicos. De acordo com tais seguidores, se um crente está
desfrutando a vida, algo de errado deve estar acontecendo.
As coisas, todavia, estão mudando. O novo ensino sobre os
dons espirituais estã abrindo caminho para um período
em que servir a Deus pode ser até divertido. Aprecio quan­
do Ray Stedman coloca a questão nos seguintes termos:
“De alguma maneira, tem-se entrincheirado profundamente,
em certos círculos cristãos, a noção que fazer aquilo que
Deus quer de nós é sempre desagradável; e que os crentes
sempre devem escolher entre fazer o que querem fazer e
serem felizes, ou então fazerem o que Deus quer que eles
façam para se sentirem completament^niseráveis”.^ E
Kenneth Kinghom acerta bem no alvo quando observa: “Os
crentes que amadurecem deixam para trás os conceitos
superficiais do discipulado cristão que igualam a infelici­
dade com o serviço prestado a Deus”.^
O meu conceito é o seguinte: O mesmo Deus que dis­
tribui dons espirituais é também Aquele que supervisiona
o caminho de cada um de nós, visando ao benefício de todo
o nosso ser. Deus conhece cada detalhe de nossas condi­
ções psicológicas, de nossas glândulas e de nossos
hormônios, de nosso metabolismo, de nossa total persona-
Udade. E Ele sabe que se tivermos alegria do cumprimento
de uma tarefa, faremos um trabalho melhor do que se não
gostássemos da mesma. Logo, parte do plano de Deus, con­
forme compreendo as coisas, consiste em combinar o dom
espiritual que Ele nos tem dado com os nossos sentimen­
•Otos,
. de tal maneira, que se realmente tivermos um dom,
haveremos de desfrutar prazerosamente do mesmo. Talvez
esse seja o motivo pelo qual, conforme verifícamos no pri­
meiro capítulo deste volume, Deus reserva para Si mesmo
4 Como A chei Meus Dons. e Como Você Pode Achar os Seus 125

a distribuição dos dons espirituais entre os crentes. Todos


os computadores da IBM não estariam equipados para fa­
zer isso para as centenas de milhões de crentes ao redor do
mundo, mas isso não constitui problema para o Deus Todo-
poderoso.
E também parece que há um bom ensino bíblico de
que é dessa forma que Deus quer dirigir o Seu povo. Lemos
em Salmos 37.4: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos
desejos do teu coração”. E a isso acrescenta Filipenses 2:13:
“. . .porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como
o realizar, segundo a sua boa vontade”. Ao que tudo indica,
quando um crente está cumprindo a vontade de Deus, tam­
bém estará fazendo aquilo que quer fazer. Basicamente,
pois, parece que não hã nenhum conflito entre nos sentir­
mos felizes e agradarmos a Deus.
Findley Edge diz que o crente que descobre a chama­
da divina por intermédio de seu dom ou dons, obterá uma
“sensação de eureka”. Isso significa que tal crente dirá:
“Realmente, éJ,^o que eu gostaria de fazer para Deus, mais
do que qualquer outra coisa no mundo”.“
Edge igualmente frisou que, quando uma pessoa exer­
ce um ministério, quer ela queira quer não, subconscien­
temente ela comunica a motivação por detrás de seu mi­
nistério. Se essa motivação for negativa, aqueles que rece­
berem o seu ministério receberão uma mensagem negati­
va, e o efeito será menos do que ideal. Mas se for uma
motivação positiva, o ministério será assim fomentado e
tomar-se-ã mais eficaz.
Durante aquele meu primeiro termo como missioná­
rio, também descobri, principalmente por meio de meus
sentimentos, que eu não tinha o dom de pastor.
Nossa missão designou para nós a pequena aldeia de
San Jose de Chiquitos, onde, entre outras coisas, deveria­
mos implantar uma nova Igreja. Demos início à igreja, pe­
quena e sempre se debatendo. Porém, ao tentar realizar o
meu trabalho pessoal, acabei aprendendo que eu não esta­
va bem equipado para resolver os problemas das pessoas.
Quando alguém começa a contar-me os seus problemas
126 Descubra Seus Dons Espirituais

pessoais na vida, sinto-me muito agastado. Inclino-me por


ficar preocupado a respeito, perder o sono, tendo a chorar
e a reagir exageradamente de várias maneiras. Faço uma
série de movimentos errados. Não consigo confiar em mi­
nha intuição. Em suma, meus sentimentos dizem-me que
Deus não me deu tal dom.
Naturalmente, tenho uma função cristã que me per­
mite ajudar ocasionalmente a outros crentes em seus pro­
blemas, de uma maneira pastoral, quando surgem certas
situações. Membros de minha família, certos amigos e, às
vezes, estudantes, precisam de minha ajuda, e tento dar-
lhes o que me parece melhor. Minha taxa de sucesso, no
terreno do aconselhamento pessoal, é muito baixa, talvez,
mesmo zero. E, visto que reajo tão inadequadamente, ten­
to evitar situações de aconselhamento, tanto quanto pos­
sível. Para outros crentes é difícil compreenderem quanto
desgaste de energias emocionais custa ficar ouvindo os pro­
blemas de outras pessoas, para aqueles dentre nós que
não possuem esse dom.
Certa ocasião, aceitei uma posição de pastorado, em­
bora eu soubesse que não possuo o dom ministerial de
pastor. Havia um importante princípio por detrãs de tudo
aquilo, que Findley Edge expressa tão bem, ao escrever:
“Hã ocasiões em que devemos agir simplesmente com base
no ‘dever’. Uma tarefa particular precisa ser feita, e um
senso de ‘dever’ é o melhor motivo que temos para fcizer tal
coisa”.®Em meu caso, essa questão de “dever” estava ocor­
rendo quando ocupei o cargo de pastor em uma grande
igreja metropolitana, na Bolívia, quando o seu pastor, Jai­
me Rios, entrou de licença, a fim de coordenar o maciço
esforço evangelístico, por toda a nação, em 1965. Era mis­
ter evangelizar a Bolívia de forma mais decidida do que
nunca; e, visto que eu acreditava tanto nesse alvo, dispus-
me a fazer o que me foi solicitado, embora isso significasse
ministrar por algum tempo com base em uma função cris­
tã e não com base em um dom espiritual.
A despeito de que, vez por outra, precisamos deixar
de lado essa questão dos sentimentos, por causa de situa-
4 Como A chei Meus Dons, e Como Você Pode Achar os Seus 127

ções de “dever” que são temporárias. O normal é que os


crentes se sintam “ligados” para fazerem o trabalho que
estão fazendo para Deus, por haverem descoberto o dom
espiritual que Deus lhes tem dado. Portanto, importa que
você examine os seus próprios sentimentos, enquanto es- ^
tiver experimentando os seus dons espirituais.

^ Passo 4; Avalie a Sua Eficiência


Visto que os dons espirituais têm em vista cumprir
tarefas, não está fora de ordem esperar que os mesmos
funcionem. Se Deus lhe deu algum dom, Ele assim o fez,
porque quer que você realize algo para Ele, dentro do con­
texto do Corpo de Cristo. As pessoas espiritualmente dota­
das obtêm bons resultados. Postular que Deus quer que
logremos êxito não contradiz a sincera humildade cristã.
Se você estiver experimentando um dom, e coerentemente
descobrir que aquilo que deveria estar acontecendo, não
acontece, então é provável que você tenha descoberto um
outro dos dqq^espirituais que Deus lhe tem dado.
Foi desse modo que obtive meu primeiro indício de
que não me fora conferido o dom do evangelismo. Tentei
com dedicação e sinceridade, mas não funcionou. Tentei o
evangelismo público, mas fui desaprovado. Tentei fazer
evangelismo pessoal e acabei com problemas no estômago
e uma língua paralisada. Quando observei alguns de meus
amigos que estavam testemunhando sem fazer nenhum es­
forço sobre-humano, e conduzindo um grande número de
pessoas aos pés de Cristo, reconheci que, em comparação
com eles, eu estava obtendo bem pouco resultado sobre­
natural na evangelização. Deus estava procurando dizer-
me algo.
Se você recebeu o dom ministerial de evangelista, en­
tão as pessoas aceitarão a Cristo regularmente por meio do
seu ministério. Se você tiver recebido o dom da exortação,
ajudará pessoas em seus problemas e verá vidas serem
endireitadas. Se você tiver recebido o dom de curas, pesso­
as enfermas serão curadas. Se você tiver recebido o dom
da administração, sua igreja funcionará suavemente, como
128 Descubra Seus Dons Espirituais

uma organização. Quando dons espirituais autênticos es­


tão em operação, aquilo que se espera que aconteça estará
acontecendo.

Dom 3: Dom do Ensino


Em nosso primeiro termo no campo missionário, não
somente descobri que eu não tinha os dons ministeriais de
evangelista e pastor, mas também descobri um dom que
eu tinha: o dom de ensino.
Atualmente estou plenamente cônscio do fato que
quando eu chegar diante do tribunal de Cristo, Deus have­
rá de fazer-me perguntas sondadoras sobre aquilo que fiz
com meu dom de ensino. E visto que sei que essas pergun­
tas me serão feitas, estou fazendo tudo quanto posso para
ter uma resposta satisfatória engatilhada.
O dom ministerial de mestre é a capacidade especial
^ que Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para co­
municarem informações relevantes para a saúde e o minis­
tério do Corpo de Cristo e seus membros, fa ^ n d o -o de tal
maneira que outros sejam capazes de aprender.
Pode-se ver prontamente que essa definição traz em­
butida em si mesma a idéia da eficiência: “de tal maneira
que outros sejam capazes de aprender”. Sempre é necessá­
rio manter em mente o para que serve o ensino. Michael
Griffiths asseverou: “Tradicionalmente, grande parte do
ensino cristão é puro solilóquio no púlpito, e ninguém veri­
fica se alguém presta atenção ou se o ensino está produ­
zindo alguma ação”.®Quanta verdade!
Visto que recebi o dom de ensino, espero plenamente
que as pessoas aprendam, tanto em minhas salas de aula
quanto através de meus escritos. Se eu pensasse que obte-
ria qualquer outro tipo de resultado, duvidaria de que re­
cebi esse dom. Não acredito que esteja pensando de mim
mesmo mais do que deveria pensar. Antes, sinto que estou
pensando com moderação. Com freqüência recebo cartas
de estudantes, que dizem: “Seu curso foi a melhor experi­
ência de aprendizado que já recebi, desde que deixei o se­
minário, faz vinte anos”. Ou me escrevem algo que tem esse
4 Como A chei Meus Dons, e Como Você Pode Achar os Seus !2 9

sentido. Francamente, espero que isso aconteça, tal como


Billy Graham espera que pessoas se levantem e venham à
frente, quando ele faz um convite evangelístico. E eu gosto
muito de receber essas cartas.
Isso não significa que nunca sofro derrotas. Infeliz-
mente, assim sucede. Faz agora uns poucos meses, por
exemplo, que fui convidado a efetuar um seminário sobre o
desenvolvimento da igreja, somente para descobrir, depois
que cheguei, que muitos daqueles que se haviam matricu­
lado nem eram crentes regenerados e nem acreditavam que
o cumprimento da Grande Comissão — fazer discípulos de
todas as nações — é muito importante. Lã pelo fim da pri­
meira semana, tanto eles quanto eu estávamos ansiosos
para voltar para casa, e as avaliações que foram feitas mais
tarde eram de fato desencorajadoras. Entretanto, isso re­
presenta apenas a exceção. Em uma escala de um a dez,
minhas avaliações usualmente ficam entre oito e dez, em­
bora em quase todas as classes sempre aparecem alguns
que resultam fracassos, avaliando-me entre dois ou três
pontos. ’
O dom do ensino figura em todas as três listas primá­
rias dos dons espirituais: Romanos 12, 1 Coríntlos 12 e
Efésios 4. Isso não quer dizer que um dom qualquer seja
mais válido somente porque é mencionado mais de uma
vez, embora provavelmente signifique que é mais univer­
sal. Apesar de ser verdade que diferentes igrejas possuem
diferentes conjuntos de dons, penso que virtualmente to­
das as igrejas recebem o dom de mestre como parte dessa
combinação. Também penso que a porcentagem de mem­
bros do Corpo de Cristo que recebem o dom de mestre é
um tanto mais elevado do que a porcentagem de muitos
outros dons. Mas isso ainda precisa ser averiguado nova­
mente.
O dom de ensino manifesta-se com muitas varieda­
des. Algumas pessoas recebem o dom de ensino que lhes
permite comunicar-se bem com as crianças. Meu dom vol­
ta-se basicamente para os adultos; e, francamente, os ga­
rotos acham que sou terrivelmente cansativo. Tenho como
ISO Descubra Seus Dons Espirituais

prática nunca aceitar convites para ensinar menores de


idade. Alguns daqueles que recebem o dom de ensino são
bons na relação de professor-aluno, como foi o caso de Paulo
e Timóteo: ou Áquila e Priscila com Apoio (ver Atos 18.26).
Consigo fazer bom trabalho como mentor de teses e disser­
tações, mas jã descobri:
a) não gosto de fazer isso;
b) hã muitos outros, entre os professores de nosso
seminário, que realizam um trabalho bem superior ao meu.
Meu ponto forte é ficar diante de uma classe com trinta
a quarenta alunos. Acima disso, minha eficácia começa a
decair. Jamais poderei comparar-me com o ensino de Bill
Gothard, por exemplo, que consegue manter a atenção de
dez a quinze mil pessoas ao mesmo tempo, através de um
período intensivo de seminário.
Alguns usam seu dom de ensino através de meios de
comunicação como o rádio ou a televisão. Alguns são bons
ao ensinarem pessoas leigas; e outros alcançam melhor
êxito quando ensinam profissionais. Alguns são capazes
de usar seu dom de ensino por meio de s^ks obras escri­
tas, mas hã mestres que pensam que escrever é um peso
morto, e escrevem o menos possível. Outros ensinam por
meio da pregação, outros através da música, e ainda ou­
tros por meio de pequenas peças teatrais.
O dom de ensino usualmente é um dom que envolve
tempo integral. Ao inverso de outros dons que usualmente
só são utilizados ocasioncJmente, como o exorcismo ou o
discernimento de espíritos, e também diferente do celiba­
to, que é relativamente passivo, uma vez descoberto e este­
ja em operação, o ensino geralmente envolve um uso regu­
lar e constante, em que muito tempo é dedicado ao estudo
e ã preparação. E isso não se aplica somente a mestres
profissionais, como é o meu caso, mas também aos mes­
tres leigos da Escola Dominical, nas igrejas. Se um profes­
sor de Escola Dominical possui o dom de ensino, provavel­
mente, não conseguirá fazer muito mais, até onde diz res­
peito ao serviço prestado à igreja local. Aqueles que possu­
em esse dom, gostam de passar muito tempo estudando as
4 Como A chei Meus Dons, e Como Você Pode A char os Seus 131

lições. Eles trabalham em cima de detalhes, organizando e


reorganizando. Buscam ilustrações para tomar mais sig­
nificativo o material. Passam tempo examinando auxílios
visuais. Para exemplificar, algumas vezes descubro-me tra­
balhando por duas ou três horas em um conjunto de slides,
que usarei talvez por quinze a trinta segundos em classe.
Porém, se isso consegue firmar eficazmente um ponto, vale
a pena tanto esforço, que por fim me traz tanta satisfação.
Os mestres que receberam o dom de ensino também
se mostram pacientes com seus alunos. Eles criam uma
atmosfera, em classe, onde os estudantes sentem-se livres
para levantar indagações de qualquer tipo, sem sentirem
que serão desprezados ou parecerão estúpidos diante de
outras pessoas. Os mestres temem projetar qualquer ati­
tude que podería ser interpretada como manipulação ou
humilhação. Não se sentem ameaçados e nem ficam na
defensiva, quando lhes é feita alguma crítica. Tais atitudes
e intuições não pertencem ao tipo de coisa que possa ser
aprendida por^ualquer um. Fazem parte da dimensão so­
brenatural de terem recebido um dom espiritual.
Vãrias combinações possíveis nos sobem ã mente
quando pensamos no mestre como parte de um dom com­
binado com outro. A própria Bíblia menciona pastores-
mestres (ver Efésios 4.11) como uma combinação freqüen-
te. Uma outra combinação é a de pregador-mestre. Nem
todos os pregadores têm ou precisam do dom do ensino;
mas isso se dã no caso de alguns deles. Profeta-mestre
parece ser uma combinação que se acha ã miúde no Novo
Testamento. Posso imaginar que tal combinação se fazia
mais necessária nos séculos I e II D. C., antes que o Novo
Testamento tivesse sido compilado e estivesse em circula­
ção nas igrejas, mais do que acontece hoje em dia, pelo
menos nas sociedades mais alfabetizadas. Talvez entre as
populações evangélicas de hoje em dia, que são em grande
parte analfabetas, a combinação profeta-mestre é encon­
trada com maior freqüência; e a experiência evangélica nas
igrejas africanas independentes parece confirmar isso.
Uma outra freqüente combinação de dons é a do eru-
132 Descubra Seus Dons Espirituais

dito-mestre, combinação essa que me caracteriza. Minha


hipótese é de que o lado “erudito” é uma maneira contem­
porânea de expressar o dom do conhecimento. Assim, para
que eu possa exercer, de modo apropriado, o meu dom es­
piritual em particular, tenho que passar mais tempo em
pesquisa e estudo do que outros que talvez também te­
nham o dom do ensino, mas não atrelado ao dom do co­
nhecimento.
Como foi que descobri ser eu um erudito-mestre?
Antes de tudo, descobri quais eram as opções biblicas, en­
tão fiz experiências nesse sentido, então me senti muito
satisfeito com os resultados; e, além disso, esses dons fo­
ram confirmados por outros membros, notavelmente dota­
dos, do Corpo de Cristo, quanto a dons espirituais. E isso
representa o quinto passo.

^ Passo 5: Espere Confirmação da


Parte do Corpo de Cristo
Se você julga que possui um dom espiritual e está
procurando exercê-lo, mas ninguém em áfei igreja pensa
assim, — então o mais provável é que você esteja engana­
do. Um dom espiritual precisa ser confirmado.
Por esta altura, talvez você esteja pensando haver um
conflito entre o terceiro passo, a respeito de seus senti­
mentos, e o quinto passo, acerca da confirmação. Os nos­
sos sentimentos são importantes: mas estão longe de ser
infalíveis. Talvez você tenha um profundo desejo de ajudar
a outras pessoas, por exemplo. Talvez você sinta fortemen­
te que Deus o está chamando para o ministério, mediante
o aconselhamento ou o dom da exortação. Mas se você está
fazendo experiências com o aconselhamento, e verifica que
durante um certo período de tempo ninguém o procura a
flm de ser aconselhado, nem recomenda a seus amigos e
parentes que o procurem, nem lhe escrevem notas dizendo
o quanto você os tem ajudado, então você terá boas razões
para duvidar da validade de seus sentimentos, no que
concerne a algum dom espiritual. A confirmação da parte
do Corpo serve de confirmação de todos os passos aqui
4 Como Achei Meus Dons, e Como Você Pode A char os Seus 133

referidos. Na ordem de apresentação, esse passo é o de


número cinco, mas de muitas maneiras é o passo mais
importante de todos.
Os dons espirituais, de acordo com a nossa definição
funcional, são conferidos para serem usados dentro do con­
texto do Corpo de Cristo. É necessário, por conseguinte,
que os demais membros do Corpo tenham a palavra final
na confirmação de seu dom.
Um dos motivos pelos quais a confirmação da parte
do Corpo é tão importante é que edifica um sistema de
prestação de contas, quanto ao uso de seu dom. Se é ver­
dade que, em última análise, somos responsáveis diante
de Deus, mais imediatamente somos responsáveis uns aos
outros, e devemos levar isso a sério. A profundeza de dedi­
cação que isso produz foi vividamente descrito por Elizabeth
0 ’Connor. Ela afirma que essa necessidade de prestação
de conta nunca é uma questão confortável. Escreveu ela:
“O compromisso que assumi, no tocante aos meus dons,
significa que j^^ciso desistir de navegar entre duas águas...
A vida não séra a confusão em que a tenho transformado,
ou seja, experimentando e tentando aqui e acolá”.’’
Se você recebeu o dom da administração, do socorro,
do evangelismo ou da misericórdia, mas ninguém sabe dis­
so, talvez você resolva mostrar-se preguiçoso a respeito de
seu uso, e ninguém perceberá a diferença. Todavia, uma
vez que seja reconhecido e confirmado pelo Corpo de Cris­
to, seus amigos haverão de esperar ver o mesmo em ação.
Eis a razão pela qual salientei, anteriormente, que o desejo
de trabalhar arduamente é uma condição prévia para quem
quiser descobrir seus dons espirituais. Quando os mem­
bros do Corpo confirmam os dons espirituais uns dos ou­
tros, o trabalho árduo dos crentes rende melhor.
Durante alguns anos, pensei ser possuidor do dom
da administração. Um tanto contra a minha vontade, a
princípio, convenceram-me a assumir a administração da
agência missionária sob a qual estávamos servindo. Quan­
do experimentei administrar, comecei a gostar do traba­
lho, pelo menos no tocante a meus sentimentos; e me pa­
134 Descubra Seus Dons Espirituais

receu que realmente eu teria um dom. E então, chegado o


momento de confirmar aquele dom, na reunião de confe­
rência de campo, houve muito desacordo entre os colegas
obreiros no que concerne ã minha nomeação, e sempre que
se fazia uma votação, por pouco eu não era rejeitado. Eu
estava carecendo de alguém, dotado do dom da exortação,
para dizer-me que saísse do campo da administração e vol­
tasse ao campo do ensino; mas ou tal pessoa não se fazia
presente, ou eu não estava ouvindo. E foi assim que pros­
segui durante alguns anos, e, segundo era previsível, a
missão praticamente não avançou sob a minha liderança.
Somente depois que voltei aos Estados Unidos da
América e li um livro, intitulado The Making o f a Christian
Leader, do querido amigo, Ted Engstrom, compreendí cla­
ramente que eu nunca havia recebido o dom da adminis­
tração. Nesse caso, um outro membro do Corpo confirmou
para mim que éu não era possuidor desse dom; e tenho
sido agradecido a Ted Engstrom desde então.

Como Você Pode Achar Seu Dom ^


Este capítulo tem sido tão autobiográfico que cabe
aqui um a explicação para isso. C onform e m uitos
evangelistas têm descoberto, os testemunhos pessoais po­
dem ser extremamente teis para motivar uma pessoa,
porquanto provêem algo de carne e sangue com que se pos­
sam identificar. Os conceitos abstratos são ótimos, mas
raramente dão impulso ãs pessoas. Meu propósito, neste
capítulo, tem sido ajudar o leitor a perceber, com maior
clareza, como um crente pode dar início ao excitante pro­
cesso que leva ã descoberta de algum dom espiritual.
E, conforme eu disse no começo, embora essa abor­
dagem não seja capaz de ajudar a todos, tenho plena con­
fiança de que alguns serão ajudados por ela. Permita-me o
leitor ilustrar como isso pode funcionar, citando uma carta
de um dos pastores bem sucedidos, da Igreja Metodista
Unida, Joe Harding. A igreja do pastor Harding, a Igreja
Protestante Unida Central, de Richland, Washington, é uma
das maiores igrejas e de mais rápido crescimento em todo
4 Como Achei Meus Dons, e Como Você Pode A char os Seus i3 5

o noroeste, uma área que não é particularmente conhecida


por um crescimento eclesiástico explosivo. Joe Harding ti­
nha-se matriculado em um curso de seminário de cresci­
mento eclesiástico, para doutorado ministerial, que eu es­
tava ensinando no centro de extensões da Eastem Washing­
ton Fuller. Dias após a conferência sobre dons espirituais
e crescimento eclesiástico, ele escreveu esta carta:

Suas preleções foram particularmente úteis para mim,


para que eu pudesse tomar uma decisão importante. Poucos
dias antes das aulas, recebi uma chamada telefônica de um
de nossos executivos denominacionais, pedindo-me que me
mudasse para um escritório nacional na Junta de Discipulado
em Nashville, a fim de encabeçar um novo programa de
evangelismo. Foi-me dito que eu era a primeira escolha de­
les, e que realmente queriam que eu aceitasse essa respon­
sabilidade. Estou familarizado com o programa, e sou um
entusiasmado a respeito do mesmo.
Todavia, quando comecei a pesar cuidadosamente a
questão, flcou claro para mim que meus dons não pertencem
primariamente à área administrativa, e, sim, ao campo da
pregação, Ai^ensino e do pastoreio. Quando medi meus dons
pessoais à luz das exigências daquela tarefa desafiadora,
fo i muitofá cil para mim declinar do convite e sentir que Deus
me estava chamando para permanecer nesta congregação
para demonstrar o potencial do crescimento dinâmico e vital
dentro da igreja metodista.
Eu me debatia em agonia quando, a princípio, recebi o
convite, porque sentia que eu não podia rejeitar tão desafia­
dora oportunidade. Sua ênfase sobre a alegria que sente no
exercício dos dons pôs a questão sob uma perspectiva total­
mente diferente. Sinto-me tremendamente Jubiloso quando
me ponho de pé diante da congregação para a qual prego,
domingo apôs domingo. Simplesmente reconheço que é isso
que Deus quer que eu faça.
Portanto, sua preleção chegou em um momento extre­
mamente apropriado em minha vida, e simplesmente quero
compartilhar consigo de minha gratidão.

A vibração que obtive, ao receber a carta de Joe


Harding, não pode ter sido menor do que aquela que Billy
graham deve ter sentido, quando três mil pessoas vieram á
frente, em uma de suas cruzadas. Agora agradeço a Deus
que não sou o Billy Graham da Bolívia, conforme eu pen­
136 Descubra Seus Dons Espirituais

sava que podería ser. Deus tem algo muito melhor — para
mim. E Ele tem algo igualmente excitante e realizador, em
Sua mente, para você.
Uma seqüela da história acima, que pode ter efeitos a
longo prazo para o futuro crescimento da Igreja, dentro da
Igreja Metodista Unida, é que o homem que, finalmente,
veio preencher a posição em Nashville, o Dr. George Hunter
III, possui a nlistura especial de dons que Joe Harding sa­
bia que não tinha. Hunter não é o tipo de pastor quieto e
acomodado que se sentiría realizado por pregar para a
mesma congregação domingo após domingo. Antes, ele é
um tipo de líder agressivo, resoluto, de decisões rãpidas,
que pode liderar um programa de evangelismo e cresci­
mento eclesiãstico, levando-o avante, sem detxar-se inti­
midar pelas forças de oposição que continuam fazendo ouvir
a sua voz dentro daquela denominação. Tudo isso sucedeu
porque Deus é aquele que distribui os dons espirituais; e,
nesse caso, tanto os indivíduos envolvidos quanto o corpo
como um todo estavam sintonizados com ^ u ilo que Deus
estava querendo fazer.
Quando você e seu segmento particular do Corpo de
Cristo fizerem algo similar, então será despertado um po­
der, em prol do crescimento de sua igreja, que não poderá
ficar oculto, visando ã glória de Deus. E assim será porque
esse é o desígnio de Deus.

Notas

1. RayC. SLedman, Sody Lí/è (Glendale: Regai Books, 1972), pág. 54.
2. Idem.
3. Kenneth Cadn Kinghorn, Gijls qfThe Spirit (Nashville: Abingdon Press, 1976), pág. 110.
4. FlndleyB. Edge, T/ie Creeniíiyo/ Tlie C/iurch(Waco: Word Books, 1971), pág. 141.
5. Idem, pág. 142.
6. Michael GrílTiths. Cii\derella’s BeÜvotlxal Gifls (Robesonia, PA: OMF Books, 1978), pág. 36.
7. ElizabeLh 0 ’Connor, Eighth Day o f Creation (Waco: Word Books, 1971), págs. 42 e 43.
5
O P astor
E S eu C onjunto de D ons

té este ponto, meu tratamento sobre os dons espi­


rituais tem-se mantido em um nível um tanto ge­
ral. O ^icerce precisava ser lançado. É impossível
sermos específicos quanto aos dons espirituais, e
como eles se relacionam ao crescimento da igreja, a menos
que seja disperso o nevoeiro da ignorância acerca do as­
sunto. Vez por outra tenho mencionado certas maneiras
mediante as quais os dons espirituais dizem respeito ao
crescimento da igreja, mas tenho salientado mais a saúde
individual dos crentes, e de igrejas em geral. Naturalmen­
te, é mister que a Igreja, como um todo, seja saudável, se
tiver de crescer corretamente. Mas em muitos casos as igre­
jas locais não estão crescendo porque estão passando por
algum problema especial, que diz respeito às operações dos
dons espirituais.

O Pastor Continua Sendo a Chave


Deve-se começar a sondar alguns desses problemas
pelo pastor. Ele é o indivíduo-chave para o desenvolvimen­
to da igreja local. (A propagação do evangelho em terreno
novo serã discutida no sétimo capítulo). Mas, o pastor não
é o único fator de crescimento em uma igreja local.
138 Descubra Seus Dons Espirituais

Em meu livro, Ybur Church Can Grow, descreví sete


sinais vitais de uma igreja saudável, e ali o pastor aparece
como o primeiro desses sinais. Ao assim escrever, fiquel
indagando como essa hipótese se sairia, na opinião de ou­
tros profissionais do campo pastoral. E a aprovação escrita
e falada, da parte deles, que tem chegado às minhas mãos
nesses dois anos têm-me feito modificar alguns postulados
sobre outros sinais vitais; mas tem sido confirmada a idéia
que o pastor de uma igreja local é o mais importante fator
de crescimento da mesma.
Desde que aquele livro foi escrito, estudos multo sig­
nificativos têm sido publicados sobre as tendências de cres­
cimento eclesiástico por parte de três de nossas principais
denominações evangélicas: a Igreja Metodista Unida, a Igreja
Presbiteriana Unida e a Convenção Batista do Sul. Todos
esses estudos têm frisado o papel destacado do pastor.
O estudo feito pelos irmãos metodistas, por exemplo,
refere-se às diversas organizações que estão atualmente
estudando a questão do crescimento da tóreja: “De uma
maneira ou de outra, todas reconhecem c^e o pastor é a
figura central. Talvez discordem quanto ao modo de
envolvimento do pastor, mas todas concordam em que o
pastor deve envolver-se”. Hã muitas razões para isso, mas
aqueles estudos põem em realce um deles, argumentando
que “o envolvimento do pastor assinala a sua dedicação à
convicção de que uma das mais importantes tarefas de uma
congregação local é a de ampliar o ministério da igreja a
fim de Incluir mais pessoas”.'
O estudo dos irmãos presbiterianos unidos, após ana­
lisar as causas do declínio e do crescimento, apresenta dez
“implicações em prol de uma ação positiva”, que os autores
sentiam que deveríam tomar, se quisessem reverter a ten­
dência geral de redução, no tocante ao número de mem­
bros de suas igrejas. A primeira dessas implicações abor­
dava a questão dos motivos (a igreja precisa afirmar que
espera por crescimento), mas a segunda tinha a ver com o
pastor. Seu argumento foi que “a Igreja Presbiteriana Uni­
da deve reconhecer adequadamente uma forte competên­
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 139

cia pastoral, como um fator decisivo na vitalidade e alcan­


ce da congregação”. E também mencionou que todas as
suas pesquisas formais e informais levavam à mesma con­
clusão, a saber, que a “liderança pastoral é importante para
quase todos os aspectos de uma vida congregacional sau­
dável e certamente para o crescimento da igreja”.^ E quan­
do fizeram o confronto entre a percepção dos membros de
igrejas crescentes com a percepção dos membros de igre­
jas decadentes, descobriram que os pastores de igrejas cres­
centes aceitavam maior responsabilidade pelo crescimento
delas, exercendo maior influência sobre o que acontecia
nelas, promovendo um senso de unidade e mais capazes
de manusear quaisquer conflitos.
O teste mais abrangente dos “sete sinais vitais” (1.
Pastor/Liderança, 2. Membros com sentido de Corpo de
Cristo, 3. Igreja com o tamanho certo, 4. Estrutura e funci­
onamento integrado, 5. Homogeneidade cultural e social,
6. Métodos e visão de ministério e 7. Prioridades, alvos e
metas.) foi efetuado pela Home Mission Boaxd dos Batistas
do Sul, em 197^. Eles planejaram e efetuaram um estudo
computa-dorizado a respeito de trinta mil e vinte e nove
igrejas dos batistas do sul, para descobrir quais eram as
quatrocentas e vinte e cinco igrejas de mais rápido cresci­
mento da denominação. Então, foi feito um estudo especial
acerca dessas quatrocentas e vinte e cinco igrejas, para ver
se os sinais vitais concordavam com a realidade dos fatos.
Estudos ainda mais profundos foram então efetuados nas
quinze igrejas que demonstravam os melhores registros de
crescimento, a fim de fazer-se a comparação com as infor­
mações gerais que tinham sido colhidas. Quanto ao pri­
meiro sinal vital — o pastor — o relatório declarou: “Os
pastores das quinze igrejas de mais rápido crescimento
concordam que a chave é a liderança. . . Apesar de darem
crédito a outras coisas, todos eles disseram-se responsá­
veis diante de Deus pelo crescimento, nutrição, orienta­
ção, alcance evangelístico e ministério da igreja. Eles se
sentiam o homem de Deus, na igreja de Deus, no tempo
determinado por Deus”.^(N.E.: Recomendamos a leitura de
140 Descubra Seus Dons Espirituais

O Poder da Visão do Dr. George Bama).


Entre 1976 e 1978, a Hartford Semlnaiy Foundation
reuniu uma equipe competente de pesquisadores, formada
por sociólogos de religião, planejadores de igreja e executi­
vos denominacionais, a fim de estudarem por que as prin­
cipais denominações evangélicas vêm declinando nos Es­
tados Unidos da América desde 1965. Uma de suas con­
clusões foi que “tanto a sabedoria quanto os informes
coletados convergem claramente para dizer-nos que o pa­
pel desempenhado pelo pastor é crítico para o ‘crescimen­
to’ de uma igreja”. E então o mesmo relatório acrescentou,
muito significativamente: “Infelizmente, eles foram menos
claros ao dizer-nos especificamente o que está envolvido
nesse papel, ou quais as mais importantes qualidades que
a pessoa que desempenha esse papel deve exibir”.^
Ora, é precisamente esse um dos propósitos deste
capítulo. Não disponho de todas as respostas, mas penso
que ao menos posso começar descrevendo algumas das
qualidades que deve ter o pastor de uma igreja em rápido
crescimento, incluindo tudo no contexto aos dons espiri­
tuais. Conforme o tempo for passando, essas noções pode­
rão ser submetidas a teste, para então serem ajustadas,
conforme forem sendo colhidas novas informações. Espero
que em um futuro próximo comecemos a obter informes
sobre que equipamentos um pastor precisa para conduzir
uma igreja crescente; e, então, como seria de esperar, ajus­
tar nossos sistemas de treinamento ministerial nas esco­
las bíblicas ou nos seminários, a fim de enfrentarmos es­
sas necessidades particulares.
É compreensível que alguns pastores reajam negati­
vamente diante da hipótese que são a figura-chave no cres­
cimento de suas igrejas. Se alguma resistência a isso pode
dever-se ã humildade, provavelmente muito mais se deve ã
relutância demonstrada por muitos pastores em aceitar
grande responsabilidade. Em nenhum dos casos as obje-
ções são adequadas. Os membros das igrejas em geral es­
tão entendendo, cada vez mais, que se um homem aceita a
responsabilidade de ser pastor de uma igreja, ele está acei­
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons M l

tando a responsabilidade fundamental para seu crescimento


ou declínio, tanto quanto um piloto de avião aceita a res­
ponsabilidade de conservar seu aparelho voando. Um avião
não voa sem asas, sem estabilizadores e sem motor, é ver­
dade. Mas reconhecer isso não altera o fato de que o piloto
é aquele que faz o avião voar.
É uma verdade teológica que Jesus é o Cabeça da
Igreja. Mas Jesus também escolhe e equipa os Seus sub-
pastores. Em uma estrutura eclesiãstica pode haver cem,
quinhentos ou cinco mil membros: mas há uma pessoa,
acima de todas as outras, que é mais diretamente respon­
sável, ante Jesus Cristo, o Cabeça da Igreja Universal, pelo
bem-estar do corpo local particular. Essa pessoa é o pas­
tor. Razão pela qual as combinações de dons de um pastor
são tão importantes para o crescimento da igreja. Dados o
homem certo e a combinação correta de dons, virtualmen­
te qualquer igreja tem grandes possibilidades de crescer.
(N.E.: Recomendamos a leitura de Icabode: Cristo e o Mo­
dernismo do Dr. Rubem Amorese).

O Mito do Pastor “Onicompetente"


Existe uma concepção ultrapassada do papel de um
pastor que, embora esteja desaparecendo, persiste ainda
em alguns círculos. Trata-se da idéia de que o pastor é
contratado pela congregação para fazer todo o trabalho da
igreja. Quanto melhor for um pastor, tanto mais os mem­
bros de uma igreja podem relaxar e tomarem-se especta­
dores. E isso não somente é um conceito obsoleto, como
também não é bíblico.
A visão bíblica do Corpo de Cristo é que a igreja local
é um organismo em que todos os seus membros funcio­
nam juntos. O melhor pastor não é aquele que poupa os
membros da igreja de suas respectivas responsabilidades,
mas aquele que assegura que cada membro tem uma res­
ponsabilidade e está procurando trabalhar cirduamente para
cumpri-la.
O pastor é apenas um dos muitos membros do Cor­
po. Ele não é o Cabeça (essa função está reservada a Je­
/ 42 Descubra Seus Dons Espirituais

sus), mas o pastor pode assemelhar-se ao sistema nervo­


so, que transmite as mensagens aos vários membros do
corpo, garantindo que os membros estão trabalhando ju n­
tos e harmoniosamente. A coordenação suave entre os
membros do corpo depende do pastor. Muitos membros de
igreja não reconhecem e nem aceitam esse conceito. E ape­
sar de não esperarem que o pastor faça tudo, esperam que
ele faça quase tudo. O estereótipo que muitos membros de
igreja têm dos pastores é que estes precisam ser oradores
públicos excelentes, conselheiros habilidosos, eruditos na
Bíblia e na teologia, relações públicas do melhor gabarito,
administradores, mestres de ética social, mestres de ceri­
mônias, conquistadores de almas, mestres estimuladores,
diretores de funerais e competentes em tudo o mais, exce­
tuando, talvez, somente sobre como andar à superfície da
ãgua. Um pastor assim “onicompetente” é o homem pelo
qual centenas de juntas de igrejas estão procurando.
Naturalmente, nunca encontram tal homem. Qual­
quer pessoa familiarizada com os dons espirituais pode
predizer isso. Ninguém do Corpo de Cristo possui todos os
dons, incluindo os pastores. Mas quando esse fato simples
é esquecido, o desapontamento oculta-se logo atrãs da es­
quina. Tal desapontamento, contudo, não é necessário. Pode
ser significativamente reduzido se e quando a responsabi­
lidade pastoral é avaliada e as descrições de tarefas são
anotadas à base dos dons espirituais.
Se esse é o caso, quais dons espirituais se fazem ne­
cessários para que um pastor de igreja crescente seja bem
sucedido?
Talvez seja mais aconselhável abordarmos essa ques­
tão primeiramente de um ponto-de-vista negativo. Assim,
quais dons não são necessários ao pastor de uma Igreja
crescente? Minha sugestão é que apenas dois dos dons
espirituais são indispensáveis para o pastor de uma igreja
que cresce rapidamente. Isso deixa vinte e cinco deles como
dons opcionais. Não há necessidade, pois, de discutirmos
sobre todos esses vinte e cinco dons. Todavia, quatro de­
les, em particulcir, merecem menção, porquanto são qua­
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 143

tro qualidades que muitas pessoas, equivocadamente, pen­


sam que o pastor de uma igreja crescente não pode dispen­
sar. Refiro-me aos dons de pastor, de exortação, de
evangelista e de administração.

Dom 20: Pastor


Até este ponto, tenho usado a palavra “pastor” em
seu ampdo sentido contemporâneo. No vocabulário atual,
quer dizer a pessoa que é designada como cabeça de uma
igreja local. Um pastor também é chamado de ministro,
reitor, pãroco, e, algumas vezes, pregador. Ora, até onde
vai o dom, precisamos usar a palavra “pastor” em um sen­
tido mais técnico.
Algumas pessoas deixam-se impressionar quando
ouvem, pela primeira vez, que um pastor bem sucedido
não necessita do dom ministerial de pastor. De fato, pou­
cos ministros principais de grandes e crescentes igrejas
têm o dom pastoral. Quase por definição, se tivessem o
dom, não estariam onde estão. E aqueles que encabeçam
igrejas numerdSas, e ainda assim têm o dom pastoral, com
freqüência descobrem que esse dom é frustrante. Se esse
dom não for devidamente entendido e manuseado, com fre­
qüência toma-se causa de falta de crescimento, conforme
veremos logo adiante.
Antes de tudo, entretanto, no que consiste o dom
pastoral? O dom de pastor é aquela capacidade especial
que Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para as­
sumirem uma responsabilidade pessoal, a longo termo, pelo
bem-estar espiritual de um grupo de crentes.
O vocãbulo “pastor” foi tomado por empréstimo das
atividades pastoris, particularmente da criação de ovelhas.
De modo algum essa ocupação ê tão bem entendida hoje
como se dava na Palestina do início do cristianismo, pelo
que requer alguma explicação. O pastor de um grupo de
crentes é a pessoa, abaixo de Jesus, que é o Pastor Supre­
mo, para ensinar, abmentar, curar as feridas, desenvolver
o senso de unidade, ajudar as pessoas a encontrarem seus
dons, e fazer tudo quanto outra coisa que se faça necessá­
144 Descubra Seus Dons Espirituais

rio paxa que elas prossigam na fé, crescendo em suas vidas


espirituais.
Vários termos bíblicos são usados como sinônimo de
“pastor”. As palavras portuguesas “ancião”, “presbítero”,
“bispo”, “supervisor” (algumas vezes usadas intercambia-
velmente, dependendo da tradução ou versão), significam
todas “pastor”. Visto que essas palavras são utilizadas com
tanta variedade de sentidos em nossas igrejas contempo­
râneas, é aconselhável distinguir entre o oficio de pastor e
o dom de pastor. A maior parte daqueles que chamamos de
pastores, na América do Norte, são pessoas que estão ocu­
pando o oficio de pastor. Nas suas igrejas eles atuam como
cabeças do pessoal administrativo da igreja. O ponto que
estou querendo salientar aqui é que nem todos que ocu­
pam o oficio de pastor precisam do dom ministerial de pas­
tor. Outrossim, muitas pessoas dotadas do dom de pastor,
não ocupam o ofício pastoral, pois nunca são colocadas
como parte do pessoal administrativo de uma igreja.
Quero dizer de passagem que a “pregação” não foi
arrolada como um dom espiritual. Talvez d^esse sé-lo, mas
penso que não seria útil fazer esse acréscimo, como tam­
bém não seria útil adicionar “fazer filmes”, “falar pelo rá­
dio” ou “escrever livros”. Todas essas são formas de comu­
nicação que podem ser usadas para exercitar qualquer
número dos dons espirituais mais substanciais. Por meio
da pregação, por exemplo, alguns exercem seu dom de
evangelista, outros seu dom de ensino, outros seu dom de
fé, e ainda outros seu dom de curas, e assim por diante.
Com freqüência requeremos boa pregação como qualidade
para aqueles que contratamos para ocuparem o ofício de
pastor. E nada há de errado com isso. Mas muitos, ou
mesmo a maioria dos crentes dotados do dom ministerial
de pastor não são pregadores exímios. Se os pregadores
tendem por chamar a atenção de outras pessoas para eles
mesmos, os pastores tendem por derramar a sua atenção
sobre outras pessoas.
Outra coisa. Se o dom de pastor com freqüência é
vinculado ao dom de mestre, dentro do conjunto de dons
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 145

como se dá no caso dos pastores-mestres, segundo vimos


em Efésios 4.11, esses dois dons podem e realmente ope­
ram independentes um do outro. É verdade que o ensino
faz parte da responsabilidade daquele que recebeu o dom
de pastor, mas isso pode ser adequadamente exercido por
meio de um comportamento cristão, e não mediante um
dom espiritual especial. O ensino pode envolver uma rela­
ção a curto prazo entre professor e estudantes, e ainda
assim funcionar bem. Mas o dom de pastor envolve uma
relação muito mais paciente e pessoal a longo prazo. Ne­
nhuma igreja contrata uma pessoa para vir fazer trabalho
pastoral por uma semana, como podem contratar um
evangelista ou um mestre da Biblia, ou mesmo um especi­
alista em crescimento eclesiástico. Um mestre pode não ter
grande necessidade de pessoas; mas um pastor, tipica­
mente, tem grande necessidade de pessoas para dirigir. Um
mestre pode ter como seu centro de ação o contentamento,
a motivação ou a sua tarefa. Mas um pastor tem por centro
de sua atuação as pessoas.
Ora, assinfque entendermos que o dom de pastor não
é, necessariamente, aquilo que seu ministro tem, abre-se
uma vasta e excitante possibilidade para pessoas leigas
começarem a exercer seu dom de pastor. Em muitas igre­
jas locais, esse dom quase não é visto entre os leigos sim­
plesmente porque ninguém procura por esse dom entre eles.
Antes, tem-se pressuposto que quando uma igreja contra­
ta um pastor e paga o seu salário, eles lhe estão pagcindo
para fazer o trabalho pastoral em lugar deles. Assim fazen­
do, inconscientemente podem estar sufocando o crescimen­
to de sua igreja, embora não possam entender por qual
razão isso acontece.

O Crescimento da Igreja e os Dons Pastorais


Acredito que o dom ministerial de pastor é universal.
Com isso quero dizer que é provável que nenhuma igreja
local não conte com alguém que tenha o dom de pastor em
seu conjunto de dons. Talvez isso não suceda a certas or­
ganizações para a igreja, mas sem dúvida acontece assim
/ 46 Descubra Seus Dons Espirituais

nas igrejas. Há um amplo ensino neotestamentário sobre


como pastores ou anciãos são providos por Deus para cada
igreja local. Paulo providenciava para que eles fossem iden­
tificados e devidamente ordenados, mesmo nas igrejas re-
cém-formadas que ele iniciara como missionário enviado
ao estrangeiro. O trecho de Atos 14.23, por exemplo, diz-
nos que Paulo e seus colegas missionários ordenaram
anciãos em cada igreja.
Também acredito que o dom de pastor é dado tanto a
homens quanto a mulheres. Em algumas culturas, sem
dúvida Deus dá esse dom mais a mulheres do que a ho­
mens. Em outras. Deus levanta mais homens do que mu­
lheres. Conforme já mencionei. Deus é admiravelmente fle­
xível, e Ele adapta a maneira como atua no mundo, em
cada uma das milhares e milhares de culturas onde a Pala­
vra de Deus é conhecida.
Que dizer sobre a cultura do leitor? Quero supor que
na cultura anglo-americana contemporânea. Deus tem dis­
tribuído esse dom meio a meio, entre homens e mulheres.
A proporção pode ser diferente quanto à (Altura hispano-
americana, ou quanto à cultura coreano-americana, ou
quanto á cultura afro-americana, sem falar em muitos ou­
tros segmentos do mosaico social que compõe os Estados
Unidos da América. Não sei dizer. Essa é outra área onde
alguma boa pesquisa seria valiosa.
Permita-me o leitor dizer, parenteticamente, que não
pretendo defender aqui uma posição favorável ã ordenação
de mulheres ao ofício pastoral. Esse tópico é por demais
explosivo para ser abordado aqui, além do que seria uma
digressão desnecessária. Não creio que o dom pastoral pre­
cise ser confirmado pelo processo formal da ordenação,
conforme isso é usualmente definido pelas nossas estrutu­
ras eclesiásticas. Mas por certo acredito que o dom deve
ser procurado tanto em homens quanto em mulheres, para
então ser confirmado pelo Corpo, desenvolvido e usado para
a glória de Deus, com vistas ao crescimento das igrejas
locais. (N.E.; Recomendamos a leitura de Mulheres Solitá­
rias Enfrentando a Realidade do Rev. Caio Fábio).
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 147

Tendo dito isso, estamos preparados para formular a


indagação: Quantas pessoas pertencentes ao Corpo de Cris-
lo, homens e mulheres, deveriamos esperar terem recebido
o dom pastoral? E também esta outra: De que maneira esse
dom ministerial está diretamente vinculado ao crescimen­
to ou falta de crescimento das igrejas?

Célula-Congregação-Celebração
É conveniente pensar no dom ministerial de pastor
como um dom essencialmente congregacional. E estou
usando aqui a palavra “congregação” em termos da estru­
tura de célula-congregação-celebração, que foi descrito
como um dos sete sinais vitais de uma igreja saudável (es­
trutura e funcionamento integrado).® A celebração, usual­
mente em um culto matinal de domingo, e que reúne todos
aqueles que pertencem ao círculo dos membros, não é li­
mitada em suas dimensões, exceto mediante considerações
secundárias. A congregação, que reúne pessoas pertencen­
tes a círculos de comunhão, tem como dimensões ótimas
quarenta a cenft) e vinte membros. A célula, onde têm lu­
gar a intimidade pessoal e a prestação de contas em um
nível mais profundo, deveria ser formada por oito a doze
pessoas. As células assumem várias formas. Por exemplo,
na maioria das igrejas batistas do sul, as classes de Escola
Dominical funcionam como células.
Se a pessoa com o ojicio de pastor, ou o ministro prin­
cipal, usualmente lidera a celebração, ela não precisa ter
recebido o dom pastoral a fim de ocupar essa função. No
outro lado do espectro, o grupo que faz parte da célula,
quando está operando devidamente, atrai cada um dos
membros para um cuidado mútuo dinâmico que requer
somente o papel de pastor por parte de cada um dos mem­
bros, e não, necessariamente, o dom pastoral. O dom espi­
ritual de pastor não é muito relevante, pois, nem para o
caso da celebração e nem para o caso da célula.
Entretanto, é nessa estrutura intermediária, a con­
gregação, que o dom pastoral toma-se mais relevante, e
acha sua mais plena expressão. As Igrejas que têm cem a
148 Descubra Seus Dons Espirituais

duzentos e cinqüenta membros, mas parecem estar enfren­


tando alguma crise de crescimento, fariam bem em exami­
nar essa área particular de sua vida eclesiástica. Um dos
problemas dessas igrejas pode ser que elas contem com
apenas uma congregação, quando poderíam ter diversas, e
que a necessidade de cuidados pastorais já chegou a ser
exigida, além dos recursos disponíveis.
Especificamente, o que quero dizer?
Um crente leigo, dotado do dom pastoral, usualmente
pode controlar de oito a quinze famílias em seu “rebanho”,
por assim dizer. O número exato depende do grau do dom
que cada um tem, bem como do tempo disponível para exer­
cer seu dom, bem como da célula ou pequeno grupo dinâ­
mico que esteja operando na igreja. Um ministro profissio­
nalmente treinado, que trabalhe por tempo integral, usu­
almente pode controlar entre cinqüenta a cem famílias,
dependendo do grau de seu dom, e de outras suas respon­
sabilidades, incluídas a descrição das suas tarefas.
Suponhamos que em uma igreja numerosa, pois, você
tenha uma congregação de cem membroáfí com quarenta
casais e vinte adultos solteiros. Pode ser uma classe bíbli­
ca de adultos, um departamento da Escola Dominical ou
um coro ou um agrupamento geográfico — todas essas e
ainda outras estruturas são comuns nas igrejas locais. Se
a igreja é numerosa, então as possibilidades são de que os
membros dessa congregação não tenham acesso ao minis­
tro principal, ou a outros membros do pessoal administra­
tivo, que possam servir em um relacionamento pastoral.
Em minha igreja de três mil e duzentos membros, por exem­
plo, posso jantar com o ministro principal cerca de uma
vez por ano, e chego a considerar-me altamente privilegia­
do, visto que há somente trezentos e sessenta e cinco dias
por ano. Não há como ele possa pastorear três mil e duzen-
tas pessoas. E nem mesmo pode chegar a conhecê-las bem.
E visto que ele não possui a incrível capacidade de Jerry
Falwell de relembrar nomes, nós o ajudamos usando taijetas
atrativas com nossos nomes na lapela, em cada reunião. E
essas taijetas com nomes também exercem outras funções,
5 O Pastor e Seu C o n ju n to d e D o n s 149

pois poupam algum embaraço por parte do pastor.

Quantos Possuem o Dom Pastoral?


Em uma situação como essa, os cuidados pastorais
em nível congregacional, em uma escala muito menor que
nos círculos dos membros, tomam-se cmciais. Em nossa
hipotética congregação de cem membros, pois, seria razoá­
vel esperarmos que Deus desse o dom pastoral a cerca de
três ou quatro membros daquele segmento particular do
Corpo de Cristo. Seriam crentes leigos que se tomariam
parcialmente responsáveis pelo bem-estar espiritual de fa­
mílias na congregação. Seriam selecionados com base nos
dons espirituais que Deus lhes tivesse conferido. Também
poderíam receber algum reconhecimento formal público por
esse dom pastoral. Se a ordenação pastoral não fosse ad­
mitida, então seria suficiente alguma sorte de comissio­
namento ou consagração pública. Mas o ponto é que tais
dons devem ser confirmados pelo Corpo e postos em ação.
Deus já teria fqito o Seu papel, outorgando Seus dons.
Mas deixemos agora para trás as igrejas maiores, onde
o dom pastoral deve operar nas várias sub-congregações
ou igrejas menores, onde o gmpo de membros pode ser
idêntico ao grupo que se mantém em comunhão. Em ou­
tras palavras, estamos falando sobre a igreja que conta com
uma única congregação. De que modo o crescimento de
uma igreja assim é afetado pelo dom pastoral?
Consideremos a igreja “A ”. Ela conta com duzentos
membros, e se tem mantido nesse nível faz agora alguns
anos. E o pastor da igreja também foi agraciado com o dom
pastoral.
E então consideremos a igreja “B”. Também dispõe de
duzentos membros, e, igualmente, está parada nesse nível
faz anos. Nesse segundo caso, porém, o pastor não rece­
beu o dom pastoral; ou então atua como pastor não de
tempo Integral (como, por exemplo, quinze mil outros pas­
tores batistas do sul bivocacionais que há na América do
Norte), não podendo assim exercer amplamente o seu dom,
mesmo que o tivessem recebido.
150 Descubra Seus Dons Espirituais

Na igreja “A ”, visto que seu pastor recebeu o dom pas­


toral e gosta de usá-lo, é provável que ele dedique grande
parte de seu tempo visitando os membros e reunindo-se
com grupos em atividades sociais. Provavelmente ele dá
maior importância ás pessoas do que ás tarefas a serem
realizadas. Em suas mensagens, ele talvez enfatize a “teo­
logia das relações pessoais”. Talvez gaste apenas um míni­
mo de seu tempo para planejar alvos de crescimento para a
igreja e como esses planos podem ser implementados. E,
de fato, talvez, ele nem se disponha a fazer isso, pois já se
estará preocupando com o fato que, com duzentos mem­
bros, na verdade está fazendo um inadequado trabalho de
pastoreio, por ter de cuidar de tanta gente. Conforme já
dissemos, até mesmo um profissional que trabalhe por tem­
po integral só pode cuidar de cinqüenta a cem famílias, e a
igreja “A ” já chegou a esse limite máximo.
Se o pastor da igreja “A ” sentir que não precisa de
qualquer ajuda para pastorear o seu rebanho, é mais pro­
vável que ela não crescerá além desse ni^mero. Indepen-
dentemente de quanto ele faça pronunciamentos públicos
sobre atingir os perdidos e sobre ganhar almas, sobre a
necessidade da igreja mostrar-se relevante para a comuni­
dade e aumentar o número de membros, talvez inconscien­
temente ele tenha a certeza de que isso não acontecerá. E
isso não envolverá qualquer intenção maliciosa. Antes, tais
apelos resultarão de um desejo sincero de servir melhor ao
Senhor com os seus dons. Esse tipo de pastor provavel­
mente sentirá que poderia estar fazendo um melhor traba­
lho, se seu rebanho tivesse menos membros, e não mais.
E, assim sendo, não se espera que ele se sinta entusiasma­
do acerca do crescimento numérico de sua igreja.
E que dizer sobre a igreja “B”? Se a pessoa que estiver
atuando como pastor está agindo apenas parte do tempo,
ou não possui o dom pastoral, e tenta desempenhar sozi­
nho o seu papel de pastor, então o mais provável é que sua
igreja declinará em um período de dois a trés anos. Um
ministro destituído do dom de pastor geralmente faz toda
espécie de esforço para pôr em ordem a sua agenda, pelo
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 151

que se mantém atarefado em outras boas atividades espiri­


tuais que consomem tempo, deixando-o com pouco tempo
para o seu trabalho pastoral. Talvez prefira preparar ser­
mões expositivos, ao invés de visitar o hospital. Talvez de­
dique muito tempo a detalhes administrativos, mas quase
não pense em aconselhamento dos membros de sua igreja.
Talvez sinta-se mais realizado efetuando seu testemunho
cristão aomundo, por meio de organizações cívicas, do que
passar muito tempo com grupos de comunhão na igreja ou
nos lares. Se esse for o caso, de tal modo que a obra pasto­
ral sofra, então a saúde do corpo local ver-se-ã ameaçada,
e o declínio pode estar na próxima esquina.
Em análise final, porém, a igreja “B” terá um potenci­
al de crescimento maior do que a igreja “A ”. Se raiar na
mente do pastor B que Deus pode ter provido dons espiri­
tuais para outros membros da congregação, para que se
ocupem do trabalho pastoral que ele procura evitar, e isso
corresponder ã realidade, então ele deveria alegrar-se. Se,
por outro ladoalgu ém sugerisse isso ao pastor da igreja
“A ”, ele poderia sentir-se ameaçado. Por causa de seu dom
espiritual, o pastor da igreja “A ” gpsta de fazer o trabalho
pastoral, e não deseja ser liberado de seu trabalho, para
que esse seja feito por alguma outra pessoa. Mas o pastor
da igreja “B” pensaria precisamente o contrário disso. Ele
sentir-se-ia liberado. Porquanto poderia fazer aquilo de que
gosta, e continuar em seu trabalho de pastor.
Anime-se, pastor sem o dom pastoral! O próprio Se­
nhor deve ter dado ã sua igreja todos os dons pastorais de
que ela carece. Mas Deus estará dependendo de vocé para
perceber que certos Irmãos têm recebido determinados
dons. Você aceitou a liderança daquela igreja. Em sua igre­
ja de duzentos membros, você poderá supor que Deus con­
feriu o dom pastoral a cerca de seis a oito pessoas, cujas
vidas cristãs serão abençoadas, mais do que nunca quan­
do forem devidamente instruídas e encorajadas. Essas pes­
soas estão esperando para serem ministradores. E elas fa­
rão um trabalho de cuidados pastorais melhor do que você
seria capaz de fazer, apesar de sua formatura em seminã-
/5 2 Descubra Seus Dons Espirituais

rio e tudo o mais. Portanto, procure envolvê-las no traba­


lho. Elas senttr-se-ão mais felizes e produtivas — e have­
rão de amá-lo por esse motivo.

Pastores e Células
Os exemplos hipotéticos que usamos até este ponto,
onde cada pastor fica tomando conta de doze a quinze fa­
mílias, pressupõe uma célula funcional ou sistema de pe­
queno grupo na igreja. Nessas células os cuidados pasto­
rais estão tendo lugar espontaneamente, sem que ninguém
tenha recebido, necessariamente, o dom pastoral. Nesse
caso, as necessidades dos membros da igreja por um cui­
dado pastoral especial serão menores do que se as células
não estivessem operando. Isso quer dizer que quando as
células estão realizando parte da obra pastoral, cada pes­
soa dotada do dom pastoral pode receber a responsabilida­
de por um maior número de famílias.
Eis aqui uma regra básica: Se cerca da metade dos
membros ativos de uma igreja estiver envolvida em célu­
las, pode-se esperar que cerca de três a quatro por cento
dos membros devem ter recebido o dom pastoral. Isso sig­
nifica que cada pessoa dotada do dom pastoral recebe de
doze a quinze famílias para cuidar. Mas se não existem
grupos celulares, será mister maior atenção pessoal por
parte de cada pessoa dotada com o dom pastoral, o que
significa que cada um deles deve ficar encarregada somen­
te de oito a dez famílias. Em termos de porcentagem, isso
fica entre cinco e seis por cento.
Um exemplo de como essa última possibilidade está
funcionando ocorre em nível ótimo na Garden Grove
Community Church. Ali, o pastor Robert Schuller, tal como
a maior parte de outros super-pastores, não possui o dom
pastoral. Se ele tivesse a tendência de perder ovelhas, devi­
do aos cuidados pelo bem-estar espiritual de seus mais de
nove mil membros, desde há muito ele deveria ter sido co­
locado em uma cela acolchoada. Ele então não podería vol­
ver sua atenção para grandes sonhos, como construir ca­
tedrais de cristal ou dirigir programas de televisão ou diri­
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 153

gir doze coros, ou cultos de aconselhamento profissional,


ou novas igrejas perto da Disneyworld, no Estado da Flori­
da. Seu papel pastoral poderia ser usado no funeral do
ator John Wayne ou do politico Hubert Humphrey, tanto
quanto no caso de memhros de sua própria igreja.
Mas uma das razões pelas quais a Garden Grove
Community Church tem desfrutado de um constante pa­
drão de crescimento, faz mais de vinte anos, é que os mem­
bros da igreja estão recebendo os cuidados pastorais de
que precisam. Jã houve tempo em que a Garden Grove
Community Church foi uma igreja da categoria “B”, com
duzentos membros e um pastor que não possuia o dom
ministerial de pastor. A única diferença é que essa igreja
não estacou naquele nível porque o pastor Schuller enten­
deu que se ele não pudesse dar o necessãrio cuidado pas­
toral aos membros de sua igreja, então alguém teria que
fazer isso em lugar dele. E assim ele orgcmizou um progra­
ma de treinamento intitulado Centro de Treinamento de
Ministros Leigas, (N.E.: No Brasil, a Igreja Batista do
Morumbi em São Paulo, tem desenvolvido um programa
semelhante de ensino, com bons resultados) cujo desígnio
era ajudar os membros de sua igreja a descobrirem seus
dons, como evangelismo, hospitalidade, ensino, cuidados
pastorais, etc., e então pô-los para trabalhar. A Garden
Grove Community Church dispõe de quinhentos e vinte e
nove ministros leigos que desempenham cuidados pasto­
rais sob a supervisão geral de um dos membros da lideran­
ça ministerial, o Rev. David Bailey.
Notemos que esse número chega a ser quase seis por
cento do total de nove mil membros. Essa porcentagem é
elevada, e serve de sinal de que a Garden Grove Community
Church goza de boa saúde espiritual. Cada ministro leigo
cuida de oito a dez famílias.
Esse padrão pode ser ampliado quase indefinidamen-
le. Esse modelo também é usado pelo pastor David Yonggi
Cho, de Seul, na Coréia, o que tem permitido que sua igre­
ja tenha aumentado em até mais de quinhentos mil mem­
bros, em menos de vinte anos. Seus mais de quatrocentos
154 Descubra Seus Dons Espirituais

pastores associados e vinte e cinco mil diáconos exercem o


trabalho pastoral em mais de trinta mil grupos domésticos
de oito a quinze famílias em cada grupo.

Dom 4: Exortação
O dom da exortação, tal como o dom pastoral, é um
dom centrado sobre a pessoa humana. Um crente pode
manifestar esse dom de duas maneiras diversas: (1) em
uma situação de pregação ou de ensino, ou em um encon­
tro de grupo; ou (2) em uma situação particular de pessoa
para pessoa, para satisfazer ã necessidade específica de
um momento especial.
Entretanto, o dom de exortação difere do dom pasto­
ral porque um rebanho ou um grupo de pessoas não se vê
envolvido em uma base de longa duração. O crente dotado ^
do dom de exortação preocupa-se com o bem-estar espiri­
tual de um irmão ou irmã na fé, pelo período de tempo que
for preciso; o dom da exortação pode funcionar bem mes­
mo no caso de pessoas relativamente estranhas; mas o dom
pastoral não funciona assim. Naturalmen^e o dom pasto­
ral e o dom da exortação podem fazer parte do mesmo con­
junto de dons de um único homem, e talvez isso seja de
ocorrência freqüente. Todavia, não disponho de dados es­
tatísticos quanto a essa questão.
O dom da exortação é aquela qualidade especial que
Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para minis­
trar palavras de consolo, encorajamento, ânimo e conselho
a outros membros do Corpo, de tal modo que estes se sen­
tem ajudados e curados.
O mais eminente exemplo bíblico do dom da exorta­
ção foi o companheiro de Paulo, Bamabé, que foi chamado
de “filho de exortação”, em Atos 4.36. Foi Bamabé quem
tomou Paulo sob as suas asas, quando os demais apósto­
los mostravam-se céticos no tocante ã validade da conver­
são deste. Também foi Bamabé quem percebeu o potencial
espiritual de João Marcos e o escolheu, embora Paulo o
tivesse rejeitado. É conforme salientou Leslie Flynn: “Damo-
nos conta de que se Bamabé não fosse dotado de dom de
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 155

exortação, não contaríamos com a metade dos livros do


Novo Testamento”® Bamabé nunca escreveu uma única
palavra inspirada; mas duas pessoas a quem ele ministrou
assim fizeram. Paulo contribuiu com treze epístolas, e Mar­
cos com o evangelho que tem o seu nome.
Todos os crentes, como é óbvio, têm o dever de cuidar
uns dos outros. Lemos em Hebreus 3.13: “. . .exortai-vos
mutuamente cada dia. . .” O estilo de vida dos crentes, em
associação uns com os outros, deveria aconselhar compar­
tilhar e encorajar uns aos outros a todo o tempo. Porém,
acima disso, alguns crentes são dotados do dom especial
do aconselhamento, o que deveria ser reconhecido, ao ponto
em que as pessoas da igreja que precisam de aconse­
lhamento saibam com quem devem buscar ajuda. Quando
isso sucede, o corpo local goza de boa saúde espiritual, e
isso como uma característica de crescimento positivo. (N.E.:
Recomendamos a leitura de Quando a Vida é Uma Boba­
gem do Rev. Caio Fábio).
O próprio jpastor não precisa necessariamente do dom
da exortação a fim de conduzir uma igreja a um crescimen­
to vigoroso. Tal como o dom pastoral, o dom da exortação
pode servir de empecilho ao crescimento, quando o pastor
também possui esse dom. Para exemplificar, há um relató­
rio dos metodistas unidos, acerca das tendências apresen­
tadas pelos membros, que sugere que um dos seus proble­
mas de crescimento pode ser “o grande número de pasto­
res, que servem a Igreja Metodista Unida, que ê fortemente
influenciada pela ênfase sobre o papel de conselheiros pas­
sivos que eles exercem. Os ministros que atuam com base
nessa postura não tendem a enfrentar as pessoas perdidas
com as reivindicações do evangelho, pressionando-as para
que se unam ã igreja local”.^
Por causa da ênfase posta sobre o aconselhamento
passivo e a teologia de relações durante a década de 1960,
alguns pastores que não receberam os dons pastoral e de
exortação talvez estejam salientando em demasia a sua
necessidade de exercer um popeí nessas duas áreas. Quan­
do são estudadas as implicações de sugestões como essas,
156 Descubra Seus Dons Espirituais

que aparecem no relatório dos metodistas, as igrejas talvez


reconheçam que devem refazer e reajustar as suas priori­
dades ministeriais quanto a esse ponto, se quiserem cres­
cer nas próximas décadas.
Se isso suceder, então o dom da exortação será outro
daqueles dons que homens e mulheres leigos de uma igre­
ja provavelmente mostrarão possuir. Todo dom deve ser
identificado e colocado em bom uso; e o pastor é aquele
responsável por verificar que isso está sendo feito. Algu­
mas vezes poderá ser aconselhável contratar um conse­
lheiro profissional para que trabalhe junto com o pessoal
administrativo da igreja, se esta é numerosa o bastante
para poder contratar um deles. Mas nem sempre isso se
faz necessário. Os recursos para satisfazer as necessida­
des dos conselheiros talvez já existam na congregação sob
a forma do dom da exortação, esperando apenas ser desco­
berto e usado.

Dom 18: Administração ^


Dois outros dons que são freqüentes, mas equivoca­
damente considerados necessários para o pastor de uma
igreja crescente, são os dons de evangelismo e de adminis­
tração. Deixarei para o próximo capitulo a discussão sobre
o dom de evangelismo: e aqui gostaria de abordar o dom da
administração.
Prefiro usar a expressão “dom da administração” em
lugar de “dom de governos,” conforme dizem certas ver­
sões, (como a nossa versão portuguesa), na relação dos
dons espirituais, em 1 Corintios 12.28; pois essa expres­
são descreve melhor a minha própria interpretação desse
dom e seu papel em uma igreja local saudável. Uma pala­
vra grega diferente é usada em Romanos 12.8, que a nossa
versão portuguesa traduz por “que preside”, ao qual cha­
mo de “dom da liderança”. Em outras palavras, faço a dis­
tinção entre o dom da administração e o dom da liderança.
Penso que o pastor de uma igreja crescente pode sair-se
bem mesmo que não tenha o dom da administração, em­
bora não sem o dom da liderança.
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 157

O dom da administração ê aquela capacidade especi­


al que Deus dá a alguns dos membros do Corpo de Cristo,
capacitando-os a entender claramente os alvos imediatos e
a longo prazo de alguma unidade particular do Corpo de
Cristo, a fim de traçar e executar planos eficazes para a
concretização daqueles alvos.
A palavra grega correspondente ao dom da adminis­
tração significa “piloto”, aquele que maneja o timão. É o
piloto ou timoneiro que estã encarregado de levar o navio a
seu destino. Essa é uma perfeita descrição da pessoa a
quem Deus deu o dom da administração. O timoneiro é
aquele que fica entre o proprietário do navio e a tripulação.
O proprietário da embarcação toma as decisões básicas
quanto aos propósitos da viagem, para onde o navio está
indo, e o que será feito, quando este chegar a seu destino.
Também cuida de contratar um piloto, monitorando a com­
petência dele. A tripulação, por sua vez, recebe ordens do
piloto e faz o trabalho físico necessário para que o piloto
conduza o navio ao seu destino. E quando ocorre alguma
dificuldade ao lt)ngo do caminho, o proprietário do navio
não é consultado a menos que surja alguma emergência
desesperadora. Espera-se que o piloto tome as decisões
necessárias para solucionar problemas, conforme eles fo­
rem surgindo, para que a embarcação chegue ao destino
determinado pelo proprietário.
Dentro dessa analogia, fica claro para mim que o pas­
tor de uma igreja crescente é eqüivalente ao proprietário de
um navio. Ele precisa saber para onde o navio deve ir e por
quê. Ele precisa localizar um piloto e recroitar os tripulan­
tes. Mas, não precisa ser ou mesmo querer ser um piloto, a
fim de que o propósito total da viagem seja concretizado.
Os pastores dotados do dom da administração po­
dem fazer uma igreja zumbir de atividades. Eles desfrutam
longas horas passadas no gabinete, supervisionando as
questões econômicas da igreja, relacionando-se pessoal­
mente com seu corpo administrativo, fazendo chamadas
telefônicas, fechando negócios, ditando cartas e encontran­
do sua alegria na organização. Más os pastores que não
158 Descubra Seus Dons Espirituais

apreciam nenhuma dessas coisas não precisam cair no


desespero. Nas igrejas pequenas, Deus pode dar dons de
administração a homens e mulheres que gostariam muito
de exercitar os mesmos, como sua contribuição ã igreja
local. Algumas vezes. Deus provê um secretário da igreja
que foi dotado desse dom. Nas igrejas maiores, algum aju­
dante habilidoso com freqüência é adicionado ao pessoal
administrativo. Por exemplo, meu ex-pastor-presidente,
Raymond Ortlund, é um dos muitos pastores que não tem
o dom da administração. Reconhecendo esse fato, ele con-
vlâou o pastor Kent Tucker, que possui esse dom, para ser
seu pastor-auxiliar. Kent Tucker chegou mesmo a traçar
um roteiro (sistema PERT de administração) para a sua
própria cerimônia de casamento! O pessoal da nossa igreja
tem nele, até mesmo, um gerente de negócios. Logo, em
nossa igreja não há qualquer problema com um pastor-
presidente que não possui o dom da administração.
O pastor Robert Schuller tem providenciado para que
cada um dos principais departamentos de sua igreja, como
o Instituto de Liderança Bem Sucedida da igreja, o progra­
ma televisivo Hora de Poder, e os ministérios Torre de Es­
perança, o Centro de Aconselhamento Nova Esperança, os
Ministérios Femininos, e outros, conte com um competen­
te administrador. Mas o sistema total ficou tão pesado que
ele contratou Fred Southard, um bem sucedido homem de
negócios que é dotado do dom de administração, para atu­
ar como um piloto, encarregado do gerenciamento de toda
a complexa organização.
Os pastores Ortlund e Schuller são como os proprie-
tãrios de um navio. Mas nenhum dos dois teriam sido pas-
tores-presidente bem sucedidos, se quisessem fazer o pa­
pel de timoneiros, encarregando-se das responsabilidades
administrativas de suas respectivas organizações eclesiás­
ticas. Os dois, juntamente com milhares de outros pasto­
res bem sucedidos, estão agradecendo a Deus pelo com­
pleto Corpo de Cristo e pela Sua provisão de membros do
Corpo que possuem o dom da administração.
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 159

Dom 10: Fé
Se existem vinte e cinco dons espirituais de que um
bem sucedido pastor de uma igreja grande e crescente não
precisa, os dois dons restantes são indispensãveis para ele.
E esses são o dom da fé e o dom da liderança.
O dom da fé é aquela capacidade especial que Deus
dá a alguns dos membros do Corpo de Cristo para poderem
discernir, com extraordinária confiança a vontade e os pro­
pósitos de Deus, quanto ao futuro de Sua obra.
As pessoas dotadas do dom da fé usualmente estão
mais interessadas pelo futuro do que pela história. Essas
pessoas são pensadoras que se concentram nas possibili­
dades, sem se deixarem desencorajar pelas circunstânci­
as, pelos sofrimentos ou pelos obstáculos. São capazes de
confiar em Deus quanto ã remoção de montanhas, confor­
me verificamos em 1 Corintios 13.2. À semelhança de Noé,
elas se dispõem a construir uma arca em seco, mesmo di­
ante do ridículo e da critica, sem jamais tolerarem qual­
quer dúvida de que Deus realmente enviará um dilúvio.
As pessoaS dotadas do dom da fé com freqüência se
irritam muito diante das criticas; muito mais, por exem­
plo, do que aqueles dotados do dom do ensino. Não conse­
guem compreender quando alguém as critica, visto que são
possuidoras de tão completa certeza de que estão cum­
prindo a vontade de Deus. Interpretam as criticas contra
elas como se fossem criticas lançadas contra Deus; e, as­
sim sendo, a miúde mostram-se impacientes com seus ir­
mãos na fé que não os acompanham em seu senso de con­
fiança em Deus. Muito tipicamente, esses crentes têm difi­
culdades para compreender o “sistema”, insurgindo-se con­
tra a forma como esse sistema funciona. Usualmente, os
crentes dotados do dom da fé têm muita coragem, porquanto
sentem profundamente que estão em sociedade com Deus,
e que “se Deus é por nós, quem será eontra nós?” (Rm
8.31).
Os pastores de super-igrejas que conheço têm todos
esse notável dom espiritual. Alguns chamam-nos de visio­
nários, sonhadores ou promotores. Percebem onde Deus
160 Descubra Seus Dons Espirituais

quer que vão, ainda que não façam idéia, no momento, de


como chegarão lã. Anos atrãs, fiquei boquiaberto quando
ouvi, pela primeira vez, o pastor Robert Schuller falar de
sua visão de uma “catedral de cristal” em Garden Grove,
Califórnia. Seria um edifício de dez mil peças de vidro, com
o formato de um diamante, maior do que a catedral
parisiense de Notre Dame, com fontes de água ao longo do
corredor central — e isso quase fez estourar a minha men­
te. Porém, antes de ter ouvido falar em sua visão, eu jã
havia chegado ã conclusão de que Deus lhe concedera o
dom da fé. Se eu não estivesse convencido de seu dom da
fé, eu teria pensado que ele era um desequilibrado mental.
No entanto, levei-o a sério desde o começo, e minha esposa
e eu estivemos entre os primeiros que compramos uma das
peças de vidro que foram oferecidas ao público. Talvez eu
não tenha recebido o dom da fé, mas gosto de estar por
perto e dar apoio aos que possuem tal dom. Recuso-me a
aliar-me ã compcmhia daqueles que temem a Schuller, pois
acredito que a sua visão vem de Deus, através do seu dom
da fé. Hoje, a Catedral de Cristal é uma réalidade.
Schuller faz-me lembrar do falecido George Muller de
Bristol, na Inglaterra, porquanto ambos são bons exem­
plos do dom da fé, manifestado no ministério evangélico.
Muller, cem anos atrãs, percebeu com clareza a vontade de
Deus qucmto a orfanatos, e não se deixou abater por múl­
tiplos obstáculos, incluindo a quantia de cinco milhões de
dólares que precisou levantar. Todo esse dinheiro foi reco­
lhido durante o seu período de vida. Em nossos dias,
Schuller vê claramente a vontade de Deus quanto a um
lindo santuário e, por igual modo, não se deixou abater
pela necessidade de levantar quinze milhões de dólares.
Schuller e Muller são parecidos quanto a certos as­
pectos, mas bem diferentes quanto a outros. Muller ado­
tou como norma nunca fazer pedidos diretos por dinheiro,
mas seu ministério tomou-se bem conhecido, e os fundos
rolaram. Ele era afortunado o suficiente para também pos­
suir o dom da intercessão, que acompanhava o seu dom da
fé. A abordagem de Schuller é oposta a isso. Ele conta como
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 161

conseguiu entrar em diálogo com um homem rico, mos-


trando-lhe a visão de uma catedral de cristal, para então
olhã-lo de frente e dizer: “Preciso de sua ajuda. Gostaria
que você me desse um milhão de dólares para serem usa­
dos na catedral”. O homem olhou para ele e replicou:
“Schuller, se você é doido o bastante para pedir-me um
milhão de dólares, eu sou doido o bastante para dã-lo a
você!” Dentro de poucas semanas, a doação de um milhão
de dólares estava depositada no banco. George Muller pro­
vavelmente poderia ter-se virado dentro de seu túmulo. Mas
creio que Deus estã satisfeito com ambos.

Projetando o Dom da Fé
As pessoas possuidoras do dom da fê têm uma tenta­
ção particular de que elas mesmas, e outras pessoas à sua
volta, precisam tomar consciência. É que facilmente po­
dem tornar-se vítimas da síndrome da projeção de dons.
Kenneth Kinghom, do Asbury Seminaiy, adverte que “o
indivíduo que tem o dom da fê não deve menosprezar ou­
tras pessoas portausa da falta de fê. Afinal, nem todo crente
é possuidor dessa fé”.®
Jã mencionei o quanto eu costumava sentir-me mal,
depois de ler a biografia de George Muller, até que entendi
algo a respeito dos dons. Algumas vezes, quando eu ouvia
Bob Schuller, obtinha uma mensagem similar. Essa men­
sagem soa como isto: “Se você fizer o que eu faço, então
realizará o que eu realizo. É fácil.” Ora, devido aos muitos
anos de associação, jã aprendi muita coisa, da parte de
Bob Schuller, sobre como pensar em possibilidades; e isso
se tem mostrado valioso em muitos aspectos da minha vida.
Mas de modo nenhum eu passarei meu tempo tentando
sonhar os sonhos que ele sonha e que lhe parecem tão
fáceis e naturais. Davi, o salmista, recusou-se a usar a
armadura de Saul. E assim também faço eu. Não me consi­
dero um “pensador de impossibilidades”. Antes, dentro de
minhas limitações, procuro ser um pensador de possibili­
dades, em meu papel diário de fé cristã, sem sentir um
grama de remorso de que Deus fará, por meu intermédio.
162 Descubra Seus Dons Espirituais

aquelas coisas que Ele está fazendo através de meu bom


amigo. O Corpo inteiro não pode ser feito por um único
grande olho. Sempre que discutimos sobre o dom da fé,
tendemos a ressaltar nomes de figuras notáveis como
Schuller e Muller. Se dispuséssemos de mais espaço, po­
deriamos escrever um moderno capítulo onze de Hebreus,
mencionando Ralph Winter, Bill Bright, Oral Roberts,
Cameron Townsend e David Yonggi, que têm demonstrado
publicamente seu dom de fé, geralmente medido por proje­
tos que envolvem muitos milhões de dólares. Mas isso po­
dería tomar-se, com facilidade, um fator de desencora-
jamento para os membros do Corpo de Cristo que possuem
um menor grau de fé. Há um número muito maior de cren­
tes, com um talento ou dois, do que crentes com cinco ou
dez talentos.
A pessoa comum, com o dom da fé, e que ocupe uma
posição de liderança na igreja, talvez nunca consiga erigir
uma catedral de cristal; mas poderá discernir, com um gran­
de grau de confiança, onde Deus quer que a igreja local
esteja, dentro de cinco ou dez anos. Será éapaz de estabe­
lecer alvos. Poderá estabelecer uma atitude de crescimen­
to. Visto que o pastor da igreja acredita tão fortemente no
crescimento, as pessoas pensam que sua atitude é conta­
giosa, e ficam excitadas a esse respeito. Os dois axiomas
básicos do crescimento de uma igreja são:

1. O pastor deve querer que a igreja cresça e


deve estar disposto a pagar o preço;
2. As pessoas devem querer que a igreja cresça e
se disponham a pagar o preço. Em uma igreja
onde o pastor tem o dom da fé, esses dois axio­
mas usualmente operam de forma dinâmica. E
assim uma igreja fica madura para crescer.

Dom 6: Liderança
O dom da fé permite que o pastor de uma igreja cres­
cente saiba aonde quer chegar. E o dom da liderança per­
mite que ele saiba como poderá chegar.
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 163

O dom da liderança é aquela capacidade especial que


Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para estabe­
lecer alvos harmônicos com o propósito de Deus para o futu­
ro, transmitindo esses alvos a outros de tal modo que, vo­
luntária e harmoniosamente, operem Juntos para concreti­
zar aqueles alvos para a glória de Deus.
Os líderes precisam de seguidores. Se a qualidade da
liderança se deve a um dom (em contraste com algum mero
diploma ou poder legal), seus seguidores o farão de forma
voluntária. E se os líderes capazes de discernir nunca an­
dam muito adiante de seus seguidores, ainda assim estão
sempre ã frente, guiando outras pessoas. Os líderes dota­
dos por Deus nem manipulam e nem coagem. Antes, ge­
ram a confiança própria de quem sabe para onde está indo,
e qual será o próximo passo. Muitas pessoas querem ser
lideradas.
Os melhores líderes não se mostram tensos. Eles sa­
bem o que precisa ser feito e também sabem que não po­
dem fazê-lo, eles mesmos. E assim desenvolvem habilida­
des no campo cia delegação e transferência de responsabi­
lidades para outras pessoas. Muitos líderes não apreciam
a administração, razão pela qual delegam essa responsabi­
lidade para outrem, dotado de um diferente conjunto de
dons. Lyle Schaller compara pastores habilidosos de igre­
jas crescentes com “rancheiros”, e não com “pastores”. Os
rancheiros asseguram-se que seus diferentes rebanhos
obtêm a atenção de que precisam, e impulsionam outras
pessoas para prestarem essa atenção. Mas pessoalmente
interessam-se pouco pelos problemas das ovelhas indivi­
duais. Os pastores que preferem o modelo pastoral terão
de contentar-se com igrejas pequenas: e talvez essa seja a
vontade de Deus para elas. Para esses pastores, seu papel
de liderança cristã será suficiente, em qualquer dom espe­
cial. Por outra parte, os pastores que mais se assemelham
a rancheiros sentem muito maior responsabilidade pelo
crescimento. Provavelmente possuem o dom da liderança.
Ora, Deus ama tanto os pastores quanto os rancheiros.
í 64 Descubra Seus Dons Espirituais

Longevidade e Filosofla de Ministério


É mister algum tempo para estabelecer a liderança
em uma igreja, mesmo quando um pastor possui esse dom.
Essa é a principal razão pela qual a longevidade pastoral
está diretamente ligada ao crescimento de uma igreja lo­
cal. Há um fio que percorre os testemunhos de pastores de
igrejas que têm estabelecido a reputação de excelência e de
crescimento: eles receberam uma chamada vitalícia para
aquela igreja. Nem eles mesmos e nem sua gente ficam a
indagar onde estarão dentro de cinco anos. Ates, eles com-
prometem-se mutuamente de um modo que parece um
contrato de casamento — até que a morte os separe. Lyle
Schaller coloca a questão como segue: “Uma das maneiras
de reduzir o impacto positivo da liderança pessoal consiste
em mudar de ministro de tantos em tantos anos”.^ E pros­
segue a fim de dizer que os anos mais produtivos de um
pastor usualmente começam somente depois do quarto ou
sexto ano de serviço prestado por ele.
Mas esse rodízio de pastores com freqüência impede
que uma igreja estabeleça uma firme filosòfia de ministé­
rio, atualmente um fator tão reconhecido como importante
para o crescimento e para a sa de de uma igreja. Cada
igreja precisa ser capaz de articular por que ela está ali e
por que ela não é idêntica a outras igrejas da mesma área
ou da mesma denominação. Poucas igrejas, contudo, têm
sido capazes de estabelecer sua filosofia de ministério, vis­
to que a liderança pastoral usualmente se faz necessária
para a criação de uma filosofia assim. Quando os pastores
chegam e se vão embora com freqüência, a filosofias de
ministério também chegam e se vão embora.
Quando há um compromisso pastoral a longo prazo,
a filosofia do ministério pode e deve ser edificada em torno
dos dons espirituais do ministro principal. As igrejas cres­
centes estão fazendo isso. Na área de Los Ángeles, para
exemplificar, os pastores John MacArthur e Charles
Swindoll têm o dom do ensino. Suas igrejas, a Grace
Community (em Panorama City) e a Evangelical Free (em
Fullerton) têm uma filosofia de ministério chamada “igre­
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 165

jas escolas”. O pastor Ralph Wilkerson, por outra parte,


possui o dom de evangelista, e assim a sua Melodyland
Christian Center foi constituída como um centro evan-
gelístico, muito diferente de uma igreja tipo escola.
A liderança pastoral de crescimento depende do pas­
tor dos membros concordarem em para onde estão indo,
comprometendo-se ambos a chegarem àquela meta. O po­
tencial de crescimento fica limitado, a menos que a pessoa
chamada para liderar a igreja possua o dom da liderança.
E de modo algum isso pode ser injetado por meio de algu­
ma formação acadêmica em seminário teológico. (N.E.; Re­
comendamos a leitura de As Sete Leis da Liderança Cris­
tã do Dr. David Hocking).

As Funções de um Pastor
Ao aceitar a posição de pastor de uma igreja evangéli­
ca, um homem se comprometeu a uma vida de trabalho
árduo. Não somente um pastor deve descobrir, desenvol­
ver e usar ser^ próprios dons espirituais, mas também,
nas mais favoráveis situações, deve estar preparado para
exercer suas funções cristãs em um grau muito mais alto
do que o fazem os crentes não-ordenados. Isso é algo inevi­
tável e esperado.
Se o pastor não desenvolver uma “dinâmica de dons
espirituais”, entre os membros de sua congregação, as exi­
gências de suas funções facilmente podem tomar-se ex­
cessivas. Ray Stedman lamentou que aos pastores foi atri­
buída a tarefa de “evangelizar o mundo, aconselhar os de­
sinteressados e desanimados, ministrar aos pobres e ne­
cessitados, aliviar os oprimidos e aflitos, expor as Escritu­
ras e desafiar as forças entrincheiradas do mal, em um
mundo cada vez mais entenebrecido”. E então salientou
que os pastores nunca foram levantados para fazer tudo
isso, e que a própria tentativa de fazer isso tudo leva o
pastor a sentir-se frustrado, estressado e emocionalmente
exaurido”.E s t a r ia ele descrevendo o seu pastor ou você?
Poucas coisas tomam a tarefa pastoral mais satis­
fatória do que uma congregação em que os dons espiritu­
166 Descubra Seus Dons Espirituais

ais estejam em operação. O pastor toma-se o instmtor da


equipe. Ele gosta de fazer o que está fazendo, e está-se
saindo muito bem. Assim, as possibilidades de crescimen­
to tornam-se quase ilimitadas. E o corpo estará funcionan­
do conforme foi designado pelo Criador.

Treinamento Ministerial e os Dons Espirituais


Uma vez que se reconheça que o pastor é o elemento
chave no crescimento da igreja, o treinamento desse pas­
tor reveste-se de especial importância. O estudo sobre os
membros de uma igreja, feito pelos presbiterianos unidos,
por exemplo, descobriu que até onde diz respeito ao pas­
tor, seu potencial de liderança é o fator mais determinante
no crescimento de uma igreja. Apesar de reconhecer os pe­
rigos do “clericalismo,” o relatório prossegue, a fim de dizer
que “controlar a qualidade da liderança pastoral de tempo
integral é algo essencial para desenvolver e capacitar uma
congregação a crescer”.“ Isso destaca a questão de como
esse treinamento deve ser efetuado. ,,
A maior parte dos ministros nos Estados Unidos da
América é treinada em escolas bíblicas ou seminários. A
escola bíblica ocupa um nível pós-ginasial, e o seminário
ocupa um nível pós-colegial. Ambos cabem dentro de um
modelo de pré-ministério, e nem um nem outro alicerça
seus programas sobre os dons espirituais.
O que devo entender com isso? Os crentes, conforme
já vimos, devem descobrir, desenvolver e usar seus dons
espirituais. O propósito do treinamento profissional que é
oferecido nas escolas bíblicas e nos seminários é preparar
ministros do evangelho. Mas um de seus problemas bási­
cos é que, de modo geral, as pessoas que ingressam nessas
instituições ainda não descobriram seus dons espirituais,
e nem os confirmaram ainda em qualquer sentido signifi­
cativo no Corpo de Cristo. Visto que nunca estiveram no
ministério, não há como saber com certeza se tém um con­
junto de dons compatível com o trabalho pastoral. Os for­
mulários de matrícula dos seminários não selecionam can­
didatos que não têm certeza de que possuem o tipo de dons
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 167

ministeriais que os seminários precisam desenvolver. O


pressuposto que prevalece é que, em virtude de terem feito
um curso de três ou quatro anos em uma escola bíblica ou
seminário, as pessoas saem dali treinadas como pastores,
sem importar qual o conjunto de dons que Deus lhes te­
nha proporcionado.
Para complicar o quadro, as faculdades dessas insti­
tuições têm como professores, tipicamente, eruditos, e não
ministros ativos, embora o treinamento profissional tenha
por intuito produzir ministros. Visto que um fato tende a
gerar fatos similares, os modelos que os estudantes obser­
vam, enquanto estudam, são eruditos evangélicos.
Frequentemente, os formandos em seminários surpreen­
dem-se ao descobrir que os membros de suas igrejas não
estão muito interessados nos problemas teológicos e
exegêticos eruditos, acerca dos quais escreveram as suas
teses. E, assim sendo, sentem-se mal equipados para re­
solver os conflitos interpessoais, curar as pessoas magoa­
das, evitar o roçipimento de matrimônios, diagnosticar os
problemas de sa de de suas igrejas, ou estabelecer alvos
para os próximos cinco anos.
Um terceiro fator restringidor dos típicos programas
de seminário é que, durante um período de tempo bastante
dilatado, eles tiram os alunos do contato real com o mun­
do, socializando-os em um contexto acadêmico e removen­
do-os de contatos pessoais com suas paróquias, excetuan­
do por períodos marginais de “trabalho prático”, para que
sejam credenciados como ministros profissionais, envia­
dos a um mundo com o qual eles se familiarizaram apenas
indiretamente. O resultante choque cultural, muitas ve­
zes é avassalador, e alguns simplesmente nunea se recu­
peram completamente.
Tenho um sonho que busca corrigir essas deforma­
ções, e dele compartilho, sempre que possível.
Penso que os seminários, se resolvessem reestruturar-
se à base dos dons espirituais em desenvolvimento, deveri-
am estender seu atual programa de Mestre em Divindades
de três anos para algo como quinze anos. Nesse caso, os
168 Descubra Seus Dons Espirituais

estudantes estariam estudando apenas parte do tempo.


Estariam cumprindo o seu ministério em alguma situação
paroquial, onde estariam testando seus conjuntos de dons
particulares. E estudariam os seus assuntos, mais ou me­
nos como os ministros mais antigos atualmente fazem os
seus programas de Doutor em Ministério, em seminários,
em sua maior parte, estudos periódidos com duração mé­
dia de duas semanas, ou em faculdades da instituição ou
em centros de extensão que fiquem mais próximos dos es­
tudantes.
Os atuais currículos não teriam que ser grandemente
modificados, exceto que se permitiría maior crédito para
estudos feitos em seminários na igreja, oferecidos por mui­
tos bem sucedidos lideres eclesiásticos por todo o país.
Penso que haveria tremendos benefícios para quaisquer
estudantes de seminário que se estivessem preparando para
o trabalho ministerial junto a pastores devidamente prepa­
rados. Nos Estados Unidos da América poderiamos citar
Jack Hyles, da Primeira Igreja Batista de Fammond, Esta­
do de Indiana, ou membros da equipe pastoral da Península
Bible Church, brilhantemente dirigida pelo falecido e sau­
doso amigo, Ray Stedman, para citar apenas dois grupos,
capazes de compartilhar de seus conhecimentos, experi­
ências e situações fora dos seminários. Alguns seminários,
na América do Norte, estão começando a oferecer crédito
por esse treinamento obtido no próprio campo de trabalho,
e o n mero de tais seminários, é de se esperar, haverá de
continuar aumentando.
Não sou ingênuo ao ponto de pensar que essas su­
gestões serão acolhidas de braços abertos por todo o nosso
sistema educacional. O modo de agir atual está por demais
arraigado e entrincheirado. Mas quem sabe? Dias melho­
res poderão estar à nossa espera.

Um Pessoal Que Trabalhe Internamente


ou Sobre Bases Domésticas?
Há duas tendências crescentes nas igrejas norte-ame­
ricanas, que me infundem a esperança de que coisas me-
5 O Pastor e Seu Conjunto de Dons 169

Ihores esperam, no futuro, os ministros em fase de treina­


mento. Uma delas é a consciência do valor de programas
de seminaristas residentes. Algumas igrejas mostram-se
particularmente capazes de aceitar estudantes de seminá­
rio como parte de seu pessoal, suplementando assim o trei­
namento acadêmico deles com um envolvimento prático,
sob a supervisão de pastores experientes ou mesmo de
pessoal administrativo devidamente treinado. Os progra­
mas de residência precisam ser multiplicados e intensifi­
cados, mormente no caso de igrejas crescentes. Os progra­
mas em regime de residência em igrejas estacionárias ou
em declínio, quanto ao crescimento numérico, podem ser
contraprodutivos. Em tciis situações, uma sa de pobre nas
igrejas pode ser considerada como normal, sobretudo se os
ministros principais se tenham tomado competentes na
racionalização da falta de crescimento em termos bíblicos
e teológicos.
Uma segunda tendência é a de recmtar novos mem­
bros do pessoaj administrativo dentre a congregação exis­
tente, ao invés de buscar ajuda externa para isso. Esse
tipo de recmtamento é feito estritamente à base dos dons
espirituais que já foram descobertos pelo crente individual
e confirmados pelo corpo local. Esses novos membros do
"stafT já estão maduros, conhecem e estão vivendo a filo­
sofia de ministério da igreja local. Aceitaram o pastor-pre-
sidente como seu líder e se consideram seus leais seguido­
res e apoiadores. O fato de que não têm formação acadêmi­
ca em seminário parece ser de menor importância. Em mui­
tos casos, matriculam-se em seminários ou escolas bíblicas
próximos, e obtêm seu treinamento teológico em termos de
estudos a longo prazo, dando continuação a seu treina­
mento conforme foi sugerido acima.
Igrejas bem conhecidas como a Grace Community
ChurchThe Valley, em Panorama City, Estado da Califórnia;
a Grace Chapei, em Lexington, Massachusetts; a Lake
Avenue Congregational, em Pasadena, na Califórnia; a
Garden Grove Community Church, em Garden Grove, Es­
tado da Califórnia, além de muitas outras, estão fazendo
170 Descubra Seus Dons Espirituais

isso. A Primeira Igreja Batista de Modesto, na Califórnia,


por exemplo, recnitou quinze dentre os dezesete membros
do pessoal administrativo de sua própria congregação. Esse
pessoal inclui um ex-proprietário de loja de tapetes, um
plantador de pêssegos, um vendedor de móveis, um geren­
te das lojas Sears, um gerente de uma loja de pneus, um
gerente de instituição financeira, um construtor de edifíci­
os, e até um ex-prefeito de Modesto. Tenho ouvido falar de
muitas igrejas que começaram a recrutar pessoas treina­
das em suas próprias congregações, nesses Itimos anos,
que chego a pensar que isso se tomou uma tendência na­
cional em nossos dias. Se assim estã sucedendo, então creio
que isso exercerá um efeito tremendamente benéfico sobre
o crescimento das igrejas. E isso também poderá forçar as
instituições educacionais a planejar mais seus programas
para que satisfaçam ã necessidade de treinar pessoas ma­
duras, que mudaram de carreira profissional mais tarde
na vida. Isso, por sua vez, tenderá a elevar a qualidade da
liderança ministericil como um todo, em ijosso país, por­
quanto estará mais em sintonia com o Corpo de Cristo e
com os dons espirituais. (N.E.: Neste sentido, o Seminário
Palavra da Vida faz um trabalho digno de nota).

Notas

1. Warren H. Hartman, Membersh^ Trends: A Study o f Decline and Growtii in The United Methodist Church
1949-1975 (Nashville: Discipleship Resources, 1976), pág. 44.
2. United Presbyterian Church, A Sununary Report o fT lie Committee on Membership Trends (Nova York,
1976), pág. 19.
3. Dan Martin, “The Church Growth Questions," Home Missioits (dezembro de 1977, pág. 12.
4. David A. Roozen, Church Membership and Participation: Trerids, Determinants and Implications Jor Policy
ajuiPlannü^g (Hartford: Hartford Seminary Foundation, 1978), pág. 58.
5. Quanto a uma discussão mais completa sobre o conceito da célula-congregação-celebraçào, ver C. Peter
Wagner, yburC/iurc/iCa/iGroiu(Glendale: Regai Books, 1976), págs. 97-109; e de uma perspectiva levemen­
te diferente, ver Lyle E. Shaller, Assirmíaíín^ New Memhers (Nashville: Abingdon Press, 1978), págs. 69-96.
6. Lcslie B. Flynn, Nineteen Gifls o fTlie Spirit (Wheaton: Victor Books, 1974), pág. 88.
7. Hartman, Membership Trends, pág. 44.
8. Kenneth Cain Kinghom, Gi/is o f The Spirit (Nashville: Abindgon Press, 1976), pág. 67.
9. Schaller, AssimÜating New Members, pág. 53.
10. Ray C. Stedman, Body Life (Glendale: Regai Books, 1972), pág. 79.
11. United Presbyterian Church, A Swrunary Report. pág. 19.
12. Quanto a uma elaboração desse conceito, ver C. Peter Wagner, “Seminaries Ought to Be Asking Who
as Well as How," Ttveologiciil Education (verão de 1974), págs. 266-279.
6
O E vangelista:
O rgão P rimário do C rescimento

ada função separada do organismo humano con­


ta com^órgãos primários e secundários que, ao tra­
balharem em conjunto, realizam sua tarefa. Já que
isso é verdadeiro no caso do corpo humano, não
creio que estaremos forçando a analogia usada pelo após­
tolo Paulo sobre o corpo físico, se postularmos que, no to­
cante a certas funções eclesiásticas, o Corpo de Cristo re­
cebeu órgãos primários e secundários.
Consideremos, para exempUflcar, a função da repro­
dução. Essa é a função física mais parecida com a do
evangelismo, na igreja local. A reprodução adiciona novos
membros à raça humana, ao passo que o evangelismo adi­
ciona novos membros ao Corpo de Cristo.
O órgão primário da tarefa da reprodução humana é
o útero. Porém, quando pensamos a respeito, o mais per­
feito útero que Deus pudesse ter criado não reproduziría,
se não fosse a atividade simultânea do aparelho digestivo,
do aparelho respiratório, do sistema endóciino, do sistema
nervoso e do aparelho circulatório. Apesar do útero ser o
órgão primário da reprodução, o mesmo fícaria inativo sem
uma atividade saudável dos órgãos secundários.
/ 72 Descubra Seus Dons Espirituais

A aplicação desseí fato aos dons espirituais é auto-


evidente. O dom ministerial do evangelista é o órgão pri-
mãrio que Deus proveu para a reprodução. Porém, o mais
exeelente dom do evangelismo, na cristandade, não ajuda­
rá as igrejas locais a crescerem se os demais membros do
eorpo, que ocupam posições secundárias quanto ao cresci­
mento da igreja, não estiverem funeionando bem. (N.E.:
Recomendamos a leitura de O Evangelho da Nova Era do
Pr. Rieardo Gondim).
Isso nos remete de volta à observação que já pude­
mos fazer em várias outras ocasiões: o erescimento da igreja
e a saúde da igreja são questões interligadas. Somente or­
ganismos saudáveis conseguem erescer bem, e somente
igrejas saudáveis podem erescer bem. Em contraposição,
podemos espereir que igrejas saudáveis cresçam — pois isso
é um dos sinais de boa saúde eclesiãstiea. Declarações
como: “Nossa igreja está perdendo muitos membros, mas
nós estamos indo bem”, não se coadunam com aquilo que
Deus espera do Corpo de Cristo. Um dos ifiodelos de igreja
saudável que achamos no Novo Testamento é a igreja de
Jerusalém, depois do Pentecostes. Entre outros sinais de
boa saúde, o Senhor estava adicionando a ela, diariamen­
te, os que iam sendo salvos (ver Atos 2.47). Se o Senhor
não estiver adicionando regularmente novos membros a
uma igreja, algo de errado estará ocorrendo naquela igreja.
Nem todo crescimento eclesiãstieo é um crescimento
igualmente saudável. Embora haja exceções, o tipo mais
benéfico de creseimento é a taxa de conversões. É a isso
que se refere o trecho de Atos 2.47. Isso também é chama­
do de “crescimento do reino”, porquanto novos membros
estão sendo conduzidos para o reino de Deus. O dom mi­
nisterial do evangelista é necessário apenas marginalmen­
te para o crescimento biológico, e não tem o mínimo valor
quanto ao crescimento por transferência; mas é vitalmente
importante para o crescimento por conversões.

Dom 19; Ministério Evangelístico


O dom ministerial do evangelista é mencionado na
6 O Evangelista: Orgão Primárío do Crescimento 173

lista de Efésios 4.11. Naquele contexto, conforme já pude­


mos destacar, refere-se especiflcamente ao ofício do
evangelista. Mas visto que, naquela mesma lista, o profeta
tem o dom da profecia, o apóstolo tem o dom do apostolado,
e o mestre tem o dom do ensino, não parece exagerado
supor que o evangelista tem o dom ministerial evangelístico.
O dom ministerial do evangelista é a capacidade espe­
cial que Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para
que compartilhem do evangelho com os incrédulos, de tal
modo que homens e mulheres venham a tornar-se discípu­
los e membros responsáveis do Corpo de Cristo.
O processo mediante o qual esse dom é descoberto é
similar àquilo que se dá com outros dons. Experimente e
examine os seus sentimentos, avalie a sua eficiência e es­
pere confirmação da parte do Corpo.
Um dos maiores evangelistas de nossos dias, Leighton
Ford, conta como ele descobriu o seu dom, em seu exce­
lente livro, cujo título em inglês é Good News Is For Sharing.
“Sendo ainda um rapazinho de dezesseis anos”, disse ele,
“conheci Billy cJraham e outros evangelistas de renome,
através do movimento da Mocidade Para Cristo. Observan­
do em ação aqueles homens e mulheres, tanto pessoal­
mente quanto em público, eu sentia que algo se agitava
dentro de mim. Foi crescendo o desejo de expressar a mi­
nha fé. Houve oportunidades para eu falar em grupos juve­
nis, e também em pequenas conferências evangelísticas.
Pessoas sentiram-se impelidas a aceitar a Cristo, por meio
daquilo que eu dizia. Mas ao mesmo tempo em que acredi­
to que Deus me deu outros dons, certamente o dom de
evangelizar destaca-se em mim".'
Como Leighton Ford se sente a respeito de sua vida
espiritual completa, ã luz do que ele reconhece como seu
dom primário, foi expresso mais tarde, através destas pa­
lavras: “Descobri que é somente quando desperto até ás
chamas o meu dom que encontro realização e crescimento
em outras áreas de minha vida cristã”.^
Gosto do conselho dado por Rick Yohn, pastor da
Evangelical Free Church, em Fresno, Estado da Califórnia,
174 Descubra Seus Dons Espirituais

a pessoas de sua Igreja que anelam por saber se receberam


ou não o dom do evangellsmo. Ele lhes faz duas perguntas:
(1) Você tem o forte desejo de compartihar de sua fé com
outras pessoas? Não estou perguntando se você quer ver
pessoas aceitarem a Cristo. A maioria dos crentes quer ver
vidas transformadas. Mas você aprecia falar pessoalmente
com outras pessoas a respeito de Cristo? (2) Você está ven­
do resultados?^
Até agora, temos mencionado Leighton Ford e Billy
Graham como figuras bem conhecidas, dotadas do dom do
evangelismo. Mas por certo esses dois não devem ser sido
os únicos, e nem mesmo as principais pessoas a quem esse
dom foi conferido pelo Senhor. Tomaram-se tão bem co­
nhecidos por se terem tomado evangelistas de tempo inte­
gral e públicos que trabalham em grandes organizações:
poucos que pertencem a essa categoria, dentro do Corpo
de Cristo. Eis algumas de outras variedades que o dora do
evangelismo pode assumir:
1. Homem ou mulher.
2. Leigo ou com formação acadêmica.
3. Ordenado ou não.
4. Por tempo integral ou por tempo parcial.
5. Pessoal ou público.
6. Denominacional ou interdenominacional.
7. Monocultura! ou intercultural.
8. Ministra em igrejas existentes ou dedica-se a inici­
ar novas igrejas.
Essa lista certamente não é exaustiva. Poderiamos
pensar em Charles E. Fuller, que não somente era um
evangelista público, mas que também sabia usar, com gran­
de eficácia, o rádio. Outros evangelistas mostram-se habi­
lidosos no uso da literatura, da música, ou mesmo de es­
portes. Deus proveu uma grande variedade de modos como
o dom do evangelismo pode manifestar-se.

O Que Realmente Significa o Evangelismo?


Sem importar como esteja sendo exercido, o objetivo
do dom do evangelismo é o mesmo: conduzir pessoas para
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento i7 5

que se dediquem a Jesus Cristo e umas às outras, dentro


do Corpo de Cristo.
Essa declaração pressupõe uma certa definição do
evangelismo que ainda não foi plenamente aceita mesmo
pelos crentes evangélicos. Trata-se de uma posição que não
se satisfaz com a definição de presença, tão prevalente nos
ramos mais liberais do cristianismo. Para aqueles que ado­
tam essa posição da presença, o evangelismo ocorre quan­
do um copo de água fria é dado em nome de Jesus, sem
importar se o evangelho é esclarecido ou não para aqueles
que recebem a ãgua.
E essa definição também não se satisfaz com a adição
do fator da proclamação ao fator da presença, embora mui­
tos evangélicos se apeguem tenazmente a essa posição.
Esses argumentam que o evangelismo bíblico tem lugar
quando as boas-novas são fielmente proclamadas e com­
preendidas, sem importar se os ouvintes tomam-se ou não
discípulos de Jesus Cristo.
A definição acima do evangelismo não inclui o fator
do discipulado*A fim de dar relatório dos resultados obti­
dos, de acordo com tal definição, vocé indica quantas pes­
soas ouviram a mensagem e quantas tomaram decisões
para Cristo, de um modo ou de outro. Uma terceira defini­
ção, que acredito ser a mais útil para o crescimento eclesi­
ástico, aceita calorosamente a necessidade essencial dos
fatores da presença e da proclamação, embora afirme que
o processo evangelístico permaneça incompleto, enquanto
a pessoa que estiver sendo evangelizada não fizer uma de­
cisão, e em seguida prove que é discípulo de Jesus, medi­
ante sua dedicação visível ao Corpo de Cristo, de uma ma­
neira ou de outra. Alguns designam essa definição como
ponto-de-vista da persuasão.* Considera como não-
evangelizadas as pessoas que ouviram as boas-novas mas
as rejeitaram, e que essas pessoas continuam sendo alvos
importantes para futuros esforços evangelísticos.
Proclamar o evangelho não requer particularmente que
haja algum dom espiritual. Porém, visto que a salvação é
uma obra que cabe tão exclusivamente ao Espírito Santo, é
Í7Ô Descubra Seus Dons Espirituais

preciso uma ajuda sobrenatural, por meio de um dom es­


piritual, para que o evangelho seja proclamado com efici­
ência incomum, de tal modo que regularmente, semana
após semana, novas pessoas obtenham fé em Cristo e se
unam ao Corpo místico de Cristo, a Igreja.

Quantos Possuem o Dom do Evangelismo?


Nem é preciso salientar que nem todos os membros
do Corpo de Cristo possuem o dom m inisterial do
evangelismo. A intenção de Deus não é que todo o Corpo
seja um imenso olho (ver 1 Coríntios 12.17), e, nem, con-
seqüentemente, um útero. De fato, conforme sugerimos no
segundo capítulo deste livro, apenas a uma minoria dos
membros do corpo é outorgado qualquer dom. Bastaria isso
para estreitar a resposta ã pergunta sobre quantos possu­
em esse dom, a algo entre um e quarenta e nove por cento.
Naturalmente, os dons não foram todos distribuídos
igualmente entre os crentes. Temos dois olhos, dez artelhos,
um estômago e trinta e dois dentes. Eis a razão pela qual é
uma tolice calcular que por motivo de haVer vinte e sete
dons diferentes, uma média de 3,7 por cento dos membros
do Corpo devem ter algum dom espiritual. O organismo
espiritual é muito mais complexo do que isso. Mas tenho
descoberto que a tendência entre os crentes entusiasma­
dos quanto ã realização de certas tarefas no Corpo é supe­
restimar descuidadamente quantos dos membros de uma
igreja qualquer deveríam ter este ou aquele dom. Se eu
quiser que minha tarefa em particular seja realizada, en­
tão tenderei a presumir que um número irreal de pessoas
possui o dom que essa tarefa requer. E isso ocorre com
grande freqü ência no caso do dom m in isterial do
evangelismo.
Até este ponto, neste livro, tenho sugerido somente
um cãlculo para estimar o número de pessoas que possui­
ría um determinado dom. Declarei que aqueles dotados do
dom ministerial de pastor provavelmente atingem uma taxa
de três a seis por cento, dependendo de alguns fatores va­
riáveis, que foram explicados no quinto capítulo desta obra.
6 O EvangeUstã: Orgão Primário do Crescimento i 77

Também expressei isso apenas como uma regra geral, por­


quanto sinto que maiores pesquisas precisam ser levadas
a efeito no campo do dom pastoral, para nada falar sobre
outros dons.
Mas, sinto-me muito mais seguro, quanto à minha
atual sugestão sobre a porcentagem do dom de evangelismo,
porquanto isso já tem sido submetido a teste caso após
caso, e os resultados têm sido confirmadores dessa taxa. A
igreja evangélica média pode esperar que aproximadamen­
te dez por cento de seus membros adultos ativos possuem
o dom do evangelismo. Um considerável acúmulo de evi­
dências empíricas sugere que, se uma igreja conta com dez
por cento de seus membros dotados desse dom, ou mesmo
ligeiramente menos, e que esses sejam ativamente mobili­
zados no evangelismo, haverá uma taxa média de cresci­
mento de duzentos por cento por década, sendo isso uma
expectativa realista. E quando Deus abençoa uma igreja,
conferindo o dom do evangelismo a mais de dez por cento
de seus membros, ela se achará em notável posição para
crescer numeridhmente.

Podemos Exagerar no Evangelismo?


O evangelismo é tão importante no crescimento de
uma igreja, que podemos entender por que tantos círculos
evangélicos tendem a exagerar esse aspecto. Exagerar?
Antes de responder a essa última pergunta, preciso
salientar que, pessoalmente, creio tanto no evangelismo,
que dediquei a minha vida a verificar que isso está aconte­
cendo em uma escala mundial. A placa de licenciamento
de meu automóvel é Mt 28.19, e o do carro de minha espo­
sa é MT 28:20 — a Grande Comissão, por onde quer que
formos. Já ressaltei que o dom ministerial do evangelismo
é o órgão primário, no Corpo de Cristo, que visa ao cresci­
mento da igreja. Meu objetivo, neste volume, tal como em
todos os livros que escrevo, é facilitar a evangelização do
mundo em nossa geração. Não quero ser erroneamente in­
terpretado quanto a esse assunto, porque aquilo que pas­
so a dizer pode originar controvérsia.
/ 78 Descubra Seus Dons Espirituais

A fim de evangelizarmos o mundo com maior eficácia,


nesta geração, creio que muitos evangélicos precisarão de­
sanuviar as suas mentes, quando se pronunciam sobre o
grau de envolvimento que o crente médio deve ter no tra­
balho evangelistico ativo. Existem certos pontos básicos
que precisamos reconhecer. Antes de mais nada, todo crente
verdadeiro precisa viver em sintonia com Deus, o qual não
quer que nenhum pereça, “senão que todos cheguem ao
arrependimento” (2 Pd 3.9). Todo crente deseja ver as pes­
soas salvas e conduzidas ã comunhão do Corpo de Cristo.
Essa não é a questão fundamental.
Uma outra coisa é que todo crente verdadeiro é uma
testemunha de Jesus Cristo, sem importar se tal crente
possui ou não o dom do evangelismo. Outrossim, todo cren­
te precisa estar preparado para compartilhar de sua fé com
os incrédulos, conduzindo-os aos pés de Cristo sempre que
se apresente alguma oportunidade para tanto. Esse é o papel
cristão que corresponde a esse dom espiritual, sobre o que
discutirei com maiores detalhes logo adiante.
Tendo dito isso, entretanto, é tempd de admitirmos
que hã muitos bons, fiéis, consagrados e maduros crentes
que amam a Jesus Cristo, mas que não estão interessados
em envolver-se, nem se incomodam em estar, e, para todos
os in tu itos e prop ósitos nunca se en volverão na
evangelização em qualquer sentido direto. Indiretamente,
sim. Contribuirão para o crescimento do Corpo de Cristo
como se fossem pulmões, intestinos delgados, rins ou a
glândula tireóide, que também contribuem para a repro­
dução humana. E haverão de realizar seu papel de teste­
munhas, quando as circunstâncias assim ditarem. Mas não
haverão de procurar oportunidades nas quais sejam capa­
zes de compartilhar de sua fé com outras pessoas.
É uma distorção do ensino biblico, em minha opinião,
tentar convencer a todo crente de que precisa compartühar
constantemente de sua fé, como parte de seu dever diante
do Mestre. Não ficamos a dizer-lhes que esses crentes de­
vem ensinar o tempo todo, ou pastorearem outros, ou se­
rem apóstolos, profetas, administradores, líderes ou missi­
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento 179

onários, mesmo que não tenham recebido o equipamento


espiritual para fazerem bem o seu trabalho. Provavelmente
prejudica o Corpo de Cristo, mais do que o ajuda, quando
fazemos os crentes sentirem-se culpados, se não comparti­
lham de Cristo com o frentista do posto de gasolina, se não
deixam folhetos evangélicos com o carteiro, ou se não
testificam ao garção do restaurante.
Foi feito um recente estudo por parte de um seminá­
rio dos batistas conservadores, os quais, segundo pode­
mos pensar, são representantes da média ou podem estar
ligeiramente acima da média dos crentes, em sua vida e
dedicação espirituais, ainda que, talvez, não tenham ainda
atingido um bom nível de maturidade cristã. Por certo, a
honestidade deles é recomendável, dadas as excessivas
pressões que têm sido impostas aos crentes, para que com­
partilhem de sua fé o tempo todo. E os estudos indicaram
que dez por cento compartilham de sua fé uma vez por
semana ou mais, e que dez por cento deles já conduziram a
Cristo de uma a três pessoas, no espaço de um ano. Quan­
to aos demais crentes, em graus variados, foi descoberto
que: (a) eles mantêm poucos contatos com pessoas não-
crentes; (b) não desejam ajuda para que possam relacio-
nar-se melhor com os não-crentes; (c) provavelmente não
trarão amigos não-salvos para a maioria das reuniões da
igreja: (d) não querem aprender a evangelizar; (e) sentem
que devem conduzir pessoas a Cristo, mas não pretendem
dedicar muito tempo e energia a esse mister; e (f) preocu­
pam-se muito sobre a oração, mas não passam muito tem­
po realmente orando pelos perdidos.
Independente disso, mas como parte do mesmo fenô­
meno, há um relatório feito pela Junta de Missões Pátrias
dos Batistas Conservadores, entregue em junho de 1973,
que expressava o interesse de que os candidatos a missio­
nário que são formados pelos seminários mostrem-se ap­
tos quanto aos dons de pastor e mestre, embora não tanto
quanto ao dom do evangelismo.
Como é que reagimos diante de tal situação?
Alguns de nós tendemos a arrancar os cabelos, ves­
180 Descubra Seus Dons Espirituais

tir-nos de luto e derramar cinzas sobre o corpo, e lamentar


a baixa condição espiritual de nossos jovens hoje em dia.
Inclino-me a considerar essa situação como algo que pode
e deve ser melhorado, embora não como algo que é neces­
sariamente devastador à saúde e ao crescimento da igreja
local.
Uma chave que nos permite relacionar a dinâmica do
dom ministerial do evangelista ao crescimento da igreja está
na questão da localização do sentimento de culpa. Esse
sentimento pode ser uma bênção ou uma maldição, de­
pendendo de sua localização.
Em primeiro lugar, os crentes que possuem o dom do
evangelismo, mas não o estão usando, devem ser levados a
sentir a responsabilidade de colocá-lo em prática. Creio que
dez por cento dos crentes da maioria das igrejas têm o dom
de evangelismo ou de evangelista e estão, de alguma ma­
neira, usando seus dons. Entretanto, em igrejas estacio­
nárias ou em declínio observa-se que apenas meio por cen­
to dos agraciados com esse dom o estão usando. Isso signi­
fica que nove e meio por cento dos crentes provavelmente
sentem-se culpados por não estarem evangelizando. Aque­
les dotados do dom da exortação deveríam procurar esses
crentes, ajudando-os a descobrir, desenvolver e usar o seu
dom evangelístico. E esses tomar-se-ão crentes mais feli­
zes e mais realizados, e as igrejas locais haverão de cres­
cer. Se essa busca chegar a produzir o sentimento de res­
ponsabilidade, sem dúvida terminará por ser uma bênção.
Em segundo lugar, os noventa por cento dos crentes
que possuem outros dons, que não o do evangelismo, não
deveríam sentir-se culpados por ocuparem papéis secun­
dários no processo da evangelização. Em algumas igrejas
evangélicas, o sentimento de culpa por não estarem
evangelizando é tão severo quanto aqueles que têm o dom
não evangelizam, trazendo novas pessoas à igreja, que os
convertidos acabam sendo espantados para longe, por aqui­
lo que ali observam. O tom geral do corpo, a auto-imagem
negativa dos membros, a melancolia e o derrotismo rei­
nantes podem ser sentidos na atmosfera da igreja, levando
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento i8 i

OS novos convertidos a pensarem que todos ali devem ter


sido batizados em vinagre! E prontamente decidem que não
querem fazer parte de um grupo como aquele, e logo desa­
parecem, sem serem notados, pela porta dos fundos.

Projetando o Dom do Evangelismo


À luz daquilo que acabamos de dizer, facilmente en­
tende-se por que o dom do evangelista provavelmente é o
dom mais freqüentemente projetado (com a possível exce­
ção do dom de línguas).
Em minha experiência, a técnica mais comum que é
usada por aqueles que possuem o dom de evangelismo,
para projetarem o seu dom, consiste em negar que o pos­
suem. A maior parte dos crentes norte-americanos que têm
consciência de seu ministério, concorda que dois dos mais
notáveis líderes evangélicos que possuem esse dom hoje
em dia são Bill Bright, presidente da Cruzada Estudantil e
Profissional Para Cristo, e James Kennedy, pastor-presi-
dente da Igrej^ Presbiteriana de Coral Ridge, em Fort
Lauderdale, na Florida, e fundador da Missão Evangelismo
Explosivo. Ambos são meus amigos pessoais, e tenho-os
observado tão cuidadosamente quanto possível. Minha
opinião bem pensada é de que ambos possuem o dom do
evangelismo, que o têm desenvolvido ao mais alto grau, e
que o estão usado para a glória de Deus e com vistas ao
crescimento da igreja. Amo a ambos. Gosto de passar tem­
po em companhia deles. Gosto de ouvi-los falando de suas
experiências ao compartilharem de Cristo e ao inspirarem
outras pessoas a fazer o mesmo. Endosso publicamente os
programas que eles têm desenvolvido como excelentes
metodologias para o evangelismo de igrejas locais.
A razão pela qual mencionei esses dois líderes, po­
rém, é que tenho ouvido cada um deles dizer que não pos­
sui o dom ministerial do evangelismo. Por longo tempo fi-
quei atônito diante da pergunta: Por que eles costumam
negar tal realidade?
Enquanto escrevo estas palavras, sei que ambos dis­
cordarão do que estou dizendo. Espero que não fiquem ir-
182 Descubra Seus Dons Espirituais

litados comigo. Temos discutido longamente, face a face,


sobre os dons espirituciis, e ambos sentem que minha apre­
sentação da hipótese que cerca de dez por cento dos mem­
bros do Corpo de Cristo possuem o dom do evangelismo,
será combatida ou usada como uma justificativa por cren­
tes de todas as partes da América do Norte. Eles sentem
basicamente que a noção de que só aqueles dotados do
dom do evangelismo deveriam estar evangelizando, de ma­
neira planejada e estruturada é uma noção equivocada, e
que todo crente que realmente possui sal espiritual deveria
estar usando as Quatro Leis Espirituais de modo regular,
mostrando-se ativos no programa do Evangelismo Explosi­
vo, ou coisas eqüivalentes.
Virtualmente todas as vezes que estou em companhia
de Bill Bright, durante mais de dez minutos, ele me conta
comoventes histórias de como Deus o tem usado para con­
duzir pessoas a Cristo. Certa ocasião, ele contou como uma
garçonete, num restaurante, em um país asiático, teve um
encontro com Cristo quando ele e sua esposa, Vonnette,
faziam refeição. E também me contou sobre uma criada de
hotel que orou para receber a Cristo. E também me tem
narrado como várias pessoas, sentadas a seu lado, em al­
gum avião, acabaram sendo apresentadas a Jesus.
E aqui fico eu, um simples professor de seminário,
com o dom de mestre e erudito, totalmente incapaz de
igualá-lo narrativa por narrativa. Quem quer ouvir o esbo­
ço de um novo artigo de revista, ou um conceito difícil que
é simplificado por meio de uma projeção de transparência,
ou um estudante universitário que quer dar um passo de­
finitivo em sua dissertação, ou um livro novo que acaba de
ser publicado por um colega de faculdade, ou que cinqüen-
ta alunos se matricularam para um novo curso de seminá­
rio sobre o crescimento da igreja? Se eu retomasse aos
dias antes de entrar em bom acordo com meu próprio con­
junto de dons, talvez eu continuasse engasgado de culpa,
ao ouvir as histórias dessas conquistas de almas.
Mas isso não acontece mais comigo. Talvez Bright e
Kennedy venham a dizer: “Eu bem que disse, que Wagner
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento i8 3

está procurando justificar-se!” Mas eis o que eu faço quan­


do estou em um avião.
Conforme eu já disse, creio que o crente que conhece
o seu conjunto de dons, deveria estruturar o seu tempo,
tanto quanto possível, para usar seu dom ou dons. Sempre
que entro em um avião, considero que estou em uma bibli­
oteca. Durante três, quatro ou cinco horas tenho ali uma
bela oportunidade de usar meus dons espirituais. Nada de
chamadas telefônicas, nada de entregas pelo correio, nada
de batidas à porta. Tomo três a cinco quilos de material de
leitura em minha pasta, porque se eu tiver de usar meu
dom de conhecimento (erudição), terei que absorver gran­
des quantidades de livros, jornais e revistas, que devoro
vorazmente. Procuro um assento isolado, e considero uma
bela viagem, quando consigo viajar sozinho. Quando al­
guém se senta perto de mim, tenho por hábito orar e pedir
ao Senhor que mantenha quieta aquela pessoa, a menos
que seu coração tenha sido preparado para receber a boa
mensagem. Nes^e último caso, peço que o Senhor dê chance
a que se inicie uma conversa sobre Jesus. Há muita opor­
tunidade disso, pois as pessoas podem dizer que sou um
crente quando me vêem estudando ou agradecer em ora­
ção, quando alguma refeição me é servida. De fato, quando
começamos a dialogar, a outra pessoa usualmente jã cal­
culou que sou um pastor ou coisa semelhante.
Na maior parte das vezes, no entanto, não chego a
conversar com a pessoa a meu lado, porque estou ocupado
a usar meu dom espiritual. O Senhor não haverá de consi­
derar-me responsável pelo que eu fizer com o dom do
evangeUsmo, mas haverá de considerar-me responsável pelo
que eu fizer como mestre e erudito. Por outra parte, aque­
les que são dotados do dom de evangelismo deverão fazer
todo esforço por conversar com quem estiver a seu lado.
Para aqueles que receberam algum dom, ê difícil en­
tender os sentimentos daqueles que não o possuem, e que
se sentem culpados por não terem recebido tal dom. Tenho
conversado com vários membros da missão Cruzada Estu­
dantil, por exemplo, que sofrem por causa do sentimento
184 Descubra Seus Dons Espirituais

de culpa, por não terem recebido o dom do evangelismo,


mas de quem se espera que, semana após semana, apre­
sentem seus relatórios de que estão testificando eficazmen­
te. Um crente que explicou por escrito como isso tem fun­
cionado em sua vida é Rick Yohn, autor de um de nossos
principais livros sobre os dons espirituais.
Rick Yohn contou sobre as frustrações que o acossa­
vam quando tiabalhava na Cruzada Estudantil. “Eu ouvia
como outros obreiros apresentavam estudantes a Cristo”,
disse ele, “e eu me punha a comparar os meus resultados
com os deles. E eles sempre apresentavam resultados nu­
méricos superiores aos meus”. Isso perturbava deveras a
Rick Yohn, e ele põs-se a sondar seu coração diante de
Deus. “Será que me falta fé?” indagava ele. Honestamente,
porém, ele não acreditava nisso. Algumas pessoas reagiam
favoravelmente, mas não muitas. E então ele indagava: “Será
que minha mensagem foi deficiente?” Mas a resposta a essa
pergunta obviamente era negativa, pois ele tinha usado as
mesmas Quatro Leis Espirituais que tinhjam sido usadas
pelos mais bem sucedidos membros do grupo.
Por essa altura, Yohn precisava concluir: “Ou eu sou
um completo fracassado como ministro, ou os meus dons
pertencem a outra área, e não ao evangelismo”. E ele aca­
bou descobrindo que o seu conjunto de dons pertencia ã
categoria de mestre erudito. E ele tem desfrutado na
ministração desse dom, para a glória de Deus, desde en­
tão. E embora tenha servido em três pastorados, ainda as­
sim, ele tem visto poucas pessoas virem a Cristo por meio
de seu ministério. Porém, agora sente-se liberado. E pensa
que é uma vergonha quando a espiritualidade é julgada
com base no número de pessoas que alguém tem conquis­
tado para Cristo.®
Eu mesmo procuro evitar conscientemente a proje­
ção de dons. Eu não haveria de querer julgar a espiri­
tualidade de outros crentes com base em terem eles ou não
uma formação de Doutor em Filosofia ou, em se tomarem
fluentes no vernáculo de uma segunda cultura, qualidades
que são requeridas de mim, devido a meus dons de conhe­
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento i 85

cimento e de missionário. Procuro não me sentir perturba­


do quando vejo alguém ensinando e não conseguindo co­
municar-se com os seus ouvintes. Tento não mostrar-me
desdenhoso se alguém com quem estou conversando não
entende o sentido de frases como “contextualização teoló­
gica”, “homogeneidade”, “discipulado radical”, “racismo
assimilacionista” ou “eqüivalência dinâmica”, visto que não
têm lido e estudado tais assuntos. Se eu me ocupasse em
projeções de dons dessa natureza, podería suspeitar de que
não estaria obedecendo à Regra Áurea: fazendo para ou­
tras pessoas o que eu gostaria que fizessem comigo.

Será Isso Mera Justificativa?


Concordo com Leighton Ford , um evangelista que estã
disposto a reconhecer o seu próprio dom. Apesar de ele
admitir que Deus prepara certas pessoas para serem
evangelistas, por meio dos dons espirituais, ele também
diz: “Não devemos usar o ensino sobre os dons espirituais
como uma justificativa para evitarmos a nossa responsabi­
lidade de compartilhar de Cristo com outras pessoas. Tal­
vez você não tenha sido chamado para ser um evangelista,
mas você e todos os demais crentes, mediante uma atitude
de amor e compaixão, e por meio de palavras bem escolhi­
das, pode ter o privilégio de conduzir outras pessoas. . . até
Jesus Cristo”.®Esse é um conselho oportuno.
Leighton Ford refere-se aqui ãquilo que temos cha­
mado de funções cristãs. Todo crente é chamado para ser
uma testemunha fiel de Cristo. David Hubbard, quando
presidente do Fuller Seminary, colocou a questão nestes
termos:
“Nem todos possuímos o dom do evangelismo. Admi­
ro pessoas que sabem conduzir outras a Jesus Cristo num
instante; que têm a capacidade de transformar toda con­
versa em oportunidade para compartilhar do plano divino
de salvação. Não sou uma dessas pessoas, mas tenho uma
história para dela compartilhar — e assim faço. Tenho com
Cristo um relacionamento que sou capaz de descrever — e
outro tanto acontece com você. O evangelismo terã lugar
186 Descubra Seus Dons Espirituais

muito melhor, quando todo o povo de Deus aprender a ex­


pressar seu testemunho de maneira atraente”/
Tenho descoberto que isso funciona em minha pró­
pria vida. Se, quando me acho em um avião. Deus respon­
de à minha oração, permitindo o inicio de um diálogo com
a pessoa ao meu lado, então todos os livros, anotações e
revistas voltam para minha pasta, e toda a minha atenção
concentra-se em meu testemunho. E dali sai uma Bíblia,
que sempre levo comigo, e passo a compartilhar de Cristo.
Sei como se faz isso (algumas vezes uso as Quatro Leis
Espirituais, e de outras vezes uso as perguntas do modelo
Evangelismo Explosivo), e sei como se conduz pessoas a
Cristo. Já conduzi uma pessoa aos pés de Cristo, que via­
jou ao meu lado em um avião. Aquele dia foi para mim um
dos mais importantes de minha vida.
Meu papel como crente é ser uma testemunha em
favor de meu Senhor, a qualquer tempo; e me sinto deleita­
do quando Deus me dã oportunidade de o ser. Mas tam­
bém já descobri que sempre que o faço de modo forçado,
acabo estragando a oportunidade. Por conseguinte, deixo
que Deus faça tudo por mim. Quando Ele assim não age,
continuo a exercitar o meu dom espiritual, e não minha
função espiritual.
Todo aquele que usa sua falta do dom espiritual do
evangelismo como justificativa para não testificar de Cris­
to, desagrada a Deus. Mas aqueles que insistem que uma
outra pessoa desvie valiosa energia que podería ser usada
no exercício de um dom espiritual, a fim de executar desa-
jeitadamente uma função cristã, de igual modo está desa­
gradando a Deus.

Novos Convertidos e Um Testemunho Eficaz


Contrário aquilo ao que algumas pessoas pensam,
quanto mais maduro na fé toma-se um crente, menor será
o potencial dele como testemunha cristã eficaz. A principal
razão disso é que um crescente envolvimento com o Corpo
de Cristo, no processo dos anos, vai reduzindo constante­
mente o número de contatos que uma pessoa tem com pes­
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento i 87

soas incrédulas. Antes de uma pessoa tomar-se crente, é


provável que todos os seus amigos e parentes também se­
jam incrédulos. Outro tanto se dá no caso de novos con­
vertidos, antes de serem devidamente assimilados na fa­
mília de Deus. As possibilidades da função de testemunha
cristã, de modo geral são bem altas, mas apenas por um
limitado período de tempo, depois de a pessoa ter-se con­
vertido.
Se a função de testem unha cristã tiver de ser
estmturada com vistas ao crescimento eclesiástico, essa é
uma área em torno da qual nos devemos concentrar. Os
novos convertidos, antes que possam amadurecer o bas­
tante para descobrir quais são os seus dons espirituais,
deveríam ser encorajados, por todos os meios possíveis,
para usarem seus contatos restantes com amigos e paren­
tes perdidos, para propósitos evangelísticos. Na maioria dos
casos, todavia, não saberão como conduzir bem outras
pessoas a Cristo. O mais certo é que nove em cada dez não
receberam o dom do evangelismo. Diante disso, parece-me
que o tipo mais "^goroso de mobilização para o evangelismo,
em uma igreja local qualquer, consiste em combinar esses
dez por cento de crentes maduros, dotados do dom do
evangelismo, com novos convertidos, capazes de exercer a
função de testemunhas, apresentando seus amigos e pa­
rentes a Jesus Cristo, por meio desse tipo de trabalho de
equipe. (N.E.: Recomendamos o folheto evangelístico Re­
cado Pra Você do Pr. Oswaldo Paião Jr.)
Isso aconteceu ainda recentemente em minha própria
congregação, a Voyagers Sunday School Class. Um dos
membros da classe, chamado Estêvão Lazarian, possui o
dom de evangelismo, como também sua esposa, íris. Ele é
proprietário de uma firma que faz instalações elétricas. Faz
agora alguns meses que conheceram um homem envolvido
em idêntico negócio, que havia sido transferido para lã,
vindo da parte ocidental do país, e então conduziram-no a
Cristo. O homem testificou o melhor que pôde para sua
esposa e para as pessoas de seu escritório. Não demorou
muito, e ele trouxe uma mulher de seu escritório à classe.
188 Descubra Seus Dons Espirituais

e ela trouxe uma amiga; e, depois, a esposa dele também


mostrou-se interessada. Ele reuniu todos com a família
Lazarian, e estes conduziram todos os três aos pés de Cris­
to. Nos últimos seis meses, os Voyagers cresceram seis por
cento, uma boa taxa de crescimento para qualquer congre­
gação.
Para que essa dinâmica opere suavemente, como é
claro, deve haver um constante suprimento de novos con­
vertidos na igreja. Algumas igrejas, contudo, não apreciam
muito os novos convertidos, e comunicam sua atitude de
maneiras sutis. Algumas vezes, os novos convertidos com­
portam-se como bebês soltos pela casa — um estorvo ine­
vitável. Porém, na qualidade de bebês que são; essas pes­
soas deveríam ser amadas e nutridas. Não se pode esperar
que se conduzam como crentes maduros; mas se sentirem
que são bem acolhidos e amados de todos os modos, logo
haverão de amadurecer. Antes que o façam, sem dúvida, o
papel deles como testemunhas, e o contato deles com os
incrédulos deveríam ser cultivados com diligência. As igi e-
jas que sabem como fazer isso bem, usualmente crescem
sem empecilhos.
De passagem, precisamos reconhecer que crentes de
uma segunda geração, ou seja, filhos e filhas de membros
ativos de alguma igreja, que chegam a participar da igreja
através daquilo que se chama crescimento biológico, usu­
almente não se mostram muito eficazes em sua função de
testemunhas. Alguns deles, sem dúvida, são possuidores
do dom do evangelista, e talvez descubram isso bem cedo
na vida, o que é uma vantagem. Em tudo o mais, contudo,
não podemos esperar que possam cumprir um grande tra­
balho de evangelismo, e usualmente não é aconselhável
edificar um programa de evangelismo, contando somente
com eles.

Ediflcando Uma Dinâmica Evangelística


De que maneira cresce uma igreja que se utiliza de
uma combinação de equipes formadas por aqueles que re­
ceberam o dom do evangelismo e aqueles que desempe­
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento i8 9

nham o papel de testemunhas cristãs, que ainda mantêm


contatos eficaizes com os incrédulos? Existem duas áreas
fundamentais, com as quais podemos iniciar o trabalho
nesse sentido;
1. Novos membros e
2. Membros mais antigos da igreja.

Paralelamente a isso, há dois objetivos:


1. Ajudar àqueles que possuem o dom do
evangelizar para descobrir, desenvolver e come­
çar a usar o seu dom; e
2. Equipar os outros que têm a função de teste­
munhas cristãs para que sejam mais eficientes
no testemunho que prestarem.

Área Alvo 1: Novos Membros. Acredito que novos mem­


bros, como parte do corpo de membros, e sem importar por
que processo novos membros estejam sendo chamados para
a igreja, deveriam passar por um treinamento formal, para
poderem compatlilhar de sua fé. Esse treinamento deveria
incluir algo da experiência no trabalho de evangelismo.
Reconheço que essa é uma sugestão bastante radical. E
não me tenho surpreendido que, embora eu tenha sugeri­
do isso a inúmeros pastores, durante os últimos cinco anos,
nenhum daqueles que tenho conhecido pôs minha suges­
tão em prática.
Talvez o principal motivo pelo qual essa sugestão não
tem sido aceita largamente é que os pastores e os demais
lideres das igrejas são por demais tímidos. Não entendem
esse muito importante princípio da sociologia da religião;
quanto mais restrita for uma igreja, quanto ãs condições
para alguém tomar-se membro, maior será a força religio­
sa e social que ela obterá diante da comunidade. Ninguém
conseguiu articular isso e desenvolvê-lo mais extensamen­
te do que Dean Kelley, em seu livro, Why Conservative
Churches Are Crowing.^ Recomendo elogiosamente esse li­
vro, por causa de sua simplicidade, realismo e bom senso.
Eu gostaria de que todo pastor e membro de junta eclesi­
/ 90 Descubra Seus Dons Espirituais

ástica lesse esse livro. Isso ajudaria muito a dissipar os


temores de que a igreja não crescerá tão bem se intensifi­
car as condições para que alguém seja aceito como mem­
bro da mesma.
A definição de Dean Kelley sobre as condições mais
apertadas tem muitas facetas. Uma delas é a que estou
sugerindo aqui — um desejo profundo de compartilhar da
fé e de conquistar convertidos. Ao fazer disso um compo­
nente intrínseco ao processo de aceitação de membros, a
sua igreja estará lançando uma mensagem clara ao mun­
do, que ela é uma igreja evangelística, que se importa com
aqueles que ainda estão perdidos, e que, ser alguém mem­
bro de sua igreja significa fazer parte de um Corpo que está
resolvido a adicionar novos membros e crescer sobre bases
regulares. Poucas coisas poderiam contribuir mais para a
força total de uma comunidade em ação interna.
Há muitas maneiras excelentes de aprender a com­
partilhar da fé, atualmente disponíveis ao público evangé­
lico, e não há dúvida de que esses meios continuarão a
multiplicar-se. Organizações como Evan^elismo Explosi­
vo, a Cruzada Estudantil, ABU, Navegadores e outras, têm-
se tomado eficientes mestras nesse tipo de treinamento. O
método deveria ser escolhido com cuidado, porquanto al­
guns desses métodos ajustam-se melhor a certas igrejas
do que outros. Algumas denorninações também contam com
seus próprios programas de evangelização local; e talvez
esses programas sejam exatamente aquilo de que você e
sua igreja precisam. Porém, sem importar a metodologia,
se o treinamento fizer parte dos requisitos para alguém tor­
nar-se membro da igreja, tanto para as pessoas aceitas de
outras igrejas, quanto para pessoas convertidas, que vie­
ram diretamente do mundo, a igreja inteira haverá de be­
neficiar-se grandemente.
Após estar sugerindo isso por algum tempo, fiquei
satisfeito ao descobrir que pelo menos uma igreja estava
fazendo assim. A Igreja Presbiteriana College Hill de
Cincinnati, Estado de Ohio, é um modelo que precisa ser
estudado cuidadosamente. O pastor-presidente chama-se
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento 191

Jeriy Kirk. Com seu encorajamento e sob a liderança dire­


ta do Ministro de Evangelismo, Ron Rand, essa igreja, que
conta com cerca de dois mil membros, começou a requerer
treinamento no campo do evangelismo para os seus novos
membros, em 1973, durante os quatro anos anteriores, a
freqüência aos cultos havia demonstrado uma taxa de
declínio de menos quatro por cento por década. Mas no
período de quatro anos de 1973 a 1976, houve um cresci­
mento de cento e nove por cento a cada dez anos! O progra­
ma deles é chamado HELPER, um acrônimo para as pala­
vras “How to Equip Lay People to Evangelize Regularly
(“Como Preparar Leigos para Evangelizarem Regularmen­
te”). Essa não é a única exigência imposta a quem quiser
tomar-se membro da igreja, mas faz parte importante das
suas exigências. Nesse programa de treinamento, vários
métodos diferentes de compartilhar a fé são ensinados aos
crentes.
A Igreja Presbiteriana College Hill não teme que pa­
drões mais exigentes para alguém tomar-se membro dela
venha a prejudft;ar o crescimento eclesiástico. Por meio da
própria experiência, eles aprenderam que padrões mais
duros para recebimento de membros resultavam exatamen­
te o contrário. As igrejas tomam-se mais fortes quando
exigem mais para alguém tomar-se membro. E agora ou­
tras igrejas estão considerando fazer a mesma coisa. A igreja
College Hill tem compartilhado do que tem aprendido por
meio de três clínicas anuais efetuadas em seu acampa­
mento em Cincinnati, além de outras clínicas regionais,
que Ron Rand venha a sentir vontade de organizar, por
convite de alguma igreja hospedeira.
Área Aíoo 2: Membros Atuais. Não é fácil estabelecer
“exigências” no tocante aos atuais membros de uma igreja,
mas isso é possível quanto ao recebimento de novos mem­
bros. Sugiro, entretanto, que todos os membros atuais das
igrejas sejam encorajados, o mais possível, a experimentar
o maior número de dons espirituais que puderem, e que o
dom do evangelismo seja uma das áreas onde se tome dis­
ponível uma ajuda especial. Eu submetería o maior núme­
/ 92 Descubra Seus Dons Espirituais

ro possível de membros a um programa de treinamento no


evangelismo, de uma maneira ou de outra.
A igreja College Hill tem feito exatamente isso. A lide­
rança pastoral deles estabeleceu como alvo submeter cem
por cento de seus membros ao programa HELPER. Antes
de tudo, isso tomou-se uma regra não-escrita: os oficiais
da igreja College Hill submeteram-se a esse programa an­
tes de serem eleitos para o seu ofício. Enquanto estávamos
escrevendo este livro, quarenta e quatro por cento dos mem­
bros já haviam sido submetidos a esse treinamento, uma
porcentagem notavelmente elevada, e um bom exemplo a
ser seguido por outras Igrejas, se decidirem levar a sério
essa questão de crescimento da igreja.
Você está percebendo o que um sistema assim faz em
prol dos dons espirituais? Tal programa opera positivamente
tanto para aqueles que receberam o dom do evangelismo
como para aqueles que receberam outros dons espirituais.
Como é claro, o processo precisa avançar com a ajuda da
oração, na dependência à orientação dada pelo Espírito San­
to. Antes de as pessoas se submeterem a-esse programa,
precisam entender que de cada dez pessoas que aceitam o
programa, apenas uma, em média, realmente será deten­
tora do dom do evangelismo, e passará a dedicar-se a um
ministério evangelístico bem estruturado.
E assim, no caso daqueles que receberam o dom do
evangelismo, esse é um excitante momento de descoberta
e auto-realização. Esse é a fase em que muitos crentes des­
cobrem exatamente onde Deus quer que eles se ajustem
no Corpo de Cristo. Na Igreja College Hül, para exemplificar,
foi dito que cerca de duzentos dos membros tomaram-se
bastante seguros de que possuem o dom do evangelismo, e
setenta deles mostram-se atualmente ativos no programa
de evangelismo estmturado. Os duzentos membros repre­
sentam dez por cento do total, de aproximadamente dois
mil membros, ao passo que aqueles setenta representam
cerca de três e meio por cento. Se eles buscassem o meu
conselho, eu diria para desafiarem pelo menos outros se­
tenta crentes para se tomarem evangelizadores ativos. Isso
6 O Evangelista: Orgão Primário do Crescimento i 93

form aria um programa de cento e quarenta crentes


estruturados em torno do evangelismo, sendo provável que
sua taxa de crescimento aumentaria de cento e nove para
duzentos por cento em cada década.
E no caso daqueles que não foram dotados do dom do
evangelismo, aconteceriam três coisas boas. Antes de tudo,
eles livrar-se-iam de qualquer sentimento de culpa que vi­
esse a surgir, por não se mostrarem tão eficientes ao com­
partilhar da fé, como fariam certos outros membros do cor­
po. Por isso mesmo, ficariam livres para descobrir, desen­
volver e usar plenamente quaisquer outros dons que Deus
lhes tenha dado. Em segundo lugar, eles começariam a
despedaçar a “barreira do temor”. A barreira do medo é um
dos mais formidáveis obstáculos a um testemunho cristão
eficaz, mas o treinamento e a experiência que eles haveri-
am de receber livraria aqueles crentes desse problema. Em
terceiro lugar, cada membro da igreja mostrar-se-ã uma
testemunha melhor e mais eficaz em prol de Jesus Cristo,
sem importar quais sejam os dons de cada um deles. Pois
aprenderíam como se deve guiar uma alma a Cristo, o que,
em minha opinião, é uma qualidade tão importante, para
uma vida cristã bem equilibrada, como freqüentar os cul­
tos, agradecer antes das refeições, dar os dízimos e fazer
ofertas ao Senhor, ou mesmo estudar a Palavra de Deus.
Toda a sintonia evangelística do Corpo de Cristo pode
ser aprimorada se os crentes compreenderem como o dom
do evangelismo funciona e como devemos pô-lo em práti­
ca. Talvez isso seja tudo quanto a sua igreja precisa para
anunciar a mensagem divina aos perdidos, conduzindo
novos crentes à sua comunhão e dando início a uma exci­
tante era de crescimento, para a glória de Deus.

Notas

1. LeighLon Ford, Good News Is For Sharing (Elgin, II.: David C. Cook Publishlng Co., 1977), pág. 83.
2. Idem.
3. Rick Yohn, Discover Your Spirilual Gijl and Use It (Wheaton: Tyndale House Publishers, 1974), pág. 64.
4. A discussão sobre presença-proclamação-persuasão é mais desenvolvida ainda no livro deC. Peter Wagner,
Froniiers ãi Missionary Siralegy {Chicago: Moody Press, 1971), págs. 124-134.
5. Yohn. Discover Your Spirilual C ijt . . pág. 64.
6. Ford, Good News Is For Sliaríng. pág. 83.
7. David Allan Hubbard, “A Winsome Witness,” Today’s Christian (setembro de 1976), pág. 2.
8. Dean M. Kelley, Why Conservalive Churches Are Crowing (Nova York. Harper and Row, Publishers, Inc.,
1972), lançado recentemente em forma de brochura.
7

C ompreendendo o D om
DE M issionário

■ Iguns J^vros sobre crescimento eclesiástico têm sido


escritos como se o crescimento da igreja local fos­
se o único tipo importante de crescimento. Sem
dúvida, esse tipo de crescimento é importante, e
sem dúvida é o tipo de crescimento pelo qual os pastores
de igreja e os líderes leigos estão mais intensamente inte­
ressados, e também é óbvio que o crescimento da igreja
local é a questão mais enfatizada deste livro. Mas eu não
poderia sentir que este livro estã completo se não incluísse
pelo menos um capítulo acerca do vasto número de pesso­
as, fora do alcance normal do programa evangelístico das
igrejas locais. O dom espiritual que mais diretamente tem
ligação com isso é o dom do missionário.

Tipos de Crescimento Eclesiástico


A teoria do crescimento da igreja local discerne qua­
tro tipos de crescimento: O crescimento interno é o desen­
volvimento espiritual dos crentes que Já são membros do
Corpo de Cristo. Por meio desse desenvolvimento, os cren­
tes aprendem a amar mais profundamente a Deus, a adorã-
/ 96 Descubra Seus Dons Espirituais

Lo com maior intensidade, a orar mais fervorosamente, a


testificar com maior eficácia, a cuidar de seus irmãos na fé
com mais amor, a estudar a Palavra de Deus de forma mais
inteligente, e a exibir outras graças cristãs que refletem a
maturidade cristã. O crescimento interno é a condição pré­
via de todos os outros tipos de crescimento, porquanto os
crentes maduros são os instrumentos que Deus usa para
ganhar outras pessoas para Cristo, trazendo-as para o seio
da comunhão dos crentes.
O crescimento por expansão ê o desenvolvimento de
uma congregação local quanto ao número de seus membros.
Jã tivemos ocasião de dizer que esse é o principal interesse
da maior parte dos pastores.
O crescimento por extensão é o desenvolvimento que
se dá mediante a implantação de novas igrejas. Infelizmen-
te, o crescimento por extensão tem sido uma das mais ne­
gligenciadas ãreas do evangelismo eficaz na América do
Norte. Em comparação com o crescimento por expansão, o
crescimento por extensão é uma maneira muito mais efici­
ente e rentável para evangelizar aqueles que não são mem­
bros de igreja, mesmo em um país “cristão” como são os
Estados Unidos da América do Norte. Não hã qualquer
dúvida em minha mente de que com o simples lançamento
de um programa agressivo de implantação de novas igre­
jas, qualquer denominação evangéliea dos Estados Unidos
poderia reverter a tendência declinante no número de mem­
bros, a qual tem atacado a muitas delas.
O crescimento transplantado também ê um crescimen­
to que se dá mediante a implantação de novas igrejas, com
a única diferença que essas igrejas são implantadas em
alguma outra cultura. O crescimento por extensão consiste
na implantação de novas igrejas entre “nossa própria gen­
te”. Mas o crescimento por transplantação consiste em im­
plantar novas igrejas entre outro tipo de pessoas, que ra­
zoavelmente não se poderia esperar que viessem a ser atra­
ídas para a comunhão de nossa igreja, ou que simples­
mente preferem adorar a Deus de maneiras diferentes da­
quilo que costumamos fazer. O crescimento por transplan-
7 Compreendendo o Dom de Missionário / 97

tação;
a) é a prioridade número um para quem quiser
completar a tarefa da evangelização do mundo.
b) depende unicamente do dom do missionário.
Porém, antes de entrarmos nesse terreno, há mais
um conjunto de conceitos que precisamos esclarecer.
Nem todo evangelismo é idêntico. No capítulo anteri­
or pudemos mencionar tanto o dom do evangelismo quan­
to as variações existentes dentro das quais esse dom pode
ser exercido. Eis algumas outras variações que podem põr
em foco o aspecto cultural:
E vangelism o E-1. Esse tipo de evan gelism o é
monocultural. Esse é o termo abreviado que se refere a
conquistar para Cristo aqueles que pertencem à nossa prõ-
piia cultura, supondo que se sentiráo á vontade em nosso
prõprio tipo de igreja local. Inclui tanto o crescimento por
expansáo como o crescimento por extensáo.
E vangelism o E-2 e E-3. Am bos esses tipos de
evangelismo são interculturais. Na verdade, são subdivi­
sões do evangelismo por transplantação. O evangelismo E-
2 é a evangelização que se processa em culturas diferentes
da cultura do evangelista, embora apenas levemente dife­
rentes. Jã o evangelismo E-3 é aquele que ocorre em cultu­
ras muito diferentes. Notemos que as distâncias geográfi­
cas nada têm a ver com isso. Pessoas distanciadas cultu­
ralmente, às vezes, se encontram em uma mesma cidade.
Evangelismo E-0. Para completar o quadro, esse tipo
de evangelismo significa conquistar pessoas para Cristo,
as quais jã são membros de igreja. Algumas igrejas da
América do Norte contam com grandes números de mem­
bros que não nasceram do alto e nem vivem dedicados a
Cristo, pessoas essas que, é óbvio, precisam ser evan-
gelizadas.

Os “Povos Não-Alcançãdos”
Este é um livro que versa sobre o desenvolvimento da
igreja. A maior parte de seu conteúdo trata do crescimento
por expansão através do uso dos dons espirituais (E-1).
/ 98 Descubra Seus Dons Espirituais

Este capítulo, no entanto, ventila o crescimento por trans­


plantação (E-2 e E-3). Dessa forma, dirige-se ao desafio do
“povos não-alcançados,” ou seja, aqueles muitos milhões
de pessoas, espalhadas por todo o mundo, que ainda não
ouviu falar de Jesus Cristo, e que precisam de alguém, vin­
do de fora de sua própria cultura, para apresentar-lhes as
boas-novas. Este capítulo também enfoca os vastos núme­
ros de etnias que vivem na América do Norte que, em mui­
tos casos, precisam de um testemunho tipo E-2 ou E-3 por
parte da maioria das igrejas anglo-americanas.
Os crentes interessados no cumprimento total da
Grande Comissão precisam ver o quadro por inteiro. Nin­
guém fez uma pesquisa mais coerente e completa, sobre
essa questão, do que Ralph Winter, do U. S. Center For
World Mission. Ele usou a palavra no Congresso Internaci­
onal sobre Evangelização Mundial, em Lausanne, na Suí­
ça, em 1974, sobre o assunto que intitulou “A Prioridade
Máxima: Evangelismo Intercultural”,* chamando a aten­
ção do mundo para essa tremenda necessidade. Seu cen­
tro, apesar de admitir a necessidade do evangelismo dos
tipos E-0 e E-1, ao mesmo tempo dedicou todos os seus
recursos aos tipos E-2 e E-3. Winter ensina-nos que, quanto
aos propósitos de evangelização, o mundo pode ser dividi­
do, estatisticamente, em quatro categorias:^
—^ Os crentes ativos são pessoas que realmente nasce­
ram de novo ou dedicaram-se a Cristo. Essas pessoas são
membros responsáveis das igrejas locais, as quais acredi­
tam na Bíblia e tomam a sério seu mandamento para fazer­
mos discípulos dentre todas as nações. De um total atual
de aproximadamente cinco bilhões de pessoas, no mundo,
um número calculado de duzentos e oitenta e cinco mi­
lhões são crentes ativos. (N.E.: Dados projetados para 1994/
1995).
Os crentes inativos diriam que são “cristãos”, se lhes
fosse perguntado qual a sua religião, em um recenseamen-
to de alcance mundial. Porém, a maioria desses são apenas
cristãos nominais. Não que muitos deles não sejam aceitos
por Deus dentro de Sua família, mas em qualquer caso.
7 Compreendendo o Dom de Missionário / 99

não se dedicam a compartilhar de sua fé com outras pes­


soas, em qualquer sentido. Calcula-se que eles cheguem a
cerca de um bilhão e duzentos milhões de pessoas. Se adi­
cionarmos a eles os crentes ativos, atingiremos um total
de mais de um bilhão e quinhentos milhões de pessoas.
Isso significa algo como trinta por cento da população do
mundo.
Os não-cristãos culturáimente próximos ainda não co­
nhecem a Jesus Cristo. Mas a cultura dos tais conta com
uma igreja cristã viável, podendo ser atingidos, muito pro­
vavelmente, pelo evangelismo de tipo E-1. Algumas vezes
eles se conservam bastante distantes de outros cristãos de
seu próprio tipo de pessoa, geograficamente falando, em­
bora culturalmente sejam vizinhos próximos. Seu número
aproximado é de quinhentos e oitenta milhões de pessoas.
Os não-cristãos culturalmente distantes são pessoas
que fazem parte de uma cultura onde o cristianismo ainda
não penetrou seriamente. Esses são os “povos não-alcan-
çados”. A única maneira de serem atingidos é por meio do
evangelismo intfercultural do tipo E-2 ou E-3. O que hã de
mais surpreendente a respeito deles não é tanto que eles
estão ali, mas que existam tantos deles. Uma espantosa
cifra de mais de dois bilhões e quatrocentos milhões de
habitantes do mundo pertencem aos “povos não-alcança-
dos”. Essa cifra significa cinqúenta e nove por cento da
população mundial. Hã muito mais pessoas nos povos não-
alcançados do que há crentes. Não admira que esses sejam
considerados a prioridade máxima do evangelismo.
O mais difícil tipo de evangelismo é o E-3. E, em se­
gundo lugar, quanto ã dificuldade, é o tipo E-2. O cresci­
mento por extensão (E-1), que consiste em iniciar novas
igrejas dentro de uma mesma cultura, ocupa o terceiro lu­
gar quemto ao grau de dificuldade, e o evangelismo por ex­
pansão (E-1) é a forma mais fácil de evangelismo. Esse é o
motivo pelo qual, a menos que se faça disso um ponto todo
especial, o evangelismo tipo E-1 continuará ocupando o
primeiro lugar, ao passo que os tipos E-2 e E-3 do
evangelismo continuarão ocupando posições bem secun-
200 D escubra Seus D o n s Espirituais

dárias na agenda.
O maior desafio para o evangelismo transcultural, é,
aquilo que usualmente pensamos acerca dos campos mis­
sionários no estrangeiro. As massas dos povos não-alcan-
çados encontram-se entre os chineses, os indianos e os
islamitas, nessa ordem. (N.E.: A conhecida janela 10/40).
Mas isso não nos deveria cegar para a obra evangelística
tipo E-2 e E-3, aqui mesmo, nos Estados Unidos da Améri­
ca do Norte ou no Brasil.

“A Cegueira Quanto aos Povos” e a Sua Cura


Muitos crentes tendem a não reconhecer os "povos
não alcançados" por causa da cegueira quanto aos povos e
sociedades no mundo. Trata-se de uma "doença" que im­
pede os crentes de verem grupos de pessoas ao redor de
nós, que são incapazes de ouvir a mensagem cristã ou de
corresponder ã maneira que pretendemos expressã-la.
Aqueles que foram afetados por essa "doença" pensam que
sua igreja é boa o bastante para todos, ejque suas portas
estão abertas para todos. Se algumas pessoas não gostam
daquilo que ali encontram, isso é problema delas, e não
nosso. Esses crentes sentem que todos os crentes deverí­
am falar da mesma maneira, adorar da mesma maneira,
desfrutar do mesmo tipo de música, iniciar seus cultos no
mesmo horário, com a mesma duração, formando amiza­
des íntimas com pessoas provenientes de muitos tipos de
grupos diferentes.
A realidade é que as igrejas não crescem sempre da
mesma maneira. No decorrer da história, normalmente as
igrejas cristãs têm crescido entre apenas um tipo de gente,
através do evangelismo da categoria E-1. A vida congre-
gacional parece atrativa para os incrédulos, quando vêem
as pessoas dessas congregações, que porventura conhe­
cem, e com as quais podem sentir-se ã vontade. Mas se
não puderem sentir-se bem entre eles, seria melhor tentar
conquistã-los por melo do evangelismo de tipo E-2 o E-3.
Isso significa iniciar novas igrejas que, desde o começo,
sejam o tipo de igrejas que se pareçam com as igreja deles,
7 Compreendendo o Dom de Missionário 201

e não com as nossas igrejas. Todos os missionários no es­


trangeiro conhecem esse principio de crescimento eclesi­
ástico; mas alguns crentes norte-americanos acham mais
difícil aplicar esse princípio ao seu próprio país. Sofrem de
uma cegueira quanto as sociedades, apenas em parte, em
resultado de seu embaraço por causa do racismo, da dis­
criminação e das injustiças sociais que têm sido perpetra­
das na América do Norte pelos anglo-americanos que for­
mam a maioria dominante.
Durante toda a nossa história, as etnias da América
do Norte têm servido de causa para tanto embaraço, que
nós, os anglo-americanos, temos tentado resolver o pro­
blema por meio de assimilação. Sob o “slogan” de um
“cadinho de misturar”, a idéia geral tem sido que as melho­
res etnias são aquelas que melhor se conformam com a
nossa própria cultura anglo-americana. “América, ame-a
ou deixe-a” tem sido um outro “slogan” que procura fazer
pessoas se tomarem auto-conscientes, se elas falam espa­
nhol, ou inglês com sotaque de negro, ou com um sotaque
estrangeiro qu*alquer. Na América do Norte, não ser anglo é
considerado uma “desvantagem cultural”. Queremos que
todos eles sejam cópias exatas de nós mesmos. E sentimos
que uma maneira de apressar esse processo é fazê-los vi­
rem para as nossas igrejas. Encorajá-los a terem suas pró­
prias igrejas é algo inconcebível para uma pessoa com ce­
gueira qucinto aos povos, o que perpetua a teoria do “cadinho
de misturar” ou "liquidificador cultural" (melting pot).
Afortunadamente para o evangelismo e para o cresci­
mento da igreja, o modelo de assimilação para compreen­
der a sociedade norte-americana está cedendo lugar dian­
te de um conceito de mente mais aberta, desde que o movi­
mento de direitos civis, da década de 1960, nos ensinou
que “negro é bonito”. Em resultado disso, os tipos de
evangelismo E-2 e E-3, se estão tornando um desafio mui­
to mais aceitável para os crentes norte-americanos.^
A primeira denominação, de primeira linha a compre­
ender isso e a concentrar a sua atenção sobre os princípios
do evangelismo tipo E-2 e E-3, foi a dos batistas do sul. A
202 Descubra Seus Dons Espirituais

sua junta missionária de Atlanta, particularmente sob a


liderança de Wendell Belew, diretor da Divisão de Missões
Ministeriais, e Oscar Romo, diretor do Departamento de
Línguas Estrangeiras, que se especializou em evangelismo
intercultural, tem dado o exemplo. Atualmente, os batistas
do sul provavelmente acham-se de cinco a dez anos à fren­
te da maioria das outras denominações quanto à percep­
ção da verdadeira necessidade dos norte-americanos, que
é de não se fecharem em sua própria cultura, implantando
entre eles algo diferente das igrejas anglo-americanas dos
batistas do sul.
Os resultados obtidos por eles são fenomenais. Já
existem mais de duas mil igrejas batistas do sul, entre trinta
e cinco diferentes grupos étnicos da América do Norte, sem
contarmos muitos dos sub-grupos, como as diferentes tri­
bos indígenas. A maior igreja batista do sul na Califórnia,
por exemplo, opera entre os chineses. E a maior delas, da
Nova Inglaterra, opera entre os haitianos que falam o fran­
cês, e a segunda delas trabalha entre os árabes. Há mais
congregações árabes dos batistas do sul (^ue se reúnem
nos Estados Unidos, do que em todos os países árabes reu­
nidos. Se todas as congregações de fala espanhola dos ba­
tistas do sul, nos Estados Unidos da América, formassem
uma única convenção, ela seria maior do que qualquer outra
convenção de língua espanhola do mundo. Há um maior
número de congregações vietnamitas dos batistas do sul,
na América do Norte, do que no Vietnam, quando o mesmo
caiu diante dos comunistas, em 1974. Desde janeiro de
1971, a cada mês do ano tem sido organizada uma nova
igreja batista do sul entre os coreanos. Cada mês testemu­
nha, agora, duas novas congregações entre os chineses,
como também duas novas congregações entre os laocianos.
Oscar Romo afirma que todas as igrejas, gostemos
disso ou não, são agrupamentos culturais, étnicos ou de
sub-culturas. Ele costuma filosofar como segue: “Nossa
tarefa é evangelizar, e não assimilar. As pessoas freqüen-
tam as igrejas porque querem fazê-lo. Se não quiserem,
elas não as freqüentarão. Todas as pessoas vão aonde se
7 Compreendendo o Dom de Missionário 203

sentem bem”."^
Reconhecendo a necessidade de sensibilidade
intercultural entre os crentes, ele prossegue: “Para atingir­
mos as pessoas, devemos tomar consciência das unidades
culturais e das diferenças culturais. Deve haver espaço para
que o evangelho penetre em um dado grupo, sem alterar,
necessariamente, o pano-de-fundo daquele grupo. Isso al­
tera o seu senso de valores, mas, mesmo assim continua­
mos mexendo com sub-culturas”.®
Os batistas do sul exibem a cura para a “cegueira
quanto a povos”. Eles reconhecem, franca e honestamente,
que as culturas dos muitos povos têm a sua própria inte­
gridade, e que a comunicação do evangelho não requer que
sejam violadas essas importantes características humanas.
Essa é a principal razão pela qual os batistas do sul estão
tão adiantados de outras denominações evangêUcas de fun­
do anglo-americano, em seus esforços evangelísticos tão
eficazes entre os não-anglos dos Estados Unidos da Améri­
ca. Outras denominações que sentem que também deverí­
am ministrar a gmpos de minoria precisarão aprender como
se pratica o evangelismo dos tipos E-2 e E-3. Muitos sen-
tem-se atualmente frustrados, porque estão tentando
evangelizar transculturalmente usando métodos que per­
tencem ao tipo de evangelismo E-1. Seria mais fácil para os
tais tentarem nadar vestidos em alguma pesada armadura
medieval.

Como o Eveingelho Se Propaga


Os mais importantes incidentes relativos ã propaga­
ção do evangelho, nas páginas do Novo Testamento, após a
ascenção de Jesus, foram:
a. o salto dos judeus hebreus para os judeus helenistas
(ver Atos 2);
b. o salto dos judeus para os samarítanos (ver Atos 8):
c. o salto dos judeus para os gentios (ver Atos 11).
Todos esses incidentes envolvem situações transcul-
turais de evangelização do tipo E-2 e E-3.
Isso continua acontecendo até hoje. Os mais signifi­
204 Descubra Seus Dons Espirituais

cativos eventos da evangelização mundial ocorrem quando


o evangelho lança raízes permanentes em algum nova cul­
tura, entre algum dos povos não-alcançados.
Devo reiterar que a maioria dos indivíduos, talvez
noventa e oito por cento deles, é ganha através do
evangelismo do tipo E-1, por parte de sua própria gente.
Embora ainda não disponhamos de estatísticas exatas que
consubstanciem esses números, é razoavelmente exato que
possamos dizer, categoricamente, que a conquista dos dois
por cento que precisam ser conquistados pelo evangelismo
dos tipos E-2 e E-3 constitui o mais importante desafio da
evangelização mundial em nossos próprios dias. Isso asse­
melha-se ãs missões enviadas pela NASA, a fim de explorar
a superfície de Marte. As naves que pousarem na superfí­
cie daquele planeta transmitirão imagens televisionadas e
analisarão exemplos do solo, farão a maior parte do traba­
lho científico. Mas essas naves só chegarão ali por causa
dos foguetes de lançamento, que as projetarão no espaço.
Depois que os sistemas de lançamento cumprirem o seu
papel, então desaparecerão. O evangelisfno E-2 e E-3 é,
para a evangelização do mundo, aquilo que um foguete de
lançamento é para uma nave. Uma vez terminado o seu
papel, o evangelismo de tipo E -1 tem lugar, e o processo
evangelístico prossegue, sem muita necessidade dos mis­
sionários. Uma vez mais, pessoas estarão sendo atingidas
pelo evangelho.
O evangelismo transcultural não é nenhuma inven­
ção moderna. Nem mesmo começou com Guilherme Carey,
embora o evangelismo de tipos E-2 e E-3 nunca fora tão
potente como quando Guilherme Carey iniciou o moderno
movimento missionário, faz agora mais de duzentos anos.
Assim o evangelho tem sido propagado desde o dia de Pen-
tecostes. Foi por esse intermédio que a maioria de nossos
antepassados ouviu e recebeu originalmente o evangelho.
Visto que ainda restam cerca de três bilhões e quatrocen­
tos milhões de pessoas, pertencentes aos povos não-alcan-
çados, em nosso planeta Terra, o evangelismo transcultural
continua sendo a maior prioridade do Corpo de Cristo, se o
7 Compreendendo o Dom de Missionário 205

mandamento de Cristo de “fazermos discípulos de todas as


nações [povos]” tiver de ser levado a sério.
Um dos mais importantes e encorajadores fenômenos
do cristianismo contemporâneo é o despertamento das igre­
jas do Terceiro Mundo para a sua responsabilidade quanto
aos tipos de evangelismo E-2 e E-3. Até bem recentemente,
a maior peirte do trabalho de evangelismo transcultural tem
sido efetuado por igrejas norte-americanas e européias. A
maioria dos missionários continua sendo da raça branca,
embora esteja crescendo rapidamente o número de missio­
nários das raças vermelha, negra, amarela e parda.® Se essa
tendência continuar, o que sem dúvida acontecerá, mais e
mais dos povos não-alcançados do mundo serão alcança­
dos em nossa própria geração.

Dom 25: Missionário


O sucesso da evangelização de tipo E-2 e E-3, impor­
tante para atingir os cerca de trés bilhões e milhões de
pessoas não-alcançadas do mundo, depende exclusivamen­
te do dom espiritual de missionário. Esse é um dom oculto
para povos ocultos. Digo dom oculto porque dificilmente
algum livro sobre dons espirituais discute o mesmo ou, ao
menos, reconhece a sua existência. Um motivo disso pode­
ría ser que esse dom não é explicitamente descrito como
um dom espiritual na Bíblia, conforme sucede à maioria
dos outros dons, embora apareça em uma passagem bíbli­
ca que é bastante clara, uma vez que seja explicada.
O dom do missionário é aquela capacidade especial
que Deus dá a alguns membros do Corpo de Cristo para
ministrarem, em uma segunda cultura, quaisquer outros
dons espirituais que tenham recebido.
A maioria dos crentes, à semelhança da maioria dos
seres humanos, compõe-se de pessoas monoculturais.
Nascem, são criados e morrem entre apenas um tipo de
cultura. Essa cultura capacita-os a interagir e se compor­
tarem como outras pessoas, compreendendo-as, sem qual­
quer treinamento especial além do processo de socializa­
ção, pelo qual todos passamos, quando ainda somos pe-
206 Descubra Seus Dons Espirituais

quenos. Naturalmente, vez ou outra, poderão entrar em


contato com outras culturas. Talvez viajem ao estrangeiro
e assim poderão apreciar pessoas de outras formações cul­
turais. Podem viver em alguma cidade da América do Norte
onde a moradia, as escolas e os empregos são integrados, e
onde o contato com pessoas de outras culturas faz parte
da vida diãria. Talvez até tenham amigos chegados entre
pessoas de alguma outra cultura. Talvez cheguem ao pon­
to de aprender algum idioma estrangeiro. Mas apesar de
tudo isso, a maioria das pessoas continua sendo mono-
cultural.
Ora, as pessoas dotados do dom do missionário não
apenas gostam de entrar em contato com outras culturas,
mas também passam por um segundo processo de sociali­
zação chamado “aculturação”. Gostam do desfio de viver
em outra cultura, ao mesmo tempo em que cortam os laços
com sua primeira cultura, e isso durante um longo perío­
do. Quando isso sucede, as pessoas recebem um “cheque
cultural”, mas do qual podem recuperar-se rapidamente.
Talvez sejam atacados pela “vingança de Montezuma”, mas
logo ficam imunes aos novos insetos e aos alimentos e be­
bidas do outro povo. Os dotados do dom do missionário
aprendem um idioma mais rapidamente do que aqueles
que não possuem esse dom. Rapidamente aprendem pala­
vras próprias da gíria popular, tons de voz e a linguagem
corporal que não é descrita nos manuais de gramática.
Sentem-se ã vontade entre pessoas de uma segunda cultu­
ra. E, acima de tudo, acabam por ser aceitos pelos outros
como “um dos nossos”.
Apesar do contato intercultural ser enriquecedor para
qualquer pessoa. Deus não espera que cada crente se iden­
tifique com uma segunda cultura. O Senhor confere o dom
do missionário somente para algumas pessoas. Quantas?
Não sei dizê-lo. No passado, cheguei a falar em cinco por
cento; mas agora essa proporção me parece um pouco alta
demais. Nos Estados Unidos, dentre cerca de cinquenta
milhões de crentes ativos adultos, mais ou menos quaren­
ta mil estão servindo como missionários. Isso é menos de
7 Compreendendo o Dom de Missionário 207

um por cento! Tcdvez a proporção ideal não seja tão eleva­


da quanto cinco por cento, mas mesmo assim deve haver
milhares de crentes, na América do Norte, aos quais Deus
deu o dom do missionário, que ainda não o descobriram e
nem o estão usando. Havendo cerca de três bilhões e qua­
trocentos milhões de pessoas dos povos não-alcançados
no mundo e massas de etnias não-evangelizadas, certa­
mente duplicar ou triplicar o número de missionários não
seria um alvo exagerado.

Projetando o Dom do Missionário


O dom do missionário é outro daqueles dons que com
freqüência é projetado. De vez em quando ouço algum pre­
gador entusiasta dizer: “Todo crente é um missionário!” A
doutrina dos dons espirituais diz-nos que essa é uma de­
claração ridicula. Na maioria dos casos, contudo, não pen­
so que esses pregadores estejam aludindo ao evangelismo
especializado dos tipos E-2 e E-3. E talvez nunca se deram
conta que existe tal coisa como o dom do missionário. O
que mais provavelmente estão querendo dizer é que “Todo
crente é uma testemunha cristã!” E com isso concordo
plenamente. Evangelizar é uma função cristã.
De certo modo é contraprodutivo encorajar qualquer
um para apresentar-se voluntariamente como missionário
em alguma outra cultura. Triste é dizê-lo que há missioná­
rios que estão no campo há trinta anos, mas que nunca
receberam o dom do missionário, para começar. Tanto sua
igreja enviadora como o campo missionário estariam em
melhor situação se eles tivessem permanecido em casa. O
campo missionário assemelha-se um tanto aos fuzileiros
navais: Deus precisa de alguns poucos homens e mulhe­
res escolhidos (espiritualmente dotados). Se existe algum
lugar, na obra de Deus, que requer um elevado grau de
aptidão, treinamento e competência, essa posição é a do
missionário que trabalha a fim de conquistar algum povo
não-alcançado para Cristo. Não acredito que seja útil fazer
um apelo em alguma conferência missionária: “Você deve
ir ao campo missionário, a menos que Deus lhe chame para
208 Descubra Seus Dons Espirituais

ficar em casa!” É melhor enfocar o apelo para que os cren­


tes procurem descobrir os seus dons espirituais.
Algumas vezes, o dom do missionário é confundido
com o dom do evangelista. Deve ser evidente, porém, que
alguns evangelistas são dotados do dom de missionário,
mas outros não. Aqueles que possuem o dom de missioná­
rio deveríam evangelizar em outra cultura (além de sua
própria); mas aqueles que não o possuem deveríam con­
centrar sua atenção sobre um ministério monocultural.
Esses mostrar-se-ão eficazes no evangelismo tipo E -1, mas
não no evangelismo mais complicado dos tipos E-2 e E-3.
Uma outra grande área de confusão, e que se mani­
festa, à miúde, surge entre o dom do missionário e o dom
do apóstolo. Antes de contrastarmos os dois, vamos exa­
minar primeiramente o dom do apostolado.

Dom 16: Apostolado


Embora eu defenda fortemente a Bíblia Viva, lamento
que com freqüência ela traduza o termo ^rego apostolos
(apóstolo) como “missionário”. Isso tende a obscurecer a
importante distinção entre o dom do missionário e o dom
do apóstolo.
As evidências bíblicas dão forte apoio ã idéia da con­
tinuidade do dom apostólico. Os doze apóstolos originais
ocuparam uma posição ímpar na história cristã, e serão
lembrados para sempre na Nova Jeruscdém (ver Ap 21.14);
mas eles não foram os únicos a receber o apostolado. O
capítulo quinze de 1 Coríntios menciona que após a Sua
ressurreição, Jesus apareceu “aos doze” e então a “todos
os apóstolos” (1 Co 15.5,7), o que indica que mesmo no
tempo dos doze apóstolos havia outros apóstolos além de­
les. Outrossim, as advertências contra os “falsos apósto­
los” seriam um contra-senso se o apostolado estivesse li­
mitado aos doze (ver 2 Co 11.13; Ap 2.2).
E vários desses apóstolos, além dos doze, são menci­
onados por nome como apóstolos. Esses incluem Matias
(At 1.26), Paulo (Rm 1.1), Bamabé (At 14.14), Andrònico e
Júnias (Rm 16.7), Timóteo e Silas (1 Ts 2.6). Através dos
7 Compreendendo o Dom de Missionário 209

séculos, e até hoje, muitos dos servos espiritualmente do­


tados de Deus tem sido e são apóstolos verdadeiros.
O dom do apóstolo é a capacidade especial que Deus
dá a certos membros do Corpo de Cristo que os capacita a
assumir e exercer uma liderança geral sobre certo número
de igrejas, com uma extraordinária autoridade quanto ás
questões espirituais que é espontaneamente reconhecida e
apreciada por aquelas igrejas.
Um apóstolo é um crente que Deus tem dado especi­
almente para os pastores e os líderes eclesiásticos. Estes
podem apelar a um apóstolo quanto a conselhos e ajuda.
Ele é um pacificador, um resolvedor de pendências e um
solucionador de problemas. Ele pode fazer exigências que
podem soar autocrátieas, mas que são alegremente aceitas
pelo povo evangélico, por reconhecerem a veracidade de
seu dom e a autoridade que o mesmo envolve. Um apóstolo
vê as coisas com uma visão panorâmica, e não restrita aos
problemas de apenas uma igreja local.
Hoje em dia hã muitos títulos dados ãqueles que re­
cebem responsabilidade sobre um certo número de igrejas.
Dependendo da denominação, esses são chamados bispos,
superintendentes distritais, supervisores, moderadores,
ministros de conferências, presidentes, secretários execu­
tivos, entre outros. Todos esses foram selecionados porque
seu dom espiritual apostólico foi reconhecido pelo Corpo
como um todo. Não é segredo, porém, que muitos, ou mes­
mo a maioria deles, são elevados ã posição que ocupam
com base em idade avançada, prestígio, personalidade ou
política. Isso logo toma-se evidente pelo tipo de liderança
que eles assumem. Tomando por empréstimo os termos
sociológicos, esses líderes podem ser divididos em dois ti­
pos de liderança:
Liderança racional-legál. A autoridade deles deriva-se
da posição que ocupam, e não de seus dons pessoais. São
obedecidos, ãs vezes sob protesto, por causa do oficio que
representam. No mais das vezes são queixosos, amargura­
dos, irascíveis, pessimistas e frustrados. São facilmente
ameaçados pelos percalços da liderança.
210 Descubra Seus Dons Espirituais

Liderança carismática. A autoridade desses deriva-se


de um dom proporcionado por Deus. Outros crentes obe-
decem-lhes porque querem fazê-lo, tendo grande confian­
ça nos conselhos deles. A liderança deles não depende de
algum ofício, embora ocupem algum oficio importante. Usu­
almente são crentes descontraídos, que não se sentem
aiiieaçados, otimistas, de trato agradável. Creio que esses
são os líderes apostólicos levantados por Deus.
Francamente, espero que esta discussão farã pelo
menos alguns líderes por ofício reexaminarem-se e resig­
narem. O prestígio e o status dessas posições eclesiásticas
não compensam a frustração pessoal de tentar ministrar
sem um dom espiritual, mesmo porque a atuação desses
irmãos é muito prejudicial para o Corpo de Cristo. Sempre
será melhor o crente pensar com moderação sobre si mes­
mo (Rm 12.3). E as vagas deixadas por tais resignações
deveriam ser preenchidas somente por pessoas cujo dom
apostólico seja bem reconhecido.
Uma das maneiras pelas quais o dom ppostólico é mais
facilmente reconhecido é que o apóstolo é alguém que ini­
cia novas igrejas. Isso acontece em muitos casos, a come­
çar pelo apóstolo Paulo. Ele combinava o dom do evan­
gelista (da variedade em plantar Igrejas) com o dom apos­
tólico. O dom do apostolado geralmente é um dom htfenado,
ou seja, combinado com algum outro dom ministerial.

Apóstolos Contemporâneos
O pastor Chuck Smith, da Calvaiy Chapei, em Costa
Mesa, Estado da Califórnia, é um exemplo de apóstolo con­
temporâneo. Ele é o pastor-presidente da Calvary Chapei,
a igreja-mãe que ele fundou (para todos os intuitos e pro­
pósitos) durante o movimento do Povo de Jesus, nos fins
da década de 1960. Essa igreja local ministra a mais de
vinte e cinco mil pessoas a cada semana, e está crescendo
a uma taxa de cerca de quatro mil por cento a cada década
— provavelmente a maior igreja e de mais rápido cresci­
mento na América do Norte.
Não somente Chuck Smith é o pastor da igreja-mãe.
7 Compreendendo O Dom de Missionário 2 1 !

mas a sua liderança também tem encorajado pelo menos


oitenta outras igrejas Calvary Chapei a serem implantadas
por toda a nação norte-americana. A maioria delas acha-se
na parte sul do Estado da Califórnia, mas algumas delas
estão na Pennsylvania, no Arkansas, no Colorado e no
Oregon. Dentro de pouco tempo, eu não ficaria surpreso se
igrejas da Calvary Chapei se encontrarem na maioria dos
cinqüenta estados norte-americanos, com um número com­
binado de membros de mais de um milhão de pessoas. Como
exemplo de crescimento eclesiástico rápido, ria América,
dificilmente a Calvary Chapei pode ser ultrapassada.
Embora ele talvez negue isso, mas esse crescimento
deve-se, substancialmente, ao dom apostólico que Deus
tem dado a Chuck Smith, tão certamente como as igrejas
da Ásia Menor, no século 1D. C., deviam sua existência ao
dom apostólico de Paulo. Chuck Smith ajusta-se ao tipo de
liderança carismática que foi sugerido acima. Um recente
artigo de jornal sobre a Calvary Chapei descreve Chuck
Smith como “hgmem de sessenta e cinco anos, um mestre
careca e ebuliente da Biblia, que irradia boa saúde, dotado
de um espírito amigável, muito animado, que atrai multi­
dões de crentes e seguidores entusiasmados”.’’ Isso, po­
rém, não representa a totalidade do quadro. Tenho sido
informado que entre seus iguais, em posições de liderança
nas várias congregações da Calvary Chapei, as palavras
“suaves” de Chuck Smith revestem-se de uma incrível au­
toridade. Quando ele diz o que sente ser a vontade de Deus,
ele fala em tom tranqüilo, uma única vez, e espera que o
ouçam. E usualmente é o que acontece.
Há outros apóstolos parecidos com ele; O falecido
pastor Manoel de Melo, em São Paulo, Brasil; Javier
Vasquez, em Santiago, Chile; David Yonggi Cho, em Seul,
Coréia; Robert Hymers, em Westwood, Califórnia. Estou
tão seguro acerca desses quatro que os menciono por es­
crito. Sem dúvida, há centenas de outros espalhados pelo
mundo, que deveríam ser reconhecidos como apóstolos. E
isso, por sua vez, nos permite esperar que outras centenas
descubram o seu dom de apostolado, vendo-o confirmado
212 Descubra Seus Dons Espirituais

no Corpo de Cristo. Se eles seguirem o exemplo dos após­


tolos contemporâneos que tenho mencionado, o resultado
será um incrível crescimento das igrejas.

O Dom de Missionário na Bíblia


Paulo não somente tinha os dons ministeriais de após­
tolo e evangelista, mas também o dom do missionário. Ele
era um obreirò transcultural e constantemente via-se en­
volvido nesse papel. O terceiro capítulo de Efésios trata do
dom do missionário. Ali Paulo fala de sua capacidade espe­
cial, como judeu, para anunciar o evangelho aos gentios.
Paulo era “. . .fariseu, filho de fariseus. . .” (At 23.6), um
hebreu “. . .instruído aos pés de Gamaliel. . .” (At 22.3).
Portanto, ele tinha herdado o legado de preconceito e des­
dém que todos os judeus tinham pelos gentios, no primei­
ro século cristão. Certo comentarista especulou que a úni­
ca barreira de preconceito no mundo atual, que ao menos
se aproxima dos sentimentos dos judeus do século I D. C.
contra os gentios, é o preconceito que os brâmanes sentem
pelos párias pobres da índia. Para que um judeu se voltas­
se tão afetuosamente para os gentios, sem dúvida foi ne­
cessário uma ajuda sobrenatural.
Paulo afirmou que sua capacidade de comunicar aos
gentios que eles seriam membros do Corpo de Cristo, em
pé de igualdade com os judeus, devia-se ao “dom da graça”
que Deus lhe conferira (ver Ef 3.7). Essa é uma clara refe­
rência a um dom espiritual que resolvi chamar de dom de
missionário, embora isso náo seja dito na própria Bíblia.
Se o dom de Paulo era a comunicação transcultural, con­
forme é indicado nessa passagem, então parece que a de­
signação “missionário” ajusta-se bem ao conceito.
Em cada uma das três narrativas da conversão de
Paulo, no livro de Atos, esse dom é mencionado. Por exem­
plo, Ananias, de Damasco, o homem que Deus usou para
falar a Paulo e restaurar sua visão após a sua experiência
na estrada de Damasco, ouviu estas palavras ditas pelo
próprio Espírito de Deus, a respeito de Paulo: “. . .este é
para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome
7 Compreendendo o Dom de Missionário 2 i3

perante os gentios. . (At 9.15). Paulo viveu de forma tão


coerente a sua chamada específica para ministrar aos gen­
tios que não somente defendeu seu ponto-de-vista no con­
cilio de Jerusalém (ver At 15), mas finalmente foi detido e
encarcerado, porque os judeus pensavam que ele chegara
a ser um traidor da causa judaica (ver At 21.28,29).
Paulo, no nono capítulo de 1 Coríntios, descreveu a
sua compreensão acerca do dom de missionãrio. Ele men­
cionou que sabia tomar-se judeu para os judeus, ou gen­
tio (“sem lei”) para os gentios. “Fiz-me tudo para com to­
dos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Co
9.22). Os obreiros transculturais bem sucedidos de hoje
em dia exibem essas mesmas qualidades. É relativamente
fácil para eles fazerem isso, porque Deus os capacita, me­
diante o dom de missionãrio.

Paulo e Pedro
Tanto Paulo quanto Pedro tinham o tom ministerial
do apostolado, e assim eram reconhecidos pelas igrejas.
Mas Paulo tamt)ém tinha o dom de missionãrio, o que já
não sucedia com Pedro. Paulo era um apóstolo transcul-
tural, ao passo que Pedro era um apóstolo monocultura!.
Pedro, é verdade, tinha alguma experiência transcultural.
Ele foi escolhido para apresentar o evangelho aos gentios,
na casa de Comélio, e isso foi uma experiência extrema­
mente difícil pcira ele. Mais tarde, visitou as igrejas gentílicas
em Antioquia; mas quando se viu em situação embaraço­
sa, Pedro recusou-se a comer com crentes gentios, e isso
deixou furioso a seu amigo Paulo. E Paulo precisou relatar,
na sua epístola aos Gálatas, como ele resistiu a Pedro na
face, em Antioquia (G1 2.11); e, de uma vez por todas ele
esclareceu que era enviado ã incircuncisão (os gentios),
enquanto Pedro era apóstolo da circuncisão (os judeus) (ver
G1 2.7,8). Pedro tinha dificuldade em situações transcul­
turais, principalmente porque ele não tinha o mesmo dom
que fora dado a Paulo.
Não somente Pedro, mas também Tiago e João reco­
nheceram que eles eram apóstolos que não tinham sido
214 Descubra Seus Dons Espirituais

dotados do dom de missionário. Isso é descrito em Gálatas


2.9, onde Tiago, Pedro e João reconheceram que Paulo ti­
nha recebido uma “graça” especial (a raiz da palavra
charisma, aqui usada); e assim sendo, Paulo e Bamabé
deveriam trabalhar entre os gentios, em um trabalho
transcultural, enquanto os outros três permaneceríam no
trabalho monocultural, entre os judeus.
Talvez alguns não gostem dessa expressão, “dom do
missionário”. Para mim, porém, pouco importa como essa
função espiritual seja chamada. Sem importar como cha­
memos esse dom, precisamos de um exército crescente de
homens e mulheres que tenham quaisquer dons espiritu­
ais necessários para alcançar os três bilhões e quatrocen­
tos milhões de pessoas dos povos não-alcançados que exis­
tem em nossa prõpria geração. Essa é a minha maior pre­
ocupação, e acredito que isso está em sintonia com a von­
tade do próprio Deus.

O Papel do “Cristão do Mundo”


Se somente alguns poucos têm o donl de missionário,
e, assim sendo, espera-se que eles ministrem o evangelho
em uma segunda cultura, todos os crentes têm o papel de
dar apoio ao programa divino de fazer “discípulos de todas
as nações” (ver Mt 28.19), de todas as maneiras possíveis.
Gosto do termo que está sendo agora usado para designar
pessoas que, de uma maneira ou de outra têm sido infor­
madas sobre a causa das missões mundiais e que estão
participando de qualquer maneira que possam fazê-lo. O
exercício do papel que esses crentes desempenham está
acima da média. São chamados de “cristãos do mundo”.
Os cristãos do mundo podem possuir uma variedade de
outros dons espirituais, mas decidiram usar seus dons de
uma maneira que fomenta especificamente a causa da
evangelização dos povos não-alcançados.
Donald Hamilton, por exemplo, recebeu o dom da
administração. Ele sabe como planejar, como dirigir sua­
vemente um escritório, como gerenciar funcionários, como
relacionar-se bem com outras pessoas, como promover o
7 Compreendendo o Dom de Missionário 215

seu “produto”. Durante anos, ele exibiu isso como um ta­


lento natural, a frente da empresa Xerox. Mas ele também
sabia que sua capacidade administrativa também era um
dom espiritual. E, assim sendo, ele declinou da sua posi­
ção na Xerox, e mais tarde tomou-se o fundador e diretor
da Associação de Conselhos Missionários Cristãos (ACMC).
E ele é um de meus modelos de cristão do mundo. Ele come,
bebe e dorme missões. Ele conhece o mundo. Ele conhece
a teoria missiológica. Ele não é um crente com o dom
transcultural de missionário, mas poucas pessoas dotados
do dom de missionário estão contribuindo para a tarefa
missionária total da igreja, conforme está fazendo Donald
Hamilton, com o seu dom de administração.
A ACMC tem emprestado um senso de dignidade e
coesão ãs comissões missionárias de mais de trezentas igre­
jas de todas as denominações. Se pudermos supor que cada
comissão inclui cerca de oito leigos, então Hamilton está
trabalhando com cerca de trés mil e quatrocentos mem­
bros de igreja, que já são "cristãos do mundo" ou que se
estão transfomfando em tais. A ACMC também permanece
em contato constante com as agências missionãrias, tanto
as denominacionais quanto as interdenominacionais. Ela
insiste que deve haver elevados padrões nos relatórios de
suas agências no tocante à seu público, em relação ã filo­
sofia missionária, normas financeiras, monitoramento de
pessoal e realização de metas.®
O treinamento para cristãos do mundo está sendo
oferecido atualmente em alto grau pelo U. S. Center For
World Mission, sob a orientação de Ralph Winter. Winter
ficou preocupado ao descobrir que a Inter-Varsity Christian
Fellowship (N.E.: ABU no Brasil) não havia desenvolvido
programas constantes para oferecer treinamento especial
no campo das missões aos milhares de estudantes colegi­
ais que tinham assinado cartões de compromisso missio­
nário, nas convenções missionárias tri-anuais da Urbana.
Em vista disso, ele estabeleceu o Instituto de Estudos In­
ternacionais, que permite que estudantes de qualquer uni­
versidade recebam cursos devidamente credenciados, ca­
216 Descubra Seus Dons Espirituais

pazes de dar-lhes um discernimento especial quanto às


missões contemporâneas. Centenas de estudantes do ní­
vel colegial já receberam esses cursos, e, por meio deles,
muitos já deram início ao processo de descobrimento se
realmente receberam o dom de missionário. Aqueles que
descobrem que náo possuem esse dom, terminam fazendo
sua contribuição vitalícia como "cristãos do mundo".®
Também foi criado um curso especial por correspon­
dência, para aqueles que gostariam de obter treinamento
que os ajudasse a se tomarem "cristãos do mundo". Alu­
nos que não podem freqüentar aulas formais. Esse curso,
intitulado "Dimensões Vitais da Evangelização Mundial",
também pode ser conseguido através do U. S. Center For
World Mission. Contribuíram para esse curso figuras como
Ralph Winter, Paul Hiebert, Arthur Glasser e eu.^°
Fazer experiências com o dom de missionário é mais
possível hoje do que nunca antes. Um número cada vez
maior da força missionária norte-americana compõe-se de
obreiros a curto prazo, que firmam contratos profissionais
somente por alguns meses ou alguns anos, por causa de
algum trabalho especializado. Se esses obreiros a curto pra­
zo fizerem isso em atitude de oração e com a expectativa
que, por meio da experiência. Deus indicará claramente se
isso é um dom e se um trabalho transcultural deve tomar-
se uma carreira, pode ser uma das mais criativas experiên­
cias da vida. A Intercristo, de Seattle, Estado de Washing­
ton, é reconhecida como uma espécie de carteira de com­
pensação para fornecer informações sobre serviços missio­
nários a curto prazo.“
Sem importar se através do dom de missionário ou se
através do papel de cristão do mundo, os recursos cris­
tãos, como nunca antes, precisam ser derramados em fa­
vor dos três bilhões e quatrocentos milhões de povos não-
alcançados do mundo. Suponho que se eu tivesse de dizer
qual é o meu desejo pessoal mais forte acerca deste livro
que trata dos dons espirituais, então eu diria que é ajudar
a m obilizar os crentes para esse aspecto crucial da
evangelização do mundo. E tenho um forte pressentimento
7 Compreendendo O Dom de Missionário 217

que esse também é o grande desejo de Deus. (N.E.: Reco­


mendamos a leitura de Os Santos Em Guerra do Pr. Ricardo
Gondim).

Notas

1. Ralph D. Winter, “The Highest PrioriLy: Cross-Cultural Evangelism," Tfic EkirÜi Hear His VofceJ. D.
Douglas, editor (Minneapolis: World Wide Publications, 1975).
2. Os informes usados neste capítulo foram extraídos de um panfleto escrito por Ralph D. Winter, “Penetratlng
The Last Frontiers" (Pasadena: U. S. Center For World Misslons, 1978). E também foram incluídos como um
capítulo no livro de Edward R. Dayton e C. Peter Wagner, editores, Unreadxed Peoples, J979 (Elgin, Illinois:
David C. Cook. 1978).
3. Quanto a uma detalhada discussão sobre isso ver C. Peter Wagner, Our Kíítd o f People (Atlanta: John
Knox Press, 1978).
4. Romo foi citado por Dan Martin, “The Church-Growth Questions,” Home Missiotis (dezembro de 1977),
pág. 19.
5. Idem.
6 Aqueles que quiserem receber mais informações sobre a maré de missões da parte de igrejas asiáticas,
africanas e latino-americanas, deveríam ler os dois livros de Marlin L. Nelson, The How cuvi Why ofThird
World Missions e Rcading in Third World Missions (Pasadena: William Carey Library, 1976).
7. George Grey, "Calvary Chapeis SprouUng Like Mushrooms Over U. S.", The Register (26 de março de
1978). pág. 1.
8. Quanto a maiores informações sobre a Association of Church Missions Committees, escreva para Donald
A. Hamilton. Executive Secretary, 1021 E. Walnut Street. Suite 202, Pasadena. Califórnia, 91106.
9. Quanto a maiores informações sobre o Institute For International Studies, escreva para Ralph D. Winter,
Presidente, U. S. Center For World Mission, 1605, E. Elizabeth Street, Pasadena. Califórnia, 91104.
10. Informações sobre o cux*so por coiTespondéncia podem ser obtidas no endereço acima.
1 1 .0 endereço da Intercristo é Box 9323, Seattle, Washington, 98109.
8

O R esto do C orpo


té este ponto, dezesete dons espirituais já foram
discutidos e definidos. Dentre eles, o dom básico
para quem quiser evangelizar o mundo de modo
mais gíobal foi identificado como o dom de missio­
nário. E o principal dom, relativo ao crescimento da igreja
local é o dom de evangelista. E o principal dom para a
saúde total da igreja local é o dom de pastor. Esses três
dons, o de pastor, o de evangelista e o de missionário são
tão significativos para o crescimento da igreja, que dedica­
mos um capítulo inteiro a cada um deles. E os outros ca­
torze dons foram ventilados conforme se relacionam àque­
les três dentre os principais, ou naquilo em que ilustram
algum princípio geral dos dons espirituais.
Neste capítulo, serão definidos e discutidos os dez dons
restantes. Preciso reafirmar que eles não são dons secun­
dários no que tange ã saúde do Corpo de Cristo, tal como
as orelhas, a língua, os pulmões ou a pele, que são órgãos
secundários para a saúde fisica em geral. No entanto, são
órgãos secundários no tocante à função reprodutora em
ambos os casos. Por conseguinte, visto que este livro con­
centra sua atenção sobre o vinculo entre os dons espiritu­
ais e o crescimento eclesiástico, esses dez dons serão dis­
220 Descubra Seus Dons Espirituais

cutidos de modo mais abreviado do que no caso de alguns


outros dons.
Outrossim, resoM agrupá-los em quatro grupos de
dons que parecem ter alguma relação uns com os outros.

Dom 9: Conhecimento
Embora os dons gêmeos da sabedoria e do conheci­
mento sejam mencionados nessa ordem, no capítulo doze
de 1 Coríntios, estou revertendo aqui a ordem de apresen­
tação, porque quero discutir sobre os mesmos em certa
seqüência. O conhecimento tem a ver com a descoberta da
verdade, ao passo que a sabedoria tem a ver com a aplica­
ção da verdade ã vida.
O dom de conhecimento ê aquela capacidade especial
que Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para que
descubram, acumulem, analisem e esclareçam informações
e idéias pertinentes ao crescimento e ao bem-estar dos mem­
bros da Igreja.
Muitas vezes tem sido salientado que o termo grego
para esse dom compõe-se de duas palavras, algumas vezes
traduzidas por “palavra de conhecimento”. Também pode­
riamos traduzi-las por “capacidade de falar com conheci­
mento”. A pessoa dotada desse dom sabe aprender. Deve-
se esperar dela que obtenha a verdade antes de outras pes­
soas, e também que origine novas idéias. Tal crente anela
por aprender, sua atenção concentra-se por muito tempo,
e é capaz de absorver e reter imensa quantidade de infor­
mações. É um erudito, sempre à vontade com pesquisas, e
com freqüência pode ser encontrado no mundo acadêmico.
A menos que tenha recebido outros dons, que contraba­
lancem o dom de conhecimento, o crente dotado do dom de
conhecimento sente pouca necessidade da companhia de
outras pessoas. Sente-se mais à vontade com idéias do que
com indivíduos. A maledicência não é uma das tentações
que atacam esse crente — de fato, a maledicência deixa-o
terrivelmente enfadado.
Algumas vezes, o dom do ensino é associado ao dom
de conhecimento. E daí resulta que o crente dotado dessa
8 O Resto do Corpo 221

combinação de dons toma-se um mestre-emdito. E esse é


precisamente o meu conjunto (mix) de dons espirituais. De
outras vezes, entretanto, o dom de mestre não é adieiona-
do ao dom de conheeimento. Os emditos puros possuem
um vasto acúmulo de conhecimento, têm a capacidade de
traçar fechadas relações entre as idéias, mostram-se ex­
cepcionais quando se trata de resolver problemas intelec­
tuais, mas têm pouca sensibilidade para com as necessi­
dades de qualquer audiência. Em sala de aula, tendem a
ser maçantes e irrelevantes, e poucas pessoas aprendem
qualquer coisa da parte deles, a menos que também sejam
emditos que operam precisamente na mesma sintonia.
Por outra parte, os mestres-emditos talvez não exi­
bem tanta eapaeidade inteleetual eomo o emdito puro, por­
quanto uma boa parte de suas energias é investida na ten­
tativa de descobrir meios paira apresentar de modo eficaz o
conhecimento que têm acumulado. Eles são dotados de
intuição aeerea do que devem incluir em uma preleção e do
que devem deixar de fora. Eles sabem quando devem fazer
uma pausa, como devem usar a linguagem corporal, como
variar o tom da voz e lançar mão de auxílios visuais de um
tipo ou de outro. E também têm um senso de quando é
oportuno ou não introduzir alguma nova idéia ou conceito.
Sabem como estimular e guiar uma discussão. E também
são dotados do senso de quanto a discussão está ajudando
a classe, e queindo a discussão se está tomando irrelevante;
e assim, cortam a discussão no momento preciso.
As pessoas dotadas do dom de conheeimento não sa­
bem explicar de onde lhes vêm as suas idéias. Quando pre­
cisam de alguma idéia, ela simplesmente vem à tona, ou
logo estará ali. Mas tais pessoas precisam de algum tempo
para que suas idéias se desenvolvam, o que talvez explique
por qual razão parecem sentir-se entravados por um nú­
mero muito grande de pessoas. Os professores de seminá­
rio costumam brincar uns com os outros, dizendo: “Este
lugar seria ótimo, se não fossem os alunos!” E essa é a
razão pela qual, eonforme já expliquei, gosto de ficar sozi­
nho em um canto, quando viajo. A dez mil metros de altu­
222 Descubra Seus Dons Espirituais

ra, as idéias parecem borbotar de minha mente em quanti­


dades prodigiosas.
Alguns crentes que receberam o dom de conhecimen­
to, que estão dando uma contribuição direta para a propa­
gação do evangelho, são tradutores da Bíblia. A Wycliffe
Bible Translators e a Lutheran Bible Translators, bem como
as vãrias sociedades bíblicas ao redor do mundo recrutam
tradutores. As muitas horas de busca paciente por pala­
vras e conceitos, em uma língua não-escrita requerem uma
incrível capacidade de concentração. Visto que possuem
tal dom, os tradutores evangélicos amam as agonias e o
isolamento que sofrem, um tipo de alegria com a qual pou­
cos outros crentes podem identificar-se pessoalmente. A
maioria dos crentes alegra-se por saber que alguém estã
introduzindo a Bíblia em centenas de remotas aldeias das
florestas; mas agradecem por serem outros os que estão
fazendo esse trabalho. E todos os crentes, juntos, louvam
a Deus por seus dons espirituais!

Dom 8: Sabedoria
Gosto da analogia de Ralph Neighbour que se vale do
modelo médico para explicar a diferença entre o dom de
conhecimento e o dom de sabedoria.^ O crente dotado do
dom de conhecimento trata as coisas espirituais como um
pesquisador-médico que obtém novos discernimentos quan­
to ã flsiologia a genética ou as vacinas. O crente dotado do
dom da sabedoria, por sua vez, é como o médico que tem a
capacidade de diagnosticar os sintomas do enfermo e apli­
car os recursos da ciência médica ãquele caso particular.
O dom da sabedoria é aquela capacidade especial que
Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para sonda­
rem a mente do Espírito Santo de modo a receberem
discernimento sobre como o conhecimento dado pode ser
melhor aplicado às necessidades específicas que vão sur­
gindo no Corpo de Cristo.
Assim, a pessoa dotada do dom da sabedoria sabe
como chegar rapidamente ao âmago de um problema. Tal
crente é dotado de uma mente prática e é um solucionador
8 O Resto do Corpo 223

de problemas. Tal crente encontra bem pouca dificuldade


para tomar decisões, porque pode predizer, com alto grau
de exatidão, qual será o resultado de suas decisões. Quan­
do uma pessoa dotada do dom da sabedoria fala, os de­
mais membros do Corpo reconhecem que a verdade foi dita,
e que foi recomendada algum correto procedimento. No caso
desse dom, a formação acadêmica não é uma condição pré­
via, de modo algum. Longas horas a desenterrar novos fa­
tos não parecem ser uma atividade atrativa para o crente
dotado do dom da sabedoria.
Um de meus bons amigos dotados do dom da sabedo­
ria é Leighton Ford. Já tive ocasião de dizer que ele possui
o dom de evangelista: mas o dom da sabedoria também faz
parte de seu conjunto de dons. Tenho observado Leighton
Ford de perto, como presidente do Comitê de Lausanne
sobre Evangelismo Mundial, particularmente na comissão
executiva, onde as decisões mais difíceis precisam ser to­
madas. A comissão executiva é um grupo heterogêneo de
indivíduos altqmente dotados, com opiniões fortes sobre
quase cada questão imaginável. Encontrei-me em meio a
uma discussão onde os pontos-de-vista eram tão divergen­
tes que parece não haver maneira de reconciliá-las.
Entretanto, Ford tem a capacidade de permanecer
acima dos demais, para não se deixar envolvido nas emo­
ções soltas da discussão; e então no momento exato, ele
surge com uma sugestão que parece soar exatamente certa
para os demais membros da comissão. O dom de sabedoria
fomece-lhe uma sensibilidade sobre o que cada pessoa está
procurando dizer, até que ponto este ou aquele está dis­
posto a transigir, e quais são as necessidades pessoais
particulares que cada pessoa envolvida tem no momento.
E seu dom é confirmado pelo sentimento, por parte de to­
dos os membros, que o ponto de vista deles foi ouvido com
justiça e considerado com eqüidade.
E o resultado é tanto a satisfação de cada indivíduo
quanto a harmonia do grupo.
Visto que passo a maior parte do meu tempo pensan­
do sobre o campo do crescimento da igreja local, continuo
224 Descubra Seus Dons Espirituais

observando como Deus distribui dons espirituais entre os


meus colegas. Parece-me que aqueles que estão funcionan­
do com sucesso como diagnosticadores e consultores de
igrejas têm o dom da sabedoria. Fico admirado dismte do
discernimento e da percepção que consultores como John
Wimber, Lyle Schaller e Carl George manifestam quando
são convidados a ajudar a resolver os problemas de cresci­
mento de alguma igreja em particular. E fico mais admira­
do porque eu mesmo já tentei encontrar soluções para ca­
sos assim, tendo descoberto que não sou muito bom quan­
to a esse mister.
Parece que me saio bem melhor quando estou desen­
volvendo novas hipóteses, com base em informações colhi­
das de livros, ou por ter estado nos campos missionários
falando com líderes eclesiásticos ou observando igrejas em
desenvolvimento. E então exponho minhas conclusões em
salas de aula, usualmente diante de ministros profissio­
nais, e eles me realimentam as idéias; e isso me faz revisar
minhas hipóteses originais, para que o resultado final seja
posto no papel. Acredito que essa é uma dàs maneiras pe­
las quais funciona o dom de conhecimento.
Mas quando chego a sentar-me com este ou aquele
reverendo que quer saber o que fazer, em sua própria con­
gregação, com todas aquelas teorias que lhe fomeci, então
sinto-me atrapalhado. Eis a razão porque fundei um De­
partamento de Crescimento da Igreja no Seminário Fuller,
e então convidei alguns elementos dotados do dom de sa­
bedoria, como John Wimber e Carl George, para unirem-se
comigo na aventura. E, conforme entendo, é assim que o
Corpo de Cristo deve funcionar.

Dons da Misericórdia, do Socorro e do Serviço


Maiores pesquisas precisam ser feitas quanto a esses
dons. Mas pelo menos superficialmente parece-me que os
dons da misericórdia, do socorro e do serviço são dons da­
dos a uma grande proporção de crentes. Mas se são muitos
os crentes que os recebem, eles não são muito visíveis. Pois
são dons que não atraem muita atenção e nem grande pu­
8 O Resto do Corpo 225

blicidade. Poucas pessoas ficam famosas por ajudarem a


outras. Para cada apóstolo ou evangelista, provavelmente
há dez crentes dotados dos dons da miserieórdia, do soeor-
ro e do serviço, e isso para manter saudável o inteiro Corpo
de Cristo.

Dom 7: Misericórdia
O dom da misericórdia é aquela capacidade especial
que Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo para que
sintam genuína empatia e compaixão pelas pessoas, tanto
crentes como incrédulas, que estejam sofrendo aflições fís i­
cas, mentais ou emocionais, e para traduzirem essa com­
paixão em atos feitos com alegria, que refletem o amor de
Cristo e aliviam o sofrimento humano.
Aqueles que receberam o dom da misericórdia ocu­
pam-se das relações com uma pessoa de cada vez. Buscam
alguém que esteja precisando de ajuda e desenvolvem um
ministério pessoal com esse alguém. Eles exibem um amor
prático e cheio de compaixão. A bondade é algo que lhes
parece muito nstural, e isso sem esperar retomo. Se o dom
da exortação ajuda as pessoas prineipalmente com pala­
vras de amor, o dom da misericórdia ajuda as pessoas prin­
eipalmente por meio de atos de amor.
Os beneficiários do dom da misericórdia são os enfer­
mos, os retardados, os prisioneiros, os cegos, os pobres, os
idosos, os deformados, os aleijados, os inválidos, os men­
talmente perturbados. Esse dom beneficia tanto a crentes
quanto a incrédulos. Envolve até mesmo dar um copo de
água, no nome de Jesus.
De todo crente espera-se que seja misericordioso. Essa
é uma função que reflete o fruto do Espírito. Mas aqueles
que receberam o dom da misericórdia fazem da compaixão
e da bondade o seu estilo de vida. E não reagem simples­
mente diante das emergências, conforme espera-se que fa­
çam todos os crentes. Mas continuamente buscam oportu­
nidades de mostrar misericórdia pelos miseráveis.
Embora eu não a tenha visitado já faz agora algum
tempo, a Primeira Igreja Batista de Hammond, Estado de
226 Descubra Seus Dons Espirituais

Indiana, tem podido mobilizar seus membros dotados do


dom de misericórdia como poucas outras igrejas têm podi­
do fazer. Na última vez em que ali estive, vi quatrocentas
pessoas do nível mental dos “retardados educáveis” que
recebiam cuidados pacientes e cheios de compaixão, os
quais estavam sendo ensinados por admiráveis santos de
Deus, cujos nomes talvez nunca cheguem a merecer man­
chetes nos jornais, como se dá no caso do pastor deles,
Jack Hyles. Também vi ônibus dotados de elevadores hi­
dráulicos que acomodavam cadeiras de rodas — um inves­
timento bastante grande que dificilmente se esperaria que
fosse doado pelos passageiros desses ônibus. E podemos
acrescentar a isso programas crescentes de ajuda aos ce­
gos e aos surdos. Eis uma das razões pelas quais aquela
igreja vem mantendo uma taxa de crescimento de mais de
quatrocentos por cento a cada década.

Dom 17: Socorros


Por pura coincidência, estou escrevendo este capítu­
lo, durante a Semana Nacional da Secretária. Estou agra­
decido por meus dons, mas reconheço plenamente que, sem
a ajuda de uma secretária, meus dons imediatamente cai-
riam para menos de cinqüenta por cento de sua eficácia. O
exercício frutífero de meus dons depende grandemente do
dom de socorros.
O dom de socorros é aquela capacidade especial que
Deus dá a alguns dos membros do Corpo de Cristo para
investir os talentos que têm na vida e no ministério de ou­
tros membros do Corpo, capacitando assim a pessoa ajuda­
da a aumentar a eficácia dos seus dons espirituais.
Raymond Ortlund descreveu, de certa vez, pessoas
dotadas do dom de socorros como “aquela gloriosa compa­
nhia dos carregadores de maca”. Ele referiu-se à pessoa
dotada desse dom como “o quarto homem com a maca” - a
maca que levou até o paralítico até Jesus, segundo se vê
em Marcos 2.1-12. Quem jamais ouviu o nome dele? Quem
já ouviu falar nos nomes de Inez Smith, ou Leola Linkous,
ou Stephanie Wills, ou Marge Kelley, ou Irma Griswold?
8 O Resto do Corpo 227

Todas elas exerceram o dom de socorros como secretárias


ou auxiliares de administração. Os nomes das pessoas a
quem elas socorrem, entretanto, têm-se tomado nomes co­
nhecidos nos lares dos crentes, por meio dos dons espiri­
tuais que suas secretárias tomam mais eficazes e atuan­
tes. As mulheres acima mencionadas investiram suas vi­
das para ajudar a David Hubbard, Leighton Ford, Billy
Graham, Robert Schuller e Bill Bright, respectivamente.
À semelhança do dom da misericórdia, o dom de so­
corros usualmente opera entre duas pessoas. Mas diferen­
te do dom da misericórdia, as pessoas beneficiadas não
são os desprotegidos da sorte, e, sim, crentes que estão
exercendo seus dons.
Duas variedades do dom de socorros me deixam pro­
fundamente impressionado. Um deles é o caso dos edito­
res. Jã descobri que sou um editor terrível. Odeio traba­
lhar em cima do material escrito de outras pessoas. Os
estudantes que se estão formando e que me escolhem como
mentor, sabem que têm que depender principalmente de­
les mesmos qiíanto ãs suas teses e dissertaçóes. Mas hã
outros professores que parecem possuir o dom de socorro,
e são capazes de passar horas editando e reescrevendo para
os estudantes. Livros como este são muito aprimorados
entre o manuscrito original e a página impressa, pelo tra­
balho dos editores, a quem os publicadores solicitam para
polir as obras escritas. Sempre serei muito grato às pesso­
as dotadas do dom de socorros.
O exemplo final de pessoas dotadas do dom de socor­
ros deve ser o dos chamados "escritores fantasmas" (ghost
writers). Algumas celebridades evangélicas produzem livros
e sermões que foram escritos por outras pessoas, as quais
nem ao menos têm o seu nome citado. Talvez seja porque é
tão diferente do meu próprio conjunto de dons que demons­
tro tanta admiração por alguém a quem Deus deu algum
dom que faz algo maravilhoso em favor de outras pessoas.
Quando os dons espirituais são mobilizados em qual­
quer igreja local, uma grande porcentagem de pessoas sem
dúvida descobrirá que o dom delas é o dom de socorros. E
228 Descubra Seus Dons Espirituais

quanto alívio esses crentes darão a tantos pastores, sobre­


carregados por centenas de tarefas, quase nem podendo
ministrar seus próprios dons espirituais.

Dom 2: Serviço
Muitas versões traduzem o vocábulo grego por detrás
desse dom como “ministério”. Essa tradução está literal­
mente correta. Mas visto que “ministério” é antes uma pa­
lavra técnica no jargão religioso, penso que causa menos
confusão chamar esse dom de “serviço”. Mas na esmaga­
dora maioria dos casos, esse dom pouco tem a ver com o
homem que funciona como ministro ou pastor de uma igreja
local.
Na verdade, a palavra grega diakonos (ministro ou
servo), que está por detrás deste dom, é a palavra que tam­
bém foi traduzida por “diácono,” na maioria das traduções
e versões. Em algumas igrejas e denominações, entretan­
to, a descrição do trabalho dos diáconos requer outros dons,
além do dom de serviço. Originalmente, todavia, um diácono
era simplesmente alguém que servia a outias pessoas.
O dom de serviço é a capacidade especial que Deus dá
a certos membros do Corpo de Cristo, afim de identificar as
necessidades não-satisfeitas envolvidas em alguma tarefa
relacionada à obra de Deus, e fazendo uso de recursos dis­
poníveis para satisfazer àquelas necessidades de ajuda,
obtendo assim os alvos desejados.
O dom do serviço não opera de pessoa para pessoa,
centrado na pessoa, conforme se vê nos casos dos dons da
misericórdia e de socorros. Volve-se mais para as tarefas a
serem cumpridas. Um serviço usualmente é prestado mais
em favor de alguma instituição e seus alvos, e não tanto
em favor de alguém. Presta-se mais para qualquer tipo de
ajuda. E é um outro daqueles dons que usualmente não
criam manchetes.
Os três dons deste grupo — misericórdia, socorros e
serviço — são essenciais para uma boa saúde do Corpo.
Penso que podem ser achados em quase cada igreja local, e
em números relativamente altos, em comparação com al­
8 O Resto do Corpo 229

guns de outros dons. Acredito que a Bíblia reporta-se es­


pecialmente a esses três dons em 1 Coríntios 12.22, onde
lemos: “Pelo contrário, os membros do corpo que parecem
ser mais fracos, são necessários”.

Dons de Profecia, de Línguas e


de Interpretação de Línguas
Esses três dons, a profecia, as línguas e a interpreta­
ção de línguas cabem, naturalmente, dentro de um mesmo
agrupamento, porque, mais do que outros grupos (excetu­
ando talvez apenas os dons de fê e discernimento de espí­
ritos), pertencem aos chamados dons “revelatórios”. Com
isso quero dar a entender que novas informações da parte
de Deus são transmitidas diretamente aos seres humanos
através daqueles que possuem esses dons. Nesses dons,
algum tipo de revelação realmente ocorre. Isso não pode
ser confundido com as revelações de Deus contidas nas
Escrituras. Cremos que a Bíblia ê inerrante em tudo quan­
to afirma, e que Deus fez algo de especial, inspirando os
autores da BíBlia dentre todos os escritos do mundo. A
Bíblia é a Palavra escrita de Deus, e não hã outra.
Os dons sobre os quais estamos discutindo aqui não
são a Palavra de Deus, mas são apenas uma palavra da
parte de Deus. As pessoas que transmitem a Palavra de
Deus através dos dons espirituais não são inerrantes. As
revelações dadas através da profecia ou das línguas sem­
pre estarão sujeitas a exame, ã luz da Palavra escrita de
Deus. O primeiro teste que mostra que uma profecia é ve-
raz é a sua conformidade com o teor das Sagradas Escritu­
ras. Para exemplificar, lembro-me um tanto vagamente que,
anos atrás, um homem estava dirigindo seu carro a 100
km por hora, pelas ruas movimentadas de uma cidade do
Estado de Ohio, e assim matou três pessoas. Quando foi
entrevistado, mais tarde, ele disse que fizera assim porque
Deus lhe dissera para fazer tal coisa. Sabemos que Deus
não daria uma revelação dessas, porque ela não se concilia
com os ensinos éticos da Bíblia sobre amor e respeito ao
prõximo.
2 30 Descubra Seus Dons Espirituais

Os crentes que possuem o dom de Discernimento de


Espiritos são capazes de distinguir prontamente entre a
profecia verdadeira e a profecia falsa. Esses crentes deveri-
am ser encorajados a exercer o seu dom. Mas para os de­
mais crentes, fazer essa distinção é muito mais difícil, se­
não mesmo impossível.
Um erro que os crentes entusiasmados algumas ve­
zes cometem, quando descobrem que alguém em seu meio
tem os dons de profecia e/ou línguas, é abandonar o estu­
do, q ensino e a pregação da Bíblia. É que sentem que es­
ses dons lhes permitem um menor esforço do que um estu­
do direto e longo da Bíblia, e que agora têm tudo de quanto
precisam. Esses dons podem ser dons verdadeiros, mas há
crentes que usam erradamente os seus dons. Devemos re­
sistir, como ardis do diabo, a qualquer coisa que dilua a
autoridade suprema e inquestionável das Escrituras.
No outro extremo da questão, hã algumas pessoas
que tentam negar que Deus continua falando até hoje, por
meio da profecia e das línguas interpretadas, porquanto
mostram-se tão fervorosas em seu desejo^ de preservar o
caráter ímpar e a autoridade da Bíblia. O motivo desses
crentes é elogiável, mas precisam compreender que essa
não é uma decisão de “sim” ou de “não”. A combinação do
ensino bíblico acerca dos dons espirituais e a experiência
de inúmeros crentes, homens e mulheres, reconhecidamen­
te sérios e espirituais, força-nos a chegar ã conclusão que
Deus fala hoje de maneira direta e específica, diante de
necessidades e situações específicas, tal como fazia entre o
antigo povo de Israel e entre os cristãos do século I D.C.
Seus principais (embora não exclusivos) veículos para tan­
to são os dons de profecia, línguas e interpretação.

Dom 1: Profecia
O dom da profecia é aquela capacidade especial que
Deus dá a certos membros do corpo de Cristo para recebe­
rem e transmitirem alguma mensagem imediata de Deus ao
Seu povo, através de alguma declaração divinamente ungida.
Visto que a palavra “profecia”, hoje em dia, usual­
8 O Resto do Corpo 231

mente significa predição sobre o futuro, é diíicü para algu­


mas pessoas entenderem que o uso bíblico desse vocábulo
inclui não somente o futuro, mas também uma palavra
acerca do presente. De fato, o dom da profecia é muito mais
usado para solucionar problemas do presente do que para
revelar questões sobre o futuro. No grego, o sentido básico
dessa pedavra é “anunciar” ou “falar em lugar de outrem”.
Aqueles que possuem o dom da profecia recebem um im­
pulso pessoal quanto ao propósito de Deus em alguma si­
tuação concreta. Deus fala através dos profetas.
Mas um profeta pode errar. Por conseguinte, um pro­
feta ou profetisa deve ser alguém que se franqueie a ser
corrigido pelo resto da igreja local. Os verdadeiros profetas
dispõem-se a isso. Permitem que as suas palavras sejam
testadas, e, se errarem, admitirão o seu erro. Eles querem
que suas profecias sejam confirmadas pela Palavra de Deus
e pelo Corpo como um todo.
Aqueles que recebem o benefício do dom da profecia
podem esperar consolo, orien tação, advertência,
encorajamento? admoestação, edificação e juízo. Algumas
profecias são dirigidas por Deus para crentes individuais,
e outras para o Corpo de Cristo como um todo. Seja como
for, as profecias devem ser recebidas como mensagens au­
tênticas e autorizadas. É conforme declarou Michael Green:
“O Espírito faz intervenção e dirige-se diretamente aos ou­
vintes [por meio do profeta]. Essa é a essência mesma da
profecia.”^ Uma vez que o dom espiritual seja confirmado
pelo Corpo, a pessoa dotada do dom de profecia deve ser
altamente respeitada, e suas palavras devem ser recebidas
com plena confiança.
Alguns autores equiparam o dom da profecia à boa
prédica. Esses tendem a duvidar da afirmação que Deus
agrada-se em continuar falando acerca de casos particula­
res, hoje em dia, através daqueles que professam ter dons
que os tomam canais por meio dos quais Deus pode falar
alguma mensagem específica definida. Quanto a mim, não
sou daqueles que aderem a esse ponto-de-vista, embora
seja uma posição largamente advogada por distinguidos
2 32 Descubra Seus Dons Espirituais

líderes evangélicos, e que até mesmo apareça nas declara­


ções de fé escritas de igrejas locais e de denominações.
Visto que respeito com tanta seriedade a essa gente, preci­
so manter a mente aberta. Afinal, é bem possível que quem
esteja errado seja eu. Tendo falado assim, entretanto, que­
ro adicionar que ainda não encontrei qualquer correlação
entre o crescimento eclesiãstico e uma ou outra dessas duas
posições. Deus, ao que tudo indica, abençoa os Seus filhos
que tomam uma ou outra dessas posições, contanto que
continuem em operação outros princípios de crescimento
eclesiástico. O meu conselho é que você confie no Senhor a
fim de Ele mostrar-lhe qual ponto-de-vista você e seu gru­
po deveriam defender, crendo que Deus operará em seu
segmento do Corpo de Cristo, para Sua glória e parà a sal­
vação de almas. Ele não o debcará desapontado.
Uma das variedades do dom da profecia diz respeito ã
consciência social. Conforme podemos observar, mediante
o estudo, especialmente dos profetas do Antigo Testamen­
to, o grande interesse social deles era muito proeminente.
Pessoas dotadas do dom da profecia tenderá a possuir uma
mente que se volve para as questões políticas. Mostram-se
sensíveis para as tendências sociais, nacioncds e internaci­
onais. Gostam de usar suas energias fazendo pronuncia­
mentos referentes à retidão pública, e usualmente criti­
cam severamente a cultura contemporânea. Parece que esse
dom espiritual esteve dormente por algum tempo, mas nos
últimos trinta anos esse dom vem sendo usado por muitos,
para grande benefício da esmagadora maioria de crentes
que não recebeu esse dom. {N.E.; No Brasil, o Rev. Caio
Fábio e o Pr. Ricardo Gondim têm demonstrado visivelmente
estas características).
Pessoas dotadas dessa variedade do dom profético,
voltada para as questões sociais, geralmente operam inde­
pendentemente de qualquer igreja local. Visto que suas
mensagens geralmente mostram ser impopulares, elas se
sentiriam restringidas se trabalhassem ligadas a alguma
instituição. E muitas instituições eclesiásticas sentem-se
em pouco conforto se os profetas andarem por perto delas.
S o Resto do Corpo 233

Raramente um homem com esse tipo de dom será pastor


de uma igreja crescente. Muito tipicamente, esses crentes
suspeitam de igrejas crescentes. Raramente o seu conjun­
to de dons inclui os dons de administração ou de lideran­
ça, pelo que dificilmente ocupam a função de pastores.
Ademais, tendem a evitar as burocracias eclesiásti­
cas, preferindo manter-se críticos externos.

Profecia e Conhecimento
Uma pequena área de desacordo que encontro entre
alguns autores que operam na tradição pentecostal clássi­
ca diz respeito ã relação entre o dom de conhecimento e o
dom da profecia. Esses não concordam com a definição do
dom de conhecimento, que propus páginas atrás. Antes,
tendem a definir o dom da “palavra de conhecimento” como
se fosse o dom profético. Tenho estudado esse ponto-de-
vista com extremo cuidado. E uma das coisas que tenho
notado é que esses autores encontram muita dificuldade
para distinguir entre o dom de conhecimento, o dom da
sabedoria e o *hom da profecia. Nos escritos deles, esses
dons são quase sinônimos entre si.
Douglas Wead escreveu um excelente livro, Hear His
Voice, acerca da palavra de conhecimento. Mas conforme
fui lendo-o, chegava à conclusão de que, na verdade, ele
estava escrevendo sobre o dom da profecia, mas chaman­
do-o por outro nome. E senti-me gratificado quando che-
guei a uma passagem onde ele admite que “alguns insisti­
rão que esse dom deve ser categorizado como parte do dom
da profecia”.^ E eu me considero um desses. Todavia, con­
cordo com a declaração seguinte, que diz que sem impor­
tar como a chamemos, “essa capacidade de receber infor­
mações, através de meios extrasensoriais, era um dom que
operava na Igreja do Novo Testamento, como um dom do
Espírito Santo”.®
Sinto-me aliviado por perceber que nem todos os
pentecostais clássicos pensam dessa maneira acerca do dom
de conhecimento. Donald Gee, para exemplificar, tende a
concordar comigo em que o dom de conhecimento relacio­
234 Descubra Seus Dons Espirituais

na-se mais ao dom do ensino do que ao dom da profecia, e


incluiu em um de seus livros uma longa seção onde argu­
mentou em favor desse ponto.® Mas ao fazê-lo, ele disse,
paralelamente: “Gostaria especialmente de esclarecer que
acolho bem aquela interpretação que difere da minha, no
tocante ã palavra da sabedoria e da palavra do conheci­
mento”. E é o que também se dã comigo, pois creio que o
rótulo que alguém der ao fenômeno faz pouca diferença, a
longo prazo, ao crescimento da igreja.
Mas também sinto pessoalmente que preciso explicar
a minha posição, particularmente em face do fato que quan­
do abordamos o dom de conhecimento estamos tratando
com um dos dons que, segundo entendo, faz parte de meu
próprio conjunto de dons espirituais.
Alguns, que não estão familiarizados com o dom da
profecia em primeira mão, por essa altura devem estar de­
sejando um exemplo sobre como esse dom funciona. Mui­
tos dos livros sobre o dons espirituais, escritos do ângulo
do movimento carismático, fornecem numerosos exemplos.
Quanto a isso, recomendo totalmente um íivro escrito so­
bre o dom da profecia, por um autor católico-romano, Bruce
Yocum, cujo título em inglês é ProphecyJ E o livro escrito
por Douglas Wead, a que me referi acima, também está
repleto de ilustrações sobre o dom profético (embora ele
pense que se trata da palavra do conhecimento). E conclu­
indo, quero selecionar uma das crônicas de Wead que en­
volve o bem conhecido mestre-de-cerimônias do “Clube
700,” Pat Robertson.
Durante um dos seus programas, Robertson contou
esta história; “Quando estávamos orando, Deus mostrou-
me que havia uma pessoa com o antebraço direito quebra­
do, que estava engessado. E que Deus estava curando o
braço. Quando eu estava deixando o estúdio, terminado o
programa, duas mulheres de meia idade aproximaram-se
de mim. A mais idosa das duas estava com um dos braços
engessado. Quando eu a vi, ela solicitou que eu orasse por
elas. Então repliquei que a cura já tinha sido efetuada”.®
E era verdade. A dama voltou a falar com seu médico.
8 O Resto do Corpo 235

Foi feita uma radiografia do braço dela e foi assim desco­


berto que um osso que havia sido esmagado, fora emenda­
do com quase duas polegadas de novo tecido ósseo. O bra­
ço estava recuperado; e ele tirou o gesso. Para Robertson,
essa é uma ocorrência bastante freqüente, sendo evidente
que ele tem o dom da profecia.

Dom 14: Línguas


Em meus estudos quanto à literatura sobre os dons
espirituais, já li tanta coisa sobre o dom de Línguas que
fiquei saturado. Creio que as línguas têm recebido uma
quantidade desproporcional de atenção por parte do públi­
co, nestes últimos anos. Naturalmente, grande parte disso
tem a ver com o debate que indaga as línguas são “o sinal
físico inicial” do batismo de crentes no Espírito Santo, con­
forme afirma, por exemplo, a constituição das Assembléias
de Deus. Até mesmo líderes carismáticos reconhecidos não
concordam uns com os outros sobre esse particular. Não
quero discutir sobre essa questão pelos seguintes motivos:
a) eu não podeíía adicionar qualquer luz ãquilo que jã foi
escrito a respeito;
b) não sou capaz de discernir qualquer conexão entre esse
debate e o crescimento da igreja.
O dom de línguas ê a capacidade que Deus dá a certos
membros do Corpo de Cristo: (a) para falar a Deus em uma
língua que eles nunca aprenderam ou: (b) receber e comuni­
car uma mensagem imediata de Deus a Seu povo, mediante
uma declaração divinamente ungida, em um idioma que eles
nunca aprenderam.
Esse é o único dos vinte e sete dons espirituais que,
segundo sinto, precisam ser dividos em parte “a” e parte
“b.” A primeira variedade de línguas pode ser chamada de
“línguas privadas,” ao passo que a segunda variedade pode
ser chamada de “línguas públicas”.
As línguas privadas com freqüência também são refe­
ridas como “línguas de oração.” Não hã o acompanhamen­
to de qualquer dom de interpretação. O texto bíblico que
melhor descreve isso é 1 Coríntios 14.28, onde Paulo diz
236 Descubra Seus Dons Espirituais

que as línguas, desacompanhadas de interpretação, não


devem ser usadas nas igrejas; antes, a pessoa dotada do
dom de línguas deveria “falar consigo mesma e com Deus”.
Visto que isso é altamente experimental, passo a descre­
ver, usando as experiências de um irmão na fé.
Robert Tuttle é um estimado colega meu, um dos pro­
fessores do Fuller Seminary e um ministro da igreja
Metodista Unida. Seu dom são as línguas privadas. Diz ele:
“Hã ocasiões, em minha vida devocional, em que não mais
consigo exprimir meu ‘interior’. . . É então que permito que
o Espírito Santo ore por meu intermédio, em um idioma
que nunca aprendi. Luto todos os dias com os idiomas bí­
blicos... Digo um idioma porque creio que se trata de uma
língua. Meu vocabulário vai aumentando. Conheço bas­
tante sobre os idiomas para poder identificar a estrutura
de sentenças. Meu idioma desconhecido, ou língua de ora­
ção tem pontos parágrafos, vírgulas e até exclamações. Tra­
ta-se de um dom maravilhoso.”®
Nem todos os estudiosos dos dons espirituais con­
cordam que se trata de um idioma real. Aiguns linguistas
profissionais têm gravado pessoas que falam em línguas, e
têm dito que não conseguem perceber qualquer estrutura
lingüística. Mas visto que não têm gravado todas as lín­
guas, talvez aquelas que foram gravadas sejam apenas ex­
pressões estáticas (N.E.: linguagem sem estrutura formal
conhecida. Expressões isoladas e repetitivas, acompanha­
da de êxtase emocional), ao passo que em outros casos,
como no de Tuttle, estejam em, assim chamadas, línguas
verdadeiras. Porém, penso que essa questão é meramente
acadêmica, pois a função é a mesma, tanto no caso de ex­
pressões estáticas como no caso de idiomas devidamente
estruturados. Essa função foi descrita por Harald Bredesen,
pastor do North County Christian Center, em San Marcos,
na Califórnia, mediante alguns postulados:
“As línguas capacitam nossos espíritos a comu­
nicarem-se diretamente com Deus acima e além
da capacidade de compreensão de nossas men­
tes”.
8 O Resto do Corpo 237

“As línguas liberam o Espírito de Deus em nós”.


“As línguas possibilitam nosso espírito de assu­
mir ascendência sobre a alma e o corpo”.
“As línguas são uma provisão de Deus para fa­
zermos catarse, pelo que são importantes para a
nossa sa de mental”.
“As línguas satisfazem nossa necessidade de toda
uma nova linguagem de adoração, oração e lou­
vor. ’ 10
Essas declarações nem requerem comentário. Não há
como duvidar que elas refletem a auto-percepção de al­
guém que possui e usa o dom de línguas.
Suponho que esse dom de Línguas privadas é, de to­
dos os dons espiritual, aquele que é mais comumente pro­
jetado. As pessoas que o receberam pensam que esse dom
é tão simples e natural que se inclinam a afirmar que qual­
quer crente pode falar em línguas. E citam a assertiva de
Paulo, onde lemos: “Eu quisera que todos vós falásseis em
outras línguas. . .” (1 Co 14.5). Mas forçam Paulo a dizer
muito mais do (^ue ele, realmente, disse, porquanto ele fa­
lou a respeito do abuso das línguas que havia na igreja em
Corinto. Se existe tal coisa, como uma função cristã, que
envolve as línguas, penso que essa função ajusta-se aqui;
mas também é possível que esse dom seja o nico que não
tem uma função cristã correspondente. Vejo a necessidade
de muito mais estudo, quanto a esse aspecto, antes de fa­
larmos dogmaticamente a respeito. Entrementes, conheço
alguns crentes admiravelmente maduros, homens e mu­
lheres, que têm tentado sinceramente, e por um prolonga­
do período de tempo, falar em línguas sem qualquer suces­
so. Dizer que eles não foram cheios do Espírito seria tanto
inexato quanto injusto. É melhor dizer que eles simples­
mente não receberam o dom de línguas.

Dom 15: Interpretação de Línguas


O aspecto “b” das línguas, está relacionado bem de
perto ao dom de interpretação de línguas. Sem a interpre­
tação, o dom toma-se in til e não deve ser exercido nas
238 Descubra Seus Dons Espirituais

reuniões da igreja local (ver 1 Co 14.27,28).


O dom de Interpretação de Línguas é aquela capacida­
de especial que Deus dá a certos membros do Corpo de Cristo
para tomar conhecida no vernáculo, alguma mensagem que
tenha sido dita em línguas.
Com grande freqüência, mas nem sempre, as línguas-
interpretação funcionam como um dom hifenado. Asseve­
ra Michael Green: “Embora alguns homens sejam dotados
do dom da interpretação, embora eles mesmos não falem
em línguas, isso é incomum; na maior parte dos casos,
aqueles que já possuem o dom de línguas é que também
recebem o dom de Interpretação de L ín g u a s .Is s o signifi­
ca que algumas pessoas apresentam alguma mensagem
pública em línguas e, em seguida, interpretam o que eles
mesmos disseram. E também há casos em que alguém fala
em línguas, e outro fornece a interpretação.
Não é preciso dizer muito sobre as línguas públicas,
exceto que funcionam como se fossem as profecias. O ar­
gumento inteiro do capítulo catorze de 1 Coríntios desen­
volve a idéia dessa eqüivalência. E assim,' o que já disse­
mos sobre o dom da profecia, aplica-se igualmente ao dom
de línguas públicas.
Uma observação precisa ser feita, antes de passar­
mos para outro grupo de dons espirituais. Algumas pesso­
as têm seguido como m issionários a outros grupos
lingüísticos, e então começam a falar aquela segunda lín­
gua sem nunca tê-la aprendido. A documentação acerca
desse dom é abundante ao menos para convencer-me,
embora eu mesmo nunca tenha visto o fenômeno. Seria
isso o dom de línguas? Em minha opinião, não. Penso que
se trata simplesmente de um milagre que Deus tem reali­
zado uma vez e outra. E sinto-me encorajado por haver
descoberto que um dos autores clássicos mais importan­
tes, entre os escritores pentecostais, Donald Gee, concor­
da comigo acerca desse particular.

Dons de Milagres e Curas


Se profecia e línguas são expressões de origem sobre­
8 O Resto do Corpo 239

natural, os milagres e as curas são atos de origem sobre­


natural. Em ambos os casos, os seres humanos dotados de
dons espirituais são os canais por meio dos quais Deus
realiza obras admiráveis.

Dom 12: Milagres


O dom de milagres é a capacidade especial que Deus
dá a certos membros do Corpo de Cristo para servirem de
intermediários humanos através de quem Deus realiza atos
poderosos que os observadores podem notar que alteraram
o curso ordinário da natureza.
Notemos que essa definição não fecha a porta para a
realização de milagres que mais tarde podem ser “reprova­
dos” mediante a aplicação de métodos científicos ociden­
tais. Já tive oportunidade de ler longas explicações, por
exemplo, sobre como pessoas foram ressuscitadas dos
mortos na Indonésia, mas que, na verdade, não foram res­
suscitadas dos mortos. Alguns investigadores ocidentais
ao que parece, foram ã Indonésia e concluíram que, de acor­
do com as deíi»ições ocidentais da morte, na verdade eles
não tinham morrido.
Seria divertido, se não fosse tão patético. Deus reali­
zou o milagre para os indonésios, e não para os norte-ame­
ricanos ou europeus. Se os indonésios, real e verdadeira­
mente pensam, em termos de sua própria visão global, que
mortos têm sido ressuscitados, então o müagre ocorre. O
curso ordinário da natureza foi alterado. Se, observando
isso, os crentes indonésios ficam convencidos do poder de
Deus e se tomam seguidores de Jesus Cristo, então fica
cumprido o propósito dos milagres. E mesmo dentro de
nosso ponto-de-vista ocidental, os mais avançados cientis­
tas e jurisconsultos não são capazes de concordar sobre
exatamente quando ocorre a morte física. Nesse caso, por
qual razão haveriamos de supor nossa visão inexata sobre
a visão inexata dos indonésios? Isso prova muito pouco.
Por causa de nossa sutil dedicação ao naturalismo,
nós, ocidentais, tendemos a suspeitar de qualquer coisa
que seja claramente sobrenatural. Sem dúvida, essa é uma
2 40 Descubra Seus Dons Espirituais

das razões que impedem que não vejamos muitos milagres


operando em nossas igrejas atuais. Mas isso não é razão
para olharmos, com ceticismo sofisticado, para a operação
de milagres divinos em outras culturas, muito mais aber­
tas ao sobrenaturalismo do que nossa própria cultura. (N.E.:
Recomendamos a leitura de Espiritismo Segundo o Evan­
gelho do Rev. Caio Fábio).
De acordo com a minhas últimas pesquisas, todavia,
nossa cultura se está franqueando de novo para o sobrena­
turalismo. A crescente popularidade do transcendental, o
ressurgimento das religiões orientais e do ocultismo, a fe­
nomenal expansão do próprio movimento carismático —
tudo isso serve de indicação de que muitos ocidentais es­
tão dando um basta ao naturalismo insatisfatório que a
ciência moderna e a tecnologia têm procurado estabelecer,
como parte e parcela de nossa cultura. Nesse caso, o cami­
nho pode ter sido aberto, como nunca antes, diante do dom
de milagres, em nossas igrejas, neste final de século.
Alguns temem tal manifestação do poder de Deus, visto
que ê fácil abusar desse dom espiritual. Isso constitui uma
verdade, embora não seja uma razão adequada para rejei­
tarmos apressadamente o dom de milagres, conforme me
parece. Sim, Deus realmente abençoa as igrejas que não
dão lugar aos milagres. Mas não ê fácil justificar, do ponto-
de-vista da Biblia, a aversão pelos milagres. Tal aversão,
provavelmente, ê muito mais uma questão cultural do que
uma questão bíblica. Concordo com Kenneth Gangel quando
diz: “Não nos devemos deixar guiar, em nossa compreen­
são dos dons espirituais, por um temor nascido de experi­
ências infelizes, e nem por uma exegese resultante da mio­
pia hermenêutica.”*®

Dom 11: Curas


O dom de curas é aquela capacidade especial que Deus
dá a certos membros do Corpo de Cristo, para que sirvam
de intermediários humanos, por meio de quem Ele se apraz
em curar enfermidades e restaurar a saúde, à parte do uso
de meios naturais.
8 O Resto do Corpo 24 /

Em certo sentido, o dom de curas pode ser entendido


como uma manifestação especializada do dom de milagres,
embora os dois dons sejam mencionados na Bíblia em se­
parado. É óbvio, as curas têm a ver, especificamente, com
as enfermidades humanas. A referência bíblica ao dom de
curas, em 1 Coríntios 12.28, diz, literalmente, “curas”, no
plural. Isso parece dar a entender que há muitas varieda­
des do dom, para diferentes tipos de enfermidade.
Restringir o dom de curas somente às enfermidades
físicas não ê correto. Esse dom também pode ser utilizado
para curar distúrbios mentais, emocionais e espirituais.
Agnes Sanford, uma crente contemporânea, dotada do dom
de curas, recebeu o dom de “curar a memória.” Uma outra
crente, Ruth Carter Stapleton, cuida de “curas interiores”.
E hã um grande número de variedade de curas.
Os crentes dotados do dom de curas não exercem
nenhum poder sobrenatural sobre as enfermidades. Esses
crentes são simplesmente canais por meio dos quais Deus
opera, quando Ele deseja curar. As pessoas dotadas do dom
de curas não têhi a capacidade de esvaziar os hospitais, a
menos que Deus resolva fazê-lo por meio deles. Ninguém
entende, de fato, a posição de Deus no tocante ã enfermi­
dade e ã saúde. Algumas vezes, conforme lemos no livro de
Jó, a enfermidade faz parte do plano global de Deus para
um crente, e Ele é quem permite tal coisa. O apóstolo Pau­
lo tinha um “espinho na carne,” o que, com toda a probabi­
lidade, era algum tipo de aflição física; e Deus preferiu não
remover tal espinho (ver 2 Co 12.7-9). Outrossim, as curas
não conferem imortalidade. Até onde sabemos, todas as
pessoas que foram curadas por Jesus acabaram morrendo
um dia.
O dom de curas não faz médicos e enfermeiras torna­
rem-se obsoletos. Em muitos casos. Deus agrada-se em
usar modernos meios médicos de cura, embora isso não
deva ser confundido com o dom de curas. Os médicos evan­
gélicos estão usando, na esmagadora maioria das vezes,
talentos naturais, e não algum dom espiritual. Parte da
definição desse dom é: “ã parte do uso de meios naturais.”
2 42 Descubra Seus Dons Espirituais

Quando Paulo sentiu perturbações estomacais, Paulo não


lhe mandou algum lenço que ele teria usado, a fim de que
Timóteo fosse curado por seu intermédio. Paulo havia usa­
do lenços em Éfeso, e com bons efeitos (ver At 19.12); mas
no caso de Timóteo, recomendou o uso de um pouco de
vinho (ver 1 Tm 5.23). Algumas vezes, os meios naturais
estão na ordem do dia; outras vezes. Deus prefere curar
por via miraculosa. O crente dotado do dom de curas não
pode manipular Deus. Tão-somente esse crente é um ca­
nal que Deus usa com a freqüência que escolher.
Deus já me curou pessoalmente de ambas essas ma­
neiras. A maior parte de minhas enfermidades têm sido
curadas por médicos ou por remédios bem conhecidos.
Certa feita, entretanto, Ele me curou diretamente. Anos
atrás, na Bolívia, apareceu-me uma ferida aberta no pes­
coço. Fui operado, mas a ferida não sarou; e por isso foi
marcada outra cirurgia. Então E. Stanley Jones chegou ã
cidade, e alguns de nós, missionários, fomos ouvi-lo. Essa
reunião acabou sendo um culto de curas. Durante a reu­
nião, compreendi que havia sido curado, guando cheguei
de volta em minha casa, tirei o curativo e ainda estava cheio
de pus. Mas agradeci ao Senhor, fui deitar-me, e, na ma­
nhã seguinte, eu estava completamente curado. O médico
ficou admirado; mas ele era crente e louvamos juntos ao
Senhor!
Quando eu estava pesquisan do o m ovim ento
pentecostal na América Latina e analisava o seu cresci­
mento espantoso, nos últimos vinte e cinco anos, descobri
que um dos fatores-chaves que têm contribuído para o seu
crescimento é a fé nas curas divinas. Os crentes pente-
costals latino-americanos crêem que Deus pode e quer cu­
rar, à parte de meios naturais, e Ele o faz com freqüência
entre eles. Os crentes não-pentecostais tendem a crer que
Deus pode curar, mas que Ele não quer fazê-lo, e assim Ele
não cura praticamente nunca. Quando a fé não se faz
presente, as curas não ocorrem, conforme os discípulos de
Jesus tiveram que aprender. Eles eram homens de “peque­
na fé.” E outro tanto sucede a muitos de nós.
8 O Resto do Corpo 243

Desconfio fortemente de que se déssemos mais ênfa­


se às curas divinas, as igrejas da América do Norte seriam
ajudadas a crescer mais rapidamente. A maior parte dos
crentes norte-americanos agradece a Deus pelo avançado
estado da ciência médica, pelo acesso fácil a ciência médi­
ca. Entretanto, acredito que Deus também gostaria de efe­
tuar algumas curas, se ao menos Lho permitíssemos fazê-
lo. Ponho-me ao lado de Robert Tuttle, que disse: “Anelo
para que chegue o dia em que a Igreja espere as curas físi­
cas e emocionais, com a mesma naturalidade com que es­
pera a conversão ou novo nascimento.”*®
De fato, há certa igreja de Filadélfia, a Igreja Episco­
pal Santo Estêvão, que deu início a um ministério regular
de curas, em 1942, o que a tem ajudado a crescer. O líder
desse movimento foi Alfred Price, que desenvolveu a idéia
da “cura sacramental”, tanto teológica quanto experimen­
talmente. Não sei dizer se Alfred Price possui o dom de
curas; mas já estive em uma igreja onde a cura sacramen­
tal era praticada somente como uma função cristã, mas
não como um cíom específico de curas. Trata-se da Wesley
Methodist Church, de Hamilton, nas Bermudas. Ali o pas­
tor Ross Bailey efetua um culto de curas a cada terceiro
domingo do mês, ã noite. Ele simplesmente crê que as cu­
ras deveríam fazer parte do ministério total da Igreja, tão
naturalmente como o são os grupos de estudo bíblico ou a
Ceia do Senhor. Não se trata e uma reunião emocional de
modo nenhum. Antes, hã uma liturgia impressa pela qual
a congregação perpassa. Mas Deus age, e as pessoas são
maravilhosamente curadas de muitas maneiras.*®
São pouquíssimas as igrejas que agem desse modo.
Como indivíduos, sem importar se dispomos ou não do dom
de curas, deveriamos estar preparados para orar pelos en­
fermos e para ungi-los com óleo (ver Tg 5.14,15). Parece a
mim que as igrejas que não fazem disso uma parte regular
de sua filosofia de ministério (e isso inclui a vasta maioria
das igrejas da América do Norte) estão perdendo uma po­
derosa dinâmica no crescimento eclesiástico. Como eu gos­
taria de ver centenas de igrejas liberando esse poder de
244 Descubra Seus Dons Espirituais

Deus em seu meio, atraindo assim milhares de homens e


mulheres para Jesus Cristo e para o Seu amor.

Notas

1. Raiph W. Neighbour, Jr., This Giftis Mine {Nashville: Broadirian Press, 1740, pág. 72.
2. Michael Green I Believe úi The Holy Spirit (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publíshing Co., 1975), pág.
172.
3. Ver, por exemplo, Harold Horton, The Gifls o/The Spirit (Springfield: Gospel Publishing House, 1975),
capítulos 4 e 5; e Jim McNalr, Loue and Gifts (Minneapolls: Bethany Fellowship, 1976), pág. 26.
4. R. Douglas Wead, Hear His Voice (Carol Stream, II: Creation House, 1976), pág. 100.
5. Idem.
6. Donald Gee, Conceming Spirilual Gifls (Springfield: Gospel Publishing House, 1972), págs. 11 l - l 19.
7. Bruce Yocum, Prophecy (Ann Arbor, Mi.: Word o f Life, 1976).
8. Wead, Hear His Voice, pág. 120.
9. Robert G. TutUe, ThePartakers (Nashville: Abingdon Press, 1974), pág. 82.
10. Harald Bredesen, 'The Gift of Tongues," Logos Journal (março de 1978), págs. 19-24.
11. Green, I Belteve ín The Holy Spirit, pág. 167.
12. Gee, Concemú^ Spiriiual Gifls, pág. 97.
13. Kenneth O. Gangel, You and Your Spiriiual Gift (Chicago: Moody Press, 1975), pág. 59.
14. Isso foi expandido no livro deC. Peter Wagner, W?iaí Are We Afissüíg? (Carol Stream, II.: Creation House,
1978), nono capítulo.
15. Tuttle, The Partakers, pág. 70.
16. Aqueles que desejarem maiores informações sobre esse tipo de ministério deveríam escrever para o The
International Order of St. Luke The Physician, 1161 E. Jersey Street, Elizabeth, NJ 07201.
9

C inco P assos P ara C rescer


A través dos D ons

odas as boas teorias que existem no mundo acer­


ca dos**dons espirituais não passarão de viagens
mentais de recreio, se a sua dinâmica não for libe­
rada para uma operação eficaz nas congregações
locais. O propósito deste capítulo final é propor algumas
diretrizes acerca de como isso pode ter lugar.
Bastam alguns minutos de conversação, para que seja
possível saber se uma dada pessoa vem de uma igreja que
tem consciência dos dons espirituais e está encorajando o
uso dos mesmos. Muitos crentes ou ignoram os dons es­
pirituais, exceto quanto a uma consciência muito superfi­
cial, ou então mostram-se surpreendentemente acanhados,
quando se referem a seu próprio dom ou dons espirituais.
Alguns crentes mostram-se hesitantes. Outros sentem que
se estariam jactando, se mencionassem os seus dons. Há
também aqueles que não querem ser responsabilizados pelo
uso de seus dons espirituais, pelo que os conservam para
si mesmos.
Estive recentemente em uma reunião de pequeno gru­
po de líderes evangélicos, vindos de vários lugares do mun­
246 Descubra Seus Dons Espirituais

do. Quase todos eles eram considerados parte da elite de


seus respectivos países, e os seus nomes eram bem conhe­
cidos entre os seus compatriotas. Em uma sessão de troca
de experiências (a qual, a propósito, eu não dirigi), a cada
um dos presentes no círculo foi solicitado a louvar a Deus
por algum dom espiritual específico. De pronto tomei um
lãpis e anotei as respostas que foram dadas. E estas foram
as respostas:
“Pregar o evangelho”
“O Espírito Santo”
“Jesus Cristo”
“O Espírito doador de vida”
“Billy Graham”
“Entes queridos e os filhos”
“Ensino”
“Irmãos em Cristo”
Tenho que admitir que fui um daqueles que mencio­
nou “ensino” como minha idéia do que seria um dom espi­
ritual. Suponho que “pregar o evangelho” estava em pauta,
referindo-se ao dom de evangelista. Mas fitiuei desaponta­
do diante do fato que dentre um grupo como aquele, ape­
nas uma quarta parte podia articular, com inteligência,
algum dom espiritual. Se a cena tivesse ocorrido há mais
tempo, eu poderia compreender. Mas se aqueles eram líde­
res, qual seria a porcentagem entre os crentes comuns?
Tal como na antiga igreja em Corinto, continua havendo
ignorância sobre os dons espirituais (ver 1 Co. 12.1).
É mais do que chegado o tempo para os crentes, em
todas as igrejas, começarem a pensar com modéstia sobre
si mesmos (ver Rm 12.3). Naturalmente, não poderão fazer
isso com qualquer ar de soberba. Mas também não pode­
rão fazer isso fingindo falsa humildade, que cegue, tanto a
eles mesmos quanto a outros crentes ao seu redor, no to­
cante ã função que Deus lhes tem dado para desempenhar
no Corpo de Cristo.
Passo a esboçar cinco passos cujo desígnio é tirar sua
igreja do marasmo espiritual quanto aos dons espirituais,
pondo em operação o admirável poder que Deus já outor­
9 Cinco Passos Para Crescer Através dos Dons 247

gou por meio dos dons que Ele tem conferido. Esses cinco
passos, tal como este livro em sua inteireza, foram dados
para instrução tanto dos ministros quanto dos leigos. Mas
preciso frisar aqui duas suposições que estou fazendo, como
medida preliminar aos cinco passos. Estou supondo, an­
tes de mais nada, que o pastor de sua igreja está convenci­
do de que descobrir, desenvolver e usar os dons espirituais
é a vontade de Deus para a sua congregação, e que ele estã
disposto a tomar uma liderança ativa nesse processo. Tam­
bém estou supondo que seu pastor quer que a igreja que
ele dirige cresça e creia ser essa a vontade de Deus.
Essas duas suposições estão alicerçadas sobre tudo
quanto tentei dizer no quinto capítulo, o capítulo que fala a
respeito do pastor. O pastor é a pessoa-chave para o cres­
cimento de uma igreja local; e, se por uma razão ou outra,
o pastor mostrar-se indiferente ou contrário ao crescimen­
to eclesiástico ou aos dons espirituais, meu conselho é que
esses cinco passos sejam adiados, sob pena de abortarem.
Francamente, espero que este livro ajude a mudar a mente
de muitos pasUíores relutantes: mas se este livro, ou ou­
tros, ou seminários ou exortações pessoais não consegui­
rem este fim, continue o leitor a orar, esperando um tempo
mais oportuno, determinado por Deus.

^ Passo 1: Concordar Quanto a Uma


Filosofia Ministerial
O quanto é benéfico que cada igreja local tenha uma
bem-articulada füosofia de ministério já foi mencionado por
diversas vezes.^ Parte da filosofia do ministério deveria ser
uma clara afirmação acerca daquilo que a Igreja local acre­
dita e espera, no tocante aos dons espirituais. Se sua igre­
ja possui uma declarada filosofia de ministério mas não
inclui uma seção sobre os dons espirituais, sugiro que tal
declaração seja corrigida.
Qualquer programa que você adotar a fim de desco­
brir e usar os dons espirituais será moldado por sua filoso­
fia de ministério. Você precisará tomar decisões quanto a
coisas como:
248 Descubra Seus Dons Espirituais

1. Quais dons espirituais esperamos que Deus confira à


nossa igreja, em nosso conjunto particular de dons?
Aceitamos dezenove dons, ou quantos serão eles?
Devemos esperar dezenove, nove, ou quantos dons?
2. Estamos abertos para dons espetaculares como as lín­
guas, a profecia e as curas? Em caso positivo, esses
dons devem ser usados em público ou somente em
particular? Se tiverem de ser usados em público,
deveríam ser usados em todos os cultos ou somente
em determinadas reuniões?
3. Cremos que o batismo no Espírito Santo é uma se­
gunda obra da graça ou todos os crentes recebem o
Espírito Santo quando são salvos? Se trata de uma
segunda obra da graça, cremos que o falar em lín­
guas é o sinal físico inicial que nos afirma o que
sucedeu?
4. Qual posição assumimos no tocante a novas pessoas
que entram em nossa igreja mas discordam de nos­
sos pontos-de-vista sobre os dons espirituais? Ou
que dizer sobre membros atuais que* mudam de opi­
nião? Mostramo-nos cordiais, apenas toleramos a
situação ou recomendamos que tais pessoas bus­
quem alguma igreja mais compatível com elas?
Minha recomendação é que, quando os líderes de uma
igreja local se sentarem para discutir sobre essas ques­
tões, não se tornem exageradamente auto-conscientes.
Acima de tudo, não devemos tomar uma decisão somente
porque a igreja X, mais abaixo na rua, age dessa maneira.
Consideremos tudo isso com o mesmo espírito com que
nós, os crentes, temos aprendido a considerar o batismo.
Algumas igrejas não batizam crianças e também não bati­
zam por aspersão. Algumas igrejas que batizam por imersão,
mergulham a pessoa na ãgua por três vezes, e não somente
por uma vez. Algumas mergulham os batizandos por três
vezes para a frente, e outras por três vezes para trãs. Os
“Quakers” não acreditam em batismo em água sob nenhu­
ma forma. Minha própria igreja, uma igreja congregacional,
não pensa que qualquer dessas coisas seja essencial, pelo
9 Cinco Passos Para Crescer Através dos Dons 24 9

que batizamos tanto crianças quanto adultos, tanto por


aspersão quanto por imersão; e suponho que se cdguém
nos pedisse, batizaríamos por imersão a uma pessoa, mer­
gulhando-a por três vezes, para a frente ou para trãs. E se
alguém não quiser ser batizado, também aceitamos a esse
alguém, e isso em pé de igualdade com qualquer outra pes­
soa membro da igreja.
As igrejas norte-americanas, de costa a costa, ten­
dem a aceitar o fato que Deus lidera diferentes igrejas para
estabelecer diferentes filosofias de batismo, e nenhum de
nós tende a sentir-se auto-consciente porque temos assu­
mido uma determinada posição. Sigamos esse mesmo pa­
drão acerca dos dons espirituais. Tomemos uma decisão
quanto ã nossa própria filosofia sobre os dons espirituais;
vamos descobrir qual mistura particular de dons Deus tem
conferido ã nossa igreja, e vamos louvar a Deus por outras
igrejas que tenham diferentes filosofias de ministério.
Se assim fizermos, haverá dois benefícios imediatos.
Em primeiro lugar, a fraternidade cristã serã fomentada. É
uma tragédia (j^e algumas igrejas locais se tenham dividi­
do por motivo de dons espirituais. As possibilidades desse
acontecimento desaparecem quase inteiramente, quando
se concorda quanto a uma clara filosofia ministerial. Não
somente irmãos e irmãs, em uma igreja local, amar-se-ão
uns aos outros, mas também serão reduzidos sentimentos
de inveja, ciúmes, competição ou caça às bruxas entre as
igrejas. Por que não aceitaríamos diferenças uns nos ou­
tros, e não nos amaríamos no Senhor assim mesmo? Gos­
to do título do livro de Peter Gillquiest, Let’s Quit Fighting
About The Holy Spirit (Vamos Deixar de Brigar Sobre o Espí­
rito Santo).^
O segundo benefício será o crescimento das igrejas.
Quanto maior for a variedade de igrejas e filosofias de mi­
nistério, maior será o número de pessoas que serão con­
quistadas para Cristo. As próprias pessoas diferem tanto
umas das outras que muitos tipos diferentes de igrejas são
necessários para conquistar as pessoas para Cristo. Seria
um prejuízo para o evangelismo eficaz se todas as igrejas
250 Descubra Seus Dons Espirituais

ficassem peirecidas umas com as outras. Eis a razão pela


qual, na maioria dos casos, as igrejas que se fundem ter­
minam com um menor número de membros do que tinham
as igrejas separadas antes de se terem fundido.

^ Passo 2: Inicie Um Processo de Crescimento


Descobrir, desenvolver e usar os dons espirituais pode
ser uma finalidade em si mesma, e é uma boa finalidade.
Em alguns casos, essa atividade, por si mesma, pode aju­
dar uma igreja a crescer. Mas o crescimento eclesiástico é
algo complexo, e a dinâmica dos dons espirituais é apenas
um dos vários princípios de crescimento de uma igreja lo­
cal. Por conseguinte, na maioria dos casos, um programa
que visa a pôr em uso os dons espirituais não será sufici­
ente para maximizar o potencial de crescimento de uma
igreja. Quando os dons espirituais são descobertos, eles
precisam de canais, por intermédio dos quais podem ser
usados com eficiência.
Poucas coisas podem ser mais frustrantes do que des­
cobrir que algum dom espiritual não está pt dendo ser usa­
do em uma igreja. De fato, os pastores precisam tomar cons­
ciência de que tal igreja poderá perder membros se isso
vier a acontecer. Eles simplesmente se transferirão para
alguma igreja onde se mostrem mais úteis.
Para mim é impossível explicar, com detalhes, neste
ponto, como se desenvolve um processo de crescimento na
igreja local. A rota mais eficaz que conheço é que o próprio
pastor aceite treinamento específico no campo do cresci­
mento eclesiástico, preferivelmente no nível de Doutor em
Ministério.3 E a igreja deveria dispor-se a financiar esse
curso, para benefício próprio e para benefício do pastor.
Um outro instrumento altamente valioso é a Clínica de Di­
agnóstico, desenvolvida pela Associação Evangelístlca
Fuller. Esse estudo ajuda o pastor a preparar-se e a liderar
uma clínica de três horas e meia com os líderes de sua
igreja, que lhes confira um quadro exato do potencial de
crescimento d e l e s . U m número crescente de dlagnos-
ticadores profissionais de igreja também está em disponi­
9 Cinco Passos Para Crescer Através dos Dons 251

bilidade nas igrejas que sentem a necessidade de consul­


tar opiniões externas.® (N.E.: No Brasil, recomendamos os
ministérios liderados pelos irmãos Larry Kraft, David
Komfield e Ary Velloso, missionários da SEPAL).
No ponto apropriado do processo de crescimento, uma
congregação, como um todo, precisa tomar-se estimulada
e motivada com vistas ao crescimento. Ninguém tem tido
mais experiência e sucesso quanto a isso do que o Institu­
to Para o Crescimento da Igreja, sob a liderança de Win
Am. Com a ajuda de seminários, filmes, jogos e cartazes,
para não falar em currículos e revistas de Escola Domini­
cal, podem edificar uma nova visão e expectativa quanto
ao crescimento eclesiástico na maioria das congregações,
contanto que o pastor aceite que assim seja.®
Sem importar os recursos disponíveis, se denomi-
nacionais ou interdenominacionais, dar início a um sadio
processo de crescimento, através do estudo e do uso dos
dons espirituais, é algo que paga apreciáveis dividendos.

^ Passo 3: Estoutura Para os Dons e o Crescimento


Deixei registrado acima os meus sentimentos sobre
como as igrejas precisam ser estmturadas administrativa­
mente a fim de crescerem melhor.^ Uma forma de governo
que se tomou popular na América do Norte, mas que usu­
almente é contraprodutiva, quanto ao crescimento em uma
igreja grande, é a forma congregacional de governo eclesi­
ástico. A maioria dos pastores de igrejas crescentes, com
governos tradicionalmente congregacionais, de alguma
maneira desenvolveram caminhos e meios para desbastar
o excesso de estmtura burocrática. Isso é viável no caso de
igrejas menores; mas quando os membros começam a ul­
trapassar a marca dos duzentos, uma igreja com esse tipo
de governo vai ficando cada vez menos eficiente.
A estmtura mais apropriada para o crescimento ecle­
siástico é aquele que reconhece plenamente a posição de
liderança do pastor, deixando-o livre para que ele utilize
seu dom ou dons espirituais. Em muitas igrejas crescen­
tes, uma junta dirige a igreja, e o pastor é o presidente da
252 Descubra Seus Dons Espirituais

junta e da corporação, ou recebe títulos correspondentes.


Uma igreja que utilize uma bem pensada filosofia de minis­
tério, pode funcionar regularmente bem. Mas quanto mais
juntas e comissões houver em uma igreja, mais chances
haverá de conflitos, desentendimentos e choques de inte­
resses. Essas muitas juntas e comissões complicam o pro­
cesso de tomada de decisões, e, às vezes, ao ponto de pro­
vocar um colapso total. Em muitas igrejas há um número
grande demais de chefes em proporção aos chefiados.
Segundo entendo a maneira de Deus operar, só há
uma pessoa, uma pessoa apenas que, abaixo de Deus, tem
a principal responsabilidade por uma igreja local — essa
pessoa é o pastor-presidente. Naturalmente, Deus consi­
derará responsáveis pela igreja a todos os membros; mas
nenhum deles com o mesmo grau com que considerará a
pessoa que aceitou a posição de liderança. Penso que a
atitude que os membros da igreja devem ter para com seu
pastor foi descrita em Hebreus 13.17: “Obedecei aos vos­
sos pastores, e sede submissos para com eles; pois veiam
por vossas almas, como quem deve prestá r contas, para
que façam isto com alegria, e não gemendo; porque isto
não aproveita a vós outros”.
Não são muitos os sermões pregados com base nesse
texto. É muito difícil um pastor pregar um sermão sobre
esse assunto, à sua própria igreja, pois facilmente seus
motivos podem ser erroneamente interpretados. Eis a ra­
zão pela qual continuamente destaco essa questão. Visto
que não sou pastor, há poucas oportunidades para eu ser
interpretado erroneamente. Mas tenho um pastor sobre
mim, e tento aplicar esse princípio em minha própria ati­
tude para com ele e para com o pessoal administrativo da
igreja. Muitos pastores estão sofrendo indizíveis tristezas e
frustrações pessoais porque os membros de suas igrejas
não compreendem e nem praticam o princípio bíblico da
obediência para os que estão em posição de autoridade. O
efeito total para quem negligencia ou desconsidera esse
princípio é uma obstrução ao crescimento de uma igreja.
9 Cinco Passos Para CrescerAtravés dos Dons 253

A Lei de Parkinson e o Crescimento da Igreja Local


As pesquisas feitas por Kent Tucker indicam que, em
muitas igrejas, oitenta e cinco por cento do tempo disponí­
vel são dedicados ao gerenciamento, enquanto que somen­
te quinze por cento são consagrados ao ministério.® O pro­
blema bãsico de crescimento, neste caso, é a proporção do
tempo disponível passado em questões de administração e
organização, em comparação com o tempo passado no mi­
nistério propriamente dito. Isso é de uma ineficiência hor­
rível. Nenhuma corporação poderia perdurar por um mês
com tal estrutura. A lei de Parkinson diz que o trabalho
aumenta para preencher o tempo disponível para realizã-
lo. Tal lei funciona fortemente na maioria das igrejas. As
comissões e juntas podem mostrar-se incrivelmente atare­
fadas, mas em última anãlise, realizam bem pouco em ter­
mos de objetivos ministeriais de uma igreja.
A Primeira Igreja Batista de Modesto descobriu tal
problema em 1967, e vem crescendo mais depressa desde
então. Foi naquele ano que seu pastor atual, Bill Yaeger,
selecionou nov^ís pessoas e reduziu a equipe administrati­
va da igreja, com vistas a seu crescimento. Antes disso,
aquela igreja exibia um declínio de 0,8 % a cada década.
Durante um período de dez anos, somente três novos con­
vertidos foram batizados. Sob a Liderança de Yaeger, po­
rém, a igreja reorganizou a sua estrutura, passando de uma
igreja com várias comissões para uma igreja de uma única
comissão. Afirma Yaeger: “Desde que nossa estrutura
organizacional foi simplificada, as pessoas ficaram livres
para se envolverem no evangelismo e no discipulado”.® Eles
calculam que, 97,1 % do tempo que os leigos dedicam de
seu tempo à igreja são canalizados para o ministério, e que
somente 2,9 % desse tempo são dedicados a questões de
gerenciamento da igreja. A taxa de crescimento da Primei­
ra Igreja Batista de Modesto, depois das mudanças efe­
tuadas por Yaeger, foi de trezentos e oitenta e oito por cen­
to! Pelo menos, essa igreja não tem permitido que a lei de
Parkinson refreie o seu crescimento.
Uma vez que os crentes sejam libertados de deveres
254 Descubra Seus Dons Espirituais

administrativos, para os quais a maioria deles não foi do­


tada, podem usar os seus dons em atividades para as quais
foram preparados. Muitos lideres eclesiásticos chegam a
surpreender-se quando descobrem como seu pessoal se
distribui, quando estudam criteriosamente essa questão e
aprendem a usar seus dons espirituais.
Uma útil tipologia largamente usada no crescimento
eclesiástico de hoje é o esquema das “cinco classes de obrei­
ros”, exposto pela primeira vez por Donald McGavran, fun­
dador do movimento do crescimento da igreja local. Po­
deriamos recapitular de modo abreviado esse esquema,
como segue:
Obreiros da classe I: Obreiros que trabalham volun­
tariamente, cuja responsabilidade é trabalhar dentro da
congregação. Incluem professores da Escola Dominical,
recepcionistas, encarregados, diáconos, membros do coro,
e outros ministérios.
Obreiros da classe II: Obreiros que trabalham volun­
tariamente cujas responsabilidades são fora da igreja, em
relação aos incrédulos. Esses incluem aquiles que ajudam
no trabalho evangelístico ou ministram com seus dons de
misericórdia ou serviço.
Obreiros da classe III: Obreiros que trabalham volun­
tariamente ou recebem algum pagamento e que se respon­
sabilizam pelo estabelecimento de novas congregações ou
projetos missionários.
Obreiros da classe IV: Membros pagos como funcio­
nários (stafí) administrativos da igreja.
Obreiros da classe V: Executivos denominacionais ou
burocratas eclesiásticos de um tipo ou de outro, cuja res­
ponsabilidade envolve muitas igrejas.
A área mais crucial na mobilização de uma igreja, no
que diz respeito a seu desenvolvimento, consiste na pro­
porção entre obreiros da classe I e obreiros da classe II.
Sem entrar aqui em pormenores, quero apenas mencionar
que o alvo recomendado é quarenta por cento de membros
como obreiros da classe I e vinte por cento de membros
como obreiros da classe II. Como calcular essas propor­
9 Cinco Passos Para CrescerAtravés dos Dons 255

ções é algo que já foi descrito em detalhes em um manual


intitulado Worker AnáLysis, publicado pela Associação
Evangelística Fuller." Esse livro serve de instrumento útil
para que se trace uma estrutura de crescimento para a sua
igreja. Uma vez que isso seja feito, você estará pronto para
concentrar a atenção, mais especificamente, sobre os dons
espirituais.

^ Passo 4: Desembrulhar os Dons Espirituais


Pense em sua experiência eclesiástica como se fora
um dia de Natal. A árvore de Natal foi armada e os presen­
tes foram pendurados. Tudo quanto a família precisa fcizer
agora ê desembrulhar os presentes. Sua igreja está prepa­
rada para crescer. Deus proveu os presentes, mas poucas
pessoas sabem quais são esses presentes. Agora, pois, é
tempo de desembrulhá-los!
Conforme vejo as coisas, existem seis itens diferentes
que precisam ser averiguados, para que uma igreja entre
no processo de obter uma poderosa dinâmica dos dons es­
pirituais em aníflamento.
A. Motivar do púlpito a congregação. Visto que o
pastor é aquele que tem o dever de liderar a igreja no cres­
cimento, suas idéias precisam ser ouvidas do púlpito. Cer­
to pastor que conheço pregou vinte e dois sermões conse­
cutivos sobre os dons espirituais, o que rendeu resultados
importantes, tanto em termos de crentes que assim desco­
briram seus próprios dons, quanto em termos de um ex­
plosivo crescimento eclesiástico. E muitos outros pastores
têm verificado que uma série de sermões sobre os dons
espirituais tem estabelecido uma visível diferença quanto
ao crescimento de suas igrejas. Pastores de igrejas que são
estruturadas em tomo dos dons espirituais não somente
pregam tais séries, mas também mencionam continuamente
os dons espirituais em seus outros sermões. E também
não supõem que apenas uma série de sermões seja o bas­
tante. Ano após ano eles pregam sobre o assunto, de dife­
rentes perspectivas, informando novos membros e refor­
çando as convicções dos membros antigos.
256 Descubra Seus Dons Espirituais

Quando o pastor fala bastante sobre os dons espiri­


tuais, fica mais fácil os membros da igreja conversarem a
esse respeito. Os membros sentem que o assunto é cêntrico,
e o tom criado por um poderoso rninistério no púlpito, acerca
dos dons espirituais, pode ser útil em todas as áreas da
vida eclesiástica.
B. Estudar o ensino bíblico acerca dos dons. Não
somente os crentes deveriam ouvir do púlpito mensagens
acerca dos dons espirituais, mas eles mesmos deveriam
estudar o assunto. Isso pode ser feito em pequenos gru­
pos, em sessões especiais de estudo, ou mesmo cada qual
em seu lar. David C. Cook tem um excelente currículo de
Escola Dominical chamado Congratulations! You’re Gified.^'^
A West Indies Missions publica um excelente manual de
estudos sobre os dons, chamado Spiritual Gifts, de autoria
de Bobby Clinton.*^ A Associação Evangelístico Fuller tam­
bém dispõe de um ótimo estudo bíblico cujo desígnio é ser
usado por indivíduos ou por grupos de e s t u d o . E muitas
denominações contam com o seu próprio material caseiro
de estudo sobre os dons espirituais. A Igréla do Nazareno,
por exemplo, desenvolveu um pacote de material especifi­
camente destinado ãs denominações wesleyanas ou
holiness.^®
O estudo bíblico ajudará uma congregação a ficar fa­
miliarizada com a natureza dos diversos dons, como os cren­
tes espiritualmente dotados se ajustam dentro do Corpo
de Cristo, e o que esses dons poderão significar pessoal­
mente para cada crente.
C. Ajudar os adultos a descobrirem os seus dons.
Usei aqui, a propósito, a palavra “adultos”, pois nem todo
crente de qualquer idade está pronto para utilizar-se com
proveito de seus dons espirituais. Minha regra geral é que
se um crente tem quinze anos de idade mas ainda não sabe
qual é o seu dom espiritual, não deve preocupar-se; prova­
velmente ainda é muito jovem. No entanto, se já está com
vinte e cinco anos, mas ainda não sabe qual é o seu dom,
então deveria começar a preocupar-se. Em meu modo de
compreender, a capacidade de descobrir dons espirituais é
9 Cinco Passos Para CrescerAtravés dos Dons 257

uma função da maturidade emocional. As pessoas emoci­


onalmente maduras estão preparadas para conhecer os seus
dons; mas a maturidade emocional surge em diferentes
idades para diferentes pessoas. Algumas já estão emocio­
nalmente maduras aos vinte, mas outras, aos trinta anos,
ainda não estão emocionalmente maduras.
Os crentes recém-convertidos que são emocionalmente
maduros, podem esperar descobrir seus dons no espaço
de quatro a doze meses, dependendo de uma série de fato­
res. Uma das primeiras coisas que eles deveríam aprender
é que Deus tem para eles algum dom espiritual, que está
somente esperando ser descoberto.
Os jovens precisam ter consciência de seus dons es­
pirituais o mais cedo possível. Encontrei um excelente cur­
rículo produzido pelo Sínodo do Missouri da Igreja Luterana
para as suas escolas paroquais, que ensinam ãs crianças
do primeiro grau, desde o começo, que elas fazem parte de
um Corpo místico mais amplo, e que a contribuição delas
para o Corpo é importantíssima aos olhos de Deus. Jovens
que cursam o ^gundo grau fazem bem quando experimen­
tam todos os dons possíveis, mas devem permanecer de
mente aberta antes de chegarem a quaisquer conclusões
definitivas. Tenho observado muitos estudantes de semi­
nário que conhecem o ensino bíblico concernente aos dons
espirituais, mas que ainda não descobriram seus dons com
qualquer grau de certeza.
D. Efetuar uma oficina de dons espirituais. Uma das
frustrações que senti durante cerca de trinta anos, duran­
te os quais ensinei acerca dos dons espirituais, foi que de­
pois de ter ensinado sobre a teoria dos dons e depois que
os crentes a compreendiam, eu não sabia como continuar
a conduzi-los, a partir daquele ponto. A maioria das pesso­
as que aprende sobre os dons espirituais quer saber qual
seria o seu dom; mas naquele tempo eu não tinha elemen­
tos concretos para ajudá-las em grande coisa.
Eis a razão que me fez sentir tanto deleite quando,
cerca de um ano atrás, o Departamento de Crescimento
Eclesiástico, da Associação Evangelística Fuller efetuou
258 Descubra Seus Dons Espirituais

uma oficina de primeira qualidade sobre os dons espiritu-


aisd® Esse seminário foi submetido a teste em dezenas de
igrejas, com resultados encorajadores e eu, hoje, me sinto
muito mais seguro e preparado para conduzir pessoas a
descobrir seus dons espirituais.
Esse não é o único instrumento de descoberta de que
dispomos. Várias igrejas têm desenvolvido seus próprios
currículos. O Western Baptist Seminaiy, por exemplo, pro­
duziu um “Inventário de Dons Espirituais”, de autoria de
Gordon McMinn. Aborda doze dons espirituais e conta com
um apoio de computador. Os batistas do sul dispõem de
um jogo de mesa visando à descoberta de dons chamado
“Nexus.”'® Não duvidemos de que os recursos relativos à
descoberta de dons aumentarão em número, variedade e
sofisticação.
E. Estabelecer um programa de aceitação de res­
ponsabilidade. Algumas igrejas caem no erro de efetuar um
seminário sobre dons espirituais, como se fosse apenas
algum outro exercício espiritual agradável e inspirador.
Então aqueles crentes voltam para casa sêln direção. Não
são traçados planos definidos de acompanhamento. E as­
sim, em muitos casos, os resultados líquidos são peque­
nos, no que diz respeito ao crescimento eclesiástico.
Assim, quando o processo que leva aos dons espiritu­
ais tiver início, certifique-se de estabelecer alvos quanto ã
descoberta de dons espirituais. Talvez um bom alvo seja
que cinqúenta por cento dos adultos de sua igreja possam
descrever os seus próprios dons espirituais dentro de doze
meses, e que mais vinte por cento estarão no processo da
descoberta. Cada grupo precisa desenvolver algum siste­
ma, a fim de poder verificar o que estarã acontecendo. Os
crentes precisarão ser considerados responsáveis uns di­
ante dos outros, a fim de porem em bom uso os seus dons,
uma vez que os descubram.
F. Continuar indefmidamente a experiência. Desco­
brir, desenvolver e usar os dons espirituais não deveria ser
alguma atividade intermitente da igreja. Tal como deve acon­
tecer com a oração, com o estudo bíblico e com o batismo e
9 Cinco Passos Para Crescer Através dos Dons 259

a Ceia do Senhor, essa experiência deveria tomar-se parte


permanente do estilo de vida da congregação. É mister que
isso seja estimulado mediante livros, sermões e lições de
Escola Dominical. Etambém é preciso treinar um gmpo de
crentes que possa ajudar outros crentes a usarem os seus
dons. Timóteo permitiu que seu dom caísse em desuso, e
Paulo precisou instar com ele para que renovasse o seu
dom (1 Tm 4.14). E isso também acabará acontecendo
conosco, se não nos conservarmos em estado de alerta.
Talvez a recente providência tomada pela Igreja
Luterana de Saint Paul, em Detroit, estado de Michigan,
possa servir de exemplo quanto a outras igrejas interessa­
das em edificar dons espirituais em seu processo de cresci­
mento eclesiástico. Essa igreja, que atualmente cresce a
uma taxa de duzentos e setenta por cento por década, tem
descoberto que os dons espirituais são uma chave vital no
crescimento das igrejas locais. Em resultado, o pastor
Wayne Pohl adicionou um novo membro à sua equipe pas­
toral que trabalha por tempo integral, chamado Arthur
Beyer, com o t^ulo de “Ministro dos Dons Espirituais”.

^ Passo 5: Espere a Bênção Divina


O ensino acerca dos dons espirituais não foi inventa­
do por algum consultor de gerenciamento de eficiência, por
algum departamento de crescimento eclesiástico, por al­
gum seminário teológico ou mesmo por algum concilio ecle­
siástico. O ensino sobre os dons espirituais deriva-se dire­
tamente da Palavra de Deus. Isso nos confere a certeza do
que precisamos para podermos dizer, com toda a confian­
ça, que Deus quer que o Seu povo opere uns em compa­
nhia dos outros. Essa é a maneira de fazermos o trabalho
de Deus, sem importar se estivermos cuidando uns dos
outros, se estivermos aprendendo mais sobre a fé, se esti­
vermos celebrando a ressurreição de Jesus Cristo ou se
estivermos procurando alcançar pessoas perdidas com a
mensagem do amor de Deus. Essa é a maneira de tomar
realidade o tipo de crescimento eclesiástico que edifica o
crente, bem como o inteiro Corpo de Cristo.
2 60 Descubra Seus Dons Espirituais

A fé é a chave. Sem fé é impossível agradar a Deus


(ver Hb 11.6). Fé é expectativa de que Deus tem algo me­
lhor para nós. Expectativa de que podemos ser crentes con­
forme Deus quer que sejamos, de que Ele nos dotou e que
nos sentiremos plenamente realizados, se fizermos Sua
vontade através do bom uso dos dons espirituais.
A fé segreda-nos que Deus quer que a Sua Igreja cres­
ça. Ele quer que Suas ovelhas perdidas sejam achadas e
trazidas para o redil do Senhor. E Ele assim fará através
dos dons que Ele tem em reserva para a cada um de nós,
tendo em vista a Sua própria glória.

Notas
1. Aqueles que desejam ajuda na formulação de uma filosoíla geral de ministério para suas igrejas, devem
escrever pedindo o PasLors Platmiiig Workbcxík, em quatro partes, disponível na Fuller Evangelisüc Associalion,
Box 989, Pasadena Califórnia 91102. A segunda parte aborda, especificamente, a questão da filosofia do
ministério.
2. Peter E. Gillquíst, IxiCs QuiL FigJilUxg About The Holij Spirit (Grand Rapids: Zondervan Publlshing House,
1974).
3. O único programa reconhecido de Doutor em Ministério de que tenho ciência concentra-se (em 70%)
sobre a questão do crescimento eclesiástico, publicado pelo Fuller Theological Seminary. Quanto a informa­
ções sobre requerimentos tanto sobre crédito quanto sobre auditoria, escreva ao Diretor de Educação Con­
tinua. Fuller Theological Seminary, 135 North Oakland Avenue, Pasadena, Califórnia 91101. Os seminários
sobre esse programa cobrem períodos de doze dias.
4. Informações sobre a Clínica de Diagnóstico podem ser obtidas na Fuller Evangelistic Association, Box
989, Pasadena. Califórnia 91102.
5. Muitas denominações têm dignosücadores de igrejas em sua liderança nac.onal e/ou regional. Entre
aqueles que ti*abalham entre as denominações, recomendo Lyle Schaller, Yokefellow Inslltute, 530 N. Bralnard,
Napemlle, Illinois 60540, bem como o pessoal do Departamento de Crescimento Eclesiástico da Fuller
Evangelistic Association, Box 989, Pasadena, Califórnia, 91102, sob a direção de CarI George.
6. Quanto a maiores informações escreva para o Institute for American Church Growth, 150 South Los
Robles Avenue, Suite 600, Pasadena. Califórnia 91101.
7. Ver, por exemplo, C. Peter Wagner, Your Church Can Crow (Glendale: Regai Books. 1976), pãgs. 61 -66.
8. Kent A. Tucker, "A Church Growth Study of The First BaptisL Church of Modesto" (Pasadena: Fuller
Seminaiy, um estudo não-publicado sobre Doutor em Ministério, 1978), pág. 37.
9. Idem, pág. 38.
10. Foi inicialmente publicado no livro de Donald A. McGavran e Win C. Arn, How lo Crow a Church (Glendale:
Regai Books. 1973), pàgs. 89-97.
1 1 , 0 manual The Worker Analysis faz parte da Clinica de Diagnóstico, mencionada acima, mas também
pode ser obtido separadamente da Fuller Evangelistic Association, Box 989, Pasadena, Califórnia 91102.
12. Não podendo obtê-lo em sua livraria evangélica local, escreva para David C. Cook Publishing Co., 850 N.
Grove Ave., Elgin, Illinois 60120.
13. Peça para a West Iridies Mission, Inc. Box 343038, Coral Gables, Florida 33134.
14. Disponível na Fuller Evangelistic Association. Box 989, Pasadena. Califórnia 91102.
15. Disponível na Nazarene Publishing House. 6401 The Paseo. Kansas City, Missouri 64131.
16. Tanto o guia do lider quanto o manual do estudante podem ser solicitados da Fuller Evangelistic
Association, Box 989, Pasadena, Califórnia 91102.
17. Esse “Inventário de Dons Espirituais" pode ser pedido da Western Baptist Seminaiy Bookstore, 5511 S.
E. Hawlhorne Boulevard., Portland, Oregon 97215.
18. Quanto a maiores informações sobre “Nexus," escreva para The Sunday School Board ofThe Southern
Baptist Convention, 127 Ninlh Avenue North, Nashvílle. Tennessee 37234.
A pêndice 1 :

Q ue S ã o os D ons ? — U m S umário

stes vinte e sete dons espirituais foram alistados


aqui na ordem em que foram arrolados no segun­
do capítulo deste livro.

1. Profecia jfO dom de profecia é aquela capacidade es­


pecial que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para receberem e transmitirem alguma men­
sagem imediata da parte de Deus ao Seu povo, atra­
vés de uma declaração divinamente ungida.

2. Serviço - O dom de serviço é aquela capacidade espe­


cial que Deus dá a certos membros do corpo de Cristo
para que identifiquem as necessidades não-satisfei-
tas envolvidas em alguma tarefa relacionada á obra
de Deus, e para usarem os recursos disponíveis sa­
tisfazendo a essas necessidades e ajudarem a reali­
zar os alvos desejados.

3. Ensino - O dom de ensino é aquela capacidade espe­


cial que Deus dá a certos membros do corpo de Cristo
para comunicarem informações relevantes para a
saúde e o ministério do corpo e seus membros, de
tal modo que outros crentes possam aprender.
262 Descubra Seus Dons Espirituais

4. Exortação - O dom de exortação é aquela capacidade


especial que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para ministrarem palavras de consolo, enco­
rajamento e conselho a outros membros do corpo
de Cristo, de tal maneira que se sintam ajudados e
curados.

Contribuição - O dom de contribuição é aquela capaci­


dade especial que Deus dá a certos membros do corpo
de Cristo para que contribuam com seus recursos
materiais para a obra de Deus, com liberalidade e
alegria.

Liderança - O dom de liderança é aquela capacidade


especial que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para estabelecerem alvos de acordo com o
propósito de Deus para o futuro, e para transmiti­
rem esses alvos a outros erentes, de tal modo que,
voluntária e harmoniosamente, trabalhem juntos
para cumprir esses alvos para a glóH^q de Deus.

Misericórdia - O dom de misericórdia é aquela capaci­


dade especial que Deus dá a certos membros do corpo
de Cristo para sentirem empatla e compaixão genuí­
nas por pessoas, tanto crentes quanto não-crentes,
que estejam sofrendo problemas físicos, mentais ou
emocionais, e para traduzirem essa compaixão em
atos alegremente feitos, que reflitam o amor de Cris­
to e aliviem o sofrimento.

8. Sabedoria - O dom de sabedoria é aquela capacidade


espeeial que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para que reconheçam a mente do Espírito
Santo de modo a receberem discernimento a fim de
que um dado conheeimento seja melhor aplicado ás
necessidades específieas que suijam no corpo de
Cristo.
Apêndice / 263

9. Conhecimento - O dom de conhecimento é aquela ca­


pacidade especial que Deus dá a certos membros do
corpo de Cristo para descobrirem, acumularem, ana­
lisarem e esclarecerem informações e idéias perti­
nentes ao crescimento e ao bem-estar do corpo.

10. Fé - O dom de Fé é aquela capacidade especial que


Deus dá a certos membros do corpo de Cristo para
discernirem, com extraordinária confiança, a von­
tade e os propósitos de Deus quanto ao futuro de
Sua obra.

11. Curas - O dom de curas é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos membros do corpo de Cristo
para servirem de intermediários humanos por meio
de quem agrada a Deus curar enfermidades e res­
taurar a saúde, à parte do uso de meios naturais.

12. Milagres - O dom de milagres é aquela capacidade


especi^que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para servirem de intermediários humanos por
meio de quem Deus se agrada em realizar atos pode­
rosos percebidos pelos observadores como atos que
alteram o curso normal da natureza.

13. Discernimento de espíritos - O dom de discernimento


de Espíritos é aquela capacidade especial que Deus
dá a certos membros do corpo de Cristo para sabe­
rem, com certeza, se certos comportamentos, supos­
tamente provenientes de Deus, na realidade são di­
vinos, humanos ou satânicos.

J4. Línguas - O dom de línguas é aquela capacidade es­


pecial que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para: (a) falarem a Deus em um idioma que
nunca aprenderam e/ou (b) receberem e transmiti­
rem alguma mensagem imediata de Deus ao Seu
povo, em uma língua que nunca aprenderam.
264 Descubra Seus Dons Espirituais

15. Interpretação de línguas - O dom de Interpretação de


Línguas é aquela capacidade especial que Deus dá a
certos membros do corpo de Cristo para tornarem
conhecida a mensagem que outro crente falou em
línguas.

16. Apostolado - O dom de apostolado é aquela capacida­


de especial que Deus dá a certos membros do corpo
de Cristo para que assumam e exerçam a liderança
geral sobre um número de igrejas com extraordiná­
ria autoridade sobre questões espirituais, a qual é
espontaneamente reconhecida e apreciada por aque­
las Igrejas.

17. Socorros - O dom de socorros é aquela capacidade es­


pecial que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para que invistam os talentos que receberam
na vida e no ministério de outros membros do cor­
po, capacitando assim a pessoa ajudada a aumen­
tar a eficácia de seus dons espiritual^}.

18. Administração - O dom de administração é aquela ca­


pacidade especial que Deus dá a certos membros do
corpo de Cristo para compreenderem claramente os
alvos imediatos e a longo prazo, alvos de uma uni­
dade particular, de unidade do corpo de Cristo e para
que tracem e executem planos eficazes para a realiza­
ção desses alvos.

19. Euangelismo - O dom de evangelismo é aquela capaci­


dade especial que Deus dá a certos membros do corpo
de Cristo para que compartilhem do evangelho com
os incrédulos, de tal modo que homens e mulheres
se tornem discípulos de Jesus e membros respon­
sáveis do corpo de Cristo.

20. Pastor - O dom de pastor é aquela capacidade espe­


cial que Deus dá a certos membros do corpo de Cristo
Apêndice 1 265

para assumirem uma responsabilidade pessoal a


longo prazo pelo bem-estar espiritual de um grupo
de crentes.

21. Celibato - O dom de celibato é aquela capacidade es­


pecial que Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para permanecerem solteiros e apreciarem a
sua condição e não sofrerem tentações sexuais in­
suportáveis.

22. Pobreza voluntária - O dom de pobreza voluntária é


aquela capacidade especial que Deus dá a certos
membros do corpo de Cristo para renunciarem aos
confortos e aos luxos materiais e adotarem um esti­
lo de vida pessoal equivalente ao daqueles que vi­
vem em um nível de pobreza, em uma dada socieda­
de, a fim de servirem a Deus com maior eficiência.

23. Martírio - O dom de martírio é aquela capacidade es­


pecial c|^e Deus dá a certos membros do corpo de
Cristo para suportarem sofrimentos e até a própria
morte pela fé, ao mesmo tempo em que exibem coe­
rentemente uma atitude jubilosa e vitoriosa, que
redunda na glória de Deus.

24. Hospitalidade - O dom de hospitalidade é aquela ca­


pacidade especial que Deus dá a certos membros do
corpo de Cristo para proverem uma casa aberta e
acolherem calorosamente àqueles que precisam de
alimento e abrigo.

25. Missionário - O dom de missionário é aquela capaci­


dade especial que Deus dá a certos membros do corpo
de Cristo para ministrarem quaisquer outros dons
espirituais que porventura tenham, em uma segun­
da cultura.

26. Intercessáo - O dom de intercessao é aquela capaci-


266 Descubra Seus Dons Espirituais

dade especial que Deus dá a certos membros do corpo


de Cristo para orarem durante extensos períodos de
tempo de forma regular, e receberem respostas fre-
qüentes e específicas às suas orações, em um grau
multo maior do que aquele que se espera dos cren­
tes comuns.

27. Exorcismo ou Libertação - O dom de exorcismo ou li­


bertação é aquela capacidade especial que Deus dá
a certos membros do corpo de Cristo para que ex­
pulsem demônios e espíritos malignos das pessoas
em nome de Jesus Cristo.

%
Diagnóstico dos Dons

QUESTIONÁRIO M ODIFICADO DE W AGNER

Saudações!

Você está prestes a envolver-se em um em ocio­


nante exercício espiritual. Deus lhe deu um ou mais
dons espirituais. Se você é crente, descobrir esse dom
ou dons, será um a experiência emocionante.
Você ê solicitado a responder as cento e vinte e
cinco perguntas do “Questionário M odificado de W ag­
n er” . Esse instrum ento de descobrim ento de dons
espirituais foi originalmente sugerido pelo Dr. Richard
F. Houts, professor do North Am erican Baptist Theolo-
gical Sem inaiy, em 1976. Subseqüentemente foi m odi­
ficado por C. Peter Wagner, do Charles E. Fuller Insti-
tute o f Evang^lism and Church Growth, sendo adap­
tado para seu livro clássico. Descubra Seus Dons E s­
pirituais, atual sucesso de livraria no campo dos dons
espirituais. A cópia que você tem em m ãos ê a segun­
da edição da obra e a prim eira revisão da versão origi­
nalm ente publicada.
Milhares e milhares de crentes têm sido abençoa­
dos por se subm eterem ao Questionário Modificado.
Constantes informações baseadas nesse questionário
têm -nos capacitado a refiná-lo a ponto onde lhe dará
um quadro bastante exato dos tipos de m inistério que
Deus espera que você esteja desem penhando em seu
grupo de crentes.
Entretanto, não considere como finais os resul­
tados deste teste. Os três ou quatro dons nos quais
você se sair melhor, podem ser ou não seus reais dons
espirituais. Seja como for, porém, você pode ter a certe­
268 Descubra Seus Dons Espirituais

za de que eles são um ponto de partida para as suas


orações e experiêneias. Voeê preeisará de outros m em ­
bros do eorpo de Cristo para ajudá-lo a eonfirm ar os
dons que voeê tem.

C. P e t e r W a g n e r

%
Apêndice / 269

Antes de Voeê Começar.

Siga estes quatro passos. . .

Passo 1

Repasse a lista das cento e vinte e cinco declarações


do questionário, às págs. 270-288. No caso de cada de­
claração marque até que ponto a declaração é verdadeira
em sua vida: MUITO, POUCO, ÀS VEZES ou NADA.

A d v e rtê n cia ! Não escolha sua nota de acordo com


o que você pensa que deveria ser verdadeiro ou o que
você espera ser no futuro. Seja honesto e escolha sua
nota ã base de suas experiências passadas.

Passo 2
Quando terminar, dê notas ao seu desempenho no
questionário j^/r meio do gráfico do Questionário Modi­
ficado de Wagner, à pág. 289.

Passo 3
Após ter dado notas a si mesmo, volte às págs. 270-
288 e transfira os nomes dos dons espirituais às suas
fileiras correspondentes no gráfico do Questionário
Modificado de Wagner, à pág. 289. A ordem, segundo a
qual os dons aparecem é idêntica á sua ordem no gráfico.
Você quererá estudar as definições dos dons e as
referências bíblicas.

Passo 4
Complete os exercícios da pág. 297 para obter uma
avaliação na tentativa de saber onde seus dons podem
estar para explorar as implicações em seu ministério no
corpo de Cristo.

A reprodução deste questionário ê proibida.


270 Descubra Seus Dons Espirituais

PASSO 1: Questionário M odificado de W agner

(3) (2) (1) (0)

em sua vida: MUITO, POUCO, Muito Pouco Às Nada


À S VE ZES E NAD A Vezes

1. T en h o o desejo de fa
m ensagens diretas da parte de
Deus que edifiquem, exortem 1
ou consolem a outras pessoas.

2 . Ten h o desfrutado relacio-


nar-m e a certos grupos de pes­
soas p or um longo período,
com partilhando pessoalm ente
/
do seu sucesso e de seus fra­
cassos.
V
3 . Pessoas m e têm dito que as
tenho ajudado a aprender a
verdade bíblica de m aneiras
significativas.

4 . Tenho aplicado eficazmente


a verdade espiritual a situa­
ções de m inha própria vida.

5 . Outros me têm dito que os te­


nho ajudado a distinguir fatos V
chaves e importantes da Bíblia.

6. Ten h o encorajado verb a l­


mente os hesitantes, os pertur­
bados ou os desencorajados.
Apêndice / 271

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

mentira, antes disso tom ar-se


evidente para outras pessoas.

8. Tenho deseoberto que ge­


rencio bem o dinheiro, a fím de
contribuir liberalm ente para a
obra do Senhor.

9. Tenho ajudado líderes evan­


gélicos a se sentirem aliviados
para seus trabalhos essenciais.

10. Tenho u m ^esejo de traba­


lhar com a qu ^ es que têm pro­
blem as físicos ou mentais, pa­
ra aliviar os sofrim entos deles.

11. Sinto-m e confortável ao


relacionar-m e a gm pos étnicos
e a minorias, e eles parecem /
aceitar-m e bem.

12. Tenho conduzido outros a


u m a d ecisão pela salvação,
através da fé em Cristo.

13. Meu lar estã sempre aber­


to a pessoas de passagem, e \
que precisam de um lugar onde
possam permanecer.
272 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada
1 4 . Quando estou em um gru
po, eu sou aquele para quem
os outros olham, atrás de v i­
são e orientação.

1 5 . Q uando falo, as pessoas


y
parecem ouvir e concordar.

1 6 . Quando estou em um gru­


po ao qual falta organização,
tendo por preencher o vácuo.

1 7 . Outras pessoas podem sa­


lientar instâncias específicas
onde m inhas orações têm re­
V
sultado em m ilagres visíveis.

1 8 . No nome do Senhor, tenho


sido usado pcU^a curar doenças
de form a instantânea.

1 9 . Tenho falado em línguas.

2 0 . A lgu m a s vezes, quando


um a pessoa fala em línguas,
tenho um a idéia do que Deus
está dizendo.

21. Eu poderia viver de form a


m ais confortável, mas prefiro
não fazê-lo, a fim de viver com
os pobres.
Apêndice / 273

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

2 2 . Sou solteiro e gosto de m i­ y


nha situação.

2 3 . P a sso p elo m enos um a


hora diária em oração.

2 4 . Tenho falado a maus espí­


ritos e eles m e têm obedecido. 'i

2 5 . Tenho sido chamado para


ocupar-m e em tarefas especi­ -
ais ao redor da igreja.

2 6 . Por meio de Deus tenho re­


velado coisay específicas que \
acontecerão no futuro.

2 7 . Tenho gostado de assumir


a responsabilidade pelo bem-
estar particular de algum gru­
po específico de crentes.

2 8 . Sinto que sou capaz de ex­


plicar o ensino do Novo Testa­
m ento sobre a saúde e o minis­
tério do corpo de Cristo de fo r­
m a relevante.

2 9 . Posso chegar intuitivamen­


te a solu ções de problem as
bastante complicados.
274 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) 0) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

3 0 . Tenho tido discernimentos


sobre a verdade espiritual, que
outros têm me dito, que os aju­
daram a levá-los m ais perto de
Deus.

31. Posso m otivar eficazmente


as pessoas a se envolverem no
ministério, quando isso é ne­
cessário.

3 2 . Vez por outra posso “ver” o


Espírito de Deus repousando í
sobre certas pessoas.

3 3 . Meu registro de doações


m ostra que dou consideravel­
m ente m ais de dez por cento
de m inha renda para o traba­
lho do Senhor.

3 4 . O utras pessoas m e têm


dito que eu as tenho ajudado
a se tornarem mais eficientes
em seus ministérios.

3 5 . Tenho cuidado de outros


quando eles têm passado por
necessidades m ateriais ou fí­
sicas.
Apêndice 1 275

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada
3 6 . Sinto que podería apren­
der bem outra língua a fim de
m inistrar à pessoas de cultu­
ras diferentes.

3 7 . Tenho compartilhado com


alegria como Cristo me levou a
Ele mesmo, de um a m aneira
que é significativa para os in ­
crédulos.

3 8 . Desfruto cuidar de ja n ta ­
res de igreja ou de eventos so­
ciais.

iÊo
3 9 . Tenho cn do em Deus pelo
im possível e tenho visto isso
acontecer de m aneira tangível.

4 0 . Outros crentes têm segui­


do minha liderança porque têm ■•
crido em mim.

4 1 . Aprecio a idéia de m anu­


sear os detalhes de organizar
id é ia s , p essoa s, recu rso s e
tem po com vistas a um m inis­
tério m ais eficiente.

4 2 . Deus me tem usado pes­


soalm ente a realizar sinais e
m aravilhas sobrenaturais.
276 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada
4 3 . Aprecio orar por pessoas
enferm as, porque sei que m ui­
tas delas serão curadas em
resultado disso.

4 4 . Tenho falado alguma m en­


sagem im ed iata de D eus ao
Seu povo, em uma língua que y
nunca aprendi.

4 5 . Tenho interpretado línguas


com resultado, e o corpo de
Cristo tem sido edificado, exor­
tado ou consolado.

V
4 6 . Viver mediante um estilo
de vida simples é um desafio V
m otivador para mim.

4 7 . Outras pessoas têm nota­


do que me sinto mais indife­ •
rente por não ser casado do
que a m aioria das pessoas.

4 8 . Quando ouço um pedido


de oração, oro por essa neces­
sidade por vários dias, pelo m e­
nos.

4 9 . N a verdade, já ouvi um
'
d e m ô n io fa la n d o em voz
audível.
Apêndice / 277

^ 3 T (2) (V (0)
Às
Muito Pouco Vezes Nada

50. Não tenho muitas habili­


dades especiais, m as faço o
que é preciso ser feito em redor
da igreja.

51. Pessoas m e têm dito que


tenho comunicado mensagens
oportunas e urgentes, que de­
vem vir diretam ente da parte
do Senhor.

52. Não tenho m edo de dar


orientação espiritual e direção

d
á algum grupo de crentes.

53. Posso d evotar-m e a um


considerãvel tempo aprenden­
do novas verdades bíblicas a
fim de comunicã-las com ou­ Y
tras pessoas.

54. Quando um a pessoa en­


fren ta algum problem a, com
freqü ên cia posso orientá-las
para a m elhor solução bíblica.

55. M ediante o estudo ou a


experiência tenho discernido
grandes estratégias ou técnicas
qu e D eu s p arece u sa r para
prom over o Seu reino.
278 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

5 6 . Pessoas têm vindo a mím


em suas aflições e sofrimentos,
e me têm dito que elas têm sido
ajudadas, aliviadas e curadas.

5 7 . Posso dizer com um alto


gra u de se g u ra n ça qu an d o
um a pessoa ê afligida por al­
gum espírito maligno.

5 8 . Q uando sou m ovido por


um apelo para contribuir para
a obra de Deus, usualm ente
posso encontrar o dinheiro de
que preciso para a contribui­
ção.

5 9 . Tenho desfrutado fazer ta­


refas rotineiras que levam a um
ministério mais eficaz por parte
de outras pessoas.

6 0 . Desfruto visitas a hospitais


e/ou casas de repouso, e sinto
que m e saio bem em tal m inis­
tério,

6 1 . Pessoas de raças ou cultu­


ras diferentes me têm atraído
e nos tem os relacionado bem.
Apêndice / 279

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

62. Pessoas incrédulas têm no­


tado que elas se sentem con­
fortáveis quando estão perto de
mim, e que exerço um efeito
positivo sobre elas, para que
desenvolvam a fé em Cristo.

63. Quando as pessoas che­


gam ao nosso lar, elas demons­
tram que se “sentem em casa”
conosco.

64. O utras p e s s o a s m e têm


dito que tenho tido fé para rea­
lizar aquilo que lhes parecia y'
impossível.

65. Quando estabeleço alvos,


outras pessoas parecem acei­
tá-los prontamente.

66. Tenho sido capaz de tra­


çar planos eficazes e eficientes
para realizar os alvos de um
grupo.

67. Deus parece fcizer regu lar­


m ente coisas im possíveis atra­
vés da m inha vida.
280 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada
68 . O utras pessoas m e têm
dito que Deus as curou de al­
g u m p r o b le m a e m o c io n a l /
quando m inistrei para elas.

6 9 . Posso falar com Deus em


uma língua que nunca aprendi. y

7 0 . Tenho orado para que eu


possa interpretar se alguém
com eçar a falar em línguas.

7 1 . Não sou uma pessoa po­


bre, m as posso identificar-m e
com pessoas pobres.
\

7 2 . Estou alegre por ter mais


tempo para servir o Senhor, por
ser solteiro.

7 3 . A oração de intercessão é
um a das m inhas m aneiras fa ­
voritas de passar o tempo.

7 4 . Outras pessoas m e cha­


m am quando suspeitam que
\
alguém estã endemoninhado.

7 5 . Outras pessoas têm m en­


cionado que pareço gostar das y
ta re fa s ro tin e ira s e qu e as
cum pro bem.
Apêndice 1 281

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

7 6 . Algum as vezes tenho um


forte senso daquilo que Deus
quer dizer às pessoas, em res­
posta a algum a situação em
particular.

7 7 . Tenho ajudado a crentes


am igos guiando-os a porções
relevantes da Bíblia orando
i
com eles.
í
7 8 . Sinto que posso com uni­
car verdades bíblicas a outras
pessoas e verfnudanças no co­
nhecimento, nas atitudes, nos
valores e na conduta.

7 9 . Algum as pessoas indicam


que tenho percebido e aplica­
do verdades bíblicas às n eces­
sidades específicas de amigos
crentes.

8 0 . Estudo e leio bastante a


fim de aprender novas verda­
des bíblicas.

8 1 . Tenho o desejo de aconse­


lhar eficazm ente os perplexos,
os culpados e os viciados.
282 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

82. Posso reconhecer se o en­


sino de um a pessoa vem de
Deus, de satanás ou se tem ori­ i.

gem humana.

83. Confio tanto que Deus sa­


tisfará m inhas necessidades
que m e dou a Ele sacrificial e
consistentem ente.

84. Quando faço coisas de m a­


neira secreta, e outras pessoas
são ajudadas, sinto-me alegre.

85. A s pessoas m e cham am


para ajudar àqueles que são \
vf
m enos afortunados.

86 . Eu estaria disposto a dei­


xar um meio ambiente confor­
tável se isso me capacitasse a
compartühar de Cristo com um
m aior núm ero de pessoas.

87. Fico frustrado quando ou­


tras pessoas não parecem com­
partilhar de sua fé com os in­ V

crédu los tanto quanto eu.

88 . Outras pessoas tém menci­ <

onado para m im que sou uma


pessoa muito hospitaleira.
Apêndice / 283

( 3) ( 1) ( 0)
Às
Muito Pouco Vezes Nada

8 9 . Tem havido ocasiões em


que me sinto certo de que co­
nheço a vontade específica de
Deus para o crescimento futu­
ro de Sua obra, mesmo quan­ i
do outras pessoas não parecem
estar tão seguras.

9 0 . Quando m e uno a um gru­


po, outros parecem recuar e
esperam que eu assuma a li­
derança. "* í
9 1 . Sou capaz de dar orienta­
ções a outras pessoas sem usar
persuasão p » a fazê-las reali­ 4
zar algum a tarefa.

9 2 . Pessoas m e têm dito que


eu fui o instrumento de Deus
que trouxe mudanças sobrena­
turais nas suas vidas ou nas
suas circunstâncias.

9 3 . Tenho orado por outros e


cu ras física s têm realm ente
acontecido.

y
94. Q uando apresento um a
mensagem pública em línguas,
espero que a m esm a seja inter­
pretada.
284 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

s
r
abençoado a outras pessoas.

9 6 . Outros dizem que m e sa­


crifico m uito materialment 1
fim de ministrar.

9 7 . Sou solteiro, e tenho p


ca d ificu ld a d e em con tn r \
m eus desejos sexuais.

m aneiras tangíveis. V

de o p r e s s õ e s d em
quando tenho orado.

e fazer algo ao invés de sim-

orador.

ponto específico do tempo.


Apêndice / 285

(3) (2) (■») (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

102. Pessoas m e têm dito que


eu as tenho ajudado a serem
re s ta u ra d a s à eo m u n id a d e V
eristã.

103. Estudar a Bíblia e eom-


p a rtilh a r de m eus diseern i-
m en tos eora, ou tros. Ê algo
m uito satisfatório para mim.

104. Tenho sentido um a pre­


se n ç a in eo m u m de D eu s e
gran d e eon ü a n ça p essoal /
quando preciáo tomar deeisões
importantes.

105. Tenho a eapaeidade de


deseobrir novas verdades por
m im mesmo, mediante a leitu­
ra ou m ediante a observação
de situações em prim eira mão.

106. Tenho exortado outras


pessoas a busearem uma so­
lução bíblica para suas aflições
ou sofrimentos.

107. Posso dizer se uma pes­


■f
soa que fala em línguas estã
agindo de form a genuína.
286 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada
108. T e n h o -m e d is p o s to a
m anter um padrão de vida in
ferior a fim de beneficiar a obra \
de Deus.

109. Quando sirvo o Senhor,


re a lm e n te não m e im p o rta
V
quem ficará com o crédito.

110. Eu d esfru ta ria passar


tem po com um a pessoa solitá­
ria e aprisionada em alguma
situação ou no cárcere.

111. Mais do que a maioria das


\
pessoas, tenho tido o forte desejo
de ver pessoas de outros países /
serem ganhas para o Senhor.

112. Sou atraído pelos incré­


dulos devido ao meu desejo de \
ganhá-los para Cristo.

113. Tenho tido o desejo de fa­


zer m inha casa disponível para
aqueles que estão no serviço do
Senhor, sem pre que isso for
necessário.

114. Outras pessoas me têm dito


que sou uma pessoa de visão in-
comum, e concordo com isso.
Apêndice 1 287

(3) (2) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

115. Quando estou encarrega­


do de alguma coisa, as coisas /•
parecem acontecer suavemente.

1 1 6 . Tenho desfrutado su por­


ta r a resp on sa b ilid a d e pelo
sucesso de algum a tarefa p a r­
ticular dentro de m inha igreja.

1 1 7 . No nom e do Senhor, te­


nho sido capaz de devolver a
vista aos c=ego|.

1 1 8 . Quando oro pelos enfer­


mos, ou eu, ou eles, sentem sen­
A
sações de zunido ou de calor.

1 1 9 . Quando falo em línguas,


acredito que isso é edificante
para o corpo do Senhor.

1 2 0 . Tenho interpretado lín­


guas de tal m odo que a m en­
sagem parece vir diretamente
da parte de Deus.

1 2 1 . A s p essoas pobres m e
aceitam porque prefiro viver no
nível delas.
288 Descubra Seus Dons Espirituais

(3) (2) (1) (0)


Às
Muito Pouco Vezes Nada

1 2 2 . Identifico-me prontam en­


te com o desejo de Paulo por
outros, para serem solteiros
como ele era solteiro.

1 2 3 . Q uando oro, D eus fre-


qüentem ente fala comigo, e eu
reconheço a voz Dele.

124. E x p u lso d em ôn ios no


i /
nom e de Jesus.

1 2 5 . R espondo alegrem ente


quando sou solicitado a fazer »
V
um trabalho, mesmo que seja
um trabalho manual.
Apêndice 1 289

PASSO 2: Gráfico M odificado de Wagner

No quadro abaixo, coloque o valor numérico de cada


uma de suas respostas ao lado do número da declaração
correspondente ao Passo 1.
MUITO = 3
POUCO = 2
ÀS VEZES = 1
NADA= 0
Então, adicione os cinco números que você tem con­
tados em cada coluna e coloque a soma na coluna “Total”.
Dom
Filas Valor das Respostas Total (ver págs 290-296)

A 1 26 2- 51 3 76 1 101 f '0
B 2 27 52 77 102J
C 3 28 3 53 78 :» 103
D 4 29 54 79 104 1
E 5 \ 30 55 3 80 3 105 3
F 6 31 56 81 1 106 3 '■'A
G 7 32 1 57 - 82 107 r lO
H 8 - 33 k 58 83 108 1
I 9 - 34 r 59 o 84 3 109 a •• ■ . <o
J 10 1 35 a, 60 i 85 110 ‘
K 11 36 V 61 86 111 ' 'I C\0.7- í,
L 12 37 62 87 112 ‘ ■
M 13 38 63 88 113
N 14 39 64 89 1 114 1 l

O 15 •1 40 65 90 115 < \ *>

P 16 41 66 91 '3 116 3 ' s fv '’ <6if .1 j

g 17 42 ! 67 92 117 \7

R 18 \ 43 68 1 93 1 118 i
s 19 V 44 69 • 94 119 3
T 20 45 70 95 120 T-
U 21 i 46 71 96 121 V \0

V 22 47 72 97 122 o
W 23 48 73 98 123 o

X 24 49 c 74 t 99 124
Y 25 50 75 100 125
■ X ' '____________

NOTA: As letras maiúsculas antes das definições dos dons, às


págs 290-296 correspondem à coluna de A a Y.
2 90 Descubra Seus Dons Espirituais

PASSO 3: Revise as Definições dos Dons e as Refe­


rências Bíblicas

A s páginas seguintes eontêm definições sugeri­


das dos dons espirituais, em bora seu propósito não
seja tom á-las dogmáticas ou finais. Essas definições
e Escrituras de apoio correspondem a características
dos dons, conforme são expressas pelo Questionário
M odificado de Wagner.

A. Profecia. (1 Co 12.10-28; E f 4.11-14; Rm 12.6; Lc


7.26; A t 15.32; A t 21.9-11)

O dom de profecia é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
receberem e transm itirem alguma m ensagem im edia­
ta da parte de Deus ao Seu povo através de um a de­
claração divinamente ungida.

B. Pastor. (E f4.11-14; I T m 3.1-7; Jo 10.1-18; I P e 5.1-3)

O dom de pastor é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
assum irem um a responsabilidade pessoal a longo pra­
zo para o bem-estar espiritual de um gm po de crentes.

C. Ensino. (1 Co 12.28; E f 4.11-14; Rm 12.7; A t 18.24-


28; A t 20.20-21)

O dom de ensino é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
com unicarem inform ações relevantes para a saúde e
o m inistério do corpo e seus membros, de tal m odo
que os outros crentes possam aprendam.
Apêndice 1 2 9 !

D. Sabedoria. (1 Co 2.1-13; 1 Co 12.8; A t 6.3,10; Tg


1.5,6; 2 Pe 3.15,16)

O dom de sabedoria é aquela capacidade espe­


cial que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo
para que reconheçam a m ente do Espírito Santo de
modo a receberem discernimento a fim de que um dado
conhecim ento seja m elhor aplicado às necessidades
específicas que surgem no corpo de Cristo.

E. Conhecimento. (1 Co 2.14; 1 Co 12.8; A t 5.1-11;


Cl 2.2-3; 2 Co 11.6)

O dom de conhecimento é aquela capacidade


especial que Deus dá a certos m em bros do corpo de
Cristo para descobrirem, acumularem, analisarem, es­
clarecerem inform ações e idéias pertinentes ao cresci­
m ento e ao b ^ p -esta r do corpo.

F. Exortação. (Rm 12.8; 1 Tm 4.13; Hb 10.25; A t 14.22)

O dom de exortação é aquela capacidade espe­


cial que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo
para m inistrarem palavras de consolo, encorajamento,
e conselho a outros membros do corpo de Cristo de tal
m aneira que se sintam ajudados e curados.

G. Discernimento de Espíritos. (1 Co 12.10; A t 5.1-


11; A t 16.16-18; 1 Jo 4.1-6; M t 16.21-23)

O dom de discernimento de espíritos é aquela ca­


pacidade especial que Deus dá a certos membros do corpo
de Cristo para saberem, com certeza, se certos compor­
tamentos supostamente provenientes de Deus, na reaü-
dade são divinos, humanos ou satânicos.
2 92 Descubra Seus Dons Espirituais

H. Contribuição. (Rm 12.8; 2 Co 8.1-7; 2 Co 9.2-8;


M c 12.41-44)

O dom de contribuição é aquela capacidade es­


pecial que Deus dá a certos membros do corpo de Cristo
para que contribuam com seus recursos m ateriais à
obra de Deus com liberalidade e alegria.

I. Socorros. (1 Co 12.28; Rm 16.1,2; A t 9.36; I x 8.2,3;


Mc 15.40,41)

O dom de socorros é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
que investam os talentos que receberam, na vida e no
m inistério de outros m em bros do corpo, capacitando
a pessoa ajudada a aum entar a eficiência de seus dons
espirituais.

J . Misericórdia. (Rm 12.8; Mc 9.41; A 16.33,34; Lc


10.33-35; M t 20.29-34; M t 25.34-40; A t 11.28-30)

O dom de m isericórdia é aquela capacidade que


Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
sentirem em patia e compaixão genuínas por pessoas,
tanto crentes quanto não crentes, que estejam sofren­
do problem as físicos, mentais ou emocionais, e para
traduzirem essa compaixão em atos alegremente feitos
que reflitam o amor de Cristo e aHviem o sofrimento.

K. Missionário. (1 Co 9.19-23; A t 8.4; A t 13.2,3; A t


22.21; Rm 10.15)

O dom de missionário é aquela capacidade espe­


cial que D eus dá a certos m em bros do corpo de Cristo
para m inistrarem quaisquer outros dons espirituais
A p ê n d ic e / 293

que porventura tenham em um a segunda cultura.

L. E^angelismo. (E f 4.11-14; 2 Tm 4.5; A t 8.5,6; A t


8.26-40; A t 14.21; A t 21.8)

O dom de evangelismo é aquela capacidade espe­


cial que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo
para que compartilhem do evangelho com os incrédu­
los, de tal m odo que homens e m ulheres se tornem
discípulos de Jesus e m em bros responsáveis do corpo
de Cristo.

M. Hospitalidade. (1 Pe 4.9; Rm 12.9-13; Rm 16.23;


A t 16.14,15; Hb 13.1,2)

O dom de hospitalidade é aquela capacidade


especial que Deus dá a certos m em bros do corpo de
Cristo para proverem um a casa aberta e acolherem
calorosam enj^ àqueles que precisam de alim entos e
de abrigo.

N. Fé. (1 Co 12.9; A t 11.22-24; A t 27.21-25; Hb 11;


Rm 4.18-21)

O dom de fé é aquela capacidade especial que


Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
discernirem , com extraordinária confiança, a vontade
e os propósitos de Deus quanto ao futuro de Sua obra.

O. Liderança. (1 Tm 5.17; A t 7.10; A t 15.7-1 l;R m 12.8;


Hb 13.17; Lc 9.51)

O dom de liderança é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
estabelecerem alvos de acordo com o propósito de Deus
294 Descubra Seus Dons Espirituais

para o futuro e para transm itir esses alvos a outros


crentes de tal modo que voluntária e harm oniosam en­
te, trabalhem ju ntos para cum prir esses alvos para a
glória de Deus.

P. Administração. (1 Co 12.28; A t 6.1-7; A t 27.11; Lc


14.28-30; Tt 1.5)

O dom de adm inistração é aquela capacidade


especial que Deus dá a certos m em bros do corpo de
Cristo para com preenderem claramente os alvos im e­
diatos e a longo prazo, alvos de um a unidade particu­
lar, de unidade do corpo de Cristo e para que traçem e
executem planos eficazes para a realização desses
alvos.

Q. Milagres. (IC o 12.10; A t 9.36-42; A t 19.11-20; A t


20.7-12; Rm 15.18,19; 2 Co 12.12)
\
O dom de m ilagres é aquela capacidade especial
que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
servirem de intermediários humanos por meio de quem
Deus se agrada em realizar atos poderosos percebidos
pelos observadores como atos que alteram o curso
norm al da natureza.

R. Curas. (1 Co 12.9,28, At3.1-10; At5.12-16; A t9 .3 2 -


35; A t 28.7-10)

O dom de curas é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
servirem de intermediários humanos por meio de quem
agrada a Deus curar enfermidades e restaurar a saúde,
à parte do uso de m eios naturais.
Apêndice 1 295

S. Línguas. (1 Co 12.10,28; 1 Co 14.13-19; A t 2. 1-


13; A t 10.44-46; A t 19.1-7; Mc 16.17)

O dom de línguas é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos membros do corpo de Cristo para:
(a) falarem a Deus em um idiom a que nunca apren­
deram e/ou (b) receberem e transmitirem alguma m en­
sagem im ediata de Deus ao Seu povo em um a língua
que nunca aprenderam.

T. Interpretação de línguas. (1 Co 12.10,30; 1 Co


14.13; 1 Co 14.26-28)

O dom de interpretação de línguas é aquela capa­


cidade especial que Deus dá a certos m em bros do c o r­
po de Cristo para tornarem conhecida a m ensagem
que outro crente falou em línguas.

U. Pobreza ^ lu n tá ria . (1 Co 13.1-3; A t 2.44-45; At


4.34-37; 2 Co 6.10; 2 Co 8.9)

O dom de pobreza voluntária é aquela capaci­


dade especial que Deus dá a certos m em bros do corpo
de Cristo para renunciarem confortos e aos luxos m a­
teriais e adotarem um estilo de vida pessoal equiva­
lente ao daqueles que vivem em um nível de pobreza
em um a dada sociedade, a fim de servirem a Deus
com m aior eficiência.

V. CeHbato. (IC o 7.7,8; Mt 19.10-12)

O dom de celibato é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
perm anecerem solteiros e apreciarem a sua condição;
mas ficarem solteiros e não sofrerem tentações sexuais
insuportáveis.
296 Descubra Seus Dons Espirituais

W. Intercessão. (Tg 5.14-16; 1 T m 2 .1 ,2 ; Cl 1.9-12; Cl


4.12,13; A t 12.12; Lc 22.41-44)

O dom de intercessão é aquela capacidade espe­


cial que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo
para orarem durante extensos períodos de tem po de
form a regular e receberem respostas freqüentes espe­
cíficas às suas orações, em um grau m uito m aior do
que aquele que se espera dos crentes comuns.

X. Exorcismo ou Libertação. fMt 12.22-32; Lc 10.12-


20; A t 8.5-8; A t 16.16-18)

O dom de exorcism o ou libertação é aquela ca­


pacidade especial que Deus dá a certos m em bros do
corpo de Cristo para que expulsem dem ônios e espíri­
tos m alignos das pessoas em nom e de Jesus Cristo.

Y. Serviço. (2 T m 1.16-18; Rm 12.7; At^S. 1-7; T t 3.14;


G1 6.2-10).

O dom de serviço é aquela capacidade especial


que Deus dá a certos m em bros do corpo de Cristo para
que identifiquem as necessidades não-satisfeitas en ­
volvidas em algum a tarefa relacionada á obra de Deus
e para usarem os recursos disponíveis satisfazendo a
essas necessidades e ajudarem a realizar os alvos de­
sejados.
Apêndice / 297

PASSO 4: Dons e Ministérios

1. Usando os resultados do Gráfico M odificado de


Wagner, à pág. 289, coloque abaixo, na seção
“D om inante” , seus três dons m ais altam ente
cotados. Então coloque, na seção “Subordina­
dos” , os três dons aproxim adamente cotados.
Isso lhe dará um a possível avaliação de quais
serão os seus dons.

Dominantes; 1.
2.
3.

Subordinados: 1.
2.
3.

2. Q u ais m in istérios estão agora fu n cion a n d o


(formal ou informalmente) no Corpo de Cristo?

3. Há algum desses m inistérios para os quais você


não foi especialmente dotado? Deus pode estar
a cham ar-lhe para fazer algumas modificações.
298 D escu b ra Seus D o n s Espirituais

4. Sua condição vocacional é de leigo ou de clérigo?

5. À luz de seu conjunto de dons e de condição


vocacional, quais são alguns dos m odelos ou
papéis de m inistério, apropriados para vocé?
Para quais papéis específicos no corpo de Cristo,
Deus talvez o tenha dotado?

\
A pêndice 2:

A profundamento T eológico
DESCUBRA, DESENVOLVA
E USE O SEU DOM

e os dons espirituais em operação são tão im ­


portantes para Deus, para a Igreja e para o
crente individual, como tenho tentado descre­
ver, então alguma coisa melhor, deve ser feita
a respeito deles, em um sentido prãtico e pessoal. À
luz do ensinam ento claro da Palavra de Deus, penso
que não estou en ganado ao afirm ar que um dos
exercícios prim ários para qualquer crente é descobrir,
desenvolver e usar seu dom espiritual. E outros exer­
cícios espirituais podem ser igualm ente tão im por­
tantes: a adoração, a oração, a leitura da Palavra de
Deus, o alim entar aos famintos, os sacram entos ou o
que você puder fazer. Mas desconheço qualquer coisa
mais im portante do que descobrir, desenvolver e usar
os dons espirituais.
Os crentes que desejam fazer a vontade de Deus,
m as não sabem exatamente como deverão funcionar
no Corpo de Cristo, precisam dar prioridade m áxim a
ao descobrim ento de seus dons espirituais. Elizabeth
0 ’Connor, da Igreja do Salvador, em Washington, D.
C., um a igreja conhecida nacionalm ente pelo uso de
seus dons espirituais, coloca a questão como segue:
300 Descubra Seus Dons Espirituais

“Pedim os para conhecer a vontade de Deus sem cal­


cular que a vontade Dele está escrita em nossos pró­
prios seres. Percebemos isso quando discernimos quais
são os nossos dons” . (Elizabeth 0 ”Connor, E igh th D a y
o f Creation: Gifts and Creativity, Dallas, TX: W ord Inc.,
1971, pág. 15).
O “descobrim ento” vem antes do “desenvolvim en­
to”, dentro da seqüência, porque os dons espirituais
são recebidos, e não conquistados. Deus distribui os
dons segundo Sua própria discrição. 1 Coríntios 12.11
fala sobre o Espírito a distribuir os dons espirituais
“como lhe apraz, a cada um, individualm ente”. Mais
tarde, no versículo 18, o texto diz que Deus firm ou os
m em bros no Corpo “como lhe aprouve”. Deus não con­
fiou a quem quer que seja distribuir os dons espirituais.
N enhum pastor, nenhum superintendente distrital,
nenhum presidente de serninãrio, e nem o próprio papa
estã qualificado para distribuir os dons espirituais.
Entretanto, ninguém trabalha veA ladeiram ente
duro, e então é recom pensado com um dom. São dons
da graça e, como tal, em ergem de Deus sem referência
ao grau de mérito ou de santificação a que o recebedor
tenha atingido. O fato que são dados a crentes recém-
convertidos antes deles terem tido tem po para am a­
durecer espiritualmente, confirm a isso.

É Contra-produtivo "Descobrir Dons"?

Gene Getz, um dos mais notáveis mestres bíblicos


da Am érica do Norte e líderes de igreja, discorda da
idéia que é im portante aos crentes descobrirem seus
dons espirituais. Por muitos anos, ele m esm o ensinou
que os crentes deveríam fazer um esforço para desco­
brirem os dons, mas, mais recentemente ele tem rever­
tido a sua posição. (Gene Getz desenvolve esse ponto
Apêndice 2 301

em duas de suas obras. O prim eiro é Sharpening the


Focus o f the Church (Chicago, IL; Moody Press, 1974,
págs. 112-117), e mais tarde em B u ild in g Up O n eA n o-
ther (Wheaton, IL: Victor Books, 1976), págs. 9-16).
O ponto de Vista de Getz merece um a pensativa
consideração. Antes de tudo ele é um estudante bíblico
completo e não estaria inclinado a tirar tais conclusões
apressadamente. Quanto a outra questão, e direta­
mente a propósito deste livro, a igreja que ele implantou
em 1972, a Fellowship Bible Church, desfrutou de no­
tável crescimento. Ao articular a filosofia de ministério
para sua igreja, Getz salientou o conceito de “m aturi­
dade corporal”. Ele enfatizou a fé, a esperança e o amor,
juntam ente com as qualidades de liderança alistadas
no terceiro capítulo de 1 Tim óteo e o prim eiro capítulo
de Tito, ao invés de enfatizar os dons espirituais.
Em seu livro, Building Up One Another, Getz alistou
as razões pelas quais ele rejeitou a idéia de se tentar
descobrir nossos dons espirituais. Essas razões servem
para catalogar alguns dos abismos que precisam os
evitar, sem im portar qual posição decidam os tomar.
Seria bom m encionã-los aqui, a fim de que possam os
conservã-los em mente, conform e avançam os na dis­
cussão. Resum am os pois, esses abismos:

1. C o n fu s ã o .

Ensinar os crentes a descobrirem os seus dons


espirituais, que teriam recebido por ocasião da conver­
são, na realidade tem levado muitas pessoas, até m es­
m o crentes maduros, a ficarem confusos.

2. R a c io n a liz a ç ã o .

Alguns tendem a fixar sua atenção em algum


302 Descubra Seus Dons Espirituais

suposto dom, usando-o como um a racionalização por


não cum prirem outras responsabilidades bíblieas. Por
exemplo, alguns diriam que têm o dom de pastorear,
m as não o de ensinar. Ou outros poderão dizer que
não têm o dom do evangelismo, porque se sentem des-
eonfortãveis em eom partilhar de Cristo.

3. A u to -d e c e p ç ã o .

Algum as pessoas pensam que têm um dom espi­


ritual quando, na realidade, eles não o possuem.
Getz m ostra-se forte nesse ensino, porque, con­
form e ele disse: “De repente raiou-m e na mente, certo
dia” , de que em parte algum a de 1 Corintios 12, R o­
m anos 12 e Efêsios 4 “aehamos qualquer exortação
quanto a erentes individuais ‘procurarem’ ou ‘tenta.'*em
descobrir’ seu dom ou seus dons espirituais”.
Tenho pensado bastante sobre a posição de Getz.
Perguntas sobre isso surgem com freqüeiicia em meus
seminários. E hesito em eontradizê-lo porque, afinal,
ele ê um bem sucedido plantador de igreja, e tam bém
porque tenho visto um vigoroso crescim ento eelesiás-
tico sob o seu ministério.
Não obstante, direi que não acredito que Getz
tenha dado consideração suficiente ao treeho de Roma­
nos 12.1-6. Não preciso descer a detalhes, porque, eon-
form e já foi discutido, exceto para salientar, um a vez
mais, aquilo que me parece ser um a clara relação bíbli­
ca entre “tendo... diferentes dons”(v. 6) e “não pense
de si mesmo, além do que convém ”(v. 3) e “qual seja a
boa, agradável e perfeita vontade de D eus”(v. 2).
Ora, serei o primeiro a admitir que há muitos eren­
tes m aduros, fiéis e úteis que estão fazendo a vontade
de Deus, sem serem capazes de deserever em term os
claros, quais são seus dons específicos. Por certo, m ui­
Apêndice 2 303

tos crentes, através dos séculos, por todo o globo, mas


especialm ente aqui na Am érica do Norte, antes da
“coisa nova” sobre a qual falo na introdução, têm estado
a fa zer a von tade de D eus de m an eiras notáveis.
Muitos, de fato, estão usando seus dons espirituais
sem serem capazes de articular o que estão fazendo.
Não obstante, acredito sinceram ente que tais crentes
estão operando sob o “plano B ” de Deus. Penso que o
trecho de Rom anos 12.1-6 é claro o bastante para
ensinar-nos que o “plano A ” de Deus é para m em bros
do Corpo de Cristo que sejam eonscientes da parte de
cada um “de quem todo o corpo, bem ajustado e conso­
lidado...” (E f 4.16a). Assim, concluímos que o plano B
é funcional, mas em m inha opinião, o plano A é o m e­
lhor que Deus tem para dar-nos.
O fato que muitas igrejas estão erescendo, mas
cuja filosofia de ministério é o plano B, reafirm a aquilo
que os líderes do crescimento eclesiástico têm dito com
freqüência: crescimento eclesiástico é complexo. É
possível para um a igreja sair-se inadequada quanto a
algum princípio de crescimento, mas m esm o assim,
para crescer, é necessário que outros princípios de cres­
cimento estejam operando com eficácia. Uma visão par­
ticular sobre os dons espirituais não serve de fórm ula
segura para o crescimento eclesiástico. M as em muitos
casos (embora não em todos), um despertamento quan­
to aos dons espirituais, m obilizando os m em bros em
to m o dos dons espirituais, conforme eles são biblica-
m ente identificados e definidos, e encorajando o Cor­
po a com eçar a funcionar com seus m em bros traba­
lhando ju ntos pelo poder do Espírito Santo, ajudará
um a igreja a sair das depressões do crescimento, tão
certam ente quanto uma cam panha de vacinação im ­
pede que se propague um surto de varíola.
As objeções que Gene Getz levanta ao descobri­
304 Descubra Seus Dons Espirituais

m ento prático e ao uso dos dons espirituais são per-


feitam ente reais. Confusão, racionalização e auto-de-
cepção podem e realm ente apresentam problem as
sérios. Contudo, não são obstáculos insuperáveis. A
confusão pode ser elim inada quando um forte ensino
bíblico sobre os dons é provido dentro de um contexto
de cuidados pastorais sensíveis. A racionalização é m e­
nos útil como um a saída, quando o relacionam ento
apropriado entre os dons e os papéis é esclarecido, o
que explicarei mais adiante com consideráveis deta­
lhes. O engano se evapora quando o Corpo funciona
bem o bastante de m odo que os m em bros com par­
tilham de suas percepções com os dons de uns com os
outros, com abertura de coração e com amor.

Reconciliando Wimber com Wagner

À sem elhança de Gene Getz, m eu amigo de longo


tempo, John Wimber, tam bém m udou s\ius pontos de
vista sobre os dons espirituais, m ais ou m enos na
época em que ele se tom ou o pastor fundador do que
agora é a Vyneyard Christian Fellowship o f Anaheim ,
estado da Califórnia.
Quando W im ber começou a ensinar à sua congre­
gação a curar os enferm os e a expelir os demônios, ele
sentiu ser contra-produtivo ensinar, que somente ã
certos m em bros do corpo de Cristo foram conferidos
os dons espirituais de curas ou de livramentos. Ele
queria evitar o fenôm eno dos curadores pela fé dos
super-astros, na plataforma, e, em lugar disso, envol­
ver o corpo inteiro no ministério de curas.
A fim de fazer isso, John W im ber reexam inou as
Escrituras e adotou aquilo que tem sido reconhecido
como a visão pentecostal clássica de que o Espírito
Santo deseja operar através dos dons espirituais na
Apêndice 2 305

vid a de ca d a crente. Ele foi grandem ente ajudado pelo


erudito das Assem bléias de Deus, Russell Spittler, o
qual sugeriu que ao invés de traduzir o carísmata grego
como “dons espirituais” , isso fosse traduzido literal­
m ente por “graceletes”. Dessa maneira, os dons espiri­
tuais não devem ser considerados “atributos especiais”,
conform e m inha definição funcional diz, mas em lugar
disso, como um a dotação de poder, que todo crente
pode esperar receber quando a necessidade surgir.
De conform idade com essa perspectiva, W im ber
podería então exortar sua congregação inteira a im por
as mãos sobre os enfermos, sempre que sentissem que
Deus os estava chamando para fazê-lo, acreditando
que o Espírito Santo lhes daria o dom ou “gracelete”
das curas, naquele momento, e para verem a pessoa
enferm a curada pelo poder de Deus. À sem elhança de
Gene Getz, W im ber viu um notãvel crescim ento ecle­
siástico sob o seu ministério.
C onform ^ o tempo foi passando, John W im ber
fez um a outra descoberta. Tornou-se evidente que,
em b ora cad a cren te seja eleg ivel p a ra re c e b e r o
“gracelete” das curas, alguns crentes parecem recebê-
lo m ais freqüentemente, e com uma m edida m aior do
poder divino do que outros. John W im ber explicou esse
fenôm eno ao dizer que essas pessoas pareciam ser
vistas como aquelas a quem Deus escolhera para dar
um “m inistério” de curas.
Sabendo nós disso, não é difícil reconciliar o ponto
de vista de W im ber com o meu. Pelo m enos chegamos
a algum lugar. Am bos ensinamos que todos os crentes
deveríam orar pelos enferm os na espera de curas.
Am bos ensinam os que certos crentes fazem isso com
m aior consistência e com m elhor resultados do que
outros. Mas usamos term os diferentes para descobrir­
m os o que vemos:
306 Descubra Seus Dons Espirituais

* Aqu ilo a que W im ber cham a de dons ou


“graceletes", W agner cham a de “papéis".

* Aquilo a que W im ber cham a de “ ministérios”,


W ager cham a de “dons espirituais".

Concedem os que em ergem im plicações desses


dois diferentes pontos de vista que ultrapassam a m era
semântica. Em m inha opinião, contudo, essas dife­
rentes posições são secundárias, e não quero elaborar
m ais ainda esse ponto. Nossas concordâncias são
m uito m aiores do que os desacordos existentes.

Explicando Alguns Problemas

Antes de encerrar o assunto do descobrim ento


dos dons espirituais, precisarem os exam inar de m odo
breve dois conjuntos de textos que têm causado proble­
mas para algumas pessoas. h
O prim eiro desses conjuntos é um par de versí­
culos relacionados entre si, ou seja, 1 Coríntios 12.31
e 1 Coríntios 14.1. Ambos os textos falam em “procurar”
os dons espirituais. À prim eira vista, parecem contra­
dizer a idéia que a iniciativa de atribuir dons espirituais
pertence a Deus, e não a nós. Porém, importa notarmos
que nenhum desses dois versículos é endereçado a
crentes individuais. Am bos aludem ã Igreja como um
todo, um a Igreja que tinha caído no erro particular de
elevar o dom das línguas acima de todos os dem ais
dons. Esses versículos não precisam ser considerados
norm ativos para nós individualm ente, mas, para a
congregação local, coletivamente falando.
O segundo texto é form ado por outro par de v e r­
sículos, relacionados entre si, isto é, 1 Tim óteo 4.14 e
2 Tim óteo 1.6. Nesses versículos, Paulo afirm a que
Apêndice 2 307

Tim óteo recebeu um dom m ediante a im posição de


mãos, a saber, as m ãos de Paulo e as m ãos do presbi­
tério ou conjunto de anciãos. M inha com preensão
sobre isso, ã luz das m uitas outras Escrituras sobre o
assunto, é que a função de um presbitério é im por as
m ãos quando o dom que Deus deu é reconhecido pelo
corpo, e esse ato autoriza o m inistério através do dom,
de maneira oficial. Qualquer função que outros crentes,
como os anciãos, possam ter, na confirmação dos dons,
devem os lem brar que o Espírito Santo é quem distribui
os dons, conform e “lhe apraz” (1 Coríntios 12.11).

BENEFÍCIOS DOS DONS ESPIRITUAIS

O que acontecerá se vocé resolver descobrir, de


senvolver e usar seu dom ou seus dons espirituais?
Várias coisas.
Em prim eiro lugar, vocé será um crente melhor, e
tam bém m a i» capaz de perm itir que Deus faça sua
vida contar para Ele. Por assim dizer, as pessoas que
conhecem quais são os seus dons espirituais podem
controlar suas “descrições de trabalho espiritual”. Eles
encontram seu lugar na igreja com m ais facilidade.
Tenho dito com freqüência, m ais ou menos brincando,
que um benefício imediato do povo de um a igreja que
sabe quais são os seus dons espirituais é que a com is­
são nom eadora pode ser desligada, e que a comissão
selecionada pode ser estabelecida para receber apli­
cações para trabalhar. Mas é o que está acontecendo.
Alguns poucos meses atrás, recebi uma carta do pastor
Paul Erickson, da First Covenant Church, de Portland,
Oregon, que vinha estudando o crescim ento eclesiás­
tico, no p ro g ra m a de D ou to res de M in istério do
Seminário Fuller. Sua carta dizia: “Nossa gente juntou-
se ã busca alegre de descobrir e de usar seus dons
308 Descubra Seus Dons Espirituais

espirituais. Seis de nossos m em bros entraram em


eontato eom a eomissão nom eadora para serviços, nas
juntas, no ano que vem !”
M in h a igreja, a Lake A ven u e C on grega tion al
Chureh, ainda tem um a eomissão nomeadora. Mas
quando entregam suas nomeações anuais à congre­
gação, cada pessoa nom eada é acom panhada por um a
pequena lista de avanços pessoais, e o prim eiro item
alista especificam ente seus dons espirituais. Espera­
m os que ninguém ocupe um a posição em nossa igreja
que não seja dotado por Deus para aquela responsa­
bilidade pessoal.
Os crentes que sabem quais são os seus dons
espirituais tendem por desenvolver uma saudável auto-
estima. Isso não significa que cada crente não deva
pensar “de si mesmo além do que convém ” (Rm 12.3).
Antes, eles aprendem que sem im portar qual seja o
dom de cada um, eles são im portantes a Deus e ao
corpo. A ssim sendo, o ouvido a p r e n d í a não dizer:
“Porque não sou olho, não sou do corpo” (1 Coríntios
12.16). Complexos de inferioridade aleij antes caem por
terra quando as pessoas começam a “pensar com so­
briedade” quanto a si mesmas.
A hum ildade é um a virtude cristã, m as ã sem e­
lhança de muitas coisas boas, isso pode ser exagero.
Alguns crentes são tão humildes que se tom am v ir­
tualm ente inúteis no corpo. Essa, sem dúvida, é um a
falsa humildade, e com freqüéncia é estim ulada pela
ignorância quanto aos dons espirituais.
A s pessoas que se recusam a dizer quais os seus
dons espirituais, sob a alegação de que, se o fizessem,
seriam arrogantes e presunçosos, apenas exibem seu
fracasso de entender o ensino bíblico sobre os dons
espirituais. Alguns podem ter um m otivo menos nobre
por não quererem estar associados a algum dom espi­
Apêndice 2 309

ritual - talvez não queiram ser considerados respon­


sáveis por seu uso. Nesse caso, a hum ildade pode ser
usada como um a cobertura por sua desobediência.
A m aioria das pessoas que conhecem seus dons
espirituais e os estão usando, não se deixam atrapalhar
por atitudes assim negativas. Antes, em primeiro lugar,
am am a Deus, amam a seus Irmãos e irmãs e amam a
si m esm os por aquilo que Deus os tem feito serem.
Esses crentes não se sentem orgulhosos diante de seus
dons, m as m ostram -se agradecidos por causa dos
mesmos. E cooperam com outros m em bros do Corpo,
em harm onia e eficácia.
Em segundo lugar, não somente conhecer sobre
os dons espirituais ajuda a crentes individuais, mas
também ajuda a igreja como um todo. O quarto capítulo
da epístola aos Efésíos diz-nos que quando os dons
espirituais estão em operação, o corpo inteiro am adu­
rece. Isso ajuda o corpo a adquirir um a certa “m edida
da estatura d^ plenitude de Cristo” (v. 13).
Quando a igreja local amadurece, previsivelmente
ela cresce. Quando o corpo está funcionando bem,
então, segundo a ju s ta cooperação de cada parte,
efetua o seu próprio aumento para a edificação de si
mesmo em a m or” (E f 4.16b). É claro que existe uma
relação bíblica entre os dons espirituais e o crescimento
da igreja local. Este livro inteiro tenciona ser um a ela­
boração de com o essa relação pode operar na prática.
A terceira e mais importante coisa que faz o conhe­
cim ento sobre os dons espirituais é que isso glorifica a
Deus. O trecho de 1 Pedro 4.1 Ib aconselha os crentes
a usarem seus dons espirituais, e então adiciona a
razão por que: “... para que, em todas as coisas, seja
Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem
pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos.
Am ém ”. O que poderia haver de melhor do que glorificar
310 D escu b ra Seus D o n s Espirituais

a Deus? De acordo com o catecismo de W estminster,


essa é a “principal finalidade dos seres hum anos” .

MORDOMIA DOS DONS: PERIGOS £ DELEITES

A Bíblia informa-nos, clara e diretamente, que os


crentes são m ordom os de seus dons espirituais (ver 1
Pedro 4.10).
A m ordom ia, no sentido do Novo Testam ento,
envolve um a espantosa e trem enda responsabilidade.
Trem enda, porque a própria noção da m ordom ia traz
consigo um a im portante dimensão da necessidade de
prestar conta.
De acordo com 1 Coríntios 4.2: “Ora, além disso,
o que se requer dos dispenseiros é que cada um deles
seja encontrado fie l” . Esse versícu lo tem sido, por
m u ita s vezes, erron eam en te in terp reta d o. T en h o
ouvido pessoas citá-lo, e então seguir com a declciração:
“D eus não requer o sucesso. Ele apenas requ er a
fidelidade”. Esse tipo de conclusão pode tom ar-se um a
piedosa desculpa para a preguiça, para a estupidez,
para a incom petência e para a falta de coragem. De
maneira alguma isso é o que fica implícito na mordomia
neo-testamentária.
A chave para a m ordom ia acha-se na parábola
dos talentos, em Mateus 25.14-30. Três m ordom os do
m undo dos negócios receberam diferentes quantidades
de material. A responsabilidade deles era o uso desses
recursos, quanto ao seu propósito aceito no m undo
dos negócios - ganhar mais dinheiro. Dois dos três
du plicaram o capital recebido, e quando o dia da
prestação de conta chegou, ambos foram cham ados
de “servos bons e fiéis” . A fidelidade estava diretamente
relacionada ao sucesso. O outro mordomo m ostrou-
se tím ido e um pensador negativo. Ele não podia
Apêndice 2 311

reconhecer o potencial dos recursos que recebera. Ele


nada fez com o capital recebido, e, por isso mesmo, foi
ju lgado um “servo mau e negligente”.
Cada dom espiritual que temos recebido é um
recurso que precisam os usar, e pelo qual serem os
considerados responsáveis no dia do julgam ento dos
crentes. Alguns terão um, outros dois e outros, ainda,
cinco. A quantidade deles, para começar, não importa.
Os m ordom os são responsáveis somente por aquilo
que o Mestre tiver escolhido dar-lhes. Mas os recursos
que os m ordom os receberem devem ser usados para
que isso corresponda ao propósito do Mestre. A gora é
o tem po de nos prepararmos para responder àquela
pergunta que cada um de nós terá de ouvir da parte
de nosso Senhor: “Que fizeste com o dom espiritual
que te confiei?”
Tragicamente, muitos não serão capazes de dar
resposta a essa pergunta. Eles não serão chamados
de “servos boji^s e fiéis”, pelo menos não quanto a essa
área particular de suas vidas, porquanto m ostraram -
se ignorantes quanto a seus dons espirituais. A igno­
rância, repito, não é um a bem-aventurança!

PODEMOS ABUSAR DOS DONS

Podem os abusar dos dons espirituais de muitas


maneiras. O erudito da Igreja Metodista Unida, Kenne-
th Kinghorn, descreveu os extremos, usando as pala­
vras significativas "xarisfobia" e "xarismania" (Kenneth
Cain Kinghorn, Glfts of the Spirit, Nashville, TN: Abing-
don Press, 1976, pãg. 95). Algum as pessoas que estão
plenam ente conscientes do potencial dos dons espiri­
tuais usam-nos para adquirir poder, obter riquezas,
tirar vingança ou explorar a outros crentes. Procurarei
não expandir essas coisas ou catalogar todos os demais
3 12 Descubra Seus Dons Espirituais

abusos contra os dons espirituais, conforme se tom ou


com um hoje em dia. Mas quero destacar e com entar
sobre dois deles, que considero serem especialm ente
espalhados e contra-produtivos quanto ao crescimento
da igreja local.

Exaltação dos Dons

O prim eiro desses abusos é a exaltação de algum


dom espiritual. Em alguns círculos, tom ou-se popular
algum dom sobre os demais. Possuir um certo dom
constitui um símbolo de posição espiritual em alguns
gm pos. Os cidadãos de prim eira classe são separados
dos cidadãos de segunda classe com base no exercício
de algum dom ou dons.
Quando isso sucede, os dons tendem a tom ar-se
finalidades em si mesmos. Eles passam a glorificar o
usuãrio, ao invés do seu doador celestial Podem bene­
ficiar o indivíduo, ao invés do corpo. P o m m produzir o
orgulho e a auto-indulgéncia. Os crentes de Corinto
haviam caído nessa armadilha, e Paulo escreveu os
capítulos de 12 a 14 de 1 Coríntios na tentativa de
corrigir esses erros. Todos nós precisam os aceitar a
advertência da Bíblia e evitar a exaltação de algum
dom.
Enquanto eu revisava a literatura sobre os dons
espirituais, encontrei a exaltação de dons espirituais
nos lugares mais inesperados. Por exemplo, um certo
autor cham a a profecia de, o m aior dos dons. Um outro
diz que é a palavra da sabedoria. No entanto, um
terceiro sugere que talvez seja o apostolado. Particu-
larmente, não acredito que exista algum dom superior
a todos os demais, embora tenhamos uma lista descen­
dente de ofícios em 1 Coríntios 12.28. Parece que certos
dons são mais apropriados do que outros quanto a
Apêndice 2 313

certas ocasiões, quanto a certos lugares, quanto a cer­


tas filosofias ministeriais, quanto a certos grupos e
quanto a certas tarefas. Na situação da igreja de Co-
rinto, a profecia fazia-se m ais necessária do que as
línguas por exemplo. É conforme disse Charles Hum-
mel: “Paulo, de forma consistente, selecionou e ordenou
os dons ao acaso, a fim de ilustrar a diversidade, ao
invés de fazê-lo para indicar a im portância relativa dos
mesmos. Onde parecer haver um a ordem lógica, isso
deve ser entendido dentro do contexto da passagem, e
não para servir de im portância absoluta para todas as
ocasiões. (Charles E. Hummel, Fire in the Fireplace,
Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1978, pãg. 246).

A Síndrome da Projeção dos Dons

O segundo abuso consiste na projeção dos dons.


A m aior parte dos crentes sobre os quais foram escritas
biografias re^/izaram coisas extraordinárias durante
seu tempo de vida. O que lhes deu a capacidade de
produzirem tanta coisa durante a vida, que justificasse
um a biografia? Isso tem a ver com o fato que Deus
lhes deu algum dom espiritual ou dons espirituais com
um grau incomum, que eles os desenvolveram cons­
cientemente, e que os usaram para a glória de Deus e
para o benefício do corpo de Cristo.
Poucos biógrafos, entretanto, e poucos heróis de
suas biografias, têm sido pessoas sensíveis para com
o ensino bíblico acerca dos dons espirituais, Isso os
têm levado a assum irem outra abordagem para expli­
carem a causa de seus feitos incomuns. Ordinaria­
mente, a abordagem seguida nesses livros tende por
refletir a “teologia da consagração”, em lugar de ser
um a “teologia dos dons”. Em outras palavras, surgiu
em cena a idéia de que tal pessoa fez isto ou aquilo
3M Descubra Seus Dons Espirituais

sim plesm ente por am ar tanto a Deus. E assim, caro


leitor, se você amasse tanto a Deus, você poderia fazer
a m esm a coisa. E se você não ê capaz de fazer tais
coisas, então, agora você jã sabe qual ê a razão disso.
Algo m ostra-se deficiente em seu relacionam ento com
Deus.
Muitos dos crentes que lêem essas biografias são
totalmente consagrados a Deus. Por causa disso, geral-
m ente essas pessoas com freqüência são aquelas que
se sentem mais frustradas, culpadas e derrotadas, ao
tomarem conhecimento desses gigantes da fê. Para pio­
rar ainda m ais as coisas, quando os heróis das biogra­
fias ignoram os dons espirituais, adotam aquilo que
cham o de “projeção de dons”. Eles tendem por dizer,
com honesta humildade: “Veja, sou apenas um crente
ordinãrio, e não sou diferente de qualquer outra pessoa.
Eis o que eu faço, e Deus abençoa. Se você fizer o que
eu faço. Deus haverã de abençoã-lo por igual m odo” .
E o que raram ente dizem, infelizmente, “Posso fazer
o que faço porque Deus m e deu um certo dom ou
conjunto de dons. Se você descobrir que Deus lhe deu
os m esm os dons, junte-se a m im nessa empreitada.
Em caso negativo, nós nos amaremos e ajudarem os
um ao outro como m em bros diferentes do corpo”.
A s pessoas que são apanhadas na síndrom e da
projeção de dons parecem querer que o corpo inteiro
de Cristo seja um olho. E assim, sem o quererem, im-
póem culpa e vergonha sobre seus colegas cristãos.
Eles fazem os pês dizerem: “Porque não sou mão, não
sou do corpo” (1 Co 12.15). Usualm ente eles fazem
bem pouca idéia de quão devastadora é a projeção de
dons para aqueles que têm dons diferentes dos deles.
Eles assem elham -se ao m ordom o da parábola, que
voltou com dez talentos, dizendo ãquele que voltou com
quatro: “Se você amasse m ais ao Mestre, você teria
Apêndice 2 3 15

voltado também com dez talentos” , sem m encionar que


o Senhor lhe dera eineo talentos para eomeçar, mas
ao outro dera somente dois.
As pessoas que im põem a projeção de dons não
somente podem im por o senso de eulpa sobre outros
erentes, mas, o mais sério de tudo é que eles deixam
de reeonheeer que a razão pela qual outros erentes
são diferentes deles e podem ter dois talentos, em lugar
de eineo, é que o Espírito Santo m esm o distribuiu
“eomo lhe apraz, a eada um, individualm ente” (1 Co
12.11). De certa maneira, estão lançando dúvidas sobre
a sabedoria e a soberania de Deus quanto ãquele ponto.
Talvez, estejam se dando licença a usarem do “eom-
plexo do criador” - resolvidos a m oldar a outros segun­
do a sua própria imagem.
George Muller de Bristol, na Inglaterra, por exem ­
plo, tem sido chamado de “o apóstolo da fé ”. Um eerto
núm ero de biografias tem sido eserito a respeito dele,
d e s e r e v e n d o ^ m aneira com o Deus trabalhou por
interm édio deles, no cuidado pelos órfãos, eerea de
cem anos atrás. Li algumas dessas biografias e eheguei
a dizer que George Muller sem dúvida, seria alistado
na Guinness Book o f Spiritual W orld Reeords, se tal
livro chegasse a ser eserito algum dia. Ele tinha outros
dons também, mas um de seus maiores dons era o da
fé. Muller, entretanto, até onde sei, nunca reconheceu
isso como um dom espiritual. Em um ponto alto de
sua biografia, quando os leitores estão apropriada­
mente ofuscados por seus feitos espirituais, o Sr. Muller
é apresentado a dizer: “Não permitas que satanás te
engane ao fazer-te pensar que não poderías ter a
m esm a fé, e que isso é apenas para pessoas situadas
como eu sou...” Oro ao Senhor e espero uma resposta
às minhas petições; e vocé não poderia fazer outro tan­
to, cara leitor? (Basil Miller, George Muller: Th e M an
316 Descubra Seus Dons Espirituais

o f Faith, Grand Rapids, MI: Zondervan Publlshing Hou-


se, 1941, pág. 58).
A certa altura de m inha vida cristã eu costum ava
ler m uitas biografias, m as chegou o tem po em que eu
parei completamente, e no começo nem sabia dizer
por que parei. O que sei é que, enquanto eu lia, fazia-
o com prazer, mas quando eu terminava essas leituras,
sentia-m e um m iserável. Eu sem pre sentia que se
“alguém pôde fazer tais coisas, então eu tam bém p o­
dería fazé-las”. Mas agora penso que sei porque parei
de ler biografias - eu não gostava de sentir-m e um
miserável! Aquelas palavras, “poderías fazer outro tan­
to” realm ente me deixava chocado. Eu era um a vítim a
da projeção de dons, que de nada suspeitava, e visto
que eu continuava operando ã base das suposições da
teologia de consagração, em lugar da teologia dos dons,
eu não sabia como m anusear tais coisas.
Nos capítulos que se seguem, em que eu estarei
tratando de dons específicos, me referiAã de volta, de
vez em quando ã síndrom e da projeção de dons. Não
somente mantenho sentimentos pessoais acerca do que
jã foi descrito, mas tam bém acredito que, em m uitos
casos, isso está im pedindo o crescim ento eclesiástico.
Apêndice 2 317

1
A R edescoberta dos
D ons E spirituais

Suponham os que concordem os que a Bíblia


* ensina claramente que todos os crentes têm
dons espirituais para serem usados em seu m i­
nistério. Como, pois, você poderia explicar por
que as igrejas, através dos séculos, não incluí­
am isso em seu ensino central?

^ Por que muitos líderes pentecostais, no com e­


ço de nosso século, começaram a pregar sobre
os dons espirituais, m as não ensinavam que o
m inistério da igreja deveria ser efetuado prin-
cipalijjiente por leigos?

^ Você conhece pessoalm ente quaisquer crentes


que sintam que muitos dos dons espirituais
m encionados na Bíblia saíram de uso após o
prim eiro século da era cristã? O que você pen­
sa sobre isso?

h Discuta a diferença entre a doutrina de Lutero


sobre “o sacerdócio de todos os crentes” e a
doutrina de Peter W agner sobre “o m inistério
de todos os crentes”

^ Depois de ler sobre algo da história da prática


dos dons espirituais, onde você diria que se
ajusta a sua igreja local?
318 Descubra Seus Dons Espirituais

A I gnorância
N ão E Felicidade

Aprofundamento Teológico

1. O passo mais im portante para um cristão na


descoberta do plano de Deus para sua vida é,
identificar seu(s) dom(s) espirituais. Você acha
isto um exagero?

2. Para alguns, a idéia da igreja ser vista como


um “organism o” em vez de um a “organização”
é nova. Discuta a diferença entr^ms dois con­
ceitos.

3. Obviamente, m ulheres têm dons espirituais.


Você crê que Deus dã todos os dons para m u ­
lheres? Se não, quais ele restringiría?

4. Alguns acreditam que Deus anseia ativar todos


os dons espirituais na vida de cada crente. Peter
W agner discorda. Procure com preender as di­
ferenças entre as duas posições, discuta o as­
sunto e então defina onde você se posiciona?

V ocê conhece alguém que foi indulgente ou


5. condescendente na “projeção dos dons espiri­
tuais”? Como isto podería fazer m al a outros?
Apêndice 2 319

Q ue S ão o s D ons?
U ma A bordagem I limitada

Aprofundamento Teológico

1. Quando uma pessoa é ordenada ao m inistério


eristão, deveriam os pressupor que a pessoa
tenha os dons espirituais apropriados para o
ministério. Mas nem sempre aeontece assim.
Por que? Pode vocé dar quaisquer exemplos?

Qual é a atitude geral das pessoas de sua igre­


2. ja aceftca dos adultos solteiros? Como o reeo-
nhecim ento do dom do eelibato afetaria essa
atitude?

Discuta as implicações do princípio que diz que


3. toda pessoa com um dado dom espiritual faz
parte de um ministério no corpo de Cristo.

Alguns estudantes dos dons espirituais con­


4. cluem que certos dons estão em operação, atu­
almente, mas que não são m encionados como
dons na Bíblia. Vocé concorda com isso? Por
que sim e por que não?

Vocé conhece alguém que tem o dom da inter-


5. cessão? Eles mesmos estão conscientes de que
isso pode ser um dom espiritual?
320 Descubra Seus Dons Espirituais

Q uatro C oisas Q ue
os D ons N ão São
Aprofundamento Teológico

J Se é verdade que os dons espirituais não são


apenas talentos naturais dedicados, qual será
a diferença?

2 Por que o amor não é um dom espiritual?

^ Nom eie vários dos dons espirituais, e então,


no caso de cada um deles, discifi^.a qual seria o
“papel” correspondente, e como cada qual di­
fere do dom.

/[ Discuta sobre o conceito do “dízimo gradua-


* do”. Você sente que seu pastor deveria ensinar
isso em sua geração? Por que sim e por que
não?

^ Você conhece alguém, em sua igreja ou em sua


comunidade, que tenha o dom do livram ento?
Como eles exercitam esse dom?
A p ê n d ice ? 321

Como Achei Meus Dons,


£ Como Você Pode Achar os Seus

Aprofundamento Teológico

j|^ Qual é sua norm a eclesiástica escrita ou não,


a respeito dos dons espirituais? Por que é im ­
portante pertencer a uma igreja que tenha uma
posição sobre os dons espirituais com a qual
você concorda?

2 Experim entar os dons espirituais é um passo


importante para descobrir se os possui. Nomeie
dois ^ três dons que você sente que deveria
com eçar a experim entar no futuro.

^ Depois de ter feito o que ê recom endado aci­


ma, tam bém nomeie dois ou três dons sobre
os quais você tem sentimentos pessoais a res­
peito, forte o bastante para que você nem ao
menos cuide em fazer experiências com os m es­
mos. Quão legítimos são esses sentimentos?

Nom eie aqueles em sua igreja que, com toda a


* probabilidade têm o dom do ensino. O que eles
costum am fazer que levaria você a nom eã-los?

^ Este capítulo fala sobre a descoberta de dons.


Você pode nom ear quaisquer dons que pensa
que Deus lhe deu? Quais? Por que você diz isso?
3 22 Descubra Seus Dons Espirituais

O P astor e S eu C onjunto de D ons

Aprofundamento Teológico

Em bora as pesquisas confirm em que isso é


verdade, alguns pastores, não obstante, negam
que o pastor seja a chave principal ao cresci­
m ento de um a igreja local. Por que você pensa
que eles fazem isso?

2 Você pensa que sua igreja chega a escorregar


para o conceito errôneo do “pastor onicompe-
tente”? Nesse caso, pode algum a coisa ser feita
a respeito? ^

^ Como pode ser que Peter W agner sugeriu que


o pastor de um a igreja local pode ser eficaz sem
o dom espiritual de pastor?

Qual ê sua visão da necessidade de um a igreja


local para prover serviços de aconselham ento
para seus m em bros? Quão eficazes são os ser­
viços de aconselhamento, em sua igreja, com
os quais você está familiarizado?

^ Por que uma combinação do dom da fé e do


dom da liderança é im portante para o pastor
de um a igreja em pleno crescimento?
Apêndice 2 323

O Evangelista:
Ó rgão P rimário do C rescimento

Aprofundamento Teológico

Por que você diria que o crescim ento nas con­


versões é o tipo mais im portante de desenvol­
vim ento eclesiástico? Você vê m uito disso em
sua igreja? Em caso contrário, o que pode ser
feito a respeito?

Alguns crentes sentem-se culpados porque não


evangqiizam o bastante. Em quais casos a cul­
pa ser5a um a resposta apropriada? Em quais
outros casos o senso de culpa é apropriado?

No segundo capítulo discutim os sobre o con­


ceito da “projeção de dons”. Pode você dar exem ­
plos de pessoas que tendem a projetar seu dom
de evangelista sobre outras pessoas?

Todos os crentes que não têm o dom do evange-


lismo têm o papel de testem unhas cristãs. C o­
mo você pensa que isso deveria funcionar na
prática?

^ A cim a de tudo, você consideraria sábio salien­


tar que somente cinco por cento dos crentes
têm o dom do evangelism o? Por quê?
324 Descubra Seus Dons Espirituais

C ompreendendo
o D om M issionário

Aprofundamento Teológico

Você pensa que mais evangelismo transcultural


é neeessário em sua eidade ou com unidade?
Nesse caso, nom eie alguns grupos espeeífieos
qpe não estão sendo bem evangelizados.

2. D iscuta sobre o coneeito da “cegueira para


pessoas”, juntam ente com o mito popular de
que a Am ériea do Norte é um “eadinho de m is­
turar”. Como podem essas idéí<#s im pedir um
verdadeiro evangelismo?

2 Por que é inexato dizer que “Cada crente é um


m issionário”?

Tente verbalizar a diferença entre o dom de m is­


sionário e o dom de apóstolo.

^ Você concorda que o dom de apóstolos está


presente no corpo de Cristo hoje em dia? A p re­
sente suas razões.
Apêndice 2 325

O R esto do C orpo

Aprofundamento Teológico

Muitos crentes não reconheeem as diferenças


entre o dom do conhecimento e o dom da sabe­
doria. Podería você esclarecer as diferenças?

2 Outro tanto é verdade com as diferenças entre


o dom de socorros e o dom do serviço. Prova­
velm ente você conhece pessoas com cada um
desses dons. Pode você dar nomes a essas pes­
soas?

^ A gora líiiseuta a m aneira como m uitos discu­


tem a usar “palavra de conhecim ento” como se
fosse a m esma eoisa que o dom da profecia.
Por que você diría que Peter W agner algumas
vezes usa a expressão “palavra de conheeimen-
to” de um a m aneira com a qual ele não con-
eorda em teoria?

Algum as igrejas perm item o exercício particu­


lar do dom de línguas, mas proíbem as línguas
em públieo. Voeê pensa que essa posição pode
ser justificada?

^ Você já viu milagres e curas em sua igreja? Em


caso contrário, você pensaria que esses dons
poderíam estar realm ente presentes, m as que
ainda não foram descobertos?
326 Descubra Seus Dons Espirituais

10

C inco P a sso s P ara


C rescer A través dos D ons

Aprofundamento Teológico

^ Conforme tem sido dito com freqüência, o p a ­


pel de liderança do pastor é crucial para a saú­
de da igreja local. Que tipo de liderança você
tem visto seu pastor dar na área dos dons espi­
rituais?

2 Com o sua igreja trabalh aria com um novo


membro que sente que deveria começar a m inis­
trar nos dons espirituais que suV igreja procu ­
ra evitar?

2 A Lei de Parkinson leva algumas igrejas a exigi­


rem dem ais de seu pessoal leigo em comissões
e administrações, ao m esmo tem po que os u ti­
lizam pouquíssim o demais no m inistério real.
Posicione sua igreja quanto a essa questão.

A Quão pronta estã a sua igreja para efetuar um a


* ou mais oficinas sobre dons espirituais para
ajudar o m aior número possível de pessoas ã
descobrirem os seus dons?

^ Suponha que muitos m em bros de sua igreja,


subitamente descobrissem seus dons espiritu­
ais. Você pensa que sua igreja estã pronta para
pô-los a trabalhar?

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