Você está na página 1de 7

Coagulação

Histórico e conceito

Coagular significa converter em solido Este processo decorreu da necessidade


de melhorar o aspecto visual da água para consumo humano, era intrínseca a relação
entre a maior concentração de partículas e a perspectiva da presença de
microrganismos patogênicos. Desta forma, a elevação da turbidez associava-se a
perspectiva de transmissão de doenças devido ao aporte de microrganismos aos
corpos d’água.
A coagulação consiste essencialmente na desestabilização das partículas
coloidais e suspensas realizada pela conjunção de ações físicas e reações químicas,
com duração de poucos segundos, entre o coagulante - usualmente um sal de
alumínio ou de ferro -, a água e as impurezas presentes.
Em solução aquosa os íons metálicos de ferro e de alumínio, positivamente
carregados, formam fortes ligações com os átomos de oxigênio podendo coordenar
ate seis moléculas de água ao redor, liberando os átomos de hidrogênio (aumentando
a concentração do íon H+) e reduzindo o pH da suspensão. Este processo denomina-
se hidrolise e os produtos formados constituem-se as espécies hidrolisadas de ferro e
alumínio, podendo culminar, em função da dosagem, no precipitado de hidróxido do
metal.
Em seguida, com a aproximação e colisão das partículas desestabilizadas, ha
formação dos flocos os quais podem ser removidos por sedimentação, flotação e
filtração.
Assim, espera-se remover especialmente turbidez, matéria orgânica coloidal,
substancias toxicas de origem orgânica e inorgânica, e outras passiveis de conferir
odor e sabor a água, microrganismos em geral e os precursores da formação de
trihalometanos elevando-se a qualidade da água distribuída.

Mecanismos de coagulação

São fatores que causam a desestabilização referenciada no próprio conceito de


coagulação e permitirá a aproximação das partículas vencendo a barreira de energia
decorrente dos potenciais elétricos. Este processo constitui-se na conjunção de quatro
mecanismos que podem inclusive ocorrer simultaneamente.
Quando as partículas coloidais são dispersas na água, íons de carga oposta
(K , Na+ e C++, por exemplo) tendem a se aproximar de sua superfície formando uma
+

camada de íons positivos e negativos, denominada camada compacta ou camada de


Stern, decorrente de forcas de repulsão eletrostática e de atração de van der Waals.
Desta forma, apesar da carga negativa da maioria dos coloides a suspensão tende a
ser eletricamente neutra.
A estas forças de atração, contrapõem-se as forças difusivas impelindo os íons,
havendo formação de uma segunda camada - denominada camada difusa - ao redor
das partículas, cuja espessura dependera mais da concentração iônica do que
propriamente do tamanho da partícula.

Valendo-se da decrescente concentração de íons ao redor da partícula, surgem


potenciais elétricos de grande interesse ao processo de coagulação. Destacam-se:

 O potencial existente na superfície da partícula coloidal, máximo desenvolvido


pelo sistema (potencial de Nemst);
 O existente na interface entre as camadas - aderida e difusa;
 E o existente no plano de cisalhamento - o mencionado potencial zeta, plano
que define a porção de água e, consequentemente de íons, que se move
juntamente com a partícula.
Compressão da dupla camada
O aumento da força iônica ocasiona a compressão da camada difusa. Os íons
de carga positiva atravessam a camada compacta, reduzindo a magnitude do
potencial zeta e a espessura da dupla camada, permitindo a posterior aproximação
das partículas.

Adsorção-desestabilização
Ocorre após a dispersão do coagulante na massa liquida. Dependendo do pH
do meio, há formação de diversas espécies hidrolisadas de carga positiva que podem
ser adsorvidas na superfície das partículas, desestabilizando-as. Em alguns casos
minúsculas partículas do coagulante, produtos da hidrolise do sal, são adsorvidas pela
superfície das partículas coloidais, podendo mesmo resultar na reversão da carga da
partícula e consequente restabilização da suspensão.
São esses produtos da hidrolise, e não os íons dos metais ferro e alumínio, os
principais agentes na coagulação. Desta forma, o pH - usualmente entre 4.5 e 6,5,
para coagulação com sulfato de alumínio - toma-se fator preponderante, pois
governara a formação das espécies predominantes e a eficiência do processo.

Varredura
Mecanismo definido como sweep coagulation, pela inexistência de uma relação
estequiométrica entre a dosagem de coagulante e a área superficial das partículas.
Em função das dosagens de coagulante e do pH do meio, as partículas coloidais são
adsorvidas e as suspensas envolvidas pelo precipitado de hidróxido de alumínio ou de
ferro.
Os flocos formados pelo mecanismo da varredura apresentam densidade
pouco superior a da água (1,01 a 1,05), favorecendo em muitas circunstancias a não
sedimentação e consequente arraste às unidades filtrantes.

Formação de pontes químicas


Com o objetivo de reduzir as dosagens do coagulante e conferir ao floco maior
densidade passaram a ser empregados polímeros orgânicos naturais ou sintéticos,
usualmente como auxiliares de floculação.
No emprego dos polímeros, a coagulação pode efetuar-se por intermédio da
formação de pontes químicas, quando as partículas coloidais são adsorvidas na
superfície das diversas cadeias dos polímeros. Para tal finalidade, a molécula do
polímero deve ser longa o suficiente para minimizar o efeito repulsivo da dupla
camada quando da aproximação de mais de uma partícula e permitir a adsorção em
sua superfície.
Em qualquer mecanismo de coagulação o processo de desestabilização pode
ser revertido caso haja variações no pH de coagulação ou da dosagem de coagulante,
conduzindo a restabilização das partículas coloidais e evitando a agregação.

Fatores intervenientes na coagulação

Diversos fatores haverão de interferir em maior ou menor intensidade no


processo de coagulação. Embora não existam hierarquias absolutas em termos da
coagulação, dentre os principais fatores intervenientes destacam-se:
 O tipo de coagulante;
 O pH e a alcalinidade da água bruta;
 A natureza e a distribuição dos tamanhos das partículas causadoras de
cor e turbidez;
 E a uniformidade de aplicação dos produtos químicos na massa liquida.
Em menor grau podem também ser mencionados:
 A presença de íons;
 A concentração e a idade da solução de coagulante;
 A temperatura da água;
 E, dependendo do mecanismo predominante, o gradiente de velocidade
e o tempo de agitação na unidade de mistura rápida.

Tipo de Coagulante
A característica fundamental para um coagulante ser empregado no
tratamento de água consiste na capacidade de produzir precipitados e espécies
hidrolisadas em dissociação no meio aquoso, capazes de desestabilizar ou envolver
as partículas suspensas e coloidais presentes nas águas naturais.
A definição do tipo de coagulante frequentemente deve fiar-se em fatores
relacionados a adequabilidade da água bruta, a tecnologia de tratamento, ao custo do
coagulante propriamente dito e dos produtos químicos porventura a ele associados -
alcalinizantes, ácidos ou auxiliares de coagulação - e ao custo e manutenção dos
tanques e dosadores.
Outro aspecto que vem sendo progressivamente considerado relevante para a
escolha do coagulante refere-se a quantidade e características do lodo gerado no
tratamento, as quais dependem das características da água bruta e dos produtos
químicos utilizados na coagulação. Consequentemente, as características químicas e
físicas dos resíduos gerados no tratamento de água serão influenciadas pela
composição do coagulante, e problemas relacionados ao manuseio e a disposição
podem ser minimizados ajustando-se o processo de coagulação, culminando em
alguns casos com a alteração do coagulante.

Alcalinidade e pH
Quando a coagulação se efetua com sais de ferro ou de alumínio,
independente do mecanismo predominante, o pH assume importante papel na
prevalência das espécies hidrolisadas do coagulante. Já a alcalinidade da água bruta,
natural ou artificial, funcionará como tampão, minimizando a queda muito acentuada
do pH de coagulação. Este fato adquire maior relevância no mecanismo da varredura
quando o coagulante empregado € o sulfato de alumínio, pois este apresenta espectro
de variação mais restrito do pH de coagulação para formação do hidróxido, comparado
ao cloreto férrico.
Em contrapartida, para estações de filtração direta, nas quais o mecanismo de
coagulação predominante inclina-se para adsorcao-desestabilizacao, alcalinidade mais
significativa da água bruta pode tomar-se fator de restrição ao êxito do processo, que
usualmente se sucede com valores mais baixos de pH. Neste mesmo contexto,
embora águas coloridas tendam a apresentar pH e alcalinidade baixos, pode haver
necessidade do emprego de acido como auxiliar de coagulação, concorrendo para
reduzir a dosagem do coagulante primário e a geração de lodo.

Natureza e Distribuição dos Tamanhos das Partículas

As impurezas presentes na água, em função de sua natureza e dimensões,


podem apresentar-se na forma coloidal, dissolvida ou suspensa, conferindo turbidez
e/ou cor verdadeira as águas naturais. A predominância de uma ou outra característica
influenciará significativamente o processo, tanto na dosagem do coagulante como no
pH de coagulação.
A coagulação é fortemente influenciada pelo tamanho das partículas, sobretudo
quando o mecanismo predominante é a adsorção. Nesse caso, como já ressaltado, a
área superficial exerce papel significativo na dosagem do coagulante em virtude da
adsorção das espécies hidrolisadas na superfície das partículas. A amplitude de
variação da dosagem de coagulante no mecanismo de adsorção tende a se elevar em
função do numero de partículas coloidais presentes na suspensão. Efeito similar se
verifica quando do emprego de polímeros como auxiliares de coagulação, uma vez
que a área superficial das partículas propicia maior entrelaçamento dos flocos.
Em contrapartida, na varredura, a formação dos flocos € fruto do envolvimento
das partículas coloidais pelo precipitado. Desta forma, a dimensão destas influenciará
significativamente a densidade e a velocidade de sedimentação dos flocos.
Geralmente verifica-se que a densidade dos flocos € inversamente proporcional ao
tamanho das partículas primárias da suspensão. Esta relação € ainda mais
pronunciada em função das características físicas da água bruta, apresentando-se
mais marcante para águas de cor elevada (Tambo; Francois, 1991).
No mecanismo da varredura, o aumento da concentração de partículas propicia
elevação da probabilidade de choques, otimizando a floculação e conferindo aos
flocos melhor sedimentabilidade.

Tempo de detenção e gradiente de velocidade da mistura rápida


A mencionada relação entre as vazões de coagulante e afluente a estação
toma importante que a homogeneização do coagulante na massa liquida ocorra com
alta turbulência, para evitar que as espécies hidrolisadas combinem-se mutuamente
nos pontos de maior concentração do coagulante, fenômeno denominado
retromistura. Quando tal se sucede haverá maior gasto de coagulante para se obter a
plena desestabilização das partículas coloidais e/ou menor formação dos flocos. Desta
forma, maior uniformidade do gradiente de velocidade de mistura rápida (Gmr) na
massa liquida é fundamental para o êxito do processo de coagulação.
A magnitude das diferenças de velocidade das linhas de corrente
perpendiculares ao escoamento denomina-se gradiente instantâneo de velocidade.

Unidades de mistura rápida


Na aplicação dos produtos químicos ha dois fenômenos distintos, embora
semelhantes, e complementares: dispersão e mistura. A primeira usualmente efetua-
se, em estações de maior porte, por meio de tubos de PVC perfurados, cortados
longitudinalmente ao longo do eixo, ou, para pequenas estações, mangueiras plásticas
conectadas a bombas dosadoras ou a dosadores por gravidade. Já a mistura do
coagulante - dai a denominação mistura rápida - apresenta-se em duas alternativas
distintas, por meio da agitação mecânica ou hidráulica, visando a dispersão mais
homogênea possível dos produtos químicos na massa liquida.
Unidades mecanizadas de mistura rápida
Para mistura mecanizada são empregados agitadores do tipo turbina ou
hélices, nos quais a água bruta aflui à câmara de mistura e o coagulante é comumente
disperso por meio de bombas dosadoras.
A principal vantagem apregoada por tais misturadores em relação aos
hidráulicos centra-se na perspectiva de variação do gradiente de velocidade da
mistura rápida, passível de ser alcançada pela mudança da rotação - e
consequentemente da potencia dissipada. Todavia, esta vantagem minimiza-se pela
desuniformidade da turbulência no interior da câmara de mistura rápida e pela
mencionada menor relevância desta etapa para as estações convencionais cujo
mecanismo de coagulação predominante € a varredura.

Unidades hidráulicas de mistura rápida


Com idêntico propósito de favorecer o contato entre as espécies hidrolisadas
de alumínio e as partículas, são também empregadas unidades de mistura rápida que
utilizam a energia hidráulica, tais como vertedores de seção retangular, vertedores
triangulares - estes aplicáveis a pequenas estações - e, especialmente, medidores
Parshall.
Embora os vertedores permitam em varias situações a realização de uma
dispersão adequada do coagulante, a determinação da vazão afluente e relativamente
imprecisa reduzindo usualmente o espectro de aplicação desta alternativa para
estações de pequeno porte.

Você também pode gostar