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IV Workshop de Informática aplicada à Saúde – CBComp 2004 Relatos de Pesquisa
carga pois após o processo de regeneração o osso morto
(implante) é substituído por osso neoformado. Mesmo sem
alcançar a resistência apresentada pelos parafusos metálicos,
os parafusos de osso podem concorrer com estes e com os
poliméricos em aplicações onde as cargas sobre os parafusos
não são elevadas, como a fixação de fraturas em ossos
metacarpianos.
Visando destacar as vantagens da utilização de implantes
fabricados em osso bovino liofilizado, a presente análise
consistiu em:
1.verificar, a partir de um ponto de vista de mecânica
estrutural, a similaridade entre o osso com implante e o osso
sem implante1;
2. comparar o desempenho estrutural do parafuso de osso
em relação ao parafuso de titânio.
O MEF foi utilizado para determinar a distribuição e
intensidade de tensões e deformações sob o implante e região
afetada pelo mesmo. Nas simulações, os parâmetros de
contato entre as interfaces implante-osso foram variados de
acordo com a condição de ósseo-integração assumida. Como
todo material de origem biológica, os ossos apresentam uma
grande complexidade em sua geometria e variabilidade em
suas dimensões. Para obtenção do modelo geométrico dos
fêmures foi necessário, logo após serem removidos das
cobaias [10], o ‘escaneamento’ destes via Tomografia
Computadorizada. O tratamento das imagens obtidas permitiu
a construção de um modelo CAD (computer aided drawing)
utilizado posteriormente na geração do modelo em elementos
finitos (Fig. 1).
Os resultados da análise permitiram concluir que os
implantes fabricados em osso bovino liofilizado permitem
uma distribuição de tensões e deformações mais uniforme no
sistema osso-implante, quando comparado ao titânio. A sua
capacidade de integração óssea permite a redução da interface
de contato com o decorrer do tratamento, promovendo então a
continuidade do material ósseo na região de implantação. As
propriedades mecânicas do implante de osso bovino estão
próximas às do osso receptor, fazendo com que a resposta do
sistema osso-implante à carregamentos externos torne-se mais
homogênea.
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decorrentes da oclusão para a estrutura óssea mandibular.
Sobre ele deve ser posicionada a prótese que abrigará a parte
superior do dente substituto (mesa oclusal).
Em [12], é apontado que a natureza e magnitude das cargas
necessárias para causar perda do implante são desconhecidas,
sendo então recomendado que as forças sejam mantidas no
menor valor possível. Um intervalo de tensão de 1.4 a 5.0
Mpa parece ser necessário para a manutenção sadia do osso
[13]. Tensões fora deste intervalo têm sido reportadas como
causadoras de reabsorção óssea [14].
Neste estudo o MEF foi utilizado para avaliar as
distribuições de tensões geradas por um implante
osseointegrado na região posterior de uma mandíbula humana.
O comportamento do implante foi simulado em condições
críticas de operação com a finalidade de identificar, entre duas
próteses de mesmo modelo mas distintos diâmetros da mesa
oclusal2, aquela que gerasse os menores valores de tensão no
entorno do implante. Nenhuma força muscular atuante na
Fig. 3. Tensão normal ao longo de uma linha vertical na interface
mandíbula foi considerada e adotou-se uma situação de ósseo- cortical/implante.
integração total modelada pelo contato direto osso/implante.
Uma geometria idealizada foi utilizada para o osso mandibular Nas análises, ambos modelos de prótese foram submetidos
(Fig.2). a uma carga de característica estática, representativa da ação
mastigatória. Os materiais constituintes da estrutura óssea da
mandíbula (osso cortical e trabecular) foram assumidos
isotrópicos e elásticos. Os resultados da análise demonstraram
que o modelo com maior diâmetro da mesa oclusal causa
solicitações levemente maiores (≅ 4%.) do que o outro modelo
analisado. Para analisar o comportamento na interface osso-
implante optou-se pela verificação da distribuição de tensão
ao longo de uma linha vertical posicionada na interface osso
cortical/implante (Fig.3).
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tornando estes modelos capazes de predizer a quantidade de Nl
∂U j
Bi = ∑ α j
∂µi
reabsorção óssea relacionada com um projeto específico de = 1 i = 1,..., N e (1)
implante [17], [18], [19]. j =1 λVi S
A. Obtenção da configuração óssea inicial onde Uj é a energia de deformação para o caso de carga j,
S
A simulação da adaptação óssea em torno de próteses αj são os fatores de ponderação para as cargas, Vi é o volume
deve ser iniciada a partir de uma configuração osso-prótese na sólido do elemento, λ é o multiplicador de Lagrange para a
qual o osso assemelhe-se ao osso natural. A configuração restrição de volume, Ne é o número de elementos e Nl o
óssea inicial, com sua não-homogeneidade em termos de número de casos de carga considerados. Utilizando um
distribuição de densidades, pode ser obtida via Tomografia esquema de atualização do tipo ponto-fixo, a determinação da
Computadorizada (i.e, [20]), dando lugar a uma análise para ótima distribuição de densidades é obtida conforme:
osso personalizado. No caso generalizado de análises em
µ ik +1 = Biη µ ik i = 1,..., N e (2)
ossos típicos, a configuração inicial pode ser obtida através de
uma tarefa pura de otimização estrutural. onde η é um parâmetro de amortecimento numérico e k
refere-se ao número da iteração (Fig.4).
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IV. DISCUSSÃO [4] Roesler, H.; ‘The history of some fundamental concepts in bone
biomechanics’ Journal of Biomechanics, pp 1025-1034, 1987.
Atualmente, está bem estabelecido o potencial da aplicação [5] Huiskes, R., Weinans, H., Grootenboer, H.J., Dalstra, M., Fudala, B. e
de modelamento numérico nos campos da ortopedia e Sloof, T.J.; ‘Adaptive bone remodeling theory applied to prosthetic-
design analysis’, Journal of Biomechanics, pp.1135-1150, 1987.
odontologia. Estes estudos podem promover o entendimento [6] Weinans, H., Huiskes, R., Van Rietbergen, B., Summer, D. R., Turner,
da interação osso-implante indicando alterações no projeto de T. M., e Galante, J. O.; ‘Adaptive bone remodeling around bonded
implantes e próteses, bem como possibilitar a investigação da noncemented total hip arthroplasty, a comparison between animal
qualidade estrutural dos componentes implantáveis experimnts and computer simulation’ , Journal of Orthopaedic Research,
pp. 500-513, 1993.
disponíveis no mercado. Isto, por sua vez, é importante tanto [7] Fernandes, P.R., Rodrigues, H., e Jacobs, C.; ‘A model of bone
para a melhoria da qualidade de vida da população, quanto adaptation using a global optimisation criterion based on the trajectorial
para o desenvolvimento da indústria nacional de componentes theory of Wolff”, Computer Methods in Biomechanics and Biomedical
Engineering, pp. 125-138, 1999.
biomédicos implantáveis. Sendo realizadas [8] Zienkiewicz, O.C.‘El método de los elementos finitos’, Ed. Reverté,
computacionalmente, as simulações reduzem o custo e o Barcelona 1981.
número de protótipos e de testes experimentais durante a [9] Mora, Fábio R. ‘Fabricação de Implantes Ortopédicos a Partir de
Usinagem de Osso Humano’ , Tese de Doutorado, UFSC, 2000.
investigação de novos projetos. Entretanto, certos aspectos [10] Bento, D. B.; ‘Análise de resistência mecânica em implantes de osso- um
devem ser notados previamente à aplicação das técnicas enfoque numérico e experimental’, Dissertação de Mestrado,
computacionais aqui mostradas. Universidade Federal de Santa Catarina., 2003.
[11] Ferreira, P.C., Mendes, R.B., Barra, L.P.S., Toledo, E.M; ‘Análise de
Primeiro, o emprego de modelos numéricos na solução de
Tensões em Implantes Odontológicos’ Relatório de Projeto NUMEC
problemas envolvendo a estrutura biológica osso normalmente 2000, Lab. Nacional de Ciências da Computação, 2001.
suscita questionamentos quanto à sua validade, isto é, quanto [12] Ciftci, Y., Canay, S.; ‘The effect of veneering materials on stress
ao grau de correspondência biológica alcançada pelas distribution in implant-supported fixed prosthetic restorations’ , The
International Journal of Oral & Maxillofacial Implants, pp. 571- 582,
simulações. Infelizmente, em muitos casos os modelos de 2000.
elementos finitos em biomecânica não podem ser confirmados [13] Rieger, M.R., Mayberry, M., Brose, M.O.; ‘Finite element analysis of six
diretamente contra experimentos, mas a confirmação indireta é endosseous implants’ The Journal of Prosthetic Densitry, n.63 pp 671-
676, 1990.
possível se os modelos produzem as mesmas conclusões que [14] Geng, J-P., Keson, B.C., Liu, G-R; ‘Application of finite element
as descobertas experimentais e clínicas [2]. analysis in implant densitry:A survey of the literature’ The Journal of
Segundo, a aplicação e posterior validação dos modelos Prosthetic Densitry, pp 585-598, 2001.
[15] Prendergast, P.J., Taylor, D.A., ‘ A stress analysis of the proximo-medial
numéricos pressupõe uma atividade multidisciplinar. Desde a femur after total hip replacement’ , Journal of Biomedical Engineering,
obtenção do modelo geométrico do osso até as análises pp. 379-382, 1990.
histológicas de amostras oriundas de experimentos com [16] Engh, C.A., Bobyn, J.D., ‘ The influence of stem size and extent of
porous coating on femoral bone resorption after primary cementless hip
animais, diversas áreas do conhecimento deverão estar
arthroplasty’ , Clinical Orthopedic and Related Research, pp.7-28, 1988.
envolvidas, tais como ciências da computação, engenharia, [17] McNamara, B.P., Taylor, D., Prendergast, P.J., ‘Computer prediction of
medicina, odontologia e biologia. adaptive bone remodeling around noncemented femoral prostheses: the
Terceiro, apesar de muitos fatores além do ambiente relationship between damage-based and strain-based algorithms’,
Medical Engineering and Physics, pp.454-463, 1997.
mecânico local regularem o processo de adaptação óssea (ie, [18] Fernandes, P.R., Folgado, J., Jacobs, C. e Pellegrini,V., 2002, A contact
fatores metabólicos, hormonais e genéticos), os modelos para model with ingrowth control for bone remodelling aroun cementless
o remodelamento representam a biologia óssea como uma stems, Journal of Biomechanics, v.35, pp. 167-176.
[19] Pawlikowski, M., Skalski, K. e Haraburda, M., 2003, Process of hip joint
função apenas das influências mecânicas. Contudo, é um fato prosthesis design including bone remodeling phenomenon, Computers
que fatores mecânicos sozinhos podem explicar muito das and Structures, www.siencedirect.com em 10/04/03.
mudanças ósseas adaptativas [20], e os reais mecanismos [20] Kerner, J., Huiskes, R., van Lenthe,G.H., Weinans, H., van Rietbergen,
B., Engh,C.A. e Amis, A.A., 1999, Correlation between pre-operative
biológicos que governam a adaptação óssea ainda não são periprosthetic bone density and post-operative bone loss in THA can be
completamente entendidos. O valor prático destes modelos explained by strain-adaptive remodelling, Journal of Biomechanics,
vem sendo estabelecido em muitos estudos ([6], [17], [18], v.32, pp.695-703.
[19], [20]), e o potencial do método para servir como uma [21] Hassani, B. e Hinton, E.; ‘Homogenization and Structural Topology
Optimization’, Springer, 1998.
ferramenta para testes pré-clínicos de conceitos de projeto [22] Bagge, M., ‘Remodeling of bone structures’ , PhD Thesis, Tech.Univ. of
inovadores já está demonstrado. Denmark, 1999.
[23] Roesler, C.R.M., ‘Simulação do desempenho de próteses endo-femorais
considerando a resposta de remodelamento ósseo’, Proposta de Tese,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade
V. REFERÊNCIAS: Federal de Santa Catarina., 2003.
[1] Huiskes, R., Chao, E.Y.S.; ‘A survey of finite element analysis in [24] Azevedo, C. R. F., Hippert Jr., E. Análise de falha de implantes
orthopedic biomechanics: the first decade’ Journal of Biomechanics, pp cirúrgicos no Brasil: a necessidade de uma regulamentação adequada.
385-409, 1983. Cad. Saúde pública, Rio de Janeiro, 18(5): 1347-1358, set-out, 2002.
[2] Prendergast, P.J.; ‘Finite element models in tissue mechanics and
orthopaedic implant design’ Clinical Biomechanics, pp 343-366, 1997.
[3] Brunski, J.B., Puelo, P.A., Nancy, A.; ‘Biomaterials and Biomechanics
of oral and maxillofacial implants: current status and future
developments’, International Journal of Oral and Maxilofacial
Implants, pp 15-46, 2000.
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