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FUTSAL NA ESCOLA E A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Elisane Schwanz¹
Luciano Loureiro²

RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de mostrar como surgiram os primeiros


movimentos que deram origem a Educação Física, abordando alguns aspectos da
História no mundo e no Brasil, e de que forma os acontecimentos históricos
influenciaram a Educação Física dentro da escola. Aborda também a História do
Futsal e procura comentar a importância do planejamento em aulas de Educação
Física.

Palavras-chave: Educação Física. Escola. Planejamento.

INTRODUÇÃO

Desde os tempos primitivos o movimento faz parte dos seres humanos, que
executavam movimentos básicos que são usados nos tempos atuais, com isso um
dos fundamentos da Educação Física é o movimento.
Segundo Moraes (2009), quando o homem primitivo sentiu a necessidade de
lutar, fugir ou caçar para sobreviver, surgiram os movimentos corporais mais básicos
que o homem executa desde que se colocou em pé, como: correr, saltar,
arremessar, empurrar, puxar e etc.
Moraes (2009), afirma que na China, o Imperador Hoang Ti aplicava
exercícios físicos com finalidade higiênica e terapêutica além do intuito guerreiro. Na
Índia, a Yoga tem origem nessa época, que são manobras massoterápicas e
técnicas de respiração. No Japão, a Educação Física é ligada aos Samurais, em
práticas de guerras feudais. No Egito, já eram valorizadas habilidades como
equilíbrio, força, flexibilidade e resistência. A

¹ Acadêmica do curso de Educação Física da Universidade Luterana do Brasil, Campus Guaíba.


² Docente do Curso de Educação Física da Universidade Luterana do Brasil e orientador desse
trabalho.
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Grécia foi à civilização que mais contribuiu para a Educação Física. Nessa
época surge o conceito de equilíbrio entre corpo e mente de Platão.

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL

No Brasil Colônia, os Índios realizavam jogos como: corrida de troncos, jogo


da peteca e as lutas e junto com os escravos, chegou ao Brasil a Capoeira. Os
escravos que fugiam para os Quilombos não tinham armas, então tinham que usar o
próprio corpo para lutar.
A capoeira acabou se tornando parte da cultura brasileira e sendo bastante
disseminada principalmente no norte do Brasil. Além da corrida e jogo de peteca que
são esportes praticados até hoje.
No Brasil Império, em 1851, foi incluída a Ginástica no currículo escolar. A
Educação Física era obrigatória e era praticada quatro vezes por semana durante
trinta minutos. No Brasil República começou a profissionalização da Educação
Física.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais:

No início deste século, a Educação Física, ainda sob o nome de ginástica,


foi incluída nos currículos dos Estados da Bahia, Ceará, Distrito Federal,
Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo. Nessa mesma época a educação
brasileira sofria uma forte influência do movimento escola-novista, que
evidenciou a importância da Educação Física no desenvolvimento integral
do ser humano. Essa conjuntura possibilitou que profissionais da educação
na III Conferência Nacional de Educação, em 1929, discutissem os
métodos, as práticas e os problemas relativos ao ensino da Educação
Física.

Por volta de 1920, a Educação Física tinha propósitos profiláticos, morais e


culturais, até por falta de uma formação adequada, o professor aplicava exercícios
às crianças que eram utilizados em quartéis (FINCK, 2010).
De acordo com Moraes (2009) até 1930 tínhamos a fase Higienista, onde a
Educação Física era vista com intuito de Higiene Pessoal. De 1930 até 1945 temos
a fase Militarista, onde a finalidade da Educação Física era a disciplina moral e
adestramento do corpo. De 1945 até 1964 temos a fase da Pedagogização, a
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Educação Física começou a ser vista como uma prática educativa. Após 1964 inicia-
se a fase Competitiva que visa o desporto de alto rendimento.
Nessa fase ela passa a ter a função de formar atletas e selecionar os mais
aptos para representar o Brasil em diferentes competições (DARIDO E SOUZA
JÚNIOR, 2007).
Em 1971 a Educação Física era considerada uma atividade que tinha por
objetivo desenvolver e aprimorar forças físicas, morais e cívicas, psíquicas e sociais
do aluno. Nessa época, ainda era voltada para o rendimento. Assim, de acordo com
os Parâmetros Curriculares Nacionais:

A iniciação esportiva, a partir da quinta série, se tornou um dos eixos


fundamentais de ensino; buscava-se a descoberta de novos talentos que
pudessem participar de competições internacionais, representando a
pátria.

Em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases promulga que a Educação Física seja


integrada à Proposta Pedagógica da escola, sendo componente curricular da
Educação Básica. Sendo assim, deve ser exercida de primeira a oitava série.
Atualmente, conteúdos como o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta
são abordados como cultura corporal.
Assim, como reforça os Parâmetros Curriculares nacionais:

A Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e integra o


aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai
produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir
dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em
benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de
vida.

A Educação Física Escolar deve garantir o acesso de todos os alunos ao


conhecimento prático e conceitual, dando oportunidade a todos para desenvolver
suas potencialidades de maneira não seletiva, e não mais focar na aptidão física e
no rendimento padronizado.
A prática regular, através de atividades corporais, está diretamente ligada aos
domínios cognitivos e psicomotores do aluno. Assim, nada mais adequado do que
utilizar-se do movimento para que a criança se expresse livremente usando toda sua
criatividade. Para que o aluno consiga ter o domínio sobre as técnicas de um
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desporto é necessário ter o domínio de seus movimentos, como na prática do futsal.


(FERREIRA, 2002).

A CRIANÇA E O ESPORTE

De acordo com Buscato, Garcia e Pelachin, (1996) o “Esporte é definido como


prática metódica de exercícios físicos, desportos, divertimento, distração”.
No ponto de vista de Santana, Wilton Carlos (2004): “Esporte é um fenômeno
complexo e multifacetado, que significa fantasia, brinquedo, descoberta, jogo,
competição, realização, motivação, desafio, entretenimento”.
Como vemos, ele pode ter vários significados, então ao ensinar um esporte é
possível abordar mais alguns aspectos do que somente um conjunto de regras
oficiais e técnicas. Podem-se construir valores e atitudes, aprender habilidades,
desenvolver capacidades, pois ele “proporciona o prazer, a evolução da consciência,
a introdução de uma cultura de lazer, a construção da cidadania, a valorização da
auto-estima.” (SANTANA, 2004).
Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais, um dos objetivos no
Ensino Fundamental é conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e
adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e
agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva.
E para este aluno aprender com prazer e motivação, influenciando
positivamente no seu estilo de vida, é preciso ter o cuidado de saber como
desenvolver as atividades na Educação Física Escolar. É necessário saber quais
critérios utilizar em aula, qual método usar para desenvolver da melhor forma
possível a aula, considerando todos os meios.

Finck (2010) acredita que:

[...] a Educação Física na escola deve contribuir de maneira significativa


com a formação e desenvolvimento dos alunos, oportunizando momentos
pedagógicos de modo que possam interagir através da vivência de
diversas situações de ensino-aprendizagem.
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Acredita-se que a aula não deverá ser centrada apenas no professor, e sim
em ambos, professor e aluno. Finck descreve exatamente essa visão:

Para que a educação proporcione ao aluno o desenvolvimento da


autonomia, da crítica e da capacidade de comunicação, ela não pode ser
centrada na perspectiva da docência, e sim, deve ser recíproca entre
professor e aluno.

Toda atividade realizada durante o processo de ensino-aprendizagem, deve


ser pensada e organizada em conjunto com professor e aluno. O papel do professor
será apenas de orientar o processo. “O aluno deve ser considerado como o ponto de
partida, o foco central.” (FINCK, 2010).
O período de 5º a 8º série é marcada pelo aceleramento do crescimento,
nessa idade destacam-se três tipos de desenvolvimento: normal, precoce e tardio.
Então, de acordo com o desenvolvimento do aluno, um dado importante a ser
considerado no planejamento das aulas. Conforme o autor Gallardo (2005): “[...] o
fato de promover “confrontos” físicos nessa fase, classificando os contendores pelas
suas faixas etárias, indiscutivelmente, os “acelerados” terão supremacia física sobre
os “normais” e os “tardios”.
De acordo com Ferreira (2002), alguns procedimentos básicos para facilitar a
aprendizagem por parte do educando:

Conhecimentos compatíveis com as exigências da área de atuação,


proporcionar à criança a maior variedade possível de experiências motoras,
iniciar o ensino com atividades simples compatíveis com suas
possibilidades de realização, utilizar linguagem objetiva e de fácil
compreensão, avaliar respostas individuais ao aprendizado, corrigindo
erros que venham a ocorrer durante o processo, atividades lúdicas
combinando com as formais.

Para Voser (2003) o educador físico-desportivo deve interessar-se pelo


aperfeiçoamento da pessoa, mas para isso, deve se adequar à realidade de cada
indivíduo, descobrindo quais são suas aptidões e seus limites.
Para reforçar, Castelani Filho (1988) afirma que é assim que o Ser Humano
se humaniza, que a inteligência, ao mesmo tempo prática e conceitual se
desenvolve, formando uma pessoa social que pode agir de forma eficaz na vida.
O relacionamento entre professor e aluno é um dos pontos mais importantes
do processo de formação do aluno. Portanto, dentro do Futsal, que é o esporte mais
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praticado no Brasil, esse conceito não pode ser deixado de lado (TENROLLER,
2004).

HISTÓRIA DO FUTSAL

Há quem diga que o Futebol de Salão nasceu no Brasil, por volta de 1930. Os
brasileiros, numa visita a ACM (Associação Cristã de Moços) de Montevidéu,
levaram e difundiram esse esporte no Uruguai.
Mas existe outra versão para o surgimento do Futsal, os Uruguaios afirmam
que nessa visita à ACM, os brasileiros conheceram e levaram esse esporte ao
Brasil.
A versão mais aceita é que o Futsal nasceu em Montevidéu, onde o esporte é
o mais praticado daquela época. Assim confirma Voser e Santini (2008):

O futebol de salão nasceu nos anos 30 e foi criado na Associação Cristã de


Moços de Montevidéu, Uruguai. As inúmeras conquistas que o Uruguai
obteve na época fizeram do futebol o esporte mais praticado naquele país.

Como era o esporte favorito entre os adultos e crianças, faltavam espaços


para a prática desse esporte. Então, foram adaptados quadras de basquetebol e
salões de baile para a prática do jogo. Como eram espaços menores, as regras
também tiveram que ser adaptadas.
De acordo com Tenroller (2004), em 1933 foram escritas as primeiras regras
do Futsal, levando em conta o futebol de campo, onde foi extraído a essência do
jogo, o tamanho da quadra de basquete, a trave e a área de handebol e a
regulamentação do goleiro não poder sair do limite da área de meta foi baseado do
pólo aquático. No Brasil, as regras foram publicadas em uma revista de Educação
Física em 1936 por Roger Grain.
Voser e Santini (2008) citam: “na década de 50 são dados os primeiros
passos para a institucionalização do esporte com a criação da primeira federação.”
Em 1954 foi fundada a Federação Carioca de Futebol de Salão, e depois as
federações de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Em 1958, a
Confederação Brasileira de Desportos fundou o Conselho Técnico de Futebol de
Salão, tendo as Federações estaduais como filiados.
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Na década de 1980 aconteceram os primeiros Campeonatos Pan-Americanos


e mundiais, tendo como campeão o Brasil.
Atualmente, o Futsal è o esporte com maior número de praticantes no Brasil.
(VOSER E SANTINI, 2008).
Por caber aos brasileiros o crescimento, a divulgação e a ordenação desse
esporte como modalidade esportiva, podemos afirmar que é um esporte
genuinamente brasileiro. (TENROLLER, 2004).
O Futsal tem como fundamentos do jogo a condução, passe, chute, domínio,
drible, finta, marcação e cabeceio (SANTINI E VOSER, 2008). As posições dos
jogadores em quadra como o goleiro, os alas, o fixo e o pivô. (TENROLLER, 2004).
Os principais métodos para o ensino na escola são o método parcial ou
analítico (que consiste em ensinar o movimento em partes para posteriormente uni-
las), método global ou complexo (consiste em ensinar o fundamento apresentando o
conjunto, pode ser em forma de jogo), e o método misto (esse método consiste na
sincronia dos métodos parcial e global). Todos os métodos têm seus pontos
positivos e negativos, cabe ao professor saber usar o método adequado para cada
situação. (TENROLLER, 2004).
As técnicas individuais usadas durante o jogo são influenciadas pelo
equilíbrio, ritmo, coordenação em geral, espaço e tempo. No início é comum que os
gestos motores sejam executados de forma insegura, descoordenados e imprecisos,
passando a melhorar através da prática sistemática de atividades adequadamente
planejadas e orientadas (FERREIRA, 2002).
Aspectos como o conhecimento do perfil do aluno, desenvolvimento dos
componentes motores básicos, procedimentos básicos de ensino e linguagem
didático-desportiva devem ser observados pelo professor durante o ensino do futsal
(FERREIRA, 2002).
Para Tenroller (2004) o elemento indispensável para um bom planejamento
para as aulas de futsal é a sondagem da realidade dos alunos, para preparar uma
ação mais consciente e próxima dos praticantes, e também estabelecer claramente
os objetivos e conteúdos a serem trabalhados e como vai ocorrer a avaliação.
O plano de aula deve prever o estímulo adequado ao nível do aluno, para
despertar o interesse dos alunos e criar uma atmosfera de comunicação entre
professor e aluno. Os conteúdos devem ter uma ordenação de maneira a atender à
necessidade física e psicológica do aluno. O plano de aula não deve impedir a
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participação do aluno como agente de sua própria aprendizagem, e também ter


objetivos específicos (SANTINI E VOSER, 2008).
O bom professor é aquele que está na busca constante de um método melhor
e adequado para seus alunos, respeitando a realidade, o momento e,
principalmente, as características individuais de seus alunos (SANTINI E VOSER,
2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração os acontecimentos históricos que influenciaram a


trajetória da Educação Física na escola, podemos concluir que até os dias atuais
essa influência acontece, e por isso os professores devem sempre estar em
processo de atualização.
O professor deve atentar não apenas para o ensino da técnica de um
desporto, mas também outros aspectos que envolvem a aula de Educação Física, o
aluno deve se desenvolver nos aspectos psicológico, motor e social.
Para atingir o sucesso nas aulas de Educação Física é necessário ter um bom
planejamento das atividades a serem desenvolvidas, como também atentar para os
objetivos a serem alcançados, que devem estar de acordo com as possibilidades
dos alunos. A aula deve ser prazerosa e motivadora para incluí-lo em um estilo de
vida saudável e buscando a qualidade de vida.
Desta forma, podemos concluir que o aluno deve se aprimorar de forma
psicológica, motora e socialmente, procurando desenvolver um cidadão capaz de
exercer criticamente a cidadania.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUSCATO, Lenira; GARCIA, Márcia; PELACHIN, Márcia. Minidicionário


Luft. Editora Ática. 1996.651p.

CASTELANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil: a história que não se


conta. Campinas: Papirus, 1988.175p.

FERREIRA, Ricardo Lucena. Futsal e a Iniciação. 6.ed. Rio de Janeiro: Sprint,


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2002. 102p.

FINCK, Silvia Cristina Madrid. A Educação Física e o Esporte na Escola:


Cotidiano, Saberes e Formação. Curitiba: Editora Ibpex, 2010. 183p.

GALLARDO, Jorge Sérgio Pérez. Educação Física Escolar do Berçário ao


Ensino Médio. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Lucena, 2005. 136p.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação


Física. 1998. 114p. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro07.pdf. Acessado em
1.05.2011, 20h 32min 45s.

SANTANA, Wilton Carlos de. Futsal: apontamentos pedagógicos na iniciação


e na especialização. Campinas: Autores associados, 2004. 144.p

SANTINI, Joarez; VOSER, Rogério. Ensino dos esportes coletivos: Uma


abordagem recreativa. 1ª edição. Canoas: Editora Ulbra, 2008. 184p.

SANTINI, Joarez. Voleibol Escolar: da iniciação ao treinamento. 1ª ed.


Canoas: Ulbra, 2007. 148p.

VOSER, Rogério. Futsal – Princípios Técnicos e Táticos. 2ª edição. Canoas:


Editora da Ulbra, 2003.172p.

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